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BOLETIM ARQUITETOS 229.indd - Ordem dos Arquitectos

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Internacionalização DA<br />

arquitectura<br />

JOSÉ MANUEL FERNANDES, membro n.º 1003<br />

Dezembro 2012<br />

É<br />

interessante (re)pensar a internacionalização da arquitectura<br />

portuguesa desde vários pontos de vista, diferencia<strong>dos</strong><br />

temporalmente.<br />

Um deles é o de considerar essa internacionalização como ocorrendo<br />

desde o século XV. Neste campo, Portugal encetou o processo de<br />

“tempo longo” conhecido como da Expansão Marítima, que haveria<br />

de se constituir em matriz indelével, identitária, inseparável do<br />

ser português.<br />

A constituição de vários e sucessivos “impérios” transoceânicos, de<br />

África à India, desta ao Brasil, e deste, de novo, a África, atravessou<br />

seis séculos, do Quatrocentos ao século XX. Mas, fruto de um<br />

Estado-Governo nacional sempre de tipo “débil” (como Lúcio de<br />

Azevedo tão bem ajudou a caracterizar no livro de história económica<br />

“Épocas de Portugal Económico”, em mea<strong>dos</strong> de Novecentos)<br />

– Portugal, com uma escassa população de “finisterra”, com recursos<br />

minerais e agrícolas muito limita<strong>dos</strong>, como uma área territorial<br />

diminuta, sempre esteve empenhado, endividado, pois todo o gigantesco<br />

esforço de construção de frotas navais, de fortificações, de<br />

centenas e centenas de arquitecturas e de dezenas de cidades alématlântico,<br />

– esforço esse paulatinamente mundializado, teria de ser<br />

financiado por entidades com recursos que escapavam obviamente<br />

às possibilidades do “fraco” Estado português. Os banqueiros da<br />

Flandres, de Centro Europa, de Itália, foram os credores quase permanentes<br />

da Coroa lusitana, mesmo nas épocas de glória financeira<br />

mais aparente, como a do Ouro da Mina, da Pimenta da Índia,<br />

<strong>dos</strong> Diamantes do Brasil. E, acrescento, da “Nova África” de 1860-<br />

1975.<br />

portuguesa<br />

uma reflexão<br />

Isto para dizer que este terá sido o contexto no qual o nosso País,<br />

envolvido, por vocação ou necessidade (pelas duas causas, possivelmente),<br />

num longo e continuado processo de construção e edificação<br />

além-mar, investiu frequente e certamente com arquitectosengenheiros<br />

de origem lusa, viajantes que percorreram as praças de<br />

Marrocos, os sertões do Brasil, os confins de África, até atingindo<br />

os minúsculos Macau e Nagasaki – mas que, de igual modo, essa<br />

primeira mundialização <strong>dos</strong> saberes e aplicações da arquitectura e<br />

urbanístca europeias (muito eivada ainda de um Medievo-Renascentismo<br />

nos primeiro século da Expansão lusa), foi igualmente<br />

(só) possível pela (dominante e) continuada “importação” de inúmeros<br />

autores, engenheiros militares, arquitectos, artistas, artífices,<br />

provin<strong>dos</strong> <strong>dos</strong> vários países europeus, com destaque para Itália,<br />

mas sem olvidar a França e as Espanhas, a Inglaterra, a Alemanha e<br />

todo o complexo centro-europeu.<br />

Ou seja, que a internacionalização da arquitectura portuguesa, ao<br />

longo da Idade Moderna, por escassez própria de saberes e de recursos,<br />

culturais e humanos, se fez necessariamente e muito de “de<br />

fora para dentro”, recebendo nós, finisterra porfiada mas pobre, a<br />

par das “nossas” áreas ultramarinas, o influxo das culturas arquitectónicas<br />

e urbanísticas europeias, de Torralvas, de Torrianos, de<br />

Cairatos, de Mardéis, de Fabris – além <strong>dos</strong> Arrudas e <strong>dos</strong> Santos/<br />

Maias, mesmo do (já meio luso-brasileiro) Francisco Lisboa, noblesse<br />

oblige.<br />

Este aspecto estrutural, “estrangeirado”, da nossa arquitectura<br />

mundializada, não lhe tirou curiosamente o sabor regionalista,

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