A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode
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de questionar, de pôr em evidência sua perplexidade diante<br />
das lições <strong>do</strong> mestre. Muitos anos se passam até que ele<br />
perca a sua vida e descubra o que é o <strong>Zen</strong>: transcendência <strong>do</strong><br />
intelecto, desprezo pelas palavras, silêncio, gestos iluminantes<br />
e ilumina<strong>do</strong>s, comunhão com o cosmo.<br />
<strong>Eugen</strong> <strong>Herrigel</strong> nasceu em Lichtenau, Alemanha, a 20 de<br />
março de 1885. Desde jovem se sente atraí<strong>do</strong> pelo misticismo<br />
oriental, embora se dedique com afinco à filosofia <strong>do</strong><br />
Ocidente e ao neo-kantismo em especial. Confuso, à procura<br />
de pistas que levem ao ponto de encontro de todas as<br />
religiões e filosofias, termina o <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> em filosofia na<br />
Universidade de Heidelberg. Então, com trinta e nove anos<br />
de idade, viaja com a mulher para o Japão, onde passa quase<br />
seis anos ensinan<strong>do</strong> na Universidade de Tohoku. Durante esse<br />
perío<strong>do</strong> dedica-se com afinco ao aprendiza<strong>do</strong> de uma das<br />
artes mais inúteis que existem: a <strong>do</strong> arqueiro, tal como<br />
praticada pelos mestres <strong>Zen</strong>-budistas. Já estudara o <strong>Zen</strong> nos<br />
livros. Chegara a hora de conhecê-lo através da vivência<br />
concreta. A oportunidade é imperdível. <strong>Herrigel</strong> vive os anos<br />
mais difíceis e mais belos da sua vida. Ao regressar <strong>do</strong> Japão, é<br />
contrata<strong>do</strong> pela Universidade de Erlangen, onde leciona<br />
durante muitos anos. Havia publica<strong>do</strong> <strong>do</strong>is livros: Urstoff und<br />
Urform (1926) e Die metaphysiche Form (1929), e edita<strong>do</strong> as<br />
obras completas <strong>do</strong> filósofo alemão Emil Lask (1923-24).<br />
Este livro só surgiria em 1948, quase vinte anos depois<br />
de <strong>Herrigel</strong> ter volta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Japão. Antes de morrer, em 18 de<br />
abril de 1955, ele ainda escreve Der <strong>Zen</strong>-Weg, na<br />
esteira das publicações semelhantes no Ocidente, com a<br />
finalidade de divulgar o <strong>Zen</strong> de maneira mais simples possível.<br />
A aventura espiritual de <strong>Herrigel</strong>, vivida na instigante<br />
atmosfera das aulas <strong>do</strong> mestre Kenzo Awa, merece ser<br />
compartilhada. É uma peregrinação que nos arrebata desde as<br />
primeiras páginas deste livro. Uma dura, áspera e longa<br />
viagem que começa nas trevas <strong>do</strong> exterior e termina na<br />
ofuscante luminosidade interior e que nos lembra a célebre<br />
declaração <strong>Zen</strong>: "Antes que eu penetrasse no <strong>Zen</strong>, as<br />
montanhas e os rios nada mais eram senão montanhas e rios.<br />
Quan<strong>do</strong> aderi ao <strong>Zen</strong>, as montanhas não eram mais<br />
montanhas, nem os rios eram rios. Mas, quan<strong>do</strong> compreendi o<br />
<strong>Zen</strong>, as montanhas eram só montanhas e os rios, apenas rios."<br />
Quan<strong>do</strong> o arqueiro <strong>Zen</strong> dispara a flecha, ele atinge a si<br />
próprio. Nesse momento mágico, ele se ilumina. Mesmo sem<br />
jamais ter empunha<strong>do</strong> um arco, a dimensão metafórica deste<br />
livro não passará despercebida pelo leitor atento, obrigan<strong>do</strong>-o,<br />
certamente, a refletir sobre o enre<strong>do</strong> da sua vida. Não é essa a<br />
missão <strong>do</strong>s bons livros?<br />
J. C. I.<br />
São Paulo, outono de 1983<br />
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