18.04.2013 Views

Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Gelaine tinha 13 anos quan<strong>do</strong> se<br />

apaixonou pelo primo 17 anos mais<br />

velho. Os <strong>do</strong>is foram viver juntos logo<br />

que ela engravi<strong>do</strong>u <strong>do</strong> primeiro filho.<br />

Cerca <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois começaram as<br />

discussões, as brigas, a violência. Ele<br />

tinha ciúmes da mulher muito mais<br />

jovem e muito bonita. Não permitia que<br />

trabalhasse, que tivesse muitos amigos,<br />

não gostava que saísse <strong>de</strong> casa nem que<br />

recebesse visitas. Viveram juntos por mais<br />

10 anos e tiveram três filhos. Na noite <strong>de</strong><br />

25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2004, entretanto, aos 23<br />

anos, Gelaine foi espancada pela última<br />

vez. Acusa<strong>do</strong> da morte da mulher, o excompanheiro<br />

está respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a processo<br />

por homicídio simples no Tribunal<br />

<strong>do</strong> Júri <strong>de</strong> Samambaia.<br />

Quem conta a história <strong>de</strong> Gelaine é<br />

a mãe, Izanita Maria Gomes. A <strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

saber que a filha morreu estrangulada<br />

pelo pai <strong>do</strong>s netos não diminuiu com o<br />

passar <strong>do</strong>s anos, e só é controlada por<br />

meio <strong>de</strong> calmantes. Durante vários<br />

anos, Izanita morou no mesmo lote<br />

que o casal. Perto o suficiente para<br />

ouvir os gritos da filha quan<strong>do</strong> o mari<strong>do</strong><br />

batia nela, o que acontecia quase<br />

to<strong>do</strong>s os dias.<br />

Numa das vezes, ela chegou à casa da<br />

filha a tempo <strong>de</strong> ver o mari<strong>do</strong> espancá-la<br />

com uma barra <strong>de</strong> ferro. "Ela ia à Polícia,<br />

eu ficava esperan<strong>do</strong> acontecer alguma<br />

coisa, mas não via resulta<strong>do</strong> nenhum. Só<br />

<strong>de</strong>pois fiquei saben<strong>do</strong> que minha filha<br />

retirava as queixas, acho que por causa<br />

das ameaças <strong>de</strong>le", diz Izanita.<br />

4<br />

Capa<br />

AA aapplliiccaaççããoo ddaa LLeeii MMaarriiaa ddaa PPeennhhaa aajjuuddaa aa ccoonnttrroollaarr<br />

vviioollêênncciiaa d<strong>do</strong>ommééssttiiccaa ee ggaarraannttee aa ppuunniiççããoo d<strong>do</strong>oss rrééuuss<br />

Por Flávia Gonçalves<br />

No Brasil, milhares <strong>de</strong> mulheres passam<br />

pelo mesmo drama <strong>de</strong> Gelaine e,<br />

assim como ela, po<strong>de</strong>m acabar morren<strong>do</strong>.<br />

A Lei n° 11.340/06, conhecida como<br />

Lei Maria da Penha, é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />

neste cenário e, se aplicada, po<strong>de</strong>rá<br />

salvar muitas vidas. Sancionada no dia<br />

7 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006, a norma <strong>de</strong>termina<br />

que o crime <strong>de</strong> lesão corporal qualifica<strong>do</strong><br />

pela violência <strong>do</strong>méstica é <strong>de</strong> representação<br />

penal incondicionada. Isso significa<br />

que a vítima não precisa solicitar nem<br />

autorizar a instauração <strong>do</strong> processo criminal,<br />

que po<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>ve, ser inicia<strong>do</strong> pelo<br />

Promotor <strong>de</strong> Justiça mesmo a partir <strong>de</strong><br />

um simples boletim <strong>de</strong> ocorrência.<br />

Tradição <strong>de</strong> impunida<strong>de</strong><br />

A mentalida<strong>de</strong> patriarcal ainda presente<br />

em nossa socieda<strong>de</strong>, no entanto,<br />

faz com que existam resistências à aplicação<br />

da lei. É o que conta o Promotor<br />

<strong>de</strong> Justiça Fausto Rodrigues <strong>de</strong> Lima,<br />

titular da 2ª Promotoria Especial Criminal<br />

<strong>de</strong> Samambaia. "Durante a maior<br />

parte <strong>do</strong> século 20, a Polícia e a Justiça<br />

não atuaram nessas causas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

uma tradição jurídica que reconhecia<br />

ao homem o `direito´ <strong>de</strong> corrigir e castigar<br />

as mulheres."<br />

De acor<strong>do</strong> com o Promotor, um dispositivo<br />

das Or<strong>de</strong>nações Filipinas, coletânea<br />

<strong>de</strong> normas que vigorou no Brasil <strong>de</strong><br />

1603 até a Proclamação da República,<br />

conferia aos homens o direito <strong>de</strong> castigar<br />

seus cria<strong>do</strong>s, escravos, filhos e mulheres,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o castigo fosse aplica<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

José Eval<strong>do</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!