Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

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18.04.2013 Views

seus irmãos, seus amigos, te entregaram: Um dia, ao menos, querem vê-los: -Cede, pois tens tudo o que é seu. Um espírito único desgraçado daquele que só teve quando peregrinou por estes lares! O triste foi um tronco sem raízes que aos impulsos da sorte foi tombando. Té que por fim caiu na eternidade. Nem há na espécie humana infeliz tão bastardo da ventura, que tão ermo ficasse sobre a terra. É uma planta só a humanidade: por mais extremo que lhe seja um ramo, pela seiva comum é sustentado, e a cicatriz, que fica se o decotam, da vida que se foi narrando a perda, da vida que ficou narra a saudade... Terra de mortos, deixa que dos vivos as almas se dilatem; frias cinzas animar-se não podem; mas são elas quinas dos edifícios abatidos que o espírito só a Deus conhecem. Deixai-os divagar nessas ruínas, que são domínios seus. -A terna ave, III IV Poesias completas 104

a quem a companheira arrebataram, deixa, ao menos, voar em torno ao ninho. Podeis entrar, fiéis. -Que o pó do mundo vos não venha nos pés. -Quando é da vida, tudo estranho é aqui; a gala é óbito; o banquete são preces: Deus reparte o pão espiritual que o sacerdote prepara nos altares; são convivas os mortos, que recebem também com ele o sangue sacrossanto, que enfraquece da punição o fogo. -Frágeis lágrimas, ah! do mundo não são, tanto que o mundo não as quer nem conhece. Entremos... Mas... O nível dos sepulcros não vejo aqui!!... Marmóreos monumentos aqui, ali se erguem distinguindo o pó do pó que a morte confundira. Ilusão pueril! É cinzas tudo! Só diverge a morada no aspecto: Os donos são iguais. V VI Último canto do cisne Poesias completas 105

a quem a companheira arrebataram,<br />

<strong>de</strong>ixa, ao menos, voar em torno ao ninho.<br />

Po<strong>de</strong>is entrar, fiéis. -Que o pó do mundo<br />

vos não venha nos pés. -Quando é da vida,<br />

tudo estranho é aqui; a gala é óbito;<br />

o banquete são preces: Deus reparte<br />

o pão espiritual que o sacerdote<br />

prepara nos altares;<br />

são convivas os mortos, que recebem<br />

também com ele<br />

o sangue sacrossanto, que enfraquece<br />

da punição o fogo. -Frágeis lágrimas,<br />

ah! do mundo não são, tanto que o mundo<br />

não as quer nem conhece.<br />

Entremos... Mas... O nível dos sepulcros<br />

não vejo aqui!!... Marmóreos monumentos<br />

aqui, ali se erguem distinguindo<br />

o pó do pó que a morte confundira.<br />

Ilusão pueril! É cinzas tudo!<br />

Só diverge a morada no aspecto:<br />

Os donos são iguais.<br />

V<br />

VI<br />

Último canto do cisne<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

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