Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Setenário poético<br />
Canto I<br />
A Providência, a cujos <strong>de</strong>cretos nada resiste, e <strong>de</strong> que não é lícito murmurar.<br />
(Imp. Alexandre da Rússia)<br />
Das soberbas muralhas, tetos d'ouro,<br />
dos palácios zombando, sem sussurro<br />
voa o anjo que volve o mundo ao nada!<br />
Com a <strong>de</strong>stra fatal lançando em terra<br />
tronos, cetros, dia<strong>de</strong>mas e tiaras.<br />
Sopram seus lábios hórridos venenos,<br />
que as flores murcham da infeliz campina<br />
que o viu passar. A Nápoles seu vôo<br />
furioso en<strong>de</strong>reça, as asas bate<br />
sobre o trono, e <strong>de</strong> luto cobre o sólio,<br />
na mísera cida<strong>de</strong> levantando<br />
monumento credor <strong>de</strong> pranto eterno!<br />
E lá jaz para sempre, lá repousa<br />
uma fronte real que inda há bem pouco,<br />
gingindo áureo dia<strong>de</strong>ma, prometera<br />
ida<strong>de</strong>s d'ouro dos Bourbons ao povo.<br />
Inesperado golpe, caso infausto,<br />
quantos bens nos roubaste no futuro!...<br />
Oh! quantas esperanças <strong>de</strong>struíste...<br />
Quanto pranto trouxeste!... triste sorte<br />
dos míseros humanos!... Ilusores,<br />
magníficos fantasmas da esperança...<br />
Vida, que és tu?!... Caminho breve sempre<br />
do leito à sepultura! Flor que murcha<br />
quando mais odorosa nos parece.<br />
<strong>Poesias</strong> completas<br />
121