PROBLEMA VIRA SOLUÇãO - Automotive Business
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FORD CAMAÇARI | ecOSPOrT<br />
a hiSTÓria dO FOrdiSmO<br />
ÀS AVeSSAS de camaçari<br />
Em 1999, a Ford só contabilizava<br />
prejuízos no Brasil. Havia acabado<br />
de sair da sociedade com<br />
a Volkswagen na Autolatina (1987-<br />
1996) e tinha perdido capacidade de<br />
desenvolvimento. Para piorar, a fábrica<br />
que iria construir em Guaíba, no<br />
Rio Grande do Sul, onde pretendia<br />
produzir 150 mil Fiesta por ano, foi<br />
praticamente expulsa do Estado pelo<br />
governador Olívio Dutra. “O novo governo<br />
não se interessava e se negou a<br />
fazer toda a infraestrutura que precisávamos<br />
lá. A planta ia custar três vezes<br />
mais. Não teve jeito. Precisamos<br />
abandonar o projeto, que já estava<br />
seis meses atrasado”, lembra Luc de<br />
Ferran, na época diretor de desenvolvimento<br />
da Ford no Brasil, então<br />
encarregado de coordenar a construção<br />
da nova unidade. Em meio à<br />
crise que se instalou, Ferran tratou de<br />
sair em busca de um novo local em<br />
tempo recorde, e assim aprofundou a<br />
LuC de FerrAn,<br />
Fellow da SAE Brasil<br />
ideia de recriar uma velha receita consagrada<br />
(mas esquecida) da própria<br />
Ford: o chamado “fordismo”, com a<br />
verticalização da produção.<br />
“Verticalizar era a única maneira de<br />
viabilizar uma fábrica em um lugar<br />
como Camaçari”, afirma Ferran. “É<br />
como os chineses fazem hoje: eles<br />
não esperam pelos fornecedores, tomam<br />
a decisão e puxam a cadeia de<br />
suprimentos para onde vão.” Como<br />
seria impossível fazer isso só com<br />
recursos próprios, a solução do tipo<br />
ovo-de-Colombo foi colocar os fornecedores<br />
dentro da linha de produção,<br />
recriando assim o fordismo às<br />
avessas. “Comecei a pensar nessa<br />
fórmula há muitos anos. Lembrei-me<br />
de 1963, quando ainda era estudante<br />
de engenharia na Poli-USP e fui fuçar<br />
diversas fábricas no mundo. Os<br />
fabricantes produziam quase todos<br />
os componentes, até vidros. Depois,<br />
nos anos seguintes, venderam tudo,<br />
terceirizaram tudo. O que fizemos em<br />
Camaçari foi recriar esse processo,<br />
mas com divisão do capital investido<br />
entre a Ford e seus parceiros no<br />
negócio”, conta o engenheiro, lembrando<br />
que 60% dos custos de um<br />
carro montado na fábrica baiana são<br />
produzidos no próprio local.<br />
“Em Dearborn (sede mundial da<br />
Ford nos Estados Unidos) todos os<br />
diretores me chamavam de louco ao<br />
querer criar essa fórmula, mas<br />
ninguém apresentou solução<br />
melhor”, recorda Ferran.<br />
Antes disso, porém,<br />
foi preciso quebrar todos<br />
os paradigmas no que diz<br />
respeito a projetar e construir<br />
uma fábrica, a começar<br />
pela escolha do local. De<br />
seis Estados possíveis, sobraram três:<br />
Espírito Santo, Pernambuco e Bahia.<br />
“Lembro que, após sair de Guaíba, fizemos<br />
a pré-seleção gastando apenas<br />
uma semana para avaliar cada local”,<br />
conta o ex-diretor da Ford.<br />
EM BUSCA DO LOCAL<br />
Ferran revela que no Espírito Santo o<br />
local oferecido ficava ao lado de um<br />
rio, o que levaria meses para obter as<br />
licenças ambientais. Em Pernambuco,<br />
a cidade era Ipojuca, ao lado do<br />
Porto de Suape que começava a ser<br />
construído. “Era tudo mangue, na<br />
mesma área onde ofereceram para a<br />
Fiat. Outro problema ambiental. Seria<br />
muito difícil construir ali.” Por fim, Ferran<br />
foi apresentado a Camaçari e se<br />
apaixonou pelo lugar, todo descampado,<br />
pronto para receber indústrias<br />
(a fábrica da coreana Asia Motors iria<br />
ser instalada ali) e perto do mar.<br />
O engenheiro lembra que o contrato<br />
com o Estado da Bahia para a<br />
instalação da fábrica foi assinado em<br />
23 de dezembro de 1999 – poucos<br />
meses antes a Ford havia conseguido<br />
aprovar, com significativa ajuda do ex-<br />
-governador baiano e então senador<br />
Antonio Carlos Magalhães, a extensão<br />
de parte dos benefícios concedidos a<br />
montadoras que quisessem se instalar<br />
no Nordeste do País. Dali em diante,<br />
foram apenas 14 meses para ir<br />
do zero a uma fábrica de automóveis<br />
completa. A construção foi feita em<br />
três turnos e Ferran, em jornadas diárias<br />
de trabalho nunca inferiores a dez<br />
horas, acompanhou pessoalmente<br />
cada muro levantado, enquanto Vagner<br />
Galeote, então diretor de compras<br />
(hoje diretor de manufatura e atual<br />
presidente da SAE Brasil), arquitetava