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que mergulho! o espaço vertiginoso da subjetividade feminina no ...

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[...]Pois os livros têm um jeito de se influenciarem mutuamente[...]<br />

(Virginia Woolf)<br />

O romance As Horas, de Michael Cunningham, a<strong>da</strong>ptado para o cinema com o mesmo<br />

título, por Stephen Daldry/ David Hare, ilustra bem uma tendência contemporânea de criação<br />

artística em <strong>que</strong> um texto é construído a partir de outro(os) já famoso(s), <strong>que</strong>stionando­se o<br />

<strong>que</strong> é original, e considerando­se características onde se incluem a fragmentação, a colagem,<br />

o pastiche, e autori<strong>da</strong>de autoral. As Horas também poderia se constituir numa referência ao<br />

<strong>que</strong> Umberto Eco constata citado por Lin<strong>da</strong> Hutcheon <strong>no</strong> seu livro Poética do pós­<br />

modernismo: “Descobri o <strong>que</strong> os escritores sempre souberam (e <strong>no</strong>s disseram muitas e muitas<br />

vezes): os livros sempre falam sobre outros livros, e to<strong>da</strong> estória conta uma estória <strong>que</strong> já foi<br />

conta<strong>da</strong>” (1991, p.167).<br />

Em se tratando de diálogo, apropriação, influência, <strong>no</strong> caso específico de Virginia<br />

Woolf, ou do seu romance Mrs. Dalloway, Michael Cunningham não foi o primeiro a dialogar<br />

com Woolf. A escritora Catarinense Adriana Lunardi, em 2002, escreveu Vésperas, onde<br />

recria estórias a partir de suicídios de escritoras famosas. Segundo Marco Vas<strong>que</strong>s, o livro<br />

“[...] é um mosaico labiríntico sobre vi<strong>da</strong> e morte, escrita e abando<strong>no</strong>” (2003, p.C3). Vésperas<br />

é um livro <strong>que</strong> costura histórias possíveis na vi<strong>da</strong> de <strong>no</strong>ve escritoras, dentre elas Virginia<br />

Woolf. Num conto breve intitulado “Ginny”, Adriana se apropria do bilhete pré­suicídio, <strong>que</strong><br />

Virginia deixou para o seu marido Leonard Woolf, para ser o fio condutor <strong>da</strong> sua “<strong>no</strong>va<br />

estória”, referen<strong>da</strong>ndo o <strong>que</strong> Barthes dizia, de <strong>que</strong> “[...] a text´s unity lies <strong>no</strong>t in its origin but<br />

in its destination” (1994, p.148) 12 ; onde descreve:<br />

Virginia sente um amargo na boca. Não é o ocre do barro, <strong>da</strong>s algas apodreci<strong>da</strong>s; é o<br />

gosto <strong>da</strong> desolação. O mesmo <strong>que</strong> lhe suscitava a cadeira para sempre vazia do irmão,<br />

ou os dedos de Leonard, sujos de tinta, desistindo de prender a mecha de cabelo <strong>que</strong><br />

lhe atrapalhava a visão, e ain<strong>da</strong> as ruas encurva<strong>da</strong>s de Londres, <strong>que</strong> em breve<br />

amanheceriam bombardea<strong>da</strong>s. Nenhum outro sentido como o do pala<strong>da</strong>r era mais<br />

difícil de ser controlado. Através dele, cultivava uma espécie ancestral de<br />

conhecimento, registrando a memória de to<strong>da</strong>s as coisas (2002, p.18).<br />

Em As Horas, Cunningham re­conta a estória de Mrs. Dalloway, como também rompe<br />

com os limites de originali<strong>da</strong>de, de autor/leitor. Enquanto Cunningham escreve As Horas, o<br />

personagem de Virginia Woolf escreve Mrs. Dalloway, nós leitores lemos As Horas; e Laura<br />

Brown lê Mrs. Dalloway. Como esclarece Hutcheon, citando Douglas Crimp: “a ficção do<br />

12 A uni<strong>da</strong>de do texto está <strong>no</strong> seu desti<strong>no</strong> e não na sua origem.

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