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DOCE - El Corte Inglés

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fi lho era bebé. A partir de 2000 eu consegui<br />

viver só da escrita, quer com colaborações<br />

como cronista quer a escrever livros, e tudo<br />

mudou. Quando escrevi esse livro, sonhava<br />

ser escritora. Agora, que passo muitos dias<br />

fechada em casa a escrever, às vezes tenho<br />

saudades do burburinho de uma redacção,<br />

de fazer uma campanha de publicidade,<br />

de trabalhar em equipa. Como é que olho<br />

para esse livro agora? Com muita ternura.<br />

Foi um livro que foi fácil de escrever porque<br />

não tinha nada a perder, era o meu primeiro<br />

livro. Foi escrito com muita candura.<br />

Ainda agora, quando apresento este livro<br />

noutros países, falo dele com enorme prazer.<br />

E quando pego nele e o releio, acho que<br />

os meus sonhos e os meus medos mudaram<br />

muito pouco. Mas o José Luís Borges dizia<br />

que andamos sempre a escrever o mesmo<br />

livro. Acho que os escritores tendem a repetir<br />

os temas e ideias, que no fundo são o espelho<br />

das suas opções.<br />

> Como lida com o sucesso? E com a<br />

crítica?<br />

O sucesso é uma coisa que me passa um<br />

pouco ao lado, porque antes de ter sucesso<br />

levei com muitas portas na cara, fui despedida<br />

várias vezes. Andei 15 anos a trabalhar<br />

muito seriamente até alcançar o<br />

sucesso. O meu sucesso foi um sucesso<br />

transpirado. Acho que o sucesso vai e vem<br />

e é menos importante do que as pessoas<br />

pensam. Para mim, é um conceito um bocado<br />

vazio. Mas sabe-me bem lançar livros<br />

e ir para o top, como é evidente. Mas o<br />

sucesso para mim tem também a ver com<br />

o facto de, graças aos meus livros e aos de<br />

outras pessoas, o mercado ter mudado<br />

muito em Portugal. As pessoas ganharam<br />

hábitos de leitura que não tinham, tenho<br />

uma grande proximidade com os meus<br />

leitores. Poder chegar a centenas de milhares<br />

de pessoas que não se conhecem e<br />

comunicar com elas, isso sim é uma sensação<br />

de grande satisfação. Isso é que é o<br />

sucesso do meu trabalho.<br />

Em relação à crítica, quando ela é cons-trutiva,<br />

é muito útil; quando é destrutiva e camufl<br />

ada para ataques pessoais, encolho os ombros...<br />

e a caravana passa e os cães ladram.<br />

> Como se sente na condição de uma<br />

das escritoras mais vendidas do país?<br />

Sinto-me bem. É bom entrar numa livra-ria e<br />

ver que no top nacional estão quatro ou cinco<br />

autores nacionais, uma coisa impensável há<br />

10 anos. Nessa altura, nem havia top nacional<br />

pois não havia vendas, o mercado estava<br />

agonizante. Aumentou 75% desde 2000. Fico<br />

muito contente, mas também fi co contente<br />

de ver lá os autores portugueses com best-sellers,<br />

sejam eles quem forem. Acho que é muito<br />

bom para o país.<br />

“O sucesso para mim tem também a ver<br />

com o facto de, graças aos meus livros e aos de outras pessoas,<br />

o mercado ter mudado muito em Portugal.”<br />

> O conceito de “literatura pop” associado<br />

aos seus livros o que é que signifi ca para si?<br />

Esse conceito foi inventado pelo meu editor,<br />

o Gonçalo Bulhosa, e acho que é um<br />

conceito genial. Os meus livros chegam<br />

a toda a gente. Diferentes pessoas lêem<br />

os meus livros de diferentes maneiras.<br />

E há vários níveis de leitura. O que acho<br />

interessante é que não estou a falar só<br />

de pessoas de diferentes classes sociais,<br />

como de idades e gerações diferentes.<br />

I 23<br />

Bacalhau à Braz é uma das receitas preferidas da escritora Margarida Rebelo Pinto<br />

É uma sensação óptima. É sinal que<br />

chego a muitas e diferentes pessoas.<br />

> Lembra-se do primeiro livro que leu?<br />

Há algum livro que a tenha tocado de<br />

uma forma especial?<br />

O primeiro livro que eu li, tinha sete<br />

ou oito anos, foi “A Velha Árvore”, de<br />

Pearl Buck, uma história de um avô que<br />

transmite a sua sabedoria e o seu espírito<br />

de família à neta. “O Meu Pé de Laranja<br />

Lima”, de José Mauro de Vasconcelos, foi<br />

o primeiro livro que me fez chorar, e uns<br />

anos mais tarde “As Noites Brancas”, de<br />

Fiódor Dostoiévski. A partir daí, é impossível<br />

enumerar os livros que me fi zeram<br />

vibrar. Há muitos. Os mais recentes são “A<br />

Carta ao Pai”, do Kafka, “Os Ensaios do<br />

Amor”, de Alain de Botton, ou a “Mulher<br />

Certa”, de Sándor Márai.

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