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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode

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escrevam a respeito, mas mandem-me de vez em quan<strong>do</strong> uma<br />

fotografia que mostre como vocês estejam estiran<strong>do</strong> o arco.<br />

Será o suficiente para que eu saiba tu<strong>do</strong> o que eu quiser saber.<br />

Mas devo advertir-lhes de uma coisa: ao longo desses anos,<br />

vocês <strong>do</strong>is sofreram uma modificação profunda 15 . Essa é a<br />

conseqüência <strong>do</strong> tiro com arco: uma luta <strong>do</strong> arqueiro contra si<br />

mesmo, que lhe penetra nas últimas profundidades. Talvez<br />

ainda não se tenham da<strong>do</strong> conta <strong>do</strong> que estou lhes dizen<strong>do</strong>,<br />

mas sem dúvida concordarão comigo quan<strong>do</strong> se<br />

reencontrarem com seus amigos. Não haverá a mesma<br />

vibração em uníssono de antes, pois vocês passaram a ver as<br />

coisas de maneira diferente e a medi-las com parâmetros até<br />

então não utiliza<strong>do</strong>s. O que estou lhes dizen<strong>do</strong> aconteceu a<br />

mim e a to<strong>do</strong>s os que são toca<strong>do</strong>s pelo espírito dessa arte."<br />

À guisa de uma despedida que ainda iria ocorrer, o<br />

mestre me presenteou com o melhor <strong>do</strong>s seus arcos:<br />

"Quan<strong>do</strong> o senhor atirar com este arco, sentirá que estou<br />

presente. Que jamais seja toca<strong>do</strong> pela mão de um curioso! E<br />

quan<strong>do</strong> ele tiver si<strong>do</strong> supera<strong>do</strong>, isto é, quan<strong>do</strong> já não lhe puder<br />

dar o que espera dele, não o guarde como recordação.<br />

Destrua-o para que nada reste dele, a não ser um punha<strong>do</strong> de<br />

cinzas."<br />

15. O mestre se dirige ao autor e à sua mulher. Não nos esqueçamos de que ela também<br />

fizera o curso, apesar de <strong>Herrigel</strong> não se referir ao seu aprendiza<strong>do</strong>, talvez por achar que<br />

estaria cometen<strong>do</strong> uma profanação se abordasse "de fora" a experiência da mulher ou de<br />

quem quer que fosse. (N. <strong>do</strong> T.)<br />

Apesar de tu<strong>do</strong> o que escrevi até agora, temo que em<br />

muitos leitores perdure a suspeita de que o tiro com arco,<br />

a partir <strong>do</strong> momento em que não foi mais utiliza<strong>do</strong> nas<br />

batalhas homem-a-homem, haja sobrevivi<strong>do</strong> graças a- uma<br />

espiritualidade afetada, pouco saudável. Não posso criticá-los<br />

por pensarem assim.<br />

A persistência dessa suspeita me obriga, uma vez mais,<br />

a lembrar que a influência radical <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> nas artes japonesas<br />

— e, por conseguinte, no tiro com arco — é fato há muitos<br />

séculos. Uma coisa, porém, é certa: um mestre-arqueiro de<br />

épocas remotas, que experimentasse um número incontável<br />

de êxitos, não seria capaz de dizer nada diferente acerca da<br />

sua arte <strong>do</strong> que diz um mestre contemporâneo que serve de<br />

morada para a Doutrina Magna.<br />

Através <strong>do</strong>s séculos, o espírito dessa arte permaneceu<br />

imutável, tal como o <strong>Zen</strong>. Contu<strong>do</strong>, para dissipar qualquer<br />

dúvida — o que é compreensível, como sei por experiência<br />

própria —, lancemos um olhar para outra arte, cuja impor-<br />

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