A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode
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deste mo<strong>do</strong>, a arte <strong>do</strong> tiro com arco representa, por assim dizer,<br />
um curso preparatório ao <strong>Zen</strong>, pois graças a ela é possível que<br />
um acontecimento à primeira vista incompreensível se torne<br />
transparente, o que por si mesmo antes era impossível.<br />
Do ponto de vista factual, partin<strong>do</strong> de cada uma das artes<br />
mencionadas anteriormente, é possível iniciar-se uma<br />
caminhada com destino ao <strong>Zen</strong>. Contu<strong>do</strong>, parece-me que<br />
posso alcançar minha meta de maneira mais eficiente se<br />
descrever a trajetória percorrida por um discípulo da arte <strong>do</strong>s<br />
arqueiros.<br />
Durante quase seis anos de permanência no Japão, fui<br />
instruí<strong>do</strong> por um <strong>do</strong>s mais eminentes mestres daquela arte.<br />
Tratarei, aqui, de expor os acontecimentos ocorri<strong>do</strong>s durante<br />
tão longo aprendiza<strong>do</strong> de maneira mais clara possível, pois<br />
estarei falan<strong>do</strong> da minha experiência pessoal. Mas para ser<br />
compreendi<strong>do</strong>, ainda que de maneira aproximada — porque<br />
mesmo a instrução preliminar oferece muitos enigmas —, nada<br />
mais posso fazer além de relatar com detalhes to<strong>do</strong>s os<br />
obstáculos que tive que vencer e todas as inibições que fui<br />
obriga<strong>do</strong> a superar, antes de conseguir penetrar no espírito da<br />
Doutrina Magna.<br />
Falo de mim mesmo porque não vejo outra possibilidade<br />
de atingir a minha meta. Pela mesma razão, limitar-me-ei a<br />
descrever o essencial, para que ele se destaque com maior<br />
nitidez. E abster-me-ei deliberadamente de descrever o<br />
ambiente onde se realizou meu aprendiza<strong>do</strong> e de evocar<br />
cenas fixadas na minha memória e, sobretu<strong>do</strong>,<br />
de esboçar a figura <strong>do</strong> meu mestre, em que pese o fascínio<br />
que ele ainda exerce em mim. Limitar-me-ei a descrever a arte<br />
<strong>do</strong> tiro com arco, tarefa muitas vezes mais difícil <strong>do</strong> que sua<br />
própria aprendizagem. E levarei minha exposição até o ponto<br />
em que se vislumbram os remotos horizontes por trás <strong>do</strong>s<br />
quais o <strong>Zen</strong> respira.<br />
Cabe-me explicar por que me dediquei ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> e<br />
por que, a fim de me facilitar seu estu<strong>do</strong>, me propus a<br />
aprender a arte <strong>do</strong>s arqueiros. Já nos meus tempos de<br />
universitário, como que anima<strong>do</strong> por um misterioso impulso,<br />
ocupava-me com o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> misticismo, não obstante viver<br />
numa época que demonstrava pouco interesse por tais<br />
inquietações. Mas apesar de to<strong>do</strong>s os meus esforços, sempre<br />
tive consciência de que não poderia apreender os<br />
ensinamentos místicos de um ponto de vista externo. Eu era<br />
capaz, é verdade, de compreender o que se pode chamar de<br />
fenômeno místico primário, mas não me era possível<br />
transpor o círculo que, como uma alta muralha, cerca o<br />
misterioso.<br />
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