Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE) - Centro de ...
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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Aggeu<br />
Magalhães<br />
Departamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva - NESC<br />
Kátia Magdala Lima Barreto<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong><br />
(<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>): um perfil<br />
sócio-epi<strong>de</strong>miológico dos participantes<br />
Orientador:<br />
Professor Doutor Eduardo Maia Freese <strong>de</strong> Carvalho<br />
Recife – PE<br />
1999
KÁTIA MAGDALA LIMA BARRETO<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>):<br />
um perfil sócio-epi<strong>de</strong>miológico dos participantes<br />
Recife – PE<br />
1999<br />
Dissertação apresentada como requisito<br />
parcial para obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre<br />
em Saú<strong>de</strong> Pública, pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> Coletiva – NESC, do Instituto <strong>de</strong><br />
Pesquisa Aggeu Magalhães – CPqAM da<br />
Fundação Oswaldo Cruz –<br />
FIOCRUZ/MS, sob orientação do<br />
Professor Doutor Eduardo Maia Freese<br />
<strong>de</strong> Carvalho.
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>):<br />
um perfil sócio-epi<strong>de</strong>miológico dos participantes<br />
KÁTIA MAGDALA LIMA BARRETO<br />
Banca Examinadora:<br />
Professor Doutor Eduardo Maia Freese <strong>de</strong> Carvalho<br />
Orientador<br />
Professor Doutor Mário Antônio Sayeg<br />
1 º Examinador<br />
Professora Doutora Márcia Soares <strong>de</strong> Melo Kirzner<br />
Recife – PE<br />
1999<br />
2 º Examinador
“Há culturas que privilegiam os jovens em <strong>de</strong>trimento dos idosos,<br />
há outras que fazem o contrário e finalmente,<br />
há culturas que não sabem tratar bem nem dos jovens<br />
nem dos idosos.<br />
Esse parece ser o caso do Brasil, que mudou seu perfil etário sem<br />
se dar conta disso e manteve uma cultura on<strong>de</strong> não existe espaço<br />
para os jovens e on<strong>de</strong> se marginaliza <strong>de</strong> forma cruel os idosos”.<br />
1999 – ANO INTERNACIONAL DO IDOSO<br />
Herbert <strong>de</strong> Souza (Betinho)<br />
“UMA SOCIEDADE PARA TODAS AS IDADES”<br />
(OMS,1999)
Dedico esta construção:<br />
• A minha família – meu porto seguro: meus pais, meus irmãos, meus cunhados e<br />
minhas sobrinhas (Beatriz, Gabriela e Manoela). Espero está contribuindo para que elas<br />
tenham uma velhice tão bela quanto hoje é sua infância.<br />
• Aos idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, cujo espírito <strong>de</strong> colaboração tornou possível a<br />
concretização <strong>de</strong>sta idéia.<br />
• A todos que fazem a <strong>UFPE</strong>, crendo que enquanto instituição pública continue<br />
cumprindo seu papel social e perceba a dimensão e o significado <strong>de</strong> uma proposta<br />
como a das <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong>.
AGRADECIMENTO<br />
“Vós pouco dais quando dais <strong>de</strong> vossas posses.<br />
É quando dais <strong>de</strong> vós próprios que realmente dais.<br />
É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver<br />
apenas compreendido;<br />
Dais para continuar a viver, pois reter é perecer.<br />
E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais nenhum encargo <strong>de</strong> gratidão a<br />
fim <strong>de</strong> não por<strong>de</strong>s um jugo sobre vós e vossos benfeitores.<br />
Antes, erguei-vos, junto com eles, sobre asas feitas <strong>de</strong> suas dádivas;<br />
Pois se ficar<strong>de</strong>s <strong>de</strong>masiadamente preocupados com vossas dádivas, estareis duvidando <strong>de</strong><br />
sua generos<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
Dar e receber é uma necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> e um êxtase.<br />
O dia já se foi.<br />
O que aqui nos foi dado, nós o conservaremos.<br />
Mais um curto instante, mais um <strong>de</strong>scanso rápido e minha nostalgia começará a recolher<br />
argila e espuma para um novo corpo.<br />
Foi somente ontem que nos encontramos num sonho.<br />
Cantastes para mim na minha solidão, e eu, com vossas aspirações construí uma torre no<br />
céu.<br />
Se nos encontrarmos outra vez no crepúsculo da memória, conversaremos <strong>de</strong> novo e<br />
cantareis para mim uma canção mais profunda.<br />
E se nossas mãos se encontrarem noutro sonho, construiremos mais uma torre no céu”.<br />
(Gibran)<br />
A todos vocês que sabem que construíram essa torre comigo MUITO OBRIGADA!
SUMÁRIO<br />
RELAÇÃO DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS, 9<br />
RELAÇÃO DE TABELAS, GRÁFICOS E ANEXOS, 10<br />
RESUMO, 14<br />
ABSTRACT, 15<br />
APRESENTAÇÃO, 16<br />
1. INTRODUÇÃO, 18<br />
1.1 - Des<strong>de</strong> que o homem é homem, 18<br />
1.2 - Para não dizer que não falei da velhice, 26<br />
1.3 - Eu envelheço, tu envelheces, nós envelhecemos...A população envelhece, 29<br />
1.4 - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> - Um pouco <strong>de</strong> História: a<br />
experiência <strong>de</strong> Pernambuco, 38<br />
2. OBJETIVOS, 45<br />
2.1 - Geral, 45<br />
2.2 - Específicos, 45<br />
3. MATERIAL E MÉTODOS, 47<br />
3.1 - Tipo <strong>de</strong> estudo, 47<br />
3.2 - População do Estudo, 47<br />
3.3 - Definição do Instrumento <strong>de</strong> Coleta <strong>de</strong> Dados, 48<br />
3.4 - O Procedimento para a Coleta <strong>de</strong> Dados, 51<br />
3.5 - Alguns conceitos importantes, 52
4. RESULTADOS, 55<br />
5. DISCUSSÃO, 78<br />
6. CONCLUSÕES, 109<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 112<br />
ANEXO, 121<br />
ANEXO 1<br />
Lei nº 8.842/94 – Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, 122<br />
ANEXO 2<br />
Decreto Lei nº 1948/96 – Regulamenta a Lei nº 8842/94,, 129<br />
ANEXO 3<br />
Seções I, III, IV, V e VIII do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS, 137
RELAÇÃO DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS<br />
AIVD - Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> Instrumental <strong>de</strong> Vida Diária<br />
AVD - Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Vida Diária<br />
OMS - Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
OPS - Organização Panamericana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
<strong>UFPE</strong> - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />
<strong>UnATI</strong>/UERJ - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Estadual do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Pernambuco<br />
UNESP - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Estadual <strong>de</strong> São Paulo<br />
UNITI - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta da Terceira Ida<strong>de</strong> do Maranhão<br />
UTI - <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> da Terceira Ida<strong>de</strong>
GRÁFICOS:<br />
RELAÇÃO DE GRÁFICOS, TABELAS E ANEXOS<br />
GRÁFICO 1: População Idosa (60 anos e mais) <strong>de</strong> Pernambuco, segundo Faixa Etária e<br />
Sexo. Recife, 1999.<br />
GRÁFICO 2: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Sexo. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 3: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Faixa Etária. Recife,<br />
1998.<br />
GRÁFICO 4: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Sexo e <strong>à</strong> Faixa<br />
Etária. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 5: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> C<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
Procedência. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 6: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Bairro <strong>de</strong><br />
Procedência. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 7: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Nível <strong>de</strong><br />
Escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 8: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Sexo e ao Nível <strong>de</strong><br />
Escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 9: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Estado Conjugal.<br />
Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 10: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Sexo e ao Estado<br />
Conjugal. Recife, 1998.
GRÁFICO 11: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Número <strong>de</strong> Filhos,<br />
Filhas e Número Total <strong>de</strong> Filhos. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 12: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Arranjo<br />
Domiciliar. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 13: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Satisfação com a<br />
Vida em Geral. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 14: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Sexo e <strong>à</strong><br />
Satisfação com a Vida em Geral. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 15: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Utilização dos<br />
Serviços Médicos. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 16: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Satisfação na<br />
Utilização <strong>de</strong> Serviços Médicos. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 17: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Utilização <strong>de</strong><br />
Serviços Dentários. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 18: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Utilização <strong>de</strong><br />
Medicamentos. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 19: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação a Pessoas que<br />
Po<strong>de</strong>riam Cuidá-los em Caso <strong>de</strong> Doença e/ou Incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 20: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Convivência com<br />
as Pessoas com quem Resi<strong>de</strong>m, com Amigos e Vizinhos. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 21: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong>s Visitas Recebidas<br />
na Última Semana. Recife, 1998.
GRÁFICO 22: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Tipo <strong>de</strong> Trabalho<br />
que Realizaram por Mais Tempo em Suas Vidas. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 23: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Tempo <strong>de</strong><br />
Trabalho Durante a Vida. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 24: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Ida<strong>de</strong> em que<br />
Começaram a Trabalhar. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 25: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Ida<strong>de</strong> em que<br />
Pararam <strong>de</strong> Trabalhar. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 26: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Situação <strong>de</strong><br />
Residência. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 27: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Percepção sobre<br />
sua Situação Econômica Atual em Comparação a Quando Tinham 50 Anos. Recife, 1998.<br />
GRÁFICO 28: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Principal<br />
Problema do Seu Dia-a-Dia. Recife, 1998.<br />
TABELAS:<br />
TABELA 1: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Grau <strong>de</strong> Parentesco<br />
entre o Idoso e as Pessoas com as quais Resi<strong>de</strong>. Recife, 1998.<br />
TABELA 2: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Freqüência <strong>de</strong> Uso <strong>de</strong><br />
Alguns Serviços Médicos nos Últimos Três Meses. Recife, 1998.<br />
TABELA 3: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Utilização <strong>de</strong><br />
Ajudas/Apoios. Recife, 1998.
TABELA 4: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Grau <strong>de</strong> Autonomia<br />
e In<strong>de</strong>pendência no Desempenho das Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da Vida Diária (AVD). Recife, 1998.<br />
TABELA 5: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong>s Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
Realizadas no Tempo Livre. Recife, 1998.<br />
TABELA 6: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Assistência Oferecida<br />
pela Família ao Idoso. Recife, 1998.<br />
TABELA 7: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Assistência que o<br />
Idoso Oferece <strong>à</strong> Família. Recife, 1998.<br />
TABELA 8: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> que Possuem Renda, Tomando<br />
como Parâmetro o Salário Mínimo. Recife, 1998.<br />
TABELA 9: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Renda das 291<br />
Famílias que a Possuem, Tomando como Parâmetro o Salário Mínimo. Recife, 1998.<br />
TABELA 10: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação a Algumas Condições<br />
do Domicílio. Recife, 1998.<br />
TABELA 11: Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong>s Suas Principais<br />
Necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s/Carências. Recife, 1998.<br />
ANEXOS:<br />
ANEXO 1: Seções I, III, IV, V e VIII do Questionário BOAS.<br />
ANEXO 2 – Lei nº 8.842/94 – Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso<br />
ANEXO 3 – Decreto Lei nº 1948/96 – Regulamenta a Lei nº 8842/94
RESUMO<br />
Conhecer o perfil sócio-epi<strong>de</strong>miológico dos idosos que freqüentam um programa<br />
especial, <strong>de</strong>senvolvido em uma univers<strong>ida<strong>de</strong></strong> pública fe<strong>de</strong>ral no Estado <strong>de</strong> Pernambuco - a<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>), experiência pioneira no Estado, é o<br />
principal objetivo <strong>de</strong>ste estudo, uma vez que o envelhecimento populacional acelerado pelo<br />
qual o Brasil vem passando, e, em particular a região Nor<strong>de</strong>ste, exige ações a curto prazo,<br />
como uma a<strong>de</strong>quada produção <strong>de</strong> conhecimento na área do envelhecimento que <strong>de</strong>ve<br />
subsidiar o planejamento <strong>de</strong>ssas ações. Realizamos um censo para 358 idosos participantes<br />
do Programa no ano <strong>de</strong> 1998. Para traçar o perfil <strong>de</strong>sejado, realizamos um estudo<br />
epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong>scritivo <strong>de</strong> corte transversal, utilizando um instrumento<br />
multidimensional, o Brazil Old Age Schedule-BOAS e buscamos respaldo teórico em<br />
estudos tanto da área do envelhecimento quanto da saú<strong>de</strong> coletiva. I<strong>de</strong>ntificamos a<br />
existência <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> idosos, em geral, com importantes níveis <strong>de</strong> autonomia,<br />
in<strong>de</strong>pendência funcional e participação, a maioria é capaz <strong>de</strong> realizar só e sem ajuda as<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da vida diária – AVD - (cuidados pessoais, alimentação e vestuário, entre<br />
outras) e as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s instrumentais <strong>de</strong> vida diária – AIVD - (sair para as compras,<br />
administrar medicação, viagens entre, outras). Trata-se <strong>de</strong> um grupo em que predomina o<br />
gênero feminino, na faixa etária entre 60 e 69 anos, casadas e/ou viúvas, com renda <strong>de</strong><br />
aposentadoria e/ou pensão e com bom nível <strong>de</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Tiveram em média quatro<br />
filhos e a maioria refere estar satisfeita com a vida <strong>de</strong> uma maneira geral. Utilizam serviços<br />
médicos e <strong>de</strong>ntários privados (plano/seguro saú<strong>de</strong>), crêem que a filha é a principal pessoa<br />
que po<strong>de</strong> dispensar-lhes cuidados em caso <strong>de</strong> doença ou incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Ocupam<br />
a<strong>de</strong>quadamente seu tempo livre e a maioria mantém um a<strong>de</strong>quado nível <strong>de</strong> integração<br />
social. Não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m financeiramente <strong>de</strong> suas famílias, pelo contrário, são em várias<br />
situações, suas provedoras oferecendo assistência <strong>de</strong> moradia e financeira, porém<br />
consi<strong>de</strong>ram importante <strong>de</strong>sfrutar da atenção e da companhia <strong>de</strong> seus familiares.
ABSTRACT<br />
The principal aim of this research was to investigate the socio-epi<strong>de</strong>miological<br />
profile of senior citizens taking part in a special programme carried out at a Fe<strong>de</strong>ral Public<br />
University in the State of Pernambuco. The <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong><br />
(<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>) or Senior Citizens’ Open University is a pioneering initiative in the state.<br />
The accelerated <strong>de</strong>mographic aging process which Brazil, especially the Northeast region,<br />
has been un<strong>de</strong>rgoing requires short term action supported by a<strong>de</strong>quate production of<br />
knowledge concerning this phenomenon. A census of 358 senior citizens who participated<br />
in the 1998 Programme was un<strong>de</strong>rtaken. In or<strong>de</strong>r to obtain the <strong>de</strong>sired profile, a <strong>de</strong>scriptive<br />
cross-sectional epi<strong>de</strong>miological study was carried out using a multidimensional tool, the<br />
Brazil Old Age Schedule (BOAS) and theoretical grounding was sought in the fields of<br />
both aging and public health studies. We i<strong>de</strong>ntified the existence of a group of senior<br />
citizens displaying high overall levels of autonomy, functional in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce and<br />
participation, the majority being able to carry out daily activities (AVD) alone and without<br />
assistance (personal care, meals and dressing, among others). They were also capable of<br />
carrying out instrumental daily activities (AIVD) such as shopping, medication, travel and<br />
so forth. The group is predominantly female, from 60 to 69 years of age, married and/or<br />
widowed, receiving a retirement income or pension and with a good level of schooling. On<br />
average they have had four children and the majority state that they are generally satisfied<br />
with life. They use private medical and <strong>de</strong>ntal services (health insurance) and believe that<br />
a daughter is the person most able to take care of them in the event of illness or disability.<br />
They make a<strong>de</strong>quate use of their free time and most maintain a reasonable level of social<br />
integration. They are not financially <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt on their families, in fact in several cases<br />
they are still provi<strong>de</strong>rs, offering housing and financial support, consi<strong>de</strong>ring it important<br />
however to enjoy the attention and company of their families.
APRESENTAÇÃO<br />
Meu primeiro contato pessoal com o envelhecimento foi através da convivência<br />
com meus avós, tive o privilégio <strong>de</strong> conhecer todos, os maternos e os paternos e ainda um<br />
bisavô, todos autônomos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e lúcidos. Esta primeira referência positiva <strong>de</strong><br />
afeto, me parece o fundamento <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>mais relações com idosos que pu<strong>de</strong><br />
estabelecer até esse momento <strong>de</strong> minha vida.<br />
Profissionalmente, iniciei o contato com idosos na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, ainda na<br />
graduação <strong>de</strong> Terapia Ocupacional on<strong>de</strong>, por questão <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, eu sempre<br />
terminava acompanhando as pessoas idosas que sofriam <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão e os resultados eram<br />
na maioria das vezes positivos. Percebendo esse “feeling” <strong>de</strong>cidi investir na formação na<br />
área do envelhecimento e, creio, comecei bem, participando do I Curso Internacional <strong>de</strong><br />
Aperfeiçoamento em Epi<strong>de</strong>miologia do Envelhecimento, realizado em 1989 na Escola<br />
Paulista <strong>de</strong> Medicina. Sendo o curso <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>miologia do envelhecimento, <strong>de</strong>u-se uma<br />
associação perfeita, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a graduação já me i<strong>de</strong>ntificava com a saú<strong>de</strong> coletiva.<br />
A seqüência <strong>de</strong> experiências profissionais passam pela minha participação na<br />
equipe <strong>de</strong> implantação da Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Atenção Integral <strong>à</strong> Saú<strong>de</strong> do Idoso da Secretaria<br />
Estadual <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, pela Especialização em Saú<strong>de</strong> do Idoso também pela<br />
FIOCRUZ e culmina com a entrada como docente no Departamento <strong>de</strong> Terapia<br />
Ocupacional da <strong>UFPE</strong> na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental e saú<strong>de</strong> do idoso em 1994, on<strong>de</strong> realizo,<br />
com outros colegas, mais um sonho, a criação em 1996 da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira<br />
Ida<strong>de</strong> da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>).<br />
São muitas as carências <strong>de</strong> conhecimento sobre a população idosa do Estado e<br />
muitos os meus interesses <strong>de</strong> investigação, porém o fato <strong>de</strong> estar gerenciando a<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> me fez optar por este estudo, para conhecer quem são e como vivem os<br />
idosos do Programa, <strong>de</strong> modo que seu produto venha não apenas a subsidiar o<br />
planejamento <strong>de</strong> ações, mas também venha a consubstanciar a crença <strong>de</strong> que este grupo,<br />
constitui-se em uma excelente oportun<strong>ida<strong>de</strong></strong> para campo <strong>de</strong> investigação.
Em linhas gerais, o trabalho discute a preocupação e a curios<strong>ida<strong>de</strong></strong> do homem ao<br />
longo da história com o processo <strong>de</strong> envelhecimento, apresenta algumas reflexões acerca<br />
da imprecisão dos conceitos sobre velhice e envelhecimento, mostra, <strong>à</strong> luz dos estudiosos<br />
do tema, o processo <strong>de</strong> envelhecimento populacional no Brasil e no mundo, guardando<br />
suas peculiar<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, bem como seu impacto para as instituições sociais e econômicas.<br />
Apresenta um estudo realizado com os idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, on<strong>de</strong> foram<br />
abordadas as condições: pessoais e familiares, sociais e econômicas, <strong>de</strong> autonomia e<br />
in<strong>de</strong>pendência funcional para o <strong>de</strong>sempenho das ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da vida diária (AVD), <strong>de</strong><br />
ocupação do tempo livre e <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> serviços médicos e <strong>de</strong>ntários. Por fim, são<br />
apresentadas as conclusões.
1. INTRODUÇÃO<br />
1.1 - Des<strong>de</strong> que o homem é homem ...<br />
18<br />
“Há homens que, como alguns vinhos, envelhecem sem azedar-se.”<br />
(Cícero)<br />
Nunca antes na história da human<strong>ida<strong>de</strong></strong>, o homem experimentou viver tantos anos.<br />
Para MENEZES (1994), é justificável que haja uma perplex<strong>ida<strong>de</strong></strong> diante <strong>de</strong>ssa nova<br />
real<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
A preocupação do homem com as questões da velhice vem <strong>de</strong> tempos remotos. Na<br />
antigü<strong>ida<strong>de</strong></strong> os egípcios já <strong>de</strong>monstravam interesse pelo rejuvenescimento relatado na<br />
tradução <strong>de</strong> um papiro datado <strong>de</strong> 1600-1700 a.C. que provavelmente se reportava a 2500-<br />
3000 a.C. on<strong>de</strong> havia um livro intitulado: Como Transformar um Velho em um Homem <strong>de</strong><br />
Vinte Anos através <strong>de</strong> uma complicada fórmula utilizando-se um ungüento especial,<br />
segundo o papiro funcionou muitas vezes (HAYFLIC, 1996; LEME, 1996 e GOMES,<br />
1998).<br />
Segundo HAYFLIC (1996), os povos do passado observavam que na natureza<br />
alguns animais como as cobras, os lagartos e caranguejos, trocavam a pele ou a concha e<br />
acreditavam ser esse, um processo <strong>de</strong> rejuvenescimento. Ainda segundo o autor o termo<br />
grego (gérõn) e o latino (senectus) que são usados para <strong>de</strong>signar a velhice, referem-se <strong>à</strong><br />
troca da pele <strong>de</strong> um animal.<br />
O homem tenta lutar contra a passagem do tempo e consequentemente contra a<br />
finitu<strong>de</strong>, assim, através da beleza e da juventu<strong>de</strong> eterna, busca a etern<strong>ida<strong>de</strong></strong>, a imortal<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
Neste sentido HAYFLIC (1996), refere que muitas atitu<strong>de</strong>s em relação ao envelhecimento<br />
e <strong>à</strong> morte baseiam-se em crenças <strong>de</strong> que em algum tempo, o homem foi imortal e que por<br />
alguma <strong>de</strong>sobediência cometida, os <strong>de</strong>uses o puniram com a morte e cita o clássico<br />
exemplo <strong>de</strong> Adão e Eva. Em relação a crença sobre existência <strong>de</strong> “tempos” e “lugares”<br />
on<strong>de</strong> se vive ou se viveu uma experiência <strong>de</strong> extrema longev<strong>ida<strong>de</strong></strong> e quase imortal<strong>ida<strong>de</strong></strong>, o<br />
autor cita outros exemplos: “O Jardim do É<strong>de</strong>n”, que “talvez seja o mais conhecido na<br />
cultura oci<strong>de</strong>ntal como um paraíso no qual a imortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> era uma real<strong>ida<strong>de</strong></strong>” (p. 181), a
lenda grega do Hiperbóreo (além do vento norte), uma terra distante on<strong>de</strong> todos tinham<br />
vidas bastante longas. Acredita-se que, ainda hoje, em algumas partes do Equador, Ucrânia<br />
e Paquistão seja possível encontrar pessoas muito longevas e, por fim, a “fonte da<br />
juventu<strong>de</strong>” capaz <strong>de</strong> manter e <strong>de</strong>volver beleza e juventu<strong>de</strong> <strong>à</strong>queles que se banharem em<br />
suas águas.<br />
Para GOMES (1994), ainda hoje o homem persiste em sua busca pelo “elixir da<br />
eterna juventu<strong>de</strong>”: “todos querem viver muito, porém, jovens” (p. 1). PAPALÉO NETTO<br />
et al. (1996) complementam essa reflexão fazendo alusão <strong>à</strong>s “fórmulas ‘miraculosas’ que<br />
oferecem a juventu<strong>de</strong> eterna ou o retardo do envelhecimento” (p.5) e chamam atenção <strong>de</strong><br />
que não existe ainda eficácias cientificamente comprovadas sobre o assunto.<br />
GUIMARÃES (1989) reforça essa questão, referindo-se aos que se valem <strong>de</strong>ssas<br />
promessas miraculosas como “mercadores <strong>de</strong> ilusões” (p. 1).<br />
Segundo GOMES (1998), há uma dificulda<strong>de</strong> em se encontrar bibliografia sobre o<br />
tema do envelhecimento em tempos mais remotos. Relata que entre os povos primitivos a<br />
expectativa <strong>de</strong> vida ao nascer era em média 18 anos e posteriormente entre os gregos e os<br />
romanos chegou a 25 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>. O autor refere, ainda, que os cuidados dispensados aos<br />
idosos <strong>de</strong>pendiam dos princípios morais, sociais e/ou religiosos que regiam cada<br />
socieda<strong>de</strong>. Assim o idoso po<strong>de</strong>ria ser visto como ônus ou honra.<br />
Vários autores trazem reflexões sobre o tema da velhice <strong>à</strong> luz dos egípcios,<br />
chineses, hindus, judaicos, gregos e romanos, que apresentamos a seguir. Nestes relatos<br />
encontramos referências aos aspectos sociais e biológicos em relação <strong>à</strong> velhice, observadas<br />
nessas socieda<strong>de</strong>s.<br />
BEAUVOIR (1990), <strong>de</strong>staca na cultura oriental o povo chinês, referindo-se <strong>à</strong><br />
condição <strong>de</strong> privilégio dispensada por estes aos idosos. Segundo a autora, por ser uma<br />
cultura muito estática, on<strong>de</strong> pelas condições geográficas e econômicas tinha necess<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
maior <strong>de</strong> sobreviver e não <strong>de</strong> evoluir, conservava fortemente seus valores e sua hierarquia,<br />
as responsabil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s assim como o po<strong>de</strong>r, aumentavam com o passar dos anos. Assim<br />
também funcionava a organização familiar, on<strong>de</strong> todos <strong>de</strong>viam obediência ao homem mais<br />
velho, mesmo a mulher que era submissa ao homem, quando mais velha gozava <strong>de</strong><br />
prestígio e respeito diante da família e dos homens mais jovens. Refere ainda a autora que,<br />
19
a família como base, foi uma estrutura regulamentada por Confúcio, filósofo e reformador<br />
chinês, que tinha como justificativa para o po<strong>de</strong>r exercido pelos mais velhos a relação<br />
direta entre a <strong>ida<strong>de</strong></strong> avançada e a sabedoria. O respeito pelos idosos não se limitava ao seio<br />
da família, estendia-se a todos os idosos. Na cultura praticada na China, exigia-se mais<br />
experiência do que força. A autora <strong>de</strong>staca também o filósofo chinês Lao-Tsé, fundador do<br />
taoísmo. Para os taoístas a velhice aparece como uma virtu<strong>de</strong> em si mesma. No neotaoísmo<br />
o objetivo maior do homem era a vida longa: “A velhice era, portanto, a vida sob sua<br />
forma suprema” (p. 114). Apesar <strong>de</strong> existirem relatos relativos <strong>à</strong> revolta dos jovens e<br />
mulheres contra a opressão por eles vividos, não se observa, segundo a autora, na literatura<br />
chinesa, a velhice retratada como flagelo.<br />
No mundo oci<strong>de</strong>ntal, o que se observa é diferente. A primeira referência <strong>de</strong> que se<br />
tem notícias quanto <strong>à</strong> preocupação com o envelhecimento, que data <strong>de</strong> aproximadamente<br />
2500 a.C., feita por Phtah Hotep, filósofo e poeta egípcio e, segundo a autora, são<br />
referências negativas, falam do <strong>de</strong>clínio físico e mental dos idosos. Neste sentido, afirma o<br />
poeta: “A velhice é o pior dos infortúnios que po<strong>de</strong> afligir um homem” (BEAUVOIR,<br />
1990, p. 114).<br />
Para GOMES (1998), entre os egípcios, como já foi referido, havia uma<br />
preocupação com o rejuvenescimento e não uma preocupação social nem <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em<br />
relação aos velhos, muito embora tenham tido uma medicina avançada. Há sim uma<br />
preocupação em não envelhecer, em manter-se belo, bem cuidado, uma extrema<br />
preocupação com a aparência física observada nos séculos XIII e XII a.C. (dinastia dos<br />
Ramsés). Em relação aos hindus o autor refere que estes, não <strong>de</strong>monstravam preocupação<br />
social com os velhos, possuíam uma medicina bastante adiantada, <strong>de</strong>stacando-se o médico<br />
Charaka, que dividiu a arte <strong>de</strong> curar em oito partes, uma <strong>de</strong>las referia-se ao<br />
rejuvenescimento e <strong>à</strong> restauração da viril<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
O povo judaico tinha muito respeito pelos mais velhos, sendo uma socieda<strong>de</strong><br />
patriarcal que cultuava os idosos, inclusive, atribuindo a estes <strong>ida<strong>de</strong></strong>s avançadíssimas como<br />
é o caso <strong>de</strong> José que segundo as escrituras viveu 110 anos; Moisés, 120; Aaron, 123; Jacó,<br />
140; Abrão, 175; Isaac, 180; Enoque, 365; Noé, 950 e Matusalém, 969 anos.<br />
Provavelmente, essas <strong>ida<strong>de</strong></strong>s são metáforas que se referem <strong>à</strong> longev<strong>ida<strong>de</strong></strong> ou ao calendário<br />
lunar utilizado naquele tempo. A Bíblia traz inúmeras passagens que reforçam o respeito<br />
20
daquele povo pelos seus velhos que, exerciam, inclusive, uma ação política. Observa-se<br />
entre os ju<strong>de</strong>us uma inserção social. Sob a influência religiosa, a doença era vista como<br />
castigo, porém quanto ao aspecto da saú<strong>de</strong>, recomendava-se medidas <strong>de</strong> higiene e a<br />
medicina hebráica tinha como característica, a prevenção. Encontram-se também<br />
recomendações <strong>de</strong> banhos <strong>de</strong> vapor seguidos <strong>de</strong> duchas frias e massagens com óleos para<br />
se manter uma vida longa e saudável (HAYFLIC, 1996; LEME, 1996 e GOMES, 1998 ).<br />
BEAUVOIR (1990), refere que para os gregos honra e velhice estavam ligadas.<br />
Homero associava velhice <strong>à</strong> sabedoria. A autora cita dois exemplos opostos <strong>de</strong> concepções<br />
sobre a velhice, Platão e Aristóteles; no primeiro, encontra-se valorização da velhice<br />
relatada em toda sua obra. Platão propõe, inclusive, a gerontocracia. Para ele, não importa<br />
o corpo mas sim a alma e, portanto, o <strong>de</strong>clínio do corpo na velhice não mudava em nada a<br />
vida do homem, a alma podia até tornar-se mais livre <strong>de</strong>ste. Seu pensamento é também<br />
relatado nos seus diálogos com Sócrates e <strong>de</strong>ste com Céfalos; no segundo, a alma e o corpo<br />
estão unidos e o que afeta um, afeta o outro, para se ter uma velhice feliz o corpo <strong>de</strong>ve<br />
estar intacto. Para Aristóteles, após os 50 anos o homem é consi<strong>de</strong>rado velho e<br />
enfraquecido e portanto, <strong>de</strong>ve ser afastado do po<strong>de</strong>r.<br />
Segundo GOMES (1998), ainda entre os gregos, em relação <strong>à</strong> saú<strong>de</strong> dos idosos,<br />
encontram-se referências nas escolas <strong>de</strong> medicina <strong>de</strong> Hipócrates e Aristóteles. O autor<br />
refere que Hipócrates consi<strong>de</strong>rava que após os 50 anos se era velho, e que as doenças<br />
resultavam do <strong>de</strong>sequilíbrio dos humores. Muitas <strong>de</strong> suas observações e ensinamentos<br />
quanto <strong>à</strong> saú<strong>de</strong> do idoso permanecem atuais, por exemplo as manifestações clínicas<br />
atípicas, a hipotermia, a cronic<strong>ida<strong>de</strong></strong> das doenças e a alteração nas funções intestinais.<br />
Recomendava cuidados <strong>de</strong> higiene corporal, ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> física e mental e mo<strong>de</strong>ração<br />
dietética. LEME (1996) acrescenta que “o método hipocrático <strong>de</strong> exame incluía uma<br />
observação cuidadosa da aparência do paciente, seu estado emocional, condição<br />
funcional, condição <strong>de</strong> vida e ambiente, incluindo clima e costumes locais” (p. 17), o que<br />
não difere muito da orientação geriátrica atual.<br />
BEAUVOIR (1990) refere que entre os romanos a condição do velho está ligada <strong>à</strong><br />
estabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> social. O lugar dos velhos estava relacionado ao seu po<strong>de</strong>r político e<br />
econômico e nesse sentido o Senado se sustentava. Esse po<strong>de</strong>r se observava também na<br />
família, o paterfamilias, on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r era vitalício e total sobre as coisas e as pessoas.<br />
21
Refere ainda a autora que com a <strong>de</strong>cadência da oligarquia, caem também o prestígio dos<br />
velhos, do Senado e do paterfamilias. É nesse contexto que segundo a autora Cícero,<br />
senador romano, aos 63 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> escreveu De Senectu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo a reforçar a<br />
abalada autor<strong>ida<strong>de</strong></strong> do Senado. LEME (1996), refere-se a obra <strong>de</strong> Cícero sob outra ótica.<br />
Relata o autor que Cícero teceu consi<strong>de</strong>rações importantes sobre alguns problemas da<br />
velhice como: “memória, perda da capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional, alterações dos órgãos dos<br />
sentidos, perda da capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> trabalho, etc” (p. 17), e exemplifica as recomendações<br />
dadas sobre a importância dos exercícios mentais para a manutenção da memória. O autor<br />
<strong>de</strong>staca também Galeno, que consi<strong>de</strong>rava os quatro humores, a noção <strong>de</strong> pneuma, o calor<br />
intrínseco e a crença em um só <strong>de</strong>us e em sua obra, a “Gerontomica”, aborda a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
do idoso manter-se aquecido e ume<strong>de</strong>cido, manter dieta equilibrada, tomar vinho e manter-<br />
se ativo.<br />
LEME (1996), em relação <strong>à</strong> questão do envelhecimento na <strong>ida<strong>de</strong></strong> média, refere que<br />
o interesse acadêmico da época centrou-se, quase que exclusivamente, em medidas<br />
higiênicas para a manutenção <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong> até a <strong>ida<strong>de</strong></strong> avançada. O autor refere ainda que<br />
no início do século X, existia em Veneza uma legislação que tributava em 10% as heranças<br />
para, com esse fundo, prestar assistência específica <strong>à</strong>s pessoas incapazes e idosas. Destaca,<br />
da Escola Médica <strong>de</strong> Montpellier a Arnold <strong>de</strong> Villanova, médico e químico que acreditava<br />
ter encontrado o elixir da longa vida. Em seu livro: Da Conservação da Juventu<strong>de</strong> e da<br />
Proteção da Velhice, escrito em 1290, incorporava os conceitos galênicos dos humores<br />
secos e frios em relação ao envelhecimento. Quanto ao papel social dos velhos na Ida<strong>de</strong><br />
Média, BEAUVOIR (1990) refere que era inexpressivo, pois as instituições eram instáveis<br />
para garantir a proprieda<strong>de</strong> que precisava ser <strong>de</strong>fendida com a força - o po<strong>de</strong>r era dos<br />
jovens - a experiência dos mais velhos valia pouco. Acrescenta a autora que já nos fins da<br />
alta Ida<strong>de</strong> Média, com toda a <strong>de</strong>struição que se <strong>de</strong>u o trabalho <strong>de</strong> reconstrução nas c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
e no campo era muito ru<strong>de</strong> e os idosos não tinham condições <strong>de</strong> fazê-lo, posteriormente os<br />
feudos também necessitavam <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa através da luta e portanto, num mundo tão adverso,<br />
a longev<strong>ida<strong>de</strong></strong> permanece rara e a contribuição dos idosos quase nula. Por fim, a autora<br />
refere que, aqui também se encontra o <strong>de</strong>sejo da juventu<strong>de</strong> eterna, <strong>de</strong>scrito em lagos<br />
mágicos capazes <strong>de</strong> rejuvenescerem as pessoas, como por exemplo a ilha <strong>de</strong> Avalon, lá não<br />
se morre e não se envelhece.<br />
22
Segundo LEME (1996), após o período medieval surge o Renascimento e como<br />
ocorreu em outras áreas, cresce também o interesse pelo estudo do envelhecimento. Na<br />
segunda meta<strong>de</strong> do século XV, em 1498, uma obra também consi<strong>de</strong>rada muito importante<br />
foi escrita pelo médico anatomista Gabriele Zerbi e chamava-se “Gerontocomia”; trata-se,<br />
segundo o autor, do primeiro livro impresso <strong>de</strong>dicado <strong>à</strong> geriatria.<br />
BEAUVOIR (1990), refere que no fim do século XIX e início do século XX, já no<br />
capitalismo no mundo oci<strong>de</strong>ntal, multiplicam-se as pesquisas em vários países no campo<br />
do envelhecimento. Segundo a autora, a partir <strong>de</strong> 1930 <strong>de</strong>senvolveram-se as pesquisa em<br />
Biologia, Psicologia e Sociologia e que nos dias <strong>de</strong> hoje continuam a se <strong>de</strong>senvolver cada<br />
vez mais, ampliando as áreas <strong>de</strong> conhecimento envolvidas. Neste sentido, GUIMARÃES<br />
(1996), alerta que apesar <strong>de</strong> muitos equívocos terem sido cometidos na antigü<strong>ida<strong>de</strong></strong> em<br />
relação ao estudo do envelhecimento, acabaram pois, constituindo-se em contribuições<br />
importantes. A cada dia evoluem as abordagens em relação <strong>à</strong> saú<strong>de</strong> dos idosos como por<br />
exemplo, no estudo das manifestações clínicas, do diagnóstico on<strong>de</strong> se utilizam inúmeros<br />
protocolos e escalas <strong>de</strong> avaliação, levando a maiores chances <strong>de</strong> boas intervenções para a<br />
solução dos problemas apresentados. O autor refere ainda os trabalhos <strong>de</strong> Marjorie Warren<br />
em 1947 e J. H. Sheldon em1948 como fundamentais para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa<br />
clínica em geriatria. O primeiro, segundo ele, “estabeleceu critérios <strong>de</strong> avaliação dos<br />
pacientes encaminhados para instituições <strong>de</strong> longa permanência, lançando <strong>de</strong>sta forma, as<br />
bases da Medicina Geriátrica” (p. 72); o segundo, “lançou as bases da medicina social da<br />
velhice e reportou <strong>de</strong> maneira sistemática os maiores problemas dos velhos resi<strong>de</strong>ntes na<br />
comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>” (p. 72).<br />
DEBERT (1996) discute o fato que do ponto <strong>de</strong> vista social a maioria dos relatos<br />
referem-se a uma velhice abandonada, solitária e empobrecida, relegada ao segundo plano<br />
nas socieda<strong>de</strong>s industrializadas. Tais relatos, baseiam-se para suas afirmativas na lógica<br />
capitalista da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo. Para a autora, no Brasil, o discurso gerontológico que<br />
construiu uma imagem vitimizada do velho brasileiro, baseou-se em 4 aspectos: a explosão<br />
<strong>de</strong>mográfica da população idosa, que <strong>de</strong>manda políticas específicas; a crítica ao<br />
capitalismo, cujas consequências se exacerbariam na velhice; a crítica <strong>à</strong> cultura brasileira<br />
que valoriza o novo e não tem memória e, por último, o Estado. A transformação da<br />
família extensa em família nuclear e a criação do welfare state, on<strong>de</strong>, com o <strong>de</strong>clínio do<br />
23
mecanismo familiar associado a um Estado sem condições <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r <strong>à</strong>s suas <strong>de</strong>mandas,<br />
a população idosa vê-se diante <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong>sfavorável.<br />
Para PAPALÉO NETTO et al. (1996), nas socieda<strong>de</strong>s industrializadas com a<br />
valorização da produtiv<strong>ida<strong>de</strong></strong> todos os que não apresentam força física e rapi<strong>de</strong>z em seu<br />
ritmo sem dúvida estariam alijados do sistema. Na Revolução Industrial essas exigências<br />
são condições fundamentais, a força <strong>de</strong> produção está para os mais jovens. BEAUVOIR<br />
(1990) acrescenta que “o material humano só interessa enquanto produz” (p. 13) e citando<br />
Leach, antropólogo <strong>de</strong> Cambridge: “Num mundo em mutação, em que as máquinas têm<br />
vida muito curta, não é necessário que os homens sirvam durante um tempo<br />
<strong>de</strong>masiadamente longo. Tudo que ultrapassa 55 anos <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scartado como refugo”<br />
(p. 13).<br />
Para BIRMAN (1995), é esperado que neste contexto <strong>de</strong> transformação social, a<br />
velhice seja marginalizada, pois refere o autor “estava em pauta era a possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> sócio-<br />
política <strong>de</strong> produção, reprodução e acumulação <strong>de</strong> riqueza, centrada no paradigma<br />
biológico da reprodução e <strong>de</strong> melhoria eugênica da espécie humana” (p. 33), ou seja, o<br />
homem tem o seu valor conforme sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> produzir e reproduzir riquezas e o<br />
velho já não tendo mais potencial para essa produção e reprodução per<strong>de</strong> seu valor social e<br />
simbólico.<br />
Reforçando esta reflexão, PAPALÉO NETTO et al. (1996) questionam o lugar do<br />
idoso na socieda<strong>de</strong> atual refletindo o quanto o próprio idoso po<strong>de</strong> contribuir para modificar<br />
a situação presente, cita como exemplo a resistência dos mais velhos em adaptar-se <strong>à</strong>s<br />
mudanças e com a veloc<strong>ida<strong>de</strong></strong> tecnológica <strong>de</strong> hoje essa adaptação é quase questão <strong>de</strong><br />
sobrevivência e <strong>de</strong> minimização dos conflitos intergeracionais. Cita ainda que existe uma<br />
rejeição do idoso com relação ao seu próprio envelhecimento. Para o autor, o idoso <strong>de</strong>ve<br />
ser sujeito ativo em todo esse processo.<br />
DEBERT (1996) contribui <strong>de</strong> modo bastante esclarecedor discutindo sobre a<br />
atual<strong>ida<strong>de</strong></strong> do tema envelhecimento através <strong>de</strong> estudos sobre as representações do papel do<br />
idoso na socieda<strong>de</strong> contemporânea. Dentre as suas muitas reflexões, <strong>de</strong>stacamos as que se<br />
referem ao “envelhecimento bem-sucedido”, ou seja, afirma que atualmente há uma<br />
tendência <strong>de</strong> inverter a imagem negativa da velhice e tratar essa época da vida como um<br />
24
momento <strong>de</strong> possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, chamando o idoso <strong>à</strong> participação, uma vez que, segundo a<br />
autora, em relação aos idosos “as experiências vividas e os saberes acumulados<br />
proporcionam a chance <strong>de</strong> engendrar novos projetos e estabelecerem relações positivas<br />
com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos” (p. 35).<br />
Para BEAUVOIR (1990), ainda existe em relação ao envelhecimento uma<br />
“conspiração do silêncio”, a velhice vista na esfera do privado e afirma: “Para a<br />
socieda<strong>de</strong>, a velhice aparece como uma espécie <strong>de</strong> segredo vergonhoso, do qual é<br />
in<strong>de</strong>cente falar” (p.8). BIRMAN (1995) acrescenta que tratar a velhice <strong>de</strong> forma piedosa e<br />
filantrópica é uma “maneira falaciosa e até mesmo hipócrita para silenciar os valores<br />
negativos em que a mo<strong>de</strong>rn<strong>ida<strong>de</strong></strong> inscreveu a velhice” (p. 35). Portanto refere DEBERT<br />
(1996), com o envelhecimento passando a ser visto como uma experiência mais<br />
gratificante, tem-se observado no Brasil uma série <strong>de</strong> experiências que valorizam essa<br />
vivência coletiva, como por exemplo os grupos <strong>de</strong> convivência <strong>de</strong> idosos e os programas<br />
<strong>de</strong> univers<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>aberta</strong>s para a <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, que na década <strong>de</strong> noventa proliferaram por<br />
todo o país, essa é uma forma <strong>de</strong> tornar pública a questão do envelhecimento.<br />
Ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>senvolvemos uma competência para lidar com o<br />
envelhecimento saudável, nos <strong>de</strong>paramos com dificulda<strong>de</strong>s para lidarmos com os<br />
problemas da velhice mais avançada. Temos então que estar atentos para não ocorrer a<br />
“reprivatização da velhice”. As experiências exitosas não po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado a<br />
preocupação com a velhice acompanhada <strong>de</strong> enferm<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e/ou <strong>de</strong>samparada. Três<br />
condições contribuem para essa nova forma <strong>de</strong> representar a velhice: primeiro, as<br />
mudanças no sistema produtivo, com o aumento das camadas assalariadas e com os novos<br />
padrões <strong>de</strong> aposentadoria que não mais significa estar velho, pois cada vez mais pessoas<br />
estão se aposentando ainda muito jovens; segundo, os aposentados não po<strong>de</strong>m mais ser<br />
consi<strong>de</strong>rados os menos privilegiados da socieda<strong>de</strong> nem em países <strong>de</strong>senvolvidos e nem no<br />
Brasil, on<strong>de</strong> as pesquisas mostram a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> se refazer esse discurso; a <strong>terceira</strong><br />
condição é a expansão do capital, <strong>de</strong>pois dos anos 70 com a reelaboração das concepções<br />
sobre o corpo, ou seja, a cultura do consumismo, o corpo é veículo do prazer e a<br />
responsabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> com o bem-estar é individual (DEBERT, 1996).<br />
Para KALACHE (1987), o confronto com o envelhecimento exige <strong>de</strong> todos, um<br />
esforço conjunto para fazer frente <strong>à</strong>s suas <strong>de</strong>mandas. Antes, a experiência do<br />
25
envelhecimento era privilégio <strong>de</strong> poucos, as pessoas morriam em <strong>ida<strong>de</strong></strong>s tenras; hoje, trata-<br />
se <strong>de</strong> uma real<strong>ida<strong>de</strong></strong> universal.<br />
A origem dos termos Gerontologia e Geriatria, especial<strong>ida<strong>de</strong></strong>s assim constituídas<br />
recentemente, resultam da história <strong>de</strong>ste último século aqui relatada. O termo Gerontologia<br />
foi criado por volta <strong>de</strong> 1903 a partir dos estudos <strong>de</strong> Élie Metchnikoff sobre biologia do<br />
envelhecimento, para referir-se <strong>à</strong> especial<strong>ida<strong>de</strong></strong> que estuda cientificamente o processo <strong>de</strong><br />
envelhecimento. Também no início <strong>de</strong>ste século surge o termo Geriatria, criado por Ignaz<br />
L. Nasche, para referir-se <strong>à</strong> especial<strong>ida<strong>de</strong></strong> que trata das doenças dos velhos (BEAUVOIR,<br />
1990; HAYFLIC, 1996 e LEME, 1996).<br />
O homem já consegue viver mais. Precisamos <strong>de</strong>scobrir maneiras <strong>de</strong> como viver<br />
melhor por mais tempo. Nesse sentido PAPALÉO NETTO et al. (1996) afirmam que não é<br />
justo apenas prolongar a vida dos mais velhos, sem lhes oferecer condições para que esses<br />
anos a mais sejam vividos com dign<strong>ida<strong>de</strong></strong>. HAYFLIC (1997) acrescenta que hoje há um<br />
consenso <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve haver empenho para prolongar a vida o máximo possível <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
se possa manter também sua qual<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Portanto a preocupação principal não é apenas a<br />
ampliação do tempo <strong>de</strong> vida. Segundo LA SALUD...(1989), a Socieda<strong>de</strong> Gerontológica<br />
dos Estados Unidos tem como lema: “Acrescentar vida aos anos, e não apenas anos <strong>à</strong><br />
vida”, esse é um lema da Gerontologia. Em 1982 a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS)<br />
também o adotou, sob a legenda “Agregue vida aos anos”.<br />
1.2 – Para não dizer que não falei da velhice.<br />
“Não existe uma <strong>de</strong>finição perfeita para o envelhecimento mas, como ocorre<br />
com o amor e a beleza, gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> nós o reconhece quando o sente ou vê”<br />
26<br />
(Hayflick)<br />
“Fala-se <strong>de</strong> velhice como se esta palavra representasse uma real<strong>ida<strong>de</strong></strong> bem<br />
<strong>de</strong>finida. Na verda<strong>de</strong>, quando se trata <strong>de</strong> nossa espécie, não é fácil circunscrevê-la”<br />
(BEAUVOIR, 1990, p. 15)
“O que é ser idoso não é uma questão tão simples <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida, não obstante a<br />
sua aparente obvieda<strong>de</strong> para a consciência individual <strong>de</strong> qualquer um <strong>de</strong> nós” (BIRMAN,<br />
1995, p. 29).<br />
“Obviamente, não se trata <strong>de</strong> negar o processo biológico do envelhecimento<br />
progressivo <strong>de</strong> cada ser, mas <strong>de</strong> chamar atenção para o fato <strong>de</strong> que este processo, sem<br />
dúvida universal, po<strong>de</strong> ser vivido <strong>de</strong> muitas e diferentes maneiras (...) Simplesmente<br />
substituir, por exemplo, a categoria velhice por <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> não acrescenta qualquer<br />
precisão ao conceito” (GUEDES, 1994, p. 7 e 9).<br />
As afirmativas acima retratam a dificulda<strong>de</strong> em se precisar “um” conceito <strong>de</strong><br />
velhice, talvez não se tenha que fazê-lo, porém para quem lida com o envelhecimento as<br />
perguntas são inevitáveis: o que é velhice? Quando se fica velho? Respon<strong>de</strong>r uma significa<br />
automaticamente respon<strong>de</strong>r a outra. Os recortes encontrados nos autores contemporâneos<br />
apontam para abordagens biológica, psicológica, social, econômica, antropológica,<br />
cronológica, ecológica, histórica... Todos concordam em um ponto: nenhuma <strong>de</strong>ssas<br />
dimensões isoladamente dá conta da questão da velhice, tamanha sua complex<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
Em BEAUVOIR (1990), encontramos referência <strong>à</strong> velhice como um fenômeno<br />
biológico, com repercussões psicológicas e uma dimensão existencial. Também <strong>de</strong> forma<br />
semelhante é entendida a velhice por BIRMAN (1995), para o autor a lógica evolucionista<br />
é que <strong>de</strong>terminou a etarieda<strong>de</strong> da vida humana numa compreensão puramente biológica, a<br />
mesma lógica que fez surgir a psicologia do <strong>de</strong>senvolvimento com sua psicometria que<br />
mensura o comportamento humano <strong>de</strong> acordo com as faixas <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> e, por fim, o autor<br />
refere o registro filosófico, estabelecendo relação com a história e, portanto, com o tempo e<br />
a temporal<strong>ida<strong>de</strong></strong>, correspon<strong>de</strong>ndo ao que Beauvoir chamou <strong>de</strong> dimensão existencial.<br />
Não é possível estabelecer uma única <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> velhice ou <strong>de</strong> velho que<br />
responda a todas as peculiar<strong>ida<strong>de</strong></strong>s exigidas pelo tema. Existem, portanto, recortes<br />
biológico, social, econômico e cronológico (EL ENVELECIMIENTO..., 1999), este último<br />
tem sido aceito praticamente <strong>de</strong> forma unânime para fins <strong>de</strong> pesquisa e legislação, porém<br />
guardadas suas limitações como indicador <strong>de</strong> velhice, uma vez que já referimos que<br />
segundo os autores e os documentos aqui mencionados as várias dimensões sobre o tema<br />
se complementam.<br />
27
NERI (1991), concorda que o envelhecimento é um processo que envolve os<br />
aspectos biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais e que, portanto, <strong>de</strong>ve ser<br />
entendido em suas várias dimensões. A partir <strong>de</strong> seus estudos a autora refere que a<br />
etarieda<strong>de</strong> por nós conhecida é uma construção social e situa seus conceitos no tempo: “o<br />
conceito <strong>de</strong> infância (séculos XVIII e XIX), adolescência (fins do século XIX), juventu<strong>de</strong><br />
(20 ou 25 anos atrás), meia-<strong>ida<strong>de</strong></strong> (anos 60) e “velhice avançada” (década <strong>de</strong> 70)” (p.<br />
18). Portanto, como refere BIRMAN (1995) o conceito <strong>de</strong> velhice é recente na história<br />
mo<strong>de</strong>rna oci<strong>de</strong>ntal.<br />
Acreditamos que em diversos autores, será possível encontrar discussões em<br />
relação a estas e outras dimensões atribuídas <strong>à</strong> velhice e ao envelhecimento; nossa<br />
contribuição é, portanto, apontar que a partir <strong>de</strong>stes e <strong>de</strong> outros autores é possível perceber<br />
que não se po<strong>de</strong> mais continuar tratando o tema em questão sob o mito da velhice<br />
“medicalizada”.<br />
Existem referências <strong>de</strong> que a maioria dos idosos apresenta boas condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
e vive na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, ao contrário do que pensa o senso comum. Segundo KALACHE<br />
(1987) na Inglaterra, cerca <strong>de</strong> 95% dos idosos vivem na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>; RAMOS (1996)<br />
reforça que, na maioria das socieda<strong>de</strong>s, em torno <strong>de</strong> 90% dos idosos vivem na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>,<br />
indicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da Espanha (1995) apontam que 74,4% dos idosos são totalmente<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes para o <strong>de</strong>sempenho das AVDs;<br />
BERQUÓ (1996), chama atenção para a importância <strong>de</strong> termos em mente que:<br />
sendo o envelhecimento uma construção sócio-histórica, os perfis que hoje conhecemos em<br />
relação aos idosos e/ou <strong>à</strong>s populações idosas, referem-se <strong>à</strong> coortes nascidas nas décadas <strong>de</strong><br />
10, 20 e 30. No futuro teremos, possivelmente, outros “<strong>de</strong>senhos” <strong>de</strong> velho e <strong>de</strong> velhice.<br />
Como refere BEAUVOIR (1996), “mudar é a lei da vida” (p. 17).<br />
28
1.3 - Eu envelheço, tu envelheces, nós envelhecemos ... A População Envelhece<br />
29<br />
“Tempo, tempo, tempo, tempo ...”<br />
(Caetano Veloso)<br />
O aumento acelerado da população idosa e seu impacto para os diversos setores da<br />
socieda<strong>de</strong> têm sido discutidos nos meios políticos e acadêmicos com o objetivo <strong>de</strong><br />
encontrar soluções viáveis para o enfrentamento <strong>de</strong>ssa real<strong>ida<strong>de</strong></strong> que se impõe a um país<br />
como o Brasil, que apesar <strong>de</strong> encontrar-se em franco processo <strong>de</strong> envelhecimento <strong>de</strong> sua<br />
população, ainda conta com necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s sócio-sanitárias básicas a serem solucionadas.<br />
Essa polarização exige um planejamento para equacionar a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> recursos e ações<br />
públicas.<br />
Segundo RAMOS (1993), o envelhecimento populacional está bem <strong>de</strong>finido nos<br />
países <strong>de</strong> primeiro mundo, uma vez que se relaciona diretamente ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />
social e ocorreu em um período <strong>de</strong> aproximadamente 200 anos. Também nos países do<br />
Terceiro Mundo já se observa um envelhecimento <strong>de</strong> suas populações, inclusive <strong>de</strong> forma<br />
bastante acelerada. O autor acrescenta que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960 mais da meta<strong>de</strong> da população idosa<br />
do mundo vive em países menos <strong>de</strong>senvolvidos e a perspectiva para o ano 2000 é que esse<br />
número atinja os 70%. Em relação a essa questão, KALACHE (1987) refere que só a partir<br />
<strong>de</strong> 1960 é que se verifica ganho significativo da expectativa <strong>de</strong> vida ao nascer para as<br />
populações <strong>de</strong>sses países. Segundo o autor, este ganho <strong>de</strong>verá não só manter-se, mas<br />
também acentuar-se até o final <strong>de</strong>ste século; os idosos serão o grupo etário que mais<br />
crescerá na maioria dos países menos <strong>de</strong>senvolvidos. Oito entre os 11 países com as<br />
maiores populações <strong>de</strong> idosos, por volta do ano 2025 são classificados como países em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Segundo KALACHE (1987), “para que uma população envelheça é necessário<br />
primeiro que nasçam muitas crianças, segundo que as mesmas sobrevivam até <strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
avançadas e que, simultaneamente, o número <strong>de</strong> nascimentos diminua. Com isso a entrada<br />
<strong>de</strong> jovens na população <strong>de</strong>cresce, e a proporção daqueles que sobreviveram até <strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
mais avançadas passa a crescer” (p. 204). RAMOS (1993) <strong>de</strong>staca que, para ocorrer o<br />
envelhecimento populacional são consi<strong>de</strong>rados dois fatores essenciais, a taxa <strong>de</strong><br />
mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> e a taxa <strong>de</strong> fecund<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> uma população. A queda do coeficiente <strong>de</strong>ssas
taxas é que levará ao aumento da expectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma população, sendo portanto<br />
entendido o envelhecimento populacional como “o aumento da proporção <strong>de</strong> pessoas com<br />
<strong>ida<strong>de</strong></strong> avançada em uma população, <strong>à</strong>s custas da diminuição da proporção <strong>de</strong> jovens nesta<br />
mesma população” (p. 4). Acrescenta que a queda da mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> antece<strong>de</strong> a queda da<br />
fecund<strong>ida<strong>de</strong></strong>, a esse fenômeno <strong>de</strong>nomina-se <strong>de</strong> “transição <strong>de</strong>mográfica”.<br />
Para KALACHE (1987), o processo <strong>de</strong> transição <strong>de</strong>mográfica, <strong>de</strong>finido acima,<br />
po<strong>de</strong> ser observado em praticamente todas as regiões do mundo, sendo portanto um<br />
fenômeno universal. Porém envelhecer em condições sócio-sanitárias, econômicas e<br />
políticas favoráveis, características <strong>de</strong> países <strong>de</strong>senvolvidos, é diferente <strong>de</strong> envelhecer em<br />
regiões on<strong>de</strong> esses condicionantes básicos <strong>de</strong> bem estar ainda não estão consolidados. São<br />
países que segundo o autor, por não terem ainda completado um ciclo econômico e<br />
político, permanecem com carências diversas.<br />
Faz-se necessário, portanto, enten<strong>de</strong>r a diferença entre o processo <strong>de</strong><br />
envelhecimento populacional ocorrido nos países industrializados daquele que se observa<br />
nos países em <strong>de</strong>senvolvimento. Nesse sentido FOUCALT (1976) apud BIRMAN (1995)<br />
contribui referindo que o investimento no bem estar da população entrou na agenda<br />
política do primeiro mundo a partir das transformações sociais ocorridas na passagem do<br />
século XVIII para o XIX, on<strong>de</strong> os governos passaram a enten<strong>de</strong>r que suas riquezas não<br />
estavam apenas nos recursos naturais, mas também em sua população e que quanto mais o<br />
Estado investisse em melhoria das condições biológicas da população e sócio-sanitárias<br />
dos seus territórios, melhores as chances <strong>de</strong> produção e reprodução <strong>de</strong> riquezas. Assim,<br />
houve um gran<strong>de</strong> investimento nas condições <strong>de</strong> vida da população em geral e<br />
consequentemente com o crescimento econômico, político e social <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>sse<br />
investimento observa-se melhoria das condições sócio-sanitárias das populações<br />
contribuindo diretamente para o aumento na expectativa <strong>de</strong> vida. Observou-se nesse<br />
período, segundo o autor, uma “medicalização” do Oci<strong>de</strong>nte, mediante a qual a medicina<br />
passou a ocupar uma posição estratégica no campo social. Este processo não se observou<br />
nos países em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
RAMOS (1987) refere que o envelhecimento das populações dos países<br />
<strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong>u-se ao longo <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento social, político e<br />
econômico, como referido acima, que permitiu, em tese, que estes dispusessem <strong>de</strong><br />
30
planejamento <strong>de</strong> políticas públicas que viessem a aten<strong>de</strong>r <strong>à</strong>s <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> uma população<br />
que envelhece, significando que, quando se <strong>de</strong>ram as gran<strong>de</strong>s conquistas médico-<br />
tecnológicas como por exemplo a <strong>de</strong>scoberta dos antibióticos, das vacinas, do raio X, entre<br />
outras, - que, sem dúvida, contribuíram para diminuir as mortes antes inevitáveis - já havia<br />
uma estrutura sócio-sanitária favorável, como: processo or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> urbanização, elevação<br />
das condições sanitárias e nutricionais, condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> habitação e trabalho, e<br />
portanto, os fatores tecnológicos não foram <strong>de</strong>terminantes no processo <strong>de</strong> aumento da<br />
expectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses países. Em 1960, a expectativa <strong>de</strong> vida para os países<br />
<strong>de</strong>senvolvidos estava em torno dos 69,8 anos <strong>de</strong>vendo passar para 77,2 em 2020, ten<strong>de</strong>ndo<br />
a estabilizar.<br />
Em relação aos países menos <strong>de</strong>senvolvidos, segundo KALACHE (1987) “espera-<br />
se que no Terceiro Mundo, até o ano 2020, haja um ganho <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 23 anos na<br />
expectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>sses países, chegando a 68,9 anos” (p. 202). O autor <strong>de</strong>nomina o<br />
aumento na expectativa <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> redução da mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> verificada hoje na<br />
maioria dos países sub<strong>de</strong>senvolvidos, como sendo “um fenômeno artificial”, já que está<br />
ocorrendo em função da disponibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> meios inexistentes até um passado muito<br />
próximo, referindo-se <strong>à</strong>s conquistas médico-tecnológicas. Portanto, é possível concluir, a<br />
partir do autor que o aumento da expectativa <strong>de</strong> vida nos países <strong>de</strong>senvolvidos está<br />
diretamente relacionado <strong>à</strong>s melhorias das condições <strong>de</strong> vida; enquanto que nos países<br />
menos <strong>de</strong>senvolvidos esse aumento está diretamente relacionado <strong>à</strong>s conquistas médico-<br />
tecnológicas, pois passa a ser observado na segunda meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste século, ou seja, após a<br />
<strong>de</strong>scoberta e difusão <strong>de</strong>ssas conquistas.<br />
À medida em que o homem vai ganhando mais anos <strong>de</strong> vida, cada dia mais<br />
aproxima-se do limite biológico da espécie humana. Para HAYFLIC (1996) esse limite é<br />
115 anos, para KALACHE (1987) o limite é 85 anos, não entrando no mérito <strong>de</strong>ssa<br />
discussão, o consenso é que há um limite biológico para a espécie humana e, por isso, em<br />
um <strong>de</strong>terminado momento a taxa <strong>de</strong> crescimento da expectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma população<br />
ten<strong>de</strong> a estabilizar-se, e, portanto, poucos ultrapassam esse limite. Há um consenso também<br />
<strong>de</strong> que o limite biológico <strong>de</strong> vida para a espécie humana não parece ter se alterado ao longo<br />
dos tempos, o que se observa, na verda<strong>de</strong>, são mais pessoas chegando próximo a esse<br />
limite (KALACHE, 1987; RAMOS, 1987 & HAYFLIC, 1997). Neste sentido, KALACHE<br />
(1987) refere que não há evidência <strong>de</strong> que o limite biológico <strong>de</strong> vida para os homens seja<br />
31
diferente para as diferentes regiões do mundo e, portanto, hoje como em qualquer outro<br />
momento da história, tornar-se um centenário continua sendo um fato excepcional.<br />
O envelhecimento aqui relatado refere-se <strong>à</strong> esfera do coletivo, porém apresenta<br />
algumas particular<strong>ida<strong>de</strong></strong>s como o comportamento <strong>de</strong>mográfico do envelhecimento em<br />
relação ao sexo. KALACHE (1987) refere que, em especial nos países <strong>de</strong>senvolvidos, a<br />
expectativa <strong>de</strong> vida da mulher é maior que a dos homens, representando uma diferença <strong>de</strong><br />
7,5 anos em 1980. Embora nos países menos <strong>de</strong>senvolvidos observe-se uma diferença<br />
menor, <strong>de</strong> 2,2 anos para o conjunto <strong>de</strong>sses países em 1980, ela está presente. Destaca que<br />
em alguns países, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong>s condições socioculturais e econômicas <strong>de</strong> profunda<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se observar inclusive uma inversão <strong>de</strong>sses padrões. KINSELLA (1994)<br />
refere que esta diferença entre a expectativa <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> homens e mulheres é maior na<br />
América Latina e Caribe que em outras regiões menos <strong>de</strong>senvolvidas, chegando em torno<br />
<strong>de</strong> 7 anos a vantagem feminina.<br />
Em relação ao envelhecimento populacional nas regiões em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
KINSELLA (1994) afirma que o Caribe é a região em <strong>de</strong>senvolvimento mais velha do<br />
mundo, sua população idosa hoje representa 9%. Segundo o autor, na América Central e na<br />
América do Sul observa-se uma estrutura etária mais jovem, on<strong>de</strong> 6,9% da população têm<br />
60 anos e mais.<br />
A seguir, veremos o cenário do envelhecimento populacional no Brasil. Para<br />
RAMOS (1987), o processo <strong>de</strong> envelhecimento populacional experimentado no país<br />
assemelha-se em intens<strong>ida<strong>de</strong></strong> ao vivido pelos países <strong>de</strong>senvolvidos. Estando mais <strong>de</strong>finido<br />
em algumas regiões que em outras. Devido <strong>à</strong>s diferenças regionais observa-se melhor essa<br />
<strong>de</strong>finição em estados do Sul e Su<strong>de</strong>ste que nos do Norte e Nor<strong>de</strong>ste. Enquanto nos países<br />
<strong>de</strong>senvolvidos o processo ten<strong>de</strong> a estabilizar-se, aqui <strong>de</strong>verá acelerar-se cada vez mais.<br />
Portanto, o país que ainda está por resolver os problemas da infância, <strong>de</strong>fronta-se com os<br />
impactos sociais e, em particular, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> relativos ao processo <strong>de</strong> envelhecimento <strong>de</strong> sua<br />
população. O autor refere que no Brasil, a exemplo do que ocorreu em outros países menos<br />
<strong>de</strong>senvolvidos, a queda significativa das taxas <strong>de</strong> fertil<strong>ida<strong>de</strong></strong> são observadas ao fim da<br />
década <strong>de</strong> 60, estendo-se até os primeiros anos da década <strong>de</strong> 80. O autor <strong>de</strong>staca que no<br />
final da década <strong>de</strong> 70 observa-se, nas populações urbanas, em geral, uma tendência <strong>à</strong><br />
estabilização das suas taxas <strong>de</strong> fertil<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Até 1960, todos os grupos etários cresciam <strong>de</strong><br />
32
forma semelhante <strong>à</strong> população total, porém da década <strong>de</strong> 60 para cá, o grupo etário <strong>de</strong> 60<br />
anos e mais apresenta taxas <strong>de</strong> crescimento mais altas e sempre mais elevadas que as da<br />
população total e da população jovem. O autor chama atenção para o fato <strong>de</strong> que “até o<br />
ano 2000 o grupo etário <strong>de</strong> 0 a 14 anos <strong>de</strong>verá crescer apenas 14% contra 107% <strong>de</strong><br />
crescimento do grupo <strong>de</strong> 60 anos e mais, e a população como um todo crescerá 56%.<br />
Iniciaremos o próximo século com a população idosa crescendo quase oito vezes mais que<br />
os jovens e quase duas vezes mais que a população total” (p. 215). Para BERQUÓ (1996)<br />
o crescimento da população idosa no Brasil torna-se mais relevante por já superar o da<br />
população total.<br />
VERAS (1992) também discute a importância <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar as diferenças<br />
regionais e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais no Brasil no momento da análise dos dados que,<br />
isolados, não refletem a real<strong>ida<strong>de</strong></strong>. O autor traz o exemplo dos estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />
da Paraíba, ambos apresentaram no Censo Demográfico <strong>de</strong> 1991, 9% <strong>de</strong> suas populações<br />
com 60 anos e mais, no entanto, o índice do estado nor<strong>de</strong>stino <strong>de</strong>veu-se principalmente ao<br />
processo <strong>de</strong> migração da população jovem em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida<br />
somada <strong>à</strong> esterilização da mulher, em especial a <strong>de</strong> baixa renda. BERQUÓ (1992)<br />
acrescenta que essa alta proporção <strong>de</strong> idosos observada em alguns estados nor<strong>de</strong>stinos não<br />
significa que as pessoas tenham maior expectativa <strong>de</strong> vida, pelo contrário, é a mais baixa<br />
do país. A autora (1996) <strong>de</strong>monstra a partir da análise dos dados do último censo que 52%<br />
da população idosa do Brasil está no Su<strong>de</strong>ste, 24% no Nor<strong>de</strong>ste, 15% no Sul, 5% no<br />
<strong>Centro</strong>-Oeste e 4% no Norte.<br />
O crescimento da população idosa no Brasil é o mais acelerado do mundo<br />
comparando-se apenas ao México e a Nigéria. Passamos em termos proporcionais <strong>de</strong> 7,3%<br />
em 1971, ou seja, 11 milhões <strong>de</strong> idosos, para 15% em 2025, ou seja, 32 milhões <strong>de</strong> idosos,<br />
colocando o Brasil, neste período, como a sexta população <strong>de</strong> idosos do mundo, em<br />
número absoluto (SILVESTRE et al., 1996).<br />
É importante enten<strong>de</strong>r que as mudanças <strong>de</strong>mográficas não acontecem <strong>de</strong> forma<br />
isolada em uma socieda<strong>de</strong>. KALACHE (1987) cita como exemplo <strong>de</strong>ssas mudanças<br />
simultâneas, o rápido processo <strong>de</strong> urbanização pelo qual passou o Brasil, que na década <strong>de</strong><br />
50, tinha dois terços <strong>de</strong> sua população <strong>de</strong> cinqüenta milhões <strong>de</strong> habitantes, vivendo em<br />
zonas rurais; já na década <strong>de</strong> oitenta era possível observar segundo o autor, que quase três<br />
33
quartos dos seus 130 milhões <strong>de</strong> habitantes viviam em áreas urbanas. Para CARVALHO<br />
(1991) observa-se uma inversão <strong>de</strong> concentração populacional entre as áreas rural e urbana<br />
no Brasil e estima-se para o ano 2000, que apenas 20,2% da população do país esteja<br />
vivendo em áreas consi<strong>de</strong>radas rurais. Ainda no contexto da urbanização, RAMOS (1987)<br />
refere que este, entre outros fatores, influenciou o comportamento dos padrões<br />
reprodutivos no Brasil. A nova forma <strong>de</strong> arranjo domiciliar urbano, acaba exigindo uma<br />
limitação do número dos membros da família, além da incorporação da mulher ao mercado<br />
<strong>de</strong> trabalho aliada <strong>à</strong> sua a<strong>de</strong>são aos programas <strong>de</strong> controle familiar, que, segundo o autor<br />
<strong>de</strong>monstra não apenas uma necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>, mas também um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> limitação do tamanho<br />
da família. Com isso, a atenção prestada pela família aos seus membros acaba sendo<br />
substituída pela intervenção cada vez maior do estado e <strong>de</strong> outras alternativas<br />
institucionais, que em geral são ina<strong>de</strong>quadas e mais onerosas.<br />
Segundo RAMOS (1993) a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> estabeleceu em 1984<br />
que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar uma população envelhecida quando a proporção <strong>de</strong> pessoas com 60<br />
anos e mais representa 7% da população total, com tendência a crescer. Pernambuco não<br />
foge <strong>à</strong> regra, <strong>de</strong> acordo com (IBGE, 1992), dados relativos ao último Censo Demográfico<br />
<strong>de</strong> 1991, <strong>de</strong>monstram que hoje a população <strong>de</strong> 60 anos e mais no Estado representa 8,30%<br />
em relação <strong>à</strong> população total. Sendo 3,72% <strong>de</strong> homens e 4,58% <strong>de</strong> mulheres, seguindo<br />
também uma tendência mundial on<strong>de</strong> a proporção <strong>de</strong> mulheres idosas é superior a dos<br />
homens idosos. É possível observar no Gráfico 1, que a proporção <strong>de</strong> mulheres idosas<br />
aumenta <strong>à</strong> medida em que avança a <strong>ida<strong>de</strong></strong>, colocando para Pernambuco, situações em<br />
relação ao envelhecimento da mulher, que também <strong>de</strong>verão ser enfrentadas em regiões<br />
mais <strong>de</strong>senvolvidas do país. Segundo BERQUÓ (1996) “a feminização do envelhecimento<br />
traz consequências para as políticas sociais, em especial, as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>” (p. 22).<br />
34
Gráfico 1 - População Idosa (60 e mais) <strong>de</strong> Pernambuco, segundo<br />
Faixa Etária e Sexo. Recife, 1999<br />
Fonte: Fundação IBGE, Censo Demográfico, 1991.<br />
O envelhecimento populacional se impõe como uma nova real<strong>ida<strong>de</strong></strong> e com<br />
implicações para as instituições sociais; aqui, <strong>de</strong>stacamos o impacto observado no setor<br />
saú<strong>de</strong>. Para KALACHE (1987), no que se refere ao setor saú<strong>de</strong>, o crescimento da<br />
população idosa implica em uma maior freqüência <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> doenças crônicas exigindo<br />
mais recursos financeiros e <strong>de</strong> outras or<strong>de</strong>ns como por exemplo, tecnologia e profissionais<br />
especializados. Para países sub<strong>de</strong>senvolvidos, torna-se um <strong>de</strong>safio equacionar recursos<br />
para aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um lado, questões sócio-sanitárias básicas; <strong>de</strong> outro, uma <strong>de</strong>manda<br />
crescente <strong>de</strong> uma população que envelhece sofrendo <strong>de</strong> doenças não transmissíveis.<br />
RAMOS (1987), acrescenta, <strong>à</strong> medida em que uma população envelhece, há uma tendência<br />
a modificações no seu padrão <strong>de</strong> morbi-mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong>, tornando-se mais difícil a prevenção<br />
<strong>de</strong> doenças e mais complexa a intervenção. Por serem os episódios <strong>de</strong> doença apresentados<br />
por uma população envelhecida, em sua maioria crônicos, há uma transferência do<br />
processo <strong>de</strong> morte no ambiente doméstico para o hospitalar, o que onera em muito o<br />
sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
70,00%<br />
60,00%<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
60-64a<br />
Masc. Fem.<br />
65-69a<br />
70-74a<br />
75-79a<br />
CARVALHO et al. (1998), consi<strong>de</strong>rando a “artificial<strong>ida<strong>de</strong></strong>” do processo <strong>de</strong><br />
envelhecimento das populações dos países menos <strong>de</strong>senvolvidos, aqui incluído o Brasil, no<br />
que se refere <strong>à</strong>s conquistas médico-tecnológicas em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma melhoria das<br />
condições <strong>de</strong> vida em geral <strong>de</strong>ssas populações, e analisando seu impacto para o setor saú<strong>de</strong><br />
nesses países afirmam que o perfil epi<strong>de</strong>miológico brasileiro está pautado pela iniqu<strong>ida<strong>de</strong></strong>,<br />
<strong>de</strong>corrente das profundas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais observadas em nosso país, configurando<br />
um perfil complexo e heterogêneo, que apresenta ao mesmo tempo, enferm<strong>ida<strong>de</strong></strong>s crônicas<br />
e <strong>de</strong>generativas, altos índices <strong>de</strong> enferm<strong>ida<strong>de</strong></strong>s infecciosas e parasitárias e ainda<br />
80-84a<br />
85-89a<br />
90-94a<br />
95-99a<br />
100a e +<br />
35
enferm<strong>ida<strong>de</strong></strong>s emergentes ou reemergentes. A esse processo <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> um perfil<br />
epi<strong>de</strong>miológico “arcaico” para um perfil epi<strong>de</strong>miológico “mo<strong>de</strong>rno”, <strong>de</strong>nomina-se, no<br />
campo da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> “transição epi<strong>de</strong>miológica”. Porém, o autor chama atenção para o fato<br />
<strong>de</strong> que o processo ocorrido no Brasil <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> um processo histórico diferente do<br />
ocorrido nos chamados países <strong>de</strong>senvolvidos. As análises <strong>de</strong>vem estar sempre pautadas por<br />
uma compreensão <strong>de</strong> contexto, e assim, enten<strong>de</strong> que não se observa no Brasil uma situação<br />
<strong>de</strong>finida <strong>de</strong> transição, mas um novo padrão epi<strong>de</strong>miológico que difere do observado no<br />
contexto internacional.<br />
Ainda em relação ao setor saú<strong>de</strong> no Brasil, SILVESTRE et al. (1996), referem, a<br />
partir da análise dos dados <strong>de</strong> internação hospitalar do SUS no ano <strong>de</strong> 1995 em relação <strong>à</strong>s<br />
autorizações hospitalares, <strong>à</strong> taxa <strong>de</strong> hospitalização, ao tempo médio <strong>de</strong> permanência, ao<br />
índice <strong>de</strong> hospitalização e ao custo total <strong>de</strong> recursos consumidos, que a população <strong>de</strong> 60<br />
anos e mais foi a que mais onerou cada um <strong>de</strong>sses itens em relação <strong>à</strong> população mais<br />
jovem. Exigindo, segundo o autor, um redimensionamento para esse segmento etário no<br />
Sistema <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Brasileiro; refere, ainda, que apesar <strong>de</strong>sse novo <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>mográfico e<br />
epi<strong>de</strong>miológico observado no Brasil, o sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> permanece priorizando o<br />
segmento materno-infantil.<br />
Segundo KALACHE (1987) o número crescente <strong>de</strong> idosos em uma população é<br />
diretamente proporcional <strong>à</strong> <strong>de</strong>manda por recursos para aten<strong>de</strong>r <strong>à</strong>s suas necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s. E o<br />
maior <strong>de</strong>safio para qualquer país, e em especial para o Brasil, é equacionar a alocação<br />
<strong>de</strong>sses recursos e utilizá-los da maneira mais a<strong>de</strong>quada possível. Para o autor, apesar <strong>de</strong> se<br />
observar uma maior prevalência <strong>de</strong> doenças crônicas em uma população envelhecida, o<br />
conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> para os idosos está ligado <strong>à</strong> sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional e<br />
não apenas <strong>à</strong> presença ou não <strong>de</strong> uma patologia crônica, mesmo quando essa vem<br />
acompanhada <strong>de</strong> incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong> associada. O importante é que os idosos possam manter-se<br />
autônomos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Neste sentido refere ainda que: “Envelhecer mantendo todas<br />
as funções não significa problema quer para o indivíduo ou para a comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>; quando<br />
as funções começam <strong>de</strong>teriorar é que os problemas começam a surgir. O conceito está<br />
intimamente ligado <strong>à</strong> manutenção da autonomia” (p. 208). Para fins <strong>de</strong> planejamento, essa<br />
abordagem é extremamente útil, pois nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos, <strong>de</strong>vido <strong>à</strong> gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, o critério cronológico torna-se insuficiente, uma vez que muitas vezes,<br />
o envelhecimento funcional antece<strong>de</strong> o envelhecimento cronológico.<br />
36
Po<strong>de</strong>mos fazer um paralelo entre o conceito <strong>de</strong> capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional como<br />
indicador <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para pessoas idosas, com o conceito <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sgaste” abordado por<br />
LAURELL (1989). Embora seja uma abordagem que a autora faz diretamente relacionada<br />
<strong>à</strong>s condições <strong>de</strong> trabalho e seus impactos na vida e na saú<strong>de</strong> dos trabalhadores, por<br />
consi<strong>de</strong>rar: “as condições ambientais”; o trabalho como ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> humana, consciente e<br />
com objetivos claramente <strong>de</strong>finidos; vários tipos <strong>de</strong> “cargas <strong>de</strong> trabalho” como físicas,<br />
químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas; que tudo isso se materializa no<br />
corpo do trabalhador (da pessoa); que a monotonia, a repetitiv<strong>ida<strong>de</strong></strong> e a <strong>de</strong>squalificação são<br />
danosos ao pensamento e a criativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>, é que po<strong>de</strong>mos estabelecer a relação com as<br />
situações <strong>de</strong> vida adversas (“cargas”), observadas principalmente em países como o Brasil,<br />
que têm repercussões diretas sobre a vida e a saú<strong>de</strong> das pessoas e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo,<br />
po<strong>de</strong>m causar danos ao pensamento e <strong>à</strong> criativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> (autonomia), comprometendo assim<br />
sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional. A autora <strong>de</strong>fine “<strong>de</strong>sgaste” como sendo “ ‘a perda da<br />
capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> efetiva e/ou potencial biológica e psíquica’, que po<strong>de</strong> ou não expressar-se no<br />
que a medicina reconhece como patologia” (p. 115).<br />
Segundo RAMOS (1987), com o aumento proporcional da população idosa em um<br />
país, observa-se uma alteração nos gastos para manter essa parcela da população<br />
economicamente improdutiva. Há o aumento da relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência social entre a<br />
parcela economicamente ativa e a não-produtiva, havendo sobrecarga da população<br />
economicamente ativa. VERAS (1994) enfatiza que o aumento <strong>de</strong> idosos em uma<br />
população ocasiona um alto índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência-idoso. SILVESTRE et al. (1996),<br />
acrescentam que nos países on<strong>de</strong> existem programas <strong>de</strong>stinados <strong>à</strong> população idosa, os<br />
gastos são 3 vezes maiores do que com a população <strong>de</strong> 0 a 14 anos.<br />
Diante do cenário do envelhecimento populacional no Brasil, on<strong>de</strong> <strong>de</strong> um lado<br />
ainda temos um gran<strong>de</strong> quantitativo <strong>de</strong> população jovem e <strong>de</strong> outro um rápido e intenso<br />
envelhecimento populacional em condições sócio-sanitárias <strong>de</strong>sfavoráveis, RAMOS<br />
(1993), propõe que esta nova real<strong>ida<strong>de</strong></strong> brasileira <strong>de</strong>va ser consi<strong>de</strong>rada uma questão <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> Pública.<br />
37
1.4 – <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong>: um pouco <strong>de</strong> História. A experiência<br />
<strong>de</strong> Pernambuco.<br />
38<br />
“Viver e não ter a vergonha <strong>de</strong> ser feliz,<br />
cantar a beleza <strong>de</strong> ser um eterno aprendiz”.<br />
(Gonzaguinha)<br />
O cenário <strong>de</strong> envelhecimento populacional que se impõe ao Brasil, exige soluções<br />
viáveis do ponto <strong>de</strong> vista social, político e econômico. Apesar <strong>de</strong>ssa nova real<strong>ida<strong>de</strong></strong>, ainda<br />
é insuficiente a preocupação por parte das instituições formadoras com o oferecimento <strong>de</strong><br />
serviços especializados <strong>à</strong> população idosa, com a qualificação <strong>de</strong> profissionais capacitados<br />
a lidar com esse segmento populacional, bem como <strong>de</strong> produzir e difundir conhecimentos<br />
em Gerontologia. Segundo VERAS (1996), propor ações para a <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> no Brasil,<br />
torna-se tarefa difícil, já que os recursos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas públicas são<br />
sempre escassos. O autor acrescenta a esse fato, a pouca importância dada ao<br />
envelhecimento no país.<br />
A Lei nº 8842, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994 (BRASIL, 1994) (Anexo 1), que dispõe<br />
sobre a Política Nacional Idoso regulamentada pelo Decreto Lei nº 1948, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1996 (BRASIL, 1996) (Anexo 2), recomenda, no que compete ao Ministério da Educação,<br />
o incentivo <strong>à</strong> criação <strong>de</strong> <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> nas Instituições <strong>de</strong> Ensino<br />
Superior (inciso III do art. 10). Porém, esta é uma experiência que já se <strong>de</strong>senvolve no<br />
Brasil, mesmo antes da recomendação acima referida, como veremos a seguir.<br />
PEIXOTO (1997), afirma que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 60, surgiram na Europa<br />
experiências no interior das univers<strong>ida<strong>de</strong></strong>s com o objetivo <strong>de</strong> ocupar o tempo livre dos<br />
idosos, eram conhecidas como <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> do Tempo Livre, consi<strong>de</strong>radas como a<br />
primeira geração <strong>de</strong>ssas iniciativas; a segunda geração surge em 1973, em Toulouse na<br />
França, Les Universitès du Troisième Age (<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s da Terceira Ida<strong>de</strong> - UTI),<br />
voltadas para o ensino e a pesquisa. A <strong>terceira</strong> geração surge na década <strong>de</strong> 80, também na<br />
França, como um programa educacional mais amplo, baseado em três eixos: participação,<br />
autonomia e integração.
As <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s da Terceira Ida<strong>de</strong> foram concebidas por seu fundador Pierre<br />
Vellas, como sendo “fundamentalmente instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública visando elevar os<br />
níveis <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> física, mental e social das pessoas <strong>de</strong> Terceira Ida<strong>de</strong>, bem como colocar <strong>à</strong><br />
sua disposição programas <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s particulares adaptados” (p. 46). Estas<br />
experiências contribuíram para a formação <strong>de</strong> <strong>Centro</strong>s <strong>de</strong> Pesquisa em Gerontologia<br />
(PEIXOTO, 1997)<br />
No Brasil, uma experiência pioneira nesse sentido se <strong>de</strong>u em 1977 no SESC/SP<br />
com a criação da Escola Aberta para a Terceira Ida<strong>de</strong>; em 1990, a PUC/Campinas criou<br />
sua <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> para a Terceira Ida<strong>de</strong>; em 1993, a <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Estadual do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro criou a <strong>UnATI</strong>/UERJ. Na década <strong>de</strong> 90, estas experiências se multiplicaram por<br />
vários estados brasileiros (PEIXOTO, 1997). Para VERAS:<br />
Essas experiências <strong>de</strong> microunivers<strong>ida<strong>de</strong></strong>s temáticas funcionam<br />
como <strong>Centro</strong>s <strong>de</strong> Convivência, minimizam a solidão, agrupam os<br />
idosos em diversos tipos <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s com a supervisão <strong>de</strong><br />
profissionais qualificados. Dentre as instituições públicas, a<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> é, no momento, a mais equipada para respon<strong>de</strong>r <strong>à</strong>s<br />
necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da população idosa. As <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s para a Terceira<br />
Ida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m se constituir num ponto <strong>de</strong> partida. Além <strong>de</strong> oferecer<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s para os idosos no âmbito do ensino, cultura e lazer e<br />
entre outros oferece também uma coorte para a pesquisa que<br />
possibilita a produção do conhecimento e a formação profissional<br />
(VERAS, 1995, p. 388).<br />
O autor acrescenta que esses centros acabam se constituindo em espaços<br />
privilegiados para as ações <strong>de</strong> prevenção com idosos, que diferem em muito dos mo<strong>de</strong>los<br />
<strong>de</strong> prevenção preconizados para os grupos mais jovens. No caso <strong>de</strong> pessoas idosas, as<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> prevenção buscam postergar o aparecimento das doenças e a instalação <strong>de</strong><br />
incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>s associadas, tendo como seu principal objetivo melhorar a saú<strong>de</strong> e a<br />
qual<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida dos idosos.<br />
A exemplo <strong>de</strong> outras experiências aqui relatadas e em consonância com as<br />
recomendações da Política Nacional do Idoso, foi criado em setembro <strong>de</strong> 1996, o Programa<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />
(<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>). Trata-se <strong>de</strong> uma microunivers<strong>ida<strong>de</strong></strong> temática que aborda as questões do<br />
envelhecimento através <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> ensino, pesquisa e extensão. Tem como objetivo<br />
39
principal promover a integração univers<strong>ida<strong>de</strong></strong>-idoso-comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, envolve vários<br />
segmentos da comun<strong>ida<strong>de</strong></strong> universitária e da comun<strong>ida<strong>de</strong></strong> em geral (BARRETO, 1997).<br />
Em relação <strong>à</strong>s ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> formação profissional, <strong>de</strong>senvolve-se o ensino sobre<br />
envelhecimento, através da disciplina Gerontologia, ministrada pelo Departamento <strong>de</strong><br />
Terapia Ocupacional, com carga horária <strong>de</strong> 30 horas, <strong>de</strong> caráter eletivo e que portanto po<strong>de</strong><br />
ser cumprida por alunos e profissionais <strong>de</strong> todas as áreas do conhecimento que se<br />
interessem pelo tema (BARRETO, 1997); <strong>de</strong> Grupos <strong>de</strong> Estudo Sobre Envelhecimento e<br />
estágio curricular. Quanto <strong>à</strong>s ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> extensão, estas não se restringem aos cursos<br />
livres oferecidos semestralmente aos idosos, estimula-se a participação nas mais variadas<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s culturais e <strong>de</strong> lazer promovidas no Campus Universitário e também extra<br />
Campus. No que se refere <strong>à</strong> produção do conhecimento, foram <strong>de</strong>senvolvidos vários<br />
levantamentos sobre perfil social e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos idosos do Programa, que vêm sendo<br />
apresentados em diversos eventos nacionais e internacionais; dois trabalhos <strong>de</strong> conclusão<br />
<strong>de</strong> curso <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> outras IES; Projetos <strong>de</strong> Extensão dos Departamentos <strong>de</strong> Terapia<br />
Ocupacional, Nutrição, Música e Odontologia e, até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1999, <strong>de</strong>verão ser<br />
concluídas duas dissertações <strong>de</strong> Mestrado sobre a <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>. *<br />
A forma <strong>de</strong> ingresso ao Programa é bastante simplificada e vale salientar que os<br />
cursos são públicos e gratuitos e não há exigência <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Cada idoso só<br />
po<strong>de</strong> inscrever-se em um curso, uma vez que a <strong>de</strong>manda tem sido maior que a oferta,<br />
porém uma vez freqüentando <strong>à</strong>s aulas, caso haja alguma vaga disponível, essas são<br />
novamente oferecidas <strong>de</strong> modo que aqueles que <strong>de</strong>sejem possam freqüentar mais <strong>de</strong> um<br />
curso. Ao ingressarem no Programa , os idosos recebem uma carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />
aluno <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, que lhes permite utilizar os diversos serviços oferecidos na<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>, como por exemplo, o uso das bibliotecas. *<br />
Conta hoje com 14 docentes dos diversos <strong>Centro</strong>s e Departamentos da <strong>UFPE</strong>, com<br />
19 profissionais voluntários não vinculados <strong>à</strong> <strong>UFPE</strong>, 15 acadêmicos que atuam como<br />
“monitores” no Programa e em torno <strong>de</strong> 530 idosos. O fato do Programa permitir que os<br />
idosos freqüentem o Campus Universitário, coloca-os em contato com os alunos jovens e<br />
* Informações obtidas junto <strong>à</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em 1999.<br />
40
essa convivência é importante pois <strong>de</strong>ve-se ter cuidado para que essas iniciativas não sejam<br />
segregadoras, mas sim proporcionadoras <strong>de</strong> convivência com seus pares e com outras<br />
gerações.*<br />
Atualmente, estão sendo oferecidas 32 turmas, distribuídas em 27 cursos, a saber:<br />
relaxamento neuromuscular, natação, dinâmica dos corpos, hatha yoga, yoga para <strong>terceira</strong><br />
<strong>ida<strong>de</strong></strong>, iniciação ao sistema <strong>de</strong> biodanza, educação em saú<strong>de</strong>, bioenergética, primeiros<br />
socorros no local do aci<strong>de</strong>nte, nutrição e envelhecimento, plantas medicinais conhecer para<br />
melhor utilizar, segurança no lar, reciclagem <strong>de</strong> papel e enca<strong>de</strong>rnação artesanal, oficina <strong>de</strong><br />
artes, embalagem artesanal, papel vegetal, oficina <strong>de</strong> bijuteria, arte e criativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>, para<br />
gostar <strong>de</strong> ler, redação: aspectos diversos, oficina literária, introdução ao estudo da língua<br />
italiana, inglês, grupos interativos, técnicas <strong>de</strong> leitura, educação participativa e informática<br />
básica. *<br />
Ao longo <strong>de</strong> quase três anos <strong>de</strong> trabalho, contou-se com o apoio da Reitoria da<br />
<strong>UFPE</strong> e <strong>de</strong> outros segmentos da comun<strong>ida<strong>de</strong></strong> universitária, a comun<strong>ida<strong>de</strong></strong> em geral tem<br />
incentivado a continuar e diversificar as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, a <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> tem presença garantida<br />
nos Fóruns locais e nacionais relacionados ao <strong>de</strong>senvolvimento das políticas públicas para<br />
o idoso e em particular, da Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Idoso. A imprensa tem divulgado<br />
constantemente o Programa, sempre <strong>de</strong> modo bastante positivo, funcionando como um<br />
importante veículo <strong>de</strong> visibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> para a questão do envelhecimento em nosso Estado. A<br />
evasão observada é praticamente inexistente. Há um estímulo <strong>à</strong> participação mais efetiva<br />
dos idosos, o que culminou na criação, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998, da Associação dos Alunos<br />
da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>. *<br />
Consi<strong>de</strong>rando o atual cenário <strong>de</strong> envelhecimento populacional no Brasil; as<br />
dificulda<strong>de</strong>s na captação e alocação <strong>de</strong> recursos públicos para aten<strong>de</strong>r <strong>à</strong>s <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> uma<br />
população com necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s tão polarizadas; a carência <strong>de</strong> estudos sobre a população idosa<br />
no país e em particular na região Nor<strong>de</strong>ste e, enten<strong>de</strong>ndo a <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> enquanto espaço<br />
potencial para respon<strong>de</strong>r a essas <strong>de</strong>mandas, é que julgamos <strong>de</strong> muita valia uma<br />
investigação com um grupo <strong>de</strong> idosos que freqüentam o Programa <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong><br />
Terceira Ida<strong>de</strong> em Pernambuco. Este Programa, por ser o único no Estado, permiti-nos<br />
* Informações obtidas junto <strong>à</strong> Coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>.<br />
41
então, comparações com outros estudos realizados em outras Instituições <strong>de</strong> Ensino<br />
Superior no Brasil e no exterior. O Programa <strong>de</strong> Pernambuco tem como característica uma<br />
população formada por idosos a partir <strong>de</strong> 60 anos, o que difere <strong>de</strong> algumas experiências<br />
análogas, que admitem pessoas com menos <strong>de</strong> 60 anos, por fim, enfatizamos que o estudo<br />
aqui apresentado sobre perfil multidimensional <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> idosos que freqüentam<br />
programas especiais <strong>de</strong>stinados a idosos no Estado é inédito.<br />
Temos consciência <strong>de</strong> que o universo <strong>de</strong> idosos aqui estudado, não possui<br />
representação estatística da população idosa <strong>de</strong> Pernambuco, por várias razões: primeiro,<br />
pelo quantitativo, pois comparado <strong>à</strong> população total <strong>de</strong> idosos do Estado, o número <strong>de</strong><br />
idosos do Programa é pequeno; segundo, por atrair basicamente idosos autônomos e<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, ou seja, com condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir freqüentar uma experiência <strong>de</strong>sse tipo e<br />
po<strong>de</strong>r fazê-lo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente; terceiro, por estar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>, impõe<br />
uma seleção a priori em relação ao nível sócio-econômico e escolar. Porém, não<br />
preten<strong>de</strong>mos aqui fazer generalizações, até porque, generalizações <strong>de</strong> estudos com<br />
populações idosas, principalmente em um país como o Brasil, se constitui em um erro<br />
metodológico, há que se consi<strong>de</strong>rar sua divers<strong>ida<strong>de</strong></strong> (VERAS, 1994). Preten<strong>de</strong>mos, pois,<br />
contribuir com informações acerca <strong>de</strong> uma parcela particular <strong>de</strong> idosos que esperamos<br />
possa somar-se a outras informações a fim <strong>de</strong> que possamos ir construindo o <strong>de</strong>senho do<br />
idoso pernambucano. Segundo VERAS (1994) no Brasil, a exemplo <strong>de</strong> outros países<br />
menos <strong>de</strong>senvolvidos, possuímos poucas informações sobre a população idosa.<br />
Particularizando a investigação para os objetivos preconizados pelo Programa,<br />
percebemos que esta torna-se então, fundamental. Para BERGER (1995), “em uma<br />
proposta <strong>de</strong> trabalho educativo para o envelhecimento, na empresa, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar<br />
ou ignorar as transformações <strong>de</strong>mográficas, tecnológicas e pessoais. Conhecer as<br />
características <strong>de</strong> uma população a ser trabalhada, é obrigatorieda<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong> se<br />
elaborar uma abordagem a<strong>de</strong>quada” (p. 56). Nesse sentido VERAS (1994), ressalta ainda<br />
que, “esse conhecimento é essencial para o planejamento <strong>de</strong> estratégias visando<br />
atendimento e intervenção, eficazes” (p. 51).<br />
Imbuídos <strong>de</strong>sse propósito, é que preten<strong>de</strong>mos conhecer do ponto <strong>de</strong> vista sócio-<br />
epi<strong>de</strong>miológico, os idosos que freqüentam o Programa <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira<br />
Ida<strong>de</strong> (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>). Acreditando que, conhecendo o perfil <strong>de</strong>sse grupo será possível<br />
42
uma aproximação da caracterização da população idosa que freqüenta programas especiais<br />
a ela <strong>de</strong>stinados em Pernambuco, po<strong>de</strong>ndo também nortear futuras experiências. Cremos<br />
ainda, que este conhecimento subsidiará ações futuras para o Programa, embora este estudo<br />
não investigue especificamente interesses, os resultados po<strong>de</strong>rão apontar possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
para a formulação <strong>de</strong> propostas. Para nós, esses propósitos, <strong>de</strong>finem a relevância <strong>de</strong>sse<br />
estudo.<br />
43
2. OBJETIVOS<br />
Geral:<br />
Traçar um perfil sócio-epi<strong>de</strong>miológico dos idosos que freqüentam o Programa<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>).<br />
Específicos:<br />
1. Com o objetivo <strong>de</strong> traçar um perfil sócio-epi<strong>de</strong>miológico dos idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>,<br />
preten<strong>de</strong>mos:<br />
1.1 - Conhecer sua situação pessoal e familiar;<br />
1.2 - Conhecer aspectos <strong>de</strong> sua condição econômica e social;<br />
1.3 - Conhecer aspectos relativos <strong>à</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência funcional para o<br />
<strong>de</strong>sempenho das Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Vida Diária (AVDs), bem como o modo <strong>de</strong><br />
ocupação do tempo livre;<br />
1.4 - Conhecer a utilização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> assistência médica e <strong>de</strong>ntária.<br />
45
3. MATERIAL E MÉTODOS<br />
3.1 Tipo <strong>de</strong> Estudo<br />
Trata-se <strong>de</strong> um estudo epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong>scritivo <strong>de</strong> corte transversal no qual<br />
realiza-se um censo, cujo conjunto dos dados é coletado no período compreendido <strong>de</strong><br />
março a setembro <strong>de</strong> 1998.<br />
O estudo transversal, segundo ALMEIDA FILHO & ROQUAYROL (1993), tem<br />
sido muito utilizado na epi<strong>de</strong>miologia mo<strong>de</strong>rna. O baixo custo e o alto potencial <strong>de</strong>scritivo<br />
proporcionados por esse tipo <strong>de</strong> estudo, são apontados como vantagens a serem<br />
consi<strong>de</strong>radas. Ainda, segundo os autores, po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados cinco subtipos <strong>de</strong><br />
estudos transversais, este estudo está <strong>de</strong>finido como “estudos em populações especiais”, no<br />
caso população <strong>de</strong> idosos.<br />
3.2 População do Estudo<br />
Neste estudo a população alvo está composta pelos idosos que freqüentaram o<br />
Programa <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> (<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>), no ano <strong>de</strong> 1998.<br />
Vimos como é difícil estabelecer um único critério para <strong>de</strong>finir velhice, por isso<br />
<strong>de</strong>ntre os vários pontos <strong>de</strong> corte utilizados para tal, para os propósitos <strong>de</strong>ste estudo<br />
<strong>de</strong>cidimos utilizar o critério cronológico, ou seja, são consi<strong>de</strong>radas idosas neste estudo<br />
todas as pessoas com 60 anos ou mais. Este critério além <strong>de</strong> facilitar a comparação dos<br />
dados é o mais utilizado para fins <strong>de</strong> investigação e legislação pertinentes. Elegemos o<br />
corte cronológico nos 60 anos por ser o mesmo preconizado pela Organização Mundial <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> - OMS em 1982 (LA SALUD..., 1989) e por estar estabelecido para efeito legal no<br />
Brasil, segundo a Lei Nº 8842 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994 (BRASIL, 1994) que dispõe sobre a<br />
Política Nacional do Idoso, on<strong>de</strong> é consi<strong>de</strong>rada idosa no país, a pessoa a partir dos 60 anos<br />
<strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>. Este corte estava <strong>de</strong>finido a priori, uma vez que é requisito do Programa<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> só aceitar pessoas a partir dos 60 anos, porém alguns poucos , no caso duas<br />
47
pessoas, não tinham 60 anos e conseguiram inscrever-se no ano <strong>de</strong> 1998, estas foram<br />
excluídas <strong>de</strong>ste estudo.<br />
Em relação ao universo do estudo, po<strong>de</strong>ríamos ter optado por uma amostra, porém<br />
avaliando a contribuição que seria dada em contrapartida ao Programa se realizássemos um<br />
censo, <strong>de</strong>cidimos então por fazê-lo, <strong>de</strong>ixamos um banco <strong>de</strong> dados importante não apenas<br />
para subsidiar o planejamento <strong>de</strong> ações para a <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, mas também para a<br />
realização <strong>de</strong> novos estudos.<br />
A população estudada está composta por 358 idosos que freqüentaram o Programa<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> no ano <strong>de</strong> 1998. Inicialmente foram contatados 369 idosos, porém onze<br />
foram consi<strong>de</strong>rados perdas. Perda por recusa foram quatro. Tivemos também sete perdas<br />
por não comparecimento do idoso no dia agendado para a entrevista, voltando a não<br />
comparecer após novo agendamento. No total, as perdas representaram 2,68%.<br />
3.3 Definição do Instrumento <strong>de</strong> Coleta <strong>de</strong> Dados<br />
Decidimos por utilizar um instrumento já validado no Brasil. Os dados <strong>de</strong>ste estudo<br />
foram coletados através <strong>de</strong> inquérito utilizando-se um instrumento multidimensional, o<br />
Brazil Old Age Schedule-BOAS (Anexo 3). Trata-se <strong>de</strong> um questionário estruturado on<strong>de</strong> é<br />
possível investigar situação social e familiar, utilização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> assistência <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>sempenho nas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> vida diária, ocupação do tempo livre, recursos econômicos e<br />
sociais, saú<strong>de</strong> física e mental. Setenta e oito perguntas distribuídas em nove seções<br />
constituem o questionário. Para efeito <strong>de</strong>ste estudo utilizamos as seções I, III, IV, V, VI e<br />
VIII, num total <strong>de</strong> 58 perguntas, as referidas seções serão apresentadas abaixo.<br />
Inicialmente, encontramos uma página <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação contendo nome e en<strong>de</strong>reço do<br />
entrevistado como também, nome do entrevistador e a data da entrevista. No questionário,<br />
encontramos muitas perguntas que são subdividas e se relacionam <strong>à</strong> pergunta principal.<br />
• A seção I trata <strong>de</strong> informações gerais, é composta por 13 perguntas referentes ao sexo,<br />
<strong>ida<strong>de</strong></strong>, alfabetização, educação formal e estado civil, a composição geral <strong>de</strong> on<strong>de</strong> a<br />
48
pessoa idosa vive e o seu nível <strong>de</strong> satisfação com a vida; permite conhecer a situação<br />
pessoal e familiar do idoso;<br />
• A seção III investiga a utilização <strong>de</strong> Serviços Médicos e Dentários, são 15 perguntas<br />
sobre o conhecimento e direitos <strong>de</strong> uso dos serviços, o uso real e qual o grau <strong>de</strong><br />
satisfação da parte do idoso com uma variação <strong>de</strong> serviços médicos e <strong>de</strong>ntários.<br />
Encontramos perguntas que visam estabelecer que ajuda ou assistência relacionada a<br />
questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> o idoso po<strong>de</strong> obter <strong>de</strong> sua família ou <strong>de</strong> outros. Também há<br />
perguntas relativas aos tipos <strong>de</strong> auxílio para a vida ou dispositivos <strong>de</strong> apoio como<br />
óculos, próteses auditivas e as dificulda<strong>de</strong>s para conseguí-las e informações sobre uso<br />
<strong>de</strong> medicamentos.<br />
• A seção IV diz respeito <strong>à</strong>s Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Vida Diária – AVD, num total <strong>de</strong> seis<br />
perguntas, sendo que a primeira se subdivi<strong>de</strong> em 15 itens que em seu conjunto indicam<br />
graus relativos <strong>de</strong> autonomia funcional para a realização <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da vida diária.<br />
As <strong>de</strong>mais perguntas objetivam constatar a existência <strong>de</strong> assistência real ou potencial<br />
para estas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e i<strong>de</strong>ntificar a pessoa que mais ajuda o idoso. Uma outra pergunta<br />
também contendo 15 itens, busca avaliar a participação social e as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s do idoso<br />
em casa e na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
• A seção V sobre recursos sociais com seis perguntas objetiva buscar informações que<br />
servirão para avaliar aspectos sociais da vida e dimensões da satisfação com a vida <strong>de</strong><br />
idoso, incluindo participação social, grau <strong>de</strong> isolamento social e padrões gerais <strong>de</strong><br />
interação familiar e ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s socioculturais;<br />
• A seção VI trata <strong>de</strong> recursos econômicos, contem 17 perguntas a fim <strong>de</strong> obter<br />
informações sobre a situação <strong>de</strong> emprego e/ou aposentadoria do idoso, relacionam-se <strong>à</strong><br />
situação <strong>de</strong> pensionistas e pessoas aposentadas, a <strong>ida<strong>de</strong></strong> na qual o idoso aposentou-se ou<br />
tornou-se pensionista, e o(s) tipo(s) <strong>de</strong> pensão(ões) recebido(s). Encontramos questões<br />
sobre proprieda<strong>de</strong>s e bens, condições habitacionais nas quais vive o idoso e o ambiente<br />
local. Há ainda informações sobre fontes e montantes <strong>de</strong> renda pessoal e familiar, a<br />
posição relativa do idoso em comparação com a dos tempos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, e sua<br />
opinião em relação <strong>à</strong> sua situação econômica geral em relação <strong>à</strong>s necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s básicas;<br />
49
• A seção VIII refere-se <strong>à</strong>s necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e problemas que afetam os idosos e com duas<br />
perguntas que buscam uma indicação mais específica do tipo <strong>de</strong> necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
vivenciadas pelos idosos em suas vidas diárias, como são atendidas estas necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s,<br />
e os problemas que eles consi<strong>de</strong>ram mais importantes. Fornece informações sobre a<br />
relação entre as atitu<strong>de</strong>s dos idosos e uma avaliação objetiva das condições em que<br />
vive.<br />
Segundo refere VERAS (1994), até a década <strong>de</strong> 70 os estudos <strong>de</strong>senvolvidos com<br />
idosos abordavam apenas um aspecto <strong>de</strong> suas vidas, é a partir do <strong>de</strong>senvolvimento nesta<br />
década, do questionário elaborado por Gerda Fillenbaun, pesquisadora da Duke University,<br />
on<strong>de</strong> propunha abordar várias dimensões da situação dos idosos, através <strong>de</strong> um<br />
instrumento multidimensional, o Ol<strong>de</strong>r Americans Resources and Services (OARS). Trata-<br />
se do mais antigo questionário multidimensional em uso, tendo se constituído, segundo o<br />
autor “no primeiro sistema integrado para avaliação <strong>de</strong> pessoas idosas na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong> e<br />
em ambientes resi<strong>de</strong>nciais. Quase certamente forneceu a base <strong>de</strong> muitos outros<br />
questionários posteriores” (p. 62). Ainda segundo o autor, estes instrumentos buscam<br />
investigar as principais dimensões da vida do idoso, como saú<strong>de</strong> física e mental, ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
do dia-a-dia, e aspectos sociais e econômicos, permite realizar um diagnóstico global, um<br />
perfil do idoso, mas não aprofunda um aspecto específico. Nesse sentido o autor aponta<br />
algumas características <strong>de</strong> um questionário multidimensional para a <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>: é<br />
composto <strong>de</strong> muitas variáveis (o que o torna um instrumento longo); por serem longos, são<br />
em geral muito bem estruturados (com poucas perguntas <strong>aberta</strong>s); por mais cuidadoso e<br />
<strong>de</strong>talhado que seja, não po<strong>de</strong> entrar em minúcias e <strong>de</strong>talhes; oferece um formato no qual o<br />
tempo exigido para conduzir a entrevista é aproximadamente fixo. “Uma vantagem<br />
adicional <strong>de</strong> um instrumento altamente estruturado é que é apropriado para uso em uma<br />
área on<strong>de</strong> os agentes <strong>de</strong> campo que coletarão os dados não serão suficientemente<br />
experimentados ou altamente treinados para conduzir um questionário menos estruturado<br />
que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções especializadas por parte do entrevistador” (p. 56).<br />
Um aspecto <strong>de</strong> muita relevância para o bem-estar do idoso é tratado na seção IV,<br />
que se refere ao <strong>de</strong>sempenho para a realização das ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> vida díária (AVD),<br />
possibilitando ao pesquisador obter um panorama do grau <strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência<br />
do grupo investigado.<br />
50
3.4 O Procedimento para a Coleta <strong>de</strong> Dados<br />
Estando <strong>de</strong>finidos a população alvo e o instrumento a ser utilizado, <strong>de</strong>cidimos<br />
coletar os dados através <strong>de</strong> inquérito. Passamos então, ao planejamento do trabalho <strong>de</strong><br />
campo.<br />
Optamos por aplicar o questionário através <strong>de</strong> entrevista frente a frente. É a melhor<br />
forma <strong>de</strong> aplicar um questionário, apesar <strong>de</strong> ser um procedimento caro e <strong>de</strong> exigir mais<br />
tempo do pesquisador (VERAS, 1994). Porém, a realização das nossas entrevistas, não<br />
contou com o impedimento financeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento dos entrevistadores, pois sendo<br />
realizadas na <strong>UFPE</strong>, os idosos é que se <strong>de</strong>slocaram até o local da entrevista, o que<br />
minimiza bastante o custo.<br />
Quanto <strong>à</strong> escolha dos entrevistadores, utilizamos como critérios: ser monitor do<br />
Programa; ter interesse por pesquisa e por fim ter disponibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> tempo para o trabalho<br />
<strong>de</strong> campo no período pretendido. Os acadêmicos, em número <strong>de</strong> quatro, três da graduação<br />
Terapia Ocupacional e um <strong>de</strong> Fisioterapia, com <strong>ida<strong>de</strong></strong> variando <strong>de</strong> 20 a 23 anos,<br />
permaneceram do princípio ao fim no estudo.<br />
O treinamento inicia-se com a apresentação dos objetivos do trabalho, em seguida<br />
os entrevistadores entraram em contato com o questionário para que se familiarizassem<br />
com o mesmo. Promovemos também um encontro dos bolsistas com o Professor<br />
Orientador da dissertação para esclarecimentos e reforço do papel dos entrevistadores em<br />
um estudo <strong>de</strong>sse tipo. Iniciaram experimentando o instrumento através <strong>de</strong> entrevistas<br />
simuladas a fim <strong>de</strong> esclarecer dúvidas no seu manuseio, realizamos entrevistas em<br />
conjunto para comparação <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> respostas e então após as primeiras<br />
<strong>de</strong>zesseis entrevistas retomamos a avaliação <strong>de</strong>ssa etapa e esclarecemos novas dúvidas que<br />
surgiram, bem como, rediscutimos compreensão uniforme das respostas e reafirmamos<br />
padrões a serem seguidos por todos. O trabalho <strong>de</strong> campo prosseguiu e os encontros <strong>de</strong><br />
supervisão eram agendados <strong>de</strong> acordo com o quantitativo <strong>de</strong> entrevistas realizadas, não<br />
ultrapassando mais <strong>de</strong> duas semanas.<br />
Inicialmente as entrevistas foram agendadas, por telefone, <strong>de</strong> acordo com o horário<br />
disponível dos entrevistadores nos dias e locais on<strong>de</strong> os idosos tinham aula, <strong>de</strong> modo a<br />
51
facilitar para que o mesmo não necessitasse se <strong>de</strong>slocar mais <strong>de</strong> uma vez na semana <strong>à</strong><br />
<strong>UFPE</strong>. A entrevista seria realizada ou no início ou no final da aula. Começamos a observar<br />
alguns problemas com essa estratégia nos cursos que terminavam <strong>à</strong>s 17h, <strong>de</strong>vido ao horário<br />
dos transportes, pois tornava-se inconveniente este horário para que retornassem <strong>à</strong>s suas<br />
residências. As entrevistas passaram então a ser agendadas para a se<strong>de</strong> administrativa do<br />
Programa e a resposta foi positiva.<br />
Sendo assim, prosseguimos com o trabalho <strong>de</strong> modo muito intenso da segunda<br />
quinzena <strong>de</strong> abril até a primeira quinzena <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1998, após esse período houve uma<br />
redução do ritmo o qual atribuímos, inicialmente, <strong>à</strong>s festiv<strong>ida<strong>de</strong></strong>s do período junino * na<br />
segunda quinzena <strong>de</strong> junho; em julho alguns idosos viajam <strong>de</strong> férias. Após alguns ajustes<br />
retornamos <strong>à</strong>s entrevistas tendo sido concluído o trabalho <strong>de</strong> campo em setembro <strong>de</strong> 1998.<br />
3.5 Alguns conceitos importantes<br />
A seguir, conceituaremos alguns termos que julgamos importantes serem <strong>de</strong>finidos<br />
neste estudo.<br />
• Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Vida Diária (AVD): referem-se <strong>à</strong>s ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s relacionadas aos cuidados<br />
pessoais: alimentar-se, tomar banho, vestir-se, usar vaso sanitário e <strong>à</strong> capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> se<br />
movimentar <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: <strong>de</strong>ambular, levantar-se e <strong>de</strong>itar-se da cama ou da<br />
ca<strong>de</strong>ira, locomoção em geral (WILLIANS, 1997). Indicam o nível mínimo <strong>de</strong><br />
capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> que tem o indivíduo <strong>de</strong> autocuidar-se.<br />
• Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s Instrumentais <strong>de</strong> Vida Diária (AIVD): referem-se <strong>à</strong>s ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s relacionadas<br />
<strong>à</strong> administração do ambiente <strong>de</strong> vida, e estabelece relação entre o domicílio e o meio<br />
externo. As ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s referidas são por exemplo: comprar e preparar alimentação,<br />
administrar uso <strong>de</strong> medicação, administrar finanças, cuidar da limpeza da casa e da<br />
lavagem das roupas, sair <strong>de</strong> casa para ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s diversas (necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s pessoais e/ou<br />
domésticas e <strong>de</strong> lazer), usar transportes, telefone entre outras (WILLIANS, 1997). São<br />
<strong>de</strong> cunho menos pessoal que as AVDs e com maior nível <strong>de</strong> complex<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
* Em Pernambuco esta data faz parte do calendário religioso e cultural, havendo portanto, feriado local.<br />
52
• Autonomia: Capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> e direito do indivíduo po<strong>de</strong>r eleger, ele mesmo, as regras <strong>de</strong><br />
sua conduta, a orientação <strong>de</strong> seus atos e os riscos que está disposto a correr, além da<br />
possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> realizar suas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s sem ajuda <strong>de</strong> terceiros (VIEIRA, 1996).<br />
• In<strong>de</strong>pendência: estado ou condição <strong>de</strong> quem é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, bem-estar, restituição ou<br />
aquisição <strong>de</strong> autonomia (FERREIRA, 1986).<br />
• Capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional: Conceito novo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que particularmente para idosos é<br />
relevante pois mostra que saú<strong>de</strong> é a manutenção plena das habil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s físicas e<br />
mentais, <strong>de</strong>senvolvidas ao longo da vida, necessárias e suficientes para a manutenção<br />
<strong>de</strong> uma vida in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e autônoma (VIEIRA, 1996).<br />
53
4. – RESULTADOS<br />
Para dar consecução aos objetivos anteriormente propostos, passamos a expressar<br />
os resultados do Censo realizado com 358 idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> por seção específica,<br />
conforme <strong>de</strong>scrito na metodologia. Portanto os percentuais apresentados neste item serão<br />
referentes ao número <strong>de</strong> idosos entrevistados.<br />
4.1. Informações Gerais – Seção I<br />
O Gráfico 2 refere-se <strong>à</strong> distribuição por sexo, dos participantes da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em<br />
1998. É marcante a diferença. As mulheres (308) representam 86,00% do total; enquanto<br />
os homens (50), representam 14,00%.<br />
Gráfico 2 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
Masc. Fem.<br />
ao Sexo. Recife, 1998.<br />
14,00%<br />
86,00%<br />
Em relação <strong>à</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> observamos que a maioria encontra-se na faixa etária entre 60 e<br />
69 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, inclusive po<strong>de</strong>mos ver na distribuição etária, por nós proposta que, tanto<br />
nas faixas dos 60-64 anos e 65-69 anos o percentual <strong>de</strong> idosos quase se equivale, com<br />
36,31% e 35,75%, respectivamente, totalizando portanto 72,06%. (Gráfico 3)<br />
55
Gráfico 3 – Distribuição do Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
40,00%<br />
35,00%<br />
30,00%<br />
25,00%<br />
20,00%<br />
15,00%<br />
10,00%<br />
5,00%<br />
0,00%<br />
<strong>à</strong> Faixa Etária. Recife, 1998.<br />
Quando estabelecemos uma relação entre sexo e <strong>ida<strong>de</strong></strong>, observamos que os<br />
resultados apontam no geral para um equilíbrio na representação percentual por faixa etária<br />
entre homens e mulheres. O Gráfico 4 <strong>de</strong>monstra que 72,00% dos homens (36) e das<br />
mulheres (222) <strong>de</strong>ste estudo, estão na faixa dos 60 aos 69 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>; 24,00% dos<br />
homens (12) e 26,94% das mulheres (83) encontram-se na faixa dos 70 aos 79 anos; já na<br />
faixa dos 80 anos e mais é possível notar uma diferença mais marcante, 4,00% dos homens<br />
(2) e apenas 0,97% das mulheres (3) encontram-se nesta faixa etária.<br />
Gráfico 4 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
80,00%<br />
70,00%<br />
60,00%<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
Homens Mulheres<br />
36,31%<br />
35,75%<br />
20,95%<br />
5,59%<br />
60-64 65-69 70-74 75-79 80 e +<br />
ao Sexo e <strong>à</strong> Faixa Etária. Recife, 1998.<br />
60-69 70-79 80 e +<br />
Entre os entrevistados, há uma predominância <strong>de</strong> nascidos na região Nor<strong>de</strong>ste, entre<br />
estes, 80,30% são pernambucanos. Existe estabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> quanto <strong>à</strong> c<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> residência, on<strong>de</strong><br />
96,92% dos idosos resi<strong>de</strong>m há mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos na mesma c<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
1,40%<br />
De Recife proce<strong>de</strong>m 82,12%, dos 358 idosos do Programa; seguidos <strong>de</strong> 12,30%<br />
proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Olinda; 3,63%, <strong>de</strong> Jaboatão dos Guararapes e 1,95% restantes distribuem-<br />
56
se entre 3 c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s a saber, Abreu e Lima, Paulista e Igarassu na Região Metropolitana do<br />
Recife. (Gráfico 5).<br />
Gráfico 5 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
PLT / IGS/ A e L<br />
Jaboatão<br />
O linda<br />
Recife<br />
<strong>à</strong> C<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Procedência. Recife, 1998.<br />
1,95%<br />
3,63%<br />
12,30%<br />
82,12%<br />
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%<br />
Com relação aos bairros <strong>de</strong> procedência dos entrevistados, os mais representados<br />
foram: Boa Viagem, com 11,73% dos idosos; Cor<strong>de</strong>iro, com 6,14%; Engenho do Meio e<br />
Iputinga, ambos com 5,87%; Jardim São Paulo, com 5,58%; C<strong>ida<strong>de</strong></strong> Universitária e Ipsep,<br />
com 3,91% cada; Rio Doce, com 3,07% e Jardim Atlântico e Madalena, com 2,80% cada.<br />
(Gráfico 6)<br />
Gráfico 6 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Bairro <strong>de</strong> Procedência. Recife, 1998<br />
3,91%<br />
5,58%<br />
3,07%<br />
2,80%<br />
5,87%<br />
11,73%<br />
6,14%<br />
BV CRD EM / IPTG Jd SP CDU / IPSEP RD Jd AT / MD<br />
No que se refere <strong>à</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>, apenas um baixíssimo percentual <strong>de</strong> idosos, 0,56%,<br />
afirmam não saber ler nem escrever; enquanto 99,44%, referem ser alfabetizado, cuja<br />
distribuição por níveis observamos no Gráfico 7. É possível verificar um nível escolar alto<br />
entre os entrevistados, on<strong>de</strong> 33,52% possuem 2 º grau e 29,05% nível superior.<br />
57
Gráfico 7 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
35,00%<br />
30,00%<br />
25,00%<br />
20,00%<br />
15,00%<br />
10,00%<br />
5,00%<br />
0,00%<br />
ao Nível <strong>de</strong> Escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Recife, 1998.<br />
Estabelecendo uma relação entre o sexo e o nível <strong>de</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong> dos idosos aqui<br />
estudados, notamos que entre as mulheres (2) 0,64% referem não saber ler nem escrever,<br />
enquanto que entre os homens não é referido analfabetismo. Entre os homens (5) 10,00%<br />
possuem o primário completo, (27) 54,00% o segundo grau e (15) 30,00% o nível superior,<br />
entre as mulheres esses valores são (64) 20,77%, (144) 46,75% e (88) 28,57%,<br />
respectivamente (Gráfico 8).<br />
Gráfico 8 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Sexo e o Nível <strong>de</strong> Escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Recife, 1998.<br />
60,00%<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
Analf.<br />
Mulheres Homens<br />
Pr.Incom.<br />
33,52%<br />
2o.Grau Superior Primário<br />
Comp.<br />
Pr.Com.<br />
29,05%<br />
19,55%<br />
2o. Grau<br />
13,13%<br />
Ginasial Primário<br />
Incomp.<br />
Quanto ao estado conjugal po<strong>de</strong>mos observar como <strong>de</strong>monstra o Gráfico 9, que a<br />
maioria dos idosos encontra-se entre viúvos, com 39,40% e casados, com 35,50%. Os<br />
resultados apontam também para casamentos duradouros, (on<strong>de</strong> 86,61% dos idosos que<br />
estão casados e/ou morando juntos, o faz há mais <strong>de</strong> trinta anos.)<br />
3,91%<br />
Sup.<br />
58
Gráfico 9 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
Divorciado<br />
Viúvo<br />
Casado<br />
Ñ Casou<br />
ao Estado Conjugal. Recife, 1998.<br />
10,30%<br />
14,80%<br />
35,50%<br />
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00%<br />
39,40%<br />
Relacionando os dados referentes ao estado conjugal e ao sexo dos idosos da<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, encontramos resultados que apontam diferenças importantes. Entre as 308<br />
mulheres observamos que (137) 44,48% são viúvas, enquanto apenas (4) 8,00% dos<br />
homens são viúvos; (83) 26,94% das mulheres são casadas e (225) 73.06% não referem<br />
companhia conjugal. Entre os homens encontramos que (41) 82,00% são casados; os<br />
números se equivalem quanto aos divórcios, temos (5) 10,00% para os homens e (36)<br />
11,69% para as mulheres e entre os 14 idosos que referem nunca terem casado, todos são<br />
mulheres, representando 14,80% do total. (Gráfico 10)<br />
Gráfico 10 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Sexo e ao Estado Conjugal.<br />
Perguntados sobre o fato <strong>de</strong> terem ou não tido filhos, 83,50% afirmam que sim.<br />
Notamos muita semelhança quanto ao número <strong>de</strong> filhos, bem como em relação <strong>à</strong><br />
distribuição por sexo. A média verificada é <strong>de</strong> dois filhos e/ou filhas por idoso. Temos,<br />
portanto, em relação ao número total <strong>de</strong> filhos, uma média <strong>de</strong> quatro filhos por idoso.<br />
(Gráfico 11).<br />
100,00%<br />
80,00%<br />
60,00%<br />
40,00%<br />
20,00%<br />
0,00%<br />
Homens Mulheres<br />
casado nunca<br />
casou<br />
vúivo divorciado<br />
59
Gráfico 11 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao<br />
Número <strong>de</strong> Filhos, Filhas e Número Total <strong>de</strong> Filhos. Recife, 1998<br />
No que se refere ao arranjo domiciliar verificamos que os entrevistados resi<strong>de</strong>m em<br />
média com duas pessoas. No Gráfico 12, observamos que 52,89% dos entrevistados<br />
moram com 2 a 5 pessoas; 24,02%, moram com uma pessoa e 15,92%, moram sós. Entre<br />
os idosos que moram sós é possível apontar uma diferença entre sexo e arranjo domiciliar,<br />
entre as mulheres (54) 17,53% moram sós, enquanto que entre os homens esse valor é <strong>de</strong><br />
(3) 6,00%.<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
Filha Filho Total<br />
Gráfico 12 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Arranjo Domiciliar. Recife, 1998.<br />
Abaixo, na Tabela 1, po<strong>de</strong>mos observar quem são as pessoas com as quais os<br />
idosos resi<strong>de</strong>m. É possível i<strong>de</strong>ntificar a seguinte distribuição: 36,00% moram com filhas;<br />
34,40% com cônjuge; 32,10% com filhos. Vemos ainda que 22,30% moram na companhia<br />
<strong>de</strong> netos, ou seja, com uma <strong>terceira</strong> geração.<br />
Um 2 a 3 4 a 5 6 e mais<br />
52,80%<br />
6,42%<br />
15,92%<br />
Mora Só Uma 2 a 5 6 a 10 Mais <strong>de</strong> 10<br />
24,02%<br />
60
Tabela 1. Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Grau <strong>de</strong> Parentesco entre o Idoso e as Pessoas com as quais Resi<strong>de</strong>. Recife – 1998<br />
QUEM SIM % NÃO % NA* % TOTAL %<br />
Cônjuge 123 34,40 178 49,70 57 15,90 358 100,00<br />
Pais 7 2,00 294 82,10 57 15,90 358 100,00<br />
Filhos 115 32,10 186 52,00 57 15,90 358 100,00<br />
Filhas 129 36,00 172 48,00 57 15,90 358 100,00<br />
Irmãos 36 10,10 265 74,00 57 15,90 358 100,00<br />
Netos 80 22,30 221 61,70 57 15,90 358 100,00<br />
Outro familiar 65 18,20 236 65,90 57 15,90 358 100,00<br />
Outro ñ parente 65 18,20 236 65,90 57 15,90 358 100,00<br />
*NA (não se aplica)<br />
Esta seção termina questionando os entrevistados sobre como eles se sentem em<br />
relação <strong>à</strong>s suas vidas em geral. Os resultados apontam um elevado grau <strong>de</strong> satisfação, on<strong>de</strong><br />
(319) 89,10% dizem-se satisfeitos. (Gráfico 13)<br />
Gráfico 13 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Satisfação com a Vida em Geral. Recife, 1998.<br />
Entre os motivos citados pelos (39) 10,90% <strong>de</strong> idosos que se disseram insatisfeitos<br />
com suas vidas, os mais referidos foram: solidão, falta <strong>de</strong> autonomia, <strong>de</strong>svalorização do<br />
povo brasileiro por parte dos órgãos públicos e uma insatisfação geral sem apontar um<br />
motivo específico.<br />
Satisfeito Insatisfeito<br />
10,90%<br />
Quando relacionamos sexo e satisfação com a vida em geral observamos que as<br />
mulheres <strong>de</strong>ste estudo, mostram-se mais satisfeitas com suas vidas que os homens. Entre as<br />
308 idosas, 31 dizem-se insatisfeitas representando 10,60%; já entre os 50 homens, 8<br />
referem insatisfação representando 16,00%. (Gráfico 14)<br />
89,10%<br />
61
Gráfico 14 - Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Sexo e <strong>à</strong> Satisfação com Vida em Geral.<br />
4.2. Utilização <strong>de</strong> Serviços Médicos e Dentários - Seção III<br />
No quesito utilização <strong>de</strong> serviços médicos, a maioria dos entrevistados, 69,00%,<br />
está composta por idosos usuários <strong>de</strong> plano e/ou seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privado; 23,18% são<br />
usuários do serviço público; 4,19%; procuram médicos ou clínicas particulares e 3,35%<br />
referem outro tipo <strong>de</strong> procura como por exemplo, parentes médicos. É notório o alto<br />
quantitativo <strong>de</strong> idosos que utilizam serviço médico privado, sendo um total <strong>de</strong> 73,19%.<br />
(Gráfico 15)<br />
100,00%<br />
80,00%<br />
60,00%<br />
40,00%<br />
20,00%<br />
0,00%<br />
homem mulher<br />
Gráfico 15 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
70,00%<br />
60,00%<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
<strong>à</strong> Utilização dos Serviços Médicos. Recife, 1998.<br />
69,00%<br />
Sobre a utilização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, levantamos a freqüência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> alguns<br />
tipos <strong>de</strong> serviços médicos, pelos idosos, nos últimos três meses, cujos resultados estão<br />
<strong>de</strong>monstrados na Tabela 2. As perguntas são complementadas <strong>de</strong> modo a saber se o idoso<br />
utilizou os serviços referidos mais <strong>de</strong> uma vez. Verificamos que foram utilizados mais <strong>de</strong><br />
uma vez as consultas médicas e os exames clínicos.<br />
satisafeito insatisfeito<br />
23,18%<br />
4,19%<br />
Plan/Saú<strong>de</strong> Público Particular Outros<br />
3,35%<br />
62
Tabela 2 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Freqüência <strong>de</strong> Uso <strong>de</strong> Alguns Serviços Médicos nos Últimos Três Meses. Recife – 1998<br />
SERVIÇO SIM % NÃO % TOTAL %<br />
Consultou Médico/consultório/casa 279 77,90 79 22,10 358 100,00<br />
Exames clínicos 236 65,90 122 34,10 358 100,00<br />
Tratamento fisioterápico 32 8,90 326 91,10 358 100,00<br />
Socorrido <strong>de</strong> emergência 34 9,50 324 90,50 358 100,00<br />
Hosp. Clínica p/ receber medicação 33 9,20 325 90,80 358 100,00<br />
Internado em hospital ou clínica 13 3,60 345 96,40 358 100,00<br />
Foi ao Dentista 85 23,70 273 76,30 358 100,00<br />
Perguntados sobre a satisfação em relação aos serviços médicos que costumam<br />
utilizar, observamos que 88,55%, <strong>de</strong>monstram satisfação; enquanto (37) 10,33%, referem<br />
insatisfação; <strong>de</strong>ntre estes, (20) 54,06% são usuários <strong>de</strong> serviço público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; (12)<br />
32,43%, <strong>de</strong> plano e/ou seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privado e (4) 10,81% procuram médico e /ou<br />
serviço particular. (Gráfico 16)<br />
Gráfico 16 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Satisfação na Utilização <strong>de</strong> Serviços Médicos. Recife, 1998.<br />
88,55%<br />
10,33%<br />
Satisfeito Insatisfeito<br />
Ainda em relação <strong>à</strong> utilização dos serviços médicos, perguntamos os problemas que<br />
mais <strong>de</strong>sagradam aos entrevistados quando da utilização <strong>de</strong>sses serviços. O tempo <strong>de</strong><br />
espera para ser atendido no consultório representa a queixa <strong>de</strong> 21,22%; a <strong>de</strong>mora para a<br />
marcação <strong>de</strong> consultas/exames 12,84% e 9,77% referem outros motivos que quando<br />
qualificados, permitiu-nos observar que estes outros motivos referidos manifestam-se<br />
através <strong>de</strong>: burocracia, falta <strong>de</strong> confiança no sistema e nos procedimentos médicos, medo<br />
da medicação falsificada, dificulda<strong>de</strong>s e receio em realizar alguns exames.<br />
63
No que se refere <strong>à</strong> utilização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>ntários, por parte dos entrevistados, os<br />
resultados no Gráfico 17 <strong>de</strong>monstram que 42,50% utilizam serviço particular; 17,30%<br />
plano e/ou seguro saú<strong>de</strong> privado; 5,90% utilizam serviço odontológico público. Entre os<br />
usuários <strong>de</strong>stes serviços, há um bom nível <strong>de</strong> satisfação, on<strong>de</strong> 66,80% dizem-se satisfeitos.<br />
Observamos ainda que 5,90%, fazem referência a outras opções entre as quais <strong>de</strong>stacamos:<br />
filho <strong>de</strong>ntista, <strong>de</strong>ntista amigo da família, entre outras. Por fim, verificamos que 26,80% dos<br />
idosos não têm procurado serviços odontológicos.<br />
Gráfico 17 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
17,30%<br />
<strong>à</strong> Utilização <strong>de</strong> Serviços Dentários. Recife, 1998.<br />
5,90%<br />
26,80%<br />
5,90%<br />
Particular Ñ tem procurado Plan.Saú<strong>de</strong> Público Outros<br />
Em relação <strong>à</strong> utilização <strong>de</strong> órteses e/ou próteses, ou seja, ajuda/apoio, observamos<br />
na Tabela 3, que 94,70%, utilizam óculos e/ou lente <strong>de</strong> contato e 88,80%, utilizam<br />
<strong>de</strong>ntadura, ponte e/ou <strong>de</strong>nte postiço. Questionados sobre a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> trocar essas<br />
ajudas/apoios, 39,10% referem necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> trocar as <strong>de</strong>ntárias; 39,4% as visuais e<br />
apenas 0,60% as ajudas auditivas. Observamos ainda, que os idosos do Programa são<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes quanto <strong>à</strong> <strong>de</strong>ambulação, uma vez que não referem necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> utilizar<br />
ajuda técnica do tipo bengala, muleta e ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas.<br />
42,50%<br />
64
Tabela 3 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Utilização <strong>de</strong> Ajudas/Apoios. Recife – 1998<br />
AJUDA/APOIO SIM % NÃO % TOTAL %<br />
Dente postiço, <strong>de</strong>ntadura, ponte 318 88,80 40 11,20 358 100,00<br />
Óculos ou lente <strong>de</strong> contato 339 94,70 19 5,30 358 100,00<br />
Aparelho p/ sur<strong>de</strong>z 8 2,20 350 97,80 358 100,00<br />
Bengala 1 0,30 357 99,70 358 100,00<br />
Muleta --- --- 358 100,00 358 100,00<br />
Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Rodas --- --- 358 100,00 358 100,00<br />
Outros 4 1,10 354 98,90 358 100,00<br />
Sobre o uso <strong>de</strong> remédios, 80,70% dos idosos referem tomar medicação. Destes,<br />
77,40% dizem que esta é prescrita por um médico e 47,50% não <strong>de</strong>claram dificulda<strong>de</strong> em<br />
obtê-la. Para os que têm alguma dificulda<strong>de</strong>, o fator econômico é a principal.(Gráfico 18)<br />
Gráfico 18 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Utilização <strong>de</strong> Medicamentos. Recife – 1998<br />
Uiliza Não Utiliza<br />
19,30%<br />
80,70%<br />
Não observamos diferença importante quanto ao uso <strong>de</strong> medicação e gênero. Entre<br />
os 50 homens (40) 80,00% fazem uso <strong>de</strong> medicação e entre as 308 mulheres (249) 88,85%.<br />
Quando perguntamos aos idosos se, caso viessem a ficar doentes ou incapacitados,<br />
que pessoa po<strong>de</strong>ria dispensar-lhes “cuidados”, a maioria, 38,30%, acredita ser a filha;<br />
16,50% o cônjuge; 14,00% acreditam que po<strong>de</strong>ria ser uma outra pessoa da família que não<br />
cônjuge e filhos; 13,40%, acreditam que po<strong>de</strong>m contar com os filhos e 10,60%, acreditam<br />
po<strong>de</strong>r contar com alguém fora da família, por exemplo: um profissional <strong>de</strong> enfermagem<br />
(enfermeiros ou auxiliares) ou ainda um leigo. Essas pessoas seriam contratadas.<br />
Observamos ainda que 4,20% dos idosos referem não po<strong>de</strong>r contar com ninguém e 3,10%<br />
65
não respon<strong>de</strong>m, ou seja, 7,30% dos idosos <strong>de</strong>ste estudo não sabem com quem contar em<br />
caso <strong>de</strong> uma necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>sse tipo. (Gráfico 19)<br />
Gráfico 19 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
a Pessoas que Po<strong>de</strong>riam Cuidá-los em Caso <strong>de</strong> Doença e/ou Incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Recife, 1998<br />
Relacionando sexo e dificulda<strong>de</strong> em i<strong>de</strong>ntificar “cuidadores potenciais”,<br />
observamos, neste estudo, que esta apresenta-se apenas para as mulheres. Entre as 308<br />
idosas entrevistadas 8,44% não sabem com quem contar em caso <strong>de</strong> doença e/ou<br />
incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
13,40%<br />
10,60%<br />
14,00%<br />
4,20% 3,00%<br />
4.3. Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Vida Diária (AVD) – Seção IV<br />
16,50%<br />
38,30%<br />
Filha Conjugue Outro Fam. Filho Outro ñ Fam. Nenhuma NS/NR<br />
Os resultados que se seguem <strong>de</strong>monstram um panorama do grau <strong>de</strong> autonomia e<br />
in<strong>de</strong>pendência dos entrevistados no <strong>de</strong>sempenho das Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da Vida Diária (AVD).<br />
Os idosos entrevistados são autônomos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, uma vez que para a<br />
maioria das ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s listadas, mais <strong>de</strong> 90,00% <strong>de</strong>les referem-se com capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> para<br />
<strong>de</strong>sempenhá-las sem ajuda. Sendo a única exceção, cortar as unhas dos pés, on<strong>de</strong> 14,20%<br />
<strong>de</strong>claram-se incapazes para fazê-lo sozinhos. Em relação a essa dificulda<strong>de</strong>, o percentual<br />
<strong>de</strong> homens e <strong>de</strong> mulheres que a referem se equivale, estando em torno dos 12,00% para<br />
ambos os sexos, porém os homens que a apresentam têm mais <strong>de</strong> 70 anos, enquanto que as<br />
mulheres com dificulda<strong>de</strong> para cortar as unhas dos pés sem ajuda, estão entre os 60 e os 69<br />
anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>. Consi<strong>de</strong>rando condições mínimas <strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência, com baixo<br />
nível <strong>de</strong> complex<strong>ida<strong>de</strong></strong>, como tarefas do tipo: comer sua comida, vestir-se sozinho, pentear<br />
66
e escovar seus cabelos, <strong>de</strong>itar e levantar da cama sozinho, 100,00% dos idosos, dizem-se<br />
capaz para realizá-las sem ajuda. (Tabela 4)<br />
Tabela 4 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao Grau <strong>de</strong><br />
Autonomia e In<strong>de</strong>pendência no Desempenho das Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da Vida Diária (AVD). Recife, 1998.<br />
ATIVIDADES SIM % NÃO % NA* % TOTAL %<br />
Sair p/ média distância - necessita transporte 349 97,50 9 2,50 --- --- 358 100,00<br />
Sair p/ pequena distância – compra/armazém 353 98,60 5 1,40 --- --- 358 100,00<br />
Preparar sua própria refeição 345 96,40 13 3,60 --- --- 358 100,00<br />
Realizar ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> doméstica – manter/or<strong>de</strong>m 334 93,30 24 6,70 --- --- 358 100,00<br />
Tomar seus remédios 350 97,80 4 1,10 4 1,10 358 100,00<br />
Comer sua comida 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00<br />
Vestir-se sozinho 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00<br />
Pentear / escovar seus cabelos 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00<br />
Caminhar em superfície plana 357 99,70 1 0,30 --- --- 358 100,00<br />
Subir escadas 343 95,80 15 4,20 --- --- 358 100,00<br />
Deitar e levantar da cama sozinho 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00<br />
Tomar banho sozinho 357 99,70 1 0,30 --- --- 358 100,00<br />
Cortar as unhas dos pés 307 85,80 51 14,20 --- --- 358 100,00<br />
Pegar ônibus 347 96,90 11 3,10 --- --- 358 100,00<br />
Ir ao banheiro em tempo 354 98,90 4 1,10 --- --- 358 100,00<br />
*acrescentamos a categoria NA(não se aplica) para aten<strong>de</strong>r a resposta “não tomo remédios”,<br />
Questionados se há alguém que os aju<strong>de</strong> na realização das tarefas domésticas,<br />
77,70% referem que sim. Entre as pessoas que ajudam a mais citada é a faxineira, outra<br />
categoria referida é a <strong>de</strong> moças que são como filhas <strong>de</strong> criação que já moram com os<br />
entrevistados há muito tempo.<br />
Ao estabelecermos uma relação entre o <strong>de</strong>sempenho para AVDs, observamos que<br />
no item “preparar sua própria refeição”, entre as 13 pessoas que referem não fazê-lo sem<br />
ajuda, 8 são homens e 5 são mulheres, portanto 16,00% dos homens não se acham em<br />
condições <strong>de</strong> preparar sua própria refeição sozinhos; enquanto que entre as mulheres este<br />
número é <strong>de</strong> apenas 1,62%, refletindo mais uma vez a diferença <strong>de</strong> gênero entre este grupo.<br />
Em relação ao item “realizar ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s domésticas / manter a casa em or<strong>de</strong>m” também<br />
observamos diferenças entre os homens e as mulheres. Dos 24 idosos que referem não<br />
realizarem esta ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> sem ajuda, 6 são homens e 18 são mulheres, logo temos que<br />
67
12,00% dos homens apresentam dificulda<strong>de</strong> para a realização <strong>de</strong>sta ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> e apenas<br />
5,84% entre as mulheres.<br />
Quando verificamos o nível <strong>de</strong> sociabilização e ocupação do tempo livre,<br />
observamos que este é bom e que a ocupação do tempo é a<strong>de</strong>quada, uma vez que a maior<br />
parte dos idosos, refere realizar quase todas as tarefas listadas. No entanto, nas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
relacionadas <strong>à</strong> prática esportiva, 93,90% <strong>de</strong>claram não praticarem esportes e 87,20% dizem<br />
não comparecerem a eventos esportivos. (Tabela 5).<br />
Tabela 5 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong>s Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s Realizadas no Tempo livre. Recife, 1998.<br />
ATIVIDADES SIM % NÃO % NS/NR* % TOTAL %<br />
Ouvir rádio 262 73,20 96 26,80 --- --- 358 100,00<br />
Assistir a televisão 337 94,10 21 5,90 --- --- 358 100,00<br />
Ler jornal 291 81,30 67 18,70 --- --- 358 100,00<br />
Ler revistas e livros 294 82,10 64 17,90 --- --- 358 100,00<br />
Receber visitas 305 85,20 53 14,80 --- --- 358 100,00<br />
Ir ao cinema, teatro, etc. 161 45,00 197 55,00 --- --- 358 100,00<br />
Andar pelo seu bairro 311 86,90 47 13,10 --- --- 358 100,00<br />
Ir <strong>à</strong> igreja (serviços religiosos) 307 85,80 50 14,00 1 0,30 358 100,00<br />
Ir a jogos (esportes) 46 12,80 312 87,20 --- --- 358 100,00<br />
Participar <strong>de</strong> jogos (esportes) 22 6,10 336 93,90 --- --- 358 100,00<br />
Fazer as compras 344 96,10 14 3,90 --- --- 358 100,00<br />
Sair para visitar os amigos 306 85,50 52 14,50 --- --- 358 100,00<br />
Sair para visitar os parentes 321 89,70 37 10,30 --- --- 358 100,00<br />
Sair / passeio longo (excursão) 256 71,50 102 28,50 --- --- 358 100,00<br />
Sair/encontro social/comunitário 247 69,00 111 31,00 --- --- 358 100,00<br />
Coser, bordar, tricotar 208 58,10 150 41,90 --- --- 358 100,00<br />
Ativid/distr: cartas, xadrez, jardim 154 43,00 204 57,00 --- --- 358 100,00<br />
Outros (especificar) 223 62,50 134 37,50 --- --- 358 100,00<br />
* NS/NR (não sabe/não respon<strong>de</strong>u)<br />
Os idosos que se mostram satisfeitos com a ocupação do seu tempo livre<br />
representam 91,10%. Os 8,90% que referem insatisfação na utilização <strong>de</strong>sse tempo,<br />
justificam sua resposta dizendo-se pouco motivados e sentindo falta <strong>de</strong> mais ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s,<br />
inclusive <strong>de</strong> lazer.<br />
68
4. Recursos Sociais – Seção V<br />
Aqui os resultados <strong>de</strong>monstram como se dá a interação social dos entrevistados e<br />
nos permite verificar que esta é a<strong>de</strong>quada, on<strong>de</strong> 78,80% dos idosos mostram-se satisfeitos<br />
com o relacionamento mantido com as pessoas com as quais resi<strong>de</strong>m; 87,20% estão<br />
satisfeitos quanto ao relacionamento com vizinhos, e on<strong>de</strong> mais observamos satisfação é na<br />
relação com os amigos, on<strong>de</strong> 97,50%, dizem-se satisfeitos. (Gráfico 20)<br />
Gráfico 20 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Convivência com as Pessoas com quem resi<strong>de</strong>m, com amigos e vizinhos. Recife, 1998<br />
Quanto ao tipo <strong>de</strong> assistência que a família oferece ao idoso, observamos que, <strong>de</strong><br />
modo geral, não há <strong>de</strong>pendência dos entrevistados em relação aos seus familiares. Mais<br />
importante do que o aspecto financeiro e <strong>de</strong> moradia, on<strong>de</strong> 69,60% e 78,50%,<br />
respectivamente, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da família, foi referido pela maioria dos idosos, 75,40%, a<br />
companhia e cuidado pessoal, como o aspecto on<strong>de</strong> os familiares fazem-se mais presentes.<br />
(Tabela 6).<br />
100,00%<br />
Tabela 6 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Assistência Oferecida pela Família ao Idoso. Recife, 1998.<br />
Tipo <strong>de</strong> Assistência Sim % Não % NS/NR* % Total %<br />
Dinheiro 108 30,20 249 69,60 1 0,30 358 100,00<br />
Moradia 76 21,20 281 78,50 1 0,30 358 100,00<br />
Companhia/Cuidado Pessoal 270 75,40 87 24,30 1 0,30 358 100,00<br />
Outro tipo <strong>de</strong> cuidado Assistência 105 29,30 252 70,40 1 0,30 358 100,00<br />
* NS/NR (não sabe/não respon<strong>de</strong>u)<br />
80,00%<br />
60,00%<br />
40,00%<br />
20,00%<br />
0,00%<br />
Com quem<br />
resi<strong>de</strong>m<br />
78,80%<br />
97,50%<br />
Amigos Vizinhos<br />
87,20%<br />
5,30% 1,10% 4,70%<br />
Satisfeito Insatisfeito<br />
69
Quando questionamos os entrevistados sobre que tipo <strong>de</strong> assistência oferecem <strong>à</strong><br />
família, os resultados <strong>de</strong>monstram que estes referem-se como provedores em potencial <strong>de</strong><br />
seus familiares. O item companhia e cuidado pessoal aparece com 86,90%; seguido <strong>de</strong><br />
assistência financeira, com 61,20% e moradia com, 57,80%. Outro item aparece<br />
<strong>de</strong>monstrando um tipo <strong>de</strong> ajuda que em geral os idosos oferecem - cuidar <strong>de</strong> criança - com<br />
37,40%, é um percentual elevado e <strong>de</strong>nota esse papel <strong>de</strong>sempenhado pelo idoso na família.<br />
(Tabela 7)<br />
Tabela 7 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Assistência que o Idoso Oferece <strong>à</strong> Família. Recife, 1998.<br />
Tipo <strong>de</strong> Assistência Sim % Não % NS/NR* % Total %<br />
Dinheiro 219 61,20 138 38,50 1 0,30 358 100,00<br />
Moradia 207 57,80 150 41,90 1 0,30 358 100,00<br />
Companhia/cuidado pessoal 311 86,90 46 12,80 1 0,30 358 100,00<br />
Cuidar <strong>de</strong> criança 134 37,40 223 62,30 1 0,30 358 100,00<br />
Outro tipo <strong>de</strong> cuidado/assistência 99 27,70 258 72,10 1 0,30 358 100,00<br />
* NS/NR (não sabe/não respon<strong>de</strong>u)<br />
Finalizando essa seção perguntamos aos idosos sobre as visitas que haviam<br />
recebido na última semana. A maioria dos idosos costuma receber visita <strong>de</strong> amigos e<br />
familiares, principalmente dos filhos. (Gráfico 21)<br />
Gráfico 21 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong>s Visitas Recebidas na Última Semana. Recife, 1998.<br />
100,00%<br />
80,00%<br />
60,00%<br />
40,00%<br />
20,00%<br />
0,00%<br />
Sim Não<br />
69,30%<br />
63,40%<br />
56,70%<br />
10,10%<br />
Viz/Amigos Filhos Outro Fam. Outros<br />
70
4.5. Recursos Econômicos – Seção VI.<br />
Nesta seção serão mostrados os resultados referentes aos aspectos econômicos tais<br />
como: tipo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>senvolvido, tempo <strong>de</strong> trabalho, <strong>ida<strong>de</strong></strong> que começou a trabalhar e<br />
há quanto tempo parou, fonte <strong>de</strong> renda, valor da renda do idoso e da família e algumas<br />
informações sobre o domicílio.<br />
Quando perguntados sobre o tipo <strong>de</strong> trabalho que realizaram por mais tempo em<br />
suas vidas, é possível observar nos resultados expressos no Gráfico 22, que o trabalho <strong>de</strong><br />
dona <strong>de</strong> casa foi o mais referido, com 34,40%; professor veio em seguida com 14,20%;<br />
funcionário público aparece com 9,80%; costureira representa 5,30% e função<br />
administrativa no setor privado representa 5,02%.<br />
Gráfico 22 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação ao<br />
Tipo <strong>de</strong> Trabalho que Realizaram por Mais Tempo em Suas Vidas. Recife, 1998.<br />
Quando relacionamos sexo e profissão observamos um arranjo bem distinto daquele<br />
apresentado anteriormente para o grupo como um todo. Entre as 308 mulheres, 39,40%<br />
referem ser dona <strong>de</strong> casa; a profissão <strong>de</strong> professora aparece em seguida com 15,25%, para<br />
os 50 homens o percentual <strong>de</strong> professor é <strong>de</strong> 4%; costureira representa 5,30% entre<br />
mulheres.<br />
Adm. Privado<br />
Costureira<br />
Func. Publ.<br />
Professor<br />
Outros<br />
Do Lar<br />
5,02%<br />
5,30%<br />
9,80%<br />
14,20%<br />
31,28%<br />
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%<br />
Com relação <strong>à</strong> quant<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> anos trabalhados a maior parte dos entrevistados,<br />
26,81%, trabalhou <strong>de</strong> 21 a 30 anos; 18,99% trabalharam <strong>de</strong> 31 a 40 anos; 8,65%, trabalham<br />
<strong>de</strong> 10 a 20 anos e 6,14%, trabalharam <strong>de</strong> 41 a 50 anos. (Gráfico 23)<br />
34,40%<br />
71
Gráfico 23 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Tempo <strong>de</strong> Trabalho Durante a Vida. Recife, 1998<br />
18,99%<br />
Até 10a. 11 a 20a. 21 a 30a 31 a 40a. 41 a 50a. Mais <strong>de</strong> 50a.<br />
Sobre a <strong>ida<strong>de</strong></strong> em que começaram a trabalhar, observamos que 39,94% iniciaram<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> trabalho entre os 10 e 19 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>; 16,48%, entre os 20 e 29 anos; nos<br />
extremos encontramos 5,02% que começaram a trabalhar a partir dos 30 anos e 3,07% que<br />
iniciaram antes dos 10 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>.(Gráfico 24)<br />
Gráfico 24 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Ida<strong>de</strong> em que Começaram a Trabalhar. Recife, 1998<br />
Menos <strong>de</strong> 10a.<br />
30 e mais<br />
20 a 29a.<br />
10 a 19a.<br />
6,14%<br />
3,07%<br />
5,02%<br />
1,67%<br />
16,48%<br />
2,23%<br />
8,65%<br />
26,81%<br />
39,94%<br />
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00%<br />
Quanto <strong>à</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> em que pararam <strong>de</strong> trabalhar, verificamos que a maioria dos idosos,<br />
15,36%, parou entre os 55 e 59 anos; 13,41% é o percentual referente tanto <strong>à</strong>queles que<br />
pararam entre os 50 e 54 anos quanto dos que ainda trabalham; 9,22% pararam entre os 60<br />
e 64 anos e apenas 2,51% pararam <strong>de</strong> trabalhar após os 70 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>. (Gráfico 25)<br />
72
Gráfico 25 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Ida<strong>de</strong> em que Pararam <strong>de</strong> Trabalhar. Recife, 1998<br />
16,00%<br />
14,00%<br />
12,00%<br />
10,00%<br />
8,00%<br />
6,00%<br />
4,00%<br />
2,00%<br />
0,00%<br />
55 a 59a.<br />
50 a 54a.<br />
Ainda Trab.<br />
60 a 64a.<br />
65 a 69a.<br />
Os resultados em relação <strong>à</strong> renda <strong>de</strong>monstram que apenas (17) 4,74% dos<br />
entrevistados referem não ter renda própria e todas são mulheres. Entre aqueles que<br />
possuem renda, 66,80% recebem aposentadoria e 38,30%, pensão do cônjuge.<br />
Questionados se essa renda é suficiente para suprir suas <strong>de</strong>spesas, as respostas positivas e<br />
negativas se equivalem, 43,90% dizem que sim e 42,50% que não.<br />
Quando utilizamos o Salário Mínimo como parâmetro para expressar a distribuição<br />
da renda do idoso, verificamos que entre os 337 idosos que referiram ter rendimentos, a<br />
maior parte dos entrevistados, 27,89%, percebe <strong>de</strong> 7 a 10 salários mínimos; 24,33% <strong>de</strong> 4 a<br />
6; 18,40 % <strong>de</strong> 1 a 3 e nos extremos encontramos 6,53% percebendo menos <strong>de</strong> um salário<br />
mínimo e 6,23% mais <strong>de</strong> 20. (Tabela 8).<br />
Tabela 8 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, que Possuem Renda,<br />
Tomando como Parâmetro o Salário Mínimo. Recife, 1998<br />
45 a 49a.<br />
Mais<strong>de</strong> 70a.<br />
Antes-45a.<br />
Salário(s) Mínimo Total %<br />
Menos <strong>de</strong> Um 22 6,53<br />
1 a 3 62 18,40<br />
4 a 6 82 24,33<br />
7 a 10 94 27,89<br />
11 a 15 31 9,20<br />
16 a 20 25 7,42<br />
Mais <strong>de</strong> 20 21 6,23<br />
Total 337 100,00<br />
O mesmo critério acima utilizamos para a distribuição da renda familiar e<br />
observamos que 25,78 % dos idosos referem renda familiar entre 7 e 10 salários mínimos;<br />
73
18,21%, renda familiar acima <strong>de</strong> 20 salários mínimos e apenas 6,19% <strong>de</strong>claram renda<br />
familiar inferior a um salário mínimo. (Tabela 9)<br />
Tabela 9–Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Renda das 291<br />
Famílias que a Possuem, Tomando como Parâmetro o salário mínimo. Recife, 1998<br />
Salário(s) Mínimo Total %<br />
Menos <strong>de</strong> Um 18 6,19<br />
1 a 3 15 5,15<br />
4 a 6 41 14,09<br />
7 a 10 75 25,78<br />
11 a 15 44 15,12<br />
16 a 20 45 15,46<br />
Mais <strong>de</strong> 20 53 18,21<br />
Total 337 100,00<br />
As condições do domicílio <strong>de</strong>monstram que os entrevistados contam com condições<br />
favoráveis <strong>de</strong> moradia, como: água encanada, eletric<strong>ida<strong>de</strong></strong>, ligação com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos e<br />
gela<strong>de</strong>ira, além <strong>de</strong> a maioria possuir televisão, rádio e telefone. O percentual <strong>de</strong> 19,60% <strong>de</strong><br />
idosos que referem possuir computador, é baixo quando comparado aos <strong>de</strong>mais itens,<br />
indicando pouco uso <strong>de</strong>sse equipamento por parte dos idosos estudados. (Tabela 10)<br />
Tabela 10 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
a Algumas Condições do Domicílio. Recife, 1998<br />
Condições Sim % Não % Total %<br />
Água encanada 352 98,30 6 1,70 358 100,00<br />
Eletric<strong>ida<strong>de</strong></strong> 357 99,70 1 0,30 358 100,00<br />
Ligação com a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos 310 86,60 46 12,80 358 100,00<br />
Gela<strong>de</strong>ira/congelador 357 99,70 1 0,30 358 100,00<br />
Rádio 347 96,90 11 3,11 358 100,00<br />
Televisão 356 99,40 2 0,60 358 100,00<br />
Vi<strong>de</strong>ocassete 235 65,60 123 34,40 358 100,00<br />
Computador 70 19,60 288 80,40 358 100,00<br />
Telefone 319 89,10 39 10,90 358 100,00<br />
Automóvel 184 51,40 174 48,60 358 100,00<br />
No que se refere <strong>à</strong> condição <strong>de</strong> residência, a maioria dos entrevistados, 75,10%, é<br />
proprietário do imóvel on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>; 12,30% moram em residência cedida sem custo e<br />
8,10%, resi<strong>de</strong>m em moradia alugada. (Gráfico 26)<br />
74
Gráfico 26 –Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong> Situação <strong>de</strong> Residência. Recife, 1998<br />
8,10%<br />
2,00%<br />
12,30%<br />
2,50%<br />
Propriet. Conjug. Alug. Ced. Outro<br />
75,10%<br />
Perguntados sobre sua situação econômica atual, comparada a <strong>de</strong> quando tinham 50<br />
anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, 40,80% dos idosos acreditam que está melhor; 32,40%, que está pior e<br />
26,80% referem ser a mesma.(Gráfico 27)<br />
Gráfico 27 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação <strong>à</strong> Percepção<br />
Sobre Sua Situação Econômica Atual em Comparação a Quando Tinham 50 Anos. Recife, 1998.<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
40,80%<br />
32,40%<br />
Melhor Pior A mesma<br />
26,80%<br />
4.6. Necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e Problemas que Afetam os Entrevistados – Seção VIII<br />
Perguntados sobre suas principais necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, os entrevistados, relatam por<br />
or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za: a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> econômica, com 57,00%; <strong>de</strong> segurança, com 55,90% e<br />
necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> companhia e contato pessoal com 34,60%. (Tabela 11)<br />
75
Tabela 11 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
<strong>à</strong>s Suas Principais Necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s/Carências. Recife, 1998<br />
Necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s/Carências Sim % Não % Total %<br />
Econômica 204 57,00 154 43,00 358 100,00<br />
Moradia 32 8,90 326 91,10 358 100,00<br />
Transporte 64 17,90 294 82,10 358 100,00<br />
Lazer 121 33,80 237 66,20 358 100,00<br />
Segurança 200 55,90 158 44,10 358 100,00<br />
Saú<strong>de</strong> 119 33,20 239 66,80 358 100,00<br />
Alimentação 22 6,10 336 93,90 358 100,00<br />
Companhia e contato pessoal 124 34,60 234 65,40 358 100,00<br />
Sobre o problema mais importante do dia-a-dia, observamos que 35,50%, não<br />
relatam problema importante; 14,80%, problema econômico; 12,00% referem preocupação<br />
com filhos e netos e ao qualificarmos outros problemas encontramos: solidão e carência<br />
afetiva; dificulda<strong>de</strong>s em ajudar mais as pessoas; dificulda<strong>de</strong>s com problemas domésticos,<br />
tanto em relação <strong>à</strong>s tarefas quanto a empregados e preocupação com a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> familiares<br />
como, cônjuge, irmãos, sobrinhos, entre outros. (Gráfico 28)<br />
Gráfico 28 – Distribuição dos Idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> em Relação<br />
ao Principal Problema do Seu Dia-a-Dia. Recife, 1998.<br />
Outros<br />
Filhos/netos<br />
Solidão<br />
Famil/conflito<br />
Moradia<br />
Violência<br />
Saú<strong>de</strong><br />
Econ.<br />
S/ prob.<br />
3,10%<br />
1,40%<br />
4,70%<br />
17,00%<br />
12,00%<br />
7,80%<br />
5,00%<br />
14,80%<br />
33,50%<br />
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00%<br />
76
5. DISCUSSÃO<br />
De acordo com os objetivos propostos, para proce<strong>de</strong>r a discussão dos resultados<br />
seguiremos o mesmo critério utilizado para sua apresentação, qual seja, o faremos por<br />
seções. A relação <strong>de</strong> variáveis entre uma seção e outra ou na mesma seção, será feita <strong>à</strong><br />
medida em que julguemos necessária ou importante para uma melhor compreensão.<br />
5.1 – Informações Gerais – Seção I<br />
Comparando os primeiros resultados <strong>de</strong>ste estudo com perfis <strong>de</strong> outras experiências<br />
<strong>de</strong> <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas, notamos que há muita semelhança, ou seja, a proporção maior<br />
<strong>de</strong> mulheres é uma característica constante. Uma pesquisa realizada nas <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s da<br />
Terceira Ida<strong>de</strong> na França (UTIs) * , referida por PEIXOTO (1997), revelou que entre os<br />
participantes, 70% são mulheres. Em pesquisa realizada no Projeto Senior * da<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Estadual Paulista (UNESP), TELAROLLI et al. (1997) referem que 86,46%<br />
dos participantes são do sexo feminino, GOLDMAN (1997) afirma que em um estudo com<br />
idosos <strong>de</strong> <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas, tanto pública quanto privada, também há uma<br />
predominância maciça <strong>de</strong> mulheres. VERAS & KENNETH (1995), referem em pesquisa<br />
realizada na <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong> da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Estadual do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro (<strong>UnATI</strong>/UERJ) que mais <strong>de</strong> 80% dos participantes são mulheres e no perfil da<br />
<strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta para a Terceira Ida<strong>de</strong> no Nor<strong>de</strong>ste, situada do Maranhão (UNITI) *<br />
referido por CARNEIRO (1998), aponta também para uma clientela predominantemente<br />
feminina.<br />
VERAS (1994) enfatiza que o padrão <strong>de</strong> envelhecimento por sexo e <strong>ida<strong>de</strong></strong>,<br />
observado no Brasil, segue o mesmo padrão observado em países <strong>de</strong>senvolvidos. O autor<br />
refere que além dos fatores genéticos e biológicos comumente utilizados para tentar<br />
explicar uma maior expectativa <strong>de</strong> vida da mulher, outras explicações também são<br />
referidas: a diferença na exposição a riscos, diferença no consumo <strong>de</strong> tabaco e álcool,<br />
diferença na atitu<strong>de</strong> em relação <strong>à</strong>s doenças e a evolução no atendimento médico obstétrico.<br />
* Essas experiências admitem pessoas com menos <strong>de</strong> 60 anos.<br />
78
BERQUÓ (1992a) também verifica que a proporção maior <strong>de</strong> mulheres idosas em relação<br />
aos homens idosos é comum tanto no primeiro quanto no terceiro mundo. Para a autora, os<br />
dados apontam para uma associação direta entre o envelhecimento populacional e a<br />
mulher, não só pelos números, mas também pelos cuidados dispensados aos idosos ser uma<br />
função feminina: “tem cabido tradicionalmente e vai continuar cabendo <strong>à</strong> mulher o<br />
cuidado com a família” (p. 28). A autora chama atenção para as transformações ocorridas<br />
nos arranjos familiares nos últimos tempos e alerta que para que o idoso seja mantido junto<br />
<strong>à</strong> sua família é preciso, primeiro, que esta exista.<br />
Com relação <strong>à</strong> proporção <strong>de</strong> gênero para a população idosa, os dados <strong>de</strong>mográficos,<br />
no Brasil e em muitos países, <strong>de</strong>monstram que existem mais mulheres do que homens e<br />
que esta proporção feminina aumenta conforme aumenta a <strong>ida<strong>de</strong></strong> (PRATA & SAAD, 1992;<br />
VERAS, 1994; TELAROLLI et al. 1997; PEIXOTO, 1997 e EL ENVEJECIMIENTO...,<br />
1999). Segundo VERAS (1994) as brasileiras vivem em média cinco anos mais que os<br />
homens. Em Pernambuco, segundo IBGE (1992) os dados censitários <strong>de</strong> 1991 <strong>de</strong>monstram<br />
que da população com 60 anos e mais, as mulheres representam 4,58%, observamos<br />
também que no Estado o número proporcional <strong>de</strong> idosas aumenta em relação direta com o<br />
aumento da <strong>ida<strong>de</strong></strong>, ou seja, segue o mesmo comportamento referido acima.<br />
Em estudos populacionais realizados com população acima <strong>de</strong> 60 anos encontram-<br />
se mais mulheres do que homens como já referimos, porém, essa diferença é menor do que<br />
a encontrada neste estudo e do que as experiências análogas aqui referidas. Em se tratando<br />
<strong>de</strong> programas especiais <strong>de</strong>stinados a essa população, o número proporcional <strong>de</strong> mulheres<br />
cresce, uma vez que os homens procuram menos esse tipo <strong>de</strong> participação, e também para<br />
esse fato várias são as explicações: as mulheres ficam viúvas e mais solitárias na <strong>terceira</strong><br />
<strong>ida<strong>de</strong></strong>; já os homens, ten<strong>de</strong>m a outro casamento, culturalmente os homens resistem a<br />
engajar-se em ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> cunho mais cultural, educacional e lúdico, já que o lazer ainda<br />
é visto como oposto ao trabalho e <strong>à</strong> responsabil<strong>ida<strong>de</strong></strong>, porém, essas inferências carecem <strong>de</strong><br />
melhores investigações.<br />
Portanto, qualquer ação <strong>de</strong>stinada <strong>à</strong> população idosa, seja ela ampla ou não, <strong>de</strong>verá<br />
consi<strong>de</strong>rar o universo feminino na <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> e suas peculiar<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, pois como afirma<br />
BERQUÓ (1996), “não cabe dúvida <strong>de</strong> que a feminização do envelhecimento precisa ser<br />
consi<strong>de</strong>rada na atenção que os idosos venham a merecer” (p. 33). Vale ressaltar que,<br />
79
Dressel (1988) apud VERAS (1994, p. 49), afirma que “as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais não<br />
po<strong>de</strong>m ser meramente atribuídas ao sexo, mas também <strong>à</strong> classe social e <strong>à</strong> raça, e que esses<br />
dois fatores são estratificadores primários das vidas das pessoas, tanto quanto o sexo. As<br />
mulheres idosas apenas refletem a estratificação e a discriminação da socieda<strong>de</strong> contra os<br />
idosos”.<br />
Devido <strong>à</strong> gran<strong>de</strong> proporção <strong>de</strong> mulheres presente neste estudo, as discussões aqui<br />
apresentadas estarão sempre perpassadas pela característica <strong>de</strong> gênero. Gênero aqui<br />
entendido como refere SILVA (1998), “como uma relação entre sujeitos historicamente<br />
<strong>de</strong>terminados, e não apenas como conceito <strong>de</strong>scritivo que <strong>de</strong>signa o masculino e o<br />
feminino” (p.148).<br />
No que se refere <strong>à</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, a população estudada apresenta em sua maioria (72,06%),<br />
o que se <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “jovens idosos”, compreendidos entre a faixa dos 60-69 anos <strong>de</strong><br />
<strong>ida<strong>de</strong></strong>. VERAS (1994), refere essa <strong>de</strong>nominação acrescentando os “meio idosos” para<br />
<strong>à</strong>queles entre 70-79 anos e “idosos velhos” para os que têm 80 anos e mais. O autor<br />
acrescenta que as duas primeiras categorias são mais significativas, porém, nos países<br />
<strong>de</strong>senvolvidos a cada dia estuda-se mais a população acima dos 80 anos. Tal interesse<br />
<strong>de</strong>ve-se ao aumento do número <strong>de</strong> idosos nessa faixa etária.<br />
Dados da Organização Panamericana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>-OPS (EL ENVEJECIMIENTO...,<br />
1999) indicam que, haverá nas próximas décadas um importante crescimento do grupo <strong>de</strong><br />
pessoas acima <strong>de</strong> 75 anos na região das Américas, chegando a dobrar no período <strong>de</strong> 1990 -<br />
2020. Para o Brasil, a previsão é <strong>de</strong> que esse grupo etário aumente mais que o triplo no<br />
mesmo período, passando <strong>de</strong> 1,9 milhão para 7,1 milhões. Um cenário que aponta para o<br />
aumento do consumo <strong>de</strong> serviços sanitários, maior necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para<br />
doenças <strong>de</strong> longa duração, internamentos hospitalares e institucionalização, além <strong>de</strong> exigir<br />
revisão nos sistemas previ<strong>de</strong>nciários. Neste sentido, SAYEG (1996) também chama<br />
atenção para o crescimento do grupo etário <strong>de</strong> 80 anos e mais e apresenta dados que<br />
colocam Pernambuco entre os estados que superam a média nacional em relação <strong>à</strong><br />
população idosa <strong>de</strong> 80-89 anos, 90-99 e 100 anos e mais.<br />
Ao compararmos a <strong>ida<strong>de</strong></strong> do grupo aqui estudado com algumas outras experiências<br />
similares como em pesquisa realizada nas UTIs francesas, on<strong>de</strong> PEIXOTO (1997) refere<br />
80
que 48% dos participantes tinham entre 60-69 anos, 25% tinham 70 anos e mais,<br />
percebemos que a maioria é <strong>de</strong> “jovens idosos”; VERAS & KENNETH (1995),<br />
encontraram em pesquisa realizada na <strong>UnATI</strong>/UERJ que mais <strong>de</strong> 80% dos participantes<br />
têm menos <strong>de</strong> 65 anos e quase todos menos <strong>de</strong> 70 anos;. GOLDMAN (1997) refere em<br />
seus estudos que na experiência <strong>de</strong> univers<strong>ida<strong>de</strong></strong> privada, 74,35% têm menos <strong>de</strong> 70 anos e<br />
na pública esse número <strong>de</strong> “jovens idosos” cresce para 91,51%, tendência esta também<br />
observada na UNITI (CARNEIRO, 1998), ou seja, os dados aqui apresentados mostraram-<br />
se semelhantes aos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>.<br />
A julgar que, para freqüentarem programas como o da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> é necessário<br />
uma competência e manejo razoáveis em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho das ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
instrumentais <strong>de</strong> vida diária (AIVD), que possuem um nível <strong>de</strong> complex<strong>ida<strong>de</strong></strong> maior que as<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> vida diária (AVD) e que, com o aumento da <strong>ida<strong>de</strong></strong> aumenta<br />
proporcionalmente o aparecimento <strong>de</strong> algum grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência tanto nas AVDs quanto<br />
nas AIVDs, é compreensível a maior freqüência <strong>de</strong> idosos jovens que estão com sua<br />
capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional preservada. Porém, a ausência <strong>de</strong> estudos populacionais e <strong>de</strong> perfil <strong>de</strong><br />
outros grupos <strong>de</strong> idosos no Estado, não nos permite afirmar qual(is) a(s) causa(s) mais<br />
provável(is) da pouca participação <strong>de</strong> idosos mais velhos no Programa. Em relação <strong>à</strong> esta<br />
questão VERAS & KENNETH (1995) referem que a composição etária observada em<br />
populações <strong>de</strong> <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas refletem não apenas a composição etária da<br />
população geral, como também que os usuários serviços <strong>de</strong>sse tipo, ten<strong>de</strong>m a apresentar<br />
melhores condições econômicas, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mobil<strong>ida<strong>de</strong></strong>, do que a média dos idosos.<br />
RAMOS (1999) refere em Conferência na Oficina <strong>de</strong> Trabalho para discussão da<br />
Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Idoso, seu estudo <strong>de</strong> seguimento com população idosa<br />
realizado no município <strong>de</strong> São Paulo, on<strong>de</strong> os idosos com maior <strong>de</strong>pendência para o<br />
<strong>de</strong>sempenho das AVDs, apresentaram um risco três vezes maior <strong>de</strong> morrer do que aqueles<br />
mais autônomos e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Portanto, ações <strong>de</strong> promoção e manutenção da<br />
autonomia e in<strong>de</strong>pendência, bem como educação para o autocuidado, são estratégias<br />
importantes a serem <strong>de</strong>senvolvidas com a população <strong>de</strong> idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>.<br />
Quando estabelecemos uma relação entre a <strong>ida<strong>de</strong></strong> e o gênero dos participantes da<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, encontramos que o grupo se mostra equilibrado em relação <strong>à</strong> representação<br />
nas faixas <strong>de</strong> 60-69 anos e 70-79 anos, porém na faixa dos que têm 80 anos e mais<br />
81
encontramos que entre os homens 4% estão nesta faixa, enquanto que entre as mulheres<br />
apenas 0,98% têm 80 anos e mais.<br />
Para PEIXOTO (1997) um dos motivos pelo qual os homens entram em programas<br />
<strong>de</strong>sse tipo mais tar<strong>de</strong> do que as mulheres, <strong>de</strong>ve-se, provavelmente, <strong>à</strong> diferença <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
para aposentadoria, os homens aposentam-se mais tar<strong>de</strong>.<br />
Quanto <strong>à</strong> c<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> procedência nos parece justificada, no grupo estudado, a maior<br />
participação (82,12%) <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> Recife, já que o Programa situa-se nesta c<strong>ida<strong>de</strong></strong>,<br />
porém é importante salientarmos a presença <strong>de</strong> 17,88% <strong>de</strong> idosos que se <strong>de</strong>slocam <strong>de</strong><br />
c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s vizinhas para freqüentarem as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s do Programa na <strong>UFPE</strong>, <strong>de</strong>notando uma<br />
<strong>de</strong>manda por programas específicos nas suas c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e também a extensão das nossas<br />
ações. Vale ressaltar que todos os idosos do Programa resi<strong>de</strong>m em área urbana.<br />
BERQUÓ (1996), refere que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 50 até os dias <strong>de</strong> hoje a população<br />
idosa * , em especial as mulheres, concentra-se em áreas urbanas. Atualmente, segundo a<br />
autora, observa-se que as diferenças entre os idosos em meio urbano e a população total<br />
diminuiu. Refere ainda que, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar como motivos para esse fato: a migração<br />
campo-c<strong>ida<strong>de</strong></strong>, a alta taxa <strong>de</strong> mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> no meio rural e a mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> diferencial por<br />
sexo, motivos que são consonantes com o crescimento da urbanização, a maior<br />
sobrevivência nas c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e consequentemente com o maior número <strong>de</strong> idosas nas c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s.<br />
A autora alerta que “na virada do século 82% da população idosa estará vivendo nas<br />
c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, estas precisam aparelhar-se para po<strong>de</strong>r oferecer recursos <strong>de</strong> várias or<strong>de</strong>ns<br />
<strong>de</strong>mandados pelos idosos” (p. 33).<br />
No que se refere ao bairro <strong>de</strong> procedência, comparando os achados atuais a<br />
levantamentos dos cadastros <strong>de</strong> inscritos no Programa em 1997 ** , observamos uma maior<br />
participação <strong>de</strong> idosos resi<strong>de</strong>ntes no entorno da <strong>UFPE</strong>, ou seja, em bairros como C<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
Universitária, Engenho do Meio, Várzea e Iputinga, totalizando (15,65%). Não é objetivo<br />
<strong>de</strong>ste estudo investigar o porquê do aumento <strong>de</strong>ssa a<strong>de</strong>são, porém nos parece muito<br />
positiva, uma vez que a comun<strong>ida<strong>de</strong></strong> vizinha está se beneficiando das ações <strong>de</strong>senvolvidas<br />
pela <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>. Boa Viagem, um bairro que fica distante da <strong>UFPE</strong>, continua sendo o<br />
* Aqui consi<strong>de</strong>rada pela autora a partir <strong>de</strong> 65 anos e valerá p/ esta discussão, sempre que aparecer BERQUÓ (1996).<br />
82
airro <strong>de</strong> on<strong>de</strong> mais proce<strong>de</strong>m idosos (11,73%). O Programa hoje atinge 69 bairros do<br />
Recife e Região Metropolitana, reforçando o comentário já feito <strong>de</strong> que o Programa está<br />
com uma abrangência territorial consi<strong>de</strong>rável. O bairro <strong>de</strong> Santo Antônio apresenta a maior<br />
proporção <strong>de</strong> idosos, e não está representado no Programa.<br />
É importante ressaltar ainda em relação ao bairro <strong>de</strong> procedência, que os resultados<br />
<strong>de</strong>ste estudo diferem dos encontrados no grupo da <strong>UnATI</strong>/UERJ, referido por PEIXOTO<br />
(1997), on<strong>de</strong> quanto ao bairro <strong>de</strong> procedência, a maioria (57,2%) dos participantes mora<br />
nos bairros próximos <strong>à</strong> <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>, enquanto na <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, a maioria vem <strong>de</strong> locais<br />
mais distantes. VERAS & KENNETH (1995), em pesquisa também referente <strong>à</strong><br />
<strong>UnATI</strong>/UERJ, confirmam que 50% dos idosos vêm <strong>de</strong> bairros próximos e que são bairros<br />
<strong>de</strong> pessoas com uma renda média mais alta quando comparada ao resto do município. No<br />
caso, os nossos resultados diferem dos acima referidos uma vez que a <strong>UFPE</strong> situa-se em<br />
uma área menos privilegiada sócio-economicamente em relação <strong>à</strong> área do bairro <strong>de</strong> Boa<br />
Viagem, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>m a maioria dos idosos, ou seja, a maioria dos idosos da<br />
<strong>UnATI</strong>/UERJ proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong> bairros próximos, cuja renda é diferenciada; a maioria dos<br />
idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong> um bairro mais distante, porém com renda média<br />
também diferenciada. Po<strong>de</strong>ríamos então supor que a participação <strong>de</strong> idosos em programas<br />
como este dá-se mais pela diferenciação sócio-econômica que pela<br />
proxim<strong>ida<strong>de</strong></strong>/oportun<strong>ida<strong>de</strong></strong> geográfica e/ou pela proporção <strong>de</strong> idosos por bairro.<br />
O nível <strong>de</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong> encontrado entre os idosos estudados difere daquele<br />
observado para a população idosa em geral, <strong>de</strong>monstrando uma diferenciação <strong>de</strong>ste grupo<br />
no que se refere ao nível <strong>de</strong> instrução, que em sua maioria é composta por indivíduos que<br />
possuem segundo e terceiro graus. Experiências análogas mostram resultados semelhantes,<br />
segundo referem os estudos <strong>de</strong> VERAS & KENNETH (1995) e <strong>de</strong> PEIXOTO (1997). Os<br />
dados são consonantes e parecem ir confirmando que o idoso que freqüenta <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s<br />
Abertas tem um padrão sócio-econômico e cultural acima da média da população idosa em<br />
geral.<br />
BERQUÓ (1992b), referindo-se a dados relativos <strong>à</strong> década <strong>de</strong> 80, afirma que 53%<br />
das pessoas entre 60-69 anos são analfabetas e entre aquelas com 70 anos e mais esse<br />
** Levantamento documental das fichas <strong>de</strong> inscrição no Programa <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> no ano <strong>de</strong> 1997.<br />
83
índice é <strong>de</strong> 44%. A maior parte dos idosos possui pouca educação formal (PRATA &<br />
SAAD, 1992;VERAS, 1994 e BERQUÓ, 1996). No Brasil, segundo VERAS (1994) * ,<br />
“50,3% dos homens com 70 anos e mais referiam saber ler e escrever, porém entre estes,<br />
50,4% referiam terem terminado apenas o curso primário” (p. 49). O autor afirma ainda<br />
que, hoje, a faixa on<strong>de</strong> encontram-se pessoas com maior proporção <strong>de</strong> alfabetização está<br />
compreendida entre os 29 a 39 anos e on<strong>de</strong> encontra-se a mais baixa proporção é na faixa<br />
<strong>de</strong> pessoas acima dos 60 anos.<br />
BERQUÓ (1992b), chama atenção para o fato <strong>de</strong> que quando consi<strong>de</strong>ramos os<br />
idosos da população do país como um todo, essa coorte <strong>de</strong> idosos <strong>de</strong> hoje, vem <strong>de</strong> uma<br />
época on<strong>de</strong> o acesso <strong>à</strong> educação era precário, portanto, essa diferenciação no nível<br />
educacional dos idosos aqui estudados, os coloca com maior chance <strong>de</strong> enfrentar a velhice,<br />
do que os <strong>de</strong>mais idosos.<br />
Ao estabelecermos uma relação entre as variáveis escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong> e gênero<br />
encontramos em nosso estudo que entre os homens o nível <strong>de</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>, embora a<br />
diferença seja pequena, é mais alto que o das mulheres. Essa diferença, segundo VERAS<br />
(1994) e BERQUÓ (1996), reflete a organização social do início do século, on<strong>de</strong> o acesso<br />
<strong>à</strong> educação era para uma elite social e particularmente para os homens. Acrescentam<br />
portanto, uma reflexão importante, hoje as mulheres idosas estão sós e com menos chance<br />
<strong>de</strong> lidarem com as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua velhice, principalmente quando as políticas públicas<br />
são insuficientes para atendê-las. Segundo BERQUÓ (1996), 40% dos homens e 48% das<br />
mulheres <strong>de</strong>claram-se analfabetos, 50% possuem o curso primário completo, esse baixo<br />
nível escolar se agrava <strong>à</strong> medida em que avança a <strong>ida<strong>de</strong></strong>, assim como a diferença por<br />
gênero, que também aumenta quanto mais avança a <strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
Observamos que os dados <strong>de</strong>ste censo, relacionando nível <strong>de</strong> instrução e sexo, são<br />
semelhantes aos encontrados na <strong>UnATI</strong>/UERJ, referidos por PEIXOTO (1997), on<strong>de</strong> entre<br />
os homens a maioria possui segundo e terceiro graus e nenhum é analfabeto; para as<br />
mulheres os achados foram, que entre aquelas com 70 anos e mais, o nível <strong>de</strong> instrução era<br />
proporcionalmente mais baixo. Para as mais jovens, ou seja, até os 69 anos, um terço não<br />
* Dados relativos <strong>à</strong> década <strong>de</strong> 1980.<br />
84
completou o primeiro grau. Segundo a autora “essas mulheres foram socializadas para o<br />
casamento e para cuidarem <strong>de</strong> maridos e filhos” (p. 61).<br />
No nosso censo, os resultados quanto ao estado conjugal <strong>de</strong>monstram que <strong>de</strong> uma<br />
maneira geral, a maioria dos idosos encontra-se entre viúvos e casados, estes dados são<br />
bastante semelhantes aos encontrados para a <strong>UnATI</strong>/UERJ por VERAS & KENNETH<br />
(1995). GOLDMAN (1997) também refere resultados semelhantes para a experiência<br />
privada, a maioria é <strong>de</strong> viúva e para a pública observou uma maior proporção <strong>de</strong> casadas.<br />
Por fim, CARNEIRO (1998) refere que na UNITI a maioria dos participantes é <strong>de</strong> casados.<br />
Porém, quando <strong>de</strong>sagregamos nossos resultados por sexo, os dados são<br />
surpreen<strong>de</strong>ntes, a diferença entre homens e mulheres corroboram com achados<br />
<strong>de</strong>mográficos para o Brasil segundo dados referidos por BERQUÓ (1996) e para as<br />
Américas, on<strong>de</strong> a diferença entre sexo e <strong>ida<strong>de</strong></strong> se reflete claramente no estado civil (EL<br />
ENVEJECIMIENTO..., 1999). Essa diferença evi<strong>de</strong>ncia-se bastante na população<br />
estudada, ou seja, a maior parte das mulheres está viúva e essa proporção aumenta <strong>à</strong><br />
medida em que aumenta a <strong>ida<strong>de</strong></strong>; já os homens em sua maioria encontram-se casados,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser a primeira união ou não. Entre as mulheres quase a meta<strong>de</strong> é viúva, contra<br />
apenas 8,00% <strong>de</strong> homens viúvos; pouco mais <strong>de</strong> um quarto das mulheres encontram-se<br />
casadas, enquanto entre os homens esse quantitativo cresce para mais <strong>de</strong> 80%. Os que<br />
referiram nunca terem casado, todas são mulheres. Em relação a esse último dado<br />
BERQUÓ (1996), refere que 7,6% das mulheres idosas chegam <strong>à</strong> <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, solteiras.<br />
Foi possível observarmos ainda que entre os idosos com cônjuges <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> inferior<br />
a 60 anos, (83,30%) são homens e dos (16,67%) <strong>de</strong> mulheres essa diferença <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> é <strong>de</strong><br />
um ou dois anos, já em relação <strong>à</strong>s companheiras femininas as diferenças são maiores,<br />
chegando até a 20 anos. Nesse sentido BERQUÓ (1996), refere que em apenas 9% dos<br />
casais as mulheres eram mais velhas do que seus maridos. Aqui, mais uma questão se<br />
coloca, sendo o cuidado uma função exercida basicamente pelas mulheres, esses homens<br />
mais velhos e casados com mulheres mais jovens, têm em potencial com quem contar caso<br />
necessitem <strong>de</strong> cuidados, já as mulheres não po<strong>de</strong>m contar com essa possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong>, essa<br />
reflexão encontra respaldo em BERQUÓ (1996), a autora refere que são muito maiores “as<br />
chances das mulheres viverem as perdas da capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> física e mental sem apoio do<br />
marido no caso das <strong>de</strong>scasadas e viúvas e sem filhos no caso das solteiras e das sem filhos<br />
85
sobreviventes” (p. 30). VERAS (1994) refere ainda que as chances da viuvez aumentam<br />
para as mulheres <strong>à</strong> medida que a <strong>ida<strong>de</strong></strong> avança e também diminuem as chances <strong>de</strong> um<br />
segundo casamento, principalmente com homens mais jovens e mesmo não sendo comum<br />
casar-se após os 60 anos, os homens tem mais chance <strong>de</strong> fazê-lo do que as mulheres, tanto<br />
os viúvos quanto os solteiros. Ainda segundo o autor, outros estudos revelam que homens e<br />
mulheres casados apresentam taxas <strong>de</strong> mortal<strong>ida<strong>de</strong></strong> mais baixas do que homens e mulheres<br />
divorciados, viúvos e solteiros, e portanto sugerem, que “a companhia é um fator positivo<br />
para o prolongamento da vida na <strong>ida<strong>de</strong></strong> avançada” (p. 45).<br />
Quanto <strong>à</strong> relação entre estado civil e gênero é possível percebermos que os dados<br />
por nós encontrados para os idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> são consonantes aos encontrados por<br />
PEIXOTO (1997) para a <strong>UnATI</strong>/UERJ.<br />
Várias são as justificativas para esse cenário, sendo possível observar um consenso<br />
entre vários autores e referências. Os autores referem que a maior longev<strong>ida<strong>de</strong></strong> das<br />
mulheres, associada a um conjunto <strong>de</strong> fatos históricos <strong>de</strong> caráter sócio-culturais que<br />
<strong>de</strong>terminam que as mulheres casem-se com homens mais velhos (em média 3 anos),<br />
acabam favorecendo um maior número <strong>de</strong> mulheres viúvas, (chegando a 3,6 para 1), além<br />
do que as mulheres <strong>de</strong>scasadas e viúvas recasam-se menos que os homens nas mesmas<br />
situações, o resultado são períodos <strong>de</strong> solidão mais longos para as mulheres viúvas do que<br />
para os homens viúvos. (VERAS, 1996; BERQUÓ, 1996 e EL ENVEJECIMIENTO...,<br />
1999)<br />
No grupo estudado observamos que no arranjo domiciliar o aspecto “morar só”<br />
chama atenção, pois no geral (15,92%) dos idosos apresentam-se nesta condição, mesmo<br />
que, segundo PEIXOTO (1997) isto possa refletir as transformações ocorridas na estrutura<br />
familiar nos últimos anos, não significando necessariamente abandono ou isolamento;<br />
sabemos também, que po<strong>de</strong> constituir-se em algum nível <strong>de</strong> risco para o idoso e, portanto,<br />
esse é um dado muito importante <strong>de</strong> ser analisado em conjunto com outras informações<br />
referentes a autonomia e in<strong>de</strong>pendência e também <strong>à</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte social. Observamos<br />
que (24,02%) dos idosos vivem em arranjo unigeracional, ou seja, com o cônjuge e embora<br />
seja numericamente pouco expressivo é possível observar também o arranjo<br />
multigeracional, on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m o idoso mais filhos e netos.<br />
86
Ao compararmos os resultados <strong>de</strong>ste estudo com os dados referidos por BERQUÓ<br />
(1992b) para a população geral, on<strong>de</strong> 8,26% das pessoas <strong>de</strong> 60 anos moram sós,<br />
observamos que os achados para os idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> chegam a quase o dobro.<br />
Relembramos porém, que os nossos dados não po<strong>de</strong>m ser extrapolados e não são<br />
representativos da população total e, consi<strong>de</strong>rando o cenário feminino do envelhecimento<br />
populacional já referido anteriormente, permite-nos enten<strong>de</strong>r essa diferença ilustrativa aqui<br />
observada, que comparada ao achado <strong>de</strong> RAMOS (1992), para o município <strong>de</strong> São Paulo,<br />
on<strong>de</strong> 12% dos idosos vivem sozinhos, com os <strong>de</strong> PEIXOTO (1997), para a <strong>UnATI</strong>/UERJ,<br />
on<strong>de</strong> do geral (37%) vivem sós e com os <strong>de</strong> GOLDMAN (1997), on<strong>de</strong> na experiência <strong>de</strong><br />
univers<strong>ida<strong>de</strong></strong> privada quase a meta<strong>de</strong> dos participantes mora só, enquanto que na<br />
univers<strong>ida<strong>de</strong></strong> pública essa proporção gira em torno <strong>de</strong> um quarto dos participantes,<br />
percebemos que <strong>à</strong> medida que se particulariza o grupo as semelhanças po<strong>de</strong>m ou não se<br />
estabelecerem.<br />
PEIXOTO (1997) refere que a proporção <strong>de</strong> idosos que mora só aumenta <strong>à</strong> medida<br />
que avança a <strong>ida<strong>de</strong></strong> segundo seus achados para a <strong>UnATI</strong>/UERJ on<strong>de</strong>, entre as pessoas <strong>de</strong><br />
até 69 anos, 33% moram sós e esse número cresce para 45% para <strong>à</strong>queles com 70 anos e<br />
mais.<br />
Ao <strong>de</strong>sagregarmos o arranjo domiciliar por gênero, vamos cada vez mais<br />
reforçando a relação entre o feminino e o envelhecimento. Neste caso os nossos achados<br />
são bastante consonantes com outros achados para a população geral e para grupos<br />
análogos. Encontramos que apenas 6% dos homens vivem sós, enquanto que entre as<br />
mulheres esse número cresce para 17%. Comparando com experiências semelhantes,<br />
observamos a partir dos dados referidos por PEIXOTO (1997), para a <strong>UnATI</strong>/UERJ, que<br />
37% das mulheres vivem sós e para os homens a proporção cai para 14%, são resultados<br />
bastante semelhantes aos nossos.<br />
PEIXOTO (1997) traz uma reflexão importante a partir dos seus estudos na<br />
<strong>UnATI</strong>/UERJ. Refere que as mulheres que não estão casadas, tem opção <strong>de</strong> arranjos<br />
domiciliares que variam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> morar com filho ou filha solteiros, com filho casado ou com<br />
outras pessoas não familiares. Já os homens que não estão casados, moram sós ou com<br />
filho solteiro, portanto, têm menos possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> outros arranjos e conclui que “após os<br />
70 anos se não vivem mais com o cônjuge, o <strong>de</strong>stino dos homens é <strong>de</strong> viver sós” (p. 59).<br />
87
Para a autora esse fato parece justificar-se <strong>de</strong>vido ao forte vínculo afetivo entre mães e<br />
filhos e por isso estes têm mais disponibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> cuidar das mães do que dos pais idosos.<br />
Acreditamos que temos também que consi<strong>de</strong>rar que, além da questão do vínculo<br />
afetivo ser mais forte com as mães do que com os pais, talvez, no caso dos homens idosos,<br />
sejam mais limitadas as possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> arranjo com os filhos casados, pelo fato <strong>de</strong> ser<br />
mais difícil encontrar “um lugar” para o homem idoso nessa dinâmica familiar, enquanto<br />
que para a mulher, as funções domésticas são mais facilmente absorvidas e “o lugar” mais<br />
facilmente encontrado. O homem idoso era “chefe” <strong>de</strong> sua família e <strong>de</strong> sua casa e,<br />
portanto, dava o tom da dinâmica, é mais difícil para ele também adaptar-se a uma família<br />
<strong>à</strong> qual não chefia.<br />
Em relação aos dados <strong>de</strong>mográficos para a população geral BERQUÓ (1992 a) * ,<br />
refere que 50% das mulheres moram sós e para os homens a condição <strong>de</strong> morar só é<br />
transitória. A autora (1996) acrescenta ainda que a proporção <strong>de</strong> mulheres, a partir dos 65<br />
anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, vivendo sozinha aumenta com a <strong>ida<strong>de</strong></strong> o que não ocorre com os homens.<br />
RAMOS (1992) refere que os arranjos multigeracionais são mais comuns entre as mulheres<br />
e os viúvos em geral, e entre os viúvos a maioria é mulher.<br />
5.2 – Utilização <strong>de</strong> Serviços Médicos e Dentários – Seção II<br />
Quanto <strong>à</strong> utilização <strong>de</strong> serviços médicos, nos resultados observados no nosso censo<br />
com os idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, encontramos que a maioria dos entrevistados (69,00%) é<br />
usuária <strong>de</strong> plano e/ou seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privado, portanto os usuários <strong>de</strong> serviço público<br />
constituem uma minoria. Dessa forma, é notório o alto quantitativo <strong>de</strong> idosos que utilizam<br />
serviço médico privado (plano/seguro saú<strong>de</strong>), quando somados aqueles que utilizam<br />
consultas e médicos particulares. Denotando um grupo com um po<strong>de</strong>r aquisitivo<br />
diferenciado o suficiente para ter assistência <strong>à</strong> saú<strong>de</strong> privada, pois sabemos que os valores<br />
pagos para pessoas a partir dos 60 anos são em geral altos. *<br />
* Dados censitários para 1980.<br />
* A pesquisa foi realizada antes da reforma que hoje regulamenta os planos e/ou seguros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privados.<br />
88
Questionando sobre a freqüência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> alguns tipos <strong>de</strong> serviços médicos<br />
durante os três meses que antece<strong>de</strong>ram a entrevista, observamos que os mais utilizados<br />
foram consultas médicas, exames clínicos e consulta ao <strong>de</strong>ntista, embora esta última em<br />
menor proporção (23,70%). Os serviços referidos quando utilizados mais <strong>de</strong> uma vez no<br />
mesmo período são as consultas médicas e os exames clínicos. A maior parte dos idosos<br />
estudados (88,55%) <strong>de</strong>monstra-se satisfeita com os serviços médicos utilizados, porém<br />
entre os insatisfeitos, a maioria estava entre usuários <strong>de</strong> serviço público <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, embora<br />
um número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> planos e/ou seguros privados também tenham<br />
referido alguma insatisfação. MEDEIROS & KARSCH (1992) referem que para idosos <strong>de</strong><br />
um bairro <strong>de</strong> São Paulo o atendimento <strong>à</strong> saú<strong>de</strong> do idoso que não tem convênio, é<br />
consi<strong>de</strong>rado péssimo.<br />
A principal queixa dos idosos em relação aos serviços médicos, tanto público<br />
quanto privados, foi relacionada ao tempo, seja <strong>de</strong> espera no consultório ou para a<br />
marcação <strong>de</strong> consultas/exames. A burocracia, a falta <strong>de</strong> confiança no sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e<br />
nos procedimentos médicos, o medo da medicação falsificada e a dificulda<strong>de</strong> e receio em<br />
realizar alguns exames também foram referidos, nesse último caso os exames que mais<br />
constrangem são os ginecológicos.<br />
No que se refere <strong>à</strong> utilização <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>ntários observamos um comportamento<br />
semelhante <strong>à</strong>quele dos serviços médicos, ou seja, apenas uma minoria utiliza serviço<br />
odontológico público, havendo um predomínio <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> serviço odontológico particular<br />
para o qual a maioria dos usuários também refere bom nível <strong>de</strong> satisfação. Um dado<br />
preocupante é o fato <strong>de</strong> que (26,80%) dos idosos referem que “não procuram serviços<br />
odontológicos há muito tempo”, esta pergunta como está formulada no questionário não<br />
permite que se precise esse “há muito tempo”, porém, subjetivamente, o idoso nos informa<br />
que não vem dando <strong>à</strong> sua saú<strong>de</strong> oral o cuidado merecido, logo é um dado que merece<br />
<strong>de</strong>staque uma vez que, segundo dados do Ministério da Saú<strong>de</strong> referentes a 1986, 75% das<br />
pessoas acima <strong>de</strong> 60 anos no Brasil não têm mais nenhum <strong>de</strong>nte natural, entre estes alguns<br />
usam próteses, em sua maioria imperfeitas ou mal adaptadas, e muitos nem as usam. Isso<br />
compromete a boa alimentação e, consequentemente, o estado nutritivo. Observa-se,<br />
também, comprometimento da estética facial e da fala, o que po<strong>de</strong> influir em sua<br />
socialização.<br />
89
As únicas ajudas/apoios que os idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> referem fazer uso são<br />
óculos e próteses <strong>de</strong>ntárias. Os que referem necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> substituir essa ajuda<br />
representam 40%. Este fato <strong>de</strong>monstra indiretamente o alto grau <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>sse<br />
grupo. Vale ressaltar que, atualmente em gerontologia as atenções voltam-se cada dia mais<br />
para as ajudas técnicas ou dispositivos <strong>de</strong> ajuda, que convencionalmente estão sendo<br />
<strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> tecnologia assistiva para referir-se aos equipamentos que são<br />
<strong>de</strong>senvolvidos por profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em parceria com profissionais das áreas <strong>de</strong><br />
tecnologia, engenharia e artes, e são utilizados para a facilitação do cotidiano dos idosos<br />
e/ou dos cuidadores. Estes equipamentos seguem um nível <strong>de</strong> complex<strong>ida<strong>de</strong></strong> compatível<br />
com o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> cada usuário, po<strong>de</strong>ndo as intervenções serem realizadas em<br />
nível ambiental que favorecerá também grupos <strong>de</strong> idosos com algum grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />
Segundo ABREU (1998), tecnologia assistiva é <strong>de</strong>finida pela Technology-Related<br />
Assistance for Individuals with Disabilities Act, <strong>de</strong> 1998, como: “qualquer item, parte <strong>de</strong><br />
equipamento ou sistema <strong>de</strong> um produto, adquirido comercialmente, modificado ou<br />
construído <strong>de</strong> acordo com necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s ou preferências pessoais, que é usado para<br />
aumentar, manter ou melhorar as capac<strong>ida<strong>de</strong></strong>s funcionais <strong>de</strong> indivíduos com<br />
incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>” (p. 82).<br />
Portanto, a indicação a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong> ajuda para idosos com algum<br />
grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, significa estar promovendo e preservando sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional e<br />
consequentemente, sua saú<strong>de</strong>, relembrando que em gerontologia o conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na<br />
<strong>ida<strong>de</strong></strong> avançada estabelece relação direta com a capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional.<br />
O uso <strong>de</strong> medicação por idosos é uma gran<strong>de</strong> preocupação dos profissionais <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, pois sabe-se que a maioria dos idosos, por apresentarem polipatologias em geral <strong>de</strong><br />
natureza crônica, acabam consumindo fármacos em quant<strong>ida<strong>de</strong></strong> e qual<strong>ida<strong>de</strong></strong> diversas.<br />
COLLEY & LUCAS (1993) apud RAMOS (1995, p. 4), chama atenção para duas<br />
situações que po<strong>de</strong>m ser observadas na administração da terapêutica medicamentosa em<br />
idosos, a primeira é a polifarmácia, que segundo o autor, “está relacionada ao uso <strong>de</strong> pelo<br />
menos uma droga <strong>de</strong>snecessária num rol <strong>de</strong> prescrições supostamente necessárias”, a<br />
segunda situação é a iatrogenia, que “configura o efeito patogênico <strong>de</strong> uma droga ou da<br />
interação <strong>de</strong> várias drogas”; o autor enfatiza que estas são duas situações que acontecem<br />
muito em nosso meio. Segundo ROCHA (1996), há a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> um conhecimento<br />
90
sólido sobre as alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas que ocorrem com o<br />
envelhecimento, pois a alta prevalência <strong>de</strong> problemas clínicos somada ao uso <strong>de</strong><br />
medicamentos concomitantes, torna a prescrição medicamentosa para a população idosa<br />
muito particular. Para RAMOS (1995) esse conhecimento é fundamental para que se<br />
obtenha “um efeito terapêutico máximo com reações adversas mínimas” (p.4).<br />
ROZENFELD (1997) refere que a iniqü<strong>ida<strong>de</strong></strong> social observada, principalmente em<br />
países em <strong>de</strong>senvolvimento, não permite o acesso ao uso <strong>de</strong> medicamentos a boa parte da<br />
população que necessitaria <strong>de</strong> seu uso. Porém, alerta a autora, isto não significa que quem<br />
tem acesso <strong>à</strong> medicação esta a<strong>de</strong>quadamente tratado, pois, existem distorções importantes<br />
nesse perfil <strong>de</strong> utilização dos medicamentos. Ela acredita que sejam prescritos mais<br />
medicamentos para idosos que para outros grupos, sem que esteja clara a a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>ssa<br />
prescrição. Ainda segundo a autora, 23,5% dos idosos recebe, no mínimo, um fármaco<br />
consi<strong>de</strong>rado impróprio.<br />
O baixo número ou ausência <strong>de</strong> geriatras em serviços públicos ou privados <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, resulta na freqüência <strong>de</strong> consultas por parte dos idosos a vários especialistas que<br />
tratam cada um <strong>de</strong> sua “especial<strong>ida<strong>de</strong></strong>” não aten<strong>de</strong>ndo os idosos em sua integral<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Em<br />
conseqüência, acaba ocorrendo uma terapêutica medicamentosa para cada queixa, o que<br />
aumenta em muito a chance da polifarmácia.<br />
ROZENFELD (1997) refere que “em países <strong>de</strong>senvolvidos, o percentual <strong>de</strong><br />
indivíduos acima dos 65 anos que não toma nenhum remédio oscila entre 4% a 7%,<br />
po<strong>de</strong>ndo chegar a 25% <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das características metodológicas do estudo e dos<br />
aspectos culturais do país focado” (p. 13)..<br />
Nesse sentido, MARUCI & GOMES (1996) referem dados para a população norte-<br />
americana, on<strong>de</strong> o grupo etário <strong>de</strong> 65 anos e mais (11% da população total) consomem<br />
25% dos medicamentos prescritos no país. Entre os idosos norte-americanos, 70%<br />
consomem medicamentos e, entre aqueles não institucionalizados, o consumo é <strong>de</strong> em<br />
média 4,5 medicamentos. DIAZ (1996) refere que dados semelhantes se observam na<br />
Inglaterra, on<strong>de</strong> 17% da população é composta por idosos e consomem pelo menos 30%<br />
dos medicamentos. MARUCI & GOMES (1996) chamam atenção para a automedicação,<br />
pois esse comportamento aumenta ainda mais o risco <strong>de</strong> interações ina<strong>de</strong>quadas além <strong>de</strong>,<br />
91
continuam as autoras, po<strong>de</strong>r provocar efeitos adversos sobre o estado nutricional dos<br />
idosos. MOSEGUI (1998) encontrou em um estudo com os participantes * da <strong>UnATI</strong>/UERJ<br />
que 83,8% das idosas referem consumir medicação prescrita por médico, os <strong>de</strong>mais por<br />
vizinhos, amigos, veículos <strong>de</strong> comunicação, balconistas <strong>de</strong> farmácias e drogarias. RAMOS<br />
(1995) refere que em um inquérito domiciliar com idosos resi<strong>de</strong>ntes no município <strong>de</strong> São<br />
Paulo, 76% dos idosos tomam pelo menos uma medicação regularmente, as mulheres<br />
muito idosas (80 anos ou mais) são quem mais consomem medicamentos, 92% referem<br />
usar drogas prescritas pelo médico e apenas 6% se automedicam.<br />
DIAZ (1996) alerta, ainda, para dois outros problemas em relação ao uso <strong>de</strong><br />
medicação em pessoas idosas, um refere-se ao uso ina<strong>de</strong>quado, o outro <strong>à</strong> não-a<strong>de</strong>são <strong>à</strong><br />
terapêutica medicamentosa. A autora refere os estudos <strong>de</strong> BODY e col. (1974), on<strong>de</strong> foi<br />
<strong>de</strong>monstrado que em pacientes ambulatoriais, a não compreensão do esquema<br />
medicamentoso correspon<strong>de</strong>u ao uso ina<strong>de</strong>quado das prescrições, sendo que os doentes<br />
com 65 anos ou mais <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> apresentaram o mais baixo nível <strong>de</strong> compreensão. Este<br />
acaba sendo um problema maior do que mesmo a não-a<strong>de</strong>são, ocasionando falha na<br />
obediência ao esquema terapêutico. A autora refere ainda que existem outros fatores além<br />
da falta <strong>de</strong> compreensão que influem na não-a<strong>de</strong>são ao uso dos medicamentos, como:<br />
fatores técnicos, fatores biológicos, fatores predominantemente psicológicos e sociais e<br />
ainda fatores mistos, alertando que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>vem estar atentos a essas<br />
questões.<br />
Neste estudo, um número bastante elevado <strong>de</strong> idosos do Programa (80,70%),<br />
referem fazer uso <strong>de</strong> remédios, a maioria diz que são prescritos por um médico e a maior<br />
parte não <strong>de</strong>clara dificulda<strong>de</strong> para obtenção da medicação, este achado é semelhante ao<br />
encontrado por MOSEGUI (1998) já referido acima. O questionário por nós utilizado não<br />
aprofunda em quantos e quais são essas medicações, porém, diante do exposto acima,<br />
po<strong>de</strong>mos inferir que os resultados corroboram <strong>de</strong> alguma forma essas reflexões e indicam<br />
possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> que esses idosos venham a ser vítimas da polifarmácia, carecendo<br />
receber informações sobre o tema. Os 19,30% que não referem uso <strong>de</strong> medicamentos<br />
<strong>de</strong>monstram um número equivalente ao dobro do encontrado por MOSEGUI (1998) para<br />
os participantes da <strong>UnATI</strong>/UERJ, on<strong>de</strong> apenas 9% das participantes não tomavam nenhum<br />
* Nesse estudo foram investigadas apenas as mulheres.<br />
92
tipo <strong>de</strong> medicamento, vale relembrar que neste estudo só as mulheres foram estudadas.<br />
Embora em nosso estudo as informações sejam referentes ao uso <strong>de</strong> medicamentos por<br />
homens e mulheres, não encontramos diferenças importantes, entre os 50 homens (40)<br />
80,00% fazem uso <strong>de</strong> medicação e entre as 308 mulheres (249) 88,85%.<br />
Quanto ao tipo <strong>de</strong> medicamentos usados por idosos, MEYER & REIDENBERG<br />
(1992) apud RAMOS (1995, p. 4) refere que as drogas mais usadas mundialmente por<br />
idosos são: primeiro as cardiovasculares, seguidas <strong>de</strong> analgésicos e antiflamatórios,<br />
laxativos e antiácidos, ansiolíticos, hipnóticos e por fim, drogas que não requerem<br />
prescrição como vitaminas e sais minerais.<br />
A figura da filha aparece, para os idosos do nosso censo, como sendo a pessoa<br />
eleita para dispensar-lhes cuidados caso venham a ficar doentes ou incapacitados; o<br />
cônjuge, o filho e outra pessoa da família são citados, porém em menor escala. Quando se<br />
referem a alguém fora da família, trata-se sempre <strong>de</strong> um profissional, que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong><br />
enfermagem (enfermeiros ou auxiliares) ou ainda um leigo. Esses profissionais são,<br />
obviamente, contratados, sendo portanto externos ao arranjo familiar. MEDEIROS &<br />
KARSCH (1992), encontraram em estudo realizado em um bairro no município <strong>de</strong> São<br />
Paulo resultados semelhantes aos <strong>de</strong>sse estudo com relação <strong>à</strong> importância da filha para os<br />
idosos e afirmam: “A filha é a pessoa mais importante para qualquer velho, nesta c<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
ou neste país. É quem ajuda a resolver os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> doença, <strong>de</strong> ajuda física”<br />
(p. 36).<br />
Esta questão é preocupante e permite-nos diversas reflexões, primeiro a crença <strong>de</strong><br />
que a filha irá dispensar-lhes cuidados e nesta crença está embutida uma cobrança, mais<br />
uma vez retomamos a função feminina do cuidado para com os idosos, lembrando que há<br />
uma gran<strong>de</strong> chance <strong>de</strong> que esta filha esteja inserida no mercado <strong>de</strong> trabalho e ainda que<br />
esta possa ter sua própria família com filhos inclusive, que naturalmente <strong>de</strong>mandam<br />
cuidados. Para VERAS (1996) essa é uma função, tradicionalmente ligada <strong>à</strong> mulher, e o<br />
fato <strong>de</strong> não serem recompensadas financeiramente, passa a exigir novas formas <strong>de</strong><br />
administração <strong>de</strong>ssa questão, principalmente nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos. SILVA (1998)<br />
refere que em seus estudos tem encontrado dados consonantes com a literatura em geral,<br />
que constatam que a maior parte dos cuidadores domiciliares é mulher. A autora, alerta<br />
para o fato <strong>de</strong> que o cuidar do outro, e no caso, a mulher cuidadora, não é, como se<br />
93
concebe, tarefa “natural” da mulher, mas sim uma construção histórico-social, que se dá,<br />
essencialmente, na família. Esta reflexão, continua a autora, “<strong>de</strong>rruba as concepções que<br />
associam o cuidar a uma condição biológica e, portanto, natural” (p. 149).<br />
FELGAR (1998) refere dados relativos a um estudo realizado em São Paulo, com<br />
cuidadores <strong>de</strong> adultos * com seqüelas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral – AVC, on<strong>de</strong> encontrou<br />
que mais <strong>de</strong> 90% dos cuidadores são do sexo feminino.<br />
Outra crença observada é a <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>rão contratar um profissional da<br />
enfermagem para o cuidado, seja ele <strong>de</strong> nível superior ou não; colocam-se aqui duas<br />
questões importantes, uma que há carência <strong>de</strong> formação, tanto em nível superior quanto em<br />
nível médio, sobre geriatria e gerontologia para os profissionais da enfermagem e <strong>de</strong> outras<br />
categorias profissionais, a outra é que o custo <strong>de</strong>sses serviços é muito alto, além <strong>de</strong> ser em<br />
geral uma necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> longa duração. Portanto, como é pequeno o número<br />
<strong>de</strong> profissionais habilitados para tal final<strong>ida<strong>de</strong></strong>, implica necessariamente no crescimento do<br />
valor da remuneração. Alguns ainda referem que po<strong>de</strong>m contratar um leigo para essa<br />
tarefa, o que nos faz perceber um <strong>de</strong>sconhecimento da necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> pessoas<br />
para o cuidado com idosos. Para estes é como se essa fosse uma tarefa simples que<br />
qualquer um po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhá-la. As pessoas que cuidam <strong>de</strong> idosos são <strong>de</strong>nominadas na<br />
área da geriatria e gerontologia <strong>de</strong> “cuidadores”, sendo que <strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência do idoso haverá necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> um cuidador melhor preparado.<br />
A maioria dos idosos estudados referiu terem tido filhos. Há uma equivalência <strong>de</strong><br />
proporção quanto ao gênero, estes são em média quatro filhos por idoso, indicando um<br />
nível razoável <strong>de</strong> possível re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda em caso <strong>de</strong> doença e/ou <strong>de</strong>pendência. Segundo<br />
LEME & SILVA (1996), a população idosa atual vem <strong>de</strong> um tempo on<strong>de</strong> a família, no<br />
caso a família ampliada, com convivência multigeracional (avós, filhos, tios, primos ...)<br />
tinha um papel importante na vida das pessoas e assegurava o cuidado dos seus membros.<br />
Essa referência, creio, se concretiza quando os idosos esperam ser cuidados por membros<br />
da família. Com o <strong>de</strong>clínio da família ampliada e estruturação da família nuclear várias<br />
vezes referidas neste estudo, fica claro que o cuidado em família torna-se cada vez mais<br />
difícil.<br />
* Adultos a partir dos 50 anos.<br />
94
O cenário da família nuclear em relação ao cuidado dos seus membros, em<br />
particular do idoso, é <strong>de</strong>nominado como sendo a “síndrome <strong>de</strong> insuficiência familiar”, ou<br />
seja, o não dispor <strong>de</strong>ssa possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> cuidado po<strong>de</strong> trazer para o idoso situações <strong>de</strong><br />
morb<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> caráter físico, psíquico ou social. Essa síndrome po<strong>de</strong> ser dividida em dois<br />
tipos: a do filho único e a dos maus-tratos. A primeira é referida inclusive como sendo<br />
endêmica, pois há uma tendência mundial <strong>de</strong> famílias muito pequenas, <strong>de</strong> um único filho,<br />
aqui observa-se uma impossibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> física <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuidados a seus idosos<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, não se tratando pois <strong>de</strong> rejeição, mas <strong>de</strong> impossibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> real que acaba<br />
culminando na institucionalização. Na síndrome dos maus-tratos, observa-se realmente<br />
uma animos<strong>ida<strong>de</strong></strong> para com a pessoa cuidada, no caso o idoso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Essa é uma<br />
questão recente e ainda pouco estudada entre nós, mesmo em países mais <strong>de</strong>senvolvidos e<br />
em termos proporcionais há pouca literatura a respeito. O mau-trato po<strong>de</strong> ser voluntário ou<br />
involuntário, este último por falta <strong>de</strong> conhecimento ou possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> física real para prestar<br />
o cuidado, já o mau-trato voluntário, é cometido em geral pelo cônjuge feminino e em<br />
seguida pelos filhos adultos e, em menor grau, pelo cuidador profissional. É importante<br />
que se perceba aqui o estresse do cuidador <strong>de</strong> idoso com alta <strong>de</strong>pendência, chamado<br />
“doente oculto” e que também precisa ser cuidado (LEME & SILVA, 1996). Para<br />
VELASQUEZ et al. (1998,), “há que se criar mecanismos <strong>de</strong> proteção social que garanta<br />
a família a possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> exercer seu papel <strong>de</strong> cuidador” (p.141). Segundo FELGAR<br />
(1998), mais <strong>de</strong> 90% dos participantes <strong>de</strong> seu estudo resi<strong>de</strong>m com a pessoa da qual cuidam.<br />
Fica claro, a partir <strong>de</strong>ssa afirmação, que o real suporte a idosos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes está no<br />
domicilio, a cargo da família.<br />
Retomando a problemática do cuidador, vemos que atualmente há uma gran<strong>de</strong><br />
discussão em nível nacional sobre esta questão, mas ainda não se chegou a um consenso.<br />
Informalmente, pessoas estão “cuidando” <strong>de</strong> idosos, seja em instituições <strong>de</strong> longa<br />
permanência ou em domicílios, em geral sem nenhuma formação para tal (BARETO,<br />
1995). Há a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> e a família i<strong>de</strong>ntifica alguém que vai apren<strong>de</strong>ndo (ou não) com a<br />
prática; e nas instituições acontece mais ou menos o mesmo processo, alguns auxiliares <strong>de</strong><br />
enfermagem tratam das tarefas mais específicas, como curativos e administração <strong>de</strong><br />
medicação, porém os <strong>de</strong>mais cuidados são <strong>de</strong>sempenhados por pessoas contratadas que<br />
também apren<strong>de</strong>m (ou não) com a prática.<br />
95
Existem, atualmente, diversos cursos <strong>de</strong> formação, capacitação, treinamento ou<br />
outra <strong>de</strong>nominação similar, por todo Brasil, que se <strong>de</strong>stinam <strong>à</strong>s pessoas que cuidam e/ou<br />
<strong>de</strong>sejam cuidar <strong>de</strong> idosos, po<strong>de</strong>ndo também ser um familiar. Os cursos têm como objetivo<br />
instrumentalizar para o cuidado com o idoso com algum grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, e assim<br />
facilitar o cotidiano do idoso e do cuidador, oferecendo mais qual<strong>ida<strong>de</strong></strong> nessa atenção e<br />
maior chance <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência e bem estar para o idoso.<br />
MENDES (1998) refere que nos países <strong>de</strong>senvolvidos os cuidados domiciliares<br />
para idosos são consi<strong>de</strong>rados como necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> social e conta-se com uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços<br />
públicos <strong>de</strong>stinados a esse suporte domiciliar. Existem, continua a autora, instituições<br />
oficiais que recrutam e treinam os voluntários da comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>; este trabalho é normatizado<br />
e regulado por políticas públicas. Ainda segundo a autora, esta não é a prática observada<br />
no Brasil, on<strong>de</strong> os cuidados prestados por um “voluntário da comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>” aos idosos<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, “ocorrem <strong>de</strong> forma espontânea”, isto é, são os familiares, amigos, vizinhos<br />
que aparecem para ajudar nos momentos críticos, não havendo nenhuma política pública<br />
<strong>de</strong>stinada a esse fim.<br />
Segundo MENDES (1998) BARER e JOHNSON (1990) referem que a <strong>de</strong>finição<br />
<strong>de</strong> STONE, CAFFERATA e SANGL (1987) é a mais explícita, pois distingue o cuidador<br />
principal e o secundário <strong>de</strong> acordo com o grau <strong>de</strong> envolvimento <strong>de</strong> cada um nos cuidados<br />
prestados ao idoso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. O cuidador principal é aquele que tem a total ou a maior<br />
responsabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> pelo cuidado prestado ao idoso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, no domicílio. Os cuidadores<br />
secundários seriam os familiares, voluntários e profissionais que prestam ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
complementares.<br />
O tema dos “cuidadores <strong>de</strong> idosos” tem gerado, por parte dos especialistas e dos<br />
po<strong>de</strong>res públicos no Brasil, gran<strong>de</strong>s polêmicas. Vários fóruns * nacionais e regionais têm<br />
acontecido no sentido <strong>de</strong> se chegar a um <strong>de</strong>nominador comum quanto <strong>à</strong> questão, <strong>de</strong> modo a<br />
permitir a proposição <strong>de</strong> políticas públicas que venham a normatizar as ações <strong>de</strong> cuidados a<br />
idosos no país.<br />
* I Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento. para Instrutores no Cuidado com o Idoso - GO/1998 (Ministério da Previdência e<br />
Assistência Social); I Congresso Brasileiro da Associação Nacional <strong>de</strong> Gerontologia - RS/1998 (ANG); Oficicina <strong>de</strong><br />
Trabalho para Discussão da Política Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Idoso - DF/1999 (Ministério da Saú<strong>de</strong>).<br />
96
Segundo MENDES (1998) não há clareza nos critérios que se utilizam para <strong>de</strong>finir<br />
os cuidadores, levando a diversas <strong>de</strong>finições, algumas baseadas no vínculo parental, outras<br />
no tipo <strong>de</strong> cuidado prestado. As dúvidas são <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns, discutiremos algumas a<br />
seguir.<br />
Quanto <strong>à</strong> <strong>de</strong>nominação: (cuidador formal/informal, leigo/ou não leigo,<br />
familiares/não familiares). A partir <strong>de</strong> vários autores, MENDES (1998) <strong>de</strong>staca uma<br />
<strong>de</strong>finição que permite distinguir o cuidador principal do secundário. Sendo o cuidador<br />
principal aquele que tem maior ou total responsabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> pelo cuidado prestado no<br />
domicílio e o secundário seria o familiar, amigo, voluntário ou profissional que realiza<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s complementares. Segundo a autora (1998) “usa-se o termo cuidador formal<br />
(principal ou secundário) para o profissional contratado (aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> enfermagem,<br />
acompanhante, empregada doméstica, etc.) e cuidador informal, usualmente os familiares,<br />
amigos e voluntários da comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>. Essas dificulda<strong>de</strong>s em se <strong>de</strong>finir o cuidador implica<br />
em dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o real processo <strong>de</strong> cuidado a um idoso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte no<br />
domicílio, assim como a dinâmica que vai <strong>de</strong>finir o cuidador principal” (p. 173).<br />
Quanto <strong>à</strong> categorização: trata-se <strong>de</strong> função/trabalho/profissão. Essa questão foi<br />
discutida exaustivamente no I Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento para Instrutores no Cuidado com<br />
o Idoso, promovido pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, em 1998, on<strong>de</strong><br />
estavam reunidos cerca <strong>de</strong> 40 especialistas, mas não se conseguiu chegar a um consenso,<br />
tendo sido retomada a discussão em Porto Alegre, no mesmo ano, on<strong>de</strong> foi apresentada<br />
para discussão uma proposta <strong>de</strong> um Projeto <strong>de</strong> Lei criando a categoria profissional <strong>de</strong><br />
“cuidador”, na referida proposta o cuidador não seria apenas para pessoas idosas, mas<br />
também para crianças e para pessoas portadoras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência, o que causou mais<br />
polêmicas ainda e, ao final, não se aprovou o prosseguimento da proposta, a avaliação dos<br />
especialistas presentes foi <strong>de</strong> que era preciso mais amadurecimento da questão.<br />
Quanto <strong>à</strong> formação: quem/como forma, qual o conteúdo/carga horária. Parte <strong>de</strong>ssa<br />
questão ficou <strong>de</strong>finida pelos Ministérios da Saú<strong>de</strong> e Previdência e Assistência Social, ou<br />
seja, foi informado durante a Oficina <strong>de</strong> Trabalho para discussão da Política Nacional <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> do Idoso, em 1999, que a responsabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> da formação <strong>de</strong> cuidadores <strong>de</strong> idosos no<br />
Brasil será realizada pelos referidos Ministérios, porém a operacionalização <strong>de</strong>ssa parceria<br />
e da formação propriamente dita, não foi tratada na ocasião.<br />
97
É muito importante que essas discussões estejam acontecendo, esperamos que em<br />
breve alguns <strong>de</strong>sses impasses tenham soluções, pois os cuidados continuam sendo<br />
prestados seja por pessoas da família ou não (<strong>de</strong>vido não apenas <strong>à</strong> necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> da mulher<br />
que está no mercado <strong>de</strong> trabalho, mas também <strong>à</strong> complex<strong>ida<strong>de</strong></strong> da tarefa quando a<br />
<strong>de</strong>pendência é alta), com ou sem formação (quando essa existe não se sabe ao certo a<br />
serieda<strong>de</strong> da mesma e nem sempre há um acompanhamento, pois hoje essa é uma que<br />
<strong>de</strong>sponta no mercado e há que se ter cautela) e que recebem remunerações as mais<br />
variadas. A solução para esses impasses tornam-se ainda mais urgentes quando pensamos<br />
no risco <strong>de</strong> abusos e maus tratos (já referidos anteriormente) que po<strong>de</strong>m ser cometidos<br />
durante o cuidado, muitas das vezes por pura falta <strong>de</strong> conhecimento.<br />
Encontramos para o total dos idosos estudados (358), que 7,30% ou não sabem com<br />
quem contar em caso <strong>de</strong> uma necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>sse tipo ou acreditam não po<strong>de</strong>r contar com<br />
ninguém e vale ressaltar que todos que <strong>de</strong>ram esta resposta são mulheres, isso significa que<br />
entre as 308 idosas entrevistadas 8,44% não sabem com quem contar em caso <strong>de</strong> doença<br />
e/ou incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>, corroborando assim, a discussão já trazida anteriormente, quanto <strong>à</strong><br />
chance das mulheres envelhecerem sós e não terem com quem contar para cuidá-las;<br />
diferentemente dos homens que estão em sua maior parte casados e são cuidados, na<br />
maioria das vezes, pela companheira. Aqui temos mais uma questão polêmica, a do papel<br />
do estado, que <strong>de</strong>ve oferecer meios para manter uma re<strong>de</strong> tal que permita a essa pessoa<br />
permanecer em socieda<strong>de</strong> ou a alternativa será institucionalização. No caso do Brasil o<br />
caminho mais comum é a institucionalização. Na verda<strong>de</strong>, não seria o maior problema se<br />
contássemos com um sistema <strong>de</strong> institucionalização geriátrica, hierarquicamente<br />
organizado, equipado e humanizado, que aten<strong>de</strong>sse ao idoso em suas diversas <strong>de</strong>mandas,<br />
pois em algumas situações, a institucionalização é a intervenção mais a<strong>de</strong>quada, porém ela<br />
se dá muitas das vezes por falta <strong>de</strong> opção, ou seja, por ainda não termos a implementação<br />
da Política Nacional do Idoso e no caso das instituições, por falta <strong>de</strong> uma política pública<br />
<strong>de</strong> orientação, regulação e fiscalização das instituições geriátricas no país.<br />
98
5.3. Ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> Vida Diária (AVD) – Seção IV<br />
Segundo dados sobre os indicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da Espanha<br />
(INDICADORES...,1995), “o nível <strong>de</strong> capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional do idoso é possivelmente o<br />
maior <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> sua situação vital e do tipo <strong>de</strong> assistência que precisará no futuro”<br />
(p. 115). Para RAMOS (1992), em uma avaliação do tipo multidimensional do idoso, como<br />
a realizada nesse estudo, é indispensável mensurar o grau <strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência<br />
para realizar as tarefas mais simples <strong>de</strong> autocuidado, ou seja, sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional. O<br />
autor refere que um estudo realizado com população idosa em São Paulo revela que uma<br />
elevada porcentagem dos idosos estudados, tem dificulda<strong>de</strong> para realizar as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da<br />
vida diária.<br />
Os resultados <strong>de</strong>ixam bastante claro que os idosos <strong>de</strong>sse estudo são autônomos e<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Mais <strong>de</strong> (90,00%) <strong>de</strong>les referem-se com capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> para <strong>de</strong>sempenhar as<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que lhes foram perguntadas, sendo a única exceção, cortar as unhas dos pés<br />
on<strong>de</strong> (14,20%) <strong>de</strong>claram-se incapazes para fazê-lo sozinho, <strong>de</strong>ntre estes encontramos que a<br />
maioria é mulher e tem entre 60 e 69 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>; já os poucos homens que referem esta<br />
dificulda<strong>de</strong>, só a referem em <strong>ida<strong>de</strong></strong> mais avançada, têm mais <strong>de</strong> 70 anos. São resultados<br />
mais satisfatórios do que os encontrados na população geral como já referimos algumas<br />
vezes neste estudo, ou seja, a maioria da população idosa apresenta-se com boa capac<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
funcional e vivendo na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, porém, neste grupo, o nível <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência máximo<br />
está presente, praticamente, na total<strong>ida<strong>de</strong></strong> do grupo.<br />
É importante relembrarmos que a capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional no idoso é mensurada a<br />
partir do grau <strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência e que o conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>,<br />
hoje postulado, diz respeito <strong>à</strong> capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional, ou seja, mesmo na presença <strong>de</strong><br />
patologia, se o indivíduo consegue manter um bom nível <strong>de</strong> funcional<strong>ida<strong>de</strong></strong> para o<br />
<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas AVDs e AIVDs ele é um idoso saudável, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e autônomo.<br />
CHIOVATTO (1996), referindo dados internacionais, permite-nos perceber a<br />
associação entre presença <strong>de</strong> patologias em idosos e presença <strong>de</strong> incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong>s associadas<br />
a essas patologias, quando afirma que na presença <strong>de</strong> apenas uma condição patológica, 5%<br />
da população idosa refere necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> ajuda para uma ou mais AVDs, ou seja 95% dos<br />
idosos, mesmo diante <strong>de</strong> “uma” patologia mantém sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional. Esse<br />
99
percentual cresce <strong>à</strong> medida em que aumenta o número <strong>de</strong> doenças associadas, chegando a<br />
55% entre os homens e 65% entre as mulheres, ou seja, quando há mais <strong>de</strong> uma patologia<br />
presente o percentual <strong>de</strong> idosos com algum nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência para a realização <strong>de</strong><br />
alguma AVD cresce <strong>de</strong> 5% para 55% ou 65% <strong>de</strong> acordo com o gênero. Esse dado reforça<br />
para nós que o grupo estudado apresenta um bom nível <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tendo-se como parâmetro<br />
sua capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional.<br />
Com relação <strong>à</strong> dificulda<strong>de</strong> para cortar as unhas dos pés é importante esclarecermos<br />
que trata-se <strong>de</strong> uma ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> com alto nível <strong>de</strong> complex<strong>ida<strong>de</strong></strong> para sua realização. Ao<br />
analisá-la é possível perceber que para sua execução há exigência <strong>de</strong> habil<strong>ida<strong>de</strong></strong> e <strong>de</strong>streza,<br />
mobil<strong>ida<strong>de</strong></strong> corporal, força muscular, coor<strong>de</strong>nação motora, coor<strong>de</strong>nação viso-manual,<br />
manejo <strong>de</strong> objeto cortante e boa acu<strong>ida<strong>de</strong></strong> visual entre outras. Ao mesmo tempo em que o<br />
cuidado com os pés e as unhas do idoso vai além <strong>de</strong> um princípio básico <strong>de</strong> higiene, posto<br />
que se constitui em uma condição importante para a sua saú<strong>de</strong>, pois pés e unhas bem<br />
cuidados auxiliam a boa marcha, evitam cortes em pés diabéticos e/ou com problemas<br />
vasculares, evitam ressecamento e endurecimento maior das unhas que po<strong>de</strong>m encravar e<br />
machucar a pele e em paralelo, cuidar bem dos pés e unhas exige, segundo KNACKFUSS<br />
(1996) a escolha <strong>de</strong> calçados a<strong>de</strong>quados que não machuquem e que previnam e/ou<br />
possibilitem a correção ou minimizem as <strong>de</strong>form<strong>ida<strong>de</strong></strong>s existentes.<br />
CHIOVATTO (1996) em seu estudo, acima referido, encontrou uma diferença em<br />
relação ao nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência funcional entre homens e mulheres na presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />
uma patologia, sendo essa <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> 55% e 65% respectivamente. Em nosso estudo a<br />
diferença entre os gêneros para o <strong>de</strong>sempenho das AVDs, foi observada que nos itens<br />
“preparar sua própria refeição” e “realizar ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s domésticas / manter a casa em<br />
or<strong>de</strong>m”, on<strong>de</strong> 16,00% dos homens não se acham em condições <strong>de</strong> preparar sua própria<br />
refeição sozinhos e 12,00% referem dificulda<strong>de</strong> para manter a casa em or<strong>de</strong>m, ou seja,<br />
realizar tarefas domésticas; enquanto que entre as mulheres apenas 1,62% e 5,84<br />
respectivamente. Mais um reflexo da diferença entre gêneros, neste grupo esta diferença<br />
não se apresenta, provavelmente, <strong>de</strong>vido apenas <strong>à</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> avançada ou <strong>à</strong> presença <strong>de</strong> alguma<br />
patologia, relacionando-se mais a um comportamento cultural.<br />
Observamos a partir dos resultados um bom nível <strong>de</strong> sociabilização e a<strong>de</strong>quada<br />
ocupação do tempo livre, há uma variação <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong>sempenhadas que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> assistir<br />
100
a televisão até viagens longas, passando por ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s artísticas, culturais e religiosas.<br />
Verificamos uma menor participação nas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s relacionadas <strong>à</strong> prática esportiva, on<strong>de</strong><br />
os idosos <strong>de</strong>clararam maciçamente não praticarem esportes. Praticamente todos os idosos<br />
mostraram-se satisfeitos com a ocupação do seu tempo livre. Os que referem alguma<br />
insatisfação dizem-se pouco motivados e sentindo falta <strong>de</strong> mais ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, inclusive <strong>de</strong><br />
lazer.<br />
A maioria dos idosos <strong>de</strong>sse estudo, encontra-se <strong>de</strong> algum modo <strong>de</strong>sobrigado das<br />
tarefas do trabalho remunerado ou doméstico, o que segundo FERRARI (1996) lhes<br />
conce<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> período <strong>de</strong> tempo livre. A autora chama atenção que a ocupação <strong>de</strong>sse<br />
tempo livre, salvo nos casos on<strong>de</strong> o idoso ingressa numa nova carreira ou busca ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
remuneradas como forma <strong>de</strong> complementar o déficit <strong>de</strong> renda conseqüente <strong>à</strong> aposentadoria,<br />
ten<strong>de</strong> cada vez mais a ser ocupado com ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> lazer, ou seja, ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que<br />
permitem o <strong>de</strong>scanso, divertimento, recreação e entretenimento e ainda, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
pessoal. Entre as opções <strong>de</strong> locais que possibilitam essa vivência <strong>à</strong>s pessoas idosas, esta<br />
autora refere as <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento pessoal coloca-se imperativa. Esta refere ainda que, infelizmente, o lazer<br />
ainda é visto <strong>de</strong> maneira preconceituosa nas socieda<strong>de</strong>s regidas pela produtiv<strong>ida<strong>de</strong></strong>, daí a<br />
dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns idosos, que viveram todo tempo anterior para o trabalho ou para o<br />
cuidado da casa, em encontrar maneiras <strong>de</strong> ocupação a<strong>de</strong>quada do tempo livre, além do<br />
<strong>de</strong>sconhecimento do benefício <strong>de</strong>ssa prática para o seu bem estar.<br />
Nesse sentido, MORAGAS E MORAGAS (1991) refere a importância dos<br />
Programas <strong>de</strong> Preparação para a Aposentadoria que entre outros objetivos contribuem para<br />
a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novas alternativas e interesses, pois, refere o autor, o aposentado precisa<br />
estabelecer um novo ritmo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>vido ao aumento do seu tempo livre.<br />
Por tudo que já foi referido, “compreen<strong>de</strong>-se que medir a qual<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida na<br />
população idosa supõe uma abordagem <strong>de</strong> tipo multidimensional, que vá além dos<br />
aspectos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, sejam estes relativos ao bem estar do tipo físico, funcional, emocional<br />
ou mental, para esten<strong>de</strong>r-se <strong>à</strong>s circunstâncias sociais, familiares, econômicas e do meio<br />
que ro<strong>de</strong>iam estas pessoas” (INDICADORES..., 1995, p.115).<br />
101
5.4. Recursos Sociais – Seção V<br />
Os resultados permite-nos verificar que os idosos <strong>de</strong>ste estudo mantêm uma boa<br />
interação social, a maioria mostra-se satisfeito com o relacionamento mantido com as<br />
pessoas com as quais resi<strong>de</strong>, no relacionamento com vizinhos, e on<strong>de</strong> mais observamos<br />
satisfação é na relação com os amigos.<br />
Observamos que, <strong>de</strong> modo geral, não há <strong>de</strong>pendência dos entrevistados em relação<br />
aos seus familiares, porém foi referido, pela maioria dos idosos, que a companhia e o<br />
cuidado pessoal, são aspectos on<strong>de</strong> os familiares fazem-se mais presentes, presença essa<br />
muito valorizada por eles.<br />
Os idosos <strong>de</strong>sse censo referem-se como provedores em potencial <strong>de</strong> seus familiares,<br />
mais da meta<strong>de</strong> ajuda seus familiares em termos financeiros e <strong>de</strong> moradia. Um percentual<br />
elevado (37,40%) <strong>de</strong> idosos referem cuidar <strong>de</strong> crianças, <strong>de</strong>notando esse papel<br />
<strong>de</strong>sempenhado pelo idoso na família, que por um lado é muito importante <strong>à</strong> medida em que<br />
permite o contato intergeracional, por outro po<strong>de</strong> constituir-se em uma “obrigação” para<br />
liberar filhas e noras para o mercado <strong>de</strong> trabalho, po<strong>de</strong>ndo comprometer sua autonomia<br />
para administrar o seu tempo.<br />
Ao contrário do que pensa o senso comum, os idosos não são apenas os que<br />
<strong>de</strong>mandam, mas são também provedores e consumidores em potencial, os dados acima<br />
referidos mostram-se consonantes com os apresentados para a população em geral. Os<br />
idosos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do gênero, participam ativamente da receita doméstica e que<br />
sua renda po<strong>de</strong> representar até 45% do orçamento familiar, <strong>à</strong> medida em que a <strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
avança, essa participação diminui e per<strong>de</strong> mais valor a partir dos 75 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
(TERCEIRA...,1999).<br />
As idosas dos países on<strong>de</strong> não há um bom sistema <strong>de</strong> previdência social, estão<br />
fadadas a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem economicamente <strong>de</strong> terceiros, ou seja, dos mais jovens,<br />
principalmente as mais velhas, que como já vimos estarão viúvas com pouca ou nenhuma<br />
escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong> e que em geral não possuem outros recursos e assim acabam constituindo-se<br />
em um grupo especialmente vulnerável (EL ENVEJECIMIENTO..., 1999). Trata-se <strong>de</strong><br />
102
uma situação bastante diferente da experenciada pelos idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>. Mais uma<br />
vez evi<strong>de</strong>ncia-se a particular<strong>ida<strong>de</strong></strong> do grupo estudado.<br />
A maioria dos idosos costuma receber visitas <strong>de</strong> amigos e familiares,<br />
principalmente dos filhos. MEDEIROS & KARSCH (1992) referem a “importância das<br />
relações <strong>de</strong> vizinhança e a valorização dos grupos que dão <strong>à</strong> mulher oportun<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong><br />
fazerem novas amiza<strong>de</strong>s” (p. 36). Nesse sentido, novamente a re<strong>de</strong> social assume<br />
importância, pois como refere DEBERT (1996), é a partir da “solidarieda<strong>de</strong> pública entre<br />
gerações” (p. 45), que respon<strong>de</strong>remos a muitas <strong>de</strong>mandas da população idosa. A<br />
experiência da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> tem colocado a possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> ampliação do território<br />
existencial dos idosos <strong>à</strong> medida em que a cada curso conhecem novas pessoas e os<br />
encontros têm extrapolado o Campus da <strong>UFPE</strong>, originando novos amigos e grupos sociais.<br />
5.5. Recursos Econômicos – Seção VI.<br />
O fato da maioria dos idosos <strong>de</strong>ste estudo ser do gênero feminino e pertencer a uma<br />
coorte on<strong>de</strong> o papel fundamental da mulher era principalmente o cuidado da casa e da<br />
família, justifica que a função <strong>de</strong> dona <strong>de</strong> casa tenha predominado quando perguntamos o<br />
tipo <strong>de</strong> trabalho exercido a maior parte do tempo em sua vida, com (34,40%) das respostas<br />
para o grupo e (39,40%) para as mulheres. A segunda função mais referida foi a <strong>de</strong><br />
professor(a), on<strong>de</strong> dos 49 idosos que referem esta profissão 47 são mulheres; é um<br />
resultado também previsível, já que entre as mulheres que exerciam algum tipo <strong>de</strong> trabalho<br />
fora <strong>de</strong> casa, o magistério era consonante com o papel feminino; outra função também<br />
referida foi a <strong>de</strong> costureira que era “permitida” <strong>à</strong> mulher e podia ser exercida em casa.<br />
A maior parte dos entrevistados neste censo trabalhou durante um período<br />
compreendido entre 21 a 40 anos, tendo iniciado essa ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> trabalho ainda bem<br />
jovens, ou seja, antes dos vinte anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> e pararam <strong>de</strong> trabalhar antes dos 60 anos. Um<br />
percentual <strong>de</strong> apenas (9,22%) ainda permanecem trabalhando. No Brasil, “62% dos<br />
homens que trabalham e têm entre 65 e 90 anos cumprem jornada mínima <strong>de</strong> 40 horas,<br />
cerca <strong>de</strong> 30% a 40% dos homens entre 70 a 80 anos trabalham, enquanto as mulheres<br />
cerca <strong>de</strong> 20 anos mais novas apresentam percentuais semelhantes” (TERCEIRA..., 1999,<br />
p. 2).<br />
103
BOUTIQUE & SANTOS (1996) referem que o período em que o idoso hoje<br />
aposentado esteve inserido no mercado <strong>de</strong> trabalho, que girou entre a década <strong>de</strong> 50 e 80,<br />
po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como um período on<strong>de</strong> se consolidou o sistema capitalista no Brasil, sob<br />
o governo Vargas. Só após 1955, é que, segundo as autoras, a mão <strong>de</strong> obra feminina é<br />
incorporada com algum relevo no mercado <strong>de</strong> trabalho, porém em ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que exigiam<br />
pouca escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong> e experiência. As autoras acrescentam que o número cada dia mais<br />
crescente <strong>de</strong> trabalhadores oriundos <strong>de</strong> área rural, sem qualificação profissional, contribuiu<br />
para uma nova composição da classe operária no período compreendido entre 1930 e 1945.<br />
Des<strong>de</strong> os anos 80 convivemos com uma política econômica preocupada em pagar a<br />
dívida externa e as questões <strong>de</strong> interesse nacional não são <strong>de</strong>vidamente <strong>de</strong>batidas. O po<strong>de</strong>r<br />
central parece crer que a integração do Brasil <strong>à</strong> economia mundial <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> esforços que<br />
comprometem a soberania nacional. É nessa conjuntura adversa do país, on<strong>de</strong> se vê um<br />
arrefecer do movimento social e do movimento sindical, em particular, que os<br />
trabalhadores, hoje idosos, saíram do mercado <strong>de</strong> trabalho na condição <strong>de</strong> aposentados<br />
(BOUTIQUE & SANTOS, 1996).<br />
Os resultados em relação <strong>à</strong> renda <strong>de</strong>monstram que apenas (4,74%) dos<br />
entrevistados referem não ter renda própria e são todos do sexo feminino, mais uma vez<br />
observamos a diferença entre os gêneros. Entre aqueles que possuem renda, a maior parte<br />
recebe aposentadoria, ou seja, foram pessoas que tiveram 0acesso ao mercado formal <strong>de</strong><br />
trabalho e os <strong>de</strong>mais recebem pensão do cônjuge. Meta<strong>de</strong> refere que sua renda é suficiente<br />
para suprir suas <strong>de</strong>spesas, a outra meta<strong>de</strong> refere que não. Os achados <strong>de</strong>ste estudo são, em<br />
parte, consonantes aos referidos por PRATA & SAAD (1992), para a população geral on<strong>de</strong><br />
45% dos idosos são aposentados, ou seja, quase a meta<strong>de</strong> teve acesso ao mercado formal<br />
<strong>de</strong> trabalho. Para as mulheres, a situação é pior, há um percentual muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mulheres sem rendimentos, este não é o caso da população feminina da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>,<br />
apesar <strong>de</strong> todos que não têm renda serem do sexo feminino o percentual é pequeno.<br />
Tanto a renda pessoal * dos idosos <strong>de</strong>sse censo quanto a renda familiar * é elevada<br />
quando comparada <strong>à</strong> população idosa aposentada e geral, variando para a maioria entre 7 e<br />
10 salários mínimos, seguida <strong>de</strong> um outro grupo que percebe entre 11 e 20 salários<br />
* Tomando como parâmetro o salário mínimo que <strong>à</strong> época da pesquisa era R$ 130,00.<br />
104
mínimos. A renda familiar segue um padrão semelhante como já referimos, sendo a<br />
maioria entre 11 e 20 salários mínimos e quase um quinto das famílias percebem acima <strong>de</strong><br />
20 salários mínimos.<br />
Quando comparamos nossos resultados com os encontrados por PEIXOTO (1994),<br />
para a <strong>UnATI</strong>/UERJ, percebemos que o nível econômico dos idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong> é<br />
mais alto, principalmente por tratar-se da região Nor<strong>de</strong>ste, on<strong>de</strong> o nível econômico é mais<br />
baixo em relação ao Su<strong>de</strong>ste, on<strong>de</strong> se localiza a comparação referida e lembrando que os<br />
achados nos <strong>de</strong>mais aspectos vêm-se equivalendo. Os resultados <strong>de</strong> GOLDMAN (1997)<br />
<strong>de</strong>monstram que, para a experiência em univers<strong>ida<strong>de</strong></strong> privada, observa-se um nível<br />
econômico mais alto do que os encontrados neste estudo, enquanto que para a univers<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
pública os índices foram equivalentes.<br />
No geral, a percepção dos idosos estudados, ao comparar sua atual situação<br />
econômica com quando tinham 50 anos, revela que a maioria acredita que está melhor ou<br />
que permanece a mesma.<br />
As condições <strong>de</strong> moradia referidas são favoráveis, quase a total<strong>ida<strong>de</strong></strong> dos idosos<br />
conta com água encanada, eletric<strong>ida<strong>de</strong></strong>, ligação com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos e gela<strong>de</strong>ira, a maioria<br />
possui televisão, rádio e telefone. O computador po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado pouco utilizado<br />
quando comparado aos <strong>de</strong>mais itens; porém, olhando <strong>de</strong> um outro prisma, este aparece <strong>de</strong><br />
modo relevante, (19,60%) referem possuí-lo. Consi<strong>de</strong>rando a informatização mais ampla<br />
como um processo recente, mais precisamente da década <strong>de</strong> 80 para cá, e o uso doméstico<br />
do microcomputador mais recente ainda, basicamente <strong>de</strong>sta década, é um equipamento que<br />
não fez parte da ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> quase todos os idosos estudados. Entretanto,<br />
<strong>de</strong>vemos <strong>de</strong>stacar que o número <strong>de</strong> idosos que possui computador neste grupo é<br />
importante, <strong>de</strong>notando um interesse pela atualização <strong>de</strong> conhecimentos e pelo novo, <strong>de</strong><br />
modo a estarem sintonizados com o que há <strong>de</strong> mais atual, sendo este também um indicativo<br />
<strong>de</strong> interação social, pois hoje a “linguagem” da informática faz-se necessária em diversas<br />
dimensões das nossas vidas, facilitando, inclusive, a comunicação intergeracional.<br />
A diferenciação sócio-econômica do grupo <strong>de</strong> idosos estudados, evi<strong>de</strong>ncia-se<br />
quando observamos que a maioria resi<strong>de</strong> em moradia própria e que apenas (8,10%),<br />
resi<strong>de</strong>m em moradia alugada. PEIXOTO (1994) refere resultados semelhantes em seus<br />
105
estudos e afirma que, para os idosos por ela estudados, o sonho da casa própria foi<br />
alcançado em bairros mais distantes, no subúrbio e também o grupo beneficiou-se do<br />
sistema financeiro <strong>de</strong> habitação que há tempos atrás era mais justo. A autora reforça que o<br />
fato <strong>de</strong> terem seu próprio imóvel os torna menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos filhos, e assim, procuram<br />
outras formas <strong>de</strong> status social, como freqüentar uma univers<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
Participar da <strong>UFPE</strong> através da <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong> Aberta é, sem dúvida, uma condição <strong>de</strong><br />
status social. Essa afirmação po<strong>de</strong> ser observada nas suas condutas frente ao Programa,<br />
tanto em relação a outros idosos como em relação <strong>à</strong> família, agora esses idosos “são” da<br />
<strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, sentem-se universitários na essência da palavra e se orgulham muito disso.<br />
5.6. Necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e Problemas que Afetam os Entrevistados – Seção VIII<br />
Para os idosos <strong>de</strong>ste censo, suas principais necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s referem-se, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>za a questões econômicas, <strong>de</strong> segurança, <strong>de</strong> companhia e contato pessoal, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> lazer e <strong>de</strong> transporte, consi<strong>de</strong>rando que a meta<strong>de</strong> possui automóvel, a questão <strong>de</strong><br />
transporte coloca-se para os <strong>de</strong>mais associada a um sistema <strong>de</strong> transporte mal planejado, <strong>à</strong><br />
distância entre as paradas dos ônibus e <strong>à</strong> insegurança nos coletivos, além da opção do táxi<br />
também ser insegura e onerosa. A julgarmos pela diferenciação econômica observada<br />
nesse grupo, a questão econômica se coloca, no plano geral, no contexto da crise<br />
econômica do país. A falta <strong>de</strong> segurança além <strong>de</strong> estar presente como algo generalizado<br />
nas gran<strong>de</strong>s c<strong>ida<strong>de</strong></strong>s, para o idoso exacerba-se, pois sentem-se mais vulneráveis, limitando<br />
inclusive, sua participação em ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s noturnas.<br />
A necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> companhia e contato pessoal vem corroborar discussões já<br />
trazidas anteriormente, a maioria são mulheres, viúvas e um número importante <strong>de</strong>las mora<br />
só, talvez freqüentar programas <strong>de</strong> <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas seja uma maneira <strong>de</strong> minimizar<br />
a solidão e aumentar o universo <strong>de</strong> relações, que estabelece contato com a necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
lazer, pois sem companhia as pessoas sentem-se <strong>de</strong>smotivadas para buscarem e realizarem<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s prazerosas. Quando referem necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, cremos tratar-se <strong>de</strong> uma<br />
condição básica, “em primeiro lugar a saú<strong>de</strong>”, diz o ditado, pois trata-se <strong>de</strong> um grupo<br />
saudável, <strong>de</strong> acordo com o conceito <strong>de</strong> capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional, que possui plano e/ou seguro<br />
106
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> privado e que, portanto, fala <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como uma necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> inerente ao seu bem<br />
estar.<br />
Essas “impressões” são confirmadas quando ao final pedimos que refiram o<br />
problema mais importante do seu cotidiano, (35,50%) não relatam problema importante; a<br />
questão econômica reaparece, porém em menor escala. A preocupação com a família, em<br />
particular com filhos e netos é referida em relação <strong>à</strong> saú<strong>de</strong>, segurança e futuro <strong>de</strong>stes. A<br />
solidão e a carência afetiva também reaparecem, inclusive expressando o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
encontrar um(a) companheiro(a). Os dados <strong>de</strong>ssa seção, são semelhantes aos encontrados<br />
por VERAS (1994) para o Município do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
107
6. CONCLUSÕES<br />
Observamos que a metodologia utilizada neste estudo mostrou-se a<strong>de</strong>quada para<br />
respon<strong>de</strong>r aos objetivos pretendidos, que nos permitiu concluir com relação ao perfil sócio-<br />
epi<strong>de</strong>miológico dos idosos da <strong>UnATI</strong>/<strong>UFPE</strong>, quanto:<br />
• À situação pessoal e familiar – trata-se <strong>de</strong> um grupo predominantemente feminino, <strong>de</strong><br />
“idosos-jovens”, ou seja, na faixa etária entre 60 e 69 anos; nascidas em Pernambuco;<br />
em sua maioria casadas e/ou viúvas; com bom nível <strong>de</strong> escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>, a maior parte com<br />
segundo e terceiro graus. Resi<strong>de</strong>m em média com duas pessoas por domicílio; a<br />
maioria teve filhos e refere satisfação com a vida em geral;<br />
• À utilização <strong>de</strong> serviços médicos e <strong>de</strong>ntários – são em sua maioria usuários <strong>de</strong><br />
plano/seguro saú<strong>de</strong> privado e referem satisfação quanto <strong>à</strong> utilização dos mesmos. No<br />
que se refere ao uso <strong>de</strong> próteses e órteses, estas limitam-se <strong>à</strong>s <strong>de</strong>ntárias (<strong>de</strong>ntadura,<br />
ponte, <strong>de</strong>nte postiço) e <strong>à</strong>s visuais (óculos <strong>de</strong> grau); a maioria faz uso <strong>de</strong> medicamentos<br />
que afirmam serem prescritos por um médico; crêem que em caso <strong>de</strong> doença ou<br />
incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong> po<strong>de</strong>rão contar com os cuidados prestados pela filha e também pelo<br />
cônjuge;<br />
• Às ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> vida diária (AVD) – os idosos <strong>de</strong>ste censo compõem um grupo <strong>de</strong><br />
pessoas que gozam <strong>de</strong> bom nível <strong>de</strong> autonomia e in<strong>de</strong>pendência funcional, são capazes<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da vida diária sem necess<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> ajuda; ocupam o<br />
tempo livre com ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s variadas, tanto no domicílio (leitura, televisão, receber<br />
visitas, entre outras), quanto fora <strong>de</strong>le (viagens, ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s religiosas, visita a amigos<br />
entre outras), além <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s ligadas <strong>à</strong> arte, cultura e lazer, com as quais sentem-se<br />
satisfeitas;<br />
• Aos recursos sociais – são idosos que mantêm boas relações interpessoais com aqueles<br />
com os quais resi<strong>de</strong>m, com os amigos e os vizinhos; são em algumas situações<br />
109<br />
(moradia e finanças), provedoras <strong>de</strong> suas famílias, <strong>de</strong>stas, recebem companhia e
cuidado pessoal com os quais sentem-se muito bem; costumam receber visitas <strong>de</strong><br />
familiares, vizinhos e amigos;<br />
• Aos recursos econômicos – a maioria dos idosos estudados possui renda própria<br />
proveniente <strong>de</strong> aposentadoria e/ou pensão do cônjuge; tanto a renda pessoal quanto a<br />
renda familiar <strong>de</strong>ste grupo é diferenciada em relação <strong>à</strong> media <strong>de</strong> rendimentos da<br />
população idosa em geral; resi<strong>de</strong>m em imóvel próprio e com boas condições <strong>de</strong><br />
moradia, contando com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgotos e energia elétrica;<br />
• Às necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s e problemas que afetam o entrevistado – são idosos que não relatam<br />
problemas importantes no seu cotidiano, quando referem alguma preocupação diz<br />
respeito aos filhos e netos, pois preocupam-se com sua saú<strong>de</strong> e seu futuro.<br />
O perfil aqui apresentado, em muitos aspectos não reflete a real<strong>ida<strong>de</strong></strong> da população<br />
idosa <strong>de</strong> Pernambuco, aproxima-nos da real<strong>ida<strong>de</strong></strong> dos idosos que procuram programas do<br />
tipo <strong>Univers<strong>ida<strong>de</strong></strong></strong>s Abertas <strong>à</strong> Terceira Ida<strong>de</strong>, que se constituem <strong>de</strong> fato em uma coorte<br />
importante para investigação na área do envelhecimento.<br />
Por apresentarem boa capac<strong>ida<strong>de</strong></strong> funcional, apontam-nos para a importância do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, por parte do Programa, <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que visem a educação para o<br />
autocuidado. É também <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância que se encontrem maneiras para ampliação<br />
das ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s do Programa, <strong>de</strong> modo a contemplar idosos menos privilegiados sócio-<br />
economicamente, esta possibil<strong>ida<strong>de</strong></strong> está em consonância com as proposições das ações<br />
para o envelhecimento em todo o mundo, preconizadas para 1999, Ano Internacional do<br />
Idoso.<br />
Este estudo permite também o <strong>de</strong>lineamento para futuras investigações.<br />
110
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Almeida Rego Migon, p. 117-126.<br />
120
ANEXO 1<br />
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA<br />
Lei nº 8.842, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994<br />
122<br />
Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o<br />
Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências.<br />
Faço saber que o Congresso Nacional <strong>de</strong>creta e eu sanciono a seguinte Lei:<br />
CAPÍTULO I<br />
Da Final<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
Art. 1º A Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais<br />
do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação<br />
efetiva na socieda<strong>de</strong>.<br />
Art. 2º Consi<strong>de</strong>ra-se idoso, para todos os efeitos <strong>de</strong>sta Lei, a pessoa maior <strong>de</strong><br />
sessenta anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
CAPÍTULO II<br />
Dos Princípios e das Diretrizes<br />
Seção I<br />
Dos Princípios<br />
Art. 3º A Política Nacional do Idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:<br />
I – a família, a socieda<strong>de</strong> e o Estado têm o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> assegurar ao idoso todos os<br />
direitos da cidadania, garantindo sua participação na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo sua<br />
dign<strong>ida<strong>de</strong></strong>, bem-estar e o direito <strong>à</strong> vida;<br />
II – o processo <strong>de</strong> envelhecimento diz respeito <strong>à</strong> socieda<strong>de</strong> em geral, <strong>de</strong>vendo ser<br />
objeto <strong>de</strong> conhecimento e informação para todos;<br />
III – o idoso não <strong>de</strong>ve sofrer discriminação <strong>de</strong> qualquer natureza;
IV – o idoso <strong>de</strong>ve ser o principal agente e o <strong>de</strong>stinatário das transformações a serem<br />
efetivadas através <strong>de</strong>sta política;<br />
V – as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições<br />
entre o meio rural e o urbano do Brasil <strong>de</strong>verão ser observadas pelos po<strong>de</strong>res públicos e<br />
pela socieda<strong>de</strong> em geral, na aplicação <strong>de</strong>ssa Lei.<br />
Seção II<br />
Das Diretrizes<br />
Art. 4º Constituem diretrizes da Política Nacional do Idoso:<br />
I – viabilização <strong>de</strong> formas alternativas <strong>de</strong> participação, ocupação e convívio do<br />
idoso, que proporcionem sua integração <strong>à</strong>s <strong>de</strong>mais gerações;<br />
II – participação do idoso, através <strong>de</strong> suas organizações representativas, na<br />
formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem<br />
<strong>de</strong>senvolvidos;<br />
III – priorização do atendimento ao idoso através <strong>de</strong> suas próprias famílias, em<br />
<strong>de</strong>trimento do atendimento asilar, <strong>à</strong> exceção dos idosos que não possuam condições que<br />
garantam sua própria sobrevivência;<br />
IV – <strong>de</strong>scentralização político-administrativa;<br />
V – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas <strong>de</strong> geriatria e<br />
gerontologia e na prestação <strong>de</strong> serviços;<br />
VI – implementação <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> informações que permita a divulgação da<br />
política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível do<br />
governo;<br />
VII – estabelecimento <strong>de</strong> mecanismos que favoreçam a divulgação <strong>de</strong> informações<br />
<strong>de</strong> caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;<br />
VIII – priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados<br />
prestadores <strong>de</strong> serviços, quando <strong>de</strong>sabrigados e sem família;<br />
IX – apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento;<br />
Parágrafo único. É vedada a permanência <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> doenças que necessitem<br />
<strong>de</strong> assistência médica ou enfermagem em instituições asilares <strong>de</strong> caráter social.<br />
123
Capítulo III<br />
Da Organização e Gestão<br />
Art. 5º Competirá ao órgão ministerial responsável pela assistência e promoção<br />
social a coor<strong>de</strong>nação geral da Política Nacional do Idoso, com a participação dos conselhos<br />
nacional, estaduais, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municipais do idoso.<br />
Art. 6º Os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municipais do idoso<br />
serão órgãos permanentes, paritários e <strong>de</strong>liberativos, compostos por igual número <strong>de</strong><br />
representantes dos órgãos e ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s públicos e <strong>de</strong> organizações representativas da<br />
socieda<strong>de</strong> civil ligadas <strong>à</strong> área.<br />
Art. 7º Compete, aos conselhos <strong>de</strong> que trata o artigo anterior, a formulação,<br />
coor<strong>de</strong>nação, supervisão e avaliação da Política Nacional do Idoso, no âmbito das<br />
respectivas instâncias político-administrativas.<br />
Art. 8º À União, por intermédio do ministério responsável pela assistência e<br />
promoção social, compete:<br />
I – coor<strong>de</strong>nar as ações relativas <strong>à</strong> Política Nacional do Idoso;<br />
II – participar na formulação, no acompanhamento e na avaliação da Política<br />
Nacional do Idoso;<br />
III – promover as articulações intraministeriais e interministeriais necessárias <strong>à</strong><br />
implementação da Política Nacional do Idoso;<br />
IV – (vetado)<br />
V – elaborar a proposta orçamentária no âmbito da promoção e assistência social e<br />
submetê-la ao Conselho Nacional do Idoso;<br />
Parágrafo único. Os ministérios das áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, educação, trabalho, previdência<br />
social, cultura, esporte e lazer <strong>de</strong>vem elaborar proposta orçamentária, no âmbito <strong>de</strong> suas<br />
competências, visando ao financiamento <strong>de</strong> programas nacionais compatíveis com a<br />
Política Nacional do Idoso;<br />
Art. 9º (vetado)<br />
Parágrafo único. (vetado)<br />
124
CAPÍTULO IV<br />
Das Ações Governamentais<br />
Art. 10º Na implementação da Política Nacional do Idoso, são competências dos<br />
órgãos e ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s públicos:<br />
I – na área <strong>de</strong> promoção e assistência social:<br />
a) prestar serviços e <strong>de</strong>senvolver ações voltadas para o atendimento das<br />
necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s básicas do idoso, mediante a participação das famílias, da socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s governamentais e não-governamentais.<br />
b) estimular a criação <strong>de</strong> incentivos e <strong>de</strong> alternativas <strong>de</strong> atendimento ao idoso, como<br />
centros <strong>de</strong> convivência, centros <strong>de</strong> cuidados diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas <strong>de</strong><br />
trabalho, atendimentos domiciliares e outros;<br />
c) promover simpósios, seminários e encontros específicos;<br />
d) planejar, coor<strong>de</strong>nar, supervisionar e financiar estudos, levantamentos, pesquisas<br />
e publicações sobre a situação social do idoso;<br />
e) promover a capacitação <strong>de</strong> recursos para atendimento ao idoso;<br />
II – na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>:<br />
a) garantir ao idoso a assistência <strong>à</strong> saú<strong>de</strong>, nos diversos níveis <strong>de</strong> atendimento do<br />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
b) prevenir, promover, proteger e recuperar a saú<strong>de</strong> do idoso, mediante programas e<br />
medidas profiláticas;<br />
c) adotar e aplicar normas <strong>de</strong> funcionamento <strong>à</strong>s instituições geriátricas e similares,<br />
com fiscalização pelos gestores do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
d) elaborar normas <strong>de</strong> serviços geriátricos hospitalares;<br />
e) <strong>de</strong>senvolver formas <strong>de</strong> cooperação entre as Secretarias <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Estados, do<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral, e dos Municípios e entre os <strong>Centro</strong>s <strong>de</strong> Referência em Geriatria e<br />
Gerontologia para treinamento <strong>de</strong> equipes interprofissionais;<br />
f) incluir a Geriatria como especial<strong>ida<strong>de</strong></strong> clínica, para efeito <strong>de</strong> concursos públicos<br />
fe<strong>de</strong>rais, estaduais, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municipais;<br />
g) realizar estudos para <strong>de</strong>tectar o caráter epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas doenças<br />
do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação; e<br />
h) criar serviços alternativos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para o idoso.<br />
125
III – na área da educação:<br />
a) a<strong>de</strong>quar currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais<br />
<strong>de</strong>stinados ao idoso;<br />
b) inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis <strong>de</strong> ensino formal, conteúdos<br />
voltados para o processo <strong>de</strong> envelhecimento, <strong>de</strong> forma a eliminar preconceitos e a produzir<br />
conhecimentos sobre o assunto;<br />
superiores;<br />
c) incluir a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos<br />
d) <strong>de</strong>senvolver programas educativos, especialmente nos meios <strong>de</strong> comunicação, a<br />
fim <strong>de</strong> informar a população sobre o processo <strong>de</strong> envelhecimento;<br />
e) <strong>de</strong>senvolver programas que adotem modal<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> ensino <strong>à</strong> distância,<br />
a<strong>de</strong>quados <strong>à</strong>s condições do idoso;<br />
f) apoiar a criação <strong>de</strong> univers<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>aberta</strong> para a <strong>terceira</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong>, como meio <strong>de</strong><br />
universalizar o acesso <strong>à</strong>s diferentes formas do saber.<br />
IV – na área <strong>de</strong> trabalho e previdência social:<br />
a) garantir mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto a sua<br />
participação no mercado <strong>de</strong> trabalho, no setor público e privado;<br />
b) priorizar o atendimento ao idoso nos benefícios previ<strong>de</strong>nciários;<br />
c) criar e estimular a manutenção <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> preparação para aposentadoria<br />
nos setores público e privado com antecedência mínima <strong>de</strong> dois anos antes do<br />
afastamento.<br />
V – na área <strong>de</strong> habitação e urbanismo:<br />
a) <strong>de</strong>stinar, nos programas habitacionais, un<strong>ida<strong>de</strong></strong>s em regime <strong>de</strong> comodato ao<br />
idoso, na modal<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> casas-lares;<br />
b) incluir nos programas <strong>de</strong> assistência ao idoso formas <strong>de</strong> melhoria <strong>de</strong> condições<br />
<strong>de</strong> habitabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> e adaptação <strong>de</strong> moradia, consi<strong>de</strong>rando seu estado físico e sua<br />
in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> locomoção;<br />
c) elaborar critérios que garantam o acesso da pessoa idosa <strong>à</strong> habitação popular;<br />
d) diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas.<br />
126
VI – na área da justiça:<br />
a) promover e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos da pessoa idosa;<br />
b) zelar pela aplicação das normas sobre o idoso, <strong>de</strong>terminando ações para evitar<br />
abusos e lesões a seus direitos.<br />
VII – na área <strong>de</strong> cultura, esporte e lazer:<br />
a) garantir ao idoso a participação no processo <strong>de</strong> produção, reelaboração e fruição<br />
dos bens culturais;<br />
b) propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços<br />
reduzidos, em âmbito nacional;<br />
c) incentivar os movimentos <strong>de</strong> idosos a <strong>de</strong>senvolver ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s culturais;<br />
d) valorizar o registro da memória e a transmissão <strong>de</strong> informações e habil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s do<br />
idoso aos mais jovens, como meio <strong>de</strong> garantir a continu<strong>ida<strong>de</strong></strong> e a i<strong>de</strong>nt<strong>ida<strong>de</strong></strong> cultural;<br />
e) incentivar e criar programas <strong>de</strong> lazer, esporte e ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s físicas que<br />
proporcionem a melhoria da qual<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> vida do idoso e estimulem sua participação na<br />
comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>;<br />
§ 1.º É assegurado ao idoso o direito <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> seus bens, proventos, pensões e<br />
benefícios, salvo nos casos <strong>de</strong> incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong> judicialmente comprovada.<br />
§ 2.º Nos casos <strong>de</strong> comprovada incapac<strong>ida<strong>de</strong></strong> do idoso para gerir seus bens, ser-lhe-á<br />
nomeado Curador especial em juízo.<br />
§ 3.º Todo cidadão tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar <strong>à</strong> autor<strong>ida<strong>de</strong></strong> competente qualquer forma <strong>de</strong><br />
negligência ou <strong>de</strong>srespeito ao idoso.<br />
Art. 11. ao Art. 18. (vetados)<br />
CAPÍTULO V<br />
Do Conselho Nacional<br />
127
CAPÍTULO VI<br />
Das Disposições Gerais<br />
Art. 19. Os recursos financeiros necessários <strong>à</strong> implantação das ações afeta <strong>à</strong>s áreas<br />
<strong>de</strong> competência dos governos fe<strong>de</strong>ral, estaduais, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e municípios serão<br />
consignados em seus respectivos orçamentos.<br />
Art. 20. O Po<strong>de</strong>r Executivo regulamentará esta Lei no prazo <strong>de</strong> sessenta dias, a<br />
partir da data <strong>de</strong> sua publicação.<br />
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data <strong>de</strong> sua publicação.<br />
Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário.<br />
Brasília, 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994, 173º da In<strong>de</strong>pendência e 106º da República.<br />
Itamar Franco<br />
Presi<strong>de</strong>nte<br />
128
ANEXO 2<br />
DECRETO nº 1.948, <strong>de</strong> 03 julho <strong>de</strong> 1996<br />
129<br />
Regularmente a Lei nº 8.842, <strong>de</strong> 4 janeiro <strong>de</strong> 1994,<br />
que Dispõe sobre Política Nacional do Idoso, e dá<br />
outras providências.<br />
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art.<br />
84, inciso IV e VI, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 8.842, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong><br />
janeiro <strong>de</strong> 1994,<br />
DECRETA:<br />
Art. 1º Na implementação da Política Nacional do Idoso, as competências dos<br />
órgãos e ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s públicas são as estabelecidas neste <strong>de</strong>creto.<br />
compete:<br />
Art. 2º Ao Ministério da Previdência e Assistência Social, pelos seus órgãos,<br />
I – coor<strong>de</strong>nar as ações relativas <strong>à</strong> Política Nacional do Idoso;<br />
II – promover a capacitação <strong>de</strong> recursos humanos para atendimento ao idoso;<br />
III – participar, em conjunto com os <strong>de</strong>mais ministérios envolvidos, da formulação,<br />
acompanhamento e avaliação da Política Nacional do Idoso;<br />
IV – estimular a criação <strong>de</strong> formas alternativas <strong>de</strong> atendimento não-asilar;<br />
V – promover eventos específicos para discussão das questões relativas <strong>à</strong> velhice e<br />
ao envelhecimento;<br />
VI – promover articulações inter e intraministeriais necessárias <strong>à</strong> implementação da<br />
Política Nacional do Idoso;<br />
VII – coor<strong>de</strong>nar, financiar e apoiar estudos, levantamentos, pesquisas e publicações<br />
sobre a situação social do idoso diretamente ou em parceria com outros órgãos;<br />
VIII – fomentar juntos aos Estados, Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Municípios e organizações<br />
não-governamentais a prestação da assistência social aos idosos nas modal<strong>ida<strong>de</strong></strong>s asilar e<br />
não-asilar.
Art. 3º Enten<strong>de</strong>-se por modal<strong>ida<strong>de</strong></strong> asilar o atendimento, em regime <strong>de</strong> internato, ao<br />
idoso sem vínculo familiar ou sem condições <strong>de</strong> prover <strong>à</strong> própria subsistência <strong>de</strong> modo a<br />
satisfazer as suas necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> moradia, alimentação, saú<strong>de</strong> e convivência social.<br />
Parágrafo único. A assistência na modal<strong>ida<strong>de</strong></strong> asilar ocorre no caso da inexistência<br />
do grupo familiar, abandono, carência <strong>de</strong> recursos financeiros próprios ou da própria<br />
família.<br />
Art. 4º Enten<strong>de</strong>-se por modal<strong>ida<strong>de</strong></strong> não-asilar <strong>de</strong> atendimento:<br />
I – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Convivência: local <strong>de</strong>stinado <strong>à</strong> permanência diurna do idoso, on<strong>de</strong> são<br />
<strong>de</strong>senvolvidas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s físicas, laborativas, recreativas, culturais, associativas e <strong>de</strong><br />
educação para a cidadania;<br />
II – <strong>Centro</strong> <strong>de</strong> Cuidados Diurno: Hospital-Dia e <strong>Centro</strong>-Dia: local <strong>de</strong>stinado <strong>à</strong><br />
permanência diurna do idoso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ou que possua <strong>de</strong>ficiência temporária e necessite<br />
<strong>de</strong> assistência médica ou <strong>de</strong> assistência multiprofissional;<br />
III – Casa-Lar: residência, em sistema participativo, cedida por instituições públicas<br />
ou privadas, <strong>de</strong>stinadaS a idosos <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> renda insuficiente para sua manutenção e<br />
sem família;<br />
IV – Oficina Abrigada <strong>de</strong> Trabalho: local <strong>de</strong>stinado ao <strong>de</strong>senvolvimento, pelo<br />
idoso, <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s produtivas, proporcionando-lhe oportun<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> elevar sua renda,<br />
sendo regida por normas específicas;<br />
V – atendimento domiciliar: é o serviço prestado ao idoso que vive só e seja<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, a fim <strong>de</strong> suprir as suas necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da vida diária. Esse serviço é prestado em<br />
seu próprio lar, por profissionais da área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou por pessoas da própria comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>;<br />
VI – outras formas <strong>de</strong> atendimento: iniciativas surgidas na própria comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, que<br />
visem <strong>à</strong> promoção e <strong>à</strong> integração da pessoa idosa na família e na socieda<strong>de</strong>.<br />
Art. 5º Ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) compete:<br />
I – dar atendimento preferencial ao idoso, especificamente nas áreas do Seguro<br />
Social, visando <strong>à</strong> habilitação e <strong>à</strong> manutenção dos benefícios, exame médico pericial,<br />
inscrição <strong>de</strong> beneficiários, serviço social e setores <strong>de</strong> informações;<br />
II – prestar atendimento, preferencialmente, nas áreas da arrecadação e fiscalização<br />
visando <strong>à</strong> prestação <strong>de</strong> informações e ao cálculo <strong>de</strong> contribuições individuais;<br />
III – estabelecer critérios para viabilizar o atendimento preferencial ao idoso.<br />
130
Art. 6º Compete ao INSS esclarecer o idoso sobre os seus direitos previ<strong>de</strong>nciários e<br />
os meios <strong>de</strong> exercê-los.<br />
§ 1º O serviço social aten<strong>de</strong>rá, prioritariamente, nos Postos do Seguro Social, os<br />
beneficiários idosos em via <strong>de</strong> aposentadoria.<br />
§ 2º O serviço social, em parceria com órgãos governamentais e não-<br />
governamentais, estimulará a criação e a manutenção <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> preparação para<br />
aposentadorias, por meio <strong>de</strong> assessoramento <strong>à</strong>s ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> classe, instituições <strong>de</strong> natureza<br />
social, empresas e órgãos públicos, por intermédio das suas respectivas un<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong><br />
recursos humanos.<br />
Art. 7º Ao idoso aposentado, exceto por invali<strong>de</strong>z , que retornar ao trabalho nas<br />
ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s abrangidas pelo Regime Geral <strong>de</strong> Previdência Social, quando aci<strong>de</strong>ntado no<br />
trabalho, será encaminhado ao Programa <strong>de</strong> Reabilitação do INSS, não fazendo jus a outras<br />
prestações <strong>de</strong> serviço, salvo <strong>à</strong>s <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> aposentado.<br />
Art. 8º Ao Ministério do Planejamento e Orçamento, por intermédio da Secretaria<br />
<strong>de</strong> Política Urbana, compete:<br />
I – buscar, nos programas habitacionais com recursos da União ou por ela geridos, a<br />
observância dos seguintes critérios:<br />
a) i<strong>de</strong>ntificação, <strong>de</strong>ntro da população alvo <strong>de</strong>stes programas, da população idosa e<br />
suas necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s habitacionais;<br />
b) alternativas habitacionais a<strong>de</strong>quadas para a população idosa i<strong>de</strong>ntificada;<br />
c) previsão <strong>de</strong> equipamentos urbanos <strong>de</strong> uso público que também atendam as<br />
necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s da população idosa;<br />
d) estabelecimento <strong>de</strong> diretrizes para que os projetos eliminem barreiras<br />
arquitetônicas e urbanas, que utilizam tipologias habitacionais a<strong>de</strong>quadas para a população<br />
idosa i<strong>de</strong>ntificada;<br />
II – promover gestões para viabilizar linhas <strong>de</strong> crédito visando ao acesso a moradias<br />
para o idoso, junto:<br />
a) <strong>à</strong>s ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> crédito habitacional;<br />
b) aos Governos Estaduais e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral;<br />
131
habitacionais;<br />
c) e outras ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s públicas ou privadas, relacionadas com os investimentos<br />
III- incentivar e promover, em articulação com os Ministérios da Educação e do<br />
Desporto, da Ciência e Tecnologia, da Saú<strong>de</strong> e junto <strong>à</strong>s instituições <strong>de</strong> ensino e pesquisa,<br />
estudos para aprimorar as condições <strong>de</strong> habitabil<strong>ida<strong>de</strong></strong> para os idosos, bem como sua<br />
divulgação e aplicação aos padrões habitacionais vigentes;<br />
IV – estimular a inclusão na legislação <strong>de</strong>:<br />
a) mecanismos que induzam a eliminação <strong>de</strong> barreiras arquitetônicas para o idoso,<br />
em equipamentos urbanos <strong>de</strong> uso público;<br />
b) adaptação em programas habitacionais no seu âmbito <strong>de</strong> atuação, dos critérios<br />
estabelecidos no inciso I <strong>de</strong>ste artigo.<br />
Art. 9º Ao Ministério da Saú<strong>de</strong>, por intermédio da Secretaria <strong>de</strong> Assistência <strong>à</strong><br />
Saú<strong>de</strong>, em articulação com as Secretarias <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Estados, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e dos<br />
Municípios, compete:<br />
I – garantir ao idoso a assistência integral <strong>à</strong> saú<strong>de</strong>, entendida como o conjunto<br />
articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos nos diversos níveis <strong>de</strong><br />
atendimento do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS);<br />
II – hierarquizar o atendimento ao idoso a partir das Un<strong>ida<strong>de</strong></strong>s Básicas e da<br />
implantação da Un<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Referência com equipe multiprofissional e interdisciplinar <strong>de</strong><br />
acordo com as normas específicas do Ministério da Saú<strong>de</strong>;<br />
III – estruturar <strong>Centro</strong>s <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> acordo com as normas específicas do<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong> com características <strong>de</strong> assistência <strong>à</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> avaliação e<br />
<strong>de</strong> treinamento;<br />
IV – garantir o acesso <strong>à</strong> assistência hospitalar;<br />
V – fornecer medicamentos, órteses e próteses, necessários <strong>à</strong> recuperação e<br />
reabilitação da saú<strong>de</strong> do idoso;<br />
VI – estimular a participação do idoso nas diversas instâncias <strong>de</strong> controle social do<br />
Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
VII – <strong>de</strong>senvolver política <strong>de</strong> prevenção para que a população envelheça mantendo<br />
um bom estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
132
VIII – <strong>de</strong>senvolver e apoiar programas <strong>de</strong> prevenção, educação e promoção da<br />
saú<strong>de</strong> do idoso <strong>de</strong> forma a:<br />
a) estimular a permanência do idoso na comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, junto <strong>à</strong> família,<br />
<strong>de</strong>sempenhando papel social ativo, com a autonomia e in<strong>de</strong>pendência que lhe for própria;<br />
b) estimular o auto-cuidado e o cuidado informal;<br />
c) envolver a população nas ações <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> do idoso;<br />
d) estimular a formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> auto-ajuda, <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> convivência, em<br />
integração com outras instituições que atuam no campo social;<br />
e) produzir e difundir material educativo sobre a saú<strong>de</strong> do idoso;<br />
IX – adotar e aplicar normas <strong>de</strong> funcionamento <strong>à</strong>s instituições geriátricas e<br />
similares, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />
X – elaborar normas <strong>de</strong> serviços geriátricos hospitalares e acompanhar a sua<br />
implementação;<br />
XI – <strong>de</strong>senvolver formas <strong>de</strong> cooperação entre as Secretarias <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> dos Estados,<br />
do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, dos Municípios, as organizações não-governamentais e entre os<br />
<strong>Centro</strong>s <strong>de</strong> Referência em Geriatria e Gerontologia, para treinamento dos<br />
profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
XII – incluir a Geriatria como especial<strong>ida<strong>de</strong></strong> clínica, para efeito <strong>de</strong> concursos<br />
públicos fe<strong>de</strong>rais;<br />
XIII – realizar e apoiar estudos e pesquisas <strong>de</strong> caráter epi<strong>de</strong>miológico visando a<br />
ampliação do conhecimento sobre o idoso e subsidiar as ações <strong>de</strong> prevenção,<br />
tratamento e reabilitação;<br />
XIV – estimular a criação, na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
Un<strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> Cuidados Diurnos (Hospital-Dia, <strong>Centro</strong>-Dia), <strong>de</strong> atendimento<br />
domiciliar e outros serviços alternativos para o idoso.<br />
Art. 10. Ao Ministério da Educação e do Desporto, em articulação com órgãos<br />
fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais <strong>de</strong> educação, compete:<br />
I – viabilizar a implantação <strong>de</strong> programa educacional voltado para o idoso, <strong>de</strong> modo<br />
a aten<strong>de</strong>r o inciso III do art. 10 da Lei nº 8.842, <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1994;<br />
II – incentivar a inclusão nos programas educacionais <strong>de</strong> conteúdo sobre o processo<br />
<strong>de</strong> envelhecimento;<br />
III – estimular e apoiar a admissão do idoso na univers<strong>ida<strong>de</strong></strong>, propiciando a<br />
integração intergeracional;<br />
133
IV – incentivar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> programas educativos voltados para a<br />
comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>, ao idoso e sua família, mediante os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa;<br />
V – incentivar a inclusão <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong> Gerontologia e Geriatria nos currículos<br />
dos cursos superiores.<br />
Art. 11. Ao Ministério do Trabalho, por meio <strong>de</strong> seus órgãos, compete garantir<br />
mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto <strong>à</strong> sua participação no<br />
mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />
Art. 12. Ao Ministério da Cultura compete, em conjunto com os seus órgãos e<br />
ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s vinculadas, criar programa <strong>de</strong> âmbito nacional, visando a:<br />
I – garantir ao idoso a participação no processo <strong>de</strong> produção, reelaboração e fruição<br />
dos bens culturais;<br />
II – propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços<br />
reduzidos;<br />
III – valorizar o registro da memória e a transmissão <strong>de</strong> informações e habil<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
do idoso aos mais jovens, como meio <strong>de</strong> garantir a continu<strong>ida<strong>de</strong></strong> e a i<strong>de</strong>nt<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
cultural;<br />
IV – incentivar os movimentos <strong>de</strong> idosos a <strong>de</strong>senvolver ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s culturais.<br />
Parágrafo único: Às ent<strong>ida<strong>de</strong></strong>s vinculadas do Ministério da Cultura, no âmbito <strong>de</strong><br />
suas respectivas áreas afins, compete a implementação <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s específicas,<br />
conjugadas <strong>à</strong> Política Nacional do Idoso.<br />
Art. 13. Ao Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria dos Direitos da<br />
Cidadania, compete:<br />
I – encaminhar as <strong>de</strong>núncias ao órgão competente do Po<strong>de</strong>r Executivo ou do<br />
Ministério Público para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos da pessoa idosa junto ao Po<strong>de</strong>r<br />
Judiciário;<br />
II – zelar pela aplicação das normas sobre o idoso <strong>de</strong>terminando ações para evitar<br />
abusos e lesões a seus direitos.<br />
Parágrafo único. Todo cidadão tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar <strong>à</strong> autor<strong>ida<strong>de</strong></strong> competente,<br />
qualquer forma <strong>de</strong> negligência ou <strong>de</strong>srespeito ao idoso.<br />
134
Art. 14. Os Ministérios que atuam nas áreas <strong>de</strong> habitação e urbanismo, <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />
educação e <strong>de</strong>sporto, <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> previdência e assistência social, <strong>de</strong> cultura e da<br />
justiça <strong>de</strong>verão elaborar proposta orçamentária, no âmbito <strong>de</strong> suas competências,<br />
visando ao financiamento <strong>de</strong> programas compatíveis com a Política Nacional do<br />
Idoso.<br />
Art. 15. Compete aos Ministérios envolvidos na Política Nacional do Idoso, <strong>de</strong>ntro<br />
das suas competências, promover a capacitação <strong>de</strong> recursos humanos volatdos ao<br />
atendimento do idoso.<br />
Parágrafo único. Para viabilizar a capacitação <strong>de</strong> recursos humanos, os Ministérios<br />
po<strong>de</strong>rão firmar convênios com instituições governamentais e não-governamentais,<br />
nacionais, estrangeiras ou internacionais.<br />
Art. 16. Compete ao conselho Nacional da Segur<strong>ida<strong>de</strong></strong> Social e aos conselhos<br />
setoriais, no âmbito da segur<strong>ida<strong>de</strong></strong>, a formulação, coor<strong>de</strong>nação, supervisão e<br />
avaliação da Política Nacional do Idoso, respeitadas as respectivas esferas <strong>de</strong><br />
atribuições administrativas.<br />
Art. 17. O idoso terá atendimento preferencial nos órgãos públicos e privados<br />
prestadores <strong>de</strong> serviços <strong>à</strong> população.<br />
Parágrafo único. O idoso que não tenha meios <strong>de</strong> prover a sua própria subsistência,<br />
que não tenha família ou cuja família não tenha condições <strong>de</strong> prover a sua<br />
manutenção., terá assegurada a assistência asilar pela União, pelos Estados, pelo<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral e pelos Municípios, na forma da lei.<br />
Art. 18. Fica proibida a permanência em instituições asilares, <strong>de</strong> caráter social, <strong>de</strong><br />
idosos portadores <strong>de</strong> doenças que exijam assistência médica permanente ou <strong>de</strong><br />
assistência <strong>de</strong> enfermagem intensiva, cuja falta possa agravar ou por em risco sua<br />
vida ou a vida <strong>de</strong> terceiros.<br />
Parágrafo único. A permanência ou não do idoso doente em instituições asilares, <strong>de</strong><br />
caráter social, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> avaliação médica prestada pelo serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> local.<br />
135
Art. 19. Para implementar as condições estabelecidas no artigo anterior, as<br />
instituições asilares po<strong>de</strong>rão firmar contratos ou convênios com o Sistema <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
local.<br />
Art. 20. Este <strong>de</strong>creto entra em vigor na data da sua publicação.<br />
Brasília, 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1996; 175º da In<strong>de</strong>pendência e 108º da República.<br />
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO<br />
Nelson A. Jobim<br />
Paulo Renato Souza<br />
Francisco Weffort<br />
Paulo Paiva<br />
Adib Jatene<br />
Antônio Kandir<br />
136
ANEXO 3<br />
Seções I, III, IV, V, VI e VIII do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS<br />
Número do Questionário: _________________________<br />
Nome do Entrevistado: _________________________________________<br />
En<strong>de</strong>reço (Rua, Av.): ___________________________________________<br />
Bairro: _____________________________ C<strong>ida<strong>de</strong></strong>: __________________<br />
CEP: ____________ - _________ Telefone: ________________<br />
Nome do Entrevistador: ________________________________________<br />
Data da Entrevista: _______/_______/_________<br />
I. INFORMAÇÕES GERAIS<br />
1. Sexo do Entrevistado:<br />
Entrevistador: indique o sexo da pessoa entrevistada<br />
1. Masculino<br />
2. Feminino<br />
2. Quantos anos o(a) Sr.(a) tem?<br />
.......... anos<br />
98. N.S./N.R.<br />
3. Em que país o(a) Sr.(a) nasceu?<br />
Entrevistador: se 1(Brasil) vá para a Q. 3a., 2 (outros países) vá para Q. 4 e marque N.A. na Q. 3a.<br />
1. Brasil<br />
2. Outros países (especificar) ..............................................................<br />
8. N.S./N.R.<br />
137
3a. Em que Estado do Brasil o(a) Sr.(a) nasceu?<br />
Nome do Estado ..........................................................................<br />
1. Região Norte<br />
2. Região Nor<strong>de</strong>ste<br />
3. Região Su<strong>de</strong>ste<br />
4. Região Sul<br />
5. Região <strong>Centro</strong>-Oeste<br />
7. N.A.<br />
8. N.S./N.R.<br />
4. Há quanto tempo (anos) o(a) Sr.(a) mora nesta c<strong>ida<strong>de</strong></strong>?<br />
............. (número <strong>de</strong> anos)<br />
98. N.S./N.R.<br />
5. O Sr.(a) sabe ler e escrever?<br />
1. Sim<br />
2. Não (Vá para Q. 7 e marque N.A. na Q. 6)<br />
8. N.S./N.R.<br />
6. Qual é a sua escolar<strong>ida<strong>de</strong></strong>?<br />
1. Nenhuma<br />
2. Primário incompleto<br />
3. Primário completo<br />
4. Ginásio ou 1 grau completo<br />
5. 2 grau completo (científico, técnico ou equivalente)<br />
6. Curso superior completo<br />
7. N.A.<br />
8. N.S./N.R.<br />
6. Atualmente qual é o seu estado conjugal?<br />
Entrevistador: marque apenas uma alternativa<br />
1. Nunca casou (Vá para a Q. 8 e marque N.A. nas Qs. 7a. e 7b.)<br />
2. Casado/morando junto<br />
3. Viúvo (a) (Vá para Q.8 e marque N.A. nas Qs. 7a. e 7b.)<br />
4. Divorciado(a)/separado(a) (Vá para Q.8 marque N.A. nas Qs 7a e 7b .)<br />
8. N.S./N.R.<br />
138
7a. Há quanto tempo o(a) Sr.(a) está casado(a)/morando junto(a)?<br />
Entrevistador: a pergunta se refere ao casamento atual<br />
............. (número <strong>de</strong> anos)<br />
97. N.A.<br />
98. N.S./N.R.<br />
7b. Qual é a <strong>ida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> sua (seu) esposa (o)?<br />
97. N.A.<br />
.............. anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
98. N.S./N.R.<br />
8. O Sr.(a) teve filhos? (em caso positivo, quantos?)<br />
Entrevistador: especifique o número <strong>de</strong> filhos/filhas<br />
............ ( número total <strong>de</strong> filhos/as)<br />
00. nenhum<br />
98. N.S./N.R.<br />
9. Quantas pessoas vivem com o(a) Sr.(a) nesta casa?<br />
........... pessoas<br />
00. Entrevistado(a) mora só (Vá para Q. 10 e marque N.A. na Q. 9a)<br />
98. N.S./N.R.<br />
9a.Quem são essas pessoas?<br />
Entrevistador: para cada categoria <strong>de</strong> pessoas indicada pelo entrevistado marque a resposta SIM<br />
SIM NÃO NA NS/NR<br />
a. Esposo(a)/companheiro(a) 1 2 7 8<br />
b. Pais 1 2 7 8<br />
c. Filhos 1 2 7 8<br />
d. Filhas 1 2 7 8<br />
e. Irmãos/irmãs 1 2 7 8<br />
f. Netos(as) 1 2 7 8<br />
g. Outros parentes 1 2 7 8<br />
h. Outras pessoas (não parentes) 1 2 7 8<br />
139
10.Como o(a) Sr.(a) se sente em relação <strong>à</strong> sua vida em geral?<br />
Entrevistador: leia p/ o entrevistado as alternativas listadas. Marque apenas 1 opção.<br />
1. Satisfeito(a) (Vá para a Q. 11 e marque N.A. na Q. 10a.)<br />
2. Insatisfeito(a)<br />
8. N.S./N.R.<br />
10a. Qual é o principal motivo <strong>de</strong> sua insatisfação com sua vida?<br />
Entrevistador: não leia para o entrevistado as alternativas listadas.<br />
01. Problema econômico<br />
02. Problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
03. Problema <strong>de</strong> moradia<br />
04. Problema <strong>de</strong> transporte<br />
05. Conflito nos relacionamentos pessoais<br />
06. Falta <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
07. Outro problema (especificar) ...........................................................<br />
97. N.A.<br />
98. N.S./N.R.<br />
III. UTILIZAÇÃO DE SERVICOS MÉDICOS E DENTÁRIOS<br />
Agora , eu gostaria <strong>de</strong> lhe perguntar sobre os serviços médicos que o (a) Sr. (a) tem o<br />
direito <strong>de</strong> usar.<br />
26. Quando o Sr.(a) está doente ou precisa <strong>de</strong> atendimento médico, on<strong>de</strong> ou a quem o Sr. (a)<br />
normalmente procura ?<br />
Entrevistador: marque apenas uma alternativa.<br />
Nome <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ou a quem procura ........................................<br />
01. A instituição pública que o entrevistado tem direito <strong>de</strong> utilizar<br />
02. Médico/Clínicas particulares<br />
03. Médicos/hospitais cre<strong>de</strong>nciados pelo seu Plano <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
04. Outros (especificar) ..............................<br />
9. N.S./N.R.<br />
140
27. Nos últimos três meses, o(a) Sr. (a) :<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Consultou o médico no consultório ou em casa 1 2 8<br />
b. Fez exames clínicos<br />
1 2 8<br />
c. Fez tratamento fisioterápico 1 2 8<br />
d. Teve <strong>de</strong> ser socorrido(a) na Emergência 1 2 8<br />
e. Foi ao hospital/clínica para receber medicação 1 2 8<br />
f. Esteve internado em hospital 1 2 8<br />
g. Foi ao <strong>de</strong>ntista 1 2 8<br />
27a. Dos serviços acima, qual (is) o (a) Sr. (a) utilizou mais <strong>de</strong> uma vez ?<br />
Entrevistador: repita para o (a) entrevistado (a) apenas os itens citados na pergunta acima como<br />
utilizados. Para os não utilizados marque NÃO.<br />
SIM NÃO NS./N.R<br />
a . Consultou o médico no consultório ou em casa 1 2 8<br />
b . Fez exames clínicos 1 2 8<br />
c . Fez tratamento fisioterápico 1 2 8<br />
d . Teve <strong>de</strong> ser socorrido (a) na Emergência 1 2 8<br />
e . Foi ao hospital/clínica para receber medicação 1 2 8<br />
f . Esteve internado em hospital ou clínica 1 2 8<br />
g . Foi ao <strong>de</strong>ntista 1 2 8<br />
28. O (a) Sr. (a) está satisfeito com os serviços médicos que utiliza normalmente ?<br />
1. Sim<br />
2. Não<br />
8. N.S./N.R.<br />
141
29. Em geral, quais os problemas que mais lhe <strong>de</strong>sagradam quando o (a) Sr. (a) utiliza os<br />
serviços médicos ?<br />
Entrevistador: não leia para o(a) entrevistado(a) as alternativas listadas. Classifique as respostas nas<br />
categorias listadas, <strong>de</strong> acordo com as instruções do Manual para esta pergunta. Na dúvida, registre<br />
a resposta do entrevistado no item 08. Outros problemas.<br />
00 . O (a) entrevistado (a) não relata problemas.<br />
01 . O custo dos serviços médicos<br />
02 . O custo dos medicamentos que são prescritos<br />
03 . Os exames clínicos que são prescritos<br />
04 . A <strong>de</strong>mora para a marcação da consulta/exame<br />
05 . O tempo <strong>de</strong> espera para ser atendido (a) no consultório<br />
06 . O tratamento oferecido pelos médicos<br />
07 . O tratamento oferecido pelo pessoal não médico<br />
08 . Outros problemas ( especificar ) ..............................................<br />
30 . Quando o (a) Sr. (a) necessita <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>ntário, on<strong>de</strong> ou a quem o (a) Sr. (a)<br />
normalmente procura ?<br />
Entrevistador: classifique a resposta do (a) entrevistado e marque apenas uma alternativa.<br />
Nome <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ou a quem procura ..........................................................<br />
0. Ninguém ou o entrevistado não procura o <strong>de</strong>ntista há muito<br />
tempo. (Vá para Q.31 e marque N.A. na Q.30 a.)<br />
1 . Serviços <strong>de</strong>ntário <strong>de</strong> uma instituição pública gratuita.<br />
2 . Serviço <strong>de</strong>ntário cre<strong>de</strong>nciado pelo seu plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
3 . Dentista particular<br />
4 . Outros ( especificar ) ..................................................................<br />
8 . N.S./N. R<br />
30a. O (a) Sr. (a) está satisfeito (a) com o serviço <strong>de</strong>ntário que utiliza ?<br />
1 . Sim<br />
2 . Não<br />
7 . N.A.<br />
8 . N.S./N.R.<br />
142
31. Por favor , diga-me se o (a) Sr. (a) normalmente usa :<br />
SIM NÃO NS./N.R<br />
a. Dente postiço, <strong>de</strong>ntadura , ponte 1 2 8<br />
b. Óculos ou lentes <strong>de</strong> contato 1 2 8<br />
c. Aparelho para sur<strong>de</strong>z 1 2 8<br />
d. Bengala 1 2 8<br />
e. Muleta 1 2 8<br />
f. Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas 1 2 8<br />
g. Outros 1 2 8<br />
31a. Atualmente, o (a) Sr. (a) está precisando trocar alguma <strong>de</strong>stas ajudas ?<br />
Entrevistador : Leia para o (a) entrevistado (a) apenas as ajudas mencionadas na questão anterior.<br />
Marque as respostas correspon<strong>de</strong>ntes.<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Dente postiço, <strong>de</strong>ntadura, ponte 1 2 8<br />
b . Óculos ou lentes <strong>de</strong> contato 1 2 8<br />
c . Aparelho para sur<strong>de</strong>z 1 2 8<br />
d . Bengala 1 2 8<br />
e . Muleta 1 2 8<br />
f . Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas 1 2 8<br />
g . Outros 1 2 8<br />
32. O (a) Sr. (a) toma remédios ?<br />
1 . Sim<br />
2 . Não ( Vá para Q.33 e marque N. A . nas Qs. 32a. e 32b. )<br />
8 N.S./N.R.<br />
32a. Quem receita ?<br />
1 . Médico<br />
2 . Farmacêutico<br />
3 . Amigos/familiares/propaganda<br />
4 . Outros<br />
7. N.A.<br />
8. N.S./N.R<br />
143
32b. Em geral qual é o problema ou a dificulda<strong>de</strong> mais importante que o (a) Sr. (a) tem para<br />
obter os remédios que toma regularmente ?<br />
0 . O (a) entrevistado (a) não tem problema para obter o remédio<br />
1 . Problema financeiro<br />
2 . Dificulda<strong>de</strong> em encontrar o remédio na farmácia<br />
3 . Dificulda<strong>de</strong> em obter a receita <strong>de</strong> remédios controlados<br />
4 . Outro problema ou dificulda<strong>de</strong> ( especifique ) ................................<br />
7. N.A.<br />
8 . N.S./N.R.<br />
33. No caso do(a) Sr.(a) ficar doente ou incapacitado (a), q. pessoa po<strong>de</strong>ria cuidar do (a)<br />
Sr. (a) ?<br />
0 . Nenhuma<br />
1 . Esposo (a) / Companheiro (a)<br />
2 . Filho<br />
3 . Filha<br />
4 . Outra pessoa da família<br />
5 . Outra pessoa <strong>de</strong> fora da família ( indique qual )............................<br />
8 . N.S./N.R.<br />
144
IV . ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA ( AVD )<br />
Eu vou ler para o (a) Sr. (a) uma lista <strong>de</strong> ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que as pessoas normalmente tem<br />
<strong>de</strong> fazer durante o dia. Para cada pergunta eu gostaria <strong>de</strong> saber se o (a) Sr. (a) é capaz<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar estas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s sozinho (a) sem precisar <strong>de</strong> ajuda <strong>de</strong> alguém. Vamos<br />
<strong>à</strong>s perguntas ?<br />
34. O(a) Sr.(a) é capaz <strong>de</strong>:<br />
Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas correspon<strong>de</strong>ntes.<br />
No caso do entrevistado ter colostomia ou usar cateter, marque NÃO em “o”)<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a . Sair <strong>de</strong> casa para médias distâncias<br />
1<br />
(necessário o uso <strong>de</strong> transporte)<br />
2 8<br />
b . Sair para curtas distâncias<br />
(pequenas compras no armazém)<br />
1 2 8<br />
c . Preparar sua própria refeição 1 2 8<br />
d . Realizar as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s domésticas<br />
(arrumar e manter a casa em or<strong>de</strong>m)<br />
1 2 8<br />
e . Tomar seus remédios 1 2 8<br />
f . Comer sua comida 1 2 8<br />
g . Vestir-se sozinho 1 2 8<br />
h . Pentear / escovar seus cabelos 1 2 8<br />
i . Caminhar em superfície plana 1 2 8<br />
j . Subir escada 1 2 8<br />
k . Deitar e levantar da cama sozinho 1 2 8<br />
l . Tomar banho sozinho 1 2 8<br />
m . Cortar as unhas dos pés 1 2 8<br />
n . Pegar ônibus 1 2 8<br />
o . Ir ao banheiro em tempo 1 2 8<br />
35. Há alguém que ajuda o (a) Sr. (a) a fazer algumas tarefas como limpeza arrumação a<br />
casa, vestir-se, ou dar recados quando precisa ?<br />
1 . Sim<br />
2 . Não ( Vá para Q.36 e marque N.A. na Q.35a. )<br />
8. N.S./ N.R.<br />
145
35a. Qual a pessoa que mais lhe ajuda nessas tarefas ?<br />
Entrevistador : marque apenas uma alternativa.<br />
1 . Esposo (a) / companheiro (a)<br />
2 . Filho<br />
3 . Filha<br />
4 . Uma outra pessoa da família<br />
5 . Um (a) empregado (a)<br />
6 . Outro ( quem ? ) .............................................................<br />
7 . N.A.<br />
8 . N.S./N. R.<br />
36. No seu tempo livre o (a) Sr. (a) faz ( participa <strong>de</strong> ) alguma <strong>de</strong>ssas ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s ?<br />
Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas<br />
correspon<strong>de</strong>ntes.<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a . Ouvir rádio 1 2 8<br />
b . Assistir a televisão 1 2 8<br />
c . Ler jornal 1 2 8<br />
d . Ler revistas e livros 1 2 8<br />
e . Receber visitas 1 2 8<br />
f . Ir ao cinema, teatro, etc. 1 2 8<br />
g . Andar pelo seu bairro 1 2 8<br />
h . Ir <strong>à</strong> Igreja (serviço religioso) 1 2 8<br />
i . Ir a jogos (esportes) 1 2 8<br />
j . Participar <strong>de</strong> jogos(esportes) 1 2 8<br />
k . Fazer as compras 1 2 8<br />
l . Sair para visitar os amigos 1 2 8<br />
m . Sair para visitar os parentes 1 2 8<br />
n . Sair para passeios longos ( excursão ) 1 2 8<br />
o . Sair para encontro social ou comunitário 1 2 8<br />
p . Coser , bordar, tricotar 1 2 8<br />
q . Alguma ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong> para se distrair<br />
( jogos carta, xadrez, jardinagem, etc. )<br />
1 2 8<br />
r. Outros ( especificar ) .................................... 1 2 8<br />
146
37 . O (a) Sr. (a) está satisfeito (a) com as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que <strong>de</strong>sempenha no seu tempo livre ?<br />
1 . Sim ( Vá para Q. 38 e marque N.A. na Q. 37a. )<br />
2 . Não<br />
8. N.S./N.R.<br />
37a. Qual é o principal motivo <strong>de</strong> sua insatisfação com as ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong>s que o (a ) Sr. (a)<br />
<strong>de</strong>sempenha no seu tempo livre ?<br />
(Entrevistador : marque apenas uma alternativa)<br />
1 . Problema com o custo<br />
2 . Problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que o (a) impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> se engajar em uma ativ<strong>ida<strong>de</strong></strong><br />
3 . Problema com falta <strong>de</strong> motivação em fazer coisas ( tédio, aborrecimento )<br />
4 . Problema <strong>de</strong> transporte que limita seu acesso aos lugares que <strong>de</strong>seja ir<br />
5 . Outras razões ( especificar ) .............................................................................<br />
7. N.A.<br />
8. N.S./N.R.<br />
V. RECURSOS SOCIAIS<br />
Nesta seção, eu gostaria <strong>de</strong> lhe fazer algumas perguntas a respeito <strong>de</strong> suas relações <strong>de</strong><br />
amiza<strong>de</strong> com as outras pessoas e a respeito <strong>de</strong> recursos que as pessoas idosas po<strong>de</strong>m usar na<br />
sua comun<strong>ida<strong>de</strong></strong>.<br />
38. O(a) Sr.(a) está satisfeito com o relacionamento que tem coma as pessoas que moram<br />
com o(a) Sr.(a)?<br />
0. Entrevistado mora só<br />
1. Sim<br />
2. Não<br />
8. N.S./N.R.<br />
147
39. Que tipo <strong>de</strong> ajuda ou assistência sua família lhe oferece? ( familiares que vivem/ ou<br />
que não vivem com o(a) entrevistado(a)).<br />
Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas.<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Dinheiro 1 2 8<br />
b. Moradia 1 2 8<br />
c. Companhia/ cuidado pessoal 1 2 8<br />
d. Outro tipo <strong>de</strong> cuidado/ assistência<br />
1 2 8<br />
(especificar).........................................................<br />
40. Que tipo <strong>de</strong> ajuda ou assistência o Sr.(a) oferece para sua família?<br />
Entrevistador: Leia para o entrevistado as alternativas listadas.<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Dinheiro 1 2 8<br />
b. Moradia 1 2 8<br />
c. Companhia/ cuidado pessoal 1 2 8<br />
d. Cuidar <strong>de</strong> crianças 1 2 8<br />
e. Outro tipo <strong>de</strong> cuidado/ assistência<br />
1 2 8<br />
(especificar) ..........................................................<br />
41. O(a) Sr.(a) está satisfeito com o relacionamento que tem com seus amigos?<br />
0. Entrevistado(a) não tem amigos<br />
1. Sim<br />
2. Não<br />
8. N.S./N.R.<br />
42. O(a) Sr.(a) está satisfeito(a) com o relacionamento que tem com seus vizinhos?<br />
0. Entrevistado(a) não tem relação com os vizinhos<br />
1. Sim<br />
2. Não<br />
8. N.S,/N.R.<br />
148
43. Na semana passada o(a) Sr.(a) recebeu visita <strong>de</strong> alguma <strong>de</strong>stas pessoas?<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Vizinhos/ amigos 1 2 8<br />
b. Filhos (as) 1 2 8<br />
c. Outros familiares 1 2 8<br />
d. Outros (especificar)............................................. 1 2 8<br />
V. RECURSOS ECONÔMICOS<br />
44.Que tipo <strong>de</strong> trabalho(ocupação) o(a) Sr.(a) teve durante a maior parte <strong>de</strong> sua vida?<br />
Entrevistador: Anote o tipo <strong>de</strong> trabalho ........................................................................................<br />
01. Nunca trabalhou ( Vá para Q. 45 e marque N.A. nas Qs. 44a. , 44b. e 44c.)<br />
02. Dona <strong>de</strong> casa (Vá para Q.45 e marque N.A. nas Qs. 44a., 44b. e 44 c.)<br />
98. N.S./N.R.<br />
44 a. Por quanto tempo?<br />
Número <strong>de</strong> anos: ...........................<br />
97. N.A.<br />
98. N.S./N.R.<br />
44b. Com que <strong>ida<strong>de</strong></strong> o(a) Sr.(a) começou a trabalhar?<br />
................anos<br />
97. N.A.<br />
98. N.S.?N.R.<br />
44c. Com que <strong>ida<strong>de</strong></strong> o (a) Sr.(a) parou <strong>de</strong> trabalhar?<br />
00. Entrevistado(a) ainda trabalha.<br />
97. N.A.<br />
98. N.S./N.R<br />
149
45. Atualmente o(a) Sr.(a) está:<br />
(Entrevistador: leia para o(a) entrevistado(a) as alternativas listadas. Se ambas as<br />
respostas forem Não, vá para Q. 46 e marque N.A. na Q. 45 a )<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Recebendo aposentadoria 1 2 8<br />
b. Recebendo pensão do cônjuge 1 2 8<br />
45 a . A sua aposentadoria/pensão é suficiente para suprir suas <strong>de</strong>spesas ?<br />
1. Sim<br />
2. Não<br />
97. N.A.<br />
98. N.S./N.R<br />
46.Eu vou ler algumas fontes <strong>de</strong> recebimento <strong>de</strong> dinheiro. O(a) Sr.(a) po<strong>de</strong>ria me<br />
dizer <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o(a) Sr.(a) recebe regularmente o seu dinheiro?<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Trabalho(salário, negócios) 1 2 8<br />
b. Pensão (aposentadoria/ benefício <strong>de</strong> seguro social) 1 2 8<br />
c. Investimento, aluguéis, juros, divi<strong>de</strong>ndos, etc. 1 2 8<br />
d. Dinheiro do cônjuge 1 2 8<br />
e. Dinheiro dos filhos 1 2 8<br />
f. Dinheiro <strong>de</strong> amigos/familiares 1 2 8<br />
g. Outras fontes ......................... 1 2 8<br />
47. Por favor, eu gostaria <strong>de</strong> saber qual a sua renda mensal. Não preciso saber o valor<br />
exato, basta me dizer o valor aproximado do rendimento mensal que o(a) Sr.(a) recebe<br />
regularmente.<br />
Entrevistador: Caso haja mais <strong>de</strong> uma fonte, anote a soma <strong>de</strong>stes valores. Atenção: valor<br />
líquido.<br />
Rendimento mensal _ _ _ _ _<br />
00. Sem rendimento<br />
98. N.S./N.R.<br />
150
48. Por favor, agora eu gostaria <strong>de</strong> saber o total mensal dos rendimentos das pessoas que<br />
vivem nesta residência. Não preciso saber o valor exato, basta dizer-me o valor<br />
aproximado do rendimento mensal regularmente recebido pelas pessoas.<br />
Entrevistador: se o entrevistado vive sozinho e tem rendimento, repita o valor informado na<br />
Q.47. Se o entrevistado vive sozinho e não tem rendimento, marque N.A. nesta questão e na<br />
Q.48a<br />
Rendimento mensal _ _ _ _ _<br />
97. N.A.<br />
98. N.S./N.R.<br />
48a Quantas pessoas, incluindo o(a) Sr.(a), vivem com esse rendimento familiar (do seu<br />
rendimento)?<br />
..................pessoas<br />
97. N.A.<br />
98. N.R./N.S.<br />
49. Por favor, informe-me se em sua casa/apartamento existem ou estão funcionado em<br />
or<strong>de</strong>m os seguintes itens:<br />
Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas.<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Água encanada 1 2 8<br />
b. Eletric<strong>ida<strong>de</strong></strong> 1 2 8<br />
c. Ligação com a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> esgoto 1 2 8<br />
d. Gela<strong>de</strong>ira/congelador 1 2 8<br />
e. Rádio 1 2 8<br />
f. Televisão 1 2 8<br />
g. Ví<strong>de</strong>o cassete 1 2 8<br />
h. Computador 1 2 8<br />
i. Telefone 1 2 8<br />
j. Automóvel 1 2 8<br />
151
50. O (a) Sr.(a) é proprietário(a), aluga ou usa <strong>de</strong> graça o imóvel on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>?<br />
Entrevistador: para cada uma das três categorias(proprieda<strong>de</strong>, aluguel ou usa <strong>de</strong> graça/ verifique<br />
em qual o entrevistado se enquadra, Especifique apenas uma alternativa.<br />
1. Proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoa entrevistada ou do casal<br />
2. Proprieda<strong>de</strong> do cônjuge do(a) entrevistado(a)<br />
3. Alugado pelo entrevistado<br />
4. Morando em residência cedida sem custo para o entrevistado<br />
5. Outra categoria (especificar) .............................................................<br />
8. N.S./N.R.<br />
51. Em comparação a quando o (a) Sr.(a) tinha 50 anos <strong>de</strong> <strong>ida<strong>de</strong></strong> , a sua atual situação<br />
econômica é:<br />
Entrevistador: leia p/ o entrevistado as alternativas listadas. Marque apenas 1 opção.<br />
1. Melhor<br />
2. A mesma<br />
3. Pior<br />
8. N.S./N.R<br />
52.Para suas necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s básicas, o que o(a) Sr.(a) ganha:<br />
Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas <strong>de</strong> 1 a 4. Marque apenas uma<br />
opção.<br />
1. Dá e sobra<br />
2. Dá na conta certa<br />
3. Sempre falta um pouco<br />
4. Sempre falta muito<br />
8. N.S./N.R.<br />
152
VIII. NECESSIDADES E PROBLEMAS QUE AFETAM O ENTREVISTADO<br />
77. Atualmente (da lista abaixo), quais são as suas principais necess<strong>ida<strong>de</strong></strong>s<br />
(carências)?<br />
Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas<br />
correspon<strong>de</strong>ntes.<br />
SIM NÃO NS/NR<br />
a. Carência econômica 1 2 8<br />
b. Carência <strong>de</strong> moradia 1 2 8<br />
c. Carência <strong>de</strong> transporte 1 2 8<br />
d. Carência <strong>de</strong> lazer 1 2 8<br />
e. Carência <strong>de</strong> segurança 1 2 8<br />
f. Carência <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> 1 2 8<br />
g. Carência <strong>de</strong> alimentação 1 2 8<br />
h. Carência <strong>de</strong> companhia e contato pessoal 1 2 8<br />
78. Para finalizar esta entrevista, eu gostaria que o(a) Sr.(a) me informasse qual o<br />
problema mais importante do seu dia a dia?<br />
Entrevistador: anote apenas uma alternativa.<br />
00. Entrevistado(a) não relata problemas importantes<br />
01. Problema econômico<br />
02. Problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (<strong>de</strong>terioração da saú<strong>de</strong> física ou mental)<br />
03. O medo da violência<br />
04. Problema <strong>de</strong> moradia<br />
05. Problemas <strong>de</strong> transporte<br />
06. Problemas familiares (conflitos)<br />
07. Problemas <strong>de</strong> isolamento (solidão)<br />
08. Preocupação com os filhos/netos<br />
09. Outros problemas (especificar) .........................................................<br />
98. N.S./N.R.<br />
153