A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode
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pois, enquanto não suceder, a mão não se abrirá de maneira<br />
adequada, como a da criança."<br />
Tive de admitir diante <strong>do</strong> mestre que essa interpretação<br />
me confundia ainda mais: "Pois sou eu quem estira o arco e<br />
sou eu quem o dispara em direção <strong>do</strong> alvo. Estirar o arco é,<br />
pois, um meio para um fim, e essa relação não pode ser<br />
perdida de vista. A criança, contu<strong>do</strong>, não a conhece e eu,<br />
obviamente, não posso descartá-la."<br />
"A arte genuína", afirmou o mestre, "não conhece nem<br />
fim nem intenção. Quanto mais obstinadamente o senhor se<br />
empenhar em aprender a disparar a flecha para acertar o alvo,<br />
não conseguirá nem o primeiro e muito menos o segun<strong>do</strong><br />
intento. O que obstrui o caminho é a vontade demasiadamente<br />
ativa. O senhor pensa que o que não for feito pelo senhor<br />
mesmo não dará resulta<strong>do</strong>."<br />
"Mas o senhor mesmo me disse muitas vezes que a arte<br />
<strong>do</strong> arqueiro não é um passatempo, um jogo carente de<br />
finalidade, mas uma questão de vida ou morte."<br />
"Eu não me desminto. Nós, os mestres-arqueiros,<br />
dizemos: um tiro, uma vida! Talvez lhe seja difícil compreender<br />
isso, mas posso ajudá-lo com outra imagem que expressa a<br />
mesma vivência. Nós dizemos que com a extremidade<br />
superior <strong>do</strong> arco o arqueiro trespassa o céu; na inferior está<br />
suspensa, por um fio de seda, a terra. Se o tiro for dispara<strong>do</strong><br />
com violência, existe o perigo de que o fio se rompa. Para o<br />
voluntarioso e agressivo, a abismo será, então, definitivo, e ele<br />
permanecerá no centro fatal, entre o céu e a terra, sem jamais<br />
vir a conhecer a salvação."<br />
"Então, o que devo fazer?"<br />
"Tem que aprender a esperar."<br />
"Como se aprende a esperar?"<br />
"Desprenden<strong>do</strong>-se de si mesmo, deixan<strong>do</strong> para trás tu<strong>do</strong><br />
o que tem e o que é, de maneira que <strong>do</strong> senhor nada restará, a<br />
não ser a tensão sem nenhuma intenção."<br />
"Quer dizer que devo, intencionalmente, perder a<br />
intenção?"<br />
"Confesso-lhe que jamais um aluno me fez tal pergunta,<br />
de maneira que não sei respondê-la de imediato."<br />
"Quan<strong>do</strong> começaremos com novos exercícios?"<br />
"Espere até que chegue o momento."<br />
sse prolonga<strong>do</strong> diálogo, o primeiro que mantínhamos<br />
desde o início da minha admissão às aulas, me deixou<br />
perplexo. Finalmente, eu e o mestre tocávamos no tema<br />
pelo qual eu me interessava ao me decidir estudar a arte <strong>do</strong><br />
arqueiro. A liberação de si mesmo, de que ele falava, não era o<br />
caminho que conduzia ao vazio e à meditação? Não era<br />
chega<strong>do</strong>, pois, o momento a partir <strong>do</strong> qual se fazia<br />
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E