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O espaço na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen

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A <strong>poesia</strong> tor<strong>na</strong>-se, portanto, uma busca da i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong>, do que paira acima dos<br />

<strong>de</strong>sacertos da existência. Como todo platonismo, tal i<strong>de</strong>alização, paradoxalmente, acarreta<br />

uma total negação do real, uma refutação do existir tal como ele é. Isso se dá pela<br />

geometrização <strong>de</strong> sua palavra. As coisas sensíveis são perscrutadas com tanta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, que<br />

o real mais concreto ten<strong>de</strong> a se tor<strong>na</strong>r abstrato, impon<strong>de</strong>rável. Eis a gran<strong>de</strong> dialética da lírica<br />

<strong>de</strong> <strong>Sophia</strong>: quanto mais se busca espelhar com fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> as coisas sensíveis, mais elas se<br />

tor<strong>na</strong>m abstratas, esgarçadas, i<strong>de</strong>alizadas.<br />

Nesse aspecto, a metáfora da fonte irá permear essa busca, dando concretu<strong>de</strong> a essa<br />

pureza; é o que po<strong>de</strong>mos ver no poema As fontes:<br />

Um dia quebrarei todas as pontes<br />

Que ligam meu ser, vivo e total,<br />

À agitação do mundo do irreal,<br />

E calma subirei até às fontes.<br />

Irei até às fontes on<strong>de</strong> mora<br />

A plenitu<strong>de</strong>, o límpido esplendor<br />

Que me foi prometido em cada hora,<br />

E <strong>na</strong> face incompleta do amor.<br />

Irei beber a luz e o amanhecer,<br />

Irei beber a voz <strong>de</strong>ssa promessa<br />

Que às vezes como um vôo me atravessa,<br />

E nela cumprirei todo o meu ser.<br />

(ANDRESEN, 2001, p.60)<br />

Eis a gran<strong>de</strong> magia <strong>de</strong>ssa lírica, tor<strong>na</strong>r o prosaico, o ba<strong>na</strong>l, em fato irrevelado, em<br />

acontecimento margeado por um gran<strong>de</strong> mistério, o mistério que no fundo é o da nossa<br />

existência. Percorrer os <strong>espaço</strong>s líricos <strong>de</strong> <strong>Sophia</strong> é simplesmente, portanto, nos <strong>de</strong>batermos<br />

<strong>na</strong>s velhas e caducas questões metafísicas: O que estou fazendo aqui? Por que vivo aqui? Para<br />

on<strong>de</strong> vou?<br />

ABSTRACT: In the works by <strong>Sophia</strong> <strong>de</strong> <strong>Mello</strong> <strong>Breyner</strong> <strong>Andresen</strong> spaces un<strong>de</strong>rgo some sort of exaltation and<br />

concentration, becoming “centers of life” according to Bachelard’s terms. In these places of predilection, which<br />

are environments of concentrated existence, the human drama unfolds, gaining symbolic and metaphorical<br />

connotations. This article <strong>de</strong>tails these spaces and unveils their multiple meanings.<br />

Keywords: Space, Poetry, Myth, Mo<strong>de</strong>rnity<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ANDRESEN, <strong>Sophia</strong> <strong>de</strong> <strong>Mello</strong> <strong>Breyner</strong>. Obra poética I. Lisboa: Caminho, 2001.

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