A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen (Eugen Herrigel - Webnode
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volta a ser discípulo; o inicia<strong>do</strong>, principiante; o fim, começo, e o<br />
começo, consumação.<br />
Para os ocidentais, habitua<strong>do</strong>s a conceitos mais claros,<br />
tais formulações — familiares aos habitantes <strong>do</strong> Extremo<br />
Oriente — são de difícil apreensão, levan<strong>do</strong> quase sempre à<br />
perplexidade. É por essa razão que convém irmos buscar sua<br />
origem longínqua.<br />
Não é nenhum segre<strong>do</strong> o fato de que no Japão as artes<br />
têm no budismo a sua raiz comum. Essa constatação é válida<br />
tanto para a arte <strong>do</strong>s arqueiros, como para a pintura, para a<br />
arte dramática, da esgrima, da cerimônia <strong>do</strong> chá e <strong>do</strong>s arranjos<br />
florais. Isso significa, em primeiro lugar, que todas essas artes<br />
pressupõem — e, segun<strong>do</strong> sua ín<strong>do</strong>le, cultivam<br />
conscientemente — uma atitude espiritual que em sua forma<br />
mais elevada é característica <strong>do</strong> budismo, e determinam as<br />
características essenciais que devem ter os sacer<strong>do</strong>tes que as<br />
difundem.<br />
É importante lembrarmos que ao, falar em budismo, não<br />
temos em mente o budismo meramente especulativo (que, por<br />
ter si<strong>do</strong> divulga<strong>do</strong> em livros e artigos acessíveis, é o único que<br />
o Ocidente conhece), mas o budismo dhyana 5 , chama<strong>do</strong> de<br />
<strong>Zen</strong> no Japão. Mesmo naqueles que supõem conhecê-lo<br />
basea<strong>do</strong>s em experiências marcantes e poderosas, os órgãos<br />
habituais da compreensão não conseguem<br />
5. Dhyana é um termo técnico da ioga, que conota a concentração <strong>do</strong> espírito sobre um<br />
objeto único e não é, rigorosamente, o mesmo que <strong>Zen</strong>, embora ambos derivem da<br />
palavra chinesa Ch'an-na. O autor tem razão, apenas <strong>do</strong> ponto de vista etimológico, em<br />
identificá-los. (N. <strong>do</strong> T.)<br />
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captá-lo, pois ele não é uma simples especulação, mas<br />
experiência única que o intelecto não pode conceber. Em<br />
resumo: só o conhece quem o ignora.<br />
Com o objetivo de vivenciar essas experiências, o<br />
budismo <strong>Zen</strong> segue por caminhos que, através de um<br />
recolhimento metódico e sistemático, conduzem o homem a<br />
perceber, no mais profun<strong>do</strong> da sua alma, o inefável que carece<br />
de fun<strong>do</strong> e de forma. Em relação ao tiro com arco, isso significa<br />
(expresso de maneira bastante aproximada e talvez por isso<br />
passível de uma interpretação errônea) que os exercícios<br />
espirituais suscetíveis de constituir uma arte da técnica<br />
esportiva sejam exercícios mestiços. O tiro com arco não<br />
persegue um resulta<strong>do</strong> exterior, com o uso <strong>do</strong> arco e da flecha,<br />
mas uma experiência interior, muito mais rica.<br />
Arco e flecha são, por assim dizer, nada mais <strong>do</strong> que<br />
pretextos para vivenciar algo que também poderia ocorrer sem<br />
eles; pois são apenas auxiliares para o arqueiro dar o salto<br />
último e decisivo 6 . Assim, nada melhor nos ocorre <strong>do</strong> que<br />
recorrer a exposições <strong>do</strong>s adeptos <strong>do</strong> <strong>Zen</strong> com o objetivo de<br />
nos aprofundarmos na compreensão desse assunto. Assim,<br />
por exemplo, D. T. Suzuki, em seus<br />
6. Essa expressão, que pode parecer obscura para muitos leitores, é a vivência <strong>do</strong> satóri,<br />
que é, no fun<strong>do</strong>, a meta única <strong>do</strong> <strong>Zen</strong>-budismo, essencial para atingir o nirvana. (N. <strong>do</strong> T.)<br />
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