Petrônio - Cosac Naify

Ao mesmo tempo, pus-me imediatamente a espiar, com a
maior atenção, por uma fresta da porta para ver se Ascilto não
tinha vindo junto. 3 Só depois que vi meu convidado sozinho eu o
recebi. Logo que ele se deitou no pequeno leito do quarto e deu
de cara com Gitão arrumando tudo, meneou a cabeça e disse:
– Lindo, o teu Ganimedes! 4 Hoje promete!
Não me agradou muito uma indiscrição dessas logo de
cara, e fiquei com medo que eu estivesse recebendo em casa um
sujeito igual ao Ascilto. 5 Eumolpo insistiu e, como o menino lhe
desse uma bebida, ele disse:
– Prefiro você a todos lá dos banhos.
E depois de secar o copo, acabou dizendo que nunca tinha
tido um dia pior.
6 – Na verdade, enquanto me lavava – falou –, quase apanhei,
porque tentei recitar um poema para os que estavam sentados ali
ao redor da banheira. Depois que fui atirado dos banhos como
tinha sido do teatro, fiquei circulando por todos os cantos e chamando
por Encólpio aos gritos. 7 Numa outra parte, um rapaz nu,
que perdera as roupas, chamava por Gitão aos gritos com uma
indignação não menor. 8 E se com uma imitação muito da petulante
uns escravos zombaram de mim, como se eu estivesse louco,
a ele uma enorme platéia o circundou, admirada, aplaudindo-o com
todo o respeito. 9 É que o volume que ele levava no meio das pernas
era tão grande que daria para acreditar que o próprio homem
era o cabo de um amuleto. Como dá trabalho esse moço! Acho
que ele começa num dia e termina no outro. 10 Assim, ele imediatamente
encontrou ajuda, não sei de quem; um cavaleiro romano
de má fama, como diziam, colocou sua roupa em volta do rapaz
que vagava e levou-o para casa, acho que para só ele aproveitar
tão grande fortuna. 11 Mas eu não: nem sequer a minha roupa eu
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