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Folias de Reis, Sambas do Povo; Ciclo de Reis em Goiânia ...

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Senri Ethnological Reports 1, 1994<br />

<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong>;<br />

<strong>Ciclo</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong>: Tradição e Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

Alberto T. IKEDA<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista Júlio <strong>de</strong> Mesquita Filho<br />

o presente trabalho enfoca uma das manifestações tradicionais <strong>do</strong><br />

catolicismo popular no Brasil, as FOLIAS DE REIS, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Goiânia</strong>, Capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás, distante 230 quilómetros <strong>de</strong><br />

Brasília-DFl). Além <strong>do</strong> registro <strong>do</strong>cumental <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>las (principalmente<br />

as folias baianas, pouco estudadas até o momento), o assunto traz<br />

implícita uma questão que já mereceu a preocupação <strong>de</strong> diversas áreas<br />

- historia<strong>do</strong>res, antropólogos e sociólogos - qual seja: a "convivência"<br />

e as contradições entre a cultura tradicional (representativa <strong>de</strong> um<br />

Brasil <strong>de</strong> feições agrárias) e a cultura chamada "mo<strong>de</strong>rna" (das gran<strong>de</strong>s<br />

cida<strong>de</strong>s: das ativida<strong>de</strong>s industriais, da comunicação <strong>de</strong> massa, das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços, da especialização profissional e da<br />

informática), subenten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se, aqui, as contraposições inter-grupos,<br />

classes sociais, ou, como t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> por vários estudiosos, mais<br />

recent<strong>em</strong>ente, entre "cultura popular e cultura <strong>do</strong>minante,,2). Porém,<br />

abordagens interpretativas aprofundadas não caberão neste artigo, que<br />

não se propõe extenso, mas nas Notas ena bibliografia estarei indican<strong>do</strong><br />

alguns autores on<strong>de</strong> t<strong>em</strong>as importantes po<strong>de</strong>rão ser melhor compreendi<strong>do</strong>s.<br />

Nesta questão, mais <strong>do</strong> que a simples oposição: mun<strong>do</strong> rural &<br />

mun<strong>do</strong> urbano, conforme aponta Carlos R. Brandão, há <strong>de</strong> se perceber<br />

<strong>em</strong> relação à transformação <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> viver rural para a vida da<br />

"mo<strong>de</strong>rna" cida<strong>de</strong> "a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> relações e <strong>de</strong> sujeitos<br />

sociais, para uma outra e para outros sujeitos, ou os mesmos, <strong>em</strong> novas<br />

posições e com novos interesses,,3>. Assim, t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> comum nos núcleos<br />

urbanos brasileiros que vivenciam o crescimento e a chamada "mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>",<br />

a não manutenção <strong>de</strong> práticas religiosas <strong>do</strong> tipo das folias <strong>de</strong><br />

reis, que têm se preserva<strong>do</strong> mais <strong>em</strong> ambientes rurais ou pequenas<br />

167


168 A. T. Ikeda<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> "espírito" pre<strong>do</strong>minant<strong>em</strong>ente rural. Naturalmente, até <strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s como São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro registram-se folias <strong>de</strong><br />

reis, <strong>em</strong> alguns bairros, porém <strong>de</strong> forma isolada e s<strong>em</strong> maiores<br />

repercussões no contexto geral <strong>de</strong>stas. Diferent<strong>em</strong>ente, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Goiânia</strong>, apesar da sua atual conjuntura nos mol<strong>de</strong>s das mo<strong>de</strong>rnas<br />

cida<strong>de</strong>s, mantém <strong>de</strong> forma bastante dinâmica e abundante a prática<br />

<strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> religiosa popular, alcança<strong>do</strong> até bairros <strong>de</strong> elite com o<br />

o Setor Sul e o Jardim América.<br />

A cida<strong>de</strong> possuia <strong>em</strong> 1988 (época <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> campo) <strong>em</strong> torno <strong>de</strong><br />

1.400.000 habitantes; ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> fundada <strong>em</strong> 1935, como núcleo urbano<br />

planejad0 4 ). Pelos censos <strong>de</strong> 1975 e 1980, vê-se que a cida<strong>de</strong> registrou<br />

no perío<strong>do</strong> um aumento <strong>de</strong> 89,1 % nas ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> setor <strong>de</strong> serviçosS), o<br />

que caracteriza b<strong>em</strong> o crescimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das particularida<strong>de</strong>s<br />

urbanas mo<strong>de</strong>rnas. Interessante, ainda, é que <strong>Goiânia</strong> atraiu população<br />

migrante das regiões interioranas <strong>do</strong> própio Esta<strong>do</strong> assim como <strong>de</strong><br />

vários Esta<strong>do</strong>s limítrofes, principalmente <strong>de</strong> Minas Gerais e <strong>do</strong> interior<br />

<strong>de</strong> Bahia, tornan<strong>do</strong>-se importante local para estu<strong>do</strong> das interpenetrações<br />

culturais <strong>de</strong>ssas diferentes regiões.<br />

Um jornal da cida<strong>de</strong> - O Popular, <strong>de</strong> 3/1/1988 - menciona a<br />

existência <strong>de</strong> "mais <strong>de</strong> trezentos grupos <strong>de</strong> foliões", informação essa<br />

que po<strong>de</strong> ser questionada. Pelas minhas indagações pu<strong>de</strong> ter referências<br />

da existência <strong>de</strong>sses grupos na maioria <strong>do</strong>s bairros e/ou vilas; alguns<br />

ten<strong>do</strong> até mais <strong>de</strong> uma folia. Levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta que a cida<strong>de</strong> possuia<br />

mais <strong>de</strong> 250 bairros e/ou vilas, po<strong>de</strong>-se supor que é bastante gran<strong>de</strong> a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las 6 ). Consultan<strong>do</strong>-se pessoas <strong>de</strong> estratos sociais e ida<strong>de</strong>s<br />

diferentes (populares nas ruas, merca<strong>do</strong>s, ro<strong>do</strong>viárias, lojas, etc.)<br />

percebe-se que não há praticamente qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>sconheça a existência <strong>de</strong><br />

uma ou outra folia. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, não se po<strong>de</strong> fazer a relação direta<br />

entre o número <strong>de</strong> bairros da cida<strong>de</strong> e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses grupos, pois a<br />

maioria das folias faz<strong>em</strong> andanças por vários bairros, e alguns possu<strong>em</strong><br />

até três grupos distintos, conforme se pô<strong>de</strong> constatar.<br />

Pelo menos três tipos diferentes <strong>de</strong> folias são encontradas <strong>em</strong><br />

<strong>Goiânia</strong>: sist<strong>em</strong>a mineiro, sist<strong>em</strong>a baiano e sist<strong>em</strong>a misto 7 ).<br />

As consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>ste artigo estão baseadas <strong>em</strong> contatos<br />

realiza<strong>do</strong>s. com oito grupos, sen<strong>do</strong>: três folias <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a mineiro, duas<br />

folias que incorporam tradições goianas/mineiras e baianas, e três folias<br />

<strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a baiano.


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

As <strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> - trata-se grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>votos <strong>do</strong>s Três <strong>Reis</strong><br />

Magos que; normalmente no perío<strong>do</strong> entre 24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro a 6 <strong>de</strong><br />

janeiroS), anualmente, portan<strong>do</strong> instrumentos musicais e um estandarte<br />

alusivo à <strong>de</strong>voção, faz<strong>em</strong> visitações nas casas, on<strong>de</strong> realizam louvações<br />

cantadas ao Menino Deus e aos <strong>Reis</strong> Magos (Baltazar, Melchior e<br />

Gaspar). a estandarte ou ban<strong>de</strong>ira traz s<strong>em</strong>pre a figura <strong>do</strong>s "<strong>Reis</strong><br />

Santos" e/ou cenas da nativida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> o símbolo representativo das<br />

folias 9 ). a número <strong>de</strong> componentes no grupo é varia<strong>do</strong>, na média entre 8<br />

a 12 el<strong>em</strong>entos. Além das cantorias louvativas, as folias angariam<br />

contribuições ("esmolas") para a realização da Festa <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> (6 <strong>de</strong><br />

janeiro). Naturalmente, comunicam e convidam os <strong>do</strong>nos das casas<br />

visitadas para os festejos. As "esmolas" variam <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada casa visitada; no geral são contribuições <strong>em</strong><br />

dinheiro (pequenas quantias) ou a <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> gêneros alimentícios<br />

(arroz, feijão, farinha, macarrão) e até mesmo pequenos animais<br />

(galinha, pato, etc), que são utiliza<strong>do</strong>s no dia da festa IO ).<br />

a ciclo <strong>de</strong> visitações Gornada ou giro) consiste, basicamente, <strong>de</strong>:<br />

saída <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada casa (pouso <strong>de</strong> saída); visitações e pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

esmolas <strong>em</strong> inúmeras casas, durante vários dias, <strong>em</strong> trajeto previamente<br />

estabeleci<strong>do</strong>; chegada à casa on<strong>de</strong> se encerra o ciclo (pouso ou casa da<br />

entrega). Simbolicamente as folias representam a história bíblica.<br />

Concretamente, trata-se <strong>de</strong> uma pequena unida<strong>de</strong> volante <strong>de</strong> evangelização<br />

e manutenção das tradições católico-populares.<br />

Ex<strong>em</strong>plo 1: CANTORIA DE SAÍDA (pauta musical <strong>em</strong> anexo)<br />

ai, glória ao Pai e glória ao filho J<br />

a Espírito Santo também<br />

bis=coro<br />

a Espírito Santo também<br />

ai, glória a Deus lá nas alturas<br />

ai, que nasceu pra nosso b<strong>em</strong><br />

ai, que nasceu pra nosso b<strong>em</strong><br />

Mas ô que hora tão sagrada<br />

Que reuniu neste salão<br />

Que reuniu neste salão<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

169


170<br />

Ai, procuran<strong>do</strong> os Treis <strong>Reis</strong> Santos<br />

Arreuniu seus fulião<br />

Arreuniu seus fulião<br />

Oi, ora viva os campos <strong>em</strong> fruto<br />

E tambén viva as arvi (árvores) <strong>em</strong> flor<br />

E tam bén viva as arvi <strong>em</strong> flor<br />

Oi, também viva a Virg<strong>em</strong> Maria<br />

Que é a mãe <strong>do</strong> Re<strong>de</strong>ntor<br />

Que é a mãe <strong>do</strong> Re<strong>de</strong>ntor<br />

Aos vinte e cinco <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro<br />

Ai, todas as árvores enfloresceu<br />

Ai, todas as árvores enfloresceu<br />

Ai, quan<strong>do</strong> o galo anunciou<br />

Ai, que Jesus Cristo nasceu<br />

Ai, que Jesus Cristo nasceu<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> quan<strong>do</strong> subero (souberam)<br />

Ai, que Jesus tinha nasci<strong>do</strong><br />

Ai, que Jesus tinha nasci<strong>do</strong><br />

Oi, partiro (partiram) <strong>do</strong> oriente<br />

Ai, to<strong>do</strong>s os treis arreuni<strong>do</strong><br />

Ai, to<strong>do</strong>s os treis arreuni<strong>do</strong><br />

Oi, na chegada da lapinha<br />

Ai, foram logo ajuelhan<strong>do</strong><br />

Ai, foram logo ajuelhan<strong>do</strong><br />

Oi, avistaram o Pai Eterno<br />

Ai, vossos pés foram beijan<strong>do</strong><br />

Ai, vossos pés foram beijan<strong>do</strong><br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

, bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

A. T. Ikeda<br />

bis=coro<br />

(foliões se ajoelham)<br />

bis=coro


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Ai, a<strong>do</strong>raram Menino Deus<br />

Ai, filho <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />

Ai, filho <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />

Ai, eles foram girá o mun<strong>do</strong><br />

Ai, entre caxas (caixas) e viola<br />

Ai, entre caxas e viola<br />

Oi, levantai filho <strong>de</strong> Deus<br />

Ai, que é filho da benção<br />

Ai, que é filho da benção<br />

Ai, vamos dar o nosso giro<br />

Oi, pá cumprir nossa missão<br />

Oi, pá cumprir nossa missão<br />

Ai, vô pedi pra o meu alfer (alferes)<br />

Que é o filho da Virg<strong>em</strong> Maria<br />

Que é o filho da Virg<strong>em</strong> Maria<br />

Que ponha a mão nessa ban<strong>de</strong>ra<br />

E v<strong>em</strong> benzê a Companhia<br />

E v<strong>em</strong> benzê a Companhia<br />

Oi, senhora <strong>do</strong>na da casa<br />

Oi, dá uma chegada até cá<br />

Oi, dá uma chegada até cá<br />

V<strong>em</strong> dispidi <strong>do</strong>s Treis <strong>Reis</strong> Santos<br />

Que precisamo viajar<br />

Que precisamo viajar<br />

Ai, senhores <strong>do</strong>no da casa<br />

. Oi, a<strong>de</strong>us até outro dia<br />

Oi, a<strong>de</strong>us até outro dia<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

171<br />

bis=coro<br />

(foliões se levantam)<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro


172<br />

Ai, voceis fica to<strong>do</strong>s com Deus<br />

E a Virg<strong>em</strong> Santa Maria<br />

E a Virg<strong>em</strong> Santa Maria<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> estará <strong>de</strong> volta<br />

Ai, no dia seis <strong>de</strong> janeiro<br />

Ai, no dia seis <strong>de</strong> janeiro<br />

Ai, eles vai repartí a bença<br />

Em nome <strong>do</strong> Pai Verda<strong>de</strong>ro<br />

Em nome <strong>do</strong> Pai Verda<strong>de</strong>ro<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> já vai se <strong>em</strong>bora<br />

Com os anjo baten<strong>do</strong> as asa<br />

Com os anjo baten<strong>do</strong> as asa<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

A. T. Ikeda<br />

Ai, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> cheia <strong>de</strong> glória<br />

Oi, a vossa bendita casa<br />

Oi, a vossa bendita casa<br />

bis=coro<br />

(As cantorias <strong>do</strong> coro - resposta - <strong>em</strong> muitas estrofes não<br />

reproduz<strong>em</strong> os versos integralmente; faz<strong>em</strong> praticamente imitação da<br />

sonorida<strong>de</strong> ouvida).<br />

Na cerimônia <strong>de</strong> Saída (l Q dia) realizam-se rezas (terço) diante <strong>de</strong><br />

um altar com as imagens <strong>do</strong>s santos <strong>de</strong> <strong>de</strong>voção <strong>do</strong> <strong>do</strong>no da casa e/ou<br />

com a figura <strong>do</strong> Menino Deus, on<strong>de</strong> se coloca acima a ban<strong>de</strong>ira da<br />

Folia. Acontec<strong>em</strong> também discursos; agra<strong>de</strong>cimentos à participação <strong>do</strong>s<br />

foliões; orientações <strong>do</strong> lí<strong>de</strong>r aos foliões, sobre os procedimentos<br />

espera<strong>do</strong>s durante as jornadas; avisos gerais; entrega das toalhas (divisa<br />

<strong>de</strong> fulião), que os foliões levam por sobre o pescoço; e a cantoria <strong>de</strong><br />

saída. É comum após a retirada da ban<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> altar os foliões<br />

. beijar<strong>em</strong>-na e passar<strong>em</strong> por <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong>sta. Concluí<strong>do</strong>s esses rituais o<br />

grupo inicia o primeiro dia <strong>de</strong> jornada.<br />

Em cada dia, os foliões faz<strong>em</strong> as refeições (almoço e jantar) nos<br />

chama<strong>do</strong>s "pousos" (<strong>de</strong> almoço, <strong>de</strong> janta e/ou <strong>de</strong> <strong>do</strong>rmida), que são<br />

combina<strong>do</strong>s previamente, geralmente <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> roteiro estabeleci<strong>do</strong><br />

para o "giro". A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casas visitadas <strong>em</strong> cada dia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

conta tos (pedi<strong>do</strong>s) realiza<strong>do</strong>s anteriormente ou <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> visita que<br />

vão surgin<strong>do</strong> à medida que o grupo evolui pelas ruas. À aproximação<br />

<strong>do</strong>s horários previstos para a chegada nos pousos é comum, se há<br />

atrasos, o rareamento <strong>de</strong> visitas,<strong>em</strong>bora uma folia nunca <strong>de</strong>va negar-se<br />

a um pedi<strong>do</strong> expresso <strong>de</strong> visita. Po<strong>de</strong> ocorrer também da folia aten<strong>de</strong>r<br />

pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> visita fora <strong>do</strong> roteiro estabeleci<strong>do</strong> (outros bairros),<br />

principalmente <strong>de</strong> pessoas amigas <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong> grupo; porém<br />

s<strong>em</strong> pre retomam o percurso original.<br />

Embora a tradição das folias seja a <strong>de</strong> pedir "<strong>do</strong>rmida" (<strong>de</strong>scanso<br />

noturno) no <strong>de</strong>correr das andanças, <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong> isto não foi verifica<strong>do</strong>:<br />

os foliões <strong>de</strong>ixam apenas a ban<strong>de</strong>ira e os instrumentos musicais na<br />

"casa <strong>do</strong> pouso", voltan<strong>do</strong> para <strong>do</strong>rmir<strong>em</strong> <strong>em</strong> suas próprias casas. No<br />

dia seguinte retornam para prosseguir<strong>em</strong> com a jornada.<br />

A cerimônia <strong>em</strong> cada casa visitada no geral se reveste <strong>de</strong> intensa<br />

<strong>em</strong>ocionalida<strong>de</strong>, já que os <strong>de</strong>votos se sent<strong>em</strong> receben<strong>do</strong> as próprias<br />

entida<strong>de</strong>s espirituais representadas na ban<strong>de</strong>ira. da folia. Consiste<br />

normalmente <strong>de</strong>:<br />

• cantoria <strong>de</strong> chegada e pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> entrada na casa<br />

• cantoria <strong>de</strong> saudação aos mora<strong>do</strong>res e pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> esmola<br />

• entrega da ban<strong>de</strong>ira ao (s) mora<strong>do</strong>r (es)<br />

• cantoria versan<strong>do</strong> sobre a Nativida<strong>de</strong> (quan<strong>do</strong> há presépio na casa<br />

faz-se a "A<strong>do</strong>ração <strong>do</strong> Presépio", cantada)<br />

• <strong>de</strong>volução da ban<strong>de</strong>ira à folia<br />

• recebimento da esmola<br />

• cantoria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento e <strong>de</strong>spedida.<br />

Comum ente, <strong>de</strong> uma única vez, faz-se o "pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> entrada",<br />

"saudação aos mora<strong>do</strong>res" e o "pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> esmolas", assim como não há<br />

rigor na cantoria <strong>de</strong> "a<strong>do</strong>ração <strong>do</strong> presépio" ou o momento específico <strong>do</strong><br />

recebimento da esmola.<br />

No tocante ainda aos aspectos rituais, a ban<strong>de</strong>ira por ser o símbolo<br />

máximo <strong>do</strong> culto aos <strong>Reis</strong> Magos é s<strong>em</strong>pre o centro das atenções e<br />

reverências, sen<strong>do</strong> comum que seja levadà (pelos próprios mora<strong>do</strong>res)<br />

aos vários aposentos da casa, sen<strong>do</strong> passada por cima <strong>do</strong>s mobiliários,<br />

como forma <strong>de</strong> benzimento. Da mesma forma, nas ruas é normal que<br />

transeuntes a beij<strong>em</strong> e se benzam toman<strong>do</strong> nas mãos as fitas que s<strong>em</strong>pre<br />

pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>la.<br />

Nos pousas "<strong>de</strong> almoço" e <strong>de</strong> "janta" os foliões s<strong>em</strong>pre cantam <strong>em</strong><br />

173


174 A. T. Ikeda<br />

agra<strong>de</strong>cimento pela refeição recebida, assim como costuman ovacionar<br />

(vivas) aos <strong>Reis</strong> Magos, aos <strong>do</strong>nos da casa, à cozinheira, etc; além <strong>de</strong><br />

realizar<strong>em</strong> rezas à mesa antes <strong>de</strong> iniciar<strong>em</strong> a refeição. Po<strong>de</strong> ocorrer após<br />

o repasto momentos <strong>de</strong> "brinca<strong>de</strong>iras", principalmente <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> jantar,<br />

com a realização <strong>de</strong> danças e cantorias profanas. Os foliões <strong>de</strong> tradição<br />

mineira/goiana costumam dançar o Catira (dança com palmea<strong>do</strong>s e<br />

sapatea<strong>do</strong>s) enquanto os grupos baianos executam principalmente o<br />

samba <strong>de</strong> roda e a chula(pautas musicais e consi<strong>de</strong>rações no final).<br />

Além da ban<strong>de</strong>ira, a toalha é impl<strong>em</strong>ento presente e importante<br />

nos grupos <strong>de</strong> folia, sen<strong>do</strong> usada por to<strong>do</strong>s os seus m<strong>em</strong>bros. São<br />

s<strong>em</strong>pre brancas e, na maioria das vezes, traz<strong>em</strong> bordadas inscrições<br />

alusivasà <strong>de</strong>voção. Usam-na <strong>do</strong>brada <strong>em</strong> quatro (no comprimento). Por<br />

ser também um· símbolo sagra<strong>do</strong>, não po<strong>de</strong> ser utilizada na forma<br />

convencional. Alguns <strong>de</strong>poimentos sobre o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas toalhas<br />

mostram b<strong>em</strong> a sua importância:<br />

• a toalha "significa, quan<strong>do</strong> São José e Nossa Senhora saíram com a<br />

toalha para <strong>em</strong>brulhar e escon<strong>de</strong>r o Menino Deus, quan<strong>do</strong> os ju<strong>de</strong>us<br />

estavam caçan<strong>do</strong> ele."<br />

• "a toalha é uma corrente pra livrar negócio maligno"<br />

• "a toalha é divisa (i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>) <strong>do</strong>s Treis <strong>Reis</strong> Magos, é os solda<strong>do</strong>s<br />

(guardiães )"<br />

• "a toalha é divisa <strong>de</strong> folião" (distingue aqueles que faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong><br />

grupo)<br />

• "há <strong>de</strong> se respeitá esse manto que enxugou Jesus Cristo no<br />

pa<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong>le"<br />

Estrutura Funcional das <strong>Folias</strong><br />

A li<strong>de</strong>rança <strong>do</strong>s grupos se dá a partir <strong>do</strong> "<strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r" da folia,<br />

que geralmente é o m<strong>em</strong>bro organiza<strong>do</strong>r e que t<strong>em</strong> maior experiência e<br />

conhecimentos sobre a prática <strong>de</strong>stas. São chama<strong>do</strong>s também <strong>de</strong><br />

"mestre", "capitão" ou "guia".<br />

A ele cabe a iniciativa' das cantorias, como voz principal, além <strong>de</strong><br />

tu<strong>do</strong> que se refira à organização <strong>do</strong> grupo: <strong>de</strong>cisões sobre o percurso a<br />

ser cumpri<strong>do</strong>, perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> giro, horários, contatos para estabelecer as<br />

casas <strong>do</strong>s pousos, convocação <strong>do</strong>s músicos, etc. Em gran<strong>de</strong> parte, os<br />

lí<strong>de</strong>res segu<strong>em</strong> tradições herdadas <strong>do</strong> pai ou algum parente (avô, tio,<br />

irmão mais velho), e há nos processos <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> efetiva da li<strong>de</strong>rança


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

para novos lí<strong>de</strong>res vários anos <strong>de</strong> treino. Além da relação <strong>de</strong> parentesco<br />

entre m<strong>em</strong>bros das folias há comumente os casos <strong>de</strong> compadrio.<br />

Exist<strong>em</strong> também folias que são organizadas apenas durante um certo<br />

número <strong>de</strong> anos (no geral sete), somente para cumprimento <strong>de</strong><br />

promessa. Nesses casos é comum que o "<strong>do</strong>no" da folia convi<strong>de</strong> um<br />

<strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r para a realização das jornadas, caben<strong>do</strong> ao primeiro toda a<br />

parte organizativa e ao segun<strong>do</strong> a li<strong>de</strong>rança ritualística religiosa. Nas<br />

andanças das folias esses lí<strong>de</strong>res, muitas vezes, são alça<strong>do</strong>s à condição<br />

<strong>de</strong> guias espirituais junto à população, sen<strong>do</strong> solicita<strong>do</strong>s para<br />

aconselhamentos nos probl<strong>em</strong>as que afetam os <strong>de</strong>votos.<br />

Além <strong>do</strong> mestre, a maior experiência entre m<strong>em</strong>bros <strong>do</strong>s grupos é<br />

s<strong>em</strong>pre fator que auxilia no reconhecimento <strong>de</strong> outras li<strong>de</strong>ranças, nos<br />

casos <strong>de</strong> eventual substituição na chefia <strong>do</strong>s grupos. Po<strong>de</strong> existir, assim,<br />

a figura <strong>do</strong> "contra-mestre", que é um segun<strong>do</strong> el<strong>em</strong>ento na hierarquia<br />

das folias e que geralmente se incumbe <strong>de</strong> chamada "segunda voz" nas<br />

cantorias.<br />

Varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> grupo para grupo exist<strong>em</strong>, também: "Alferes", que<br />

carrega a ban<strong>de</strong>ira e recebe as esmolas (<strong>em</strong> alguns grupos o recebimento<br />

das esmolas é feito pelo palhaço); "Fiscal", que cuida da parte<br />

disciplinar <strong>do</strong>s foliões; "Regente", que po<strong>de</strong> ser responsável pela<br />

disciplina ou se encarregar <strong>do</strong> controle <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> bebida alcoólica (no<br />

geral a pinga) que alguns grupos levam "para resolver o probl<strong>em</strong>a <strong>do</strong><br />

pigarro (rouquidão) na voz", pelos vários dias <strong>de</strong> cantorias. <strong>Folias</strong> que<br />

giram <strong>em</strong> regiões rurais costumam manter o "Carguerero" (que carrega<br />

a carga = esmolas), também chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> "Malero" (<strong>de</strong> mala) e<br />

"Ajudantes", para a guarda e o transporte das <strong>do</strong>ações recebidas durante<br />

o giro.<br />

Em várias folias, notadamente as <strong>de</strong> tradição mineira, ou por estas<br />

influenciadas, uma figura importante é o "palhaço" (geralmente <strong>do</strong>is),<br />

chama<strong>do</strong> também "marungo", "marujo", "boneco" ou "bastião".<br />

Vest<strong>em</strong> roupas largas e coloridas, <strong>em</strong> cores berrantes, s<strong>em</strong>pre usam<br />

máscara e chapéu cônico (ou cobr<strong>em</strong> a cabeça com toalha), e portam<br />

um· bastão <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou um chicote. A eles cab<strong>em</strong> papéis cômicos<br />

(dançam <strong>de</strong>sengonçadamente o "lundum", dirig<strong>em</strong> gracejos aos<br />

transeuntes e aos <strong>do</strong>nos das casas) e, ainda, ficam encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

proteger os m<strong>em</strong>bros da folia quan<strong>do</strong> estes são ameaça<strong>do</strong>s por cachorros<br />

ao se aproximar<strong>em</strong> das casas;também, vão à frente da folia para indagar<br />

175


176 A. T. Ikeda·<br />

os mora<strong>do</strong>res sobre o interesse ou não <strong>em</strong> receber<strong>em</strong> o grupo. Para as<br />

crianças, principalmente as menores, os palhaços são s<strong>em</strong>pre motivo <strong>de</strong><br />

me<strong>do</strong>, pelo uso da máscara (<strong>em</strong> geral aterra<strong>do</strong>ra) e por estar<strong>em</strong> o t<strong>em</strong>po<br />

to<strong>do</strong> <strong>em</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> agitação: corren<strong>do</strong> atrás das crianças ou<br />

perturban<strong>do</strong> os animais <strong>do</strong>mésticos das casas. Os palhaços têm<br />

simbologia variada nas folias, sen<strong>do</strong> na maioria das vezes i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s<br />

com "o mal" (espião <strong>do</strong> Rei Hero<strong>de</strong>s ll ) ou representantes <strong>do</strong> diabo );mas<br />

exist<strong>em</strong> também <strong>de</strong>clarações inversas, <strong>de</strong> que são "os guias da ban<strong>de</strong>ra"<br />

ou que "os palhaços são <strong>do</strong>is: um dançou pra distraí o Rei Hero<strong>de</strong> e o<br />

outro fugiu com o Menino (Deus)", portanto, representan<strong>do</strong> "o b<strong>em</strong>"12).<br />

Apesar da li<strong>de</strong>rança "natural" <strong>do</strong>s mestres, pelos aspectos já<br />

ponta<strong>do</strong>s, alguns reforçam este ponto através da or<strong>de</strong>m estabelecida<br />

vigente (estrutura oficial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r), com, p.ex., a aplicação <strong>do</strong><br />

"Regulamento da Folia", com base no Alvará (autorização) Policial a<br />

que as folias estiveram submetidas na cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos anteriores.<br />

Segun<strong>do</strong> alguns <strong>de</strong>poimentos, os alvarás eram obrigatórios "antigamente",<br />

não o sen<strong>do</strong> mais. Percebe-se, no entanto, que alguns lí<strong>de</strong>res<br />

faz<strong>em</strong> questão <strong>de</strong> colocar aos foliões as regras disciplinares, muito <strong>em</strong><br />

função <strong>do</strong> que constava nos alvarás, conforme ex<strong>em</strong>plo a seguir:<br />

(Regulamento li<strong>do</strong> por um "capitão" <strong>de</strong> folia, no dia da saída)<br />

1) "Não é permiti<strong>do</strong> a presença (na folia) <strong>de</strong> pessoas armadas ou<br />

<strong>em</strong> briagadas"<br />

2) "Não é permitida a presença <strong>de</strong> menores <strong>de</strong>sacompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> seus<br />

pais ou responsáveis"<br />

3) "Fazer silêncio quan<strong>do</strong> chegar a noite ... A partir das 19 horas ...<br />

porque 18 horas o sol ainda tá alto ... então caladinho igual aos<br />

<strong>Reis</strong> Magos"<br />

4) "Dar ciência às autorida<strong>de</strong>s. Se as autorida<strong>de</strong> procurá o que nó is<br />

tamo fazen<strong>do</strong>, nóis tamo giran<strong>do</strong> com a folia pra cumpri uma<br />

missão. As autorida<strong>de</strong> são as polícia civil ou militar ou <strong>do</strong><br />

exército."<br />

5) "fulião não po<strong>de</strong> sair antes <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a mesa, na hora da<br />

refeição",<br />

6) "fulião não po<strong>de</strong> sair com a toalha no pescoço para o buteco (bar).<br />

Se for comprá um cigarro ou fósforo, pega a toalha e dá pra outro<br />

solda<strong>do</strong>, outro irmão <strong>de</strong>le, comprá o fósforo. Se o público vê o<br />

fulião num buteco ... po<strong>de</strong> pensá que ele tá beben<strong>do</strong>. E as vez ele


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

tá lá beben<strong>do</strong>."<br />

7) "não fazer algazarra. Agarra... achou uma menina (mulher)<br />

bonita, <strong>de</strong>ixa pra <strong>de</strong>pois da folia. Respeitá esse manto que<br />

enxugou Jesus Cristo no pa<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong>le"<br />

8) "não perturbar o sossego público."<br />

9) "não chegar atrasa<strong>do</strong>."<br />

10) "não mexer nas coisas alheia. Não <strong>em</strong>prestar os instrumento."<br />

("Capitão Amantino" - Arg<strong>em</strong>iro Isi<strong>do</strong>ro <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> - Folia <strong>do</strong><br />

Setor Pedro Lu<strong>do</strong>vico, 1/1/1988)<br />

Ex<strong>em</strong>plo 2: CANTORIA DE AGRADECIMENTO PELO ALMOÇO<br />

(pauta musical <strong>em</strong> anexo)<br />

Ai, bendito louva<strong>do</strong> seja J<br />

bis<br />

As treis palavra <strong>de</strong> Deus<br />

Pai e Filho e Sprito (Espírito) Santo J<br />

Seja pelo amor <strong>de</strong> Deus<br />

bis<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong>, ai, procurô<br />

Que é pra to<strong>do</strong>s fulião<br />

Respon<strong>de</strong>u Nossa Senhora<br />

Pois o Filho t<strong>em</strong> benção<br />

Ai, Deus lhe pague o belo almoço<br />

Que v6is <strong>de</strong>u pra os fulião<br />

Quan<strong>do</strong> for no outro mun<strong>do</strong><br />

De Deus t<strong>em</strong> a sarvação<br />

Ai, Deus que pague ao belo pão<br />

É o pão <strong>de</strong> cada dia<br />

Santo <strong>Reis</strong> que lhe abençoa<br />

Por toda sua familia<br />

Ai, Deus lhe pague ao belo armoço<br />

E também o seu café<br />

Santo <strong>Reis</strong> que lhe ajuda<br />

"São Joaquim e São José<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

177


178<br />

Ai, lá no céu <strong>de</strong>sceu treis vela<br />

Toda as treis <strong>de</strong>sceu acesa<br />

É os Treis <strong>do</strong> Oriente<br />

Abençoan<strong>do</strong> esta mesa<br />

Ai, lá vai a garça voan<strong>do</strong><br />

E nos aros (ares) bateu as asa<br />

Vai voan<strong>do</strong> e vai dizen<strong>do</strong><br />

Viva o <strong>do</strong>no <strong>de</strong>ssa casa<br />

Ai, a garça que avuô<br />

Nos aros (ares) bateu traveis (outra vez)<br />

Vai voan<strong>do</strong> e vai dizen<strong>do</strong><br />

viva o nosso Santo <strong>Reis</strong><br />

Ai, senhor o <strong>do</strong>no da casa<br />

É o ministro da lapinha<br />

O senhor o Santo <strong>Reis</strong><br />

É (há) <strong>de</strong> ser sua companhia<br />

Ai, Deus vos salve Casa Santa<br />

Casa Santa <strong>de</strong> Belém<br />

Se a morte não nos matá<br />

Até o ano que v<strong>em</strong><br />

Ai, ofereço este Bendito<br />

Pra o Senhor que está na cruz<br />

Em louvor <strong>do</strong>s Treis <strong>Reis</strong> Santo<br />

Para s<strong>em</strong>pre amém Jesus<br />

A. T. Ikeda<br />

Os Foliões<br />

Em <strong>Goiânia</strong> os foliões são basicamente das baixas classes<br />

econômicas, exercen<strong>do</strong> profissões como: pedreiro, vigia, ajudante <strong>de</strong><br />

serviços gerais, faxineiro, feirante; ten<strong>do</strong> um ou outro <strong>de</strong> melhor<br />

condição profissional (eletrotécnico, funcionário público com certa<br />

graduação, agente <strong>de</strong> polícia, pequeno comerciante). No caso das<br />

mulheres, que são comuns nas folias <strong>de</strong> migrantes baianos, a maioria<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis<br />

bis


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

<strong>de</strong>dica-se aos trabalhos <strong>do</strong>mésticos. Em geral, existe nos grupos o<br />

probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> compatibilização entre o trabalho e a participação nas<br />

folias, já que são vários dias <strong>de</strong> jornada. Alguns foliões consegu<strong>em</strong><br />

soluções como: pedi<strong>do</strong> prévio <strong>de</strong> férias na época das jornadas ou a<br />

simples falta ao trabalho, enquanto outros têm participação na folia <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s dias ou horas, que intercalam com o trabalho profissional.<br />

Tu<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> "cumprir a <strong>de</strong>voção". Enquanto alguns grupos<br />

consegu<strong>em</strong> a participação permanente <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus m<strong>em</strong>bros, outros<br />

recorr<strong>em</strong> à substituição <strong>de</strong> alguns el<strong>em</strong>entos no <strong>de</strong>correr das jornadas<br />

<strong>em</strong> função <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as com o trabalho. Os lí<strong>de</strong>res são s<strong>em</strong>pre fixos,<br />

dificilmente ocorren<strong>do</strong> substituição.<br />

Diferentes Tipos <strong>de</strong> <strong>Folias</strong> (com base na estrutura musical)<br />

Sist<strong>em</strong>a Mineiro - São as mais comuns na cida<strong>de</strong>. Realizam<br />

cantorias <strong>em</strong> andamento no geral entre M.M. J =72 a 88, com várias<br />

vozes (6 ou mais), <strong>em</strong> forma responsorial (solo/coro) e <strong>em</strong> harmonia<br />

pre<strong>do</strong>minante <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a tonal tradicional. Assim, <strong>em</strong> cada<br />

estrofe cantada repete-se a forma responsorial entre solista e resposta<br />

coral. As vozes, no coro, notadamente as mais agudas, entram e se<br />

ajustam no <strong>de</strong>correr da cantoria, chegan<strong>do</strong> ao final <strong>de</strong> cada estrofe com<br />

a sobreposição da totalida<strong>de</strong> das vozes. Normalmente <strong>do</strong>bram-se <strong>em</strong><br />

oitavas (falsete) as vozes mais graves, a partir da harmonia <strong>de</strong> base (3 a .,<br />

Sa. ou 6 a .). Não se po<strong>de</strong> dizer que existe um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> harmonização<br />

uniforme o t<strong>em</strong>po to<strong>do</strong>, pois esta se faz <strong>de</strong> forma intuitiva e ajustada a<br />

cada momento, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ocorrer evolução paralela das vozes ou a<br />

realização <strong>de</strong> notas pedais, crian<strong>do</strong>-se contrapontos e inversões<br />

harmônicas. As bases harmônicas são, entretanto, fundadas nos acor<strong>de</strong>s<br />

da harmonia tradicional tonal. Naturalmente, ten<strong>do</strong> s<strong>em</strong>pre a<br />

sustentação harmônica e melódica <strong>de</strong> instrumentos musicais, como:<br />

sanfona, viola(s), violão(ões), cavaquinho(s), rabeca (violino), sob a<br />

marcação rítmica da caixa, <strong>do</strong> pan<strong>de</strong>iro e <strong>do</strong> triângulo. Nota-se nesses<br />

grupos gran<strong>de</strong> ênfase no que se refere à parte harmônica. Instrumentos<br />

musicais <strong>de</strong> registro agu<strong>do</strong>, como o cavaquinho e a rabeca, costumam<br />

realizar solos paralelos às vozes, assim como as introduções, os<br />

interlúdios e as finalizações, juntamente com a sanfona.<br />

No geral as folias mineiras têm participação só <strong>de</strong> homens.<br />

Sist<strong>em</strong>a Baiano - Po<strong>de</strong>-se dizer que <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong> exist<strong>em</strong> <strong>do</strong>is<br />

179


180 A. T. Ikeda<br />

tipos <strong>de</strong> folias praticadas por migrantes <strong>do</strong> interior da Bahia: "Folia <strong>de</strong><br />

Gaita" e "Folia <strong>de</strong> Música"13).<br />

A Folia <strong>de</strong> Gaita baseia-se no uso <strong>de</strong> duas flautas <strong>de</strong> bico (pífanos)<br />

<strong>de</strong>nominadas "gaitas" ou "pifes" e instrumentos <strong>de</strong> percussão: "bumba",<br />

"tambor" ou "caxa", além <strong>de</strong> outros como o "requi-requi" (reco-reco),<br />

pan<strong>de</strong>iro, triângulo e o "maracaxá"( chocalho ).Trata-se <strong>do</strong> tradicional<br />

"Terno <strong>de</strong> Pifes" ou "Zabumba", comum na região nor<strong>de</strong>stina <strong>do</strong> Brasil.<br />

O bumba e o tambor são tambores <strong>de</strong> tamanhos varia<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>nominan<strong>do</strong>se<br />

bumba ao maior <strong>de</strong>les.<br />

A música da folia <strong>de</strong> gaita t<strong>em</strong> andamento entre M.M. J =100 a<br />

138, notan<strong>do</strong>-se ênfase no aspecto rítmico, sen<strong>do</strong> comum na melodia o<br />

uso <strong>de</strong> células rítmicas sincopadas, conferin<strong>do</strong>-lhes caráter dançável,<br />

contrapon<strong>do</strong>-se à <strong>do</strong>lência e ao quadradismo rítmico-melódico das folias<br />

mineiras. As gaitas realizam introduções, interlúdios (melodia<br />

instrumental entre as estrofes cantadas) e os encerramentos, nas<br />

cantorias. São executadas pre<strong>do</strong>minant<strong>em</strong>ente <strong>em</strong>. terças paralelas,<br />

enquanto as vocalizações se faz<strong>em</strong> também <strong>em</strong> duplas (<strong>em</strong> oitavas,<br />

uníssono ou <strong>em</strong> terças). S<strong>em</strong>pre se intercalam solo instrumental e<br />

cantoria vocal. As melodias nesses grupos fog<strong>em</strong> à tradição tonal<br />

tradicional, existin<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minante uso <strong>de</strong> escalas <strong>de</strong>fectivas (escalas<br />

não completas, com 3, 5 ou 6 notas), <strong>em</strong>bora ten<strong>do</strong> base tonal. Os solos<br />

das gaitas tanto po<strong>de</strong>m repetir a melodia vocal quanto realizar solo<br />

diverso <strong>de</strong>sta 14).<br />

A Folia <strong>de</strong> Música se caracteriza pelo uso <strong>de</strong> instrumentos<br />

harmônicos convencionais como a sanfona, viola, violões, além da<br />

percussão, porém, manten<strong>do</strong> cantos da tradição baiana, conforme<br />

aponta<strong>do</strong> anteriormente. Assim, também, têm andamento mais rápi<strong>do</strong><br />

que as folias mineiras. Verifica-se nestas a mesma forma <strong>de</strong><br />

intercalação entre canto e solo instrumental.<br />

. Segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> vários foliões baianos, os grupos daquela<br />

região não costumam ter ban<strong>de</strong>ira, porém a<strong>do</strong> taram -na <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong> <strong>em</strong><br />

função da tradição local 1S ).<br />

Nas folias baianas é comum a participação <strong>de</strong> mulheres, muitas<br />

vezes, ten<strong>do</strong> li<strong>de</strong>rança no grupo, inclusive nas cantorias; haven<strong>do</strong><br />

também grupos só <strong>de</strong> homens.<br />

Sist<strong>em</strong>a Misto - São folias que incorporaram músicas <strong>do</strong>s<br />

diversos sist<strong>em</strong>as (mineiro, goiano e baiano), muitas vezes, por


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

reunir<strong>em</strong> foliões <strong>de</strong> tradições diferentes. Geralmente têm pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong><br />

sist<strong>em</strong>a mineiro na parte instrumental. Percebe-se nelas influências<br />

mútuas, como é o caso <strong>de</strong> uma das folias pesquisadas (Jardim<br />

Guanabara) cujo <strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r l6 ) nasceu <strong>em</strong> Goiás, mas conhece e pratica<br />

formas <strong>de</strong> cantorias <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as goiano, mineiro e baiano.<br />

Sist<strong>em</strong>a Goiano - Segun<strong>do</strong> a pesquisa<strong>do</strong>ra Yara Moreira,<br />

"consiste <strong>de</strong> quatro cantores, <strong>do</strong>is homens e <strong>do</strong>is meninos. Estes cantam<br />

'por cima' das vozes masculinas, ou seja, o canto é realiza<strong>do</strong> por duas<br />

vozes <strong>do</strong>bradas"17). Desse tipo não pu<strong>de</strong> contatar nenhum grupo <strong>em</strong><br />

<strong>Goiânia</strong>. A própria pesquisa<strong>do</strong>ra diz não ser comum encontrar-se grupos<br />

<strong>de</strong>sse tipo atualmente <strong>em</strong> Goiás, assim como também vários participantes<br />

das folias pesquisadas <strong>de</strong>clararam não ter<strong>em</strong> conhecimento <strong>de</strong><br />

folias goianas na cida<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> informações <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les 18 ), o sist<strong>em</strong>a<br />

goiano consiste <strong>de</strong> "tirar música <strong>em</strong> três pessoas e respondê com três<br />

também", <strong>de</strong>poimento este que diverge <strong>do</strong> da pesquisa<strong>do</strong>ra citada.<br />

Ex<strong>em</strong>plo 3: CANTORIA DE AGRADECIMENTO PELO ALMOÇO<br />

E HOMENAGEM A PESSOA FALECIDA<br />

(Pauta musical: o mesmo <strong>do</strong> ex. 1, no final)<br />

1<br />

Ai, Jesus Cristo perguntô<br />

Ai, qu<strong>em</strong> tratô <strong>do</strong>s fulião<br />

bis=coro<br />

Ai, qu<strong>em</strong> tratô <strong>do</strong>s fulião<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> arrespon<strong>de</strong>u<br />

É esses filhos da benção<br />

É esses filhos da benção<br />

Ai, Deus vos pague o alimento<br />

Ai, que tirô a nossa fome<br />

Ai, que tirô a nossa fome<br />

Que vóis tenha outra lá no céu<br />

Ai, <strong>do</strong> manjar que os anjo come<br />

Ai, <strong>do</strong> manjar que os anjo come<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

181


182 A. T. Ikeda<br />

Ai, Deus vos pague o alimento<br />

Oi, que vóis <strong>de</strong>u <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> bis=coro<br />

Oi, que vóis <strong>de</strong>u <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong><br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> que lhe abençoa<br />

Também vos dê felicida<strong>de</strong> bis=coro<br />

Também vos dê felicida<strong>de</strong><br />

O alimento que vós <strong>de</strong>u<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> que lhe aju<strong>de</strong> bis=coro<br />

Ai, os Treis <strong>Reis</strong> que lhe aju<strong>de</strong><br />

Oi, que não falte os vossos pão<br />

Também vos dê vida e saú<strong>de</strong> bis=coro<br />

Também vos dê vida e saú<strong>de</strong><br />

Oi, entregai essa ban<strong>de</strong>r&<br />

Oi, pra aquela rica senhora bis=coro<br />

Oi, pra aquela rica senhora<br />

Ai, vô pedi meus fulião<br />

Ai, um silenço b<strong>em</strong> profun<strong>do</strong> bis=coro<br />

Ai, um silenço b<strong>em</strong> profun<strong>do</strong><br />

Oi, pra cantá pra um cristão<br />

Que já está no outro mun<strong>do</strong> bis=coro<br />

Que já está no outro mun<strong>do</strong><br />

Que já entrego a vossa alma<br />

Pra o Divino Pai Eterno bis=coro<br />

Pra o Divino Pai Eterno<br />

Que os Treis <strong>Reis</strong> <strong>do</strong> Oriente<br />

Oi, livrai <strong>do</strong> fogo <strong>do</strong> inferno bis=coro<br />

Oi, livrai <strong>do</strong> fogo <strong>do</strong> inferno


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Ai, bendito louva<strong>do</strong> seja<br />

Que para s<strong>em</strong>pre seja louva<strong>do</strong><br />

Que para s<strong>em</strong>pre seja louva<strong>do</strong><br />

Oi, que Deus tenha lá no céu<br />

Ai, este morto sepulta<strong>do</strong><br />

Ai, este morto sepulta<strong>do</strong><br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

As Cantorias - Os Versos<br />

As cantorias se compõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> versos tradicionais (prontos) e <strong>de</strong><br />

versos improvisa<strong>do</strong>s ou menos usuais, quan<strong>do</strong> surg<strong>em</strong> situaçÕes on<strong>de</strong> o<br />

"<strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r" os cria para o atendimento <strong>de</strong>stas; p.ex., cantar<br />

mencionan<strong>do</strong> pessoa falecida ou pedir pela recuperação da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

algum m<strong>em</strong>bro <strong>do</strong>ente da casa. Nos casos <strong>em</strong> que há promessa <strong>do</strong>s<br />

mora<strong>do</strong>res das residências visitadas, o "mestre" s<strong>em</strong>pre faz menção ao<br />

fato, toman<strong>do</strong> para si o direito <strong>de</strong>, <strong>em</strong> nome <strong>do</strong>s <strong>Reis</strong> Magos, reconhecer<br />

e dar por cumprida a promessa feita.<br />

A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estrofes nas cantorias é bastante variada,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada situação ou <strong>de</strong> cada <strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r. Po<strong>de</strong>m ocorrer<br />

cantorias <strong>de</strong> três até quarenta estrofes, conforme registra<strong>do</strong> nas folias<br />

pesquisadas. O número <strong>de</strong> estrofes se gradua, segun<strong>do</strong> me parece,<br />

conforme a importância <strong>do</strong> momento; assim, as cantorias das<br />

cerimônias <strong>de</strong> "saída", da "entrega" ou <strong>de</strong> "agra<strong>de</strong>cimento pelas<br />

refeições" são s<strong>em</strong>pre longas. De mesma forma a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estrofes<br />

po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong> casa para casa até pela quantia <strong>de</strong> esmola recebida, ou se<br />

são pessoas amigas <strong>do</strong>s foliões, ou, ainda, se a folia está atrasada para a<br />

chegada aos pousos. A impressão que se t<strong>em</strong> é que muitos mestres <strong>de</strong><br />

folia passaram a abreviar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> versos nas cantorias, pelo<br />

gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casas que visitam na cida<strong>de</strong> (isto não <strong>de</strong>ve ocorrer<br />

nas regiões interioranas on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional é menor).<br />

Segun<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s mestres entrevista<strong>do</strong>sl 9 ) são os seguintes os tipos <strong>de</strong><br />

cantorias, tradicionalmente:<br />

"Anunciação e a viag<strong>em</strong>", 25 estrofes<br />

"<strong>do</strong> Nascimento", 25 estrofes<br />

"Viag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s Oriente", 24 estrofes<br />

"Saudação <strong>do</strong> Centro (Espírita)", 24 estrofes<br />

"Saudação <strong>do</strong> altar", 12 estrofes<br />

183


184<br />

A. T. Ikeda<br />

"Recebimento das Treis Coroa", 25 estrofes<br />

"De promessa ou voto", 6 estrofes<br />

"Para pessoa falecida", 7 estrofes<br />

"Despedida <strong>do</strong> altar e agra<strong>de</strong>cimento", ?<br />

Na gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s casos os versos se faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> re<strong>do</strong>ndilha<br />

maior (sete pés), sen<strong>do</strong> que as estrofes se formam <strong>em</strong> consonância com<br />

a frase musical, baseadas <strong>em</strong> 'dísticos e quadras.<br />

ai, glória ao Pai e glória ao Filho<br />

a Espírito Santo também bis<br />

a Espírito Santo também<br />

(Dístico, com repetição <strong>do</strong> 2° verso e nova repetição integral pelo<br />

coro)<br />

Bendito louva<strong>do</strong> seja<br />

As treis palavra _ <strong>de</strong> Deus bis<br />

Pai e Filho Sprito Santo<br />

Seja pelo amor <strong>de</strong> Deus bis<br />

(Quadra, com repetição <strong>do</strong>s versos <strong>do</strong>is a <strong>do</strong>is)<br />

São José, Nossa Senhora<br />

São José, Nossa Senhora<br />

Manda<strong>do</strong> com São João<br />

Manda<strong>do</strong> com São João<br />

Santo <strong>Reis</strong> mandô dizê<br />

,- Que ajoelhe os fulião<br />

(Quadra, com repetição <strong>do</strong> 1° e 2° verso)<br />

Senhora <strong>do</strong>na da casa<br />

Deus lhe dê uma boa tar<strong>de</strong> bis<br />

Ai, meu Deus<br />

Deus lhe dê uma boa tar<strong>de</strong><br />

(a rigor trata-se <strong>de</strong> um dístico, já que a 2° verso se repete, <strong>de</strong> forma<br />

conclusiva na parte musical. Percebe-se aí a a<strong>de</strong>quação à frase musical)


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Vi<strong>em</strong>os cantar os <strong>Reis</strong><br />

Vi<strong>em</strong>os cantar os <strong>Reis</strong><br />

Cantamos com alegria<br />

Cantamos com alegria<br />

(Dístico, com repetição intercalada <strong>do</strong>s versos)<br />

As cantorias se faz<strong>em</strong> basicamente <strong>em</strong> ritmo binário, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

grava<strong>do</strong>s apenas 2 casos <strong>de</strong> ritmo binário composto.<br />

o Dia da Entrega<br />

O dia "da entrega" é o momento culminante e mais solene <strong>do</strong> ciclo<br />

<strong>de</strong> Santos <strong>Reis</strong>. Significa a chegada <strong>do</strong>s Magos a Belém. A data da<br />

entrega varia <strong>de</strong> grupo para grupo (conf. Nota 8), sen<strong>do</strong>, no entanto, o<br />

dia 6 <strong>de</strong> janeiro (dia oficial <strong>do</strong>s <strong>Reis</strong> Magos, pela Igreja Católica) o <strong>de</strong><br />

maior preferência. Nos grupos que faz<strong>em</strong> a entrega antes <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> janeiro<br />

é comum a realização, nesse dia, <strong>de</strong> rezas na '''casa da entrega" ou <strong>do</strong><br />

"mestre" .<br />

As cerimônias "da entrega" são variadas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> que foi<br />

angaria<strong>do</strong> durante as jornadas ou das condições <strong>de</strong> posse <strong>do</strong> <strong>do</strong>no da<br />

casa (festeiro) e também da tradição particular <strong>de</strong> cada grupo. (No geral,<br />

as arrecadações <strong>em</strong> dinheiro não são suficientes para cobrir os custos da<br />

festa, segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> vários "mestres <strong>de</strong> folia"). Faz<strong>em</strong> -se,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cerimônias simples - com realização <strong>de</strong> cantorias e rezas diante<br />

<strong>do</strong> presépio,com oferecimento <strong>de</strong> jantar aos foliões e alguns poucos<br />

convida<strong>do</strong>s - até cerimônias complexas que duram quatro horas ou<br />

mais, como o caso da chegada on<strong>de</strong> se realiza a "cerimônia <strong>do</strong>s arcos".<br />

A cerimônia consiste da. colocação <strong>de</strong> três arcos (geralmente <strong>de</strong><br />

bambu), no caminho <strong>de</strong> chegada da folia até a porta da casa, sen<strong>do</strong> que<br />

<strong>em</strong> cada arco a folia pára e realiza longas cantorias e pe<strong>de</strong> passag<strong>em</strong> 20 ) •<br />

A concessão da passag<strong>em</strong> (pelos <strong>do</strong>nos da casa) se faz pelo rompimento<br />

<strong>de</strong> "correntes" (<strong>de</strong> papel crepom ou fitas) que são colocadas como<br />

obstáculos junto a cada um <strong>do</strong>s arcos. To<strong>do</strong> o espaço <strong>em</strong> frente a casa é<br />

enfeita<strong>do</strong> com ban<strong>de</strong>irolas coloridas, até mesmo os espaços da rua. A<br />

última corrente correspon<strong>de</strong> ao da porta da casa. Ultrapassa<strong>do</strong>s os três<br />

obstáculos, que para os <strong>de</strong>votos significam "as dificulda<strong>de</strong>s que os <strong>Reis</strong><br />

Magos tiveram no caminho para Belém", realiza-se diante <strong>do</strong> presépio<br />

longas cantorias, reza-se o terço e faz-se o ritual <strong>de</strong> retirada das<br />

185


186 A. T. Ikeda<br />

máscaras <strong>do</strong>s "palhaços" (quan<strong>do</strong> exist<strong>em</strong>) que se ajoelham e pe<strong>de</strong>m<br />

"absolvição" ao Menino Deus. Serve-se, então, o jantar aos foliões<br />

primeiramente. Canta-se o "Bendito <strong>de</strong> Mesa" (acompanha<strong>do</strong> ou não<br />

<strong>do</strong>s instrumentos musicais). No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> jantar "escolhe-se" ou se<br />

anuncia o festeiro <strong>do</strong> próximo ano, geralmente levan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> conta a<br />

manifestação <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> algum el<strong>em</strong>ento presente, que s<strong>em</strong>pre há.<br />

Na verda<strong>de</strong>, a escolha já está <strong>de</strong> alguma forma estabelecida anteriormente,<br />

entre pessoas <strong>de</strong> convívio <strong>do</strong>s m<strong>em</strong>bros da folia. Muitas vezes o<br />

festeiro é o próprio "mestre" da folia.<br />

Assumir a condição <strong>de</strong> festeiro é s<strong>em</strong>pre fator <strong>de</strong> prestígio na<br />

pequena comunida<strong>de</strong> que se forma <strong>em</strong> torno das ativida<strong>de</strong>s das folias,<br />

pois além <strong>do</strong>s gastos pecuniários que lhe confer<strong>em</strong> distinção pelo maior<br />

po<strong>de</strong>r econômico, forma-se nessas ocasiões significativo grupo <strong>de</strong><br />

agrega<strong>do</strong>s (ajudantes) para a realização da festa (vizinhos, parentes,<br />

com padres) que ficam sob suas or<strong>de</strong>ns, estabelecen<strong>do</strong>-se aí uma relação<br />

<strong>de</strong> hierarquia e distinção social (reprodução da estrutura social<br />

hierarquizada), <strong>em</strong>bora num primeiro momento possa parecer uma<br />

relação entre iguais. Po<strong>de</strong>mos confirmar assim a observação <strong>de</strong> Alba<br />

Zaluar, <strong>de</strong> que: "Na festa <strong>de</strong> Santo, vista enquanto ritual, são expressos<br />

os valores que integram e unificam as diversas classes e categorias <strong>de</strong><br />

pessoas, mas nela também o conflito aparece sob forma camuflada <strong>em</strong><br />

certas fases <strong>de</strong>sse campo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s específico. A relação entre o<br />

festeiro, que tradicionalmente redistribui o que foi recolhi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

promesseiros pela folia, e seus convivas, geralmente a gente mais pobre<br />

das localida<strong>de</strong>s, acentua ritualmente os padrões morais <strong>de</strong> relação entre<br />

patrões e lavra<strong>do</strong>res, entre ricos e pobres, entre po<strong>de</strong>rosos e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,,21)<br />

.<br />

Ex<strong>em</strong>plo 4: CANTORIA DE PEDIDO DE ESMOLA<br />

(pauta musical <strong>em</strong> anexo)<br />

Senhora <strong>do</strong>na da casa<br />

Senhora <strong>do</strong>na da casa<br />

Muito alegre <strong>de</strong>ve estar<br />

Muito alegre <strong>de</strong>ve estar 1<br />

bis=coro (2 vozes f<strong>em</strong>ininas)


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Aí estar os Treis <strong>Reis</strong> Santos<br />

Aí estar os Treis <strong>Reis</strong> Santos<br />

Vei aqui lhe visitá<br />

Vei aqui lhe visitá<br />

Vei trazê vida e saú<strong>de</strong><br />

Vei trazê vida e saú<strong>de</strong><br />

Pra senhora e a familha<br />

Pra senhora e a fam ilha<br />

São <strong>de</strong>spedida <strong>de</strong> festa<br />

São <strong>de</strong>spedida <strong>de</strong> festa<br />

Entrada <strong>de</strong> novo ano<br />

Entrada <strong>de</strong> novo ano<br />

Os Treis <strong>Reis</strong> pe<strong>de</strong> uma oferta<br />

Os Treis <strong>Reis</strong> pe<strong>de</strong> uma oferta<br />

Se ele for merece<strong>do</strong>r<br />

Se ele for merece<strong>do</strong>r<br />

Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>r a vossa oferta<br />

Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>r a vossa oferta<br />

Não repara para dar<br />

Não repara para dar<br />

Esse m<strong>em</strong>o Treis <strong>Reis</strong> Santo<br />

Esse m<strong>em</strong>o Treis <strong>Reis</strong> Santo<br />

Ponha outra no lugar<br />

Ponha outra no lugar<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

bis=coro<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

O aspecto realmente marcante sobre o ciclo da nativida<strong>de</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Goiânia</strong> é, <strong>de</strong> fato, o dinamismo e a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> que ali atuam, além da varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tipos que são<br />

pratica<strong>do</strong>s. Percebe-se entre elas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sutis e pequenas diferenças até<br />

distinções profundas, como ocorre entre as folias <strong>de</strong> tradição<br />

mineira/goiana e as folias baianas. Mesmo entre os grupos <strong>de</strong> igual tipo<br />

187


188 A. T. Ikeda<br />

exist<strong>em</strong> variáveis <strong>em</strong> seus el<strong>em</strong>entos que dificultam as tentativas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> cunho generaliza<strong>do</strong>r.<br />

A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses grupos se faz, porém, centrada na religiosida<strong>de</strong>,<br />

no culto ao Menino Deus e aos Santos <strong>Reis</strong>, ligan<strong>do</strong> tradições culturais<br />

às vezes bastante diversas. Assim, a própria tradição religiosa-católica é<br />

o elo unifica<strong>do</strong>r <strong>de</strong>sses grupos, <strong>em</strong>bora a Igreja Católica oficial não<br />

tenha atualmente interferência direta na existência <strong>de</strong>stes e n<strong>em</strong> no<br />

dinamismo com que ocorr<strong>em</strong> na cida<strong>de</strong>. Enquanto <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s grupos<br />

se mostram <strong>de</strong>sfalca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> certos el<strong>em</strong>entos que caracterizam<br />

historicamente as folias <strong>de</strong> reis, outros mantêm-se integrais e já<br />

estabeleceram tradição nos bairros da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> gran<strong>de</strong><br />

vigor a cada ano.<br />

Percebe-se, grosso mo<strong>do</strong>, a aceitação das várias formas <strong>de</strong> folias<br />

por parte da população; apesar, naturalmente, <strong>do</strong> maior ou menor agra<strong>do</strong><br />

que alguns possam <strong>de</strong>monstrar diante <strong>do</strong>s grupos aos quais estão mais<br />

acostuma<strong>do</strong>s.<br />

Entre as folias baianas perceb<strong>em</strong> -se adaptações e a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong><br />

alguns procedimentos da tradição local (goiana/mineira, basicamente),<br />

como o uso da ban<strong>de</strong>ira, que estes não praticavam <strong>em</strong> suas regiões <strong>de</strong><br />

orig<strong>em</strong>. Porém, estes migrantes têm consegui<strong>do</strong> manter el<strong>em</strong>entos<br />

fundamentais das suas próprias tradições, como se nota nos aspectos<br />

musicais, que atuam nestes grupos como uma espécie <strong>de</strong> amálgama que<br />

alinhava a unida<strong>de</strong> grupal assim como é o elo <strong>de</strong> acesso com as<br />

divinda<strong>de</strong>s e a coletivida<strong>de</strong>. Há, inclusive, casos inversos on<strong>de</strong>, p.ex.,<br />

um <strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r nasci<strong>do</strong> <strong>em</strong> Goiás passou a a<strong>do</strong>tar formas <strong>de</strong> cantoria <strong>do</strong><br />

sist<strong>em</strong>a baiano, além daquelas da sua própria vivência original.<br />

Po<strong>de</strong>mos l<strong>em</strong>brar, ainda, que prevalec<strong>em</strong> na cida<strong>de</strong> as folias <strong>do</strong> tipo<br />

mineira e não <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a goiano como seria <strong>de</strong> se supor. Naturalmente,<br />

este quadro se verifica por ser <strong>Goiânia</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação<br />

relativamente recente on<strong>de</strong> não havia, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo inicial das<br />

migrações, uma tradição já cristalizada nesse campo, o que possibilitou<br />

aos que para lá se dirigiram, <strong>em</strong> número significativo, a manutenção <strong>de</strong><br />

suas tradições. Por outro la<strong>do</strong>, a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> folias na cida<strong>de</strong><br />

se verifica, muito, <strong>em</strong> função da aceitação e da prática que a população<br />

migrante das diversas regiões e a população local mais antiga cultivava<br />

e mantém <strong>em</strong> relação a esta forma religiosa.<br />

Alguns aspectos mostram adaptações das folias à vivência da


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

"cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>" e com a chamada "mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>", como:<br />

• não realização <strong>do</strong> pouso <strong>de</strong> <strong>do</strong>rm ida pelos foliões;<br />

ti uso <strong>de</strong> veículos (carros) para alguns <strong>de</strong>slocamentos mais longos<br />

da folia;<br />

• mutabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguns m<strong>em</strong>bros (foliões) no <strong>de</strong>correr das<br />

jornadas, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as como trabalho profissional;<br />

• diminuição, <strong>em</strong> algumas folias, <strong>do</strong> número <strong>de</strong> estrofes cantadas<br />

nas casas, diante da gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitas que realizam;<br />

• presença comum <strong>de</strong> grava<strong>do</strong>res e máquinas fotográficas entre os<br />

foliões (para registro das cerimônias), assim como figuras <strong>de</strong><br />

plástico nos presépios, altares e ban<strong>de</strong>iras;<br />

• intervenção policial, com a exigência <strong>do</strong> Alvará( <strong>em</strong>bora não<br />

mais necessário atualmente);<br />

• distanciamento maior entre a população que realiza e vive<br />

diretamente a prática das folias com as elites da cida<strong>de</strong><br />

(proprietários, profissionais <strong>de</strong> formação universitária, etc). (Nas<br />

regiões rurais, <strong>em</strong>bora as classes econômicas sejam distintas,<br />

muitas vezes as tradições culturais po<strong>de</strong>m ser mais próximas);<br />

• diminuição, <strong>em</strong> muitas folias, <strong>do</strong>s dias <strong>de</strong> jornadas <strong>em</strong> função <strong>de</strong><br />

probl<strong>em</strong>as com o trabalho;<br />

• convivência <strong>do</strong>s foliões com os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa<br />

(TV, rádio, toca-discos);<br />

• o exercício por parte <strong>do</strong>s foliões <strong>de</strong> profissões subalternas típicas<br />

das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s e não mais ligadas às ativida<strong>de</strong>s agrárias.<br />

Assim, apesar das modificações que esses el<strong>em</strong>entos po<strong>de</strong>m<br />

provocar nas folias, não se po<strong>de</strong> concordar <strong>de</strong> forma simples, com a<br />

observação da pesquisa<strong>do</strong>ra Yara Moreira: "Mas a folia está con<strong>de</strong>nada<br />

à <strong>de</strong>scaracterização e, no seu senti<strong>do</strong> original, possivelmente à<br />

extinção,,22). Apesar das transformações, algumas condições <strong>de</strong> restabelecimento<br />

da "or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> relações e <strong>de</strong> sujeitos sociais,,23) têm se<br />

verifica<strong>do</strong> nos bairros on<strong>de</strong> circulam as folias <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong>, possibilitan<strong>do</strong>'<br />

provavelmente por bom t<strong>em</strong>po ainda, a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas,<br />

que po<strong>de</strong>m, inclusive, ser entendidas como fator <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s<br />

marginaliza<strong>do</strong>s da gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> e, ainda, como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> mediação<br />

mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>ra entre o tipo <strong>de</strong> viver das pequenas cida<strong>de</strong>s interioranas e da<br />

vida <strong>do</strong> campo com o novo cotidiano <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> centro urbano, já que na<br />

189


190 A. T. Ikeda<br />

maioria das vezes trata-se <strong>de</strong> migrantes <strong>de</strong>ssas condições.<br />

Estu<strong>do</strong>s mais aprofunda<strong>do</strong>s, no entanto, po<strong>de</strong>rão apontar contraposições<br />

internas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, porquanto é revela<strong>do</strong>r que as folias<br />

evitam o giro <strong>em</strong> áreas coinci<strong>de</strong>ntes, fugin<strong>do</strong> à aproximação com outros<br />

grupos e, ainda, as folias <strong>de</strong> migrantes baianos, s<strong>em</strong> ser regra absoluta,<br />

foram localizadas <strong>em</strong> bairros distantes, junto à população mais carente,<br />

enquanto nas regiões mais centrais circulam pre<strong>do</strong>minant<strong>em</strong>ente folias<br />

da tradição. mineira/goiana. Naturalmente, essa- distribuição geográfica<br />

das folias se dá diante da própria conformação histórica da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong><br />

a população migrante pobre da Bahia se estabeleceu por último,<br />

ocupan<strong>do</strong> os seus espaços periféricos.<br />

Acompanhan<strong>do</strong> uma folia baiana (Parque Santa Crui 4 »), pu<strong>de</strong><br />

presenciar .momentos revela<strong>do</strong>res, sutis, <strong>de</strong>ssas contraposições intergrupos<br />

na cida<strong>de</strong>, como os registra<strong>do</strong>s num dia <strong>de</strong> forte chuva, enquanto<br />

os foliões aguardavam melhores condições para prosseguimento <strong>do</strong> giro.<br />

Passaram a se propor adivinhas, entre os foliões:<br />

a) Pergunta: Você sabe qual a diferença entre o eucalipto e o<br />

Goiano?<br />

Resposta: O eucalipto, quan<strong>do</strong> você planta, ele cresce,<br />

cresce e <strong>de</strong>pois ele fica grosso, ... o goiano já<br />

nasce grosso.<br />

b) Pergunta: Sabe com é a "Ave Maria" <strong>do</strong>s Pentecostes?<br />

(religiosos das Igrejas Pentecostais)<br />

Resposta: Alvenaria, cheia <strong>de</strong> massa<br />

O senhor come rosca<br />

Bendito é o revólver<br />

Atira na gente e apaga a luz<br />

(<strong>de</strong>ntro da estrutura recitativa· tradicional <strong>de</strong>sta<br />

oração)<br />

c) Piada sobre o giro <strong>de</strong> uma folia mineira:<br />

A folia parou na estrada, perto <strong>de</strong> uma fazenda,<br />

para rápi<strong>do</strong> <strong>de</strong>scanso. A ban<strong>de</strong>ira foi <strong>de</strong>ixada<br />

junto à cerca, sen<strong>do</strong> que uma vaca comeu o<br />

teci<strong>do</strong>. Ao chegar<strong>em</strong> na fazenda cantaram:<br />

E aqui está o pau da ban<strong>de</strong>ira<br />

E o pano a vaca comeu<br />

O curpa<strong>do</strong> foi <strong>de</strong> nóis mesmo


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Da pinga que nóis bebeu, ai, ai<br />

Outra cantoria:<br />

Obriga<strong>do</strong> meu senhor<br />

Pela oferta que não <strong>de</strong>u<br />

Pela oferta que não <strong>de</strong>u<br />

Dá um cheiro (beijo) no bambu<br />

Que a ban<strong>de</strong>ra o boi comeu<br />

(cantam imitan<strong>do</strong> as formas musicais das folias<br />

mineiras).<br />

Assim, percebe-se nestes momentos, aparent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> simples<br />

"passa-t<strong>em</strong>po", na realida<strong>de</strong>, as contradições inter-grupos, <strong>de</strong>ntro da<br />

própria população das baixas classes, sen<strong>do</strong> que as mais flagrantes no<br />

momento são as q';le se dão ao nível das relações entre <strong>de</strong>votos da<br />

tradição católico-popular e os chama<strong>do</strong>s "crentes" (Igrejas Pentecostais)<br />

que têm cresci<strong>do</strong> bastante, tanto nos gran<strong>de</strong>s centros urbanos quanto nas<br />

regiões interioranas, e combat<strong>em</strong> muito as manifestações <strong>do</strong> catolicismo<br />

tradicional popular, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, trazen<strong>do</strong> conflitos sutis <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

social.<br />

Portanto, <strong>em</strong> que pese as críticas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m i<strong>de</strong>ológica que alguns<br />

estudiosos 25 ) faz<strong>em</strong> às práticas culturais populares como instrumentos <strong>de</strong><br />

alienação política (com as quais po<strong>de</strong>-se concordar, pelo menos <strong>em</strong><br />

parte), há <strong>de</strong> se reconhecer nelas, neste caso específico, diante <strong>do</strong><br />

reformismoreacionário proposto no crescimento <strong>de</strong>ssas igrejas pentecostais,<br />

um instrumento <strong>de</strong> resistência e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas populações,<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po que, sob a ótica mais ampla, transformam-se intuitivamente<br />

<strong>em</strong> resistência à cultura heg<strong>em</strong>ônica <strong>de</strong> caráter "mo<strong>de</strong>rnizante".<br />

Entretanto, não se po<strong>de</strong>, por outro la<strong>do</strong>, radicalizar a visão<br />

"dionisíaca" <strong>de</strong>, partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses ex<strong>em</strong>plos ou das culturas populares<br />

como um to<strong>do</strong>, ver nestas uma tendência transforma<strong>do</strong>ra (estrutural)<br />

inata <strong>do</strong> social, já que as pesquisas, até o momento, não permit<strong>em</strong> tanto.<br />

Quan<strong>do</strong> muito será possível uma perspectiva <strong>de</strong> eventual potencialida<strong>de</strong><br />

transforma<strong>do</strong>ra, conforme aponta Marilena Chauí quan<strong>do</strong> diz que "a<br />

prática da Cultura Popular po<strong>de</strong> (grifo meu) tomar a forma <strong>de</strong><br />

resistência e introduzir a '<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m' na or<strong>de</strong>m, abrir brechas, caminhar<br />

pelos poros e pelos interestícios da socieda<strong>de</strong> brasileira: ... " ; porquanto,<br />

,no caso aqui estuda<strong>do</strong>, cantam-se "folias aos <strong>Reis</strong>" mas também<br />

191


192 A. T. Ikeda<br />

praticam-se os "sambas <strong>do</strong> pOVO,,26>.<br />

Em <strong>Goiânia</strong>, as folias <strong>de</strong> reis, pela quantida<strong>de</strong> e pelo dinamismo,<br />

não reflet<strong>em</strong> no momento apenas a transposição isolada <strong>do</strong> viver <strong>do</strong><br />

campo para a cida<strong>de</strong>, mas constitui fenômeno <strong>de</strong> maior amplitu<strong>de</strong>,<br />

diferent<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> que vimos assistin<strong>do</strong> na maioria das cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras nos seus processos <strong>de</strong> crescimento, on<strong>de</strong> comumente se<br />

observa gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação social e perda das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais<br />

<strong>de</strong>ssas populações <strong>do</strong>s excluí<strong>do</strong>s.<br />

TRANSCRIÇÕES MUSICAIS(Anexo)<br />

FOLIA DE REIS<br />

Ex<strong>em</strong>plo 1: CANTORIA DE SAÍDA<br />

Folia <strong>do</strong> Setor Pedro Lu<strong>do</strong>vico(Folia mineira)<br />

Embaixa<strong>do</strong>r: Arg<strong>em</strong>iro Isi<strong>do</strong>ro <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> - "Capitão Amantino"


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Ex<strong>em</strong>plo 2: CANTORIA DE AGRADECIMENTO PELO ALMOÇO<br />

Folia <strong>do</strong> Parque Santa Cruz (Folia baiana)<br />

Embaixa<strong>do</strong>r: Val<strong>de</strong>mir Alves <strong>de</strong> Souza - "Capitão Valdir"<br />

J: '00<br />

III j .<br />

I. i I.. ( .:t"_><br />

, .. ., ......<br />

Ex<strong>em</strong>plo 3: CANTORIA DE AGRADECIMENTO PELO ALMOÇO<br />

E HOMENAGEM A PESSOA FALECIDA<br />

(Mesma melodia <strong>do</strong> ex<strong>em</strong>plo 1)<br />

Ex<strong>em</strong>plo 4: CANTORIA DE PEDIDO DE ESMOLA 27)<br />

Folia <strong>do</strong> Parque Alvorada (Folia baiana)<br />

Embaixa<strong>do</strong>r: José Simão Rosa<br />

193


194 A. T. Ikeda<br />

Apesar <strong>de</strong>sta folia ter to<strong>do</strong>s os seus componentes baianos, não<br />

havia a presença das "gaitas", pois o Embaixa<strong>do</strong>r não conseguiu qu<strong>em</strong><br />

as executass<strong>em</strong>; usam apenas um violão, <strong>do</strong>is tambores e um pan<strong>de</strong>iro<br />

vaza<strong>do</strong>. O violão serve apenas como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> marcação da pulsação<br />

rítmica, s<strong>em</strong> qualquer afinação. Observe-se a melodia, que transportada<br />

para a pauta s<strong>em</strong> aci<strong>de</strong>ntes (dó) resulta no mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Si Natural, s<strong>em</strong> o 6 Q<br />

grau, portanto baseada <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a modal, <strong>em</strong> série <strong>de</strong>fectiva. Uma<br />

outra análise será possível, qual seja: se consi<strong>de</strong>rarmos que esta melodia<br />

po<strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> executada originalmente <strong>em</strong> terças (abaixo, neste caso),<br />

tão comum no nosso folclore musical - até <strong>em</strong> execução das "gaitas",<br />

então, a interpretação passa a ser outra, ou seja, tratar-se-á <strong>de</strong> melodia<br />

sob a escala maior com o 7 Q grau rebaixa<strong>do</strong> ré b<strong>em</strong>ol, ou mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sol<br />

Natural (Mixolídio litúrgico ou eclesiástico) que t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> ocorrência<br />

na região nor<strong>de</strong>ste. Nesse caso a indicação <strong>do</strong>s aci<strong>de</strong>ntes na armadura<br />

da clave <strong>de</strong>verá ser: si b<strong>em</strong>ol, mi b<strong>em</strong>ol, lá b<strong>em</strong>ol, ré b<strong>em</strong>ol e sol<br />

b<strong>em</strong>ol, fican<strong>do</strong> o dó b<strong>em</strong>ol como aci<strong>de</strong>nte ocorrente (7 nota rebaixada,<br />

<strong>do</strong> mo<strong>do</strong> maior). Como a melodia foi interpretada nesse grupo apenas<br />

<strong>em</strong> uníssono, s<strong>em</strong> o acompanhamento <strong>de</strong> qualquer instrumento <strong>de</strong><br />

reforço harmônico, esta segunda interpretação fica impossibilitada <strong>de</strong><br />

confirmação apesar <strong>de</strong> bastante lógica.<br />

Sam bas <strong>de</strong> Roda<br />

A motivação maior para a realização <strong>do</strong> samba se dá quan<strong>do</strong> as<br />

folias baianas visitam casas <strong>de</strong> outros migrantes da Bahia, naturalmente.<br />

Apesar da dança ser realizada sobretu<strong>do</strong> após as refeições (preferencialmente<br />

<strong>de</strong>pois <strong>do</strong> jantar), segun<strong>do</strong> alguns <strong>de</strong>poimentos, há a obrigatorieda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s foliões executar<strong>em</strong> a chula e/ou o samba s<strong>em</strong>pre que o<br />

<strong>do</strong>no da casa solicitar.<br />

Os sambas têm melodias curtas (versos dísticos e quadras)<br />

"puxa<strong>do</strong>s" por um solista e respondi<strong>do</strong> <strong>em</strong> coro pelos <strong>de</strong>mais participantes.<br />

A dança se <strong>de</strong>senvolve <strong>em</strong> roda, com um par <strong>de</strong> solistas no<br />

centro, que se revezam com os el<strong>em</strong>entos da roda. Po<strong>de</strong> ter acompanhamento<br />

<strong>de</strong> instrumentos melódicos ou harmônicos, ou apenas o canto<br />

com o palmea<strong>do</strong> ("samba <strong>de</strong> boca") fazen<strong>do</strong> a marcação rítmica. Há<br />

<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> samba realiza<strong>do</strong> apenas com música instrumental, s<strong>em</strong><br />

canto.


196<br />

EU VI, EU VI<br />

Eu vi, eu vi, J (solo)<br />

Eu vi meu b<strong>em</strong> <strong>do</strong>rmir<br />

Mas eu vi o p. a' sso (pássaro) preto J<br />

Namoran<strong>do</strong> a juriti (colo)<br />

PIABA Ê<br />

Piaba ê, piaba ê (solo)<br />

Eu não sou piaba não (coro)<br />

Piaba ê, piaba ê (solo)<br />

Sou piaba e sei nadá (coro)<br />

PIAUNADÔ<br />

Piau nadô, nadô (solo)<br />

Piau nadô no má (mar) (coro)<br />

Piau nadô, nadô (solo)<br />

Quero ver piau nadá (coro)<br />

A. T. Ikeda


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Água pra cima não corre<br />

Pra baixo ela t<strong>em</strong> carrera<br />

Viva qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> amorzin (nho)<br />

Na fazenda Gamelê (ra)<br />

Eu vim ...<br />

A foiá (folha) da bananera<br />

De tão alto foi o chão<br />

Qu<strong>em</strong> tivé língua comprida<br />

Faça <strong>de</strong>la um currião<br />

Eu vim ...<br />

Lá no céu t<strong>em</strong> treis estrela<br />

Toda as treis encarreá (da)<br />

Uma é minha e outra é sua<br />

Outra é <strong>do</strong> meu namorá (<strong>do</strong>)<br />

Eu vim ...<br />

Obriga<strong>do</strong> seu Simão<br />

Pelo verso <strong>em</strong> mim rogô (incerto)<br />

Na sola <strong>do</strong> seu sapato<br />

Correu água e nasceu flô<br />

Eu vim ...<br />

(Observe-se que esta melodia não t<strong>em</strong> clareza tonal, sen<strong>do</strong> preferível<br />

consi<strong>de</strong>rá-la no mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> mi natural, transposta para dó susteni<strong>do</strong>)<br />

199


200<br />

CHULA<br />

Tô gastano O meu dinhero<br />

(solo) só porque posso gastá<br />

Muié ruim é bicho mau<br />

quer fazê o home pená<br />

O macha<strong>do</strong> corta<br />

(coro) O cavaco vorta<br />

E meu b<strong>em</strong> me chama<br />

E eu não me impor (to)<br />

Fui entrano nesta casa<br />

Foi pisano (pisan<strong>do</strong>) no molha<strong>do</strong><br />

A <strong>do</strong>na da casa é boa<br />

Não me <strong>de</strong>ixa envergonhá<br />

O macha<strong>do</strong> ...<br />

Lá <strong>em</strong> baixo na Bahia<br />

Senhor rei mandô chamá<br />

Mete o macha<strong>do</strong> no pau<br />

Deixa a gaia rivirá (o galho virar)<br />

O macha<strong>do</strong> ...<br />

Companhero <strong>de</strong> viage<br />

Não me <strong>de</strong>ixa eu cantá só<br />

Eu sozinho eu canto bão<br />

Mas vocês cantão mió (melhor)<br />

O macha<strong>do</strong> ...<br />

A. T. Ikeda


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong> 201<br />

Foto 1 Um altar simples e a Ban<strong>de</strong>ira da Folia <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>


202 A. T. lkeda<br />

Foto 2 Orações cantadas diante <strong>do</strong> altar, antes da saída da Folia "Mineira".<br />

Embaixa<strong>do</strong>r: "Capitão Amantino"; Setor Pedro Lu<strong>do</strong>vico<br />

Foto 3 A Folia <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> "Baiana". Embaixa<strong>do</strong>r: "Capitão Valdir"; Parque Santa Cruz.


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Notas<br />

1) Em diferentes fontes bibliográficas, há informações <strong>de</strong>sencontradas sobre a<br />

distância entre as duas cida<strong>de</strong>s.<br />

2) conf. Gilberto Giménez, "La cultura popular: probl<strong>em</strong>ática y lineas <strong>de</strong><br />

investigación" in Estudios sobre las culturas cont<strong>em</strong>poraneas, v.1, n.3 (mayo<br />

<strong>de</strong> 1987), pp. 71-96. Pelas décadas <strong>de</strong> 70 e 80 principalmente, muitos<br />

estudiosos da cultura popular, basea<strong>do</strong>s nos escritos <strong>de</strong> A. Gramsci, passaram a<br />

a<strong>do</strong>tar nas suas análises da cultura a forma simplificada <strong>de</strong> classes sociais, com<br />

base na dualida<strong>de</strong>: cultura popular (<strong>do</strong>minada) & cultura heg<strong>em</strong>ônica<br />

(<strong>do</strong>minante), enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o folclore como forma <strong>de</strong> contestação da cultura<br />

<strong>do</strong>minante, conforme Luigi M. L. Satriani (1986), o que merece melhores<br />

reflexões, não só pela excessiva simplificação <strong>do</strong> social, mas, porquanto a<br />

antropologia política, <strong>em</strong> autores como G.Balandier, Victor Turner (ver<br />

bibliografia) e outros, t<strong>em</strong> mostra<strong>do</strong> que mesmo <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>s não classistas<br />

são muitas as formas contestatórias.<br />

3) Carlos Rodrigues Brandão, Sacer<strong>do</strong>tes <strong>de</strong> Viola (Petrópolis, 1981), p. 107.<br />

4) Em 1937 "foi assina<strong>do</strong> o Decreto n Q 1816, transferin<strong>do</strong> <strong>de</strong>finitivamente a<br />

capital Estadual da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Goiás para a <strong>de</strong> <strong>Goiânia</strong>", conf. "Monografias<br />

Municipais": <strong>Goiânia</strong>lGoiás, Brasil, <strong>do</strong> IBGE, RJ, 28/10/1983 - ISSN<br />

0406-9773,p.3<br />

5) i<strong>de</strong>m: <strong>Goiânia</strong> ... p. 15.<br />

6) A mesma publicação, p.l, aponta a existência <strong>de</strong> "273 bairros, setores e vilas"<br />

na cida<strong>de</strong>.<br />

7) Yara Moreira tratan<strong>do</strong> das folias no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás menciona a existência <strong>de</strong>:<br />

"Folia 'maranhense' ", <strong>de</strong> Guaraí, constituída somente <strong>de</strong> mulheres e da "Folia<br />

<strong>de</strong> <strong>Reis</strong> 'Piauiense' ", na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pedro Afonso (atual Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tocantins),<br />

"uma Folia <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> urbana com el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong> Bumba meu Boi", além <strong>de</strong><br />

mencionar também as folias <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a goiano, in "Música nas <strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong><br />

'Mineiras' <strong>de</strong> Goiás, Revista Goiana <strong>de</strong> Artes, 4(2) Üul/<strong>de</strong>z.l983), p. 174.<br />

8) Embora a tradição geral seja a <strong>de</strong> realização das visitações (giro) entre 24 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro a 6 <strong>de</strong> janeiro, <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong> exist<strong>em</strong> grupos que segu<strong>em</strong> tradições<br />

particulares: <strong>de</strong> 1 a 6 <strong>de</strong> janeiro, <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro a 2 <strong>de</strong> janeiro, etc.,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ocorrer até cantorias <strong>de</strong> reis fora <strong>de</strong>ste ciclo, quan<strong>do</strong> há "voto"<br />

(promessa ).<br />

9) Carlos Rodrigues Brandão, i<strong>de</strong>m, p. 49, diz que "a Folia <strong>de</strong> <strong>Reis</strong> é um grupo<br />

ritual <strong>do</strong> catolicismo popular incluí<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> relações e <strong>de</strong><br />

representações entre <strong>de</strong>uses e homens, e entre tipos <strong>de</strong> homens, media<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

203


204 A. T. Ikeda<br />

dádivas."<br />

10) O procedimento usual das folias é <strong>de</strong> receber "esmolas" <strong>em</strong> nome <strong>do</strong>s <strong>Reis</strong><br />

Magos, mas há casos <strong>em</strong> que ocorre o processo inverso, conforme <strong>do</strong>cumenta<br />

Yara Moreira: "A Folia chega e pe<strong>de</strong>; se a pessoa t<strong>em</strong> condições dá aquilo que<br />

po<strong>de</strong>. E os foliões vão levan<strong>do</strong> muitas coisas na sua jornada, para o dia <strong>do</strong><br />

festejo: frango, arroz, tu<strong>do</strong> isso sai. Mas já aconteceu, e acontece s<strong>em</strong>pre, da<br />

gente chegar numa casa que t<strong>em</strong> escassez daquilo. Aí palhaço já dá a busca,<br />

olha e v<strong>em</strong> avisar. O Capitão autoriza, a Folia canta pr' aquele povo e <strong>de</strong>ixa<br />

algo prá eles. Oferece o que t<strong>em</strong>, comida ou dinheiro. Eles receb<strong>em</strong>, não dão",<br />

op. cit., p. 150.<br />

11) Rei Hero<strong>de</strong>s - segun<strong>do</strong> a Bíblia Sagrada, o rei na tentativa <strong>de</strong> matar o Menino<br />

Deus man<strong>do</strong>u sacrificar to<strong>do</strong>s os meninos que havia <strong>em</strong> Belém e <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

seus arre<strong>do</strong>res, da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos para baixo.<br />

12) Creio ser possível, aqui, na compreensão da figura <strong>do</strong> palhaço (simbolicamente<br />

representan<strong>do</strong> a "<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m") nas folias <strong>de</strong> reis (a "or<strong>de</strong>m") uma reflexão<br />

correlata ao que faz Renato Ortiz <strong>em</strong> relação ao Exu na Umbanda e a cultura<br />

popular frente à cultura heg<strong>em</strong>ônica, in A consciência fragmentada (Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, 1980), pp. 67-89.<br />

13) Os migrantes baianos entrevista<strong>do</strong>s são das cida<strong>de</strong>s: Barreiras, Correntina,<br />

Santana <strong>do</strong>s Brejos, Santa Maria da Vitória e Carinhanha.<br />

14) Também no interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo foram registradas folias baianas (<strong>de</strong><br />

gaita) <strong>em</strong> Votuporanga e <strong>em</strong> Olímpia. A Folia Baiana <strong>de</strong> Olímpia t<strong>em</strong> música<br />

gravada no disco-compacto:· Folgue<strong>do</strong>s Populares <strong>do</strong> Brasil, 1972, que fez<br />

parte <strong>do</strong> Calendário Philips. (Pesquisa da folclorista Laura Della Mônica). Esta<br />

folia, porém, é musicalmente distinta da folias baianas registradas <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong>.<br />

15) Sobre o uso da ban<strong>de</strong>ira nas folias <strong>de</strong> reis, diz Signeis Pereira <strong>do</strong>s Santos (50<br />

anos, nasci<strong>do</strong> <strong>em</strong> Barreiras; Bahia, resi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong> <strong>Goiânia</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1970), cuja<br />

folia sai apenas durante três dias: "Lá na Bahia só sai ban<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> Divino, São<br />

Sebastião, São João e Coração <strong>de</strong> Jesus, que só caminham <strong>de</strong> dia: Folia baiana<br />

(<strong>de</strong> reis) não t<strong>em</strong> ban<strong>de</strong>ira. Esse povo daqui parece tu<strong>do</strong> <strong>do</strong>i<strong>do</strong>, que sai com<br />

ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> reis. Folia que sai <strong>de</strong> noite não po<strong>de</strong> ter ban<strong>de</strong>ira"(<strong>Goiânia</strong>,<br />

2/1/1988).<br />

16) Aladaris Brasil <strong>de</strong> Morais [50 anos, nasci<strong>do</strong> <strong>em</strong> Goiás (Velho); <strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

folia <strong>do</strong> Jardim Guanabara], diz que canta três músicas <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a goiano, uma<br />

<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a baiano e uma <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a mineiro.<br />

17) Yara Moreira, op. cit., p. 174.<br />

18) Benedito Pereira <strong>do</strong>s Santos, nasci<strong>do</strong> <strong>em</strong> Jaraguá-Goiás, da Folia <strong>do</strong> Setor


<strong>Folias</strong> <strong>de</strong> <strong>Reis</strong>, <strong>Sambas</strong> <strong>do</strong> <strong>Povo</strong><br />

Jardim Novo Mun<strong>do</strong>.<br />

19) Aladaris Brasil <strong>de</strong> Morais - ver nota 16.<br />

20) Em uma das cerimônias presenciadas, a festeira usava uma coroa <strong>do</strong>urada (<strong>de</strong><br />

papel). Realizou-se ali o "encontro das ban<strong>de</strong>iras" <strong>do</strong> ano anterior (conduzida<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da casa) com a ban<strong>de</strong>ira <strong>do</strong> ano (que chegava), Vila Concórdia.<br />

21) Alba Zaluar, Os homens <strong>de</strong> Deus (Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1983), p. 118.<br />

22) Yara Moreira, op. cit., p. 159.<br />

23) Carlos Rodrigues Brandão, op. cit., p. 107 .<br />

. 24) Dos diversos grupos <strong>de</strong> folias contata<strong>do</strong>s, apenas esta tinha os seus el<strong>em</strong>entos<br />

usan<strong>do</strong> mesma roupa (uniforme): camisa amarela, calça ver<strong>de</strong> e quepe ver<strong>de</strong>.<br />

25) Alguns estudiosos brasileiros, sensíveis às contradições sociais <strong>do</strong> País, vê<strong>em</strong><br />

nessas práticas religiosas instrumentos <strong>de</strong> alienação, conforme se vê <strong>em</strong><br />

Francisco Assis Fernan<strong>de</strong>s, analisan<strong>do</strong> os cantos das romarias <strong>de</strong><br />

Aparecida-SP: "Os cantos <strong>de</strong> Aparecida longe <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> uma função liberta<strong>do</strong>ra<br />

tomaram-se parte <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia reconcilia<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s contrastes que me<strong>de</strong>iam a<br />

nossa socieda<strong>de</strong>. Des<strong>em</strong>penham papel <strong>de</strong> analgésico marginaliza<strong>do</strong>r"., conf.<br />

"O canto nas romarias <strong>de</strong> Aparecida: opressão ou alienação" in Comunicação e<br />

Classes Subalternas, coord. José Marques <strong>de</strong> Melo (São Paulo, 1980), p. 184.<br />

Da mesma forma, basea<strong>do</strong>s principalmente no pensamento gramsciano,<br />

movimentos políticos no Brasil, na década <strong>de</strong> 60, como os <strong>do</strong>s CPCs-Centros<br />

Populares <strong>de</strong> Cultura, ten<strong>de</strong>ram a ver as culturas populares sob o prisma da<br />

alienação, conf. Renato Ortiz, op. cit., p. 64.<br />

26) Marilena Chauí, Conformismo e resistência (3 ed., S. Paulo, 1989), p. 178.<br />

Sobre o assunto, diz Renato Ortiz, ob. cit., pp. 10-11: "Os fenômenos<br />

populares ( ... ) encerram s<strong>em</strong>pre uma dimensão on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve uma luta <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r, porém, seria impróprio consi<strong>de</strong>rá-los como expressão imediata <strong>de</strong> uma<br />

consciência política ou <strong>de</strong> um programa parti


206 A. T. Ikeda<br />

estudioso. Pela forma como foi cantada esta melodia pelos foliões po<strong>de</strong>-se<br />

concluir que a melodia ocorre flagrant<strong>em</strong>ente <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a modal, baseada <strong>em</strong><br />

série <strong>de</strong>fectiva (s<strong>em</strong> o 6° grau). Po<strong>de</strong>-se, assim, questionar o uso da armadura<br />

fixa da clave <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a tonal, porquanto há inexistência <strong>do</strong> ré b<strong>em</strong>ol na<br />

melodia. Ainda, o mesmo estudioso interpreta esta melodia como sen<strong>do</strong><br />

baseada <strong>em</strong> "série 'pentafônica"', baseada no "menor natural".<br />

28) Oswal<strong>do</strong> <strong>de</strong> Souza, Música folclórica <strong>do</strong> Médio São Francisco, v. II (Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, 1980), pJ7l. Ver também: Oneyda Alvarenga, Música popular<br />

brasileira (Porto Alegre, 1950), pp. 158-159.<br />

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