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O espaço na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Dessa maneira, quando esse “tu” se revela ao eu lírico, os <strong>espaço</strong>s tor<strong>na</strong>m-se<br />

transitórios, receptáculos <strong>de</strong> um rito <strong>de</strong> passagem, em que uma presença muito estimada<br />

per<strong>de</strong>-se, esvai-se, sem justificativa, causando assombro <strong>na</strong> voz poética. Dentre os <strong>espaço</strong>s<br />

que marcará essa falta, estão o caminho, a passagem, a estrada. Esses lugares on<strong>de</strong> a<br />

transitorieda<strong>de</strong> é marcante ganham imensa importância para <strong>Sophia</strong>; eles tor<strong>na</strong>m-se metáfora<br />

da própria efemerida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>stino humano, <strong>de</strong>stino esse em permanente fuga.<br />

Nesse aspecto, o <strong>espaço</strong> cin<strong>de</strong>-se entre um aqui, região do encontro e da <strong>de</strong>spedida,<br />

lugar on<strong>de</strong> o eu lírico amargará a solidão, e um lá impreciso, metáfora da morte, do<br />

<strong>de</strong>sconhecido a circundar a própria condição do homem.<br />

autora:<br />

Como exemplo, citamos o poema “Quem és tu?”, do livro Poesia I, livro <strong>de</strong> estréia da<br />

Quem és tu que assim vens pela noite adiante,<br />

Poisando o luar branco dos caminhos,<br />

Sob o rumor das folhas inspiradas?<br />

A perfeição <strong>na</strong>sce do eco dos teus passos,<br />

E a tua presença acorda a plenitu<strong>de</strong><br />

A que as coisas tinham sido <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>das.<br />

A história da noite é o gesto dos teus braços,<br />

O ardor do vento a tua juventu<strong>de</strong>,<br />

E o teu andar é a beleza das estradas.<br />

(ANDRESEN, 2001, p.42)<br />

Como se po<strong>de</strong> notar nesse poema, o forasteiro exalta o esplendor das coisas, a<br />

plenitu<strong>de</strong> do que existe.<br />

Nesse sentido, aqui po<strong>de</strong>mos encontrar uma característica importante em toda a obra<br />

da autora. <strong>Sophia</strong>, conforme uma perspectiva hei<strong>de</strong>ggeria<strong>na</strong>, empreen<strong>de</strong>rá a busca da<br />

dimensão infinita dos seres e dos objetos imersos no tempo e no <strong>espaço</strong>. De acordo com o<br />

filósofo <strong>de</strong> Ser e tempo, cabe ao poeta <strong>de</strong>svelar, <strong>na</strong> concretu<strong>de</strong> do que existe, a “verda<strong>de</strong> do<br />

ser”. Em sua obra, Hei<strong>de</strong>gger fez importante crítica ao imperialismo do pensamento técnico e<br />

racio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> socieda<strong>de</strong> capitalista. Tal pensamento empreen<strong>de</strong>ria o <strong>de</strong>socultamento dos objetos,<br />

dos entes, tor<strong>na</strong>ndo o mundo mero repasto <strong>de</strong> cálculos, <strong>de</strong> porcentagens, <strong>de</strong> mensurações.<br />

Brüsseke e Sell (BRÜSSEKE, 2006, 109) apontam, em relevante ensaio, essa questão<br />

abordada pelo filósofo alemão:

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