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Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

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6<br />

Capa<br />

Alves <strong>de</strong> Jesus atuam no Tribunal <strong>do</strong><br />

Júri e já estudaram processos que<br />

mostraram a dura realida<strong>de</strong> que vivem<br />

muitas mulheres brasileiras. Para elas,<br />

o que chama a atenção é o aprendiza<strong>do</strong><br />

da violência. A cada surra o<br />

homem vai aprimoran<strong>do</strong> mais e mais<br />

os golpes, crescen<strong>do</strong> em agressivida<strong>de</strong>,<br />

até que acaba matan<strong>do</strong>.<br />

Banalização da violência<br />

O Promotor-Chefe da Ceilândia e<br />

titular da 1ª Promotoria Especial<br />

Criminal da cida<strong>de</strong>, Thiago André<br />

Pierobom <strong>de</strong> Ávila, observou um<br />

aumento expressivo no número <strong>de</strong><br />

processos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Lei Maria da<br />

Penha entrou em vigor. "Antes, o<br />

enfoque era mesmo na conciliação. Isso<br />

levava ao arquivamento <strong>do</strong>s casos e<br />

<strong>de</strong>ixava a vítima sem uma resposta satisfatória."<br />

Ele acredita, no entanto, que a<br />

prisão tem que ser reservada para situa-<br />

Izanita: a <strong>do</strong>r da perda da filha,<br />

morta pelo mari<strong>do</strong>, não passará<br />

ções excepcionais: "Não po<strong>de</strong> ser a<br />

regra, até porque o sistema penal está<br />

fali<strong>do</strong>, e não tem se mostra<strong>do</strong> uma<br />

solução eficaz para outros crimes".<br />

Thiago acredita que a violência está<br />

banalizada em Ceilândia. "Ela vem <strong>de</strong><br />

toda parte – <strong>do</strong>s pais, da escola, da polícia,<br />

<strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> – a ponto <strong>de</strong> as<br />

pessoas passarem a vê-la como um fato<br />

normal. A postura <strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r em to<strong>do</strong>s<br />

os casos gera violência por parte <strong>do</strong><br />

próprio Po<strong>de</strong>r <strong>Público</strong>." O Promotor<br />

acredita que se o Esta<strong>do</strong> intervir, logo<br />

nas primeiras agressões, para quebrar o<br />

ciclo da violência, o efeito será a<br />

diminuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> casos mais<br />

graves e <strong>do</strong>s homicídios. "A violência<br />

<strong>do</strong>méstica acontece em um contexto<br />

passional. E como se po<strong>de</strong> prevenir um<br />

crime passional? Só mudan<strong>do</strong> a cabeça<br />

das pessoas", afirma. "Em muitos casos,<br />

o que a mulher <strong>de</strong>seja não é a punição,<br />

mas a resolução <strong>do</strong> problema."<br />

Acompanhamento<br />

multidisciplinar<br />

Gabriela Borelli<br />

Uma forma <strong>de</strong> tentar mudar a mentalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> agressores e vítimas é o<br />

acompanhamento multidisciplinar, previsto<br />

na Lei Maria da Penha. A Secretaria<br />

Psicossocial Judiciária <strong>do</strong> Tribunal <strong>de</strong><br />

Justiça <strong>do</strong> DF e Territórios oferece esse<br />

serviço a vítimas <strong>de</strong> violência <strong>do</strong>méstica<br />

e aos agressores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2000.<br />

A psicóloga Marília Lobão Ribeiro <strong>de</strong><br />

Moura, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> projeto, também<br />

acredita que a prisão não previne<br />

nem evita a violência. "Não é o me<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

ir para a ca<strong>de</strong>ia que vai fazer o homem<br />

parar <strong>de</strong> bater na mulher. E mesmo que<br />

ele sofra algum tipo <strong>de</strong> punição, isso<br />

não impe<strong>de</strong> que a violência se repita<br />

em outros momentos ou com outras<br />

companheiras."<br />

Para Marília, a violência faz parte da<br />

cultura familiar e <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> valo-<br />

Flávia Gonçalves<br />

MPDFT em revista<br />

Thiago André Pierobom <strong>de</strong> Ávila<br />

Promotor-Chefe da Ceilândia<br />

res que permeia toda a nossa socieda<strong>de</strong>.<br />

"Os homens apren<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ce<strong>do</strong> que<br />

precisam ser obe<strong>de</strong>ci<strong>do</strong>s, precisam estar<br />

no controle da relação. E muitas vezes<br />

as mulheres também estão inseridas em<br />

uma cultura em que ser <strong>do</strong>minada faz<br />

parte <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero."<br />

Durante o acompanhamento, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> três sessões iniciais com psicólogos, o<br />

casal participa <strong>de</strong> seis encontros terapêuticos<br />

em grupos mistos. Os integrantes<br />

<strong>do</strong> casal freqüentam grupos diferentes:<br />

"Nós observamos que <strong>de</strong>ssa forma as<br />

pessoas se <strong>de</strong>sarmam. Tanto homens<br />

como mulheres ouvem com mais atenção<br />

as queixas <strong>de</strong> estranhos, mesmo<br />

quan<strong>do</strong> são as mesmas <strong>de</strong> seus parceiros",<br />

diz Marília. Nos grupos, discutem-se<br />

questões <strong>de</strong> gênero e o que<br />

cada um po<strong>de</strong> fazer para evitar os conflitos.<br />

Além disso, os profissionais da

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