18.04.2013 Views

Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

forma mo<strong>de</strong>rada. Mesmo quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> ser expresso em lei, esse "direito"<br />

continuou vigoran<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma tácita.<br />

O Código Civil <strong>de</strong> 1916 estipulava<br />

que a mulher está subordinada ao homem<br />

em seu relacionamento conjugal<br />

e familiar. "Como a própria lei afirmava<br />

a subordinação feminina, continuou-se<br />

a interpretar que o homem<br />

podia espancar suas mulheres. Criouse<br />

a <strong>do</strong>utrina da `harmonia´ familiar<br />

para legalizar o espancamento <strong>do</strong>méstico",<br />

<strong>de</strong>clara Fausto. Segun<strong>do</strong> ele,<br />

também é tradição consi<strong>de</strong>rar a<br />

mulher como a culpada da violência.<br />

"Ela é vista como um ser emocional,<br />

que explo<strong>de</strong>, que causa problemas<br />

conjugais. O homem, coita<strong>do</strong>, não<br />

agüenta, precisa agir para restaurar o<br />

equilíbrio na sua residência", ironiza.<br />

O Promotor <strong>de</strong> Justiça explica que<br />

essa tradição só foi <strong>de</strong>finitivamente<br />

alterada pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

1988, a Constituição Cidadã, que<br />

acabou com a hierarquia familiar e<br />

estabeleceu a igualda<strong>de</strong> absoluta entre<br />

homens e mulheres. A partir <strong>de</strong>la,<br />

a Justiça brasileira começou a processar,<br />

obrigatoriamente, e até a con<strong>de</strong>nar<br />

alguns mari<strong>do</strong>s agressores,<br />

mesmo quan<strong>do</strong> o casal já tinha se<br />

reconcilia<strong>do</strong> durante o processo. "Mas<br />

a Lei <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais, <strong>de</strong> 1995,<br />

foi um retrocesso no enfrentamento à<br />

violência <strong>do</strong>méstica porque a incluiu<br />

no rol <strong>do</strong>s crimes <strong>de</strong> pequeno potencial<br />

ofensivo."<br />

A intenção por trás <strong>de</strong> tal lei era<br />

reduzir ao máximo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

processos judiciais nos crimes menores.<br />

Discussões entre vizinhos e brigas <strong>de</strong><br />

trânsito, por exemplo, passaram a ser<br />

resolvidas com mais rapi<strong>de</strong>z, por meio<br />

<strong>de</strong> conciliação ou acor<strong>do</strong> in<strong>de</strong>nizatório<br />

entre as partes. Aplica<strong>do</strong> à violência<br />

<strong>do</strong>méstica, no entanto, esse mo<strong>de</strong>lo<br />

resultou na volta da impunida<strong>de</strong>. O<br />

crime <strong>de</strong> lesão corporal passou a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> representação da vítima e, na<br />

prática, as vítimas eram induzidas a retirar<br />

a queixa, a não representar ou a<br />

renunciar à representação. "Ao longo<br />

<strong>de</strong>sses 12 anos <strong>do</strong>s Juiza<strong>do</strong>s Especiais<br />

Criminais, não houve investigação nem<br />

processo em mais <strong>de</strong> 95% das causas<br />

DDuurraannttee aa mmaaiioorr<br />

ppaarrttee d<strong>do</strong>o ssééccuulloo 2200,, aa<br />

PPoollíícciiaa ee aa JJuussttiiççaa nnããoo<br />

aattuuaarraamm nneessssaass<br />

ccaauussaass d<strong>de</strong>evviid<strong>do</strong>o aa uummaa<br />

ttrraaddiiççããoo jjuurrííddiiccaa qquuee<br />

rreeccoonnhheecciiaa aaoo<br />

hhoommeemm oo ``ddiirreeiittoo´´<br />

d<strong>de</strong>e ccoorrrriiggiirr ee ccaassttiiggaarr<br />

aass mmuullhheerreess<br />

<strong>de</strong>ssa natureza", critica Fausto.<br />

"Aqui em Samambaia, é importante<br />

que se enfatize, estamos conseguin<strong>do</strong><br />

con<strong>de</strong>nar muitos réus. Os homens que<br />

usam <strong>de</strong> violência contra a mulher não<br />

estão sain<strong>do</strong> impunes", <strong>de</strong>clara a<br />

Promotora <strong>de</strong> Justiça Aurea Regina <strong>de</strong><br />

Queiroz Ramim. Ela e a colega Ronny<br />

5

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!