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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode

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Dessa forma, o tiro com arco se converte numa cerimônia<br />

que interpreta a Doutrina Magna. Embora nessa etapa o<br />

discípulo não tenha apreendi<strong>do</strong> a transcendência <strong>do</strong>s seus<br />

tiros, compreende definitivamente que o tiro com arco não<br />

pode ser um esporte ou um mero exercício físico. E<br />

compreende por que o meramente técnico, enquanto é<br />

aprendi<strong>do</strong>, tem que ser pratica<strong>do</strong> até a exaustão. Isso tu<strong>do</strong><br />

depende de que, esqueci<strong>do</strong>s por completo de nós mesmos e<br />

livres de toda intenção, nos adaptemos ao acontecer: a<br />

execução de algo exterior desenvolve-se com toda a<br />

espontaneidade, prescindin<strong>do</strong> da reflexão controla<strong>do</strong>ra.<br />

Com efeito, a maneira japonesa de ensinar conduz a um<br />

<strong>do</strong>mínio incondicional das formas. Praticar, repetir, repassar o<br />

repeti<strong>do</strong> numa linha ascendente, tais são as suas<br />

características. Pelo menos quanto às artes tradicionais, essa<br />

afirmação é verdadeira. Demonstrar, exemplificar, penetrar o<br />

espírito e reproduzi-lo, tais são as etapas tradicionais da<br />

didática japonesa, apesar de que, durante as últimas gerações,<br />

juntamente com a introdução de novas mudanças, a<br />

meto<strong>do</strong>logia européia tem si<strong>do</strong> assimilada com indiscutível<br />

facilidade. A que se deve, pois, em que pese to<strong>do</strong> entusiasmo<br />

pelo novo, o fato de que as artes nipônicas não tenham si<strong>do</strong><br />

essencialmente afetadas por essa nova didática? Não é fácil<br />

responder a tal pergunta. Contu<strong>do</strong>, tentarei fazê-lo, ainda que<br />

de maneira sumária, com a finalidade de destacar o estilo<br />

<strong>do</strong> ensino e, por conseqüência, o significa<strong>do</strong> da imitação.<br />

O aluno japonês traz consigo três coisas: uma boa<br />

educação, um profun<strong>do</strong> amor pela arte escolhida e uma<br />

veneração incondicional pelo mestre. Desde tempos<br />

ime-morais, a relação entre mestre e discípulo pertence às<br />

relações elementares da vida e ultrapassa muito os limites da<br />

matéria que ensina. No princípio, a única coisa que se lhe<br />

exige é que imite respeitosamente tu<strong>do</strong> o que o mestre faz.<br />

Pouco amigo de prolixos <strong>do</strong>utrinamentos e motivações, ele se<br />

limita a breves indicações e não espera que o aluno faça<br />

perguntas. Observa tranqüilamente suas ações, sem esperar<br />

independência ou iniciativa própria, aguardan<strong>do</strong> com.paciência<br />

o crescimento e a maturação. Os <strong>do</strong>is dispõem de tempo: o<br />

mestre não pressiona, o discípulo não se precipita.<br />

Longe de querer despertar prematuramente o artista, o<br />

mestre considera como sua missão primordial converter o<br />

discípulo num artesão que <strong>do</strong>mine profundamente o ofício, o<br />

que este fará com a sua habitual e pertinaz dedicação e como<br />

se não tivesse aspirações mais elevadas, submeten<strong>do</strong>-se ao<br />

duro aprendiza<strong>do</strong> com resignação, para descobrir, com o<br />

passar <strong>do</strong>s anos, que o <strong>do</strong>mínio perfeito da arte, longe de<br />

oprimir, libera.<br />

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