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VJ OUT 06 - Visão Judaica

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2<br />

editorial<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Publicação mensal independente da<br />

EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />

JUDAICA LTDA.<br />

Redação, Administração e Publicidade<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Curitiba PR Brasil<br />

Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />

Dir. de Operações e Marketing<br />

SHEILLA FIGLARZ<br />

Dir. Administrativa e Financeira<br />

HANA KLEINER<br />

Diretor de Redação<br />

SZYJA B. LORBER<br />

Publicidade<br />

DEBORAH FIGLARZ<br />

Arte e Diagramação<br />

SONIA OLESKOVICZ<br />

Webmaster<br />

RAFFAEL FIGLARZ<br />

Colaboram nesta edição:<br />

Ali Kamel, Aristide Brodeschi, Breno<br />

Lerner, Celso Lafer, Charles<br />

Krauthamer, Daniel Benjamin Barenbein,<br />

Dominic Lawson, E. Casanova, Edda<br />

Bergmann, Edgard Leite Castro, Jane<br />

Bichmacher de Glasman, Jeff Jacoby,<br />

João Pereira Coutinho, Joseph Farah,<br />

Marcos Aguinis, Moisés Bronfman,<br />

Nahum Sirotsky, Paula R. Stern, Pilar<br />

Rahola, Ralf Dahrendorf, Roberto<br />

Musatti, Sérgio Feldman e Yossi<br />

Groisseoign<br />

O jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> não tem responsabilidade<br />

sobre o conteúdo dos artigos, notas, opiniões ou<br />

comentários publicados, sejam de terceiros<br />

(mencionando a fonte) ou próprias e assinadas<br />

pelos autores. O fato de publicá-los não indica<br />

que o <strong>VJ</strong> esteja de acordo com alguns dos<br />

conceitos ou dos temas.<br />

www.visaojudaica.com.br<br />

Este jornal é um veículo independente<br />

da Comunidade Israelita do Paraná<br />

A fetidez da cloaca anti-semita invade a política<br />

ão é a primeira vez que isso<br />

acontece. Aqui no Paraná, em<br />

eleições passadas, a cloaca dos<br />

anti-semitas já foi aberta algumas<br />

vezes para deixar exalar<br />

a sórdida fetidez do caráter de seus<br />

proprietários, e exibir a público, de<br />

maneira extravagante, mas criminosa,<br />

o racismo de que se alimentam e<br />

depois defecam para todos os lados,<br />

agora usando os modernos meios de<br />

informação, como a internet. O caso<br />

mais recente — e que ainda cheira<br />

muito mal — ocorreu no dia do primeiro<br />

turno das eleições, 1º de outubro,<br />

a poucas horas do início do<br />

Iom Kipur, o dia mais santificado do<br />

povo judeu. Uma página eletrônica<br />

da rede mundial, produzida aqui em<br />

Curitiba, pretensamente de “notícias<br />

políticas” e, serviçal, ao que tudo<br />

indica, de um poderoso senhorio<br />

com interesses eleitorais, publicou<br />

um trecho do infame “Protocolos dos<br />

Sábios de Sião”.<br />

Objetivos? Atacar<br />

a campanha<br />

Nossa capa<br />

do senador Osmar Dias, que surpreendeu<br />

pelo seu desempenho e foi<br />

para o segundo turno das eleições,<br />

atemorizando seus adversários. E<br />

ofender os judeus como um todo<br />

porque o ex-governador Jaime Lerner<br />

apóia o senador, e dois outros<br />

membros da comunidade — Gerson<br />

Guelmann e Cila Schulman, especialistas<br />

em campanhas — trabalham<br />

com Osmar Dias.<br />

Osmar Dias é candidato do PDT,<br />

em coligação com o PSB, partido<br />

ao qual o Jaime Lerner é filiado. As<br />

primeiras pesquisas davam desvantagem<br />

ao senador no 1º turno, o<br />

que, efetivamente, acabou não<br />

acontecendo. As oposições fizeram<br />

mais de 57% e, no 2º turno, as<br />

chances aumentam para Osmar.<br />

Como diz Gerson Guelmann, “infelizmente<br />

o Paraná tem uma triste<br />

tradição de dar abrigo a uma escumalha<br />

de há muito catalogada nos<br />

manuais da psicopatologia. De tempos<br />

em tempos sofremos ataques e<br />

somos vítimas de manifestações de<br />

ódio, muito freqüentemente dissimulados<br />

em críticas ou manifestações<br />

de ordem política, exatamente<br />

em razão da projeção de membros da<br />

comunidade local, da qual o Jaime<br />

Lerner é um dos expoentes”.<br />

A cloaca de plantão tem nome e<br />

é “Gazeta de Novo” — uma espécie<br />

de contrafação que tenta ganhar<br />

carona no título do jornal de maior<br />

circulação no Paraná. E o dono dessa<br />

fossa de imundícies na internet<br />

ainda teve a desfaçatez de assinar<br />

seu nome embaixo: Guilhobel Aurélio<br />

Camargo. O material anti-semita<br />

ficou no ar até a noite do dia 5 de<br />

outubro quando foi retirado, talvez<br />

em razão da queixa-crime formulada<br />

na Polícia Federal ou em função das<br />

medidas tomadas junto à Justiça.<br />

Para quem desconhece, os “Protocolos”<br />

é um “livro” apócrifo comprovadamente<br />

falso, escrito na Rússia czarista,<br />

que reúne mentiras medievais<br />

e toda a sorte de calúnias contra o<br />

povo judeu que a maldade humana<br />

foi capaz de engendrar com o único<br />

A capa reproduz a obra de arte cujo título é “Título; “A benção de Sucot”, elaborada com<br />

a técnica óleo sobre tela com dimensões de 60 X 80 cm, criação de Aristide Brodeschi. O<br />

autor nasceu em Bucareste, Romênia, é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde<br />

1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria.<br />

Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por<br />

vários países e tem no judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas<br />

do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br).<br />

Datas importantes<br />

13 de outubro<br />

14 de outubro<br />

15 de outubro<br />

21 de outubro<br />

22 de outubro<br />

23 de outubro<br />

28 de outubro<br />

4 de novembro<br />

11 de novembro<br />

Falecimentos<br />

Hoshaná Rabá<br />

Shemini Atsêret<br />

Simchat Torá<br />

Shabat Bereshit<br />

1º dia de Rosh Chodesh<br />

2º dia de Rosh Chodesh<br />

Shabat Nôach<br />

Shabat Lech Lechá<br />

Shabat Vaierá<br />

Dia 14//7 — 18 de Tamuz de 5766 – Maria Lawder,<br />

aos 91 anos de idade,sepultado no Cemitério Israelita<br />

do Umbará.<br />

Dia 1º/10 — 9 de Tishrei de 5767 — Lieselote Jakobovitz,<br />

sepultada no Cemitério Israelita de Santa<br />

Cândida.<br />

Humor<br />

Na direção<br />

Um adolescente tirou carteira<br />

de motorista e foi acertar com o<br />

pai, um rabino, como poderia usar<br />

o carro da família. O rabino estipulou<br />

as condições:<br />

— “Antes de qualquer trato,<br />

você tem que trazer boas notas,<br />

estudar a Bíblia e cortar o cabelo”.<br />

Um mês depois, o jovem tornou<br />

a conversar com o pai, que<br />

lhe disse:<br />

— “Estou orgulhoso por suas<br />

notas, por seus novos conhecimentos<br />

da Bíblia, mas falta cortar<br />

o cabelo”.<br />

O rapaz argumentou:<br />

— “Sabe pai, Sansão tinha<br />

cabelos compridos, Abraão também,<br />

e até Moisés tinha cabelos<br />

compridos”.<br />

Resposta do rabino:<br />

— “Certíssimo! E todos eles<br />

andavam a pé”.<br />

propósito de difundir o ódio. Baseiase<br />

nas mais obscurantistas, néscias<br />

e fantasiosas teorias sobre uma alucinada<br />

conspiração judaica mundial<br />

para dominar os governos, a mídia,<br />

a economia, os bancos, etc.<br />

Nesse episódio, o cinismo é tanto<br />

que grafaram errado o nome da<br />

“obra” e o site dava a entender que<br />

se tratava de algo escrito pelos próprios<br />

judeus!: “O Protocolo (sic) dos<br />

Sábios do Sião é uma obra prima do<br />

planejamento do povo judeu”, e ainda<br />

dizia-se revoltado (o site) por seu<br />

uso, mesmo após 100 anos, “pelo<br />

povo judeu como ‘mandamentos’ - e<br />

em campanhas políticas no Paraná<br />

contra tudo aquilo que nos é de mais<br />

caro”. E encerrava não sem antes convidar<br />

o leitor para visitar o site Rádio<br />

Islam, um dos mais racistas do<br />

mundo, cujo responsável já esteve<br />

preso e processado na Suécia. O caso<br />

é gravíssimo e espera-se, tanto das<br />

lideranças da comunidade, quanto<br />

das autoridades, a necessária atitude<br />

com as devidas punições.<br />

A Redação<br />

Acendimento das<br />

velas em Curitiba<br />

outubro/<br />

novembro 20<strong>06</strong><br />

Véspera de Shabat<br />

e Festas<br />

DATA HORA<br />

13/10 * 18h01<br />

14/10 ** 18h57<br />

20/10 18h05<br />

27/10 18h09<br />

3/11 18h14<br />

10/11 19h19<br />

17/11 19h24<br />

* Shemini Atsêret<br />

** Simchat Torá<br />

Obs.: A partir do dia 5/11 inícia o horário<br />

brasileiro de verão. As datas já estão<br />

ajustadas nesta tabela.


VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Torá: polêmicas e interpretações (I)<br />

Sérgio Feldman *<br />

autoria da Torá é com<br />

certeza um tema polêmico<br />

e que resulta em discussões<br />

agudas e ideológicas.<br />

Na concepção judaica<br />

tradicional não resta dúvida que<br />

a Torá inteira foi Revelada a Moisés<br />

ao sopé do Monte Sinai. Portanto, seu<br />

autor seria D-us, que usou de Moisés,<br />

para transmiti-la a seu povo e através<br />

deste a humanidade inteira.<br />

A Torá que em princípio seria composta<br />

dos primeiros cinco livros da<br />

Bíblia hebraica (ou Pentateuco),<br />

comporia um conjunto mais amplo<br />

com outros livros e que os judeus<br />

denominam Tanach (uma sigla que<br />

tem como letras componentes o T de<br />

Torá, o N de Neviim ou Profetas, e o<br />

CH de Ketuvim ou Escritos), que denominamos<br />

como Bíblia Hebraica ou<br />

como a denominam os cristãos “Antigo<br />

Testamento” (AT). Os livros dos<br />

Profetas e os demais textos canonizados<br />

(Salmos, Provérbios, Cântico<br />

dos Cânticos e muitos outros), compõem,<br />

junto com a Torá, um conjunto<br />

considerado sacro e divinamente<br />

inspirado, se não for até mesmo considerado<br />

também Revelação. Este fato<br />

nem sempre é aceito e por vezes a<br />

ele se agregam considerações e interpretações<br />

adicionais que alteram<br />

seu significado místico e transcendental.<br />

Quem é o autor da Torá? A<br />

resposta tradicional seria D-us, através<br />

de Moisés. Sua palavra tem uma<br />

importância transcendental: origina<br />

o Judaísmo, define sua forma de ser,<br />

leis e regras do cotidiano ao criar as<br />

613 Mitzvot (248 preceitos positivos<br />

e 365 negativos). Não há Judaísmo<br />

sem a Torá, não há Torá sem Judaísmo.<br />

Seria seu decreto de fundação e<br />

sua Carta Magna. Uma aura sacra se<br />

superpõe sobre seu nome.<br />

O efeito civilizador deste texto<br />

na história do mundo ocidental é<br />

imenso: está inserido em textos<br />

posteriores, seja legislação religiosa<br />

ou civil, e em regras morais e<br />

éticas de muitas culturas e civilizações.<br />

Falar da Torá e divagar sobre<br />

questões e dúvidas é no mínimo<br />

uma ousadia, senão um desrespeito.<br />

Equivaleria às palavras do<br />

papa sobre o Alcorão e sobre o Islã:<br />

uma afronta e pode parecer a muitos<br />

judeus uma atitude herética.<br />

Ainda assim há a possibilidade de<br />

se analisar, de maneira respeitosa e<br />

cuidadosa, as opiniões divergentes<br />

da opinião oficial do Judaísmo tradicional<br />

ortodoxo.<br />

A visão cristã tradicional: a<br />

Patrística e a Torá<br />

O que os cristãos achavam disto?<br />

O Cristianismo nasceu no seio do Ju-<br />

daísmo e utilizou as mesmas fontes.<br />

Há uma divergência crucial entre<br />

judeus e cristãos: quem seria o herdeiro<br />

do Pacto com D-us e da Revelação?<br />

O Judaísmo mantém a sua escolha<br />

por D-us e a Lei do Sinai, como<br />

prova de sua escolha. O Cristianismo<br />

não nega a Lei e nem o Pacto,<br />

mas trata de descaracterizar sua validade:<br />

uma nova etapa surgira a<br />

partir de Jesus. Um novo Pacto (Brit<br />

há Chadaha em hebraico) substitui<br />

o antigo. E uma camada adicional<br />

de leis e regras surge e se superpõe<br />

a Lei Antiga: os Evangelhos e a mensagem<br />

dos apóstolos. Negar o Judaísmo,<br />

sem destruí-lo; absorver<br />

seus conteúdos de uma maneira<br />

cristã. A exegese cristã trata de<br />

mostrar através do “Antigo Testamento”<br />

ou Tanach (AT), que a vinda<br />

de Jesus, já estava prevista na Revelação<br />

e no Pacto “antigos”.<br />

A exegese (interpretação ou análise<br />

do texto) cristã faz uma espécie<br />

de desconstrução do texto do Tanach<br />

(AT). Os padres fundadores da<br />

Igreja escrevendo 1500 anos depois<br />

de Moisés, e quase um milênio após<br />

Ezra, o escriba, ter editado a Torá,<br />

esquecem do contexto histórico e<br />

geográfico do mundo bíblico, para<br />

achar profecias que já falavam de<br />

Jesus e que antecipavam a nova religião<br />

no texto do AT ou Tanach.<br />

Os conflitos entre judeus e cristãos<br />

ocorreram inicialmente dentro<br />

das sinagogas, já que os primeiros<br />

cristãos eram judeus. Mas os judeuscristãos<br />

não tardam a romper com a<br />

Sinagoga mãe e se tornar uma religião<br />

a parte. Em seguida, competem<br />

com o Judaísmo sobre a análise<br />

do AT e sua interpretação. São<br />

polêmicas agudas e por vezes trágicas,<br />

pois se iniciam em debates e<br />

podem acabar em conflitos de rua:<br />

em Alexandria ou Antioquia e em<br />

muitas cidades helenizadas do<br />

Oriente. Aos cristãos transparece a<br />

Verdade de sua fé e a razão de ser<br />

de profecias e fatos do AT, como<br />

uma profecia, de fatos que viriam a<br />

ocorrer. O texto do Tanach seria uma<br />

prévia, uma espécie de anúncio antecipado<br />

de fatos do NT (Novo Testamento).<br />

Isso cria um clima de<br />

confronto e uma rivalidade ímpar.<br />

Algumas das interpretações cristãs<br />

podem ser descritas. A cena tradicional<br />

de Abraão que recebe os<br />

três anjos em sua tenda (Gênesis,<br />

c. 18), seria um símbolo: trata-se<br />

da aparição da Trindade. Uma inversão<br />

radical das crenças e das interpretações<br />

judaicas.<br />

Outra duas narrativas servem de<br />

palco para a negação do Pacto antigo<br />

e a afirmação do Novo Pacto: a<br />

venda da primogenitura de Esaú para<br />

Jacob (Gênesis, c. 25), e a obten-<br />

ção da benção paterna por Jacob,<br />

com ajuda da mãe dos gêmeos, Rebeca<br />

(Gênesis, c. 27).<br />

Na exegese cristã qual seria o<br />

significado destas narrativas: o primogênito<br />

Esaú significaria os judeus<br />

e o secundogênito Jacob simbolizaria<br />

os judeus. Fica evidente<br />

que se trata de uma interpretação<br />

simbólica e que através de simbolismo<br />

poder-se-ia provar praticamente<br />

qualquer tese ou opinião, já<br />

que a alegoria utilizada, desvia-se<br />

de maneira absoluta do contexto,<br />

da época e da realidade dos fatos<br />

e dos autores literários.<br />

Dentro desta e de outras leituras<br />

e exegeses, ocorreram debates e conflitos<br />

entre judeus e cristãos, sobre<br />

o real significado da Torá e do Tanach<br />

ou “AT”. Isso se estende até a Idade<br />

Média. São famosas as disputas medievais<br />

entre sábios dos dois lados.<br />

Um exemplo foi a disputa de Barcelona<br />

ocorrida na corte dos reis de<br />

Aragão, entre Nachmânides e um judeus<br />

convertido denominado Pablo<br />

Christiani, ocorrida em 1263.<br />

Os curiosos deveriam ler a obra<br />

de Hyam Maccoby, editada pela Imago<br />

Editora: “O Judaísmo em julgamento:<br />

os debates judaico-cristãos<br />

na Idade Média”. Nesta obra o autor<br />

analisa de maneira isenta e crítica<br />

as opiniões dos dois lados e seus<br />

argumentos. Trabalha também com<br />

as disputas de Paris (1240) e de<br />

Tortosa (1413-1414).<br />

As divergências e as críticas<br />

judaicas: Spinoza e a Torá<br />

Em artigo de nossa autoria, publicado<br />

na <strong>VJ</strong> há algum meses, denominado:<br />

“Entre heréticos e dogmáticos<br />

(I): o caso de Spinoza”, falamos<br />

da visão deste sábio sobre a<br />

razão de ser e o sentido do texto<br />

sagrado. Spinoza viveu na Holanda,<br />

no século XVII, num clima que alternava<br />

livre pensamento e choques ideológicos<br />

agudos entre os filósofos e<br />

a Igreja calvinista. Sua obra se inseria<br />

nesta vasta polêmica.<br />

Usaremos de um<br />

trecho de nosso artigo<br />

anterior para<br />

ilustrar o que dissemos.<br />

[Início da citação]<br />

Uma destas<br />

obras é o “Tratado<br />

Teológico Político”<br />

(c. 1670) no qual<br />

Spinoza se utilizava<br />

de análises dos exegetas<br />

judeus, com<br />

Ibn Ezra, mas direcionava<br />

suas conclusões<br />

de uma maneira<br />

muito mais crítica.<br />

Nesta obra demonstrava entre outras<br />

teses que a Bíblia Hebraica não teria<br />

sido escrita por Moisés, tal como<br />

afirma a Tradição. Negava a veracidade<br />

absoluta de todo seu conteúdo,<br />

inaugurando a “crítica bíblica”.<br />

No seu entendimento a razão de se<br />

ter escrito a Bíblia seria inculcar em<br />

seus leitores, a noção de obediência<br />

aos poderes constituídos: Estado<br />

e instituições religiosas.<br />

Isto irritou a muita gente, pois<br />

questionava não só o judaísmo tradicional,<br />

mas também as doutrinas<br />

calvinistas, que era neste período,<br />

a Igreja protestante mais importante<br />

na Holanda. Assim sendo, esta<br />

obra (Tratado Teológico Político)<br />

foi censurada e proibida de circular,<br />

mas seguiu sendo editada e<br />

lida, apesar das proibições das calúnias<br />

que sofreu. Sua influência é<br />

incomensurável. Um marco na História.<br />

[fim da citação].<br />

A guisa de reflexão final<br />

Todas estas disputas só salientam<br />

ainda mais a enorme importância<br />

da Torá no mundo judaico-cristão<br />

e na formação de valores e de<br />

mentalidades. Não se pode adotar<br />

uma postura radical e fundamentalista<br />

e nem se fazer a apologia das<br />

absolutas verdades de esta ou de<br />

outra interpretação. A Torá serve<br />

como ponto de partida para uma renovação<br />

do Judaísmo, a partir do<br />

século XIX. Por um lado: os que negaram<br />

a veracidade da Torá e sua validade<br />

como guia espiritual dos judeus,<br />

acabaram por se desligar do<br />

Judaísmo. Por outro lado, os<br />

que fizeram a crítica e seguiram<br />

no seio do Judaísmo,<br />

reinterpretando a Tradição<br />

milenar, criaram novas expressões<br />

religiosas e culturais.<br />

Um Judaísmo que<br />

se insere na tradição do<br />

debate, da diversidade e<br />

da busca de solução para os<br />

problemas humanos.<br />

3<br />

* Sérgio Feldman é<br />

doutor em História pela<br />

UFPR e professor de<br />

História Antiga e Medieval<br />

na Universidade Federal do<br />

Espírito Santo, em Vitória, e<br />

ex-professor adjunto de<br />

História Antiga do Curso<br />

de História da Universidade<br />

Tuiuti<br />

do Paraná.


4<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

A verdade sobre Edward Said<br />

Jeff Jacoby *<br />

dward Saïd, o mais renomado<br />

intelectual palestino, demonstrou<br />

não passar de uma<br />

grande fraude. A experiência,<br />

aparentemente, não lhe ensinou<br />

nada. Durante décadas Saïd passou por<br />

ser um exilado – um árabe nascido e<br />

criado em Jerusalém, expulso por Israel<br />

na guerra árabe-israelense de<br />

1948. Esta foi a história que ele sempre<br />

contou, permeando sua narrativa<br />

com detalhes cheios de emoção.<br />

“Sinto-me cada vez mais deprimido”<br />

relembrava em março de 1998<br />

“quando eu lembro minha linda velha<br />

casa, cercada de pinheiros e laranjais<br />

em al-Talbiyeh, nas redondezas<br />

de Jerusalém”. Num documentário<br />

da BBC ele relembrou seus anos<br />

no Colégio St. George, uma escola<br />

preparatória inglesa em Jerusalém. Ele<br />

e um rapaz de nome David Ezra costumavam<br />

sentar no fundo da sala de<br />

aula. Ele disse, em outra entrevista<br />

em 1997, que ele poderia identificar<br />

as peças de sua antiga casa familiar<br />

“onde, ainda garoto, ele lia Sherlock<br />

Holmes e Tarzan e onde ele e sua e<br />

sua mãe liam Shakespeare”. Tudo isto<br />

foi perdido quando sua família fugiu<br />

de Talbiyeh, em dezembro de 1947,<br />

expulsos “por carros de som israelenses<br />

[que] avisavam que os Árabes deveriam<br />

abandonar a vizinhança”.<br />

Mas como Justus Reid Weiner mostrou<br />

em Commentary, um influente<br />

jornal, a trágica história de Saïd era,<br />

em grande parte, fabricada. Os Saïds<br />

tinham morado no Egito, e não na<br />

Palestina. Edward Saïd cresceu e estudou<br />

num bairro elegante do Cairo,<br />

onde seu pai tinha um próspero negócio.<br />

Freqüentemente a família visitava<br />

parentes em Jerusalém. Edward<br />

nasceu numa destas visitas em 1935.<br />

Mas em sua certidão de nascimento<br />

a residência dos Saïds foi registrada<br />

como sendo no Cairo. O espaço reservado<br />

para um endereço na Palestina<br />

ficou em branco.<br />

Weiner investigou a expulsão dos<br />

árabes de Talbiyeh em 1947 e nada<br />

foi encontrado. Ele checou também<br />

os registros de estudantes no Colégio<br />

St. George e não havia nenhuma<br />

menção a Edward Saïd. Ele entrevistou<br />

David Ezra, o estudante que teria<br />

sentado nas últimas fileiras com<br />

Saïd... Bem, por causa de suas dificuldade<br />

de ler Ezra sempre sentou nas<br />

primeiras filas.<br />

Saïd ocupava uma posição superior<br />

no mundo das letras: mantinha<br />

uma cadeira de Inglês e Literatura<br />

na Universidade de Colúmbia, era um<br />

professor muito procurado e foi, por<br />

diversas vezes, Presidente da Associação<br />

de Línguas Modernas, membro<br />

do Conselho de Relações Exteriores,<br />

e fellow da American Academy of<br />

Arts and Science.<br />

Mas ele sempre foi reconhecido,<br />

principalmente, como um campeão<br />

da causa palestina. Por muitos anos<br />

foi membro do Conselho Nacional<br />

Palestino, o “Parlamento no Exílio”<br />

da OLP e conselheiro privado de Yasser<br />

Arafat. Ele ata-<br />

cava brutalmente<br />

Israel e defendia<br />

a causa palestina<br />

em todos os fóruns<br />

imagináveis,<br />

desde editoriais<br />

de jornal até<br />

transmissões para<br />

testemunhar perante<br />

o Congresso.<br />

E suas palavras<br />

tinham grande<br />

força moral – não era ele uma vítima<br />

da usurpação sionista? Não tinha ele<br />

sofrido expulsão e exílio?<br />

Quando o mundo percebeu que<br />

não, sua autoridade moral foi reduzida<br />

a nada. Era como se “soubéssemos<br />

que Elie Wiesel tivesse passado a<br />

guerra em Genebra e não em Auschwitz”,<br />

como disse um observador.<br />

Poderíamos pensar que este constrangimento<br />

teria convencido Saïd a parar<br />

de mentir a seu próprio respeito.<br />

Mas suas mentiras continuaram.<br />

Durante uma visita ao Líbano em<br />

julho, Saïd foi visto jogando pedras<br />

sobre a fronteira de Israel. Atirar pedras<br />

em Israel era um passatempo comum<br />

para turistas árabes no sul do<br />

Líbano desde a retirada israelense em<br />

maio. O apedrejamento despertou<br />

pouco interesse internacional apesar<br />

de vários israelenses terem sido<br />

feridos, alguns séria e definitivamente.<br />

Mas quando a Agência France<br />

Presse divulgou uma foto do mundialmente<br />

famoso intelectual palestino<br />

se juntando à violência, conseguiu<br />

manchete em todo o mundo.<br />

Um professor que<br />

dissemina mentiras<br />

é como um médico<br />

que receita veneno<br />

ou um juiz que<br />

aceita dinheiro de<br />

uma das partes<br />

Saïd foi criticado, até mesmo em lugares<br />

onde era geralmente elogiado.<br />

O Beirut Daily Star demonstrou consternação<br />

de que “alguém que trabalhara<br />

tanto para acabar com os estereótipos<br />

contra os árabes, se mostrasse<br />

violento... Se permitisse levar<br />

pela turba a jogar pedras sobre a fronteira<br />

internacional”. No próprio campus<br />

de Said o Columbia Daily Spectator<br />

atacou sua “ação violenta e hipócrita”<br />

como “estranha a esta ou a qualquer<br />

outra instituição de ensino”.<br />

Sua resposta foi desprezar o incidente<br />

como simplesmente “um gesto<br />

simbólico de contentamento” –<br />

e, mais uma vez, mentir. Suas pedras,<br />

disse ele tinham sido “jogadas num<br />

espaço vazio”. Algumas testemunhas<br />

tinham outra versão.<br />

O London Te-<br />

legraph publicou<br />

que Saïd “estava a<br />

menos de dez metros<br />

de soldados<br />

israelenses numa<br />

torre de observação<br />

azul e branca<br />

de dois andares,<br />

onde estavam hasteadas<br />

bandeiras<br />

israelenses”. Ao saber<br />

que havia fotógrafos franceses por<br />

ali o Professor mostrou-se surpreso:<br />

“Eu não tinha idéia de que havia<br />

pessoal da mídia por ali, ou que eu<br />

fosse o alvo de sua atenção”. Mas a<br />

AFP tem outra versão – como souberam<br />

dois professores de Colúmbia, Awi<br />

Federgruen e Robert Pollack. Eles escreveram<br />

suas conclusões para o Espectator<br />

de que “as fotos de Saïd jogando<br />

as pedras foi entregue a esta<br />

agência exatamente pelo próprio professor<br />

Saïd”.<br />

Para alguém que havia escrito que<br />

os intelectuais precisam “dizer a verdade,<br />

da maneira mais direta, honesta<br />

e simples possível”, Saïd parece<br />

ter passado maus momentos mentindo<br />

sobre os fatos a seu respeito. Talvez<br />

por que ele soubesse que não<br />

haveria nenhum preço a pagar, profissionalmente,<br />

por suas enganações.<br />

Quando Weiner expôs as falsidades<br />

de Saïd, a resposta de Colúmbia<br />

foi – não fazer absolutamente nada!<br />

“Surpreendentemente o professor<br />

Saïd não foi nem apoiado nem criticado<br />

pelo Presidente [da Universi-<br />

dade]”, escreveu Weiner num ensaio<br />

em Academic Questions, o jornal da<br />

National Associations of Scholars. “Nem<br />

o Diretor, nem a junta de administradores,<br />

nem o Senado da Universidade<br />

sequer mencionaram a dissimulação<br />

de Saïd”.<br />

Para quem conheça a história de<br />

Colúmbia esta falta de interesse pela<br />

mentira de um de seus professores<br />

é impressionante, pois Saïd não foi<br />

o primeiro do Departamento de Inglês<br />

a ser descoberto numa série de<br />

mentiras públicas. Na década de 50,<br />

um instrutor chamado Charles Van<br />

Doren ganhou aplausos nacionais<br />

por sua brilhante apresentação no<br />

show “Twenty-One” da NBC. Estes<br />

aplausos se tornaram desprezo quando<br />

o show foi denunciado como manipulação,<br />

e Colúmbia esclareceu<br />

imediatamente que não poderia<br />

manter em seus quadros tal mentiroso.<br />

“É uma questão de moral, honestidade<br />

e integridade do ensino”,<br />

disse o diretor John G Palfrey, e<br />

acrescentou “se estes princípios merecem<br />

ser conservados, Van Doren<br />

não pode permanecer”. (Como Weiner<br />

acentuou: “enquanto Van Doren<br />

pode ter sido iludido pelos produtores<br />

do programa a participar<br />

de uma competição desonesta, Saïd<br />

foi o único responsável por suas<br />

mentiras”). Por que os dois pesos<br />

e duas medidas?<br />

Em relação a meros mortais, Colúmbia<br />

ainda insiste em honestidade.<br />

Há alguns meses atrás um estudante<br />

de 19 anos que mentiu que<br />

havia sofrido um acidente de carro<br />

para ter mais tempo para uma prova,<br />

foi suspenso por dois anos. Já Saïd,<br />

cuja lenda de exílio e perda de propriedade<br />

foi muito mais elaborada e<br />

iludiu muito mais gente, não sofreu<br />

nenhuma censura disciplinar.<br />

Um professor que dissemina mentiras<br />

é como um médico que receita<br />

veneno ou um juiz que aceita dinheiro<br />

de uma das partes. Todos são<br />

ameaças à sociedade, todos traem<br />

seus cargos. Médicos que matam podem<br />

ter seu registro caçado; juízes<br />

corruptos podem ser impedidos de<br />

julgar. Mas um professor que mente<br />

– ao menos em Colúmbia – permanece<br />

livre para continuar enganando.<br />

É de admirar que Edward Saïd continue<br />

dizendo mentiras?<br />

* Jeff Jacoby é colunista do jornal The Boston Globe desde 1994, e antes fora editorialista-chefe do Boston Herald. Graduou-se na George Washington<br />

University e na Boston University Law School. Foi advogado e trabalhou em campanhas eleitorais para o Senado americano. Além de seu trabalho como<br />

jornalista, é comentarista político da Boston’s National Public Radio (WBUR-FM) e por anos manteve um programa de televisão. O presente artigo escrito<br />

quando Said ainda era vivo, foi traduzido por Heitor de Paola e está publicado, no original em http://www.bigeye.com/jj092800.htm


Jane Bichmacher de Glasman* pulsão dos judeus da Espanha. A hebraico, os textos escritos em um<br />

m 12 de outubro de<br />

1492 a América foi<br />

descoberta pelo genovês<br />

Cristóvão Colombo”.<br />

A frase que está na ponta<br />

da língua desde a nossa infância,<br />

pode ser uma sucessão de erros.<br />

Pesquisas recentes revelam que o<br />

continente americano já havia recebido<br />

visitantes (de fenícios a<br />

chineses, passando por vikings),<br />

que Colombo não era italiano... e<br />

que sequer seu nome era esse!<br />

O lugar de nascimento de Colombo<br />

é incerto e as suas origens permanecem<br />

envoltas em enigma sem<br />

que surjam documentos decisivos. A<br />

partir de finais do século XIX, e do<br />

centenário de 1892, foi considerado<br />

natural de Gênova. Atualmente,<br />

historiadores diversos levantam hipótese<br />

de ele ser português, catalão,<br />

basco, galego ou mesmo grego,<br />

e certamente de ascendência judaica.<br />

Conhecia as línguas clássicas<br />

(mantinha um diário em latim e outro<br />

em grego) e o hebraico; não escrevia<br />

italiano, mas uma forma aportuguesada<br />

do castelhano.<br />

O ano de 1492 é divisor de águas<br />

na história em geral e na judaica,<br />

polêmica começa na proximidade<br />

entre estes dois fatos muito relevantes<br />

em datas muito juntas. A discussão<br />

esquenta com o livro do historiador<br />

Mascarenhas Barreto, “O<br />

Português Cristóvão Colombo, Agente<br />

Secreto do Rei Dom João II”, em<br />

que afirma que o descobridor<br />

era português<br />

e judeu.<br />

Colombo vivia em<br />

meios judaicos, tinha<br />

muitos amigos e mestres<br />

judeus. A navegação<br />

era ensinada em<br />

academias judaicas, e<br />

os primeiros navegadores<br />

foram judeus e árabes. A viagem<br />

de Colombo foi arranjada e patrocinada<br />

por judeus - e não pelo<br />

ouro dos monarcas, como se diz.<br />

E curiosamente, a sua frota zarpou<br />

dois dias após o prazo estabelecido<br />

pelos monarcas para os judeus<br />

abandonarem o reino. Sabe-se que<br />

com Colombo viajaram muitos cristãos<br />

novos.<br />

Segundo Oscar Villar Serrano em<br />

seu livro “Cristóbal Colón: el secreto<br />

mejor guardado” na correspondência<br />

que mantiveram Colombo e<br />

seu filho Fernando há muitas pro-<br />

idioma “ininteligível” e as despedidas<br />

eram uma benção judaica. Colombo<br />

recomendava ao seu filho que<br />

diante das pessoas se comportasse<br />

como mandava a lei canônica, “mas<br />

entre nós, temos que conservar nossos<br />

costumes” (sic).<br />

O irmão de Cristóvão<br />

Colombo foi queimado<br />

em Valência em 1493<br />

por ser judeu e, curiosamente,<br />

foi a própria<br />

Igreja que propôs canonizar<br />

o descobridor pelo<br />

fato de ter cristianizado<br />

os indígenas de América,<br />

mas desistiu ao saber<br />

que ele era judeu.<br />

Cristóvão Colombo seria Salvador<br />

Fernandes Zarco, que existiu de fato,<br />

nobre ilegítimo natural da vila alentejana<br />

de Cuba em Portugal, neto de<br />

João Gonçalves Zarco, navegador<br />

português de ascendência judaica -<br />

o que justifica os nomes com que<br />

ele batizou ilhas (São Salvador e<br />

Cuba) e o fato de nunca escrever italiano,<br />

mas sim um “portunhol”.<br />

Decifrando a misteriosa assinatura<br />

críptica de 27 sinais com que<br />

Colombo sempre escreveu seu<br />

nome, Barreto acredita ter desven-<br />

em particular. A chegada de Colomvas de sua origem judaica. As cardado a cabala judaica do nome e<br />

bo às Américas “coincide” com a extas estavam fechadas com letras em da identidade do navegador. Para<br />

Diáspora<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

A assinatura cabalística do<br />

judeu sefaradi Cristóvão Colombo<br />

professora Sônia Blommfeld foi<br />

a convidada da B’nai B’rith do<br />

Brasil para falar sobre ‘Diáspora:<br />

ontem, hoje e amanhã’,<br />

tema do Concurso Fábio Dorf<br />

20<strong>06</strong>, promovido pelo quarto ano consecutivo<br />

pela B’nai B’rith para todas as escolas<br />

judaicas de educação formal do Brasil.<br />

Em sua análise, a docente da Universidade<br />

Nacional de Brasília, destacou as informações<br />

resultantes das pesquisas genéticas,<br />

como a de que o DNA dos judeus,<br />

ashkenazim (provenientes da Alemanha e<br />

Europa Oriental) e dos sefaradim, (originários<br />

da Península Ibérica, expulsos pela<br />

Inquisição) é o mesmo, correspondendo a<br />

ancestrais que viveram três mil anos atrás<br />

no Oriente Médio. E, ainda mais interessante:<br />

o DNA que mais se assemelha ao dos<br />

judeus é o dos palestinos.<br />

Hoje estão em andamento dois grandes<br />

projetos envolvendo a análise de DNA,<br />

coordenados pelo Yad Vashem (Museu do<br />

isso, o pesquisador utilizou o método<br />

da leitura espelhada, na qual<br />

o ponto e a vírgula podem significar,<br />

em espanhol antigo, Colon, e<br />

em hebraico, Zarco.<br />

Colombo é uma forma latinizada<br />

do seu apelido. Na sua assinatura hierática<br />

lê-se Xpo ferens (“portador de<br />

Cristo”) além de siglas que originaram<br />

interpretações variadas, mais convencionais<br />

ou mais esotéricas. Colombo<br />

seria até um nome errado, pois<br />

nas suas assinaturas aparece o símbolo<br />

“:” (“colon” em muitas línguas,<br />

como o castelhano e o inglês), que<br />

justifica o seu nome em castelhano:<br />

“Colón”. Ele nunca assinou Colombo...<br />

Mascarenhas Barreto explica que<br />

Cristóvão a decifração em latim é:<br />

Fernandus, ensifer copiae Pacis Juliae,<br />

illaqueatus cum Isabella<br />

Sciarra Camarae, mea soboles<br />

Cubae sunt que significa:<br />

Fernando, duque de<br />

Beja e Isabel Sciarra da<br />

Câmara são os meus pais<br />

de Cuba.<br />

A assinatura dele<br />

era contraditória, isto é,<br />

possuía mensagens católicas,<br />

em latim e mensagens<br />

em hebraico, comenta<br />

José Rodrigues dos<br />

Santos, autor de Codex 632.<br />

Judeus de diferentes regiões têm mesmo<br />

DNA dos ancestrais do Oriente Médio<br />

Holocausto) de Jerusalém, que está solicitando<br />

aos judeus de todo o mundo que<br />

enviem o seu material genético para a formação<br />

de um banco genético.<br />

A diferença conceitual entre diáspora<br />

(dispersão) e galut (exílio) foi abordada pela<br />

conferencista, ao falar da destruição do 2º<br />

Templo de Jerusalém, e a expulsão dos judeus<br />

pelos romanos em 70 d.e.c, quando teve<br />

início a Diáspora e, com ela o surgimento<br />

do judaísmo rabínico, das sinagogas, e da<br />

normatização da legislação judaica.<br />

No entanto, ela destacou que “é preciso<br />

lembrar a presença constante dos judeus<br />

na terra de Israel, mesmo após este<br />

período, seja de camponeses, seja decorrente<br />

da constante migração de judeus da<br />

Europa e de outros países do Oriente Médio,<br />

em geral por questões religiosas”. E<br />

acrescentou que no século XVI, por exemplo,<br />

Safed se tornou um importante centro<br />

religioso e espiritual, suplantando Jerusalém<br />

(de onde, de tempos em tempos,<br />

os judeus eram expulsos novamente).<br />

Em relação à trajetória das comunidades<br />

judaicas da Diáspora há diversos momentos<br />

importantes a ressaltar. Um deles é<br />

a haskalá, uma verdadeira ‘revolução’ nos<br />

usos e costumes dos judeus, em decorrência<br />

dos novos conceitos trazidos pelo iluminismo<br />

europeu, e pela Revolução Francesa,<br />

com o surgimento da idéia de Estado-Nação,<br />

de cidadania, e de que as pessoas<br />

irmanadas em seus ancestrais míticos<br />

ou físicos deveriam ter seu estado, ou seja,<br />

nasce a idéia da ‘nação judaica’.<br />

Para os judeus, em especial a partir<br />

da França, teve início esse movimento de<br />

modernização da religião, uma adaptação<br />

aos novos tempos, com ênfase na educação<br />

laica, e nos idiomas das regiões em<br />

que viviam, e no hebraico, em detrimento<br />

do iídiche, que passa a figurar em canções<br />

e peças de teatro, enfim, maior inserção<br />

na vida local.<br />

Paralelamente à liberdade, igualdade e<br />

5<br />

* Jane Bichmacher<br />

de Glasman é doutora em<br />

Língua Hebraica, Literaturas<br />

e Cultura <strong>Judaica</strong>, professora,<br />

fundadora e ex-coordenadora<br />

do Setor de Hebraico da<br />

Universidade Estadual do Rio<br />

de Janeiro - UERJ, fundadora<br />

e ex-diretora do Programa de<br />

Estudos Judaicos da UERJ,<br />

professora e coordenadora<br />

do Setor de Hebraico<br />

UFRJ (aposentada), e<br />

também escritora.<br />

fraternidade, preconizada pela Revolução<br />

Francesa, surge também a concepção moderna<br />

de racismo.<br />

A participação dos judeus nas mudanças<br />

dos séculos XIX e XX foi intensa, a ponto<br />

de sugerir que estes seriam muito mais<br />

numerosos do que são na realidade.<br />

Outras questões abordadas na palestra<br />

foram, a Diáspora frente ao recrudescimento<br />

do anti-semitismo, o uso de falsificações<br />

como os ‘Protocolos dos Sábios de Sião’, e<br />

de mentiras sobre usos e costumes judaicos<br />

que tem sido explorado pelos meios de comunicação,<br />

em especial pelas TVs árabes, que<br />

possuem cada vez mais penetração no mundo<br />

ocidental, que têm sido difundidos nas<br />

escolas, universidades, entre políticos e formadores<br />

de opinião em geral.<br />

A palestra foi encerrada com um filme,<br />

mostrando a importância do tripé: povo,<br />

terra e Torá, destacado pela professora Sônia<br />

como resposta à crescente perda da<br />

identidade judaica nos dias de hoje.


6<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

urpresa: acaba de ser divulgada<br />

uma fatwa contra o<br />

Hezbolá, assinada por Abdala<br />

Ben Jabrín, importante<br />

xeque wahabita da Arábia Saudita.<br />

Assegura que viola a lei corânica<br />

quem apóia esta organização, quem<br />

se junta, prega ou reza por ela. Segue<br />

um documento assombroso publicado<br />

em 12 de julho por outro<br />

xeque, o kuwaitiano Hamid al Alí,<br />

que condena as ambições imperiais<br />

do Irã instrumentadas pelo Hezbolá<br />

a partir do Líbano. Estes pronunciamentos<br />

são apenas a parte visível<br />

do iceberg que liga velhos e novos<br />

conflitos dentro da família árabe e<br />

muçulmana, ocultos até agora pelo<br />

fragor da obsessiva luta contra a<br />

existência de Israel.<br />

É necessário advertir que nem<br />

todos os árabes querem um Estado<br />

palestino e, mais: há árabes que ainda<br />

detestam os palestinos, como prova<br />

a inexpugnável cerca egípcia que<br />

impede a fuga dos palestinos até o<br />

Sinai ou as proibições que impedem<br />

os palestinos, em quase todos os Estados<br />

árabes, de comprar propriedades<br />

ou gozar dos mesmos direitos que<br />

possuem os demais habitantes. Basta<br />

recordar que foram assassinados<br />

pelas tropas jordanianas, sírias e libanesas<br />

cinco ou seis vezes mais<br />

palestinos que todos os que caíram<br />

em seus enfrentamentos com Israel<br />

desde há mais de meio século.<br />

Para entender o Hezbolá convém<br />

ter em conta as quatro correntes de<br />

opinião que prevaleceram na área<br />

sucessivamente, em tão só um século.<br />

Tratarei de ser breve e claro.<br />

Hezbolá, o fator confuso<br />

Marcos Aguinis *<br />

Antes da Primeira Guerra Mundial,<br />

cinco países que agora são Síria, Líbano,<br />

Israel, Jordânia e os territórios<br />

palestinos constituíam uma província<br />

pobre e marginal do império<br />

turco. O movimento nacional judeu,<br />

que havia começado a desafiar a<br />

opressão turca desde o final do século<br />

XIX para constituir um Lar Nacional<br />

Judeu na antiga terra de Israel,<br />

determinou que após a Primeira<br />

Guerra Mundial a Grã Bretanha fosse<br />

escolhida pela Liga das Nações para<br />

exercer seu mandato sobre o que<br />

então começava a chamar-se Palestina.<br />

Este nome ressuscitava a denominação<br />

romana imposta pelo imperador<br />

Adriano, em substituição do<br />

combativo nome de Judéia.<br />

O movimento nacionalista árabe,<br />

que nasceu na Síria em princípios do<br />

século XX e foi teorizado por personalidades<br />

cristãs e pro ocidentais,<br />

disse que a “Palestina” era uma invenção<br />

dos sionistas, para separá-la<br />

da Síria. Com efeito, o nacionalismo<br />

árabe de então considerava que toda<br />

essa região constituía uma grande<br />

Síria, opinião que subsiste nesse país.<br />

Por isso suas tentações para dominar<br />

o Líbano e Israel.<br />

Essa primeira corrente de opinião<br />

foi substituída pela que difundiu o<br />

presidente egípcio Gamal Abdel Nasser<br />

sobre o pan-arabismo, que além<br />

de secular era autoritário e estatizante.<br />

Nasser fundou a República<br />

Árabe Unida, que ligou por alguns<br />

anos o Egito com Síria e que devia<br />

incorporar rapidamente o resto dos<br />

países árabes. A insensata Guerra dos<br />

Seis Dias acabou com esse sonho.<br />

Começou a crescer uma terceira<br />

tendência, que incluía a OLP. Pre-<br />

É grande a semelhança que guarda o Hezbolá do nazismo, tanto na simbologia, comos nos<br />

gestos, militarismo e no anti-semitismo<br />

tendia um perfil nacional diferenciado<br />

para cada país. À OLP, entretanto,<br />

não lhe bastava criar um Estado<br />

palestino na Cisjordânia e Gaza, que<br />

durante 19 anos estiveram sob a<br />

ocupação egípcio-jordaniana sem que<br />

se fizesse nada para estabelecê-lo, porém<br />

pretendia incluir nesse Estado todo<br />

Israel, e conquistar a Jordânia. Por<br />

isso, em 1971, Yasser Arafat, que havia<br />

formado na Jordânia um Estado<br />

dentro do Estado, atacou o governo e<br />

foi repelido num setembro chamado<br />

desde então Setembro Negro. A tropas<br />

jordanianas assassinaram ao redor de<br />

20.000 palestinos e depois outros caíram<br />

ante as balas sírias quando tentaram<br />

refugiar-se no Norte.<br />

No Líbano, a OLP fez um outro<br />

Estado dentro do Estado, até que a<br />

guerra civil e a intervenção de Israel<br />

a expulsaram. Nessa época nasceu o<br />

Hezbolá como uma enganosa alternativa<br />

pacífica, por seu compromisso<br />

com a assistência religiosa e social.<br />

Não se limitava a ela, mas a desencadear<br />

uma ação terrorista sustentada<br />

pelo Irã teocrático de Khomeini.<br />

Inaugurou os crimes suicidas<br />

mediante a matança das forças de paz<br />

francesas e norte-americanas que tinham<br />

chegado ao Líbano para controlar<br />

a atroz guerra civil. Em seguida,<br />

havia executado os dois atentados<br />

de Buenos Aires (embaixada de<br />

Israel e Amia), com o possível apoio<br />

da embaixada iraniana. Este fato<br />

marcou a escolha de objetivos civis<br />

para gerar infinito pânico. Ao mes-<br />

mo tempo, iniciou a interminável<br />

série de ataques contra as populações<br />

civis em Israel. Esta é a quarta<br />

e última corrente de opinião, que<br />

obscurece as outras três.<br />

Obscurece porque esta tendência<br />

ambiciona a reconstrução do grande<br />

califado medieval, que uniria cinqüenta<br />

nações muçulmanas sob uma<br />

só condução teocrática. Não importa<br />

a diferenciação nacional, mas a<br />

imposição da sharia (lei islâmica) e<br />

uma guerra perpétua contra os infiéis<br />

de qualquer denominação.<br />

É curioso que o Hezbolá, uma organização<br />

xiita, fanática e dependente<br />

do Irã, conte com o manifesto<br />

apoio da Síria, que é uma cruel<br />

ditadura castrense secular baseada na<br />

minoria alauíta. Profundas contradições<br />

separam ambos regimes. Contudo,<br />

os dois têm em comum seu<br />

desprezo pelos sunitas e por Israel.<br />

A Síria invadiu o Líbano em 1975 da<br />

mão da Falange cristã que combatia<br />

a OLP, porque também detestava a<br />

OLP, que interferia com seus interesses<br />

no Líbano, e desejava um Estado<br />

independente na Palestina, espaço<br />

que a Síria continuava considerando<br />

seu, ainda que não o expressasse<br />

de forma transparente.<br />

O Hezbolá pedala com um pé no<br />

Irã e outro na Síria, mercê de três<br />

elementos comuns: ódio a Israel,<br />

ódio aos Estados Unidos e posição<br />

ambígua sobre a criação de um Estado<br />

palestino em Gaza e Cisjordânia<br />

(ambigüidade dissimulada com os pro-


testos pelo sofrimento palestino, ao<br />

que não se apressa a colocar fim, porque<br />

sempre os terroristas fazem algo<br />

para frustrar a solução negociada).<br />

Chama também a atenção o fato<br />

de que quando não quer ter enfrentamentos<br />

com Israel, basta não atacá-lo.<br />

A Síria, por exemplo, não protagonizou<br />

nem um só tiroteio com<br />

Israel desde a guerra do Iom Kipur.<br />

Em troca, hostiliza de forma cínica<br />

esse país por meio do Hezbolá, Hamas<br />

e a Jihad Islâmica a partir do<br />

Norte (Líbano) e do Sul (Gaza). Quando<br />

se produziu a retirada israelense<br />

da zona de segurança que mantinha<br />

no Líbano, em vez desse território<br />

ser ocupado pelo exército libanês,<br />

como ordenaram as Nações Unidas,<br />

o fez com celeridade extrema o Hezbolá,<br />

graças à proteção com que lhe<br />

brindaram as tropas sírias estabelecidas<br />

no vale de Bekaa.<br />

Só agora se pode observar que os<br />

serviços de inteligência israelenses<br />

foram ineficazes em perceber a preparação<br />

da guerra em grande escala<br />

que o Hezbolá efetuava durante seis<br />

febris anos. Com a acumulação impressionante<br />

de armamento, construção<br />

de bastiões, de túneis enormes<br />

e um controle absoluto da área,<br />

além da instalação de bases para lançar<br />

mísseis em bairros densamente<br />

povoados, inclusive edifícios de<br />

apartamentos e até escolas, tudo<br />

para servir-lhe de atroz escudo.<br />

A Síria foi expulsa pela maioria<br />

da população libanesa após o assassinato<br />

do premiê Harari. Mas se algo<br />

desejava a rancorosa Síria era que<br />

depois de sua retirada estalasse o<br />

caos. Seu afilhado Hezbolá acaba de<br />

produzi-lo, precisamente.<br />

O grupo xiita Hezbolá cometeu graves violações do direito internacional<br />

humanitário com seus ataques deliberados contra a população civil israelense<br />

durante o recente conflito no Oriente Médio, segundo uma afirmação da<br />

Anistia Internacional (AI) feita em setembro.<br />

Em relatório divulgado em sua sede em Londres, a organização humanitária<br />

acredita ser necessário que a ONU comece uma investigação exaustiva e<br />

imparcial sobre as violações cometidas durante o conflito.<br />

Segundo a AI, durante os 34 dias de conflito, o Hezbolá lançou cerca de 4<br />

mil foguetes contra o norte de Israel, matando 43 civis e deixando 33 gravemente<br />

feridos, enquanto outras milhares de pessoas tiveram que buscar abrigo.<br />

Aproximadamente 25% dos foguetes foram disparados contra regiões urbanas<br />

e alguns tinham milhares de fragmentos de metal, acrescenta o relatório,<br />

intitulado “Na linha de fogo: os ataques do Hezbolá contra o norte de Israel”.<br />

Em suas reuniões com a AI, o Hezbolá afirmou que seus ataques com foguetes<br />

contra o norte de Israel eram uma represália pelos ataques israelenses<br />

contra a população civil do Líbano.<br />

“A escala dos ataques do Hezbolá contra cidades e povoados israelenses, o<br />

caráter indiscriminado das armas utilizadas e as declarações dos dirigentes<br />

do grupo confirmando sua intenção de atacar civis, deixam perfeitamente<br />

claro que o Hezbolá violou as leis da guerra”, afirmou a secretária-geral da AI,<br />

Irene Khan, no texto divulgado pela ONG.<br />

“O fato de Israel também ter cometido violações graves não justifica as<br />

cometidas pelo Hezbolá. A população civil não deve pagar o preço da conduta<br />

ilegítima de nenhuma das duas partes”, acrescenta.<br />

O relatório se baseia na investigação feita pela AI nos terrenos de Israel e<br />

Líbano, em entrevistas a vítimas, declarações oficiais e conversas com autoridades<br />

dos governos dos dois países e com altos dirigentes da milícia xiita.<br />

(Agência EFE)<br />

Os ataques de Israel para bloquear<br />

suas fontes de abastecimento (aeroportos,<br />

estradas, estações de radar<br />

e edifícios inteiros controlados<br />

por esta organização) provocaram<br />

“O Hezbolá pedala com um pé no Irã e outro<br />

na Síria, mercê de três elementos comuns:<br />

ódio a Israel, ódio aos Estados Unidos e<br />

posição ambígua sobre a criação de um<br />

Estado palestino em Gaza e Cisjordânia”<br />

Anistia Internacional: Hezbolá<br />

violou os direitos humanos<br />

com ataques a civis<br />

horríveis danos humanos e materiais<br />

a um belíssimo país como o Líbano.<br />

Um país fraco que não pôde aplicar<br />

a ordem das Nações Unidas, porque<br />

o Hezbolá, graças à caudalosa intervenção<br />

sírio-iraniana se converteu<br />

numa força mais poderosa que seu<br />

exército nacional.<br />

Calcula-se que cerca de 80 por<br />

cento da população libanesa, incluídos<br />

os xiitas, percebem que as<br />

ações do Hezbolá foram o causador<br />

da tragédia, um sanguinário câncer<br />

que lhes nasceu nos anos<br />

80 e que os levou a esta<br />

guerra mediante seu fabuloso<br />

arsenal de armas e<br />

seus incessantes ataques a<br />

Israel. Todavia, os libaneses<br />

não podem extirpar<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

este câncer por si só.<br />

Além disso, cresce uma tensão<br />

religiosa transnacional que tomara<br />

não se transforme em conflagração<br />

aberta: os xiitas e os sunitas se assassinam<br />

no Iraque e em outras regiões<br />

onde competem pelo poder do<br />

mundo islâmico.<br />

Nunca tantos países árabes e<br />

muçulmanos se mantiveram tão imóveis<br />

como nesta lamentável operação<br />

de limpeza policial que realiza<br />

Israel dentro de um país árabe. Só<br />

há discursos: nenhuma ação firme.<br />

Eles parecem agradecer o maldito<br />

trabalho que não se atrevem a realizar<br />

eles mesmos.<br />

O Hezbolá é um perigo para o Líbano<br />

e demais países árabes que não<br />

desejam ser dominados pelo Irã nem<br />

fundir-se num totalitarismo fundamentalista.<br />

Mas Israel tampouco poderá<br />

varrer o Hezbolá por completo,<br />

ainda que se empenhe durante outras<br />

semanas que aumentarão o luto<br />

de ambas as partes. Só conseguirá<br />

debilitá-lo. Então é provável que o<br />

governo libanês, com suas forças armadas,<br />

apoiadas por tropas estrangeiras,<br />

talvez pela OTAN, se encarregue<br />

de acabar a tarefa: confiscar o<br />

armamento acumulado em túneis ou<br />

áreas civis para que o Líbano possa<br />

se reconstruir e voltar a ser um dos<br />

países mais belos, pacíficos, cultos<br />

e progressistas do Oriente Médio.<br />

* Marcos Aguinis é escritor, conferencista, médico psicanalista,<br />

foi ministro da Cultura da Argentina, onde desempenhou um<br />

papel fundamental na redemocratização do país. É autor dos<br />

livros “La cruz invertida” e “La gesta del marrano”. Publicado no<br />

jornal La Nación, de Buenos Aires. Tradução: Szyja Lorber<br />

7


8<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Ali Kamel *<br />

o ano passado, escrevi um artigo<br />

cujo título era “O mesmo<br />

mundo”. Eu dizia que não vivíamos<br />

num mundo pior, cheio de<br />

guerras e desventuras: o mundo<br />

sempre foi assim. Há dias venho criando<br />

coragem para comentar o que se<br />

passa hoje no Oriente Médio, mas, cada<br />

vez que começo a estudar o assunto<br />

mais de perto, a sensação de que tudo<br />

é apenas uma repetição do passado<br />

me deixa prostrado. É impressionante<br />

como ali a História se repete, e não<br />

como farsa, como queria Marx, mas<br />

sempre como tragédia.<br />

Lembremos 1978. A OLP estava<br />

abrigada no Líbano e, de lá, prosseguia<br />

em sua luta para retomar não<br />

apenas as terras que Israel conquistou<br />

na guerra árabe-israelense, mas<br />

para pôr fim ao país inteiro, “varrendo-o<br />

do mapa”, na retórica ainda<br />

viva na boca de muitos. Em março<br />

daquele ano, um grupo de terroristas<br />

ligados ao Fatah seqüestrou um<br />

Imagem obtida por jornal australiano mostra os membros do<br />

Hezbolá usando roupas civis para se misturar rapidamente com<br />

a população, sobre um veículo com arma anti-aérea<br />

ônibus com crianças que faziam um<br />

passeio de um dia ao Norte de Israel.<br />

Seguiram para Tel Aviv e, na entrada<br />

da cidade, ao se depararem com uma<br />

barreira, saltaram do veículo, iniciaram<br />

um tiroteio e lançaram mísseis<br />

contra o ônibus, matando 35 pessoas.<br />

Israel, então, empreendeu um ataque<br />

ao Líbano, invadindo o país dez quilômetros<br />

além da fronteira. O mundo<br />

reagiu em coro contra Israel, o Conselho<br />

de Segurança da ONU passou a<br />

resolução 425, impondo a imediata<br />

retirada das tropas israelenses do Líbano<br />

e criando uma força internacional<br />

de paz. Em junho, Israel deixou<br />

o Líbano, mas, nos quatro anos<br />

seguintes, a força de paz não cumpriu<br />

os seus objetivos, e os ataques<br />

da OLP a Israel e as conseqüentes retaliações<br />

continuaram.<br />

Em 1981, um cessar-fogo foi conseguido<br />

pelos EUA, mas foi apenas<br />

formal: nos 11 meses que se seguiram,<br />

houve 270 ataques a Israel. Em<br />

abril de 1982, uma mina matou um<br />

oficial do exército israelense, e a resposta<br />

veio rapidamente, na forma de<br />

ataques aéreos e bombardeios. Em<br />

junho, houve uma tentativa de assassinar<br />

o embaixador de Israel no<br />

Reino Unido, o que deflagrou nova<br />

invasão do Líbano, com o objetivo<br />

de afastar o perigo da OLP, armada<br />

até os dentes. A história é bem conhecida:<br />

Israel ficou lá por três anos,<br />

as lutas foram cruentas, houve o<br />

massacre de Sabra e Chatila e a OLP<br />

acabou indo, com Arafat e tudo, para<br />

a Tunísia. Reagan acreditou que a<br />

força de paz da ONU não daria jeito<br />

e mandou para lá uma nova força,<br />

Ciclos<br />

composta por marines e soldados da<br />

França e Itália. No fim, os marines<br />

carregaram o maior peso, até que o<br />

recém-fundado Hezbolá, financiado<br />

pelo Irã, reintroduziu, após 900 anos<br />

de hibernação, a prática dos atentados<br />

suicidas: um carro-bomba levou<br />

pelos ares a embaixada americana,<br />

matando 17 diplomatas e 40 funcionários<br />

libaneses, e, meses depois,<br />

outros dois carros-bomba mataram<br />

241 marines, no aeroporto de Beirute,<br />

e 56 soldados franceses, a alguns<br />

quilômetros de distância. Houve<br />

as retaliações de praxe, e Reagan<br />

tirou de lá os marines, apenas quatro<br />

meses depois.<br />

Israel se estabeleceu, então,<br />

numa faixa da fronteira, criando uma<br />

zona de segurança, até que, em<br />

2000, saiu inteiramente do Líbano,<br />

cumprindo integralmente a resolução<br />

425 da ONU.<br />

Como em 1982, quando o presidente<br />

de origem cristã, pró-Israel,<br />

Bashir Guemayel, foi assassinado<br />

numa explosão de carro-bomba atribuída<br />

à Síria, ano passado foi morto<br />

o ex-primeiro ministro do Líbano<br />

Rafik Hariri, não pró-Israel, mas pró-<br />

Ocidente, também numa explosão de<br />

carro-bomba. Como tudo se parece...<br />

O assassinato de Hariri também foi<br />

atribuído à Síria, que acabou deixando<br />

o território libanês, depois de<br />

uma presença de mais de trinta anos.<br />

Bem, hoje a história se repete.<br />

Como a OLP no passado, o Hezbolá<br />

cresceu, dominou o Sul do Líbano,<br />

armou-se com 12 mil foguetes e recomeçou<br />

a atacar israelenses. Quando<br />

um ataque matou oito soldados<br />

e seqüestrou outros dois, Israel invadiu<br />

novamente o Líbano, para pôr<br />

fim à ameaça armada. No momento,<br />

estamos na fase da costura de uma<br />

nova resolução da ONU, que, provavelmente,<br />

criará uma nova força internacional<br />

de paz, e acabará, de uma<br />

forma ou de outra, determinando que<br />

Israel saia do país. Depois, bem, não<br />

quero me arriscar a dizer o que virá<br />

depois para não parecer praga.<br />

Porque não se trata disso. Esse<br />

artigo pode parecer pessimista, mas<br />

não é. Eu o chamaria de realista. Essa<br />

guerra já dura 58 anos, o que parece<br />

uma eternidade. Mas, se olharmos para<br />

trás, veremos que conflitos mais longos,<br />

que pareciam insolúveis, hoje<br />

não passam de História. Nós, seres<br />

humanos, somos assim: uma hora a<br />

gente cansa. Não sou médico, mas sei<br />

que, quando um mal se torna crônico,<br />

a razão é única: a causa não foi<br />

debelada. É o que acontece por lá.<br />

Um bom remédio é que a democracia<br />

alcance os países árabes:<br />

quando os povos tiverem o comando<br />

de seus destinos, duvido que concordem<br />

com grupos fanáticos terroristas<br />

que atiram foguetes em vizinhos<br />

sabendo de antemão que a reação<br />

será um pesado bombardeio sobre<br />

suas cabeças. É também preciso<br />

deixar D-us fora do conflito, porque<br />

sabemos todos que D-us não tem<br />

partido. É fundamental que os dois<br />

lados se aceitem como uma realidade<br />

inamovível e mais fundamental<br />

que cedam naquilo que lhes é mais<br />

caro. Enquanto isso não acontecer,<br />

o conflito persistirá, repetindo-se de<br />

forma monótona. E trágica.<br />

* Ali Kamel é jornalista, editor-chefe do Jornal Nacional, e publicou este artigo em sua coluna no jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/<br />

alikamel.asp). O artigo foi escrito antes da nova Resolução da ONU, antes da criação da nova força internacional de paz e antes da retirada do exército<br />

israelense do Sul do Líbano. E-mail: ali.kamel@oglobo.com.br<br />

Fatah ameaça matar líderes do Hamas<br />

Palestinos brigam entre si e em quatro dias houve 14 mortos e 150 feridos<br />

esde o dia 1º/10, quando começaram<br />

os confrontos armados<br />

entre o Fatah e o Hamas,<br />

quase 150 palestinos ficaram<br />

feridos em distúrbios na Cisjordânia<br />

e em Gaza, e 14 morreram.<br />

As Brigadas dos Mártires de Al-<br />

Aqsa, facção armada vinculada ao<br />

movimento Fatah, emitiram uma nota<br />

ameaçando matar dirigentes do Hamas,<br />

entre eles Khaled Mashaal, líder<br />

do grupo islâmico que vive no exílio.<br />

Em comunicado enviado aos meios<br />

de comunicação vários dirigentes do<br />

Hamas são responsáveis pela recente<br />

explosão de violência nas ruas palestinas,<br />

que deixou 14 palestinos mortos<br />

e quase 150 feridos.<br />

As Brigadas indicaram que<br />

Mashaal, residente em Damasco, assim<br />

como o ministro do Interior do<br />

Governo palestino, Said Siyam, e<br />

Youssef Zahar, também funcionário<br />

deste ministério, são os responsáveis<br />

pelas recentes mortes.<br />

“Nós das Brigadas de Al-Aqsa<br />

anunciamos, com toda nossa força e<br />

sinceridade, aos que governam o<br />

povo em nossa pátria e na diáspora,<br />

que executaremos os responsáveis<br />

pela revolta: Khaled Mashaal, Said<br />

Siyam e Youssef Zahar”.<br />

Desde o dia 1º, quando começaram<br />

os confrontos armados entre<br />

milicianos do Fatah e membros da<br />

nova força criada pelo Ministério do<br />

Interior e leal ao Hamas, quase 150<br />

palestinos ficaram feridos em distúrbios<br />

na Cisjordânia e em Gaza.<br />

Além disso, vários militantes do<br />

Fatah fecharam na terça-feira, 3/10,<br />

várias escolas no centro da Faixa de<br />

Gaza, e instaram os professores e alunos<br />

a abandonar as salas de aula, sem<br />

dar-lhes mais explicações.<br />

Seguidores do Fatah, presidido<br />

por Mahmoud Abbas, também<br />

bloquearam a estrada Saladino, um<br />

dos principais cruzamentos da Faixa<br />

de Gaza, queimaram pneus, levantaram<br />

barricadas e efetuaram vários<br />

disparos para o ar enquanto gritavam<br />

“Abaixo, abaixo com o Hamas”.<br />

Representantes de ambos os gru-<br />

pos continuaram trocando acusações,<br />

enquanto aumentam os chamados<br />

por eleições antecipadas.<br />

O ex-ministro palestino Sufian<br />

Abu Zaid, do Fatah, pediu a formação<br />

de um novo governo de união<br />

nacional na Autoridade Nacional Palestina<br />

(ANP) ou eleições.<br />

As diferenças entre ambos os<br />

grupos incluem principalmente a<br />

negativa do Hamas de aceitar o<br />

reconhecimento de Israel, para<br />

que se forme um novo gabinete<br />

palestino e se acabe assim com o<br />

boicote da comunidade internacional.<br />

A suspensão da ajuda estrangeira<br />

impediu o pagamento<br />

de 165 mil funcionários públicos<br />

durante meses.


Acima de qualquer crítica<br />

Nada no mundo pode ou deveria<br />

estar acima de suspeitas, dúvidas, reflexões,<br />

reclamações e tentativas de<br />

melhoras. Partindo do princípio de<br />

que tudo foi criado no mundo por D-us<br />

de forma imperfeita, logo qualquer<br />

coisa está aberta a contestação. Inclusive<br />

a religião. Afinal, ela passou<br />

por compilações humanas. E é mais<br />

do que justo que tenhamos nossas<br />

dúvidas. Como aprendi uma vez em<br />

um shiur uma criança que não pergunta<br />

em uma Yeshiva e não tem no<br />

final da aula nenhuma questão a ser<br />

retirada, esta sim é problemática. Não<br />

existe no judaísmo engolir tudo de<br />

cor e aceitar qualquer coisa que lhe<br />

digam por aceitar.<br />

Mas parece que existem no mundo<br />

forças que querem estar acima<br />

de qualquer crítica, e que não aceitam<br />

que lhes apontem seus defeitos.<br />

Não querem progredir. Querem<br />

estancar na mediocridade, mas<br />

aceitam criticar os outros e se postar<br />

como os melhores do mundo.<br />

Um dia foi assim com o catolicismo.<br />

Na Idade Média. Chegaram a<br />

queimar cientistas que discordassem<br />

de sua forma de pensar em fogueiras<br />

públicas. Mas este tempo passou.<br />

A igreja evoluiu, e hoje sabe<br />

lidar com a problemática dos questionamentos<br />

e críticas.<br />

Hoje, quem vive na era das pedras<br />

é o Islã radical. Acima de qualquer suspeita.<br />

Ai daquele que ousar tecer um<br />

comentário negativo sobre a religião<br />

de Maomé. Dizer a verdade hoje pode<br />

custar muito caro.<br />

Hoje, os muçulmanos estão envolvidos<br />

em 99% dos conflitos do mundo.<br />

Realizam atentados nos cinco<br />

continentes, e são responsáveis por<br />

diversos genocídios, principalmente<br />

na África, a saber, casos como o da<br />

Argélia, Sudão e Somália.<br />

Nos últimos cinco anos apenas,<br />

42 nações tiveram que lidar de um<br />

jeito ou de outro com a violência<br />

causada por grupos islâmicos. Desde<br />

1920 existe a Irmandade Muçulmana<br />

e seu sonho de reconstruir o<br />

Califado mundial. Desde a década de<br />

40 existe a aliança entre nazismo e<br />

islamismo, tratada e pactuada pelo<br />

Mufti de Jerusalém. Nada é novidade,<br />

somente que agora as forças res-<br />

Daniel Benjamin Barenbein*<br />

ponsáveis pela jihad resolveram acelerar<br />

o processo de tentativa de conquista<br />

do mundo.<br />

Então, como explicar que o Islã<br />

se revolte tanto com a charge dinamarquesa<br />

no ano passado e com as<br />

palavras do Papa no último mês, se<br />

elas absolutamente só dizem a verdade<br />

dos fatos?<br />

Ambos os pronunciamentos apenas<br />

criticam o Islã por ter sido cooptado<br />

por terroristas e ditadores que<br />

querem conquistar e impor o islamismo<br />

a força para o mundo.<br />

Ao invés de absorver estas críticas<br />

e tentar se melhorar, ou então responder<br />

educadamente e dentro da lei<br />

as mesmas, o Islã somente comprovou<br />

que se trata de uma verdade o<br />

que é dito, quando a resposta do<br />

mundo muçulmano foi a agressão,<br />

violência e morte.<br />

E qual a moral para protestar que<br />

este grupo teria, se diariamente nos<br />

meios de mídia árabes circulam centenas<br />

de charges antijudaicas, anti-<br />

Israel e antimundo ocidental, da<br />

mesma forma que está na boca dos<br />

sheiks que se pronunciam nas mesquitas,<br />

nos programas de TV e rádio?<br />

O que pessoas normais e civilizadas<br />

fazem diante de comentários<br />

na mídia que considerem injuriosos<br />

contra sua etnia ou religião? Protestam,<br />

enviam cartas, se manifestam<br />

juridicamente, e até em casos<br />

muito graves, acionam a polícia.<br />

Imagine o que seria do mundo se<br />

nós judeus fossemos agredir fisicamente<br />

cada um que nos atacasse na<br />

mídia? Acho que teríamos que fazer<br />

plantão 24 horas de arrastões, invasões<br />

de prédios, seqüestros e etc.<br />

Basta ver a força e a quantidade de<br />

anti-semitismo presente nos meios de<br />

mídia, na política e nas universidades<br />

de todo o mundo, inclusive do<br />

Brasil. Ai deste mundo se agíssemos<br />

como nossos inimigos o fazem...<br />

Somente ditaduras querem calar<br />

a boca daqueles que discordam dela<br />

pela violência, pelo assassinato, pela<br />

imposição de idéias e comportamentos.<br />

É a maneira nazista de ser.<br />

E depois este islamo-fascismo ainda<br />

reclama dos ataques que recebe.<br />

Em que mundo vivemos... para onde<br />

caminhamos?<br />

* Daniel Benjamin Barenbein é é jornalista, trabalha no site de combate a<br />

distorção na imprensa, “De Olho na Mídia” (www.deolhonamidia.org.br). É<br />

coordenador do movimento juvenil Betar de SP e exerce voluntariamente<br />

cargos de Hasbará na Organização Sionista de São Paulo, Espaço K e Aish<br />

Brasil, e orador nas sinagogas Beit Menachem e Kehilat Achim Tiferet.<br />

Possui um livro publicado na internet sobre neonazismo digital:<br />

www.varsovia.jor.br<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

A causa de Israel<br />

Edgard Leite Castro *<br />

m 1967, o filósofo marxista<br />

Herbert Marcuse proferiu uma<br />

série de conferências na Universidade<br />

Livre de Berlim, reunidas<br />

em “O fim da utopia” (Siglo XXI, 1968).<br />

No decorrer dos debates defendeu de forma<br />

incisiva a causa de Israel. “Não posso<br />

esquecer”, afirmou, que os judeus “por séculos<br />

foram perseguidos e oprimidos e que<br />

seis milhões deles foram aniquilados não<br />

faz muito tempo. E quando se cria para<br />

esses seres humanos um espaço no qual<br />

não precisam mais temer a perseguição e<br />

a opressão, tal coisa constitui um objetivo<br />

com o qual me declaro identificado...<br />

celebro coincidir nisto com Jean-Paul Sartre,<br />

que disse: ‘o único que deve ser evitado,<br />

a qualquer preço, é uma nova guerra<br />

de extermínio contra Israel’”.<br />

Essa identificação com Israel possui profundidade<br />

histórica. Os movimentos revolucionários<br />

europeus lutaram sempre contra o<br />

sistema social e econômico expropriador que<br />

engendrou, entre outras violências, a intolerância<br />

étnica e religiosa. Especialmente<br />

contra o anti-semitismo, gerador de atrocidades<br />

e reprodutor da ignorância. Para<br />

os que viveram o final da guerra havia clareza<br />

de que a partilha da Palestina fora<br />

uma grande vitória da justiça e uma ação<br />

libertadora. A decisão das Nações Unidas<br />

reconheceu direitos, tanto dos judeus que<br />

ali viviam quanto dos árabes. Convidouos<br />

à coexistência e entendimento. Israel<br />

representou não apenas a realização de<br />

uma esperança milenar e o reconhecimento<br />

universal da dolorosa trajetória de um<br />

povo, mas o triunfo humanista da tolerância.<br />

“Existe na esquerda”, portanto,<br />

continuou, “uma identificação muito forte<br />

e muito compreensível com Israel”.<br />

Mas Marcuse lembrou que desde o início<br />

“os representantes árabes — e não<br />

quaisquer representantes — declararam firmemente,<br />

e em voz alta, que se deve fazer<br />

contra Israel uma guerra de extermínio...”.<br />

Tal atitude se identificava com as forças<br />

que tinham sido derrotadas em 1945. A<br />

afirmação de Ahmadinejad [presidente do<br />

Irã], proclamando a necessidade do extermínio,<br />

ou a do Hamas [movimento no<br />

poder na Autoridade Palestina desde as<br />

eleições legislativas de janeiro], recusando<br />

a resolução da ONU, de 1947, dão continuidade,<br />

portanto, a primitivos movimentos<br />

reacionários. Marcuse levantou ainda<br />

uma outra questão. A atitude de intolerância<br />

foi evidente desde o princípio,<br />

mas a posição dos soviéticos, a partir de<br />

determinado momento, perturbou um entendimento<br />

correto do assunto. Segundo<br />

ele, “o conflito entre Israel e os Estados<br />

9<br />

árabes se converteu desde muito em um<br />

conflito entre os EUA e a União Soviética,<br />

e saiu do âmbito local”. Isso propiciou que<br />

“fosse fácil identificar Israel com imperialismo,<br />

e a causa árabe com anti-imperialismo”.<br />

Fácil, mas não verdadeiro. No que<br />

diz respeito a Israel, segundo Marcuse,<br />

“propostas de entendimento foram formuladas<br />

por Israel reiteradamente e essas propostas<br />

sempre têm sido rechaçadas pelos<br />

representantes árabes”. Isto é, não foi Israel<br />

o primeiro responsável pelo confronto.<br />

Sempre buscou a conciliação e apenas<br />

se defendeu, mesmo, segundo ele, em<br />

1967. Além do mais, Israel se constituiu<br />

como sociedade democrática, fortemente<br />

influenciada pelos ideais socialistas. Não<br />

fazia muito (1950) que Martin Buber afirmara<br />

a existência de dois núcleos socialistas<br />

no mundo: Moscou e Jerusalém (Caminhos<br />

de utopia, FCE, 1955). E não o fez<br />

de forma retórica: o papel da economia<br />

socializada era grande, e ainda é significativo,<br />

em Israel.<br />

O anti-americanismo não se constitui,<br />

por si só, prova de política progressista,<br />

assegurou, sensatamente, Marcuse. Os EUA<br />

são atacados pela esquerda, mas também<br />

pela direita, e por diferentes razões. Lembremo-nos<br />

do similar erro de Gandhi, no<br />

limiar da II a Guerra Mundial. O Mahatma<br />

buscou o apoio de Mussolini, pela única<br />

razão de ambos serem hostis aos ingleses.<br />

Nada mais equivocado. A reação que se desenvolve<br />

no mundo muçulmano desde 1945<br />

é, em geral, retrógrada e reacionária. Volta-se<br />

contra Israel. Mas, através dele, também<br />

contra o liberalismo e o direito laico<br />

ocidental e os princípios da soberania popular.<br />

Em um sentido mais amplo, é hostil<br />

ao socialismo, evidentemente. Insiste,<br />

com crescente virulência, na força da ignorância<br />

religiosa e na intolerância política.<br />

Afunda suas sociedades em autocracias<br />

retrógradas e corrompidas. Que os<br />

povos árabes e muçulmanos necessitavam<br />

de revoluções parecia claro a Marcuse, mas<br />

revoluções libertadoras e democráticas.<br />

Por essas razões, Marcuse defendeu, em<br />

Berlim, no distante 1967, não apenas os<br />

vietcongs, mas também a causa de Israel.<br />

Sem dúvida, os árabes, os iranianos ou os<br />

curdos — e todas as nações e pessoas —<br />

têm direitos à autodeterminação, a um lugar<br />

no mundo. Mas não a partir do extermínio<br />

de outros povos e seres humanos.<br />

Quando Sartre sustentou que “o único que<br />

deve ser evitado, a qualquer preço, é uma<br />

nova guerra de extermínio contra Israel”,<br />

pensava certamente que a causa de Israel<br />

não pertence apenas aos israelenses ou aos<br />

judeus. É uma causa da Humanidade. Símbolo<br />

da vitória contra o poder aniquilador<br />

da ignorância. Verdadeira e virtuosa.<br />

* Edgard Leite Castro é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.


10<br />

* Breno Lerner é<br />

editor e gourmand,<br />

especializado em<br />

culinária judaica.<br />

Escreve para revistas,<br />

sites e jornais. Dá<br />

regularmente cursos e<br />

workshops. Tem três<br />

livros publicados,<br />

dois deles sobre<br />

culinária judaica.<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Breno Lerner*<br />

o princípio eram os vegetais...<br />

Na criação D-us reserva<br />

como alimento ao homem “...<br />

todas as plantas que dão sementes<br />

e todas as árvores em que haja<br />

fruto que dê semente...” (Gen 1:29).<br />

Assim, o cardápio inicial devia ser<br />

composto de trigo, cevada, centeio,<br />

aveia, painço entre os grãos. As sementes<br />

deveriam ser o girassol, gergelim,<br />

linho ou linhaça, abóbora e<br />

outras frutas. As oleaginosas: lentilhas,<br />

ervilhas, talvez o amendoim,<br />

quem sabe a soja.<br />

Berinjelas, pimentões, melões,<br />

pepinos, eventualmente quiabos abobrinhas<br />

e feijão de corda eram as<br />

suculentas mais consumidas.<br />

Das frutas, neste primeiro momento,<br />

as cítricas e aparentemente as<br />

palmáceas.<br />

Das nozes, amêndoas e pecans.<br />

Ou seja, o plano original era que<br />

o homem comesse plantas e frutas.<br />

Ocorre que após o pecado original,<br />

o homem é expulso do paraíso<br />

e condenado a tirar da terra o<br />

seu sustento, sendo incluídas em<br />

sua dieta as folhas verdes – a relva<br />

-, até então reservadas aos animais<br />

(Gen 3:17,19).<br />

Possivelmente passam a fazer<br />

parte da dieta a couve, a endívia,<br />

a escarola, a couve-flor e provavelmente<br />

nabos e beterrabas numa etapa<br />

posterior.<br />

Carne e peixe são adicionados ao<br />

cardápio humano após o dilúvio.<br />

D-us, após sentir o aroma da fumaça<br />

do sacrifício ofertado por Noé<br />

(Gen 8:21) concede aos homens to-<br />

A dieta bíblica<br />

dos os animais que se movem (Gen<br />

9:2) como alimento, apesar de já<br />

proibir o consumo de sangue.<br />

É também após o dilúvio que o<br />

homem conhece o vinho e seu primeiro<br />

“porre”. Noé planta a vinha,<br />

colhe a uva, faz o vinho e o bebe<br />

bem bebido (Gen 9:21).<br />

Vinho e bebedeira que, aliás, na<br />

história de Lot, vão ser pano de fundo<br />

de um dos momentos mais escabrosos<br />

da história bíblica (Gen<br />

19:31,38).<br />

Mais à frente serão diferenciados<br />

os animais puros dos impuros bem<br />

como restrições ao consumo de gordura<br />

(Lev 7:23,24) e até restrições a<br />

glutonice (Provérbios 23:2).<br />

Na chegada à Terra Prometida são<br />

introduzidos o leite e o mel, na verdade,<br />

o equilíbrio entre o carboidrato<br />

(leite) e a proteína (mel).<br />

Aliás, uma leitura genérica do<br />

texto sagrado nos leva a uma sensação<br />

de que o autor gostaria de uma<br />

dieta mais vegetariana e menos carnívora.<br />

A carne é mais reservada aos<br />

sacrifícios, festas, visitas, oferendas.<br />

Tem todo o código de impureza a ser<br />

respeitado, restrições diversas a seu<br />

consumo, a restrição maior de não<br />

mistura com o leite, enfim, tudo leva<br />

a crer numa forte preferência pelo<br />

alto consumo de vegetais.<br />

Alto lá diriam os médicos e nutricionistas.<br />

E as proteínas? De onde tiraria<br />

o homem bíblico suas proteínas?<br />

Até onde sabemos, o alimento<br />

mais completo que o homem conhece<br />

é o leite materno, ele contém ou<br />

deveria conter tudo que um ser humano<br />

necessita para uma alimentação<br />

100% equilibrada.<br />

Pois bem, pasmem, apenas 1,5 %<br />

de seu total é proteína, ou seja, um<br />

bom prato de brócolis tem mais proteínas<br />

que uma mamadeira!<br />

Em outras palavras, mais uma vez,<br />

o escritor do texto sagrado, mostra<br />

seu conhecimento da natureza humana,<br />

seu comportamento e suas<br />

necessidades.<br />

Conhecimento este que é consagrado<br />

e definitivo no que tange<br />

à dietas na história de Daniel, que<br />

terá sido não apenas o inventor<br />

da primeira e bem sucedida dieta<br />

como também o precursor do método<br />

científico com controle de<br />

amostragem, 2.000 anos antes de<br />

Sir Roger Bacon.<br />

Em 586 A.C. Nabucodonosor in-<br />

vade Jerusalém, destrói o Templo e<br />

leva cativo o povo judeu para a Babilônia,<br />

naquilo que convencionouse<br />

chamar primeira diáspora. Desta<br />

época vem a narração do Livro de<br />

Daniel e sua curiosa dieta.<br />

O grande Nabucodonosor pretendia<br />

converter os jovens judeus aos<br />

costumes e à religião local, ordenando<br />

ao seu chefe dos eunucos, Aspenaz,<br />

que lhes desse nomes babilônicos<br />

e os alimentasse com o melhor<br />

de sua cozinha e seus melhores vinhos,<br />

corrompendo assim suas mentes<br />

e seus costumes.<br />

Daniel e três de seus amigos,<br />

Hananias, Misael e Azarias recusamse<br />

a aceitar seus novos nomes Beltessazar,<br />

Sadraque, Mesaqu e Abede-Nego<br />

e principalmente a comida<br />

e o vinho.<br />

Após muita conversa com Aspenaz<br />

que teme ter sua cabeça cortada<br />

por causa dos quatro rebeldes,<br />

combinam fingir aceitar seus nomes<br />

e fazem um trato com o cozinheiro<br />

real. Durante 10 dias receberão<br />

apenas legumes e água. Se,<br />

ao cabo de dez dias, não estiverem<br />

em condições melhores que os outros<br />

jovens, não criarão problemas<br />

a Aspenaz e ao cozinheiro.<br />

Passados os 10 dias e comparados<br />

ao grupo de controle estão muito<br />

mais saudáveis e corados que os<br />

outros jovens, ficando assim isentos<br />

da comida impura e do vinho e<br />

sendo levados à presença do rei<br />

como sábios. O resto da história<br />

todos sabemos e, quando os persas<br />

chegaram e Nabucodonosor já tinha<br />

morrido louco, lá estava Daniel,<br />

aguardando Ciro.<br />

Estudando-se o que comiam os<br />

caldeus na época é de se presumir<br />

que Daniel e seus amigos tenham rejeitado<br />

carneiro temperado com muita<br />

cebola, alho-porró e algumas ervas.<br />

Possivelmente galinhas, pombas<br />

ou tordas, sempre assados ou fritos<br />

em gordura animal.<br />

Alguns peixes de mar, não muitos<br />

e sempre grelhados diretamente<br />

no fogo. Tudo sempre com pouco sal<br />

embora ele já fosse bem conhecido.<br />

A pimenta já era também utilizada<br />

e apreciada.<br />

Devem também ter recusado vinhos<br />

de alta graduação alcoólica,<br />

que eram bebidos diluídos em água<br />

ou misturados com ervas.<br />

Por outro lado devem ter comido<br />

lentilhas, trigo e cevada, sempre<br />

cozidos, em papas ou em farelo,<br />

apenas temperados com sal e<br />

uma ou outra erva. Eventualmente<br />

nabos ou abóboras ensopados ou<br />

em purê. Faziam-se conservas, mas<br />

acredito que devido às restrições<br />

ao vinho, Daniel e seus amigos não<br />

as experimentaram.<br />

A dieta babilônica já incluía folhas<br />

verdes e frutas, mas o texto do<br />

livro de Daniel refere-se exclusivamente<br />

a uma dieta de legumes.<br />

Fica aqui então, uma sugestão bíblica,<br />

para uma dieta, que vai te deixar<br />

mais saudável e mais corado (a)...<br />

Diverso estudo médico e sociológico<br />

tem abordado esta inclinação<br />

do texto sagrado por uma dieta vegetariana.<br />

Pouco se concluiu das<br />

razões que levaram a esta conduta.<br />

Povos nômades teriam como base de<br />

sua dieta os vegetais e o leite e seus<br />

derivados, mas consumiam naturalmente<br />

a carne. A aceitar-se o dilúvio<br />

como fenômeno universal, é de<br />

se supor uma mudança de hábitos<br />

alimentares uma vez que, com todas<br />

a vegetação destruída, o homem teria<br />

de servir-se um pouco mais da<br />

caça para alimentar-se.<br />

Todavia, toda constituição biológica<br />

e física do homem, o prepara<br />

para ser onívoro, mas com bons<br />

dentes caninos e excelente aparelho<br />

digestivo e enzimático, apto a<br />

consumir carne duas vezes ao dia,<br />

por maiores danos que isto cause<br />

no longo prazo.<br />

Será que o autor do texto bíblico<br />

já sabia de tudo isto?<br />

Como sempre, muito provavelmente,<br />

sim...<br />

Mês que vem tem mais papo de<br />

cozinha.


Ativistas da comunidade<br />

Nathan Paciornik nasceu em Vatin, então<br />

Rússia, hoje Polônia. Filho de Scholem Modche e<br />

Rivke Paciornik, que tiveram onze filhos, oito do<br />

sexo masculino e três do sexo feminino.<br />

Em casa, Nathan era chamado de Nuchen, e<br />

era o quarto filho da longa escada. Cordial, nas<br />

brigas e discussões da irmandade, perdia sempre,<br />

e evitava isso o mais que podia.<br />

Ao chegar a época de servir o exército, cada<br />

família tinha que ceder um filho. Em vez do mais<br />

velho, Max, Nathan falseia a idade e vai em seu<br />

lugar. Assim, por três anos serve como cavaleiro<br />

do Exército Russo, responsável pelos cavalos de<br />

tração dos canhões. Saindo do exército, conhece,<br />

encontra-se e casa em Reize (Rosa).<br />

Já com uma filha, Ester, de 1 ano, em 1912,<br />

vem atrás dos manos, Rafael e Salomão, para longínquas<br />

plagas do Paraná. Habituado com a vidinha<br />

de Vatin, onde se trabalhava na mata com<br />

madeira e lenha, procurava semelhança, em São<br />

José dos Pinhais. No tempo em que todo mundo<br />

fabricava pão em casa, monta uma fábrica de<br />

broas, mas não progride em face de pouca freguesia.<br />

Na procura de ambiente iídiche, muda-se<br />

para Curitiba. Rua Visconde do Rio Branco, campo<br />

da Galícia, reduto de imigrantes poloneses<br />

para onde transfere sua fábrica de broas.<br />

Nela trabalhavam Nathan, o Juca e o Negrinho<br />

que entregava a broa a domicílio.<br />

O Nathan contava que na madrugava do meu<br />

parto, nervoso, fora do potreiro, hoje Praça de<br />

Poti, no escuro, como encontrar a parteira que<br />

tinha que me ver nascer?<br />

Surpreso encontra o negrinho que o ensinou<br />

onde residia a parteira.<br />

Conheci o Negrinho e foi meu amigo. Mais tarde,<br />

com os irmãos Max, Salomão, Germano, Chico<br />

e Bernardo abrem a firma Irmãos Paciornik, ao lado<br />

da Igreja da Ordem, com Secos e Molhados. Em<br />

pouco tempo transforma-se na maior firma atacadista<br />

do Paraná. Neste tempo, chega da Áustria,<br />

uma família judaica, os Benjamin Schargel, pais<br />

de Helena, esposa do dr. Moyses Paciornik, que na<br />

Europa fabricavam sabão. O sr. Benjamin foi contratado<br />

pelos Paciornik, que lhes ensinou como se<br />

fabricava sabão em pedra que tinha o nome de<br />

Veado em homenagem ao nobre e bonito animal.<br />

Com a fabricação do sabão Veado, o produto<br />

ganhou fama, teve enorme aceitação e até de<br />

outros Estados vieram pedidos.<br />

O que está escrito acima me foi cedido pelo dr.<br />

Moyses Paciornik, filho do sr. Nathan Paciornik.<br />

Quando eu vim para Curitiba em 1942, o dr.<br />

Nathan<br />

Paciornik<br />

Moisés Bronfman *<br />

Manoel Scliar havia sido eleito presidente do Centro<br />

Israelita do Paraná e procurava um secretário<br />

executivo para o CIP. Os meus irmãos que já estavam<br />

aqui informaram a ele que eu chegaria dentro<br />

de alguns dias e tinha condições de assumir. Cheguei<br />

em março de 1942, e na primeira reunião da<br />

diretoria compareci, fui sabatinado e aprovado.<br />

O tesoureiro era o sr. Nathan Paciornik. Ele me<br />

disse: “Amanhã você vai na minha fábrica” à Rua<br />

João Negrão, 586 e eu te explico tudo o que fazer”.<br />

No dia seguinte fui até lá, e ele, muito gentil e<br />

atencioso, me deu um livro de atas, para as reuniões<br />

de Diretoria, às quais eu devia comparecer,<br />

e uma lista de sócios de 120 pessoas, que eu deveria<br />

visitá-los e fazer um cadastro. Antes de sair<br />

ele me deu cem mil réis e disse: costumo pagar<br />

adiantado. Este é teu salário. Fiquei emocionado,<br />

porque eu fui o primeiro funcionário remunerado<br />

do Centro Israelita, e o fato de ele estar pagando<br />

adiantado era uma prova de bondade, que mais<br />

tarde eu reconheci, com sua convivência, o homem<br />

maravilhoso que ele sempre foi.<br />

Nathan Paciornik foi um dos veteranos da coletividade<br />

Israelita Paranaense que mais se destacaram<br />

nos trabalhos sociais, tornando parte ativa na<br />

fundação e no desenvolvimento de todas as organizações<br />

e instituições existentes em Curitiba.<br />

A primeira atuação iniciou em 1913, como<br />

um dos fundadores da primeira congregação Israelita,<br />

denominada “União Israelita do Paraná”,<br />

sendo presidida por Max Rosenmann.<br />

Em 1917, ano da “Declaração Balfour”, foi fundada<br />

em Curitiba a organização sionista Shalom Sion<br />

e Nathan Paciornik filiou-se aos sionistas, colaborando<br />

com afinco em todas as suas atuações.<br />

Foi uns dos fundadores e membro ativo da<br />

Escola Israelita, da Chevra Kadisha, do Centro Israelita.<br />

Colaborava com denodo em todas as campanhas<br />

nacionais, bem como em todos os empreendimentos<br />

em prol do bem coletivo.<br />

Pelos seus relevantes serviços prestados, a<br />

Assembléia da Chevra Kadisha reunida em 1950<br />

distinguiu Nathan Paciornik com o título de Presidente<br />

Honorário. Mas por motivo de saúde afastou-se<br />

das atividades sociais em 1953.<br />

Nathan e a esposa d. Rosa, tiveram quatro<br />

filhos: Esther Pechman, casada com David Pechman;<br />

Moyses Paciornik, médico, casado com Helena<br />

Schargel Paciornik; Rafael Paciornik, médico,<br />

já falecido, e Ernani Paciornik, do comércio,<br />

falecido moço, que foi casado com Sofia Nemetz.<br />

Nossa homenagem a este homem que foi muito<br />

importante para a nossa comunidade e parabéns<br />

aos seus filhos, netos e bisnetos.<br />

* Moisés Bronfman é médico e empresário, decano dos ativistas da comunidade de Curitiba. Teve uma intensa vida na<br />

coletividade por mais seis décadas e ainda participa ativamente dela. É uma espécie de memória viva das bases da atual<br />

coletividade. Ajudou na construção da Sinagoga Francisco Frischmann, do Centro Israelita do Paraná (CIP), da criação<br />

da B’nai B’rith e da Loja Chaim Weizmann, do Fundo Comunitário, do Instituto Cultural Brasil-Israel e do Grêmio<br />

Esportivo do CIP. Esta coluna é publicada sob os auspícios do Instituto Cultural Judaico-Brasileiro Bernardo Schulman.<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

O LEITOR<br />

ESCREVE<br />

Shaná Tová<br />

Amigos do <strong>Visão</strong>:<br />

A todos os chaverim e chaverót<br />

do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>, e a<br />

todos os membros do ishuv de Curitiba,<br />

um Shana Tová.<br />

Paulo Cesar da Silva<br />

Curitiba – PR<br />

Shaná Tová 2<br />

Prezados:<br />

Aos amigos de <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> e<br />

da comunidade, desejamos um<br />

ano fraterno e de grandes realizações.<br />

Shana Tová.<br />

Ruth Kaiser Lamega e família<br />

Por e-mail<br />

Shaná Tová 3<br />

Senhores diretores:<br />

Desejo a vocês do jornal <strong>Visão</strong><br />

<strong>Judaica</strong> e a todos os judeus, povo<br />

que o Criador escolheu, que o ano<br />

de 5767 seja de alegria, vitórias<br />

e que a paz de que o judeu tanto<br />

carece por todos esses milênios<br />

chegue. Pensei em vocês nos<br />

momentos que antecederam a<br />

chegada do novo ano. E perguntei<br />

ao Criador por que não apressar<br />

a vitória desse povo e conceder-lhe<br />

a paz de que tanto precisa.<br />

E por que não se aquietarem<br />

seus inimigos na Terra. Pois, se<br />

Ele deu aquele pedaço de terra<br />

11<br />

ao seu povo, aquietem-se os<br />

que não são os verdadeiros herdeiros<br />

da promessa. Gostaria de<br />

ver Israel em paz antes de partir<br />

desta vida. Peço ao Criador,<br />

que escolheu vocês, que me<br />

deixe ver a paz em Israel. D-us<br />

os abençoe, do fundo do meu<br />

coração. Felicidade para todos,<br />

Daniel Pinheiro Junior<br />

Por e-mail<br />

Pilar Rahola<br />

Ao diretor de redação:<br />

Gostaria de parabenizar a jornalista<br />

e escritora Pilar Rahola<br />

por sua inteligência; amei ler<br />

os textos dela.<br />

Maria Cristina dos Santos<br />

Por e-mail<br />

Aos Srs.<br />

Diretores:<br />

Descobri o jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />

em um consultório e achei o<br />

máximo. Vocês estão de parabéns<br />

pela excelência dos artigos<br />

publicados, que por sinal<br />

são altamente esclarecedores.<br />

Muita coisa que nos é impingida<br />

a respeito dos judeus, de<br />

Israel e de todo o Oriente Médio<br />

é falsa. Grato por nos fazer<br />

ver a verdade.<br />

Lucas Videira Antunes<br />

Curitiba - PR<br />

Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> basta passar um fax pelo<br />

telefone 0**41 3018-8018<br />

ou um e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

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do <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />

Em outubro começam as<br />

renovações e o <strong>VJ</strong> tem uma<br />

promoção promoção especial especial para você:<br />

As duas primeiras renovações<br />

serão premiadas com o livro<br />

"Bíblia Hebraica", recém lançado<br />

pela Editora e Livraria Sêfer.<br />

E brindes para os dois próximos<br />

assinantes que renovarem.<br />

MAS ATENÇÃO!<br />

Para efeito da premiação, valem apenas os<br />

quatro primeiros boletos bancários pagos.


12<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Um Klimt roubado<br />

pelos nazistas é o quadro<br />

mais caro da história<br />

quadro tinha sido devolvido<br />

em janeiro à neta do rosto<br />

que lhe dá nome, Maria Altmann,<br />

depois de sete anos de<br />

batalha judicial entre ela e o governo<br />

austríaco.<br />

Desde então, o retrato de Adèle<br />

Bloch-Bauer, de Gustave Klimt, acumula<br />

outra anedota na trepidante<br />

história de seu século de vida. Após<br />

superar os 104,1 milhões de dólares<br />

pagos num leilão público por<br />

“Garotos com pipa”, de Picasso, tornou-se<br />

o quadro mais caro da história:<br />

135 milhões de dólares. Pintado<br />

em 1907 e transformado num<br />

dos ícones mais reconhecidos da<br />

pintura do século XX, foi roubado<br />

pelos nazistas durante a Segunda<br />

Guerra Mundial.<br />

Agora mudou de mãos. O comprador<br />

dessa obra de arte austríaca<br />

magnífica não é outro senão o magnata<br />

da indústria cosmética Ronald<br />

S. Lauder. “É nossa Mona Lisa”, declarou<br />

o também co-fundador da<br />

Neue Galerie de Manhatan, o museu<br />

nova-iorquino dedicado à arte alemã<br />

e austríaca onde está sendo exposto<br />

o retrato de Adèle Bloch-<br />

Bauer, junto com outros quatro Klimt<br />

que pertenciam à família.<br />

Maria Altmann, de 90 anos, vive<br />

em Los Ángeles e teve que lutar durante<br />

sete anos para recuperar o<br />

quadro de sua avó, a mulher de um<br />

industrial judeu dedicado ao açúcar,<br />

considerado uma das obras-primas<br />

do pintor.<br />

Retrato de Adele Bloch-Bauer I, 1907, óleo e dourado sobre<br />

canvas, 138 x 138 cm<br />

Finalmente, o governo austríaco<br />

devolveu-lhe o retrato junto<br />

com os outros quatro Klimt da coleção<br />

familiar.<br />

A soma exata pela qual foi vendido<br />

o quadro é confidencial, mas<br />

Maria Altmann confirmou que supera<br />

o que foi pago por “Garotos<br />

com pipa” de Picasso. O The New<br />

York Times publicou a cifra de 135<br />

milhões de dólares.<br />

“É uma compra de uma vez na<br />

vida”, disse Lauder, que não confirmou<br />

a soma. A Neue Galerie foi fundada<br />

por Lauder há cinco anos e expos<br />

as cinco pinturas de Klimt desde 13<br />

de julho até o mês de setembro.<br />

Devolução<br />

Maria Altmann e outros integrantes<br />

da família Bloch-Bauer, defendiam<br />

a propriedade do óleo, que<br />

tinha sido roubado pelos nazistas<br />

durante a Segunda Guerra Mundial.<br />

Os Bloch-Bauer tiveram que fugir<br />

do país europeu quando os nazistas<br />

tomaram o poder em 1938.<br />

Um tribunal de Viena determinou<br />

em janeiro passado que a custódia<br />

da obra, junto com outras<br />

quatro também roubadas pelos nazistas,<br />

fossem entregues à reclamante<br />

e sua família. Uma lei austríaca<br />

de 1998 estabelece que os museus<br />

devem devolver as obras confiscadas<br />

pelos nazistas. O governo austríaco -<br />

que inicialmente se negou a devolver<br />

a pintura - considerou a obra demasiado<br />

cara para adquiri-la.<br />

O lote devolvido inclui três paisagens<br />

de Klimt entitulados “Apfelbaum”<br />

(Macieira), “Buchenwald/Birkenwald”,<br />

e “Hauser in Unterach am<br />

Attersee” (Casas en Unterach, a margem<br />

do lago Attersee).<br />

Gustav Klimt nasceu em Baumgarten,<br />

nas cercanias de Viena em<br />

14 de julho de 1862 e viveu na Viena<br />

de Sigmund Freud. No final do<br />

século XIX, era uma cidade na qual,<br />

frente à moral estabelecida, crescia<br />

um novo clima mais erótico e complexo.<br />

A lenda conta que no ateliê<br />

do pintor, uma casa de um andar<br />

rodeada por um belo jardim silvestre,<br />

as mulheres passeavam desnudas<br />

o tempo todo. Ali, ele as pintava<br />

em todas as formas possíveis:<br />

jovens, anciãs, grávidas, sozinhas,<br />

com homens ou com outras mulheres.<br />

Fonte: El País, BBC).<br />

Caros senhores terroristas<br />

Começou a época das manifestações.<br />

Leio agora que, só em Londres,<br />

milhares de pacifistas saíram à rua<br />

para marchar contra a guerra no<br />

Oriente Médio. Nada a opor. Marchar<br />

contra a guerra é simpático. Mais<br />

ainda: é cômodo. Você pode não<br />

saber nada sobre o conflito, nada<br />

sobre as razões do conflito, nada<br />

sobre as conseqüências do conflito.<br />

Mas é contra. Ser contra é a absolvição<br />

do pensamento: uma forma tranqüila<br />

de colocar a flor na lapela do<br />

casaco e mostrar a sua vaidade moral<br />

ao mundo. Hitler invadiu a Polônia,<br />

exterminou milhões de judeus e<br />

procurou subjugar um continente<br />

inteiro? O pacifista é contra. Contra<br />

quê? Contra tudo: contra Hitler, contra<br />

Churchill, contra Roosevelt. Contra<br />

Aliados, contra nazistas. E quando<br />

os nazistas entram lá em casa e<br />

se preparam para matar o pacifista,<br />

ele dispara, em tom poético: “Não<br />

me mate! Você não vê que eu sou<br />

contra?” É provável que o nazista se<br />

assuste com a irracionalidade do pacifista<br />

e desapareça, correndo.<br />

Capitão: “Eu não mandei você<br />

matar o inimigo?”<br />

Soldado: “Sim, meu capitão. Mas<br />

ele era contra. Fiquei com medo.”<br />

O pior é que os pacifistas que<br />

saíram à rua não são contra tudo.<br />

Eles só são contra algumas coisas, o<br />

que torna o caso mais complexo e,<br />

do ponto de vista paranóico, muito<br />

mais interessante. Lemos as palavras<br />

de ordem e ficamos esclarecidos.<br />

“Não ataquem o Irã”. “Liberdade para<br />

a Palestina”. “Tirem as mãos do Líbano”.<br />

Imagino que alguém deixou<br />

em casa as frases sacramentais. “Irã<br />

só quer paz”. “Hezbolá é gente séria”.<br />

“Israel é racista; não gosta de mísseis”.<br />

Essa eu entendo. Israel retirou<br />

do Líbano em 2000. Retirou de Gaza<br />

em 2005. O Líbano e Gaza, depois<br />

da retirada, transformaram-se em<br />

parque de diversões para terroristas<br />

do Hezbolá e do Hamas (leia-se: do<br />

Irã e da Síria) que tinham por hábito<br />

seqüestrar soldados israelenses e<br />

lançar rockets para o interior do estado<br />

judaico. Israel, inexplicavelmente,<br />

não gostava de apanhar com<br />

mísseis na cabeça, marca visível da<br />

sua intolerância. Os pacifistas de<br />

Londres deveriam denunciar essa intolerância:<br />

um Estado que retira dos<br />

territórios ocupados e, ainda por<br />

cima, não gosta de ser bombardeado,<br />

não merece o respeito da “comunidade<br />

internacional”.<br />

E a “comunidade internacional”<br />

não respeita. Desde o início das hostilidades,<br />

no sul do Líbano, regres-<br />

João Pereira Coutinho *<br />

saram acusações conhecidas de “desproporção”<br />

e “matança indiscriminada<br />

de civis”. Apoiado: as acusações,<br />

não os ataques. Se Israel não gosta<br />

de ser bombardeado, deveria refrear<br />

seus ímpetos belicistas e escrever<br />

uma carta aos senhores terroristas.<br />

Para explicar o desconforto da situação.<br />

Exemplo:<br />

“Caros senhores terroristas,<br />

Boas tardes.<br />

Nós sabemos o quanto vocês gostam<br />

de bombardear as nossas cidades,<br />

apesar de termos voluntariamente<br />

retirado dos vossos territórios.<br />

Longe de nós condenar a forma gentil<br />

como gostais de matar o tempo.<br />

Mas lançar rockets para o interior de<br />

Israel não mata só o tempo; também<br />

mata pessoas que estão nas ruas, nos<br />

mercados, nos cafés. Seria possível<br />

parar com esse desporto?<br />

Nós, judeus, sabemos que o pedido<br />

é excessivo, na medida em que,<br />

segundo opiniões dos senhores terroristas,<br />

que nós compreendemos e até<br />

respeitamos, desde 1948, ano da fundação<br />

de Israel, que nós não temos<br />

qualquer direito à existência. Mas não<br />

seria possível chegar a um entendimento,<br />

apesar da palavra ‘entendimento’<br />

ser ofensiva para a cultura dos<br />

senhores terroristas? Dito ainda de<br />

outra forma: não seria possível que o<br />

lançamento de rockets ocorresse apenas<br />

em dias salteados? Por exemplo:<br />

às segundas, quartas e sextas? Os seqüestros<br />

seriam apenas às terças e<br />

quintas, de preferência mais ao final<br />

da tarde, depois da saída do trabalho,<br />

para deixar o jantar já pronto.<br />

O pedido pode parecer excessivo<br />

mas gostaríamos de lembrar aos senhores<br />

terroristas —e, por favor, não<br />

vejam nas nossas palavras qualquer<br />

crítica— que nós tivemos essa gentileza:<br />

avisar as populações civis de<br />

que o sul do Líbano seria atacado,<br />

pedindo-lhes que se retirassem. Estamos<br />

conscientes, e por isso nos<br />

penitenciamos, que esse aviso às<br />

populações civis acaba por retirar<br />

valioso material humano que os senhores<br />

terroristas gostam de usar<br />

como escudo para exibir na televisão.<br />

Mas não seria possível substituir<br />

seres humanos por sacos de areia,<br />

mais fáceis de usar e controlar?<br />

Uma vez mais, queiram-nos perdoar<br />

a ousadia da sugestão. Estamos certos<br />

de que a racionalidade das nossas<br />

propostas será recebida com a irracionalidade<br />

dos vossos propósitos”.<br />

Depois, era só enviar a carta e,<br />

estou certo, esperar pela resposta.<br />

Que viria, como vem sempre, voando<br />

pelos ares.<br />

* João Pereira Coutinho é colunista da Folha de S.Paulo. Reuniu seus artigos no livro<br />

“Vida Independente: 1998-2003”, editado em Portugal, onde vive. Escreve<br />

quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha On-line. Publicado em 24/7/20<strong>06</strong> .


Um novo anti-semitismo<br />

orrem tempos violentos.<br />

Alguns crêem que vivemos<br />

um novo tipo de<br />

conflito: as “guerras culturais”.<br />

Por exemplo, entre muçulmanos<br />

sunitas e xiitas, ou entre islamistas<br />

e ocidentais. No entanto, é<br />

muito provável que as razões de alguns<br />

destes conflitos sejam tradicionais.<br />

Pertencer a um determinado grupo<br />

cultural é só um pretexto para as<br />

batalhas entre os vencedores e os<br />

perdedores da globalização. Líderes<br />

implacáveis mobilizam seguidores<br />

desorientados e, no caso particular<br />

dos perdedores, até podem induzilos<br />

a empreender ações suicidas contra<br />

o suposto inimigo.<br />

Talvez não devêssemos nos surpreender<br />

que em tais tempos ressurja<br />

o mais antigo de nossos ressenti-<br />

mentos perversos e letais: o anti-semitismo.<br />

Retorna em sua forma clássica:<br />

ataques individuais, como o<br />

recente assassinato de um jovem judeu<br />

na França, ou contra sinagogas,<br />

cemitérios e outros lugares simbólicos.<br />

Mas também há um sentimento<br />

mais generalizado de hostilidade<br />

contra todo o judeu.<br />

Caberia supor que o Holocausto<br />

acabou definitivamente com o<br />

anti-semitismo, mas não foi assim.<br />

Há aqueles que negam o Holocausto<br />

ou que tenha acontecido da forma<br />

perfeitamente documentada, em<br />

que ocorreu.<br />

Seus negadores vão desde historiadores<br />

de menor importância, como<br />

David Irving, até políticos aparentemente<br />

populares, como Mahmoud<br />

Ahmadinejad, presidente eleito do<br />

Irã. As provas do que fez a Alemanha<br />

nazista são tão irrefutáveis que tal-<br />

vez nem sequer fizesse falta encarcerá-los<br />

e, desse modo, atrair até eles<br />

mais atenção da que merecem.<br />

A fonte mais inquietante do<br />

anti-semitismo é outra. É justo,<br />

pois, falar de um “novo anti-semitismo”.<br />

Tem a ver com Israel, a única<br />

nação bem sucedida do Oriente<br />

Médio que, além disso, é muito militarizada,<br />

é uma potencia ocupante<br />

e uma defensora implacável de<br />

seus interesses.<br />

Parece difícil exagerar o estranho<br />

sentimento dos ocidentais para com<br />

a Palestina. Poderíamos chamá-lo<br />

“romanticismo”. Assim expressaram<br />

intelectuais como Edward Said, já<br />

falecido, mas tem muitos adeptos<br />

nos Estados Unidos e na Europa. Glorificam<br />

os palestinos como as vítimas<br />

da dominação israelense. Falam<br />

do tratamento que recebem os palestinos<br />

israelenses: cidadãos de segunda<br />

classe, no melhor dos casos.<br />

Citam os numerosos incidentes opressivos<br />

nos territórios ocupados. Implicam<br />

o explícito, se põem ao lado<br />

das vítimas, enviam-lhes dinheiro,<br />

até declaram lícitos os atentados<br />

suicidas e se afastam cada vez mais<br />

do apoio a Israel e de sua defesa.<br />

É certo que, em teoria, podemos<br />

opor-nos às políticas de Israel sem<br />

ser por isso anti-semitas. Além disso,<br />

há muitos israelenses que as criticam.<br />

Não obstante, cada vez custa<br />

mais manter a distinção. Os judeus<br />

da diáspora se sentem obrigados a<br />

defender (com razão ou sem ela) o<br />

país que, apesar de tudo, é sua última<br />

esperança de segurança. Por isso,<br />

seus amigos vacilam em falar claro:<br />

temem ser tachados não só de hos-<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Ralf Dahrendorf * tis a Israel, como também de anti-<br />

Charge publicada no jornal Chicago Tribune, em 19 de julho<br />

semitas. A atitude defensiva dos judeus<br />

e o silêncio incômodo de seus<br />

amigos indicam que o cenário do<br />

debate público está aberto para os<br />

verdadeiros anti-semitas, mesmo que<br />

se limitem a falar mal de Israel.<br />

O anti-semitismo é repugnante,<br />

seja qual for a forma que adote. A<br />

educação e o debate não bastam para<br />

lutar eficazmente contra o novo antisemitismo.<br />

Ele está ligado a Israel.<br />

Nós que pertencemos<br />

a uma geração que con-<br />

sidera Israel uma das<br />

grandes conquistas<br />

do século XX e o<br />

admira pelo modo<br />

em que deu um orgulhoso<br />

lar aos perseguidos<br />

e oprimidos,<br />

nos inquietamos<br />

particularmente diante<br />

da possibilidade de que<br />

hoje em perigo.<br />

13<br />

* Ralf Dahrendorf integra<br />

a Câmara dos Lordes, na Grã-<br />

Bretanha. Tradução para o espanhol<br />

de Zoraida J. Valcárcel e publicado no<br />

jornal La Nación em 20.3.20<strong>06</strong>. O texto<br />

está em http://www.lanacion.com.ar/<br />

opinion/nota.asp?nota_id=790259.<br />

Traduzido para o português<br />

por Szyja Lorber, para o jornal<br />

<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

Chavez e Ahmadinejad são parte do novo anti-semitismo


14<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Os judeus secretos<br />

<strong>VJ</strong> INDICA<br />

Sobreviventes da Inquisição reunidos na Catalunha pedem ao Grão Rabinato o retorno ao povo de Israel<br />

venerável rabino Boaron<br />

não dava crédito ao que<br />

viam seus olhos. Francesc<br />

Bellido de Sant Feliu desenrolava<br />

com esmero um talit que sua<br />

mãe lhe havia tecido quando era um<br />

menino, 60 anos atrás, para que seguisse<br />

os preceitos de sua religião<br />

secreta. Branco com faixas azuis em<br />

seus extremos, o manto de oração<br />

judaico não se diferenciava em nada<br />

do que sua própria mãe havia legado<br />

a ele ou a milhões de judeus em todo<br />

mundo. O extraordinário era que Bellido<br />

tinha nascido e crescido em Cirat,<br />

no inacessível interior de Castellón,<br />

numa terra onde oficialmente<br />

os judeus tinham-se acabado cinco<br />

séculos antes, quando os Reis Católicos<br />

lhes deram para escolher entre<br />

o exílio e a conversão.<br />

Boaron, o braço direito do Grão<br />

Rabino de Israel, esteve com uma delegação<br />

religiosa em Barcelona em 31<br />

de março e em 1º de abril (no dia 2<br />

visitaram o antigo bairro judeu [judería]<br />

de Girona) para ouvir os casos<br />

de dezenas de descendentes de<br />

conversos da península Ibérica que<br />

pedem o direito de pertencer ao povo<br />

de Israel. O que pareceu mais extraordinário<br />

à comissão é que a maioria<br />

destas pessoas conservou não só a memória,<br />

mas também rituais e tradições<br />

de seus antepassados israelitas.<br />

Bellido recitou orações em hebraico<br />

que sua mãe lhe havia ensinado,<br />

explicou que acendia as velas<br />

LIVRO<br />

E. Casanova *<br />

Viagem ao fim do milênio –<br />

Romance da Idade Média<br />

Autor: Abraham B. Yehoshua<br />

do Shabat, que fora instruído no<br />

cumprimento dos preceitos e inclusive<br />

recitava algum velho provérbio:<br />

“De Sefarad (Hispânia) soy un jayao<br />

(soldado)/ fablo el safá (idioma) castellano/<br />

como el más puro villano/<br />

que nunca cató el jalá (pão sabático)”.<br />

Em sua casa de Cirat (no Alto<br />

Mijares valenciano, de língua castelhana),<br />

Bellido mantém uma mezuzá,<br />

a cápsula com orações que todos os<br />

lares judaicos colocam no umbral da<br />

porta. Contudo, eles a tinham no<br />

interior, já no hall ou ante-sala, e<br />

coberta com gesso. Outros objetos<br />

rituais, como a menorá, o candelabro<br />

de sete braços, estavam escondidos<br />

num armário.<br />

O caso de Bellido se repete em<br />

todo o território ibérico, onde muitas<br />

famílias conservaram através das<br />

gerações traços judaicos e, em alguns<br />

casos, os preceitos completamente.<br />

É impossível dar cifras, porque continuam<br />

escondidos, mas as pessoas que<br />

se dizem descendentes de israelitas<br />

são vários milhares. “Em toda parte,<br />

nas 52 províncias espanholas, há judeus<br />

secretos, mas a Espanha continua<br />

sendo um país muito anti-semita<br />

e ainda não nos sentimos seguros”,<br />

diz um valenciano que prefere<br />

que seu nome não apareça.<br />

A persistência do judaísmo está<br />

documentada na Espanha e Portugal<br />

até os finais do século 18, 300 anos<br />

após o decreto dos Reis Católicos.<br />

Os arquivos da Inquisição revelam dezenas<br />

de milhares de casos de heresia<br />

até essas datas. Os historiadores<br />

Na passagem do milênio cristão, uma pequena caravana liderada pelo mercador<br />

Ben-Atar deixa as praias de Tânger, no norte da África, com destino a Paris, a<br />

aldeia mais próspera do reino dos francos. A bordo de um velho navio-patrulha, Ben-Atar<br />

segue acompanhado de suas duas esposas e do sócio Abu Lutfi. Os comerciantes se preparam para desembarcar<br />

mais uma preciosa carga de mercadorias, enquanto esperam ansiosos pelo encontro com o terceiro<br />

sócio, Abuláfia, que lhes fará o relatório sobre a venda das mercadorias trazidas no ano anterior. A viagem<br />

se dá num contexto histórico definido, nos primórdios do intercâmbio mercantil entre os povos separados<br />

pelo Mediterrâneo. Ben-Atar cruza o mar em busca de bons negócios, mas se defrontará com situações que<br />

vão muito além da simples troca de mercadorias. Judeu sefaradita entrará em choque com a tradição<br />

asquenazita, para a qual a bigamia é uma prática inaceitável. Numa recriação brilhante do mundo<br />

medieval do século X, A. B. Yehoshua traça os contornos da cultura judaica dividida por duas tradições - a<br />

asquenazita e a sefaradita - que ainda hoje demarcam afinidades e diferenças para Israel.<br />

asseguram que mais da metade dos<br />

judeus evitou o exílio convertendose<br />

ao cristianismo, mas a maioria também<br />

continuou praticando clandestinamente<br />

a religião de seus pais.<br />

Assim, nasceram os criptojudeus, que<br />

foram chamados também de marranos,<br />

um nome que se conserva muito vivo<br />

em muitas famílias portuguesas.<br />

Quando o tribunal capturava um<br />

herege acusado de judaizar, imediatamente<br />

caíam parentes e amigos de<br />

distintos pontos da Espanha e Portugal,<br />

porque durante séculos os<br />

criptojudeus mantiveram uma rede<br />

de contatos que lhes permitia ajudar-se,<br />

reunir-se para as festas e fazer<br />

casamentos, sem os quais a tradição<br />

teria desaparecido. Os judaizantes<br />

desaparecem dos arquivos justamente<br />

quando o Santo Ofício que<br />

os perseguia se modera, no final do<br />

século 18, e, finalmente, abolido em<br />

princípios do 19.<br />

Um presunto à mostra<br />

A também valenciana Marina de<br />

Paz Peris conta como seus avós paternos<br />

acendiam no povoado galego<br />

de Rivadavia as velas do Shabat dentro<br />

de uma caçarola para que seus<br />

vizinhos não as percebessem e que<br />

de menina descobriu em seu sótão<br />

livros escondidos escritos “com casinhas”,<br />

que mais tarde soube que<br />

era o alfabeto hebraico. Sua avó<br />

materna guardava as aparências culinárias<br />

para evitar que fosse descoberta.<br />

A Inquisição processou muitíssimos<br />

suspeitos por cozinhar com azeite<br />

vegetal ou por não consumir porco.<br />

“Eu sempre vi um presunto na despensa<br />

- conta Marina —, que devia<br />

ser herdado, porque estava há anos ali,<br />

para que os vizinhos o vissem”.<br />

A avó dava de presente os coelhos<br />

que criava (proibidos pela lei<br />

rabínica) aos vizinhos; “em troca,<br />

frangos não presenteava nem um”. A<br />

família de Marina de Paz teve que se<br />

fazer equilibrismo durante o período<br />

franquista para ocultar sua verdadeira<br />

religião. Quando em algum ato social<br />

recusavam o porco, alegavam que<br />

engordava, e diziam que o marisco<br />

produzia-lhes desarranjos. Quando<br />

eram convidados a um casamento<br />

chegavam sempre no final da missa,<br />

“com a desculpa da modista ou de<br />

um sapato estragado”, porque tinham<br />

restrições para entrar na igreja.<br />

A família ajeitou-se também para<br />

obter um lote no cemitério sem uma<br />

só cruz, onde também eram enterrados<br />

ateus e suicidas. Quando em<br />

1948 fundou-se o Estado de Israel,<br />

37 de seus primos emigraram em massa<br />

protagonizando uma aliyá (originalmente<br />

retorno, mas hoje significa<br />

imigração) incrível para o mundo, porque<br />

teoricamente os judeus não existiam<br />

mais em Sefarad há séculos.<br />

Marina, que tem 55 anos, conheceu<br />

a rede clandestina que unia os<br />

judeus ibéricos. Quando completou<br />

18 anos, seus pais levaram para casa<br />

alguns jovens para que se casasse<br />

dentro do grupo. “Era uma espécie<br />

de serviço secreto criptojudeu. Havia<br />

aqueles que colocavam em contato<br />

as pessoas, e a mim trouxeram<br />

rapazes de Córdoba, de Navarra e<br />

mesmo de Valência, e algum centroeuropeu,<br />

de famílias que se relacionavam<br />

com meus pais”, conta.<br />

A comissão rabínica ouviu também<br />

representantes lusos. Em Portugal<br />

— onde os judeus foram convertidos<br />

a força, sem a possibilidade de<br />

exilarem-se — foram mantidas algumas<br />

comunidades perfeitamente constituídas,<br />

e durante as décadas de<br />

1920 e 1930 houve um importante<br />

movimento, a Obra do Resgate, que<br />

levou muitos marranos à sinagoga e<br />

criou escolas para as crianças.<br />

Outro grupo que explicou seu caso<br />

aos rabinos foi o dos chuetas, os<br />

maiorquinos (da Ilha Maiorca) portadores<br />

de 15 sobrenomes, descendentes<br />

dos últimos conversos que sofreram<br />

represálias da Inquisição nos finais<br />

do século 17, que estiveram estigmatizados<br />

até faz muito pouco,<br />

porque viviam agrupados no velho call1 de s'Argenteria de Palma. Após Barcelona,<br />

a comissão israelense viajou<br />

a Maiorca e a Oporto. O rabino Boaron<br />

declarou-se impressionado pelos<br />

testemunhos que tinha escutado e reconheceu<br />

Sefarad como terra de judeus.<br />

Segundo suas palavras, existe<br />

uma boa disposição do Grão Rabinato<br />

para que os bnei anusim (os filhos<br />

dos forçados) regressem ao povo de<br />

Israel com todas as honras.<br />

1 - Call significa sinagoga.<br />

E. Casanova é autor do livro ‘Els jueus<br />

amagats. Supervivents de la Inquisició a<br />

la Sefarad del segle XXI’ [Em catalão ‘Os<br />

judeus amistosos. Sobreviventes da Inquisição<br />

na Sefarad do século XXI’].


Simchat Torá<br />

Em Simchat Torá (“Júbilo da<br />

Torá”) concluímos, e recomeçamos<br />

o ciclo anual de leitura da Torá. O<br />

evento é marcado com muita alegria,<br />

e hacafot, feita na véspera<br />

e na manhã de Simchat Torá, na<br />

qual dançamos com os Rolos de<br />

Torá ao redor da bimá. Durante<br />

a leitura da Torá, todos, incluindo<br />

crianças abaixo da idade de<br />

bar-mitsvá, são chamados à Torá;<br />

assim a leitura é feita inúmeras vezes, para que todos recitem a<br />

bênção sobre a Torá neste dia.<br />

Três rolos são tirados da Arca para leitura. No primeiro, a última<br />

porção da Torá - Vezot Haberachá - é lida e relida muitas vezes, até<br />

que todos tenham sido chamados à Torá. Então meninos que ainda<br />

não têm bar-mitsvá (não completaram treze anos) são chamados à<br />

Torá juntamente com um membro destacado da sinagoga. Em seguida<br />

à bênção Hamalach hagoel (O Anjo que redime) com a qual<br />

Yaacov (Jacó), abençoou os filhos de Yossef (José), é pronunciada<br />

em nome dos meninos.<br />

Para a porção de encerramento chama-se alguém de destaque que<br />

recebe a denominação de “Noivo da Torá”. Outro membro é então<br />

convocado para a primeira porção de Bereshit, que é lida no segundo<br />

Rolo da Torá e é denominado “Noivo de Bereshit”.<br />

Finalmente o Maftir, trecho dos profetas que acompanha a leitura<br />

da Torá, é lido no terceiro Rolo da Torá. Dessa maneira, a leitura da<br />

Torá prossegue porção por porção durante o ano todo, durante todas<br />

as épocas, em um eterno ciclo que quando parece se encerrar,<br />

logo depois recomeça ininterruptamente.<br />

Isto mostra que não há fim na Torá, que deve ser lida e estudada<br />

constantemente, mais e mais, pois a Torá, como o próprio D-us que<br />

a deu para nós, é imorredoura. Cumprindo-a, nosso povo forma o<br />

terceiro elo na eterna união entre D-us, a Torá e Israel.<br />

(www.chabad.org.br).<br />

Shemini Atsêret<br />

Em conexão com a festa de Shemini Atsêret (o Oitavo Dia de<br />

Assembléia), nossos sábios nos contam uma bela parábola:<br />

Um rei certa vez promoveu uma grande festa e convidou príncipes<br />

e princesas a quem apreciava muito para seu palácio. Tendo<br />

passado vários dias juntos, os hóspedes prepararam-se para ir embora.<br />

Porém, o rei lhes disse: “Peço-lhe, fiquem mais um dia comigo,<br />

é difícil ficar longe de vocês!”<br />

Assim acontece conosco, nossos sábios concluem a parábola.<br />

Passamos muitos dias felizes na sinagoga. D-us deseja nos ver por<br />

mais um dia na sinagoga, e por isso Ele nos concede uma festa<br />

adicional - Shemini Atsêret.<br />

Em algumas congregações é costume fazer Hacafot (danças com a<br />

Torá) na noite de Shemini Atsêret, assim como na noite de Simchat Torá.<br />

Sucot é a Festa da Colheita quando a produção dos campos era<br />

colhida e o dízimo era separado, de acordo com o mandamento da<br />

Torá, e dado aos levitas e aos pobres. A leitura da Torá no Serviço<br />

Matinal de Shemini Atsêret fala do mandamento de dar o dízimo.<br />

O serviço de Mussaf, Prece Adicional, é assinalado pela prece<br />

especial com pedidos para que haja chuva. (www.chabad.org.br).<br />

ocê sabia que as Colônias do Golan<br />

pertenciam ao Reino de David na<br />

antiguidade e que, muitos judeus<br />

lá moravam em épocas recentes?<br />

Hoje se fala demais e se conhece de menos,<br />

abocanha-se a história como algo que pode ser<br />

mudado ao bel prazer de quem a interpreta como<br />

se fosse sua propriedade particular.<br />

Você sabia que a Palestina foi o nome dado<br />

pelos romanos à antiga Judéia dos hebreus, no<br />

Oriente Médio, há milênios atrás pelo último<br />

Imperador romano Adriano, em 135 d.c?<br />

Você já ouviu falar que os turcos otomanos<br />

dominaram o Oriente Médio e parte da Europa<br />

durante 400 anos e só perderam junto com a<br />

Alemanha e o Império austro-húngaro na 1ª<br />

Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918,<br />

para os países da Europa, no Tratado de Versalhes<br />

em 1918?<br />

Você tinha conhecimento de que a maioria<br />

dos países árabes de hoje foram criados<br />

pela Inglaterra e pela França (que tanto abominam)<br />

e doados à famílias abastadas da região,<br />

um, dois ou três anos antes da criação<br />

do Estado de Israel, (que teve o aval do ONU<br />

que os outros não tiveram), após a 2ª Guerra<br />

Mundial, vencida novamente pelos aliados e<br />

pelos Estados Unidos?<br />

Na conferência do Cairo, Churchill já havia<br />

desenhado o mapa do Oriente Médio, que se<br />

tornou em grande parte protetorado britânico<br />

e protetorado francês.<br />

Chamou Faiçal, filho do xerife de Meca (sunita),<br />

como Rei de um território formado por<br />

três províncias otomanas (Basra, Bagdá e Mosseul)<br />

e deu-lhe o nome de Iraque.<br />

Ao sul, Ibn Saud fundava a Arábia Saudita<br />

com o aval da Inglaterra.<br />

O reino Hachemita da Jordânia só teve a sua<br />

independência em 1946, um ano antes de Israel.<br />

Sob a custódia da França a vilayot de Allepo<br />

se juntou à vilayot da Síria, que continha o<br />

distrito de Damasco e virou a Síria. A Síria só<br />

se tornou independente em 1946, um ano antes<br />

de Israel.<br />

Os distritos de Tripoli e Beirute formaram o<br />

Líbano somente em 1943, 4 anos antes de Israel.<br />

Uma faixa de terra composta pelos distritos<br />

de Jerusalém, Nablus e Acre, ficou também como<br />

mandato britânico, a terra dos judeus, antiga<br />

palestina histórica, e em reunião da ONU, foi<br />

resolvido em 1947, sob a égide do Chanceler<br />

Oswaldo Aranha, portanto com o aval completo<br />

do Brasil, que seria dividido em um Estado judeu<br />

e outro árabe.<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

15<br />

O que nos<br />

conta a históriaEdda Bergmann*<br />

O Império Otomano fora assim fatiado e,<br />

graças aos ingleses, os árabes garantiram praticamente<br />

todo o Oriente Médio, com apenas<br />

duas famílias mandatárias, os Hachemitas<br />

e os Sauditas.<br />

Assim os árabes tornaram-se senhores do<br />

Oriente Médio otomano, os turcos otomanos ficaram<br />

com a Ásia Menor e a Anatólia e seus vizinhos<br />

e inimigos históricos, ficaram com o Irã.<br />

Mas o Estado de Israel ao ser criado em<br />

1947-48, foi invadido pelos países árabes recém-criados,<br />

que não achavam bastante o que<br />

tinham conseguido e após uma luta desigual e<br />

cheia de atos de heroísmo por parte dos judeus,<br />

sua independência foi concretizada.<br />

Seis guerras se sucederam com o intuito de<br />

jogar os judeus ao mar, mas foram todas vencidas<br />

por Israel.<br />

Os judeus mostraram que estão lá para ficar<br />

e para valer, sendo a única democracia do Oriente<br />

Médio que não pertence a uma família, e<br />

não é fruto do acaso, mas da história contemporânea<br />

que representa, reconhece e endossa<br />

o passado e seus habitantes.<br />

Este caminho de querer varrer Israel do<br />

mapa, um Estado soberano, livre e democrático,<br />

criado pela ONU, com o voto da maioria<br />

dos países do mundo, que preza e exercita<br />

sua cidadania e acaba de livrar o Líbano da<br />

ocupação dos foguetes, mísseis e armas do<br />

Hezbolá, um grupo terrorista da Síria e do<br />

Irã que pretendia dominá-lo e torná-lo dependente<br />

de suas vontades inexoráveis, não<br />

vão deixar as coisas acontecerem.<br />

Ameaçar Israel tem um preço, muito alto por<br />

sinal, os países árabes que se cuidem.<br />

O sindicato dos trabalhadores da Universidade<br />

de São Paulo, apregoando ao público em<br />

discussões, passeatas, manifestações e oratórias<br />

o fim do Estado de Israel, sua varrição do<br />

mapa, “Os protocolos dos sábios de Sião” (uma<br />

falsificação histórica) e seu ódio gratuito e<br />

imponderável aos judeus em geral, estão optando<br />

por um desvio de comportamento e por<br />

criar no Brasil um comportamento antidemocrático,<br />

que não coincide com as diretrizes históricas<br />

e políticas do nosso Brasil, que é um<br />

país e não dará guarida à ditaduras, venham<br />

elas de onde vierem.<br />

Vivemos num país democrático onde faremos<br />

valer nossos direitos, o Brasil tem uma grande<br />

influência histórica judaica através de sua população<br />

de cristãos novos e de muitas mesclas<br />

populacionais, para se dar ao luxo destes tipos<br />

de comportamentos inadequados, incoerentes,<br />

extemporâneos e contrários às leis vigentes.<br />

*Edda Bergmann é vice-presidente Internacional da B’nai B’rith.


16<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Palavra de<br />

Ratzinger<br />

efender Ratzinger. Estranha situação<br />

para alguém que, como<br />

eu, diverge dezenas de povos de<br />

sua concepção do mundo. E não<br />

só porque ele habita na gramática do<br />

intangível e eu sou uma impenitente cidadã<br />

do racionalismo, mas porque quando atua no<br />

terreno, suas idéias sociais estão nos meus<br />

antípodas. Não me agrada o Vaticano nem<br />

por sua discriminação sexual, nem por sua<br />

homofobia, e sua atitude no terceiro mundo,<br />

contrária à anticoncepção, me parece<br />

seriamente irresponsável. Reconheço que a<br />

espiritualidade deste papa me comove quase<br />

tanto como sua densa cultura, mas seu mundo<br />

e meu mundo palpitam em mundos distintos.<br />

Todavia, e parafraseando a famosa frase,<br />

daria o que fosse para que Ratzinger pudesse<br />

defender suas idéias contrárias às minhas;<br />

essa é a raiz da liberdade, seu profundo<br />

compromisso: garantir o cadinho, assegurar<br />

a pluralidade. E é o cadinho de idéias,<br />

o direito de pensar mais além dos medos e<br />

das ameaças, o que resulta frontalmente atacado<br />

nestes tempos.<br />

Falamos de Ratzinger, mas falamos também<br />

de Theo Van Gogh, de Salman Rushdie,<br />

dos chargistas dinamarqueses, de Ayan Hirsi<br />

Alli, do escritor Naguib Mahfuz, cuja morte<br />

recente nos recordou o calvário que sofreu<br />

nas mãos da intolerância. Todos eles foram<br />

responsáveis por lesa culpa em opinar mais<br />

além da comodidade, talvez além da corrente<br />

e, sem dúvida, mais além da prudência. E<br />

todos deixaram pelo caminho muita pele,<br />

violentados, ameaçados, inclusive assassinados.<br />

É Ratzinger o mesmo que Rushdie? Se<br />

parece com a provocação profana dinamarquesa?<br />

Tem algo a ver com a denúncia de<br />

Van Gogh? Todos têm a ver com o mesmo, se<br />

atreveram a opinar criticamente sobre o islã<br />

e padeceram as conseqüências.<br />

Para começar, Bento XVI já pediu precipitadamente<br />

perdão, num ato de genuflexão<br />

pública que estranhamente se dá no Vaticano.<br />

O fez por convicção ou o fez obrigado<br />

pela histeria desatada no islã? A evidência<br />

da resposta poupa o texto. Novamente, pois,<br />

o mundo amanheceu com manifestações à<br />

solta, com igrejas queimadas, com parlamentos<br />

pedindo explicações e com os gurus do<br />

islã exigindo penitência.<br />

E tudo isso aconteceu porque Bento XVI<br />

disse que a jihad é contrária a D-us, e que a<br />

violência não é compatível com a religião.<br />

Ou seja, tem o meio mundo muçulmano sublevado<br />

por ter sido coerente com o catecismo.<br />

Um homem de D-us assegura que, em<br />

nome de D-us, não se pode matar. E tem que<br />

pedir perdão…<br />

Pilar Rahola*<br />

Eu sei. Seriam muitas as arestas do tema.<br />

Para começar, Ratzinger lidera uma religião<br />

que teve sua jihad nos tempos dos cruzados,<br />

e que também, em nome da religião, defendeu<br />

todo tipo de violências. Sem ir mais longe,<br />

o cristianismo é o principal responsável<br />

pela loucura histórica do anti-semitismo. Mas<br />

também é certo que muitas são as reflexões<br />

críticas do próprio cristianismo, e que a Nostra<br />

Aetate supõe uma fronteira definitiva com<br />

seu passado. E o é ainda mais sua designação<br />

dos valores democráticos das sociedades<br />

nas quais vive. Seja como for, Ratzinger<br />

poderia ter partido da própria culpa cristã<br />

para aterrissar na inequívoca culpa islâmica,<br />

e poderia ter usado textos históricos menos<br />

antipáticos como exemplo, mas nada do que<br />

foi dito justifica a violência de rua e de taverna<br />

que estão gerando suas palavras. O tema<br />

não é o que Ratzinger disse, sobretudo porque,<br />

matizes à parte, o dele é de um sentido<br />

comum inapelável. O tema é a falta absoluta<br />

de cultura democrática que afoga o islã e<br />

que nos afoga a todos.<br />

Não me cansarei de dizer que, sem dúvida,<br />

há um islã de paz, mas também há um<br />

islã de guerra, e da mesma forma que em<br />

nome de Alá se conjuga o verbo amar, hoje,<br />

em nome de Alá, também se conjuga o verbo<br />

matar. Milhares de mortos, de Nova York<br />

até Atocha, de Beslan até Bombaim, avalizam<br />

isso tragicamente. E o mais trágico não<br />

é que o islã radical esteja seqüestrando a<br />

imagem de todo o mundo muçulmano. O<br />

mais trágico é que o mundo muçulmano<br />

pacífico não se manifesta, não critica, não<br />

se rebela, mas se cala.<br />

Os poucos Mahfuz e Rushdie que levantam<br />

a voz vivem um calvário. Pessoalmente<br />

creio que uma comunidade diversa, complexa,<br />

heterodoxa como a islâmica não pode ser<br />

reduzida à imagem simplista e malvada que o<br />

próprio fundamentalismo tenta dar. Mas, para<br />

isso, é necessário que surjam seus próprios<br />

Ratzingers e que o mundo islâmico diga, de<br />

própria voz, que a jihad é contrária a D-us.<br />

Infelizmente vivemos uma trágica inversão<br />

de valores: as vozes surgem massivas, histéricas<br />

e ameaçadoras, para violentar os críticos.<br />

Milhares vociferando nas ruas porque um<br />

Papa falou contra a violência. Onde estão<br />

esses milhares quando, em nome de seu deus,<br />

se massacram cidadãos em trens, ônibus e<br />

aviões? Há um Islã que está muito doente e,<br />

por infelicidade, é, o Islã que impõe sua voz.<br />

Esse Islã hoje silencia Ratzinger e ontem o<br />

fez com outros. Por isso me atrevo a dizer<br />

que as desculpas do Papa não são um êxito<br />

da prudência, são uma derrota da razão. Uma<br />

quebra, — outra —, da liberdade.<br />

* Pilar Rahola é jornalista, escritora e tem programa na televisão espanhola. Foi vice-prefeita<br />

de Barcelona, deputada no Parlamento Europeu e deputada no Parlamento espanhol.<br />

Publicado no El Periódico, de Barcelona. Tradução: Szyja Lorber.<br />

OLHAR ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

HIGH-TECH<br />

○ ○<br />

Sistema de água da era bíblica<br />

Arqueólogos de Israel desenterraram<br />

um antigo sistema de água modificado<br />

pelos persas para transformar o<br />

deserto num paraíso. A rede de reservatórios,<br />

dutos de escoamento e<br />

túneis subterrâneos atendeu um dos<br />

grandes palácios do reinado bíblico<br />

da Judéia. Os arqueólogos descobriram<br />

o palácio em 1954, uma estrutura<br />

construída sobre uma área de 2,4<br />

hectares onde hoje está a fazenda<br />

coletiva de Ramat Rachel. Mas escavações<br />

recentes desenterraram quase<br />

70 metros quadrados de um sistema<br />

de água considerado único. O sistema<br />

foi construído no final da Idade<br />

do Ferro, passando pelo período<br />

bíblico, até o século VII, afirmou<br />

Oded Lipschits, arqueólogo da Universidade<br />

de Tel Aviv. A infra-estrutura<br />

do palácio foi redesenhada ao<br />

longo dos séculos para atender às necessidades<br />

dos babilônios, persas,<br />

romanos e hasmoneus que governavam<br />

a Terra Santa, disse o cientista,<br />

que comanda as escavações ao lado<br />

de um acadêmico da Universidade de<br />

Heidelberg, Alemanha. (Reuters).<br />

Sistema de água da era bíblica II<br />

Mas foram os persas que renovaram<br />

o sistema de águas e o transformaram<br />

em algo de grande beleza. Segundo<br />

Lipschits, os persas acrescentaram<br />

pequenas quedas d’água ao<br />

sistema tentando transformar o deserto<br />

em um paraíso. “Imagine que<br />

nessa terra havia plantações e água<br />

correndo”, afirmou o cientista. “Alguém<br />

considerava a estética algo<br />

importante e não desejava se sentir<br />

em um remoto canto qualquer do<br />

deserto”. Yuval Gadot, arqueólogo<br />

especializado no período bíblico, também<br />

da Universidade de Tel Aviv, participa<br />

das escavações. Ele disse que<br />

os cientistas não sabem exatamente<br />

como o sistema funcionava. “Provavelmente,<br />

a água das chuvas descia<br />

do teto das casas [do complexo do<br />

palácio]”, afirmou. “A partir dali, por<br />

meio de escoadouros, ela era levada<br />

até piscinas ou reservatórios subterrâneos<br />

antes de chegar aos campos<br />

de plantio próximos dali ou a<br />

belos jardins”. Por séculos, o suprimento<br />

de água tem sido um dos assuntos<br />

mais delicados do Oriente<br />

Médio, uma região dominada por<br />

desertos. (Reuters).<br />

Mosaicos milenares em Jerusalém<br />

Arqueólogos israelenses descobriram<br />

na cidade velha de Jerusalém dois<br />

mosaicos milenares, um debaixo do<br />

outro e acredita-se que decoravam a<br />

casa de uma família abastada da<br />

época do Segundo Templo. Com forma<br />

e desenho de tapete, os mosaicos<br />

foram descobertos no chamado<br />

Recinto Herodiano, situado na parte<br />

judaica da cidade antiga e um dos<br />

principais parques arqueológicos da<br />

cidade. Os arqueólogos consideram<br />

que ambos procedem da segunda<br />

metade da Era do Segundo Templo,<br />

um período que se estende do ano<br />

538 a.C até o redor de 132 d.C. Foi a<br />

recuperação do primeiro mosaico<br />

mediante uma técnica conhecida<br />

como “levantamento”, ou seja, a introdução<br />

de uma rede na parte inferior<br />

para erguê-lo de seu lugar, o que<br />

deixou à mostra o segundo mosaico,<br />

que era um piso anterior da mesma<br />

casa. Após um árduo processo de<br />

conservação, ambos ficaram expostos<br />

no recinto que foram encontrados,<br />

um deles colocado numa parede.<br />

(Haaretz/Rádio Chai).<br />

Israel competitivo<br />

Este ano Israel passou da 23ª posição<br />

no ranking da competitividade<br />

global para a 15ª, o que colocou o<br />

país entre as economias mais competitivas<br />

do mundo, segundo a edição<br />

20<strong>06</strong>-2007 do Relatório de Competitividade<br />

Global do Fórum Econômico<br />

Mundial. Israel superou países<br />

como Canadá, França, Espanha, Itália<br />

e Austrália. As conquistas mais<br />

significativas israelenses concentramse<br />

nas áreas de prontidão tecnológica,<br />

technological readiness — categoria<br />

na qual subiu da 20ª para a 3ª<br />

posição — aperfeiçoamento da administração<br />

macroeconômica, eficiência<br />

de mercado e diversas áreas de<br />

infra-estrutura. Alavancada por fatores<br />

externos, como o aumento da<br />

atividade econômica global e do comércio<br />

mundial, e a recuperação do<br />

setor high-tech, a competitividade de<br />

Israel também cresceu devido a reformas<br />

significativas de regras aliadas<br />

à disciplina fiscal. (weforum.org)<br />

Competitivo II<br />

A área que apresentou avanços mais<br />

impressionantes foi o mercado financeiro,<br />

altamente desenvolvido para os<br />

padrões regionais e internacionais.<br />

Isso se explica pelos efeitos da revolucionária<br />

reforma do mercado de<br />

capitais, entre outras coisas, segundo<br />

o relatório do Fórum Econômico<br />

Mundial. O relatório explica que Israel<br />

beneficiou-se do desenvolvimento<br />

de uma cultura de inovação, apoiada<br />

por instituições de educação de primeira<br />

classe e pela pesquisa científica,<br />

“tornando-se um gerador mundial<br />

de tecnologia, e está começando<br />

a colher efeitos favoráveis na<br />

economia, uma excelente promessa<br />

para o futuro”, na avaliação do economista<br />

e chefe da Rede de Competitividade<br />

Global do Fórum Econômico<br />

Mundial, Augusto Lopez Claros.<br />

(weforum.org).


VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Nem tudo é o que parece ser<br />

Roberto Musatti * gem, completavam esta estrutura, toneladas de bombas na região xiita veis, sem que nenhum protesto te-<br />

financiada e entregue pelos aiato- de Beirute, continha ‘apenas’ o nha sido feito pela França ou por Kofi<br />

preocupante crise do<br />

Oriente Médio assumiu<br />

tons que nos evocam o<br />

celebre bordão do shampoo<br />

‘Denorex’ de algum tempo<br />

atrás. No novo mundo globalizado<br />

onde as noticias, os comentários<br />

e as imagens viajam na velocidade<br />

digital e em tempo real - vemos uma<br />

outra batalha sendo travada, de guerrilha<br />

e sem quartel: a batalha pela<br />

conquista da opinião pública, correta<br />

ou não.<br />

As previsíveis coberturas jornalísticas<br />

do atual conflito no Líbano<br />

e Israel, mostram compenetrados jornalistas<br />

reportando de áreas arrasadas,<br />

mulheres em prantos incontidos,<br />

feridos em hospitais, protestos em<br />

funerais - tudo parte de um script<br />

de teatro de horror e sofrimento<br />

humano, que estes produtores acreditam<br />

ser o material que mais galvaniza<br />

a atenção de espectadores<br />

em todo o mundo. Estão apenas<br />

lás xiitas do Irã via Síria.<br />

O governo Baath da Síria, por sua<br />

vez, ao ver frustradas suas intenções<br />

imperialistas da ‘Grande Síria’ com a<br />

retirada de seus 15 mil soldados do<br />

Líbano em 2005, deixou com o Hezbolá,<br />

boa parte de seu armamento<br />

russo de última geração. Em 31 de<br />

janeiro deste ano, 12 caminhões carregados<br />

de mísseis foram parados<br />

pelo exercito libanês após cruzarem<br />

a fronteira com a Síria e liberados<br />

em seguida, por ordem expressa do<br />

governo libanês, (agora no papel de<br />

‘inocente traído’) para serem entregues<br />

ao Hezbolá.<br />

Criou-se no Líbano, dentro de<br />

Beirute, uma nação iraniana xiita,<br />

com exercito, ministros, parlamentares<br />

burocratas, estação de TV (Al-<br />

Manar) e até policia própria. Não era<br />

possível entrar no conjunto de prédios<br />

na região sul de Beirute, sem<br />

identificação própria ou documento<br />

do Hezbolá.<br />

bunker subterrâneo central de comando<br />

do Hezbolá, construído por<br />

engenheiros iranianos especializados<br />

em instalações nucleares. Pistas de<br />

aeroportos, estoques de combustíveis,<br />

pontes e estradas foram destruídas<br />

por serem vitais para a locomoção<br />

dos mísseis e suas plataformas<br />

de lançamento. O que as imagens<br />

não mostram é o resto de Beirute<br />

e Tiro, até agora intactos.<br />

Antes de atacar vilarejos, casas,<br />

hospitais e creches usados como<br />

base de ataque e estoque de mísseis<br />

do Hezbolá no sul do Líbano, milhares<br />

de panfletos são jogados pela<br />

aviação de Israel pedindo que a população<br />

civil saia face o iminente<br />

perigo. Enquanto isso, mais de 2 mil<br />

mísseis já foram disparados pelo Hezbolá<br />

contra as cidades de Israel, indiscriminadamente<br />

e de forma criminosa,<br />

contendo centenas de bolinhas<br />

de chumbo objetivando atingir<br />

o maior número de civis possí-<br />

Annan, rápidos em censurar as incursões<br />

de Israel.<br />

Existem dois grandes receios de<br />

conseqüências por trás do atual conflito:<br />

A) que os sunitas, maioria nos<br />

demais países árabes, que consideram<br />

os xiitas como traidores e fonte<br />

principal dos terroristas do Al Qaeda<br />

– desfechem ataques a alvos ocidentais<br />

em todo o mundo como forma<br />

de concorrência com o prestigio<br />

atual do Hezbolá. B) que o Hezbolá<br />

em desespero, ative suas células de<br />

terror fora do Oriente Médio e ataque<br />

comunidades judaicas, como fez<br />

na Argentina em 93 e 94, com centenas<br />

de mortos e feridos.<br />

Nem tudo é o que parece, especialmente<br />

no jogo de inte- * Roberto Musatti é<br />

resses do Oriente Médio. É de economista pela USP<br />

se lamentar que ‘no frigir dos<br />

e mestre em<br />

Marketing (Michigan<br />

ovos’ vitimas inocentes, in-<br />

State) e Professor<br />

clusive brasileiras, sejam ape- Universitário.<br />

nas estatísticas.<br />

servindo de marionetes para os radicais<br />

islâmicos.<br />

Para quem ousasse desafiar este<br />

poderio, a lembrança o recente as-<br />

‘Israel, agora no papel de agressassinato do ex-premiê libanês (antisor,<br />

está destruindo o Líbano e ponxiita e sírio) Hariri servia de intimito<br />

final!’ ‘A pequena e frágil nação libanesa<br />

sucumbe com seus milhares de<br />

refugiados, ao poderio imperial do 4º<br />

exercito mais poderoso do mundo que<br />

reage com desproporção e insensibilidade’.<br />

‘Os surpresos e inocentes políticos<br />

libaneses apelam à consciência<br />

do mundo ocidental, diante deste<br />

‘tsunami’ militar em seu país!’<br />

Por trás desta ‘cortina de fumaça’<br />

se escondem varias realidades<br />

dação e manteve políticos e o exercito<br />

libanês dóceis e coniventes.<br />

O objetivo iraniano é o de ter<br />

‘uma ponta de lança’ na garganta de<br />

Israel e dos EUA, caso estes resolvessem<br />

tomar medidas militares contra<br />

seu programa militar nuclear, essencial<br />

para efetivar o domínio xiita<br />

até a península arábica. A idéia, como<br />

afirmou nesta semana seu líder Nasrallah,<br />

é “tornar a vida dos israelen-<br />

Justiça Eleitoral do RS retira do ar<br />

propaganda de cunho anti-semita<br />

Manifestações em programa eleitoral do festação de candidato afirmando que a paz<br />

candidato a deputado estadual Julio Flores somente será possível com a extinção do<br />

(PSTU) pedindo o fim do Estado de Israel Estado de Israel e a criação de uma palesti-<br />

foram objeto de apreciação da recém- criada na não racista onde convivam todas as reli-<br />

comissão jurídica da FIRGS - CALE (Comitê giões: Irregularidade que se ostenta por<br />

bem diferentes, parte de um plano ses impossível em Israel”. Poucos de Ação Legal). Com a gravação comprovan- evidenciar a mensagem ofensa à ordem ju-<br />

estratégico muito bem elaborado. países se sujeitariam a esta ameaça. do as manifestações, a comissão entrou em rídica brasileira e a princípios fundamen-<br />

Israel está atacando a região geográfica<br />

do Líbano (e não o país)<br />

para destruir o grupo terrorista militar<br />

Hezbolá, que ali se instalou<br />

criando um estado dentro de outro<br />

estado, objetivando a total destruição<br />

do Estado de Israel. “Desde a<br />

saída do exercito de Israel do sul<br />

do Líbano em 2000, estivemos nos<br />

preparando para este dia”, dizem os<br />

comandantes desta milícia.<br />

E se prepararam muito bem, a<br />

ponto de serem mais poderosos que<br />

a muitos dos exércitos regulares árabes.<br />

São 30 mil homens, armados<br />

com 12 mil mísseis de diversas capacidades<br />

e poderio, capazes de<br />

atingir grandes populações civis em<br />

Israel. Mísseis antitanque, RPG -<br />

bunkers, túneis, fortificações, plataformas<br />

moveis de lançamento,<br />

equipamentos de visão noturna,<br />

A tecnologia israelense de ponta,<br />

os seus satélites que monitoram<br />

objetos até 3 metros do solo, conseguiu<br />

até agora orientar as incursões<br />

aéreas e de artilharia, para que<br />

atingissem seus alvos, causando o<br />

menor número possível de baixas civis,<br />

proposta quase impossível, visto<br />

que boa parte da estratégia do<br />

Hezbolá é manter seus armamentos<br />

e disparos atrás de escudos humanos<br />

- os ‘sahids’ ou mártires, voluntários,<br />

ou não. Quanto maior o número<br />

destes mortos, melhor para sua<br />

campanha de mídia - é o ‘efeito Jenin’<br />

(o massacre étnico de 2002 que<br />

nunca ocorreu): como a família<br />

morta na praia em Gaza (que de<br />

míssil israelense passou à mina do<br />

Hamas) e as vitimas dos bombardeios<br />

no Líbano - que sempre são<br />

só crianças e mulheres.<br />

contato com os procuradores dos Ministérios<br />

Públicos Eleitorais. O Ministério Público<br />

Federal, após exame aprofundado da matéria,<br />

encaminhou representação à Justiça<br />

Estadual eleitoral, obtendo desde logo liminarmente<br />

a retirada das palavras consideradas<br />

ofensivas aos princípios fundamentais<br />

do Estado Brasileiro. Ao sentenciar, o juiz<br />

João Carlos Cardoso Branco, acolhendo o<br />

mérito da representação, determinou a exclusão<br />

definitiva do âmbito da propaganda<br />

eleitoral, com base no artigo quarto da Constituição<br />

Federal brasileira, segundo o qual a<br />

República rege-se nas suas relações internacionais<br />

pela autodeterminação dos povos,<br />

defesa da paz e solução pacífica dos conflitos.<br />

O texto da ementa da decisão do Poder<br />

Judiciário eleitoral é o seguinte:<br />

Representação – propaganda irregular –<br />

horário eleitoral gratuito de rádio – manitais<br />

que regem as relações internacionais<br />

do Brasil, na conformidade do art. 4º da CF,<br />

extrapolando o direito de livre manifestação<br />

do pensamento – aplicação do disposto<br />

no artigo 243 do Código Eleitoral e § 2º<br />

do artigo 53 da lei nº 9504/97 – proibição<br />

de reapresentação da propaganda. Representação<br />

acolhida.<br />

A propaganda eleitoral impugnada e à<br />

qual o Poder Judiciário determinou fosse<br />

excluída do horário eleitoral gratuito atenta<br />

contra os princípios democráticos e de<br />

direito que estão na Constituição e garantem<br />

a dignidade da pessoa humana. Com<br />

esta decisão judicial entende a Federação<br />

Israelita do Rio Grande do Sul ter cumprido<br />

com um dos seus objetivos que é a defesa<br />

da comunidade judaica e a preservação de<br />

seus valores. (Federação Israelita do Rio<br />

Grande do Sul - Depto. de Comunicação).<br />

torres de comunicação e espiona- A ‘mesquita’ bombardeada com 26<br />

17


18<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Léia Hecht foi empossada como<br />

presidente da Na’amat Pioneiras-Brasil.<br />

Estão sob sua coordenação,<br />

Centros de Na’amat<br />

de 10 estados brasileiros (Amazonas,<br />

Pará, Rio Grande do<br />

Norte, Ceará, Bahia, Minas Gerais,<br />

Rio de Janeiro, São Paulo,<br />

Paraná e Rio Grande do<br />

Sul), que trabalharão em prol<br />

da elevação do status da mulher<br />

e sua família. A cerimônia<br />

de posse da nova presidência<br />

encerrou o XVI Kinus Artzi<br />

(Congresso Nacional) de<br />

Na’amat Pioneiras Brasil, realizado<br />

a cada três anos alternadamente<br />

nas cidades de São<br />

Paulo e Rio de Janeiro, e que<br />

teve como tema este ano ‘A Missão<br />

de Na’amat Brasil para o<br />

Século XXI’, desde 1948.<br />

Max Rosenmann foi reeleito deputado<br />

federal, com 116 mil votos, ficando em<br />

10º lugar entre os deputados mais votados<br />

do Paraná. Ganha o Estado e a Comunidade<br />

Israelita do Paraná. Mazal Tov!<br />

No dia 19/9 a Sociedade Brasileira dos<br />

Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém,<br />

presidida no Brasil por Morris Dayan,<br />

entregou o Prêmio Scopus a José Mindlin,<br />

por sua contribuição à educação e cultura<br />

do Brasil. O evento aconteceu na residência<br />

de Morris Dayan, e contou com a presença<br />

de personalidades ligadas à cultura<br />

e educação brasileira, e lideranças da comunidade<br />

judaica.<br />

Morris Daian e José Mindlin<br />

O Prêmio Scopus é concedido anualmente, pela<br />

Sociedade Amigos da Universidade Hebraica de<br />

Jerusalém a pessoas que se destacam em suas<br />

áreas de atuação, e leva esse nome por remeter<br />

à localização da Universidade, que fica no Monte<br />

Scopus, em Jerusalém, Israel. Dentre os já<br />

agraciados com o prêmio, destacam-se o ministro<br />

Gilberto Gil (2005), Roman Polansky, Frank<br />

Sinatra, Itzhak Perlman, Edward Kennedy Zubin<br />

Mehta e o Dalai Lama, entre outros.<br />

No Kinus Artzi da Na'Amat Pioneiras as dirigintes da entidade em todo o<br />

Brasil. A primeira à esquerda é a curitibana Marina Hasson<br />

O encontro foi realizado entre os dias 30/8 a 3/9 em São<br />

Paulo, reunindo 115 voluntárias do Brasil, e contou com a<br />

participação especial da coordenadora do Departamento de<br />

Relações com a Diáspora de Na’amat Israel, Shirli Shavit. A<br />

Na’amat é uma Organização Feminina <strong>Judaica</strong> Beneficente,<br />

atuando em vários países, e no Brasil existe.<br />

Aconteceu em São Paulo, no Buffet<br />

França, o “Encontro de Mil Mulheres”<br />

que o Beit Chabad realiza<br />

todos os anos antes de Rosh Hashaná.<br />

Impressionou a organização do<br />

evento: recepcionistas para encaminhar<br />

as pessoas para suas mesas,<br />

mulheres trabalhando com listas,<br />

para formarem grupos de rezas<br />

de salmos (que é muito bem<br />

feito por aqui também), listas percorrendo<br />

o salão, para recolher<br />

nomes para brachot especiais, etc.<br />

Foram distribuídos “kits” contendo<br />

uma belíssima gravura com a<br />

Reza para o Lar, o calendário para<br />

o ano de 5767, bênçãos anteriores<br />

e posteriores a alimentos e um<br />

adesivo, para se colocar na geladeira,<br />

com o horário do acendimento<br />

das velas no Shabat e nos<br />

dias festivos.<br />

Foram reservadas duas mesas para<br />

a turma de Curitiba e esta foi homenageada<br />

por ter comparecido<br />

com 13 mulheres, fora as que estão<br />

residindo em SP. Foram servidos<br />

salgados e doces deliciosos com<br />

grife casher do Buffet França.<br />

Para a alegria das curitibanas presentes,<br />

a apresentação do Coral “Pirchei<br />

Chabad” teve um sabor especial.<br />

O coral conta com as belíssimas vozes<br />

de 33 crianças e é regido pelo paranaense,<br />

que está fazendo sucesso em<br />

SP, Hélcio Muller.<br />

O Rabino Chabsi Alpern, dirigiu a<br />

palavra a todas, desejando Shaná<br />

Tová e falando da importância da<br />

continuidade de todo trabalho que<br />

é dever de todo judeu: na ética e na<br />

força moral, que nos foram ensina-<br />

Colabore com notas para a coluna. Fone/fax 0**41 3018-8018 ou e-mail:<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

das desde o princípio dos tempos. O<br />

encontro terminou com o emocionante<br />

toque do Shofar.<br />

Parabéns a toda equipe, que conseguiu<br />

transformar uma tarde de<br />

2ª feira, num encontro do mais alto<br />

grau de espiritualidade.<br />

Agradecemos todas as mensagens<br />

que recebemos nos desejando um<br />

Shaná Tová.<br />

O 6º Festival de Cinema Brasileiro<br />

em Israel ocorreu em agosto, em<br />

Jerusalém e em Tel-Aviv, com direito<br />

a capoeiristas e sambistas.<br />

Entre os filmes projetados, “Brasília<br />

18%”, “Mulheres do Brasil” e<br />

“Bendito Fruto”. O prêmio de melhor<br />

filme, segundo o júri popular,<br />

ficou com “O casamento de<br />

Romeu e Julieta”.<br />

Foi lançada a revista eletrônica Aliança<br />

Cultural (www.brasilisrael.<br />

com.br), um projeto do Centro de<br />

Mídia Brasil-Israel e da B’nai B’rith<br />

do Rio de Janeiro. Com periodicidade<br />

mensal, ela surge com a intenção<br />

de divulgar ao público brasileiro<br />

notícias sobre cultura, história,<br />

ciência e tecnologia israelenses<br />

e de promover o intercâmbio<br />

entre Brasil e Israel nestas áreas. A<br />

publicação é editada por Janete Cozer,<br />

que já trabalhou inclusive no<br />

Jerusalem Post.<br />

Quatro israelenses estão entre as<br />

mulheres mais importantes do mundo<br />

na lista das 100 personalidades<br />

femininas com maior poder em todo<br />

o mundo, da revista norte-americana<br />

“Forbes”. Safra Catz é a mulher<br />

de Israel mais bem posicionada.<br />

Ela é presidente da Oracle. As<br />

outras são a ministra das Relações<br />

Exteriores Tzipi Livni, a diretora<br />

executiva do Banco Leumi, Galia<br />

Maor, e a diretora da multinacional<br />

Bain and Company, Orit Gadiesh.<br />

Catz, que encabeça a lista das israelenses,<br />

ocupa a 21ª posição, e é<br />

descrita como a mulher mais poderosa<br />

de Silicon Valley, à frente inclusive<br />

da diretora executiva da<br />

eBay.Inc, Meg Whitman.<br />

Sérgio Niskier (esquerda), presidente<br />

eleito da FIERJ, durante o desfile de 7<br />

de Setembro no Rio de Janeiro, com o<br />

marechal Waldemar Levy Cardoso<br />

A vice-ministra e ministra das Relações<br />

Exteriores Tzipi Livni, está em<br />

segundo lugar entre as israelenses,<br />

e em 40º lugar na lista, à frente de<br />

Laura Bush. Galia Maor, do Banco<br />

Leumi, está em terceiro lugar, e é<br />

a número 88 da lista da “Forbes”.<br />

A quarta, a carismática Orit Gadiesh,<br />

está no 99º lugar.<br />

A “Forbes” coloca como número 1 da<br />

lista a chanceler Angela Merkel — em<br />

sua condição feminina — como a<br />

política mais poderosa do mundo,<br />

seguida da Secretaria de Estado Condoleeza<br />

Rica e pela vice-primeira-ministra<br />

chinesa Wo Yi. A senadora por<br />

Nova York, Hilary Clinton, potencial<br />

candidata a presidente em 2008, ocupa<br />

o 18º lugar da lista.<br />

Nasceu em Curitiba, dia 17/9 Gabriel,<br />

filho do casal Daniel e Renata<br />

Naigeboren Benzecry. Os felizes<br />

avós, Clarita e Henrique Naigeboren,<br />

são só sorrisos. Mazal Tov!<br />

O artista plástico Aristide Brodeschi,<br />

responsável pelas belas capas<br />

das edições do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />

exibiu suas obras na Exposição<br />

“Harmonias”, do Solar do Rosário,<br />

em Curitiba, de 24 de setembro a 8<br />

de outubro.<br />

A Biblioteca do Exército - BI-<br />

BLIEX – acaba de lançar o livro<br />

“Yitzhak Rabin - o soldado da<br />

paz”, de David Horovitz e outros,<br />

ao preço de R$ 48,00. Aos interessados,<br />

maiores detalhes podem<br />

ser encontrados no site<br />

www.bibliex. com.br. É um livro<br />

irresistível e arrasador, palpitante<br />

e polêmico, incidental e transcendental,<br />

formidável combinação<br />

de jornalismo, história e biografia.<br />

Trabalho de uma equipe<br />

de jornalistas, de origem americana,<br />

que produz uma das melhores<br />

publicações israelenses,<br />

The Jerusalem Report. O livro<br />

está sendo publicado simultaneamente<br />

em seis idiomas e é recomendado.<br />

Informa Israel Blajberg,<br />

do Rio de Janeiro.<br />

Sérgio Niskier, presidente eleito<br />

da Federação Israelita do Estado<br />

do Rio de Janeiro (Fierj) no<br />

dia do desfile de 7 de setembro,<br />

no Rio, cumprimentou o<br />

Marechal Waldemar Levy Cardoso<br />

que, aos 105 anos, é o ultimo<br />

Marechal, sendo o mais antigo<br />

e idoso ex-combatente da<br />

FEB - Força Expedicionária Brasileira,<br />

da qual é o atual detentor<br />

do Bastão Simbólico de<br />

Comando. O marechal Levy descende<br />

pelo lado materno de uma<br />

família de judeus que emigraram<br />

do Marrocos no século 19.


Charles Krauthamer *<br />

hora de examinar de maneira<br />

crítica as crenças<br />

amplamente sustentadas.<br />

Em junho completouse<br />

o 40º aniversário da<br />

Guerra dos Seis Dias.<br />

Ao longo de quatro décadas nos<br />

dizem que a causa da raiva, da violência<br />

e do terror contra Israel é a<br />

sua ocupação dos territórios capturados<br />

nessa guerra.<br />

Ponha fim à ocupação, e “o ciclo<br />

da violência” cessará. O problema<br />

desta afirmação é que antes que<br />

Israel tomasse posse da Cisjordânia<br />

e Gaza, na Guerra dos Seis Dias,<br />

todos Estados árabes tinham rejeitado<br />

o direito de Israel existir, e<br />

declarado as fronteiras pré-1967 de<br />

Israel — que agora se supõe sejam<br />

sagradas — nada mais que linhas de<br />

armistício mantidas temporariamente<br />

e, que não punham fim à guerra<br />

de 1948-49 para aniquilar a Israel.<br />

Mas não é preciso ser historiador<br />

para compreender as intenções dos<br />

inimigos de Israel. Só é necessário<br />

ler os jornais de hoje.<br />

Prova A: Gaza. Apenas em setembro<br />

do ano passado, Israel evacuava<br />

Gaza por completo. Declarou fronteira<br />

internacional a fronteira entre Israel<br />

e Gaza, renunciando a qualquer direito<br />

sobre o território. Gaza se convertia<br />

no primeiro território palestino<br />

independente da história. Mas os<br />

habitantes de Gaza continuaram a<br />

guerra. Transformaram Gaza em uma<br />

base para lançar ataques contra Israel<br />

e para escavar túneis por baixo<br />

da fronteira para perpetrar ataques<br />

como o que matou dois soldados israelenses<br />

em 25 de junho e levou de<br />

volta a Gaza um refém ferido. Os tanques<br />

israelenses tiveram agora que<br />

voltar a Gaza e tentar resgatar o refém<br />

e eliminar o fogo dos mísseis.<br />

Prova B: Sul do Líbano. Duas semanas<br />

depois, a organização terrorista<br />

libanesa Hezbolá, que tem representação<br />

no Parlamento e no Governo<br />

libaneses, lançava um ataque<br />

contra Israel que terminou com a<br />

morte de oito soldados e dois mais<br />

feridos, que foram conduzidos ao<br />

Líbano como reféns.<br />

Qual é o agravo aqui? Israel retirou-se<br />

do Líbano em 2000. Foi tão<br />

escrupuloso na hora de assegurar-se<br />

de que nem uma polegada quadrada<br />

Pelo que lutam<br />

do Líbano ficaria ocupada inadvertidamente<br />

que pediu às Nações Unidas<br />

que verificasse a fronteira exata<br />

que define o limite sul do Líbano, e<br />

se retirou para trás dela. Esta “demarcação”<br />

foi aprovada pelo Conselho<br />

de Segurança, que declarou que<br />

Israel tinha cumprido por completo<br />

as resoluções que exigiam sua retirada<br />

do Líbano. Agravo satisfeito.<br />

Mas o que acontece? O Hezbolá fez<br />

no sul do Líbano exatamente o mesmo<br />

que o Hamas fez em Gaza: converteu-o<br />

em base militar e centro de<br />

operações terroristas para continuar<br />

a guerra contra Israel. O sul do Líbano<br />

deixa os cabelos em pé com os<br />

10.000 mísseis Katyusha do Hezbolá<br />

que pressionam o norte de Israel.<br />

Disparados nas primeiras horas de<br />

luta, apenas 85 deles matavam dois<br />

israelenses e feriam 120 em cidades<br />

do norte de Israel.<br />

Ao longo dos seis últimos anos,<br />

o Hezbolá lançou disparos periódicos<br />

e ataques de morteiros contra<br />

Israel. A resposta israelense foi não<br />

responder a estas provocações, até<br />

o seguinte momento conveniente<br />

para o Hezbolá. No dia 12/7 foi tal<br />

momento. Uma base do terrorismo<br />

localizada em território de ocupação<br />

completamente árabe (o sul do<br />

Líbano) atacou Israel em apoio a<br />

outra base do terrorismo em território<br />

de ocupação completamente<br />

árabe (Gaza).<br />

Por quê?<br />

Porque a ocupação era uma simples<br />

desculpa para persuadir os ocidentais<br />

historicamente ignorantes e<br />

levados com facilidade a apoiar a<br />

causa árabe contra Israel. O tema é,<br />

como foi sempre, a existência de Israel.<br />

Isso é o que está em jogo.<br />

Foi a Organização para a Libertação<br />

da Palestina de Yasser Arafat a<br />

que convenceu o mundo que o problema<br />

era a ocupação. Mas ainda assim,<br />

ao longo de todos aqueles anos<br />

de engodo, o próprio grupo de Arafat<br />

celebrava seu Dia da Fatah anual<br />

no aniversário do primeiro ataque<br />

contra Israel, a destruição do Canal<br />

Nacional de Água de Israel, em 1º de<br />

janeiro de 1965. Observe: 1965. Dois<br />

anos antes da guerra de 1967. Dois<br />

anos antes que Gaza e Cisjordânia<br />

caíssem em mãos israelenses. Dois<br />

anos antes que houvesse algum “território<br />

ocupado”. Mas, de novo,<br />

quem precisa da história? Todas as<br />

desculpas palestinas para continuar<br />

sua guerra caem uma após outra, a<br />

retórica se faz mais sincera e honesta.<br />

Justamente no dia 11/7 passado,<br />

o primeiro ministro palestino,<br />

Ismail Haniya, escrevia no The Washington<br />

Post e se referia a Israel<br />

como “um estado presumidamente<br />

ilegítimo”. Deixava claro que quer<br />

acabar com esta entidade bastarda.<br />

“Ao contrário das representações<br />

populares da crise nos meios de comunicação<br />

americanos”, escreve, “a<br />

disputa não trata somente de Gaza<br />

e Cisjordânia”. Trata de “um conflito<br />

nacional mais genérico” que exige<br />

o cumprimento dos “direitos nacionais<br />

palestinos”.<br />

Isso, é claro, significa direito a<br />

toda Palestina, sem Estado judeu.<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Em 1967 Israel conseguia “os<br />

territórios ocupados”. Em 1948 Israel<br />

conseguia a vida. A luta que ressoa<br />

agora em 20<strong>06</strong> entre Israel e o<br />

“islamismo genocida” (para citar o<br />

escritor Yossi Klein Halevi) do Hamas<br />

e do Hezbolá, e do Irã respaldando-os,<br />

trata de se essa vida deveria<br />

continuar existindo e se continuará<br />

a existir.<br />

* Charles Krauthamer é colunista do The Washington Post e Time e Prêmio<br />

Pullitzer de 1987<br />

<strong>VJ</strong> INDICA<br />

Palavras de amor<br />

FILME<br />

Elenco: Richard Gere, Juliette Binoche, Flora<br />

Cross.<br />

Gênero: drama<br />

Distribuidora: Fox<br />

Disponibilidade: em DVD<br />

A descoberta do talento de uma garota em concursos de soletração, altera todo<br />

o cotidiano de uma família de origem judaica aparentemente perfeita. Com isso, o pai<br />

da jovem, um professor de teologia, torna-se obsessivo no treinamento de sua filha,<br />

atrapalhando a harmonia da casa, que ainda reúne o filho e a sua esposa.<br />

19


20 (com<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

VISÃO<br />

Irving pega três anos de prisão<br />

Ao rejeitar um recurso judicial a Suprema<br />

Corte da Áustria condenou o revisionista<br />

britânico David Irving a três anos de prisão,<br />

por ter negado o Holocausto contra o<br />

povo judeu, confirmando a sentença que<br />

lhe fora imposta em fevereiro deste ano<br />

por um tribunal regional de Viena. A duração<br />

da pena, entretanto, pode ser revisada<br />

numa nova reunião do tribunal regional<br />

de Viena, que seria realizada dentro de dois<br />

meses. Durante seu julgamento, o “historiador”<br />

Irving, de 67 anos, se declarou culpado<br />

pelo crime previsto no código penal austríaco<br />

como “negacionismo”, ou seja, a<br />

negação do Holocausto e dos crimes nazistas<br />

contra a humanidade, que lhe deram<br />

popularidade nos círculos revisionistas de<br />

extrema direita. (Agência Estado).<br />

Por que foi condenado?<br />

A condenação se baseia em dois discursos<br />

públicos de Irving na Áustria, realizados em<br />

1989, nos quais negou a existência das câmaras<br />

de gás no antigo campo de concentração<br />

de Auschwitz, na Polônia. Além disso,<br />

alegou que a “Noite dos Cristais”, primeira<br />

grande perseguição violenta contra<br />

os judeus da Alemanha e da Áustria, em<br />

1938, não foi feita pelos nazistas. Irving<br />

foi detido durante uma operação policial em<br />

uma estrada no sul da Áustria, em novembro<br />

do ano passado, e está em uma prisão<br />

de Viena desde então. (Agência Estado).<br />

A tragédia do Holocausto<br />

“A tragédia do Holocausto é um fato histórico<br />

triste e irrefutável. Devemos aceitar o<br />

fato e ensinar às crianças sobre o que aconteceu<br />

na 2ª Guerra Mundial para garantir<br />

que nunca se repita”. A frase foi pronunciada<br />

por Kofi Annan, secretário-geral da ONU,<br />

dia 3/9 no Irã, para observar que o Holocausto<br />

é um “fato histórico inegável”. O discurso<br />

foi logo depois de encontro que manteve<br />

com o presidente do país, Mahmoud<br />

Ahmadinejad, que tem provocado polêmica<br />

ao contestar o massacre de 6 milhões de<br />

judeus. Annan também condenou uma exposição<br />

de caricaturas em Teerã sobre o<br />

Holocausto, promovida por um jornal iraniano<br />

em retaliação à publicação de charges<br />

do profeta muçulmano Maomé em jornais<br />

da Europa. (Reuters).<br />

Registro para judeus expulsos<br />

de países árabes<br />

panorâmica<br />

Há mais de cinqüenta anos, cerca de um<br />

milhão de judeus foram obrigados a sair<br />

dos países árabes. Agora, os refugiados<br />

judeus e seus descendentes podem se registrar<br />

on line em um processo para receber<br />

reparações pelo sofrimento e pelas<br />

perdas. O programa de registro on line foi<br />

lançado pela Justice for Jews from Arab<br />

Countries (JJAC), como parte de uma Campanha<br />

de Direito e Reparações Internacionais,<br />

que será lançada em novembro de<br />

20<strong>06</strong>. Mais de 40 entidades judaicas de<br />

informações das agências AP, Reuters,<br />

AFP, EFE, jornais Alef na internet, Jerusalem<br />

Post, Haaretz e IG)<br />

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• Yossi Groisseoign<br />

todo mundo se uniram para o lançamento<br />

desta iniciativa, entre elas a Confederação<br />

Israelita do Brasil. Também é possível<br />

registrar as narrativas de familiares através<br />

do site www.justiceforjews.com. (JJAC).<br />

Menem sofre nova acusação<br />

Um ex-chefe dos serviços secretos da Argentina<br />

comprometeu Carlos Menem num<br />

processo que averigua as irregularidades<br />

nas investigações do atentado contra a<br />

associação judaica Amia, em 1994, ao dizer<br />

que o ex-presidente teria dado dinheiro<br />

para incriminar policiais pelo ataque.<br />

Hugo Anzorreguy, ex-chefe da Secretaria<br />

de Inteligência do Estado (Side), disse ter<br />

dado US$ 400 mil ao juiz responsável pelo<br />

caso, Juan José Galeano, que teria entregue<br />

o valor ao vendedor de automóveis<br />

Carlos Telleldín para que incriminasse policiais.<br />

“Não tinha outra opção a não ser<br />

entregar o dinheiro por três razões: a Side<br />

era um organismo colaborador da Justiça<br />

pelas leis de inteligência que regulamentavam<br />

o dever de colaboração, por disposição<br />

do juiz e pela decisão do então presidente”,<br />

declarou Anzorreguy, em referência<br />

a Menem. O ataque terrorista contra a<br />

sede da Associação Mutual Israelita Argentina<br />

(Amia), em 18 de julho de 1994 causou<br />

a morte de 85 pessoas e deixou mais<br />

de 200 feridas. (Agência Efe)<br />

Menem II<br />

Anzorreguy é acusado de peculato (desvio<br />

de dinheiro público) no processo e 22 pessoas,<br />

entre elas Telleldín e vários ex-policiais<br />

acusados de cumplicidade no atentado<br />

foram absolvidos por falta de provas em<br />

setembro de 2004. O ex-juiz Galeano, que<br />

ficou responsável pelo caso por quase uma<br />

década, foi destituído do cargo em 2005<br />

por mau desempenho das suas funções durante<br />

a investigação. O atentado contra a<br />

Amia foi o segundo ataque terrorista contra<br />

alvos judaicos na Argentina, depois do<br />

atentado contra a Embaixada de Israel, em<br />

Buenos Aires, cometido em 17 de março de<br />

1992 e que deixou 29 mortos. Os dois ataques<br />

foram atribuídos a organizações terroristas<br />

islâmicas, mas em nenhum dos dois<br />

casos as investigações conseguiram prender<br />

os responsáveis. (Agência Efe).<br />

Novo embaixador do Brasil em Israel<br />

Pedro Motta Pinto Coelho é o novo embaixador<br />

do Brasil em Israel, em substituição<br />

a Sérgio Eduardo Moreira Lima, que ocupou<br />

o cargo desde 2002. Ministro de Primeira<br />

Classe da Carreira de Diplomata do<br />

Ministério das Relações Exteriores, Motta<br />

Pinto ocupará, cumulativamente, a função<br />

de embaixador no Chipre. Ele foi diretorgeral<br />

do Departamento de África e Oriente<br />

Próximo em 2001 e 2003, ministro-conselheiro<br />

da Embaixada em Buenos Aires em<br />

1994; e cônsul-geral em Lisboa em 1999,<br />

além de chefiar delegações brasileiras em<br />

reuniões internacionais na área de Comércio<br />

Internacional, Meio Ambiente e outros<br />

setores. Já recebeu a Ordem do Mérito<br />

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Aeronáutico, Ordem de San Martin, grau<br />

oficial; Ordem do Libertador S. Bolivar,<br />

comendador; e Ordem do Mérito de Defesa,<br />

grande-oficial. (Intercâmbio – Câmara<br />

Brasil –Israel de Comércio e Indústria).<br />

Espanha emite selo sobre Israel<br />

Para marcar o 20º aniversário das relações<br />

entre Espanha e Israel os correios espanhóis<br />

emitiram um selo comemorativo multicolor,<br />

com tiragem de 600 mil exemplares<br />

e valor facial de 0,78 centavos de Euro.<br />

As relações diplomáticas regulares foram<br />

estabelecidas entre os dois países em<br />

1986. O selo estampa as fotografias de<br />

um capitel do século XIII que se encontra<br />

no Museu de Mallorca, remetendo ao período<br />

medieval e à Espanha judaica, e a<br />

fachada do Santuário do Livro, em Jerusalém.<br />

(Correos de España).<br />

Mulher assume presidência<br />

da Suprema Corte<br />

A juíza Dorit Beinisch é a primeira mulher<br />

a ocupar a presidência da Suprema Corte<br />

de Israel. Ela tem 64 anos, duas filhas e<br />

nasceu em Tel-Aviv. Completou seu serviço<br />

militar, chegando ao posto de primeiro-tenente,<br />

e fez mestrado pela Universidade<br />

Hebraica. Começou sua carreira trabalhando<br />

no escritório do Promotor Público em<br />

1970, e foi indicada promotora pública em<br />

1989. Em 1995, foi eleita juíza da Suprema<br />

Corte. (Jornal Alef).<br />

Irã acusa o Papa de conspirar<br />

“As declarações do papa Bento 16 sobre o<br />

islã e a violência são parte de uma cruzada<br />

EUA-Israel contra os muçulmanos”, declarou<br />

Ali Khamenei, líder supremo e autoridade<br />

máxima do Irã. “Líderes dos arrogantes<br />

imperialistas já definiram as ligações<br />

da cruzada neste projeto EUA-Sionista com<br />

os ataques ao Iraque”, disse Khamenei em<br />

discurso transmitido pela TV estatal. “O problema<br />

das caricaturas ofensivas e os discursos<br />

de alguns políticos sobre o islã são<br />

partes diferentes na conspiração dos cruzados<br />

e o discurso do Papa é a última parte<br />

nisto”, acrescentou. O porta-voz do governo<br />

iraniano, Gholam-Hoeein Elham, afirmou<br />

que a explicação de Bento 16 após as declarações<br />

sobre o islã não foram suficientes.<br />

“Ele tem que dizer claramente que o<br />

que disse foi um erro e corrigir as declarações”,<br />

acrescentou. (France Presse).<br />

Wiesel pede a expulsão do Irã da ONU<br />

O Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel propôs<br />

em 17 de setembro que o Irã seja expulso<br />

da Organização das Nações Unidas (ONU).<br />

“Comecei uma campanha pela expulsão do<br />

Irã da ONU e pela qualificação de seu pre-<br />

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sidente como persona non grata em todo o<br />

mundo (...) porque ele ameaça destruir um<br />

Estado-membro”. Recentemente, o presidente<br />

iraniano Mahmoud Ahmadinejad afirmou<br />

que queria que Israel “sumisse do<br />

mapa” e chamou o Holocausto nazista de<br />

mito. Wiesel, que sobreviveu aos campos<br />

de concentração nazistas de Auschwitz e<br />

Buchenwald durante a 2ª Guerra Mundial,<br />

foi agraciado com o “Prêmio Nobel da Paz”<br />

em 1986. (Jornal Alef).<br />

Prêmio Raoul Wallenberg a Colina<br />

A Fundação Internacional Raoul Wallenberg<br />

concedeu o Prêmio Raoul Wallenberg 20<strong>06</strong><br />

a Jesús Colina, editor da Agência Internacional<br />

Católica de Notícias Zenith “pelo<br />

mérito e a excelência do trabalho informativo<br />

colocado a serviço do diálogo interconfessional<br />

e à reconciliação”. O prêmio<br />

foi entregue na Cidade do Vaticano,<br />

em 2/9. O prêmio foi instituído com o objeto<br />

de distinguir as pessoas que por suas<br />

ações e por seu trabalho o mereçam e foi<br />

entregue pela primeira vez em 2000. Raoul<br />

Wallenberg é um o herói que salvou<br />

100.000 pessoas durante a Segunda Guerra<br />

Mundial. Foi capturado por tropas soviéticas<br />

e não mais foi visto. (FIRW).<br />

Julgamento de três terroristas do Hezbolá<br />

Três libaneses da organização terrorista<br />

Hezbolá presos por Israel tiveram seus julgamentos<br />

iniciados em setembro, no tribunal<br />

do distrito da cidade de Nazaré. São<br />

acusados de assassinato, tentativa de assassinato<br />

e participação em organização<br />

terroristas. Um deles, Hussein Suleiman,<br />

de 22 anos, especialista em foguetes antitanque,<br />

treinado no Irã, foi acusado de<br />

participar na operação comandada pelo<br />

Hezbolá que, em 12 de julho, matou oito<br />

soldados israelenses na fronteira, e seqüestrou<br />

os militares Eitan Regev e Ehud Goldwasser,<br />

os quais ainda estão em poder da<br />

organização. O segundo é Abed el Hamid<br />

Srur, de 20 anos, e o terceiro é Maher Kurani,<br />

de 30 anos, também treinado no Irã<br />

para a luta contra carros blindados e a<br />

empunhar armas antiaéreas. A operação<br />

do Hezbolá contra dois carros de uma patrulha<br />

israelense junto à fronteira entre<br />

os dois países desencadeou a reação de<br />

Israel diante da agressão que sofreu. Durante<br />

a guerra contra o Hezbolá, o norte<br />

de Israel e sua população civil foram bombardeados<br />

por cerca de 4.000 mísseis fornecidos<br />

pelo Irã, e disparados do território<br />

libanês. (Videversus).<br />

Mais prêmio Nobel<br />

O vencedor do Prêmio Nobel de Química deste<br />

ano, Roger Kornberg é um professor associado<br />

da Universidade Hebraica de Jerusalém.<br />

Judeu norte-americano, ele teve reconhecida<br />

sua pesquisa sobre como os genes<br />

são copiados. A universidade congratulou<br />

Roger Kornberg por sua vitória. Ele é professor<br />

de biologia estrutural da Universidade<br />

de Stanford e associado ao departamento<br />

de biologia da Universidade Hebraica.<br />

“Estamos orgulhos do professor Kornberg,<br />

que esteve trabalhando conosco por vários<br />

anos”, disse o presidente da Universidade<br />

Hebraica, Menachem Magidor. O pai do premiado,<br />

Arthur Kornberg, em 1959 ganhou o<br />

Prêmio Nobel de Medicina. Outro judeu, o<br />

israelense Amos Oz, está sendo cotado para<br />

o prêmio Nobel de Literatura. (Agências)


ocê sabe, é engraçado.<br />

Durante anos eu tenho<br />

tentado conseguir<br />

que as pessoas prestem<br />

atenção às mortes, a destruição e<br />

às injustiças que são cometidas no<br />

meu Líbano amado.<br />

Mas ninguém se preocupou.<br />

Quando a Organização da Liberação<br />

da Palestina (OLP) de Yasser Arafat<br />

tentou apoderar-se do país e fazer<br />

dele seu pátio de recreio terrorista,<br />

ninguém se incomodou.<br />

Quando pessoas morriam aos milhares<br />

durante a guerra civil, ninguém<br />

se preocupou.<br />

Quando a Síria manteve sua bota<br />

no pescoço do seu minúsculo vizinho<br />

durante 25 anos, ninguém se<br />

preocupou.<br />

Quando o Irã despachou os terroristas<br />

do Hezbolá ao país para arruinar<br />

a autonomia libanesa, ninguém<br />

se preocupou.<br />

Quando os muçulmanos perseguiram<br />

milhões de cristãos no Líbano,<br />

desequilibrando a balança de forças,<br />

ninguém se preocupou.<br />

Mas agora, todos os olhos estão<br />

no Líbano.<br />

Você sabe por quê?<br />

Porque Israel tentou limpar esse<br />

vespeiro. Agora, tudo o que ouvimos<br />

falar é sobre quantos libaneses<br />

morreram.<br />

Posso deixá-lo a par de um pequeno<br />

segredo?<br />

Adivinhe qual o número total de<br />

vítimas entre os libaneses durante a<br />

extensão desta guerra, inclusive terroristas<br />

do Hezbolá, muitos dos quais<br />

nem são realmente libaneses?<br />

É melhor você se sentar.<br />

O número total de mortes é<br />

cima de 500 1 .<br />

Agora, longe de eu minimizar o<br />

total de mortes. Uma única morte<br />

inocente é uma tragédia. Mas este é<br />

o total de todos os terroristas, civis,<br />

exército libanês, tudo.<br />

O mundo inteiro enlouqueceu<br />

com esta “matança”. Os franceses, os<br />

russos, os britânico e, sim, os paquistaneses.<br />

O que é necessário é um pouco de<br />

perspectiva aqui. Eu posso oferecê-la?<br />

Só no mês de julho, tropas norte-americanas<br />

no Afeganistão anunciaram<br />

ter matado 600 “suspeitos”<br />

talibãs. Isso foi só num mês.<br />

Temos ocupado este país estrangeiro<br />

desde 2002. Começou com relação<br />

ao ataque terrorista de 11 de<br />

Setembro. Forças norte-americanas<br />

atravessaram meio mundo para atacar<br />

uma nação soberana, derrubar o<br />

governo e matar tantas pessoas<br />

quanto julgasse necessário durante<br />

os últimos cinco anos para prevenir<br />

mais ataques terroristas no futuro.<br />

Poucos diriam que o Afeganistão representa<br />

qualquer ameaça iminente<br />

para os EUA hoje. A propósito, de<br />

acordo com porta-vozes do exército<br />

norte-americanos, um total de<br />

1.700 afegãos foram mortos desde<br />

o início do ano. Isso inclui alguns<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Todos os olhos sobre o Líbano<br />

Joseph Farah *<br />

Vi um adesivo num carro com os seguintes<br />

dizeres: “Seja bom com seus filhos. Serão eles<br />

que escolherão seu asilo de velhos”. Se alguém<br />

acha esta frase cômica, é porque há um fundo<br />

de verdade nela. Devemos ser bons com nossos<br />

filhos porque esta é a coisa certa a ser feita.<br />

Entretanto, há coisas que podemos fazer para<br />

ajudar as crianças (ou adolescentes, ou até mesmo<br />

adultos) a desenvolverem a perspectiva correta<br />

sobre gratidão, bondade e prioridades.<br />

Gostaria de compartilhar com vocês um trecho<br />

do livro Thank You!, sobre como educar os<br />

filhos a serem bem agradecidos. E se você ainda<br />

não tem filhos, talvez isto o ajude a se relacionar<br />

ainda melhor com seus pais:<br />

“Sejamos modelos exemplares de gratidão.<br />

Possibilitemos a nossos filhos a oportunidade<br />

de ouvir frequentemente que somos gratos ao<br />

civis, alguns trabalhadores de salvamento<br />

e mais de 70 soldados de<br />

tropas estrangeiras.<br />

Mas, desde a última vez que verifiquei,<br />

não houve demonstrações<br />

nas ruas dos Estados Unidos, ou em<br />

outro lugar ao redor do mundo sobre<br />

esta guerra.<br />

Ao contrário, todo mundo explodiu<br />

de raiva pelo Líbano. Por falar<br />

nisso, o governo do Afeganistão,<br />

instalado pelos EUA, está satisfeito<br />

com a guerra. O presidente Hamid<br />

Karzai quer ver os terroristas arrancados<br />

para fora do seu pai. Ele reconhece<br />

que representa a melhor chance<br />

de sua nação tornar-se livre.<br />

Enquanto isso, no Líbano, um<br />

governo que tolerou bases terroristas<br />

em seu território durante anos<br />

e anos, está repentinamente indignado<br />

com a retaliação de Israel contra<br />

os ataques incessantes a partir<br />

dessas fortalezas Alguma coisa disso<br />

faz sentido?<br />

Você acha realmente que esses<br />

gritos sobre o derramamento de sangue<br />

no Líbano são algum lamento pelo<br />

Líbano? Nesse caso, onde eles estavam<br />

durante os últimos 30 anos?<br />

Por que o Líbano é a manchete<br />

de todo noticiário? Por que o Líbano<br />

está na primeira página de todo<br />

jornal? Você não tem a impressão de<br />

que a violência lá é provavelmente<br />

pior do que em qualquer outro lugar<br />

do planeta, neste enfoque? Claramente,<br />

não é.<br />

E a única diferença é quem está fazendo<br />

de alvo o Líbano e chutando-o.<br />

Todo-Poderoso por todo o bem que ele nos faz<br />

em nossas vidas”;<br />

“Possibilitemos a nossos filhos ouvirem frequentemente<br />

de nós que somos gratos a nossos<br />

pais pelo que fizeram por nós e pelo que<br />

nos ensinaram”;<br />

“Possibilitemos a nossos filhos ouvirem frequentemente<br />

de nós que somos gratos a nossos<br />

amigos, parentes e vizinhos pelas coisas que nos<br />

fizeram, recentemente e há muito tempo atrás”;<br />

“Possibilitemos a nossos filhos ouvirem frequentemente<br />

de nós que somos gratos a eles<br />

pelas coisas positivas que fazem”;<br />

“Os pais precisam explicitamente ensinar seus<br />

filhos que a gratidão é uma característica muito<br />

especial que precisa ser desenvolvida e aprimorada.<br />

As crianças devem ser ensinadas a dizer<br />

Como um americano de origem<br />

libanesa e síria, eu não quero ver um<br />

“cessar-fogo”. Quero ver o Líbano livre<br />

da ferrugem terrorista, de uma<br />

vez por todas. Quero ver o Líbano<br />

livre da dominação do Irã e da Síria.<br />

Quero ver o Líbano ser o Líbano.<br />

Eu não quero ver o Líbano sofrer<br />

durante outros 30 anos. Está na hora<br />

de limpar a desordem e permitir a este<br />

pobre e pequeno país que se cure.<br />

E isso significa libertar-se da<br />

doença do Hezbolá agora.<br />

Para o Dia das Crianças<br />

21<br />

* Joseph Farah é jornalista árabe-cristão americano,<br />

fundador, editor e diretor do World Net Daily. Colunista<br />

internacionalmente conhecido, seu mais recente livro é<br />

“Taking América Back” (Levando a América para Trás).<br />

Ele também edita semanalmente um boletim informativo de<br />

inteligência on-line chamado “Joseph Farah’s G2<br />

Bulletin”, no qual utiliza suas fontes de informação que<br />

desenvolveu ao longo de mais de 30 anos de carreira na<br />

área de notícias.<br />

‘obrigado!’, quando outros lhe fazem algum favor.<br />

Entretanto, todos os ‘sermões’ do mundo não<br />

têm o poder que o nosso exemplo pessoal pode<br />

passar à criança”;<br />

“Quando alguém fizer algo por seu filho, além<br />

de apenas dizer a seu filho(a) para ser educado(a)<br />

e falar ‘obrigado!’, você pode dizer-lhe: ‘A gratidão<br />

é muito importante. Cada vez que você agradece<br />

alguém, está fortificando mais e mais sua<br />

característica de gratidão. Portanto, alegre-se<br />

com cada oportunidade que se apresenta’”;<br />

“Para ajudarmos alguém a aprender e/ou desenvolver<br />

sua gratidão, podemos acrescentar<br />

perguntas ao final de uma frase. Por exemplo:<br />

‘Foi muito bonito da parte daquela pessoa nos<br />

ajudar a carregar este pacote pesado, não foi?’<br />

Ou ‘A bondade dela merece um grande ‘obrigado’,<br />

você não acha?’“<br />

* Publicado no boletim eletrônico Meór HaShabat e extraído do livro “Thank You! – Fratitude: Formulas, Stories and Insights” (Obrigado! – Gratidão: Fórmulas,<br />

Estórias e Pensamentos) do Rabino Zelig Pliskin.<br />

1 - O autor faz referência<br />

ao número de<br />

vítimas no Líbano<br />

como sendo 500<br />

porque escreveu este<br />

texto durante o<br />

desenrolar da guerra<br />

de Israel contra o<br />

Hezbolá.


22<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Democracia<br />

disfuncional<br />

Nahum Sirotsky*<br />

a tela do meu computador tenho<br />

longa lista de veículos de todos<br />

os países. É obrigação de ter uma<br />

idéia do que vai pelo mundo. Com<br />

um clique navego para o que se diz<br />

e se escreve sobre o tema que escolho. É assim<br />

que sempre confirmo como é difícil estar<br />

informado. Um mesmo fato nunca deixa de ter<br />

versões diversificadas, representando diferentes<br />

pontos de vista. Se assim é em contextos<br />

nacionais imagine-se no internacional. Ser bem<br />

informado implica em se compreender um fato<br />

em todas as suas dimensões, praticamente impossível,<br />

pois que são incontáveis... Por exemplo,<br />

o monoteísmo significa que existe um só<br />

D-us, mas são em centenas, ou mais, o entendimento<br />

de tal conceito. Quantas são as seitas<br />

de uma mesma fé? Tento o melhor, mas é inevitável<br />

a infiltração inconsciente do que já está<br />

no meu subconsciente. Há sempre um ponto<br />

de referência que se fixa.<br />

Em tese sei por que se massacram sunitas e<br />

xiitas, seitas muçulmanas, no Iraque. As diferenças<br />

entre eles na compreensão da fé são<br />

mínimas. Não justificam que a convivência seja<br />

aparentemente impossível a não ser imposta<br />

pela mão dura do ditador.<br />

Percorro a história de todas as expressões<br />

do monoteísmo e encontro sempre guerras civis.<br />

Aconteceu com as tribos hebraicas quando<br />

saíram do deserto e entraram na Terra Prometida.<br />

Sob formas diferentes desentendimentos<br />

persistem até hoje. O cristianismo tem uma<br />

longa história de sangrentos conflitos. O passado<br />

do Islã também é sangrento. Mas atravessa<br />

nova fase de lutas intestinas e confrontos<br />

com não muçulmanos.<br />

A Faixa de Gaza cobre cerca de 360 quilômetros<br />

quadrados dentro dos quais se apertam<br />

um milhão e 500 mil palestinos.Tem algumas<br />

das mais belas praias naturais do mar Mediterrâneo<br />

e não tem água para beber. É área de<br />

gente pobre e miserável com uma pequena de<br />

minoria abastada.<br />

E parte da região da chamada Autoridade<br />

Palestina da qual está separada uma seção de<br />

outra uns tantos quilômetros de território israelense.<br />

Os palestinos estão em conflito com<br />

Israel há uns cem anos.<br />

A Autoridade Palestina resultou de acordos<br />

entre Israel e a liderança do Movimento<br />

Nacional Palestino, o Fatah, liderado por Yasser<br />

Arafat. A idéia era de que viria a surgir um<br />

estado palestino independente. Parte do território<br />

palestino havia estado sob o domínio<br />

da Jordânia que preferira não incorporá-la o<br />

que, provavelmente, seria aceito pela Comunidade<br />

Internacional. Dois terços da população<br />

da Jordânia, país sob uma monarquia de árabes<br />

beduínos, tribos vindas da Arábia, era e é<br />

de palestinos. A incorporação da Cisjordânia<br />

transformaria os palestinos em maioria. Mas a<br />

monarquia temia o que aconteceria se houvesse<br />

mais milhões de palestinos...<br />

Arafat dominava com braço forte. Morreu.<br />

Ele foi substituído por Abu Mazen, também do<br />

Fatah, em eleições. A disciplina imposta pelo<br />

regime autoritário de Arafat se desmanchou<br />

ao assumir um sistema de poderes compartilhados.<br />

No seio do sistema de Arafat, que se pode<br />

qualificar de secular, cresceu o Hamas (Movimento<br />

Islâmico de Resistência) que implantou,<br />

principalmente na faixa de Gaza, um eficiente<br />

sistema de assistência social que incluía clínicas,<br />

ajuda econômica, escolas. De islâmico puritanismo<br />

a liderança do Hamas ganhou o povo.<br />

E a maioria no Parlamento palestino o que lhe<br />

deu o direito de assumir as funções de Primeiro<br />

Ministro e outros ministérios.<br />

Abu Mazen, o presidente eleito em pleito<br />

anterior, manteve os poderes que eram de sua<br />

função, apoiado nas forças de segurança e policiais.<br />

O conflito tornou-se inevitável. Os 160<br />

mil funcionários públicos, incluindo a tropa,<br />

eram de nomeados pelo Fatah, mas o Hamas<br />

passou a programar a tomada do comando do<br />

Estado com gente de sua escolha. Começou<br />

nomeando para cargos de confiança. O entendimento<br />

se tornou cada dia menos provável.<br />

Quem era funcionário não queria perder o lugar.<br />

Abu Mazen preferia negociar a criação do<br />

estado palestino e aceitara o mapa do caminho,<br />

o ”roadmap” traçado pelo Quarteto-Estados<br />

Unidos, Rússia, Nações Unidas, Europa. O<br />

Hamas, representando a crescente tendência<br />

da massa árabe e segmentos de intelectuais<br />

por sistemas teocráticos, como o do Irã, inspirados<br />

e orientados pela sharia, a lei islâmica,<br />

deixou claro que iria impor tal sistema na<br />

área palestina e jamais reconheceria o direito<br />

de Israel a existir.<br />

O desentendimento entre o Fatah e o Hamas<br />

aprofundou-se quando as potências concordaram<br />

em impor sanções ao governo palestino<br />

que sofreu suspensão da ajuda internacional.<br />

Abu Mazen pressiona o Hamas para que<br />

mude sua promessa de se empenhar na extinção<br />

do estado judeu. Chegam perto e se distanciam<br />

do entendimento. Falta de tudo em<br />

Gaza. Não há ordem pública. Brigam os que<br />

aceitam a orientação de Abu Mazen com aqueles<br />

que optam pela do Hamas. Os palestinos<br />

estão a milímetros de uma sangrenta guerra<br />

civil. E assim afastam a hipótese de retomada<br />

de negociações com Israel para chegarem ao<br />

seu sonhado estado independente. E de voltarem<br />

a ter o que comer...<br />

A questão palestina só tem solução possível<br />

por meios políticos. Mas pode se repetir o<br />

que acontece no Iraque onde os muçulmanos<br />

se matam uns aos outros e afastam o dia em<br />

que os americanos poderão sair do país. As<br />

soluções democráticas, por eleições, não parecem<br />

viáveis. Não se trata de diferenças de<br />

ambições entre partidos entre os quais os derrotados<br />

sempre têm a alternativa de sustentarem<br />

a luta como oposição. Entre os palestinos,<br />

como no Iraque, é guerra religiosa, de<br />

incompatibilidades aparentemente intransponíveis.<br />

De se tentar ganhar para se ficar com o<br />

poder absoluto submetendo a ele as minorias.<br />

* Nahum Sirotsky é jornalista, correspondente da RBS e do Último Segundo/IG em Israel. A<br />

publicação desta coluna tem a autorização do autor.<br />

Chargistas brasileiros<br />

participam da mostra iraniana<br />

que nega o Holocausto<br />

Vinte e um chargistas brasileiros participaram da mostra polêmica<br />

— o festival iraniano de charges sobre o Holocausto, em Teerã.<br />

Chama a atenção o fato do Brasil ter sido o país com o terceiro maior<br />

número de inscritos, perdendo apenas para o próprio Irã e para a<br />

Turquia, ambos com população de maioria muçulmana.<br />

Em exibição no Museu Palestina de Teerã até o dia 13 de setembro,<br />

o evento foi proposto durante a onda de protestos mundiais<br />

contra as caricaturas do profeta Maomé publicadas pelo jornal dinamarquês<br />

Jyllands-Posten no ano passado. A polêmica provocou a<br />

reação do jornal iraniano Hamshahri, controlado pelo governo de<br />

Teerã, que estimulou a realização do festival. A iniciativa, claro, teve<br />

amplo apoio do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad - que<br />

não hesita em pôr em dúvida a ocorrência do Holocausto e defende<br />

a destruição do Estado de Israel.<br />

Para o presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, o chargista<br />

José Alberto Lovetro, o Jal, parte da explicação está no grande<br />

número de desenhistas brasileiros e na falta de canais para esses artistas<br />

se expressarem. Assim, segundo ele, quando há festivais internacionais,<br />

o Brasil é sempre um dos países com maior número de inscritos.<br />

Mas Jal explica que é grande o intercâmbio entre artistas iranianos<br />

e brasileiros. Em constante contato com a organização de festivais<br />

de humor, ele explica que muitos artistas de países de maioria<br />

muçulmana costumam participar dos eventos no Brasil. “Pode parecer<br />

estranho, mas o Irã é um dos países com maior número de humoristas<br />

por metro quadrado”, diz.<br />

Explicação semelhante também foi dada por Eloar Guazzelli, que<br />

participa do festival. Com várias premiações no currículo - como o<br />

Excellence Prise do jornal japonês Yomiury Shimbum e o 1º lugar na<br />

edição de 2002 do Salão Internacional de Humor de Piracicaba -, o<br />

quadrinista acredita que o fenômeno deva-se principalmente à grande<br />

atuação brasileira em competições internacionais. Segundo o autor,<br />

é no mercado exterior que os conterrâneos encontraram espaço<br />

para divulgar seus trabalhos. “Somos mais reconhecidos lá fora do<br />

que aqui dentro”, lamenta.<br />

Críticas a Israel<br />

Os dois desenhistas reconhecem, no entanto, que outra parte da<br />

explicação deve-se também a um forte componente de crítica à atuação<br />

de Israel no Oriente Médio. Mas, enquanto Jal afirma que não<br />

participaria do concurso por considerar tanto os desenhos de Maomé<br />

quanto a resposta iraniana inadequadas, Guazzelli diz ter aderido<br />

ao concurso por sentir-se indignado diante do que está ocorrendo<br />

“na Palestina”.<br />

Ainda assim, ele afirma que, no início, temia que a exposição<br />

tivesse uma vertente anti-semita. “Porém, ao acessar o site (do evento)<br />

e ver que um dos seus temas era por que os palestinos têm de pagar<br />

o preço pelo Holocausto, vi que não era esse o propósito”, afirmou.<br />

Embora também critique a atuação do Estado judeu, Jal, por sua<br />

vez, diz preferir não endossar “nada que leve ao radicalismo”. Isso,<br />

no entanto, não o impede de criticar a forma como a crise das charges<br />

de Maomé foi explorada pela mídia ocidental. Segundo ele, o<br />

humor - “uma forma de expressão anarquista” - deve ser livre, mas<br />

não desrespeitoso.<br />

Para ilustrar a opinião, ele lembra a história do cartunista Otávio,<br />

que nos anos 60 perdeu o emprego no jornal Última Hora por publicar,<br />

às vésperas de um clássico entre Corinthians e Santos, uma charge<br />

de Nossa Senhora com a cara de Pelé. “Uma multidão de religiosos<br />

cercou a porta do jornal, que teve de encerrar o expediente por um<br />

bom tempo. Otávio foi demitido e teve de pedir proteção policial.”


Bento 16 quis dizer<br />

exatamente o que disse<br />

Existem apenas duas religiões que<br />

procuram converter o mundo inteiro.<br />

Uma é o cristianismo, a outra o<br />

islamismo. Talvez o islã agora seja o<br />

único credo dotado da energia vital<br />

necessária para se dedicar a uma missão<br />

tão improvável; talvez o cristianismo<br />

esteja ocupado demais defendendo<br />

seus territórios espirituais<br />

existentes. Mesmo assim, uma coisa<br />

fica clara: existe uma incompatibilidade<br />

doutrinária fundamental entre<br />

as duas fés, e o papa Bento 16 está<br />

servindo à verdade ao apontá-la.<br />

A despeito de seu cargo anterior<br />

como principal ideólogo do Vaticano,<br />

Josef Ratzinger não aprovava a<br />

extensão do diálogo promovido por<br />

João Paulo 2º com o islamismo. O<br />

cardeal alemão havia chegado à conclusão<br />

de que o absolutismo islâmico<br />

tornava impossível qualquer discussão<br />

teológica significativa; tudo<br />

que restava seria, na melhor das hipóteses,<br />

uma série de declarações insípidas<br />

sobre “valores compartilhados”.<br />

Na pior, o endosso de uma manobra<br />

política para ocultar a opressão<br />

que os cristãos sofrem em terras<br />

muçulmanas.<br />

Não foi por acidente que um dos<br />

primeiros atos do novo papa tenha<br />

sido remover o arcebispo Michael Fitzgerald<br />

da presidência do Conselho<br />

Pontifício para o Diálogo entre as<br />

religiões, e a seguir decretar uma redução<br />

radical no papel do conselho.<br />

Os ecumênicos estão absolutamente<br />

certos ao apontar que o islã<br />

e a Igreja Católica além dos judeus,<br />

obviamente, reverenciam o D-us de<br />

Abraão. As três religiões compartilham<br />

muitos profetas, e como resultado<br />

efetivamente compartilham alguns<br />

valores, que deram forma às<br />

sociedades em que elas predominam<br />

nos dois últimos milênios. Mas o<br />

cristianismo existe apenas com base<br />

na crença de que Jesus Cristo é o<br />

filho de D-us; o islã existe apenas<br />

com base na crença de que D-us ditou<br />

suas palavras a Maomé, e que o<br />

Alcorão contém efetivamente as palavras<br />

do Senhor.<br />

Os cristãos, porém, não acreditam<br />

que o Alcorão apresente as pala-<br />

Dominic Lawson *<br />

vras de D-us em transmissão direta.<br />

Portanto, só podem imaginar que<br />

Maomé estivesse iludido, ou que estivesse<br />

mentindo. Evidentemente, a<br />

grande maioria dos cristãos é bem<br />

educada ou covarde demais para fazer<br />

uma afirmação como essa. Os muçulmanos,<br />

igualmente, parecem surpreendentemente<br />

relutantes em expressar<br />

a lógica de sua fé aos cristãos.<br />

Raramente se referem a Jesus<br />

sem acrescentar a elogiosa expressão<br />

“que a paz esteja com ele”.<br />

No entanto, se observarmos o Alcorão,<br />

não há qualquer possibilidade<br />

de equívoco: “Aqueles que pregam<br />

que “o D-us da Misericórdia” concebeu<br />

um filho estão praticando uma<br />

monstruosa falsidade, diante da qual<br />

os céus podem rachar”.<br />

Incompreensão<br />

O papa Bento 16 está muito mais<br />

capacitado do que qualquer pessoa para<br />

compreender esse ponto e, como a<br />

maioria dos intelectuais, tem profunda<br />

aversão a deixar de lado uma discussão.<br />

Ele não é um líder político.<br />

Os editorais de jornais que sugerem<br />

que o papa exiba mais consciência<br />

sobre suas palavras, demonstram<br />

completa incompreensão quanto<br />

ao caráter do homem que ocupa o<br />

Vaticano, e quanto à missão que ele<br />

quer realizar.<br />

Bento 16 deseja expressar a batalha<br />

de idéias. E não quer que profundas<br />

divergências ideológicas sejam<br />

varridas para baixo de um tapete<br />

de boas intenções. Josef Ratzinger<br />

nunca poderá ser acusado de<br />

falta de clareza. A mais detalhada<br />

exposição de suas opiniões surgiu<br />

10 anos atrás, em uma entrevista a<br />

Peter Seewald no livro “Salt of the<br />

Earth” (sal da terra).<br />

O então cardeal declarava que “o<br />

islã simplesmente não dispõe da separação<br />

entre as esferas religiosa e<br />

política de que o cristianismo dispunha<br />

desde o princípio. O Alcorão...<br />

insiste em que toda a ordem da vida<br />

seja islâmica... É preciso compreender<br />

que o islã não é só um credo que<br />

possa ser incluído no reino livre de<br />

uma sociedade pluralista”.<br />

* Dominic Lawson escreve no jornal Independent. Traduzido por Paulo<br />

Migliacci e publicado originalmente em português no jornal Folha de S.<br />

Paulo, dia 19 de setembro de 20<strong>06</strong>.<br />

embaixador israelense nas Nações<br />

Unidas, Dan Gillerman há pouco foi<br />

citada dizendo, “Quando você dorme<br />

com um míssil, você pode não<br />

acordar”. Ele então perguntou quando foi a<br />

última vez que o Hezbolá se desculpou por<br />

qualquer dano causado a civis israelenses. A<br />

resposta é conhecida de todos nós — nunca.<br />

Talvez estas difíceis batalhas contra o<br />

Hezbolá no norte, o Hamas no sul, e a prevenção<br />

de ataques terroristas em nossas cidades<br />

não seja tanto sobre onde nós lutamos,<br />

mas sim contra o que nós lutamos. Isto<br />

é especialmente difícil de ser guardado na<br />

memória depois da tragédia em Kfar Qana,<br />

mas é muito mais importante lembrar agora<br />

do que nunca.<br />

Na sexta-feira 28/7, o Hezbolá lançou<br />

foguetes Katyushas em Nahariya e atingiu um<br />

hospital. Só pela graça de D-us e do poder<br />

do exército em pensar adiante, pôde o hospital<br />

ser previamente evacuado, e apesar de<br />

pesados danos ao edifício, não ocorreu nenhuma<br />

perda de vida.<br />

Mas não houve nenhum milagre em Kfar<br />

Qana aquela semana. Há mais de cinco dias,<br />

o exército israelense advertiu os residentes<br />

para deixarem as áreas das vilas. Imagens de<br />

satélite tornadas públicas pelo exército israelense<br />

mostravam claramente o que todos<br />

residentes de Kfar Qana não poderiam ter evitado<br />

saber — que o Hezbolá estava usando<br />

sua aldeia como área de lançamento para pelo<br />

menos 150 foguetes atirados no norte de Israel.<br />

Quando você dorme com um míssil...<br />

Enquanto isso, as fotos do Líbano continuam<br />

saindo, o que faz a maior parte do<br />

mundo ficar com raiva e contra Israel. O que<br />

está faltando, dizem eles, é proporcionalidade.<br />

Está errado, diz o mundo, destruir um<br />

país pelas vidas de dois ou três soldados.<br />

Como sempre, o mundo está parcialmente<br />

correto — o que está faltando é proporcionalidade.<br />

A BBC continua mostrando os escombros<br />

dos edifícios bombardeados em Beirute,<br />

mas falha quando não deixa claro que<br />

eles estão centrando as suas transmissões em<br />

uma área que circunscreve aproximadamente<br />

1% da área total de Beirute. As outras 99%<br />

permanecem intactas, porque não existem<br />

alvos do Hezbolá nelas.<br />

Nosso governo e os políticos estão indo<br />

ao ar para explicar para o mundo por que nós<br />

fazemos o que estamos fazemos, e como o<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Quando você dorme<br />

com um míssil<br />

Paula R. Stern *<br />

23<br />

fazemos. Os comentários insultuosos de Kofi<br />

Annan de que nós atingimos uma base da<br />

ONU de propósito, no Líbano, mostra a extensão<br />

do quanto Annan tem se corrompido<br />

por suas políticas pessoais. A mídia mostra<br />

fotos do Líbano e as dezenas de milhares de<br />

libaneses procurando refúgio com pouca consideração<br />

para o fato de que mais de 300.000<br />

israelenses também fugiram das áreas de batalha,<br />

e que mais de um milhão de outros<br />

passam dias e noites em abrigos antiaéreos.<br />

As fotos e a atuação da mídia podem estar<br />

tirando de foco todas as mil palavras que<br />

elas pretendem representar. No final das contas,<br />

talvez, a verdade realmente esteja nas<br />

palavras, nas verdadeiras palavras que os líderes<br />

usam para descrever seus objetivos. O<br />

secretário geral do Hezbolá, Hassan Nasrallah,<br />

resumiu a batalha que nós enfrentamos em<br />

todas as frentes. “Nós descobrimos como<br />

atingir os judeus onde eles são mais vulneráveis.<br />

Os judeus amam a vida, de forma que<br />

isso é o que nós devemos tirar deles. Nós<br />

vamos vencer porque eles amam a vida e nós<br />

amamos a morte”.<br />

Nasrallah está correto quando diz que os<br />

judeus amam a vida, que nós fazemos tudo<br />

que podemos para preservar as vidas de nossa<br />

gente e daquele com quem temos que batalhar.<br />

Não são as nossas forças que escondem<br />

armas entre os civis e lançam foguetes Katyusha<br />

em cidades indiscriminadamente. Foi<br />

Israel quem advertiu os civis libaneses para<br />

deixar Kfar Qana e foi o Hezbolá que os impediu<br />

de ir. Foi Israel quem advertiu os civis<br />

para se distanciarem das bases do Hezbolá, e<br />

foi as Nações Unidas quem decidiram deixar<br />

sua base tão perto do campo do Hezbolá.<br />

Foi o Hezbolá quem escolheu Kfar Qana<br />

como base de lançamento para esses foguetes,<br />

foi o Hezbolá que usou as casas de Kfar<br />

Qana para esconder os lançadores de míssil, e<br />

finalmente, é o Hezbolá que precisa explicar a<br />

estranha diferença de tempo entre Israel lançar<br />

mísseis nos arredores de uma casa que só<br />

desmoronou umas sete ou oito horas depois.<br />

Mas, indiferentemente do que aconteceu<br />

em Kfar Qana, Nasrallah tem razão — nós<br />

amamos viver e eles amam a morte. Mas ele<br />

está errado na conclusão que tirou disto.<br />

Nosso amor pela vida não é o que nos torna<br />

vulneráveis, é o que nos torna invencíveis.<br />

E na análise final, Dan Gillerman está correto:<br />

“Quando você dorme com um míssil, você<br />

pode não acordar”.<br />

* Paula R. Stern é jornalista freelance formada em Ciência Política e Economia na Universidade de<br />

Columbia. Seus artigos têm aparecido em jornais através dos Estados Unidos e Israel, bem como em<br />

numerosos websites. Ela é diretora da WritePoint Ltd, uma empresa de técnica de redação em Israel e<br />

vive em Maaleh Adumim. Seu site pessoal é www.writepoint.com Escreveu este artigo em defesa de<br />

seu país. Título original: When You Sleep With a Missile. Fonte: Arutz Sheva. Tradução: Ivan Kelner


24<br />

VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />

Celso Lafer,<br />

professor titular da<br />

Faculdade de<br />

Direito da USP, foi<br />

ministro das<br />

Relações Exteriores<br />

no governo FHC.<br />

O Oriente Médio<br />

e o discurso de ódio<br />

Celso Lafer *<br />

ão indizíveis, adverte a Carta<br />

da ONU, os sofrimentos da<br />

guerra. Atingem os que padecem<br />

uma pena sem culpa, vitimados<br />

pela violência empregada<br />

nos conflitos bélicos. A intervenção<br />

de Israel no Líbano, induzida por<br />

uma provocação militar do Hezbolá,<br />

trouxe à tona a sensibilidade em relação<br />

a estes sofrimentos que incidem<br />

no contexto dos conflitos no<br />

Oriente Médio.<br />

O contencioso Israel-palestinos é<br />

um dos epicentros destes conflitos.<br />

Ele não tem a clareza jurídica de uma<br />

controvérsia, qual seja a das condições<br />

de criação de um Estado palestino<br />

política e economicamente viável<br />

e o reconhecimento do direito<br />

de Israel de viver em paz dentro de<br />

fronteiras reconhecidas. Não tem esta<br />

clareza, pois o problema se insere num<br />

ambiente de tensões. As tensões, em<br />

contraste com as controvérsias, são<br />

difusas. Manifestam-se por posturas<br />

que escapam à razoabilidade da lógica<br />

diplomática.<br />

O Oriente Médio está permeado de<br />

múltiplas tensões. Entre elas a tensão<br />

da hegemonia provocada pelo unilateralismo<br />

da intervenção norte-americana<br />

no Iraque e seus efeitos; a tensão<br />

do solipsismo da razão terrorista;<br />

a tensão estratégica, induzida pelas<br />

aspirações de poder do Irã; a tensão<br />

da sublevação dos particularismos<br />

religiosos e nacionais.<br />

Um entorno regional com estas<br />

características é centrífugo<br />

e heterogêneo. Carece de uma<br />

vontade comum de estabilidade.<br />

Por isso os esforços de persua-<br />

são diplomática se vêem atropelados<br />

pela violência. Esta é a razão pela<br />

qual a política na região está mais<br />

vinculada à busca dos meios para sobreviver<br />

e vencer, ficando em segundo<br />

plano a aspiração kantiana de<br />

construir a paz e evitar os sofrimentos<br />

da guerra, reconhecendo o direito<br />

à hospitalidade universal.<br />

Esta contextualização de complexidades<br />

é necessária para o tema<br />

deste artigo, que diz respeito ao<br />

impacto, no Brasil, da importação das<br />

tensões no Oriente Médio.<br />

Uma das características da globalização<br />

é a internalização, nos<br />

países, das tensões do mundo. É o<br />

que vem ocorrendo com a situação<br />

do Oriente Médio, no qual um dos<br />

elementos de irradiação é a tensão<br />

de hegemonia trazida pela ação<br />

norte-americana no Iraque. Esta<br />

leva ao antiamericanismo e afeta<br />

Israel, que tem nos Estados Unidos<br />

um decidido aliado.<br />

No caso do Brasil, para a equação<br />

da internalização contribui o fato<br />

de existir um expressivo número de<br />

cidadãos brasileiros de origem libanesa<br />

com laços de família e de memória<br />

afetiva em relação ao Líbano,<br />

com compreensível sensibilidade ao<br />

que se passa num país que se estava<br />

reconstruindo em meio a suas dificuldades.<br />

Também é um dado desta<br />

equação a existência de um número<br />

relevante de cidadãos brasileiros de<br />

origem judaica, muitos dos quais<br />

também têm laços de família e de<br />

afeto com o Estado de Israel e que,<br />

por isso mesmo, olham para a segurança<br />

deste país com atenção. Neste<br />

olhar existe a memória de guerras do<br />

passado e dos insucessos das nego-<br />

ciações, permeado por uma sensibilidade<br />

própria em relação aos atentados<br />

terroristas em Israel e ao fato<br />

de o Hezbolá operar a partir do Líbano,<br />

respaldado pela Síria com o declarado<br />

apoio logístico-militar do Irã<br />

- cujo presidente denega o Holocausto<br />

e propõe o desaparecimento de<br />

Israel do mapa do Oriente Médio.<br />

Feitos estes registros, observo<br />

que o preâmbulo da Constituição<br />

considera como valores supremos do<br />

nosso país a concepção de uma sociedade<br />

fraterna, pluralista e sem<br />

preconceitos, comprometida, na ordem<br />

interna e internacional, com a<br />

solução pacífica de controvérsias.<br />

Esta diretriz tem sido bem-sucedida<br />

na construção histórica do<br />

amálgama do povo brasileiro na diversidade<br />

das suas origens.<br />

Daí o tranqüilo entendimento<br />

entre brasileiros de origem árabe e<br />

de origem judaica. Este é um adquirido<br />

da convivência nacional a ser<br />

preservado. Não pode ser corroído<br />

pelo discurso de ódio que, lamentavelmente,<br />

tem aparecido como parte<br />

das internalizações das tensões do<br />

Oriente Médio. É o caso, por exemplo,<br />

de certas virulentas manifestações<br />

antiisraelenses mescladas de<br />

inequívoco anti-semitismo do tipo<br />

das relatadas pela revista Carta Capital<br />

de 6/9 em matéria apropriadamente<br />

intitulada O Líbano é aqui.<br />

A contenção do discurso de ódio<br />

tem sido objeto das normas internacionais<br />

dos Direitos Humanos às<br />

quais o Brasil aderiu. É o que estipula<br />

a Convenção para a Eliminação de<br />

Todas as Formas de Discriminação<br />

Racial, o Pacto de Direitos Civis e<br />

Políticos e o Pacto de São José. Este,<br />

no seu artigo 13, 5, reza: ‘A lei deve<br />

proibir toda propaganda a favor da<br />

guerra, bem como toda apologia ao<br />

ódio nacional, racial ou religioso que<br />

constitua incitamento à discriminação,<br />

à hostilidade, ao crime ou à violência.’<br />

É nesta moldura que o Direito<br />

brasileiro, no âmbito do artigo<br />

5º, XLII, da Constituição, que prevê<br />

o crime da prática de racismo, capitula<br />

como prática de racismo o discurso<br />

de ódio (artigo 20 da Lei<br />

7.716/89, com a redação dada pela<br />

Lei 8.081/90).<br />

Foi esse o entendimento que o<br />

Supremo Tribunal Federal consagrou<br />

ao decidir, em 2003, o caso Ellwanger,<br />

observando que a liberdade de<br />

expressão não consagra o ‘direito à<br />

incitação ao racismo’.<br />

Daniel Sarmento, escrevendo sobre<br />

o hate speech, explica, neste contexto,<br />

por que ele compromete a dinâmica<br />

da democracia. Observa que o<br />

discurso de ódio está mais próximo<br />

de um ataque que de uma participação<br />

no debate de opiniões; não se<br />

baseia no recíproco reconhecimento<br />

da igualdade da dignidade humana,<br />

que é a garantia da integridade da<br />

discussão na esfera pública, e, ao estigmatizar<br />

grupos, a eles causa dano,<br />

propiciando preconceitos.<br />

Em síntese, a importação das tensões<br />

do Oriente Médio na forma de<br />

discurso de ódio precisa ser afastada.<br />

É inaceitável, pois fere a dignidade<br />

humana e compromete um dos<br />

objetivos constitucionais do Brasil,<br />

que é o de ‘promover o bem de todos,<br />

sem preconceitos de origem,<br />

raça, sexo, cor, idade e quaisquer<br />

outras formas de discriminação’<br />

(Constituição federal, artigo 3º, IV).

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