Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...
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forma mo<strong>de</strong>rada. Mesmo quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> ser expresso em lei, esse "direito"<br />
continuou vigoran<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma tácita.<br />
O Código Civil <strong>de</strong> 1916 estipulava<br />
que a mulher está subordinada ao homem<br />
em seu relacionamento conjugal<br />
e familiar. "Como a própria lei afirmava<br />
a subordinação feminina, continuou-se<br />
a interpretar que o homem<br />
podia espancar suas mulheres. Criouse<br />
a <strong>do</strong>utrina da `harmonia´ familiar<br />
para legalizar o espancamento <strong>do</strong>méstico",<br />
<strong>de</strong>clara Fausto. Segun<strong>do</strong> ele,<br />
também é tradição consi<strong>de</strong>rar a<br />
mulher como a culpada da violência.<br />
"Ela é vista como um ser emocional,<br />
que explo<strong>de</strong>, que causa problemas<br />
conjugais. O homem, coita<strong>do</strong>, não<br />
agüenta, precisa agir para restaurar o<br />
equilíbrio na sua residência", ironiza.<br />
O Promotor <strong>de</strong> Justiça explica que<br />
essa tradição só foi <strong>de</strong>finitivamente<br />
alterada pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
1988, a Constituição Cidadã, que<br />
acabou com a hierarquia familiar e<br />
estabeleceu a igualda<strong>de</strong> absoluta entre<br />
homens e mulheres. A partir <strong>de</strong>la,<br />
a Justiça brasileira começou a processar,<br />
obrigatoriamente, e até a con<strong>de</strong>nar<br />
alguns mari<strong>do</strong>s agressores,<br />
mesmo quan<strong>do</strong> o casal já tinha se<br />
reconcilia<strong>do</strong> durante o processo. "Mas<br />
a Lei <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais, <strong>de</strong> 1995,<br />
foi um retrocesso no enfrentamento à<br />
violência <strong>do</strong>méstica porque a incluiu<br />
no rol <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> pequeno potencial<br />
ofensivo."<br />
A intenção por trás <strong>de</strong> tal lei era<br />
reduzir ao máximo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
processos judiciais nos crimes menores.<br />
Discussões entre vizinhos e brigas <strong>de</strong><br />
trânsito, por exemplo, passaram a ser<br />
resolvidas com mais rapi<strong>de</strong>z, por meio<br />
<strong>de</strong> conciliação ou acor<strong>do</strong> in<strong>de</strong>nizatório<br />
entre as partes. Aplica<strong>do</strong> à violência<br />
<strong>do</strong>méstica, no entanto, esse mo<strong>de</strong>lo<br />
resultou na volta da impunida<strong>de</strong>. O<br />
crime <strong>de</strong> lesão corporal passou a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> representação da vítima e, na<br />
prática, as vítimas eram induzidas a retirar<br />
a queixa, a não representar ou a<br />
renunciar à representação. "Ao longo<br />
<strong>de</strong>sses 12 anos <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais<br />
Criminais, não houve investigação nem<br />
processo em mais <strong>de</strong> 95% das causas<br />
DDuurraannttee aa mmaaiioorr<br />
ppaarrttee d<strong>do</strong>o ssééccuulloo 2200,, aa<br />
PPoollíícciiaa ee aa JJuussttiiççaa nnããoo<br />
aattuuaarraamm nneessssaass<br />
ccaauussaass d<strong>de</strong>evviid<strong>do</strong>o aa uummaa<br />
ttrraaddiiççããoo jjuurrííddiiccaa qquuee<br />
rreeccoonnhheecciiaa aaoo<br />
hhoommeemm oo ``ddiirreeiittoo´´<br />
d<strong>de</strong>e ccoorrrriiggiirr ee ccaassttiiggaarr<br />
aass mmuullhheerreess<br />
<strong>de</strong>ssa natureza", critica Fausto.<br />
"Aqui em Samambaia, é importante<br />
que se enfatize, estamos conseguin<strong>do</strong><br />
con<strong>de</strong>nar muitos réus. Os homens que<br />
usam <strong>de</strong> violência contra a mulher não<br />
estão sain<strong>do</strong> impunes", <strong>de</strong>clara a<br />
Promotora <strong>de</strong> Justiça Aurea Regina <strong>de</strong><br />
Queiroz Ramim. Ela e a colega Ronny<br />
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