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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode

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por causa disso, interrompa prematuramente o tensionamento<br />

<strong>do</strong> arco. Para estirá-lo, <strong>do</strong>bra-se o polegar em torno da corda e<br />

por debaixo da flecha, o indica<strong>do</strong>r, o médio e o anular<br />

prendem-no com firmeza, dan<strong>do</strong> ao mesmo tempo um apoio<br />

seguro à flecha. Disparar significa que os de<strong>do</strong>s que prendem<br />

o polegar se abrem e o liberam. A forte tração da corda tira-o<br />

da posição e o estica: a corda vibra e a flecha é lançada.<br />

Os meus disparos provocavam sacudidelas e trepidação<br />

generalizada no meu corpo, que se transmitiam ao arco e à<br />

flecha. Por causa disso, nenhum tiro era suave e muito menos<br />

acertavam o alvo. Certo dia, quan<strong>do</strong> não encontrava mais<br />

nenhum vício na minha postura, disse-me o mestre: "Tu<strong>do</strong> o<br />

que o senhor aprendeu até agora não foram mais <strong>do</strong> que<br />

exercícios preparatórios para o disparo. Começaremos agora<br />

uma nova etapa, particular-mente difícil, através da qual<br />

atingiremos um novo nível na arte <strong>do</strong> tiro com arco." Em<br />

seguida, pegou o seu arco e o disparou. Só então — e porque<br />

ele me chamou a atenção para esse detalhe — observei que<br />

sua mão direita, aberta repentinamente e liberada de toda<br />

tensão, fez um brusco movimento de retrocesso, sem que o<br />

menor estremecimento percorresse o seu corpo. O braço<br />

direito, que antes <strong>do</strong> disparo formava um ângulo agu<strong>do</strong>, cedeu<br />

à tração e se abriu, com um movimento suave. O impacto<br />

inevitável havia si<strong>do</strong> amortiza<strong>do</strong> e neutraliza<strong>do</strong> elasticamente.<br />

Se a potência <strong>do</strong> disparo não se revelasse pelo estalo<br />

produzi<strong>do</strong> pela corda ao chocar-se com o arco, nem pela<br />

velocidade da flecha, o movimento <strong>do</strong> arqueiro<br />

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não permitiria que suspeitássemos daquilo que víamos.<br />

Executa<strong>do</strong> pelo mestre, o disparo parecia simples e carente de<br />

complexidade, como se fosse uma brincadeira infantil. A<br />

facilidade com que se executa um ato que exige força é, sem<br />

dúvida, um espetáculo cuja beleza o oriental aprecia com<br />

grande prazer. Quanto a mim, parecia mais importante ainda<br />

— e, da<strong>do</strong> o meu estágio de aprendizagem, não podia me<br />

ocorrer outra coisa — que a precisão <strong>do</strong> tiro dependia da<br />

suavidade <strong>do</strong> disparo. Minhas experiências com o fuzil me<br />

ensinaram o quanto contribui para um erro o menor tremor das<br />

mãos.<br />

Tu<strong>do</strong> o que eu havia aprendi<strong>do</strong> até então era: relaxar ao estirar,<br />

permanecer relaxa<strong>do</strong> durante a tensão máxima, estar relaxa<strong>do</strong><br />

ao soltar a flecha e compensar, relaxadamente, o tremor <strong>do</strong><br />

corpo. Afinal, tu<strong>do</strong> isso não estava a serviço da precisão <strong>do</strong> tiro,<br />

isto é, o objetivo para o qual nos dedicamos com tanta<br />

paciência e sofrimento? Por que, então, o mestre agora falava<br />

de um acontecimento que ultrapassaria tu<strong>do</strong> o que havíamos<br />

feito até agora? Eu continuava me exercitan<strong>do</strong> com afinco,<br />

segun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os ensinamentos <strong>do</strong> mestre, mas meus esforços<br />

eram vãos. Muitas vezes, tive a impressão de que antes,<br />

quan<strong>do</strong> disparava com espontaneidade, obtia resulta<strong>do</strong>s<br />

melhores. Eu não podia abrir sem esforço a mão direita<br />

(primeiramente, os de<strong>do</strong>s que prendiam o polegar) e a<br />

conseqüência era uma sacudidela que desviava a flecha no<br />

momento <strong>do</strong> disparo. E era também incapaz de compensar<br />

elasticamente o choque da mão direita liberada. Imperturbável,<br />

o mestre me mostrava de vez em quan<strong>do</strong><br />

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