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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode

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lembrar como era difícil, no princípio, fazer com que a<br />

respiração surtisse o efeito deseja<strong>do</strong> pelo mestre. Eu respirava<br />

de forma tecnicamente correta, mas quan<strong>do</strong>, ao estirar o arco,<br />

me concentrava para que os músculos <strong>do</strong>s braços e <strong>do</strong>s<br />

ombros permanecessem relaxa<strong>do</strong>s, a musculatura das pernas<br />

se contraíam independentemente da minha vontade. Era como<br />

se me fizessem falta uma base firme de apoio e uma postura<br />

sólida e, como Anteu 9 , tivesse que extrair toda a minha energia<br />

da terra.<br />

Muitas vezes, o mestre não tinha outro remédio a não ser<br />

apertar subitamente algum músculo das minhas pernas, em<br />

pontos particularmente sensíveis. Quan<strong>do</strong>, numa dessas<br />

ocasiões, eu lhe disse, à guisa de desculpa, que eu estava me<br />

esforçan<strong>do</strong> para permanecer relaxa<strong>do</strong>, replicou: "Este é o seu<br />

maior erro: o senhor se esforça, só pensa nisso. Concentre-se<br />

apenas na respiração, como se não tivesse de fazer mais<br />

nada!" Entretanto, passou muito tempo antes que eu<br />

conseguisse atender às suas exigências. Mas consegui.<br />

Aprendi a deter-me na respiração tão despreocupadamente<br />

que às vezes tinha a sensação de não respirar, mas de ser<br />

respira<strong>do</strong>, por estranho que pareça. E embora, nas horas de<br />

meditação, eu me defendesse de tão extravagante idéia, já<br />

não podia duvidar que a respiração ocorria exatamente como o<br />

mestre havia prometi<strong>do</strong>.<br />

9. Personagem da mitologia grega, guerreiro indestrutível e cruel que<br />

retirava uma energia descomunal <strong>do</strong> contacto com o solo. (N. <strong>do</strong> T.)<br />

34<br />

Aos poucos e cada vez com maior freqüência, à medida<br />

que se passavam os dias, consegui estirar o arco e mantê-lo<br />

teso com o corpo relaxa<strong>do</strong>, sem que pudesse explicar como<br />

aquilo estava ocorren<strong>do</strong>. A diferença qualitativa entre essas<br />

poucas tentativas satisfatórias e as que com freqüência<br />

fracassavam fizeram com que eu começasse a entender o que<br />

significava estirar o arco espiritualmente. Era este, pois, o<br />

quid da questão: não se tratava de nenhum ardil técnico, que<br />

eu em vão queria descobrir, mas de uma respiração nova, que<br />

me abria inusitadas possibilidades de liberação. Não digo tais<br />

palavras impensadamente: sei muito bem como é grande,<br />

nesses casos, a tentação de sucumbir a uma forte influência e,<br />

enreda<strong>do</strong> por uma falsa ilusão, superestimar o alcance de uma<br />

experiência que por si só é insólita.<br />

O sucesso obti<strong>do</strong> por essa nova maneira de respirar era<br />

evidente demais, a despeito de to<strong>do</strong>s os meus escrúpulos,<br />

condiciona<strong>do</strong>s pela reflexão típica que fazem os espíritos<br />

positivos. Eu já conseguia estirar, relaxadamente, o arco rígi<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> mestre.<br />

Certa ocasião, durante uma longa conversa mantida com<br />

o professor Komachiya, perguntei-lhe por que o mestre havia<br />

observa<strong>do</strong> impassivelmente e durante tanto tempo meus<br />

esforços infrutíferos para estirar o arco espiritualmente. Não<br />

teria si<strong>do</strong> mais fácil que ele tivesse me ensina<strong>do</strong>, desde o<br />

princípio, a respiração correta? "Um grande mestre",<br />

respondeu-me, "tem que ser ao mesmo tempo um grande<br />

educa<strong>do</strong>r, pois para nós esses atributos são inseparáveis. Se o<br />

aprendiza<strong>do</strong> tivesse si<strong>do</strong><br />

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