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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS<br />

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA<br />

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL<br />

MODALIDADE A DISTÂNCIA<br />

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO<br />

ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR<br />

NA MERENDA ESCOLAR DE SÃO BENTINHO-PB<br />

Walnara Arnaud Moura Formiga<br />

Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - <strong>UFPB</strong><br />

Professor Ademário Félix de Araújo<br />

Professor do Departamento de Economia - <strong>UFPB</strong><br />

RESUMO<br />

O Programa Nacional de Alimentação Escolar-PNAE, baseia-se na deslocação de<br />

investimentos financeiros do Governo Federal aos estados, Distrito Federal e municípios, <strong>para</strong><br />

a <strong>aqui</strong>sição alimentos direcionados à alimentação escolar, seu intuito é satisfazer às exigências<br />

nutricionais dos estudantes enquanto a permanência em sala de aula, favorecendo o<br />

desenvolvimento, crescimento, aprendizagem, rendimento escolar e formação de hábitos<br />

alimentares saudáveis. A partir de junho de 2009, a Lei nº 11.947 definiu que no mínimo 30%<br />

do valor repassado à merenda escolar brasileira precisa ser utilizado <strong>para</strong> adquirir alimentos<br />

diretamente dos agricultores familiares. O aumento da qualidade da alimentação escolar, o<br />

desenvolvimento da agricultura familiar e o incentivo à economia local são fatores<br />

dinamizados através desta iniciativa. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo geral<br />

Investigar as possíveis melhorias ocorridas <strong>para</strong> a população de São Bentinho-Pb com a<br />

implementação da agricultura familiar no PNAE local. A pesquisa foi de caráter descritivo do<br />

tipo exploratória, com uma abordagem qualiquantitativa e sua população foi formada por<br />

professores da rede municipal de ensino, agricultores familiares rurais, merendeiras e<br />

comerciantes locais. A obtenção das informações aconteceu através de uma entrevista semi<br />

estruturada, onde foi aplicado um roteiro com perguntas objetivas e subjetivas. Concluiu-se<br />

que a introdução de gêneros alimentícios proveniente da agricultura familiar na merenda<br />

escolar de São Bentinho trouxe melhorias <strong>para</strong> a qualidade de vida dos seus habitantes, Os<br />

agricultores familiares rurais ficaram mais estimulados a produzir alimentos orgânicos e<br />

tiveram seus lucros aumentados e que houve desenvolvimento econômico local.<br />

Palavras-chave: Merenda Escolar, Agricultura Familiar, Desenvolvimento Econômico.


1 – INTRODUÇÃO<br />

Famoso pelo nome de Merenda Escolar, o Programa Nacional de Alimentação<br />

Escolar-PNAE, baseia-se na deslocação de investimentos financeiros do Governo Federal, em<br />

caráter de aperfeiçoamento, aos estados, Distrito Federal e municípios, <strong>para</strong> a <strong>aqui</strong>sição<br />

alimentos direcionados à alimentação escolar, seu intuito é satisfazer às exigências<br />

nutricionais dos estudantes enquanto a permanência em sala de aula, favorecendo o<br />

desenvolvimento, crescimento, aprendizagem, rendimento escolar e formação de hábitos<br />

alimentares saudáveis.<br />

A partir de junho de 2009, a Lei nº 11.947 definiu que no mínimo 30% do valor<br />

repassado à merenda escolar brasileira precisava ser utilizado <strong>para</strong> adquirir alimentos<br />

diretamente dos agricultores familiares, empreendedores familiares rurais ou suas<br />

organizações (cooperativas, associações), priorizando assentamentos, comunidades indígenas<br />

e quilombolas (Artigo 14, Lei 11.947/2009).<br />

O aumento da qualidade da alimentação escolar, o desenvolvimento da agricultura<br />

familiar e o incentivo à economia local são fatores dinamizados através da agricultura familiar<br />

na merenda escola, porém o município de São Bentinho-Pb, assim como outros no Estado da<br />

Paraíba, não comprou gêneros alimentícios diretamente de agricultores familiares como<br />

obrigava a Lei a partir de 2009 só iniciando esse processo de compra da agricultura familiar a<br />

partir deste ano (2011), constituindo-se em um grande problema uma vez que a população<br />

passou dois anos sem a realização deste procedimento deixando de adquirir benefícios<br />

sociais,econômicos e <strong>para</strong> a saúde nesse período.<br />

Dessa forma faz-se necessário uma análise dessa inclusão, é nesse con<strong>texto</strong> que se<br />

justifica o presente trabalho que tem como tema “Análise da implementação da agricultura<br />

familiar na merenda escolar de São Bentinho-Pb‖, pois é imprescindível saber se a referida<br />

implantação trouxe realmente benefícios <strong>para</strong> a população local.<br />

A alimentação escolar é observada como indispensável ao processo de aprendizagem<br />

e desenvolvimento do aluno, ao mesmo tempo em que também garante um suprimento<br />

mínimo de alimentos às populações carentes. Dentro desse con<strong>texto</strong>, o PNAE pode ser<br />

considerado um importante programa de garantia à segurança alimentar no Brasil.Sendo<br />

assim, o presente estudo teve como objetivo geral Investigar as possíveis melhorias ocorridas<br />

<strong>para</strong> a população de São Bentinho-Pb com a implementação da agricultura familiar no PNAE<br />

2


local e específicos: averiguar o aumento na qualidade da alimentação escolar; verificar o<br />

desenvolvimento da agricultura familiar local; Identificar avanços na economia local;<br />

observar alterações nos níveis de insegurança alimentar local<br />

3


2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

2.1 O PNAE COMO POLÍTICA SOCIAL<br />

As políticas sociais são ações do governo que visam atender á determinada demanda<br />

social. Elas são permeadas por conflitos e contradição de interesses e fazem parte do processo<br />

estatal de distribuição de valores. Refletem a direção política das relações econômicas. A<br />

política social intervém no hiato derivado dos desequilíbrios na distribuição em favor da<br />

acumulação e em detrimento da satisfação de necessidades sociais básicas, assim como na<br />

promoção da igualdade. Contudo, de acordo com Abranches, Coimbra e Santos (1994, p.8),<br />

muitos vêm na política social o meio de realização dos direitos de cidadania. Para outros,<br />

porém, a política social responde a desequilíbrios de mercado, corrigindo-os, <strong>para</strong> permitir a<br />

reprodução do sistema social, sem, contudo alterá-lo significativamente.<br />

A ação pública na forma de política social corresponde a um sistema de<br />

transferência unilateral de recursos e valores, sob variadas modalidades, não<br />

obedecendo, portanto, a lógica do mercado, que pressupõe trocas recíprocas. A<br />

unilateralidade baseia-se no fato de o processo social determinar inúmeras situações<br />

de dependência, que devem ser corrigidas, legitimamente, através da ação estatal.<br />

(ABRANCHES; COIMBRA; SANTOS, 1994).<br />

O Estado deve garantir que as necessidades vitais básicas sejam atendidas. No entanto,<br />

essas necessidades não se resumem apenas àquelas ligadas à pura sobrevivência física. Deve<br />

incluir a persistência física em condições tais que as necessidades biológicas sejam satisfeitas<br />

em grau adequado à prevenção de seqüelas derivadas da má alimentação, garanta-se a<br />

salubridade do meio ambiente, abrigo adequado, ações de saúde preventiva e assistência<br />

médica.<br />

Além disso, deve contemplar também a satisfação de outras necessidades, cultural ou<br />

socialmente determinadas, que definem o mínimo de bem-estar e a garantia de meios que<br />

permitam alterar as chances de vida futura.<br />

Os programas sociais implementados no Brasil são muitas vezes marcados pela<br />

insuficiência, descontinuidade e precariedade. O agravamento da crise social associado à<br />

escassez de recursos econômicos e financeiros levaram a redução dos gastos, por parte do<br />

Estado, <strong>para</strong> as despesas sociais. Neste con<strong>texto</strong>, a avaliação da eficiência, eficácia e<br />

efetividade das políticas públicas pelos atores sociais envolvidos é vista como agente<br />

privilegiado na fiscalização das ações do governo.<br />

4


É visível os avanços ocorridos no nível de bem estar humano nas últimas décadas no<br />

Brasil, porém a condição de miséria permanece em milhares de pessoas espalhadas pelo<br />

território brasileiro assim como a falta de acesso aos alimentos.O interesse em resolver<br />

problemas como esse leva à ações de intervenção do Estado,através das políticas públicas que<br />

são ações do governo que visam atender á determinada demanda social sempre permeadas por<br />

conflitos e contradição de interesses.<br />

De acordo com COSTA (2004) as despesas do governo na implementação de políticas<br />

públicas podem possuir um caráter alocativo, distributivo e estabilizador.As políticas sociais<br />

são exemplo de gastos de caráter alocativo e distributivo. Os custos com tais políticas são<br />

financiados por recursos advindos de alguns setores da economia em detrimento a outros.<br />

Busca-se transformar os gastos do Estado em benefícios <strong>para</strong> a população excluída. Assim, as<br />

políticas adquirem um caráter compensatório. Oferta-se à população, que se encontra<br />

impossibilitada do acesso aos direitos assegurados pela constituição a bens e serviços tais<br />

como, saúde, educação, moradia, transporte etc. O poder executivo é o gestor dos recursos e a<br />

ele cabe a responsabilidade de operacionalizar a oferta <strong>para</strong> as demandas sociais, ou seja,<br />

implementar as políticas públicas.<br />

Ainda sob a visão do autor supracitado as políticas sociais se concretizam através de<br />

programas. A política de alimentação no Brasil é um caso de política compensatória que visa<br />

fornecer recursos <strong>para</strong> que tal necessidade possa ser atendida. Ela engloba vários programas<br />

sociais. Dentre esses programas, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),objeto<br />

desse estudo, merece destaque por seu caráter histórico e por sua abrangência, ele é parte das<br />

ações governamentais que visam alterar a dinâmica de desigualdade promovida pelos<br />

mecanismos de mercado, compensando alunos da rede pública do ensino fundamental ao<br />

ofertar alimentos <strong>para</strong> suprir pelo menos 20% das necessidades diárias de alimentação dos<br />

mesmos. Abrange todo o território brasileiro, tendo assim um caráter universal. O PNAE está<br />

sempre passando por monitoramentos e avaliações, instrumentos indispensáveis <strong>para</strong> melhor<br />

entendimento das necessidades do programa, aperfeiçoando a gestão.<br />

Avaliação de Políticas Públicas consiste num processo de apoio a um aprendizado<br />

contínuo, de busca de melhores decisões e de amadurecimento da gestão e o<br />

monitoramento é o exame contínuo dos insumos, atividades, processos, produtos<br />

(preliminares, intermediários e finais), efeitos ou impactos de uma intervenção, com<br />

a finalidade de otimizar a sua gestão, ou seja, obter mais eficácia, eficiência e,<br />

dependendo do alcance do monitoramento, efetividade. ( RUA, 2010).<br />

5


Avaliar programas sociais é se interrogar a seu respeito, tentar elucidar sua finalidade,<br />

a forma como são produzidos seus resultados e a que práticas sociais se articulam e reforçam.<br />

Não basta, portanto, concordar com a importância dos processos avaliativos, mas se<br />

questionar sobre o potencial da avaliação como instrumento <strong>para</strong> tornar visível a intensidade<br />

das demandas no campo das políticas sociais em nossa sociedade. A avaliação implica, assim,<br />

no exercício de um importante direito democrático: o controle sobre as ações de interesse<br />

público<br />

2.2 FATOS HISTÓRICOS<br />

Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE, 2011) o<br />

Programa Nacional de Alimentação Escolar apoiado sempre pelo movimento popular tem sua<br />

origem no início da década de 40, quando o então Instituto de Nutrição defendia a proposta de<br />

o governo federal oferecer alimentação ao escolar. Entretanto, não foi possível concretizá-la,<br />

por indisponibilidade de recursos financeiros. Na década de 50, pela elaboração da<br />

Conjuntura Alimentar e o Problema da Nutrição no Brasil. se estrutura um programa de<br />

merenda escolar em âmbito nacional, sob a responsabilidade pública. Desse plano original,<br />

apenas o Programa de Alimentação Escolar sobreviveu, contando com o financiamento do<br />

Fundo Internacional de Socorro à Infância (Fisi), atualmente Unicef. Em 1955, foi instituída a<br />

Campanha de Merenda Escolar (CME), subordinada ao Ministério da Educação. A partir de<br />

1976, embora financiado pelo Ministério da Educação e gerenciado pela Campanha Nacional<br />

de Alimentação Escolar, o programa era parte do II Programa Nacional de Alimentação e<br />

Nutrição (Pronan). Somente em 1979 passou a denominar-se Programa Nacional de<br />

Alimentação Escolar. Com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, ficou<br />

assegurado o direito à alimentação escolar a todos os alunos do ensino fundamental por meio<br />

de programa suplementar de alimentação escolar a ser oferecido pelos governos federal,<br />

estaduais e municipais.<br />

Desde sua criação até 1993, a execução do programa se deu de forma centralizada, ou<br />

seja, o órgão gerenciador planejava os cardápios, adquiria os gêneros por processo licitatório,<br />

contratava laboratórios especializados <strong>para</strong> efetuar o controle de qualidade e ainda se<br />

responsabilizava pela distribuição dos alimentos em todo o território nacional. Em 1994, a<br />

descentralização dos recursos <strong>para</strong> execução do programa foi instituída mediante celebração<br />

de convênios com os municípios e com o envolvimento das secretarias de Educação dos<br />

6


estados e do Distrito Federal, às quais se delegou competência <strong>para</strong> atendimento aos alunos de<br />

suas redes e das redes municipais das prefeituras que não haviam aderido à descentralização.<br />

A consolidação da descentralização, já sob o gerenciamento do FNDE, se deu com a<br />

Medida Provisória n° 1.784, de 14/12/98, em que, além do repasse direto a todos os<br />

municípios e secretarias de Educação, a transferência passou a ser feita automaticamente, sem<br />

a necessidade de celebração de convênios ou quaisquer outros instrumentos similares,<br />

permitindo maior agilidade ao processo.<br />

A Medida Provisória n° 2.178, de 28/6/2001 propiciou grandes avanços ao Pnae.<br />

Dentre eles, destacam-se a obrigatoriedade de que 70% dos recursos transferidos pelo governo<br />

federal sejam aplicados exclusivamente em produtos básicos e o respeito aos hábitos<br />

alimentares regionais e à vocação agrícola do município, fomentando o desenvolvimento da<br />

economia local.<br />

Em 2009, a sanção da Lei nº 11.947, de 16 de junho e da Resolução Nº 38 de 16 de<br />

julho de 2009, trouxe novos avanços <strong>para</strong> o PNAE, como a extensão do programa <strong>para</strong> toda a<br />

rede pública de educação básica e de jovens e adultos, e a garantia de que 30% dos repasses<br />

do FNDE (cerca de 900 milhões de reais) sejam investidos na <strong>aqui</strong>sição de produtos da<br />

agricultura familiar estimulando o desenvolvimento econômico das comunidades<br />

2.3 MUDANÇA NO PERFIL NUTRICIONAL DOS BRASILEIROS E ESFERA DE<br />

PRODUÇÃO DE ALIMENTO.<br />

No Brasil, nas últimas décadas, observa-se um fenômeno chamado ―transição<br />

nutricional‖, caracterizado por um aumento dos índices de sobrepeso e de doenças crônicas<br />

não transmissíveis, associados ainda a uma grande, mas declinante, prevalência de déficits<br />

nutricionais (Kac e Velásquez Meléndez,2003). Somado a isso, na esfera da produção,<br />

fortalecese um modelo produtivo que dissemina práticas e disponibiliza tipos de alimentos<br />

intimamente ligados a esse quadro de saúde e à degradação do meio ambiente. Essa produção<br />

está pautada na agricultura intensiva, mecanizada, com elevada utilização de produtos<br />

químicos, com conseqüências ambientais e sociais, como a marginalização de grande parte de<br />

produtores rurais e aumento da pobreza no campo.(FRIEDMANN, 2000).<br />

Para combater essas tendências, o Estado passou a atuar nesse setor com base nos<br />

modelos estruturantes pautados nos conceitos de Segurança Alimentar e Nutricional<br />

sustentável (SAN). As políticas que se depreendem dessa abordagem assentam-se em dois<br />

componentes básicos: o componente alimentar, relacionado à produção, disponibilidade,<br />

7


comercialização e acesso ao alimento, e o componente nutricional, relacionado às práticas<br />

alimentares e à utilização biológica do alimento, e, portanto, ao estado de nutrição da<br />

população (CONSEA, 2004).<br />

Ambos os componentes propõem um modelo de produção e consumo de alimentos<br />

mais sustentável, que aproxime a produção de pequenos agricultores familiares e o consumo<br />

de alimentos, contribuindo <strong>para</strong> a reconexão da cadeia alimentar e de uma relação mais<br />

estreita entre campo e cidade.<br />

Nessa perspectiva, programas públicos alimentares como o Programa Nacional de<br />

Alimentação Escolar (PNAE) aparecem como potenciais reintegradores desses componentes,<br />

em face das condições de auxiliar no enfrentamento das problemáticas referentes ao consumo<br />

e à produção de alimentos. Isso se dá, por um lado, pela integração de políticas relacionadas à<br />

saúde da população de escolares e, por outro, pela criação de mercados <strong>para</strong> os agricultores<br />

familiares, inclusive com potencial <strong>para</strong> fomentar práticas de gestão ambiental.<br />

2.4 PROBLEMAS NUTRICIONAIS, PRODUÇÃO DE ALIMENTOS E MEIO AMBIENTE<br />

Para Lang e Heasman (2004), as preocupações com a saúde pública teriam sido até<br />

então marginalizadas pelo Estado e moldadas de acordo com os interesses e influências das<br />

normas de mercado. Esses autores defendem que os problemas alimentares e nutricionais<br />

deveriam ser tratados de forma mais ampla, gerenciando os desafios alimentares em conjunto,<br />

considerando desde a forma como o alimento é produzido até como ele é tratado pelo<br />

consumidor. Para isso, haveria de se pensar em como formular políticas públicas que<br />

providenciassem soluções <strong>para</strong> tratar dos diversos problemas associados a alimentos e meio<br />

ambiente. Marsden (2003) reforça essa ideia, ressaltando que a formação de cadeias<br />

alimentares que reconectem os produtores e os consumidores, por meio da mediação das<br />

instituições públicas, podem até contra-arrastar os modelos dominantes de abastecimento<br />

agroalimentar, do dominados pelas longas cadeias do agronegócio e do setor varejista na<br />

distribuição de alimentos.<br />

Não obstante as recentes políticas de SAN apontem <strong>para</strong> novos modelos<br />

agroalimentares no Brasil, na prática, ainda são poucas as iniciativas que caminham nessa<br />

direção, especialmente em relação ao Programa de Alimentação Escolar. As razões <strong>para</strong> isso<br />

ainda são pouco conhecidas, embora existam determinados indícios que remetem a<br />

dificuldades em sua efetivação.<br />

8


2.3 O PNAE E A AGRICULTURA FAMILIAR<br />

A Lei nº 11.947 exige que do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no<br />

âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados na <strong>aqui</strong>sição de<br />

gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou<br />

de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades<br />

tradicionais indígenas e comunidades quilombolas.<br />

O FNDE publicou a Resolução 38 (16 de julho de 2009), que regulamenta a lei da<br />

alimentação escolar e que sobre a agricultura familiar diz que a forma de <strong>aqui</strong>sição dos<br />

gêneros alimentícios poderá ser realizada por dispensa de licitação, desde que os preços sejam<br />

compatíveis com o mercado local. Nesse caso, a entidade executora (secretaria de educação<br />

ou escola) deverá publicar em jornal ou mural de ampla circulação uma chamada pública de<br />

compra. Essa chamada pública de compra irá definir os gêneros alimentícios e a quantidade a<br />

ser comprada com base no cardápio elaborado pelo nutricionista, que é o responsável técnico.<br />

Os interessados em fornecer <strong>para</strong> a alimentação escolar deverão, então, apresentar um<br />

projeto de venda (há um formulário próprio) junto com outras documentações descritas na<br />

resolução.<br />

Podem ser fornecedores da alimentação escolar: agricultores familiares e<br />

empreendedores familiares rurais que possuam DAP (Declaração de Aptidão ao PRONAF<br />

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) organizados em grupos<br />

formais ou informais. A prioridade de compra será dada às propostas de grupos do município.<br />

Podendo ser complementada, caso seja necessário, com propostas de grupos da região, do<br />

território rural, estado ou país. Também deverá ser dada prioridade, sempre que possível, aos<br />

alimentos orgânicos ou agroecológicos.<br />

3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS<br />

9


3.1 TIPO E LOCAL DO ESTUDO<br />

A pesquisa foi um estudo de caso, tendo um caráter descritivo, uma vez que sua<br />

valorização foi baseada na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas<br />

podem ser melhoradas através de descrição e análise de observações objetivas e diretas. Foi<br />

do tipo exploratória, pois os objetivos se concentraram em conhecer melhor o objeto a ser<br />

investigado. Pode-se dizer que este tipo de pesquisa têm como objetivo principal o<br />

aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. O presente estudo teve ainda uma<br />

abordagem quantiqualitativa, pois se utilizou medidas numéricas <strong>para</strong> testar as hipóteses e<br />

também se examinou aspectos mais profundos e subjetivos do tema em estudo, empregando<br />

procedimentos interpretativos com representação verbal dos dados coletados por meio de<br />

perguntas em questões abertas de caráter qualitativo (GUNTHER, 2006).O estudo foi<br />

realizado na cidade de São Bentinho-Pb.<br />

3.1.1 Caracterização do local do estudo.<br />

O município de São Bentinho, esta localizado no Oeste do Estado da Paraíba,<br />

limitando-se a oeste e sudoeste com Cajazeirinhas, a Sul Catingueira, a leste Condado e a<br />

Norte Pombal. Ocupa uma área de 154,2km2. O acesso a partir de João Pessoa é feito através<br />

da BR-230 na qual percorre-se cerca 360km,que constitui a distância da capital a sede<br />

municipal.<br />

O município foi criado pela lei nº 5.933 de 29 de Abril de 1994 e instalado em 01 de<br />

Janeiro de 1997. De acordo com último censo do IBGE, a comunidade conta com uma<br />

população de 3.589 habitantes dos quais 1784 são homens e 1.805 mulheres. O município de<br />

São Bentinho está inserido na unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a<br />

paisagem típica do semi-árido nordestino. A vegetação é basicamente composta por Caatinga<br />

Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia. O clima é do tipo Tropical Semi-Árido,<br />

com chuvas de verão. O período chuvoso se inicia em novembro com término em abril. A<br />

precipitação média anual é de 431,8mm.<br />

3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA<br />

Foi constituída pela população dos agricultores familiares rurais que fornecem<br />

alimentos <strong>para</strong> merenda escolar de São Bentinho-Pb e das merendeiras municipais, pela<br />

amostra de 50% dos professores da rede municipal de ensino e 50% dos comerciantes locais.<br />

10


3.3 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS<br />

A obtenção das informações aconteceu através de uma entrevista semi estruturada,<br />

onde foi aplicado um roteiro com perguntas objetivas e subjetivas.<br />

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISES DE DADOS<br />

Os dados foram analisados por meio de percentuais, sendo a fala dos entrevistados<br />

avaliada através da análise de conteúdo e discutidos com base na literatura referente ao tema,<br />

o estudo dos dados qualitativos foi realizado seguindo os passos da técnica da análise de<br />

conteúdo descrita por Bardin que compreende: primeiro, a leitura de cada uma das entrevistas,<br />

segundo a leitura com a finalidade de desmembrar as unidades de registro <strong>para</strong> classificar e<br />

agrupar os dados brutos oriundos das falas dos sujeitos em representação do conteúdo e a<br />

categorização por grupo de registro com significado e elementos comuns (BARDIN,2009). Os<br />

resultados foram apresentados na forma de tabelas e quadro <strong>para</strong> melhor visualização e<br />

procedimentos.<br />

4 - ANÁLISE DE RESULTADOS<br />

Analisando os resultados encontrados na pesquisa realizada com agricultores,<br />

comerciantes, professores e alunos de São Bentinho-Pb no intuito de avaliar o resultado da<br />

inserção da produção agrícola familiar desse município na alimentação escolar de seus alunos,<br />

observou-se os seguintes dados:<br />

4.1 DA ANÁLISE COM MERENDEIRAS<br />

TABELA 01 Distribuição da amostra de merendeiras relacionado a percepção do desperdício<br />

da merenda por parte dos alunos<br />

Diminuição do desperdício quantidade %<br />

Sim 8 80<br />

Não 2 20<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

11


Ao observar os questionamentos feitos as merendeiras da rede municipal de ensino<br />

percebeu-se que a maioria delas perceberam que ao se introduzir alimentos da agricultura<br />

familiar local houve uma significativa redução do desperdício de alimentos por parte dos<br />

alunos quando com<strong>para</strong>do ao ano anterior, como podemos verificar na tabela acima que<br />

reflete que a conexão entre agricultura familiar e alimentação escolar melhorou a<br />

palatabilidade das pre<strong>para</strong>ções oferecidas na merenda escolar de São Bentinho.<br />

Verçosa (2011) diz que o desperdício de alimentos neste país é resultado de falhas<br />

deixadas pelo próprio processo de desenvolvimento. Assim a agricultura familiar no PNAE<br />

apresenta-se como uma forma de corrigir essas falhas.<br />

TABELA 02 Distribuição da amostra de merendeiras relacionado a percepção do aumento no<br />

número de alunos que se alimentam da merenda escolar<br />

Aumento de comensais quantidade %<br />

Sim 6 60<br />

Não 4 40<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

Ainda analisando o posicionamento das merendeiras encontrou-se que as mesmas<br />

conseguiram notar que muitos alunos que antes traziam seus alimentos de casa <strong>para</strong> escola ou<br />

que simplesmente ficavam sem comer.Essa prática de consumo de alimentos oriundos de casa<br />

ou de cantinas revela-se, portanto, preocupante <strong>para</strong> o alcance das metas do PNAE, que, mais<br />

do que um programa de suplementação alimentar, deve ser visto como um importante<br />

instrumento de educação nutricional e um canal <strong>para</strong> resgatar hábitos alimentares saudáveis<br />

(MUNIZ; CARVALHO, 2007).<br />

Com a introdução de alimentos produzidos no município e sendo os mesmos entregues<br />

fresquinhos como feijão verde, ovo de codorna, banana maçã, manga, caju, entre outros fez o<br />

cardápio ficar mais atrativo e também mais regionalizado o que pode ter estimulado os alunos<br />

a quererem se alimentar na escola, como mostra a opinião da maioria das merendeiras<br />

entrevistadas.<br />

12


4.2 ANÁLISE DOS PROFESSORES<br />

TABELA 03 Distribuição da amostra de professores relacionado à percepção da relação da<br />

melhoria da merenda escolar com a melhoria na aprendizagem<br />

Melhoria na merenda levou<br />

a melhor aprendizado quantidade %<br />

Sim 5 50<br />

Não 5 50<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

Uma outra categoria de profissionais da educação questionada foi a de professores<br />

entre as indagações feitas aos mesmos teve-se o que se vê na tabela 04: Ao fazerem a relação<br />

da melhoria da qualidade da merenda escolar com a melhoria na aprendizagem dos alunos<br />

alguns professores ( 50% da amostra) relataram perceber essa relação enquanto que outros<br />

(50% da amostra) não perceberam, ou seja, apesar de não existir uma maioria de professores<br />

que acreditem nessa relação, mas existe um bom percentual que acredita e por tanto a<br />

informação é relevante,uma vez que um dos objetivos do PNAE é melhorar o aprendizado.<br />

Collares (1982) propõe que a fome tenha influência sobre o aproveitamento escolar.<br />

Resolvida a sensação de fome através de uma alimentação de qualidade, cessam seus efeitos<br />

de interferência na disponibilidade neuropsicológica <strong>para</strong> a aprendizagem.<br />

TABELA 04 Distribuição da amostra de professores relacionado à observação sobre<br />

comentários dos alunos a respeito da melhoria da qualidade da merenda.<br />

Alunos comentaram sobre<br />

melhoria na merenda quantidade %<br />

Sim 10 100<br />

Não 0 0<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

13


Os professores também relataram que durante as aulas no decorrer do ano perceberam<br />

comentários positivos sobre a alimentação escolar, destacando que os mesmos afirmavam que<br />

a merenda servida nas escolas havia melhorado, dados sintetizados na tabela acima.<br />

TABELA 05 Distribuição da amostra de professores relacionado à sua opinião pessoal quanto<br />

a melhoria da qualidade da merenda<br />

Melhoria da qualidade da merenda quantidade %<br />

Sim 10 100<br />

Não 0 0<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

Persistindo nos questionamentos com os professores, obteve-se a informação que os<br />

mesmos consideram por unanimidade que durante o ano de 2011 a qualidade da alimentação<br />

escolar melhorou, como se destaca tais informações na tabela 05.<br />

As escolas devem oferecer alimentação de qualidade, pois o aluno, bem alimentado,<br />

apresenta maior aproveitamento escolar, tem o equilíbrio necessário <strong>para</strong> seu crescimento e<br />

desenvolvimento e mantém as defesas imunológicas adequadas (CONRADO;NOVELLO,<br />

2007).<br />

4.3 Da análise com os Agricultores familiares rurais<br />

TABELA 06 Distribuição da amostra de agricultores relacionado ao aumento do estímulo a<br />

produzir alimentos<br />

Maior estímulo na produção<br />

de alimentos quantidade %<br />

Sim 10 100<br />

Não 0 0<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

14


Na ânsia de avaliar os impactos da inserção agricultura familiar na merenda escolar,<br />

questionou-se os agricultores familiares rurais que estão fornecendo alimentos <strong>para</strong><br />

alimentação escolar de São Bentinho e conquistou-se as seguintes informações:<br />

A tabela 06 mostra que 100% dos agricultores se sentiram mais estimulados a<br />

produzirem alimentos, uma vez, que já possuem mercado certo e sem atravessadores, o que<br />

poderá garantir um mercado crescente de produtos diversificados e saudáveis.<br />

A mobilização do capital social local refere-se à capacidade de estabelecer a<br />

organização do território de forma que se possa melhorar a condição econômica da sociedade,<br />

por meio de ações coordenadas em rede. (PUTNAN 2006)<br />

TABELA 07 Distribuição da amostra de agricultores relacionado a utilização de agrotóxicos<br />

industrializados na produção de alimentos <strong>para</strong> merenda escolar<br />

Faz uso de agrotóxico industrializado quantidade %<br />

Sim 0 0<br />

Não 10 100<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

Abordados sobre a utilização de agrotóxicos industrializados na produção de seus<br />

produtos, todos afirmaram não fazer uso desse tipo de produto e que asseguram a qualidade<br />

de seus alimentos, essa utilização de agrotóxicos está representada na tabela acima.Ao se<br />

perceber que alimentos estão sendo produzidos sem agrotóxicos e utilizados na merenda<br />

escolar, pode-se verificar um aumento na segurança alimentar e nutricional dos alunos deste<br />

município.<br />

Segundo Carvalho, et al 2005, a magnitude do impacto resultante do uso de agrotóxico<br />

sobre o homem do campo pode ser constado pela elevada incidência de intoxicações dos<br />

mesmos registrados pelo ministério da saúde.<br />

15


TABELA 08 Distribuição da amostra de agricultores relacionado a utilização de agrotóxicos<br />

industrializados na produção de alimentos antes de serem fornecedores da merenda escolar<br />

Fez uso de agrotóxico industrializado quantidade %<br />

Sim 3 30<br />

Não 7 70<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

Questionados sobre a utilização desses tipos de agrotóxicos em seus produtos antes de<br />

os fornecerem <strong>para</strong> a merenda escolar, alguns, embora a minoria, reconheceram fazer uso de<br />

agrotóxicos industrializados ( como mostra a tabela 09), por mais que agora não usem mais,<br />

pois com a introdução da Lei 11947 de 16 de junho de 2009 obrigou-se os agricultores<br />

familiares rurais a só fornecerem alimentos orgânicos <strong>para</strong> a merenda escolar.<br />

Ferrari 1995 disse "os agrotóxicos atuam de duas maneiras no comprometimento da<br />

saúde da população: através das intoxicações dos agricultores durante a aplicação desses<br />

produtos ou através do consumo de alimentos contaminados com resíduos de veneno.<br />

A com<strong>para</strong>ção dos dados de uso de agrotóxicos antes e depois da venda de produtos a<br />

alimentação escolar ( tabelas 08 e 09), verifica-se que houve uma melhoria nesta produção<br />

uma vez que <strong>para</strong> vender ao Programa Nacional de Alimentação Escolar o agricultor familiar<br />

teve que se enquadrar as normas do mesmo e entre elas está a produção de alimentos<br />

orgânicos, assim sendo ao ser inserida a agricultura familiar no PNAE o mesmo também<br />

contribuiu <strong>para</strong> a melhoria da qualidade da produção vegetal dos agricultores familiares<br />

rurais.<br />

TABELA 09 Distribuição da amostra de agricultores relacionada ao aumento de seus lucros<br />

com a venda de alimentos <strong>para</strong> a merenda escolar<br />

Aumento de lucro quantidade %<br />

Sim 10 100<br />

Não 0 0<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

16


Questionando-se os agricultores sobre o aumento de seus lucros com a venda de<br />

gêneros alimentícios diretamente <strong>para</strong> a merenda escolar, constatou-se que todos concordaram<br />

que seus lucros aumentaram, uma vez que vendem a preço de mercado e em grande<br />

quantidade, quando anteriormente o que produziam em quantidade era repassado <strong>para</strong><br />

atravessadores a preços muito baixos o que não acontece com as vendas ao Programa<br />

Nacional de Alimentação Escolar, uma vez que o programa respeita o PGPAF ( programa de<br />

garantia de preço <strong>para</strong> o agricultor familiar) , ou seja, a entidade executora do PNAE não pode<br />

comprar nenhum produto com preço inferior ao estabelecido no PGPAF que geralmente é<br />

igual ou superior ao do mercado local.<br />

QUADRO 01: Dificuldades encontradas pelos agricultores familiares rurais de São Bentinho<br />

<strong>para</strong> fornecer alimentos ao PNAE<br />

Pagamento de taxa de R$ 9,90 ao Fisco Estadual <strong>para</strong> emissão de cada nota fiscal de seus<br />

produtos.<br />

Atraso no pagamento por parte da Prefeitura Municipal de São Bentinho-Pb<br />

Abrir conta em Banco <strong>para</strong> receber o pagamento<br />

Greve no Fisco Estadual<br />

Ausência de SIM ( Sistema de Inspeção Municipal) no município de São Bentinho<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

Os agricultores ao serem questionados de forma subjetiva sobre as dificuldades<br />

encontradas pelos mesmos <strong>para</strong> fornecer seus produtos ao PNAE os mesmos demonstraram<br />

que o PNAE no que diz respeito a agricultura familiar precisa ser reavaliado, pois segundo os<br />

agricultores existe muita burocracia a ser seguida pelo agricultor como a comprovação fiscal<br />

de seus produtos e abertura de conta bancária, é sabido que o agricultor só recebe o dinheiro<br />

dos produtos que forneceu com a nota fiscal, sendo assim, se ele vende R$ 15,00 ( quinze<br />

reais) de coentro e <strong>para</strong> recebê-lo precisa se deslocar até Pombal-Pb ( onde se encontra a<br />

Coletoria Estadual mais próxima) <strong>para</strong> pegar uma nota fiscal e ainda pagar por ela R$ 9,00 (<br />

nove reais), tem-se uma situação totalmente inviável, então eles esperam fornecerem muitos<br />

produtos <strong>para</strong> irem de uma só vez retirar a nota e assim ficam muito tempo sem receber<br />

dinheiro.<br />

Notou-se que a greve no Fisco Estadual desestimulou um pouco os agricultores, pois<br />

ficaram sem poder retirar notas e logo sem receberem o dinheiro de seus produtos e quanto ao<br />

atraso do pagamento pela Prefeitura Municipal de São Bentinho-Pb na verdade não foi culpa<br />

da instituição apenas a mesma não poderia pagar sem que os agricultores apresentassem nota<br />

fiscal. A ausência do SIM em São Bentinho foi relatada pelos agricultores familiares como<br />

17


dificuldade, pois sem este sistema os agricultores e empreendedores familiares rurais não<br />

podem vender nada de origem animal, que são os produtos de maior valor como carnes, leite,<br />

ovos, mel de abelha etc.<br />

4.4 DA ANÁLISE COM OS COMERCIANTES LOCAIS<br />

TABELA 10 Distribuição da amostra de comerciantes locais relacionada ao aumento das<br />

vendas em 2011 com<strong>para</strong>da a 2010.<br />

Aumento de vendas quantidade %<br />

Sim 10 100<br />

Não 0 0<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

O aumento das vendas relatado pelos comerciantes entrevistados mostra que houve um<br />

maior poder de compras durante o ano de dois mil e onze por parte dos sãobentinhenses,<br />

garantindo assim uma maior movimentação do mercado interno.<br />

TABELA 11 Distribuição da amostra de comerciantes locais relacionada a percepção no<br />

aumento do poder de compras de agricultores familiares locais<br />

Aumento de compras pelos agricultores quantidade %<br />

Sim 10 100<br />

Não 0 0<br />

Total 10 100%<br />

Fonte: Elaboração própria<br />

O município de São Bentinho é muito pequeno e praticamente todas as pessoas se<br />

conhecem, ficando fácil <strong>para</strong> os comerciantes identificarem se os agricultores investiram mais<br />

em compras locais durante o ano de 2011 e analisando a tabela acima se percebe que os<br />

comerciantes foram unânimes em reconhecer que os agricultores que passaram a vender seus<br />

produtos ao PNAE tiveram maior poder de compras, o mostra uma melhora na qualidade de<br />

vida dos agricultores e dinamização da economia local.<br />

18


5- CONCLUSÕES<br />

Com base no processamento dos dados, na análise e compreensão dos resultados deste<br />

estudo, pode-se deduzir que a introdução de gêneros alimentícios proveniente da agricultura<br />

familiar na merenda escolar de São Bentinho trouxe melhorias <strong>para</strong> a qualidade de vida dos<br />

seus habitantes, sobretudo seus escolares e agricultores familiares rurais, uma vez que tal<br />

procedimento melhorou a qualidade da alimentação oferecida nas escolas da rede municipal<br />

de ensino e melhorou a qualidade de vida dos agricultores familiares rurais.<br />

Os agricultores familiares rurais ficaram mais estimulados a produzir alimentos, uma<br />

vez que possuem a oportunidade de venderem seus produtos a melhores preços, sem a figura<br />

do atravessado, constatando-se que os agricultores tiveram seus lucros aumentados.Os<br />

mesmos também melhoraram a qualidade de sua produção vegetal, passando a só cultivarem<br />

alimentos orgânicos o que gerou benefícios <strong>para</strong> a população e ao meio ambiente.<br />

Mesmo com muitas vantagens em fornecer alimentos <strong>para</strong> merenda escolar os<br />

agricultores relataram algumas dificuldades no processo, como a comprovação fiscal, o fato<br />

de terem passado por uma greve do fisco estadual e assim terem seus pagamentos atrasados, a<br />

impossibilidade de vender produtos de origem animal pela ausência do Sistema de Inspeção<br />

Municipal em São Bentinho.<br />

Os dados evidenciaram que a economia local foi estimulada durante o ano de dois mil<br />

e onze, pois os comerciantes relatam terem aumentado seus lucros e percebido um maior<br />

poder de compra por parte dos agricultores. Destaca-se aí que o papel do Estado através de<br />

ações do Governo por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE <strong>para</strong><br />

redução das desigualdades sociais e superação do problema de acesso ao alimento.<br />

Dessa forma constata-se a grande relevância da nova legislação do PNAE (introdução<br />

da agricultura familiar) como política pública <strong>para</strong> se conseguir Segurança Alimentar e<br />

Nutricional, destacando-se a influência das relações entre Estado, Governo e Mercado na<br />

implementação desse programa.<br />

Finalmente é imprescindível incentivar que novas análises sejam feitas, não só no<br />

município de São Bentinho-Pb como também em outros de modo a sempre melhorar o PNAE<br />

e assim garantir termos em nosso país pessoas mais saudáveis,sem problemas na sua fase de<br />

desenvolvimento e com maior poder econômico.<br />

19


WALNARA ARNAUD MOURA FORMIGA<br />

GRADUAÇÃO:<br />

Graduada pela Universidade Federal da Paraíba – <strong>UFPB</strong> em 2004.<br />

PÓS-GRADUAÇÃO:<br />

Especialização em Saúde da Família pelas Faculdades Integradas de Patos – FIP<br />

em 2008;<br />

Especialização em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal da<br />

Paraíba – <strong>UFPB</strong> VIRTUAL em 2011.<br />

EMPREGO ATUAL:<br />

Nutricionista da merenda escolar de São Bentinho-Pb e Cajazeirinhas-Pb e<br />

Nutricionista do Hospital Regional de Pombal.<br />

CONTATO:<br />

walnara@hotmail.com e (83) 99791436<br />

20


REFERÊNCIAS<br />

ABRANCHES, H.S; COIMBRA, M.A; SANTOS, W.G. Política social e combate à<br />

pobreza. 3.ed.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994.<br />

BARDIN, L. Análise do Conteúdo. 70 ed. Lisboa: [Sn], 2010-2009.<br />

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no Brasil, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? Acessado em: 05 de<br />

dezembro de 2011.<br />

COLLARES, Cecília A. L. Influência da merenda escolar no rendimento em<br />

alfabetização: um estudo experimental. São Paulo: USP. Tese (Doutorado) —<br />

Universidade de São Paulo, 1982.<br />

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por alunos da rede municipal de ensino do município de Inácio Martins/PR. Revista<br />

eletrônica Lato Sensu. n.1, p. 1 – 15, 2007.<br />

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NUTRICIONAL. Princípios e diretrizes de uma política de segurança alimentar e<br />

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Nutricional. Brasília, julho 2004 .Acesso em 7/10/2011 disponível em:<br />

WWW.presidencia.gov.br/consea<br />

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usuários: um estudo de caso.Fortaleza, 2004<br />

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FRIEDMANN, Harriet. Uma economia mundial de alimentos sustentável. In: BELIK, L;<br />

MALUF, R.S. Abastecimento e Segurança Alimentar. Campinas: UNICAMP, 2000. p. 1-21.<br />

21


FERRARI, Antenor. Agrotóxico: a praga a dominação. Porto Alegre: Mercado<br />

Aberto,1995.<br />

GÜNTHER, H. Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa: Esta É a Questão?<br />

Psicologia: Teoria e Pesquisa, Sciello, vol. 22 nº2, p.201-210 May/Aug. 2006.<br />

KAC, G.; VELASQUEZ-MELÉNDEZ,G.A transição nutricional e a epidemiologia da<br />

obesidade na América Latina. Cad. Saúde Pública, 19 (Sup. 1):2003<br />

LANG, T.; HEASMAN, M. Food Wars: The Battle for Minds, Mouths and Markets.<br />

London: Earthscan, 2004.<br />

MARSDEN, T. K. The condition of rural sustainability. Assen: The Netherlands, Van<br />

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MUNIZ, V. M.; CARVALHO, A. T. O Programa Nacional de Alimentação Escolar em<br />

município do estado da Paraíba: um estudo sob o olhar dos beneficiários do Programa.<br />

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PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia: A experiência da Itália moderna. Rio<br />

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RUA, Maria das Graças. Avaliação e monitoramento de Políticas Públicas, in Módulo<br />

Básico Especialização em Gestão Pública Municipal. Políticas Públicas.Florianópolis, 2009.<br />

VERÇOSA, T. ―Como evitar o desperdício de alimentos” Disponível em<br />


APÊNDICES<br />

APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO PARA AGRICULTORES<br />

1- Com as vendas <strong>para</strong> a merenda escolar você teve mais estímulo a produzir os<br />

alimentos?<br />

( ) sim ( ) não<br />

2- Você utiliza agrotóxicos industrializados <strong>para</strong> a produção de alimentos <strong>para</strong> a<br />

merenda escolar?<br />

( ) sim ( ) não<br />

3- Antes de fornecer alimentos <strong>para</strong> merenda escolar você fazia uso de tais agrotóxicos?<br />

( ) sim ( ) não<br />

4. Seus lucros aumentaram ao fornecer seus produtos diretamente <strong>para</strong> a merenda<br />

escolar ao invés de entregá-los a atravessadores?<br />

( ) sim ( ) não<br />

5. Quais as dificuldades encontradas <strong>para</strong> se fornecer produtos <strong>para</strong> o PNAE?<br />

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES<br />

1- Com a introdução de alimentos da agricultura familiar na merenda escolar, de um<br />

modo geral você notou alguma melhoria na aprendizagem do aluno durante o ano de<br />

2011 com<strong>para</strong>do ao ano de 2010. ( ) sim ( ) não<br />

2 -Durante as aulas você ouviu algum comentário dos alunos sobre a melhoria na<br />

qualidade da merenda escolar? ( ) sim ( ) não<br />

3 Você acha que com a introdução dos alimentos da agricultura familiar houve uma<br />

melhoria na qualidade da merenda escolar? ( ) sim ( ) não<br />

23


APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA MERENDEIRA<br />

1 – Com a mudança do cardápio durante o ano de 2011 os alunos passaram a<br />

desperdiçar menos alimentos?<br />

( ) sim ( ) não<br />

2- Você percebeu se o número de alunos que comem da merenda oferecida pela<br />

escola aumentou em 2011?<br />

( ) sim ( ) não<br />

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO PARA COMERCIANTES LOCAIS<br />

1- Durante o ano de 2011 suas vendas foram maiores que em 2010?<br />

( ) sim ( ) não<br />

2 - Você percebeu um maior poder de compras por parte de agricultores rurais durante o<br />

ano de 2011?<br />

( ) sim ( ) não<br />

24

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