TIPOS DE FOLIAÇÃO - Unicamp
TIPOS DE FOLIAÇÃO - Unicamp
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Geologia Estrutural<br />
<strong>TIPOS</strong> <strong>DE</strong> <strong>FOLIAÇÃO</strong><br />
Professores:<br />
Celso Celso Dal Dal Ré Ré Carneiro Carneiro<br />
DGAE/IG/UNICAMP<br />
Carlos Carlos Roberto Roberto de de Souza Souza Filho Filho<br />
DGRN/IG/UNICAMP<br />
Mário Mário Neto Neto Cavalcanti Cavalcanti de de Araújo Araújo<br />
DGRN/IG/UNICAMP<br />
Ticiano Ticiano José José Saraiva Saraiva dos dos Santos Santos<br />
DGRN/IG/UNICAMP<br />
Wanilson Wanilson Luiz Luiz Silva Silva<br />
DGRN/IG/UNICAMP<br />
Outubro de 2003
FOLIAÇÕES<br />
Foliações<br />
1. Introdução<br />
Grande parte das estruturas em rochas é definida pela orientação preferencial de<br />
minerais ou elementos da trama. Esta ultima inclui o arranjo espacial e geométrico de<br />
todos os constituintes da rocha, congregando feições texturais, estruturais e orientações<br />
cristalográficas preferenciais. Os elementos da trama são aquelas feições que se repetem<br />
sistematicamente na rocha. Uma falha isolada cortando um nível composicionalmente<br />
diferente da rocha não é considerada um elemento da trama, enquanto que planos de<br />
foliação paralelos regularmente distribuídos são.<br />
A palavra foliação pode ser usada como um termo genérico para descrever feições<br />
planares que se reproduzem de forma penetrativa no meio rochoso. Nesse sentido<br />
podemos então classificar como foliação um acamamento rítmico de uma rocha<br />
metamórfica, o bandamento composicional de rochas ígneas, ou outras estruturas<br />
planares de rochas metamórficas. Juntas são normalmente excluídas dessa classificação<br />
por não serem suficientemente penetrativas.<br />
Foliações podem ser definidas por<br />
variação espacial na granulometria dos<br />
minerais constituintes da rocha, pela<br />
orientação preferencial de minerais<br />
alongados, placosos ou agregados<br />
minerais, por descontinuidades planares<br />
como microfraturas, ou ainda pela<br />
combinação desses elementos (Fig.1).<br />
Fig.1 – Representação dos vários elementos da<br />
trama que definem uma foliação. a. bandamento<br />
composicional, b. orientação preferencial de<br />
minerais placosos (e.g. micas), c. orientação<br />
preferencial de limites de grãos deformados (e.g.<br />
quartzo e carbonato. d. variação no tamanhos dos<br />
grãos. e. orientação preferencial de minerais<br />
placosos imersos em uma matriz isenta de<br />
orientação preferencial. f. orientação preferencial<br />
de agregados minerais lenticulares. g. orientação<br />
preferencial de fraturas e microfalhas (e.g.<br />
quartzitos de baixo grau). h. combinação dos<br />
elementos das figuras a,b e c. Figura extraída de<br />
Passchier & Trouw (1996).
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
2. CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA <strong>DE</strong> FOLIAÇÕES<br />
Ao observar uma foliação em uma rocha existem algumas perguntas que devem ser<br />
feitas:<br />
Será uma estrutura pré-deformacional? (e.g. acamamento ou plano de fissilidade)<br />
É a única foliação da rocha? (e.g. não existem foliações prévias?)<br />
É uma estrutura mais nova? (e.g. existem foliações anteriores?)<br />
Fig.2 - Dois tipos de foliação secundária. (A-B) mostram clivagens de crenulação S2 afetando uma foliação<br />
mais antiga S1. (C) Relação entre uma foliação interna (S1), presente no interior de porfiroblastos, e uma<br />
mais jovem S2.<br />
Como distinguir uma foliação primária de uma tectônica?<br />
Foliações primárias são estruturas relacionadas aos processos formadores da rocha, o<br />
acamamento primário em uma rocha sedimentar e o magmático numa ígnea são bons<br />
exemplos. Uma outra foliação primária é a diagenética, formada por compactação.<br />
Foliações secundarias se formam posteriormente a gênese da rocha, depois da litificação<br />
das rochas sedimentares ou da solidificação de uma rocha ígnea, ou por segregação<br />
metamórfica. Estas resultam da deformação e metamorfismo, sendo as mais comuns a<br />
clivagem, xistosidade, bandamento diferenciado, foliação milítica, etc.<br />
Embora foliações também possam se desenvolver em algumas zonas catacláticas, o<br />
desenvolvimento de uma foliação secundária é usualmente interpretado como sendo o<br />
produto da deformação dúctil. Foliações secundárias que se desenvolvem de modo<br />
heterogêneo são difíceis de distinguir das primárias. O reconhecimento de uma foliação<br />
primária é importante, pois elas ajudam na investigação a evolução estrutural (S0, S1, S2,
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
S3, Sn...) e reconstituição de estruturas regionais (e.g. padrões de redobramento) de faixas<br />
orogênicas.<br />
CRITÉRIOS <strong>DE</strong> DISTINÇÃO ENTRE FOLIAÇÕES PRIMÁRIAS E SECUNDÁRIAS<br />
Foliações primárias Foliações secundárias<br />
Estruturas sedimentares podem está<br />
presentes (e.g. gradação granulométrica<br />
reconhecida em escala meso ou<br />
microscópica, Fig.3a-b)<br />
Irregular em espessura e arranjo das bandas<br />
(Fig.4a)<br />
Alinhamento de grãos ou agregados<br />
minerais sem que haja<br />
estiramento/recristalização (Fig.4b)<br />
Composição e tamanho dos grãos pode<br />
variar em cada camada ou no interior de<br />
uma mesma camada.<br />
Foliações primárias nunca ocupam o plano<br />
axial de dobras.<br />
Estruturas sedimentares são ausentes.<br />
Pequena variação de espessura ao longo da<br />
direção da camada.<br />
As camadas mostram composição bimodal<br />
Foliação é normalmente (sub)paralela ao<br />
plano axial de dobras marcadas em uma<br />
foliação mais antiga.<br />
2.1 Foliações/estruturas primárias<br />
Em rochas de baixo grau metamórfico pouco deformadas, o reconhecimento do acamamento é<br />
uma tarefa relativamente fácil, uma vez que as características principais de uma seqüência<br />
sedimentar, incluindo estruturas primárias, podem estar bem preservadas. No caso de rochas mais<br />
intensamente deformadas e metamorfisadas, é usualmente mais difícil a distinção entre um<br />
bandamento primário e outro secundário. Em muitas rochas metamórficas, como gnaisses, por<br />
exemplo, um bandamento composicional pode ter sua origem ligada a processos sedimentares,<br />
ígneos ou metamórficos; ou ainda pode ter uma origem complexa.<br />
Fig.3 – (a) Acamamento S0 definido pela alternância de níveis peliticos (leitos argilosos em marrom claro)<br />
e níveis psamíticos em metasedimentos do domínio Estância (Faixa Sergipana, NE do Brasil). No interior<br />
de cada um dos níveis pelíticos a cor marrom torna-se progressivamente mais intensa para a direita. Isso<br />
indica granodecrescência para a direita, ou seja, topo estratigráfico na mesma direção. Afloramento de<br />
metapelitos do domínio Estância, Faixa Sergipana (NE do Brasil). (b) feição semelhante a observada em<br />
(a). Níveis pelíticos de coloração cinza azulada. Notar a gradação inversa definida pelo escurecimento dos<br />
tons de cinza para baixo. Afloramento de muscovita biotita xistos da região de Carrancas (Minas Gerais).
3.a<br />
3.b<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações
4.a<br />
4.b<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
Fig.4 – (a) Fotomicrografia mostrando o acamamento S 0 dobrado (foliação primário é subhorizontal) de um filito,<br />
cortado por uma clivagem de dissolução por pressão S 1 subvertical marcada por finos filmes de material insolúvel<br />
(linhas escuras subverticais). Uma foliação mais antiga S 1 subparalela ao acamamento também é presente na foto.<br />
Sudoeste de Queensland (Austrália). (b) Foliação primária (magmática) definida pelo alinhamento de enclaves máficos<br />
em leucogranito róseo da Faixa Sergipana.
2.2 Foliações secundárias<br />
Começamos esse item mostrando uma<br />
classificação morfológica das foliações<br />
secundárias e discutindo os principais<br />
processos envolvidos nas suas<br />
respectivas formações. Foliações<br />
secundárias podem mostrar uma grande<br />
variedade de feições morfológicas<br />
(Fig.5). Com base nas suas<br />
características, um número significativo<br />
de terminologias descritivas tem sido<br />
usado como, por exemplo: clivagem<br />
ardosiana, xistosidade, bandamento<br />
diferenciado, clivagem de fratura e<br />
clivagem de crenulação. Infelizmente, o<br />
uso desses termos não é uniforme e<br />
alguns deles têm sido usados com<br />
implicações genéticas. Por exemplo, o<br />
nome clivagem de fratura tem sido<br />
usado para fazer referência a uma<br />
foliação descontínua com um<br />
bandamento composicional fino e<br />
espaçado, possivelmente originado por<br />
dissolução preferencial ao longo de<br />
fraturas não mais visíveis em escala<br />
microscópica. Outras interpretações<br />
genéticas dessas estruturas que não<br />
envolvem a presença de fraturas são<br />
possíveis de modo que o uso de termo s<br />
clivagem de fratura deve ser evitado.<br />
Assim a utilização de terminologias<br />
genéticas nesse capítulo será evitada.<br />
Aqui nos restringiremos à utilização de<br />
termos descritivos.<br />
Clivagem e xistosidade<br />
O termo clivagem é alusivo as foliações<br />
secundárias presentes em rochas finas,<br />
nas quais a observação a olho nu dos<br />
grãos minerais (principalmente micas) e<br />
impossibilitada.<br />
Foliações<br />
Existem dois tipos principais de<br />
clivagens. Aquelas que se repetem<br />
sistematicamente desde a escala de<br />
afloramento até a de lâmina delgada, e as<br />
mais discretas, muitas vezes<br />
identificadas apenas ao microscópio.<br />
As clivagens mais penetrativas ou<br />
contínuas são as Ardosianas. Elas são<br />
tipicamente associadas a rochas pelíticas<br />
finas (
Foliações<br />
Fig.5 – Classificação morfológica de foliações com uso do microscópio óptico. Extraído<br />
de Passchier & Trouw (1996). Fonte original: Powell (1979) e Borradaile et al. (1982).<br />
Fig.6 – (A) Clivagem Ardosiana em mecarbonato impuro da Faixa Sergipana. Mina de Calcário da<br />
Votorantin em Simão Dias (SE). As placas de carbonato caídas no solo são nada mais nada menos que<br />
planos de foliação soltos da sua posição original pelas detonações diárias. (B) Clivagem ardosiana em<br />
metaturbiditos Cambro-Ordovicianos da Nova Escócia.
6a<br />
6b<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações
6c<br />
6d<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
continuação<br />
Fig.6 – (c) Clivagem ardosiana desenvolvida segundo o plano axial de dobras abertas dos metatubirditos mostrados na<br />
Fig.6b. (d) Aspecto geral da clivagem ardosiana da Fig.6b. Notar a penetratividade da foliação, a qual pode ser<br />
classificada como uma clivagem contínua, com alguma contribuição de dissolução por pressão marcada pelos leitos<br />
escuros subhorizontais.
6e<br />
6f<br />
Continuação.<br />
Fig.6 – (e-f) Clivagem ardosiana em metapelitos da Faixa Sergipana.<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações
Clivagem disjuntiva<br />
Foliações<br />
Existem dois tipos principais de clivagem disjuntiva: clivagem de crenulação e a<br />
clivagem espaçada.<br />
Clivagem de crenulação<br />
Normalmente corta uma clivagem<br />
continua pré-existente, preservada no<br />
interior de microlintons. É mais notável<br />
quando afeta uma xistosidade ou uma<br />
estrutura filítosa (foliação de filitos.<br />
Itermediária entre a clivagem ardosiana<br />
e a xistosidade). Em rochas que contém<br />
clivagens de crenulação a foliação pré-<br />
existente é normalmente afetada por<br />
microdobras. São reconhecidos dois<br />
tipos de clivagem de crenulação. A<br />
clivagem de crenulação discreta que se<br />
desenvolve segundo domínios de<br />
clivagem estreitos trucando fortemente a<br />
foliação prévia dos microlintons,<br />
similarmente ao que acontece com<br />
microfalhas (Fig.7).<br />
Fig.7 – Clivagem de crenulação discreta afetando o acamamento S0 e uma foliação subparalela S1 de<br />
metapelitos da Faixa Sergipana. Note que o nível psamítico no centro da foto é trucado e levemente<br />
deslocado pela clivagem de crenulação dando o aspecto de uma microfalha.<br />
Clivagem de crenulação zonal – possui domínios de clivagem largos que coincidem com<br />
o flanco de microdobras apertadas afetando a foliação pré-existente (Fig.8 a-b).
8a<br />
8b<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
Fig.8 – (a) Aspecto microscópico de clivagem de crenulação zonal em metapelitos da Faixa Sergipana. (b)<br />
foto de afloramento mostrando clivagem de crenulação zonal em quartzitos da Faixa Seridó, Rio Grande do<br />
Norte.
Clivagem espaçada<br />
Normalmente arranjada segundo um<br />
sistema anastomosado, estilolítico a<br />
suave, freqüentemente ocupado por<br />
material carbonáceo ou argiloso. A<br />
clivagem espaçada é tipicamente<br />
encontrada em rochas sedimentares<br />
dobradas isentas de metamorfismo.<br />
Especialmente calcáreos e alguns<br />
arenitos impuros. O espaçamento entre<br />
os domínios de clivagem normalmente<br />
varia de 1 a 10cm, de forma que os<br />
microlitons são relativamente largos<br />
quando comparados com outros tipos de<br />
clivagem.<br />
Fig.9 – Clivagem espaçada produzida por<br />
impacto meteórico. Cratera Ries Alemanha.<br />
Fig.9<br />
Foliações<br />
Xistosidade<br />
Foliação secundária normalmente definida por lamelas de mica de granulometria grossa<br />
(1-10mm) em associação com quartzo e outros minerais. A granulometria maior que a<br />
das ardósias é resultante da alta recristralização mineral, típica dos graus metamórficos<br />
mais elevados nos quais a xistosidade é característica. O aspecto mesoscópico<br />
característico da xistosidade é a definição de planos de foliação pelo alinhamento de<br />
micas como muscovita, biotita, clorita e sericita. Xistos raramente se partem segundo<br />
planos perfeitos como as ardósias. Muito pelo contrário, eles quebram formando discos e<br />
soltam muita mica, que normalmente fica grudada na pele dos geólogos.<br />
Fig.10 – Xistosidade<br />
subvertical bem<br />
desenvolvida em<br />
micaxistos da Faixa<br />
Sergipana. Notar a<br />
preservação de uma<br />
foliação pré-existente no<br />
interior de pods de baixo<br />
strain (centro da foto).
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
Ao microscópico a xistosidade mostra aspectos morfológicos semelhantes aos da<br />
clivagem ardosiana. Os domínios de clivagem em rochas xistosas são normalmente<br />
definidos por micas subparalelas, que eventualmente definem lentes ou formas discóides<br />
com quartzo e/ou feldspato no interior (Fig.11). Estes podem mostrar bordas de clorita.<br />
Fig.11 – Xistosidade definida pelo alinhamento de muscovita. Notar a presença de<br />
quartzo e feldspato na forma de lentes ou sigmóides, ligeiramente assimétricos.<br />
Quartzitos feldspáticos da Faixa Sergipana<br />
Fig.12 – xistosidade<br />
em muscovita xistos<br />
do Novo México.
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
3. ALGUNS TERMOS GENÉTICOS<br />
Esta seção lista algumas terminologias genéticas usadas para descrever foliação.<br />
Ressaltasse que todas as foliações secundárias se desenvolvem em resposta a processos<br />
deformacionais, de forma que os termos usados no item anterior podem também ser<br />
classificados de forma genética. Como a relação entre os processos morfológicos e<br />
genéticos é usualmente complexa, decidimos por separar as duas classificações em itens<br />
diferentes. Contudo enfatizamos que embora as pesquisas tenham conseguido<br />
considerável êxito com o passar dos anos, o conhecimento atual sobre os processos de<br />
gênese de foliações ainda é incompleto. Aqui nos restringimos a listar os principais tipos<br />
genéticos de foliações.<br />
3.1 CLIVAGEM <strong>DE</strong> DISSOLUÇÃO<br />
Foliação normalmente marcada pelo truncamento de limbos de microdobras, veios<br />
(Fig.13-15) ou por um bandamento diferenciado que alterna faixas escuras ricas em<br />
minerais insolúveis (micas e opacos) com faixas ricas em quartzo e outros minerais<br />
constituintes da rocha.<br />
Fig.13 - Aspecto mesoscópico de uma clivagem<br />
de dissolução subvertical em metasiltitos. Note<br />
que os veios subhorizontais em branco são<br />
truncados pelos planos de clivagem ressaltando o<br />
processo de dissolução por pressão envolvido na<br />
formação da clivagem. Localização do<br />
afloramento desconhecida.<br />
Fig.14 – Clivagem de dissolução<br />
marcada pelo rompimento do flanco<br />
de minidobra apertada afetando veio<br />
de quartzo que corta uma clivagem<br />
contínua de micaxistos da Faixa<br />
Seridó (Rio Grande do Norte). Notar<br />
a concentração de opacos no<br />
rompimento do flanco da dobra.
Foliações<br />
Fig.15 – Clivagem de dissolução em metamargas. Notar as frentes de dissolução demarcadas pela<br />
concentração de minerais insolúveis (planos subverticais). Dissolução realçada pelo trucamento de veios<br />
oblíquos a clivagem contínua precoce (planos subhorizontais dobrados). Localização desconhecida.<br />
3.1 <strong>FOLIAÇÃO</strong> MILONÍTICA<br />
As rochas miloníticas formam uma família de rochas fortemente foliadas e<br />
deformadas, constituindo o que se conhece como série milonítica. Essas rochas são um<br />
tipo de “rocha de falha” no qual a granulometria do protólito é dramaticamente reduzida<br />
em resposta às altas magnitudes de deformação atingidas no interior de zonas de<br />
cisalhamento. A redução granulométrica característica dos milonitos é o resultado da<br />
deformação dúctil ou de uma mistura com mecanismos de deformação dúctil-frágeis. Os<br />
principais mecanismos responsáveis pela geração das foliações miloníticas são os de<br />
plasticidade cristalina, recristalização dinâmica e fraturamento de grãos mais<br />
competentes. A deformação que gera as rochas miloníticas é denominada milonitização.<br />
A foliação milonítica gerada por mecanismos de plasticidade cristalina evolui por<br />
meio da ativação de deslocamentos no interior do retículo dos minerais, gerando grãos<br />
alongados segundo uma determinada orientação preferencial. Em casos extremos, tem-se<br />
a formação de ribbons (fitas) de quartzo monocristalino alongados segundo a trama<br />
milonítica. A evidência da deformação intracristalina é definida principalmente pela forte<br />
extinção ondulante dos grãos minerais (Fig.16).<br />
Fig.16 – (a) Grãos detríticos de quartzo em quartzito milonitizado do oeste da Austrália. Notar a extensiva<br />
participação de mecanismos de plasticidade cristalina denotada pela forte extinção ondulante. Notar<br />
também que outros mecanismo como a rotação de subgrão atuou na formação da foliação milonítica. (b)<br />
Ribbons monocristalinos de quartzo definindo a foliação milonítica de xistos da Faixa Sergipana (NE do<br />
Brasil). Notar a forte extinção ondulante.
a<br />
b<br />
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações
GEOLOGIA ESTRUTURAL/UNICAMP<br />
Foliações<br />
A recristalização dinâmica é produto de uma tendência dos corpos rochosos a<br />
diminuir a sua energia livre, por meio da redução granulométrica para que ela que mais se<br />
ajuste as condições da deformação (pressão dirigida, temperatura, presença de fluidos,<br />
composição da rocha,etc). A formação de kinks ou microdobras em micas, por exemplo,<br />
acumula energia suficiente no interior do grão deformado para que este ative mecanismos<br />
de recristalização por migração de borda de grão para dissipala através da rocha. Em<br />
grãos de feldspato e quartzo, mecanismos de recuperação podem atuar gerando subgãos<br />
alinhados segundo a foliação milonítica que, em muitos casos, envolvem grãos<br />
reliquiares no que se conhece como estrutura manto e núcleo.<br />
a<br />
b<br />
Fig.17 – foliação milonítica definida pela forte recristalização de quartzo em feldspato de granitos<br />
deformados da Faixa Sergipana (a) e do oeste Australiano (b). Notar a forte cominuição granulométrica de<br />
porfiroclastos de feldspato, inclusive com o desenvolvimento de estruturas do tipo manto-núcleo (a). (b)<br />
forte recristalização por mecanismos de migração de borda de grão, forçando o desenvolvimento de ribbons<br />
de feldspato formados pela coalescência dos grãos.
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Foliações<br />
De um modo geral, a maioria das rochas miloníticas possui uma aparência placosa<br />
devido a forte foliação impressa (Fig.18). A foliação que normalmente é associada ao<br />
forte achatamento no interior das zonas de cisalhamento é definida pela disposição<br />
subparalela de grãos, pequenas juntas e algumas superfícies de cisalhamento. Em rochas<br />
monominerálicas a foliação tem um aspecto planar bem desenvolvido, enquanto que em<br />
rochas poliminerálicas é comum o desenvolvimento de uma foliação milonítica de<br />
aspecto anastomosado.<br />
Fig.18 – contato ultramilonito (porção superior)- milonito em granitos deformados do<br />
oeste da Austrália.<br />
Fig. 19 – Foliação<br />
milonítica contínua em<br />
ultramilonitos de granitos do<br />
oeste australiano. No centro<br />
têm-se feldspatos reliquiares<br />
rotacionados mostrando<br />
uma movimentação dextral.
3.2 – Foliação gnáissica<br />
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Foliações<br />
Caraterizada pelo alinhamento de minerais de granulometria grossa, dispostos segundo<br />
leitos composicionalmente diferentes ou alongados segundo uma determinada direção<br />
preferencial. Os tipos mais comuns de foliação gnáissica são os brandamentos gnáissicos<br />
ou as foliações de augen gnaisses. Esta ultima também pode ser formada pela<br />
milonitização, por isso ao identificar uma foliação em um augen gnaisse veja se ele tem<br />
texturas miloníticas. Rochas que portam uma foliação gnáissica são produzidas pela<br />
exposição a altas pressões e temperaturas, atingidas mediante condições de alto grau<br />
metamórfico.<br />
18a<br />
18b<br />
Fig.18 – Exemplos de foliação gnáissica. (a) bandamento gnáissico. (b) foliação gnáissica em augen<br />
gnaisse. Localização desconhecida.
3.3 – Bandamento migmatítico<br />
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Foliações<br />
Trama planar de geometria complexa, muitas vezes sem nenhuma orientação definida,<br />
associada à fusão parcial da rocha (anatexia) em resposta a condições de alto grau<br />
metamórfico. Existem muitos tipos de migmatitos: migmatitos venulados contendo uma<br />
grande quantidade de segregações quartzo feldspáticas, produzidas em situ ou injetadas<br />
ao longo de fraturas ou zonas de cisalhamento. Agmatitos que lembram brechas, com<br />
fragmentos angulosos de gnaisses escuros ou anfibolitos envoltos por material granítico.<br />
E os Migmatitos nebulíticos que são consideravelmente mais homogêneos que as outras<br />
variedades de migmatitos. O bandamento migmatítico nessas rochas é representado por<br />
um bandamento diferenciado definido pela alternância de níveis máficos e félsicos<br />
(Fig.19a-b), produzidos por processos de segregação metamórfica, possivelmente<br />
associados a época de fusão do protólito. A sua diferença de uma foliação contínua ou de<br />
uma foliação primária é que o bandamento migmatítico é normalmente descontínuo e<br />
irregular.<br />
Fig.18 – Exemplos de bandamento gnáissico. (A) migmatito bandado. Nova York. Notar<br />
a alternância de bandas máficas e félsicas definindo o bandamento migmatítico da rocha.<br />
(B) Migmatítico nebulítico. Bandamento migmatítico definido por níveis felsicos. Notar<br />
que este é afetado por dobras abertas de charneira espessada. Faixa Sergipana (Província<br />
Borborema).
18a<br />
18b<br />
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Foliações