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A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode

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para que se possa fazer pouco caso dela. Assim, não exige<br />

muito quem, ceden<strong>do</strong> a impulsos de uma grande afinidade<br />

espiritual, e em busca <strong>do</strong> poder que produz resulta<strong>do</strong>s tão<br />

poderosos (não falamos aqui <strong>do</strong> mero curioso, é óbvio), espera<br />

que o zen-budista descreva, pelo menos, o caminho que o<br />

conduziu à sua meta.<br />

Nenhum místico, nenhum zen-budista será mais o<br />

mesmo depois que houver da<strong>do</strong> o primeiro passo e atingir sua<br />

autoperfeição. Quantas coisas terá de vencer e deixar para trás<br />

até que, por fim, encontre a verdade... Quantas vezes será<br />

acometi<strong>do</strong>, durante sua caminhada, da sensação de estar<br />

aspiran<strong>do</strong> o impossível... E, não obstante, chegará o dia em<br />

que o impossível se transformara no possível e, mais ainda, no<br />

natural. Então, não será lícito esperarmos uma descrição<br />

minuciosa de tão longa e cansativa jornada que nos permita,<br />

pelo menos, perguntar se nos atreveremos a percorrê-la?<br />

Porém, tais descrições faltam quase que por complô na<br />

literatura <strong>Zen</strong>. Isso se deve, por um la<strong>do</strong>, ao fato de que o<br />

adepto <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> se recusa sistematicamente a oferecer uma<br />

espécie de Manual para alcançar a bem-aventurança, pois<br />

sabe pela própria experiência que ninguém é capaz de<br />

percorrer o caminho <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> e nem chegar ao seu final sem a<br />

ajuda de um mestre. Sabe também como é decisivo que suas<br />

vivências, vitórias e transformações, embora suas, sejam<br />

vencidas e modificadas muitas e muitas vezes, até que tu<strong>do</strong> o<br />

que seja seu tenha si<strong>do</strong> aniquila<strong>do</strong>. É somente a esse preço<br />

que ele pode encontrar a base da experiência que, sintetizada<br />

na verdade<br />

universal, o desperta para uma vida que não mais será sua<br />

vida pessoal, cotidiana. Transmuda<strong>do</strong> a esse esta<strong>do</strong>, ele vive<br />

sem que seja ele que esteja viven<strong>do</strong>.<br />

Compreende-se, assim, por que o adepto <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> evita<br />

falar de si mesmo e da sua evolução. Não porque o considere<br />

uma tagarelice imodesta, mas porque vê nisso uma traição ao<br />

espírito <strong>do</strong> <strong>Zen</strong>. A simples decisão de dizer qualquer coisa a<br />

respeito <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> exige um sério exame de consciência, pois tem<br />

diante de si o célebre exemplo de um <strong>do</strong>s maiores mestres que,<br />

interroga<strong>do</strong> sobre a natureza <strong>do</strong> <strong>Zen</strong>, permaneceu em silêncio,<br />

imutável como se nada tivesse ouvi<strong>do</strong>. Assim, é concebível que<br />

o adepto verdadeiro sucumba à tentação de prestar contas<br />

sobre o que deu de si e sobre o que não lhe faz falta.<br />

Diante disso, seria irresponsável de minha parte oferecer<br />

fórmulas complicadas e para<strong>do</strong>xais, expostas em palavras de<br />

efeito. Meu desejo é, ao contrário, fazer reluzir a essência <strong>do</strong><br />

<strong>Zen</strong> através <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como se manifesta numa das artes por<br />

ele eleita. Esse reluzir não é, porém, a iluminação, na acepção<br />

de um termo tão fundamental para o <strong>Zen</strong>, mas insinua, pelo<br />

menos, a presença de algo, como o súbito clarão de um<br />

relâmpago longínquo que vemos através da neblina espessa 8 .<br />

Apreendida<br />

8. Existem muitas versões da iluminação <strong>do</strong> Buda Gautama. A mais aceita é<br />

que ele permaneceu senta<strong>do</strong> durante sete dias debaixo de uma árvore, até atingir<br />

o esta<strong>do</strong> bodhi ou iluminação suprema: já não era mais o príncipe Sidarta, mas<br />

o Buda. (N. <strong>do</strong> T.)<br />

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