Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
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<strong>de</strong> um doce, divinal contentamento,<br />
eu senti que minh'alma aos céus subia.<br />
Disseste a nota da melancolia,<br />
negra nuvem toldou-me o pensamento;<br />
senti que agudo espinho virulento<br />
do coração as fibras me rompia.<br />
És anjo ou nume, tu que <strong>de</strong>sta sorte<br />
trazes o peito humano arrebatado<br />
em sucessivo e rápido transporte?!<br />
Anjo ou nume não és; mas, se te é dado<br />
no canto dar a vida, ou dar a morte,<br />
tens nas mãos teu Porvir, teu bem, teu fado.<br />
À mesma senhora<br />
Tão doce como o som da doce avena<br />
modulada na clave da sauda<strong>de</strong>;<br />
como a brisa a voar na soleda<strong>de</strong>,<br />
branda, singela, límpida e serena;<br />
ora em notas <strong>de</strong> gozo, ora <strong>de</strong> pena,<br />
já cheia <strong>de</strong> solene majesta<strong>de</strong>,<br />
já lânguida exprimindo pieda<strong>de</strong>,<br />
sempre essa voz é bela, sempre amena.<br />
Mulher, do canto teu no dom supremo<br />
a dádiva <strong>de</strong>scubro mais subida<br />
que <strong>de</strong> um Deus po<strong>de</strong> dar o amor paterno.<br />
E minh'alma, num êxtase embebida,<br />
aos teus lábios <strong>de</strong>seja um canto eterno,<br />
Soneto VI<br />
<strong>Poesias</strong> completas<br />
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