A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode
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ximar-me paulatinamente <strong>do</strong> <strong>Zen</strong>, e até o mais penoso desvio<br />
era preferível à ausência de um caminho.<br />
Minha mulher aderiu, sem muita hesitação, ao estu<strong>do</strong> de<br />
arranjos florais e à pintura, enquanto que para mim era<br />
atraente o tiro com arco, pois eu supunha (errada mente, como<br />
descobriria mais tarde), que minhas experiências com fuzil e<br />
pistolas seriam úteis.<br />
Pedi a um <strong>do</strong>s meus colegas, Zozo Komachiya, professor<br />
de direito que, desde os vinte anos de idade, tomava aulas de<br />
tiro com arco e era considera<strong>do</strong> o melhor conhece<strong>do</strong>r dessa<br />
arte na Universidade, que me recomendasse como aluno ao<br />
seu preceptor, o célebre mestre Kenzo Awa.<br />
De início, o famoso mestre recusou meu pedi<strong>do</strong>,<br />
alegan<strong>do</strong> que já se havia deixa<strong>do</strong> convencer por um<br />
estrangeiro para ensiná-lo e que os resulta<strong>do</strong>s foram muito<br />
desagradáveis. Por isso, não estava disposto a aceitar um<br />
novo pedi<strong>do</strong>, pois temia prejudicar o aluno com o espírito<br />
peculiar dessa arte. Somente quan<strong>do</strong> lhe assegurei que um<br />
mestre que tomava tão a sério sua missão tinha o direito de<br />
tratar-me como o mais jovem <strong>do</strong>s discípulos — porque eu não<br />
desejava aprender a arte para divertir-me, mas para penetrar<br />
na Doutrina Magna —, ele me aceitou, a mim e à minha<br />
mulher, como alunos. Era costume no Japão iniciar também as<br />
mulheres nesta arte, motivo pelo qual a mulher <strong>do</strong> meu mestre<br />
e as suas filhas se exercitavam assiduamente.<br />
Assim começou um árduo e intenso aprendiza<strong>do</strong>,<br />
durante o qual participava como intérprete, para nossa satis-<br />
fação, o professor Komachiya, que com tanta insistência havia<br />
intercedi<strong>do</strong> em nosso favor, oferecen<strong>do</strong>-se quase como um<br />
avalista.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a oportunidade de assistir, na qualidade<br />
de ouvinte, às aulas de arranjos florais e de pintura<br />
freqüentadas por minha mulher, me permitia obter, mediante<br />
comparações com outras artes complementares, uma base<br />
mais ampla para auxiliar minha compreensão.<br />
esde a primeira aula, fomos alerta<strong>do</strong>s de que o caminho<br />
que conduz à arte sem arte é áspero. Primeira-mente, o<br />
mestre nos mostrou os arcos japoneses e nos explicou<br />
que sua extraordinária elasticidade era resulta<strong>do</strong> de sua<br />
construção peculiar e das características <strong>do</strong> bambu, ou seja,<br />
<strong>do</strong> material de que eram construí<strong>do</strong>s. Depois, ele nos chamou<br />
a atenção para a forma nobre que possui o arco, de quase <strong>do</strong>is<br />
metros de comprimento, quan<strong>do</strong> arma<strong>do</strong> com a corda, e que se<br />
manifesta de maneira surpreendente quanto mais é<br />
tensiona<strong>do</strong>. "Quan<strong>do</strong> estiramos a corda ao máximo", disse-nos<br />
o mestre, "o arco<br />
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