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2<br />
editorial<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Publicação mensal independente da<br />
EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />
JUDAICA LTDA.<br />
Redação, Administração e Publicidade<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Curitiba PR Brasil<br />
Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />
Dir. de Operações e Marketing<br />
SHEILLA FIGLARZ<br />
Dir. Administrativa e Financeira<br />
HANA KLEINER<br />
Diretor de Redação<br />
SZYJA B. LORBER<br />
Publicidade<br />
DEBORAH FIGLARZ<br />
Arte e Diagramação<br />
SONIA OLESKOVICZ<br />
Webmaster<br />
RAFFAEL FIGLARZ<br />
Colaboram nesta edição:<br />
Ali Kamel, Aristide Brodeschi, Breno<br />
Lerner, Celso Lafer, Charles<br />
Krauthamer, Daniel Benjamin Barenbein,<br />
Dominic Lawson, E. Casanova, Edda<br />
Bergmann, Edgard Leite Castro, Jane<br />
Bichmacher de Glasman, Jeff Jacoby,<br />
João Pereira Coutinho, Joseph Farah,<br />
Marcos Aguinis, Moisés Bronfman,<br />
Nahum Sirotsky, Paula R. Stern, Pilar<br />
Rahola, Ralf Dahrendorf, Roberto<br />
Musatti, Sérgio Feldman e Yossi<br />
Groisseoign<br />
O jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> não tem responsabilidade<br />
sobre o conteúdo dos artigos, notas, opiniões ou<br />
comentários publicados, sejam de terceiros<br />
(mencionando a fonte) ou próprias e assinadas<br />
pelos autores. O fato de publicá-los não indica<br />
que o <strong>VJ</strong> esteja de acordo com alguns dos<br />
conceitos ou dos temas.<br />
www.visaojudaica.com.br<br />
Este jornal é um veículo independente<br />
da Comunidade Israelita do Paraná<br />
A fetidez da cloaca anti-semita invade a política<br />
ão é a primeira vez que isso<br />
acontece. Aqui no Paraná, em<br />
eleições passadas, a cloaca dos<br />
anti-semitas já foi aberta algumas<br />
vezes para deixar exalar<br />
a sórdida fetidez do caráter de seus<br />
proprietários, e exibir a público, de<br />
maneira extravagante, mas criminosa,<br />
o racismo de que se alimentam e<br />
depois defecam para todos os lados,<br />
agora usando os modernos meios de<br />
informação, como a internet. O caso<br />
mais recente — e que ainda cheira<br />
muito mal — ocorreu no dia do primeiro<br />
turno das eleições, 1º de outubro,<br />
a poucas horas do início do<br />
Iom Kipur, o dia mais santificado do<br />
povo judeu. Uma página eletrônica<br />
da rede mundial, produzida aqui em<br />
Curitiba, pretensamente de “notícias<br />
políticas” e, serviçal, ao que tudo<br />
indica, de um poderoso senhorio<br />
com interesses eleitorais, publicou<br />
um trecho do infame “Protocolos dos<br />
Sábios de Sião”.<br />
Objetivos? Atacar<br />
a campanha<br />
Nossa capa<br />
do senador Osmar Dias, que surpreendeu<br />
pelo seu desempenho e foi<br />
para o segundo turno das eleições,<br />
atemorizando seus adversários. E<br />
ofender os judeus como um todo<br />
porque o ex-governador Jaime Lerner<br />
apóia o senador, e dois outros<br />
membros da comunidade — Gerson<br />
Guelmann e Cila Schulman, especialistas<br />
em campanhas — trabalham<br />
com Osmar Dias.<br />
Osmar Dias é candidato do PDT,<br />
em coligação com o PSB, partido<br />
ao qual o Jaime Lerner é filiado. As<br />
primeiras pesquisas davam desvantagem<br />
ao senador no 1º turno, o<br />
que, efetivamente, acabou não<br />
acontecendo. As oposições fizeram<br />
mais de 57% e, no 2º turno, as<br />
chances aumentam para Osmar.<br />
Como diz Gerson Guelmann, “infelizmente<br />
o Paraná tem uma triste<br />
tradição de dar abrigo a uma escumalha<br />
de há muito catalogada nos<br />
manuais da psicopatologia. De tempos<br />
em tempos sofremos ataques e<br />
somos vítimas de manifestações de<br />
ódio, muito freqüentemente dissimulados<br />
em críticas ou manifestações<br />
de ordem política, exatamente<br />
em razão da projeção de membros da<br />
comunidade local, da qual o Jaime<br />
Lerner é um dos expoentes”.<br />
A cloaca de plantão tem nome e<br />
é “Gazeta de Novo” — uma espécie<br />
de contrafação que tenta ganhar<br />
carona no título do jornal de maior<br />
circulação no Paraná. E o dono dessa<br />
fossa de imundícies na internet<br />
ainda teve a desfaçatez de assinar<br />
seu nome embaixo: Guilhobel Aurélio<br />
Camargo. O material anti-semita<br />
ficou no ar até a noite do dia 5 de<br />
outubro quando foi retirado, talvez<br />
em razão da queixa-crime formulada<br />
na Polícia Federal ou em função das<br />
medidas tomadas junto à Justiça.<br />
Para quem desconhece, os “Protocolos”<br />
é um “livro” apócrifo comprovadamente<br />
falso, escrito na Rússia czarista,<br />
que reúne mentiras medievais<br />
e toda a sorte de calúnias contra o<br />
povo judeu que a maldade humana<br />
foi capaz de engendrar com o único<br />
A capa reproduz a obra de arte cujo título é “Título; “A benção de Sucot”, elaborada com<br />
a técnica óleo sobre tela com dimensões de 60 X 80 cm, criação de Aristide Brodeschi. O<br />
autor nasceu em Bucareste, Romênia, é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde<br />
1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria.<br />
Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por<br />
vários países e tem no judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas<br />
do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br).<br />
Datas importantes<br />
13 de outubro<br />
14 de outubro<br />
15 de outubro<br />
21 de outubro<br />
22 de outubro<br />
23 de outubro<br />
28 de outubro<br />
4 de novembro<br />
11 de novembro<br />
Falecimentos<br />
Hoshaná Rabá<br />
Shemini Atsêret<br />
Simchat Torá<br />
Shabat Bereshit<br />
1º dia de Rosh Chodesh<br />
2º dia de Rosh Chodesh<br />
Shabat Nôach<br />
Shabat Lech Lechá<br />
Shabat Vaierá<br />
Dia 14//7 — 18 de Tamuz de 5766 – Maria Lawder,<br />
aos 91 anos de idade,sepultado no Cemitério Israelita<br />
do Umbará.<br />
Dia 1º/10 — 9 de Tishrei de 5767 — Lieselote Jakobovitz,<br />
sepultada no Cemitério Israelita de Santa<br />
Cândida.<br />
Humor<br />
Na direção<br />
Um adolescente tirou carteira<br />
de motorista e foi acertar com o<br />
pai, um rabino, como poderia usar<br />
o carro da família. O rabino estipulou<br />
as condições:<br />
— “Antes de qualquer trato,<br />
você tem que trazer boas notas,<br />
estudar a Bíblia e cortar o cabelo”.<br />
Um mês depois, o jovem tornou<br />
a conversar com o pai, que<br />
lhe disse:<br />
— “Estou orgulhoso por suas<br />
notas, por seus novos conhecimentos<br />
da Bíblia, mas falta cortar<br />
o cabelo”.<br />
O rapaz argumentou:<br />
— “Sabe pai, Sansão tinha<br />
cabelos compridos, Abraão também,<br />
e até Moisés tinha cabelos<br />
compridos”.<br />
Resposta do rabino:<br />
— “Certíssimo! E todos eles<br />
andavam a pé”.<br />
propósito de difundir o ódio. Baseiase<br />
nas mais obscurantistas, néscias<br />
e fantasiosas teorias sobre uma alucinada<br />
conspiração judaica mundial<br />
para dominar os governos, a mídia,<br />
a economia, os bancos, etc.<br />
Nesse episódio, o cinismo é tanto<br />
que grafaram errado o nome da<br />
“obra” e o site dava a entender que<br />
se tratava de algo escrito pelos próprios<br />
judeus!: “O Protocolo (sic) dos<br />
Sábios do Sião é uma obra prima do<br />
planejamento do povo judeu”, e ainda<br />
dizia-se revoltado (o site) por seu<br />
uso, mesmo após 100 anos, “pelo<br />
povo judeu como ‘mandamentos’ - e<br />
em campanhas políticas no Paraná<br />
contra tudo aquilo que nos é de mais<br />
caro”. E encerrava não sem antes convidar<br />
o leitor para visitar o site Rádio<br />
Islam, um dos mais racistas do<br />
mundo, cujo responsável já esteve<br />
preso e processado na Suécia. O caso<br />
é gravíssimo e espera-se, tanto das<br />
lideranças da comunidade, quanto<br />
das autoridades, a necessária atitude<br />
com as devidas punições.<br />
A Redação<br />
Acendimento das<br />
velas em Curitiba<br />
outubro/<br />
novembro 20<strong>06</strong><br />
Véspera de Shabat<br />
e Festas<br />
DATA HORA<br />
13/10 * 18h01<br />
14/10 ** 18h57<br />
20/10 18h05<br />
27/10 18h09<br />
3/11 18h14<br />
10/11 19h19<br />
17/11 19h24<br />
* Shemini Atsêret<br />
** Simchat Torá<br />
Obs.: A partir do dia 5/11 inícia o horário<br />
brasileiro de verão. As datas já estão<br />
ajustadas nesta tabela.
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Torá: polêmicas e interpretações (I)<br />
Sérgio Feldman *<br />
autoria da Torá é com<br />
certeza um tema polêmico<br />
e que resulta em discussões<br />
agudas e ideológicas.<br />
Na concepção judaica<br />
tradicional não resta dúvida que<br />
a Torá inteira foi Revelada a Moisés<br />
ao sopé do Monte Sinai. Portanto, seu<br />
autor seria D-us, que usou de Moisés,<br />
para transmiti-la a seu povo e através<br />
deste a humanidade inteira.<br />
A Torá que em princípio seria composta<br />
dos primeiros cinco livros da<br />
Bíblia hebraica (ou Pentateuco),<br />
comporia um conjunto mais amplo<br />
com outros livros e que os judeus<br />
denominam Tanach (uma sigla que<br />
tem como letras componentes o T de<br />
Torá, o N de Neviim ou Profetas, e o<br />
CH de Ketuvim ou Escritos), que denominamos<br />
como Bíblia Hebraica ou<br />
como a denominam os cristãos “Antigo<br />
Testamento” (AT). Os livros dos<br />
Profetas e os demais textos canonizados<br />
(Salmos, Provérbios, Cântico<br />
dos Cânticos e muitos outros), compõem,<br />
junto com a Torá, um conjunto<br />
considerado sacro e divinamente<br />
inspirado, se não for até mesmo considerado<br />
também Revelação. Este fato<br />
nem sempre é aceito e por vezes a<br />
ele se agregam considerações e interpretações<br />
adicionais que alteram<br />
seu significado místico e transcendental.<br />
Quem é o autor da Torá? A<br />
resposta tradicional seria D-us, através<br />
de Moisés. Sua palavra tem uma<br />
importância transcendental: origina<br />
o Judaísmo, define sua forma de ser,<br />
leis e regras do cotidiano ao criar as<br />
613 Mitzvot (248 preceitos positivos<br />
e 365 negativos). Não há Judaísmo<br />
sem a Torá, não há Torá sem Judaísmo.<br />
Seria seu decreto de fundação e<br />
sua Carta Magna. Uma aura sacra se<br />
superpõe sobre seu nome.<br />
O efeito civilizador deste texto<br />
na história do mundo ocidental é<br />
imenso: está inserido em textos<br />
posteriores, seja legislação religiosa<br />
ou civil, e em regras morais e<br />
éticas de muitas culturas e civilizações.<br />
Falar da Torá e divagar sobre<br />
questões e dúvidas é no mínimo<br />
uma ousadia, senão um desrespeito.<br />
Equivaleria às palavras do<br />
papa sobre o Alcorão e sobre o Islã:<br />
uma afronta e pode parecer a muitos<br />
judeus uma atitude herética.<br />
Ainda assim há a possibilidade de<br />
se analisar, de maneira respeitosa e<br />
cuidadosa, as opiniões divergentes<br />
da opinião oficial do Judaísmo tradicional<br />
ortodoxo.<br />
A visão cristã tradicional: a<br />
Patrística e a Torá<br />
O que os cristãos achavam disto?<br />
O Cristianismo nasceu no seio do Ju-<br />
daísmo e utilizou as mesmas fontes.<br />
Há uma divergência crucial entre<br />
judeus e cristãos: quem seria o herdeiro<br />
do Pacto com D-us e da Revelação?<br />
O Judaísmo mantém a sua escolha<br />
por D-us e a Lei do Sinai, como<br />
prova de sua escolha. O Cristianismo<br />
não nega a Lei e nem o Pacto,<br />
mas trata de descaracterizar sua validade:<br />
uma nova etapa surgira a<br />
partir de Jesus. Um novo Pacto (Brit<br />
há Chadaha em hebraico) substitui<br />
o antigo. E uma camada adicional<br />
de leis e regras surge e se superpõe<br />
a Lei Antiga: os Evangelhos e a mensagem<br />
dos apóstolos. Negar o Judaísmo,<br />
sem destruí-lo; absorver<br />
seus conteúdos de uma maneira<br />
cristã. A exegese cristã trata de<br />
mostrar através do “Antigo Testamento”<br />
ou Tanach (AT), que a vinda<br />
de Jesus, já estava prevista na Revelação<br />
e no Pacto “antigos”.<br />
A exegese (interpretação ou análise<br />
do texto) cristã faz uma espécie<br />
de desconstrução do texto do Tanach<br />
(AT). Os padres fundadores da<br />
Igreja escrevendo 1500 anos depois<br />
de Moisés, e quase um milênio após<br />
Ezra, o escriba, ter editado a Torá,<br />
esquecem do contexto histórico e<br />
geográfico do mundo bíblico, para<br />
achar profecias que já falavam de<br />
Jesus e que antecipavam a nova religião<br />
no texto do AT ou Tanach.<br />
Os conflitos entre judeus e cristãos<br />
ocorreram inicialmente dentro<br />
das sinagogas, já que os primeiros<br />
cristãos eram judeus. Mas os judeuscristãos<br />
não tardam a romper com a<br />
Sinagoga mãe e se tornar uma religião<br />
a parte. Em seguida, competem<br />
com o Judaísmo sobre a análise<br />
do AT e sua interpretação. São<br />
polêmicas agudas e por vezes trágicas,<br />
pois se iniciam em debates e<br />
podem acabar em conflitos de rua:<br />
em Alexandria ou Antioquia e em<br />
muitas cidades helenizadas do<br />
Oriente. Aos cristãos transparece a<br />
Verdade de sua fé e a razão de ser<br />
de profecias e fatos do AT, como<br />
uma profecia, de fatos que viriam a<br />
ocorrer. O texto do Tanach seria uma<br />
prévia, uma espécie de anúncio antecipado<br />
de fatos do NT (Novo Testamento).<br />
Isso cria um clima de<br />
confronto e uma rivalidade ímpar.<br />
Algumas das interpretações cristãs<br />
podem ser descritas. A cena tradicional<br />
de Abraão que recebe os<br />
três anjos em sua tenda (Gênesis,<br />
c. 18), seria um símbolo: trata-se<br />
da aparição da Trindade. Uma inversão<br />
radical das crenças e das interpretações<br />
judaicas.<br />
Outra duas narrativas servem de<br />
palco para a negação do Pacto antigo<br />
e a afirmação do Novo Pacto: a<br />
venda da primogenitura de Esaú para<br />
Jacob (Gênesis, c. 25), e a obten-<br />
ção da benção paterna por Jacob,<br />
com ajuda da mãe dos gêmeos, Rebeca<br />
(Gênesis, c. 27).<br />
Na exegese cristã qual seria o<br />
significado destas narrativas: o primogênito<br />
Esaú significaria os judeus<br />
e o secundogênito Jacob simbolizaria<br />
os judeus. Fica evidente<br />
que se trata de uma interpretação<br />
simbólica e que através de simbolismo<br />
poder-se-ia provar praticamente<br />
qualquer tese ou opinião, já<br />
que a alegoria utilizada, desvia-se<br />
de maneira absoluta do contexto,<br />
da época e da realidade dos fatos<br />
e dos autores literários.<br />
Dentro desta e de outras leituras<br />
e exegeses, ocorreram debates e conflitos<br />
entre judeus e cristãos, sobre<br />
o real significado da Torá e do Tanach<br />
ou “AT”. Isso se estende até a Idade<br />
Média. São famosas as disputas medievais<br />
entre sábios dos dois lados.<br />
Um exemplo foi a disputa de Barcelona<br />
ocorrida na corte dos reis de<br />
Aragão, entre Nachmânides e um judeus<br />
convertido denominado Pablo<br />
Christiani, ocorrida em 1263.<br />
Os curiosos deveriam ler a obra<br />
de Hyam Maccoby, editada pela Imago<br />
Editora: “O Judaísmo em julgamento:<br />
os debates judaico-cristãos<br />
na Idade Média”. Nesta obra o autor<br />
analisa de maneira isenta e crítica<br />
as opiniões dos dois lados e seus<br />
argumentos. Trabalha também com<br />
as disputas de Paris (1240) e de<br />
Tortosa (1413-1414).<br />
As divergências e as críticas<br />
judaicas: Spinoza e a Torá<br />
Em artigo de nossa autoria, publicado<br />
na <strong>VJ</strong> há algum meses, denominado:<br />
“Entre heréticos e dogmáticos<br />
(I): o caso de Spinoza”, falamos<br />
da visão deste sábio sobre a<br />
razão de ser e o sentido do texto<br />
sagrado. Spinoza viveu na Holanda,<br />
no século XVII, num clima que alternava<br />
livre pensamento e choques ideológicos<br />
agudos entre os filósofos e<br />
a Igreja calvinista. Sua obra se inseria<br />
nesta vasta polêmica.<br />
Usaremos de um<br />
trecho de nosso artigo<br />
anterior para<br />
ilustrar o que dissemos.<br />
[Início da citação]<br />
Uma destas<br />
obras é o “Tratado<br />
Teológico Político”<br />
(c. 1670) no qual<br />
Spinoza se utilizava<br />
de análises dos exegetas<br />
judeus, com<br />
Ibn Ezra, mas direcionava<br />
suas conclusões<br />
de uma maneira<br />
muito mais crítica.<br />
Nesta obra demonstrava entre outras<br />
teses que a Bíblia Hebraica não teria<br />
sido escrita por Moisés, tal como<br />
afirma a Tradição. Negava a veracidade<br />
absoluta de todo seu conteúdo,<br />
inaugurando a “crítica bíblica”.<br />
No seu entendimento a razão de se<br />
ter escrito a Bíblia seria inculcar em<br />
seus leitores, a noção de obediência<br />
aos poderes constituídos: Estado<br />
e instituições religiosas.<br />
Isto irritou a muita gente, pois<br />
questionava não só o judaísmo tradicional,<br />
mas também as doutrinas<br />
calvinistas, que era neste período,<br />
a Igreja protestante mais importante<br />
na Holanda. Assim sendo, esta<br />
obra (Tratado Teológico Político)<br />
foi censurada e proibida de circular,<br />
mas seguiu sendo editada e<br />
lida, apesar das proibições das calúnias<br />
que sofreu. Sua influência é<br />
incomensurável. Um marco na História.<br />
[fim da citação].<br />
A guisa de reflexão final<br />
Todas estas disputas só salientam<br />
ainda mais a enorme importância<br />
da Torá no mundo judaico-cristão<br />
e na formação de valores e de<br />
mentalidades. Não se pode adotar<br />
uma postura radical e fundamentalista<br />
e nem se fazer a apologia das<br />
absolutas verdades de esta ou de<br />
outra interpretação. A Torá serve<br />
como ponto de partida para uma renovação<br />
do Judaísmo, a partir do<br />
século XIX. Por um lado: os que negaram<br />
a veracidade da Torá e sua validade<br />
como guia espiritual dos judeus,<br />
acabaram por se desligar do<br />
Judaísmo. Por outro lado, os<br />
que fizeram a crítica e seguiram<br />
no seio do Judaísmo,<br />
reinterpretando a Tradição<br />
milenar, criaram novas expressões<br />
religiosas e culturais.<br />
Um Judaísmo que<br />
se insere na tradição do<br />
debate, da diversidade e<br />
da busca de solução para os<br />
problemas humanos.<br />
3<br />
* Sérgio Feldman é<br />
doutor em História pela<br />
UFPR e professor de<br />
História Antiga e Medieval<br />
na Universidade Federal do<br />
Espírito Santo, em Vitória, e<br />
ex-professor adjunto de<br />
História Antiga do Curso<br />
de História da Universidade<br />
Tuiuti<br />
do Paraná.
4<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
A verdade sobre Edward Said<br />
Jeff Jacoby *<br />
dward Saïd, o mais renomado<br />
intelectual palestino, demonstrou<br />
não passar de uma<br />
grande fraude. A experiência,<br />
aparentemente, não lhe ensinou<br />
nada. Durante décadas Saïd passou por<br />
ser um exilado – um árabe nascido e<br />
criado em Jerusalém, expulso por Israel<br />
na guerra árabe-israelense de<br />
1948. Esta foi a história que ele sempre<br />
contou, permeando sua narrativa<br />
com detalhes cheios de emoção.<br />
“Sinto-me cada vez mais deprimido”<br />
relembrava em março de 1998<br />
“quando eu lembro minha linda velha<br />
casa, cercada de pinheiros e laranjais<br />
em al-Talbiyeh, nas redondezas<br />
de Jerusalém”. Num documentário<br />
da BBC ele relembrou seus anos<br />
no Colégio St. George, uma escola<br />
preparatória inglesa em Jerusalém. Ele<br />
e um rapaz de nome David Ezra costumavam<br />
sentar no fundo da sala de<br />
aula. Ele disse, em outra entrevista<br />
em 1997, que ele poderia identificar<br />
as peças de sua antiga casa familiar<br />
“onde, ainda garoto, ele lia Sherlock<br />
Holmes e Tarzan e onde ele e sua e<br />
sua mãe liam Shakespeare”. Tudo isto<br />
foi perdido quando sua família fugiu<br />
de Talbiyeh, em dezembro de 1947,<br />
expulsos “por carros de som israelenses<br />
[que] avisavam que os Árabes deveriam<br />
abandonar a vizinhança”.<br />
Mas como Justus Reid Weiner mostrou<br />
em Commentary, um influente<br />
jornal, a trágica história de Saïd era,<br />
em grande parte, fabricada. Os Saïds<br />
tinham morado no Egito, e não na<br />
Palestina. Edward Saïd cresceu e estudou<br />
num bairro elegante do Cairo,<br />
onde seu pai tinha um próspero negócio.<br />
Freqüentemente a família visitava<br />
parentes em Jerusalém. Edward<br />
nasceu numa destas visitas em 1935.<br />
Mas em sua certidão de nascimento<br />
a residência dos Saïds foi registrada<br />
como sendo no Cairo. O espaço reservado<br />
para um endereço na Palestina<br />
ficou em branco.<br />
Weiner investigou a expulsão dos<br />
árabes de Talbiyeh em 1947 e nada<br />
foi encontrado. Ele checou também<br />
os registros de estudantes no Colégio<br />
St. George e não havia nenhuma<br />
menção a Edward Saïd. Ele entrevistou<br />
David Ezra, o estudante que teria<br />
sentado nas últimas fileiras com<br />
Saïd... Bem, por causa de suas dificuldade<br />
de ler Ezra sempre sentou nas<br />
primeiras filas.<br />
Saïd ocupava uma posição superior<br />
no mundo das letras: mantinha<br />
uma cadeira de Inglês e Literatura<br />
na Universidade de Colúmbia, era um<br />
professor muito procurado e foi, por<br />
diversas vezes, Presidente da Associação<br />
de Línguas Modernas, membro<br />
do Conselho de Relações Exteriores,<br />
e fellow da American Academy of<br />
Arts and Science.<br />
Mas ele sempre foi reconhecido,<br />
principalmente, como um campeão<br />
da causa palestina. Por muitos anos<br />
foi membro do Conselho Nacional<br />
Palestino, o “Parlamento no Exílio”<br />
da OLP e conselheiro privado de Yasser<br />
Arafat. Ele ata-<br />
cava brutalmente<br />
Israel e defendia<br />
a causa palestina<br />
em todos os fóruns<br />
imagináveis,<br />
desde editoriais<br />
de jornal até<br />
transmissões para<br />
testemunhar perante<br />
o Congresso.<br />
E suas palavras<br />
tinham grande<br />
força moral – não era ele uma vítima<br />
da usurpação sionista? Não tinha ele<br />
sofrido expulsão e exílio?<br />
Quando o mundo percebeu que<br />
não, sua autoridade moral foi reduzida<br />
a nada. Era como se “soubéssemos<br />
que Elie Wiesel tivesse passado a<br />
guerra em Genebra e não em Auschwitz”,<br />
como disse um observador.<br />
Poderíamos pensar que este constrangimento<br />
teria convencido Saïd a parar<br />
de mentir a seu próprio respeito.<br />
Mas suas mentiras continuaram.<br />
Durante uma visita ao Líbano em<br />
julho, Saïd foi visto jogando pedras<br />
sobre a fronteira de Israel. Atirar pedras<br />
em Israel era um passatempo comum<br />
para turistas árabes no sul do<br />
Líbano desde a retirada israelense em<br />
maio. O apedrejamento despertou<br />
pouco interesse internacional apesar<br />
de vários israelenses terem sido<br />
feridos, alguns séria e definitivamente.<br />
Mas quando a Agência France<br />
Presse divulgou uma foto do mundialmente<br />
famoso intelectual palestino<br />
se juntando à violência, conseguiu<br />
manchete em todo o mundo.<br />
Um professor que<br />
dissemina mentiras<br />
é como um médico<br />
que receita veneno<br />
ou um juiz que<br />
aceita dinheiro de<br />
uma das partes<br />
Saïd foi criticado, até mesmo em lugares<br />
onde era geralmente elogiado.<br />
O Beirut Daily Star demonstrou consternação<br />
de que “alguém que trabalhara<br />
tanto para acabar com os estereótipos<br />
contra os árabes, se mostrasse<br />
violento... Se permitisse levar<br />
pela turba a jogar pedras sobre a fronteira<br />
internacional”. No próprio campus<br />
de Said o Columbia Daily Spectator<br />
atacou sua “ação violenta e hipócrita”<br />
como “estranha a esta ou a qualquer<br />
outra instituição de ensino”.<br />
Sua resposta foi desprezar o incidente<br />
como simplesmente “um gesto<br />
simbólico de contentamento” –<br />
e, mais uma vez, mentir. Suas pedras,<br />
disse ele tinham sido “jogadas num<br />
espaço vazio”. Algumas testemunhas<br />
tinham outra versão.<br />
O London Te-<br />
legraph publicou<br />
que Saïd “estava a<br />
menos de dez metros<br />
de soldados<br />
israelenses numa<br />
torre de observação<br />
azul e branca<br />
de dois andares,<br />
onde estavam hasteadas<br />
bandeiras<br />
israelenses”. Ao saber<br />
que havia fotógrafos franceses por<br />
ali o Professor mostrou-se surpreso:<br />
“Eu não tinha idéia de que havia<br />
pessoal da mídia por ali, ou que eu<br />
fosse o alvo de sua atenção”. Mas a<br />
AFP tem outra versão – como souberam<br />
dois professores de Colúmbia, Awi<br />
Federgruen e Robert Pollack. Eles escreveram<br />
suas conclusões para o Espectator<br />
de que “as fotos de Saïd jogando<br />
as pedras foi entregue a esta<br />
agência exatamente pelo próprio professor<br />
Saïd”.<br />
Para alguém que havia escrito que<br />
os intelectuais precisam “dizer a verdade,<br />
da maneira mais direta, honesta<br />
e simples possível”, Saïd parece<br />
ter passado maus momentos mentindo<br />
sobre os fatos a seu respeito. Talvez<br />
por que ele soubesse que não<br />
haveria nenhum preço a pagar, profissionalmente,<br />
por suas enganações.<br />
Quando Weiner expôs as falsidades<br />
de Saïd, a resposta de Colúmbia<br />
foi – não fazer absolutamente nada!<br />
“Surpreendentemente o professor<br />
Saïd não foi nem apoiado nem criticado<br />
pelo Presidente [da Universi-<br />
dade]”, escreveu Weiner num ensaio<br />
em Academic Questions, o jornal da<br />
National Associations of Scholars. “Nem<br />
o Diretor, nem a junta de administradores,<br />
nem o Senado da Universidade<br />
sequer mencionaram a dissimulação<br />
de Saïd”.<br />
Para quem conheça a história de<br />
Colúmbia esta falta de interesse pela<br />
mentira de um de seus professores<br />
é impressionante, pois Saïd não foi<br />
o primeiro do Departamento de Inglês<br />
a ser descoberto numa série de<br />
mentiras públicas. Na década de 50,<br />
um instrutor chamado Charles Van<br />
Doren ganhou aplausos nacionais<br />
por sua brilhante apresentação no<br />
show “Twenty-One” da NBC. Estes<br />
aplausos se tornaram desprezo quando<br />
o show foi denunciado como manipulação,<br />
e Colúmbia esclareceu<br />
imediatamente que não poderia<br />
manter em seus quadros tal mentiroso.<br />
“É uma questão de moral, honestidade<br />
e integridade do ensino”,<br />
disse o diretor John G Palfrey, e<br />
acrescentou “se estes princípios merecem<br />
ser conservados, Van Doren<br />
não pode permanecer”. (Como Weiner<br />
acentuou: “enquanto Van Doren<br />
pode ter sido iludido pelos produtores<br />
do programa a participar<br />
de uma competição desonesta, Saïd<br />
foi o único responsável por suas<br />
mentiras”). Por que os dois pesos<br />
e duas medidas?<br />
Em relação a meros mortais, Colúmbia<br />
ainda insiste em honestidade.<br />
Há alguns meses atrás um estudante<br />
de 19 anos que mentiu que<br />
havia sofrido um acidente de carro<br />
para ter mais tempo para uma prova,<br />
foi suspenso por dois anos. Já Saïd,<br />
cuja lenda de exílio e perda de propriedade<br />
foi muito mais elaborada e<br />
iludiu muito mais gente, não sofreu<br />
nenhuma censura disciplinar.<br />
Um professor que dissemina mentiras<br />
é como um médico que receita<br />
veneno ou um juiz que aceita dinheiro<br />
de uma das partes. Todos são<br />
ameaças à sociedade, todos traem<br />
seus cargos. Médicos que matam podem<br />
ter seu registro caçado; juízes<br />
corruptos podem ser impedidos de<br />
julgar. Mas um professor que mente<br />
– ao menos em Colúmbia – permanece<br />
livre para continuar enganando.<br />
É de admirar que Edward Saïd continue<br />
dizendo mentiras?<br />
* Jeff Jacoby é colunista do jornal The Boston Globe desde 1994, e antes fora editorialista-chefe do Boston Herald. Graduou-se na George Washington<br />
University e na Boston University Law School. Foi advogado e trabalhou em campanhas eleitorais para o Senado americano. Além de seu trabalho como<br />
jornalista, é comentarista político da Boston’s National Public Radio (WBUR-FM) e por anos manteve um programa de televisão. O presente artigo escrito<br />
quando Said ainda era vivo, foi traduzido por Heitor de Paola e está publicado, no original em http://www.bigeye.com/jj092800.htm
Jane Bichmacher de Glasman* pulsão dos judeus da Espanha. A hebraico, os textos escritos em um<br />
m 12 de outubro de<br />
1492 a América foi<br />
descoberta pelo genovês<br />
Cristóvão Colombo”.<br />
A frase que está na ponta<br />
da língua desde a nossa infância,<br />
pode ser uma sucessão de erros.<br />
Pesquisas recentes revelam que o<br />
continente americano já havia recebido<br />
visitantes (de fenícios a<br />
chineses, passando por vikings),<br />
que Colombo não era italiano... e<br />
que sequer seu nome era esse!<br />
O lugar de nascimento de Colombo<br />
é incerto e as suas origens permanecem<br />
envoltas em enigma sem<br />
que surjam documentos decisivos. A<br />
partir de finais do século XIX, e do<br />
centenário de 1892, foi considerado<br />
natural de Gênova. Atualmente,<br />
historiadores diversos levantam hipótese<br />
de ele ser português, catalão,<br />
basco, galego ou mesmo grego,<br />
e certamente de ascendência judaica.<br />
Conhecia as línguas clássicas<br />
(mantinha um diário em latim e outro<br />
em grego) e o hebraico; não escrevia<br />
italiano, mas uma forma aportuguesada<br />
do castelhano.<br />
O ano de 1492 é divisor de águas<br />
na história em geral e na judaica,<br />
polêmica começa na proximidade<br />
entre estes dois fatos muito relevantes<br />
em datas muito juntas. A discussão<br />
esquenta com o livro do historiador<br />
Mascarenhas Barreto, “O<br />
Português Cristóvão Colombo, Agente<br />
Secreto do Rei Dom João II”, em<br />
que afirma que o descobridor<br />
era português<br />
e judeu.<br />
Colombo vivia em<br />
meios judaicos, tinha<br />
muitos amigos e mestres<br />
judeus. A navegação<br />
era ensinada em<br />
academias judaicas, e<br />
os primeiros navegadores<br />
foram judeus e árabes. A viagem<br />
de Colombo foi arranjada e patrocinada<br />
por judeus - e não pelo<br />
ouro dos monarcas, como se diz.<br />
E curiosamente, a sua frota zarpou<br />
dois dias após o prazo estabelecido<br />
pelos monarcas para os judeus<br />
abandonarem o reino. Sabe-se que<br />
com Colombo viajaram muitos cristãos<br />
novos.<br />
Segundo Oscar Villar Serrano em<br />
seu livro “Cristóbal Colón: el secreto<br />
mejor guardado” na correspondência<br />
que mantiveram Colombo e<br />
seu filho Fernando há muitas pro-<br />
idioma “ininteligível” e as despedidas<br />
eram uma benção judaica. Colombo<br />
recomendava ao seu filho que<br />
diante das pessoas se comportasse<br />
como mandava a lei canônica, “mas<br />
entre nós, temos que conservar nossos<br />
costumes” (sic).<br />
O irmão de Cristóvão<br />
Colombo foi queimado<br />
em Valência em 1493<br />
por ser judeu e, curiosamente,<br />
foi a própria<br />
Igreja que propôs canonizar<br />
o descobridor pelo<br />
fato de ter cristianizado<br />
os indígenas de América,<br />
mas desistiu ao saber<br />
que ele era judeu.<br />
Cristóvão Colombo seria Salvador<br />
Fernandes Zarco, que existiu de fato,<br />
nobre ilegítimo natural da vila alentejana<br />
de Cuba em Portugal, neto de<br />
João Gonçalves Zarco, navegador<br />
português de ascendência judaica -<br />
o que justifica os nomes com que<br />
ele batizou ilhas (São Salvador e<br />
Cuba) e o fato de nunca escrever italiano,<br />
mas sim um “portunhol”.<br />
Decifrando a misteriosa assinatura<br />
críptica de 27 sinais com que<br />
Colombo sempre escreveu seu<br />
nome, Barreto acredita ter desven-<br />
em particular. A chegada de Colomvas de sua origem judaica. As cardado a cabala judaica do nome e<br />
bo às Américas “coincide” com a extas estavam fechadas com letras em da identidade do navegador. Para<br />
Diáspora<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
A assinatura cabalística do<br />
judeu sefaradi Cristóvão Colombo<br />
professora Sônia Blommfeld foi<br />
a convidada da B’nai B’rith do<br />
Brasil para falar sobre ‘Diáspora:<br />
ontem, hoje e amanhã’,<br />
tema do Concurso Fábio Dorf<br />
20<strong>06</strong>, promovido pelo quarto ano consecutivo<br />
pela B’nai B’rith para todas as escolas<br />
judaicas de educação formal do Brasil.<br />
Em sua análise, a docente da Universidade<br />
Nacional de Brasília, destacou as informações<br />
resultantes das pesquisas genéticas,<br />
como a de que o DNA dos judeus,<br />
ashkenazim (provenientes da Alemanha e<br />
Europa Oriental) e dos sefaradim, (originários<br />
da Península Ibérica, expulsos pela<br />
Inquisição) é o mesmo, correspondendo a<br />
ancestrais que viveram três mil anos atrás<br />
no Oriente Médio. E, ainda mais interessante:<br />
o DNA que mais se assemelha ao dos<br />
judeus é o dos palestinos.<br />
Hoje estão em andamento dois grandes<br />
projetos envolvendo a análise de DNA,<br />
coordenados pelo Yad Vashem (Museu do<br />
isso, o pesquisador utilizou o método<br />
da leitura espelhada, na qual<br />
o ponto e a vírgula podem significar,<br />
em espanhol antigo, Colon, e<br />
em hebraico, Zarco.<br />
Colombo é uma forma latinizada<br />
do seu apelido. Na sua assinatura hierática<br />
lê-se Xpo ferens (“portador de<br />
Cristo”) além de siglas que originaram<br />
interpretações variadas, mais convencionais<br />
ou mais esotéricas. Colombo<br />
seria até um nome errado, pois<br />
nas suas assinaturas aparece o símbolo<br />
“:” (“colon” em muitas línguas,<br />
como o castelhano e o inglês), que<br />
justifica o seu nome em castelhano:<br />
“Colón”. Ele nunca assinou Colombo...<br />
Mascarenhas Barreto explica que<br />
Cristóvão a decifração em latim é:<br />
Fernandus, ensifer copiae Pacis Juliae,<br />
illaqueatus cum Isabella<br />
Sciarra Camarae, mea soboles<br />
Cubae sunt que significa:<br />
Fernando, duque de<br />
Beja e Isabel Sciarra da<br />
Câmara são os meus pais<br />
de Cuba.<br />
A assinatura dele<br />
era contraditória, isto é,<br />
possuía mensagens católicas,<br />
em latim e mensagens<br />
em hebraico, comenta<br />
José Rodrigues dos<br />
Santos, autor de Codex 632.<br />
Judeus de diferentes regiões têm mesmo<br />
DNA dos ancestrais do Oriente Médio<br />
Holocausto) de Jerusalém, que está solicitando<br />
aos judeus de todo o mundo que<br />
enviem o seu material genético para a formação<br />
de um banco genético.<br />
A diferença conceitual entre diáspora<br />
(dispersão) e galut (exílio) foi abordada pela<br />
conferencista, ao falar da destruição do 2º<br />
Templo de Jerusalém, e a expulsão dos judeus<br />
pelos romanos em 70 d.e.c, quando teve<br />
início a Diáspora e, com ela o surgimento<br />
do judaísmo rabínico, das sinagogas, e da<br />
normatização da legislação judaica.<br />
No entanto, ela destacou que “é preciso<br />
lembrar a presença constante dos judeus<br />
na terra de Israel, mesmo após este<br />
período, seja de camponeses, seja decorrente<br />
da constante migração de judeus da<br />
Europa e de outros países do Oriente Médio,<br />
em geral por questões religiosas”. E<br />
acrescentou que no século XVI, por exemplo,<br />
Safed se tornou um importante centro<br />
religioso e espiritual, suplantando Jerusalém<br />
(de onde, de tempos em tempos,<br />
os judeus eram expulsos novamente).<br />
Em relação à trajetória das comunidades<br />
judaicas da Diáspora há diversos momentos<br />
importantes a ressaltar. Um deles é<br />
a haskalá, uma verdadeira ‘revolução’ nos<br />
usos e costumes dos judeus, em decorrência<br />
dos novos conceitos trazidos pelo iluminismo<br />
europeu, e pela Revolução Francesa,<br />
com o surgimento da idéia de Estado-Nação,<br />
de cidadania, e de que as pessoas<br />
irmanadas em seus ancestrais míticos<br />
ou físicos deveriam ter seu estado, ou seja,<br />
nasce a idéia da ‘nação judaica’.<br />
Para os judeus, em especial a partir<br />
da França, teve início esse movimento de<br />
modernização da religião, uma adaptação<br />
aos novos tempos, com ênfase na educação<br />
laica, e nos idiomas das regiões em<br />
que viviam, e no hebraico, em detrimento<br />
do iídiche, que passa a figurar em canções<br />
e peças de teatro, enfim, maior inserção<br />
na vida local.<br />
Paralelamente à liberdade, igualdade e<br />
5<br />
* Jane Bichmacher<br />
de Glasman é doutora em<br />
Língua Hebraica, Literaturas<br />
e Cultura <strong>Judaica</strong>, professora,<br />
fundadora e ex-coordenadora<br />
do Setor de Hebraico da<br />
Universidade Estadual do Rio<br />
de Janeiro - UERJ, fundadora<br />
e ex-diretora do Programa de<br />
Estudos Judaicos da UERJ,<br />
professora e coordenadora<br />
do Setor de Hebraico<br />
UFRJ (aposentada), e<br />
também escritora.<br />
fraternidade, preconizada pela Revolução<br />
Francesa, surge também a concepção moderna<br />
de racismo.<br />
A participação dos judeus nas mudanças<br />
dos séculos XIX e XX foi intensa, a ponto<br />
de sugerir que estes seriam muito mais<br />
numerosos do que são na realidade.<br />
Outras questões abordadas na palestra<br />
foram, a Diáspora frente ao recrudescimento<br />
do anti-semitismo, o uso de falsificações<br />
como os ‘Protocolos dos Sábios de Sião’, e<br />
de mentiras sobre usos e costumes judaicos<br />
que tem sido explorado pelos meios de comunicação,<br />
em especial pelas TVs árabes, que<br />
possuem cada vez mais penetração no mundo<br />
ocidental, que têm sido difundidos nas<br />
escolas, universidades, entre políticos e formadores<br />
de opinião em geral.<br />
A palestra foi encerrada com um filme,<br />
mostrando a importância do tripé: povo,<br />
terra e Torá, destacado pela professora Sônia<br />
como resposta à crescente perda da<br />
identidade judaica nos dias de hoje.
6<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
urpresa: acaba de ser divulgada<br />
uma fatwa contra o<br />
Hezbolá, assinada por Abdala<br />
Ben Jabrín, importante<br />
xeque wahabita da Arábia Saudita.<br />
Assegura que viola a lei corânica<br />
quem apóia esta organização, quem<br />
se junta, prega ou reza por ela. Segue<br />
um documento assombroso publicado<br />
em 12 de julho por outro<br />
xeque, o kuwaitiano Hamid al Alí,<br />
que condena as ambições imperiais<br />
do Irã instrumentadas pelo Hezbolá<br />
a partir do Líbano. Estes pronunciamentos<br />
são apenas a parte visível<br />
do iceberg que liga velhos e novos<br />
conflitos dentro da família árabe e<br />
muçulmana, ocultos até agora pelo<br />
fragor da obsessiva luta contra a<br />
existência de Israel.<br />
É necessário advertir que nem<br />
todos os árabes querem um Estado<br />
palestino e, mais: há árabes que ainda<br />
detestam os palestinos, como prova<br />
a inexpugnável cerca egípcia que<br />
impede a fuga dos palestinos até o<br />
Sinai ou as proibições que impedem<br />
os palestinos, em quase todos os Estados<br />
árabes, de comprar propriedades<br />
ou gozar dos mesmos direitos que<br />
possuem os demais habitantes. Basta<br />
recordar que foram assassinados<br />
pelas tropas jordanianas, sírias e libanesas<br />
cinco ou seis vezes mais<br />
palestinos que todos os que caíram<br />
em seus enfrentamentos com Israel<br />
desde há mais de meio século.<br />
Para entender o Hezbolá convém<br />
ter em conta as quatro correntes de<br />
opinião que prevaleceram na área<br />
sucessivamente, em tão só um século.<br />
Tratarei de ser breve e claro.<br />
Hezbolá, o fator confuso<br />
Marcos Aguinis *<br />
Antes da Primeira Guerra Mundial,<br />
cinco países que agora são Síria, Líbano,<br />
Israel, Jordânia e os territórios<br />
palestinos constituíam uma província<br />
pobre e marginal do império<br />
turco. O movimento nacional judeu,<br />
que havia começado a desafiar a<br />
opressão turca desde o final do século<br />
XIX para constituir um Lar Nacional<br />
Judeu na antiga terra de Israel,<br />
determinou que após a Primeira<br />
Guerra Mundial a Grã Bretanha fosse<br />
escolhida pela Liga das Nações para<br />
exercer seu mandato sobre o que<br />
então começava a chamar-se Palestina.<br />
Este nome ressuscitava a denominação<br />
romana imposta pelo imperador<br />
Adriano, em substituição do<br />
combativo nome de Judéia.<br />
O movimento nacionalista árabe,<br />
que nasceu na Síria em princípios do<br />
século XX e foi teorizado por personalidades<br />
cristãs e pro ocidentais,<br />
disse que a “Palestina” era uma invenção<br />
dos sionistas, para separá-la<br />
da Síria. Com efeito, o nacionalismo<br />
árabe de então considerava que toda<br />
essa região constituía uma grande<br />
Síria, opinião que subsiste nesse país.<br />
Por isso suas tentações para dominar<br />
o Líbano e Israel.<br />
Essa primeira corrente de opinião<br />
foi substituída pela que difundiu o<br />
presidente egípcio Gamal Abdel Nasser<br />
sobre o pan-arabismo, que além<br />
de secular era autoritário e estatizante.<br />
Nasser fundou a República<br />
Árabe Unida, que ligou por alguns<br />
anos o Egito com Síria e que devia<br />
incorporar rapidamente o resto dos<br />
países árabes. A insensata Guerra dos<br />
Seis Dias acabou com esse sonho.<br />
Começou a crescer uma terceira<br />
tendência, que incluía a OLP. Pre-<br />
É grande a semelhança que guarda o Hezbolá do nazismo, tanto na simbologia, comos nos<br />
gestos, militarismo e no anti-semitismo<br />
tendia um perfil nacional diferenciado<br />
para cada país. À OLP, entretanto,<br />
não lhe bastava criar um Estado<br />
palestino na Cisjordânia e Gaza, que<br />
durante 19 anos estiveram sob a<br />
ocupação egípcio-jordaniana sem que<br />
se fizesse nada para estabelecê-lo, porém<br />
pretendia incluir nesse Estado todo<br />
Israel, e conquistar a Jordânia. Por<br />
isso, em 1971, Yasser Arafat, que havia<br />
formado na Jordânia um Estado<br />
dentro do Estado, atacou o governo e<br />
foi repelido num setembro chamado<br />
desde então Setembro Negro. A tropas<br />
jordanianas assassinaram ao redor de<br />
20.000 palestinos e depois outros caíram<br />
ante as balas sírias quando tentaram<br />
refugiar-se no Norte.<br />
No Líbano, a OLP fez um outro<br />
Estado dentro do Estado, até que a<br />
guerra civil e a intervenção de Israel<br />
a expulsaram. Nessa época nasceu o<br />
Hezbolá como uma enganosa alternativa<br />
pacífica, por seu compromisso<br />
com a assistência religiosa e social.<br />
Não se limitava a ela, mas a desencadear<br />
uma ação terrorista sustentada<br />
pelo Irã teocrático de Khomeini.<br />
Inaugurou os crimes suicidas<br />
mediante a matança das forças de paz<br />
francesas e norte-americanas que tinham<br />
chegado ao Líbano para controlar<br />
a atroz guerra civil. Em seguida,<br />
havia executado os dois atentados<br />
de Buenos Aires (embaixada de<br />
Israel e Amia), com o possível apoio<br />
da embaixada iraniana. Este fato<br />
marcou a escolha de objetivos civis<br />
para gerar infinito pânico. Ao mes-<br />
mo tempo, iniciou a interminável<br />
série de ataques contra as populações<br />
civis em Israel. Esta é a quarta<br />
e última corrente de opinião, que<br />
obscurece as outras três.<br />
Obscurece porque esta tendência<br />
ambiciona a reconstrução do grande<br />
califado medieval, que uniria cinqüenta<br />
nações muçulmanas sob uma<br />
só condução teocrática. Não importa<br />
a diferenciação nacional, mas a<br />
imposição da sharia (lei islâmica) e<br />
uma guerra perpétua contra os infiéis<br />
de qualquer denominação.<br />
É curioso que o Hezbolá, uma organização<br />
xiita, fanática e dependente<br />
do Irã, conte com o manifesto<br />
apoio da Síria, que é uma cruel<br />
ditadura castrense secular baseada na<br />
minoria alauíta. Profundas contradições<br />
separam ambos regimes. Contudo,<br />
os dois têm em comum seu<br />
desprezo pelos sunitas e por Israel.<br />
A Síria invadiu o Líbano em 1975 da<br />
mão da Falange cristã que combatia<br />
a OLP, porque também detestava a<br />
OLP, que interferia com seus interesses<br />
no Líbano, e desejava um Estado<br />
independente na Palestina, espaço<br />
que a Síria continuava considerando<br />
seu, ainda que não o expressasse<br />
de forma transparente.<br />
O Hezbolá pedala com um pé no<br />
Irã e outro na Síria, mercê de três<br />
elementos comuns: ódio a Israel,<br />
ódio aos Estados Unidos e posição<br />
ambígua sobre a criação de um Estado<br />
palestino em Gaza e Cisjordânia<br />
(ambigüidade dissimulada com os pro-
testos pelo sofrimento palestino, ao<br />
que não se apressa a colocar fim, porque<br />
sempre os terroristas fazem algo<br />
para frustrar a solução negociada).<br />
Chama também a atenção o fato<br />
de que quando não quer ter enfrentamentos<br />
com Israel, basta não atacá-lo.<br />
A Síria, por exemplo, não protagonizou<br />
nem um só tiroteio com<br />
Israel desde a guerra do Iom Kipur.<br />
Em troca, hostiliza de forma cínica<br />
esse país por meio do Hezbolá, Hamas<br />
e a Jihad Islâmica a partir do<br />
Norte (Líbano) e do Sul (Gaza). Quando<br />
se produziu a retirada israelense<br />
da zona de segurança que mantinha<br />
no Líbano, em vez desse território<br />
ser ocupado pelo exército libanês,<br />
como ordenaram as Nações Unidas,<br />
o fez com celeridade extrema o Hezbolá,<br />
graças à proteção com que lhe<br />
brindaram as tropas sírias estabelecidas<br />
no vale de Bekaa.<br />
Só agora se pode observar que os<br />
serviços de inteligência israelenses<br />
foram ineficazes em perceber a preparação<br />
da guerra em grande escala<br />
que o Hezbolá efetuava durante seis<br />
febris anos. Com a acumulação impressionante<br />
de armamento, construção<br />
de bastiões, de túneis enormes<br />
e um controle absoluto da área,<br />
além da instalação de bases para lançar<br />
mísseis em bairros densamente<br />
povoados, inclusive edifícios de<br />
apartamentos e até escolas, tudo<br />
para servir-lhe de atroz escudo.<br />
A Síria foi expulsa pela maioria<br />
da população libanesa após o assassinato<br />
do premiê Harari. Mas se algo<br />
desejava a rancorosa Síria era que<br />
depois de sua retirada estalasse o<br />
caos. Seu afilhado Hezbolá acaba de<br />
produzi-lo, precisamente.<br />
O grupo xiita Hezbolá cometeu graves violações do direito internacional<br />
humanitário com seus ataques deliberados contra a população civil israelense<br />
durante o recente conflito no Oriente Médio, segundo uma afirmação da<br />
Anistia Internacional (AI) feita em setembro.<br />
Em relatório divulgado em sua sede em Londres, a organização humanitária<br />
acredita ser necessário que a ONU comece uma investigação exaustiva e<br />
imparcial sobre as violações cometidas durante o conflito.<br />
Segundo a AI, durante os 34 dias de conflito, o Hezbolá lançou cerca de 4<br />
mil foguetes contra o norte de Israel, matando 43 civis e deixando 33 gravemente<br />
feridos, enquanto outras milhares de pessoas tiveram que buscar abrigo.<br />
Aproximadamente 25% dos foguetes foram disparados contra regiões urbanas<br />
e alguns tinham milhares de fragmentos de metal, acrescenta o relatório,<br />
intitulado “Na linha de fogo: os ataques do Hezbolá contra o norte de Israel”.<br />
Em suas reuniões com a AI, o Hezbolá afirmou que seus ataques com foguetes<br />
contra o norte de Israel eram uma represália pelos ataques israelenses<br />
contra a população civil do Líbano.<br />
“A escala dos ataques do Hezbolá contra cidades e povoados israelenses, o<br />
caráter indiscriminado das armas utilizadas e as declarações dos dirigentes<br />
do grupo confirmando sua intenção de atacar civis, deixam perfeitamente<br />
claro que o Hezbolá violou as leis da guerra”, afirmou a secretária-geral da AI,<br />
Irene Khan, no texto divulgado pela ONG.<br />
“O fato de Israel também ter cometido violações graves não justifica as<br />
cometidas pelo Hezbolá. A população civil não deve pagar o preço da conduta<br />
ilegítima de nenhuma das duas partes”, acrescenta.<br />
O relatório se baseia na investigação feita pela AI nos terrenos de Israel e<br />
Líbano, em entrevistas a vítimas, declarações oficiais e conversas com autoridades<br />
dos governos dos dois países e com altos dirigentes da milícia xiita.<br />
(Agência EFE)<br />
Os ataques de Israel para bloquear<br />
suas fontes de abastecimento (aeroportos,<br />
estradas, estações de radar<br />
e edifícios inteiros controlados<br />
por esta organização) provocaram<br />
“O Hezbolá pedala com um pé no Irã e outro<br />
na Síria, mercê de três elementos comuns:<br />
ódio a Israel, ódio aos Estados Unidos e<br />
posição ambígua sobre a criação de um<br />
Estado palestino em Gaza e Cisjordânia”<br />
Anistia Internacional: Hezbolá<br />
violou os direitos humanos<br />
com ataques a civis<br />
horríveis danos humanos e materiais<br />
a um belíssimo país como o Líbano.<br />
Um país fraco que não pôde aplicar<br />
a ordem das Nações Unidas, porque<br />
o Hezbolá, graças à caudalosa intervenção<br />
sírio-iraniana se converteu<br />
numa força mais poderosa que seu<br />
exército nacional.<br />
Calcula-se que cerca de 80 por<br />
cento da população libanesa, incluídos<br />
os xiitas, percebem que as<br />
ações do Hezbolá foram o causador<br />
da tragédia, um sanguinário câncer<br />
que lhes nasceu nos anos<br />
80 e que os levou a esta<br />
guerra mediante seu fabuloso<br />
arsenal de armas e<br />
seus incessantes ataques a<br />
Israel. Todavia, os libaneses<br />
não podem extirpar<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
este câncer por si só.<br />
Além disso, cresce uma tensão<br />
religiosa transnacional que tomara<br />
não se transforme em conflagração<br />
aberta: os xiitas e os sunitas se assassinam<br />
no Iraque e em outras regiões<br />
onde competem pelo poder do<br />
mundo islâmico.<br />
Nunca tantos países árabes e<br />
muçulmanos se mantiveram tão imóveis<br />
como nesta lamentável operação<br />
de limpeza policial que realiza<br />
Israel dentro de um país árabe. Só<br />
há discursos: nenhuma ação firme.<br />
Eles parecem agradecer o maldito<br />
trabalho que não se atrevem a realizar<br />
eles mesmos.<br />
O Hezbolá é um perigo para o Líbano<br />
e demais países árabes que não<br />
desejam ser dominados pelo Irã nem<br />
fundir-se num totalitarismo fundamentalista.<br />
Mas Israel tampouco poderá<br />
varrer o Hezbolá por completo,<br />
ainda que se empenhe durante outras<br />
semanas que aumentarão o luto<br />
de ambas as partes. Só conseguirá<br />
debilitá-lo. Então é provável que o<br />
governo libanês, com suas forças armadas,<br />
apoiadas por tropas estrangeiras,<br />
talvez pela OTAN, se encarregue<br />
de acabar a tarefa: confiscar o<br />
armamento acumulado em túneis ou<br />
áreas civis para que o Líbano possa<br />
se reconstruir e voltar a ser um dos<br />
países mais belos, pacíficos, cultos<br />
e progressistas do Oriente Médio.<br />
* Marcos Aguinis é escritor, conferencista, médico psicanalista,<br />
foi ministro da Cultura da Argentina, onde desempenhou um<br />
papel fundamental na redemocratização do país. É autor dos<br />
livros “La cruz invertida” e “La gesta del marrano”. Publicado no<br />
jornal La Nación, de Buenos Aires. Tradução: Szyja Lorber<br />
7
8<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Ali Kamel *<br />
o ano passado, escrevi um artigo<br />
cujo título era “O mesmo<br />
mundo”. Eu dizia que não vivíamos<br />
num mundo pior, cheio de<br />
guerras e desventuras: o mundo<br />
sempre foi assim. Há dias venho criando<br />
coragem para comentar o que se<br />
passa hoje no Oriente Médio, mas, cada<br />
vez que começo a estudar o assunto<br />
mais de perto, a sensação de que tudo<br />
é apenas uma repetição do passado<br />
me deixa prostrado. É impressionante<br />
como ali a História se repete, e não<br />
como farsa, como queria Marx, mas<br />
sempre como tragédia.<br />
Lembremos 1978. A OLP estava<br />
abrigada no Líbano e, de lá, prosseguia<br />
em sua luta para retomar não<br />
apenas as terras que Israel conquistou<br />
na guerra árabe-israelense, mas<br />
para pôr fim ao país inteiro, “varrendo-o<br />
do mapa”, na retórica ainda<br />
viva na boca de muitos. Em março<br />
daquele ano, um grupo de terroristas<br />
ligados ao Fatah seqüestrou um<br />
Imagem obtida por jornal australiano mostra os membros do<br />
Hezbolá usando roupas civis para se misturar rapidamente com<br />
a população, sobre um veículo com arma anti-aérea<br />
ônibus com crianças que faziam um<br />
passeio de um dia ao Norte de Israel.<br />
Seguiram para Tel Aviv e, na entrada<br />
da cidade, ao se depararem com uma<br />
barreira, saltaram do veículo, iniciaram<br />
um tiroteio e lançaram mísseis<br />
contra o ônibus, matando 35 pessoas.<br />
Israel, então, empreendeu um ataque<br />
ao Líbano, invadindo o país dez quilômetros<br />
além da fronteira. O mundo<br />
reagiu em coro contra Israel, o Conselho<br />
de Segurança da ONU passou a<br />
resolução 425, impondo a imediata<br />
retirada das tropas israelenses do Líbano<br />
e criando uma força internacional<br />
de paz. Em junho, Israel deixou<br />
o Líbano, mas, nos quatro anos<br />
seguintes, a força de paz não cumpriu<br />
os seus objetivos, e os ataques<br />
da OLP a Israel e as conseqüentes retaliações<br />
continuaram.<br />
Em 1981, um cessar-fogo foi conseguido<br />
pelos EUA, mas foi apenas<br />
formal: nos 11 meses que se seguiram,<br />
houve 270 ataques a Israel. Em<br />
abril de 1982, uma mina matou um<br />
oficial do exército israelense, e a resposta<br />
veio rapidamente, na forma de<br />
ataques aéreos e bombardeios. Em<br />
junho, houve uma tentativa de assassinar<br />
o embaixador de Israel no<br />
Reino Unido, o que deflagrou nova<br />
invasão do Líbano, com o objetivo<br />
de afastar o perigo da OLP, armada<br />
até os dentes. A história é bem conhecida:<br />
Israel ficou lá por três anos,<br />
as lutas foram cruentas, houve o<br />
massacre de Sabra e Chatila e a OLP<br />
acabou indo, com Arafat e tudo, para<br />
a Tunísia. Reagan acreditou que a<br />
força de paz da ONU não daria jeito<br />
e mandou para lá uma nova força,<br />
Ciclos<br />
composta por marines e soldados da<br />
França e Itália. No fim, os marines<br />
carregaram o maior peso, até que o<br />
recém-fundado Hezbolá, financiado<br />
pelo Irã, reintroduziu, após 900 anos<br />
de hibernação, a prática dos atentados<br />
suicidas: um carro-bomba levou<br />
pelos ares a embaixada americana,<br />
matando 17 diplomatas e 40 funcionários<br />
libaneses, e, meses depois,<br />
outros dois carros-bomba mataram<br />
241 marines, no aeroporto de Beirute,<br />
e 56 soldados franceses, a alguns<br />
quilômetros de distância. Houve<br />
as retaliações de praxe, e Reagan<br />
tirou de lá os marines, apenas quatro<br />
meses depois.<br />
Israel se estabeleceu, então,<br />
numa faixa da fronteira, criando uma<br />
zona de segurança, até que, em<br />
2000, saiu inteiramente do Líbano,<br />
cumprindo integralmente a resolução<br />
425 da ONU.<br />
Como em 1982, quando o presidente<br />
de origem cristã, pró-Israel,<br />
Bashir Guemayel, foi assassinado<br />
numa explosão de carro-bomba atribuída<br />
à Síria, ano passado foi morto<br />
o ex-primeiro ministro do Líbano<br />
Rafik Hariri, não pró-Israel, mas pró-<br />
Ocidente, também numa explosão de<br />
carro-bomba. Como tudo se parece...<br />
O assassinato de Hariri também foi<br />
atribuído à Síria, que acabou deixando<br />
o território libanês, depois de<br />
uma presença de mais de trinta anos.<br />
Bem, hoje a história se repete.<br />
Como a OLP no passado, o Hezbolá<br />
cresceu, dominou o Sul do Líbano,<br />
armou-se com 12 mil foguetes e recomeçou<br />
a atacar israelenses. Quando<br />
um ataque matou oito soldados<br />
e seqüestrou outros dois, Israel invadiu<br />
novamente o Líbano, para pôr<br />
fim à ameaça armada. No momento,<br />
estamos na fase da costura de uma<br />
nova resolução da ONU, que, provavelmente,<br />
criará uma nova força internacional<br />
de paz, e acabará, de uma<br />
forma ou de outra, determinando que<br />
Israel saia do país. Depois, bem, não<br />
quero me arriscar a dizer o que virá<br />
depois para não parecer praga.<br />
Porque não se trata disso. Esse<br />
artigo pode parecer pessimista, mas<br />
não é. Eu o chamaria de realista. Essa<br />
guerra já dura 58 anos, o que parece<br />
uma eternidade. Mas, se olharmos para<br />
trás, veremos que conflitos mais longos,<br />
que pareciam insolúveis, hoje<br />
não passam de História. Nós, seres<br />
humanos, somos assim: uma hora a<br />
gente cansa. Não sou médico, mas sei<br />
que, quando um mal se torna crônico,<br />
a razão é única: a causa não foi<br />
debelada. É o que acontece por lá.<br />
Um bom remédio é que a democracia<br />
alcance os países árabes:<br />
quando os povos tiverem o comando<br />
de seus destinos, duvido que concordem<br />
com grupos fanáticos terroristas<br />
que atiram foguetes em vizinhos<br />
sabendo de antemão que a reação<br />
será um pesado bombardeio sobre<br />
suas cabeças. É também preciso<br />
deixar D-us fora do conflito, porque<br />
sabemos todos que D-us não tem<br />
partido. É fundamental que os dois<br />
lados se aceitem como uma realidade<br />
inamovível e mais fundamental<br />
que cedam naquilo que lhes é mais<br />
caro. Enquanto isso não acontecer,<br />
o conflito persistirá, repetindo-se de<br />
forma monótona. E trágica.<br />
* Ali Kamel é jornalista, editor-chefe do Jornal Nacional, e publicou este artigo em sua coluna no jornal O Globo (http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/<br />
alikamel.asp). O artigo foi escrito antes da nova Resolução da ONU, antes da criação da nova força internacional de paz e antes da retirada do exército<br />
israelense do Sul do Líbano. E-mail: ali.kamel@oglobo.com.br<br />
Fatah ameaça matar líderes do Hamas<br />
Palestinos brigam entre si e em quatro dias houve 14 mortos e 150 feridos<br />
esde o dia 1º/10, quando começaram<br />
os confrontos armados<br />
entre o Fatah e o Hamas,<br />
quase 150 palestinos ficaram<br />
feridos em distúrbios na Cisjordânia<br />
e em Gaza, e 14 morreram.<br />
As Brigadas dos Mártires de Al-<br />
Aqsa, facção armada vinculada ao<br />
movimento Fatah, emitiram uma nota<br />
ameaçando matar dirigentes do Hamas,<br />
entre eles Khaled Mashaal, líder<br />
do grupo islâmico que vive no exílio.<br />
Em comunicado enviado aos meios<br />
de comunicação vários dirigentes do<br />
Hamas são responsáveis pela recente<br />
explosão de violência nas ruas palestinas,<br />
que deixou 14 palestinos mortos<br />
e quase 150 feridos.<br />
As Brigadas indicaram que<br />
Mashaal, residente em Damasco, assim<br />
como o ministro do Interior do<br />
Governo palestino, Said Siyam, e<br />
Youssef Zahar, também funcionário<br />
deste ministério, são os responsáveis<br />
pelas recentes mortes.<br />
“Nós das Brigadas de Al-Aqsa<br />
anunciamos, com toda nossa força e<br />
sinceridade, aos que governam o<br />
povo em nossa pátria e na diáspora,<br />
que executaremos os responsáveis<br />
pela revolta: Khaled Mashaal, Said<br />
Siyam e Youssef Zahar”.<br />
Desde o dia 1º, quando começaram<br />
os confrontos armados entre<br />
milicianos do Fatah e membros da<br />
nova força criada pelo Ministério do<br />
Interior e leal ao Hamas, quase 150<br />
palestinos ficaram feridos em distúrbios<br />
na Cisjordânia e em Gaza.<br />
Além disso, vários militantes do<br />
Fatah fecharam na terça-feira, 3/10,<br />
várias escolas no centro da Faixa de<br />
Gaza, e instaram os professores e alunos<br />
a abandonar as salas de aula, sem<br />
dar-lhes mais explicações.<br />
Seguidores do Fatah, presidido<br />
por Mahmoud Abbas, também<br />
bloquearam a estrada Saladino, um<br />
dos principais cruzamentos da Faixa<br />
de Gaza, queimaram pneus, levantaram<br />
barricadas e efetuaram vários<br />
disparos para o ar enquanto gritavam<br />
“Abaixo, abaixo com o Hamas”.<br />
Representantes de ambos os gru-<br />
pos continuaram trocando acusações,<br />
enquanto aumentam os chamados<br />
por eleições antecipadas.<br />
O ex-ministro palestino Sufian<br />
Abu Zaid, do Fatah, pediu a formação<br />
de um novo governo de união<br />
nacional na Autoridade Nacional Palestina<br />
(ANP) ou eleições.<br />
As diferenças entre ambos os<br />
grupos incluem principalmente a<br />
negativa do Hamas de aceitar o<br />
reconhecimento de Israel, para<br />
que se forme um novo gabinete<br />
palestino e se acabe assim com o<br />
boicote da comunidade internacional.<br />
A suspensão da ajuda estrangeira<br />
impediu o pagamento<br />
de 165 mil funcionários públicos<br />
durante meses.
Acima de qualquer crítica<br />
Nada no mundo pode ou deveria<br />
estar acima de suspeitas, dúvidas, reflexões,<br />
reclamações e tentativas de<br />
melhoras. Partindo do princípio de<br />
que tudo foi criado no mundo por D-us<br />
de forma imperfeita, logo qualquer<br />
coisa está aberta a contestação. Inclusive<br />
a religião. Afinal, ela passou<br />
por compilações humanas. E é mais<br />
do que justo que tenhamos nossas<br />
dúvidas. Como aprendi uma vez em<br />
um shiur uma criança que não pergunta<br />
em uma Yeshiva e não tem no<br />
final da aula nenhuma questão a ser<br />
retirada, esta sim é problemática. Não<br />
existe no judaísmo engolir tudo de<br />
cor e aceitar qualquer coisa que lhe<br />
digam por aceitar.<br />
Mas parece que existem no mundo<br />
forças que querem estar acima<br />
de qualquer crítica, e que não aceitam<br />
que lhes apontem seus defeitos.<br />
Não querem progredir. Querem<br />
estancar na mediocridade, mas<br />
aceitam criticar os outros e se postar<br />
como os melhores do mundo.<br />
Um dia foi assim com o catolicismo.<br />
Na Idade Média. Chegaram a<br />
queimar cientistas que discordassem<br />
de sua forma de pensar em fogueiras<br />
públicas. Mas este tempo passou.<br />
A igreja evoluiu, e hoje sabe<br />
lidar com a problemática dos questionamentos<br />
e críticas.<br />
Hoje, quem vive na era das pedras<br />
é o Islã radical. Acima de qualquer suspeita.<br />
Ai daquele que ousar tecer um<br />
comentário negativo sobre a religião<br />
de Maomé. Dizer a verdade hoje pode<br />
custar muito caro.<br />
Hoje, os muçulmanos estão envolvidos<br />
em 99% dos conflitos do mundo.<br />
Realizam atentados nos cinco<br />
continentes, e são responsáveis por<br />
diversos genocídios, principalmente<br />
na África, a saber, casos como o da<br />
Argélia, Sudão e Somália.<br />
Nos últimos cinco anos apenas,<br />
42 nações tiveram que lidar de um<br />
jeito ou de outro com a violência<br />
causada por grupos islâmicos. Desde<br />
1920 existe a Irmandade Muçulmana<br />
e seu sonho de reconstruir o<br />
Califado mundial. Desde a década de<br />
40 existe a aliança entre nazismo e<br />
islamismo, tratada e pactuada pelo<br />
Mufti de Jerusalém. Nada é novidade,<br />
somente que agora as forças res-<br />
Daniel Benjamin Barenbein*<br />
ponsáveis pela jihad resolveram acelerar<br />
o processo de tentativa de conquista<br />
do mundo.<br />
Então, como explicar que o Islã<br />
se revolte tanto com a charge dinamarquesa<br />
no ano passado e com as<br />
palavras do Papa no último mês, se<br />
elas absolutamente só dizem a verdade<br />
dos fatos?<br />
Ambos os pronunciamentos apenas<br />
criticam o Islã por ter sido cooptado<br />
por terroristas e ditadores que<br />
querem conquistar e impor o islamismo<br />
a força para o mundo.<br />
Ao invés de absorver estas críticas<br />
e tentar se melhorar, ou então responder<br />
educadamente e dentro da lei<br />
as mesmas, o Islã somente comprovou<br />
que se trata de uma verdade o<br />
que é dito, quando a resposta do<br />
mundo muçulmano foi a agressão,<br />
violência e morte.<br />
E qual a moral para protestar que<br />
este grupo teria, se diariamente nos<br />
meios de mídia árabes circulam centenas<br />
de charges antijudaicas, anti-<br />
Israel e antimundo ocidental, da<br />
mesma forma que está na boca dos<br />
sheiks que se pronunciam nas mesquitas,<br />
nos programas de TV e rádio?<br />
O que pessoas normais e civilizadas<br />
fazem diante de comentários<br />
na mídia que considerem injuriosos<br />
contra sua etnia ou religião? Protestam,<br />
enviam cartas, se manifestam<br />
juridicamente, e até em casos<br />
muito graves, acionam a polícia.<br />
Imagine o que seria do mundo se<br />
nós judeus fossemos agredir fisicamente<br />
cada um que nos atacasse na<br />
mídia? Acho que teríamos que fazer<br />
plantão 24 horas de arrastões, invasões<br />
de prédios, seqüestros e etc.<br />
Basta ver a força e a quantidade de<br />
anti-semitismo presente nos meios de<br />
mídia, na política e nas universidades<br />
de todo o mundo, inclusive do<br />
Brasil. Ai deste mundo se agíssemos<br />
como nossos inimigos o fazem...<br />
Somente ditaduras querem calar<br />
a boca daqueles que discordam dela<br />
pela violência, pelo assassinato, pela<br />
imposição de idéias e comportamentos.<br />
É a maneira nazista de ser.<br />
E depois este islamo-fascismo ainda<br />
reclama dos ataques que recebe.<br />
Em que mundo vivemos... para onde<br />
caminhamos?<br />
* Daniel Benjamin Barenbein é é jornalista, trabalha no site de combate a<br />
distorção na imprensa, “De Olho na Mídia” (www.deolhonamidia.org.br). É<br />
coordenador do movimento juvenil Betar de SP e exerce voluntariamente<br />
cargos de Hasbará na Organização Sionista de São Paulo, Espaço K e Aish<br />
Brasil, e orador nas sinagogas Beit Menachem e Kehilat Achim Tiferet.<br />
Possui um livro publicado na internet sobre neonazismo digital:<br />
www.varsovia.jor.br<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
A causa de Israel<br />
Edgard Leite Castro *<br />
m 1967, o filósofo marxista<br />
Herbert Marcuse proferiu uma<br />
série de conferências na Universidade<br />
Livre de Berlim, reunidas<br />
em “O fim da utopia” (Siglo XXI, 1968).<br />
No decorrer dos debates defendeu de forma<br />
incisiva a causa de Israel. “Não posso<br />
esquecer”, afirmou, que os judeus “por séculos<br />
foram perseguidos e oprimidos e que<br />
seis milhões deles foram aniquilados não<br />
faz muito tempo. E quando se cria para<br />
esses seres humanos um espaço no qual<br />
não precisam mais temer a perseguição e<br />
a opressão, tal coisa constitui um objetivo<br />
com o qual me declaro identificado...<br />
celebro coincidir nisto com Jean-Paul Sartre,<br />
que disse: ‘o único que deve ser evitado,<br />
a qualquer preço, é uma nova guerra<br />
de extermínio contra Israel’”.<br />
Essa identificação com Israel possui profundidade<br />
histórica. Os movimentos revolucionários<br />
europeus lutaram sempre contra o<br />
sistema social e econômico expropriador que<br />
engendrou, entre outras violências, a intolerância<br />
étnica e religiosa. Especialmente<br />
contra o anti-semitismo, gerador de atrocidades<br />
e reprodutor da ignorância. Para<br />
os que viveram o final da guerra havia clareza<br />
de que a partilha da Palestina fora<br />
uma grande vitória da justiça e uma ação<br />
libertadora. A decisão das Nações Unidas<br />
reconheceu direitos, tanto dos judeus que<br />
ali viviam quanto dos árabes. Convidouos<br />
à coexistência e entendimento. Israel<br />
representou não apenas a realização de<br />
uma esperança milenar e o reconhecimento<br />
universal da dolorosa trajetória de um<br />
povo, mas o triunfo humanista da tolerância.<br />
“Existe na esquerda”, portanto,<br />
continuou, “uma identificação muito forte<br />
e muito compreensível com Israel”.<br />
Mas Marcuse lembrou que desde o início<br />
“os representantes árabes — e não<br />
quaisquer representantes — declararam firmemente,<br />
e em voz alta, que se deve fazer<br />
contra Israel uma guerra de extermínio...”.<br />
Tal atitude se identificava com as forças<br />
que tinham sido derrotadas em 1945. A<br />
afirmação de Ahmadinejad [presidente do<br />
Irã], proclamando a necessidade do extermínio,<br />
ou a do Hamas [movimento no<br />
poder na Autoridade Palestina desde as<br />
eleições legislativas de janeiro], recusando<br />
a resolução da ONU, de 1947, dão continuidade,<br />
portanto, a primitivos movimentos<br />
reacionários. Marcuse levantou ainda<br />
uma outra questão. A atitude de intolerância<br />
foi evidente desde o princípio,<br />
mas a posição dos soviéticos, a partir de<br />
determinado momento, perturbou um entendimento<br />
correto do assunto. Segundo<br />
ele, “o conflito entre Israel e os Estados<br />
9<br />
árabes se converteu desde muito em um<br />
conflito entre os EUA e a União Soviética,<br />
e saiu do âmbito local”. Isso propiciou que<br />
“fosse fácil identificar Israel com imperialismo,<br />
e a causa árabe com anti-imperialismo”.<br />
Fácil, mas não verdadeiro. No que<br />
diz respeito a Israel, segundo Marcuse,<br />
“propostas de entendimento foram formuladas<br />
por Israel reiteradamente e essas propostas<br />
sempre têm sido rechaçadas pelos<br />
representantes árabes”. Isto é, não foi Israel<br />
o primeiro responsável pelo confronto.<br />
Sempre buscou a conciliação e apenas<br />
se defendeu, mesmo, segundo ele, em<br />
1967. Além do mais, Israel se constituiu<br />
como sociedade democrática, fortemente<br />
influenciada pelos ideais socialistas. Não<br />
fazia muito (1950) que Martin Buber afirmara<br />
a existência de dois núcleos socialistas<br />
no mundo: Moscou e Jerusalém (Caminhos<br />
de utopia, FCE, 1955). E não o fez<br />
de forma retórica: o papel da economia<br />
socializada era grande, e ainda é significativo,<br />
em Israel.<br />
O anti-americanismo não se constitui,<br />
por si só, prova de política progressista,<br />
assegurou, sensatamente, Marcuse. Os EUA<br />
são atacados pela esquerda, mas também<br />
pela direita, e por diferentes razões. Lembremo-nos<br />
do similar erro de Gandhi, no<br />
limiar da II a Guerra Mundial. O Mahatma<br />
buscou o apoio de Mussolini, pela única<br />
razão de ambos serem hostis aos ingleses.<br />
Nada mais equivocado. A reação que se desenvolve<br />
no mundo muçulmano desde 1945<br />
é, em geral, retrógrada e reacionária. Volta-se<br />
contra Israel. Mas, através dele, também<br />
contra o liberalismo e o direito laico<br />
ocidental e os princípios da soberania popular.<br />
Em um sentido mais amplo, é hostil<br />
ao socialismo, evidentemente. Insiste,<br />
com crescente virulência, na força da ignorância<br />
religiosa e na intolerância política.<br />
Afunda suas sociedades em autocracias<br />
retrógradas e corrompidas. Que os<br />
povos árabes e muçulmanos necessitavam<br />
de revoluções parecia claro a Marcuse, mas<br />
revoluções libertadoras e democráticas.<br />
Por essas razões, Marcuse defendeu, em<br />
Berlim, no distante 1967, não apenas os<br />
vietcongs, mas também a causa de Israel.<br />
Sem dúvida, os árabes, os iranianos ou os<br />
curdos — e todas as nações e pessoas —<br />
têm direitos à autodeterminação, a um lugar<br />
no mundo. Mas não a partir do extermínio<br />
de outros povos e seres humanos.<br />
Quando Sartre sustentou que “o único que<br />
deve ser evitado, a qualquer preço, é uma<br />
nova guerra de extermínio contra Israel”,<br />
pensava certamente que a causa de Israel<br />
não pertence apenas aos israelenses ou aos<br />
judeus. É uma causa da Humanidade. Símbolo<br />
da vitória contra o poder aniquilador<br />
da ignorância. Verdadeira e virtuosa.<br />
* Edgard Leite Castro é professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.
10<br />
* Breno Lerner é<br />
editor e gourmand,<br />
especializado em<br />
culinária judaica.<br />
Escreve para revistas,<br />
sites e jornais. Dá<br />
regularmente cursos e<br />
workshops. Tem três<br />
livros publicados,<br />
dois deles sobre<br />
culinária judaica.<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Breno Lerner*<br />
o princípio eram os vegetais...<br />
Na criação D-us reserva<br />
como alimento ao homem “...<br />
todas as plantas que dão sementes<br />
e todas as árvores em que haja<br />
fruto que dê semente...” (Gen 1:29).<br />
Assim, o cardápio inicial devia ser<br />
composto de trigo, cevada, centeio,<br />
aveia, painço entre os grãos. As sementes<br />
deveriam ser o girassol, gergelim,<br />
linho ou linhaça, abóbora e<br />
outras frutas. As oleaginosas: lentilhas,<br />
ervilhas, talvez o amendoim,<br />
quem sabe a soja.<br />
Berinjelas, pimentões, melões,<br />
pepinos, eventualmente quiabos abobrinhas<br />
e feijão de corda eram as<br />
suculentas mais consumidas.<br />
Das frutas, neste primeiro momento,<br />
as cítricas e aparentemente as<br />
palmáceas.<br />
Das nozes, amêndoas e pecans.<br />
Ou seja, o plano original era que<br />
o homem comesse plantas e frutas.<br />
Ocorre que após o pecado original,<br />
o homem é expulso do paraíso<br />
e condenado a tirar da terra o<br />
seu sustento, sendo incluídas em<br />
sua dieta as folhas verdes – a relva<br />
-, até então reservadas aos animais<br />
(Gen 3:17,19).<br />
Possivelmente passam a fazer<br />
parte da dieta a couve, a endívia,<br />
a escarola, a couve-flor e provavelmente<br />
nabos e beterrabas numa etapa<br />
posterior.<br />
Carne e peixe são adicionados ao<br />
cardápio humano após o dilúvio.<br />
D-us, após sentir o aroma da fumaça<br />
do sacrifício ofertado por Noé<br />
(Gen 8:21) concede aos homens to-<br />
A dieta bíblica<br />
dos os animais que se movem (Gen<br />
9:2) como alimento, apesar de já<br />
proibir o consumo de sangue.<br />
É também após o dilúvio que o<br />
homem conhece o vinho e seu primeiro<br />
“porre”. Noé planta a vinha,<br />
colhe a uva, faz o vinho e o bebe<br />
bem bebido (Gen 9:21).<br />
Vinho e bebedeira que, aliás, na<br />
história de Lot, vão ser pano de fundo<br />
de um dos momentos mais escabrosos<br />
da história bíblica (Gen<br />
19:31,38).<br />
Mais à frente serão diferenciados<br />
os animais puros dos impuros bem<br />
como restrições ao consumo de gordura<br />
(Lev 7:23,24) e até restrições a<br />
glutonice (Provérbios 23:2).<br />
Na chegada à Terra Prometida são<br />
introduzidos o leite e o mel, na verdade,<br />
o equilíbrio entre o carboidrato<br />
(leite) e a proteína (mel).<br />
Aliás, uma leitura genérica do<br />
texto sagrado nos leva a uma sensação<br />
de que o autor gostaria de uma<br />
dieta mais vegetariana e menos carnívora.<br />
A carne é mais reservada aos<br />
sacrifícios, festas, visitas, oferendas.<br />
Tem todo o código de impureza a ser<br />
respeitado, restrições diversas a seu<br />
consumo, a restrição maior de não<br />
mistura com o leite, enfim, tudo leva<br />
a crer numa forte preferência pelo<br />
alto consumo de vegetais.<br />
Alto lá diriam os médicos e nutricionistas.<br />
E as proteínas? De onde tiraria<br />
o homem bíblico suas proteínas?<br />
Até onde sabemos, o alimento<br />
mais completo que o homem conhece<br />
é o leite materno, ele contém ou<br />
deveria conter tudo que um ser humano<br />
necessita para uma alimentação<br />
100% equilibrada.<br />
Pois bem, pasmem, apenas 1,5 %<br />
de seu total é proteína, ou seja, um<br />
bom prato de brócolis tem mais proteínas<br />
que uma mamadeira!<br />
Em outras palavras, mais uma vez,<br />
o escritor do texto sagrado, mostra<br />
seu conhecimento da natureza humana,<br />
seu comportamento e suas<br />
necessidades.<br />
Conhecimento este que é consagrado<br />
e definitivo no que tange<br />
à dietas na história de Daniel, que<br />
terá sido não apenas o inventor<br />
da primeira e bem sucedida dieta<br />
como também o precursor do método<br />
científico com controle de<br />
amostragem, 2.000 anos antes de<br />
Sir Roger Bacon.<br />
Em 586 A.C. Nabucodonosor in-<br />
vade Jerusalém, destrói o Templo e<br />
leva cativo o povo judeu para a Babilônia,<br />
naquilo que convencionouse<br />
chamar primeira diáspora. Desta<br />
época vem a narração do Livro de<br />
Daniel e sua curiosa dieta.<br />
O grande Nabucodonosor pretendia<br />
converter os jovens judeus aos<br />
costumes e à religião local, ordenando<br />
ao seu chefe dos eunucos, Aspenaz,<br />
que lhes desse nomes babilônicos<br />
e os alimentasse com o melhor<br />
de sua cozinha e seus melhores vinhos,<br />
corrompendo assim suas mentes<br />
e seus costumes.<br />
Daniel e três de seus amigos,<br />
Hananias, Misael e Azarias recusamse<br />
a aceitar seus novos nomes Beltessazar,<br />
Sadraque, Mesaqu e Abede-Nego<br />
e principalmente a comida<br />
e o vinho.<br />
Após muita conversa com Aspenaz<br />
que teme ter sua cabeça cortada<br />
por causa dos quatro rebeldes,<br />
combinam fingir aceitar seus nomes<br />
e fazem um trato com o cozinheiro<br />
real. Durante 10 dias receberão<br />
apenas legumes e água. Se,<br />
ao cabo de dez dias, não estiverem<br />
em condições melhores que os outros<br />
jovens, não criarão problemas<br />
a Aspenaz e ao cozinheiro.<br />
Passados os 10 dias e comparados<br />
ao grupo de controle estão muito<br />
mais saudáveis e corados que os<br />
outros jovens, ficando assim isentos<br />
da comida impura e do vinho e<br />
sendo levados à presença do rei<br />
como sábios. O resto da história<br />
todos sabemos e, quando os persas<br />
chegaram e Nabucodonosor já tinha<br />
morrido louco, lá estava Daniel,<br />
aguardando Ciro.<br />
Estudando-se o que comiam os<br />
caldeus na época é de se presumir<br />
que Daniel e seus amigos tenham rejeitado<br />
carneiro temperado com muita<br />
cebola, alho-porró e algumas ervas.<br />
Possivelmente galinhas, pombas<br />
ou tordas, sempre assados ou fritos<br />
em gordura animal.<br />
Alguns peixes de mar, não muitos<br />
e sempre grelhados diretamente<br />
no fogo. Tudo sempre com pouco sal<br />
embora ele já fosse bem conhecido.<br />
A pimenta já era também utilizada<br />
e apreciada.<br />
Devem também ter recusado vinhos<br />
de alta graduação alcoólica,<br />
que eram bebidos diluídos em água<br />
ou misturados com ervas.<br />
Por outro lado devem ter comido<br />
lentilhas, trigo e cevada, sempre<br />
cozidos, em papas ou em farelo,<br />
apenas temperados com sal e<br />
uma ou outra erva. Eventualmente<br />
nabos ou abóboras ensopados ou<br />
em purê. Faziam-se conservas, mas<br />
acredito que devido às restrições<br />
ao vinho, Daniel e seus amigos não<br />
as experimentaram.<br />
A dieta babilônica já incluía folhas<br />
verdes e frutas, mas o texto do<br />
livro de Daniel refere-se exclusivamente<br />
a uma dieta de legumes.<br />
Fica aqui então, uma sugestão bíblica,<br />
para uma dieta, que vai te deixar<br />
mais saudável e mais corado (a)...<br />
Diverso estudo médico e sociológico<br />
tem abordado esta inclinação<br />
do texto sagrado por uma dieta vegetariana.<br />
Pouco se concluiu das<br />
razões que levaram a esta conduta.<br />
Povos nômades teriam como base de<br />
sua dieta os vegetais e o leite e seus<br />
derivados, mas consumiam naturalmente<br />
a carne. A aceitar-se o dilúvio<br />
como fenômeno universal, é de<br />
se supor uma mudança de hábitos<br />
alimentares uma vez que, com todas<br />
a vegetação destruída, o homem teria<br />
de servir-se um pouco mais da<br />
caça para alimentar-se.<br />
Todavia, toda constituição biológica<br />
e física do homem, o prepara<br />
para ser onívoro, mas com bons<br />
dentes caninos e excelente aparelho<br />
digestivo e enzimático, apto a<br />
consumir carne duas vezes ao dia,<br />
por maiores danos que isto cause<br />
no longo prazo.<br />
Será que o autor do texto bíblico<br />
já sabia de tudo isto?<br />
Como sempre, muito provavelmente,<br />
sim...<br />
Mês que vem tem mais papo de<br />
cozinha.
Ativistas da comunidade<br />
Nathan Paciornik nasceu em Vatin, então<br />
Rússia, hoje Polônia. Filho de Scholem Modche e<br />
Rivke Paciornik, que tiveram onze filhos, oito do<br />
sexo masculino e três do sexo feminino.<br />
Em casa, Nathan era chamado de Nuchen, e<br />
era o quarto filho da longa escada. Cordial, nas<br />
brigas e discussões da irmandade, perdia sempre,<br />
e evitava isso o mais que podia.<br />
Ao chegar a época de servir o exército, cada<br />
família tinha que ceder um filho. Em vez do mais<br />
velho, Max, Nathan falseia a idade e vai em seu<br />
lugar. Assim, por três anos serve como cavaleiro<br />
do Exército Russo, responsável pelos cavalos de<br />
tração dos canhões. Saindo do exército, conhece,<br />
encontra-se e casa em Reize (Rosa).<br />
Já com uma filha, Ester, de 1 ano, em 1912,<br />
vem atrás dos manos, Rafael e Salomão, para longínquas<br />
plagas do Paraná. Habituado com a vidinha<br />
de Vatin, onde se trabalhava na mata com<br />
madeira e lenha, procurava semelhança, em São<br />
José dos Pinhais. No tempo em que todo mundo<br />
fabricava pão em casa, monta uma fábrica de<br />
broas, mas não progride em face de pouca freguesia.<br />
Na procura de ambiente iídiche, muda-se<br />
para Curitiba. Rua Visconde do Rio Branco, campo<br />
da Galícia, reduto de imigrantes poloneses<br />
para onde transfere sua fábrica de broas.<br />
Nela trabalhavam Nathan, o Juca e o Negrinho<br />
que entregava a broa a domicílio.<br />
O Nathan contava que na madrugava do meu<br />
parto, nervoso, fora do potreiro, hoje Praça de<br />
Poti, no escuro, como encontrar a parteira que<br />
tinha que me ver nascer?<br />
Surpreso encontra o negrinho que o ensinou<br />
onde residia a parteira.<br />
Conheci o Negrinho e foi meu amigo. Mais tarde,<br />
com os irmãos Max, Salomão, Germano, Chico<br />
e Bernardo abrem a firma Irmãos Paciornik, ao lado<br />
da Igreja da Ordem, com Secos e Molhados. Em<br />
pouco tempo transforma-se na maior firma atacadista<br />
do Paraná. Neste tempo, chega da Áustria,<br />
uma família judaica, os Benjamin Schargel, pais<br />
de Helena, esposa do dr. Moyses Paciornik, que na<br />
Europa fabricavam sabão. O sr. Benjamin foi contratado<br />
pelos Paciornik, que lhes ensinou como se<br />
fabricava sabão em pedra que tinha o nome de<br />
Veado em homenagem ao nobre e bonito animal.<br />
Com a fabricação do sabão Veado, o produto<br />
ganhou fama, teve enorme aceitação e até de<br />
outros Estados vieram pedidos.<br />
O que está escrito acima me foi cedido pelo dr.<br />
Moyses Paciornik, filho do sr. Nathan Paciornik.<br />
Quando eu vim para Curitiba em 1942, o dr.<br />
Nathan<br />
Paciornik<br />
Moisés Bronfman *<br />
Manoel Scliar havia sido eleito presidente do Centro<br />
Israelita do Paraná e procurava um secretário<br />
executivo para o CIP. Os meus irmãos que já estavam<br />
aqui informaram a ele que eu chegaria dentro<br />
de alguns dias e tinha condições de assumir. Cheguei<br />
em março de 1942, e na primeira reunião da<br />
diretoria compareci, fui sabatinado e aprovado.<br />
O tesoureiro era o sr. Nathan Paciornik. Ele me<br />
disse: “Amanhã você vai na minha fábrica” à Rua<br />
João Negrão, 586 e eu te explico tudo o que fazer”.<br />
No dia seguinte fui até lá, e ele, muito gentil e<br />
atencioso, me deu um livro de atas, para as reuniões<br />
de Diretoria, às quais eu devia comparecer,<br />
e uma lista de sócios de 120 pessoas, que eu deveria<br />
visitá-los e fazer um cadastro. Antes de sair<br />
ele me deu cem mil réis e disse: costumo pagar<br />
adiantado. Este é teu salário. Fiquei emocionado,<br />
porque eu fui o primeiro funcionário remunerado<br />
do Centro Israelita, e o fato de ele estar pagando<br />
adiantado era uma prova de bondade, que mais<br />
tarde eu reconheci, com sua convivência, o homem<br />
maravilhoso que ele sempre foi.<br />
Nathan Paciornik foi um dos veteranos da coletividade<br />
Israelita Paranaense que mais se destacaram<br />
nos trabalhos sociais, tornando parte ativa na<br />
fundação e no desenvolvimento de todas as organizações<br />
e instituições existentes em Curitiba.<br />
A primeira atuação iniciou em 1913, como<br />
um dos fundadores da primeira congregação Israelita,<br />
denominada “União Israelita do Paraná”,<br />
sendo presidida por Max Rosenmann.<br />
Em 1917, ano da “Declaração Balfour”, foi fundada<br />
em Curitiba a organização sionista Shalom Sion<br />
e Nathan Paciornik filiou-se aos sionistas, colaborando<br />
com afinco em todas as suas atuações.<br />
Foi uns dos fundadores e membro ativo da<br />
Escola Israelita, da Chevra Kadisha, do Centro Israelita.<br />
Colaborava com denodo em todas as campanhas<br />
nacionais, bem como em todos os empreendimentos<br />
em prol do bem coletivo.<br />
Pelos seus relevantes serviços prestados, a<br />
Assembléia da Chevra Kadisha reunida em 1950<br />
distinguiu Nathan Paciornik com o título de Presidente<br />
Honorário. Mas por motivo de saúde afastou-se<br />
das atividades sociais em 1953.<br />
Nathan e a esposa d. Rosa, tiveram quatro<br />
filhos: Esther Pechman, casada com David Pechman;<br />
Moyses Paciornik, médico, casado com Helena<br />
Schargel Paciornik; Rafael Paciornik, médico,<br />
já falecido, e Ernani Paciornik, do comércio,<br />
falecido moço, que foi casado com Sofia Nemetz.<br />
Nossa homenagem a este homem que foi muito<br />
importante para a nossa comunidade e parabéns<br />
aos seus filhos, netos e bisnetos.<br />
* Moisés Bronfman é médico e empresário, decano dos ativistas da comunidade de Curitiba. Teve uma intensa vida na<br />
coletividade por mais seis décadas e ainda participa ativamente dela. É uma espécie de memória viva das bases da atual<br />
coletividade. Ajudou na construção da Sinagoga Francisco Frischmann, do Centro Israelita do Paraná (CIP), da criação<br />
da B’nai B’rith e da Loja Chaim Weizmann, do Fundo Comunitário, do Instituto Cultural Brasil-Israel e do Grêmio<br />
Esportivo do CIP. Esta coluna é publicada sob os auspícios do Instituto Cultural Judaico-Brasileiro Bernardo Schulman.<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
O LEITOR<br />
ESCREVE<br />
Shaná Tová<br />
Amigos do <strong>Visão</strong>:<br />
A todos os chaverim e chaverót<br />
do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>, e a<br />
todos os membros do ishuv de Curitiba,<br />
um Shana Tová.<br />
Paulo Cesar da Silva<br />
Curitiba – PR<br />
Shaná Tová 2<br />
Prezados:<br />
Aos amigos de <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> e<br />
da comunidade, desejamos um<br />
ano fraterno e de grandes realizações.<br />
Shana Tová.<br />
Ruth Kaiser Lamega e família<br />
Por e-mail<br />
Shaná Tová 3<br />
Senhores diretores:<br />
Desejo a vocês do jornal <strong>Visão</strong><br />
<strong>Judaica</strong> e a todos os judeus, povo<br />
que o Criador escolheu, que o ano<br />
de 5767 seja de alegria, vitórias<br />
e que a paz de que o judeu tanto<br />
carece por todos esses milênios<br />
chegue. Pensei em vocês nos<br />
momentos que antecederam a<br />
chegada do novo ano. E perguntei<br />
ao Criador por que não apressar<br />
a vitória desse povo e conceder-lhe<br />
a paz de que tanto precisa.<br />
E por que não se aquietarem<br />
seus inimigos na Terra. Pois, se<br />
Ele deu aquele pedaço de terra<br />
11<br />
ao seu povo, aquietem-se os<br />
que não são os verdadeiros herdeiros<br />
da promessa. Gostaria de<br />
ver Israel em paz antes de partir<br />
desta vida. Peço ao Criador,<br />
que escolheu vocês, que me<br />
deixe ver a paz em Israel. D-us<br />
os abençoe, do fundo do meu<br />
coração. Felicidade para todos,<br />
Daniel Pinheiro Junior<br />
Por e-mail<br />
Pilar Rahola<br />
Ao diretor de redação:<br />
Gostaria de parabenizar a jornalista<br />
e escritora Pilar Rahola<br />
por sua inteligência; amei ler<br />
os textos dela.<br />
Maria Cristina dos Santos<br />
Por e-mail<br />
Aos Srs.<br />
Diretores:<br />
Descobri o jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
em um consultório e achei o<br />
máximo. Vocês estão de parabéns<br />
pela excelência dos artigos<br />
publicados, que por sinal<br />
são altamente esclarecedores.<br />
Muita coisa que nos é impingida<br />
a respeito dos judeus, de<br />
Israel e de todo o Oriente Médio<br />
é falsa. Grato por nos fazer<br />
ver a verdade.<br />
Lucas Videira Antunes<br />
Curitiba - PR<br />
Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> basta passar um fax pelo<br />
telefone 0**41 3018-8018<br />
ou um e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Renove sua assinatura<br />
do <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
Em outubro começam as<br />
renovações e o <strong>VJ</strong> tem uma<br />
promoção promoção especial especial para você:<br />
As duas primeiras renovações<br />
serão premiadas com o livro<br />
"Bíblia Hebraica", recém lançado<br />
pela Editora e Livraria Sêfer.<br />
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assinantes que renovarem.<br />
MAS ATENÇÃO!<br />
Para efeito da premiação, valem apenas os<br />
quatro primeiros boletos bancários pagos.
12<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Um Klimt roubado<br />
pelos nazistas é o quadro<br />
mais caro da história<br />
quadro tinha sido devolvido<br />
em janeiro à neta do rosto<br />
que lhe dá nome, Maria Altmann,<br />
depois de sete anos de<br />
batalha judicial entre ela e o governo<br />
austríaco.<br />
Desde então, o retrato de Adèle<br />
Bloch-Bauer, de Gustave Klimt, acumula<br />
outra anedota na trepidante<br />
história de seu século de vida. Após<br />
superar os 104,1 milhões de dólares<br />
pagos num leilão público por<br />
“Garotos com pipa”, de Picasso, tornou-se<br />
o quadro mais caro da história:<br />
135 milhões de dólares. Pintado<br />
em 1907 e transformado num<br />
dos ícones mais reconhecidos da<br />
pintura do século XX, foi roubado<br />
pelos nazistas durante a Segunda<br />
Guerra Mundial.<br />
Agora mudou de mãos. O comprador<br />
dessa obra de arte austríaca<br />
magnífica não é outro senão o magnata<br />
da indústria cosmética Ronald<br />
S. Lauder. “É nossa Mona Lisa”, declarou<br />
o também co-fundador da<br />
Neue Galerie de Manhatan, o museu<br />
nova-iorquino dedicado à arte alemã<br />
e austríaca onde está sendo exposto<br />
o retrato de Adèle Bloch-<br />
Bauer, junto com outros quatro Klimt<br />
que pertenciam à família.<br />
Maria Altmann, de 90 anos, vive<br />
em Los Ángeles e teve que lutar durante<br />
sete anos para recuperar o<br />
quadro de sua avó, a mulher de um<br />
industrial judeu dedicado ao açúcar,<br />
considerado uma das obras-primas<br />
do pintor.<br />
Retrato de Adele Bloch-Bauer I, 1907, óleo e dourado sobre<br />
canvas, 138 x 138 cm<br />
Finalmente, o governo austríaco<br />
devolveu-lhe o retrato junto<br />
com os outros quatro Klimt da coleção<br />
familiar.<br />
A soma exata pela qual foi vendido<br />
o quadro é confidencial, mas<br />
Maria Altmann confirmou que supera<br />
o que foi pago por “Garotos<br />
com pipa” de Picasso. O The New<br />
York Times publicou a cifra de 135<br />
milhões de dólares.<br />
“É uma compra de uma vez na<br />
vida”, disse Lauder, que não confirmou<br />
a soma. A Neue Galerie foi fundada<br />
por Lauder há cinco anos e expos<br />
as cinco pinturas de Klimt desde 13<br />
de julho até o mês de setembro.<br />
Devolução<br />
Maria Altmann e outros integrantes<br />
da família Bloch-Bauer, defendiam<br />
a propriedade do óleo, que<br />
tinha sido roubado pelos nazistas<br />
durante a Segunda Guerra Mundial.<br />
Os Bloch-Bauer tiveram que fugir<br />
do país europeu quando os nazistas<br />
tomaram o poder em 1938.<br />
Um tribunal de Viena determinou<br />
em janeiro passado que a custódia<br />
da obra, junto com outras<br />
quatro também roubadas pelos nazistas,<br />
fossem entregues à reclamante<br />
e sua família. Uma lei austríaca<br />
de 1998 estabelece que os museus<br />
devem devolver as obras confiscadas<br />
pelos nazistas. O governo austríaco -<br />
que inicialmente se negou a devolver<br />
a pintura - considerou a obra demasiado<br />
cara para adquiri-la.<br />
O lote devolvido inclui três paisagens<br />
de Klimt entitulados “Apfelbaum”<br />
(Macieira), “Buchenwald/Birkenwald”,<br />
e “Hauser in Unterach am<br />
Attersee” (Casas en Unterach, a margem<br />
do lago Attersee).<br />
Gustav Klimt nasceu em Baumgarten,<br />
nas cercanias de Viena em<br />
14 de julho de 1862 e viveu na Viena<br />
de Sigmund Freud. No final do<br />
século XIX, era uma cidade na qual,<br />
frente à moral estabelecida, crescia<br />
um novo clima mais erótico e complexo.<br />
A lenda conta que no ateliê<br />
do pintor, uma casa de um andar<br />
rodeada por um belo jardim silvestre,<br />
as mulheres passeavam desnudas<br />
o tempo todo. Ali, ele as pintava<br />
em todas as formas possíveis:<br />
jovens, anciãs, grávidas, sozinhas,<br />
com homens ou com outras mulheres.<br />
Fonte: El País, BBC).<br />
Caros senhores terroristas<br />
Começou a época das manifestações.<br />
Leio agora que, só em Londres,<br />
milhares de pacifistas saíram à rua<br />
para marchar contra a guerra no<br />
Oriente Médio. Nada a opor. Marchar<br />
contra a guerra é simpático. Mais<br />
ainda: é cômodo. Você pode não<br />
saber nada sobre o conflito, nada<br />
sobre as razões do conflito, nada<br />
sobre as conseqüências do conflito.<br />
Mas é contra. Ser contra é a absolvição<br />
do pensamento: uma forma tranqüila<br />
de colocar a flor na lapela do<br />
casaco e mostrar a sua vaidade moral<br />
ao mundo. Hitler invadiu a Polônia,<br />
exterminou milhões de judeus e<br />
procurou subjugar um continente<br />
inteiro? O pacifista é contra. Contra<br />
quê? Contra tudo: contra Hitler, contra<br />
Churchill, contra Roosevelt. Contra<br />
Aliados, contra nazistas. E quando<br />
os nazistas entram lá em casa e<br />
se preparam para matar o pacifista,<br />
ele dispara, em tom poético: “Não<br />
me mate! Você não vê que eu sou<br />
contra?” É provável que o nazista se<br />
assuste com a irracionalidade do pacifista<br />
e desapareça, correndo.<br />
Capitão: “Eu não mandei você<br />
matar o inimigo?”<br />
Soldado: “Sim, meu capitão. Mas<br />
ele era contra. Fiquei com medo.”<br />
O pior é que os pacifistas que<br />
saíram à rua não são contra tudo.<br />
Eles só são contra algumas coisas, o<br />
que torna o caso mais complexo e,<br />
do ponto de vista paranóico, muito<br />
mais interessante. Lemos as palavras<br />
de ordem e ficamos esclarecidos.<br />
“Não ataquem o Irã”. “Liberdade para<br />
a Palestina”. “Tirem as mãos do Líbano”.<br />
Imagino que alguém deixou<br />
em casa as frases sacramentais. “Irã<br />
só quer paz”. “Hezbolá é gente séria”.<br />
“Israel é racista; não gosta de mísseis”.<br />
Essa eu entendo. Israel retirou<br />
do Líbano em 2000. Retirou de Gaza<br />
em 2005. O Líbano e Gaza, depois<br />
da retirada, transformaram-se em<br />
parque de diversões para terroristas<br />
do Hezbolá e do Hamas (leia-se: do<br />
Irã e da Síria) que tinham por hábito<br />
seqüestrar soldados israelenses e<br />
lançar rockets para o interior do estado<br />
judaico. Israel, inexplicavelmente,<br />
não gostava de apanhar com<br />
mísseis na cabeça, marca visível da<br />
sua intolerância. Os pacifistas de<br />
Londres deveriam denunciar essa intolerância:<br />
um Estado que retira dos<br />
territórios ocupados e, ainda por<br />
cima, não gosta de ser bombardeado,<br />
não merece o respeito da “comunidade<br />
internacional”.<br />
E a “comunidade internacional”<br />
não respeita. Desde o início das hostilidades,<br />
no sul do Líbano, regres-<br />
João Pereira Coutinho *<br />
saram acusações conhecidas de “desproporção”<br />
e “matança indiscriminada<br />
de civis”. Apoiado: as acusações,<br />
não os ataques. Se Israel não gosta<br />
de ser bombardeado, deveria refrear<br />
seus ímpetos belicistas e escrever<br />
uma carta aos senhores terroristas.<br />
Para explicar o desconforto da situação.<br />
Exemplo:<br />
“Caros senhores terroristas,<br />
Boas tardes.<br />
Nós sabemos o quanto vocês gostam<br />
de bombardear as nossas cidades,<br />
apesar de termos voluntariamente<br />
retirado dos vossos territórios.<br />
Longe de nós condenar a forma gentil<br />
como gostais de matar o tempo.<br />
Mas lançar rockets para o interior de<br />
Israel não mata só o tempo; também<br />
mata pessoas que estão nas ruas, nos<br />
mercados, nos cafés. Seria possível<br />
parar com esse desporto?<br />
Nós, judeus, sabemos que o pedido<br />
é excessivo, na medida em que,<br />
segundo opiniões dos senhores terroristas,<br />
que nós compreendemos e até<br />
respeitamos, desde 1948, ano da fundação<br />
de Israel, que nós não temos<br />
qualquer direito à existência. Mas não<br />
seria possível chegar a um entendimento,<br />
apesar da palavra ‘entendimento’<br />
ser ofensiva para a cultura dos<br />
senhores terroristas? Dito ainda de<br />
outra forma: não seria possível que o<br />
lançamento de rockets ocorresse apenas<br />
em dias salteados? Por exemplo:<br />
às segundas, quartas e sextas? Os seqüestros<br />
seriam apenas às terças e<br />
quintas, de preferência mais ao final<br />
da tarde, depois da saída do trabalho,<br />
para deixar o jantar já pronto.<br />
O pedido pode parecer excessivo<br />
mas gostaríamos de lembrar aos senhores<br />
terroristas —e, por favor, não<br />
vejam nas nossas palavras qualquer<br />
crítica— que nós tivemos essa gentileza:<br />
avisar as populações civis de<br />
que o sul do Líbano seria atacado,<br />
pedindo-lhes que se retirassem. Estamos<br />
conscientes, e por isso nos<br />
penitenciamos, que esse aviso às<br />
populações civis acaba por retirar<br />
valioso material humano que os senhores<br />
terroristas gostam de usar<br />
como escudo para exibir na televisão.<br />
Mas não seria possível substituir<br />
seres humanos por sacos de areia,<br />
mais fáceis de usar e controlar?<br />
Uma vez mais, queiram-nos perdoar<br />
a ousadia da sugestão. Estamos certos<br />
de que a racionalidade das nossas<br />
propostas será recebida com a irracionalidade<br />
dos vossos propósitos”.<br />
Depois, era só enviar a carta e,<br />
estou certo, esperar pela resposta.<br />
Que viria, como vem sempre, voando<br />
pelos ares.<br />
* João Pereira Coutinho é colunista da Folha de S.Paulo. Reuniu seus artigos no livro<br />
“Vida Independente: 1998-2003”, editado em Portugal, onde vive. Escreve<br />
quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha On-line. Publicado em 24/7/20<strong>06</strong> .
Um novo anti-semitismo<br />
orrem tempos violentos.<br />
Alguns crêem que vivemos<br />
um novo tipo de<br />
conflito: as “guerras culturais”.<br />
Por exemplo, entre muçulmanos<br />
sunitas e xiitas, ou entre islamistas<br />
e ocidentais. No entanto, é<br />
muito provável que as razões de alguns<br />
destes conflitos sejam tradicionais.<br />
Pertencer a um determinado grupo<br />
cultural é só um pretexto para as<br />
batalhas entre os vencedores e os<br />
perdedores da globalização. Líderes<br />
implacáveis mobilizam seguidores<br />
desorientados e, no caso particular<br />
dos perdedores, até podem induzilos<br />
a empreender ações suicidas contra<br />
o suposto inimigo.<br />
Talvez não devêssemos nos surpreender<br />
que em tais tempos ressurja<br />
o mais antigo de nossos ressenti-<br />
mentos perversos e letais: o anti-semitismo.<br />
Retorna em sua forma clássica:<br />
ataques individuais, como o<br />
recente assassinato de um jovem judeu<br />
na França, ou contra sinagogas,<br />
cemitérios e outros lugares simbólicos.<br />
Mas também há um sentimento<br />
mais generalizado de hostilidade<br />
contra todo o judeu.<br />
Caberia supor que o Holocausto<br />
acabou definitivamente com o<br />
anti-semitismo, mas não foi assim.<br />
Há aqueles que negam o Holocausto<br />
ou que tenha acontecido da forma<br />
perfeitamente documentada, em<br />
que ocorreu.<br />
Seus negadores vão desde historiadores<br />
de menor importância, como<br />
David Irving, até políticos aparentemente<br />
populares, como Mahmoud<br />
Ahmadinejad, presidente eleito do<br />
Irã. As provas do que fez a Alemanha<br />
nazista são tão irrefutáveis que tal-<br />
vez nem sequer fizesse falta encarcerá-los<br />
e, desse modo, atrair até eles<br />
mais atenção da que merecem.<br />
A fonte mais inquietante do<br />
anti-semitismo é outra. É justo,<br />
pois, falar de um “novo anti-semitismo”.<br />
Tem a ver com Israel, a única<br />
nação bem sucedida do Oriente<br />
Médio que, além disso, é muito militarizada,<br />
é uma potencia ocupante<br />
e uma defensora implacável de<br />
seus interesses.<br />
Parece difícil exagerar o estranho<br />
sentimento dos ocidentais para com<br />
a Palestina. Poderíamos chamá-lo<br />
“romanticismo”. Assim expressaram<br />
intelectuais como Edward Said, já<br />
falecido, mas tem muitos adeptos<br />
nos Estados Unidos e na Europa. Glorificam<br />
os palestinos como as vítimas<br />
da dominação israelense. Falam<br />
do tratamento que recebem os palestinos<br />
israelenses: cidadãos de segunda<br />
classe, no melhor dos casos.<br />
Citam os numerosos incidentes opressivos<br />
nos territórios ocupados. Implicam<br />
o explícito, se põem ao lado<br />
das vítimas, enviam-lhes dinheiro,<br />
até declaram lícitos os atentados<br />
suicidas e se afastam cada vez mais<br />
do apoio a Israel e de sua defesa.<br />
É certo que, em teoria, podemos<br />
opor-nos às políticas de Israel sem<br />
ser por isso anti-semitas. Além disso,<br />
há muitos israelenses que as criticam.<br />
Não obstante, cada vez custa<br />
mais manter a distinção. Os judeus<br />
da diáspora se sentem obrigados a<br />
defender (com razão ou sem ela) o<br />
país que, apesar de tudo, é sua última<br />
esperança de segurança. Por isso,<br />
seus amigos vacilam em falar claro:<br />
temem ser tachados não só de hos-<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Ralf Dahrendorf * tis a Israel, como também de anti-<br />
Charge publicada no jornal Chicago Tribune, em 19 de julho<br />
semitas. A atitude defensiva dos judeus<br />
e o silêncio incômodo de seus<br />
amigos indicam que o cenário do<br />
debate público está aberto para os<br />
verdadeiros anti-semitas, mesmo que<br />
se limitem a falar mal de Israel.<br />
O anti-semitismo é repugnante,<br />
seja qual for a forma que adote. A<br />
educação e o debate não bastam para<br />
lutar eficazmente contra o novo antisemitismo.<br />
Ele está ligado a Israel.<br />
Nós que pertencemos<br />
a uma geração que con-<br />
sidera Israel uma das<br />
grandes conquistas<br />
do século XX e o<br />
admira pelo modo<br />
em que deu um orgulhoso<br />
lar aos perseguidos<br />
e oprimidos,<br />
nos inquietamos<br />
particularmente diante<br />
da possibilidade de que<br />
hoje em perigo.<br />
13<br />
* Ralf Dahrendorf integra<br />
a Câmara dos Lordes, na Grã-<br />
Bretanha. Tradução para o espanhol<br />
de Zoraida J. Valcárcel e publicado no<br />
jornal La Nación em 20.3.20<strong>06</strong>. O texto<br />
está em http://www.lanacion.com.ar/<br />
opinion/nota.asp?nota_id=790259.<br />
Traduzido para o português<br />
por Szyja Lorber, para o jornal<br />
<strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
Chavez e Ahmadinejad são parte do novo anti-semitismo
14<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Os judeus secretos<br />
<strong>VJ</strong> INDICA<br />
Sobreviventes da Inquisição reunidos na Catalunha pedem ao Grão Rabinato o retorno ao povo de Israel<br />
venerável rabino Boaron<br />
não dava crédito ao que<br />
viam seus olhos. Francesc<br />
Bellido de Sant Feliu desenrolava<br />
com esmero um talit que sua<br />
mãe lhe havia tecido quando era um<br />
menino, 60 anos atrás, para que seguisse<br />
os preceitos de sua religião<br />
secreta. Branco com faixas azuis em<br />
seus extremos, o manto de oração<br />
judaico não se diferenciava em nada<br />
do que sua própria mãe havia legado<br />
a ele ou a milhões de judeus em todo<br />
mundo. O extraordinário era que Bellido<br />
tinha nascido e crescido em Cirat,<br />
no inacessível interior de Castellón,<br />
numa terra onde oficialmente<br />
os judeus tinham-se acabado cinco<br />
séculos antes, quando os Reis Católicos<br />
lhes deram para escolher entre<br />
o exílio e a conversão.<br />
Boaron, o braço direito do Grão<br />
Rabino de Israel, esteve com uma delegação<br />
religiosa em Barcelona em 31<br />
de março e em 1º de abril (no dia 2<br />
visitaram o antigo bairro judeu [judería]<br />
de Girona) para ouvir os casos<br />
de dezenas de descendentes de<br />
conversos da península Ibérica que<br />
pedem o direito de pertencer ao povo<br />
de Israel. O que pareceu mais extraordinário<br />
à comissão é que a maioria<br />
destas pessoas conservou não só a memória,<br />
mas também rituais e tradições<br />
de seus antepassados israelitas.<br />
Bellido recitou orações em hebraico<br />
que sua mãe lhe havia ensinado,<br />
explicou que acendia as velas<br />
LIVRO<br />
E. Casanova *<br />
Viagem ao fim do milênio –<br />
Romance da Idade Média<br />
Autor: Abraham B. Yehoshua<br />
do Shabat, que fora instruído no<br />
cumprimento dos preceitos e inclusive<br />
recitava algum velho provérbio:<br />
“De Sefarad (Hispânia) soy un jayao<br />
(soldado)/ fablo el safá (idioma) castellano/<br />
como el más puro villano/<br />
que nunca cató el jalá (pão sabático)”.<br />
Em sua casa de Cirat (no Alto<br />
Mijares valenciano, de língua castelhana),<br />
Bellido mantém uma mezuzá,<br />
a cápsula com orações que todos os<br />
lares judaicos colocam no umbral da<br />
porta. Contudo, eles a tinham no<br />
interior, já no hall ou ante-sala, e<br />
coberta com gesso. Outros objetos<br />
rituais, como a menorá, o candelabro<br />
de sete braços, estavam escondidos<br />
num armário.<br />
O caso de Bellido se repete em<br />
todo o território ibérico, onde muitas<br />
famílias conservaram através das<br />
gerações traços judaicos e, em alguns<br />
casos, os preceitos completamente.<br />
É impossível dar cifras, porque continuam<br />
escondidos, mas as pessoas que<br />
se dizem descendentes de israelitas<br />
são vários milhares. “Em toda parte,<br />
nas 52 províncias espanholas, há judeus<br />
secretos, mas a Espanha continua<br />
sendo um país muito anti-semita<br />
e ainda não nos sentimos seguros”,<br />
diz um valenciano que prefere<br />
que seu nome não apareça.<br />
A persistência do judaísmo está<br />
documentada na Espanha e Portugal<br />
até os finais do século 18, 300 anos<br />
após o decreto dos Reis Católicos.<br />
Os arquivos da Inquisição revelam dezenas<br />
de milhares de casos de heresia<br />
até essas datas. Os historiadores<br />
Na passagem do milênio cristão, uma pequena caravana liderada pelo mercador<br />
Ben-Atar deixa as praias de Tânger, no norte da África, com destino a Paris, a<br />
aldeia mais próspera do reino dos francos. A bordo de um velho navio-patrulha, Ben-Atar<br />
segue acompanhado de suas duas esposas e do sócio Abu Lutfi. Os comerciantes se preparam para desembarcar<br />
mais uma preciosa carga de mercadorias, enquanto esperam ansiosos pelo encontro com o terceiro<br />
sócio, Abuláfia, que lhes fará o relatório sobre a venda das mercadorias trazidas no ano anterior. A viagem<br />
se dá num contexto histórico definido, nos primórdios do intercâmbio mercantil entre os povos separados<br />
pelo Mediterrâneo. Ben-Atar cruza o mar em busca de bons negócios, mas se defrontará com situações que<br />
vão muito além da simples troca de mercadorias. Judeu sefaradita entrará em choque com a tradição<br />
asquenazita, para a qual a bigamia é uma prática inaceitável. Numa recriação brilhante do mundo<br />
medieval do século X, A. B. Yehoshua traça os contornos da cultura judaica dividida por duas tradições - a<br />
asquenazita e a sefaradita - que ainda hoje demarcam afinidades e diferenças para Israel.<br />
asseguram que mais da metade dos<br />
judeus evitou o exílio convertendose<br />
ao cristianismo, mas a maioria também<br />
continuou praticando clandestinamente<br />
a religião de seus pais.<br />
Assim, nasceram os criptojudeus, que<br />
foram chamados também de marranos,<br />
um nome que se conserva muito vivo<br />
em muitas famílias portuguesas.<br />
Quando o tribunal capturava um<br />
herege acusado de judaizar, imediatamente<br />
caíam parentes e amigos de<br />
distintos pontos da Espanha e Portugal,<br />
porque durante séculos os<br />
criptojudeus mantiveram uma rede<br />
de contatos que lhes permitia ajudar-se,<br />
reunir-se para as festas e fazer<br />
casamentos, sem os quais a tradição<br />
teria desaparecido. Os judaizantes<br />
desaparecem dos arquivos justamente<br />
quando o Santo Ofício que<br />
os perseguia se modera, no final do<br />
século 18, e, finalmente, abolido em<br />
princípios do 19.<br />
Um presunto à mostra<br />
A também valenciana Marina de<br />
Paz Peris conta como seus avós paternos<br />
acendiam no povoado galego<br />
de Rivadavia as velas do Shabat dentro<br />
de uma caçarola para que seus<br />
vizinhos não as percebessem e que<br />
de menina descobriu em seu sótão<br />
livros escondidos escritos “com casinhas”,<br />
que mais tarde soube que<br />
era o alfabeto hebraico. Sua avó<br />
materna guardava as aparências culinárias<br />
para evitar que fosse descoberta.<br />
A Inquisição processou muitíssimos<br />
suspeitos por cozinhar com azeite<br />
vegetal ou por não consumir porco.<br />
“Eu sempre vi um presunto na despensa<br />
- conta Marina —, que devia<br />
ser herdado, porque estava há anos ali,<br />
para que os vizinhos o vissem”.<br />
A avó dava de presente os coelhos<br />
que criava (proibidos pela lei<br />
rabínica) aos vizinhos; “em troca,<br />
frangos não presenteava nem um”. A<br />
família de Marina de Paz teve que se<br />
fazer equilibrismo durante o período<br />
franquista para ocultar sua verdadeira<br />
religião. Quando em algum ato social<br />
recusavam o porco, alegavam que<br />
engordava, e diziam que o marisco<br />
produzia-lhes desarranjos. Quando<br />
eram convidados a um casamento<br />
chegavam sempre no final da missa,<br />
“com a desculpa da modista ou de<br />
um sapato estragado”, porque tinham<br />
restrições para entrar na igreja.<br />
A família ajeitou-se também para<br />
obter um lote no cemitério sem uma<br />
só cruz, onde também eram enterrados<br />
ateus e suicidas. Quando em<br />
1948 fundou-se o Estado de Israel,<br />
37 de seus primos emigraram em massa<br />
protagonizando uma aliyá (originalmente<br />
retorno, mas hoje significa<br />
imigração) incrível para o mundo, porque<br />
teoricamente os judeus não existiam<br />
mais em Sefarad há séculos.<br />
Marina, que tem 55 anos, conheceu<br />
a rede clandestina que unia os<br />
judeus ibéricos. Quando completou<br />
18 anos, seus pais levaram para casa<br />
alguns jovens para que se casasse<br />
dentro do grupo. “Era uma espécie<br />
de serviço secreto criptojudeu. Havia<br />
aqueles que colocavam em contato<br />
as pessoas, e a mim trouxeram<br />
rapazes de Córdoba, de Navarra e<br />
mesmo de Valência, e algum centroeuropeu,<br />
de famílias que se relacionavam<br />
com meus pais”, conta.<br />
A comissão rabínica ouviu também<br />
representantes lusos. Em Portugal<br />
— onde os judeus foram convertidos<br />
a força, sem a possibilidade de<br />
exilarem-se — foram mantidas algumas<br />
comunidades perfeitamente constituídas,<br />
e durante as décadas de<br />
1920 e 1930 houve um importante<br />
movimento, a Obra do Resgate, que<br />
levou muitos marranos à sinagoga e<br />
criou escolas para as crianças.<br />
Outro grupo que explicou seu caso<br />
aos rabinos foi o dos chuetas, os<br />
maiorquinos (da Ilha Maiorca) portadores<br />
de 15 sobrenomes, descendentes<br />
dos últimos conversos que sofreram<br />
represálias da Inquisição nos finais<br />
do século 17, que estiveram estigmatizados<br />
até faz muito pouco,<br />
porque viviam agrupados no velho call1 de s'Argenteria de Palma. Após Barcelona,<br />
a comissão israelense viajou<br />
a Maiorca e a Oporto. O rabino Boaron<br />
declarou-se impressionado pelos<br />
testemunhos que tinha escutado e reconheceu<br />
Sefarad como terra de judeus.<br />
Segundo suas palavras, existe<br />
uma boa disposição do Grão Rabinato<br />
para que os bnei anusim (os filhos<br />
dos forçados) regressem ao povo de<br />
Israel com todas as honras.<br />
1 - Call significa sinagoga.<br />
E. Casanova é autor do livro ‘Els jueus<br />
amagats. Supervivents de la Inquisició a<br />
la Sefarad del segle XXI’ [Em catalão ‘Os<br />
judeus amistosos. Sobreviventes da Inquisição<br />
na Sefarad do século XXI’].
Simchat Torá<br />
Em Simchat Torá (“Júbilo da<br />
Torá”) concluímos, e recomeçamos<br />
o ciclo anual de leitura da Torá. O<br />
evento é marcado com muita alegria,<br />
e hacafot, feita na véspera<br />
e na manhã de Simchat Torá, na<br />
qual dançamos com os Rolos de<br />
Torá ao redor da bimá. Durante<br />
a leitura da Torá, todos, incluindo<br />
crianças abaixo da idade de<br />
bar-mitsvá, são chamados à Torá;<br />
assim a leitura é feita inúmeras vezes, para que todos recitem a<br />
bênção sobre a Torá neste dia.<br />
Três rolos são tirados da Arca para leitura. No primeiro, a última<br />
porção da Torá - Vezot Haberachá - é lida e relida muitas vezes, até<br />
que todos tenham sido chamados à Torá. Então meninos que ainda<br />
não têm bar-mitsvá (não completaram treze anos) são chamados à<br />
Torá juntamente com um membro destacado da sinagoga. Em seguida<br />
à bênção Hamalach hagoel (O Anjo que redime) com a qual<br />
Yaacov (Jacó), abençoou os filhos de Yossef (José), é pronunciada<br />
em nome dos meninos.<br />
Para a porção de encerramento chama-se alguém de destaque que<br />
recebe a denominação de “Noivo da Torá”. Outro membro é então<br />
convocado para a primeira porção de Bereshit, que é lida no segundo<br />
Rolo da Torá e é denominado “Noivo de Bereshit”.<br />
Finalmente o Maftir, trecho dos profetas que acompanha a leitura<br />
da Torá, é lido no terceiro Rolo da Torá. Dessa maneira, a leitura da<br />
Torá prossegue porção por porção durante o ano todo, durante todas<br />
as épocas, em um eterno ciclo que quando parece se encerrar,<br />
logo depois recomeça ininterruptamente.<br />
Isto mostra que não há fim na Torá, que deve ser lida e estudada<br />
constantemente, mais e mais, pois a Torá, como o próprio D-us que<br />
a deu para nós, é imorredoura. Cumprindo-a, nosso povo forma o<br />
terceiro elo na eterna união entre D-us, a Torá e Israel.<br />
(www.chabad.org.br).<br />
Shemini Atsêret<br />
Em conexão com a festa de Shemini Atsêret (o Oitavo Dia de<br />
Assembléia), nossos sábios nos contam uma bela parábola:<br />
Um rei certa vez promoveu uma grande festa e convidou príncipes<br />
e princesas a quem apreciava muito para seu palácio. Tendo<br />
passado vários dias juntos, os hóspedes prepararam-se para ir embora.<br />
Porém, o rei lhes disse: “Peço-lhe, fiquem mais um dia comigo,<br />
é difícil ficar longe de vocês!”<br />
Assim acontece conosco, nossos sábios concluem a parábola.<br />
Passamos muitos dias felizes na sinagoga. D-us deseja nos ver por<br />
mais um dia na sinagoga, e por isso Ele nos concede uma festa<br />
adicional - Shemini Atsêret.<br />
Em algumas congregações é costume fazer Hacafot (danças com a<br />
Torá) na noite de Shemini Atsêret, assim como na noite de Simchat Torá.<br />
Sucot é a Festa da Colheita quando a produção dos campos era<br />
colhida e o dízimo era separado, de acordo com o mandamento da<br />
Torá, e dado aos levitas e aos pobres. A leitura da Torá no Serviço<br />
Matinal de Shemini Atsêret fala do mandamento de dar o dízimo.<br />
O serviço de Mussaf, Prece Adicional, é assinalado pela prece<br />
especial com pedidos para que haja chuva. (www.chabad.org.br).<br />
ocê sabia que as Colônias do Golan<br />
pertenciam ao Reino de David na<br />
antiguidade e que, muitos judeus<br />
lá moravam em épocas recentes?<br />
Hoje se fala demais e se conhece de menos,<br />
abocanha-se a história como algo que pode ser<br />
mudado ao bel prazer de quem a interpreta como<br />
se fosse sua propriedade particular.<br />
Você sabia que a Palestina foi o nome dado<br />
pelos romanos à antiga Judéia dos hebreus, no<br />
Oriente Médio, há milênios atrás pelo último<br />
Imperador romano Adriano, em 135 d.c?<br />
Você já ouviu falar que os turcos otomanos<br />
dominaram o Oriente Médio e parte da Europa<br />
durante 400 anos e só perderam junto com a<br />
Alemanha e o Império austro-húngaro na 1ª<br />
Guerra Mundial, que durou de 1914 a 1918,<br />
para os países da Europa, no Tratado de Versalhes<br />
em 1918?<br />
Você tinha conhecimento de que a maioria<br />
dos países árabes de hoje foram criados<br />
pela Inglaterra e pela França (que tanto abominam)<br />
e doados à famílias abastadas da região,<br />
um, dois ou três anos antes da criação<br />
do Estado de Israel, (que teve o aval do ONU<br />
que os outros não tiveram), após a 2ª Guerra<br />
Mundial, vencida novamente pelos aliados e<br />
pelos Estados Unidos?<br />
Na conferência do Cairo, Churchill já havia<br />
desenhado o mapa do Oriente Médio, que se<br />
tornou em grande parte protetorado britânico<br />
e protetorado francês.<br />
Chamou Faiçal, filho do xerife de Meca (sunita),<br />
como Rei de um território formado por<br />
três províncias otomanas (Basra, Bagdá e Mosseul)<br />
e deu-lhe o nome de Iraque.<br />
Ao sul, Ibn Saud fundava a Arábia Saudita<br />
com o aval da Inglaterra.<br />
O reino Hachemita da Jordânia só teve a sua<br />
independência em 1946, um ano antes de Israel.<br />
Sob a custódia da França a vilayot de Allepo<br />
se juntou à vilayot da Síria, que continha o<br />
distrito de Damasco e virou a Síria. A Síria só<br />
se tornou independente em 1946, um ano antes<br />
de Israel.<br />
Os distritos de Tripoli e Beirute formaram o<br />
Líbano somente em 1943, 4 anos antes de Israel.<br />
Uma faixa de terra composta pelos distritos<br />
de Jerusalém, Nablus e Acre, ficou também como<br />
mandato britânico, a terra dos judeus, antiga<br />
palestina histórica, e em reunião da ONU, foi<br />
resolvido em 1947, sob a égide do Chanceler<br />
Oswaldo Aranha, portanto com o aval completo<br />
do Brasil, que seria dividido em um Estado judeu<br />
e outro árabe.<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
15<br />
O que nos<br />
conta a históriaEdda Bergmann*<br />
O Império Otomano fora assim fatiado e,<br />
graças aos ingleses, os árabes garantiram praticamente<br />
todo o Oriente Médio, com apenas<br />
duas famílias mandatárias, os Hachemitas<br />
e os Sauditas.<br />
Assim os árabes tornaram-se senhores do<br />
Oriente Médio otomano, os turcos otomanos ficaram<br />
com a Ásia Menor e a Anatólia e seus vizinhos<br />
e inimigos históricos, ficaram com o Irã.<br />
Mas o Estado de Israel ao ser criado em<br />
1947-48, foi invadido pelos países árabes recém-criados,<br />
que não achavam bastante o que<br />
tinham conseguido e após uma luta desigual e<br />
cheia de atos de heroísmo por parte dos judeus,<br />
sua independência foi concretizada.<br />
Seis guerras se sucederam com o intuito de<br />
jogar os judeus ao mar, mas foram todas vencidas<br />
por Israel.<br />
Os judeus mostraram que estão lá para ficar<br />
e para valer, sendo a única democracia do Oriente<br />
Médio que não pertence a uma família, e<br />
não é fruto do acaso, mas da história contemporânea<br />
que representa, reconhece e endossa<br />
o passado e seus habitantes.<br />
Este caminho de querer varrer Israel do<br />
mapa, um Estado soberano, livre e democrático,<br />
criado pela ONU, com o voto da maioria<br />
dos países do mundo, que preza e exercita<br />
sua cidadania e acaba de livrar o Líbano da<br />
ocupação dos foguetes, mísseis e armas do<br />
Hezbolá, um grupo terrorista da Síria e do<br />
Irã que pretendia dominá-lo e torná-lo dependente<br />
de suas vontades inexoráveis, não<br />
vão deixar as coisas acontecerem.<br />
Ameaçar Israel tem um preço, muito alto por<br />
sinal, os países árabes que se cuidem.<br />
O sindicato dos trabalhadores da Universidade<br />
de São Paulo, apregoando ao público em<br />
discussões, passeatas, manifestações e oratórias<br />
o fim do Estado de Israel, sua varrição do<br />
mapa, “Os protocolos dos sábios de Sião” (uma<br />
falsificação histórica) e seu ódio gratuito e<br />
imponderável aos judeus em geral, estão optando<br />
por um desvio de comportamento e por<br />
criar no Brasil um comportamento antidemocrático,<br />
que não coincide com as diretrizes históricas<br />
e políticas do nosso Brasil, que é um<br />
país e não dará guarida à ditaduras, venham<br />
elas de onde vierem.<br />
Vivemos num país democrático onde faremos<br />
valer nossos direitos, o Brasil tem uma grande<br />
influência histórica judaica através de sua população<br />
de cristãos novos e de muitas mesclas<br />
populacionais, para se dar ao luxo destes tipos<br />
de comportamentos inadequados, incoerentes,<br />
extemporâneos e contrários às leis vigentes.<br />
*Edda Bergmann é vice-presidente Internacional da B’nai B’rith.
16<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Palavra de<br />
Ratzinger<br />
efender Ratzinger. Estranha situação<br />
para alguém que, como<br />
eu, diverge dezenas de povos de<br />
sua concepção do mundo. E não<br />
só porque ele habita na gramática do<br />
intangível e eu sou uma impenitente cidadã<br />
do racionalismo, mas porque quando atua no<br />
terreno, suas idéias sociais estão nos meus<br />
antípodas. Não me agrada o Vaticano nem<br />
por sua discriminação sexual, nem por sua<br />
homofobia, e sua atitude no terceiro mundo,<br />
contrária à anticoncepção, me parece<br />
seriamente irresponsável. Reconheço que a<br />
espiritualidade deste papa me comove quase<br />
tanto como sua densa cultura, mas seu mundo<br />
e meu mundo palpitam em mundos distintos.<br />
Todavia, e parafraseando a famosa frase,<br />
daria o que fosse para que Ratzinger pudesse<br />
defender suas idéias contrárias às minhas;<br />
essa é a raiz da liberdade, seu profundo<br />
compromisso: garantir o cadinho, assegurar<br />
a pluralidade. E é o cadinho de idéias,<br />
o direito de pensar mais além dos medos e<br />
das ameaças, o que resulta frontalmente atacado<br />
nestes tempos.<br />
Falamos de Ratzinger, mas falamos também<br />
de Theo Van Gogh, de Salman Rushdie,<br />
dos chargistas dinamarqueses, de Ayan Hirsi<br />
Alli, do escritor Naguib Mahfuz, cuja morte<br />
recente nos recordou o calvário que sofreu<br />
nas mãos da intolerância. Todos eles foram<br />
responsáveis por lesa culpa em opinar mais<br />
além da comodidade, talvez além da corrente<br />
e, sem dúvida, mais além da prudência. E<br />
todos deixaram pelo caminho muita pele,<br />
violentados, ameaçados, inclusive assassinados.<br />
É Ratzinger o mesmo que Rushdie? Se<br />
parece com a provocação profana dinamarquesa?<br />
Tem algo a ver com a denúncia de<br />
Van Gogh? Todos têm a ver com o mesmo, se<br />
atreveram a opinar criticamente sobre o islã<br />
e padeceram as conseqüências.<br />
Para começar, Bento XVI já pediu precipitadamente<br />
perdão, num ato de genuflexão<br />
pública que estranhamente se dá no Vaticano.<br />
O fez por convicção ou o fez obrigado<br />
pela histeria desatada no islã? A evidência<br />
da resposta poupa o texto. Novamente, pois,<br />
o mundo amanheceu com manifestações à<br />
solta, com igrejas queimadas, com parlamentos<br />
pedindo explicações e com os gurus do<br />
islã exigindo penitência.<br />
E tudo isso aconteceu porque Bento XVI<br />
disse que a jihad é contrária a D-us, e que a<br />
violência não é compatível com a religião.<br />
Ou seja, tem o meio mundo muçulmano sublevado<br />
por ter sido coerente com o catecismo.<br />
Um homem de D-us assegura que, em<br />
nome de D-us, não se pode matar. E tem que<br />
pedir perdão…<br />
Pilar Rahola*<br />
Eu sei. Seriam muitas as arestas do tema.<br />
Para começar, Ratzinger lidera uma religião<br />
que teve sua jihad nos tempos dos cruzados,<br />
e que também, em nome da religião, defendeu<br />
todo tipo de violências. Sem ir mais longe,<br />
o cristianismo é o principal responsável<br />
pela loucura histórica do anti-semitismo. Mas<br />
também é certo que muitas são as reflexões<br />
críticas do próprio cristianismo, e que a Nostra<br />
Aetate supõe uma fronteira definitiva com<br />
seu passado. E o é ainda mais sua designação<br />
dos valores democráticos das sociedades<br />
nas quais vive. Seja como for, Ratzinger<br />
poderia ter partido da própria culpa cristã<br />
para aterrissar na inequívoca culpa islâmica,<br />
e poderia ter usado textos históricos menos<br />
antipáticos como exemplo, mas nada do que<br />
foi dito justifica a violência de rua e de taverna<br />
que estão gerando suas palavras. O tema<br />
não é o que Ratzinger disse, sobretudo porque,<br />
matizes à parte, o dele é de um sentido<br />
comum inapelável. O tema é a falta absoluta<br />
de cultura democrática que afoga o islã e<br />
que nos afoga a todos.<br />
Não me cansarei de dizer que, sem dúvida,<br />
há um islã de paz, mas também há um<br />
islã de guerra, e da mesma forma que em<br />
nome de Alá se conjuga o verbo amar, hoje,<br />
em nome de Alá, também se conjuga o verbo<br />
matar. Milhares de mortos, de Nova York<br />
até Atocha, de Beslan até Bombaim, avalizam<br />
isso tragicamente. E o mais trágico não<br />
é que o islã radical esteja seqüestrando a<br />
imagem de todo o mundo muçulmano. O<br />
mais trágico é que o mundo muçulmano<br />
pacífico não se manifesta, não critica, não<br />
se rebela, mas se cala.<br />
Os poucos Mahfuz e Rushdie que levantam<br />
a voz vivem um calvário. Pessoalmente<br />
creio que uma comunidade diversa, complexa,<br />
heterodoxa como a islâmica não pode ser<br />
reduzida à imagem simplista e malvada que o<br />
próprio fundamentalismo tenta dar. Mas, para<br />
isso, é necessário que surjam seus próprios<br />
Ratzingers e que o mundo islâmico diga, de<br />
própria voz, que a jihad é contrária a D-us.<br />
Infelizmente vivemos uma trágica inversão<br />
de valores: as vozes surgem massivas, histéricas<br />
e ameaçadoras, para violentar os críticos.<br />
Milhares vociferando nas ruas porque um<br />
Papa falou contra a violência. Onde estão<br />
esses milhares quando, em nome de seu deus,<br />
se massacram cidadãos em trens, ônibus e<br />
aviões? Há um Islã que está muito doente e,<br />
por infelicidade, é, o Islã que impõe sua voz.<br />
Esse Islã hoje silencia Ratzinger e ontem o<br />
fez com outros. Por isso me atrevo a dizer<br />
que as desculpas do Papa não são um êxito<br />
da prudência, são uma derrota da razão. Uma<br />
quebra, — outra —, da liberdade.<br />
* Pilar Rahola é jornalista, escritora e tem programa na televisão espanhola. Foi vice-prefeita<br />
de Barcelona, deputada no Parlamento Europeu e deputada no Parlamento espanhol.<br />
Publicado no El Periódico, de Barcelona. Tradução: Szyja Lorber.<br />
OLHAR ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
HIGH-TECH<br />
○ ○<br />
Sistema de água da era bíblica<br />
Arqueólogos de Israel desenterraram<br />
um antigo sistema de água modificado<br />
pelos persas para transformar o<br />
deserto num paraíso. A rede de reservatórios,<br />
dutos de escoamento e<br />
túneis subterrâneos atendeu um dos<br />
grandes palácios do reinado bíblico<br />
da Judéia. Os arqueólogos descobriram<br />
o palácio em 1954, uma estrutura<br />
construída sobre uma área de 2,4<br />
hectares onde hoje está a fazenda<br />
coletiva de Ramat Rachel. Mas escavações<br />
recentes desenterraram quase<br />
70 metros quadrados de um sistema<br />
de água considerado único. O sistema<br />
foi construído no final da Idade<br />
do Ferro, passando pelo período<br />
bíblico, até o século VII, afirmou<br />
Oded Lipschits, arqueólogo da Universidade<br />
de Tel Aviv. A infra-estrutura<br />
do palácio foi redesenhada ao<br />
longo dos séculos para atender às necessidades<br />
dos babilônios, persas,<br />
romanos e hasmoneus que governavam<br />
a Terra Santa, disse o cientista,<br />
que comanda as escavações ao lado<br />
de um acadêmico da Universidade de<br />
Heidelberg, Alemanha. (Reuters).<br />
Sistema de água da era bíblica II<br />
Mas foram os persas que renovaram<br />
o sistema de águas e o transformaram<br />
em algo de grande beleza. Segundo<br />
Lipschits, os persas acrescentaram<br />
pequenas quedas d’água ao<br />
sistema tentando transformar o deserto<br />
em um paraíso. “Imagine que<br />
nessa terra havia plantações e água<br />
correndo”, afirmou o cientista. “Alguém<br />
considerava a estética algo<br />
importante e não desejava se sentir<br />
em um remoto canto qualquer do<br />
deserto”. Yuval Gadot, arqueólogo<br />
especializado no período bíblico, também<br />
da Universidade de Tel Aviv, participa<br />
das escavações. Ele disse que<br />
os cientistas não sabem exatamente<br />
como o sistema funcionava. “Provavelmente,<br />
a água das chuvas descia<br />
do teto das casas [do complexo do<br />
palácio]”, afirmou. “A partir dali, por<br />
meio de escoadouros, ela era levada<br />
até piscinas ou reservatórios subterrâneos<br />
antes de chegar aos campos<br />
de plantio próximos dali ou a<br />
belos jardins”. Por séculos, o suprimento<br />
de água tem sido um dos assuntos<br />
mais delicados do Oriente<br />
Médio, uma região dominada por<br />
desertos. (Reuters).<br />
Mosaicos milenares em Jerusalém<br />
Arqueólogos israelenses descobriram<br />
na cidade velha de Jerusalém dois<br />
mosaicos milenares, um debaixo do<br />
outro e acredita-se que decoravam a<br />
casa de uma família abastada da<br />
época do Segundo Templo. Com forma<br />
e desenho de tapete, os mosaicos<br />
foram descobertos no chamado<br />
Recinto Herodiano, situado na parte<br />
judaica da cidade antiga e um dos<br />
principais parques arqueológicos da<br />
cidade. Os arqueólogos consideram<br />
que ambos procedem da segunda<br />
metade da Era do Segundo Templo,<br />
um período que se estende do ano<br />
538 a.C até o redor de 132 d.C. Foi a<br />
recuperação do primeiro mosaico<br />
mediante uma técnica conhecida<br />
como “levantamento”, ou seja, a introdução<br />
de uma rede na parte inferior<br />
para erguê-lo de seu lugar, o que<br />
deixou à mostra o segundo mosaico,<br />
que era um piso anterior da mesma<br />
casa. Após um árduo processo de<br />
conservação, ambos ficaram expostos<br />
no recinto que foram encontrados,<br />
um deles colocado numa parede.<br />
(Haaretz/Rádio Chai).<br />
Israel competitivo<br />
Este ano Israel passou da 23ª posição<br />
no ranking da competitividade<br />
global para a 15ª, o que colocou o<br />
país entre as economias mais competitivas<br />
do mundo, segundo a edição<br />
20<strong>06</strong>-2007 do Relatório de Competitividade<br />
Global do Fórum Econômico<br />
Mundial. Israel superou países<br />
como Canadá, França, Espanha, Itália<br />
e Austrália. As conquistas mais<br />
significativas israelenses concentramse<br />
nas áreas de prontidão tecnológica,<br />
technological readiness — categoria<br />
na qual subiu da 20ª para a 3ª<br />
posição — aperfeiçoamento da administração<br />
macroeconômica, eficiência<br />
de mercado e diversas áreas de<br />
infra-estrutura. Alavancada por fatores<br />
externos, como o aumento da<br />
atividade econômica global e do comércio<br />
mundial, e a recuperação do<br />
setor high-tech, a competitividade de<br />
Israel também cresceu devido a reformas<br />
significativas de regras aliadas<br />
à disciplina fiscal. (weforum.org)<br />
Competitivo II<br />
A área que apresentou avanços mais<br />
impressionantes foi o mercado financeiro,<br />
altamente desenvolvido para os<br />
padrões regionais e internacionais.<br />
Isso se explica pelos efeitos da revolucionária<br />
reforma do mercado de<br />
capitais, entre outras coisas, segundo<br />
o relatório do Fórum Econômico<br />
Mundial. O relatório explica que Israel<br />
beneficiou-se do desenvolvimento<br />
de uma cultura de inovação, apoiada<br />
por instituições de educação de primeira<br />
classe e pela pesquisa científica,<br />
“tornando-se um gerador mundial<br />
de tecnologia, e está começando<br />
a colher efeitos favoráveis na<br />
economia, uma excelente promessa<br />
para o futuro”, na avaliação do economista<br />
e chefe da Rede de Competitividade<br />
Global do Fórum Econômico<br />
Mundial, Augusto Lopez Claros.<br />
(weforum.org).
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Nem tudo é o que parece ser<br />
Roberto Musatti * gem, completavam esta estrutura, toneladas de bombas na região xiita veis, sem que nenhum protesto te-<br />
financiada e entregue pelos aiato- de Beirute, continha ‘apenas’ o nha sido feito pela França ou por Kofi<br />
preocupante crise do<br />
Oriente Médio assumiu<br />
tons que nos evocam o<br />
celebre bordão do shampoo<br />
‘Denorex’ de algum tempo<br />
atrás. No novo mundo globalizado<br />
onde as noticias, os comentários<br />
e as imagens viajam na velocidade<br />
digital e em tempo real - vemos uma<br />
outra batalha sendo travada, de guerrilha<br />
e sem quartel: a batalha pela<br />
conquista da opinião pública, correta<br />
ou não.<br />
As previsíveis coberturas jornalísticas<br />
do atual conflito no Líbano<br />
e Israel, mostram compenetrados jornalistas<br />
reportando de áreas arrasadas,<br />
mulheres em prantos incontidos,<br />
feridos em hospitais, protestos em<br />
funerais - tudo parte de um script<br />
de teatro de horror e sofrimento<br />
humano, que estes produtores acreditam<br />
ser o material que mais galvaniza<br />
a atenção de espectadores<br />
em todo o mundo. Estão apenas<br />
lás xiitas do Irã via Síria.<br />
O governo Baath da Síria, por sua<br />
vez, ao ver frustradas suas intenções<br />
imperialistas da ‘Grande Síria’ com a<br />
retirada de seus 15 mil soldados do<br />
Líbano em 2005, deixou com o Hezbolá,<br />
boa parte de seu armamento<br />
russo de última geração. Em 31 de<br />
janeiro deste ano, 12 caminhões carregados<br />
de mísseis foram parados<br />
pelo exercito libanês após cruzarem<br />
a fronteira com a Síria e liberados<br />
em seguida, por ordem expressa do<br />
governo libanês, (agora no papel de<br />
‘inocente traído’) para serem entregues<br />
ao Hezbolá.<br />
Criou-se no Líbano, dentro de<br />
Beirute, uma nação iraniana xiita,<br />
com exercito, ministros, parlamentares<br />
burocratas, estação de TV (Al-<br />
Manar) e até policia própria. Não era<br />
possível entrar no conjunto de prédios<br />
na região sul de Beirute, sem<br />
identificação própria ou documento<br />
do Hezbolá.<br />
bunker subterrâneo central de comando<br />
do Hezbolá, construído por<br />
engenheiros iranianos especializados<br />
em instalações nucleares. Pistas de<br />
aeroportos, estoques de combustíveis,<br />
pontes e estradas foram destruídas<br />
por serem vitais para a locomoção<br />
dos mísseis e suas plataformas<br />
de lançamento. O que as imagens<br />
não mostram é o resto de Beirute<br />
e Tiro, até agora intactos.<br />
Antes de atacar vilarejos, casas,<br />
hospitais e creches usados como<br />
base de ataque e estoque de mísseis<br />
do Hezbolá no sul do Líbano, milhares<br />
de panfletos são jogados pela<br />
aviação de Israel pedindo que a população<br />
civil saia face o iminente<br />
perigo. Enquanto isso, mais de 2 mil<br />
mísseis já foram disparados pelo Hezbolá<br />
contra as cidades de Israel, indiscriminadamente<br />
e de forma criminosa,<br />
contendo centenas de bolinhas<br />
de chumbo objetivando atingir<br />
o maior número de civis possí-<br />
Annan, rápidos em censurar as incursões<br />
de Israel.<br />
Existem dois grandes receios de<br />
conseqüências por trás do atual conflito:<br />
A) que os sunitas, maioria nos<br />
demais países árabes, que consideram<br />
os xiitas como traidores e fonte<br />
principal dos terroristas do Al Qaeda<br />
– desfechem ataques a alvos ocidentais<br />
em todo o mundo como forma<br />
de concorrência com o prestigio<br />
atual do Hezbolá. B) que o Hezbolá<br />
em desespero, ative suas células de<br />
terror fora do Oriente Médio e ataque<br />
comunidades judaicas, como fez<br />
na Argentina em 93 e 94, com centenas<br />
de mortos e feridos.<br />
Nem tudo é o que parece, especialmente<br />
no jogo de inte- * Roberto Musatti é<br />
resses do Oriente Médio. É de economista pela USP<br />
se lamentar que ‘no frigir dos<br />
e mestre em<br />
Marketing (Michigan<br />
ovos’ vitimas inocentes, in-<br />
State) e Professor<br />
clusive brasileiras, sejam ape- Universitário.<br />
nas estatísticas.<br />
servindo de marionetes para os radicais<br />
islâmicos.<br />
Para quem ousasse desafiar este<br />
poderio, a lembrança o recente as-<br />
‘Israel, agora no papel de agressassinato do ex-premiê libanês (antisor,<br />
está destruindo o Líbano e ponxiita e sírio) Hariri servia de intimito<br />
final!’ ‘A pequena e frágil nação libanesa<br />
sucumbe com seus milhares de<br />
refugiados, ao poderio imperial do 4º<br />
exercito mais poderoso do mundo que<br />
reage com desproporção e insensibilidade’.<br />
‘Os surpresos e inocentes políticos<br />
libaneses apelam à consciência<br />
do mundo ocidental, diante deste<br />
‘tsunami’ militar em seu país!’<br />
Por trás desta ‘cortina de fumaça’<br />
se escondem varias realidades<br />
dação e manteve políticos e o exercito<br />
libanês dóceis e coniventes.<br />
O objetivo iraniano é o de ter<br />
‘uma ponta de lança’ na garganta de<br />
Israel e dos EUA, caso estes resolvessem<br />
tomar medidas militares contra<br />
seu programa militar nuclear, essencial<br />
para efetivar o domínio xiita<br />
até a península arábica. A idéia, como<br />
afirmou nesta semana seu líder Nasrallah,<br />
é “tornar a vida dos israelen-<br />
Justiça Eleitoral do RS retira do ar<br />
propaganda de cunho anti-semita<br />
Manifestações em programa eleitoral do festação de candidato afirmando que a paz<br />
candidato a deputado estadual Julio Flores somente será possível com a extinção do<br />
(PSTU) pedindo o fim do Estado de Israel Estado de Israel e a criação de uma palesti-<br />
foram objeto de apreciação da recém- criada na não racista onde convivam todas as reli-<br />
comissão jurídica da FIRGS - CALE (Comitê giões: Irregularidade que se ostenta por<br />
bem diferentes, parte de um plano ses impossível em Israel”. Poucos de Ação Legal). Com a gravação comprovan- evidenciar a mensagem ofensa à ordem ju-<br />
estratégico muito bem elaborado. países se sujeitariam a esta ameaça. do as manifestações, a comissão entrou em rídica brasileira e a princípios fundamen-<br />
Israel está atacando a região geográfica<br />
do Líbano (e não o país)<br />
para destruir o grupo terrorista militar<br />
Hezbolá, que ali se instalou<br />
criando um estado dentro de outro<br />
estado, objetivando a total destruição<br />
do Estado de Israel. “Desde a<br />
saída do exercito de Israel do sul<br />
do Líbano em 2000, estivemos nos<br />
preparando para este dia”, dizem os<br />
comandantes desta milícia.<br />
E se prepararam muito bem, a<br />
ponto de serem mais poderosos que<br />
a muitos dos exércitos regulares árabes.<br />
São 30 mil homens, armados<br />
com 12 mil mísseis de diversas capacidades<br />
e poderio, capazes de<br />
atingir grandes populações civis em<br />
Israel. Mísseis antitanque, RPG -<br />
bunkers, túneis, fortificações, plataformas<br />
moveis de lançamento,<br />
equipamentos de visão noturna,<br />
A tecnologia israelense de ponta,<br />
os seus satélites que monitoram<br />
objetos até 3 metros do solo, conseguiu<br />
até agora orientar as incursões<br />
aéreas e de artilharia, para que<br />
atingissem seus alvos, causando o<br />
menor número possível de baixas civis,<br />
proposta quase impossível, visto<br />
que boa parte da estratégia do<br />
Hezbolá é manter seus armamentos<br />
e disparos atrás de escudos humanos<br />
- os ‘sahids’ ou mártires, voluntários,<br />
ou não. Quanto maior o número<br />
destes mortos, melhor para sua<br />
campanha de mídia - é o ‘efeito Jenin’<br />
(o massacre étnico de 2002 que<br />
nunca ocorreu): como a família<br />
morta na praia em Gaza (que de<br />
míssil israelense passou à mina do<br />
Hamas) e as vitimas dos bombardeios<br />
no Líbano - que sempre são<br />
só crianças e mulheres.<br />
contato com os procuradores dos Ministérios<br />
Públicos Eleitorais. O Ministério Público<br />
Federal, após exame aprofundado da matéria,<br />
encaminhou representação à Justiça<br />
Estadual eleitoral, obtendo desde logo liminarmente<br />
a retirada das palavras consideradas<br />
ofensivas aos princípios fundamentais<br />
do Estado Brasileiro. Ao sentenciar, o juiz<br />
João Carlos Cardoso Branco, acolhendo o<br />
mérito da representação, determinou a exclusão<br />
definitiva do âmbito da propaganda<br />
eleitoral, com base no artigo quarto da Constituição<br />
Federal brasileira, segundo o qual a<br />
República rege-se nas suas relações internacionais<br />
pela autodeterminação dos povos,<br />
defesa da paz e solução pacífica dos conflitos.<br />
O texto da ementa da decisão do Poder<br />
Judiciário eleitoral é o seguinte:<br />
Representação – propaganda irregular –<br />
horário eleitoral gratuito de rádio – manitais<br />
que regem as relações internacionais<br />
do Brasil, na conformidade do art. 4º da CF,<br />
extrapolando o direito de livre manifestação<br />
do pensamento – aplicação do disposto<br />
no artigo 243 do Código Eleitoral e § 2º<br />
do artigo 53 da lei nº 9504/97 – proibição<br />
de reapresentação da propaganda. Representação<br />
acolhida.<br />
A propaganda eleitoral impugnada e à<br />
qual o Poder Judiciário determinou fosse<br />
excluída do horário eleitoral gratuito atenta<br />
contra os princípios democráticos e de<br />
direito que estão na Constituição e garantem<br />
a dignidade da pessoa humana. Com<br />
esta decisão judicial entende a Federação<br />
Israelita do Rio Grande do Sul ter cumprido<br />
com um dos seus objetivos que é a defesa<br />
da comunidade judaica e a preservação de<br />
seus valores. (Federação Israelita do Rio<br />
Grande do Sul - Depto. de Comunicação).<br />
torres de comunicação e espiona- A ‘mesquita’ bombardeada com 26<br />
17
18<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Léia Hecht foi empossada como<br />
presidente da Na’amat Pioneiras-Brasil.<br />
Estão sob sua coordenação,<br />
Centros de Na’amat<br />
de 10 estados brasileiros (Amazonas,<br />
Pará, Rio Grande do<br />
Norte, Ceará, Bahia, Minas Gerais,<br />
Rio de Janeiro, São Paulo,<br />
Paraná e Rio Grande do<br />
Sul), que trabalharão em prol<br />
da elevação do status da mulher<br />
e sua família. A cerimônia<br />
de posse da nova presidência<br />
encerrou o XVI Kinus Artzi<br />
(Congresso Nacional) de<br />
Na’amat Pioneiras Brasil, realizado<br />
a cada três anos alternadamente<br />
nas cidades de São<br />
Paulo e Rio de Janeiro, e que<br />
teve como tema este ano ‘A Missão<br />
de Na’amat Brasil para o<br />
Século XXI’, desde 1948.<br />
Max Rosenmann foi reeleito deputado<br />
federal, com 116 mil votos, ficando em<br />
10º lugar entre os deputados mais votados<br />
do Paraná. Ganha o Estado e a Comunidade<br />
Israelita do Paraná. Mazal Tov!<br />
No dia 19/9 a Sociedade Brasileira dos<br />
Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém,<br />
presidida no Brasil por Morris Dayan,<br />
entregou o Prêmio Scopus a José Mindlin,<br />
por sua contribuição à educação e cultura<br />
do Brasil. O evento aconteceu na residência<br />
de Morris Dayan, e contou com a presença<br />
de personalidades ligadas à cultura<br />
e educação brasileira, e lideranças da comunidade<br />
judaica.<br />
Morris Daian e José Mindlin<br />
O Prêmio Scopus é concedido anualmente, pela<br />
Sociedade Amigos da Universidade Hebraica de<br />
Jerusalém a pessoas que se destacam em suas<br />
áreas de atuação, e leva esse nome por remeter<br />
à localização da Universidade, que fica no Monte<br />
Scopus, em Jerusalém, Israel. Dentre os já<br />
agraciados com o prêmio, destacam-se o ministro<br />
Gilberto Gil (2005), Roman Polansky, Frank<br />
Sinatra, Itzhak Perlman, Edward Kennedy Zubin<br />
Mehta e o Dalai Lama, entre outros.<br />
No Kinus Artzi da Na'Amat Pioneiras as dirigintes da entidade em todo o<br />
Brasil. A primeira à esquerda é a curitibana Marina Hasson<br />
O encontro foi realizado entre os dias 30/8 a 3/9 em São<br />
Paulo, reunindo 115 voluntárias do Brasil, e contou com a<br />
participação especial da coordenadora do Departamento de<br />
Relações com a Diáspora de Na’amat Israel, Shirli Shavit. A<br />
Na’amat é uma Organização Feminina <strong>Judaica</strong> Beneficente,<br />
atuando em vários países, e no Brasil existe.<br />
Aconteceu em São Paulo, no Buffet<br />
França, o “Encontro de Mil Mulheres”<br />
que o Beit Chabad realiza<br />
todos os anos antes de Rosh Hashaná.<br />
Impressionou a organização do<br />
evento: recepcionistas para encaminhar<br />
as pessoas para suas mesas,<br />
mulheres trabalhando com listas,<br />
para formarem grupos de rezas<br />
de salmos (que é muito bem<br />
feito por aqui também), listas percorrendo<br />
o salão, para recolher<br />
nomes para brachot especiais, etc.<br />
Foram distribuídos “kits” contendo<br />
uma belíssima gravura com a<br />
Reza para o Lar, o calendário para<br />
o ano de 5767, bênçãos anteriores<br />
e posteriores a alimentos e um<br />
adesivo, para se colocar na geladeira,<br />
com o horário do acendimento<br />
das velas no Shabat e nos<br />
dias festivos.<br />
Foram reservadas duas mesas para<br />
a turma de Curitiba e esta foi homenageada<br />
por ter comparecido<br />
com 13 mulheres, fora as que estão<br />
residindo em SP. Foram servidos<br />
salgados e doces deliciosos com<br />
grife casher do Buffet França.<br />
Para a alegria das curitibanas presentes,<br />
a apresentação do Coral “Pirchei<br />
Chabad” teve um sabor especial.<br />
O coral conta com as belíssimas vozes<br />
de 33 crianças e é regido pelo paranaense,<br />
que está fazendo sucesso em<br />
SP, Hélcio Muller.<br />
O Rabino Chabsi Alpern, dirigiu a<br />
palavra a todas, desejando Shaná<br />
Tová e falando da importância da<br />
continuidade de todo trabalho que<br />
é dever de todo judeu: na ética e na<br />
força moral, que nos foram ensina-<br />
Colabore com notas para a coluna. Fone/fax 0**41 3018-8018 ou e-mail:<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
das desde o princípio dos tempos. O<br />
encontro terminou com o emocionante<br />
toque do Shofar.<br />
Parabéns a toda equipe, que conseguiu<br />
transformar uma tarde de<br />
2ª feira, num encontro do mais alto<br />
grau de espiritualidade.<br />
Agradecemos todas as mensagens<br />
que recebemos nos desejando um<br />
Shaná Tová.<br />
O 6º Festival de Cinema Brasileiro<br />
em Israel ocorreu em agosto, em<br />
Jerusalém e em Tel-Aviv, com direito<br />
a capoeiristas e sambistas.<br />
Entre os filmes projetados, “Brasília<br />
18%”, “Mulheres do Brasil” e<br />
“Bendito Fruto”. O prêmio de melhor<br />
filme, segundo o júri popular,<br />
ficou com “O casamento de<br />
Romeu e Julieta”.<br />
Foi lançada a revista eletrônica Aliança<br />
Cultural (www.brasilisrael.<br />
com.br), um projeto do Centro de<br />
Mídia Brasil-Israel e da B’nai B’rith<br />
do Rio de Janeiro. Com periodicidade<br />
mensal, ela surge com a intenção<br />
de divulgar ao público brasileiro<br />
notícias sobre cultura, história,<br />
ciência e tecnologia israelenses<br />
e de promover o intercâmbio<br />
entre Brasil e Israel nestas áreas. A<br />
publicação é editada por Janete Cozer,<br />
que já trabalhou inclusive no<br />
Jerusalem Post.<br />
Quatro israelenses estão entre as<br />
mulheres mais importantes do mundo<br />
na lista das 100 personalidades<br />
femininas com maior poder em todo<br />
o mundo, da revista norte-americana<br />
“Forbes”. Safra Catz é a mulher<br />
de Israel mais bem posicionada.<br />
Ela é presidente da Oracle. As<br />
outras são a ministra das Relações<br />
Exteriores Tzipi Livni, a diretora<br />
executiva do Banco Leumi, Galia<br />
Maor, e a diretora da multinacional<br />
Bain and Company, Orit Gadiesh.<br />
Catz, que encabeça a lista das israelenses,<br />
ocupa a 21ª posição, e é<br />
descrita como a mulher mais poderosa<br />
de Silicon Valley, à frente inclusive<br />
da diretora executiva da<br />
eBay.Inc, Meg Whitman.<br />
Sérgio Niskier (esquerda), presidente<br />
eleito da FIERJ, durante o desfile de 7<br />
de Setembro no Rio de Janeiro, com o<br />
marechal Waldemar Levy Cardoso<br />
A vice-ministra e ministra das Relações<br />
Exteriores Tzipi Livni, está em<br />
segundo lugar entre as israelenses,<br />
e em 40º lugar na lista, à frente de<br />
Laura Bush. Galia Maor, do Banco<br />
Leumi, está em terceiro lugar, e é<br />
a número 88 da lista da “Forbes”.<br />
A quarta, a carismática Orit Gadiesh,<br />
está no 99º lugar.<br />
A “Forbes” coloca como número 1 da<br />
lista a chanceler Angela Merkel — em<br />
sua condição feminina — como a<br />
política mais poderosa do mundo,<br />
seguida da Secretaria de Estado Condoleeza<br />
Rica e pela vice-primeira-ministra<br />
chinesa Wo Yi. A senadora por<br />
Nova York, Hilary Clinton, potencial<br />
candidata a presidente em 2008, ocupa<br />
o 18º lugar da lista.<br />
Nasceu em Curitiba, dia 17/9 Gabriel,<br />
filho do casal Daniel e Renata<br />
Naigeboren Benzecry. Os felizes<br />
avós, Clarita e Henrique Naigeboren,<br />
são só sorrisos. Mazal Tov!<br />
O artista plástico Aristide Brodeschi,<br />
responsável pelas belas capas<br />
das edições do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
exibiu suas obras na Exposição<br />
“Harmonias”, do Solar do Rosário,<br />
em Curitiba, de 24 de setembro a 8<br />
de outubro.<br />
A Biblioteca do Exército - BI-<br />
BLIEX – acaba de lançar o livro<br />
“Yitzhak Rabin - o soldado da<br />
paz”, de David Horovitz e outros,<br />
ao preço de R$ 48,00. Aos interessados,<br />
maiores detalhes podem<br />
ser encontrados no site<br />
www.bibliex. com.br. É um livro<br />
irresistível e arrasador, palpitante<br />
e polêmico, incidental e transcendental,<br />
formidável combinação<br />
de jornalismo, história e biografia.<br />
Trabalho de uma equipe<br />
de jornalistas, de origem americana,<br />
que produz uma das melhores<br />
publicações israelenses,<br />
The Jerusalem Report. O livro<br />
está sendo publicado simultaneamente<br />
em seis idiomas e é recomendado.<br />
Informa Israel Blajberg,<br />
do Rio de Janeiro.<br />
Sérgio Niskier, presidente eleito<br />
da Federação Israelita do Estado<br />
do Rio de Janeiro (Fierj) no<br />
dia do desfile de 7 de setembro,<br />
no Rio, cumprimentou o<br />
Marechal Waldemar Levy Cardoso<br />
que, aos 105 anos, é o ultimo<br />
Marechal, sendo o mais antigo<br />
e idoso ex-combatente da<br />
FEB - Força Expedicionária Brasileira,<br />
da qual é o atual detentor<br />
do Bastão Simbólico de<br />
Comando. O marechal Levy descende<br />
pelo lado materno de uma<br />
família de judeus que emigraram<br />
do Marrocos no século 19.
Charles Krauthamer *<br />
hora de examinar de maneira<br />
crítica as crenças<br />
amplamente sustentadas.<br />
Em junho completouse<br />
o 40º aniversário da<br />
Guerra dos Seis Dias.<br />
Ao longo de quatro décadas nos<br />
dizem que a causa da raiva, da violência<br />
e do terror contra Israel é a<br />
sua ocupação dos territórios capturados<br />
nessa guerra.<br />
Ponha fim à ocupação, e “o ciclo<br />
da violência” cessará. O problema<br />
desta afirmação é que antes que<br />
Israel tomasse posse da Cisjordânia<br />
e Gaza, na Guerra dos Seis Dias,<br />
todos Estados árabes tinham rejeitado<br />
o direito de Israel existir, e<br />
declarado as fronteiras pré-1967 de<br />
Israel — que agora se supõe sejam<br />
sagradas — nada mais que linhas de<br />
armistício mantidas temporariamente<br />
e, que não punham fim à guerra<br />
de 1948-49 para aniquilar a Israel.<br />
Mas não é preciso ser historiador<br />
para compreender as intenções dos<br />
inimigos de Israel. Só é necessário<br />
ler os jornais de hoje.<br />
Prova A: Gaza. Apenas em setembro<br />
do ano passado, Israel evacuava<br />
Gaza por completo. Declarou fronteira<br />
internacional a fronteira entre Israel<br />
e Gaza, renunciando a qualquer direito<br />
sobre o território. Gaza se convertia<br />
no primeiro território palestino<br />
independente da história. Mas os<br />
habitantes de Gaza continuaram a<br />
guerra. Transformaram Gaza em uma<br />
base para lançar ataques contra Israel<br />
e para escavar túneis por baixo<br />
da fronteira para perpetrar ataques<br />
como o que matou dois soldados israelenses<br />
em 25 de junho e levou de<br />
volta a Gaza um refém ferido. Os tanques<br />
israelenses tiveram agora que<br />
voltar a Gaza e tentar resgatar o refém<br />
e eliminar o fogo dos mísseis.<br />
Prova B: Sul do Líbano. Duas semanas<br />
depois, a organização terrorista<br />
libanesa Hezbolá, que tem representação<br />
no Parlamento e no Governo<br />
libaneses, lançava um ataque<br />
contra Israel que terminou com a<br />
morte de oito soldados e dois mais<br />
feridos, que foram conduzidos ao<br />
Líbano como reféns.<br />
Qual é o agravo aqui? Israel retirou-se<br />
do Líbano em 2000. Foi tão<br />
escrupuloso na hora de assegurar-se<br />
de que nem uma polegada quadrada<br />
Pelo que lutam<br />
do Líbano ficaria ocupada inadvertidamente<br />
que pediu às Nações Unidas<br />
que verificasse a fronteira exata<br />
que define o limite sul do Líbano, e<br />
se retirou para trás dela. Esta “demarcação”<br />
foi aprovada pelo Conselho<br />
de Segurança, que declarou que<br />
Israel tinha cumprido por completo<br />
as resoluções que exigiam sua retirada<br />
do Líbano. Agravo satisfeito.<br />
Mas o que acontece? O Hezbolá fez<br />
no sul do Líbano exatamente o mesmo<br />
que o Hamas fez em Gaza: converteu-o<br />
em base militar e centro de<br />
operações terroristas para continuar<br />
a guerra contra Israel. O sul do Líbano<br />
deixa os cabelos em pé com os<br />
10.000 mísseis Katyusha do Hezbolá<br />
que pressionam o norte de Israel.<br />
Disparados nas primeiras horas de<br />
luta, apenas 85 deles matavam dois<br />
israelenses e feriam 120 em cidades<br />
do norte de Israel.<br />
Ao longo dos seis últimos anos,<br />
o Hezbolá lançou disparos periódicos<br />
e ataques de morteiros contra<br />
Israel. A resposta israelense foi não<br />
responder a estas provocações, até<br />
o seguinte momento conveniente<br />
para o Hezbolá. No dia 12/7 foi tal<br />
momento. Uma base do terrorismo<br />
localizada em território de ocupação<br />
completamente árabe (o sul do<br />
Líbano) atacou Israel em apoio a<br />
outra base do terrorismo em território<br />
de ocupação completamente<br />
árabe (Gaza).<br />
Por quê?<br />
Porque a ocupação era uma simples<br />
desculpa para persuadir os ocidentais<br />
historicamente ignorantes e<br />
levados com facilidade a apoiar a<br />
causa árabe contra Israel. O tema é,<br />
como foi sempre, a existência de Israel.<br />
Isso é o que está em jogo.<br />
Foi a Organização para a Libertação<br />
da Palestina de Yasser Arafat a<br />
que convenceu o mundo que o problema<br />
era a ocupação. Mas ainda assim,<br />
ao longo de todos aqueles anos<br />
de engodo, o próprio grupo de Arafat<br />
celebrava seu Dia da Fatah anual<br />
no aniversário do primeiro ataque<br />
contra Israel, a destruição do Canal<br />
Nacional de Água de Israel, em 1º de<br />
janeiro de 1965. Observe: 1965. Dois<br />
anos antes da guerra de 1967. Dois<br />
anos antes que Gaza e Cisjordânia<br />
caíssem em mãos israelenses. Dois<br />
anos antes que houvesse algum “território<br />
ocupado”. Mas, de novo,<br />
quem precisa da história? Todas as<br />
desculpas palestinas para continuar<br />
sua guerra caem uma após outra, a<br />
retórica se faz mais sincera e honesta.<br />
Justamente no dia 11/7 passado,<br />
o primeiro ministro palestino,<br />
Ismail Haniya, escrevia no The Washington<br />
Post e se referia a Israel<br />
como “um estado presumidamente<br />
ilegítimo”. Deixava claro que quer<br />
acabar com esta entidade bastarda.<br />
“Ao contrário das representações<br />
populares da crise nos meios de comunicação<br />
americanos”, escreve, “a<br />
disputa não trata somente de Gaza<br />
e Cisjordânia”. Trata de “um conflito<br />
nacional mais genérico” que exige<br />
o cumprimento dos “direitos nacionais<br />
palestinos”.<br />
Isso, é claro, significa direito a<br />
toda Palestina, sem Estado judeu.<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Em 1967 Israel conseguia “os<br />
territórios ocupados”. Em 1948 Israel<br />
conseguia a vida. A luta que ressoa<br />
agora em 20<strong>06</strong> entre Israel e o<br />
“islamismo genocida” (para citar o<br />
escritor Yossi Klein Halevi) do Hamas<br />
e do Hezbolá, e do Irã respaldando-os,<br />
trata de se essa vida deveria<br />
continuar existindo e se continuará<br />
a existir.<br />
* Charles Krauthamer é colunista do The Washington Post e Time e Prêmio<br />
Pullitzer de 1987<br />
<strong>VJ</strong> INDICA<br />
Palavras de amor<br />
FILME<br />
Elenco: Richard Gere, Juliette Binoche, Flora<br />
Cross.<br />
Gênero: drama<br />
Distribuidora: Fox<br />
Disponibilidade: em DVD<br />
A descoberta do talento de uma garota em concursos de soletração, altera todo<br />
o cotidiano de uma família de origem judaica aparentemente perfeita. Com isso, o pai<br />
da jovem, um professor de teologia, torna-se obsessivo no treinamento de sua filha,<br />
atrapalhando a harmonia da casa, que ainda reúne o filho e a sua esposa.<br />
19
20 (com<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
VISÃO<br />
Irving pega três anos de prisão<br />
Ao rejeitar um recurso judicial a Suprema<br />
Corte da Áustria condenou o revisionista<br />
britânico David Irving a três anos de prisão,<br />
por ter negado o Holocausto contra o<br />
povo judeu, confirmando a sentença que<br />
lhe fora imposta em fevereiro deste ano<br />
por um tribunal regional de Viena. A duração<br />
da pena, entretanto, pode ser revisada<br />
numa nova reunião do tribunal regional<br />
de Viena, que seria realizada dentro de dois<br />
meses. Durante seu julgamento, o “historiador”<br />
Irving, de 67 anos, se declarou culpado<br />
pelo crime previsto no código penal austríaco<br />
como “negacionismo”, ou seja, a<br />
negação do Holocausto e dos crimes nazistas<br />
contra a humanidade, que lhe deram<br />
popularidade nos círculos revisionistas de<br />
extrema direita. (Agência Estado).<br />
Por que foi condenado?<br />
A condenação se baseia em dois discursos<br />
públicos de Irving na Áustria, realizados em<br />
1989, nos quais negou a existência das câmaras<br />
de gás no antigo campo de concentração<br />
de Auschwitz, na Polônia. Além disso,<br />
alegou que a “Noite dos Cristais”, primeira<br />
grande perseguição violenta contra<br />
os judeus da Alemanha e da Áustria, em<br />
1938, não foi feita pelos nazistas. Irving<br />
foi detido durante uma operação policial em<br />
uma estrada no sul da Áustria, em novembro<br />
do ano passado, e está em uma prisão<br />
de Viena desde então. (Agência Estado).<br />
A tragédia do Holocausto<br />
“A tragédia do Holocausto é um fato histórico<br />
triste e irrefutável. Devemos aceitar o<br />
fato e ensinar às crianças sobre o que aconteceu<br />
na 2ª Guerra Mundial para garantir<br />
que nunca se repita”. A frase foi pronunciada<br />
por Kofi Annan, secretário-geral da ONU,<br />
dia 3/9 no Irã, para observar que o Holocausto<br />
é um “fato histórico inegável”. O discurso<br />
foi logo depois de encontro que manteve<br />
com o presidente do país, Mahmoud<br />
Ahmadinejad, que tem provocado polêmica<br />
ao contestar o massacre de 6 milhões de<br />
judeus. Annan também condenou uma exposição<br />
de caricaturas em Teerã sobre o<br />
Holocausto, promovida por um jornal iraniano<br />
em retaliação à publicação de charges<br />
do profeta muçulmano Maomé em jornais<br />
da Europa. (Reuters).<br />
Registro para judeus expulsos<br />
de países árabes<br />
panorâmica<br />
Há mais de cinqüenta anos, cerca de um<br />
milhão de judeus foram obrigados a sair<br />
dos países árabes. Agora, os refugiados<br />
judeus e seus descendentes podem se registrar<br />
on line em um processo para receber<br />
reparações pelo sofrimento e pelas<br />
perdas. O programa de registro on line foi<br />
lançado pela Justice for Jews from Arab<br />
Countries (JJAC), como parte de uma Campanha<br />
de Direito e Reparações Internacionais,<br />
que será lançada em novembro de<br />
20<strong>06</strong>. Mais de 40 entidades judaicas de<br />
informações das agências AP, Reuters,<br />
AFP, EFE, jornais Alef na internet, Jerusalem<br />
Post, Haaretz e IG)<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
• Yossi Groisseoign<br />
todo mundo se uniram para o lançamento<br />
desta iniciativa, entre elas a Confederação<br />
Israelita do Brasil. Também é possível<br />
registrar as narrativas de familiares através<br />
do site www.justiceforjews.com. (JJAC).<br />
Menem sofre nova acusação<br />
Um ex-chefe dos serviços secretos da Argentina<br />
comprometeu Carlos Menem num<br />
processo que averigua as irregularidades<br />
nas investigações do atentado contra a<br />
associação judaica Amia, em 1994, ao dizer<br />
que o ex-presidente teria dado dinheiro<br />
para incriminar policiais pelo ataque.<br />
Hugo Anzorreguy, ex-chefe da Secretaria<br />
de Inteligência do Estado (Side), disse ter<br />
dado US$ 400 mil ao juiz responsável pelo<br />
caso, Juan José Galeano, que teria entregue<br />
o valor ao vendedor de automóveis<br />
Carlos Telleldín para que incriminasse policiais.<br />
“Não tinha outra opção a não ser<br />
entregar o dinheiro por três razões: a Side<br />
era um organismo colaborador da Justiça<br />
pelas leis de inteligência que regulamentavam<br />
o dever de colaboração, por disposição<br />
do juiz e pela decisão do então presidente”,<br />
declarou Anzorreguy, em referência<br />
a Menem. O ataque terrorista contra a<br />
sede da Associação Mutual Israelita Argentina<br />
(Amia), em 18 de julho de 1994 causou<br />
a morte de 85 pessoas e deixou mais<br />
de 200 feridas. (Agência Efe)<br />
Menem II<br />
Anzorreguy é acusado de peculato (desvio<br />
de dinheiro público) no processo e 22 pessoas,<br />
entre elas Telleldín e vários ex-policiais<br />
acusados de cumplicidade no atentado<br />
foram absolvidos por falta de provas em<br />
setembro de 2004. O ex-juiz Galeano, que<br />
ficou responsável pelo caso por quase uma<br />
década, foi destituído do cargo em 2005<br />
por mau desempenho das suas funções durante<br />
a investigação. O atentado contra a<br />
Amia foi o segundo ataque terrorista contra<br />
alvos judaicos na Argentina, depois do<br />
atentado contra a Embaixada de Israel, em<br />
Buenos Aires, cometido em 17 de março de<br />
1992 e que deixou 29 mortos. Os dois ataques<br />
foram atribuídos a organizações terroristas<br />
islâmicas, mas em nenhum dos dois<br />
casos as investigações conseguiram prender<br />
os responsáveis. (Agência Efe).<br />
Novo embaixador do Brasil em Israel<br />
Pedro Motta Pinto Coelho é o novo embaixador<br />
do Brasil em Israel, em substituição<br />
a Sérgio Eduardo Moreira Lima, que ocupou<br />
o cargo desde 2002. Ministro de Primeira<br />
Classe da Carreira de Diplomata do<br />
Ministério das Relações Exteriores, Motta<br />
Pinto ocupará, cumulativamente, a função<br />
de embaixador no Chipre. Ele foi diretorgeral<br />
do Departamento de África e Oriente<br />
Próximo em 2001 e 2003, ministro-conselheiro<br />
da Embaixada em Buenos Aires em<br />
1994; e cônsul-geral em Lisboa em 1999,<br />
além de chefiar delegações brasileiras em<br />
reuniões internacionais na área de Comércio<br />
Internacional, Meio Ambiente e outros<br />
setores. Já recebeu a Ordem do Mérito<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Aeronáutico, Ordem de San Martin, grau<br />
oficial; Ordem do Libertador S. Bolivar,<br />
comendador; e Ordem do Mérito de Defesa,<br />
grande-oficial. (Intercâmbio – Câmara<br />
Brasil –Israel de Comércio e Indústria).<br />
Espanha emite selo sobre Israel<br />
Para marcar o 20º aniversário das relações<br />
entre Espanha e Israel os correios espanhóis<br />
emitiram um selo comemorativo multicolor,<br />
com tiragem de 600 mil exemplares<br />
e valor facial de 0,78 centavos de Euro.<br />
As relações diplomáticas regulares foram<br />
estabelecidas entre os dois países em<br />
1986. O selo estampa as fotografias de<br />
um capitel do século XIII que se encontra<br />
no Museu de Mallorca, remetendo ao período<br />
medieval e à Espanha judaica, e a<br />
fachada do Santuário do Livro, em Jerusalém.<br />
(Correos de España).<br />
Mulher assume presidência<br />
da Suprema Corte<br />
A juíza Dorit Beinisch é a primeira mulher<br />
a ocupar a presidência da Suprema Corte<br />
de Israel. Ela tem 64 anos, duas filhas e<br />
nasceu em Tel-Aviv. Completou seu serviço<br />
militar, chegando ao posto de primeiro-tenente,<br />
e fez mestrado pela Universidade<br />
Hebraica. Começou sua carreira trabalhando<br />
no escritório do Promotor Público em<br />
1970, e foi indicada promotora pública em<br />
1989. Em 1995, foi eleita juíza da Suprema<br />
Corte. (Jornal Alef).<br />
Irã acusa o Papa de conspirar<br />
“As declarações do papa Bento 16 sobre o<br />
islã e a violência são parte de uma cruzada<br />
EUA-Israel contra os muçulmanos”, declarou<br />
Ali Khamenei, líder supremo e autoridade<br />
máxima do Irã. “Líderes dos arrogantes<br />
imperialistas já definiram as ligações<br />
da cruzada neste projeto EUA-Sionista com<br />
os ataques ao Iraque”, disse Khamenei em<br />
discurso transmitido pela TV estatal. “O problema<br />
das caricaturas ofensivas e os discursos<br />
de alguns políticos sobre o islã são<br />
partes diferentes na conspiração dos cruzados<br />
e o discurso do Papa é a última parte<br />
nisto”, acrescentou. O porta-voz do governo<br />
iraniano, Gholam-Hoeein Elham, afirmou<br />
que a explicação de Bento 16 após as declarações<br />
sobre o islã não foram suficientes.<br />
“Ele tem que dizer claramente que o<br />
que disse foi um erro e corrigir as declarações”,<br />
acrescentou. (France Presse).<br />
Wiesel pede a expulsão do Irã da ONU<br />
O Prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel propôs<br />
em 17 de setembro que o Irã seja expulso<br />
da Organização das Nações Unidas (ONU).<br />
“Comecei uma campanha pela expulsão do<br />
Irã da ONU e pela qualificação de seu pre-<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
sidente como persona non grata em todo o<br />
mundo (...) porque ele ameaça destruir um<br />
Estado-membro”. Recentemente, o presidente<br />
iraniano Mahmoud Ahmadinejad afirmou<br />
que queria que Israel “sumisse do<br />
mapa” e chamou o Holocausto nazista de<br />
mito. Wiesel, que sobreviveu aos campos<br />
de concentração nazistas de Auschwitz e<br />
Buchenwald durante a 2ª Guerra Mundial,<br />
foi agraciado com o “Prêmio Nobel da Paz”<br />
em 1986. (Jornal Alef).<br />
Prêmio Raoul Wallenberg a Colina<br />
A Fundação Internacional Raoul Wallenberg<br />
concedeu o Prêmio Raoul Wallenberg 20<strong>06</strong><br />
a Jesús Colina, editor da Agência Internacional<br />
Católica de Notícias Zenith “pelo<br />
mérito e a excelência do trabalho informativo<br />
colocado a serviço do diálogo interconfessional<br />
e à reconciliação”. O prêmio<br />
foi entregue na Cidade do Vaticano,<br />
em 2/9. O prêmio foi instituído com o objeto<br />
de distinguir as pessoas que por suas<br />
ações e por seu trabalho o mereçam e foi<br />
entregue pela primeira vez em 2000. Raoul<br />
Wallenberg é um o herói que salvou<br />
100.000 pessoas durante a Segunda Guerra<br />
Mundial. Foi capturado por tropas soviéticas<br />
e não mais foi visto. (FIRW).<br />
Julgamento de três terroristas do Hezbolá<br />
Três libaneses da organização terrorista<br />
Hezbolá presos por Israel tiveram seus julgamentos<br />
iniciados em setembro, no tribunal<br />
do distrito da cidade de Nazaré. São<br />
acusados de assassinato, tentativa de assassinato<br />
e participação em organização<br />
terroristas. Um deles, Hussein Suleiman,<br />
de 22 anos, especialista em foguetes antitanque,<br />
treinado no Irã, foi acusado de<br />
participar na operação comandada pelo<br />
Hezbolá que, em 12 de julho, matou oito<br />
soldados israelenses na fronteira, e seqüestrou<br />
os militares Eitan Regev e Ehud Goldwasser,<br />
os quais ainda estão em poder da<br />
organização. O segundo é Abed el Hamid<br />
Srur, de 20 anos, e o terceiro é Maher Kurani,<br />
de 30 anos, também treinado no Irã<br />
para a luta contra carros blindados e a<br />
empunhar armas antiaéreas. A operação<br />
do Hezbolá contra dois carros de uma patrulha<br />
israelense junto à fronteira entre<br />
os dois países desencadeou a reação de<br />
Israel diante da agressão que sofreu. Durante<br />
a guerra contra o Hezbolá, o norte<br />
de Israel e sua população civil foram bombardeados<br />
por cerca de 4.000 mísseis fornecidos<br />
pelo Irã, e disparados do território<br />
libanês. (Videversus).<br />
Mais prêmio Nobel<br />
O vencedor do Prêmio Nobel de Química deste<br />
ano, Roger Kornberg é um professor associado<br />
da Universidade Hebraica de Jerusalém.<br />
Judeu norte-americano, ele teve reconhecida<br />
sua pesquisa sobre como os genes<br />
são copiados. A universidade congratulou<br />
Roger Kornberg por sua vitória. Ele é professor<br />
de biologia estrutural da Universidade<br />
de Stanford e associado ao departamento<br />
de biologia da Universidade Hebraica.<br />
“Estamos orgulhos do professor Kornberg,<br />
que esteve trabalhando conosco por vários<br />
anos”, disse o presidente da Universidade<br />
Hebraica, Menachem Magidor. O pai do premiado,<br />
Arthur Kornberg, em 1959 ganhou o<br />
Prêmio Nobel de Medicina. Outro judeu, o<br />
israelense Amos Oz, está sendo cotado para<br />
o prêmio Nobel de Literatura. (Agências)
ocê sabe, é engraçado.<br />
Durante anos eu tenho<br />
tentado conseguir<br />
que as pessoas prestem<br />
atenção às mortes, a destruição e<br />
às injustiças que são cometidas no<br />
meu Líbano amado.<br />
Mas ninguém se preocupou.<br />
Quando a Organização da Liberação<br />
da Palestina (OLP) de Yasser Arafat<br />
tentou apoderar-se do país e fazer<br />
dele seu pátio de recreio terrorista,<br />
ninguém se incomodou.<br />
Quando pessoas morriam aos milhares<br />
durante a guerra civil, ninguém<br />
se preocupou.<br />
Quando a Síria manteve sua bota<br />
no pescoço do seu minúsculo vizinho<br />
durante 25 anos, ninguém se<br />
preocupou.<br />
Quando o Irã despachou os terroristas<br />
do Hezbolá ao país para arruinar<br />
a autonomia libanesa, ninguém<br />
se preocupou.<br />
Quando os muçulmanos perseguiram<br />
milhões de cristãos no Líbano,<br />
desequilibrando a balança de forças,<br />
ninguém se preocupou.<br />
Mas agora, todos os olhos estão<br />
no Líbano.<br />
Você sabe por quê?<br />
Porque Israel tentou limpar esse<br />
vespeiro. Agora, tudo o que ouvimos<br />
falar é sobre quantos libaneses<br />
morreram.<br />
Posso deixá-lo a par de um pequeno<br />
segredo?<br />
Adivinhe qual o número total de<br />
vítimas entre os libaneses durante a<br />
extensão desta guerra, inclusive terroristas<br />
do Hezbolá, muitos dos quais<br />
nem são realmente libaneses?<br />
É melhor você se sentar.<br />
O número total de mortes é<br />
cima de 500 1 .<br />
Agora, longe de eu minimizar o<br />
total de mortes. Uma única morte<br />
inocente é uma tragédia. Mas este é<br />
o total de todos os terroristas, civis,<br />
exército libanês, tudo.<br />
O mundo inteiro enlouqueceu<br />
com esta “matança”. Os franceses, os<br />
russos, os britânico e, sim, os paquistaneses.<br />
O que é necessário é um pouco de<br />
perspectiva aqui. Eu posso oferecê-la?<br />
Só no mês de julho, tropas norte-americanas<br />
no Afeganistão anunciaram<br />
ter matado 600 “suspeitos”<br />
talibãs. Isso foi só num mês.<br />
Temos ocupado este país estrangeiro<br />
desde 2002. Começou com relação<br />
ao ataque terrorista de 11 de<br />
Setembro. Forças norte-americanas<br />
atravessaram meio mundo para atacar<br />
uma nação soberana, derrubar o<br />
governo e matar tantas pessoas<br />
quanto julgasse necessário durante<br />
os últimos cinco anos para prevenir<br />
mais ataques terroristas no futuro.<br />
Poucos diriam que o Afeganistão representa<br />
qualquer ameaça iminente<br />
para os EUA hoje. A propósito, de<br />
acordo com porta-vozes do exército<br />
norte-americanos, um total de<br />
1.700 afegãos foram mortos desde<br />
o início do ano. Isso inclui alguns<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Todos os olhos sobre o Líbano<br />
Joseph Farah *<br />
Vi um adesivo num carro com os seguintes<br />
dizeres: “Seja bom com seus filhos. Serão eles<br />
que escolherão seu asilo de velhos”. Se alguém<br />
acha esta frase cômica, é porque há um fundo<br />
de verdade nela. Devemos ser bons com nossos<br />
filhos porque esta é a coisa certa a ser feita.<br />
Entretanto, há coisas que podemos fazer para<br />
ajudar as crianças (ou adolescentes, ou até mesmo<br />
adultos) a desenvolverem a perspectiva correta<br />
sobre gratidão, bondade e prioridades.<br />
Gostaria de compartilhar com vocês um trecho<br />
do livro Thank You!, sobre como educar os<br />
filhos a serem bem agradecidos. E se você ainda<br />
não tem filhos, talvez isto o ajude a se relacionar<br />
ainda melhor com seus pais:<br />
“Sejamos modelos exemplares de gratidão.<br />
Possibilitemos a nossos filhos a oportunidade<br />
de ouvir frequentemente que somos gratos ao<br />
civis, alguns trabalhadores de salvamento<br />
e mais de 70 soldados de<br />
tropas estrangeiras.<br />
Mas, desde a última vez que verifiquei,<br />
não houve demonstrações<br />
nas ruas dos Estados Unidos, ou em<br />
outro lugar ao redor do mundo sobre<br />
esta guerra.<br />
Ao contrário, todo mundo explodiu<br />
de raiva pelo Líbano. Por falar<br />
nisso, o governo do Afeganistão,<br />
instalado pelos EUA, está satisfeito<br />
com a guerra. O presidente Hamid<br />
Karzai quer ver os terroristas arrancados<br />
para fora do seu pai. Ele reconhece<br />
que representa a melhor chance<br />
de sua nação tornar-se livre.<br />
Enquanto isso, no Líbano, um<br />
governo que tolerou bases terroristas<br />
em seu território durante anos<br />
e anos, está repentinamente indignado<br />
com a retaliação de Israel contra<br />
os ataques incessantes a partir<br />
dessas fortalezas Alguma coisa disso<br />
faz sentido?<br />
Você acha realmente que esses<br />
gritos sobre o derramamento de sangue<br />
no Líbano são algum lamento pelo<br />
Líbano? Nesse caso, onde eles estavam<br />
durante os últimos 30 anos?<br />
Por que o Líbano é a manchete<br />
de todo noticiário? Por que o Líbano<br />
está na primeira página de todo<br />
jornal? Você não tem a impressão de<br />
que a violência lá é provavelmente<br />
pior do que em qualquer outro lugar<br />
do planeta, neste enfoque? Claramente,<br />
não é.<br />
E a única diferença é quem está fazendo<br />
de alvo o Líbano e chutando-o.<br />
Todo-Poderoso por todo o bem que ele nos faz<br />
em nossas vidas”;<br />
“Possibilitemos a nossos filhos ouvirem frequentemente<br />
de nós que somos gratos a nossos<br />
pais pelo que fizeram por nós e pelo que<br />
nos ensinaram”;<br />
“Possibilitemos a nossos filhos ouvirem frequentemente<br />
de nós que somos gratos a nossos<br />
amigos, parentes e vizinhos pelas coisas que nos<br />
fizeram, recentemente e há muito tempo atrás”;<br />
“Possibilitemos a nossos filhos ouvirem frequentemente<br />
de nós que somos gratos a eles<br />
pelas coisas positivas que fazem”;<br />
“Os pais precisam explicitamente ensinar seus<br />
filhos que a gratidão é uma característica muito<br />
especial que precisa ser desenvolvida e aprimorada.<br />
As crianças devem ser ensinadas a dizer<br />
Como um americano de origem<br />
libanesa e síria, eu não quero ver um<br />
“cessar-fogo”. Quero ver o Líbano livre<br />
da ferrugem terrorista, de uma<br />
vez por todas. Quero ver o Líbano<br />
livre da dominação do Irã e da Síria.<br />
Quero ver o Líbano ser o Líbano.<br />
Eu não quero ver o Líbano sofrer<br />
durante outros 30 anos. Está na hora<br />
de limpar a desordem e permitir a este<br />
pobre e pequeno país que se cure.<br />
E isso significa libertar-se da<br />
doença do Hezbolá agora.<br />
Para o Dia das Crianças<br />
21<br />
* Joseph Farah é jornalista árabe-cristão americano,<br />
fundador, editor e diretor do World Net Daily. Colunista<br />
internacionalmente conhecido, seu mais recente livro é<br />
“Taking América Back” (Levando a América para Trás).<br />
Ele também edita semanalmente um boletim informativo de<br />
inteligência on-line chamado “Joseph Farah’s G2<br />
Bulletin”, no qual utiliza suas fontes de informação que<br />
desenvolveu ao longo de mais de 30 anos de carreira na<br />
área de notícias.<br />
‘obrigado!’, quando outros lhe fazem algum favor.<br />
Entretanto, todos os ‘sermões’ do mundo não<br />
têm o poder que o nosso exemplo pessoal pode<br />
passar à criança”;<br />
“Quando alguém fizer algo por seu filho, além<br />
de apenas dizer a seu filho(a) para ser educado(a)<br />
e falar ‘obrigado!’, você pode dizer-lhe: ‘A gratidão<br />
é muito importante. Cada vez que você agradece<br />
alguém, está fortificando mais e mais sua<br />
característica de gratidão. Portanto, alegre-se<br />
com cada oportunidade que se apresenta’”;<br />
“Para ajudarmos alguém a aprender e/ou desenvolver<br />
sua gratidão, podemos acrescentar<br />
perguntas ao final de uma frase. Por exemplo:<br />
‘Foi muito bonito da parte daquela pessoa nos<br />
ajudar a carregar este pacote pesado, não foi?’<br />
Ou ‘A bondade dela merece um grande ‘obrigado’,<br />
você não acha?’“<br />
* Publicado no boletim eletrônico Meór HaShabat e extraído do livro “Thank You! – Fratitude: Formulas, Stories and Insights” (Obrigado! – Gratidão: Fórmulas,<br />
Estórias e Pensamentos) do Rabino Zelig Pliskin.<br />
1 - O autor faz referência<br />
ao número de<br />
vítimas no Líbano<br />
como sendo 500<br />
porque escreveu este<br />
texto durante o<br />
desenrolar da guerra<br />
de Israel contra o<br />
Hezbolá.
22<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Democracia<br />
disfuncional<br />
Nahum Sirotsky*<br />
a tela do meu computador tenho<br />
longa lista de veículos de todos<br />
os países. É obrigação de ter uma<br />
idéia do que vai pelo mundo. Com<br />
um clique navego para o que se diz<br />
e se escreve sobre o tema que escolho. É assim<br />
que sempre confirmo como é difícil estar<br />
informado. Um mesmo fato nunca deixa de ter<br />
versões diversificadas, representando diferentes<br />
pontos de vista. Se assim é em contextos<br />
nacionais imagine-se no internacional. Ser bem<br />
informado implica em se compreender um fato<br />
em todas as suas dimensões, praticamente impossível,<br />
pois que são incontáveis... Por exemplo,<br />
o monoteísmo significa que existe um só<br />
D-us, mas são em centenas, ou mais, o entendimento<br />
de tal conceito. Quantas são as seitas<br />
de uma mesma fé? Tento o melhor, mas é inevitável<br />
a infiltração inconsciente do que já está<br />
no meu subconsciente. Há sempre um ponto<br />
de referência que se fixa.<br />
Em tese sei por que se massacram sunitas e<br />
xiitas, seitas muçulmanas, no Iraque. As diferenças<br />
entre eles na compreensão da fé são<br />
mínimas. Não justificam que a convivência seja<br />
aparentemente impossível a não ser imposta<br />
pela mão dura do ditador.<br />
Percorro a história de todas as expressões<br />
do monoteísmo e encontro sempre guerras civis.<br />
Aconteceu com as tribos hebraicas quando<br />
saíram do deserto e entraram na Terra Prometida.<br />
Sob formas diferentes desentendimentos<br />
persistem até hoje. O cristianismo tem uma<br />
longa história de sangrentos conflitos. O passado<br />
do Islã também é sangrento. Mas atravessa<br />
nova fase de lutas intestinas e confrontos<br />
com não muçulmanos.<br />
A Faixa de Gaza cobre cerca de 360 quilômetros<br />
quadrados dentro dos quais se apertam<br />
um milhão e 500 mil palestinos.Tem algumas<br />
das mais belas praias naturais do mar Mediterrâneo<br />
e não tem água para beber. É área de<br />
gente pobre e miserável com uma pequena de<br />
minoria abastada.<br />
E parte da região da chamada Autoridade<br />
Palestina da qual está separada uma seção de<br />
outra uns tantos quilômetros de território israelense.<br />
Os palestinos estão em conflito com<br />
Israel há uns cem anos.<br />
A Autoridade Palestina resultou de acordos<br />
entre Israel e a liderança do Movimento<br />
Nacional Palestino, o Fatah, liderado por Yasser<br />
Arafat. A idéia era de que viria a surgir um<br />
estado palestino independente. Parte do território<br />
palestino havia estado sob o domínio<br />
da Jordânia que preferira não incorporá-la o<br />
que, provavelmente, seria aceito pela Comunidade<br />
Internacional. Dois terços da população<br />
da Jordânia, país sob uma monarquia de árabes<br />
beduínos, tribos vindas da Arábia, era e é<br />
de palestinos. A incorporação da Cisjordânia<br />
transformaria os palestinos em maioria. Mas a<br />
monarquia temia o que aconteceria se houvesse<br />
mais milhões de palestinos...<br />
Arafat dominava com braço forte. Morreu.<br />
Ele foi substituído por Abu Mazen, também do<br />
Fatah, em eleições. A disciplina imposta pelo<br />
regime autoritário de Arafat se desmanchou<br />
ao assumir um sistema de poderes compartilhados.<br />
No seio do sistema de Arafat, que se pode<br />
qualificar de secular, cresceu o Hamas (Movimento<br />
Islâmico de Resistência) que implantou,<br />
principalmente na faixa de Gaza, um eficiente<br />
sistema de assistência social que incluía clínicas,<br />
ajuda econômica, escolas. De islâmico puritanismo<br />
a liderança do Hamas ganhou o povo.<br />
E a maioria no Parlamento palestino o que lhe<br />
deu o direito de assumir as funções de Primeiro<br />
Ministro e outros ministérios.<br />
Abu Mazen, o presidente eleito em pleito<br />
anterior, manteve os poderes que eram de sua<br />
função, apoiado nas forças de segurança e policiais.<br />
O conflito tornou-se inevitável. Os 160<br />
mil funcionários públicos, incluindo a tropa,<br />
eram de nomeados pelo Fatah, mas o Hamas<br />
passou a programar a tomada do comando do<br />
Estado com gente de sua escolha. Começou<br />
nomeando para cargos de confiança. O entendimento<br />
se tornou cada dia menos provável.<br />
Quem era funcionário não queria perder o lugar.<br />
Abu Mazen preferia negociar a criação do<br />
estado palestino e aceitara o mapa do caminho,<br />
o ”roadmap” traçado pelo Quarteto-Estados<br />
Unidos, Rússia, Nações Unidas, Europa. O<br />
Hamas, representando a crescente tendência<br />
da massa árabe e segmentos de intelectuais<br />
por sistemas teocráticos, como o do Irã, inspirados<br />
e orientados pela sharia, a lei islâmica,<br />
deixou claro que iria impor tal sistema na<br />
área palestina e jamais reconheceria o direito<br />
de Israel a existir.<br />
O desentendimento entre o Fatah e o Hamas<br />
aprofundou-se quando as potências concordaram<br />
em impor sanções ao governo palestino<br />
que sofreu suspensão da ajuda internacional.<br />
Abu Mazen pressiona o Hamas para que<br />
mude sua promessa de se empenhar na extinção<br />
do estado judeu. Chegam perto e se distanciam<br />
do entendimento. Falta de tudo em<br />
Gaza. Não há ordem pública. Brigam os que<br />
aceitam a orientação de Abu Mazen com aqueles<br />
que optam pela do Hamas. Os palestinos<br />
estão a milímetros de uma sangrenta guerra<br />
civil. E assim afastam a hipótese de retomada<br />
de negociações com Israel para chegarem ao<br />
seu sonhado estado independente. E de voltarem<br />
a ter o que comer...<br />
A questão palestina só tem solução possível<br />
por meios políticos. Mas pode se repetir o<br />
que acontece no Iraque onde os muçulmanos<br />
se matam uns aos outros e afastam o dia em<br />
que os americanos poderão sair do país. As<br />
soluções democráticas, por eleições, não parecem<br />
viáveis. Não se trata de diferenças de<br />
ambições entre partidos entre os quais os derrotados<br />
sempre têm a alternativa de sustentarem<br />
a luta como oposição. Entre os palestinos,<br />
como no Iraque, é guerra religiosa, de<br />
incompatibilidades aparentemente intransponíveis.<br />
De se tentar ganhar para se ficar com o<br />
poder absoluto submetendo a ele as minorias.<br />
* Nahum Sirotsky é jornalista, correspondente da RBS e do Último Segundo/IG em Israel. A<br />
publicação desta coluna tem a autorização do autor.<br />
Chargistas brasileiros<br />
participam da mostra iraniana<br />
que nega o Holocausto<br />
Vinte e um chargistas brasileiros participaram da mostra polêmica<br />
— o festival iraniano de charges sobre o Holocausto, em Teerã.<br />
Chama a atenção o fato do Brasil ter sido o país com o terceiro maior<br />
número de inscritos, perdendo apenas para o próprio Irã e para a<br />
Turquia, ambos com população de maioria muçulmana.<br />
Em exibição no Museu Palestina de Teerã até o dia 13 de setembro,<br />
o evento foi proposto durante a onda de protestos mundiais<br />
contra as caricaturas do profeta Maomé publicadas pelo jornal dinamarquês<br />
Jyllands-Posten no ano passado. A polêmica provocou a<br />
reação do jornal iraniano Hamshahri, controlado pelo governo de<br />
Teerã, que estimulou a realização do festival. A iniciativa, claro, teve<br />
amplo apoio do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad - que<br />
não hesita em pôr em dúvida a ocorrência do Holocausto e defende<br />
a destruição do Estado de Israel.<br />
Para o presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, o chargista<br />
José Alberto Lovetro, o Jal, parte da explicação está no grande<br />
número de desenhistas brasileiros e na falta de canais para esses artistas<br />
se expressarem. Assim, segundo ele, quando há festivais internacionais,<br />
o Brasil é sempre um dos países com maior número de inscritos.<br />
Mas Jal explica que é grande o intercâmbio entre artistas iranianos<br />
e brasileiros. Em constante contato com a organização de festivais<br />
de humor, ele explica que muitos artistas de países de maioria<br />
muçulmana costumam participar dos eventos no Brasil. “Pode parecer<br />
estranho, mas o Irã é um dos países com maior número de humoristas<br />
por metro quadrado”, diz.<br />
Explicação semelhante também foi dada por Eloar Guazzelli, que<br />
participa do festival. Com várias premiações no currículo - como o<br />
Excellence Prise do jornal japonês Yomiury Shimbum e o 1º lugar na<br />
edição de 2002 do Salão Internacional de Humor de Piracicaba -, o<br />
quadrinista acredita que o fenômeno deva-se principalmente à grande<br />
atuação brasileira em competições internacionais. Segundo o autor,<br />
é no mercado exterior que os conterrâneos encontraram espaço<br />
para divulgar seus trabalhos. “Somos mais reconhecidos lá fora do<br />
que aqui dentro”, lamenta.<br />
Críticas a Israel<br />
Os dois desenhistas reconhecem, no entanto, que outra parte da<br />
explicação deve-se também a um forte componente de crítica à atuação<br />
de Israel no Oriente Médio. Mas, enquanto Jal afirma que não<br />
participaria do concurso por considerar tanto os desenhos de Maomé<br />
quanto a resposta iraniana inadequadas, Guazzelli diz ter aderido<br />
ao concurso por sentir-se indignado diante do que está ocorrendo<br />
“na Palestina”.<br />
Ainda assim, ele afirma que, no início, temia que a exposição<br />
tivesse uma vertente anti-semita. “Porém, ao acessar o site (do evento)<br />
e ver que um dos seus temas era por que os palestinos têm de pagar<br />
o preço pelo Holocausto, vi que não era esse o propósito”, afirmou.<br />
Embora também critique a atuação do Estado judeu, Jal, por sua<br />
vez, diz preferir não endossar “nada que leve ao radicalismo”. Isso,<br />
no entanto, não o impede de criticar a forma como a crise das charges<br />
de Maomé foi explorada pela mídia ocidental. Segundo ele, o<br />
humor - “uma forma de expressão anarquista” - deve ser livre, mas<br />
não desrespeitoso.<br />
Para ilustrar a opinião, ele lembra a história do cartunista Otávio,<br />
que nos anos 60 perdeu o emprego no jornal Última Hora por publicar,<br />
às vésperas de um clássico entre Corinthians e Santos, uma charge<br />
de Nossa Senhora com a cara de Pelé. “Uma multidão de religiosos<br />
cercou a porta do jornal, que teve de encerrar o expediente por um<br />
bom tempo. Otávio foi demitido e teve de pedir proteção policial.”
Bento 16 quis dizer<br />
exatamente o que disse<br />
Existem apenas duas religiões que<br />
procuram converter o mundo inteiro.<br />
Uma é o cristianismo, a outra o<br />
islamismo. Talvez o islã agora seja o<br />
único credo dotado da energia vital<br />
necessária para se dedicar a uma missão<br />
tão improvável; talvez o cristianismo<br />
esteja ocupado demais defendendo<br />
seus territórios espirituais<br />
existentes. Mesmo assim, uma coisa<br />
fica clara: existe uma incompatibilidade<br />
doutrinária fundamental entre<br />
as duas fés, e o papa Bento 16 está<br />
servindo à verdade ao apontá-la.<br />
A despeito de seu cargo anterior<br />
como principal ideólogo do Vaticano,<br />
Josef Ratzinger não aprovava a<br />
extensão do diálogo promovido por<br />
João Paulo 2º com o islamismo. O<br />
cardeal alemão havia chegado à conclusão<br />
de que o absolutismo islâmico<br />
tornava impossível qualquer discussão<br />
teológica significativa; tudo<br />
que restava seria, na melhor das hipóteses,<br />
uma série de declarações insípidas<br />
sobre “valores compartilhados”.<br />
Na pior, o endosso de uma manobra<br />
política para ocultar a opressão<br />
que os cristãos sofrem em terras<br />
muçulmanas.<br />
Não foi por acidente que um dos<br />
primeiros atos do novo papa tenha<br />
sido remover o arcebispo Michael Fitzgerald<br />
da presidência do Conselho<br />
Pontifício para o Diálogo entre as<br />
religiões, e a seguir decretar uma redução<br />
radical no papel do conselho.<br />
Os ecumênicos estão absolutamente<br />
certos ao apontar que o islã<br />
e a Igreja Católica além dos judeus,<br />
obviamente, reverenciam o D-us de<br />
Abraão. As três religiões compartilham<br />
muitos profetas, e como resultado<br />
efetivamente compartilham alguns<br />
valores, que deram forma às<br />
sociedades em que elas predominam<br />
nos dois últimos milênios. Mas o<br />
cristianismo existe apenas com base<br />
na crença de que Jesus Cristo é o<br />
filho de D-us; o islã existe apenas<br />
com base na crença de que D-us ditou<br />
suas palavras a Maomé, e que o<br />
Alcorão contém efetivamente as palavras<br />
do Senhor.<br />
Os cristãos, porém, não acreditam<br />
que o Alcorão apresente as pala-<br />
Dominic Lawson *<br />
vras de D-us em transmissão direta.<br />
Portanto, só podem imaginar que<br />
Maomé estivesse iludido, ou que estivesse<br />
mentindo. Evidentemente, a<br />
grande maioria dos cristãos é bem<br />
educada ou covarde demais para fazer<br />
uma afirmação como essa. Os muçulmanos,<br />
igualmente, parecem surpreendentemente<br />
relutantes em expressar<br />
a lógica de sua fé aos cristãos.<br />
Raramente se referem a Jesus<br />
sem acrescentar a elogiosa expressão<br />
“que a paz esteja com ele”.<br />
No entanto, se observarmos o Alcorão,<br />
não há qualquer possibilidade<br />
de equívoco: “Aqueles que pregam<br />
que “o D-us da Misericórdia” concebeu<br />
um filho estão praticando uma<br />
monstruosa falsidade, diante da qual<br />
os céus podem rachar”.<br />
Incompreensão<br />
O papa Bento 16 está muito mais<br />
capacitado do que qualquer pessoa para<br />
compreender esse ponto e, como a<br />
maioria dos intelectuais, tem profunda<br />
aversão a deixar de lado uma discussão.<br />
Ele não é um líder político.<br />
Os editorais de jornais que sugerem<br />
que o papa exiba mais consciência<br />
sobre suas palavras, demonstram<br />
completa incompreensão quanto<br />
ao caráter do homem que ocupa o<br />
Vaticano, e quanto à missão que ele<br />
quer realizar.<br />
Bento 16 deseja expressar a batalha<br />
de idéias. E não quer que profundas<br />
divergências ideológicas sejam<br />
varridas para baixo de um tapete<br />
de boas intenções. Josef Ratzinger<br />
nunca poderá ser acusado de<br />
falta de clareza. A mais detalhada<br />
exposição de suas opiniões surgiu<br />
10 anos atrás, em uma entrevista a<br />
Peter Seewald no livro “Salt of the<br />
Earth” (sal da terra).<br />
O então cardeal declarava que “o<br />
islã simplesmente não dispõe da separação<br />
entre as esferas religiosa e<br />
política de que o cristianismo dispunha<br />
desde o princípio. O Alcorão...<br />
insiste em que toda a ordem da vida<br />
seja islâmica... É preciso compreender<br />
que o islã não é só um credo que<br />
possa ser incluído no reino livre de<br />
uma sociedade pluralista”.<br />
* Dominic Lawson escreve no jornal Independent. Traduzido por Paulo<br />
Migliacci e publicado originalmente em português no jornal Folha de S.<br />
Paulo, dia 19 de setembro de 20<strong>06</strong>.<br />
embaixador israelense nas Nações<br />
Unidas, Dan Gillerman há pouco foi<br />
citada dizendo, “Quando você dorme<br />
com um míssil, você pode não<br />
acordar”. Ele então perguntou quando foi a<br />
última vez que o Hezbolá se desculpou por<br />
qualquer dano causado a civis israelenses. A<br />
resposta é conhecida de todos nós — nunca.<br />
Talvez estas difíceis batalhas contra o<br />
Hezbolá no norte, o Hamas no sul, e a prevenção<br />
de ataques terroristas em nossas cidades<br />
não seja tanto sobre onde nós lutamos,<br />
mas sim contra o que nós lutamos. Isto<br />
é especialmente difícil de ser guardado na<br />
memória depois da tragédia em Kfar Qana,<br />
mas é muito mais importante lembrar agora<br />
do que nunca.<br />
Na sexta-feira 28/7, o Hezbolá lançou<br />
foguetes Katyushas em Nahariya e atingiu um<br />
hospital. Só pela graça de D-us e do poder<br />
do exército em pensar adiante, pôde o hospital<br />
ser previamente evacuado, e apesar de<br />
pesados danos ao edifício, não ocorreu nenhuma<br />
perda de vida.<br />
Mas não houve nenhum milagre em Kfar<br />
Qana aquela semana. Há mais de cinco dias,<br />
o exército israelense advertiu os residentes<br />
para deixarem as áreas das vilas. Imagens de<br />
satélite tornadas públicas pelo exército israelense<br />
mostravam claramente o que todos<br />
residentes de Kfar Qana não poderiam ter evitado<br />
saber — que o Hezbolá estava usando<br />
sua aldeia como área de lançamento para pelo<br />
menos 150 foguetes atirados no norte de Israel.<br />
Quando você dorme com um míssil...<br />
Enquanto isso, as fotos do Líbano continuam<br />
saindo, o que faz a maior parte do<br />
mundo ficar com raiva e contra Israel. O que<br />
está faltando, dizem eles, é proporcionalidade.<br />
Está errado, diz o mundo, destruir um<br />
país pelas vidas de dois ou três soldados.<br />
Como sempre, o mundo está parcialmente<br />
correto — o que está faltando é proporcionalidade.<br />
A BBC continua mostrando os escombros<br />
dos edifícios bombardeados em Beirute,<br />
mas falha quando não deixa claro que<br />
eles estão centrando as suas transmissões em<br />
uma área que circunscreve aproximadamente<br />
1% da área total de Beirute. As outras 99%<br />
permanecem intactas, porque não existem<br />
alvos do Hezbolá nelas.<br />
Nosso governo e os políticos estão indo<br />
ao ar para explicar para o mundo por que nós<br />
fazemos o que estamos fazemos, e como o<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Quando você dorme<br />
com um míssil<br />
Paula R. Stern *<br />
23<br />
fazemos. Os comentários insultuosos de Kofi<br />
Annan de que nós atingimos uma base da<br />
ONU de propósito, no Líbano, mostra a extensão<br />
do quanto Annan tem se corrompido<br />
por suas políticas pessoais. A mídia mostra<br />
fotos do Líbano e as dezenas de milhares de<br />
libaneses procurando refúgio com pouca consideração<br />
para o fato de que mais de 300.000<br />
israelenses também fugiram das áreas de batalha,<br />
e que mais de um milhão de outros<br />
passam dias e noites em abrigos antiaéreos.<br />
As fotos e a atuação da mídia podem estar<br />
tirando de foco todas as mil palavras que<br />
elas pretendem representar. No final das contas,<br />
talvez, a verdade realmente esteja nas<br />
palavras, nas verdadeiras palavras que os líderes<br />
usam para descrever seus objetivos. O<br />
secretário geral do Hezbolá, Hassan Nasrallah,<br />
resumiu a batalha que nós enfrentamos em<br />
todas as frentes. “Nós descobrimos como<br />
atingir os judeus onde eles são mais vulneráveis.<br />
Os judeus amam a vida, de forma que<br />
isso é o que nós devemos tirar deles. Nós<br />
vamos vencer porque eles amam a vida e nós<br />
amamos a morte”.<br />
Nasrallah está correto quando diz que os<br />
judeus amam a vida, que nós fazemos tudo<br />
que podemos para preservar as vidas de nossa<br />
gente e daquele com quem temos que batalhar.<br />
Não são as nossas forças que escondem<br />
armas entre os civis e lançam foguetes Katyusha<br />
em cidades indiscriminadamente. Foi<br />
Israel quem advertiu os civis libaneses para<br />
deixar Kfar Qana e foi o Hezbolá que os impediu<br />
de ir. Foi Israel quem advertiu os civis<br />
para se distanciarem das bases do Hezbolá, e<br />
foi as Nações Unidas quem decidiram deixar<br />
sua base tão perto do campo do Hezbolá.<br />
Foi o Hezbolá quem escolheu Kfar Qana<br />
como base de lançamento para esses foguetes,<br />
foi o Hezbolá que usou as casas de Kfar<br />
Qana para esconder os lançadores de míssil, e<br />
finalmente, é o Hezbolá que precisa explicar a<br />
estranha diferença de tempo entre Israel lançar<br />
mísseis nos arredores de uma casa que só<br />
desmoronou umas sete ou oito horas depois.<br />
Mas, indiferentemente do que aconteceu<br />
em Kfar Qana, Nasrallah tem razão — nós<br />
amamos viver e eles amam a morte. Mas ele<br />
está errado na conclusão que tirou disto.<br />
Nosso amor pela vida não é o que nos torna<br />
vulneráveis, é o que nos torna invencíveis.<br />
E na análise final, Dan Gillerman está correto:<br />
“Quando você dorme com um míssil, você<br />
pode não acordar”.<br />
* Paula R. Stern é jornalista freelance formada em Ciência Política e Economia na Universidade de<br />
Columbia. Seus artigos têm aparecido em jornais através dos Estados Unidos e Israel, bem como em<br />
numerosos websites. Ela é diretora da WritePoint Ltd, uma empresa de técnica de redação em Israel e<br />
vive em Maaleh Adumim. Seu site pessoal é www.writepoint.com Escreveu este artigo em defesa de<br />
seu país. Título original: When You Sleep With a Missile. Fonte: Arutz Sheva. Tradução: Ivan Kelner
24<br />
VISÃO JUDAICA • outubro 20<strong>06</strong> • Tishrei / Chesvan • 5767<br />
Celso Lafer,<br />
professor titular da<br />
Faculdade de<br />
Direito da USP, foi<br />
ministro das<br />
Relações Exteriores<br />
no governo FHC.<br />
O Oriente Médio<br />
e o discurso de ódio<br />
Celso Lafer *<br />
ão indizíveis, adverte a Carta<br />
da ONU, os sofrimentos da<br />
guerra. Atingem os que padecem<br />
uma pena sem culpa, vitimados<br />
pela violência empregada<br />
nos conflitos bélicos. A intervenção<br />
de Israel no Líbano, induzida por<br />
uma provocação militar do Hezbolá,<br />
trouxe à tona a sensibilidade em relação<br />
a estes sofrimentos que incidem<br />
no contexto dos conflitos no<br />
Oriente Médio.<br />
O contencioso Israel-palestinos é<br />
um dos epicentros destes conflitos.<br />
Ele não tem a clareza jurídica de uma<br />
controvérsia, qual seja a das condições<br />
de criação de um Estado palestino<br />
política e economicamente viável<br />
e o reconhecimento do direito<br />
de Israel de viver em paz dentro de<br />
fronteiras reconhecidas. Não tem esta<br />
clareza, pois o problema se insere num<br />
ambiente de tensões. As tensões, em<br />
contraste com as controvérsias, são<br />
difusas. Manifestam-se por posturas<br />
que escapam à razoabilidade da lógica<br />
diplomática.<br />
O Oriente Médio está permeado de<br />
múltiplas tensões. Entre elas a tensão<br />
da hegemonia provocada pelo unilateralismo<br />
da intervenção norte-americana<br />
no Iraque e seus efeitos; a tensão<br />
do solipsismo da razão terrorista;<br />
a tensão estratégica, induzida pelas<br />
aspirações de poder do Irã; a tensão<br />
da sublevação dos particularismos<br />
religiosos e nacionais.<br />
Um entorno regional com estas<br />
características é centrífugo<br />
e heterogêneo. Carece de uma<br />
vontade comum de estabilidade.<br />
Por isso os esforços de persua-<br />
são diplomática se vêem atropelados<br />
pela violência. Esta é a razão pela<br />
qual a política na região está mais<br />
vinculada à busca dos meios para sobreviver<br />
e vencer, ficando em segundo<br />
plano a aspiração kantiana de<br />
construir a paz e evitar os sofrimentos<br />
da guerra, reconhecendo o direito<br />
à hospitalidade universal.<br />
Esta contextualização de complexidades<br />
é necessária para o tema<br />
deste artigo, que diz respeito ao<br />
impacto, no Brasil, da importação das<br />
tensões no Oriente Médio.<br />
Uma das características da globalização<br />
é a internalização, nos<br />
países, das tensões do mundo. É o<br />
que vem ocorrendo com a situação<br />
do Oriente Médio, no qual um dos<br />
elementos de irradiação é a tensão<br />
de hegemonia trazida pela ação<br />
norte-americana no Iraque. Esta<br />
leva ao antiamericanismo e afeta<br />
Israel, que tem nos Estados Unidos<br />
um decidido aliado.<br />
No caso do Brasil, para a equação<br />
da internalização contribui o fato<br />
de existir um expressivo número de<br />
cidadãos brasileiros de origem libanesa<br />
com laços de família e de memória<br />
afetiva em relação ao Líbano,<br />
com compreensível sensibilidade ao<br />
que se passa num país que se estava<br />
reconstruindo em meio a suas dificuldades.<br />
Também é um dado desta<br />
equação a existência de um número<br />
relevante de cidadãos brasileiros de<br />
origem judaica, muitos dos quais<br />
também têm laços de família e de<br />
afeto com o Estado de Israel e que,<br />
por isso mesmo, olham para a segurança<br />
deste país com atenção. Neste<br />
olhar existe a memória de guerras do<br />
passado e dos insucessos das nego-<br />
ciações, permeado por uma sensibilidade<br />
própria em relação aos atentados<br />
terroristas em Israel e ao fato<br />
de o Hezbolá operar a partir do Líbano,<br />
respaldado pela Síria com o declarado<br />
apoio logístico-militar do Irã<br />
- cujo presidente denega o Holocausto<br />
e propõe o desaparecimento de<br />
Israel do mapa do Oriente Médio.<br />
Feitos estes registros, observo<br />
que o preâmbulo da Constituição<br />
considera como valores supremos do<br />
nosso país a concepção de uma sociedade<br />
fraterna, pluralista e sem<br />
preconceitos, comprometida, na ordem<br />
interna e internacional, com a<br />
solução pacífica de controvérsias.<br />
Esta diretriz tem sido bem-sucedida<br />
na construção histórica do<br />
amálgama do povo brasileiro na diversidade<br />
das suas origens.<br />
Daí o tranqüilo entendimento<br />
entre brasileiros de origem árabe e<br />
de origem judaica. Este é um adquirido<br />
da convivência nacional a ser<br />
preservado. Não pode ser corroído<br />
pelo discurso de ódio que, lamentavelmente,<br />
tem aparecido como parte<br />
das internalizações das tensões do<br />
Oriente Médio. É o caso, por exemplo,<br />
de certas virulentas manifestações<br />
antiisraelenses mescladas de<br />
inequívoco anti-semitismo do tipo<br />
das relatadas pela revista Carta Capital<br />
de 6/9 em matéria apropriadamente<br />
intitulada O Líbano é aqui.<br />
A contenção do discurso de ódio<br />
tem sido objeto das normas internacionais<br />
dos Direitos Humanos às<br />
quais o Brasil aderiu. É o que estipula<br />
a Convenção para a Eliminação de<br />
Todas as Formas de Discriminação<br />
Racial, o Pacto de Direitos Civis e<br />
Políticos e o Pacto de São José. Este,<br />
no seu artigo 13, 5, reza: ‘A lei deve<br />
proibir toda propaganda a favor da<br />
guerra, bem como toda apologia ao<br />
ódio nacional, racial ou religioso que<br />
constitua incitamento à discriminação,<br />
à hostilidade, ao crime ou à violência.’<br />
É nesta moldura que o Direito<br />
brasileiro, no âmbito do artigo<br />
5º, XLII, da Constituição, que prevê<br />
o crime da prática de racismo, capitula<br />
como prática de racismo o discurso<br />
de ódio (artigo 20 da Lei<br />
7.716/89, com a redação dada pela<br />
Lei 8.081/90).<br />
Foi esse o entendimento que o<br />
Supremo Tribunal Federal consagrou<br />
ao decidir, em 2003, o caso Ellwanger,<br />
observando que a liberdade de<br />
expressão não consagra o ‘direito à<br />
incitação ao racismo’.<br />
Daniel Sarmento, escrevendo sobre<br />
o hate speech, explica, neste contexto,<br />
por que ele compromete a dinâmica<br />
da democracia. Observa que o<br />
discurso de ódio está mais próximo<br />
de um ataque que de uma participação<br />
no debate de opiniões; não se<br />
baseia no recíproco reconhecimento<br />
da igualdade da dignidade humana,<br />
que é a garantia da integridade da<br />
discussão na esfera pública, e, ao estigmatizar<br />
grupos, a eles causa dano,<br />
propiciando preconceitos.<br />
Em síntese, a importação das tensões<br />
do Oriente Médio na forma de<br />
discurso de ódio precisa ser afastada.<br />
É inaceitável, pois fere a dignidade<br />
humana e compromete um dos<br />
objetivos constitucionais do Brasil,<br />
que é o de ‘promover o bem de todos,<br />
sem preconceitos de origem,<br />
raça, sexo, cor, idade e quaisquer<br />
outras formas de discriminação’<br />
(Constituição federal, artigo 3º, IV).