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ernest robert de carvalho mange - Centro de Referência em ...

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ERNEST ROBERT DE CARVALHO MANGE<br />

Ernest Robert <strong>de</strong> Carvalho Mange nasceu <strong>em</strong> São Paulo, <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong> bro <strong>de</strong><br />

1922. Filho <strong>de</strong> pai suíço, engenheiro e professor da Escola Politécnica, e <strong>de</strong><br />

m ãe professora, ingressou no Jardim da I nfância da Escola Mo<strong>de</strong>lo Caetano<br />

<strong>de</strong> Cam pos <strong>em</strong> 1927, on<strong>de</strong> cursou tam bém o prim ário. Arquiteto e urbanista,<br />

participou da construção <strong>de</strong> várias escolas públicas nos anos 70 e também <strong>de</strong><br />

várias unida<strong>de</strong>s das Escolas Senai. Foi professor na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Com o presi<strong>de</strong>nte da Em urb, Em presa Municipal <strong>de</strong> Urbanização,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a preservação do prédio da Escola Caetano <strong>de</strong> Cam pos, am eaçada<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>m olição pelas obras do Metrô paulistano. Foi prim eiro diretor<br />

superinten<strong>de</strong>nte e responsável pela elaboração da política cultural do<br />

Instituto Cultural Itau. É artista plástico.<br />

I<strong>de</strong>ntificação do <strong>de</strong>poente<br />

Muito b<strong>em</strong> , m eu nom e é Ernest Robert <strong>de</strong> Carvalho Mange. De passag<strong>em</strong> , hoje<br />

sou s<strong>em</strong> pre cham ado <strong>de</strong> Ernest Robert (pronúncia inglesa), por causa da<br />

influência da cultura anglo-saxã, atualm ente, no Brasil. Eu nasci aqui <strong>em</strong> São<br />

Paulo mesmo, 28 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1922.<br />

Família<br />

A m inha fam ília é um a fam ília tipicam ente brasileira, no sentido <strong>de</strong> que m inha<br />

m ãe, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> v<strong>em</strong> o Carvalho, era um a m oça <strong>de</strong> fazenda do interior <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Meu avô m aterno era o capitão da Guarda Nacional* , chefe político da<br />

região <strong>de</strong> Descalvado. I saías Pereira <strong>de</strong> Carvalho. Meu pai, Roberto Mange, era<br />

<strong>de</strong> nascim ento suíço-francês, <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> fam ília francesa, nascido na Suíça,<br />

no Cantão <strong>de</strong> Vaud, num a cida<strong>de</strong>zinha cham ada La Tour <strong>de</strong> Peilz. E ele, <strong>em</strong><br />

1913, v<strong>em</strong> para o Brasil, para São Paulo, convidado pela Escola Politécnica,<br />

para lecionar Mecânica Aplicada às Máquinas, e aqui conheceu m inha m ãe,<br />

aconteceu o romance e tal, e casaram <strong>em</strong> 1914.<br />

Infância<br />

Com essas duas culturas, um a b<strong>em</strong> brasileira, com antepassados portugueses,<br />

e a outra um a cultura m arcadam ente francesa, era um a coisa m ista. A casa<br />

tinha, por ex<strong>em</strong> plo, vam os pegar um a coisa fácil para enten<strong>de</strong>r, a<br />

alim entação: eu aprendi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, a gostar m uito <strong>de</strong> doce <strong>de</strong> coco<br />

am arelinho, que é b<strong>em</strong> brasileiro, e gostar m uito <strong>de</strong> cuscuz, que a m inha m ãe<br />

fazia m uito b<strong>em</strong> . Aliás, ela <strong>de</strong>ixou essa receita, a m inha m ulher apren<strong>de</strong>u com<br />

ela, m inhas filhas e, hoje, as m inhas netas faz<strong>em</strong> o cuscuz, é curioso. E, ao<br />

m esm o t<strong>em</strong> po, a gente tinha, por ex<strong>em</strong> plo, lá <strong>em</strong> casa um prato que s<strong>em</strong> pre<br />

aparecia, o rostie, que é um tipo <strong>de</strong> batata m uito característico da alim entação<br />

suíça... e a sopa, que se cham a lá na Suíça <strong>de</strong> bouillion genevois, que é um<br />

caldo com om elete cortadinha <strong>em</strong> pedacinhos pequenininhos e lá jogado o<br />

caldo, e eu adoro até hoje. Então, <strong>em</strong> tudo o que tinha nas pare<strong>de</strong>s, nos


m óveis, tinha as duas influências. Tanto os m eus irm ãos com o eu fom os<br />

bilíngües, apren<strong>de</strong>m os a falar o português junto com o francês. Quando<br />

perguntam qual foi m inha língua m aterna, eu fico <strong>em</strong> dúvida, porque não m e<br />

l<strong>em</strong> bro, quando era <strong>em</strong> que língua m inha m ãe falava com igo, por sinal eram<br />

as duas, que eu consegui dom inar razoavelm ente. Quando eu falo francês, m e<br />

diz<strong>em</strong> que eu falo francês m uito b<strong>em</strong> ... português vocês po<strong>de</strong>m aj uizar da sua<br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

Eu era muito bom <strong>em</strong> duas coisas: <strong>em</strong> Artes Plásticas e <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática. Eu era<br />

m uito lógico, s<strong>em</strong> pre fui, havia um a expectativa que eu fosse seguir a<br />

profissão do pai: ser engenheiro. E a parte <strong>de</strong> Artes Plásticas era vista na<br />

m inha casa <strong>de</strong> um a m aneira m uito curiosa, porque tanto m eu pai, um<br />

engenheiro m ecânico, e m inha m ãe, artista tam bém , poetisa, enfim , com um<br />

senso poético m uito <strong>de</strong>senvolvido, conhecia m uito b<strong>em</strong> literatura, falava<br />

francês m uitíssim o b<strong>em</strong> , falava inglês. Mas apesar disso eu era cham ado <strong>em</strong><br />

casa, <strong>de</strong> um a m aneira um pouco pejorativa, “ l’artist” . Por um a oposição ao<br />

m eu irm ão m ais velho, que não tinha nada <strong>de</strong> artista, e <strong>de</strong>pois foi ser<br />

advogado. Então eu m e via assim nessa dialética entre artes e ciência, entre<br />

<strong>em</strong> oção e razão, eu vivi isso <strong>de</strong> um a form a m uito forte <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança. E a<br />

expectativa que eu sentia é que o lado razão tinha que dominar.<br />

Minha fam ília era <strong>de</strong> classe m édia, <strong>de</strong> nível bom . Meu pai era professor<br />

universitário. Tinha um a coisa que s<strong>em</strong> pre distinguia nossa fam ília e m e<br />

distinguia m uito <strong>de</strong> m uitos colegas: eu tinha autom óvel. Naquela época, ter<br />

carro era raro. Mas quando nasci m eu pai já tinha um Ford Bigo<strong>de</strong>. Por que<br />

cham ava Bigo<strong>de</strong>? Porque tinha, <strong>de</strong> um lado, o afogador m anual, e do outro<br />

lado o câmbio, parecia um bigo<strong>de</strong>. Não t<strong>em</strong> nada com a escola primária, mas é<br />

interessante: quando você tinha um esforço m uito gran<strong>de</strong> na subida, por<br />

ex<strong>em</strong> plo, ele escorregava, então ele precisava subir <strong>de</strong> m archa a ré. Mas,<br />

enfim , nós éram os ricos porque nós tínham os um carro <strong>de</strong>sse. Então, isso<br />

influenciou m uito a m inha vida inteira. Nos m eus <strong>de</strong>senhos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança,<br />

s<strong>em</strong> pre tiveram a presença do autom óvel. Não é com o hoje, que um a fam ília<br />

t<strong>em</strong> quatro ou cinco autom óveis, fam ília classe m édia, m édia alta com o era a<br />

nossa, ter um automóvel era uma coisa.<br />

Formação: Pré-Escola<br />

Freqüentava a Caetano um a elite <strong>de</strong> São Paulo porque, sendo um a escola<br />

pública, era procurada por um a quantida<strong>de</strong> gigantesca <strong>de</strong> gente. E eu vim a<br />

perceber isso <strong>de</strong>pois, m e apercebi claram ente que as fam ílias que tinham<br />

acesso à Secretaria da Educação conseguiam m atricular seus filhos rápido, e<br />

os que não tinham acesso ficavam s<strong>em</strong> pre para o ano que v<strong>em</strong> . E o m eu pai,<br />

evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong> ente, com o professor da Escola Politécnica, que na época tinha um<br />

prestígio enorm e, conseguiu m e m atricular. Meus irm ãos já não fizeram , levou<br />

anos para os m eus pais <strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong> isso daí. Vou citar dois nom es <strong>de</strong><br />

com panheiros que m e acom panharam os dois anos <strong>de</strong> Jardim <strong>de</strong> I nfância e os<br />

quatro anos do Prim ário: um é o atual vice-prefeito <strong>de</strong> São Paulo, que foi ser<br />

advogado, o Hélio Bicudo. O outro, do qual m e tornei bastante am igo,<br />

com panheiro tam bém , no pré-Politécnico e na Poli, é o senhor Olavo Setúbal,


hoje o diretor-presi<strong>de</strong>nte do Conselho <strong>de</strong> Adm inistração da I tausa, que é um<br />

grupo <strong>de</strong> <strong>em</strong> presas. I sso para dar um a idéia do nível das pessoas. Não sei se<br />

todos eram assim.<br />

Olha, eu tinha cinco, eu fiz o pré-prim ário, hoje cham ado escola m aternal. No<br />

quinto ano da m inha vida e no sexto ano da m inha vida. Depois term inado<br />

entrei no prim ário exatam ente com sete, porque com o eu faço anos <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, caminhava certinho.<br />

Eu fui apavorado para a escola. S<strong>em</strong> pre fui um a criança m uito tím ida, as<br />

prim eiras vezes que eu fui à escola foi.... eu m e l<strong>em</strong> bro até hoje. Apesar <strong>de</strong><br />

ser uma escola maravilhosa, fiquei apavorado.<br />

A escola era m aravilhosa, era o Jardim <strong>de</strong> I nfância da Caetano <strong>de</strong> Cam pos* .<br />

Ela foi <strong>de</strong>m olida. Ficava num terreno que hoje é a continuação da então Rua<br />

São Luís, hoje Avenida São Luís. Ela atravessava essa rua, hoje avenida, que<br />

corta a I piranga e continua, na parte <strong>de</strong> trás do edifício, que ainda está lá, da<br />

Escola Caetano <strong>de</strong> Cam pos* . Nessa área entre a atual I piranga e o fim<br />

daquela rua, quando com eça a Marquês <strong>de</strong> I tu, era um a área ver<strong>de</strong>,<br />

lindíssim a, tinha árvores frondosas, tinha palm eiras, um a beleza. No centro<br />

<strong>de</strong>la tinha um edifício octogonal, se não m e engano, com colunas <strong>de</strong> ferro<br />

fundido, um a arquitetura m uito do fim do século XI X com eço do século XX e já<br />

com influência do Art Nouveau* . Era um a coisa m uito interessante, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

criança s<strong>em</strong> pre fui m uito fascinado por tudo que afeta a vista, pelos valores<br />

plásticos. Eu não sabia dizer nada disso, m as eu ficava fascinado com aquelas<br />

form as. Me l<strong>em</strong> bro que, no prim eiro ano, toda hora, a professora, aliás eram<br />

várias professorinhas, norm alistas* que lidavam com as crianças lá para ir<strong>em</strong><br />

treinando. Era um a sala só, um salão octogonal. Tinha crianças <strong>de</strong> cinco, seis,<br />

sete anos, form avam grupinhos <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> m esinhas que eram m uito<br />

sim páticas, com ca<strong>de</strong>irinhas. Eu gostava m uito <strong>de</strong>sse am biente (soube outro<br />

dia que esses móveis foram encontrados e recuperados, acho fantástico).<br />

Mas eu não gostava nada da escola, aliás carreguei isso a m inha vida inteira.<br />

Não gostava <strong>de</strong> ter que ir lá todo dia, naqueles horários, porque eu sentia, era<br />

um a criança m uito sensível, que tinha perdido para todo o s<strong>em</strong> pre a m inha<br />

liberda<strong>de</strong>.<br />

As ativida<strong>de</strong>s eram agradáveis, não eram coisas im positivas. Eu já fazia um as<br />

tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar aquelas alegorias, com lápis <strong>de</strong> cor. Eu fui m e dando<br />

conta com o passar dos anos que era m uito m ais um a questão <strong>de</strong><br />

sociabilização da criança diante <strong>de</strong> lição dos m étodos, disciplina, <strong>de</strong> horário,<br />

aquilo que justam ente eu repugnava. Era m uito m ais um treinam ento nesse<br />

sentido do que uma instrução; transmissão <strong>de</strong> informações não era o objetivo.


A gente brincava m uito, naquela época que não existia os brinquedinhos <strong>de</strong><br />

teclinha, boa parte dos brinquedos eram brinquedos feitos por artesãos, eram<br />

cubos <strong>de</strong> m a<strong>de</strong>ira que se encaixavam , cavalinhos <strong>de</strong> m a<strong>de</strong>ira, não era um a<br />

produção tecnológica. Era m ais um a tradição que vinha <strong>de</strong> séculos <strong>de</strong> fornecer<br />

às crianças alguns m eios, não havia todo o palavreado bonito <strong>de</strong> hoje, m as na<br />

verda<strong>de</strong> esse foi o m eio <strong>de</strong> expressão. A gente se sentia b<strong>em</strong> nesse sentido, o<br />

que eu não gostava é que tinha que ir todo dia, na hora certa. Tinha uma certa<br />

disciplina realm ente im posta, a criança não podia se levantar, sair correndo, ir<br />

para fora. Tinha que ficar lá, essa coisa que eu não achava agradável. Mas o<br />

resto não era <strong>de</strong>sagradável.<br />

Jardim da Infância, construído atrás da Escola Normal “Caetano <strong>de</strong> Campos”, <strong>de</strong>molido <strong>em</strong><br />

1939. Fonte: ROCCO, Salvador et al. (Org.). Poliantéia com<strong>em</strong>orativa: 1846-1946; primeiro<br />

centenário do ensino normal <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo: s. n., s. d.<br />

Pré-Escola: Relação Professor-Aluno<br />

A relação com a professora era boa. Eu acho que talvez tenha sido o prim eiro<br />

lugar que eu com ecei a m e interessar por m ulheres que não eram a m inha<br />

m ãe só! Mas a verda<strong>de</strong> é que eram m oças sim páticas, agradáveis, levavam<br />

isso <strong>de</strong> um a m aneira m uito m aternal. No prim eiro ano era a Professora<br />

Antonieta. Eu adorava ela, m e l<strong>em</strong> bro que m e dava m uito b<strong>em</strong> , eu nunca tive<br />

probl<strong>em</strong>as com professoras, s<strong>em</strong>pre tive probl<strong>em</strong>as com professores.<br />

Formação: Escola Primária<br />

Continuei na Caetano <strong>de</strong> Cam pos. Eu não l<strong>em</strong> bro <strong>de</strong> ter sentido choque forte.<br />

A gente tinha lições, tinha aulas que eram <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> , <strong>de</strong> aritm ética,<br />

cham ava-se assim , aquela aritm eticazinha el<strong>em</strong> entar: as quatro operações e<br />

tal. O que eu não gostava m uito era que eu tinha que ficar m uito disciplinado;<br />

e eu não era um a criança disciplinada, apesar do m eu pai suíço. E eu não<br />

gostava <strong>de</strong>ssas regras.<br />

Escola Primária: organização, currículo e métodos <strong>de</strong> ensino


Um a coisa que m udou do pré-prim ário, do jardim da infância, para o prim ário:<br />

eram as aulas caligrafia* . Tinha que preencher aquele ca<strong>de</strong>rno com as<br />

linhazinhas, então, “ João t<strong>em</strong> um cachorro” , “ O cachorro cham a, tá, tá, tá” e<br />

tinha que fazer aquilo <strong>de</strong>z, quinze vezes, preencher aquela página. Eu queria<br />

m orrer com isso aí, s<strong>em</strong> pre fui m uito inconform ado com essas im posições da<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

No prim ário tinha a cartilha. Acho que cham ava-se cartilha Erasm o Braga.<br />

Tinha pequenas historietas e, no fim <strong>de</strong> cada capítulo, tinha um questionário,<br />

com exercícios com o escrever um a frase com tal palavra ou com duas<br />

palavras. À m edida que ia subindo do prim eiro para o quarto ano eles<br />

tornavam -se m ais com plexos, a linguag<strong>em</strong> tam bém era m ais rica, não é. Mas,<br />

eu m e l<strong>em</strong> bro que eu achava interessante a cartilha, guar<strong>de</strong>i m uito o nom e.<br />

Até o quarto ano tínhamos somente uma professora.<br />

Também tinha aula <strong>de</strong> ginástica. Era mais uma brinca<strong>de</strong>ira. Não tinha uniforme<br />

<strong>de</strong> ginástica; íamos para o pátio, saltávamos, corríamos, tinha uma brinca<strong>de</strong>ira<br />

<strong>de</strong> correr, fazer rodinhas, saltar sela. Era saudável, s<strong>em</strong> dúvida, mas não, acho<br />

que o professor treinado para a Educação Física surgiu b<strong>em</strong> <strong>de</strong>pois.<br />

No prim ário havia certas noções <strong>de</strong> Ciências. Eu m e l<strong>em</strong> bro até hoje que<br />

aprendi, ex<strong>em</strong> plo, o m ovim ento <strong>de</strong> rotação da Terra, e que o eixo era<br />

inclinado, portanto, a obliqüida<strong>de</strong> eclíptica. Muita gente fica assustado quando<br />

se fala nesses term os, m as eu aprendi isso lá no prim ário. E o m ovim ento <strong>de</strong><br />

translação que por causa da obliqüida<strong>de</strong> eclíptica provocava as estações. E eu<br />

gravei isso tão b<strong>em</strong> que, já aos <strong>de</strong>z anos, eu criticava os jornais que diziam<br />

que no dia 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong> bro com eça o verão. I sso é um absurdo total, não é<br />

que com eça o verão, é o m áxim o do verão, é o dia m ais com prido do ano,<br />

teoricam ente, seria o m ais quente. Eu tinha aprendi isso no Prim ário. Eu m e<br />

l<strong>em</strong> bro que saí do Prim ário sabendo as escalas, Celsius, Fahrenheit, e outras.<br />

E t<strong>em</strong> m uita gente que faz o Ginásio hoj e e que não sabe. Então, ela era um a<br />

escola interessante, não podia existir nos Estados Unidos, n<strong>em</strong> hoje, passados<br />

70 anos! Porque era um a escola evolucionista. Os m esm os conceitos da Teoria<br />

da Evolução <strong>de</strong> Darwin* eu os recebi lá, na Caetano. Não havia a polêm ica<br />

criacionista versus evolucionista, essa coisa que envolve os Estados Unidos até<br />

hoje. Nós éramos <strong>de</strong>claradamente evolucionistas.<br />

Tecnologia não tinha nenhum a. Projeção, n<strong>em</strong> pensar! Projetores não havia<br />

nada; reprodução <strong>de</strong> docum entos, eu só com ecei a ouvir falar disso quando<br />

estava no Ginásio.<br />

A Escola Caetano <strong>de</strong> Cam pos era um a escola que no início se form ou ainda<br />

sobre fluxo das idéias <strong>de</strong> Pestalozzi* , m as <strong>de</strong>pois ela foi adquirindo idéias <strong>de</strong><br />

Montessori*.<br />

Escola Primária: Material Escolar<br />

Eu tinha um estojozinho <strong>de</strong> m a<strong>de</strong>ira, tinha um a tam pinha que cobria. Nele eu<br />

guardava os lápis <strong>de</strong> cor e o lápis célebre, que m e perseguiu a vida inteira, m e


tornei um m enino no m undo <strong>de</strong>le. Era o “ John Faber nº 3” . Não sei por que<br />

s<strong>em</strong> pre inventaram esse “ nº 3” ; até hoje, é o que se vê <strong>em</strong> tudo quanto é<br />

lugar, e eu <strong>de</strong>pois, pelo resto <strong>de</strong> m inha vida, fiquei traum atizado e fiz um a<br />

cam panha contra o “ nº 3” , porque “ nº 3” é um lápis duro. O “ nº 2” é m ais<br />

m ole, o “ nº 1” m ais m ole ainda. Então, eu s<strong>em</strong> pre achei que o lápis m ais m ole<br />

dava m ais liberda<strong>de</strong>. Muitos anos <strong>de</strong>pois, quando eu fui professor <strong>de</strong> Desenho<br />

Artístico, inclusive, eu encontrei num livro um a expressão que m e l<strong>em</strong> bro até<br />

hoje: “ Lápis e papel <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser um a coisa tal que a pessoa quando vai<br />

<strong>de</strong>senhando, a idéia puxa o lápis e o lápis puxa a idéia” . E esse tal lápis “ nº 3”<br />

é que n<strong>em</strong> uma talha<strong>de</strong>ira, não puxa idéia.<br />

Quando a gente crescia, <strong>de</strong>pois do segundo ou terceiro ano, não m e l<strong>em</strong> bro<br />

b<strong>em</strong> , a gente tinha direito <strong>de</strong> pedir, e os pais com pravam , um estojozinho <strong>de</strong><br />

lápis <strong>de</strong> cor, que tinha aquele arco-íris todo. Tinha mais liberda<strong>de</strong>, enfim.<br />

Tinha um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> , um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> português, ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong><br />

caligrafia, ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, não tinha linhas.<br />

Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> caligrafia<br />

utilizado por Mange.<br />

Depois <strong>de</strong> um certo t<strong>em</strong> po que a gente trabalhava com lápis nº 3” , acho que<br />

no terceiro ano, ou fim do segundo, a gente com eçava a usar a tinta. Então,<br />

aquelas carteiras tinham à direita um certo <strong>de</strong>pósito para a tinta ferruginosa,<br />

que era horrenda porque m anchava a roupa, os <strong>de</strong>dos da gente, m anchava<br />

tudo. E aí a gente levava no tal estojinho um a caneta e um a peninha. E aí<br />

m ergulhava a peninha lá no tinteiro e escrevia. Fazia parte do equipam ento o<br />

mata-borrão. Cada vez que terminava <strong>de</strong> escrever qualquer coisa, mata-borrão<br />

<strong>em</strong> cim a. De qualquer m aneira, era um a sujeira danada. Então, quando eu<br />

passei para o quarto ano, eu ganhei um a caneta-tinteiro que, então, não


precisava m ais usar aquele negócio. Não era um a Mont Blanc porque, claro,<br />

não vão dar para um criança um a Mont Blanc, m as era um a Parker 21. Tinha a<br />

Parker 21 e a Parker 51. A 51 era caríssima e a Parker 21 estava ao alcance da<br />

classe média.<br />

Hora do Recreio<br />

Eu adorava o recreio. Era justam ente a hora da liberda<strong>de</strong>. Então tinha aquele<br />

chiar <strong>de</strong> crianças, todo m undo corria para o pátio, e brincavam todos, m enina<br />

e m enino. Era m isto. Des<strong>de</strong> a escola pré-prim ária, o prim ário, a Caetano <strong>de</strong><br />

Campos que eu conheci s<strong>em</strong>pre foi uma escola mista.<br />

Uniforme escolar<br />

A Escola Mo<strong>de</strong>lo Caetano <strong>de</strong> Cam pos nunca adotou a teoria dos uniform es.<br />

Aliás, ela foi um a das prim eiras <strong>em</strong> São Paulo que <strong>de</strong>senvolveu essa tese que<br />

foi m uito, m uito cara na pedagogia. Foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>de</strong> que não se <strong>de</strong>via pôr<br />

uniform e. Devia-se <strong>de</strong>ixar cada um m anifestar sua personalida<strong>de</strong>. I sso foi um a<br />

polêm ica que tom ou conta do m undo até à Segunda Guerra. Basta dizer que<br />

na I tália, no prim ário, por causa <strong>de</strong>ssa bendita tinta ferruginosa, o uniform e do<br />

prim ário era um avental preto, todas as crianças andavam <strong>de</strong> preto lá, aquilo<br />

era m edonho. Era a única m aneira <strong>de</strong> absorver aquelas tintas, aquelas<br />

manchas <strong>de</strong> tinta.<br />

No Jardim da I nfância tinha som ente um chapéu <strong>de</strong> palha com ,<br />

alternadam ente, faixas azul escuro e cor <strong>de</strong> palha. E tinha um laço <strong>de</strong> fita, que<br />

eu <strong>de</strong>testava, on<strong>de</strong> estava escrito, <strong>em</strong> letras douradas “ Jardim da I nfância” .<br />

Mas a gente só tinha que pôr aquilo na hora <strong>em</strong> que entrava, <strong>de</strong>pois punha lá<br />

na mesinha e ficava lá. E na hora <strong>de</strong> sair punha <strong>de</strong> novo.<br />

Escola Primária: Relação Professor-Aluno<br />

No Prim ário eu m e l<strong>em</strong> bro do professor Daniel, da professora Julieta do<br />

prim eiro ano, que eram m uito agradáveis, m uito am igos, eu gostava <strong>de</strong>les.<br />

Gostava como criança gosta <strong>de</strong> uma pessoa, <strong>de</strong> um tio.<br />

Leituras<br />

Líam os bons livros no prim ário. Livros, cartilha, e os professores traziam livros<br />

<strong>de</strong> casa. Eu m e l<strong>em</strong> bro perfeitam ente <strong>de</strong> ter lido o Navio Negreiro, <strong>de</strong> Castro<br />

Alves* . “ Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada arranca esse pendão<br />

dos ares, Colom bo fecha a porta dos teus m ares!” E isso aí era lido por nós,<br />

m eninos, tropeçando, é claro. Tinha Casim iro <strong>de</strong> Abreu* . Eles traziam po<strong>em</strong> as<br />

e trechozinhos <strong>de</strong> prosa engraçados para quebrar um pouco a m onotonia da<br />

aula. A escola era muito boa, muito boa.<br />

Assim que eu com ecei a ler, realm ente, com um certo <strong>de</strong>s<strong>em</strong> baraço, que não<br />

era penoso ler, eu com ecei a <strong>de</strong>vorar aqueles livros que eram publicados na<br />

época pela Com panhia Melhoram entos <strong>de</strong> São Paulo, que era um a coleção<br />

belíssim a sobre m itologia grega. Muito sim pático, com letra boa, <strong>de</strong> fácil<br />

leitura. Então, <strong>de</strong>vorei a Guerra <strong>de</strong> Tróia* e essas coisas todas, a briga lá dos<br />

Deuses do Olim po, aqueles fuxicos que com eçaram a m e dar um a culturinha


azoável. Em francês, eu com ecei a ler Alexandre Dum as, “ O Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Montecristo” , “ Os três m osqueteiros” , e daí para frente. Dum as era bilíngüe, e<br />

lia nas duas línguas. Quando eu entrei no Ginásio já estava com conhecim ento<br />

bastante bom.<br />

Aí eu com ecei a ler um pouco <strong>de</strong> tudo, principalm ente História. Ainda ont<strong>em</strong><br />

estava contando para m inha m ulher que perguntou sobre um livro <strong>em</strong> que viu<br />

1930 e a m inha letra, era um livro <strong>em</strong> francês. Aí contei para ela que um a vez<br />

m eus pais hospedaram um casal suíço que veio aqui passar 10 dias, 15 dias<br />

<strong>em</strong> São Paulo. Eu tive que graciosam ente ce<strong>de</strong>r o m eu quarto e, no fim , eles<br />

ficaram sabendo e queriam m e dar um presente. Perguntaram para m inha<br />

m ãe, quando iam <strong>em</strong> bora, do que eu gostava. Aí ela disse: “ Olha, o m elhor<br />

presente que vocês po<strong>de</strong>m dar para ele é um livro <strong>de</strong> História” . E eles foram<br />

num a livraria qualquer no centro da cida<strong>de</strong>, só tinha livraria no centro, a<br />

Livraria Cultura não existia, e com praram o livro “ La Civilization Rom aine” . Era<br />

um negócio pesadíssim o, eu o li, <strong>de</strong>vorei. Qualquer livro <strong>de</strong> História eu lia,<br />

com ecei a ler livro sobre a Guerra dos Farrapos, sobre a Guerra do Paraguai,<br />

tudo que me caía nas mãos.<br />

Nessa época não havia leitura proibida, m esm o porque não havia acesso a<br />

esses livros. Quer dizer, livros pornôs ou m esm o um a “ Madam e Bovary” ,<br />

qualquer coisa assim , a gente não tinha acesso. É engraçado, m esm o anos<br />

<strong>de</strong>pois, já adolescente, no Ginásio, era um m undo diferente, eram outros<br />

valores. O rádio com eçou fort<strong>em</strong> ente a partir dos anos 30, 1934, por aí. A<br />

televisão só viria nos anos 50, então as crianças ou adolescentes viviam num<br />

mundinho <strong>de</strong> informações muito, muito reduzidas, era muito limitado. E daí, foi<br />

m uito bom isso, o am or que eu <strong>de</strong>senvolvi pela leitura. Tudo o que tinha <strong>em</strong><br />

casa, m inha m ãe era poetisa, inclusive, foi professora m uitos anos, e m eu pai<br />

era tam bém um a pessoa <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> form ação elevada, então eles tinham nas<br />

estantes <strong>de</strong>les um monte <strong>de</strong> livros. E eu li tudo isso.<br />

Formação: Ginásio<br />

Foi um a passag<strong>em</strong> com plicada para o Ginásio. A criança estava acostum ada a<br />

ter esse pai ou essa m ãe o t<strong>em</strong> po todo, porque só tinha um professor que<br />

dava tudo: Aritm ética, Português, História, um pouco <strong>de</strong> Geografia. A<br />

passag<strong>em</strong> era realmente forte, essa figura paterna, materna, <strong>de</strong>saparecia.<br />

Ginásio: organização, currículo e métodos <strong>de</strong> ensino<br />

A gente passava a ter oito, nove, <strong>de</strong>z professores diferentes, das Línguas,<br />

História, História Natural, Geografia, História Universal. Era chocante, porque o<br />

horário era m ais rígido; <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras, silêncio. Eram aqueles 50<br />

minutos que a gente ficava coladinho, quietinho na ca<strong>de</strong>ira, na carteira. Depois<br />

tinha o intervalozinho <strong>de</strong> 10 m inutos <strong>de</strong> um a aula para outra. Tinha um<br />

intervalo m aior <strong>de</strong> 20 m inutos no m eio do período, que aí é para o recreio,<br />

<strong>de</strong>scia a escada, podia com prar e com er algum a coisa, com prar algum a coisa<br />

na cantina.


Ciências, na época, era cham ada <strong>de</strong> História Natural. Englobava aquilo que,<br />

<strong>de</strong>pois, se dividiu claram ente <strong>em</strong> Física, Quím ica, Zoologia, Botânica, Geologia<br />

e Mineralogia. Era um pacote.<br />

Agora, eu peguei um a época terrível lá no Colégio Rio Branco, que t<strong>em</strong> m uito<br />

nom e e tal, m as que ficou m uito m elhor <strong>de</strong>pois, porque o nosso ensino<br />

secundário brasileiro era horrível. Eu peguei uma época miserável.<br />

Tinha um professor, cujo nom e eu não vou falar, que, prim eiro, fazia a gente<br />

com prar o livro <strong>de</strong>le; segundo, ele passava as aulas ditando o livro <strong>de</strong>le. Bom ,<br />

a gente já tinha 13, 14 anos, não éram os idiotas. I sso nos provocava. Era<br />

péssimo, salvo exceções.<br />

Ginásio: Relação Professor-Aluno<br />

No Ginásio as relações, naquela época, entre professores e alunos não eram<br />

agradáveis porque havia disciplina, não foi uma época muito agradável.<br />

Ativida<strong>de</strong>s extra-curriculares<br />

Havia coral, m as com o s<strong>em</strong> pre fui péssim o <strong>em</strong> m atéria <strong>de</strong> m úsica, eu s<strong>em</strong> pre<br />

fui um fracasso <strong>em</strong> m atéria m usical, apesar <strong>de</strong> s<strong>em</strong> pre gostar m uito m úsica.<br />

Então, eu não fui escolhido para fazer parte do coral. Eles pegavam os<br />

pequenininhos do Jardim <strong>de</strong> I nfância da Caetano <strong>de</strong> Cam pos* . Mas eu, assim<br />

que abria a boca, pronto, me mandavam <strong>em</strong>bora.<br />

Ritos e Com<strong>em</strong>orações na Escola<br />

Tínham os algum as cerim ônias. Cerim ônias cívicas, o dia anterior ao 7 <strong>de</strong><br />

set<strong>em</strong> bro se fazia lá algum a coisa. Desenhos com ver<strong>de</strong> e am arelo.<br />

Com entava-se bastante, ainda na década <strong>de</strong> 20, sobre um fluxo das idéias<br />

republicanas positivistas* . Então havia um a certa ênfase na libertação dos<br />

escravos, 13 <strong>de</strong> m aio era com <strong>em</strong> orado, se explicava para as crianças, elas<br />

sabiam o que era. Logo no m eus prim eiros aninhos da escola eu aprendi o que<br />

era 13 <strong>de</strong> m aio. Havia um a certa ênfase na ban<strong>de</strong>ira, explicavam aquelas<br />

estrelinhas, o que significava. Eu aprendi, ainda no Prim ário, as palavras<br />

“ Or<strong>de</strong>m e Progresso” , e eu m al sabia lê-las. Eram da cor ver<strong>de</strong>-escuro que é a<br />

cor da ban<strong>de</strong>ira, sobre a qual se colocou o losango am arelo e o círculo branco,<br />

etc. Eles tinham preocupação com certas coisas. L<strong>em</strong> bro que na prim avera<br />

tinha o dia da árvore e nós tínham os que trazer <strong>de</strong> casa um a coisa qualquer<br />

para plantar lá no jardim.<br />

Faculda<strong>de</strong>: Relação Professor-Aluno<br />

Na Poli teve um professor que m e m arcou. Foi o único professor da Poli que<br />

me fez fazer exame oral, porque no resto da Poli eu passei b<strong>em</strong>. Era <strong>de</strong> Cálculo<br />

e Derivada. Eu fiquei am igo <strong>de</strong>le. Eu fiquei gostando m uito <strong>de</strong>le, ele m arcou a<br />

m inha vida. Era um hom <strong>em</strong> <strong>de</strong> um a cultura fantástica, a casa <strong>de</strong>le tinha livros<br />

até no forro. Anos m ais tar<strong>de</strong>, já casado, com filhos, m orávam os perto. Então,<br />

às vezes, fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> eu ligava: “ Professor, o que o senhor está fazendo? Vou<br />

dar um pulo aí” . A gente ficava conversando, tom ava um aperitivo, ficava


filosofando. Eu passei anos trocando idéias com o professor que era cham ado<br />

<strong>de</strong> professor Monteirão ou Camargão, pois se chamava Monteiro Camargo.<br />

Escolha profissional<br />

É um a coisa curiosa! É a atração que a gente t<strong>em</strong> por aquilo que a gente não<br />

gosta. O ódio provoca <strong>em</strong> oção <strong>de</strong> qualquer m aneira. Então, a relação <strong>de</strong> ódio e<br />

am or é um a coisa com plicada. Mais tar<strong>de</strong>, isso se repetiu, tenho um filho que<br />

<strong>de</strong>testava a escola, foi um probl<strong>em</strong> a; <strong>de</strong>pois que ele ficou adulto, fez dois<br />

cursos superiores e, <strong>de</strong>pois, sabe o que ele foi ser? Professor e diretor <strong>de</strong><br />

escola. Então, quando eu estava na Poli, apareceu um a oportunida<strong>de</strong>, eu<br />

com pareci, fiz um exam e, m e acharam bom , então eu fui atraído pelo ensino.<br />

Com ecei a ensinar, na Escola Técnica do Brás, Com pl<strong>em</strong> entos <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong> ática,<br />

<strong>de</strong>pois ensinei Desenho e um m onte <strong>de</strong> coisas, enfim . Fiquei cinco anos lá. E<br />

aquilo m e atraiu m uito, queria ser um professor com o eu nunca tinha tido.<br />

Depois, eu fui com preen<strong>de</strong>ndo, aos poucos, esse negócio, fui atraído<br />

exatam ente pelos <strong>de</strong>feitos. Depois fui estudar na Poli, m e especializei <strong>em</strong><br />

Urbanismo.<br />

Arquitetura escolar<br />

Foi um a fase m uito agradável <strong>de</strong> m inha vida profissional. Eu integrei o<br />

cham ado Convênio Escolar, nos anos 50 e 51. Na ocasião, a Prefeitura estava<br />

m ais rica que o Estado. Foi feito um convênio, <strong>de</strong> m aneira que a Prefeitura<br />

assum iu a tarefa <strong>de</strong> construir as unida<strong>de</strong>s escolares necessárias <strong>de</strong>ntro da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, foss<strong>em</strong> elas adm inistradas pela própria Prefeitura ou<br />

foss<strong>em</strong> elas adm inistradas pela Secretaria <strong>de</strong> Educação Estadual. Essas<br />

unida<strong>de</strong>s abrangiam aquilo que se cham ava Parque I nfantil* , que era o Pré-<br />

Prim ário, GESC – Grupo Escolar* e Ginásios, as Escolas Estaduais <strong>de</strong> Segundo<br />

Grau. Eu fui convidado pelo arquiteto Hélio Duarte, que era o arquiteto-chefe<br />

do Convênio Escolar, para integrar a equipe. Eu achei aquilo ótim o e m e<br />

<strong>de</strong>diquei, realm ente, <strong>de</strong> corpo e alm a. Foi um a época que eu tinha um a<br />

produção enorm e e projetei vários Parques I nfantis. Um <strong>de</strong>les é o Parque<br />

I nfantil da Praça Buenos Aires, pertinho <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu m oro. Eu projetei m uitos<br />

Grupos Escolares e projetei vários Ginásios, entre eles o Ginásio Alm irante<br />

Barroso, lá no Jabaquara. Não m e l<strong>em</strong> bro do nom e dos Grupos Escolares, m as<br />

estão por aí ainda. Foi um a fase m uito interessante, porque eu justam ente m e<br />

l<strong>em</strong> brava m uito daquilo que penei, que eu não gostei. No Pré-Prim ário a<br />

arquitetura era agradável, m as o Prim ário do próprio edifício Caetano <strong>de</strong><br />

Cam pos tinha <strong>de</strong>feitos m uito sérios. Com o quase toda escola, ele tinha aquela<br />

circulação, aquele corredor e, <strong>de</strong>pois, salas à esquerda e salas à direita. I sso<br />

leva as salas a ter ventilação só por um lado, o que evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong> ente não é o<br />

i<strong>de</strong>al. A sala <strong>em</strong> que você põe um total <strong>de</strong> 40 crianças e jovens, ou m esm o<br />

adultos, a gente t<strong>em</strong> que tentar conseguir um a ventilação bilateral para haver<br />

troca <strong>de</strong> ar. E conseguir, tam bém , um a ilum inação bilateral para corrigir a<br />

curva, porque a partir <strong>de</strong> um a janela você t<strong>em</strong> um a curva <strong>de</strong> claream ento, que<br />

é m edido <strong>em</strong> lux, que cai verticalm ente. Então, se o aluno que está j unto à<br />

janela e está b<strong>em</strong> ilum inado ou excessivam ente ilum inado, o que tam bém não<br />

é bom , o últim o que está j unto à pare<strong>de</strong> está m al ilum inado, isso é inevitável,<br />

seja um dia bonito ou feio. Um a coisa que se po<strong>de</strong> fazer para m elhorar um


pouquinho, coisa que não se faz <strong>em</strong> nenhum a escola, é ter pelo m enos as<br />

lâm padas artificiais <strong>em</strong> circuitos separados, <strong>de</strong> m aneira que se possa acen<strong>de</strong>r<br />

prim eiro aquele que está junto da pare<strong>de</strong>, no fundo, e <strong>de</strong>pois, na m edida <strong>em</strong><br />

que cair a luz lá, você vai acen<strong>de</strong>ndo as dos outros.<br />

Então, eu estava s<strong>em</strong> pre m uito <strong>de</strong>safiado por tudo isso aí, e procurei fazer<br />

um a arquitetura consi<strong>de</strong>rando as condições físicas que envolv<strong>em</strong> a insolação, a<br />

iluminação, a aeração e a acústica.<br />

E havia tam bém a questão da escala, porque a criança, no Prim ário ou no<br />

Jardim <strong>de</strong> I nfância, ela t<strong>em</strong> 1 m etro, 1 m etro e 10 <strong>de</strong> altura. O adulto, na<br />

média, 1 metro e 70. Mas você não po<strong>de</strong> fazer só essa relação. Isso não é uma<br />

coisa racional, é uma sensação, uma coisa intuitiva, quase que instintiva. O ser<br />

hum ano sente o seu volum e <strong>em</strong> relação ao volum e do lugar on<strong>de</strong> ele está.<br />

Então, a gente t<strong>em</strong> que consi<strong>de</strong>rar a relação entre a terceira potência, entre<br />

1,70 m etro e 1,10 m etro ou um 1 m etro, que correspon<strong>de</strong> ao volum e, que<br />

correspon<strong>de</strong> à relação <strong>de</strong> peso, m ais ou m enos. O i<strong>de</strong>al seria que pu<strong>de</strong>sse<br />

fazer o pé-direito, o tam anho das ca<strong>de</strong>iras, tudo com o tinha lá no Jardim <strong>de</strong><br />

I nfância: as ca<strong>de</strong>irinhas, as m esinhas, pu<strong>de</strong>sse fazer tudo para que a criança<br />

se sentisse b<strong>em</strong> nesse am biente. Claro que não po<strong>de</strong> fazer tudo isso, porque<br />

senão com o é que se faz com os adultos, eles vão m orar num a casa <strong>de</strong><br />

boneca? Mas você po<strong>de</strong> fazer algum a coisa, você po<strong>de</strong> baixar as portas, todas<br />

as portas, para 2 m etros, 1,90. Não faz m al a alguém . Todo jogador <strong>de</strong><br />

basquete t<strong>em</strong> m ais <strong>de</strong> 2 m etros e ele sabe que t<strong>em</strong> um a hora que t<strong>em</strong> que<br />

abaixar, senão ele bate, está treinado para isso. O próprio sanitário, todo<br />

m undo sabe que po<strong>de</strong>-se fazer peças m ais baixas, m ais a<strong>de</strong>quadas ao uso das<br />

crianças, senão ela fica <strong>de</strong>pendurada, na ponta do pé para po<strong>de</strong>r usar aquilo. E<br />

eu m e preocupei m uito com isso e aí tive, durante dois anos, um a fase m uito<br />

interessante, m uito bonita, m uito gostosa. Foi m uito bom reencontrar, com o<br />

profissional, produtor <strong>de</strong> espaço, porque adoto um a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> arquitetura<br />

que é a arte <strong>de</strong> organizar o espaço. Ela se realiza pela construção e ela se<br />

com unica pela form a, perfeito. Então, ela é um a linguag<strong>em</strong> e, por outro lado,<br />

ela é um <strong>em</strong> prego <strong>de</strong> alta tecnologia. No m eio disso, ela t<strong>em</strong> que procurar<br />

<strong>de</strong>senvolver a função da m elhor m aneira possível. É a arte <strong>de</strong> organizar o<br />

espaço. Essa <strong>de</strong>finição é do Auguste Perret, não é m inha; m as eu a adoto<br />

porque acho que ela é ex<strong>em</strong> plar, é fantástica. L’architeture c'est l'art<br />

d'organizer l'espace.<br />

Consegui um a perform ance, um <strong>de</strong>s<strong>em</strong> penho bastante razoável <strong>em</strong> tudo isso<br />

aí. I nclusive publiquei vários artigos sobre isso, eu m e apaixonei por<br />

arquitetura escolar. Talvez fosse s<strong>em</strong> pre aquela velha história, porque com o a<br />

escola tinha me machucado, eu queria ajudar.<br />

Depois continuei a exercitar a Arquitetura e a Engenharia nas Escolas Senai* .<br />

Consegui convencer o m eu pai, na época diretor do Senai, que a arquitetura<br />

que o Senai fazia era um a arquitetura obsoleta, era arquitetura do Ram os <strong>de</strong><br />

Azevedo. Ele então m e <strong>de</strong>u um projeto da Escola Anchieta do Senai para fazer.<br />

Foi um dos m eus projetos m ais difíceis. Foi feito para o I V Centenário. Cham ei


o Fracarolli e pedi para ele fazer um a escultura. Ela está lá até hoje, <strong>em</strong> frente<br />

ao prédio. Fica pertinho das obras do Ni<strong>em</strong> eyer* lá no Parque I birapuera.<br />

Nessa escola, usam os um conceito pela prim eira vez, que, <strong>de</strong>pois, o Senai<br />

adotou: <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>r as oficinas no fundo, com o se fosse um a coisa<br />

feia, eu disse “ Meu Deus, se o Senai procura form ar técnicos, nós t<strong>em</strong> os que<br />

valorizar isso, isso é a vitrine <strong>de</strong>le! Vam os pôr isso para a frente da escola,<br />

com vidro! Todo m undo que passar na rua vê todos os jovens trabalhando lá” .<br />

E todo mundo se acostumou a ver na Escola Senai o torno, e tal, a máquina <strong>de</strong><br />

soldar. Eu coloquei as salas <strong>de</strong> aula num passadiço no meio <strong>de</strong>sse espaço.<br />

Eu fiz tudo isso e acho que o que eu construí ali foi conseqüência do<br />

aprendizado que eu tinha feito no Convênio Escolar.<br />

Escola Caetano <strong>de</strong> Campos: movimento contra a <strong>de</strong>molição<br />

Depois a questão da Escola Caetano <strong>de</strong> Cam pos reapareceu na m inha vida. Foi<br />

um a situação m uito tensa, dram ática. Era 1976, precisam ente. Eu era, na<br />

ocasião, presi<strong>de</strong>nte da Em urb. Eu já tinha nom e <strong>de</strong> engenheiro, <strong>de</strong> arquiteto e<br />

<strong>de</strong> urbanista e fui convidado pelo prefeito, ex-colega da Poli, o engenheiro<br />

Olavo Setúbal, para ser presi<strong>de</strong>nte da Em urb. Depois eu criei a Secretaria <strong>de</strong><br />

Habitação e Desenvolvim ento Urbano. Num a reunião foi apresentada pelo<br />

presi<strong>de</strong>nte do Metrô* , Plínio Assm an, a idéia <strong>de</strong> que tinha que ser <strong>de</strong>rrubado o<br />

edifício da Caetano <strong>de</strong> Cam pos para fazer a estação República. Estavam<br />

presentes o arquiteto que era presi<strong>de</strong>nte do Con<strong>de</strong>phaat* , e ele ficou<br />

quietinho. O prefeito Olavo Setúbal, que aceitou, e o presi<strong>de</strong>nte do Metrô, que<br />

estava entusiasm adíssim o, além do diretor <strong>de</strong> obras do Metrô, que era o<br />

engenheiro Souza Dias, e que tam bém estavam aceitando. Eu fiquei ouvindo<br />

tudo aquilo. Depois, eu pedi a palavra e disse: “ Eu não vou aceitar isso. Eu<br />

acho um absurdo que, para se construir um a estação do Metrô, se <strong>de</strong>rrube a<br />

cida<strong>de</strong>! Meu Deus do Céu! O Metrô foi criado exatam ente para circular <strong>de</strong>baixo<br />

da cida<strong>de</strong> e não para <strong>de</strong>rrubá-la. Para não fazer essa política horrenda que nós<br />

faz<strong>em</strong> os nessa cida<strong>de</strong> até hoje, <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar a cida<strong>de</strong> para abrir avenidas, é um<br />

absurdo urbanístico! É um contra-senso, eu não tenho com o qualificar isso, é<br />

um a selvageria, a socieda<strong>de</strong> está <strong>de</strong>struindo o seu passado. Eu tenho a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação à cida<strong>de</strong>. Sou o presi<strong>de</strong>nte da Em presa Municipal<br />

<strong>de</strong> Urbanização. Eu não vou adm itir isso. Então, senhores, m il <strong>de</strong>sculpas,<br />

senhor Prefeito, peço licença para m e retirar, porque eu não posso participar<br />

<strong>de</strong>sse ato <strong>de</strong> vandalism o, <strong>de</strong> assassinato <strong>de</strong> cultura!” . E m e levantei e fui<br />

<strong>em</strong> bora. Já eram um as onze e tanto, fui para casa e falei para m inha m ulher:<br />

“ Bom , eu vou para a Em urb <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> e vou esperar o telefon<strong>em</strong> a dizendo:<br />

'Olha, m anda sua carta <strong>de</strong> <strong>de</strong>m issão'” . Curiosam ente, às três horas o doutor<br />

Olavo telefonou e disse: “ Olha, Mange, tive pensando e você t<strong>em</strong> razão. Você<br />

fica encarregado <strong>de</strong> daqui a 15 dias m e apresentar um a variante” . Aí juntam os<br />

os arquitetos, apresentam os um a variante, que é exatam ente o que foi feito.<br />

Entr<strong>em</strong> entes, eu conversei com o engenheiro Roberto Scaringella, um gran<strong>de</strong><br />

conhecedor, um gran<strong>de</strong> engenheiro <strong>de</strong> tráfego. Ele disse: “ Dá para resolver<br />

perfeitamente”. E assim foi feito, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>rrubar nada.


Foto do edifício<br />

inaugurado <strong>em</strong> 1894<br />

para abrigar a Escola<br />

Normal, na Praça da<br />

República (centro <strong>de</strong><br />

São Paulo), atualmente<br />

se<strong>de</strong> da Secretaria <strong>de</strong><br />

Estado da Educação <strong>de</strong><br />

São Paulo.Fonte:<br />

Arquitetura escolar e<br />

política educacional: os<br />

programas na atual<br />

administração do Estado.<br />

São Paulo: FDE, 1998<br />

Então, o m eu reencontro com a escola foi, assim , um a coisa um pouco<br />

dramática, mas me <strong>de</strong>ixou extr<strong>em</strong>amente satisfeito. De eu po<strong>de</strong>r estar naquela<br />

posição chata, num a hora certa. Eu posso dizer que fui o hom <strong>em</strong> certo na hora<br />

certa, m odéstia à parte. Com isso salvam os a escola e, hoje, todo m undo<br />

reconhece que aquilo era a melhor solução, não t<strong>em</strong> dúvida alguma. Aquilo era<br />

um a m entalida<strong>de</strong> fechada, eles achavam que tinha um a rua e a rua tinha que<br />

ser respeitada; mas o edifício não. Não dá para enten<strong>de</strong>r.<br />

Futuro da Educação<br />

Eu não sou pedagogo, m as s<strong>em</strong> pre m e interessei m uito e vivi intensam ente<br />

esses probl<strong>em</strong> as da Educação. Eu tive cinco filhos, todos eles cursados, eu<br />

acom panhei, observei as reações, hoje eu tenho <strong>de</strong>z netos e três para quatro<br />

bisnetos. Eu acho a escola um a das instituições sociais m ais im portantes, e<br />

m uita gente não se dá conta disso. E a Escola Caetano <strong>de</strong> Cam pos, aliás o<br />

Caetano <strong>de</strong> Cam pos que t<strong>em</strong> o nom e <strong>de</strong>le porque ele foi um gran<strong>de</strong> educador<br />

do com eço do século. E ele pregou esta tese: a escola é um a form adora, <strong>de</strong><br />

cidadãos e cidadãs. Então tudo é im portante na escola, não só o enfoque do<br />

pedagogo, só as questões didáticas, o equipam ento didático. Mas ela t<strong>em</strong> que<br />

ser pensada com o arquitetura do espaço, que é m uito im portante tam bém . E<br />

aí eu m e l<strong>em</strong> bro <strong>de</strong> um a lição <strong>de</strong> um reitor da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leningrado,<br />

encarregado <strong>de</strong> um a com issão da velha União Soviética: tentar <strong>de</strong>scobrir por<br />

que as Escolas Superiores soviéticas estavam falhando m uito. Eu tive o<br />

relatório <strong>de</strong>ssa com issão <strong>em</strong> m ãos. Ele dizia: “ A escola po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sse jeito,<br />

daquele jeito, po<strong>de</strong>-se discutir a polêm ica pedagógica, se quiser, m as um a<br />

coisa não t<strong>em</strong> direito <strong>de</strong> se fazer, e isso é fundamental: ela não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir a<br />

curiosida<strong>de</strong> natural que o hom <strong>em</strong> t<strong>em</strong> ” . Eu achei fantástico isso, porque eu<br />

acho que estam os incorrendo nesse risco. Eu tinha sido um pouco vítim a disso<br />

no Ginásio, m as não conseguiram m e <strong>de</strong>struir porque, felizm ente, eu tinha <strong>em</strong><br />

casa o que se cham a <strong>de</strong> currículo oculto* . Tinha livros, eu pu<strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar, eu<br />

pu<strong>de</strong> dar m ais asas à im aginação, à m inha criativida<strong>de</strong>, e m eus pais eram <strong>de</strong><br />

nível alto, eu tinha com qu<strong>em</strong> conversar. Discutia, discutia tudo: aos <strong>de</strong>z anos


tinha perdido a fé, porque eu discutia tudo, eu questionava tudo. É m uito<br />

im portante isso, a escola não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir essa criativida<strong>de</strong>. Eu sei que a<br />

pedagogia cont<strong>em</strong> porânea se preocupa m uito com aquilo que é cham ado <strong>de</strong><br />

m otivação. T<strong>em</strong> que haver um a m otivação, você t<strong>em</strong> que se encontrar <strong>de</strong> um a<br />

m aneira ou <strong>de</strong> outra. A m otivação n<strong>em</strong> s<strong>em</strong> pre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da vanguarda<br />

tecnológica. Eu acho que a vanguarda tecnológica t<strong>em</strong> que ser com preendida,<br />

sim , e aproveitada na m edida do possível, é claro. Não sou contra o<br />

com putador, n<strong>em</strong> contra projetor, seria estúpido <strong>de</strong>m ais. Eu acho que t<strong>em</strong><br />

que haver a contribuição <strong>de</strong> tudo isso, m as o fundam ental é não <strong>de</strong>struir o<br />

interesse que a criança traz, ela se interessa por tudo, é um interesse natural,<br />

é a curiosida<strong>de</strong> natural do hom <strong>em</strong> . No fundo, a única explicação da história da<br />

hum anida<strong>de</strong>, do <strong>de</strong>senvolvim ento da ciência, das artes, é a criativida<strong>de</strong><br />

hum ana, e associada às curiosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saber. I sso a escola t<strong>em</strong> que<br />

respeitar. Ela t<strong>em</strong> que im por um a certa disciplina? T<strong>em</strong> . Mas não po<strong>de</strong> im por<br />

um a disciplina <strong>de</strong> sargento <strong>de</strong> m anicôm io. O que a gente po<strong>de</strong> esperar da<br />

escola? Eu acho que s<strong>em</strong> pre <strong>de</strong>ve-se esperar m uito, porque a escola continua<br />

tendo, nesse processo <strong>de</strong> interação, entre aquilo que o DNA trouxe para a<br />

criatura quando ela nasceu e o que a socieda<strong>de</strong> faz até ela se transformar num<br />

adulto <strong>de</strong> 20 anos, há um processo perm anente <strong>de</strong> interação. O que ela trouxe<br />

consigo ao nascer e o que a socieda<strong>de</strong> lhe dá, através da fam ília, da escola. A<br />

escola é m uito im portante, é im pressionant<strong>em</strong> ente im portante. Há um efeito<br />

sinergético entre essas duas coisas. Eu acho que, então, a gente t<strong>em</strong> que<br />

esperar da escola que ela cum pra esse papel. Agora, ela t<strong>em</strong> que evoluir, ela<br />

t<strong>em</strong> que se transform ar. Hoje há, cada vez m ais, a necessida<strong>de</strong> da<br />

especialização. Então, m uitas vezes, <strong>em</strong> nom e <strong>de</strong>, rapidam ente, fazer a<br />

especialização, se prejudica o que é m uito m ais im portante, que é a form ação<br />

das Gestalts* da cultura, das correlações que os nossos neuroniozinhos<br />

quer<strong>em</strong> fazer.<br />

Depoimento editado por Zilda Kessel <strong>em</strong> março <strong>de</strong> 2002<br />

Glossário<br />

Art Nouveau<br />

Entre 1890 e a Prim eira Guerra Mundial floresceu nos Estados Unidos e na<br />

Europa um estilo que se contrapunha à esterilida<strong>de</strong> da Era I ndustrial. Recebeu<br />

diversos nom es, conform e os locais <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>senvolveu: Art Nouveau, nos<br />

Estados Unidos; Liberty, Art Nouveau e Mo<strong>de</strong>rn Style, na I nglaterra;<br />

Jugendstil, na Al<strong>em</strong> anha; Wiener Sezession, na Áustria; Art Nouveau e estilo<br />

Guim ard, na França; Stile Liberty e Floreale, na I tália; Mo<strong>de</strong>rnism o, na<br />

Espanha.<br />

O estilo baseava-se <strong>em</strong> form as torcidas, floridas, que se contrapunham à<br />

aparência pouco estética dos produtos fabricados por m áquinas. É um<br />

fenôm eno tipicam ente urbano, que nasce nas capitais, difun<strong>de</strong>-se para o<br />

interior e interessa a todas as categorias dos costum es: o urbanism o <strong>de</strong>


airros inteiros, a construção civil <strong>em</strong> todas as suas tipologias, o equipam ento,<br />

urbano e dom éstico, a arte figurativa e <strong>de</strong>corativa, as alfaias, o vestuário, o<br />

ornamento pessoal e o espetáculo.<br />

I n<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das variações <strong>de</strong> t<strong>em</strong> po e espaço, é facilm ente reconhecível por<br />

suas linhas sinuosas e curvas do tipo trepa<strong>de</strong>ira, além <strong>de</strong> outras características<br />

constantes, com o a t<strong>em</strong> ática naturalista (flores e anim ais), a utilização <strong>de</strong><br />

m otivos icônicos e estilísticos <strong>de</strong>rivados da arte japonesa, a preferência pelas<br />

cores frias, pálidas, a recusa da proporção e do equilíbrio sim étrico, a busca <strong>de</strong><br />

ritm os m usicais e o propósito evi<strong>de</strong>nte e constante <strong>de</strong> com unicar um sentido<br />

<strong>de</strong> agilida<strong>de</strong>, elasticida<strong>de</strong>, leveza, juventu<strong>de</strong> e otimismo.<br />

A difusão dos traços estilísticos essenciais da Art Noveau se dá por m eio <strong>de</strong><br />

revistas <strong>de</strong> arte e m oda, do com ércio e seu aparato publicitário, das<br />

exposições mundiais e espetáculos.<br />

Fontes:<br />

• ARGAN, Giulio Carlo. Arte Mo<strong>de</strong>rna. Com panhia das Letras. São Paulo,<br />

1996.<br />

• STRI CKLAND, Carol & BOSWELL, John. Arte Com entada – da Pré-História<br />

ao Pós-Mo<strong>de</strong>rno. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Ediouro, 1992.<br />

• MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário <strong>de</strong> term os artísticos (verbete:<br />

nova, arte). Rio <strong>de</strong> Janeiro, Edições Pinakotheke, 1998.<br />

Caligrafia<br />

Term o <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> grega (kálos: beleza; graphé: escrita), <strong>de</strong>signa a escrita<br />

m anual <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>stacam a beleza, a uniform ida<strong>de</strong> e a elegância, ou seja, a<br />

arte <strong>de</strong> escrever utilizando um a caneta ou outro instrum ento <strong>de</strong> escrita para<br />

não apenas traçar palavras m as fazê-lo com o m áxim o <strong>de</strong> beleza e<br />

inteligibilida<strong>de</strong> possível.<br />

O term o tam bém é <strong>em</strong> pregado, <strong>em</strong> sentido estrito, para <strong>de</strong>signar o trabalho<br />

dos calígrafos. No século XVI , a caligrafia estava praticam ente restrita aos<br />

diplom as, títulos e correspondência diplom ática, aplicações que perm anec<strong>em</strong><br />

até hoje.<br />

Praticada nas escolas, a caligrafia auxilia o aprim oram ento da escrita,<br />

tornando-a mais clara e legível.<br />

Fontes:<br />

• www.atelierlucia.hpg.com.br<br />

• Michaelis: m o<strong>de</strong>rno dicionário da língua portuguesa. São Paulo,<br />

Melhoramentos, 1998.<br />

Casimiro <strong>de</strong> Abreu


Casim iro José Marques <strong>de</strong> Abreu, poeta do Rom antism o brasileiro, nasceu na<br />

fazenda Capivari, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Barra <strong>de</strong> São João, estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

<strong>em</strong> 04 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1839 e faleceu <strong>em</strong> 18 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1860.<br />

Viveu um a infância sim ples, porém feliz, <strong>em</strong> sua cida<strong>de</strong> natal. Aos quatorze<br />

anos vai para Lisboa ( Portugal) a m ando do pai, que tom a essa atitu<strong>de</strong> na<br />

tentativa <strong>de</strong> conter excessos do filho que levava intensa vida boêmia.<br />

Os quatro anos que passa no exterior alim entam sentim entos <strong>de</strong> nostalgia. O<br />

t<strong>em</strong> a “ sauda<strong>de</strong>” estará freqüent<strong>em</strong> ente presente <strong>em</strong> suas poesias, sob<br />

diversos aspectos, como sauda<strong>de</strong> da família, <strong>de</strong> sua infância, do lar.<br />

Em 1856, sua peça “ Cam ões e o Jaú” é levada ao teatro <strong>em</strong> Lisboa, financiada<br />

por seu pai.<br />

Em retorno ao Rio, publica “ As prim averas” . Descobre a tuberculose e falece<br />

aos vinte e dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Suas obras são: Teatro: “ Cam ões e o Jaú” (1856). Poesia: “ As prim averas”<br />

(1859). Ficção: “Camila” (1859) e “Carolina” – romance inacabado (1859).<br />

Fontes:<br />

• LUFT, Celso Pedro. “ Pequeno Dicionário <strong>de</strong> Literatura Portuguesa e<br />

Brasileira”. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ed. Globo, 1987.<br />

• PAES, José Paulo & MOI SÉS, Massaud (org.). “ Pequeno Dicionário <strong>de</strong><br />

Literatura Brasileira”. São Paulo. Ed. Cultrix.<br />

• COUTI NHO, Afrânio & SOUSA, J. Galante <strong>de</strong> (org.). “ Enciclopédia <strong>de</strong><br />

Literatura Brasileira vol.1”. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FAE, 1989.<br />

Castro Alves<br />

Antônio Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Castro Alves, um dos últim os poetas do Rom antism o no<br />

Brasil, nasceu <strong>em</strong> 14 <strong>de</strong> m arço <strong>de</strong> 1847, <strong>em</strong> Curralinho (BA), e faleceu com<br />

apenas vinte e quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1871, <strong>em</strong> Salvador.<br />

Esse gran<strong>de</strong> poeta da literatura nacional foi <strong>de</strong>finitivam ente consagrado por<br />

seu po<strong>em</strong> a abolicionista Navio Negreiro, que faz um relato indignado sobre o<br />

tráfico <strong>de</strong> negros africanos. Seus po<strong>em</strong> as abolicionistas lhe ren<strong>de</strong>ram a Castro<br />

Alves o epíteto <strong>de</strong> “ poeta dos escravos”.<br />

Em 1864, inicia estudos j urídicos na faculda<strong>de</strong> do Recife, abandonando-os <strong>em</strong><br />

1867 para acom panhar seu gran<strong>de</strong> am or, a atriz Eugênia Câm ara, <strong>em</strong> viag<strong>em</strong><br />

ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> ela faria apresentações.<br />

Ainda acom panhando Eugênia, v<strong>em</strong> a São Paulo <strong>em</strong> 1868, on<strong>de</strong> se m atricula<br />

na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito do Largo São Francisco para dar continuida<strong>de</strong> aos<br />

estudos, que nunca terminaria.<br />

O rom pim ento com Eugênia Câm ara e a am putação do pé, causada por um<br />

aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> caça, traz<strong>em</strong> ainda m ais danos à sua saú<strong>de</strong>, já <strong>de</strong>bilitada pela<br />

tuberculose.<br />

Em 1869, Castro Alves retorna à Bahia. No ano seguinte, publica Espum as<br />

Flutuantes e escreve Cachoeira <strong>de</strong> Paulo Afonso.<br />

Morre <strong>em</strong> 1871, <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência das complicações causadas pela tuberculose.


Suas obras são: Espum as Flutuantes (1870) – única obra publicada <strong>em</strong> vida;<br />

Gonzaga ou a Revolução <strong>de</strong> Minas (1875) – dram a histórico; A cachoeira <strong>de</strong><br />

Paulo Afonso (1876), Vozes d´ África (1876), Navio Negreiro (1880) e Os<br />

escravos (1883).<br />

Fontes:<br />

• LUFT, Celso Pedro. Dicionário <strong>de</strong> Literatura Portuguesa e Brasileira<br />

(verbete: Alves, Antonio <strong>de</strong> Castro). Rio <strong>de</strong> Janeiro, Globo, 1987.<br />

• Pequeno Dicionário <strong>de</strong> Literatura Brasileira (verbete: Alves, Antonio<br />

Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Castro). São Paulo, Cultrix.<br />

• Enciclopédia <strong>de</strong> Literatura Brasileira – vol. 1 (verbete: Alves, Castro). Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, Ministério da Educação: Fundação <strong>de</strong> Assistência ao Estudante,<br />

1990.<br />

Con<strong>de</strong>phaat<br />

O Conselho <strong>de</strong> Defesa do Patrim ônio Histórico, Artístico, Arqueológico e<br />

Turístico <strong>de</strong> São Paulo é um órgão do governo do Estado, form ado por vinte e<br />

cinco representantes <strong>de</strong> instituições relacionadas aos m ais diversos setores da<br />

socieda<strong>de</strong> paulista. Ligado à Secretaria da Cultura, esse órgão foi criado <strong>em</strong><br />

1998, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, valorizar e preservar o patrim ônio<br />

histórico e cultural paulista.<br />

Esse patrimônio é constituído por todos os bens móveis e imóveis consi<strong>de</strong>rados<br />

im portantes por razões históricas, arquitetônicas, artísticas, afetivas e<br />

articuladoras da m <strong>em</strong> ória paulista, além <strong>de</strong> sítios naturais consi<strong>de</strong>rados<br />

excepcionais por suas qualida<strong>de</strong>s intrínsecas.<br />

Fontes:<br />

• www.cultura.sp.gov.br/con<strong>de</strong>.htm<br />

• www.fccr.org.br/comphac/con<strong>de</strong>phaat.htm<br />

Currículo Oculto<br />

As discussões <strong>em</strong> torno do papel im plícito e explícito da escolarização chegam<br />

a diferentes conclusões, m as todos concordam que as escolas não ensinam os<br />

alunos apenas a “ ler, escrever, calcular, entre outros conteúdos” , m as que elas<br />

são tam bém agentes <strong>de</strong> socialização e, sendo um espaço social, t<strong>em</strong> um duplo<br />

currículo, o explícito e formal, e o oculto e informal.<br />

O currículo oculto é geralm ente associado às m ensagens <strong>de</strong> natureza afetiva,<br />

com o atitu<strong>de</strong>s e valores. Está junto com as norm as <strong>de</strong> com portam ento social<br />

assim com o às concepções <strong>de</strong> conhecim ento, que são ligadas às experiências<br />

didáticas.<br />

Muitos professores não são conscientes do currículo oculto, que po<strong>de</strong> ser<br />

utilizado na relação pedagógica s<strong>em</strong> que o professor perceba. Ao utilizar a sua


experiência para transm itir o conteúdo da disciplina, ele está <strong>de</strong>senvolvendo<br />

uma forma <strong>de</strong> currículo oculto.<br />

O currículo oculto engloba vários aspectos do processo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> , tais<br />

com o, as características <strong>de</strong> um a sala <strong>de</strong> aula, a m aneira com o o professor<br />

ensina, os livros didáticos, as regras e os valores sociais.<br />

Fontes:<br />

• HARRIS, Theodore L. & HODGES, Richard E. (orgs.). Dicionário <strong>de</strong><br />

Alfabetização. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.<br />

• CASTANHO, Maria Eugênia. “ Paradigm as <strong>de</strong> Currículo diante da Nova<br />

Or<strong>de</strong>m Mundial” In: Revista Série Acadêmica. Campinas: PUCCAMP nº 01.<br />

• www.c<strong>em</strong>p<strong>em</strong>.fae.unicamp.br<br />

Darwin<br />

O naturalista inglês Charles Robert Darwin (1890-1882) nasceu <strong>em</strong><br />

Shrewsbury, e estudou m edicina <strong>em</strong> Edim burgo, on<strong>de</strong> conviveu com cientistas<br />

que lhe <strong>de</strong>spertaram o interesse pela história natural. Em 1828, <strong>de</strong>ixou<br />

Edim burgo, seguiu para Cam bridge e trocou a m edicina pela carreira<br />

eclesiástica, m as a falta <strong>de</strong> vocação para o clero não foi m enor do que para a<br />

medicina.<br />

Ciente <strong>de</strong> que <strong>de</strong>via obter conhecim entos práticos <strong>de</strong> geologia, partiu <strong>em</strong><br />

viag<strong>em</strong> , <strong>em</strong> 1831, e percorreu toda a costa oci<strong>de</strong>ntal da Am érica do Sul e as<br />

I lhas Keelin, Maurício e Santa Helena. Des<strong>em</strong> barcou <strong>em</strong> Falm auth após os<br />

quatro anos e nove m eses <strong>de</strong>ssa viag<strong>em</strong> que lhe garantiu a m aturida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

suas observações como naturalista.<br />

A longa peregrinação serviu <strong>de</strong> orientação às suas pesquisas para a obra A<br />

orig<strong>em</strong> das espécies, síntese da evolução dos seres vivos, teoria que é a base<br />

da biologia m o<strong>de</strong>rna. Suas idéias foram m odificadas e interpretadas <strong>de</strong><br />

diversas m aneiras <strong>em</strong> diferentes épocas, m as as bases do evolucionism o<br />

subsist<strong>em</strong> até hoje, dando orig<strong>em</strong> ao term o “ darwinism o” , que <strong>de</strong>signa a<br />

crença na evolução das espécies por seleção natural.<br />

Fonte:<br />

• Enciclopédia Mirador Mundial. São Paulo/ Rio <strong>de</strong> Janeiro: Encyclopaedia<br />

Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1989.<br />

Escola Caetano <strong>de</strong> Campos<br />

“ Ao longo <strong>de</strong> sua trajetória, essa escola, cuja orig<strong>em</strong> e <strong>de</strong>senvolvim ento<br />

vincula-se à difusão dos i<strong>de</strong>ais liberais <strong>de</strong> secularização e expansão do ensino<br />

prim ário, m udou várias vezes <strong>de</strong> nom e e <strong>de</strong> edifício, e sofreu alterações <strong>em</strong><br />

seu currículo. A trajetória da Escola Caetano <strong>de</strong> Cam pos po<strong>de</strong> ser dividida <strong>em</strong><br />

três períodos, num a seqüência cronológica. O prim eiro, que se inicia com a


instalação da Escola Norm al, <strong>em</strong> 1846, vai até a inauguração do seu prédio<br />

próprio, na Praça da República, <strong>em</strong> 1894. O segundo período abarca sua<br />

trajetória <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a inauguração do prédio próprio até a tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>m olição<br />

do edifício, na década <strong>de</strong> 1970. O terceiro e últim o período é m arcado pela<br />

reação contra a <strong>de</strong>m olição <strong>de</strong> seu prédio, e sua <strong>de</strong>scaracterização ao ser<br />

<strong>de</strong>sm <strong>em</strong> brada <strong>em</strong> duas escolas, que passaram a funcionar <strong>em</strong> dois novos<br />

en<strong>de</strong>reços”.<br />

Fonte:<br />

• www.crmariocovas.sp.gov.br<br />

Escola Mo<strong>de</strong>lo<br />

Dotada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prestígio na socieda<strong>de</strong> paulista do início do século XX, a<br />

Escola Mo<strong>de</strong>lo proposta por Caetano <strong>de</strong> Cam pos era um a escola <strong>de</strong> prática <strong>de</strong><br />

ensino e experim entação dos alunos-m estres da Escola Norm al. Foi<br />

consi<strong>de</strong>rada um instituto m o<strong>de</strong>lar, a ser im itado pelas outras escolas públicas<br />

<strong>de</strong> São Paulo, já que enfatizava a form ação prática do professor com o base<br />

para aprendizag<strong>em</strong> dos métodos mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> ensino.<br />

Fonte:<br />

• SOUZA, Rosa Fátim a. T<strong>em</strong> plos <strong>de</strong> Civilização: a im plantação da escola<br />

primária graduada no Estado <strong>de</strong> São Paulo (1890-1910). São Paulo: UNESP,<br />

1998.<br />

Gestalt<br />

Term o al<strong>em</strong> ão que <strong>de</strong>signa form a, estrutura, configuração ou organização. A<br />

psicologia se apropriou <strong>de</strong>ssa palavra e a utiliza para se referir a um a posição<br />

teórica, <strong>de</strong> m odo que “ gestalt” passou a <strong>de</strong>signar tam bém um conjunto <strong>de</strong><br />

princípios, métodos e experimentos.<br />

Segundo essa teoria, o ponto <strong>de</strong> partida da aprendizag<strong>em</strong> é a percepção, que<br />

ocorre <strong>em</strong> conseqüência <strong>de</strong> um a contínua organização e reorganização da<br />

experiência, perm itindo a com preensão global da situação e a percepção <strong>de</strong><br />

seus el<strong>em</strong>entos mais significativos.<br />

Outro aspecto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> im portância para essa teoria é o “ insight” , ou um a<br />

compreensão imediata, uma espécie <strong>de</strong> “entendimento interno”.<br />

Fontes:<br />

• BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair & TEIXEIRA, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s.<br />

“Psicologias: Uma introdução ao estudo <strong>de</strong> Psicologia”. São Paulo: Saraiva,<br />

1991.


• WOOLFOLK, Anita E. “Psicologia da Educação”. Porto Alegre: Artes Médicas<br />

Sul, 1998.<br />

• CABRAL, Álvaro. “Dicionário <strong>de</strong> Psicologia e Psicanálise”. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed.<br />

Expressão e Cultura, 1971.<br />

Grupo Escolar<br />

Denom inou-se grupo escolar o com plexo que reunia num só prédio as escolas<br />

<strong>de</strong> um a <strong>de</strong>term inada localida<strong>de</strong>, que ofereciam o ensino prim ário (<strong>de</strong> 1ª a 4ª<br />

série), com uma nova organização administrativo-pedagógica. A criação <strong>de</strong>ssas<br />

escolas, que teve profundas im plicações na educação pública do Estado e na<br />

história da educação, está relacionada com o projeto republicano <strong>de</strong> reform a<br />

social e <strong>de</strong> difusão da educação. Esses novos estabelecim entos <strong>de</strong> ensino, que<br />

generalizaram m uitas práticas escolares <strong>em</strong> uso nas escolas particulares no<br />

âm bito do ensino público, provocaram um gran<strong>de</strong> entusiasm o na socieda<strong>de</strong> da<br />

época.<br />

Fonte:<br />

• SOUZA, Rosa Fátim a. T<strong>em</strong> plos <strong>de</strong> Civilização: a im plantação da escola<br />

primária graduada no Estado <strong>de</strong> São Paulo (1890-1910). São Paulo: UNESP,<br />

1998.<br />

Guarda Nacional<br />

A Guarda Nacional (1831-1922) foi um a polícia <strong>de</strong> confiança do governo,<br />

criada pelo Padre Feijó <strong>em</strong> 18 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1831 e extinta <strong>de</strong>pois da<br />

Proclamação da República. Essa polícia era controlada pelo governo brasileiro e<br />

pelos gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros do país, e foi um a solução proposta pelos políticos<br />

m o<strong>de</strong>rados sob o pretexto <strong>de</strong> que para im por or<strong>de</strong>m era preciso um a força<br />

m ilitar fiel. O exército não era m uito confiável, pois a m aioria da tropa era<br />

com posta <strong>de</strong> pessoas pobres que s<strong>em</strong> pre se colocavam a favor dos que<br />

protestavam contra o governo daquela época.<br />

O governo concedia aos gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros o título <strong>de</strong> coronéis, que era o<br />

m aior posto <strong>de</strong> com ando da Guarda Nacional, e os <strong>de</strong>m ais cargos só eram<br />

ocupados por hom ens <strong>de</strong> confiança dos coronéis. Por isso, a Guarda Nacional<br />

ficou conhecida como a “Guarda dos Coronéis”.<br />

O principal objetivo da Guarda Nacional era reprim ir as agitações populares.<br />

Suas funções eram preservar as enorm es proprieda<strong>de</strong>s dos fazen<strong>de</strong>iros,<br />

m anter a escravidão dos negros e com bater todas as idéias liberais das classes<br />

urbanas. Durante toda a sua existência, a Guarda Nacional serviu para<br />

fortalecer o po<strong>de</strong>r dos gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros.<br />

Fontes:<br />

• www.rio.rj.gov.br/multirio/historia/modulo02/guarda_nac.html


• www.geocities.com/armas_brasil/SecXIX/Nova_nacao/espadas/gn.htm<br />

Guerra <strong>de</strong> Tróia<br />

Trata-se da guerra travada entre gregos e troianos, m otivada pelo rapto <strong>de</strong><br />

Helena. Esse episódio da m itologia grega t<strong>em</strong> com o protagonistas o rei da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Esparta, Menelau, sua esposa Helena, e o príncipe Páris, <strong>de</strong> Tróia.<br />

A luta entre os gregos e troianos durou <strong>de</strong>z anos, e foi <strong>de</strong>cidida pelo<br />

estratag<strong>em</strong> a <strong>de</strong> Ulisses, que fingiu um a retirada, <strong>de</strong>ixando um gigantesco<br />

cavalo <strong>de</strong> m a<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> presente aos troianos, que consi<strong>de</strong>ravam o cavalo um<br />

anim al sagrado. O presente é aceito e, ao anoitecer, soldados gregos que<br />

estavam escondidos <strong>de</strong>ntro do cavalo <strong>de</strong> m a<strong>de</strong>ira, sa<strong>em</strong> e <strong>de</strong>rrotam os<br />

troianos, saqueiam e queimam a cida<strong>de</strong>. V<strong>em</strong> daí o termo “presente <strong>de</strong> grego”,<br />

utilizado para <strong>de</strong>signar um presente <strong>de</strong>sagradável.<br />

Fontes:<br />

• KURY, Mário da Gam a. Dicionário <strong>de</strong> Mitologia Grega e Rom ana (verbete:<br />

guerra <strong>de</strong> Tróia). Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar, 1990.<br />

• Dicionário <strong>de</strong> Mitos Literários (verbete: Helena [ e a guerra <strong>de</strong> Tróia] ). Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, José Olympio, 1997.<br />

Idéias Positivistas<br />

O positivism o é um a corrente filosófica que sustenta que a única form a <strong>de</strong><br />

conhecim ento, ou a m ais elevada, é a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> fenôm enos sensoriais.<br />

Essas idéias apontam para um a crença no alcance da ciência e nos benefícios<br />

<strong>de</strong> uma sociologia verda<strong>de</strong>iramente científica.<br />

O conceito foi <strong>de</strong>senvolvido por Auguste Com te, no século XI X. Esse autor<br />

afirm ava que os princípios científicos aplicados às questões sociais e políticas<br />

revelavam um estágio m ais alto do progresso hum ano. No final do século XI X,<br />

o positivism o associou-se ao evolucionism o, doutrina que relaciona m udanças<br />

evolutivas a um a concepção progressiva das alterações sociais e a um<br />

tratamento naturalista das ativida<strong>de</strong>s humanas.<br />

Os term os “ cientism o” ou “ cientificism o” têm sido usados com o sinônim os <strong>de</strong><br />

positivism o, <strong>de</strong>notando a idéia <strong>de</strong> que só o conhecim ento científico é digno <strong>de</strong><br />

confiança.<br />

Fontes:<br />

• ROHMANN, Chris. “O Livro das Idéias”. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Campus, 2000.<br />

• BLACKBURN, Simon. “Dicionário Oxford <strong>de</strong> Filosofia”. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />

Zahar Editor, 1997.


Jardim da Infância da Caetano <strong>de</strong> Campos<br />

Foi criado pelo <strong>de</strong>creto n o . 342, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> m arço <strong>de</strong> 1896, assinado pelo<br />

governador Bernardino <strong>de</strong> Cam pos e pelo secretário do interior Alfredo Pujol. A<br />

inauguração do jardim da infância aconteceu <strong>em</strong> 18 <strong>de</strong> m aio <strong>de</strong> 1896, dois<br />

anos <strong>de</strong>pois da construção da Escola Norm al Caetano <strong>de</strong> Cam pos. Na data da<br />

inauguração, o jardim da infância estava instalado <strong>em</strong> caráter provisório, <strong>em</strong><br />

antigo prédio na Avenida I piranga, até a conclusão do novo edifício. Esse<br />

prédio provisório foi <strong>de</strong>m olido no início da década <strong>de</strong> 1940, na gestão do<br />

prefeito Prestes Maia, para dar lugar à avenida São Luís.<br />

O novo edifício, nos fundos e com pletam ente isolado do resto da Escola<br />

Norm al, era cercado por um vasto jardim . Davam acesso a ele duas escadas<br />

<strong>em</strong> suave ram pa com pequenos <strong>de</strong>graus, assim construídas para evitar que as<br />

crianças caíss<strong>em</strong> ao subi-las. Com punha-se <strong>de</strong> quatro salas <strong>de</strong> aulas e um<br />

gran<strong>de</strong> salão central, <strong>em</strong> form a octogonal, para reuniões gerais e solenida<strong>de</strong>s<br />

infantis, <strong>de</strong> 15m 2 , on<strong>de</strong> foram pintados a óleo, entre outros, os retratos <strong>de</strong><br />

Froebel, Pestalozzi, Rousseau e Mm e. Carpentier. O salão era coberto por um a<br />

cúpula m etálica, abaixo da qual havia um a galeria sustentada por um a coluna<br />

<strong>de</strong> ferro, <strong>de</strong>stinada ao público por ocasião <strong>de</strong> festa. Havia m ais duas salas<br />

anexas ao corpo do edifício, um a para <strong>de</strong>pósito do m aterial e outra para<br />

reunião das professoras, perfazendo um a área <strong>de</strong> 940m ² . Dos lados e no m eio<br />

do jardim erguiam-se dois pavilhões para recreio das crianças.<br />

Fonte:<br />

• KUHLMANN JR, Moysés. Caetano <strong>de</strong> Cam pos: fragm entos da história da<br />

instrução pública <strong>em</strong> São Paulo. São Paulo, Associação <strong>de</strong> Ex-Alunos do<br />

IECC, 1994, p. 63.<br />

Johann Heinrich Pestalozzi<br />

Nasceu <strong>em</strong> Zurique, na Suíça, <strong>em</strong> 1746, e faleceu <strong>em</strong> 1827.<br />

Exerceu gran<strong>de</strong> influência no pensam ento educacional e foi um forte a<strong>de</strong>pto da<br />

educação pública. D<strong>em</strong> ocratizou a educação, proclam ando com o direito<br />

absoluto <strong>de</strong> toda criança ter plenam ente <strong>de</strong>senvolvidos os po<strong>de</strong>res dados por<br />

Deus.<br />

Pestalozzi “ psicologizou” a educação, quando ainda não existia um a ciência<br />

psicológica estruturada e, <strong>em</strong> bora seus conhecim entos sobre a natureza da<br />

m ente hum ana foss<strong>em</strong> vagos, viu claram ente que um a teoria e um a prática<br />

corretas <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>veriam ser baseadas <strong>em</strong> tal tipo <strong>de</strong> conhecimento.<br />

Em seu prim eiro livro, Leonardo e Gertru<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> 1782, expressou suas idéias<br />

pedagógicas, m as a obra não foi consi<strong>de</strong>rada pelas figuras im portantes da<br />

época como um tratado educacional.<br />

Pestalozzi <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ser m estre-escola, e procura, <strong>em</strong> sua escola, aplicar suas<br />

idéias educacionais. Para ele, a instituição escolar <strong>de</strong>veria ass<strong>em</strong> elhar-se a<br />

um a casa b<strong>em</strong> organizada, pois o lar era a m elhor instituição <strong>de</strong> educação,<br />

base para a formação moral, política e religiosa.


Seu m étodo enfatiza a criativida<strong>de</strong> do aluno, partindo dos objetos sim ples para<br />

chegar aos conceitos mais complexos, ou seja, vai do concreto para o abstrato.<br />

Entre os princípios do Método Pestalozziano, <strong>de</strong>stacam-se:<br />

a intuição<br />

base <strong>de</strong> todo conhecimento, seu princípio é a observação.<br />

o saber e o saber fazer<br />

im portância da form ação, <strong>em</strong> oposição à m era instrução, consi<strong>de</strong>rando que<br />

qualquer conhecimento <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ser aplicado a diversas situações.<br />

o po<strong>de</strong>r<br />

é preciso aliar ao saber o po<strong>de</strong>r, ou seja, às noções teóricas a habilida<strong>de</strong><br />

prática.<br />

o amor<br />

as relações entre professores e discípulos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser am orosas: a m issão do<br />

educador é aj udar o indivíduo a <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong> m aneira m ais com pleta sua<br />

natureza.<br />

Fontes:<br />

• ELI AS, Marisa Del Cioppo. De Em ília a Em ílio – trajetória da alfabetização.<br />

São Paulo: Scipione, 2000.<br />

• INCONTRI, Dora. Pestalozzi – educação e ética. São Paulo: Scipione, 1996.<br />

Método Montessori<br />

Método <strong>de</strong> educação que foi criado na I tália, no início do século XX, por Maria<br />

Montessori (1870–1952). Antropóloga, m édica e educadora, ela <strong>de</strong>fendia a<br />

infância e concebia a criança como principal agente do processo <strong>de</strong> educação.<br />

Maria Montessori elabora um a proposta <strong>de</strong> educação que acredita na criança<br />

com o um ser <strong>em</strong> relação, consigo m esm o e com os outros, capaz <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver seu autocontrole, ser atuante, crítico e socialm ente integrado. O<br />

am biente m ontessoriano procura propiciar o processo <strong>de</strong> educação, através <strong>de</strong><br />

aspectos <strong>de</strong> natureza psicológica, oferecendo um clim a favorável a um novo<br />

tipo <strong>de</strong> relacionam ento do professor com o aluno e dos alunos entre si,<br />

prom ovendo a aceitação e valorização à m edida que se respeita o ritm o <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>de</strong> cada um . O professor atua com o “ m ediador” entre a criança, o<br />

material e o ambiente no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O Método Montessori está voltado para a form ação e educação do indivíduo<br />

com o um todo: intelecto, espírito, corpo e sentim ento. A aprendizag<strong>em</strong><br />

acontece através do trabalho <strong>em</strong> am bientes preparados para que a ação<br />

proporcione <strong>de</strong>scobertas e transform ações, com a utilização <strong>de</strong> diversos<br />

m ateriais pedagógicos, na sua m aioria <strong>em</strong> m a<strong>de</strong>ira natural, cham ados <strong>de</strong><br />

“ concreto” . Cada um <strong>de</strong>les trabalha um conceito, com o gran<strong>de</strong>/ pequeno,<br />

leve/ pesado, áspero/ liso. Dessa form a, a criança t<strong>em</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exercitar sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percepção sensorial, a m ente m at<strong>em</strong> ática e os<br />

m ovim entos, o que leva ao autoconhecim ento e autodisciplina nas diferentes<br />

fases do seu <strong>de</strong>senvolvimento.


Fontes:<br />

• CHATEAU, Jean. Maria Montessori. São Paulo: Nacional, 1978.<br />

• ELI AS, Marisa Del Cioppo. De Em ílio a Em ília - a trajetória da alfabetização.<br />

São Paulo: Scipione, 2000.<br />

Metrô<br />

O <strong>de</strong>senvolvim ento do Metrô <strong>de</strong> São Paulo foi m otivado pela inexistência <strong>de</strong><br />

alternativas <strong>de</strong> transporte coletivo ferroviário para os m oradores, além da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scongestionar o trânsito já caótico do centro da cida<strong>de</strong>. A<br />

primeira linha do metrô foi inaugurada <strong>em</strong> 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1974.<br />

A gestão do prefeito Faria Lim a, eleito <strong>em</strong> m eados da década <strong>de</strong> 60, propunha<br />

com o um a <strong>de</strong> suas principais m etas a im plantação do sist<strong>em</strong> a m etroviário. Em<br />

1966, foi criado o GEM – Grupo Executivo Metropolitano, para iniciar os<br />

estudos que viabilizariam essa proposta. Foi feita um a concorrência com<br />

organizações técnicas nacionais e internacionais para selecionar a <strong>em</strong> presa<br />

encarregada <strong>de</strong> elaborar os estudos econôm icos, financeiros e o pré-projeto <strong>de</strong><br />

engenharia. O vencedor foi o consórcio HMD (associação <strong>de</strong> duas <strong>em</strong> presas<br />

al<strong>em</strong> ãs, Hochtief e Deconsult, e a brasileira Montreal). Em 1968, com eçou a<br />

ser executada a prim eira linha, Santana-Jabaquara. A década <strong>de</strong> 1970 se<br />

caracterizou por profundas revoluções na tecnologia dos m etrôs, com a<br />

introdução <strong>de</strong> carros <strong>em</strong> aço inoxidável, sist<strong>em</strong> a autom ático <strong>de</strong> controle e<br />

sinalização elétrica.<br />

A partir <strong>de</strong> então, as linhas do m etrô são utilizadas diariam ente por m ilhões <strong>de</strong><br />

passageiros que incorporaram à sua rotina as idas e vindas pelo subterrâneo e<br />

hoje não saberiam viver s<strong>em</strong> ele.<br />

Fonte:<br />

• www.metro.sp.gov.br<br />

Motivação<br />

É um estado interno que m obiliza o organism o para a ação, a partir <strong>de</strong> um a<br />

relação estabelecida entre o am biente, um a necessida<strong>de</strong> e o objeto <strong>de</strong><br />

satisfação.<br />

Na base da motivação está s<strong>em</strong>pre presente um organismo que apresenta uma<br />

necessida<strong>de</strong>, um <strong>de</strong>sejo, um a intenção, um interesse, um a vonta<strong>de</strong> ou um a<br />

predisposição para agir. O papel do am biente consiste <strong>em</strong> estim ular o<br />

organism o para a ação, à m edida que é oferecido o objeto <strong>de</strong> satisfação da<br />

necessida<strong>de</strong>.<br />

Fontes:<br />

• PENNA, Antonio G. Aprendizag<strong>em</strong> e Motivação. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1980.


• MURRAY, Edward J. Motivação e Emoção. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1980.<br />

Normalista<br />

Professores que fizeram o curso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores e professoras para<br />

o ensino prim ário (1ª a 4ª série), parte do atual ensino Fundam ental, nas<br />

chamadas Escolas Normais.<br />

Fonte:<br />

• SOUZA, Rosa Fátim a. T<strong>em</strong> plos <strong>de</strong> Civilização: a im plantação da escola<br />

primária graduada no Estado <strong>de</strong> São Paulo (1890-1910). São Paulo: UNESP,<br />

1998.<br />

Oscar Ni<strong>em</strong>eyer<br />

Oscar Ni<strong>em</strong> eyer Soares Filho, arquiteto e urbanista, nasceu <strong>em</strong> 15 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>z<strong>em</strong> bro <strong>de</strong> 1907, na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Form ou-se pela antiga Escola<br />

Nacional <strong>de</strong> Belas Artes do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Arquiteto reconhecido internacionalm ente, é um dos gran<strong>de</strong>s renovadores da<br />

arquitetura no século XX, e seu trabalho integra a arquitetura com a pintura e<br />

a escultura. Seus projetos <strong>de</strong>stacam -se pela beleza plástica e pelo estilo leve e<br />

inventivo, e lhe ren<strong>de</strong>ram vários prêmios internacionais.<br />

Foi responsável por diversas obras no Brasil e no m undo. Dentre as m ais<br />

conhecidas estão: a se<strong>de</strong> da ONU, <strong>em</strong> Nova York (integrou a equipe <strong>de</strong><br />

arquitetos que elaboraram o projeto); o <strong>Centro</strong> Cultural <strong>de</strong> Havre (França);<br />

projetos <strong>em</strong> países com o Al<strong>em</strong> anha, Portugal, I tália, países do Norte da África,<br />

Venezuela, etc. No plano nacional, seu trabalho m ais conhecido está <strong>em</strong><br />

Brasília: Palácio da Alvorada, Ministérios, Praça dos Três Po<strong>de</strong>res, Catedral <strong>de</strong><br />

Brasília, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Palácio dos Arcos e Palácio da Justiça.<br />

Tam bém foi responsável por outros proj etos no Brasil, com o: Parque do<br />

I birapuera (SP), Sam bódrom o (RJ), M<strong>em</strong> orial da Am érica Latina (SP), Museu<br />

<strong>de</strong> Arte Cont<strong>em</strong>porânea (RJ), Museu O Hom<strong>em</strong> e seu Universo (DF).<br />

Mais <strong>de</strong> trinta e oito biografias já foram escritas sobre o arquiteto, várias <strong>de</strong><br />

autores estrangeiros.<br />

Fontes:<br />

• www.ni<strong>em</strong>eyer.org.br<br />

• www.lrv.eps.ufsc.br/ni<strong>em</strong>eyer<br />

• www.ni<strong>em</strong>eyerbrasil.hpg.com.br<br />

• www.niteroi-artes.gov.br/oscarni<strong>em</strong>eyer.html<br />

• Larousse Cultural – Brasil T<strong>em</strong> ático (verbete: Ni<strong>em</strong> eyer. I n: Arte, Cultura e<br />

Educação). São Paulo, Nova Cultural, 1995.<br />

• Enciclopédia Mirador I nternacional (verbete: Ni<strong>em</strong> eyer). São Paulo,<br />

Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda, 1989.


Parque Infantil<br />

Os prim eiros parques infantis foram instalados, com o processo <strong>de</strong><br />

industrialização e urbanização, <strong>em</strong> bairros <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> concentração operária,<br />

beneficiando crianças e adolescentes cujos pais precisavam trabalhar. A<br />

educação infantil baseava-se então no b<strong>em</strong> -estar físico e social, visando a<br />

<strong>de</strong>spertar nas crianças os sentim entos cívicos nacionalistas, com a<br />

preocupação <strong>de</strong> educar e cuidar através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s recreativo-assistenciais.<br />

Com a criação do Ensino Prim ário Municipal, <strong>em</strong> 1955, os parques infantis<br />

com eçaram a per<strong>de</strong>r sua gran<strong>de</strong> força política, já que o ensino prim ário<br />

contava com um a m aior estruturação e o caráter constitucional <strong>de</strong><br />

obrigatorieda<strong>de</strong>. Com m aior procura, o ensino prim ário recebe m ais atenção e<br />

recursos, e os parques passam a aten<strong>de</strong>r a crianças <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> pré-escolar.<br />

Partindo do princípio <strong>de</strong> que a pré-escola dim inuiria a reprovação na prim eira<br />

série, iniciam -se, <strong>em</strong> 1967, estudos sobre program ação pedagógica para três<br />

graus <strong>de</strong> pré-escolar, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado o caráter assistencialista e recreativo,<br />

para investir num a im pl<strong>em</strong> entação <strong>de</strong> didática que garantisse m aior<br />

<strong>de</strong>senvolvim ento da prontidão para alfabetização. A partir <strong>de</strong> 1972, os parques<br />

infantis passam a aten<strong>de</strong>r apenas a crianças <strong>de</strong> 3 a 6 anos, e assim se mantêm<br />

até os dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Fonte:<br />

• Escola Municipal. 50 anos <strong>de</strong> pré-escola m unicipal. Secretaria Municipal <strong>de</strong><br />

Educação. Ano 18, número 13. São Paulo, SE, 1985.<br />

SENAI (Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizag<strong>em</strong> Industrial)<br />

Na década <strong>de</strong> 1940, a econom ia brasileira atravessa um a grave crise,<br />

<strong>de</strong>corrente das sérias restrições im postas pela econom ia <strong>de</strong> guerra durante a<br />

Segunda Guerra Mundial. Uma nova fase <strong>de</strong> expansão da indústria, baseada na<br />

substituição das im portações, exigia que algum as m edidas foss<strong>em</strong> tom adas<br />

quanto à preparação da mão-<strong>de</strong>-obra industrial.<br />

As Leis Orgânicas do Ensino Técnico, aprovadas <strong>em</strong> 1942, criam o SENAI <strong>em</strong><br />

convênio com as indústrias, no intuito <strong>de</strong> que esse órgão prom ovesse a<br />

form ação rápida e prática do operariado, aten<strong>de</strong>ndo às exigências dos<br />

industriais.<br />

O SENAI é adm inistrado pela Confe<strong>de</strong>ração Nacional da I ndústria e constitui<br />

hoje o maior complexo <strong>de</strong> educação profissional da América Latina.<br />

Fontes:<br />

• www.senai.br<br />

• www.cni.org.br<br />

• www.crmariocovas.sp.gov.br/exp_a.php?t=004


• ROMANELLI , Otaíza <strong>de</strong> Oliveira. História da educação no Brasil (1930-<br />

1973). Petrópolis: Vozes, 1984.


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