BOLETIM ARQUITETOS 229.indd - Ordem dos Arquitectos
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de-se com o facto de a maior parte das reuniões serem com os<br />
próprios Managing Directors e CEOs das empresas, que normalmente<br />
vêem neste primeiro encontro com o arquitecto, o<br />
prenúncio de uma relação directa.<br />
STREETWISE<br />
A crise chegou a todo o lado, e a verdade é que, embora não seja<br />
tão dramática como em Portugal, existe internacionalmente<br />
um excesso de oferta de projectistas. To<strong>dos</strong> os dias os ArchiDailys<br />
apresentam ao mundo novos heróis da Ásia ou das<br />
Américas com nomes e siglas magnéticas do tipo Mad, Wax,<br />
Nox, Soa ou Leap, e com imagem feéricas de edifícios colossais<br />
em diferentes momentos de suspensão gravítica. Também<br />
por isso, não é só em Portugal que os promotores tentam que<br />
o trabalho “tentativo” ou “exploratório” seja por conta e risco<br />
<strong>dos</strong> arquitectos. Cabe ao próprio discernir até que ponto e em<br />
que medida quer investir nesse esforço de marketing. Aí é preciso<br />
saber fazer muito, com pouco, dar apenas meias soluções<br />
e esboços vagos mas atraentes; enfim, provocar a necessidade<br />
de gerar um contrato. É uma arte, acreditem. Mais do que nunca,<br />
os arquitectos são chama<strong>dos</strong> a avaliar a seriedade do potencial<br />
cliente que têm pela frente. Para os que a têm, é o momento<br />
de recorrer àquela saudável experiência de rua que se obtém<br />
do convívio com criminosos em bairros de reputação duvi<strong>dos</strong>a.<br />
Principalmente nos países em desenvolvimento, os “piratas” e<br />
“franco-atiradores” abundam. Junta-se a isto um universo de<br />
artimanhas de decision-maker events e one-on-one business<br />
meetings, que jorram para dentro <strong>dos</strong> ateliês com promessas<br />
irrecusáveis a partir de call-centres em Bangalore e que sempre<br />
levam atrás uns quantos incautos. Toda a aldrabice é permitida;<br />
recentemente recebi um telefonema de um Philippe de<br />
Rotschild a convidar-me para uma conferência privada com<br />
investment bankers suíços em Miami; dá para acreditar?<br />
GEOGRAFIA E DESTINOS<br />
Os nossos recursos são muito escassos e o condicionamento<br />
geográfico é grande. Aconselho por isso que não disparem para<br />
todo o lado e em todas as direcções. Pessoalmente, e como já<br />
expliquei em artigos anteriores, sou bastante céptico em relação<br />
aos chama<strong>dos</strong> “destinos naturais portugueses”. Acho que<br />
a proximidade da língua gera uma informalidade perniciosa<br />
e a própria concorrência imposta pelos portugueses in-situ é<br />
suficiente para degradar as condições de comerciais. Por outro<br />
lado, tradicionalmente os merca<strong>dos</strong> anglo-saxónicos sempre<br />
remunerarão melhor os serviços (foram eles que os inventaram...).<br />
Procurem fixar uma zona ou uma região, e tentem<br />
explorá-la a fundo, e.g. saber quem são os players, quem poderão<br />
ser os parceiros locais, conhecer a economia e as empresas<br />
mais interessantes, os sistemas de licenciamento, etc. Uma vez<br />
identificado o destino, procurem manter uma presença forte e<br />
sistemática, voltando recorrentemente. A perseverança tende<br />
a ser recompensada. Um exemplo que acompanhei de perto é<br />
o ateliê do Steven Holl que investiu de forma intensa e metódica<br />
na China; lembro-me das suas primeiras viagens em 1990, e<br />
até <strong>dos</strong> primeiros embustes, até consolidar a relação forte que<br />
têm hoje.<br />
NÃO CONFIEM INTEGRALMENTE<br />
Mantenham um saudável grau de desconfiança da concorrência.<br />
Maus conselhos já me fizeram perder importantes projectos<br />
porque acreditei na experiência <strong>dos</strong> que “já lá estavam”.<br />
Sempre que fazemos prospecção ou scouting numa região ou<br />
país e reunimos com colegas locais é necessário filtrar com<br />
grande cuidado o que nos dizem. Frequentemente verifico que<br />
por detrás do generoso auxílio, existe desinformação, preconceito,<br />
subterfúgio e meias-palavras com o objectivo de dificultar<br />
e ampliar as barreiras à entrada.<br />
Mais do que<br />
nunca, os<br />
arquitectos são<br />
chama<strong>dos</strong><br />
a avaliar a<br />
seriedade do<br />
potencial<br />
cliente que<br />
têm pela frente