095 - Centro de Engenharia Elétrica - USP
095 - Centro de Engenharia Elétrica - USP
095 - Centro de Engenharia Elétrica - USP
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Condutor - Outubro <strong>de</strong> 2002<br />
o <strong>de</strong> 1932<br />
<strong>de</strong> 32, e continua ativamente no resguardo<br />
das cousas paulistas que se prendam<br />
intimamente aos feitos sagrados daquela<br />
epopéia. Aqui estamos diante dos feitos mais<br />
eloqüentes <strong>de</strong> nossa guerra, aqui vemos o<br />
dinamismo do paulista na mágica<br />
improvisada do alcance técnico <strong>de</strong> nossa<br />
engenharia, no tocante ao prolongamento<br />
<strong>de</strong> uma guerra feita quase sem outra ajuda<br />
que o armamento da inteligência...”<br />
Devíamos nos espelhar nestes bravos,<br />
<strong>de</strong>ixar nosso comodismo <strong>de</strong> lado e lutar por<br />
aquilo em que acreditamos. Pra quê<br />
estudamos? Apenas para ganhar dinheiro e<br />
adquirir certo status? Eu não quero acreditar<br />
nisso. A Escola Politécnica antigamente<br />
formava, não só engenheiros altamente capazes<br />
<strong>de</strong> resolver problemas, problemas esses que<br />
po<strong>de</strong>riam custar a sua própria vida, mas<br />
também pessoas cientes <strong>de</strong> sua<br />
responsabilida<strong>de</strong> como agentes modificadores<br />
da socieda<strong>de</strong>, que tinham coragem <strong>de</strong> se<br />
levantar <strong>de</strong> suas salas <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong> largar os seus<br />
laboratórios e aplicar todo o conhecimento<br />
adquirido em prol <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais revolucionários.<br />
Aon<strong>de</strong> foi parar este espírito? Morreu na<br />
Revolução <strong>de</strong> 1932?<br />
Tenho orgulho <strong>de</strong> ser paulista, tenho<br />
orgulho <strong>de</strong> estudar engenharia e tenho orgulho<br />
<strong>de</strong> ser Politécnico, sei do meu valor e não me<br />
acho melhor ou pior que ninguém. Apenas<br />
sei <strong>de</strong> minhas responsabilida<strong>de</strong>s, e, por isso,<br />
darei o quanto sou naquilo que fizer; é o mesmo<br />
que espero <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> vocês. Que<br />
possamos nunca <strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> nossos i<strong>de</strong>ais, <strong>de</strong><br />
nossa guerra diária, só assim seremos dignos<br />
<strong>de</strong> ser chamados colegas dos politécnicos <strong>de</strong><br />
32 e <strong>de</strong> cada gran<strong>de</strong> pessoa que marcou esta<br />
Escola.<br />
ORAÇÃO ANTE A ÚLTIMA TRINCHEIRA<br />
“Agora é o silêncio<br />
É o silêncio que faz a última chamada<br />
É o silêncio que respon<strong>de</strong>:<br />
— Presente” !<br />
Depois será a gran<strong>de</strong> asa tutelar <strong>de</strong> São<br />
Paulo — asa que é dia e noite e sangue e estrela<br />
e mapa — <strong>de</strong>scendo, petrificada, sobre um<br />
sono que é vigília.<br />
E aqui ficareis, Heróis-Mártires plantados,<br />
firmes: — para, sempre, neste santificado<br />
torrão <strong>de</strong> chão paulista.<br />
Para receber-vos, feriu-se ele da máxima<br />
<strong>de</strong> entre as únicas feridas, na terra, que nunca<br />
se cicatrizam, porque <strong>de</strong>las uma imensa coisa<br />
emerge e impõe-se que as eterniza.<br />
Só para o alicerce, a lavra, a sepultura, e a<br />
trincheira se tem o direito <strong>de</strong> ferir a terra.<br />
E, mais legítima que a ferida do alicerce,<br />
que se eterniza na casa, a dar teto para o amor,<br />
a família, a honra, a paz.<br />
Mais legítima que a ferida da lavra, que se<br />
eterniza na árvore a dar lenho para o leito, a<br />
mesa, o cabo da enxada, a coronha do fuzil;<br />
mais legítima que a ferida da sepultura, que se<br />
eterniza no mármore a dar imagem para a<br />
sauda<strong>de</strong>, o consolo, a benção, a inspiração,<br />
mais legítima que essas feridas é a ferida da<br />
trincheira, que se eterniza na Pátria a dar a<br />
pura razão <strong>de</strong> ser da casa, da árvore e do<br />
mármore.<br />
Este cavado trapo <strong>de</strong> terra — corpo místico<br />
<strong>de</strong> São Paulo, em que ora existis,<br />
consubstanciados, mais que corte <strong>de</strong> alicerce,<br />
sulco <strong>de</strong> lavra, cova <strong>de</strong> sepultura, é rasgão <strong>de</strong><br />
trincheira.<br />
E esta, perene que povoais, é a nossa<br />
última trincheira.<br />
Esta é a trincheira que não se ren<strong>de</strong>u,<br />
a que <strong>de</strong>u à terra o seu suor,<br />
a que <strong>de</strong>u à terra a sua lágrima,<br />
a que <strong>de</strong>u à terra o seu sangue!<br />
Guilherme <strong>de</strong> Almeida<br />
Esta é a trincheira que não se ren<strong>de</strong>u,<br />
a que é nossa ban<strong>de</strong>ira gravada no chão,<br />
pelo branco do nosso I<strong>de</strong>al,<br />
pelo negro do nosso Luto,<br />
pelo vermelho do nosso Coração.<br />
Esta é a trincheira que não se ren<strong>de</strong>u:<br />
a que, atenta, nos vigia;<br />
a que, invicta, nos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>;<br />
a que, eterna, nos glorifica!<br />
Esta é a trincheira que não se ren<strong>de</strong>u:<br />
a que não transigiu,<br />
a que não esqueceu,<br />
a que não perdoou!<br />
Esta é a trincheira que não se ren<strong>de</strong>u:<br />
Aqui a vossa presença, que é relíquia,<br />
transfigura e consagra num altar,<br />
para o vôo, até Deus da nossa fé!<br />
E, pois, ante este altar, alma <strong>de</strong> joelho,<br />
a voz rogamos:<br />
— Soldados santos <strong>de</strong> 32,<br />
sem armas em vossos ombros, velai por<br />
nós!;<br />
sem balas na cartucheira, velai por nós!;<br />
sem pão em vosso bornal, velai por nós!;<br />
sem água em vosso cantil, velai por<br />
nós!;<br />
sem galões <strong>de</strong> ouro no braço, velai por<br />
nós!;<br />
sem medalhas sobre o cáqui, velai por<br />
nós!;<br />
sem mancha no pensamento, velai por<br />
nós!;<br />
sem medo no coração, velai por nós!;<br />
sem sangue já pelas veias, velai por nós!;<br />
sem lágrimas ainda nos olhos, velai por<br />
nós!;<br />
sem sopro mais entre os lábios, velai<br />
por nós!;<br />
sem nada a não ser vós mesmos, velai<br />
por nós!;<br />
sem nada senão São Paulo, velai por nós!<br />
7