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1 MEMÓRIAS DE UMA CULTURA

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<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

1


2 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


ÍNDICE<br />

ÍNDICE<br />

Apresentação............................................................................................................04<br />

O tempo... O amor................................................................................................05<br />

Dedicatória................................................................................................................06<br />

O Santo Mouro........................................................................................................07<br />

Da Itália a Portugal e ao Brasil..........................................................................09<br />

O Venerado Santo dos Homens Pretos..........................................................10<br />

As Irmandades..........................................................................................................12<br />

Memórias de uma Rainha....................................................................................14<br />

A voz do Prefeito......................................................................................................16<br />

Luiz Antônio uma liderança.................................................................................18<br />

A festa sob o olhar da Igreja...............................................................................20<br />

Um 13 de Esperança...............................................................................................22<br />

Tradição e Saudade................................................................................................25<br />

Barril de Pinga...........................................................................................................27<br />

Um Ohar sobre o Passado..................................................................................28<br />

De um Sonho a Realidade...................................................................................29<br />

Banda Musical na Praça.......................................................................................31<br />

Uma Cultura Centenária......................................................................................32<br />

Um Sonho: Ser Boneca.........................................................................................33<br />

A Emoção de Ser Congadeiro............................................................................34<br />

A grande Festa.........................................................................................................35<br />

Mãos que se Doam................................................................................................36<br />

Da Maçã do Amor ao Crep Suíço....................................................................37<br />

A Quermesse............................................................................................................38<br />

A Valorização Vem de Fora..................................................................................39<br />

O Choro que Ainda Ecoa.....................................................................................41<br />

Café Aquecido com Calor Humano................................................................43<br />

No Espelho da Vida...............................................................................................44<br />

O Bebê que Herdou o Mastro...........................................................................45<br />

Serenata Congadeira............................................................................................46<br />

Galeria de Fotos......................................................................................................47<br />

Publicações em Jornais......................................................................76<br />

Música a São Benedito.........................................................................................85<br />

Oração a são Benedito........................................................................................86<br />

Música de Congo....................................................................................................87<br />

Referências Bibliográficas....................................................................................89<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong><br />

Agradecimentos.......................................................................................................90<br />

<strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

3


APRESENT APRESENTAÇÃO<br />

APRESENT AÇÃO<br />

Este livro é fruto de um projeto elaborado pelos professores da<br />

área de Ciências Humanas da Escola Estadual São Marcos, realizado<br />

em parceria com os alunos do Ensino Médio da mesma instituição<br />

e a Prefeitura Municipal de Poço Fundo. A obra é uma coletânea<br />

de entrevistas e depoimentos, que visa valorizar a história e a cultura<br />

da Festa de São Benedito e do Terno de Congo da cidade de Poço<br />

Fundo. O conteúdo dos textos foi extraído de trabalhos elaborados<br />

pelos alunos e supervisionado pelos educadores. Além deles, alguns<br />

colaboradores e reconhecedores da cultura negra local também marcam<br />

presença no livro com belíssimas lembranças e histórias acerca<br />

do tema proposto.<br />

Apresentando o conteúdo básico da obra, procuramos resgatar o<br />

verdadeiro espírito da fé inabalável perante São Benedito. Pessoas e<br />

personagens fundamentais nesta bela história de festejos e religiosidade<br />

se tornaram peças fundamentais para a documentação de certos<br />

fatos ocorridos durante os cem anos da tradicional Festa de São<br />

Benedito. Filhos, netos e bisnetos de grandes ícones da cultura negra<br />

local contribuíram com os estudantes e tornaram possível a realização<br />

desse projeto, que, para muitos, é como um verdadeiro reconhecimento<br />

pela dedicação e luta dos ideais daqueles que fizeram e<br />

imortalizaram os costumes afros.<br />

Um outro grande objetivo do livro é resgatar certos costumes que<br />

foram esquecidos, soterrados e deixados de lado pela filosofia capitalista<br />

atuante no mundo. Fatores como esses se tornam cada vez<br />

mais essenciais para que o povo conheça suas origens e perpetue os<br />

valores de outrora, jogados ao léu e perdidos no tempo. Portanto, o<br />

livro “Memória de uma cultura” é uma obra destinada aos leitores<br />

que pretendem conhecer um pouco mais sobre a Festa de São Benedito,<br />

o Terno de Congo e a cultura negra poço-fundense, através de<br />

uma linguagem simples, direta e divertida.<br />

Curta o livro, relembre épocas que marcaram a história de nossa<br />

cidade e divulgue essa cultura esquecida, pois, se nossos pais te<br />

honraram, o que farão nossos filhos...<br />

Marcus Marcus Vinícius Vinícius de de Lima<br />

Lima<br />

4 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


O O TEMPO TEMPO ...<br />

...<br />

O tempo veloz, numa carreira vertiginosa,<br />

Sem olhar a quem encontra...<br />

Sem socorrer os que fere...<br />

Numa indiferença espantosa, seu caminho segue!<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

O O AMOR AMOR ...<br />

...<br />

Mas, desta vez, aturdido, estacou.<br />

E ao mirar, de relance,<br />

Os seus feitos e desfeitos,<br />

Entusiasta, admirando seu procedimento,<br />

Orgulhoso e feliz, permaneceu atento. E pensou...<br />

Cem anos atrás, o que bem me lembro!<br />

Se me afigura agorinha mesmo!<br />

O primeiro encontro de congadeiros.<br />

E tu, ó São Benedito,<br />

que num abraço, une o tempo e a atividade,<br />

Fazendo deles um dom precioso ao Senhor,<br />

Ordena ao tempo que teu filho nos concede.<br />

Para revestir em amor,<br />

Que colabora conosco na missão<br />

De fortalecer a congada<br />

De promover a igualdade.<br />

5


<strong>DE</strong>DICA <strong>DE</strong>DICATÓRIA<br />

<strong>DE</strong>DICA TÓRIA<br />

Inicia-se em 1906 uma linda história de Congadeiros<br />

em Poço Fundo, então presidida por José Laudino “Velho”<br />

Sua primeira manifestação torna-se festa, desde então,<br />

a congada é habitada pela crença do homem e<br />

pela música.<br />

Congadeiros modelo do município.<br />

Toma para si o lema “ a união faz a força dos afrodescendentes”.<br />

Com uma certeza de que a semente lançada<br />

se multiplicará apesar das dificuldades, os congadeiros<br />

se perseveram entre si mediatizados pelo mundo.<br />

Tradição, energia, garra, fé, luta pela liberdade.<br />

O ano de 2008 faz o marco “Tombamento da Congada”<br />

De ideal em ideal, de realização em realização, constrói-se<br />

a história.<br />

Empenho e trabalhos de negros inspirados na expectativa<br />

pura e simples de dançar e cantar na fé de São<br />

Benedito.<br />

E a congada toda é som nascido de corações e mãos<br />

que se doam.<br />

Diante de Deus e dos homens há uma missão a cumprir.<br />

Uma missão de embalar risos mágicos, esperanças<br />

na construção do mundo dos homens.<br />

Crença sem preconceitos, sem restrições de que é<br />

sempre tempo de acreditar.<br />

Amanhã haverá a continuação da história recriada<br />

do ontem e do hoje. É o gesto de se fazer perpetuar com<br />

a congada.<br />

Maria Maria Alice Alice Alice Dias Dias P PPinho<br />

P inho<br />

6 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Imagem Imagem da da igreja igreja de de São São Benedito<br />

Benedito<br />

Poço oço F FFundo<br />

F undo MG MG - - 2009<br />

2009<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

O O SANT SANTO SANT O MOURO<br />

MOURO<br />

Nascido em 1526 em São Filadelfo, nas proximidades da cidade<br />

de Messina, na Sicília. Benedito era filho do escravo Cristóvão<br />

Manassari e Diana Lancar, que fora libertada por um cavalheiro<br />

da Casa de Lanza, cujo sobrenome foi herdado de seus<br />

“Sinhôs”. Sua mãe era uma boa mulher, doce, pacífica, de maneiras<br />

graciosas e palavras amáveis e seu pai era um bom cristão<br />

que vivia para servir a Deus, a família e seu trabalho, cuidando<br />

da plantação de seu Sinhô.<br />

Benedito era ainda uma criança quando recebeu o serviço de<br />

guardar o rebanho e, enquanto as ovelhas estavam pastando,<br />

Benedito rezava o rosário<br />

com o pensamento voltado<br />

para Deus. Mais tarde<br />

recebeu ordem para cultivar<br />

a terra, ofício que exerceu<br />

até os 21 anos. Ingressando<br />

na Ordem Franciscana,<br />

Frei Benedito passava<br />

seus dias em oração<br />

e dedicação aos pobres e<br />

às coisas de Deus .<br />

É considerado pelo<br />

povo como um santo de<br />

muitos milagres. Um dos<br />

mais conhecidos se reporta<br />

à falta de comida no<br />

convento, quando naquela<br />

noite, com a ajuda do<br />

auxiliar de cozinha, encheu<br />

com água as panelas,<br />

tachos e latas grandes<br />

que havia na casa. De<br />

7


manhã, ó que maravilha; aquilo tudo estava cheio de peixes frescos,<br />

muitos deles vivos. Outra passagem milagrosa se refere ao<br />

fato de São Benedito distribuir o alimento do convento aos pobres,<br />

quando o guardião o surpreendeu e perguntou o que ele<br />

levava escondido nas mangas largas do hábito, Benedito mostrou<br />

rosas.<br />

A imagem de São Benedito apresenta-o normalmente, em duas<br />

evocações. A primeira, segurando no colo o menino Jesus, pois<br />

segundo a lenda São Benedito ajudou Maria a criá-lo. Forma derivativa<br />

também é encontrada, tendo o Santo, uma cruz na mão<br />

direita e o menino, na esquerda. A segunda, mais rara, apresenta<br />

o Santo carregando flores, reportando o milagre da transformação<br />

dos alimentos em rosas.<br />

Neste caso, a imagem é conhecida como São Benedito das<br />

Flores. E uma raríssima, o apresenta segurando uma abóbora<br />

na mão esquerda, indicação clara de sua proteção aos cozinheiros.<br />

Frei Benedito faleceu em 4 de abril de 1589, foi considerado<br />

bem-aventurado por Clemente XIII em 1763 e canonizado por Pio<br />

VII em 25 de maio de 1807.<br />

Segundo o Oficio Litúrgico da Ordem Franciscana; “Benedito<br />

que pela sua cor preta foichamado o Santo Preto”. Benedito era<br />

de família descendente da África, seus avós eram etíopes.<br />

Uma piedade falsa dos séculos XIX e XX (até os anos 50) queria<br />

atribuir uma cor de pele morena, quase branca, ao nosso santo,<br />

como se não ficasse bem a glorificação nos altares da raça<br />

negra. Assim como Benedito, também santo Elesbão e Santa Ifigênia<br />

são de cor negra e deram muitas glorias ao Senhor e à<br />

igreja.<br />

8 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


DA A ITÁLIA ITÁLIA A A PORTUGAL<br />

PORTUGAL<br />

E E AO AO BRASIL<br />

BRASIL<br />

Nossas tradições, nosso folclore, nossas cantigas e lendas trazem<br />

o nome do “Santo Preto”. A devoção a São Benedito, em<br />

nenhum país, é tão grande e fervorosa como no Brasil. Nem na<br />

Itália, pátria do taumaturgo. Ainda era Beato, não havia subido as<br />

honras dos altares com a canonização, e já possuía igrejas e confrarias<br />

em nosso país.<br />

Em Lisboa foi estabelecida uma confraria de São Benedito, com<br />

toda pompa celebrava-se a festa do Santo. Na procissão, uma<br />

multidão de negros escravos desfilava diante da imagem com estandartes,<br />

velas acesas e tochas coloridas.<br />

E, de Portugal, depois, a devoção se espalha por todas as colônias.<br />

No Brasil fundou-se uma das irmandades mais antigas do<br />

mundo em honra de São Benedito na Bahia. Em 1686 já festejava<br />

o Beato, neste mesmo ano foram criados e encaminhados a<br />

Roma os Estatutos da Irmandade de Bem-aventurado Frei Benedito<br />

de Palermo. Da Bahia, a devoção se espalhou pelo Maranhão<br />

e, atualmente por todo o Brasil. Em muitas cidades brasileiras ele<br />

é venerado com uma festa especial.<br />

Em São Francisco de Paula do Machadinho (Poço Fundo) no<br />

inicio do século XX se iniciaram os festejos e louvores ao Santo<br />

patrono dos humildes, dos cozinheiros, dos que sofrem preconceitos,<br />

dos negros e do branco, mormente o branco pobre. Erguendo,<br />

no pequeno vilarejo, a primeira igreja em honra a São<br />

Benedito.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

9


O O VENERADO VENERADO SANT SANTO SANT<br />

DOS DOS HOMENS HOMENS PRET PRETOS PRET OS<br />

Os modestos festejos ao venerado Santo dos homens Preto<br />

tiveram início no dia quatro de setembro de 1906 , com a chegada<br />

da imagem de São Benedito, na Paróquia de São Francisco<br />

de Paula do Machadinho. A imagem foi entronizada na capela<br />

do santíssimo pelo pároco Pe. João Testa, ela foi festejada e<br />

saudada cinco dias depois, ou seja, no dia nove do mesmo ano.<br />

Cita-se apenas o nome de um festeiro; o senhor Pedro D’Araújo<br />

Primo, que levantou recursos para adquirir a imagem. Desta data<br />

em diante, muitas festas ocorreram com mudanças e permanências,<br />

houve várias festas marcantes; entre elas a de 1957, que<br />

contribuiu para a reforma da igreja matriz e contou com a seguinte<br />

comissão; Edgar Ferreira, Dr. José Costa Rios Filho, Isaías<br />

Pereira de Carvalho (prefeito Municipal), Sebastião Arlindo<br />

Magalhães, José Evilásio Assi, José Pinto Verdade, Josino Dias<br />

Neves e Tomas Cecílio da Cruz, a reunião foi presidida pelo<br />

pároco Pe. Afonso Ligório Rosa.<br />

Podemos levar um fato em questão, nos anos 1968, 1969 e<br />

1970 não ocorreram as festividades em louvor a São Benedito e<br />

sim a outros santos. Em 1968 – Nossa Senhora e São Francisco<br />

de Paula; 1969- Nossa Senhora e Santo Antonio; 1970 – São<br />

Vicente, Santo Antônio, São Francisco de Paula e nossa Senhora<br />

Aparecida.<br />

Em 1971 realizou-se uma marcante e gloriosa festa, onde recebemos<br />

o precioso objeto da hagiografia, o “burel Franciscano”,<br />

que foi usado pelo virtuoso Franciscano São Benedito. A<br />

relíquia era guardada em um estojo de madeira, com vidros acompanhada<br />

de um documentário histórico com assinaturas de autoridades<br />

eclesiásticas, uma coleção de quadros e a biografia do<br />

servo de Deus. O burel permaneceu exposto por 3 dias, na capela,<br />

ao lado do presbitério da igreja matriz para visitas, orações do<br />

10 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


povo e homenagem dos ternos de congadas, com seus cantos,<br />

danças típicas e preces. Na época, o Capitão Euclides Laudino<br />

presidia as congadas além, do Terno de Santa Ifigênia e Nossa<br />

Senhora do Rosário.<br />

Hoje a Festa de São Benedito é a única festa popular, mantenedora<br />

da paróquia. É organizada com a participação de toda a comunidade,<br />

tanto nas atividades religiosas, folclóricas ou social.<br />

Decorrente da falta de infra-estrutura adequada, os organizadores<br />

do evento têm procurado solucionar, na medida do possível, visando<br />

melhor atendimento e conforto aos seus frequentadores.<br />

Atualmente há uma condição entre a população em relação ao<br />

nome da praça onde é realizada a Festa. Legalmente a praça se<br />

chama Antônio Velano, mas para a população e moradores próximos<br />

da praça ela é chamada de Praça São Benedito.<br />

Sobre a mudança e permanência, podemos citar que durante o<br />

paroquiato do Pe. José Arlindo Magalhães e Pe. Afonso Ligorio Rosa<br />

eles escolhiam os festeiros, os organizadores dos leilões de gado e<br />

de prendas. O cuidado da igreja de São Benedito ficava por conta<br />

de Benedita Aurora da Cruz, que confeccionava as flores, os andores,<br />

enfim. Com a chegada do Pe. Douglas Thadeu Dória em 1983,<br />

várias coisas mudaram. Todo o município foi dividido em comunidades<br />

(CEBs) e a, igreja católica, em alguns lugares e por alguns<br />

padres, aderiu à Teologia da libertação que tinha como lema “O<br />

cristianismo a favor dos excluídos”, neste contexto diversas tradições<br />

centenárias da igreja católica foram banidas. Novos costumes<br />

se incorporam aos já existentes, as comunidades dos diversos bairros<br />

do município passaram a participar na organização da festa,<br />

tanto no religioso como no social. No ano de 1986 a festa passou<br />

a ser denominada “Festa de São Francisco e São Benedito”. Sendo<br />

assim, a imagem de São Francisco de Paula passou a fazer parte<br />

das procissões até o ano de 2000.<br />

Em 2002, São Cristóvão (protetor dos motoristas) foi inserido<br />

na festança. A imagem de São Cristóvão em um caminhão todo<br />

enfeitado, conduz uma carreata do distrito Paiolinho até Poço<br />

Fundo, e ao final da carreata há bênção aos motoristas.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

11


AS AS IRMAND IRMANDA<strong>DE</strong>S<br />

IRMAND A<strong>DE</strong>S<br />

As confrarias podem ser consideradas como verdadeiros celeiros<br />

da religiosidade popular, posto que eram nelas que se reuniam<br />

os leigos do catolicismo tradicional, podendo ser de dois tipos;<br />

as irmandades e as Ordens Terceiras.<br />

Datando da Idade Média, destinadas ao culto devocional de<br />

seu santo padroeiro e visando aspectos sociais para benefícios de<br />

seus membros, as Irmandades representam as reminiscências das<br />

antigas corporações de artes e ofícios, enquanto que as Ordens<br />

Terceiras ligam-se às tradições das ordens religiosas, sobretudo<br />

Franciscanos, Carmelitas e Dominicanos.<br />

Tendo como finalidade principal o culto de um santo de sua<br />

devoção, as confrarias assumiram ao longo do tempo um aspecto<br />

segregacionista, havendo associações<br />

exclusivamente<br />

destinadas a brancos, como<br />

a de nossa Senhora do Carmo,<br />

outras como as de São<br />

Benedito, Nossa Senhora do<br />

Rosário e Santa Ifigênia, e<br />

outras a pardos, demonstração<br />

típica do preconceito de<br />

cor.<br />

Em Poço Fundo, a irmandade<br />

de “São Benedito” foi<br />

fundada1906, pelos devotos,<br />

que logo deram andamento<br />

de angariar donativos para<br />

erguer um templo em honra<br />

a São Benedito que era recém<br />

chegado na freguesia. A igre-<br />

Altar Altar da da antiga antiga igreja igreja de<br />

de ja foi inaugurada em outubro<br />

São São Benedito Benedito esculpido esculpido por por Manoel Manoel Bento<br />

Bento de 1912.<br />

12 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Altar Altar da da Igreja Igreja Igreja de de Santa Santa Ifigênia<br />

Ifigênia<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

A Irmandade de Santa Ifigênia teve<br />

seu início em 1907, conforme data seu<br />

estandarte (Viva Santa Iphigenia – 14<br />

de maio de 1907 D. De S. Sandi).<br />

Como não havia a igreja de Santa Efigênia,<br />

a imagem ficava na de São Benedito.<br />

Mas isso não impedia os devotos<br />

de expressarem sua fé e seus<br />

festejos à santa protetora dos lares.<br />

Sua imagem seguia todos os anos em<br />

procissão, na festa de São Benedito.<br />

A igreja foi idealizada por Maria Nazaré<br />

de Jesus e construída por Mário<br />

Félix em 1975. A festa de Santa Efigênia<br />

Protetora das moradias é celebrada<br />

dia 21 de setembro.<br />

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi fundada no<br />

final do século XIX. Nesta época, usavam um quadro de Nossa<br />

Senhora do Rosário, pois ainda não<br />

havia a igreja e nem a imagem. No<br />

ano de 1900 o Pe. José Miguel de<br />

Souza e a Baronesa de Alfenas adquiriram<br />

a Imagem de Nossa Senhora<br />

do Rosário. Mais tarde com o aumento<br />

da devoção se fez necessário<br />

a construção de uma igreja maior.<br />

Foi então que o Pe. João Evangelista<br />

e os senhores José Calixto Maximiano<br />

da Cruz, Luiz Congadeiro e<br />

Sr. Mizael, lançaram a pedra fundamental<br />

em 7 de outubro de 1920<br />

dia em que é celebrada sua festa. A<br />

Igreja sofreu uma intervenção em Interior Interior da da Igreja Igreja Nossa Nossa Senhora Senhora do<br />

do<br />

Rosário osário – – 2009<br />

2009<br />

1953.<br />

João João Ademir Ademir F FFernandes<br />

F ernandes<br />

13


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>UMA</strong> RAINHA<br />

RAINHA<br />

Os primeiros festejos em louvor a São “Benedito”, foram realizados<br />

em 1906, com a chegada da Imagem de São Benedito à<br />

Paróquia de São Francisco de Paula do Machadinho a exatamente<br />

04 de setembro do mesmo ano. O fato de estarmos comemorando<br />

o Centenário em 2009, e não em 2006, é porque nos anos<br />

de 1968,1969 e 1970, não aconteceram os festejos em louvor a<br />

São Benedito, outros santos foram homenageados; Santo Antonio,<br />

Nossa Senhora Aparecida, São Francisco de Paula e São Vicente.<br />

Mas a tradição mesmo era são Benedito, tanto é que, logo<br />

voltou a ser homenageado com grandes devoções. Os registros<br />

que temos sobre as antigas festas, nos remetem a uma festa religiosa<br />

não detalhada, sem preferência da parte folclórica, pois os<br />

festejos se deram com a chegada da imagem e sua introdução na<br />

capela do Santíssimo Sacramento.<br />

Já existiram 3 ternos de congo em nossa cidade, o de Nossa<br />

Senhora do Rosário, fundado por João Calixto, conhecido como<br />

Dinho, o de Santa Rita e Santa Efigênia, fundado por José Benedito<br />

e o de São Benedito, fundado por José Laudino Alves.<br />

São muitos os motivos que fazem a Festa de São Benedito ser<br />

tão participada e duradoura, dentre eles; “o povo gosta de alegria<br />

e diversão”, nesta oportunidade procura também demonstrar<br />

sua fé, participando das novenas e procissões. A festa de São<br />

Benedito, além de prestar homenagens ao Santo protetor dos<br />

negros, tem também uma finalidade de manutenção da Paróquia;<br />

40% do lucro destina-se à igreja de São Benedito e 6% à igreja<br />

Matriz.<br />

A festa de São Benedito é importante para nós, porque é a<br />

nossa principal expressão cultural. Nestes cem anos de existência,<br />

apesar das mudanças que vêm ocorrendo a cada ano que passa.<br />

O congado é uma manifestação cultural muito rica, expressa costumes<br />

dos negros sudaneses e bantos, de Angola e do Congo. O<br />

único terno de congo, terno de São Benedito é o que sustenta e<br />

14 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


dá brilho aos costumes culturais de nosso povo.<br />

Uma das festas que me marcou muito, foi a de 1971, ano em<br />

que a paróquia de Poço Fundo recebe as relíquias de são Benedito,<br />

“Bure Franciscano”, nesta época o Capitão do terno Euclides<br />

Laudino, presidia os congados.<br />

Talvez alguma melhora na infra-estrutura, respeitando o espaço<br />

onde os congadeiros possam fazer evoluções e gingos, para a<br />

brilhantíssima Festa. Afinal, são eles que enriquecem o nosso folclore<br />

e como o terno de São Benedito é o único sobrevivente,<br />

após tombada, devem todos zelar para que o mesmo seja amparado,<br />

resguardando todas as necessidades´. Para que este centenário<br />

seja inesquecível é preciso que se priorize a cultura, valorizando-a<br />

através do respeito, divulgação e resgate.<br />

Maria Maria das das Graças Graças Cruz Cruz (Gracinha) (Gracinha) nasceu nasceu em em Gimirim<br />

Gimirim<br />

(P (Poço (P (P oço F FFundo)<br />

F Fundo)<br />

undo) aos aos 05.11.1949, 05.11.1949, 05.11.1949, filha filha de de T TTomas<br />

T Tomas<br />

omas Cecílio Cecílio Cecílio da da<br />

da<br />

Cruz Cruz e e Benedita Benedita Aurora Aurora Aurora da da Cruz, Cruz, é é professora professora professora e<br />

e<br />

advogada advogada aposentada. aposentada. aposentada. F FFoi<br />

F Foi<br />

oi coroada coroada rainha rainha perpétua perpétua na<br />

na<br />

década década de de 50 50<br />

50<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

15


A A VOZ VOZ DO DO PREFEIT PREFEITO PREFEIT<br />

A Festa de São Benedito é realizada há décadas em nosso<br />

município oscilando entre os meses de maio a julho. A organização<br />

da festa sempre foi realizada pela igreja católica, com<br />

apoio da prefeitura e dos munícipes. Na ocasião do centenário<br />

da festa a Prefeitura Municipal, disponibilizará maior atenção a<br />

este, que será um evento marcante para nossa cidade.<br />

Antigamente não havia aluguel de terrenos para barracas, os barraqueiro<br />

pagavam apenas uma taxa, as barracas eram menores e<br />

em menor quantidade. Hoje em dia é dividido o espaço físico da<br />

praça, ruas adjacentes e alugados por m² aos proprietários de barracas<br />

do município e outras cidades, sempre muito diversificadas; parque<br />

de diversões, comércio mercadorias, objetos diversos e a praça<br />

de alimentação sempre acompanhada pela vigilância municipal de<br />

saúde. A montagem das barracas do (víspora) é feita pelos festeiros<br />

e as outras particularidades são feitas pelos próprios donos. A comissão<br />

da festa, os festeiros normalmente são pessoas escolhidas pela<br />

própria comunidade com orientação e supervisão do padre.<br />

Dias antes da festa são feitas campanhas de café e bezerros em todo<br />

município e, na semana da festa, é realizado o leilão de gado, também<br />

organizado pelos festeiros, o café é vendido posteriormente. Durante<br />

todos os dias da festa são realizados leilões de assados e sorteios de<br />

brindes, o prêmio maior que sempre é uma moto ou um carro, é disputado<br />

no último dia da festa. Todos os brindes e prêmios sorteados são<br />

doações do comércio local que participa ativamente desse evento.<br />

Por se tratar de uma festa tradicional em nossa cidade, mesmo<br />

sendo realizada pela igreja católica, ela é frequentada por pessoas<br />

de outras religiões também, pois a parte social e folclórica atrai<br />

públicos diversos, não só de Poço Fundo, mas de toda a região.<br />

Quanto a segurança, antigamente não era necessário nenhum<br />

tipo de inspeção, pois o público era menor, diferente de hoje que<br />

é exigido autorização do Corpo de Bombeiros, Polícia militar e<br />

eventualmente empresas de segurança particulares. O controle e<br />

16 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


vistoria dos brinquedos são de responsabilidade de seus proprietários,<br />

os mesmos requerem alvará da prefeitura, que só é expedido<br />

mediante documento de autorização do INMETRO, que atesta<br />

a qualidade e segurança dos brinquedos. Uma ambulância, que<br />

permanece de plantão na praça durante os dias da festa.<br />

Há tempos atrás não havia preocupações com instalações sanitárias,<br />

quando havia, eram banheiros químicos (móveis), mas com o passar do<br />

tempo a necessidade forçou os organizadores a providenciar a construção<br />

dos mesmos. No ano de 1996 foi construído um coreto no centro da<br />

praça e sob ele banheiros, mas a obra não agradou. talvez por ter tirado<br />

um pouco a visibilidade da igreja, no ano de 2005 foram demolidos, e<br />

em 2008 foram construídos novos banheiros aos fundo da igreja.<br />

A divulgação da festa é realizada pela igreja, a imprensa local,<br />

(rádio, Jornal) e a própria tradição já é uma divulgação.<br />

A renda obtida é revertida para a paróquia, e utilizada nas reformas<br />

de igrejas e manutenção das atividades paroquiais. Os congadeiros<br />

não têm nenhuma participação no lucro da festa, a manutenção<br />

e reparos dos instrumentos, os gastos com roupas fardas, bandeiras,<br />

fogos de artifício e viagens são mantidas por doações da<br />

comunidade e algumas vezes pela prefeitura municipal.<br />

Festas populares e folclóricas, como a de São Benedito, são tradicionais<br />

no Brasil e remotam aos tempos do Brasil colônia. Antigamente as<br />

opções de lazer nos municípios e em muitos lugares que, nem municípios<br />

eram, ficavam limitados às festividades deste tipo. A vida social, além<br />

dos eventos dominicais como a santa missa, acontecia nestas festas, que<br />

são muitas, como a do Rosário, do Asilo, dos Santos reis e juninas. Esses<br />

eventos guardam uma relação muito próxima com a própria identidade<br />

do município. Temos que nos manter vigilantes ao modernismo, não<br />

deixando que este descaracterize essas tradições. Quando lidamos com<br />

cultura, necessário se faz separar o “modernismo” da verdadeira tradição,<br />

respeitado aos valores de fatos positivos e enraizados no seio da<br />

comunidade, e sempre para seu próprio bem e orgulho.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Carlos Carlos Alberto Alberto F FFagundes<br />

F agundes Gouvêa,<br />

Gouvêa,<br />

Prefeito refeito refeito Municipal Municipal Municipal Adm. Adm. Adm. 2005/2012<br />

2005/2012<br />

2005/2012<br />

17


LUIZ LUIZ ANTÔNIO ANTÔNIO: ANTÔNIO : <strong>UMA</strong> <strong>UMA</strong> LI<strong>DE</strong>RANÇA<br />

LI<strong>DE</strong>RANÇA<br />

Participo da Congada há 55 anos, hoje sou Contra-mestre do<br />

Terno de São Benedito. É de nosso conhecimento que em 1906,<br />

fundou-se a primeira igreja de São Benedito na vila de São Francisco<br />

de Paula do Machadinho e em seguida, formou-se a primeira<br />

irmandade de são Benedito e também a primeira Festa, onde<br />

também se realizou a dança da congada com um grupo chamado<br />

terno, representado por uma corte.<br />

José Laudino Alves, vindo de São João Del Rei, foi o fundador<br />

da Igreja de São Benedito e do terno de Congada junto com seus<br />

amigos, Sr. Bié e outros.<br />

Minha família faz parte do terno de Congo há cinco gerações.<br />

O nosso terno apresenta em festividades locais e em diversas<br />

cidades vizinhas.<br />

Em maio de 2008 a Associação dos congadeiros de Poço Fundo<br />

“José Laudino Alves” foi instituída como Patrimônio Cultural e imaterial<br />

do Município de Poço Fundo, através do decreto nº. 33 de 13<br />

de 2008. O Decreto foi assinado<br />

em público na Escola Estadual<br />

São Marcos quando acontecia<br />

uma cerimônia de homenagens<br />

aos congadeiros.<br />

Já desfilamos com roupas diversas;<br />

bombachas, saias, coletes,<br />

camisas e calças e batas.<br />

Na década de 70 foi incorporado<br />

ao terno de Congo as bandeireiras,<br />

que carregam estandartes<br />

com frases; “o sol brilha<br />

para todos”, “Preto é cor negro<br />

é Raça” ... e outras com estampas<br />

de símbolos afros. Dançando<br />

ao ritmo dos tambores, as<br />

18 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


meninas dão maior volume e movimento à congada.<br />

Uma semana antes da festa, um cortejo, acompanhado pelo terno<br />

de congo, segue até a Praça de São Benedito levando o mastro,<br />

que é levantado ao centro a praça e permanece até o final da festa.<br />

Na tarde de segunda feira após a festa, o terno de congo sai<br />

pelas ruas da cidade passando pelo cemitério para homenagear<br />

os congadeiros que já partiram e segue recolhendo as cartas das<br />

juízas com seus donativos. Ao final da tarde buscam a rainha e o<br />

rei em suas residências, que por sua vez, acompanham em<br />

trajes de gala; coroa, capa e amparados com sombrinhas e guarda-sol<br />

até a igreja de São Benedito onde acontece a cerimônia<br />

do reinado. Após a chamada dos membros do congo, reis, rainhas<br />

e juízas do ramalhete, são feitos agradecimentos a todos os<br />

presentes e a São Benedito com pedidos de saúde, paz e forças<br />

para voltar no ano que vem.<br />

Na terça feira, partindo do ponto de ensaios, o terno segue<br />

até a Praça para “ranca” do mastro. Ele é retirado e levado para<br />

a casa do Capitão do Mastro onde fica guardado, e voltando<br />

para o “Terreiro” local dos ensaios acontece uma confraternização<br />

entre os congadeiros e seus familiares, onde são distribuídos;<br />

quentão pipocas e salgados e até uma pinguinha.<br />

O terno de São Benedito é composto pelos seguintes elementos;<br />

um Capitão do congo, que é a função mais elevada, é ele<br />

quem dirige e organiza o grupo; um contra-mestre, auxiliar do<br />

Capitão-do-congo, que o substitui quando falta; um Capitão-domastro,<br />

responsável por “plantar” e retirar o mastro, bem como<br />

pela queima de fogos; um meirinho, responsável em cuidar das<br />

crianças e zelar pela segurança de todos; bandeireiras, que são<br />

as dançarinas, levam consigo bandeiras ornadas com flores e fitas<br />

e realizam belíssimas evoluções e os congadeiros, que dançam,<br />

cantam, rezam e tocam instrumentos.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Luiz uiz Antônio Antônio Delmiro, Delmiro, Contra-mestre Contra-mestre do do TT<br />

Terno T erno<br />

São São Benedito Benedito P PPoço<br />

P oço F FFundo<br />

F undo – – MG<br />

MG<br />

19


A A FEST FESTA FEST A SOB SOB O O OLHAR OLHAR D DDA<br />

D A IGREJA<br />

IGREJA<br />

Um dos principais objetivos da Centenária Festa de São Benedito<br />

é a celebração religiosa, expressão de fé a Deus por intercessão<br />

de São Benedito. Outras finalidades foram surgindo, como<br />

momentos de entretenimento, descontração, cultural, folclórico e<br />

turístico. Há tempos, a festa era mais tímida e simples, havia<br />

somente a barraca da igreja, diferente dos dias atuais, que recebemos<br />

barracas e gente de lugares diversos, parques de diversões...<br />

É denominada “Festa de São Benedito” desde sua origem<br />

por ser ele o padroeiro da comunidade e dos negros.<br />

A Paróquia de São Francisco de Paula como organizadora da<br />

Festa de São Benedito alguns meses antes da festa, convoca as<br />

pastorais para uma reunião, dividindo as tarefas, como; convidar<br />

os padres de outras paróquias para presidir as novenas, preparação<br />

litúrgica e a parte social que é de responsabilidade dos festeiros<br />

(em média 6 casais) que são responsáveis por realizar as campanhas<br />

de arrecadações, providenciar documentações legais como<br />

alvará, licença; negociar com os barraqueiros, etc. Dentro desta<br />

organização, a Prefeitura participa cedendo o espaço físico. A<br />

paróquia divide e aluga terrenos aos barraqueiros, que também é<br />

uma forma de contribuição por parte deles para com a igreja.<br />

O acontecimento tornou-se um atrativo folclórico e turístico, o<br />

que representa lucro aos comerciantes e a união do município em<br />

prol da festa, além disso, engrandece o nome da cidade, atraindo<br />

pessoas de toda região. A participação das pastorais, movimentos,<br />

padres de outras paróquias, comunidades rurais, urbanas,<br />

e outros grupos, são recentes.<br />

Uma das principais dificuldades enfrentadas, hoje, para a realização<br />

da festa é a burocracia. As exigências por parte da Vigilância<br />

Sanitária, do Corpo de Bombeiros, da Prefeitura e Promotoria<br />

são muito grandes.<br />

O grande patrocinador da festa é o próprio povo. Os comerciantes<br />

contribuem com a compra e venda das cartelas, doações<br />

20 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


de prêmios, que são sorteados no último dia da festa. Os agricultores<br />

e pecuaristas colaboram com a doação de café e bezerros,<br />

também são doados frangos e leitoas por pessoas de influência<br />

na comunidade e na festa.<br />

Quanto à arrecadação da festa, 60% são destinados à igreja<br />

matriz, para a manutenção das despesas paroquiais e 40% vão<br />

para a construção e o término da igreja de São Benedito. A paróquia<br />

oferece aos congadeiros o leilão do domingo à tarde, e o da<br />

última segunda feira. Também é celebrada no último domingo,<br />

uma missa afro e, pelo fato de São Benedito ser um Santo negro,<br />

há uma conscientização nas reflexões.<br />

A casa dos Congadeiros é um antigo projeto que ainda não se<br />

concretizou. No momento fica difícil a paróquia abraçar esta causa,<br />

uma vez que ainda estamos em fase de acabamento da nova<br />

Igreja de São Benedito, e esta é a prioridade do momento. Também<br />

o dinheiro arrecadado na festa não é tanto assim como muitos<br />

pensam, é só observar o balancete da festa no mural de publicação<br />

da matriz ou no jornal. Talvez com maior entendimento entre<br />

a associação dos congadeiros e a paróquia, possamos futuramente<br />

destinar parte deste recurso a projetos sociais e culturais.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Pe. e. João João Bosco Bosco de de F FFreitas,<br />

F reitas, natural natural de de Conceição Conceição Conceição dos<br />

dos<br />

Ouros, Ouros, assumiu assumiu a a paróquia paróquia de de São São F FFrancisco<br />

F rancisco de de P PPaula<br />

P Paula<br />

aula - -<br />

-<br />

Poço oço F FFundo,<br />

F undo, em em abril abril de de 2005<br />

2005<br />

21


UM UM 13 13 <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> ESPERANÇA<br />

ESPERANÇA<br />

Fecharam–se as portas das senzalas, onde estão os escravos?<br />

Os troncos estão sem serventia ou semi-destruídos. Os cochos estão<br />

vazios sem a disputa violenta dos negros por uma porção de<br />

ração. A Casa Grande perdeu o alarido, o vai e vem dos escravos,<br />

por onde andam as mucamas e as quituteiras. No Palácio Real<br />

ecoou o brado da Abolição. No Brasil não há mais escravidão.<br />

O Negro está liberto.Os abolicionistas venceram com a grande luta<br />

de ideário e libertário alcançado. Vivas à princesa Izabel explodiu.<br />

Uma grande luta, uma grande vitória! Os negros são donos dos<br />

seus destinos e vontade. Pergunta-se, estão preparados para exercê-los?<br />

Ou ficarão expostos à perambulação, dos becos, estradas<br />

ou rua deserta em busca sabe-se lá do quê? Mas, mesmo assim,<br />

foi o despertar de uma consciência de conquistas. Novos horizontes<br />

foram se abrindo, e o negro, no convívio natural de correlação<br />

e espontâneo e gradual do tempo veio conquistando um amadurecimento,<br />

entrelaçamento cultural, profissional e social que realmente<br />

o liberta. Fazemos questão desta colocação, porquanto, as<br />

oportunidades se nos apresentam, as portas se abrem ao acolhimento<br />

da igualdade, independente de raça e da cor.<br />

É certo que a evolução da raça negra no Brasil vem crescendo<br />

e progredindo consideravelmente em todas as áreas. Mas devemos<br />

destacar com muita satisfação que a nossa querida Poço Fundo,<br />

não destoa desse progresso. Já no ano de 2001, nas páginas<br />

4 e 5 da edição do dia 09 de Junho do Jornal de Poço Fundo, o<br />

nosso Caro Dr. Schiller Ferreira Noronha em sua coluna Histórias<br />

de Poço Fundo “em comemoração dos 113 anos de libertação<br />

dos escravos do Brasil”, homenageia os negros de Poço Fundo<br />

que já tinham atingido um curso superior, sendo o l° destes, da<br />

área Jurídica em 1973. E para certamente, satisfação geral e especialmente<br />

para a raça negra, já éramos um bom grupo, em<br />

considerando o número da população negra do município, e o<br />

todo da população geral.<br />

22 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Nestas linhas de sucintas considerações sob o 13 de maio,<br />

temos como pano de fundo, sobrelevar as comemorações realizadas<br />

em Poço Fundo.<br />

Estando o Terno de Congo de São Benedito comemorando o seu<br />

Centenário, houve por bem o Sr. Prefeito, Dr. Carlos Alberto Fagundes<br />

Gouvêa inserir a comemoração da festividade do 13 de maio deste ano<br />

no contexto do Centenário. A realização dessa iniciativa contou também<br />

com o consenso e altivo descortino empreendedor das competentes<br />

Direções de todas as Escolas. Sob a coordenação da Sra. Secretária<br />

Municipal de Educação e Cultura, Profª Eusa Maria Ramos Ferreira de<br />

Araújo, a programação coroou-se de plena beleza e sucesso. Foi muito<br />

feliz a idéia dos organizadores de levar as apresentações do festejo para<br />

a praça pública. Com essa iniciativa, proporcionou-se a oportunidade<br />

de toda a população ver e participar do evento cívico, tão magistralmente<br />

preparado e apresentado pelas Escolas. Foi também, muito feliz<br />

e estrategicamente bem escolhido os locais das apresentações; nas imediações<br />

do Paço Municipal e na Praça São Francisco, o que deu, na<br />

verdade, o sentido de uma homenagem pública ao ano do Centenário,<br />

com a motivação coreográfica e cartazes ilustrativos da Abolição. Como<br />

parte da comemoração, pelo 5° ano consecutivo, foi oferecido pelo Sr.<br />

Prefeito, um lauto almoço aos Congadeiros, o que já vem se tornando<br />

uma tradição de homenagem.<br />

A parte comemorativa terminou com a celebração da Santa Missa<br />

celebrada com muito fervor pelo Padre João Bosco, comentada pela<br />

Drª. Maria das Graças Cruz, com muita motivação, ficando como todos<br />

anos, a parte musical, com a mestria do Jornalista Antonio Carlos<br />

e magistral participação do coral e em seguida, a degustação do doce.<br />

Com muita satisfação, queremos tornar público em meu nome,<br />

de toda a Família Congadeira, da Associação dos Congadeiros<br />

José Laudino Alves, os nossos mais efusivos e calorosos agradecimentos<br />

ao Sr. Dr.Carlos Alberto Fagundes Gouvêa e Jéssica, jovem<br />

estudante do Colégio São Marcos, pela proposição da Estudante<br />

e aceitação por parte do Sr. Prefeito, de declarar em 13 de<br />

maio do ano passado, o Terno de Congo São Benedito, através<br />

da Associação Congadeiro José Laudino Alves, Patrimônio His-<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

23


tórico e Cultural do Município.<br />

Isto permitiu a integração da população interagindo com as<br />

comemorações e conhecendo mais aberta e publicamente a Congada<br />

com sua arte, canto e ginga.<br />

Foi notória a participação e manifestação de aplausos de uma<br />

riqueza cultural que é nossa, mas ainda, precisando e carente de<br />

apoio, o que já começou a acontecer.<br />

Tivemos reflexos significativos este ano. Graças a assinatura<br />

do Decreto já referido, tivemos a grata satisfação e prazer de ser<br />

procurado por diversos grupos de alunos da São Marcos, para<br />

entrevistas sob a Congada e antigas festas de São Benedito em<br />

Poço Fundo. As entrevistas, conforme solicitação dos alunos eram<br />

para cumprir Trabalho Escolar determinado na cadeira de História.<br />

Queremos, sensibilizado, agradecer ao Mestre, tão louvável<br />

iniciativa da divulgação da nossa cultura, e apoio à Congada<br />

poço-fundense, ao mesmo tempo em que rogo-lhe minhas desculpas<br />

de por um lapso, não ter pedido seu nome.<br />

Nesta mesma conceituação, honrou-me da mesma maneira, ser<br />

também procurado para conceder uma entrevista sob o mesmo assunto,<br />

a nossa Ilustre Escritora poço-fundense, a Dª. Simone Vieira Oliveira,<br />

esposa do Dr. Messias, a quem tive o prazer de conhecer pessoalmente,<br />

e sabê-la, filha da nossa saudosa Professora Dª. Santa. Nossa<br />

gratidão pela difusão cultural da nossa gente e da Congada.<br />

No rol dos agradecimentos, não posso deixar de consignar à<br />

Diretora da Creche Santa Terezinha, Joana D’arc Romaneli Peta,<br />

a acolhida sempre carinhosa aos Congadeiros para o festivo almoço<br />

na Creche.<br />

Parabéns, com os nossos mais profusos agradecimentos queremos<br />

congratular com toda a população poço-fundense e estimadas<br />

Autoridades pela visão que se nos antecipa de uma grande<br />

festividade para continuidade do Centenário do nosso Terno<br />

de Congo e seu futuro.<br />

Por tudo isto posso dizer, este foi na verdade: Um 13 de esperança<br />

Armando Armando Mathias Mathias Braz<br />

Braz<br />

24 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

TRADIÇÃO TRADIÇÃO E E SAUD SAUDA<strong>DE</strong> SAUD A<strong>DE</strong><br />

Em minha caminhada diária, passei hoje pela Praça de São<br />

Benedito, parei e fiquei a rememorar as festas ali realizadas, sempre<br />

no mês de maio, em função do dia 13 que é dedicado a<br />

abolição da escravatura.<br />

Visualizei em minhas lembranças as ruas de terra batida, as<br />

barracas pequenas cercadas de bambu, cobertas de sapé e forradas<br />

de pó de serragem. Lembrei-me as pessoas caminhando para<br />

a igreja, onde todos os dias eram realizadas, a novena. Vinham<br />

todos bem arrumados, de traje social, participar deste evento, que<br />

era o mais importante da cidade.<br />

Os habitantes da zona rural também participavam assiduamente<br />

da novena e da festa.<br />

Após a novena, todos corriam para o leilão, onde os brindes,<br />

cartuchos fartos, frangos e leitoas,<br />

roscas e bolos enfeitados,<br />

eram leiloados por um<br />

pregoeiro. Os brindes eram<br />

doados, segundo o trabalho<br />

dos festeiros, que organizavam<br />

uma lista e saíam pedindo por<br />

toda a comunidade urbana e<br />

rural. Os festeiros, no encerramento,<br />

passavam para outros<br />

a coroa, tornando-os responsáveis<br />

pela festa do ano<br />

seguinte.<br />

O público festeiro era formado<br />

também por jovens. As<br />

moças se vestiam com os melhores<br />

trajes, se enfeitavam e<br />

se encontravam nas barracas<br />

para se divertirem, beber um<br />

25


quentão e esperarem pelo famoso “correio elegante” que os moços<br />

enviavam juntamente com uma música oferecida no alto-falante,<br />

com a intenção de conquistar. Tudo muito secreto, e quem recebia<br />

ficava adivinhando, se era da pessoa que ela desejava. E saía<br />

para dar voltas pela festa com o rapaz ao som de “A Praça” cantada<br />

por “Ronnie Von”.<br />

Lembro-me de que, na época, não existiam drogas, nem roubos,<br />

nem a liberalidade de hoje com bebidas e outros avanços,<br />

ficava-se ali até altas horas, num ambiente saudável, sem beijos,<br />

sem receios de qualquer espécie. E o terno de congo do Senhor<br />

Laudino, sempre presente, animando a festa, que era anunciada<br />

dias antes pelos foguetes do “Dema”, cujo som repercutia todas<br />

as tardes, durante esta realização. As barracas eram bem montadas<br />

e muito bem frequentadas. Relembro Maria Augusta com o<br />

seu pastel, ponto imperdível da festa. Todos passavam para comer<br />

o pastel fritinho na hora, se deliciar com o seu quentão e<br />

para um dedinho de prosa.<br />

Maria Augusta, com a ajuda de sua mãe, começou a fazer os<br />

pastéis por encomenda, para ajudar nas despesas de casa. Acabou<br />

montando sua própria barraca e se incorporando à tradição<br />

da antiga festa de são Benedito. O pastel ainda é feito, a festa<br />

continua em outra data e em outros padrões. A Maria Augusta é<br />

saudade.<br />

Entretanto, para os saudosistas, se não existem foguetes do<br />

“Dema” para animar, às 12 horas em ponto, os folguedos da<br />

noite, os belíssimos cartuchos com seus deliciosos doces, tentação<br />

da criançada, as divinas leitoas assadas com seus biscoitos<br />

fofos e outras prendas que eram leiloadas. Podemos encontrar<br />

uma infinidade de atrações, mas nenhuma apagará da memória<br />

as marcas deixadas pelo tempo e pelas pessoas maravilhosas<br />

que passaram por nossas vidas.<br />

Segundo Segundo o o conto conto de de Maria Maria Aparecida Aparecida Silvestre Silvestre P PPires<br />

P ires<br />

(Cidinha, (Cidinha, 56 56 anos), anos), irmã irmã de de Maria Maria Augusta Augusta Augusta e e Elson Elson Mendes Mendes Gonçalves<br />

Gonçalves<br />

(filho (filho (filho de de de Maria Maria Maria Augusta) Augusta)<br />

Augusta)<br />

26 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

BARRIL BARRIL <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> PINGA<br />

PINGA<br />

Que saudade da congada fundada pelo saudoso José Laudino,<br />

que com tanto entusiasmo, contava os dias para iniciar nos<br />

ensaios do congo.<br />

Começou a festa, o terno de congo se hospedava em um<br />

barracão próximo da praça. Muitos deles ficavam acordados até<br />

a madrugada contando causos e histórias de assombração, no<br />

dia seguinte uma mesa farta os esperava; quentão, chocolate,<br />

broa, amendoim torrado, bolo de fubá, pau-a-pique, leite e café.<br />

À noite, hora de irmos à igrejinha, que contava com a presença<br />

dos padres que conduziam a missa e o terço durante os nove<br />

dias de festa.<br />

A data da festa variava entre os meses de maio e junho, para<br />

se livrar das chuvas. Os pregoeiros dos leilões, durante muito<br />

tempo, foram os senhores Zé Bú, Fiinho e o Nenzico, filho de<br />

Antonio Silvestre.<br />

Hoje, quando entro na Barraca da escola de Samba, lembrome<br />

com saudade da década de 60, quando o festeiro, Sr. Jairo<br />

Elias, comprou um barril de pinga e colocou uma torneira, onde<br />

todos os dias os apreciadores bebiam à vontade. Tinha barracas<br />

de argola, correio elegante e muito mais.<br />

Nesses cem anos, muitas coisas aconteceram e acontecem, o<br />

espaço físico e os costumes mudaram, mas a alegria de festejar<br />

São Benedito e a boa vontade das pessoas que ajudam, ainda se<br />

fazem presente. E os nomes daqueles que se desdobraram em<br />

prol desta realização, estarão registrados eternamente na história<br />

de Poço Fundo.<br />

Atualmente na festa, não há o pau-a-pique e nem o amendoim<br />

torrado, mas sim a cerveja, a Vodka e whisky.<br />

Ah! Se tivesse um barril de pinga...<br />

Conforme Conforme Conforme o o conto conto de de Anselmo Anselmo Elias Elias<br />

Elias<br />

27


UM UM OLHAR OLHAR SOBRE SOBRE O O P PPASSADO<br />

P ASSADO<br />

Nas noites frias de maio, margeando as águas tranquilas do rio, se<br />

ouvia o batucar dos negros, entremeio a danças e louvações, era mais<br />

uma Festa de São Benedito. Este ano um colorido diferente, era o circo<br />

presente para abrilhantar o acontecimento.<br />

Pelas ruas estreitas, logo despontavam o senhor “Tomaizinho” e<br />

sua esposa Dita, apressados em paramentar a igreja para a novena.<br />

As crianças vestidas de anjos já ocupavam os primeiros lugares e quase<br />

sempre atrasado chegava o Pe. Afonso para presidir a missa com<br />

muita sabedoria.<br />

É terminada a novena e o pregoeiro já anuncia o primeiro lance de<br />

prendas. Entre prosas, paqueras, e passeios o leilão acabava. O lucro<br />

das arrecadações era para manter igreja de São Benedito e as atividades<br />

paroquiais.<br />

Noutro ano, seguido de muita dedicação a festeira Dona Americana<br />

(mãe da Cilinha) trouxe de Poços de Caldas um grupo de Caiapós e o<br />

sucesso foi garantido, o bailado e as fantasias encantavam a todos.<br />

A cada ano as atrações diversificavam, A Roda Gigante possibilitava<br />

visualizar toda a festa, já o chapéu de mexicano nos dava a sensação de<br />

poder voar, enquanto a barca ou a gangorra nos fazia respirar fundo e<br />

os carrinhos bate-bate eram ótimos para testar a habilidade. Também<br />

tinha brinquedos para as crianças, carrossel, xícara e pula-pula.<br />

O frio persiste, as margens do rio foram tomadas por construções,<br />

a igreja antiga, só em fotos, as barracas de sapé e bambu, foram<br />

substituídas por lonas e ferragens, o chão de terra é asfalto, o som da<br />

banda foi substituído por uma mistura de sons mecânicos de várias<br />

barracas ao mesmo tempo. As bandeireiras da congada seguidas dos<br />

ritmistas, insiste em abrir alas dentre as barracas e o povo para executar<br />

suas evoluções. O leilão foi transformado bingos e vísporas.<br />

A novena ganhou o brilho de uma nova e grande igreja. As pessoas<br />

são diferentes, mas as virtudes do Eremita Frei Benedito, pobre cozinheiro,<br />

analfabeto e filho de escravos, estão presentes até nossos dias.<br />

Inspirado Inspirado na na entrevista entrevista de de de Arlete Arlete Arlete Costa Costa<br />

Costa<br />

28 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> UM UM SONHO SONHO À À REALID REALIDA<strong>DE</strong><br />

REALID A<strong>DE</strong><br />

Como é bom sonhar à noite e, ao despertar da Aurora, acordar com<br />

a metamorfose do sonho transformado em uma grande realidade.<br />

O raiar e o transcorrer do dia 13 de maio do ano passado para a<br />

história da Abolição da Escravatura certamente tiveram um matiz diferenciado<br />

para a nossa cidade, nosso povo e, em especial, para a raça<br />

negra e Congada. Do sonho da jovem Jéssica, estudante do Ensino<br />

Médio da Escola São Marcos, que numa demonstração de seu comprometimento<br />

com a raça negra, tocada certamente pelo brilho da<br />

palestra feita pelo prefeito Carlos Alberto Fagundes Gouvêa, no ciclo<br />

de conferências proferidas por ele nas escolas do município, teve a<br />

inspiração e idéia de um pedido. Como a Palestra do prefeito na São<br />

Marcos versou sobre o Patrimônio Cultural de Poço Fundo, a estudante<br />

Jéssica, em uma carta dirigida ao mesmo, lhe sugeriu a inclusão do<br />

Congado na Lista do Patrimônio Histórico do município. Para satisfação<br />

da estudante e realização de nós congadeiros, da raça negra e<br />

todo o povo poço-fundense, a consciência com que trata da valorização<br />

das coisas históricas, culturais e progressistas de nossa terra, tivemos<br />

a honra de ver o pedido devidamente acolhido. Superada esta<br />

fase, foi marcada a data de 13 de maio para assinatura, na Escola São<br />

Marcos, do decreto que tornaria o Congado poço-Fundense, através<br />

da Associação Congadeiro José Laudino Alves, Patrimônio Histórico e<br />

Cultural do município.<br />

A Escola São Marcos promoveu uma festa altamente significativa<br />

para a assinatura do Decreto pelo excelentíssimo prefeito Carlos Alberto<br />

Fagundes Gouvêa, pelo valor histórico que o mesmo representa,<br />

Concerto da Valorização Cultural da Congada em toda a dimensão<br />

afro-brasileira entre o povo brasileiro e mineiro em especial.<br />

Precisamos, e é nosso dever, reconhecer o alcance histórico – patrimonial<br />

e a riqueza que a congada poço-fundense alcançou com esse<br />

Decreto. Desta forma, a Comunidade Negra não pode deixar de apresentar<br />

seus encômios e dizer quão sublime foi o gesto de acolhimento do<br />

pedido da estudante Jéssica pelo prefeito. O nosso muito obrigado.<br />

A assinatura do Decreto foi a culminância, uma festa alta e ricamente<br />

marcada pelo seu enfoque sócio-cultural e histórico, que a todos<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

29


levou ao enlevo. A diretora da Escola, Maria Salomé de Souza Santos,<br />

e todo o corpo docente e discente, executivos das mais diversas áreas,<br />

se esmeraram na preparação e apresentação da solenidade. Não<br />

podemos deixar de fazer menção especial aos professores Maria Alice<br />

Dias Pinho e João Ademir Fernandes, pela condução do desenvolvimento<br />

da solenidade, fruto do que se pode notar de uma profícua<br />

preparação anterior, que culminou no sucesso que foi. Ajunte-se ainda<br />

a este trabalho dos professores, a participação de um grupo de<br />

alunos na apresentação de cartazes que se reportavam a respeito do<br />

negro e da data comemorada.<br />

Não posso, sem falsa modéstia, deixar de agradecer o convite da escola<br />

para que proferíssemos uma palestra a respeito da congada na parte da<br />

manhã, por ocasião também da apresentação do Terno de Congo.<br />

Terminada a solenidade, a diretora renovou o convite para que<br />

fosse a mesma palestra feita aos alunos do turno da tarde, o que, com<br />

a aquiescência do capitão do Terno de Congo, Luiz Antônio, ao qual<br />

também fora renovado o convite, para nova apresentação à tarde,<br />

assim, retornamos naquele período, encerrando a solenidade de assinatura<br />

do Decreto de Declaração de Patrimônio Histórico e Cultural da<br />

Congada de Poço Fundo.<br />

Como poço-fundense, congadeiro e componente da Raça Negra,<br />

quero deixar aqui externados os meus mais sinceros agradecimentos<br />

ao prefeito da nossa querida Poço Fundo,<br />

Carlos Alberto Fagundes Gouvêa, pela sua<br />

sempre e constante sensibilidade quanto à<br />

cultura do seu povo e zelo crescente histórico<br />

social da cidade.<br />

À Escola São Marcos, na pessoa da diretora<br />

e todo o corpo docente e discente,<br />

bem como toda a comunidade da escola,<br />

meus profusos e insignes agradecimentos<br />

por tão auspiciosa oportunidade de um ato<br />

desta magnitude para sobrelevar cada vez<br />

mais ainda a bandeira das justas aspirações<br />

de Poço Fundo e sua gente.<br />

Armando Armando Mathias Mathias Braz Braz<br />

Braz<br />

30 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


BAND BANDA BAND A MUSICAL MUSICAL NA NA PRAÇA<br />

PRAÇA<br />

O saudoso Pe. Afonsinho anunciava mais uma festa de São Benedito<br />

no mês de maio. Os Festeiros deste ano; Vitor Gonçalves Pereira<br />

(Vitório Carioca), Silvia Pereira, Isaias Mendes e Norma Franco Mendes,<br />

Prof. Jandira Begali Calil e Prof. José Abrahão Calil, já começara a<br />

percorrer todas as ruas da cidade e bairros rurais, arrecadando brindes<br />

e prendas para o leilão.<br />

Asfalto na praça, nem pensar, as ruas eram de terra batida, as<br />

barracas bem mais modestas, de bambu, sapé e chão forrado com pó de<br />

serragem. Logo no início do mês já começava a movimentação na praça<br />

e seus arredores, carros de boi trazendo bambu, outros cortando cipó e<br />

os cargueiros dos cavalos carregados de sapé, para darem inicio a<br />

construção das barracas. Enquanto isso, as Senhoras já estavam trabalhando<br />

os cartuchos, fazendo doces e confeccionando flores para enfeitar<br />

o altar e os andores de São Benedito e Santa Ifigênia. As mocinhas já<br />

pensavam ansiosas no figurino daquele ano, e em poucos dias costuravam<br />

seus lindos vestidos “três Maria”, bordados e rendados.<br />

Os sinos da pequenina capela repicavam, chamando os fiéis para a<br />

novena, logo se viam muitas pessoas descendo a ladeira em direção à<br />

igreja e à praça. As celebrações, muito animadas, com palmas e bonitos<br />

sermões e a Dona Etelvina de Oliveira e Dona Odete, eram sempre encarregadas<br />

de ensaiar o coral, uma vez crianças e outra jovens e adultos.<br />

Como era bom passear na praça ao som da banda que executava<br />

lindas canções e embalava corações, despertando amores duradouros.<br />

As noites eram pequenas para tanta emoção, do religioso ao social,<br />

do social ao encantador. Os negros saltitando ao som dos tambores,<br />

expressavam uma liberdade que antes jamais se via, era a congada<br />

comandada pelo Senhor Laudino,<br />

Hoje, tudo parece um sonho, dos antigos festeiros Dona Nenén saudades<br />

do Senhor Vicente da Venda e da Banda na praça, só lembranças.<br />

Das barracas de bambu, os vestidos bordados e as flores artesanais,<br />

histórias. E do Pe. Afonsinho, o belo exemplo, de humildade, pureza<br />

de coração e amor a Poço Fundo.<br />

Baseado Baseado em em em relatos relatos de de Vitor Vitor Gonçalves Gonçalves P PPereira<br />

P ereira<br />

(Vitório (Vitório (Vitório Carioca) Carioca)<br />

Carioca)<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

31


<strong>UMA</strong> <strong>UMA</strong> CUL <strong>CULTURA</strong> CUL TURA CENTENÁRIA<br />

CENTENÁRIA<br />

Naquela época a festa era tranquila, não havia tantos tumultos<br />

e brigas. O povo era mais religioso, e mais divertido. Era uma<br />

festa simples com apenas a barraca da igreja onde eram realizados<br />

os leilões de prendas. As congadas sempre estavam presentes,<br />

conduzindo a procissão. A religiosidade também era bem<br />

maior, todos iam primeiro a missa e depois a festa. Hoje as pessoas<br />

não se importam muito com a religiosidade, mas sim em comprar<br />

e se divertir, a maioria das pessoas que vai à festa nem passa<br />

perto da igreja.<br />

Antigamente o povo expressava mais sua fé, muitos vinham de<br />

longe a cavalo para participar. Hoje, com tanta facilidade de<br />

locomoção, o número de pessoas que participa das missas é bem<br />

menor se comparando com os que frequentam a praça.<br />

Os bons e velhos tempos, deixaram marcado em nossos corações<br />

o belo exemplo de fé, diversão e tradição. Hoje com 63<br />

anos de idade não tenho a mesma disposição de quando era<br />

jovem, mas fico feliz em ver a moçada entusiasmada participando<br />

da festa, namorando e se divertindo.<br />

Sr Sr. Sr . Janício<br />

Janício<br />

32 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


UM UM SONHO SONHO: SONHO : SER SER BONECA<br />

BONECA<br />

Tempos idos aqueles, década de 70, crianças, festas e tudo mais.<br />

Um dos pontos altos era a Festa de São Benedito, mais propriamente<br />

o último domingo à tarde, quando todos conheciam as<br />

meninas que seriam, durante um ano, as bonecas da festa da<br />

cidade, aliás, era a glória ser apontada e reconhecida como tal.<br />

Cada uma representava uma nacionalidade, e se trajava a rigor.<br />

Em meus tempos de criança, ser a boneca da festa, era tudo<br />

que eu queria, doce sonho infantil, mas como me tornar essa<br />

personagem, sendo a última de três irmãs? Se uma não fosse, as<br />

outras também não seriam.<br />

O tempo passou e o costume se perdeu. No centenário desta<br />

ilustre festa, me pegou pela memória e o sonho veio a tona, não<br />

realizado, guardado, esquecido e sempre sonhado.<br />

E quem realizou o sonho? Era um sonho de um outro alguém. Uma<br />

mãe, tia avó... A euforia daquele momento envolvia a cidade toda.<br />

Quem realizou o sonho eufórico, foi o momento, depois passou<br />

e acabou. Ficou a lembrança e aquela foto amarela, esquecida<br />

pelo tempo.<br />

Na expectativa de quem esperava e não conseguiu, restou o<br />

porta retrato vazio, o laço de fita na mão e o sonho guardado<br />

no coração.<br />

Neste tempo que passou e que se perdeu, onde estão as<br />

bonecas? A minha permanece trancada, não pode ser conhecida<br />

e jamais vista. Existe na minha memória, de vestido vermelho<br />

com renda branca e mangas fofas. Cabelo cacheado<br />

com um lindo laço de fita, meias brancas três quarto e sapatos<br />

com uma flor do lado.<br />

Os sonhos da infância, lá não estão, continuam, hoje, me<br />

acompanhando, sendo retratados nos rostos de minhas filhas, as<br />

minhas bonecas.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Adriana Adriana Adriana de de Fátima Fátima T TTavares<br />

T avares dos dos Santos<br />

Santos<br />

33


A A EMOÇÃO EMOÇÃO <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> SER SER CONGA<strong>DE</strong>IRO<br />

CONGA<strong>DE</strong>IRO<br />

A congada é uma manifestação cultural religiosa de influência<br />

africana, é uma dança do povo, onde várias pessoas homens,<br />

mulheres e até crianças se reúnem para cantar e dançar em devoção<br />

a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.<br />

O primeiro fundador foi José Laudino Alves “Velho” que foi<br />

sucedido por seu filho Euclides Laudino, que por sua vez, passou<br />

a responsabilidade para seu filho Morbagiam José Laudino (Faleceu<br />

em 2009), que passou para seu filho Rovilson José Laudino.<br />

Mas devido estes descendentes residirem em São Paulo, a<br />

coordenação do Terno São Benedito está sob a responsabilidade<br />

de primo Luiz Antonio Delmiro, que é o contra-mestre do terno.<br />

E, assim, essa tradição vem passando de pai para filho,<br />

esperamos que continue por muitos anos.<br />

Primeiramente, esta manifestação surgiu em Santana, atual Silvianópolis,<br />

depois em Machado e posteriormente em São Francisco<br />

de Paula do Machadinho, hoje Poço Fundo.<br />

É muito prestigioso para mim, participar do congado, faz parte<br />

da minha cultura e da minha raça. Comecei a participar com 42<br />

anos e depois de sofrer um derrame tive que me afastar por 6<br />

anos. Eu costumava tocar banjo, também fazia parte do instrumento<br />

musical mais importante; minha voz. Em minha opinião,<br />

congada não há sem cantoria.<br />

Para mim é uma emoção muito grande poder participar dos<br />

preparativos para a comemoração dos 100 anos da festa de São<br />

Benedito em nossa cidade, já participei deste congo e sei como<br />

ele é importante para nossa vida. Para a gente é uma honra participar,<br />

mostrar nossa cultura e nossa crença às outras pessoas.<br />

Sr Sr. Sr . Homero Homero R RRosa<br />

R osa conhecido conhecido como como “ “Tito” “ ito” é é natural natural de de P PPoço<br />

P oço F FFundo<br />

F undo , , residente residente do<br />

do<br />

Bairro Bairro Bairro Nova Nova Gimirim, Gimirim, hoje hoje é é aposentado aposentado com com 73 73 anos anos de de idade, idade, participante<br />

participante<br />

assíduo assíduo assíduo da da da congada, congada, congada, sempre sempre sempre se se se emociona emociona emociona ao ao ao contar contar contar suas suas suas histórias histórias<br />

histórias<br />

34 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

A A GRAN<strong>DE</strong> GRAN<strong>DE</strong> FEST FESTA FEST<br />

Não sei que tonalidade rósea descia da pequenina capela e<br />

de alguns poucos postes, que ao meu olhar pareciam gigantescos,<br />

ou era como, se em alguma parte, houvesse um crepúsculo<br />

em sangue, irradiando uma luz fantástica e sutil; jovens elegantes<br />

e coroados, satisfeitos e olhos brilhantes.<br />

Num corpo sadio e recentemente lavado sim, nós estávamos<br />

todos vestidos com certa dignidade; era um dia de festa de São<br />

Benedito.<br />

Alguém sussurrou que era a primeira Festa da terra, alguém<br />

conversou alegremente e indicou vários prefeitos; era fácil para<br />

cada um encontrar uma pessoa que amasse, porque a festa era<br />

muito animada.<br />

Mesmo as pessoas doentes e tristes esta noite estavam bem;<br />

admiravam com prazer a festa movimentada.<br />

A que me dava o nome de amiga, sorria, sentia o quanto sua<br />

presença me fazia bem. Todos tivemos o prazer em conhecer<br />

muitas pessoas; a nossa comunidade está satisfeita consigo mesma,<br />

não sei se seriam os quentões ou os sorrisos em meio aos<br />

leilões de prendas, barracas ao som dos congadeiros, não se<br />

preocupavam com o dinheiro e sim com a data do Santo Festeiro.<br />

Nos meus 88 anos, outros sons me chegam da infância! Um<br />

cacarejar sonolento de galinhas, numa tarde de domingo; um<br />

canto de canarinho, o ranger e o baque de uma porteira, um<br />

tropel de cavalos que vinha vindo e depois ia indo no fundo da<br />

noite. E os som distante da congada com seus tambores perdidos<br />

na madrugada...<br />

Ah! que doce infância feliz...<br />

Inspirado Inspirado no no no conto conto conto de de Maria Maria Ordália Ordália P PPires<br />

P ires<br />

Nascida Nascida em em 1921 1921 (Barreirinho) (Barreirinho) 5 5 5 filhos, filhos, 15 15 netos netos e e 17 17 bisnetos<br />

bisnetos<br />

35


MÃOS MÃOS QUE QUE SE SE DOAM<br />

DOAM<br />

Lembro-me, quando criança, vários ternos de congo se apresentando na<br />

praça de São Benedito, Monsenhor Afonsinho quase jovem, no maior dinamismo<br />

com seus companheiros organizando tudo. Naquela época não havia<br />

pastorais, conselhos ou ministérios como hoje.<br />

O Flávio do Amador e seus companheiros com uma barraquinha<br />

de correio elegante, era uma maravilha, só musica boa, muita paixão<br />

e até sacanagem...<br />

As procissões e celebrações litúrgicas, eram carinhosamente preparadas<br />

com flores e outros artifícios que Dona Dita do Tomaz e suas companheiras<br />

organizavam. Não posso me esquecer de Paulo Henrique, todo empolgado,<br />

desenhando as roupas do terno de congo e ajudando na decoração.<br />

O Capitão Euclides Laudino foi muito querido por todos, e o Senhor<br />

Marbogiam (Jam) que vinha de São Paulo, todos os anos, com<br />

sua família e seu trombone apresentando as mais lindas canções e<br />

abrilhantando nossa festa.<br />

Lembro-me do Senhor, Mário Félix, que também tinha seu terno de<br />

Congo (Santa Efigênia) e dava aulas de música para muitos jovens. Dona<br />

Divina Calixto, Dona Nazaré e o Senhor José Benedito. O Neném Calixto<br />

que conduzia o terno de Nossa Senhora do Rosário e o Senhor João Marimbondo<br />

com seu grupo de Caiapó.<br />

O Senhor Juca Lodino, ia à frente do terno de congo com sua espada,<br />

passando-a no calçamento e fazendo sair fogo, tudo isso para defender a<br />

rainha do congo.<br />

Não posso me esquecer do Senhor Dito Basilo e sua família, que estavam<br />

sempre presentes, e dos cantadores de vísporas; Veloso, Sr. Orestes<br />

Abraão, Mazico, Zé de Assis e muitos outros.<br />

Houve um ano, que durante a festa vieram representantes do Movimento<br />

Consciência Negra, realizaram palestras e, de uma maneira muito carinhosa<br />

contaram a história de São Benedito. Tudo isso serviu para abrir nossos olhos<br />

e corações para as grandes verdades, origens e respeito com nossa história.<br />

Hoje as coisas estão mudadas, mas confesso que tenho saudade da fé e<br />

simplicidade das festas passadas.<br />

Tereza ereza ereza de de P PPaiva<br />

P aiva (L (Leza) (L eza)<br />

36 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


DA A MAÇÃ MAÇÃ DO DO AMOR AMOR AO AO CREP CREP SUÍÇO<br />

SUÍÇO<br />

Cidade pequena, com poucos moradores, poucas oportunidades<br />

de diversão. E inicia-se na cidade, por volta de 1906 a Festa<br />

de São Benedito. Realizada na praça da igreja de São Benedito,<br />

tornou-se um ponto de atração para jovens e adultos e era esperada<br />

em todo mês de maio.<br />

A igreja ficava lotada para a novena, que acontecia todos os<br />

dias da festa. Após a parte religiosa, havia o leilão de prendas,<br />

havia gente nas poucas barracas, pequenas, mas bem montadas,<br />

havia danças e músicas no alto falante.<br />

Como os frequentadores se conheciam, eram amigos, todos<br />

ficavam conversando animadamente, saboreando um pastel e um<br />

quentão, ou arrematando um cartucho ou uma leitoa, colaborando<br />

com a renda da festa.<br />

O ambiente era propício, não havia violência confusões e o<br />

local era agradável de se frequentar.<br />

A cidade cresceu e a festa também. Hoje, em vez do leilão, há<br />

sorteios de prêmios (bingo). São muitas as barracas de comes e<br />

bebes e em maior número ainda, as barracas de fora, onde se<br />

vendem roupas , alumínios e outras utilidades.<br />

A animação continua, mas a festa pouco conserva de sua característica;<br />

o quentão e a maçã do amor são as marcas que ficaram<br />

um tanto apagadas pela cerveja, os churros e o crep suíço<br />

que hoje são atrativos mais interessantes para o público que a<br />

frequenta.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Segundo Segundo o o o conto conto de de Joaquim Joaquim RR<br />

Rodrigues R odrigues<br />

37


A A QUERMESSE<br />

QUERMESSE<br />

Em 1906 nascia a tradicional Festa de São Benedito, através<br />

da união e esforços de padres, moradores e autoridades locais,<br />

neste mesmo ano nascia também a Congada, aos 13 dias do mês<br />

de maio .<br />

Era uma quermesse com várias tendas simples, com pouco movimento,<br />

porque nossa comunidade era muito pequena naquela<br />

época, mas mesmo assim a festa daria um bom lucro para a igreja.<br />

A vantagem do pouco movimento é que não havia tantas confusões,<br />

como acontece atualmente.<br />

O principal objetivo da festa era a religiosidade e a confraternização.<br />

Toda a renda das barracas era da festa. Com o passar<br />

dos anos a festa foi se modificando, as festas atuais são feitas<br />

com barracas particulares da própria comunidade e de várias<br />

regiões brasileiras, ficando apenas a barraca do víspora para<br />

arrecadar lucros para a igreja. Os barraqueiros pagam apenas<br />

uma porcentagem para a igreja. Atualmente, a festa é conhecida<br />

em toda região com grande movimento, principalmente nos fins<br />

de semana. O motivo do grande movimento é a confraternização,<br />

a religiosidade, a diversão das crianças no parque da festa,<br />

a diversão dos jovens e adultos para reencontrar os amigos, fazer<br />

novas amizades e apreciar as diversas guloseimas que são vendidas<br />

nas barracas.<br />

A tradição da congada é mantida pelos seus descendentes,<br />

festeiros, que juntos com a igreja católica fizeram da festa de São<br />

Benedito a mais popular de nossa história.<br />

Argemiro Argemiro Argemiro Moreira<br />

Moreira<br />

38 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


A A V VVALORIZAÇÃO<br />

V ALORIZAÇÃO VEM VEM <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> FORA<br />

FORA<br />

Recebemos de nossos avós esta herança cultural, e eles pediram<br />

que não deixássemos acabar. Por isso, mantivemos viva a<br />

tradição da congada, ensinando nossos filhos e netos. Se uma<br />

de nossas crianças nasce em abril ou maio, já veste a roupa da<br />

congada na festa daquele ano. Lembro-me ainda pequenina, inquieta<br />

para chegar logo o dia da festa e dançar congo.<br />

Meus pais contavam que os escravos, batiam caixas para aliviar<br />

a dor dos que estavam sendo castigados no tronco, por isso é<br />

tradição, a congada sair no dia 13 de maio para comemorar a<br />

abolição da escravatura.<br />

Quanto à organização do terno, contamos com a ajuda de<br />

muitos amigos e dos próprios componentes, para a confecção de<br />

fardas, bandeiras, ajuste dos instrumentos e os ensaios.<br />

Antigamente os festeiros preparavam comida para os congadeiros.<br />

Hoje, já se perdeu este costume, todos alimentam em<br />

suas casas. Muitas vezes, enfrentamos resistência até por parte<br />

da Igreja, que insiste em não colocar a programação folclórica<br />

no programa de Divulgação da Festa. Não podemos nos esquecer<br />

que quem iniciou e realizou a Festa de São Benedito por<br />

muitos anos foram os congadeiros.<br />

Antes não éramos reconhecidos em Poço Fundo, bastasse o<br />

terno aproximar, já se ouvia, “Lá vem o barulhão, este povo não<br />

tem o que fazer...” Muitos até fechavam as janelas e as portas das<br />

casas. Valia a pena dançar em outras cidades, lá as pessoas paravam<br />

nas ruas para ver o terno passar e aplaudiam.<br />

Hoje, percebo com alegria, que estas atitudes não estão presentes.<br />

Recebemos convites para apresentar nas escolas, festas e<br />

outros eventos de Poço Fundo. Recebemos ajuda de muitas pessoas<br />

e recentemente, fomos reconhecidos como patrimônio imaterial<br />

do Município, através de um Decreto assinado pelo Prefeito<br />

“Beto Gouvêa”, que também nos tem apoiado muito.<br />

Existem muitos nomes de congada, a nossa é “São Benedito” o<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

39


protetor dos negros, apesar da nossa congada não ser composta<br />

só por negros, existem muitos brancos que participam.<br />

Sou muito feliz por fazer parte e contribuir para que esta cultura<br />

centenária continue sempre viva na história de Poço Fundo. Tudo<br />

que é bom permanece!<br />

Encerro, com o texto de um Africano, comparando duas raças;<br />

HOMEM NEGRO E HOMEM BRANCO<br />

(Autor desconhecido)<br />

Sou um “Homem Negro”,<br />

Quando eu nasci, era Preto;<br />

Quando cresci, era Fiquei Preto;<br />

Quando pego sol, fico Preto<br />

Quando sinto frio, continuo Preto<br />

Quando estou assustado, também fico Preto.<br />

Quando estou doente, fico Preto;<br />

E, quando eu morrer, continuarei preto!<br />

E você, “Homem Branco”,<br />

Quando nasce, é rosa;<br />

Quando cresce, fica Branco;<br />

Quando pega sol, fica Vermelho;<br />

Quando sente frio, fica roxo;<br />

Quando se assusta fica Amarelo;<br />

Quando está doente, fica verde;<br />

Quando morrer, ficará cinzento.<br />

E ainda dizem que, nós negros somos pessoas de cor?!<br />

Márcia Márcia Márcia Celina Celina Alves Alves Alves de de Souza<br />

Souza<br />

Coordenadora Coordenadora das das das bandeireiras<br />

bandeireiras<br />

40 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


O O CHORO CHORO QUE QUE AIND AINDA AIND A ECOA ECOA... ECOA ...<br />

Foi no ano de 1953, na cidade de Aparecida (do Norte) que<br />

começava a história de um dos mais velhos puladores de congo.<br />

Com apenas 8 anos José Antonio Gonçalves, conhecido como<br />

Zé Pretinho, saiu em romaria acompanhado pela sua tia Dita para<br />

Aparecida (do Norte) em um caminhão pau-de-arara.<br />

Hospedaram-se num hotel, para, na manhã seguinte ir à missa<br />

e ao cruzeiro, porém, bem no meio do caminho Zé avistou um<br />

terno de congo, lá em baixo, então se pôs a chorar e fez com que<br />

sua tia voltasse e o levasse até ao terno.<br />

Chegando, ele pediu ao capitão do terno que o deixasse dançar.<br />

O capitão do terno deu-lhe um pandeiro e o colocou atrás<br />

dele, dançou o dia todo, só que não parou aí, pois é um congadeiro<br />

assíduo até hoje.<br />

Quantas histórias...<br />

Ai que saudade que eu tenho do meu tempo de criança que<br />

mamãe me acordava cedo para a tão esperada Festa de São<br />

Benedito, roupa arrumada em cima da cama. Conversa animada<br />

no café da manhã, mamãe arriscava uma opinião, essa festa vai<br />

ter muita gente, papai então acrescenta não podemos atrasar.<br />

Dia de folga, dia de festa... e os instrumentos!? Ah! Aí me lembrei,<br />

dei uma revisada no passado, couro de boi esticado no bambu,<br />

pendurado em uma árvore para secar era, o primeiro passo<br />

para um som perfeito. Depois de alguns dias, descia o couro e<br />

colocava-o no brejo para soltar os pelos. Outra vez esticava o<br />

couro em rodas de cipó costurando-o com linhas e agulhas, depois<br />

o adaptava em uma lata em formato de tambor e aí estava<br />

pronto para uso. Instrumentos artesanais, bem afinados agradavam<br />

a todos.<br />

O Capitão da época era o “Zé Laudino”, o capitão do terno<br />

formava uma fila de pessoas, no meio, vinham os caixeiros juntamente<br />

com os que, trombone e clarineta. Na outra fila vinha o<br />

contra-mestre regente reunindo os que tocavam cavaquinho, vio-<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

41


lão e tamborim. Logo à frente vinham as porta-bandeiras.<br />

Ah! Quantas lembranças, acontecimentos e vivências, descortinar<br />

os mais relevantes é um desafio, pois são tantas histórias!...<br />

E os ternos que vinham de fora, eu ficava a admirar. Os festeiros<br />

alimentavam os congadeiros, risos e casos para todo lado...<br />

E o útimo dia da festa acontecia o reinado e os capitães dos<br />

ternos brigavam para atravessar as espadas e chegar até a coroa.<br />

O reinado saía da Avenida Dr. Lélio de Almeida e ia passando<br />

de casa em casa, fazendo coleta até chegar à Igreja de São<br />

Benedito.<br />

Os anos vão se passando, o capitão “Zé Laudino” morreu e<br />

sua família vai liderando... O grande líder atual é o Sr. Luiz Antonio<br />

que já traz músicas modernas e pessoas mais jovens.<br />

A festa começa com a erguida do mastro 15 dias antes e termina<br />

com a baixada do mastro, que significa: São Benedito em 1º lugar.<br />

Baseado Baseado no no no conto conto de de José José Antonio Antonio Gonçalves,<br />

Gonçalves,<br />

“Zé “Zé P PPretinho”<br />

P retinho”<br />

42 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

CAFÉ CAFÉ AQUECIDO AQUECIDO COM<br />

COM<br />

CALOR CALOR H<strong>UMA</strong>NO<br />

H<strong>UMA</strong>NO<br />

Durante o mês de maio, ouvimos ao longe o som de tambores<br />

e foguetes, anunciando que um terno de congo está por perto,<br />

percorrendo as casas.<br />

No ano de 2006, convidei-os para um café da manhã em minha<br />

casa, recém inaugurada.<br />

Os preparativos começaram desde a véspera. Com muito carinho,<br />

foi montada a mesa; quitandas de várias espécies, chás,<br />

chocolates e o tradicional café, preparado na hora. E minha família<br />

a esperar, emocionada, a chegada dos componentes.<br />

A ansiedade era grande e a emoção foi maior ainda quando<br />

ouvimos as vozes e os foguetes aproximando.<br />

Quando se apresentaram, senti minha casa aquecida pelo calor<br />

humano e divino. Aquela presença trouxe a luz de Deus para<br />

minha família e todos nos sentimos abençoados.<br />

Foi um lindo acontecimento; meus vizinhos ficaram maravilhados<br />

e toda a rua se alegrou com essa manifestação que inspirava<br />

paz, amor e religiosidade. E todo mês de maio, quando os ouço<br />

ao longe, me emociono e fico saudosa daquele dia encantador.<br />

Kênia Kênia Maria Maria Maria P PPereira<br />

P ereira<br />

43


NO NO ESPELHO ESPELHO D DDA<br />

D A VID VIDA VID<br />

Olhar-se no espelho pode ser um exercício de vaidade ou de<br />

satisfação.<br />

No espelho da vida é diferente, para aqueles que estão em<br />

paz consigo mesmos e tecem seu conhecimento em meio a um<br />

saudável pacto com a vida, deixa eternas recordações, como minha<br />

mãe a inesquecível “Aparecida Kinca” que tinha um carinho<br />

muito especial por todos os membros do terno de Congo.<br />

Festeira em 1999, pensou feliz, vai ser uma grande festa. Amigos<br />

não faltaram, colaboração chegava sempre acompanhada<br />

de um sorriso, açúcar para os doces, pinga para o quentão, abóboras<br />

e diversas frutas. Ah! Quanta disposição!<br />

As meninas do próprio congo, ajudavam a fazer os doces, era<br />

divertido.<br />

No dia da festa a mamãe e as ajudantes tinham que madrugar<br />

para dar o lanche, pão com carne e quentão.<br />

À noite, o ponto alto da festa, era a distribuição dos doces e<br />

biscoitos, tudo era muito farto, sobrava muito e todos levavam um<br />

pouco para casa. No olhar das crianças estava espelhado a graça<br />

de Deus... mas como tudo passa, este dia também passou. O<br />

que não vai passar são os ensinamentos que ela nos deixou, de<br />

gostar de Festa de São Benedito e da congada que é a marca<br />

registrada da festa.<br />

Sua potencialidade reflete até hoje no espelho da vida, fazendo<br />

juízo de valor positivo, que através de suas atividades corriqueiras<br />

ficaram gravadas como exemplos.<br />

Baseado Baseado no no relato relato de de Maria Maria Olivinda Olivinda F FFerreira<br />

F erreira da da Silva Silva (Mariinha)<br />

(Mariinha)<br />

44 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


O O BEBÊ BEBÊ QUE QUE HERDOU HERDOU O O MASTRO<br />

MASTRO<br />

Benedito Antônio Alves nasceu na congada. Seu bisavô criou o<br />

primeiro terno de Congo de Poço Fundo, que passou para seu<br />

avô e depois para seu tio Morbagiam.<br />

Com apenas 7 meses tornou-se capitão do mastro. Seu avô<br />

passou o mastro para o “Lodino” filho do saudoso Juca Lodino. A<br />

mãe de Lodino não deixou que ele se tornasse capitão do mastro,<br />

jogando-o na rua, Benedito que ainda era um bebê começando a<br />

engatinhar, estava no local e engatinhou em direção ao mastro,<br />

pegando-o e devolvendo a seu avô. Seu avô, vendo o interesse<br />

da criança em proteger o mastro, o nomeou Capitão, função<br />

que exerce até hoje. Benedito pretende passar a seus filhos, quando<br />

sentir que não tem mais condições de continuar.<br />

Senhor Benedito conta que, antigamente, não havia terno em<br />

Poço Fundo, e Machado já tinha. Um senhor de nome “Chico”<br />

veio para Poço Fundo para ajudar a formar o primeiro terno de<br />

Congada e também a construir a igreja de São Benedito. Seu avô<br />

Juca Lodino ia a pé para Machado para ajudar a construir a igreja<br />

de São Benedito lá também. Existiram outros ternos como o de<br />

Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário. Antigamente, os ternos<br />

de congo eram mais reconhecidos e valorizados que nos dias<br />

de hoje. Continuamos dançando, porque é uma tradição e uma<br />

devoção. A participação de nossos filhos e netos é a garantia de<br />

que a congada não vai se acabar e que a tradição continuará.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Benedito Benedito Antônio Antônio Alves<br />

Alves<br />

45


SERENA SERENATA SERENA A CONGA<strong>DE</strong>IRA<br />

CONGA<strong>DE</strong>IRA<br />

É madrugada fria, a pequena Poço Fundo dorme, o silêncio<br />

chega a ser ensurdecedor...<br />

Vésperas do dia das mães, há 35 anos, surge à ideia de fazer<br />

serenatas para as mães e para os pais. Na liderança da Cida do<br />

Argemiro do coral os congadeiros aderiram a idéia. Mesmo cansados,<br />

os caminheiros ousados da história, todos os anos, nos<br />

traquilos jardins e avenidas, quando a noite os perfuma em luar,<br />

surge uma voz de cristal entoando Ave Maria. É o som que desperta<br />

a alma num agradecimento ao dom daquela que gera filhos.<br />

De mãe para mãe é a você que eu rezo, Virgem Maria, em<br />

nome das mães negras de todos os tempos.<br />

Você que segura nos braços a criança que os homens desprezaram,<br />

entenda a dor das mães que geraram e geram filhos para<br />

a escravidão.<br />

Virgem Maria, solidária na cor e na dor, na coragem e na esperança,<br />

guarde os nossos filhos com ternura.<br />

Proteja nosso povo-criança de todos os medos que herdamos...<br />

Conforme Conforme o o conto conto de de de Aparecida Aparecida Aparecida de de Fátima Fátima Moreira<br />

Moreira<br />

(Cida (Cida do do Argemiro) Argemiro) Argemiro) 53 53 anos<br />

anos<br />

46 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

GALERIA GALERIA <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> FO FOTOS FO OS<br />

Ontem, nos primórdios da fundação; hoje comemorando o<br />

centenário a todos que deixaram escrita a sua história e na eternidade<br />

onde já descansam, receba nossa prece e gratidão.<br />

Década de 60<br />

“Terno São Benedito”<br />

47


Fátima (Tequila), Benedita, Gorete, Neném e Maria Félix<br />

Terno de Congo Santa Efigênia - Década de 60<br />

48 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Procissão de São Benedito e Santa Efigênia - Década de 70<br />

“Não é o que temos, mas o que aproveitamos que constitue o<br />

nosso patrimônio”. (I Petit Senn)<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

49


Terno de Santa Efigênia - 1970<br />

50 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


1972 - Rua Coronel José Dias (Poço Fundo)<br />

Morbajean José Laudino (Trombone)<br />

Luiz Antônio (Banjo)<br />

Clenilda Maria Mozzer (Bandeira de São Benedito)<br />

Terno de São Benedito - Poço Fundo - Década de 70<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

51


Terno de Congo Santa Efigênia - Década de 70)<br />

52 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Terno de Santa Efigênia - 1975<br />

“Sempre há momentos no tempo em que uma porta de abre e<br />

deixa o futuro entrar”. (Grahan Greene)<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

53


Terno de Congo Santa Efigênia<br />

Rua Tiradentes - 1976<br />

Terno de Santa Efigênia - 1977<br />

54 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Dona Nenê (Festeira), Sônia Azevedo, Vanda Vieira, Aparecida Gonçalves<br />

(Juizas do Ramalhete) Ana Rita Moraes (Rainha do Congo)<br />

Terno São Benedito - 1977<br />

“O caminho da sabedoria é longo através de preconceitos, longo<br />

e eficaz através de exemplos”. (Seneca)<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

55


Maria Aparecida de Oliveira<br />

(rainha da Festa) e<br />

Jesuânia Mara de Freitas<br />

de Paiva (Rainha Perpétua<br />

Substituta) - 1978<br />

Maria das Graças Cruz<br />

coroando Maria Aparecida<br />

de Oliveira – Rainha<br />

da festa de 1978<br />

56 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


1979 - Rua Tiradentes (Poço Fundo)<br />

Cap. do Terno: Morbajean José Laudino (Trombone)<br />

José Gabriel de Souza (Trombone)<br />

Contra Mestre: Luiz Antônio Delmiro (Banjo)<br />

1979 - Poço Fundo (Praça São Benedito)<br />

Levantamento do Mastro. Luiz Antônio (com criança no colo)<br />

José Valdivino do Nascimento - Juca Laudino (Meirinho)<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

57


Brindes para o leilão de prendas - 1980<br />

Festa de São Benedito - 1980<br />

“As mudanças não ocorreram por acaso. Elas nascem da evolução<br />

do ser humano e de seu desejo e necessidade de crescer e<br />

dignificar-se, edificando uma sociedade melhor, mais justa,<br />

consciente, livre e fraterna”.<br />

58 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


1981- Retirada da Rainha de sua residência para o cortejo e<br />

cerimonial do reinado na igreja de São Benedito.<br />

Juca Lodino (em ajoelhado) João Flauzino (em pé) Rei Festeiro<br />

(capa Azul) Vitor Gonçalves Pereira (Vitório) Ladeado pela Rainha<br />

e Festeira Jandira Begali Calil (Capa Branca) Capitão do<br />

Congo Morbajeam José Laudino.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Década de 80<br />

Terno Santa Efigênia<br />

“Sucesso tem muito a<br />

ver com coragem e<br />

vontade de lutar”<br />

1988 - Avenida Dr.<br />

Lélio de Almeida -<br />

Clenilda, Maria Mozzer<br />

(Bandeira São<br />

Benedito), Maria Cristina<br />

Rosa e Ana Rita<br />

Célia, Rogério e Kátia<br />

59


Vitor Gonçalves e Maria Augusta<br />

Igreja de São Benedito - 1985<br />

“Sobre a proteção de São Benedito os fiéis rezam,<br />

cantam e dançam”<br />

60 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Junho de 1994 - Silvianópolis<br />

Terno São Benedito em Sivianópolis - 1994<br />

Evenise Alves Delmiro, Clenilda, Maria Mozzer e Ivona Maria<br />

Delmiro (Bandeira)<br />

61


Crianças, jovens e adultos<br />

embalados pelo ritmo.<br />

Terno de Congo São Benedito - Poço Fundo - 1998<br />

62 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Terno São Benedito em Cambuí - 2005<br />

Serão lembranças nossas, os gestos que espalhamos entre as<br />

pessoas em forma de compreensão, de ajuda, de apoio, de incentivo<br />

e de coragem... (Mariângela Calil)<br />

63


Terno Nossa Senhora do Rosário - Poço Fundo - 2006<br />

Ao centro Sr. Nenê Calixto<br />

Capitão do Terno Nossa Senhora do Rosário<br />

64 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Terreiro de Ensaios - 1998<br />

“O importante é escalar a vida em direção a uma meta visível,<br />

decidindo para onde ir e esforçando-se para vencer os desafios<br />

no caminho e chegar lá”<br />

65


Monsenhor Afonso<br />

Ligório Rosa,<br />

presidindo a Missa<br />

da Festa de<br />

São Benedito no<br />

ano de ladeado<br />

por crianças vestida<br />

de franciscano<br />

(Ordem que são<br />

Francisco Pertencia)<br />

1978<br />

Concurso de Rainha da Festa realizado no Club Recreativo Euclides<br />

Laudino (Maio de 1978)<br />

Em pé; Prefeito Benedito de Araújo, José Abrahão Dias, Hercy<br />

Ferreira,, Maria das Graças da Cruz, Joaquim Estevam Ferreira,<br />

Antonio Eulésio Ferreira, Mauricio Teodoro Domingues (Rei<br />

substituto de Wilson )<br />

Sentadas; Maria Aparecida Oliveira, Jesuânia Mara de Freitas.<br />

Capa vermelha; Tonha, Ceila Rosana, Conceição, Benedita Laudino,<br />

Luiza Romanelli, e Sirlene Sabino. (1978)<br />

66 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Fachada da antiga Igreja de<br />

São Benedito Inaugurada em<br />

outubro de 1912 e demolida<br />

em 21 de junho de 2001<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Terno de Congo São<br />

Benedito - 1990<br />

Interior da Antiga<br />

igreja de<br />

São Benedito<br />

(decorada Por<br />

João Ademir<br />

Fernandes<br />

para a Festa<br />

de 1998)<br />

67


Terno São Benedito apresentado<br />

na E. E. São Marcos<br />

- 2008 (As dançarinas<br />

apresentam com sextas de<br />

flores e frutas) Neste evento<br />

foi assinado em público<br />

o decreto instituindo o “Associação<br />

dos Congadeiros<br />

José Laudino Alves” como<br />

Patrimônio Cultural de<br />

Poço Fundo.<br />

Estandarte de São Benedito<br />

(doado ao Terno por João Ademir<br />

Fernandes em 2002)<br />

Ternos São Benedito –<br />

13 de Maio de 2009<br />

(Praça São Francisco)<br />

68 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Praça Tancredo<br />

Neves 2009<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Terno de Congo<br />

Saindo do Almoço<br />

Comunitário<br />

na Creche Santa<br />

Terezinha<br />

2005<br />

Praça São<br />

Francisco de<br />

Paula<br />

13/05/2009<br />

69


Interior da Igreja de<br />

N.S. do Rosário –<br />

construída em 1923<br />

Igreja N.S. do Rosário<br />

Construída pela<br />

irmandade do Rosário<br />

Congadeiros recebendo<br />

homenagens das Escolas<br />

de Poço Fundo em frente<br />

ao Paço Municipal (Pref.<br />

Benedito de Araújo) 13<br />

de maio de 2009<br />

70 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Natanael Felipe Moreira e<br />

Raynara Moraes de Alvarenga<br />

(Rei e Rainha do Gongo –<br />

2009)<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Terno de São Benedito se<br />

apresentando na Praça Tancredo<br />

Neves 13/05/2009<br />

Primeiro estandarte<br />

usado pelo Ternos<br />

de São Benedito<br />

Pintado em 1906<br />

(esta está sob a<br />

Guarda de Aparecida<br />

Penha)<br />

71


Interior da Igreja<br />

de Santa Ifigênia<br />

Igreja construída<br />

pela Irmandade<br />

de Santa Ifigênia<br />

1975<br />

Fac-símile do Estandarte usado<br />

pelo Terno de Congo<br />

Santa Ifigênia até 1980.<br />

72 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


Interior da nova<br />

igreja de São<br />

Benedito<br />

2009<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Fachada da nova Igreja<br />

de São Benedito recém<br />

inaugurada - 2009<br />

73


A vida é este tempo<br />

em que estamos no<br />

mundo para empeender<br />

a grande tarefa de<br />

ser bom, ser generoso<br />

e ser alegre...<br />

(Mariângela Calil)<br />

“Como educadores, acreditamos que podemos mudar o homem<br />

e, por consequente a sociedade, conjugando o verbo sensibilizar.”<br />

Carlos Abdalla<br />

74 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

75


PUBLICAÇÕES PUBLICAÇÕES EM EM JORNAIS<br />

JORNAIS<br />

76 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

77


78 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

79


80 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

81


82 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

83


84 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


MÚSICA MÚSICA À À SÃO SÃO BENEDIT BENEDITO BENEDIT<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

Pe. e. Geraldo Geraldo Geraldo C. C. C. Silva Silva e e P PPe.<br />

P e. Joãozinho, Joãozinho, SCJ<br />

SCJ<br />

1- Viemos celebrar a Festa/ dos pobres com alegria<br />

Dos negros da irmandade/ do povo da romaria<br />

O santo que era humilde/ nos leva a oração<br />

Com danças e com folia/ com cantos de louvação<br />

Salve São Benedito/ o Santo padroeiro<br />

Viva São Benedito/ o santo cozinheiro<br />

2- Viemos celebrar a Festa/ dos irmãos desamparados<br />

Que o Santo socorria/ com seus irmãos amados<br />

Piedoso São Benedito/ Escuta nossa oração<br />

No ritmo da congada/ Canta o nosso Coração<br />

3- Viemos celebrar a festa/ com bandeira e estandarte<br />

Quem ama são Benedito/ Sabe Festejar com arte<br />

Benedito, Bene, Bento/ da congada e da folia<br />

Oi, quem quiser ser santo/ tem que ter muita alegria<br />

85


ORAÇÃO ORAÇÃO A A SÃO SÃO BENEDIT BENEDITO BENEDIT<br />

Ó Glorioso São Benedito, que por vossas virtudes vos tornastes<br />

ornamento da igreja e exemplo de santidade, nós aqui reunidos,<br />

viemos louvar ao senhor nosso Deus, que em vós realizou os<br />

prodígios de sua graça.<br />

Vós nos mostrais que somos grandes aos olhos de Deus, quando<br />

nos fazemos pequenos, pois Deus exalta os humildes e rebaixa<br />

os poderosos.<br />

Vós nos ensinastes que o cumprimento da vontade de Seus é o<br />

segredo de nosso crescimento espiritual.<br />

Olhando para vossa vida, para vossos exemplos, podemos sentir<br />

que o mundo seria outro, se os homens soubessem amar uns<br />

aos outros; se a humildade e a simplicidade encontrassem um<br />

lugar de destaque no coração das pessoas e se em tudo soubéssemos<br />

fazer a vontade de Deus.<br />

São Benedito, alcançai para todos nós estas graças, para que<br />

um dia, em vossa companhia, gozemos a felicidade eterna. Amém!<br />

86 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

MÚSICA MÚSICA <strong>DE</strong> <strong>DE</strong> CONGO<br />

CONGO<br />

Eu filho da congada<br />

Filho do congo eu sou<br />

Se hoje eu danço congo<br />

Foi São Benedito que me chamou.<br />

Eu vim de muito longe<br />

Visitar São Benedito<br />

Não vamos andar de pressa<br />

Que de vagar é mais bonito<br />

Quantas estrelas tem no céu<br />

Preto velho já contou<br />

São contas do rosário de Maria<br />

Meu Senhor Preto Velho já ressoou<br />

87


Este terno é uma roseira<br />

Que meu visavô plantou<br />

Não deixe morrer a rosa<br />

Que é planta do Visavo.<br />

Com “u” escrevo união<br />

Unidos sempre estaremos<br />

Com fé em São Benedito<br />

Andamos, graças e louvor<br />

Desejo paz a todos<br />

Que somos todos irmãos<br />

Licença São Benedito<br />

Pra seguir meu batalhão.<br />

Amor, amamos a Deus<br />

Com fé no coração<br />

Amamos são Benedito<br />

E também todos os irmãos<br />

União paz e amor<br />

Esta e nossa bandeira,<br />

Viva todos aqui presentes<br />

O festeiro e a festeira<br />

MÚSICA<br />

MÚSICA<br />

L L e e M M Antonio Antonio Delmiro<br />

Delmiro<br />

88 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BIBLIOGRÁFICAS<br />

Prefeitura Municipal de Poço Fundo. Plano de Inventário do<br />

Acervo Cultural 2005/2006.<br />

TOMBO, Livro de. Acervo da Paróquia São Francisco de Paula.<br />

ALVES, Lourdes. Manuscrito/ “A igreja do Rosário”<br />

NETO, Isnard Câmara. A Festa de São Benedito e os Redentoristas<br />

(1894-1992)<br />

BRANDÃO, Ascânio, A vida de são Benedito.<br />

FONTES FONTES ORAIS<br />

ORAIS<br />

CRUZ, Maria das Graças, entrevista, maio/ 2009<br />

GOUVÊA, Carlos Alberto Fagundes, entrevista, maio/2009<br />

<strong>DE</strong>LMIRO, Luiz Antonio. Entrevista, maio/2009<br />

FREITAS, João Bosco. Entrevista, maio/2009<br />

BRAZ, Armando Mathias. Entrevista, maio/2009<br />

PIRES, Maria Aparecida. Entrevista, maio/2009<br />

GONÇALVES, Elson Mendes. Entrevista abril/2009<br />

ELIAS, Anselmo, entrevista, abril/2009<br />

COSTA, Arlete. Entrevista, abril/2009<br />

PEREIRA, Vitor Gonçalves. Entrevista abril/2009<br />

SANTOS, Adriana de Fátima Tavares,<br />

ROSA, Homero. Entrevista, abril/2009<br />

RODRIGUES, Joaquim, entrevista. Maio/2009<br />

SOUZA, Márcia Celina Alves,<br />

GONÇALVES, José Antônio Gonçalves. Entrevista maio/2009<br />

PEREIRA, Kênia Maria.<br />

SILVA, Maria Olivinda Fereira. Entrevista junho/2009<br />

MOREIRA, Aparecida de Fátima. Entrevista, maio/2009.<br />

PAIVA, Tereza, Entrevista, maio/2009<br />

JANÍCIO, dos Santos Pereira. Entrevista, maio/2009.<br />

MOREIRA, Argemiro. Entevista, maio/2009.<br />

<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

89


AGRA<strong>DE</strong>CIMENT<br />

AGRA<strong>DE</strong>CIMENTOS<br />

AGRA<strong>DE</strong>CIMENT OS<br />

Prefeitura Municipal de Poço Fundo, administração 2009/2012.<br />

Escola Estadual São Marcos, Alunos do Ensino Médio 2009, a<br />

Diretora Maria Salomé de Souza Santos e os professores Maria<br />

Alice Dias Pinho, Laura de Souza Lima, Maria de Fátima Alves e<br />

Paiva, Adriana de Fátima Tavares Santos, Marcus Vinícius de Lima,<br />

Reinaldo Ramos Silva, Elizabeth Dias Rodrigues e João Ademir<br />

Fernandes.<br />

Câmara Municipal 2009/2012.<br />

As pessoas que cederam entrevistas documentos e fotos<br />

Mariana Photo Studios<br />

Florisma Noivas<br />

Eusa Maria Ramos Ferreira de Araújo (Secretária Municipal de Educação)<br />

Este trabalho é uma realização da Escola Estadual São Marcos<br />

e Prefeitura Municipal de Poço Fundo.<br />

Poço Fundo Julho de 2009<br />

Capa: Capa: Capa: Fernando Ferreira dos Santos<br />

Digitação: Digitação: João Ademir Fernandes (Diretor Municipal de Cultura)<br />

Revisão: evisão: Eusa Maria Ramos Ferreira de Araújo<br />

Foto oto oto Capa: Capa: Capa: Natanael Felipe Moreira e Raynara Moreira de Alvarenga<br />

90 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

91


92 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>


<strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong><br />

93


94 <strong>MEMÓRIAS</strong> <strong>DE</strong> <strong>UMA</strong> <strong>CULTURA</strong>

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