A Divina Comédia, de Dante Alighieri Análise da obra A Comédia ...
A Divina Comédia, de Dante Alighieri Análise da obra A Comédia ...
A Divina Comédia, de Dante Alighieri Análise da obra A Comédia ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong>, <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> <strong>Alighieri</strong><br />
<strong>Análise</strong> <strong>da</strong> <strong>obra</strong><br />
A <strong>Comédia</strong>, poema épico e <strong>obra</strong>-prima <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> <strong>Alighieri</strong>, foi escrita provavelmente entre<br />
1307 e 1321. O poema passou a ser conhecido como <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> apenas em sua primeira<br />
edição impressa, em 1555.<br />
A <strong>obra</strong>-prima <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> <strong>Alighieri</strong> e <strong>da</strong> literatura italiana, A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong>, não po<strong>de</strong> ser<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma epopéia, pois não é a história ficcional <strong>de</strong> um herói que, pela suas façanhas,<br />
fundou ou glorificou uma nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> não trata nem <strong>da</strong>s origens nem <strong>da</strong><br />
exaltação do povo italiano. Esta <strong>obra</strong> é classifica<strong>da</strong> como um poema didático-alegórico: didático<br />
porque tem uma finali<strong>da</strong><strong>de</strong> educativa, e alegórica porque os ensinamentos são ministrados por uma<br />
série <strong>de</strong> símbolos, ou seja, signos materiais que tem significação espiritual. A gran<strong>de</strong>za do poeta<br />
italiano resi<strong>de</strong> em ter conseguido elevar à categoria <strong>da</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong> os problemas seus e <strong>de</strong> sua<br />
terra natal, através <strong>da</strong> força transformadora <strong>da</strong> arte. O parentesco <strong>de</strong> A divina comédia com a<br />
poesia épica greco-romana é evi<strong>de</strong>nte. O próprio autor <strong>de</strong> Enei<strong>da</strong>, Virgilio, é escolhido como mestre<br />
e guia espiritual do poeta, sendo um dos três personagens principais do poema.<br />
A <strong>obra</strong> se constitui num compêndio on<strong>de</strong> todo o conhecimento do mundo clássico é<br />
transubstanciado pela cosmovisão <strong>de</strong> um homem <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média.<br />
A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> permite ter uma certa compreensão do homem medieval, não só pelas<br />
informações históricas que nos propicia, mas principalmente porque espelha, sob muitos aspectos a<br />
cosmovisão tomista e victorina típica do medieval.<br />
Nesta <strong>obra</strong> se con<strong>de</strong>nsam e revivem em forma <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>z séculos <strong>de</strong> concepção filosófica e<br />
religiosa, <strong>de</strong> instituições políticas e sociais, <strong>de</strong> cânones estéticos e morais. A motivação que<br />
<strong>de</strong>terminou a transformação <strong>da</strong> enorme bagagem cultural <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> em arte foi a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> histórica<br />
e social. A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> é a história <strong>de</strong> um homem – <strong>Dante</strong> <strong>Alighieri</strong> – que viveu seus últimos<br />
vinte anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> no exílio, peregrinando <strong>de</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>de</strong> para outra, vivendo quase <strong>de</strong> esmolas,<br />
vítima <strong>de</strong> ódios políticos. É a história <strong>de</strong> um povo – o povo italiano do fim <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média – dividido<br />
em várias ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s – estados em contínuas lutas pela sobrevivência política, ca<strong>da</strong> qual recorrendo à<br />
aju<strong>da</strong> estrangeira ou ao po<strong>de</strong>r papal. A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> é também a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> to<strong>da</strong>,<br />
pois o seu protagonista assume o papel simbólico <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dão do mundo, que sofre e luta para<br />
alcançar os i<strong>de</strong>ais cívicos <strong>de</strong> união, justiça e amor nesta terra e a fé num mundo melhor no além.<br />
A <strong>obra</strong> apresenta, em versos, em muitos pontos, o pensamento <strong>da</strong> Suma Teológica <strong>de</strong> São<br />
Tomás. Dá a argumentação tira<strong>da</strong> do tomismo. Isto sem esquecer que <strong>Dante</strong> coloca no céu o gran<strong>de</strong><br />
inimigo <strong>de</strong> São Tomás, Siger <strong>de</strong> Brabante, tanto quanto o milenarista Joaquim <strong>de</strong> Fiore, que ele<br />
apresenta como di spirito profético dotatto. O que é um absurdo próprio dos beguinos.<br />
Mais claramente, <strong>Dante</strong> utiliza na <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> a visão <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, <strong>de</strong> Hugo <strong>de</strong><br />
São Victor, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na luz e na doçura - lumen et dulcedo - isto é, na posse <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
(lumen) e na posse do bem material (dulcedo).<br />
Existem elementos pagãos na <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong>, e se explicam pelo fato <strong>de</strong> que <strong>Dante</strong> não era<br />
plenamente católico. Ele fazia parte <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> secreta - Os Fiéis <strong>de</strong> Amor - cuja doutrina era<br />
gibelina. Como todos os Gibelinos, ele colocava o Império acima <strong>da</strong> Igreja. O Imperador acima do<br />
Papa. Daí o ódio <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> ao Papado e à Igreja rica, à loba, carregando em sua magreza to<strong>da</strong> a<br />
fome <strong>de</strong> riqueza.<br />
E não se <strong>de</strong>ve esquecer que os Gibelinos eram, muitas vezes, cátaros. Veja, por exemplo,<br />
que <strong>Dante</strong> coloca, no inferno, Farinata <strong>de</strong>gli Uberti como epicurista, quando, <strong>de</strong> fato, ele foi cátaro, e<br />
excomungado como cátaro.<br />
No Inferno <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>, misteriosamente, jamais aparece o termo "cátaro". Entretanto, essa era<br />
a gran<strong>de</strong> heresia que dominava o tempo em que ele viveu. Até mesmo a colocação dos hereges - e<br />
para <strong>Dante</strong> hereges eram apenas os materialistas epicuristas - é estranha, pois eles não estão<br />
colocados entre os fraudulentos, os enganadores que pecaram com o intelecto.<br />
Também é notável como <strong>Dante</strong> exalta certos poetas conhecidos, hoje, como cátaros, como<br />
por exemplo, Arnauld Daniel, mestre do "trobar clus" (poesia em código), Sor<strong>de</strong>llo, Casella a quem<br />
ele faz cantar o poema praticamente esotérico Ämor che nella mente mi raggiona, <strong>de</strong> autoria do<br />
próprio <strong>Dante</strong>.<br />
A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> caracteriza-se por um fortíssimo sentido moralizante, pela reafirmação dos<br />
princípios cristãos e pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> renovação espiritual. Sua força narrativa resi<strong>de</strong> na firmeza <strong>de</strong><br />
caráter <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>, enquanto personagem, ao li<strong>da</strong>r com algumas <strong>da</strong>s questões mais fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong><br />
condição humana. Mesmo diante dos maiores <strong>de</strong>safios, o poeta segue com convicção sua crença na
existência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> eterna e naquela que seria a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa existência: a busca <strong>da</strong> união com<br />
Deus, por meio <strong>da</strong> purificação.<br />
No entanto, uma ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> que marca to<strong>da</strong> a <strong>obra</strong> po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> nas fontes <strong>de</strong> inspiração<br />
para o enredo: do VI canto do clássico Enei<strong>da</strong>, <strong>de</strong> autoria do poeta romano Virgílio, surge a temática<br />
<strong>de</strong> uma viagem ao pós-vi<strong>da</strong>. Da Bíblia, <strong>Dante</strong> extrai os dogmas católicos, tão presentes na <strong>obra</strong>. Da<br />
fusão <strong>de</strong> ambos os textos, cria-se, então, uma síntese <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> medieval - calca<strong>da</strong> na<br />
religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> -, ao mesmo tempo em que se vislumbra um anúncio <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> valorização<br />
do ser humano e do retorno aos mo<strong>de</strong>los greco-romanos, características essenciais do<br />
Renascimento.<br />
Tal conciliação entre fé e razão projeta-se fortemente sobre A <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong>, à semelhança<br />
do que ocorre na suma filosófica <strong>de</strong> São Tomas <strong>de</strong> Aquino, contemporâneo <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>. A visão <strong>de</strong><br />
universo apresenta<strong>da</strong> na <strong>obra</strong>, por sua vez, é empresta<strong>da</strong> <strong>de</strong> Aristóteles, outro gran<strong>de</strong> nome <strong>da</strong><br />
Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> Clássica a influenciar o poeta.<br />
Também <strong>de</strong>staca-se no texto a duali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre aceitação e crítica à Igreja. <strong>Dante</strong> exalta e<br />
justifica as crenças do Catolicismo, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo, inclusive, a origem divina do po<strong>de</strong>r papal. No<br />
entanto, não hesita em con<strong>de</strong>nar diversos papas ao plano do Inferno, por consi<strong>de</strong>rá-los corruptores<br />
<strong>da</strong> fé cristã. O aparente conflito apenas reforça o sentido moralizante do livro, ao enfatizar a<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma rígi<strong>da</strong> conduta ética.<br />
Estrutura<br />
A <strong>obra</strong> é estrutura<strong>da</strong> em 100 cantos, totalizando 14.233 versos. Ca<strong>da</strong> parte (Céu, Purgatório<br />
e Inferno) apresenta 33 cantos. O Inferno conta, ain<strong>da</strong>, com um canto introdutório, formando o<br />
número 100, múltiplo <strong>de</strong> 10, símbolo <strong>da</strong> perfeição (100 = a perfeição do perfeito).<br />
Ca<strong>da</strong> canto é composto <strong>de</strong> 130 a 140 versos em terça rima (versos divididos em grupos <strong>de</strong><br />
três).<br />
Na harmonia com os números 3, 7, 10 e seus múltiplos, aparecem os indícios do forte<br />
simbolismo <strong>da</strong> cultura medieval ou <strong>da</strong> <strong>de</strong>voção do autor à Santíssima Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa harmonia<br />
<strong>de</strong>termina a métrica adota<strong>da</strong>, com versos hen<strong>de</strong>cassílabos (11 sílabas) e rimas no esquema ABA<br />
BCB, CDC... VZV (o verso central rima com os 1° e 3º do grupo seguinte). Tal estrutura <strong>de</strong>u origem<br />
ao chamado "terceto <strong>da</strong>ntesco", assim <strong>de</strong>nominado por ter sido <strong>Dante</strong> o primeiro a empregá-la.<br />
São muito discuti<strong>da</strong>s as <strong>da</strong>tas <strong>da</strong> composição do poema: muito provavelmente, <strong>Dante</strong><br />
começou-o por volta <strong>de</strong> 1307, para <strong>de</strong>pois nele trabalhar durante to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>.<br />
O poema, no seu conjunto, é a história <strong>da</strong> conversão do pecador a Deus. O poeta tencionava<br />
fazer <strong>da</strong> <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> principalmente sua <strong>obra</strong> <strong>de</strong> doutrina e <strong>de</strong> edificação, uma "Suma" que<br />
compreen<strong>de</strong>sse o saber do seu tempo, <strong>da</strong> ciência à filosofia e à teologia. Por isso o poema é repleto<br />
<strong>de</strong> significados alegóricos e ain<strong>da</strong> morais. Assim, por exemplo, Virgílio, que cantou os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> paz<br />
e justiça do Império Romano no tempo <strong>de</strong> Augusto, e que guia o poeta através do Inferno e do<br />
Purgatório, simboliza a razão integra<strong>da</strong> com a sabedoria moral, e é também a voz <strong>da</strong> própria<br />
consciência <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>. Beatriz, a mulher ama<strong>da</strong> que o guia no Paraíso, é a sabedoria cristão<br />
ilumina<strong>da</strong> pela graça, a suprema sabedoria dos santos, a única que po<strong>de</strong> levar a Deus.<br />
Tudo no poema é perfeita construção alegórica, e nisto <strong>Dante</strong> limita-se a respeitar as regras<br />
do seu tempo: pois quantas não são <strong>de</strong> fato as <strong>obra</strong>s medievais que referem as viagens<br />
ultraterrenas, <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente arquiteta<strong>da</strong>s para edificação do pecador? Só que, no poema <strong>da</strong>ntesco,<br />
há um sutil artifício que permite ao poeta encerrar nos seus cantos também a história do seu tempo.<br />
<strong>Dante</strong> imagina fazer uma viagem em 1300 e portanto refere naturalmente tudo quanto aconteceu<br />
antes <strong>de</strong>sta <strong>da</strong>ta; mas, reconhecendo aos mortos a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prever o futuro, põe-nos a<br />
profetizar os acontecimentos públicos e particulares que não <strong>de</strong>seja <strong>de</strong>ixar em silêncio.<br />
Fruto <strong>de</strong> uma imaginação po<strong>de</strong>rosa e <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> narrativa aguça<strong>da</strong>, A <strong>Divina</strong><br />
<strong>Comédia</strong> encontra nos símbolos um valioso instrumento <strong>de</strong> expressão. A riqueza <strong>de</strong> alegorias,<br />
porém, além <strong>de</strong> constituir o caráter lírico e a beleza poética do livro, acaba por permitir<br />
interpretações diversas sobre o significado do texto. Ao menos quatro <strong>de</strong>las são amplamente<br />
reconheci<strong>da</strong>s:<br />
1. A literal, que consi<strong>de</strong>ra apenas a aventura <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> pelos três reinos do pós-vi<strong>da</strong>.<br />
2. A alegórica, que <strong>de</strong>staca o sentido <strong>de</strong> purificação progressiva do espírito, ao longo <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong><br />
rumo a Deus.
3. A moral, foca<strong>da</strong> na rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> costumes e na exaltação aos valores do Bem, <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong><br />
Justiça.<br />
4. A anagógica, ou sobrenatural, constituí<strong>da</strong> na passagem <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escravidão do<br />
pecado à salvação, pela Re<strong>de</strong>nção <strong>de</strong> Cristo.<br />
Haveria, ain<strong>da</strong>, um aspecto mais polêmico, o político, que enxerga na mulher ama<strong>da</strong>, Beatriz,<br />
uma analogia com uma Florença purifica<strong>da</strong> dos seus pecados ou com uma Itália unifica<strong>da</strong>.<br />
Personagens<br />
Para sua viagem, <strong>Dante</strong> convi<strong>da</strong> três personagens <strong>de</strong> seu imaginário: o poeta Virgílio<br />
(Inferno e purgatório), Beatriz, seu gran<strong>de</strong> amor platônico (Céu) e São Bernardo (Impirium-<br />
Deus).<br />
Enredo<br />
A viagem <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> na <strong>Divina</strong> <strong>Comédia</strong> inicia-se na quinta-feira <strong>da</strong> semana santa <strong>de</strong> 1.300<br />
d.C. Sua narrativa é curiosa, assustadora, e acima <strong>de</strong> tudo singular. <strong>Dante</strong> mistura-se a um<br />
complexo conjunto <strong>de</strong> sentimentos, impressões, crenças e conhecimento cultural para <strong>de</strong>senvolver<br />
seu edifício literário. O primeiro conceito niti<strong>da</strong>mente observável é a concepção geocêntricoastronômico<br />
<strong>de</strong> Ptolomeo <strong>de</strong> Alexandria (Séc. II d.C.). As disposições Astronômicas são exatamente<br />
aquelas encontra<strong>da</strong>s no Tetrabiblos e Almagesto do mesmo Cláudio Ptolomeo.<br />
Outro aspecto fun<strong>da</strong>mental em sua narrativa é a "Teoria <strong>da</strong> Imortali<strong>da</strong><strong>de</strong>" <strong>de</strong> Platão, que<br />
supunha a viagem <strong>da</strong> alma humana após sua morte, aos céus específicos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> planeta, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />
teriam vindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio.<br />
Encontraremos <strong>Dante</strong> narrando várias vezes <strong>de</strong> seu imaginário, ícones distorcidos pela<br />
percepção religiosa <strong>de</strong> seu tempo.<br />
Quanto à Beatriz, sua musa inspiradora, não se sabe muito. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>Dante</strong> a conhecera<br />
já <strong>de</strong>sposa<strong>da</strong> por outro homem e sua paixão platônica o perseguiu por to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Muitas vezes<br />
gran<strong>de</strong>s paixões são marca<strong>da</strong>s pela dor. Beatriz morrera em tenra i<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixando o poeta<br />
profun<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>primido. <strong>Dante</strong> chegou a casar-se, mas jamais escrevera sequer um verso para<br />
sua esposa, tornando-se conhecido como o maior adúltero literário <strong>da</strong> história <strong>da</strong> poesia.<br />
Para se ter uma idéia dos sentimentos <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> por Beatriz, ele a cita 64 vezes na <strong>Divina</strong><br />
<strong>Comédia</strong>, sendo o Cristo citado apenas 40. Beatriz só per<strong>de</strong> para Deus, que muito freqüentemente<br />
era invocado quando em sua estadia no inferno.<br />
<strong>Dante</strong> não escon<strong>de</strong> em seus versos sua opinião sobre as coisas. De posse <strong>da</strong>s chaves do<br />
universo, brinca <strong>de</strong> Deus e coloca no inferno todos aqueles que odiara e que o perseguiram durante<br />
a vi<strong>da</strong>. Lá estavam também todos os que eram convenientes ao pensar teológico. Desta maneira, o<br />
poeta se vinga <strong>de</strong> todos aqueles com os quais lutara em vi<strong>da</strong> e glorifica todos os seus amigos e<br />
amores, os elevando às alturas celestiais.<br />
<strong>Dante</strong> fez uma viagem ao mundo do além. Orientando pelo poeta Virgilio, conhece o inferno e<br />
o purgatório e <strong>de</strong>pois, guiado por Beatriz, visita o Paraíso. Ao longo do percurso <strong>Dante</strong> encontra<br />
vários conhecidos seus e conversa com alguns <strong>de</strong>les. O inferno é um vale nas entranhas <strong>da</strong> terra<br />
formado por vários círculos que vão e afunilando: quando mais baixo estão, maiores os pecados<br />
<strong>da</strong>quelas almas que ali pa<strong>de</strong>cem gran<strong>de</strong>s suplícios. Satanás, com quem se encontram, tem três<br />
faces, uma só cabeça e enormes asas <strong>de</strong> morcego. Saem do inferno e sobem a montanha do<br />
purgatório. Passam pelos sete círculos que representam os sete pecados capitais. Banhando-se em<br />
águas sagra<strong>da</strong>s, na saí<strong>da</strong> do purgatório, são absolvidos <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a culpa. <strong>Dante</strong> entra no paraíso<br />
seguido por Beatriz, e aí encontra santos, sábios, teólogos, e outros espíritos. No último céu,<br />
encontra São Pedro e faz um exame <strong>de</strong> fé. Beatriz ocupa um lugar no terceiro ciclo dos eleitos. No<br />
final <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong>, <strong>Dante</strong> vislumbra Deus em to<strong>da</strong> a sua glória.<br />
Arquitetura do mundo extraterreno<br />
Sob a crosta terrestre abre-se, no hemisfério boreal, precisamente <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> Jerusalém,<br />
uma profun<strong>da</strong> <strong>de</strong>pressão em forma <strong>de</strong> cone que chega até ao centro <strong>da</strong> Terra. Foi provoca<strong>da</strong> pela<br />
que<strong>da</strong> <strong>de</strong> Lúcifer, o anjo rebel<strong>de</strong>, o qual, efetivamente, se acha cravado no fundo do abismo. As<br />
terras que saltaram durante a que<strong>da</strong> do anjo confluíram no hemisfério austral formando uma ilha
constituí<strong>da</strong> por uma montanha cônica no cimo <strong>da</strong> qual está colocado o Paraíso Terrestre,<br />
exatamente nos antípo<strong>da</strong>s, portanto, <strong>de</strong> Jerusalém, e na fronteira extrema entre o mundo <strong>da</strong><br />
matéria e o <strong>da</strong> imateriali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Na <strong>de</strong>pressão, que se abisma em nove círculos concêntricos, está situado o Inferno. Os<br />
con<strong>de</strong>nados estão disseminados nestes círculos <strong>de</strong> harmonia com a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos pecados; e o<br />
pecado é tanto mais grave quanto mais violou o que o homem tem em si <strong>de</strong> divino.<br />
Sobre a montanha cônica do hemisfério austral está situado, por seu lado, o Purgatório. As<br />
almas estão distribuí<strong>da</strong>s sobre as ravinas que se escavam no flanco do monte. Sete sãos as faixas<br />
correspon<strong>de</strong>ntes aos sete pecados capitais; com o antipurgatório e o Paraíso Terrestre é atingido o<br />
fatídico número nove, que com o número três se encontra na base <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a disposição <strong>da</strong> <strong>Divina</strong><br />
<strong>Comédia</strong>. Os dois reinos estão ligados por um estreito subterrâneo que do fundo do abismo infernal<br />
leva à ilha do Purgatório, no hemisfério oposto.<br />
O Paraíso encontra-se, naturalmente, no Céu: on<strong>de</strong> nove esferas circulam com órbitas<br />
sempre maiores e movimento sempre mais rápido, em volta <strong>da</strong> Terra imóvel, segundo o sistema<br />
ptolomaico. Acima <strong>de</strong>las, o fulgurante Empíreo, on<strong>de</strong> resplen<strong>de</strong> Deus, circun<strong>da</strong>do pelos bemaventurados<br />
triunfantes.<br />
O Inferno<br />
No meio do caminho <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, <strong>Dante</strong>, tendo-se perdido numa floresta obscura, tenta em<br />
vão subir a colina luminosa: três feras, que simbolizam as concupiscências humanas, impe<strong>de</strong>m-lhe o<br />
passo. Virgílio aparece ao poeta e propõe-lhe um outro caminho para chegar à contemplação <strong>de</strong><br />
Deus (o cume luminoso), um áspero e terrível caminho que atravessa os reinos <strong>de</strong> além-tumba.<br />
<strong>Dante</strong> fica hesitante e aterrador, e só quando Virgílio o informa <strong>de</strong> que tal privilégio lhe foi concedido<br />
pela oração <strong>de</strong> uma mulher bendita, Beatriz, que tanto <strong>de</strong>seja a sua salvação, ele se tranqüiliza e<br />
dirige-se para o limiar do além. Virgílio guiá-lo-á através do reino <strong>da</strong> beatitu<strong>de</strong>.<br />
Atravessado o fatídico limiar infernal, <strong>Dante</strong> encontra no vestíbulo os cobar<strong>de</strong>s, os que<br />
viveram "sem infâmia e sem louvor", juntamente com os anjos que, quando <strong>da</strong> revolta <strong>de</strong> Lúcifer,<br />
não souberam <strong>de</strong> que lado se colocar. Estes, que quiseram impedir a batalha, estão agora<br />
con<strong>de</strong>nados a correr sem <strong>de</strong>scanso atrás <strong>de</strong> uma ban<strong>de</strong>ira, pungido por vespas e zangãos. Primeiro<br />
exemplo, este, <strong>da</strong> lei do contrapasso segundo a qual em todo o Inferno as penas são infligi<strong>da</strong>s em<br />
estreita relação - <strong>de</strong> analogia e <strong>de</strong> contraste - com os pecados cometidos. A mesma lei governa<br />
também o Purgatório.<br />
Entre o vestíbulo e o primeiro círculo do Inferno corre o rio <strong>de</strong> Aqueronte. Aqui param os<br />
recém-chegados, esperando que Caronte, o <strong>de</strong>mônio dos "olhos <strong>de</strong> brasa", os atravesse para a<br />
outra margem, on<strong>de</strong> serão julgados por Minos, monstruoso juiz que, enrolando a cau<strong>da</strong>, indica o<br />
círculo a que ca<strong>da</strong> pecado está <strong>de</strong>stinado. No primeiro círculo, para além do rio, há o Limbo, que<br />
recebe as almas <strong>da</strong>s crianças mortas sem o batismo e as <strong>da</strong>queles que honestamente viveram antes<br />
<strong>da</strong> vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> Cristo à Terra.<br />
Não há penas no Limbo, mas uma atmosfera <strong>de</strong> <strong>de</strong>primente melancolia. <strong>Dante</strong> encontra aí os<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>da</strong> Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>: Homero, Horácio, Ovídio, Lucano e tantos outros. O Inferno propriamente<br />
dito começa, portanto, apenas com o segundo círculo, on<strong>de</strong> os luxuriosos são arrebatados por uma<br />
tempesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vento. Entre esses, Francesca <strong>de</strong> Rímini, ain<strong>da</strong> abraça<strong>da</strong> ao seu Paulo, narra ao<br />
poeta a sua trágica história.<br />
No terceiro círculo os gulosos são flagelados por uma chuva putrefata e ferozmente vigiados<br />
por Cérbero, horrível cão com três cabeças. O florentino Ciacco fala a <strong>Dante</strong> <strong>da</strong>s lutas entre as<br />
facções opostas <strong>da</strong> sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. No círculo seguinte, <strong>de</strong>sfilam os avarentos e os pródigos, que<br />
empurram pesos enormes, e <strong>de</strong>pois os iracundos, os indolentes, os invejosos e os soberbos, todos<br />
imersos na lama ar<strong>de</strong>nte do pântano do Estige.<br />
Para atravessarem o pântano, <strong>Dante</strong> e Virgílio aproveitam a barca do <strong>de</strong>mônio Elegias, que<br />
os <strong>de</strong>ixa à porta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Dite. Os seus muros <strong>de</strong> fogo encerram a parte mais baixa e mais<br />
terrível do Inferno, aquela on<strong>de</strong> mais graves são as culpas e mais terríveis as penas. As penas<br />
parecem freqüentemente sugeri<strong>da</strong>s por ímpetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo; outras, por uma fantasia atroz.<br />
Os diabos estão bem <strong>de</strong>cididos a impedir a entra<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Dite àquele que "sem morte<br />
vai pelo reino <strong>da</strong> gente morta": trancam to<strong>da</strong>s as portas, enquanto as três fúrias aparecem sobre as<br />
ruínas e, entre elas, Medusa procura magicamente petrificar <strong>Dante</strong>. Chega a tempo um enviado<br />
celeste que, com um toque <strong>de</strong> vara, abre as portas <strong>de</strong> Dite, repreen<strong>de</strong>ndo asperamente os diabos.<br />
Recomeça a viagem, e <strong>Dante</strong> vê em sepulcros <strong>de</strong> fogo os heréticos, entre os quais Farinata;<br />
os violentos contra o próximo, num rio <strong>de</strong> sangue, alvejados e feridos pelas flechas dos centauros<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ousem erguer apenas um pouco a cabeça; os violentos contra si mesmos, isto é, os
suici<strong>da</strong>s como Píer <strong>de</strong>lle Vigne, transformados em árvores nodosas; os esbanjadores perseguidos e<br />
<strong>de</strong>vorados por ca<strong>de</strong>las ferozes.<br />
Os violentos contra Deus e os violentos contra a natureza são submetidos a uma implacável<br />
chuva <strong>de</strong> fogo; contudo, enquanto os violentos contra a natureza (isto é, os sodomitas, como<br />
Brunetto Latini) caminham, aliviando assim o seu tormento, os violentos contra Deus <strong>de</strong>vem<br />
permanecer <strong>de</strong>itados sob o flagelo <strong>da</strong> chuva ígnea. Também os usurários são submetidos a ela, mas<br />
sentados, e movendo sem <strong>de</strong>scanso as mãos para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem.<br />
Os dois poetas chegam assim à extremi<strong>da</strong><strong>de</strong> do sétimo círculo, on<strong>de</strong> se abre um profundo e<br />
íngreme precipício. Para o superar, <strong>Dante</strong> <strong>de</strong>ve subir com Virgílio para a garupa <strong>de</strong> Gerione, um<br />
monstro alado com a cau<strong>da</strong> afia<strong>da</strong>, o qual, com lentíssimo vôo, <strong>de</strong>sce com os dois ao fundo do<br />
abismo. O oitavo círculo é dividido em <strong>de</strong>z fossos, ligados entre si por pontes. Num crescendo <strong>de</strong><br />
horror, numa atmosfera ca<strong>da</strong> vez mais alucinante, entra-se no lugar chamado "malebolge, Oodo <strong>de</strong><br />
Pedra <strong>da</strong> cor do ferro". O longo <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> pecadores continua. Na segun<strong>da</strong> parte do Inferno, o<br />
espetáculo torna-se ain<strong>da</strong> mais horroroso.<br />
Eis os alcoviteiros flagelados por <strong>de</strong>mônios cornudos; os aduladores imersos em estrume; os<br />
simoníacos espetados com a cabeça para baixo em pequenos buracos, com as plantas dos pés<br />
acesas; os adivinhos com as cabeças volta<strong>da</strong>s para trás. No quinto fosso os vendilhões <strong>de</strong>batem-se<br />
em pez fervente: multidões <strong>de</strong> diabos armados com arpões abrigam os <strong>de</strong>sgraçados a permanecer<br />
inteiramente submersos. Os hipócritas, oprimidos por pesadíssimas capas <strong>de</strong> chumbo, arrastam-se<br />
no sexto fosso. E o sétimo é repleto <strong>de</strong> serpentes: serpentes <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s, cores, venenos,<br />
que se lançam sobre os ladrões; envolvem os seus membros enroscando-se neles, apertam-nos e<br />
mor<strong>de</strong>m-nos. No momento <strong>de</strong> ser atingido, o infeliz incen<strong>de</strong>ia-se e um momento <strong>de</strong>pois fica<br />
completamente incinerado, para ressurgir <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>s suas cinzas como a Fênix <strong>da</strong> fábula. Mais além,<br />
por seu lado, os con<strong>de</strong>nados, uma vez feridos, transformam-se em serpentes, enquanto as gestas<br />
que os mor<strong>de</strong>m se tornam homens. Todo o fosso fervilha <strong>de</strong> estranhos seres em metamorfoses,<br />
entre um abater <strong>de</strong> cau<strong>da</strong>s que se tornam pernas, e <strong>de</strong> braços que se retiram no corpo e línguas<br />
que se bifurcam. Depois <strong>de</strong>ste monstruoso espetáculo, eis o crepitar <strong>de</strong> chamas que encerram<br />
conselheiros fraudulentos, entre os quais Ulisses e Diome<strong>de</strong>s. Ulisses conta a sua extrema aventura<br />
no oceano sem fim. (Solene a proclamação do <strong>de</strong>stino dos humanos: Não fostes feitos para viver<br />
como brutos, / Mas para seguir virtu<strong>de</strong> e conhecimento).<br />
Depois <strong>de</strong> haver falado com Ulisses e com Guido <strong>de</strong> Montefeltro, <strong>Dante</strong> e o mestre fiel retoma<br />
o caminho, e encontra os promotores <strong>de</strong> discórdias e os cismáticos, cortado em pe<strong>da</strong>ços pelas<br />
espa<strong>da</strong>s afiadíssimas dos <strong>de</strong>mônios; entre chagas horren<strong>da</strong>s e restos <strong>de</strong> braços, aparece Bertrand<br />
<strong>de</strong> Born, trovador provençal que, tendo separado um pai do filho com maus conselhos, caminha<br />
segurando pelos cabelos a sua própria cabeça, separa<strong>da</strong> do tronco.<br />
No último fosso estão apinhados os falsários, oprimidos por terríveis doenças; os falsários <strong>de</strong><br />
metais arranham-se furiosamente, os <strong>de</strong> moe<strong>da</strong>s estão tumefactos pela hipocrisia, os mentirosos<br />
ar<strong>de</strong>m <strong>de</strong> febre.<br />
Saindo <strong>de</strong> Malebolge, o poeta julga ver uma vaga paisagem <strong>de</strong> torres, mas <strong>de</strong>pois apercebese<br />
<strong>de</strong> que as torres são <strong>de</strong> fato três gigantes agrilhoados, que pouco a pouco emergem <strong>da</strong> Bruna<br />
caliginosa. Trata-se <strong>de</strong> Fialte, Anteu e Nembrote, o que ousou <strong>de</strong>safiar Deus com a sua torre <strong>de</strong><br />
Babel e que agora balbucia palavras que não têm sentido algum. Cabe a Anteu o encargo <strong>de</strong> fazer<br />
<strong>de</strong>scer <strong>Dante</strong> e Virgílio no <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro precipício: toma-os <strong>de</strong> fato, inclina-se e coloca-os no mais<br />
profundo círculo infernal.<br />
Não há fogo, nem <strong>de</strong>mônios, nem gritos <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nados: o fundo do Inferno é gélido, um<br />
imenso bloco <strong>de</strong> gelo. Prisioneiros aí, com a cabeça imersa <strong>da</strong> estrutura gela<strong>da</strong>, estão os traidores:<br />
as lágrimas no gelo significam as suas pálpebras. Naquela imobili<strong>da</strong><strong>de</strong> alucinante, o con<strong>de</strong> Ugolino<br />
raivosamente rói o crânio do seu inimigo.<br />
Com a visão <strong>de</strong> Lúcifer, o anjo rebel<strong>de</strong>, reduzido agora a monstro com três bocas, ca<strong>da</strong> uma<br />
<strong>da</strong>s quais mastiga um dos três maiores traidores (Ju<strong>da</strong>s, traidor <strong>de</strong> Cristo, e Brutus e Cassius,<br />
traidores <strong>de</strong> César e, portanto, do Império), cai o pano sobre a horrorosa tragédia <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
con<strong>de</strong>na<strong>da</strong>. Agarrando-se aos pêlos <strong>da</strong>s pernas <strong>de</strong> Lúcifer, <strong>Dante</strong> e Virgílio <strong>de</strong>scem ain<strong>da</strong>; <strong>de</strong>pois,<br />
num <strong>da</strong>do momento, voltam-se e começam a subir: chegaram ao centro <strong>da</strong> Terra, e um estreito<br />
subterrâneo levá-los-á a "rever as estrelas", <strong>da</strong> outra parte do mundo. A viagem através do Inferno<br />
durou três dias.<br />
O purgatório<br />
Um instintivo respirar <strong>de</strong> alívio no emergir <strong>da</strong> "aura morta" e no reencontrar, acima <strong>de</strong> si, o<br />
Céu, "doce cor <strong>de</strong> oriental safira". Graças a Deus, tudo é diverso no Purgatório: a paisagem, a<br />
atmosfera, a luz que chove do alto.
Desaparecidos o ódio, a rebelião, o crime. Enquanto as personagens infernais eram<br />
visceralmente liga<strong>da</strong>s à vi<strong>da</strong> vivi<strong>da</strong> na Terra, aos pecados que ain<strong>da</strong> reviviam e que reviveriam por<br />
to<strong>da</strong> a eterni<strong>da</strong><strong>de</strong>, os penitentes do Purgatório, afastados <strong>da</strong>s vicissitu<strong>de</strong>s terrenas, encontram-se<br />
ansiosamente tendidos para a sua futura união com Deus. As tragédias sofri<strong>da</strong>s na Terra estão já<br />
muito afasta<strong>da</strong>s, transfigura<strong>da</strong>s: já não fazem bater o coração.<br />
As próprias penas a que os purgandos estão submetidos não têm o terrível relevo plástico do<br />
Inferno. O sofrimento físico quase <strong>de</strong>saparece perante a mais torturante dor espiritual, mitiga<strong>da</strong>,<br />
porém, pela resignação e pela esperança. Mal chegado à praia <strong>da</strong> ilha, enquanto olha em volta <strong>de</strong> si<br />
e <strong>de</strong>scobre as estrelas do hemisfério austral e o esplêndido Cruzeiro do Sul, <strong>Dante</strong> <strong>de</strong>scobre, <strong>de</strong><br />
súbito, que está perto <strong>de</strong> si um velho <strong>de</strong> venera<strong>da</strong> barba branca. É Catão, o estrênuo <strong>de</strong>fensor <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, aquele que em Útica se matou por não suportar que a Roma republicana sucumbisse.<br />
Agora é o guar<strong>da</strong> do Purgatório: por isso a montanha <strong>da</strong> expiação é exatamente o reino <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, liber<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação ao pecado, liber<strong>da</strong><strong>de</strong> do arbítrio. Virgílio fala-lhe com suma<br />
reverência e obtém para si e para o seu discípulo a autorização <strong>de</strong> subir a montanha. Antes, porém,<br />
<strong>de</strong> começar a viagem, Virgílio recolhe o orvalho <strong>da</strong>s ervas e com ele lava o rosto <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>, para o<br />
libertar <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a suji<strong>da</strong><strong>de</strong> caliginosa do Inferno.<br />
Entretanto aparece sobre o mar uma luz que velozmente se aproxima: trata-se <strong>de</strong> um anjo,<br />
rente à popa sobre um barco "estreitito e leve" que ele faz <strong>de</strong>slizar com o a<strong>de</strong>jo <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s asas.<br />
Sentam-se no barco mais <strong>de</strong> cem espíritos que estão a chegar ao reino <strong>da</strong> expiação. Entre eles<br />
encontram-se Casella, que já em vi<strong>da</strong> havia musicado as canções <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> e que agora, tendo<br />
<strong>de</strong>sembarcado e reconhecido o amigo, não hesita entoar a famosa "Amor que na mente me<br />
discorre". As almas apinham-se em volta para ouvir o "doce canto", mas Catão repreen<strong>de</strong>-as pela<br />
<strong>de</strong>mora, e elas correm então para as encostas do monte. Também os dois poetas se dirigem<br />
apressa<strong>da</strong>mente para a montanha e, enquanto Virgílio procura um carreiro que permita a <strong>Dante</strong><br />
subir, um grupo <strong>de</strong> almas os alcança. Depois <strong>de</strong> ter sabido porque razão um vivo se encontra<br />
naquele lugar, uma <strong>de</strong>las se i<strong>de</strong>ntifica: é Manfredi, que, embora excomungado, se salvou num<br />
extremo impulso <strong>de</strong> arrependimento.<br />
A subi<strong>da</strong> é ru<strong>de</strong>, e <strong>Dante</strong> avança agarrando-se com as mãos o melhor que po<strong>de</strong>. Chega,<br />
porém, à primeira plataforma, que constitui uma espécie <strong>de</strong> vestíbulo on<strong>de</strong> os que tar<strong>da</strong>m a<br />
arrepen<strong>de</strong>r-se esperam o momento <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entrar no Purgatório. <strong>Dante</strong> encontra Belacqua, um<br />
famoso ocioso dos seus tempos; e Buonconte <strong>de</strong> Montefeltro, combatente em Campaldino; e, enfim,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitos outros, a suavíssima e infeliz Pia <strong>de</strong> Tolomei.<br />
Um encontro singular é o <strong>de</strong> Virgílio com Sor<strong>de</strong>llo, mantuano como ele: um abraço que traz<br />
aos lábios <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> a célebre invectiva contra a escravidão <strong>da</strong> Itália. Tendo passado para o Vale dos<br />
Príncipes, on<strong>de</strong> se encontram reuni<strong>da</strong>s as almas dos reis e senhores.<br />
<strong>Dante</strong> adormece, para se encontrar na manhã seguinte, misteriosamente, em frente <strong>da</strong><br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira porta do Purgatório. Um anjo lhe traça na fronte "sete P", representando os sete pecados<br />
capitais. Serão apagados pouco a pouco por outros anjos, à medi<strong>da</strong> que <strong>Dante</strong> passe <strong>de</strong> faixa em<br />
faixa, observando <strong>de</strong> perto aqueles que expiam exatamente os sete pecados capitais e meditando<br />
sobre vários exemplos <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong> vícios castigados.<br />
A soberba expia-se na primeira plataforma e as almas caminham curva<strong>da</strong>s <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> pesos<br />
enormes e olham para esculturas que representam exemplos <strong>de</strong> humil<strong>da</strong><strong>de</strong>; a inveja, na segun<strong>da</strong>, e<br />
os invejosos são castigados com os cilícios, os alhos cosidos com fio <strong>de</strong> ferro, enquanto vozes<br />
ignotas gritam exemplos <strong>de</strong> inveja castiga<strong>da</strong>; no terceiro círculo, on<strong>de</strong> as almas estão envolvi<strong>da</strong>s em<br />
<strong>de</strong>nsa fumara<strong>da</strong>, é expia<strong>da</strong> a ira; na quarta correm os preguiçosos; na quinta jazem por terra, <strong>de</strong><br />
bruços, os avarentos.<br />
No quinto círculo, <strong>Dante</strong> e Virgílio encontram a alma do poeta latino Estácio, que, termina<strong>da</strong><br />
a expiação, está a subir para o cume <strong>da</strong> montanha; acompanham-no, e os três juntamente passam<br />
para o sexto círculo, on<strong>de</strong> os gulosos, entre os quais Forense Donati, amigo <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>, estão<br />
reduzidos a uma magreza esquelética. Durante a viagem, Estácio fala <strong>da</strong> sua conversão ao<br />
cristianismo e Virgílio, dos seus companheiros do Limbo. O discurso torna-se <strong>de</strong>pois mais erudito,<br />
versando sobre a teoria <strong>da</strong> formação do corpo e <strong>da</strong> alma sensitiva, sobre a origem <strong>da</strong> alma racional<br />
e sobrevivência <strong>da</strong> alma ao corpo.<br />
Assim, os três chegam ao sétimo círculo, on<strong>de</strong> os luxuriosos ar<strong>de</strong>m no fogo. É preciso que<br />
também <strong>Dante</strong> passe pelas chamas para purificar-se, e o bom Virgílio <strong>de</strong>ve recorrer à recor<strong>da</strong>ção <strong>de</strong><br />
Beatriz para levar o relutante discípulo a entrar no fogo. Supera<strong>da</strong> a prova, <strong>Dante</strong> cai num sono<br />
profundo e sonha com uma jovem e bela senhora que vai colhendo flores para se engrinal<strong>da</strong>r: é Lia,<br />
símbolo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ativa. Uma última subi<strong>da</strong> e eis as maravilhas do Paraíso Terrestre. Chegou,<br />
entretanto, o momento <strong>da</strong> <strong>de</strong>spedi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Virgílio: esperando a chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> Beatriz, <strong>Dante</strong> já não<br />
precisa ser amparado pelo seu conselho. Na "divina floresta, espessa e viva", o poeta move sozinho<br />
os seus passos, continuando, porém, a voltar-se para o seu mestre, que o olha afetuosamente <strong>de</strong>
longe. Chega junto <strong>de</strong> um límpido regato, além do qual vê uma senhora <strong>de</strong> celeste beleza, Matil<strong>de</strong>,<br />
que caminha "cantando e escolhendo flores no meio <strong>de</strong> flores". Matil<strong>de</strong> é talvez o símbolo <strong>da</strong><br />
inocência primitiva.<br />
Mas já se vê avançar uma mística procissão: sete can<strong>de</strong>labros ar<strong>de</strong>ntes, vinte e quatro<br />
mulheres cingi<strong>da</strong>s com flor-<strong>de</strong>-lis, quatro animais estranhos e o carro alegórico <strong>da</strong> Igreja, que sofre<br />
uma série <strong>de</strong> espantosas transformações, em volta do qual <strong>da</strong>nçam as três virtu<strong>de</strong>s teologais e as<br />
quatro virtu<strong>de</strong>s car<strong>de</strong>ais.<br />
É enfim: Veste nívea, cingi<strong>da</strong> <strong>de</strong> oliveira, / Apareceu-me a Dama em ver<strong>de</strong> manto, / E<br />
vesti<strong>da</strong> <strong>de</strong> cor <strong>da</strong> chama viva.<br />
É Beatriz. A emoção do poeta atinge a sua acme. Sente nascer em si a antiga chama e voltase<br />
para tornar Virgílio participante <strong>de</strong> um tão ar<strong>de</strong>nte acontecimento: mas o mestre já tinha<br />
<strong>de</strong>saparecido em silêncio.<br />
Beatriz, que simboliza a luz <strong>de</strong> Deus enquanto ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, dirige-se-lhe, severamente<br />
repreen<strong>de</strong>ndo <strong>Dante</strong> pelas suas culpas e convi<strong>da</strong>ndo-o a confessá-las. A confissão purifica o poeta,<br />
que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver sido imerso por Matil<strong>de</strong> nos dois rios do Paraíso Terrestre, que fazem esquecer<br />
as culpas cometi<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>spertam a memória <strong>da</strong>s boas ações, está finalmente preparado para subir<br />
ao Paraíso.<br />
O Paraíso<br />
O Paraíso é o canto <strong>da</strong> beatitu<strong>de</strong>, <strong>da</strong> consonância <strong>da</strong> vonta<strong>de</strong> dos bem-aventurados com a <strong>de</strong><br />
Deus. É também o canto <strong>da</strong>s dissertações teológicas, <strong>da</strong>s doutas explicações que <strong>Dante</strong> recebe <strong>da</strong><br />
sua <strong>da</strong>ma e <strong>de</strong> outros eleitos. Mas principalmente é o canto <strong>da</strong> luz, uma luz que resplen<strong>de</strong>, que<br />
irradia, flameja, palpita on<strong>de</strong> quer que seja, sobre as figuras dos bem-aventurados, nos olhos <strong>de</strong><br />
Beatriz, sobre as esferas que se movem nos céus, e que se torna tanto mais ofuscante quanto mais<br />
se sobe para a visão <strong>de</strong> Deus.<br />
Do Paraíso Terrestre, <strong>Dante</strong> e Beatriz erguem-se com movimento rapidíssimo para a esfera<br />
do fogo e, ultrapassa<strong>da</strong>, chegam ao primeiro céu, o <strong>da</strong> Lua, on<strong>de</strong> se encontram os espíritos<br />
<strong>da</strong>queles que foram constrangidos pela violência dos outros a serem infiéis aos votos religiosos.<br />
<strong>Dante</strong> encontra aí Piccar<strong>da</strong> Donati. No Paraíso, os bem-aventurados resi<strong>de</strong>m todos no Empíreo em<br />
contemplação <strong>de</strong> Deus, mais perto ou mais longe d'Ele segundo seu mérito, mas todos felizes do seu<br />
estado. Só para fazer compreen<strong>de</strong>r a <strong>Dante</strong> a arquitetura celeste, e para lhe mostrar o seu diverso<br />
grau <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, eles se agrupam nos sete céus planetários, ca<strong>da</strong> um naquele cuja influência<br />
sofreu em vi<strong>da</strong>, segundo as regras astrológicas medievais. Uma particular virtu<strong>de</strong> moral presi<strong>de</strong> a<br />
ca<strong>da</strong> céu: a fortaleza no céu <strong>da</strong> Lua, a justiça em Mercúrio, a temperança em Vênus, a prudência no<br />
Sol; e no céu <strong>de</strong> Marte há a fé, no <strong>de</strong> Júpiter, a esperança, em Saturno, a cari<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
No céu <strong>de</strong> Mercúrio pairam os espíritos que usaram do seu talento para fazer o bem. E aqui<br />
se revela a <strong>Dante</strong> Justiniano, o qual celebra, a gran<strong>de</strong>s linhas, a história do Império Romano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
Enéias a Carlos Magno. Depois do encontro com o imperador, Beatriz tira algumas dúvi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>Dante</strong><br />
falando-lhe <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> Cristo, <strong>da</strong> re<strong>de</strong>nção do homem do pecado original, <strong>da</strong> incorruptibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
que foi criado diretamente por Deus. E assim discutindo, chegam à esfera <strong>de</strong> Vênus, on<strong>de</strong>, entre os<br />
espíritos que fortemente amaram, encontram Carlos Martel, filho <strong>de</strong> Carlos II <strong>de</strong> Anjou. Passando<br />
por Florença em 1294, o jovem angevino conhecera <strong>Dante</strong> e <strong>de</strong>ra-lhe prova <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>,<br />
logo corta<strong>da</strong> pela sua morte prematura. Depois <strong>de</strong> Carlos, outros espíritos amantes se revelam ao<br />
poeta: Cunizza <strong>da</strong> Romano e Folco <strong>de</strong> Marselha, que censura a vergonhosa avareza dos<br />
eclesiásticos.<br />
No quarto céu, o do Sol, brilham as almas sapientes e triunfam os teólogos. <strong>Dante</strong> encontra<br />
lá Tomás <strong>de</strong> Aquino e Boaventura <strong>de</strong> Bagnorea, que tecem o elogio dos dois gran<strong>de</strong>s campeões <strong>da</strong><br />
fé, S. Domingos e S. Francisco. O quinto é o céu <strong>de</strong> Marte, on<strong>de</strong> as almas dos que Morreram<br />
combatendo pela fé <strong>de</strong> Cristo estão dispostas em forma <strong>de</strong> cruz luminosa. Do baço direito <strong>da</strong> cruz<br />
fulgurante revela-se ao poeta o seu trisavô, Cacciagui<strong>da</strong>, morto na segun<strong>da</strong> cruza<strong>da</strong>. Cacciagui<strong>da</strong><br />
fala <strong>de</strong> Florença dos seus tempos antigos, quando a população, encerra<strong>da</strong> no primeiro círculo <strong>de</strong><br />
muralhas, "estava em paz, sóbria e pudica", e prediz a <strong>Dante</strong> o exílio, exortando-o to<strong>da</strong>via a<br />
suportar as injustiças confiando em Deus: principalmente não tenha medo <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas grite-a<br />
no rosto <strong>de</strong> todos sem se preocupar com as conseqüências. <strong>Dante</strong> continua a subir com Beatriz: no<br />
sétimo céu, o <strong>de</strong> Saturno, os espíritos contemplativos estão or<strong>de</strong>nados segundo uma escala<br />
admirável que sobe até ao Empíreo. S. Pedro Damião fala do mistério <strong>da</strong> pre<strong>de</strong>stinação; S. Bento<br />
conta <strong>de</strong> si e <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m e lamenta a sua <strong>de</strong>cadência.<br />
O oitavo é o céu <strong>da</strong>s estrelas fixas: em forma <strong>de</strong> fúlgido sol, no meio <strong>da</strong>s mil esplêndi<strong>da</strong>s<br />
luzes dos bem-aventurados, <strong>Dante</strong> assiste ao triunfo <strong>de</strong> Cristo. Sobre Cristo ao empíreo e, num
tripúdio <strong>de</strong> fulgor, os bem-aventurados celebram o triunfo <strong>de</strong> Maria. Antes <strong>da</strong> ascensão ao nono céu,<br />
S. Pedro, S. Tiago e S. João interrogam o poeta sobre a fé, a esperança e a cari<strong>da</strong><strong>de</strong>! <strong>Dante</strong> supera<br />
com êxito este exame acerca <strong>da</strong>s virtu<strong>de</strong>s teologais e <strong>de</strong>pois ouve <strong>de</strong> Pedro a mais ru<strong>de</strong> invectiva<br />
contra o papado e a sua corrupção. Aos três apóstolos junta-se <strong>de</strong>pois Adão