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Petrônio - Cosac Naify

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3 Não longe do pregoeiro vinha Ascilto. Vestindo um manto<br />

todo colorido, levava numa bandeja de prata a recompensa prometida.<br />

4 Mandei Gitão se esconder debaixo da cama e prender os pés<br />

e as mãos às correias com as quais a armação da cama sustentava o<br />

colchão, e assim como Ulisses outrora se havia colado a um carneiro,<br />

Gitão, estirado sob a cama, enganaria a mão de quem o procurasse.<br />

5 Gitão obedeceu na hora e, num piscar de olhos, enfiou as mãos<br />

nas presilhas, e superou Ulisses no que se referia a uma astúcia bem<br />

semelhante. 6 Quanto a mim, para não levantar suspeitas, enchi o<br />

leito de roupas e formei a figura de um homem com o corpo de<br />

mais ou menos a minha estatura, e que ali estivesse só.<br />

7 Enquanto isso, Ascilto, tendo percorrido todos os quartos<br />

acompanhado de um oficial de Justiça, chegou ao meu. E o que<br />

certamente lhe deu uma esperança maior foi que encontrou portas<br />

muito cuidadosamente aferrolhadas. 8 O escravo público, porém,<br />

introduzindo um machado nas fissuras da porta, afrouxou os ferrolhos,<br />

que eram firmes. 9 Quanto a mim, atirei-me aos joelhos de<br />

Ascilto e, em nome de nossa amizade e dos sofrimentos que nós<br />

dois já havíamos suportado, pedi que ao menos deixasse ver meu<br />

irmãozinho. Além disso, para que minhas preces fingidas tivessem<br />

uma aparência de verdade, acrescentei:<br />

– Ascilto, sei que você veio para me matar. Afinal, para que trouxeste<br />

o machado? Vai, satisfaz a sua raiva, que eu te ofereço meu pescoço:<br />

derrama o sangue que você procurou a pretexto dessa busca.<br />

10 Ascilto rebateu aquela idéia de rancor, garantindo que não<br />

estava à procura de outra coisa senão do garoto que fugira dele.<br />

Ele nunca desejara a morte de um homem, nem de um súplice<br />

como eu, de quem, sobretudo, ele conservara tanta afeição, mesmo<br />

depois daquela discussão que acabara com tudo entre nós.<br />

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