Julho/Setembro de 2007 - Ano 4 - Nº 8 - Ministério Público do ...
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Saú<strong>de</strong><br />
casal, que não quer se i<strong>de</strong>ntificar, veio<br />
para Brasília porque alguém disse que o<br />
tratamento na capital era bom.<br />
Há uma semana esperan<strong>do</strong> pela<br />
recuperação <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, a <strong>do</strong>na <strong>de</strong> casa<br />
evita falar <strong>de</strong>mais. Está preocupada<br />
porque, <strong>do</strong>s 23 pinos, três soltaram.<br />
"Fomos obriga<strong>do</strong>s a voltar ao hospital<br />
para fixá-los novamente." Des<strong>de</strong> sextafeira,<br />
20 <strong>de</strong> julho, ela <strong>do</strong>rme na rua, em<br />
frente ao hospital. Mantém a força e a<br />
fibra. Exemplo da brasileira teimosa,<br />
que não <strong>de</strong>ixa as dificulda<strong>de</strong>s a <strong>de</strong>rrubarem.<br />
Seu mari<strong>do</strong> geme <strong>de</strong> <strong>do</strong>r. Ele<br />
não po<strong>de</strong> se mover e ficará interna<strong>do</strong><br />
por tempo in<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>. "Eu não<br />
tenho coragem <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-lo aqui sozinho.<br />
Não importa quanto tempo dure<br />
esse sofrimento.", diz.<br />
O hospital tem a obrigação <strong>de</strong> oferecer<br />
três refeições diárias aos acompanhantes<br />
menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ou i<strong>do</strong>sos.<br />
Não é o caso <strong>de</strong> Rita. Somente na<br />
segunda-feira, 23, após uma avaliação<br />
da nutricionista <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong><br />
Assistência Social, ela conseguiu a<br />
primeira refeição. De acor<strong>do</strong> com o<br />
serviço <strong>de</strong> nutrição, cerca <strong>de</strong> 320<br />
refeições são servidas to<strong>do</strong>s os dias aos<br />
acompanhantes das pessoas internadas.<br />
A cabeleireira Andréia<br />
A jovem mãe está sentada na porta<br />
<strong>do</strong> hospital, amamentan<strong>do</strong> a filha<br />
enquanto espera que o mari<strong>do</strong> venha<br />
buscá-la. O sol está forte, são 12h30, e<br />
a criança está agitada por causa da<br />
virose que pegou. Andréia Gomes, 24<br />
anos, é cabeleireira. Montou um salão<br />
no Núcleo Ban<strong>de</strong>irante com as próprias<br />
economias. Tem <strong>do</strong>is filhos: Ana Luíza,<br />
<strong>de</strong> 11 meses, é a mais nova. Foi internada<br />
em um hospital no Guará, mas<br />
seu quadro não melhorou. "Os médicos<br />
<strong>de</strong>ram alta assim mesmo", conta.<br />
A mãe <strong>de</strong> Andréia cui<strong>do</strong>u <strong>do</strong>s netos<br />
por cinco meses, até que a filha pu<strong>de</strong>sse<br />
equipar o salão e trabalhar para pagar<br />
uma babá. A moça foi contratada. Estava<br />
tu<strong>do</strong> in<strong>do</strong> bem quan<strong>do</strong>, certo dia, <strong>de</strong>scobriu<br />
que a empregada saía e largava as<br />
Gabriela Borelli<br />
crianças sozinhas em casa. Agora, ela<br />
cuida das crianças e está há duas semanas<br />
sem trabalhar. "Minhas contas estão<br />
no vermelho. Não consigo pagar as dívidas<br />
que adquiri para abrir o salão."<br />
Andréia espera que a saú<strong>de</strong> da filha<br />
melhore para que ela contrate outra<br />
babá e possa voltar à vida <strong>de</strong> microempresária<br />
e tocar pra frente o salão.<br />
Fabrícia e a arte <strong>de</strong> Walkíria<br />
A professora <strong>de</strong> português Fabrícia<br />
Gontijo ensina crianças <strong>do</strong> 6º ao 9º ano<br />
em Alvorada <strong>do</strong> Norte (GO). Ela veio à<br />
Brasília para ter um acompanhamento<br />
especializa<strong>do</strong> na sua gravi<strong>de</strong>z. Está no<br />
terceiro mês <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z e tem diabetes,<br />
<strong>do</strong>ença crônica que precisa ser<br />
controlada. Se to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s não<br />
forem toma<strong>do</strong>s, além <strong>do</strong> risco <strong>de</strong> aborto,<br />
o bebê po<strong>de</strong> nascer com malformações<br />
ou macrossomia (crescimento<br />
exagera<strong>do</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
insulina que passa para o feto). Fabrícia<br />
é jovem, tem 22 anos. A gravi<strong>de</strong>z, por<br />
si só, causa uma certa fragilida<strong>de</strong> na<br />
mulher. Com o agravante da diabetes, a<br />
professora está muito preocupada. A<br />
sorte, no entanto, é que Fabrícia tem<br />
on<strong>de</strong> extravasar o estresse.<br />
A futura mamãe faz terapia ocupacional<br />
direcionada para gestantes <strong>de</strong><br />
alto risco em um hospital da re<strong>de</strong> pública<br />
<strong>do</strong> DF. E quem "pilota" as sessões é<br />
outra mulher: Walkíria Monteiro, artista<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>Público</strong> <strong>do</strong> DF e Territórios<br />
plástica e mãe <strong>de</strong> um casal <strong>de</strong> jovens.<br />
Ou seja, alguém que conhece muito<br />
bem a fragilida<strong>de</strong> emocional durante a<br />
gestação e cuida das pacientes com<br />
toda a atenção. Coor<strong>de</strong>na as ativida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> arteterapia há nove anos.<br />
Walkíria fez um curso com a arteterapeuta<br />
Susan Bello na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Brasília e conheceu os caminhos da<br />
educação emocional. Ela <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a tese<br />
<strong>de</strong> que a <strong>do</strong>ença é, também, uma idéia<br />
que está vinculada ao emocional <strong>de</strong><br />
cada um: "Quan<strong>do</strong> você trabalha o<br />
emocional <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes, eles se sentem<br />
mais fortes e confiantes para enfrentar<br />
a <strong>do</strong>ença", diz. Utilizan<strong>do</strong> técnicas <strong>de</strong><br />
relaxamento corporal, ioga e pintura, as<br />
gestantes <strong>de</strong>scarregam as angústias e<br />
temores relaciona<strong>do</strong>s à gestação. Walkíria<br />
lembra que, na maioria das pinturas,<br />
são utilizadas cores fortes que<br />
<strong>de</strong>notam angústia, <strong>de</strong>pressão.<br />
O Esta<strong>do</strong><br />
Para a Promotora <strong>de</strong> Justiça Cátia<br />
Gisele Vergara, o Esta<strong>do</strong> precisa ser mais<br />
efetivo quan<strong>do</strong> trata da saú<strong>de</strong>. "É preciso<br />
que o Esta<strong>do</strong> efetivamente se transforme<br />
em instrumento para prover<br />
serviços e gerar ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública;<br />
só assim a dignida<strong>de</strong> humana não será<br />
apenas um conceito meramente retórico<br />
escrito na Constituição, mas, <strong>de</strong> fato,<br />
uma realida<strong>de</strong> experimentada pelos<br />
cidadãos e cidadãs."<br />
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