1 - "garoto do paulistano" - Casa da História
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ALEGUÁ ... GUÁ ...GUÁ PAULISTANO !<br />
Com o tempo nossas lembranças vão pouco a pouco esmaecen<strong>do</strong><br />
e , devagarzinho... bem devagarzinho , começam a desaparecer. Existem<br />
muitas horas de viver e sentir agitar as coisas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> . Existem apenas<br />
poucos momentos para lembra-las . Mesmo porque , quan<strong>do</strong> realmente a<br />
velhice chegar, não teremos certeza que a memória estará em condições<br />
para realmente lembrar to<strong>do</strong>s aqueles bons ou maus momentos vivi<strong>do</strong>s .<br />
Assim sen<strong>do</strong> , neste relato estarei contan<strong>do</strong> , além de fatos de<br />
minha vi<strong>da</strong> , estórias e casos , ocorri<strong>do</strong>s comigo e com nossos<br />
companheiros <strong>do</strong> Club Athletico Paulistano . Eles , to<strong>do</strong>s meus amigos ,<br />
foram e traduzem , desde minha infância , uma convivência muito feliz<br />
em minha vi<strong>da</strong> .<br />
Muitos casos são alegres . Alguns tristes . Será na reali<strong>da</strong>de ,<br />
dentro deste meu relato e antes de mais na<strong>da</strong> , minha homenagem para os<br />
amigos que já nos deixaram . Eles farão sempre parte <strong>da</strong> nossa “Turma <strong>do</strong><br />
Paulistano”<br />
Aqui estarei reviven<strong>do</strong> momentos fraternos que nos marcaram .<br />
Sau<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s irmãos <strong>do</strong> Paulistano que já se foram :<br />
Caio Marcelo Kiehl, Luiz Carlos Junqueira Franco, Luiz<br />
Vicente de Sylos, César Affonseca , Pedro Magalhães Padilha, Paulo<br />
Ribeiro, “Kico” Campassi , Silvio Abreu Jr. , Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro<br />
<strong>da</strong> Silva, Arman<strong>do</strong> Salem, Mario Ottobrini, Roberto Claro, Sérgio<br />
Macha<strong>do</strong> de Lucca, Osval<strong>do</strong> Doria, Antonio Ciampolini, Caio Pompeu<br />
de Tole<strong>do</strong>, “Jujuba” Moreira <strong>da</strong> Costa, Roberto Matarazzo, Antonio<br />
Duva Neto, “Hélinho”Fuganti, Manoel Leal Mendes, Candi<strong>do</strong><br />
Cavalcanti, “Zequinha”Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong>, “Paulão”Viana, Albano de<br />
Azeve<strong>do</strong> e Souza, José Tambelini , Luiz “Velu<strong>do</strong>”Pompeu de Tole<strong>do</strong>,<br />
Mario Fix, Wallinho Simonsen, Fernan<strong>do</strong> Simonsen, Paulinho Fleury,<br />
Adhemar Zacarias, Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Viana, José Cavalieri, Amedeo Papa,<br />
Carlos Dacache, Rubens Limongi França, Gilberto Marcondes Trigo,<br />
Deoclides Brito, Fernan<strong>do</strong> Pondé, Ayrton Baccelar, Mario Guisalberti,<br />
Claudio “Ratão”Fagundes , João Balbi Campos , Antonio Rabello,<br />
Fernan<strong>do</strong> Botelho de Miran<strong>da</strong>.<br />
To<strong>do</strong>s eles nos deixaram , alguns muito ce<strong>do</strong> , no auge de tu<strong>do</strong><br />
que a vi<strong>da</strong> poderia lhes proporcionar de melhor .<br />
Hoje , no final <strong>da</strong>s tardes de verão , quan<strong>do</strong> o céu fica bem<br />
vermelho com muitas nuvens brancas , mostran<strong>do</strong> então as nossas cores ,<br />
sinto a brisa que traz , lá de cima , nosso canto de guerra :<br />
“Aleguá ... guá ...guá , Paulistano ... Paulistano ... ! ”<br />
Longe ... bem lá longe ... , eles ain<strong>da</strong> estão torcen<strong>do</strong> por nós .<br />
Edu Marcondes
O CLUB ATHLETICO PAULISTANO<br />
Edu Marcondes<br />
Sua Formação – A Antiga Sede Social – Administração Dr. Antonio<br />
Pra<strong>do</strong> – Futebol : Fim <strong>do</strong> Paulistano começo <strong>do</strong> São Paulo F.C. – Os<br />
Antigos Funcionários – “ Fecha<strong>do</strong> para Almoço”- Torneio Branco e<br />
Vermelho –<br />
Como este livro sempre vai girar em torno <strong>do</strong> Paulistano é bom<br />
conhecermos melhor o nosso clube desde este início. Aqui vamos falar <strong>da</strong><br />
sede velha , de seus campos esportivos , piscinas e tu<strong>do</strong> mais.<br />
Comecei freqüentar o Club Atlhetico Paulistano com freqüência ,<br />
conhecen<strong>do</strong> melhor sua história , sua gente e ain<strong>da</strong> fazen<strong>do</strong> muitos<br />
amigos por lá , desde inicio <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> 1.940 .<br />
Seria impossível falarmos sobre nosso clube sem comentarmos a sua<br />
formação e fun<strong>da</strong>ção, sem contarmos coisas sobre sua antiga sede, suas<br />
primeiras ativi<strong>da</strong>des e seus vários e antigos departamentos .<br />
Lembran<strong>do</strong> sempre de nossa gente sempre vitoriosa nos esportes .<br />
De nossas Diretorias.<br />
Também não esquecen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s velhos funcionários .<br />
A Turma <strong>do</strong> Paulistano , que foi “Alma Mater”<strong>do</strong> Clube durante<br />
tantos e tantos anos , será narra<strong>da</strong> logo depois, no decorrer de outros fatos ,<br />
de outras histórias , em muitas outras partes . Ela assim se formou .<br />
Antes de mais na<strong>da</strong>, é preciso lembrar <strong>da</strong>s suas origens , <strong>da</strong>s suas<br />
primeiras instalações . Daquela “Antiga Sede <strong>do</strong> Paulistano ” , inicia<strong>da</strong> em<br />
construção por volta <strong>da</strong> primeira déca<strong>da</strong> <strong>do</strong> século XX , no coração <strong>do</strong><br />
Jardim América .<br />
Sua Entra<strong>da</strong> Social naquela época era realiza<strong>da</strong> pela Rua Colômbia ,<br />
ten<strong>do</strong> , alguns anos depois em sua frente , o Monumento aos nossos<br />
Vitoriosos Joga<strong>do</strong>res de Futebol . Eles foram vitoriosos em to<strong>da</strong> Europa .<br />
Porem , enten<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> importante , nesta sua história , contar<br />
como o nosso clube veio crescer em pleno coração <strong>do</strong> Jardim América .<br />
Isto , como lembro agora , ain<strong>da</strong> por volta de 1.910 .<br />
Antes um pequeno reparo que julgo necessário para tirar qualquer<br />
duvi<strong>da</strong> . Pouco tempo atrás vieram me dizer que a fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> nosso clube<br />
não tinha realmente aconteci<strong>do</strong> no dia 29 de Dezembro de 1.900 .<br />
. Edgard Scavone , um novo diretos <strong>do</strong> CAP , achou um recibo de<br />
associa<strong>do</strong> , nem se sabe onde , com <strong>da</strong>ta anterior <strong>da</strong>quela acima explicita<strong>da</strong><br />
29/12 /1.900. Apenas com dias de antecedência .<br />
Porem cumpre lembrar que a <strong>da</strong>ta de nossa fun<strong>da</strong>ção é aquela mesmo<br />
que sempre valeu e foi sempre comemora<strong>da</strong> , inclusive por seus antigos<br />
fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res desde o seu inicio , sempre devi<strong>da</strong>mente muito respeita<strong>da</strong> .
Será que eles não conheciam esta <strong>da</strong>ta ?<br />
Alem <strong>do</strong> mais o tal recibo pode até ter si<strong>do</strong> feito antes ou depois , por<br />
mil e uma razões . Pouco interessa . E nem vem ao caso .<br />
Vai continuar valen<strong>do</strong> a <strong>da</strong>ta que durante mais de 100 anos<br />
comemorou dignamente nossa fun<strong>da</strong>ção . É a nossa tradição .<br />
Na<strong>da</strong> vai representar outra <strong>da</strong>ta perto de nossas grandes tradições .<br />
Nem mesmo poderia !<br />
O Paulistano começou como clube, ten<strong>do</strong> sua área esportiva junto<br />
ao Velódromo. Ele que ficava exatamente onde se situa a atual Praça<br />
Roosevelt. Por lá, naquele Velódromo, começou sua carreira vence<strong>do</strong>ra .<br />
Ali jogou futebol até aproxima<strong>da</strong>mente 1.916 . Ganhou jogos importantes<br />
para a época , com os principais clubes <strong>da</strong> época , tais como :<br />
Paulistano 2x0 Fluminense ; - Paulistano 3x0 Americano ; -<br />
Paulistano 3x0 Dublin <strong>do</strong> Uruguai ; - Paulistano 5 x 0 Sel. Paraná ;<br />
Paulistano 5 x 3 Argentinos ; - Paulistano 4 x 0 Palestra ;- Paulistano 5<br />
x 2 Internacional ;- Paulistano 3 x 0 Corinthians - Paulistano 1 x 0<br />
Palestra ;-Paulistano 4 x 2 Universal /Uruguai ; - Paulistano 2 x 0<br />
Flamengo .<br />
Naqueles tempos a bicicleta tinha ganho adeptos esportistas. Daí o<br />
advento <strong>do</strong> Velódromo . Porem quan<strong>do</strong> apareceu o futebol , vin<strong>do</strong> para o<br />
Brasil com Charles Miller, a preferência mu<strong>do</strong>u . Rapi<strong>da</strong>mente ! Então o<br />
Paulistano também se transformou em um grande clube futebolístico .<br />
Um <strong>do</strong>s mais importantes .<br />
Único clube com quatro títulos paulista em sequência . Até hoje !<br />
Foi o primeiro clube brasileiro que excursionou vitoriosamente pela<br />
Europa , realizan<strong>do</strong> lin<strong>da</strong>s exibições durante o ano de 1.925 , vencen<strong>do</strong><br />
praticamente to<strong>da</strong>s as parti<strong>da</strong>s disputa<strong>da</strong>s. Delas podemos lembrar :<br />
Paulistano 3 x 1 Stade Français ; - Paulistano 4 x 0 Bordeaux ;-<br />
Paulistano 2 x 1 Havre ;- Paulistano 2 x 1 Seleção <strong>da</strong> Alsácia ; -<br />
Paulistano 2 x 1 Zurich.<br />
Por isto mesmo a ci<strong>da</strong>de comemorou devi<strong>da</strong>mente este feito<br />
homenagean<strong>do</strong> o Paulistano e seus atletas , com aquele Marco Histórico ,<br />
implanta<strong>do</strong> na rua Colômbia , bem em frente <strong>da</strong> nossa antiga portaria.<br />
Nosso clube desde aquele tempo foi se transforman<strong>do</strong> em um marco<br />
esportivo de São Paulo e <strong>do</strong> Brasil . Realmente Esportivo .<br />
. - Antiga Sede Social<br />
Pois bem, visan<strong>do</strong> ficar sempre bem localiza<strong>do</strong> , o Paulistano adquiriu<br />
uma grande área, situa<strong>da</strong> entre as Ruas : Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s , Colômbia e<br />
Honduras , no coração <strong>do</strong> Jardim América .<br />
Entretanto , como precisava de um Campo para realizar suas Parti<strong>da</strong>s<br />
de Futebol, seria necessário ampliar o espaço existente naquela nova área .
Precisava de mais metros quadra<strong>do</strong>s para construção de um Campo de<br />
Futebol, com dimensões apropria<strong>da</strong>s. Assim, conforme antigas<br />
informações, de fontes indiscutíveis uma nova área contigua aquela inicial<br />
foi adquiri<strong>da</strong> pela família Pra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>a<strong>da</strong> ao Paulistano . Ficava logo depois<br />
<strong>da</strong>quela inicial e liga<strong>da</strong> a mesma .<br />
Assim nossa área atual chegou até a Rua Argentina .<br />
Isto tu<strong>do</strong> aconteceu praticamente naquela mesma época .<br />
Então nossa área passou a ter as mesmas dimensões atuais . Ficou<br />
praticamente com seus <strong>do</strong>is alqueires .<br />
Enquanto as residências estavam surgin<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> Jardim América, a<br />
nossa sede social já estava sen<strong>do</strong> acaba<strong>da</strong> . Ficou muito bonita , muito<br />
funcional para a época , ampla , clara, ventila<strong>da</strong> e acima de tu<strong>do</strong><br />
extremamente agradável .<br />
Outro dia ouvi de um sócio bem mais novo que a nossa antiga sede<br />
era apenas um “Grande <strong>Casa</strong> Velha” . Falta de respeito inicial . Péssima<br />
educação alem <strong>do</strong> mais . Falar <strong>do</strong> nunca conheceu ! Seria o mesmo que<br />
chamar o nosso lin<strong>do</strong> Teatro Municipal de coisa velha . Absur<strong>do</strong> !<br />
Para tentar <strong>da</strong>r idéia de como era nossa sede , vou descrevê-la , nos<br />
detalhes que a minha memória ain<strong>da</strong> possa recor<strong>da</strong>r , com meus quase<br />
oitenta anos e depois de mais de meio século de seu final , quan<strong>do</strong> ela foi<br />
derruba<strong>da</strong> para ampliar a área <strong>do</strong> CAP , por volta de 1.959 .<br />
A sua Portaria <strong>da</strong>va entra<strong>da</strong> pela Rua Colômbia . Ali se<br />
encontravam <strong>do</strong>is grandes portões , com o símbolo <strong>do</strong> CAP em ca<strong>da</strong> uma<br />
<strong>da</strong>s portas . Logo em segui<strong>da</strong> estava situa<strong>da</strong> uma Guarita . Ali ficavam os<br />
porteiros .<br />
Para acesso ao Paulistano seria indispensável apresentação <strong>da</strong><br />
carteirinha social , para depois passar , entran<strong>do</strong> por uma catraca . A<br />
carteirinha era ain<strong>da</strong> de couro , com o distintivo <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> <strong>do</strong> CAP na capa .<br />
Dentro delas , de um la<strong>do</strong> a foto <strong>do</strong> sócio , nome e sua categoria social . Do<br />
outro o recibo que deveria estar pago .<br />
Os sócios na época poderiam ser <strong>da</strong>s seguintes classes : Infantil<br />
(com mais de 12 anos ) ; Juvenil ( com mais de 14 anos) ; Individual e ou<br />
Familiar ( já na condição de adulto ) . Existia ain<strong>da</strong> a classe <strong>do</strong>s Sócios<br />
Atletas . Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Carteirinha estava o recibo <strong>do</strong> mês . Com atraso<br />
o sócio não entrava .<br />
Dali passaríamos por uma área bem ajardina<strong>da</strong> , bem em frente<br />
<strong>da</strong> antiga sede , até alcançarmos a Entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Sede Social , com suas Altas<br />
Portas de Madeira . Elas ficavam situa<strong>da</strong>s no alto de Três largos e amplos<br />
Degraus de Mármore Branco . Como Cobertura <strong>da</strong> Entra<strong>da</strong> para a Sede<br />
existia um pequeno telha<strong>do</strong> .
Bem <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> portaria ficava um amplo local para as<br />
Bicicletas serem devi<strong>da</strong>mente guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s , sem ocupar muito espaço . Não<br />
tinham cadea<strong>do</strong>s pois naquele tempo ninguém roubava bicicletas .<br />
Dentro , logo na entra<strong>da</strong> havia um Grande Hall , onde estavam<br />
instala<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grandes bancos, um de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele local . Por ali<br />
existiam ain<strong>da</strong> as Entra<strong>da</strong>s para Duas Alas , bem específicas ,<br />
situa<strong>da</strong>s de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele Hall .<br />
Para o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> existia a Secretaria <strong>do</strong> Club. Vinha logo<br />
depois um corre<strong>do</strong>r que <strong>da</strong>va para o amplo Salão de Barbeiro , com<br />
Manicure e Engraxate . No final <strong>do</strong> tal corre<strong>do</strong>r um largo Banheiro para os<br />
homens .<br />
Do la<strong>do</strong> direito : As Salas <strong>da</strong> Diretoria e Presidência , Cabeleireiro<br />
para mulheres e Banheiro feminino.<br />
Bem em frente ao hall , ocupan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a largura <strong>da</strong> construção ,<br />
um muito Amplo e Longo Salão . Existia nele , logo depois <strong>da</strong> sua entra<strong>da</strong>,<br />
no alto <strong>da</strong>quela entra<strong>da</strong> , uma parte suspensa , como um Pequeno<br />
Camarote. Era possível chegar até lá via uma escadinha lateral que ficava<br />
dentro <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r que ia para o banheiro masculino . Ali, naquele<br />
pequeno camarote, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> vista para to<strong>do</strong> Salão Social, muitas vezes nos<br />
escondíamos , depois <strong>do</strong> clube fechar , ficávamos esperan<strong>do</strong> para “Furar<br />
Bailes de Formatura” , logicamente de terceiros que haviam aluga<strong>do</strong> o<br />
Salão . Pura fuzarca <strong>da</strong> juventude .<br />
Aquele Amplo Salão tinha várias funções . Era destina<strong>do</strong> aos<br />
Bailes e Festas em dias previamente marca<strong>do</strong>s , nota<strong>da</strong>mente os Bailes de<br />
Carnaval e <strong>do</strong> Aniversário <strong>do</strong> Paulistano . Sem festas , nem bailes , ele era<br />
Dividi<strong>do</strong> em Duas Partes , por Biombos grandes de couro escuro . Bonitos<br />
e muito funcionais .<br />
Do la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong>s biombos ficava o “Salão de Jogos de<br />
Cartas”. Ali se encontravam os sócios , para nos finais <strong>da</strong>s tardes e mesmo<br />
nas noites realizar jogos de “buraco” , “pôquer” e “pif-paf”.<br />
Do outro la<strong>do</strong> , ampla Sala de Estar , com vista para o Bar Social .<br />
Era decora<strong>da</strong> com móveis bonitos e estofa<strong>do</strong>s em couro , tapetes persas ,<br />
mesinhas laterais com luminárias e mesinhas decorativas com troféus<br />
ganhos pelo CAP . No centro deste Salão sempre ficava uma grande Mesa<br />
Retangular , de madeira muito bonita , com um Grande Vaso de Flores<br />
naturais, bem no centro . Tu<strong>do</strong> muito distinto . Sem ostentação .<br />
Na continui<strong>da</strong>de deste Amplo Salão , passan<strong>do</strong> por Largas Portas de<br />
Vidro , encontrávamos o grande Bar Social <strong>do</strong> Club . Era largo e compri<strong>do</strong><br />
com largas janelas em seus <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s . Em uma parte <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong><br />
esquer<strong>do</strong> ficava o Bar propriamente dito , com seu longo Tampo de<br />
Mármore e suas Cadeiras Altas , ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mesmo .
Desde a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele Bar , em sua frente , existiam duas alas de<br />
grandes conjuntos , forma<strong>do</strong>s por uma grande, longa e bonita mesa de<br />
madeira , com <strong>do</strong>is grandes bancos instala<strong>do</strong>s , um de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> . O<br />
conjunto era de madeira de lei . Ca<strong>da</strong> um destes conjuntos servia até para<br />
oito pessoas . Ao re<strong>do</strong>r de tu<strong>do</strong> isto muitas outras mesinhas , com seis<br />
cadeiras ca<strong>da</strong> uma.<br />
Era por lá que se jogava : Com <strong>da</strong><strong>do</strong>s : “Bidu e Bide” , “Du<strong>do</strong>” ,<br />
“Pôquer com Da<strong>do</strong>s”... e conversa fora . Aposta : normalmente cerveja .<br />
Este bar era extremamente ventila<strong>do</strong> com largas e amplas janelas<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s , ten<strong>do</strong> magnífica vista para os jardins internos <strong>do</strong> Clube.<br />
Ele <strong>da</strong>va saí<strong>da</strong> para o nosso longo Terraço . Ocupava to<strong>da</strong> a parte<br />
trazeira <strong>da</strong>quela construção . Ali era considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s melhores lugares<br />
para se tomar um refrigerante , um suco , chá e até mesmo um cafezinho ,<br />
baten<strong>do</strong> papo com os amigos . Paquerar se possível .<br />
Existiam no terraço muitas Mesas com suas Cadeiras de Vime .<br />
Largas poltronas, também de vime , ficavam devi<strong>da</strong>mente encosta<strong>da</strong>s nas<br />
paredes.<br />
A vista para a Paisagem Interior <strong>do</strong> clube até hoje fica na memória .<br />
Muita arvore , muito verde , muito canteiro com flores e muita beleza .<br />
Este Terraço , como to<strong>da</strong> construção <strong>da</strong> sede , estava situa<strong>do</strong> em<br />
uma parte mais alta <strong>do</strong> terreno . Ali, depois <strong>do</strong> terraço , um longo grama<strong>do</strong> ,<br />
no meio <strong>do</strong> qual foi instala<strong>da</strong> uma grande pista de <strong>da</strong>nças, muito utiliza<strong>da</strong><br />
nos Chás Dançantes de Noites de Verão .<br />
Descen<strong>do</strong> três degraus podíamos chegar a qualquer lugar <strong>do</strong> clube .<br />
Daquele Terraço ain<strong>da</strong> podíamos ver ao longe grande parte <strong>do</strong><br />
interior <strong>do</strong> Paulistano . Bem em frente uma ampla área grama<strong>da</strong> onde se<br />
encontravam os famosos “Laguinhos”. Na reali<strong>da</strong>de não eram Laguinhos<br />
mas “Riozinhos”. Eles circun<strong>da</strong>vam por to<strong>da</strong> aquela grande área verde ,<br />
cheia de maravilhosas arvores e suas sombras .<br />
Naquele lugar foi construí<strong>da</strong> a atual e nova piscina .<br />
Daquele terraço ain<strong>da</strong> podíamos ver até o final <strong>do</strong> clube , com seu<br />
Antigo Ginásio e a Pérgula <strong>da</strong> Antiga Piscina . As colunas que formavam<br />
aquela pérgula ain<strong>da</strong> estão no Paulistano . São as mesmas que acompanham<br />
to<strong>do</strong> o caminho para a sede , forman<strong>do</strong> uma pérgula com flores , desde a<br />
entra<strong>da</strong> que existe hoje na Rua Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s .<br />
Lembro que a nossa Antiga Piscina tinha maravilhosa aura de muita<br />
alegria que até hoje é muito difícil de ser encontra<strong>da</strong> . Aquele lugar mágico<br />
fora inaugura<strong>do</strong> pelo Presidente <strong>do</strong> Brasil - Dr. Washington Luiz – caso<br />
não esteja engana<strong>do</strong>, em 1.928 .<br />
Foi a primeira piscina construí<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a América <strong>do</strong> Sul .
Nela nadei desde a infância até seu final . Minha boa saúde foi ali<br />
constituí<strong>da</strong> por seu uso diário . Ali construí muitas boas recor<strong>da</strong>ções .<br />
Do antigo Ginásio sempre ficam na memória aqueles sons<br />
impossíveis de serem esqueci<strong>do</strong>s , aqueles sons que vinham de nossa<br />
torci<strong>da</strong> . Aleguá .. guá ...guá ... Paulistano !<br />
Fica também na memória o som <strong>da</strong>quele piano que acompanhava<br />
diariamente as Aulas de Ginástica Sueca <strong>do</strong> velho Richenbaker . Era na<br />
época a melhor maneira para se manter a forma física , principalmente para<br />
aqueles que trabalhavam o dia inteiro senta<strong>do</strong>s .<br />
É impossível esquecer o Coro de Nossa Gente , torcen<strong>do</strong> , cantan<strong>do</strong> e<br />
vibran<strong>do</strong> pelas cores campeã <strong>do</strong> nosso clube em qualquer jogo ou disputa<br />
Fica até hoje em minha memória :<br />
“ Aleguá... guá... guá ... Paulistano ...Paulistano ...Paulistano ! ”<br />
Naquele mesmo Ginásio , aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong> Tozinho Lara Campos , foi cria<strong>da</strong><br />
e forma<strong>da</strong> a Primeira Área de Halteres <strong>do</strong> Paulistano . Para tanto fomos<br />
buscar , em sua casa <strong>da</strong> Av. Brasil , as barras e os diversos pesos .<br />
Ele estava <strong>do</strong>an<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os pesos necessários para nosso CAP .<br />
Naquela noite , Dezembro de 1950 , teríamos a Competição Paulista de<br />
Levantamento de Pesos para Estreantes . E não tínhamos os pesos .<br />
Com Tozinho Lara Campos eles foram consegui<strong>do</strong>s !<br />
Eu estava competin<strong>do</strong> . Fui vice campeão <strong>do</strong>s Meio Pesa<strong>do</strong>s .<br />
Nosso técnico era Renè Usmiani – Egipcio - Antigo campeão mundial.<br />
Entre aquelas duas áreas existia o Campo de Atletismo .Ele<br />
anteriormente fora de Futebol e aconteceram ali grandes vitórias <strong>do</strong><br />
Paulistano . Por consequ~encias muitos campeonatos .<br />
Ao la<strong>do</strong> dele existia sua Arquibanca<strong>da</strong> . Que não mais existe .<br />
Debaixo dela era vestiário para esportes . Logo depois <strong>da</strong>quela<br />
arquibanca<strong>da</strong> existia uma quadra de “Ring”. Maravilhosa para <strong>da</strong>r e criar<br />
fôlego aos atletas .<br />
Dos <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sede se viam as Múltiplas Quadras de Tênis . Eram<br />
perfeitas e muito utiliza<strong>da</strong>s . Sempre . Algumas já eram ilumina<strong>da</strong>s .<br />
No fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> clube , ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele canto , onde a rua Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s se encontra com a Rua Argentina, ficava e continua existin<strong>do</strong> a<br />
ultima recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>quela época . É uma quadra que serve para Jogos de<br />
Frontão e de Paleta . Realmente a única coisa que sobrou <strong>do</strong> velho<br />
Paulistano . Ali sempre paro, olho e fico lembran<strong>do</strong> .<br />
Quantos amigos ...quantos jogos ... Quantas sau<strong>da</strong>des .<br />
No mais , tu<strong>do</strong> <strong>do</strong> antigo Paulistano veio abaixo , deixan<strong>do</strong> sau<strong>da</strong>des .
Perto <strong>da</strong> piscina e ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo de atletismo existia uma<br />
“Enorme , Maravilhosa , Fron<strong>do</strong>sa e Centenária - “Arvore de Pau Ferro” .<br />
Para ceder espaço à moderni<strong>da</strong>de ela foi elimina<strong>da</strong> . Sem dó !<br />
Por to<strong>da</strong> volta <strong>do</strong> clube existiam antigos eucaliptos . Tinham mais de<br />
50 anos e ficaram tão grandes que se tornaram perigosos . Poderiam cair .<br />
Foram retira<strong>do</strong>s . Existiam justificativas .<br />
Um dia a antiga sede <strong>do</strong> Paulistano estava sen<strong>do</strong> derruba<strong>da</strong> . Ela<br />
<strong>da</strong>ria lugar para uma nova , construí<strong>da</strong> em outra área interna <strong>do</strong> Clube .<br />
Junto com João Campos , Cesar Affonseca Silva e Ari Mace<strong>do</strong><br />
fomos ver sua demolição . Ficamos olhan<strong>do</strong> sem bem entender o por que .<br />
Em uma forma muito espontânea , saiu <strong>da</strong>quela visita um<br />
“sambinha”. Foi feito para lembrar nossas sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quela sede , onde<br />
tanto bons momentos passamos .<br />
Ficou assim :<br />
“ No coração Paulistano<br />
Hoje mora um desengano<br />
Pela sede social nossa tradição ...<br />
Da sede tão afama<strong>da</strong><br />
Agora jaz derruba<strong>da</strong><br />
Só ficou recor<strong>da</strong>ção ...<br />
Até ... o velho Jorge foi despeja<strong>do</strong><br />
E teve que se mu<strong>da</strong>r com seu Barzinho ...<br />
Ai que sau<strong>da</strong>des ...<br />
Da batuca<strong>da</strong> feita naquele cantinho .”<br />
Canta Joãozinho ...!<br />
- Administração <strong>do</strong> Dr. Antonio Pra<strong>do</strong><br />
De to<strong>do</strong>s Presidentes que vi passar , ele era um Presidente bem<br />
diferente no trato <strong>da</strong>s nossas coisas . Sua presença era constante no<br />
Paulistano . Não só na sala <strong>da</strong> Presidência , mas em to<strong>do</strong>s lugares . Não<br />
para praticar esporte ou gozar a presença <strong>do</strong>s amigos . Nem mesmo para<br />
tomar algum café ou refrigerante .<br />
Sua presença constante era de puro administra<strong>do</strong>r . Diária .<br />
To<strong>da</strong> manhã , vestin<strong>do</strong> terno de linho branco no verão , ou cinzento<br />
na meia estação , sempre com colete e corrente de ouro <strong>do</strong> seu relógio<br />
aparecen<strong>do</strong> , isto quan<strong>do</strong> abria por necessi<strong>da</strong>de o paletó , no Paulistano<br />
chegava bem ce<strong>do</strong> o nosso Presidente Antonio Pra<strong>do</strong> .
Lembro muito bem dele . Figura marcante . Chegava por volta <strong>da</strong>s<br />
8,30 horas <strong>da</strong> manhã. O Gerente <strong>da</strong> época , Sr. Coelho , com uma prancheta<br />
na mão , o acompanhava em seu giro diário por to<strong>da</strong>s as dependências <strong>do</strong><br />
Paulistano .<br />
Ele ia ven<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> suas ordens , com prazo acerta<strong>do</strong> para<br />
execução . O Sr. Coelho tomava nota . Depois man<strong>da</strong>va executar e cobrava<br />
em segui<strong>da</strong> . Não tinha conversa . Tu<strong>do</strong> acerta<strong>do</strong> com o Presidente deveria<br />
estar feito e resolvi<strong>do</strong> na hora certa e marca<strong>da</strong> . Sem erro .<br />
Porem Antonio Pra<strong>do</strong> era pessoa afável . Cheia de lógica e de muito<br />
espírito de justiça .Vou contar um caso , aconteci<strong>do</strong> comigo e com amigos .<br />
Certo dia, em 1.951 , quan<strong>do</strong> eu tinha 19 anos, depois de ganhar o<br />
Campeonato de “Braço de Ferro” ( naquele tempo de muitos esportes ele<br />
também existia ) , estávamos ali no Bar Social . Nós iríamos agora<br />
Representar o Paulistano no Campeonato que a “Gazeta Esportiva”<br />
promovia to<strong>do</strong>s os anos . Quem cui<strong>da</strong>va de tu<strong>do</strong> era o amigo Ubirajara<br />
Pillagalo .<br />
Aqueles que tinham participa<strong>do</strong> <strong>do</strong> campeonato interno , mostravam<br />
para amigos o jeito de ajustar e pegar as mãos , antes de começar a fazer<br />
força. Por isto <strong>da</strong>vam risa<strong>da</strong>s e faziam algum barulho, mas que não era<br />
muito .<br />
Subitamente apareceu o Gerente Coelho. O barulho acontecia<br />
naturalmente , pois éramos mais de 18 rapazes .<br />
O Sr. Coelho não teve duvi<strong>da</strong> . No ato suspendeu 5 sócios , entre eles<br />
este seu re<strong>da</strong>tor . Sem o menor motivo. A suspensão foi imediata .<br />
Tivemos que sair <strong>do</strong> Clube naquele momento .<br />
O Sr. Coelho estava aze<strong>do</strong> . Não quis conversas .<br />
Na mesma noite fui jantar em casa de meu avô , Prof. Dr.Thomaz<br />
Oscar Marcondes de Souza . Ele reparou que eu estava aborreci<strong>do</strong> .<br />
Perguntou o que havia aconteci<strong>do</strong> . Eu contei tu<strong>do</strong> , em detalhes . Ele<br />
parou . pensou e disse que era uma indigni<strong>da</strong>de que estávamos sofren<strong>do</strong> .<br />
Ele não gostou . De imediato tomou providencia ligan<strong>do</strong> para o seu<br />
amigo Dr. Antonio Pra<strong>do</strong> . Contou o caso . Logo ficou então combina<strong>do</strong><br />
que no outro dia , as 14 horas , nós os prejudica<strong>do</strong>s , deveríamos ir até a<br />
casa <strong>do</strong> Dr. Antonio Pra<strong>do</strong> , na Av. Higienópolis . Ele iria nos ouvir .<br />
Na hora marca<strong>da</strong> lá estávamos : Roberto Claro , Sérgio Macha<strong>do</strong> ,<br />
Albano de Camargo , João Campos e eu - o causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> problema .<br />
Fomos recebi<strong>do</strong>s pelo seu Mor<strong>do</strong>mo que pediu para ser<br />
acompanha<strong>do</strong> . O jardim e a casa eram imensos , quase um palácio , local<br />
onde , após seu falecimento , se formou um clube famoso .<br />
Minutos depois ele nos atendeu no Salão de Visita .
Queria saber <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong> . Pedi licença e contei o caso com to<strong>do</strong>s<br />
detalhes . Ele ouviu com muita atenção , sem interromper e na<strong>da</strong> perguntar.<br />
No fim disse que poderíamos voltar a entrar no Paulistano .<br />
A suspensão se acabara . Agradecemos .<br />
Quan<strong>do</strong> estávamos sain<strong>do</strong> ele perguntou : - “Quem é o neto <strong>do</strong><br />
amigo Marcondes ? . De imediato me apresentei . Então ele disse sorrin<strong>do</strong> :<br />
“ Vocês an<strong>da</strong>m jogan<strong>do</strong> futebol no grama<strong>do</strong> <strong>da</strong> pista de atletismo . É<br />
proibi<strong>do</strong> e vocês sabem muito bem ! Porem ..., como jogam descalços e não<br />
estragam a grama, podem continuar ... Como fazem hoje ... Quan<strong>do</strong> eu por<br />
lá não estiver !”<br />
Nota: Aquele jogo de futebol era na reali<strong>da</strong>de um “racha”<br />
realiza<strong>do</strong> com 5 ou 6 <strong>garoto</strong>s em ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong>. Ocupava um pequeno pe<strong>da</strong>ço<br />
de grama<strong>do</strong> em um canto <strong>do</strong> Campo de Atletismo.<br />
As traves eram improvisa<strong>da</strong>s com balizas para Salto em Altura .<br />
Quem também por vezes jogava com a moleca<strong>da</strong> era o grande Arthur<br />
Friedenreicht . Ele ,“El Tigre”, já estava por volta <strong>do</strong>s 53 anos , pois<br />
nascera em 1.898 . Tirava os sapatos e batia bola com aqueles “Pernas de<br />
Pau”. Sabia tu<strong>do</strong> ! E quan<strong>do</strong> fazia um gol vibrava igual um menino !<br />
- Futebol : Fim <strong>do</strong> Paulistano – Início <strong>do</strong> São Paulo F C<br />
Antonio Pra<strong>do</strong> tinha para si que to<strong>do</strong> esporte deveria ser ama<strong>do</strong>r.<br />
Este principio , mais o trato <strong>da</strong>s coisas com serie<strong>da</strong>de , foi básico<br />
para o termino <strong>do</strong> futebol no Paulistano .<br />
Na época o Paulistano era o maior time de futebol brasileiro .<br />
O Fato : No início de 1930 , os clubes que sempre estiveram ao la<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Paulistano , como ama<strong>do</strong>res na LAF – “Liga Ama<strong>do</strong>ra de Futebol”,<br />
passaram a apoiar a APEA , que depois iria se transformar na Federação<br />
Paulista de Futebol . Eles queriam tornar o futebol profissional .<br />
Antonio Pra<strong>do</strong> e alguns diretores <strong>do</strong> CAP não concor<strong>da</strong>ram .<br />
Então o Paulistano se retirou <strong>do</strong> campeonato , definitivamente .<br />
Importante : Agora vou transcrever o que redigiu Antonio Malzonni<br />
– Antigo Re<strong>da</strong>tor , muito conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong> famosa “Gazeta Esportiva” . Um<br />
<strong>do</strong>s mais consagra<strong>do</strong>s jornalistas <strong>do</strong> esporte de to<strong>do</strong>s os tempos. Isto que<br />
transcrevo está no seu “Almanaque Esportivo Olimpicus”, Edição de 1943/<br />
1.944 , na sua pagina 82 . Ali , sem mistérios vamos encontrar :<br />
“ - O desfecho <strong>da</strong> cisão trouxe o desaparecimento <strong>do</strong> glorioso e<br />
tradicional Paulistano ... abrin<strong>do</strong> uma lacuna irreparável . Entretanto , não<br />
se conformaram muitos sócios <strong>da</strong>quele clube , alguns <strong>do</strong>s mais influentes<br />
... Os mais decidi<strong>do</strong>s tomaram uma decisão ...uma solução... sem porem<br />
ferir o Paulistano .<br />
Sabia-se que o antigo Palmeiras (Não Confundir Com o Palestra )<br />
corria o risco de perder seu campo <strong>da</strong> Floresta. Imediatamente surgiu a
idéia de uma união para se formar um novo clube de futebol . Também era<br />
para entrar nesta fusão o São Bento . Porem , ele no final ficou fora .<br />
Foi assim cria<strong>do</strong> o São Paulo F. C.– (<strong>da</strong> Floresta – local onde<br />
treinavam) . Ele que estreou em 9 de Março de 1930 , no novo campeonato<br />
paulista . Logo em segui<strong>da</strong> , o São Paulo F. C. foi Campeão Paulista de<br />
1.931 . Vice campeão de 32 , 33 , 34 .<br />
A maioria <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res e quase to<strong>do</strong>s seus diretores tinham vin<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Paulistano . Era , com novo nome , mas com mesmos joga<strong>do</strong>res e<br />
diretores , uma continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> CAP.<br />
. Em 1.935 os diretores <strong>da</strong>quele antigo Palmeiras , resolveram não<br />
mais participar <strong>do</strong> São Paulo F. C. Saíram <strong>do</strong> clube e levaram com eles o<br />
campo <strong>da</strong> Floresta . Com isto vai se separar o São Paulo Futebol Clube <strong>do</strong><br />
antigo Palmeiras . Aquele <strong>da</strong> Floresta” .<br />
Entretanto , não desapareceu o São Paulo Futebol Clube .<br />
O Nome <strong>do</strong> Clube continuou o mesmo ! O Uniforme foi o mesmo !<br />
As Cores as mesmas tricolores ! O Distintivo o mesmo ! Os Joga<strong>do</strong>res os<br />
mesmos . Os Diretores <strong>do</strong> São Paulo os mesmos. Tu<strong>do</strong> era o mesmo .<br />
O São Paulo F.C. é uma continui<strong>da</strong>de real <strong>do</strong> Paulistano , que existe<br />
desde 1930 . Gostem ou não gostem seus adversários !<br />
Os Antigos Emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> CAP<br />
Sempre achei incrível como um clube , <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong> Paulistano<br />
antigo , com mais de 3.000 sócios na ocasião , pudesse ser tão bem<br />
administra<strong>do</strong> com tão poucos emprega<strong>do</strong>s como ele tinha .<br />
Eram tão poucos que conhecíamos quase to<strong>do</strong>s eles pelo nome .<br />
Por eles éramos atendi<strong>do</strong>s sempre perfeitamente .<br />
Existia um esquema que funcionava . Parte <strong>do</strong>s que trabalhavam<br />
no Paulistano eram emprega<strong>do</strong>s . Parte não , pois algumas Áreas eram<br />
Arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s , diminuin<strong>do</strong> em muito o seu custo operacional .<br />
Vamos lembrar a seguir de alguns nomes .<br />
1- Na Secretaria tínhamos <strong>do</strong>is (2) funcionários : Ivo e Irineu ;<br />
2- A Barbearia era Arren<strong>da</strong><strong>da</strong> , para Rodrigues e outros barbeiros .<br />
Assim o seu Custo era Zero ;<br />
3- O Cabeleireiro Feminino também era Arren<strong>da</strong><strong>do</strong> ! Custo zero !<br />
4- O Bar , que servia alguns pratos leves , posto que na Sede Velha<br />
não existia restaurante , era Arren<strong>da</strong><strong>do</strong> . Custo Zero ! Quem tomava conta<br />
era o Jorge , que até permitia a realização de contas mensais para os sócios.<br />
Assim o seu custo , bem como o custo <strong>do</strong>s garçons era zero! Custo Zero !<br />
5- No Vestiário <strong>do</strong> Tênis Masculino ; quem tomava conta era o<br />
Euclides e um aju<strong>da</strong>nte . Era um caboclo muito forte e muito amigo <strong>do</strong>s<br />
sócios . Quan<strong>do</strong> existiam bailes de terceiros em nossa antiga sede, sempre<br />
ficava de Vigia . Com ele nós entravamos nos Bailes , por pura amizade ;
6- Vestiário Tênis Feminino – Dona Ci<strong>da</strong> e aju<strong>da</strong>nte<br />
7- Na Piscina era o velho Max , que até arranjava “Gumex” para o<br />
cabelo <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> . Ele tomava conta <strong>do</strong>s valores <strong>do</strong>s sócios . Um Salva<br />
Vi<strong>da</strong>s ficava por lá na piscina . Muito atento ;<br />
8- No Ginásio o emprega<strong>do</strong> era “Zé <strong>do</strong> Ginásio” . Depois que ele foi<br />
para a Piscina virou “Zé <strong>da</strong> Piscina” . Quan<strong>do</strong> , já na sede nova ele veio<br />
para o Bilhar , virou “Zé <strong>do</strong> Bilhar”. Aposentou-se no clube .<br />
9 - Os outros funcionários eram Pessoas <strong>da</strong> Limpeza Geral , que<br />
giravam pelo clube , em <strong>do</strong>is ou três grupos de 4 pessoas . Eram ao to<strong>do</strong> 10<br />
ou 15 no máximo . Tinhamos ain<strong>da</strong> 3 jardineiros .<br />
10 – Entretanto , deixo claro que uma coisa é administrar o Clube com<br />
3.000 sócios e poucos emprega<strong>do</strong>s . Outra coisa é realizar administração<br />
com quase 27.000 sócios , inclusive com mais áreas de atuação .<br />
Enten<strong>do</strong> que fica muito mais difícil . Enten<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> que tu<strong>do</strong> continua<br />
sen<strong>do</strong> muito bem administra<strong>do</strong> . Pode haver pequenos erros , mas tu<strong>do</strong> é<br />
bem organiza<strong>do</strong> e funciona muito bem atualmente .<br />
É modelo para outros clubes .<br />
“Fecha<strong>do</strong> para Almoço”<br />
Dentro <strong>do</strong>s costumes paulistas <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 30/40/50 , o Paulistano<br />
ficava fecha<strong>do</strong> desde as 13,00 hora , até as 15,00 horas , no meio <strong>da</strong> tarde .<br />
Isto porque as famílias almoçavam juntas , em casa .<br />
Ali também em casa eram recebi<strong>do</strong>s os amigos , inclusive <strong>do</strong>s seus<br />
filhos e <strong>da</strong>s suas filhas .<br />
Nem sei quantas vezes almocei na casa <strong>do</strong> Roberto Claro , <strong>do</strong> Caio<br />
Kiehl , <strong>do</strong> Vicente de Sylos , <strong>do</strong> Junqueira Franco , <strong>do</strong> Candi<strong>do</strong> Cavalcanti,<br />
<strong>do</strong> Eduar<strong>do</strong> de Paula e de tantos outros amigos . Também nem sei quantas<br />
vezes eles almoçaram em minha casa .<br />
Até nas férias levávamos amigos para passar o perío<strong>do</strong> inteiro<br />
conosco. Um mês com amigos em nossa casa de São Vicente . Também<br />
éramos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para férias em suas casas . Quantas vezes fui para mil<br />
lugares .<br />
Isto era costume . Bom . Muito bom . Tu<strong>do</strong> em família !<br />
Por esta razão o Paulistano podia ficar sempre fecha<strong>do</strong> , sem<br />
problemas , no horário <strong>do</strong> Almoço.<br />
Entretanto , tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u . Enten<strong>do</strong> que este fato necessita de melhor<br />
explicação. Esta forma de vi<strong>da</strong> , em nossa socie<strong>da</strong>de paulistana , só vai<br />
mu<strong>da</strong>r por causa <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Empresas Multinacionais . Quase que<br />
obrigatoriamente após 1954/56/58 .<br />
Os dirigentes estrangeiros não tinham este hábito. Alem <strong>do</strong> mais , no<br />
princípio ain<strong>da</strong> não estavam definitivamente estabeleci<strong>do</strong>s , ain<strong>da</strong> não<br />
tinham casa para receber , nem era seu costume .
Assim convi<strong>da</strong>vam as pessoas para almoçar ou jantar fora . Os<br />
restaurantes em São Paulo começaram a crescer nesta época .<br />
As barrigas também ... !<br />
Analise Geral <strong>do</strong> Fato : Não tínhamos Restaurante... mas<br />
ganhávamos tu<strong>do</strong> em quase to<strong>do</strong>s esportes : Bola ao Cesto , Voleibol ,<br />
Natação , Pólo Aquático , Atletismo, Tênis, Esgrima e em tu<strong>do</strong> mais<br />
relaciona<strong>do</strong> ao desenvolvimento físico .<br />
Aquela época <strong>da</strong> Sede Antiga , foi época de muita saúde e de muitas<br />
vitórias esportivas . De muita gente saudável e bonita .<br />
Principalmente suas moças , muito lin<strong>da</strong>s . Marcaram época .<br />
Bem ... agora temos sempre bons e vários restaurantes em São Paulo.<br />
Eles que também existem no Paulistano . Então vão surgir : “Grandes<br />
Macarrona<strong>da</strong>s com 4 queijos ” -“As Dobradinhas”- As “Feijoa<strong>da</strong>s” - as<br />
“Comidinhas cheias de Creme ” e o “Azeite de Dendê , no Peixe e no<br />
Camarão ” .<br />
Com esta alimentação vão desaparecen<strong>do</strong> os atletas .<br />
Isto com to<strong>da</strong> certeza .<br />
Forma física : - “ Difícil . Nem pensar !”<br />
Entretanto , os sócios <strong>do</strong> Paulistano ain<strong>da</strong> praticam muitos esportes ,<br />
que são bem difundi<strong>do</strong>s e organiza<strong>do</strong>s internamente , nota<strong>da</strong>mente o tênis<br />
que vem ganhan<strong>do</strong> competições municipais . Com outros esportes ...na<strong>da</strong>!<br />
Entretanto, Paulistano é hoje um clube muito mais social .<br />
Muito pouco esportivo . Sinal <strong>do</strong>s tempos .<br />
Enten<strong>do</strong> que isto pode mu<strong>da</strong>r para muito melhor .<br />
Torneio Branco e Vermelho<br />
Uma <strong>da</strong>s coisas que realmente marcou a parte esportiva <strong>do</strong> nosso<br />
Paulistano , durante muitos e muitos anos , foi um torneio esportivo anual ,<br />
para o qual to<strong>do</strong>s os sócios eram convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s à inscrição . E quase to<strong>do</strong>s<br />
que praticavam ou que podiam ain<strong>da</strong> praticar esportes dele iriam participar.<br />
Era o chama<strong>do</strong> “Torneio Branco e Vermelho”.<br />
Antes de mais na<strong>da</strong> era uma forma de unir to<strong>do</strong>s os associa<strong>do</strong>s , de<br />
formar amizades , de revelar esportistas , de abrir as portas para iniciação<br />
em esportes , de motivar para praticas sadias to<strong>do</strong>s aqueles que um dia<br />
pararam . Aqueles que ficavam sempre adian<strong>do</strong> para um “amanhã que não<br />
viria nunca” . Seria possibili<strong>da</strong>de para o recomeço de alguma ativi<strong>da</strong>de que<br />
movimentasse seu corpo . Com determinação e continui<strong>da</strong>de .<br />
O torneio alem <strong>do</strong> mais criava uma “Aura de Fraterni<strong>da</strong>de”.<br />
To<strong>do</strong>s podiam se inscrever nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des que quisessem , fosse ele<br />
praticante <strong>da</strong>quele esporte ou não . Bastava querer , indicar seu nome , e<br />
as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des que desejava competir . Estava inscrito .<br />
As competições eram para homens e mulheres . Podiam competir ,<br />
dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de , nas classes :- infantil , juvenil e adulto .
Depois de encerra<strong>da</strong>s as inscrições o Grupo Dirigente <strong>do</strong> Torneio<br />
dividia os inscritos em <strong>do</strong>is grupos . Um Branco . Outro Vermelho . Não<br />
existia preferência ou determinação de que la<strong>do</strong> um sócio ficaria . Poderia<br />
ter si<strong>do</strong> Vermelho no ano passa<strong>do</strong> e Branco naquele ano . Pouco importava<br />
o la<strong>do</strong> que ele caísse . To<strong>do</strong>s iriam <strong>da</strong>r o sangue para ganhar jogos e<br />
competições que trouxessem me<strong>da</strong>lhas e pontos para o la<strong>do</strong> que ele estava<br />
competin<strong>do</strong> e defenden<strong>do</strong> . Branco ou Vermelho .<br />
No final , a equipe que tivesse mais pontos seria proclama<strong>da</strong><br />
vence<strong>do</strong>ra . Isto iria acontecer em uma festa para a qual to<strong>do</strong>s os<br />
competi<strong>do</strong>res estavam convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . E to<strong>do</strong>s compareciam e comemoravam<br />
juntos . Não importava qual equipe fosse vence<strong>do</strong>ra .<br />
Isto porque na reali<strong>da</strong>de o Sócio não era nem Branco ou nem<br />
Vermelho . Ele era as duas cores ao mesmo tempo . As cores juntas que<br />
formam as cores <strong>do</strong> Paulistano.<br />
Isto quebrava gelo e acabava com pequenas diferenças .<br />
Ali era um <strong>do</strong>s começos para a união <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Desde pequeno to<strong>do</strong>s meninos iam competin<strong>do</strong> em quase to<strong>do</strong>s os<br />
torneios que aconteceram . Eu gostava de me inscrever em muitas<br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des : Natação , Pólo Aquático, Atletismo , Voley , Basquete e<br />
Paleta . O importante era competir e participar nas várias mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />
com os nossos companheiros<br />
.<br />
Aquele era o Espírito Amigo <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .
CONSIDERAÇÕES INICIAIS<br />
Edu Marcondes<br />
Explicações necessárias -“ Garoto <strong>do</strong> Paulistano” e “Fôlego de Gato”-<br />
Quem sou eu – Minha Família - Mu<strong>da</strong>nça para <strong>Casa</strong> Nova-<br />
Explicações Iniciais e Necessárias<br />
“Garoto <strong>do</strong> Paulistano” : antes de mais na<strong>da</strong> é preciso explicar<br />
que este livro é Uma Separata , ou seja : - Era parte integrante de outro<br />
livro “Folego de Gato” , também de minha autoria , que narra minha vi<strong>da</strong><br />
passa<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> história de minha família.<br />
Este livro agora tem vi<strong>da</strong> própria .<br />
Para que esta Separata pudesse ser realiza<strong>da</strong> foi necessário escolher<br />
capítulos <strong>do</strong> Fôlego de Gato . Serão aqueles que dissessem e/ou tivessem<br />
respeito com as coisas <strong>do</strong> Paulistano , aconteci<strong>da</strong>s comigo e/ou com seus<br />
sócios , principalmente meus amigos . Assim sen<strong>do</strong> fomos separan<strong>do</strong> :<br />
- Os Capítulos que Ocorreram Com Sócios Dentro <strong>do</strong> Paulistano :<br />
- <strong>História</strong>s Próprias <strong>do</strong> CAP- relativas a sua história ;<br />
- Historias aconteci<strong>da</strong>s com Amigos e Sócios Fora <strong>do</strong> Paulistano ;<br />
- <strong>História</strong>s de Viagens com Amigos e Sócios <strong>do</strong> CAP .<br />
Enten<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> imprescindível separar <strong>do</strong> livro “Fôlego de<br />
Gato” os capítulos que irão formar “Garoto <strong>do</strong> Paulistano”.<br />
Neles serão relata<strong>do</strong>s os fatos ocorri<strong>do</strong>s com sócios e com coisas<br />
relativas ao CAP . Assim teremos melhor idéia <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Como decorrência teremos dimensão <strong>do</strong> CAP <strong>da</strong>quela época . Vou<br />
tentar relatar as coisas de menino até o tempo de adulto . Sempre com meus<br />
amigos . Isto foi necessário. O livro “Fôlego de Gato” diz muito mais<br />
respeito a minha pessoa dentro de minha família. Menos <strong>do</strong> Paulistano.<br />
Assim menor interesse poderia ter para os nossos sócios .<br />
Já “Garoto <strong>do</strong> Paulistano” é to<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> com a própria historia<br />
<strong>do</strong> Clube , sempre no seu devi<strong>do</strong> tempo . Lembro que estas histórias<br />
aconteceram tanto dentro como fora <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Mesmo assim , o leitor poderá encontrar neste livro muitas citações<br />
ao livro “Fôlego de Gato”. Eles no final tem muitas relações .
- Quem sou eu<br />
Antes de mais na<strong>da</strong> preciso me apresentar com mais detalhes . Como<br />
não poderia deixar de ser sou agora um sócio <strong>da</strong> “Velha Guar<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />
Paulistano”. Meu nome completo é Eduar<strong>do</strong> Marcondes de Souza .<br />
Entretanto , sou conheci<strong>do</strong> no clube e em socie<strong>da</strong>de por Edu Marcondes .<br />
Este apeli<strong>do</strong> recebi dentro <strong>do</strong> Paulistano , ain<strong>da</strong> em criança . O amigo<br />
Candi<strong>do</strong> Cavalcanti foi quem me rebatizou devi<strong>da</strong>mente , nos anos 40 .<br />
Nasci em São Paulo .<br />
Como não poderia deixar de ser , este livro conta muito de minha vi<strong>da</strong><br />
e ao mesmo tempo também conta muito de muitos sócios <strong>do</strong> CAP,<br />
principalmente <strong>do</strong>s meus amigos , nestes últimos 70 anos .<br />
Assim estarei aqui relatan<strong>do</strong> o que enten<strong>do</strong> ter aconteci<strong>do</strong> de<br />
importante em nossas vi<strong>da</strong>s . Porem é preciso ressaltar . Relato aquilo<br />
que posso lembrar , pois com a i<strong>da</strong>de já um pouco avança<strong>da</strong> , posso ter<br />
esqueci<strong>do</strong> de algumas coisas . Ou de muitas coisas .<br />
Por consequência também relato aqui o que aconteceu na vi<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong>queles que estavam ao meu la<strong>do</strong> . Coisas <strong>do</strong>s meus amigos , nota<strong>da</strong>mente<br />
aqueles <strong>do</strong> Paulistano. Eles na reali<strong>da</strong>de são praticamente meus irmãos.<br />
Entretanto , fica claro que os relatos estarão sempre dentro de uma<br />
ótica . Neste caso só pode ser <strong>da</strong> minha . Uma moe<strong>da</strong> possui duas faces ,<br />
mas em determina<strong>do</strong>s momentos só poderemos ver um <strong>do</strong>s seus la<strong>do</strong>s . A<br />
cara ou a coroa . A minha interpretação é um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> .<br />
Preten<strong>do</strong> não <strong>da</strong>r muita força para minhas emoções . Quem vive só<br />
por suas emoções não é senhor de si mesmo . Vive a mercê <strong>do</strong> acaso .<br />
Fato :- O Primeiro titulo <strong>do</strong> livro –“Folego de Gato” , base para<br />
este aqui - foi sugestão <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> amigo Rubens Limongi França .<br />
Ele que a meu pedi<strong>do</strong> havia li<strong>do</strong> alguns destes capítulos , mesmo<br />
antes de to<strong>do</strong>s. Queria a sua opinião , pois ele , alem de ser meu parente<br />
distante (sua mãe era <strong>da</strong> família Marcondes) , foi Catedrático <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />
de Direito <strong>do</strong> Lago de São Francisco , foi Jurisconsulto e até excelente<br />
Artista Plástico .<br />
Era , antes de mais na<strong>da</strong> , queri<strong>do</strong> amigo .<br />
Muito culto . Sua opinião para mim era muito valiosa ;<br />
Pois bem , dias depois de receber alguns de meus capítulos , quan<strong>do</strong><br />
eu estava no Paulistano , com Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Vianna e Albano de Souza<br />
Azere<strong>do</strong> , em nosso Bar <strong>do</strong> 1º an<strong>da</strong>r , ali nos reencontramos .<br />
Ele chegou sorrin<strong>do</strong> .Veio comentan<strong>do</strong> alegremente :
“ Edu ...eu já sabia de suas histórias pois que nossos amigos ,<br />
principalmente o Caio Kiehl e o Luiz Carlos Junqueira , sempre contam e<br />
comentam alegremente muitas coisas suas . Suas aventuras e desventuras.<br />
Tanto aquelas ocorri<strong>da</strong>s dentro <strong>do</strong> Club como principalmente fora dele .<br />
Agora , depois <strong>do</strong> que li , tenho certeza de uma coisa . Você vive<br />
enganan<strong>do</strong> a “Bruxa” . Nem sei como... , com tantas Brigas e to<strong>do</strong>s estes<br />
Acidentes e Incidentes .<br />
É difícil acreditar e entender ... Nem sei como você ain<strong>da</strong> está vivo”.<br />
( Ele estava se referin<strong>do</strong> aos incidentes e acidentes que eu relatara em<br />
alguns capítulos , a saber : - “O tiro que levei nas costas - O teto <strong>do</strong> Cine<br />
Rink que caiu em cima de nossas cabeças em Campinas /1.951 - O Choque<br />
Elétrico no Fio de Alta Voltagem <strong>do</strong> bonde em São Vicente – o Naufrágio<br />
em Parati- Capotamento e Destruição <strong>do</strong> carro na Estra<strong>da</strong> de Campos <strong>do</strong><br />
Jordão – As inúmeras Brigas com que tinha ti<strong>do</strong> até então , com gente boa<br />
e com muitos bandi<strong>do</strong>s” .)<br />
Ele continuou falan<strong>do</strong> e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s : “ Na reali<strong>da</strong>de você tem é<br />
“Folego de Gato” ! “Sete vi<strong>da</strong>s”. Caso um dia você termine seu livro o<br />
Prefácio será meu ... Vai ser o Prefacio <strong>do</strong> “Folego de Gato” .<br />
Nem ele , nem eu , poderíamos advinhar naquele momento que,<br />
poucos anos depois , muitas coisas , até piores , iriam acontecer comigo .<br />
Infelizmente o amigo Rubens , faleceu pouco tempo depois , antes<br />
mesmo deste livro ficar acaba<strong>do</strong> e pronto .<br />
Por isto, em sua homenagem, meu livro vai ficar sem Prefácio Escrito.<br />
Vai valer aquela “Intenção <strong>do</strong> Prefácio” <strong>do</strong> amigo Rubens<br />
Realmente , depois de ler e reler meus escritos , achei que o titulo que<br />
ele dera era certamente o mais ajusta<strong>do</strong> . O leitor vai saber por que .<br />
Pois bem , depois <strong>do</strong> falecimento de Rubens ain<strong>da</strong> aconteceram<br />
muitas coisas comigo .<br />
1- Em um assalto, no ano de 1.995 , logo adiante <strong>do</strong> Paulistano, levei um<br />
Tiro na Nuca . Não morri porque Deus não desejou ;<br />
2-Tive em 2004 Câncer e perdi meu Rim esquer<strong>do</strong> ;<br />
3-Estava com Água no Peito , dentro <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s em Sri Lanka , durante o<br />
“Tsunami” de 26 de Dezembro de 2.006 ;<br />
4-Sofri Enfarto Agu<strong>do</strong> , em 2008 , sen<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong> a colocar um “Stend”<br />
no coração .<br />
5- Perdi uma Vista por Erro Médico. Depois de 4 operações necessárias,<br />
fui obriga<strong>do</strong> a efetuar Transplante de Córnea no olho esquer<strong>do</strong> .
Por tu<strong>do</strong> isto ficou e vai ficar valen<strong>do</strong> o Titulo que ele inicialmente<br />
deu para o livro base deste outro : - “Folego de Gato”.<br />
Agora nesta separata “Garoto <strong>do</strong> Paulistano” também vai continuar<br />
valen<strong>do</strong> o mesmo Prefacio , na forma que Rubens Limongi França um dia<br />
entendeu . No jeito que ele imaginou .<br />
Minha Família<br />
Agora é preciso me apresentar .<br />
Nasci no último dia <strong>da</strong> Revolução de 32 . Em 28 de Setembro .<br />
Não foi um dia fácil para minha família que teve total participação<br />
naquela Revolução Democrática pela Constituição <strong>do</strong> Brasil .<br />
A família de meu pai perdeu na Revolução <strong>do</strong>is parentes :<br />
- Draúsio Marcondes de Souza – membro <strong>do</strong> MMDC e Gal. Julio<br />
Marcondes Salga<strong>do</strong> . Estão ambos sepulta<strong>do</strong>s no “Mausoleu <strong>do</strong>s Heróis de<br />
32”, no Ibirapuera .<br />
Na família de minha mãe , quatro de seus irmãos tinham esta<strong>do</strong> na<br />
frente de combate . Deles ain<strong>da</strong> não se tinham noticias naquele momento.<br />
Depois , felizmente to<strong>do</strong>s eles apareceram .<br />
Nasci aqui mesmo na ci<strong>da</strong>de de São Paulo, precisamente na<br />
“Materni<strong>da</strong>de Pro Máter”, na Rua São Carlos <strong>do</strong> Pinhal . Cheguei <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
trabalho , pois custei para ver a luz .<br />
Dias depois , quan<strong>do</strong> eu já estava em casa , Joana uma velha<br />
emprega<strong>da</strong> de minha avó Constança , que estava com ela desde o tempo em<br />
que existia escravatura ,veio me ver . Sempre que nascia alguém <strong>da</strong> família<br />
ela vinha olhar a criança e prever seu futuro .<br />
Parece que antes tinha acerta<strong>do</strong> algumas previsões .<br />
Chegou , tirou minhas fral<strong>da</strong>s e olhou .Virou de um la<strong>do</strong> pro outro ,<br />
revirou e foi dizen<strong>do</strong> : - “...menino calmo ... (errou) - tranquilo ...( errou)...<br />
-vai ser político ...(errou) - bom médico ... ( errou) , muito rico ! (errou) .<br />
Minha avó Constança sempre me contava esta previsão .<br />
Minha mãe sempre disse que tu<strong>do</strong> era pura bobagem . E era !<br />
-<br />
Agora vou apresentar meus pais e minha família .<br />
Mamãe – Dona Zil<strong>da</strong> Marcondes de Souza , era natural de Ribeirão<br />
Preto . Veio com minha avó – Dona Constança Adelaide Rezende Brandão<br />
- para São Paulo , um pouco antes <strong>da</strong> Revolução de 1924 . Esta minha avô<br />
era a pessoa mais <strong>do</strong>ce deste mun<strong>do</strong> .Tinha olhos cor de mel . Ficaram nos<br />
Campos Elísios , na casa de meu tio Carlito, em visita bem programa<strong>da</strong> .
Porem , certo dia , fora <strong>do</strong> programa prepara<strong>do</strong> , começou forte<br />
tiroteio na rua onde meu tio morava - Alame<strong>da</strong> Nothman - bem ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
“Palácio <strong>do</strong> Governo nos Campos Elísios” . Era a tal “Revolução de 24”.<br />
Ali ficariam , obrigatoriamente . To<strong>do</strong>s não puderam sair por muitos<br />
dias , praticamente quase sem comi<strong>da</strong> . No final só existia mortadela<br />
(... que desde aquela época minha mãe passou a detestar...) .<br />
Os tiros não paravam . A rua ficou cheia de mortos , por lá estendi<strong>do</strong>s<br />
por dias . Resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> tal revolução realiza<strong>da</strong> por tenentes <strong>do</strong> exercito foi<br />
zero . O que queriam , não conseguiram na ocasião .<br />
Assim , como começou a revolução parou . Sem aviso ao público .<br />
Minha mãe foi fican<strong>do</strong> por São Paulo . Sempre muito convi<strong>da</strong><strong>da</strong> .<br />
Conheceu meu pai em uma festa na casa <strong>da</strong> Condessa de Serra Negra.<br />
Dona Zil<strong>da</strong> sempre foi muito bonita e elegante . Gostava de plantas e<br />
dizia que elas são a melhor dádiva de Deus . Estu<strong>do</strong>u botânica por conta<br />
própria e com as plantas ganhou muitos prêmios e troféus , até<br />
internacionais .<br />
A<strong>do</strong>rava minha duas filhas – Paula e Alexandra . Tu<strong>do</strong> fazia para<br />
agra<strong>da</strong>r as meninas suas netas , até fantasias de fa<strong>da</strong>s ela confeccionava<br />
para as minhas meninas .<br />
Morreu como sempre quis . Subitamente , de enfarto agu<strong>do</strong>.<br />
Meu pai chamava-se Ernani Marcondes de Souza , era nasci<strong>do</strong> em<br />
São Paulo , mas to<strong>da</strong> a família Marcondes vinha de Pin<strong>da</strong>monhangaba -<br />
Vale <strong>do</strong> Paraíba . Estu<strong>da</strong>va o<strong>do</strong>ntologia quan<strong>do</strong> conheceu minha mãe .<br />
Somente depois de forma<strong>do</strong> é que se casaram . Ele nunca exerceu a<br />
profissão de Dentista . Estu<strong>do</strong>u ain<strong>da</strong> Economia . Foi no início Diretor <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> e mais tarde Industrial <strong>do</strong> Ramo Siderúrgico .<br />
Nos últimos anos de sua vi<strong>da</strong> , estava só , viúvo . Ficou acama<strong>do</strong><br />
pois quebrara o fêmur . Foi opera<strong>do</strong> com sucesso mas nunca mais an<strong>do</strong>u .<br />
Morei com ele durante to<strong>do</strong> aquele tempo em que esteve acama<strong>do</strong> - 3 anos .<br />
Morreu <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> . Estava com 93 anos e muito lúci<strong>do</strong> .<br />
Meu avó paterno era o Dr. Prof. T.O. Marcondes de Souza ,<br />
catedrático <strong>da</strong> FAAP e <strong>da</strong> USP , lecionan<strong>do</strong> <strong>História</strong> e <strong>História</strong> Econômica.<br />
Foi membro <strong>do</strong>s principais Institutos Históricos e Geográficos <strong>da</strong> Europa e<br />
<strong>da</strong>America, participan<strong>do</strong> de Convenções e Congressos Internacionais . Por<br />
seus trabalhos , estu<strong>do</strong>s , pesquisas e livros edita<strong>do</strong>s , também em muitos<br />
países , recebeu inúmeras comen<strong>da</strong>s e títulos internacionais : - <strong>da</strong> França,<br />
<strong>da</strong> Itália , <strong>da</strong> antiga Iugoslávia , entre outras tantas . Foi o Professor de<br />
<strong>História</strong> mais condecora<strong>do</strong> no seu tempo . Foi casa<strong>do</strong> com Dona Rosa<br />
Marcondes de Souza , por mais de 60 anos . Alem de bonita minha avô era<br />
maravilhosa quan<strong>do</strong> resolvia cozinhar .
Meu avô materno , Dr. Carlos Américo Brandão era Cirurgião –<br />
Dentista na ci<strong>da</strong>de de Ribeirão Preto – SP , onde praticamente morou em<br />
to<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> . Este avô morreu logo depois <strong>do</strong> meu nascimento .<br />
Mu<strong>da</strong>nça Para <strong>Casa</strong> Nova<br />
Enten<strong>do</strong> que a vin<strong>da</strong> <strong>da</strong> família para o Jardim Paulista foi<br />
fun<strong>da</strong>mental para o começo e direção de minha vi<strong>da</strong> . Por esta mu<strong>da</strong>nça<br />
ficou fácil freqüentar o Paulistano , criar amigos na região , com os quais<br />
convivi e fui em tantos mil lugares. A casa ficava 8 quadras <strong>do</strong> Clube .<br />
Caso eu tivesse mora<strong>do</strong> na Lapa ou na Mooca enten<strong>do</strong> que na<strong>da</strong> disto<br />
que agora narro poderia acontecer . Por isto conto sobre a casa nova .<br />
Lá por mea<strong>do</strong>s de 1.936 , nos mu<strong>da</strong>mos para o Jardim Paulista .<br />
A casa era lin<strong>da</strong> , to<strong>da</strong> branquinha , com grande terraço ten<strong>do</strong> na<br />
frente , no jardim , um largo grama<strong>do</strong> . Estava completa. Do jeito que meu<br />
pai desejou construir. Com to<strong>do</strong>s os moveis coloniais que ele encomen<strong>da</strong>ra<br />
em Pin<strong>da</strong>monhangaba . No quintal existiam arvores . Jabuticabeiras<br />
nativas <strong>do</strong> terreno . Planta<strong>da</strong>s : amoreiras , goiabeiras e até uma cerejeira<br />
<strong>do</strong> tipo “De<strong>do</strong> de Dama ( cereja rara que é bem compridinha).<br />
Então a noite chegou . Pela primeira vez eu fui <strong>do</strong>rmir sozinho .<br />
No outro dia mamãe chegou e abriu as janelas . Foi então que reparei<br />
em um galho quase entran<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> meu quarto . Fui falan<strong>do</strong> :<br />
“- Olhe ... tem um galho de goiabeira ... muito meti<strong>do</strong> , entran<strong>do</strong> aqui<br />
dentro <strong>do</strong> meu quarto.” Minha mãe corrigiu :<br />
-“ É de jabuticabeira ...não vai atrapalhar em na<strong>da</strong> ...você vai gostar.<br />
Na hora não gostei . Porem muitos anos depois escrevi uma poesia<br />
sobre o “Galho de Jabuticabeira” (em meu livro de “Contos e Poesias”).<br />
Desta poesia deixo aqui o verso primeiro , o <strong>do</strong> meio e o seu final :<br />
“ Cheguei ao casarão bem pequenino<br />
Muito alegre como to<strong>do</strong> menino<br />
Quan<strong>do</strong> vi pela janela balançan<strong>do</strong> ...<br />
E para to<strong>do</strong>s fui logo informan<strong>do</strong><br />
“Olha ...um galho de goiabeira”...<br />
Mamãe corrigiu : “...de jabuticabeira”<br />
O tempo então foi passan<strong>do</strong><br />
E ele sempre me espian<strong>do</strong> ...<br />
Quan<strong>do</strong> para janela eu olhava<br />
Presente sempre ele estava ...<br />
No seu canto...na sua beira
O “galho <strong>da</strong> jabuticabeira” .<br />
Hoje pela janela <strong>do</strong> apartamento<br />
Espio e a ca<strong>da</strong> momento<br />
Espero então encontrar<br />
Em um canto ...a balançar...<br />
Um “galho de jabuticabeira” .<br />
Que sau<strong>da</strong>de matadeira ...”<br />
Ele foi uma <strong>da</strong>s boas lembranças de minha infância / juventude .<br />
Aquele “Galho de Jaboticabeira” era meu confidente ... silencioso .
“A MÁQUINA DA LIBERDADE”<br />
Edu Marcondes<br />
- - O Poder Passear Em Qualquer Lugar – I<strong>da</strong>s ao Paulistano –<br />
- Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> por to<strong>da</strong> Zona Sul - Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> no Rio Pinheiros -<br />
- Bicicletas na Via Anchieta .<br />
Finalmente eu estava fazen<strong>do</strong> aniversário . O melhor é que aquele<br />
dia era o dia de ganhar presentes . Um deles muito especial . Seria minha<br />
bicicleta . Eu esperava sempre pelo aniversário , natal , páscoa e férias .<br />
Quan<strong>do</strong> menino estas <strong>da</strong>tas demoravam para chegar .<br />
Porem a melhor coisa naquele dia era sair com minha tia Zélia –<br />
“Teté”- e escolher o presente que desejava . Uma bicicleta !<br />
Almoçamos e quase não comi na<strong>da</strong> . Despedi<strong>da</strong>s e lá fomos nós.<br />
De bonde para a ci<strong>da</strong>de . Descemos no Largo <strong>do</strong> São Francisco e<br />
fomos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> até a Praça <strong>do</strong> Patriarca . Ali existia uma casa que era o<br />
sonho de to<strong>da</strong> guriza<strong>da</strong> . “Loja São Nicolau” . Existiam brinque<strong>do</strong>s e jogos<br />
de to<strong>do</strong>s os tipos .<br />
Logo que chegamos minha tia pediu para ver as bicicletas . O<br />
vende<strong>do</strong>r nos levou em um setor <strong>da</strong> loja onde existiam muitas .<br />
Então já fui escolhen<strong>do</strong> uma cor prata brilhante . Era a maior que<br />
tinha . Teté e o vende<strong>do</strong>r deram risa<strong>da</strong> e disseram que aquela não servia .<br />
Para o meu tamanho só existiam duas . Pretas : Uma “Phillips” inglesa e<br />
uma “Rex” alemã . Escolhi a alemã pois o freio era <strong>do</strong> tipo “contra pe<strong>da</strong>l” .<br />
A bicicleta foi de taxi para o Jardim Paulista . Fui feliz <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> .<br />
Quan<strong>do</strong> os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s estavam chegan<strong>do</strong> eu ficava mostran<strong>do</strong><br />
minha bicicleta para ca<strong>da</strong> um deles . Tentava an<strong>da</strong>r mas não conseguia.<br />
Somente no sába<strong>do</strong> , depois de alguns tombos, meu pai conseguiu<br />
ensinar a forma de an<strong>da</strong>r naquela “magrela”. Neste mesmo dia comecei ir<br />
até o final <strong>da</strong> rua e voltar sem cair .<br />
Nesta época meu avó Thomaz Oscar estava começan<strong>do</strong> a construir<br />
sua casa na mesma rua que a nossa . Era motivo para que to<strong>do</strong>s os dias eu<br />
fosse até lá . Na reali<strong>da</strong>de eu queria encontrar <strong>do</strong>is amiguinhos que por ali<br />
também an<strong>da</strong>vam de bicicleta . Por coincidência os <strong>do</strong>is também tinham o<br />
nome de Eduar<strong>do</strong> . Um <strong>da</strong> família Figueirôa . Outro <strong>da</strong> família Munhós .<br />
Com eles comecei a conhecer to<strong>da</strong> a região <strong>do</strong>s Jardins . Íamos de<br />
bicicleta passan<strong>do</strong> pelo Clube Harmonia , na Rua Canadá .<br />
Depois seguin<strong>do</strong> a Rua Argentina chegávamos até o Paulistano ,<br />
onde eu já tinha muitos amigos . Íamos sempre de bicicleta .<br />
Estes passeios fiz durante muitos anos .
Na Velha Piscina<br />
Quan<strong>do</strong> estava mais cresci<strong>do</strong> , dentro <strong>do</strong> Paulistano , eu<br />
primeiramente seguia para a piscina e encontrava os amigos Candi<strong>do</strong><br />
Cavalcanti, Pedro “Alemão” e Clovis . Logo chegavam os <strong>do</strong>is irmãos<br />
Mace<strong>do</strong> – Edison e Ari que iriam na<strong>da</strong>r e brincar com nossa turminha .<br />
Outros amigos iam chegan<strong>do</strong> . Eugênio Amaral , Claudio Lunardelli , Luiz<br />
Carlos Anjos , Eduar<strong>do</strong> de Paula , Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n .<br />
Os já mocinhos chegavam um pouco mais tarde : - Pedrinho<br />
Padilha, Paulo Ribeiro , Tozinho Lara Campos , Luis David Ribeiro ,<br />
Cuoco “Coquinho” Um pouco antes <strong>da</strong> hora <strong>do</strong> almoço , os que já<br />
trabalhavam vinham <strong>da</strong>r um mergulho para refrescar . Arman<strong>do</strong> Salem e<br />
Luiz Taliberti nunca faltavam .<br />
As ruas <strong>da</strong> zona sul eram muito pouca movimenta<strong>da</strong>s .<br />
Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> Pela Zona Sul<br />
Independente <strong>da</strong> piscina <strong>do</strong> Paulistano , to<strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> , tanto <strong>do</strong>s<br />
Jardins como os amigos <strong>do</strong> Club , gostava de ir na<strong>da</strong>r em vários locais ,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> a nossa piscina fechava no inverno , no final de<br />
Maio , para limpeza geral . Só reabriria no início de Setembro .<br />
Porem sempre existiam dias de “Veranico”.<br />
Na esquina <strong>da</strong> Groenlândia com a tal rua Escócia ( hoje é a<br />
continuação <strong>da</strong> Av. 9 de Julho ) , nos anos de 37/40 , existia uma “Grande<br />
Boca de Lobo” onde desembocava encachoeira<strong>do</strong> um Córrego , acho que<br />
era o chama<strong>do</strong> “<strong>do</strong> Sapateiro”. ( hoje no local existe o Conjunto de<br />
Edifícios <strong>do</strong>s Bancários”) . O córrego nascia pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ibirapuera e<br />
vinha canaliza<strong>do</strong> até ali . Formava no local um pequeno lago de pouca<br />
profundi<strong>da</strong>de, onde a criança<strong>da</strong> vinha na<strong>da</strong>r . Foi a alegria <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong><br />
durante muitos anos . Ali se na<strong>da</strong>va de cuecas . A fuzarca era grande pois a<br />
água era limpa , rasa , sem perigo .<br />
Quan<strong>do</strong> deram continui<strong>da</strong>de a Av. 9 de Julho ele sumiu . Foi<br />
aterra<strong>do</strong> .<br />
Outro local ficava logo abaixo <strong>da</strong> Av. Brasil , <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
Brigadeiro Luiz Antonio . Por ali logo chegávamos ao antigo Ibirapuera .<br />
Ficava três quadras de minha casa in<strong>do</strong> pela Rua Groenlandia . Ele não era<br />
na<strong>da</strong> pareci<strong>do</strong> com o que apresenta hoje . Era muito mais rústico e mais<br />
natural , tinha mais lagos e muitos mais campos de futebol varzeano.<br />
Naqueles vários lagos <strong>do</strong> Ibirapuera na<strong>da</strong>mos durante anos .<br />
Os “Campos de Futebol”eram bons, pois tanto a Portuguesa como<br />
o São Paulo muita vezes por ali iam treinar .Eles não tinham campos<br />
próprios para treinar naqueles tempos .<br />
Então não existiam ruas calça<strong>da</strong>s nem prédios no Ibirapuera .
O Parque era muito maior que o atual , pois chegava até o Instituto<br />
Biológico, lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Vila Mariana . Não sei como , mas o Parque<br />
que era <strong>do</strong> povo foi corta<strong>do</strong> e recorta<strong>do</strong> várias vezes. Parte <strong>do</strong>s terrenos foi<br />
para a Assembléia Legislativa de São Paulo , que secou um lago e por ali se<br />
instalou . Na<strong>da</strong>mos muitas vezes também naquele lago .<br />
Parte <strong>do</strong> Ibirapuera depois foi ain<strong>da</strong> muito dividi<strong>do</strong> . Parte foi para<br />
o Exercito . Parte para o Ginásio de Esportes. Parte para a OAB , ( nem sei<br />
se por ali continua ) . Até o Judiciário se beneficiou com uma grande parte<br />
lotea<strong>da</strong> em terrenos , hoje denomina<strong>da</strong> Jardim Lusitânia .<br />
Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> no Rio Pinheiros<br />
Alem <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano , eu tinha minha turminha <strong>da</strong> Rua<br />
Gal. Fonseca Telles . Como já contei , existiam os <strong>do</strong>is Eduar<strong>do</strong>s (Munhos<br />
e Figueirôa). Por lá fiz também amizade com outros <strong>garoto</strong>s que viviam<br />
perto <strong>da</strong> Rua Veneza . Seus nomes : Romeirito , Ditinho , Dieter e Marcos .<br />
Um dia Dieter , que era um pouco mais velho , nos contou boas<br />
coisas sobre o Rio Pinheiros . Dizia que tinha esta<strong>do</strong> por lá com seus<br />
primos. Que era fácil chegarmos no local , sain<strong>do</strong> logo depois <strong>do</strong> almoço e<br />
voltan<strong>do</strong> a tardinha . Tanto contou que , por sugestão de Candi<strong>do</strong><br />
Cavalcanti , resolvemos ir na<strong>da</strong>r no Rio Pinheiros , pois ele garantia que a<br />
água era limpíssima e transparente . Lembro : isto era em 1.944 .<br />
Era final de Agosto e já estava fican<strong>do</strong> quente . Resolvemos ir na<br />
próxima 5ª. Feira . Deveríamos levar um lanche . Ficou tu<strong>do</strong> combina<strong>do</strong> .<br />
No dia marca<strong>do</strong> a tarde estava bem quente . Levamos meia hora de<br />
bicicleta para alcançarmos o Rio Pinheiros , passan<strong>do</strong> por vários campos<br />
de futebol . Candi<strong>do</strong> Cavalcanti com Dieter na frente . O local conheci<strong>do</strong><br />
pelo Dieter era muito bonito . Ficava num remanso , em uma curva <strong>do</strong> rio ,<br />
onde existia nesta época de seca uma prainha de areia . O rio não fora ain<strong>da</strong><br />
retifica<strong>do</strong> , nem recebia esgoto . Tu<strong>do</strong> era natural e limpo .<br />
Do la<strong>do</strong> algumas arvores . Mais para a frente a sede náutica <strong>do</strong><br />
antigo Club Germânia, que na guerra mu<strong>da</strong>ria de nome para Club<br />
Pinheiros. Tiramos a roupa e fomos na<strong>da</strong>r de cueca em uma água bem<br />
limpa . O sol estava bem forte . Dava para ver a unha <strong>do</strong> pé e areia no<br />
fun<strong>do</strong> . Naquele remanso água batia na altura <strong>do</strong> peito . Candi<strong>do</strong> Cavalcanti<br />
comentava a limpeza <strong>da</strong> água .<br />
De repente o Ditinho começou a gritar sem parar . Falava de um<br />
bicho vermelho e grande . Achamos que fosse cobra e saímos <strong>da</strong> água .<br />
Ficamos na margem olhan<strong>do</strong> . Depois de muita brincadeira fomos comer<br />
nossos lanches . A tranqüili<strong>da</strong>de durou pouco . Ditinho voltou a gritar e<br />
mostrar o lugar onde tinha alguma coisa. Dieter logo avistou e foi dizen<strong>do</strong> :<br />
“- Eta neguinho burro ! Medroso ! O bicho é um “pitu ...camarão de<br />
água <strong>do</strong>ce” . De noite não vá mijar nas calças pensan<strong>do</strong> nele”.
Depois de muita gozação voltamos para casa , combinan<strong>do</strong> que<br />
na<strong>da</strong> falaríamos para nossos pais . To<strong>do</strong>s juraram . Foi preciso .<br />
Voltei quan<strong>do</strong> menino muitas vezes até o Rio Pinheiros .<br />
Algumas vezes para na<strong>da</strong>r com os amigos <strong>do</strong> Paulistano : Candi<strong>do</strong><br />
Cavalcanti , Pedro “Alemão”, Jose Hugo , Clovis , Albano Camargo e<br />
muitos outros . Acontecia sempre quan<strong>do</strong> a nossa piscina estava fecha<strong>da</strong> no<br />
Inverno e por acaso em um dia de calor . O Rio Pinheiros era limpíssimo !<br />
Hoje fujo <strong>do</strong> lugar , pois virou o Maior Esgoto ao Céu Aberto .<br />
Muito féti<strong>do</strong> ! O pior : agora está cerca<strong>do</strong> de aveni<strong>da</strong>s e prédios .<br />
Por mais incrível que pareça li no jornal que os bombeiros<br />
capturaram no local uma capivara . Bem viva. Em 2010 !<br />
Dei um apeli<strong>do</strong> para ela : -“ Fedegosa” !<br />
Bicicletas na Via Anchieta<br />
Por volta de 1.949 a Via Anchieta ficou pronta . Então por ali, no<br />
começo <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>quela via , ain<strong>da</strong> era possível an<strong>da</strong>r de bicicleta . Quan<strong>do</strong><br />
fui para São Vicente por esta nova estra<strong>da</strong> vi inúmeras bicicletas an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
na Via Anchieta . Até onde iam eu não sabia .<br />
Outros também sabiam <strong>do</strong> fato . Então nossa turma resolveu ir de<br />
bicicleta até Santos . Os que desejavam ir achavam tu<strong>do</strong> muito fácil . Os<br />
que não queriam ir <strong>da</strong>vam mil razões para evitar o passeio . Depois de<br />
muita conversa concluímos que era possível chegarmos em Santos .<br />
Levaríamos 5 horas no máximo , pois eram somente 55 quilómetros .<br />
Assim um grupo de 8 rapazes , com i<strong>da</strong>de varian<strong>do</strong> entre 16 e 18<br />
anos, resolveu que iria no próximo sába<strong>do</strong> . Sairíamos por volta <strong>da</strong>s 5,30<br />
<strong>da</strong> manhã . Entendíamos que até as 11 horas estaríamos na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nas praias<br />
santistas .<br />
Para tanto to<strong>do</strong>s deveriam se encontrar na porta <strong>do</strong> Paulistano ,<br />
levan<strong>do</strong> um bom lanche , garrafa de água na bicicleta e um maiô . A roupa<br />
deveria ser leve , com um boné para evitar o sol . Bicicleta só iria conosco<br />
se tivesse bons pneus e se estivesse em boas condições . Isto ficara muito<br />
claro .<br />
A turma <strong>do</strong>s bicicleteiros que iriam para Santos era a seguinte : -<br />
Hugo Victor , Fredy Magalhães , Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , Clovis Fonseca ,<br />
Cesar Affonseca , Urbano Camargo Avóglio , Roberto Claro e este<br />
narra<strong>do</strong>r .<br />
To<strong>do</strong>s chegaram ce<strong>do</strong> . Saímos depois <strong>da</strong> hora marca<strong>da</strong> , por volta<br />
<strong>da</strong>s 6 horas . Em 50 minutos , com as ruas sem transito, já estávamos<br />
entran<strong>do</strong> na Via Anchieta . Fomos pe<strong>da</strong>lan<strong>do</strong> perto <strong>do</strong> acostamento , um<br />
atrás <strong>do</strong>s outros . O lider <strong>do</strong> grupo ia sen<strong>do</strong> troca<strong>do</strong> de tempos em tempos .<br />
Depois de 1,40 horas chegamos no Estoril . Paramos a beira <strong>da</strong>quela<br />
represa para descansar durante 10 minutos . Dali para frente estaríamos
subin<strong>do</strong> para o alto <strong>da</strong> serra . No caminho existiam trechos de fortes<br />
desci<strong>da</strong>s que muito aju<strong>da</strong>ram a subir outras partes , cheia de altos e baixos .<br />
logo em segui<strong>da</strong> .<br />
Por volta <strong>da</strong>s 9,45 chegamos no alto <strong>da</strong> serra . Dali para frente foi uma<br />
delícia . Foi descer a serra sem veloci<strong>da</strong>de , sem quase pe<strong>da</strong>lar e com<br />
cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para não esquentar os freios . Descemos sem perigo algum .<br />
A Baixa<strong>da</strong> Santista foi fácil . Um pouco depois <strong>da</strong>s 11 horas já<br />
estávamos na Praia <strong>do</strong> José Menino . Ali poderiamos parar .<br />
Dois <strong>do</strong> grupo sempre ficavam toman<strong>do</strong> conta <strong>da</strong>s roupas e bicicletas .<br />
Os outros iam na<strong>da</strong>r .<br />
Tomamos nossos lanches , secamos , trocamos de roupa e por volta <strong>da</strong>s<br />
3, 30 começamos voltar . Precisávamos subir a serra antes <strong>do</strong> anoitecer .<br />
Na Baixa<strong>da</strong> Santista foi fácil . Porem quan<strong>do</strong> começou a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Serra tu<strong>do</strong> foi fican<strong>do</strong> difícil . Muito difícil . Depois Impossível . As<br />
antigas bicicletas eram bem pesa<strong>da</strong>s , com aproxima<strong>da</strong>mente 20 quilos ou<br />
um pouco mais . Alem de tu<strong>do</strong> , naquele tempo elas não tinham câmbio .<br />
Não iriam nunca subir a Serra <strong>do</strong> Mar . Ficamos to<strong>do</strong>s para<strong>do</strong>s logo no<br />
começo <strong>da</strong> subi<strong>da</strong> . Falan<strong>do</strong>, conversan<strong>do</strong> , discutin<strong>do</strong> , mas sem saber o<br />
que fazer .<br />
Depois de meia hora , por volta <strong>da</strong>s 16,30 horas , parou naquele lugar<br />
um Guar<strong>da</strong> Ro<strong>do</strong>viário. Ele estava de motocicleta . Queria saber o que<br />
estávamos fazen<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> explicamos nosso problema ele deu risa<strong>da</strong> .<br />
Perguntou se não sabíamos antes que isto iria acontecer . Ficamos to<strong>do</strong>s<br />
com cara de tolos .<br />
Pensamos em tu<strong>do</strong> . Esquecemos <strong>do</strong> peso <strong>da</strong>s bicicletas .<br />
A solução veio com aquele mesmo Guar<strong>da</strong> Ro<strong>do</strong>viàrio .<br />
Ele parou um caminhão grande , aberto .Estava vazio . Perguntou<br />
para onde o caminhão iria . A resposta foi : “Para o Merca<strong>do</strong> de Pinheiros”.<br />
Ele perguntou se era possível levar a rapazia<strong>da</strong> e as bicicletas ? Como a<br />
resposta foi positiva , tivemos autorização para subir no caminhão .<br />
Colocamos to<strong>da</strong>s as bicicletas no final <strong>da</strong> carroceria e passamos uma cor<strong>da</strong><br />
por cima . Nos ajuntamos junto a cabine <strong>do</strong> caminhão . To<strong>do</strong>s de braços<br />
<strong>da</strong><strong>do</strong>s para maior equilíbrio . Agradecemos o Guar<strong>da</strong> e o motorista .<br />
E lá fomos nós .<br />
Na subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> serra , devagar . Depois o vento , com a veloci<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />
caminhão , ficou bem forte . Muitos perderam os bonés .<br />
Por volta <strong>da</strong>s 19,30 chegamos em Pinheiros . O caminhão parou .<br />
Descemos e agradecemos ao Motorista .<br />
Em meia hora já estávamos no Paulistano .<br />
Entramos no clube com cara de triunfantes . To<strong>do</strong>s amigos vinham<br />
nos cumprimentar , perguntan<strong>do</strong> sobre nossa viagem .
A resposta foi uma só : “ Ótima ! O maior problema tivemos com<br />
muito vento na volta . Despenteou o cabelo <strong>da</strong> gente !”<br />
Naquele dia não contamos como subimos a Serra <strong>do</strong> Mar .
Festa à Fantasia de Carnaval –<br />
“O RABO DO DIABO” -<br />
Edu Marcondes<br />
Era véspera <strong>do</strong> Carnaval .<br />
Nossa vizinha <strong>da</strong> casa ao la<strong>do</strong> , Dona Mariá , amiga de infância de<br />
minha mãe desde Ribeirão Preto , iria <strong>da</strong>r uma festinha carnavalesca para a<br />
criança<strong>da</strong> amiga <strong>do</strong> Jardim Paulista e <strong>do</strong> Club Paulistano .<br />
Nossos convites já haviam si<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong>s. Para Saba<strong>do</strong> de Carnaval.<br />
Esta festa era vontade de suas duas filhas : Márcia e May .<br />
Minhas amigas . Eu achava a Márcia a coisa mais lin<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />
Dona Mariá era conheci<strong>da</strong> por suas lin<strong>da</strong>s recepções . Seria obrigatório<br />
uso de fantasia para criança<strong>da</strong> .<br />
Na semana anterior , passean<strong>do</strong> pelo centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , vimos varias<br />
fantasias nas vitrines <strong>da</strong>s lojas . Gostei e pedi uma de “pirata” . Marisa<br />
queria de “cigana”.<br />
Meu pai ficou encarrega<strong>do</strong> de comprá-las<br />
Realmente antes <strong>do</strong> almoço de sába<strong>do</strong> meu pai chegou com as<br />
fantasias . Corremos para abraçá-lo . Queríamos ver tu<strong>do</strong> naquela hora .<br />
Primeiro foi a fantasia <strong>da</strong> Marisa . Um “cigana completa na cor azul” .<br />
Ela foi com minha avó experimentá-la. A<strong>do</strong>rou .<br />
Depois foi minha vez. Papai fez mistério:<br />
Então abriu a caixa . Apareceu uma roupinha , de se<strong>da</strong> brilhante ,<br />
vermelha e preta , cheia de bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Uma capinha de se<strong>da</strong> to<strong>da</strong> vermelha<br />
de um la<strong>do</strong> e preta <strong>do</strong> outro . Ain<strong>da</strong> tinha um capuz. De um la<strong>do</strong> vermelho .<br />
Do outro preto . Surgiram meias compri<strong>da</strong> e vermelhas .<br />
Na reali<strong>da</strong>de era uma fantasia muito rica . “Só que era de Diabo !”<br />
Tinha ain<strong>da</strong> o pior : “Dois chifres no capuz . E um rabo no macacão” .<br />
Na duvi<strong>da</strong> , ain<strong>da</strong> perguntei para meu pai , que raio de fantasia era<br />
aquela. Ele respondeu to<strong>do</strong> alegre : “ Para meu capetinha uma roupinha de<br />
diabinho ! Veja como é bonita . Veja que cores vivas e alegres . Ela é<br />
realmente muito lin<strong>da</strong> !”<br />
Comecei a reclamar . Eu não iria em lugar algum com aquela<br />
porcaria. Queria usar roupa de gente e não de diabo . Vi pelos rostos de<br />
minha mãe e de minha avó que elas também não gostaram . Minha mãe<br />
porem tentava por panos quentes dizen<strong>do</strong> que era uma fantasia muito<br />
bonita . Eu estava inflexível . Disse que papai teria de trocar a fantasia .<br />
Ele respondeu que aquela hora a loja já estava fecha<strong>da</strong> .<br />
Então vovó apresentou uma solução . Disse que antes de mais na<strong>da</strong> eu<br />
deveria experimentar. Marisa e Carlinhos concor<strong>da</strong>ram (eles já tinham suas<br />
fantasias ) Teté e mamãe também diziam que eu deveria experimentar.<br />
Fui voto venci<strong>do</strong>. De cara amarra<strong>da</strong> fui provar a tal “fantasia de diabo.
Que diabo ! Cinco minutos depois voltei odian<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> aquilo .<br />
Entretanto , a fantasia caia muito bem no meu corpo e era muito vistosa .<br />
To<strong>do</strong>s bateram palma quan<strong>do</strong> apareci . Então , eu ven<strong>do</strong> que teria de sair<br />
com ela , fiz um pedi<strong>do</strong> : - “Retirar os chifrinhos e o tal de rabinho” .<br />
Ninguém apoiou a idéia . To<strong>do</strong>s acharam que a fantasia perderia sua<br />
graça e beleza . Ficaria pobre e sem senti<strong>do</strong> .<br />
Não teve jeito . Concordei em ir de “diabinho” .<br />
No dia <strong>da</strong> festa de Carnaval chegamos logo depois de seu começo .<br />
Realmente to<strong>do</strong>s admiravam a fantasia de diabinho . Meus amigos <strong>do</strong><br />
Paulistano , apesar de não gostarem , na<strong>da</strong> comentaram . Porem ... Clovis ,<br />
Luiz Carlos , Candi<strong>do</strong> e Paulinho tinham risinhos nos lábios . .<br />
Só que começou a gozação <strong>do</strong>s outros meninos :<br />
-“ Oi...rabudinho !<br />
-“ Oi chifru<strong>do</strong> ... , Sai satanás .. Oi coisa ruim ...”<br />
Passavam por mim e faziam sinal <strong>da</strong> cruz. Davam risa<strong>da</strong> .<br />
Comecei a ficar aborreci<strong>do</strong> . Mamãe falou que era inveja que eles<br />
tinham... Eu queria ir trocar de roupa . Vovó dizia não .<br />
Candi<strong>do</strong> Cavalcanti me segurou . Eu queria trocar de roupa .<br />
Márcia passou e me deu a mão . Fui leva<strong>do</strong> para a ro<strong>da</strong> de <strong>da</strong>nça .<br />
Então começaram a puxar o rabo <strong>da</strong> fantasia . Jogavam a capa na minha<br />
cabeça . Davam tapas <strong>do</strong> meus chifres . Fiquei bravo e sai para um canto .<br />
Fiquei conversan<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesa de <strong>do</strong>ces .<br />
Então um gordinho passou e disse :<br />
“- Coisa ruim ... Quer vender este rabinho prá mim ...?”<br />
Dei –lhe um soco no meio <strong>da</strong> cara . Tomei outros <strong>do</strong>is .<br />
No empurra...empurra que se seguiu perto <strong>da</strong> mesa , foi só bandejas de<br />
<strong>do</strong>ce que caíram no chão . Eu tentava pegar o gordinho mas as mães<br />
presentes não deixavam .<br />
A festa quase terminou .<br />
Minha tia levou-me para o jardim e pediu calma . Disse que era muito<br />
feio brigar em festa . Nem adiantou eu tentar explicar que ele tinha<br />
provoca<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s achavam que eu estava erra<strong>do</strong> . Quase to<strong>do</strong>s .<br />
Entretanto , valeu . Ninguém mais mexeu comigo ...<br />
Fiquei com olho roxo . Porem com o “ego” massagea<strong>do</strong> !<br />
Por mais que meu pai insistisse não fui ao Baile Infantil de Carnaval<br />
<strong>do</strong> Paulistano com aquele roupa de diabo . Era detestável .<br />
Graças a Deus nunca mais tive que usar aquele fantasia .<br />
Minha irmã se apoderou dela e a usou <strong>do</strong>is anos segui<strong>do</strong>s .<br />
“Xô ...Satanás ...!
DOCES LEMBRANÇAS<br />
Edu Marcondes<br />
Lembrança <strong>do</strong> Jardim Paulista – Amigos <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tietê –<br />
A Moleca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Rua Consolação – Aprenden<strong>do</strong> Brigar Por Necessi<strong>da</strong>de .<br />
A guerra nos fez mu<strong>da</strong>r de casa . Faltava gasolina na ocasião .<br />
Tinha sau<strong>da</strong>des de muitas coisas <strong>da</strong> casa <strong>da</strong> Rua Gal . Fonseca<br />
Telles . Os amigos eram uma <strong>da</strong>s sau<strong>da</strong>des . Uma outra , que no começo não<br />
parecia na<strong>da</strong> , marcou bastante . Era lembrança de um velho italiano<br />
chama<strong>do</strong> Bepo. Ele que to<strong>do</strong>s os dias passava pelas ruas <strong>do</strong> Jardim Paulista<br />
venden<strong>do</strong> frutas e verduras.<br />
Vinha , com uma pequena mula que carregava <strong>do</strong>is balaios de<br />
ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu lombo , calmamente . De um la<strong>do</strong> trazia frutas . Do outro<br />
verduras . To<strong>da</strong>s bem escolhi<strong>da</strong>s e bem fresquinhas .<br />
To<strong>do</strong> dia chegava e tocava a campainha . Quanto era atendi<strong>do</strong> ia<br />
falan<strong>do</strong> com sua pronuncia italiana<strong>da</strong> :<br />
“- Bananero , verdurero. Tuto buono signora”.<br />
Eu ia com a mamãe atende-lo .Depois que ela efetuava as<br />
compras ele sempre <strong>da</strong>va uma banana ou uma laranja para mim , e saia<br />
dizen<strong>do</strong> , ou melhor , cantarolan<strong>do</strong> :<br />
“- Andiamo via ... Rosina mia . Andiamo via ...”<br />
A mula ao ouvir o <strong>do</strong>no começava a an<strong>da</strong>r .<br />
Não precisava mais na<strong>da</strong> . Ela seguia seu caminho .<br />
Certo dia , eu tinha i<strong>do</strong> até a casa de meus avós e encontrei-o na<br />
volta . Ain<strong>da</strong> faltava mais de um quarteirão para minha casa . Vim an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
com ele , até que parou para atender uma freguesa . Parei também . Quan<strong>do</strong> ia<br />
continuar no seu caminho perguntou se eu não queria ir na garupa <strong>da</strong> mulinha.<br />
Disse que sim . Então ele me aju<strong>do</strong>u a subir e foi cantarolan<strong>do</strong> :<br />
“-Andiamo via ... Rosina mia .”<br />
Fomos in<strong>do</strong> até chegar em casa . Ele tocou a campainha .Esperei<br />
que mamãe o atendesse para me ver em cima <strong>da</strong> mulinha . Com surpresa ela<br />
sorriu .Fez suas compras , pagou, esperou minha desci<strong>da</strong> e o canto de seu<br />
Bepo :<br />
“- Andiamo via ... Rosina mia.”
Muitas vezes andei na garupa <strong>da</strong> Rosina .E sempre , mesmo<br />
depois de mu<strong>da</strong>r de casa , lembrava de seu Bepo e de seu canto para fazer a<br />
mulinha an<strong>da</strong>r . Lembrança de menino .<br />
Depois de guerra voltamos para a casa <strong>do</strong> Jardim Paulista . Não<br />
via mais nem a mula Rosina nem seu Bepo . Soube , algum tempo depois, que<br />
ele já havia faleci<strong>do</strong> . Senti e sinto a falta <strong>da</strong>quela <strong>do</strong>ce lembrança .<br />
Até hoje , quan<strong>do</strong> quero que alguém saia comigo para passear ,<br />
repito <strong>do</strong>cemente a frase de seu Bepo :<br />
“- Andiamo via ... Rosina mia... ”<br />
- OS AMIGOS DA AL. TIETÊ – AMIGOS DO PAULISTANO<br />
Deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> as sau<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Jardim Paulista , comecei a<br />
conhecer novos amigos <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tietê , onde agora residia .<br />
O primeiro foi Saulo Ferraz . Ele era irmão de Nívea , esposa <strong>do</strong><br />
primo Zézito –( Professor de medicina Dr. Jose Paulo Marcondes de Souza ) .<br />
Saulo era de minha i<strong>da</strong>de e com ele comecei a jogar futebol na rua . A bola era<br />
de meia , enchi<strong>da</strong> com papel de jornal , muito amassa<strong>do</strong> e comprimi<strong>do</strong> dentro<br />
de uma meia velha . Ou de duas meias velhas .<br />
Bola de couro era coisa rara ... muito cara . A gente brincava<br />
dizen<strong>do</strong> que , o possui<strong>do</strong>r de uma bola de couro com câmara de ar , era o <strong>do</strong>no<br />
<strong>do</strong> time . Acontecia de ver<strong>da</strong>de . Ele começava e parava o jogo .<br />
Muitas vezes , nas noites de verão , quan<strong>do</strong> havia futebol debaixo<br />
<strong>da</strong>s luzes <strong>do</strong>s lampiões , o primo Zézito , que na época já era médico forma<strong>do</strong><br />
e Assistente <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de , vinha jogar com a moleca<strong>da</strong> . Então , muitas vezes<br />
a bola era de ver<strong>da</strong>de , de couro . Como tinha si<strong>do</strong> grande esportista seu time<br />
quase sempre tinha chance de ganhar . Na rua carro não existia !<br />
Era uma alegria para a moleca<strong>da</strong> jogar com o “Doutor José Paulo<br />
– Zézito”<br />
Através <strong>do</strong> Saulo Ferraz e <strong>da</strong> bola de meia fui fazen<strong>do</strong> novas<br />
amizades . Conheci Domingos Alves Meira. Morava na rua Melo Alves .<br />
Conheci ain<strong>da</strong> três grandes amigos . Brincamos juntos quan<strong>do</strong><br />
meninos, praticamos juntos esportes no Club Athletico Paulistano , crescemos<br />
juntos , fomos juntos em inúmeras festas e até viajamos juntos . Hoje ain<strong>da</strong><br />
quan<strong>do</strong> nos encontramos temos muita alegria . Amizades que duram ,<br />
passa<strong>do</strong>s mais 70 anos . Eles são :<br />
1- Otacílio Lopes Filho , filho <strong>do</strong> famoso Dr. Otacílio Lopes ,<br />
especialista em otorrinolaringologia . Continuou a carreira <strong>do</strong> pai , torna<strong>do</strong>-se,<br />
depois de alguns anos , professor de muito gabarito <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina<br />
<strong>da</strong> Santa <strong>Casa</strong>.
Muitas vezes assistimos juntos desenhos anima<strong>do</strong>s em sua casa<br />
<strong>da</strong> Av, Rebouças .<br />
2 e 3 - Rômulo Mariano Carneiro <strong>da</strong> Cunha -Rominho - , hoje<br />
faleci<strong>do</strong> em um desastre de automóvel, e seu irmão José Mariano Carneiro <strong>da</strong><br />
Cunha - são amizades inesquecíveis. Vou leva-las comigopara sempre .<br />
Eles também moravam na Rua Melo Alves .Com eles aprendi a<br />
jogar “Taco” na rua . Este jogo também era chama<strong>do</strong> de “Beti”. Eram <strong>do</strong>is<br />
joga<strong>do</strong>res de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> .<br />
No caminho <strong>do</strong> Paulistano a nossa turminha pór vezes encontrava<br />
os Brito : Deoclides , Roberto e Claudio . A turminha crescia . Depois já na<br />
Bela Cintra dávamos uma paradinha na casa <strong>do</strong> Cesar Afonseca e Silva .<br />
O final <strong>do</strong>s encontros era na casa <strong>do</strong> João Balbi Campos . Estava<br />
forma<strong>da</strong> a turminha para jogar bola no Paulistano .<br />
Como jogávamos bem , por isto mesmo fazíamos jogos de<br />
futebol com meninos de outras ruas . Hoje em dia as crianças não brincam<br />
nas ruas . Nunca puderam apreender qualquer diversão deste tipo.<br />
Com meus amigos <strong>do</strong> Paulistano também passeávamos muito de<br />
bicicleta, não só pelo bairro , mas com excursões pelo Jardim Europa e muitas<br />
vezes chegan<strong>do</strong> até o Aeroporto de Congonhas .<br />
Outra diversão era correr de carrinho de rolimã pelos declives<br />
<strong>da</strong>s ruas <strong>da</strong> região .Então não faltavam tombos e muitos joelhos rala<strong>do</strong>s .<br />
Com a Guerra a Av. Rebouças ficava vazia . Onibus só de meia<br />
em meia hora . Era o tempo para descer a aveni<strong>da</strong> de carrinho .<br />
A vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> garota<strong>da</strong> , com muitas brincadeiras , era realmente nas<br />
ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Acredito que tivemos uma oportuni<strong>da</strong>de única que hoje nem<br />
se pensa mais . Com to<strong>do</strong>s assaltos , tráfico de drogas e muitos tipos de crime,<br />
as ruas atualmente passaram a ser perigosas . Nenhuma mãe , por mais liberal<br />
que seja , consente em deixar seu filho brincar nas ruas .<br />
Nossa São Paulo , hoje invadi<strong>da</strong> por bandi<strong>do</strong>s , como acredito ,<br />
ficou triste . Não vemos mais crianças brincan<strong>do</strong>. Seja no bairro que for . O tal<br />
“progresso” também neste caso foi péssimo .<br />
Através de minha irmã ,de nossas primas e de suas amigas , fiz<br />
mais três bons amigos, apesar de serem mais novos . José Augusto Medeiros ,<br />
hoje <strong>do</strong>no de um tabelião , seu irmão Geral<strong>do</strong> Medeiros que ficou famoso como<br />
médico e Ladislau Lankzaricz que nunca mais vi nestes últimos anos .
A MOLECADA DA RUA CONSOLAÇÃO<br />
Além destas duas turminhas tinha ain<strong>da</strong> a moleca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Rua <strong>da</strong><br />
Consolação . To<strong>do</strong>s eram pobres e muitos eram filhos <strong>da</strong>s emprega<strong>da</strong>s <strong>do</strong> bairro .<br />
Moravam quase to<strong>do</strong>s em uma velha e grande casa comunitária , na<br />
época chama<strong>da</strong> de “cortiço.” Hoje em seu lugar um lin<strong>do</strong> prédio de apartamentos .<br />
Praticamente aquelas casas comunitárias deram lugar as favelas ,<br />
que por sinal são muito piores , praticamente sem conforto e sem higiene . Até nisso<br />
nossa São Paulo piorou muito .<br />
Ao la<strong>do</strong> desta casa comunitária existia um grande terreno baldio<br />
onde os moleques jogavam futebol .Principalmente no sába<strong>do</strong>. .<br />
Como eu jogava bem , um negrinho amigo .muito queri<strong>do</strong> ,<br />
apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de Vico , que eu realmente gostava muito , sempre me convi<strong>da</strong>va para<br />
disputa de uma “pela<strong>da</strong>”. E lá ia eu enfrentar uma barra pesa<strong>da</strong> pois gostava de<br />
futebol. Uma minoria <strong>do</strong>s moleques gostava de me amolar dizen<strong>do</strong> que eu era<br />
“granfino”<strong>do</strong> Paulistano . E tome botina<strong>da</strong>s . Eu não reclamava .<br />
APRENDENDO BRIGAR POR NECESSIDADE<br />
Dentre esta moleca<strong>da</strong> existiam três que sempre gostavam de<br />
aborrecer. To<strong>da</strong> hora . No futebol ou na rua . Bastava que eu aparecesse . Eles tinham<br />
apeli<strong>do</strong>s . Eram chama<strong>do</strong>s de “João Gor<strong>do</strong>” , “Pingo” e “Torra<strong>da</strong> “. Nunca soube seus<br />
nomes ver<strong>da</strong>deiros .To<strong>do</strong>s eram um pouco mais velhos <strong>do</strong> que eu e tambem maiores .<br />
Certo dia num joga<strong>da</strong> de bola errei um passe . Bastou para o tal <strong>do</strong><br />
João “Gor<strong>do</strong>” começar a berrar comigo e me chamar de “fresquinho”. Pedi<br />
para ele parar . O jogo continuou .<br />
Daí a pouco quem errou um chute para o gol foi ele .Eu comentei com<br />
Vico que era fácil falar .Ele ouviu e veio empurran<strong>do</strong>. Logo em segui<strong>da</strong> recebi<br />
um tapa no rosto . Meu sangue ferveu .Retruquei com um soco que acertei<br />
entre um olho e o nariz . Ele sangrou na hora . Nesta altura <strong>do</strong>s<br />
acontecimentos , sem que eu percebesse , o Pingo veio por trás e me segurou<br />
para o João Gor<strong>do</strong> bater . Apanhava bastante naquele momento .<br />
Não sabia o que fazer .Somente lembro que tomei vários socos , mal<br />
<strong>da</strong><strong>do</strong>s por sinal , enquanto tentava me defender <strong>da</strong>n<strong>do</strong> chutes na direção <strong>do</strong><br />
João Gor<strong>do</strong> .<br />
Só não apanhei muito porque o pai <strong>do</strong> Vico apartou a briga . Naquele<br />
dia o futebol acabou .Eu fui para casa com a camisa rasga<strong>da</strong> e a orelha direita<br />
incha<strong>da</strong> e assobian<strong>do</strong> meu ouvi<strong>do</strong> .<br />
Deste dia em diante começou uma perseguição . To<strong>do</strong> dia , os <strong>do</strong>is ,<br />
sempre que me avistavam, começavam xingar e procurar briga . Eu tentava
evitar . Era difícil pois para ir à escola era necessário passar pela Rua <strong>da</strong><br />
Consolação. Fui obriga<strong>do</strong> a brigar umas vinte vezes . No mínimo .<br />
Como eu era bem menor , muito mais apanhava <strong>do</strong> que batia .<br />
Então resolvi que aquilo tinha que parar . Eu estava apanhan<strong>do</strong> quase<br />
to<strong>do</strong>s os dias .E o pior é que não via uma perspectiva de melhorar a situação.<br />
Então lembrei . No caminho <strong>da</strong> escola sempre via uma estaca de<br />
roseira finca<strong>da</strong> no jardim de uma casa , bem perto <strong>do</strong> muro . Não tive duvi<strong>da</strong>s.<br />
Naquela sexta feira , na volta <strong>da</strong> escola estiquei o braço e , fazen<strong>do</strong> um pouco<br />
de força , peguei a tal estaca.<br />
Comecei a voltar para casa , com a estaca atravessa<strong>da</strong> e presa pela<br />
tampa de couro <strong>da</strong> minha mala escolar .<br />
O que eu esperava aconteceu . Perto <strong>da</strong> Rua Consolação , ain<strong>da</strong> no<br />
meio <strong>do</strong> quarteirão os <strong>do</strong>is me avistaram e vieram em minha direção .<br />
Já vinham xingan<strong>do</strong> . Estavam confiantes .<br />
Não repararam na estaca .<br />
Quan<strong>do</strong> chegaram perto não esperei muito para ser ataca<strong>do</strong> . João<br />
“Gor<strong>do</strong>” veio corren<strong>do</strong> e me deu um tapa na orelha . Puxei a estaca e acertei<br />
uma paula<strong>da</strong> na sua cabeça . João “Gor<strong>do</strong>” gritou de <strong>do</strong>r e imediatamente o<br />
sangue escorreu em sua testa .<br />
Antes que o tal de Pingo saísse <strong>da</strong> surpresa mandei paula<strong>da</strong>s para cima<br />
dele . Só consegui acertar uma , em sua mão , porque depois ele correu. Eu<br />
corri atrás mas não consegui alcança-lo .<br />
To<strong>do</strong>s que estavam na esquina viram a cena .<br />
Naquele dia voltei de alma lava<strong>da</strong> para casa . Escondi no quintal a<br />
estaca .Poderia precisar dela outra vez .<br />
Mas minha alegria durou pouco . Logo depois <strong>do</strong> jantar , os pais <strong>do</strong><br />
João “Gor<strong>do</strong>” e <strong>do</strong> “Pingo” foram até lá em casa , acompanha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Seu<br />
Luiz- o guar<strong>da</strong> civil que fazia a ron<strong>da</strong> na região . Ele soube de tu<strong>do</strong> que tinha<br />
ocorri<strong>do</strong> e contou para meu pai com detalhes . Depois ain<strong>da</strong> disse :<br />
-“Não vou levar esta ocorrência para frente pois seu filho foi sempre<br />
provoca<strong>do</strong> pelos outros <strong>do</strong>is . Testemunhas , tanto <strong>da</strong> Pa<strong>da</strong>ria como <strong>do</strong> Bar lá<br />
<strong>da</strong> esquina , confirmam este fato . Ocorre entretanto que os filhos destes<br />
senhores precisam de atendimento médico . O João precisa levar uns pontos<br />
na cabeça . O Pingo está provavelmente com um de<strong>do</strong> quebra<strong>do</strong> . Alem <strong>do</strong><br />
mais estas brigas diárias vão ter que parar de vez .To<strong>do</strong>s os senhores vão<br />
tomar providências junto aos seus filhos , antes que tenhamos maiores<br />
problemas .”<br />
Meu pai me chamou e eu contei to<strong>da</strong> a história . Ele pediu um minuto<br />
pois iria ligar para o primo Zézito. Ele era nosso médico .
Logo voltou pedin<strong>do</strong> que os meninos fossem leva<strong>do</strong>s para onde meu<br />
primo morava , ali mesmo na Al. Tietê . Ele iria junto .<br />
Ganhei um puxão de orelha e a ordem de ficar em meu quarto .<br />
Duas horas depois ele voltou dizen<strong>do</strong> que o tal de Pingo havia<br />
quebra<strong>do</strong> <strong>do</strong>is de<strong>do</strong>s e que o João “Gor<strong>do</strong>” recebera quatro pontos na cabeça .<br />
Não falou muito mais . Pediu entretanto que eu evitasse brincar com<br />
aqueles moleques . Terminou dizen<strong>do</strong> :<br />
-“Ain<strong>da</strong> bem que você nunca voltou choran<strong>do</strong> , pois então apanharia<br />
também em casa .”<br />
Claro que voltei a brincar com a moleca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Consolação . Guar<strong>da</strong>va<br />
entretanto muita magoa <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is .Tomava cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com eles . Fiquei juran<strong>do</strong><br />
que , se um dia ficasse maior <strong>do</strong> que eles , <strong>da</strong>ria uma bela surra nos <strong>do</strong>is .<br />
A Surpresa<br />
O tempo passou . A Guerra acabou . Nos mu<strong>da</strong>mos de volta para o<br />
Jardim Paulista . Praticamente eu não vinha mais para a Alame<strong>da</strong> Tietê .<br />
Quan<strong>do</strong> cheguei aos vinte anos tinha então 1,82 metros de altura ,<br />
pesava 90 quilos e , graças ao esporte,, era muito musculoso .<br />
Não tinha mais visto os <strong>do</strong>is moleques inimigos por quase 7 anos .<br />
Uma noite , em uma festinha na casa de meu tio Thomaz Oscar , lá na<br />
mesma Alame<strong>da</strong> Tietê , faltou refrigerantes . Então fui com ele até a esquina<br />
<strong>da</strong> Consolação para comprar , na pa<strong>da</strong>ria chama<strong>da</strong> “Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s” que lá<br />
existe até hoje , guaraná e coca cola .<br />
Quan<strong>do</strong> estava entran<strong>do</strong> encontrei o João “Gor<strong>do</strong>” .<br />
Para surpresa minha ele veio to<strong>do</strong> sorridente falar comigo . Era uma<br />
bolinha gor<strong>da</strong> de mais ou menos 1,68 metros de altura. O João “Gor<strong>do</strong>” , que<br />
era bem maior <strong>do</strong> que eu, tinha vira<strong>do</strong> um anão barrigudinho .<br />
Fiquei com pena .<br />
Naquele instante ele ficou per<strong>do</strong>a<strong>do</strong> . Seria muita covardia bater<br />
naquele baixinho . Além <strong>do</strong> mais a raiva havia passa<strong>do</strong> desde muito tempo.<br />
Aproveitei a oportuni<strong>da</strong>de para perguntar sobre o Pingo . Naquele<br />
instante o rosto risonho ficou triste e respondeu :<br />
-“Morreu ... de câncer . Três meses atrás .”<br />
Reparei uma pequena lagrima no canto <strong>do</strong>s olhos <strong>do</strong> João “Gor<strong>do</strong>” .<br />
Estava colocan<strong>do</strong> minha mão em seu ombro ,tentan<strong>do</strong> consolar a per<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />
amigo , quan<strong>do</strong> meu “irmãozinho Vico” entrou com o “Torra<strong>da</strong>” . Olhou ,<br />
sorriu e chegou junto . Ganhei um <strong>do</strong>s melhores abraços de to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> .<br />
Dali para frente só tive alegria , pois ca<strong>da</strong> um que chegava ia chamar<br />
um outro para me ver .
Não voltei para a festinha de meu tio . Levei os refrigerantes mas<br />
voltei para a esquina e ficamos conversan<strong>do</strong> sobre o futebol , as corri<strong>da</strong>s atrás<br />
de balão e as palhaça<strong>da</strong>s de nossa infância . Coisa boa que não volta nunca<br />
mais.<br />
Hoje , de vez em quan<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> passo de carro pela esquina <strong>da</strong><br />
Consolação com a Al. Tietê , tento ver se enxergo algum <strong>da</strong>queles moleques<br />
amigos .<br />
Parece que o vento os levou no tempo ... Sinto falta de to<strong>do</strong>s .
PASSEIOS , VISITAS e CINEMAS<br />
Edu Marcondes<br />
A Vi<strong>da</strong> com Amigos e Família – Cinemas – A Limpa e Bonita São<br />
Paulo – Prefeitura ...Sem Sentimento Paulista – “Fratura Exposta”<br />
Na déca<strong>da</strong> de 40 , com a guerra existin<strong>do</strong> na Europa , o mun<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong> estava muito mais sério que o atual . Nos <strong>do</strong>mingos praticamente<br />
existia uma programação constante . Na parte <strong>da</strong> manhã , bem ce<strong>do</strong>, sempre<br />
missa . Na época <strong>do</strong> verão , íamos depois na<strong>da</strong>r no Club . No inverno<br />
passear nos Parques de São Paulo , perto de casa . Trianon e as vezes na<br />
Água Branca , caso existisse alguma exposição . Elas que eram sempre<br />
bonitas .<br />
Outras vezes saia de bicicleta com os amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Nestas ocasiões , quan<strong>do</strong> já estávamos na faixa <strong>do</strong>s 13 anos pe<strong>da</strong>lávamos<br />
até o Aeroporto ou Santo Amaro .<br />
O almoço <strong>do</strong>mingueiro acontecia sempre com familiares . Em meu<br />
caso na casa <strong>do</strong> vovô Oscar. Algumas vezes na casa de um <strong>do</strong>s meus tios ,<br />
tanto <strong>do</strong> la<strong>do</strong> materno como paterno . Por vezes também em nossa casa .<br />
O importante era a família estar sempre junta . Muito uni<strong>da</strong> .<br />
Cinemas<br />
Na parte <strong>da</strong> tarde o cinema era a diversão preferi<strong>da</strong> <strong>da</strong> família . Por<br />
vezes eu ia em matinês com a Turminha <strong>do</strong> Paulistano . O dificil era<br />
escolher o filme . Ca<strong>da</strong> um queria assistir um filme diferente <strong>da</strong>quele que<br />
outros queri . No final alguns cediam íamos to<strong>do</strong>s juntos . A nossa<br />
turminha <strong>do</strong> Cinema era composta pelo Cesar Afonseca , João Campos ,<br />
Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , Ronie Scott , Luiz Carlos Anjos e algumas vezes<br />
Romulo Mariano , Marcos Assumpção ..<br />
Garotas não iam só com rapazes em sessões de cinema <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
.Somente as encontrávamos nas matinês <strong>do</strong> vlho Cine Paulista .<br />
Futebol era uma segun<strong>da</strong> opção , mais para os homens .<br />
Filmes de aventuras eram por nós bem aprecia<strong>do</strong>s .<br />
Também gostavamos de desenhos anima<strong>do</strong>s de longa metragem ,<br />
como “Gulliver”, “Branca de Neve” e “Pinóchio” ..<br />
Entretanto , eu jamais gostei de filmes de “Bandi<strong>do</strong>s e Mocinhos”,<br />
pois na reali<strong>da</strong>de , desde pequeno , eu entendia que tanto bandi<strong>do</strong>s como<br />
mocinhos eram criminosos . Matavam impunemente . Na reali<strong>da</strong>de os<br />
filmes de Mocinhos/Bandi<strong>do</strong>s eram e são só uma Escola de Crimes .<br />
Amor, tipo água com açúcar , era para meninas.<br />
Na maioria <strong>da</strong>s vezes matinê era no Paulista antigo <strong>da</strong> R. Augusta<br />
.Depois no Majestic , que ficava depois <strong>da</strong> Av. Paulista .
Algumas vezes eu ia com os amigos <strong>do</strong> Paulistano nas matines <strong>do</strong>s<br />
cinemas <strong>do</strong> Centro <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de . Naquele tempo , mesmo para jovens era<br />
necessário paletó e gravata . A nossa turminha era muito uni<strong>da</strong> . Além <strong>do</strong><br />
mais naquele tempo a moleca<strong>da</strong> an<strong>da</strong>va solta , sem nenhum problema .<br />
A razão maior era poder assistir os filmes seria<strong>do</strong>s que passavam<br />
nos cinemas <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de . Aconteciam no “Santa Helena”. Entre aqueles<br />
filmes em série : - “Fash Gor<strong>do</strong>n” , “Charlie Chan”, “Zorro” , “Tarzan” e<br />
muitos outros .<br />
Existia na Praça <strong>da</strong> Sé , bem ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Cine Santa Helena , onde<br />
as vezes eu ia com meu pai , um cinema de filmes naturais , nota<strong>da</strong>mente<br />
sobre a guerra que ia acontecen<strong>do</strong>. Chamava-se “Cine Mundi”. Ficava<br />
cheio pois era a única forma de ver o que acontecia na Europa .<br />
Eu separava o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de em duas partes , devi<strong>da</strong>mente<br />
separa<strong>do</strong>s pelos Viadutos <strong>do</strong> Chá e Santa Efigênia . Eram aqueles centros<br />
então chama<strong>do</strong>s de : Centro Velho e Centro Novo .<br />
Dentro <strong>do</strong> Velho ficavam Praça <strong>da</strong> Sé , <strong>do</strong> Patriarca , Rua Direita,<br />
Rua São Bento . Daquele la<strong>do</strong> tínhamos os cines “Alhambra” , “Rosário” ,<br />
“Pedro II”, e mais os <strong>do</strong>is já cita<strong>do</strong>s : “CineMundi e “Santa Helena”. Nem<br />
to<strong>do</strong>s eram de cadeiras estofa<strong>da</strong>s . Alguns tinham sessões duplas , com <strong>do</strong>is<br />
filmes , mais jornais internacionais e por vezes um Curto Desenho. .<br />
No Centro Novo existiam mais cinemas : “Opera” na D. José de<br />
Barros . “Art Palácio” , “Brodway” , “Ritz” e “Metro” na Av. São João .<br />
Na Av. Ipiranga : “Marabá” e “Ipiranga” . Este último era muito elegante e<br />
antes de ca<strong>da</strong> sessão tocava um pianista clássico .<br />
Na Conselheiro . Crispiniano tínhamos o cine “Marrocos” .<br />
To<strong>do</strong>s eles já acabaram ou viraram igrejas protestantes .<br />
Ain<strong>da</strong> lembro que na frente <strong>da</strong>queles cinemas sempre existia um<br />
Guar<strong>da</strong> Civil com Far<strong>da</strong> de Gala - azul marinho , muito elegante , com uma<br />
espa<strong>da</strong> ao la<strong>do</strong> . Impunha respeito .<br />
Nos bairros também existiam cinemas . Na zona sul o que<br />
inicialmente operou foi o primeiro “Cine Paulista” , isto desde o início <strong>do</strong>s<br />
anos 40 . Ficava na esquina <strong>da</strong> Augusta com Oscar Freire . Ao seu la<strong>do</strong><br />
existia uma mercearia-sorveteria que tinha um balcão . Ele que se abria<br />
para o hall de entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> cinema . Isto acontecia antes <strong>da</strong>s sessões e nos<br />
intervalos <strong>do</strong>s filmes , posto que naquele primeiro Cine Paulista , <strong>da</strong>s<br />
cadeiras de madeira, as sessões eram sempre com <strong>do</strong>is filmes .<br />
Matinés só aos sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos .<br />
Muitas vezes saiamos <strong>da</strong>quele “Cine Paulista” para tomar lanche no<br />
Paulistano. No verão ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>va até tempo para pegar o final <strong>da</strong> piscina .<br />
Ela que só fechava as 6 horas .<br />
O crescimento <strong>da</strong> Augusta terminou com o Velho “Cine Paulista” .<br />
Em seu lugar foi construí<strong>do</strong> , lá pelos anos 50 , o novo “Cine<br />
Paulista” . Era de alto luxo , com sessões corri<strong>da</strong>s. Era “chic” assistir as
suas sessões <strong>da</strong>s 22,00 horas de Segun<strong>da</strong> Feira . Hoje ele também<br />
desapareceu .<br />
Na mesma Rua Augusta existiam mais quatro cinemas . Agora já<br />
nos anos 50 . O “Astor” no Conjunto Nacional . Hoje temos em seu lugar a<br />
Livraria Cultura . Um pouco mais para os la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de : - Cines<br />
“Picolino” e “Majestic”.Também não mais existem. Muitas vezes fui<br />
namorar naqueles cinemas . Namoro muito puro . Só de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s .<br />
Mais perto <strong>da</strong> Praça Roosevelt o “Cine Marachá”. Dele nem sinal .<br />
O advento <strong>da</strong> televisão é o responsável pelo final <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s<br />
cinemas de São Paulo. Fica muito mais fácil e mais barato assistir os<br />
acontecimentos , filmes e futebol em casa , no maior conforto .<br />
Naquele tempo era mesmo exigi<strong>do</strong> o uso de gravata e paletó .<br />
A Limpa e Bonita São Paulo de Meu Tempo<br />
Nas déca<strong>da</strong>s de 1.940 , 50 , 60 e até mesmo 70 a ci<strong>da</strong>de de São<br />
Paulo era realmente uma lin<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Antes de mais na<strong>da</strong> muito limpa . O<br />
centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de era lava<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as noites por caminhões pipa . Dava<br />
gosto ver a conservação <strong>da</strong>s praças , <strong>do</strong>s jardins , <strong>da</strong>s calça<strong>da</strong>s e de to<strong>da</strong>s as<br />
arvores . As vitrines <strong>da</strong>s lojas eram capricha<strong>da</strong>s na sua exposição .<br />
Não apareciam vagabun<strong>do</strong>s pelas ruas , pois ain<strong>da</strong> existia a<br />
“Delegacia de Vadiagem”. Ela funcionava , como ain<strong>da</strong> funciona em to<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> , e ninguém ficava senta<strong>do</strong> , sem rumo , planejan<strong>do</strong> alguma coisa<br />
má contra o povo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />
Também não existiam os “Mora<strong>do</strong>res de Rua”. Estes , caso<br />
surgissem , eram leva<strong>do</strong>s para albergues , cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s , lava<strong>do</strong>s , treina<strong>do</strong>s em<br />
alguma profissão . Só assim eram libera<strong>do</strong>s , ten<strong>do</strong> então emprego fixo<br />
obrigatório .<br />
Lembro que antes , quan<strong>do</strong> aqui chegaram os imigrantes <strong>da</strong><br />
Europa e <strong>da</strong> Ásia , existia até a <strong>Casa</strong> <strong>do</strong> Imigrante . Para recebê-los e<br />
ajustá-los a nossa socie<strong>da</strong>de . O custo era <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> .<br />
O Vale <strong>do</strong> Anhangabaú era realmente o cartão postal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />
Tinha muito verde com muita grama , flores e muitas arvores . Ele se<br />
estendia desde a Praça <strong>da</strong> Bandeira até a Av. São João . Ia subin<strong>do</strong> até o<br />
Teatro Municipal , chegan<strong>do</strong> mesmo até a Praça Ramos . Era cheio de<br />
grandes palmeiras e coqueiros , onde viviam ban<strong>do</strong>s e mais ban<strong>do</strong>s de<br />
par<strong>da</strong>is .<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Teatro Municipal , na desci<strong>da</strong> para o Anhangabaú ,<br />
grandes estatuas de bronze , com flores ao la<strong>do</strong> , <strong>do</strong>s principais<br />
personagens <strong>da</strong>s operas mais conheci<strong>da</strong>s . Ain<strong>da</strong> elas existem . To<strong>da</strong>s sujas<br />
e mal cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s .
A vista <strong>do</strong> Anhangabaú , de qualquer la<strong>do</strong> era muito bonita , Eu<br />
ain<strong>da</strong> gostava <strong>da</strong>quela que de cima <strong>do</strong> Viaduto <strong>do</strong> Chá olhava a Praça <strong>da</strong><br />
Bandeira , com enorme bandeira <strong>do</strong> Brasil sempre hastea<strong>da</strong> .<br />
Prefeitura : Sem Sentimento Paulista<br />
Hoje deformaram tu<strong>do</strong> . Uma Prefeita inteiramente ignorante e<br />
muito prepotente , sem sentimento paulista , talvez lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong> secura de<br />
onde veio , acabou com to<strong>do</strong> verde que por ali existia . Só ficou pedra ao<br />
la<strong>do</strong> de pedra . Pedra sobre pedra. Horrível ! Perdemos nosso Cartão<br />
Postal. Por lá , com concreto mal feito por to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> , tu<strong>do</strong> é muito sujo ,<br />
picha<strong>do</strong> e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> . Agora é lugar de prostitutas , mascates e malandros<br />
de quinta categoria . A noite é de assaltos .<br />
Quan<strong>do</strong> chove forte os túneis por ali inun<strong>da</strong>m .<br />
Até os par<strong>da</strong>is fugiram <strong>do</strong> local .<br />
Pior é que acontece nos la<strong>do</strong>s de Santa Efigênia . A droga e os<br />
traficantes tomaram conta <strong>do</strong> lugar . De muitas ruas . Perigo ...Perigo !<br />
E a policia não faz na<strong>da</strong> contra a “Cracolandia”. Por que ?<br />
Um horror . Mesmo como filme de “Terror Cinematográfico” !<br />
Onde estão policia , o judiciário e o poder executivo ??? !!!<br />
“Fratura Exposta...”<br />
O Centro Novo <strong>da</strong> Barão de Itapetininga desapareceu . Foi<br />
inicialmente invadi<strong>do</strong> inteiramente por marreteiros , vin<strong>do</strong>s de fora <strong>do</strong><br />
esta<strong>do</strong> de São Paulo . Eles que tomaram conta <strong>da</strong>s ruas .<br />
Ameaçavam e agrediam até os comerciantes e seus emprega<strong>do</strong>s .<br />
Provaram inúmeras brigas . Queriam , e por força vendiam to<strong>da</strong> espécie de<br />
bugigangas e contraban<strong>do</strong>s . Ao anoitecer muitos deles assaltavam o<br />
público distraí<strong>do</strong> . Sujaram e picharam tu<strong>do</strong> .<br />
Ali tu<strong>do</strong> ficou muito feio ! Continua feio .<br />
A policia na<strong>da</strong> fez , nem a Prefeitura . Governo na<strong>da</strong> faz !<br />
Conclusão : - A clientela fugiu , as lojas fecharam e/ou mu<strong>da</strong>ram . O<br />
valor <strong>do</strong>s imóveis naquele lugar é agora desprezível . Muitos prédios<br />
comerciais estão fecha<strong>do</strong>s até hoje . Ninguém compra ... nem aluga ! Os<br />
médicos e dentistas , que formavam um centro especializa<strong>do</strong>, foram para<br />
outros locais . As confeitarias <strong>da</strong> Barão de Itapetininga foram fecha<strong>da</strong>s .<br />
Uma depois <strong>da</strong> outra . Ali , depois que anoitece , é região perigosa .<br />
Em pleno centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />
A única coisa boa que restou foram os velhos lampiões trabalha<strong>do</strong>s<br />
em ferro bati<strong>do</strong> , com cinco luminárias ca<strong>da</strong> um . Hoje estão sem pintura ,<br />
mas existem . Lin<strong>do</strong>s e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s . Qualquer dia vão ser rouba<strong>do</strong>s ...
Outra grande destruição , então com desvirtuamento de bairros, foi<br />
realiza<strong>da</strong> pela gestão na Prefeitura de um “Grande Malandro”, disfarça<strong>do</strong><br />
em gente de bem, que hoje graças a Deus , está sen<strong>do</strong> processa<strong>do</strong> por<br />
muitas roubalheiras e malandragens . Nem pode sair <strong>do</strong> país !<br />
Esta aconteceu principalmente e diretamente no Centro , Bairro de<br />
Santa Cecília e Barra Fun<strong>da</strong> e Agua Branca .<br />
Ate hoje to<strong>do</strong>s reclamam de uma construção horrorosa .Não sei por<br />
que continua existin<strong>do</strong> pois cai aos pe<strong>da</strong>ços . Uns a chamam de<br />
“Horroren<strong>da</strong>” ( mistura de Horrorosa com Horren<strong>da</strong> ) .<br />
Outros contam o seguinte história tenebrosa sobre o “Eleva<strong>do</strong> Costa<br />
e Silva” :<br />
- “Para facilitar a vin<strong>da</strong> de sua casa , situa<strong>da</strong> no Jardim América , e<br />
chega<strong>da</strong> em sua industria , situa<strong>da</strong> na Água Branca , o tal “Prefeito Maluc”<br />
criou um Enorme e Gigantesco Eleva<strong>do</strong> . Parece até viaduto , que vai se<br />
torcen<strong>do</strong> e viran<strong>do</strong> por cima de Ruas e Aveni<strong>da</strong>s , desde seu início ate seu<br />
final . Porem é preciso ter melhor idéia . Ele tem quilômetros .<br />
Ele é chama<strong>do</strong> pelo povo paulista de “Minhocão” .<br />
Uma analise simples de quanto custou , parece indicar que ele<br />
desviou , com a tal obra, milhares de dólares para sua conta particular ,<br />
devi<strong>da</strong>mente disfarça<strong>da</strong>. Provas não existem . Mas é o que muitos falam .<br />
O tal “Minhocão” começa bem no Centro , na Av. São João ,<br />
atravessa grande parte <strong>do</strong>s bairros de Santa Cecilia e Bom Retiro , segue<br />
pela região <strong>da</strong> Água Branca e vai até a Av. Francisco Matarazzo, paran<strong>do</strong><br />
quase em frente de fabrica <strong>da</strong>quele prefeito malandro .<br />
Um Horror... que prejudicou uma grande parte <strong>da</strong> população .<br />
Naqueles bairros existiam milhares de prédios residenciais .<br />
Imagine os carros e motocicletas com escapamento aberto que ficam<br />
agora passan<strong>do</strong> quase cola<strong>do</strong> aos prédios e apartamentos ali existentes , na<br />
altura de suas salas e de seus quartos. Do 1º até o 6º an<strong>da</strong>r.Quem agüenta ?<br />
To<strong>da</strong> região ficou muito desvaloriza<strong>da</strong> ! Muito !<br />
E vá <strong>do</strong>rmir com aquele barulho nos ouvi<strong>do</strong>s .<br />
E vá viver naquela poluição de fumaça de autos .<br />
Vergonha ! E ninguém na política faz na<strong>da</strong> . Na<strong>da</strong> !!!!<br />
Debaixo <strong>da</strong>quele “Minhocão” o mau cheiro toma conta de tu<strong>do</strong> .<br />
Em ca<strong>da</strong> canto marcas de urina , provenientes de migrantes que se<br />
mu<strong>da</strong>m para São Paulo constantemente . Os coita<strong>do</strong>s , não ten<strong>do</strong> onde<br />
morar ficam debaixo <strong>da</strong>quele eleva<strong>do</strong> . Então colchões velhos e rasga<strong>do</strong>s ,<br />
pe<strong>da</strong>ços de madeira , plásticos rasga<strong>do</strong>s , roupas sujas e resto de comi<strong>da</strong><br />
ficam mistura<strong>do</strong>s com aqueles que vivem por ali , com muitos cachorros<br />
vira latas que fazem muito mais sujeira .<br />
Eles que não tem prazo para sair . Nem para onde ir .
Uma tristeza sob qualquer aspecto .<br />
Placas de “Vende-se” e “Aluga-se” em to<strong>da</strong> parte . Na<strong>da</strong> resolvem .<br />
Caso alguém precise de uma prova sobre “Insensibili<strong>da</strong>de ,<br />
Incapaci<strong>da</strong>de e Ganância <strong>do</strong>s Governantes” , que tu<strong>do</strong> permitiram e tu<strong>do</strong><br />
assistem , basta olhar para o tal “Minhoção” .<br />
Ali vão encontrar o “Tu<strong>do</strong> negativo ! ” . Ao vivo e em cores !<br />
Ali é realmente uma Fratura Exposta <strong>da</strong> nossa ci<strong>da</strong>de .<br />
Coita<strong>da</strong> <strong>da</strong> lin<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo de minha moci<strong>da</strong>de !<br />
Foi invadi<strong>da</strong> ... Foi saquea<strong>da</strong> . E o saque continua ...
“NATAÇÃO , FUZARCA E CIA.”<br />
Edu Marcondes<br />
A “Aura” <strong>da</strong> Velha Piscina - Um Tiro na Rua Argentina –<br />
Molecagens no Vestiário Masculino<br />
Hoje , analisan<strong>do</strong> como tu<strong>do</strong> acontecia no passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paulistano ,<br />
fico admira<strong>do</strong> , realmente admira<strong>do</strong> , como tanta e quanta coisa boa<br />
acontecia na sua Piscina Velha. Ela era na reali<strong>da</strong>de um “Pólo de Muita<br />
Diversão , de Muita Alegria” , principalmente quan<strong>do</strong> a comparamos com<br />
as piscinas atuais .<br />
Agora , tu<strong>do</strong> foi mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> , não só por falta real de espaço , pois o<br />
sócio agora ou fica senta<strong>do</strong> toman<strong>do</strong> sol , ou é obriga<strong>do</strong> a na<strong>da</strong>r . Não tem<br />
nem muito espaço , nem o fun<strong>da</strong>mental para saudável diversão . ou seja :<br />
Uma turma muito amiga . Nem existe o principal . O “clima para viver as<br />
coisas diverti<strong>da</strong>s desta vi<strong>da</strong> !”<br />
Antes a piscina era lugar <strong>do</strong>s mais alegres em to<strong>do</strong> Paulistano . A<br />
“aura existente naquela velha piscina era indescritível” .<br />
Hoje não é a mesma coisa , pelo que tenho visto .<br />
Antigamente , na Piscina Velha , apesar de numero menor de<br />
horas disponíveis para diversão e entretenimento , eles sempre aconteciam.<br />
Vou lembrar e contar algumas destas coisas boas , ain<strong>da</strong> neste capitulo .<br />
Antes . O espírito de irman<strong>da</strong>de e de amizade já começava mesmo<br />
dentro <strong>do</strong> vestiário .. Não existiam armários , somente locais onde era<br />
troca<strong>da</strong> a roupa e pendura<strong>da</strong> .<br />
Seus bens pessoais poderiam ser guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s separa<strong>da</strong>mente .<br />
Entretanto, quase ninguém utilizava este espaço para guar<strong>da</strong> de<br />
bens . Tu<strong>do</strong> que você tinha poderia ficar em seus bolsos . Na<strong>da</strong> sumia !<br />
Tu<strong>do</strong> era realmente <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Clube ,que realmente era um<br />
prolongamento de nossas casas ...!<br />
Dentro <strong>da</strong>quela piscina acontecia de tu<strong>do</strong>, quase com hora marca<strong>da</strong>,<br />
porem sem muito planejamento . Apenas por “Usos e Costumes’ muito<br />
naturais .<br />
Primeiro . Logo bem ce<strong>do</strong> , entre 7 e 7,30 horas <strong>da</strong> manhã ,aqueles<br />
que realmente vinham treinar natação já tinham chega<strong>do</strong>, diariamente .<br />
Nem tínhamos técnico Então , enquanto alguns realizavam ginástica de<br />
aquecimento, outros já estavam na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> , em longa distância ou com tiros<br />
curtos . Dentro desta turma lembro <strong>do</strong> Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , <strong>do</strong> Cláudio<br />
“Pinduca” Lunardelli , Eugenio Amaral , Pedro “Alemão” , Roberto<br />
Guimarães, José Ayres Neto, Urbano Camargo , entre muitos outros .
Lembro sempre que Eugenio Amaral me convi<strong>da</strong>va para um treino<br />
longo. Então combinávamos o tempo, pois não iríamos na<strong>da</strong>r por metros<br />
mas por hora.<br />
Depois , por volta <strong>da</strong>s 8,30 começavam chegar as mamães com a<br />
criança<strong>da</strong> . Naquele tempo, as mães vinham costumeiramente com os filhos<br />
pequenos . Tomavam sol e na<strong>da</strong>vam até as 10 horas , pois o sol ain<strong>da</strong> era<br />
bom . Antes de entrar na piscina a guriza<strong>da</strong> se agrupava , sob olhar atento<br />
<strong>da</strong>s mães . Brincavam . Só alegria .<br />
Então , pelas 10 horas era o tempo de garotas e rapazes . Muitos<br />
inicialmente ficavam na “Pérgula <strong>da</strong> Piscina” , paqueran<strong>do</strong> , jogan<strong>do</strong><br />
conversa fora , toman<strong>do</strong> sorvete . Depois as meninas iriam desfilar com<br />
seus biquínis . Aquele local era amplo e tinha vista para to<strong>do</strong>s cantos <strong>da</strong><br />
piscina .<br />
Neste horário chegava também a moleca<strong>da</strong> . Então começavam as<br />
brincadeiras de pega pega . Aconteciam dentro <strong>da</strong> piscina e fora dela , nos<br />
trampolins e no escorrega<strong>do</strong>r . Por vezes até nos muros que cercavam a<br />
piscina <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rua Argentina . Passavam para o muro pelos trampolins<br />
que ficavam ao la<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> persegui<strong>do</strong>s pulavam <strong>do</strong> muro para dentro<br />
<strong>da</strong> piscina ( eu também pulava . Hoje acho que era muito perigoso ) .<br />
Outra brincadeira <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> era jogar coisas no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> piscina e<br />
depois mergulhar para pegar . Eram coisas bem pequenas como grampos ,<br />
pedrinhas e botões .<br />
Quem já estava trabalhan<strong>do</strong> , muitas vezes vinha se refrescar antes <strong>do</strong><br />
almoço . Podiam ser encontra<strong>do</strong>s Luiz Carlos Tibiriça , Pedro Padilha ,<br />
Luiz David Ribeiro , Arman<strong>do</strong> Salem entre outros .<br />
- UM TIRO NA RUA ARGENTINA<br />
Quan<strong>do</strong> estava chegan<strong>do</strong> meio dia era tempo de trampolim . Quem<br />
sabia saltava . Outros somente pulavam em pé . Queriam espirrar água .<br />
Alguns como “Eugênio Pistinguet” pulavam <strong>do</strong> terceiro trampolim<br />
para o segun<strong>do</strong> . Assim o impulso era muito grande . O lançamento <strong>do</strong><br />
salta<strong>do</strong>r para o alto era bem defini<strong>do</strong> . Ele subia bem alto poden<strong>do</strong> <strong>da</strong>r<br />
estilo ao mergulho .<br />
Naqueles trampolins aconteciam muitas coisas . O terceiro trampolim<br />
ficava em uma Plataforma , a qual por sua altura com mais de oito metros ,<br />
também olhava para fora , para a Rua Argentina .<br />
Um dia um grupo de rapazes estava ali , toman<strong>do</strong> sol e conversan<strong>do</strong> :<br />
- Leo Berman , Caio Kiehl, Luis Carlos Junqueira , Acacio “Geléia” ,<br />
Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong> , Deoclides Brito, “Pistinguet” , Eduar<strong>do</strong> de<br />
Paula e este relator .
Então passou um casalzinho de namora<strong>do</strong>s. A moça era lin<strong>da</strong> . Ca<strong>da</strong><br />
passo que eles <strong>da</strong>vam a turma ia assobian<strong>do</strong> , marcan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> passo . A<br />
musica <strong>do</strong> assobio era aquela que acompanhava os filmes <strong>do</strong> “Gor<strong>do</strong> e<br />
Magro” . O casalzinho foi passan<strong>do</strong> . Sem falar .<br />
O casal virou a esquina e sumiu . Pouco depois voltou .<br />
Os assobios recomeçaram . Então , quan<strong>do</strong> chegaram bem em frente<br />
<strong>do</strong> trampolim o moço parou . Puxou um revolver , apontou para cima e<br />
atirou . Bem para cima . Para assustar .<br />
Assustou Mas assustou mesmo !<br />
O fogo <strong>do</strong> cano e o barulho <strong>do</strong> tiro espantou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />
Quem sabia pular <strong>do</strong> trampolim pulou .<br />
Quem não sabia pulou também , depois foi se limpar no banheiro.<br />
Também naqueles mesmos trampolins e na plataforma <strong>do</strong> terceiro<br />
an<strong>da</strong>r , começou a se formar , com a geração que veio depois <strong>da</strong> minha , um<br />
grupo de <strong>garoto</strong>s que fazia to<strong>da</strong>s as brincadeiras e to<strong>da</strong>s as palhaça<strong>da</strong>s de<br />
“Aqualoucos”.<br />
Eram coman<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Acácio “Geléia” Mâncio e Chico Apfelbaun<br />
– irmão <strong>do</strong> “Pistinguet” . Até o gran<strong>da</strong>lhão Tozinho Lara entrava na<br />
brincadeira . Vinham as vezes fantasia<strong>do</strong>s e tinham um show muito bem<br />
programa<strong>do</strong> . Nunca entendi como aquela moleca<strong>da</strong> , uns dez ou <strong>do</strong>ze,<br />
conseguiam cair, toman<strong>do</strong> tremen<strong>do</strong>s tombos dentro dágua , tanto <strong>do</strong>s<br />
trampolins , como <strong>da</strong> alta plataforma , sem se machucar e continuar <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
risa<strong>da</strong> . Eles eram realmente bons no que faziam .<br />
Traziam alegria que não custava na<strong>da</strong> .<br />
Hoje nem mais trampolim existe . Alguém não gostava de saltar ...<br />
Quase to<strong>do</strong>s os dias , um pouco antes <strong>do</strong> meio dia , chegava para<br />
na<strong>da</strong>r um senhor um pouco mais velho , ten<strong>do</strong> aproxima<strong>da</strong>mente uns 50<br />
anos . Era muito carequinha . Seu apeli<strong>do</strong> era “Tartaruga”. Isto porque<br />
aquela cabeça careca era a única coisa que ficava fora <strong>da</strong> água . Na<strong>da</strong>va<br />
bem devagar , sem quase movimentar água , no estilo clássico . Aquela<br />
carequinha fora d’água parecia mesmo uma cabeça de tartaruga .<br />
Ele vinha sempre . Então, quan<strong>do</strong> entrava na piscina e ia na<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
devagar , no estilo clássico , to<strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> na<strong>da</strong>va também em estilo<br />
clássico em fila indiana atrás dele . Sempre no maior silêncio . Dava<br />
impressão de uma fila de “tartaruguinhas” . No momento em que ele tocava<br />
na bor<strong>da</strong> para virar , a fila sumia . Para se formar novamente , poucos<br />
metros depois. Isto durava to<strong>do</strong> tempo . Quase em to<strong>do</strong>s os dias . O velho<br />
nunca reclamou . Dava risa<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> saia <strong>da</strong> piscina . Até hoje não sei seu<br />
nome .<br />
“Tartaruga” marcou seu tempo . Por muitas anos .
A piscina fechava a uma hora <strong>da</strong> tarde , em ponto . Um apito <strong>do</strong><br />
Salva Vi<strong>da</strong> anunciava . To<strong>do</strong>s saiam <strong>da</strong> água para se vestir e sair <strong>do</strong><br />
Paulistano, que também ficava fecha<strong>do</strong> até as 15 horas .<br />
Então , depois <strong>da</strong>quela hora , o Clube renascia novamente .<br />
Na parte <strong>da</strong> tarde , muitos vinham na<strong>da</strong>r . Muitos vinham namorar.<br />
Estes eram em maior numero . Porem as 5 <strong>da</strong> tarde começa o jogo de pólo<br />
aquático . Somente a parte rasa <strong>da</strong> piscina ficava livre .<br />
To<strong>do</strong>s respeitavam aqueles jogos que seguiam até a piscina fechar .<br />
Nós nem tínhamos técnico. Apenas jogávamos . Alguns muito bem , pois<br />
eram convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para disputar campeonatos por outros clubes .<br />
Com o tempo o Paulistano cresceu em pólo aquático, teve técnico<br />
e em sua equipe ganhou até um campeão mundial . Seu nome Szabo . Era<br />
húngaro de origem . Com ele ganhamos vários títulos . Cheguei a jogar<br />
com Szabo e com os amigos Telmo Martins , Fernan<strong>do</strong> San<strong>do</strong>val , Zai<strong>da</strong>n ,<br />
Farid Zablit , A<strong>do</strong>fo Dias e Toninho Salem , apenas em alguns treinos .<br />
Quan<strong>do</strong> estes estavam começan<strong>do</strong> no pólo aquático , nós os mais velhos já<br />
estávamos paran<strong>do</strong> .<br />
Szabo era muito forte e sua bola tinha veloci<strong>da</strong>de incrível .<br />
Por falar em Telmo Martins soube que ele tem i<strong>do</strong><br />
continua<strong>da</strong>mente para o Uruguai com o Luiz Potenza . Vão se distrair e<br />
jogar nos cassinos. Boa gente . Telmo e Potenza .<br />
- MOLECAGEM NO VESTIÁRIO<br />
As brincadeiras <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> começavam dentro <strong>do</strong>s vestiários .<br />
Uma delas era típica <strong>da</strong> garota<strong>da</strong> <strong>do</strong>s 10 anos <strong>do</strong> Paulistano . Os<br />
amigos iam na<strong>da</strong>r e deixavam suas roupas no vestiário . Então a Turma <strong>da</strong><br />
Fuzarça pegava as meias <strong>do</strong>s que estavam na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Meias eram corta<strong>da</strong>s<br />
na altura <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s . Eles então ficavam de fora.<br />
Chegou um tempo que nenhum <strong>garoto</strong> tinha os de<strong>do</strong>s <strong>do</strong> pé<br />
cobertos por meias . Eles , os de<strong>do</strong>s , sempre ficavam de fora , lá na ponta<br />
<strong>da</strong>s meias. Era marca registra<strong>da</strong> de pertencer ao grupo .<br />
Quan<strong>do</strong> alguém chegava com a meia inteira , era goza<strong>do</strong> . Diziam<br />
que ele não era <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Outra brincadeira <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> mais jovem , entre os <strong>do</strong>ze e quinze<br />
anos , era <strong>da</strong>r nó nas pernas <strong>da</strong>s calças ou nos braços <strong>da</strong>s camisas . Então<br />
aquele dia o amigo , depois de lutar para soltar o nó , saia com a roupa<br />
“devi<strong>da</strong>mente plissa<strong>da</strong>” . “Mo<strong>da</strong> jovem”!<br />
To<strong>do</strong> tipo de brincadeira acontecia , e só poderia acontecer porque<br />
to<strong>do</strong>s eram realmente muito amigos e trata<strong>do</strong>s como irmãos . Aceitavam<br />
muito bem to<strong>da</strong>s as gozações . Qualquer coisa <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> .
Uma delas era chama<strong>da</strong> de “Esquentar Água <strong>do</strong> Chuveiro” .<br />
Naquele tempo os chuveiros ficavam to<strong>do</strong>s juntos , sem divisórias .<br />
Caso não me engane existiam pelo menos 6 chuveiros em linha .<br />
Então , enquanto alguém tomava banho na água fria , (e naquele<br />
tempo só tínhamos água fria) , ele não podia ficar distraí<strong>do</strong> . Nem fechar<br />
os olhos lavan<strong>do</strong> rosto ou cabeça . Caso ficasse de bobeira os amigos<br />
esquentavam sua perna. Faziam xixi , na perna <strong>do</strong> distraí<strong>do</strong> .<br />
Ain<strong>da</strong> perguntavam :<br />
“- A água não está esquentan<strong>do</strong> ?”<br />
Então o “distraí<strong>do</strong>” se ligava . Ficava passan<strong>do</strong> sabão nas pernas,<br />
sem parar ... Os demais <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> .<br />
Antes disso , eles também já haviam caí<strong>do</strong> na mesma brincadeira .<br />
Aqueles eram outros tempos, em uma outra piscina .<br />
Penso que a amizade de então era muito mais forte . Em tu<strong>do</strong> e por<br />
tu<strong>do</strong> ! Tínhamos uma irman<strong>da</strong>de . A Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Qualquer que fosse o aconteci<strong>do</strong> , qualquer que fosse a brincadeira,<br />
sempre no final <strong>da</strong>s tardes , antes de voltarmos para casa , muitos <strong>da</strong>queles<br />
moleques , quan<strong>do</strong> podiam , iam comer um pe<strong>da</strong>ço de pizza na Columbia.<br />
A Columbia ficava na esquina <strong>da</strong> Rua Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s com Augusta.<br />
Lembro agora : Mesmo quem não podia ... também ia .<br />
Como convi<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong>s outros amigos !
A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL<br />
Edu Marcondes<br />
Av. Rebouças e Re<strong>do</strong>ndezas - Piscina <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina –“Black-<br />
Out” no Guarujá - A Que<strong>da</strong> <strong>do</strong> Avião “A-20” no Bixiga – Dr. Fragoso<br />
Para a maioria <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> a guerra não tinha muita<br />
importância . Porem para meus jovens amigos e colegas judeus o problema era<br />
real . Neste tempo eu notara grande um sentimento de tristeza em to<strong>do</strong>s eles .<br />
Com justa razão , pois a Alemanha vinha ten<strong>do</strong> inúmeros sucessos nas<br />
batalhas européias e o Japão vinha derrotan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s na Ásia .<br />
Os nazistas que dirigiam a Alemanha perseguiam radicalmente<br />
to<strong>do</strong>s judeus e ciganos , em to<strong>do</strong>s os cantos por onde <strong>do</strong>minavam .<br />
Eu costumava freqüentar suas casas , passear , na<strong>da</strong>r , ir ao<br />
cinema e principalmente jogar “futebol de botão” com meus amigos judeus .<br />
Éramos bons amigos . Por isto mesmo a guerra que aborrecia Joel Goldbaun ,<br />
Carlos Taub , Jacques Barmak , Zicha Schwartz , Leo Berman e Eugenio<br />
“Pistingué” Apfelbaun e outros judeus , <strong>do</strong> Paulistano ou não , muito também<br />
me aborrecia , por tabela . Nunca coube ver<strong>da</strong>deiramente em minha mente<br />
qualquer razão para perseguição , revanche ou vingança . Muito menos<br />
descriminação racial .<br />
Pouco tempo depois o Brasil entrou na guerra . Foram<br />
afun<strong>da</strong><strong>do</strong>s alguns navios brasileiros em nosso litoral . Para to<strong>do</strong>s os efeitos os<br />
culpa<strong>do</strong>s eram os alemães . Alguns diziam que os responsáveis haviam si<strong>do</strong> os<br />
americanos , que desejavam culpar os submarinos alemães . Nunca isto foi<br />
bem explica<strong>do</strong> . Entretanto, o Brasil entrou na guerra , <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s .<br />
O efeito veio em cascata . Logo faltou gasolina e os carros<br />
deixaram as ruas . Produtos importa<strong>do</strong>s , que naqueles tempos eram em grande<br />
numero , desapareceram . Farinha de trigo ficou faltan<strong>do</strong> . Açúcar , que por lei<br />
<strong>do</strong> governo Vargas , deveria ter preferência de produção na região nordeste,<br />
também faltou , pois vinha transporta<strong>do</strong> pelos navios <strong>da</strong> Cia Costeira , que<br />
agora pouco navegavam .<br />
Começou a faltar muita coisa . Apareceram os “Cartões de<br />
Racionamento”e as filas para comprar pão . Este era feito com farinha de trigo<br />
mistura<strong>da</strong> com milho , mandioca e outras farinhas mais . As broinhas de milho<br />
fizeram grande sucesso entre a criança<strong>da</strong> .<br />
O responsabili<strong>da</strong>de pela compra <strong>do</strong> pão sempre ficou comigo .<br />
Precisava levantar às 6 horas para enfrentar a fila e trazer o pão antes <strong>da</strong>s 7,30<br />
horas <strong>da</strong> manhã. Nestas horas eu encontrava com vários amigos <strong>do</strong> Paulistano
que também vinham comprar pão . Carlito Taub , Jacques Barmak , Romulo<br />
Mariano , Saulo Ferraz e Domingos Meira . Por vezes eu estava na mesma<br />
fila <strong>do</strong> pão com Deoclides Brito e Cesar Affonseca . Com o tempo to<strong>do</strong>s se<br />
acostumaram a comer “pão de guerra”- Mistura de trigo com farinha de milho.<br />
Laranja , tipo exportação , sobrava e era vendi<strong>da</strong> , não por<br />
dúzia mas por cento (100) , por uma ninharia . Suco de laranja era toma<strong>do</strong> o<br />
dia inteiro . Pelo menos apareceu uma vantagem para o povo .<br />
Como as noticias <strong>da</strong> guerra eram importantes logo surgiu no<br />
rádio um programa de notícias . O famoso “Repórter Esso”, patrocina<strong>do</strong> pela<br />
Esso de Petróleo .<br />
Apareceram também as “Novelas <strong>do</strong> Radio”. Não existia<br />
televisão , o radio <strong>do</strong>minava. E pelo radio surgiram os programas de músicas<br />
americanas . Em to<strong>da</strong>s as rádios . O esquema americano de propagan<strong>da</strong> era<br />
realmente forte e até subliminar . No cinema surgiram “Estórias de Heróis de<br />
Guerra” , onde sempre os alemães eram venci<strong>do</strong>s e os italianos apareciam<br />
como idiotas . Faziam sucesso tais filmes. Apesar de torcer pelos alia<strong>do</strong>s não<br />
<strong>da</strong>va para entender porque tanto esforço para vencer a guerra , quan<strong>do</strong> os<br />
inimigos seriam tão fracos , idiotas e desprezíveis .<br />
Nesta ocasião , tentan<strong>do</strong> unir to<strong>da</strong>s as Américas , foi produzi<strong>do</strong>,<br />
por Walter Disney um desenho anima<strong>do</strong> onde Mickey e Pato Donald<br />
visitavam os paises <strong>da</strong> América Latina . Neste filme , chama<strong>do</strong> “Alô Amigos”,<br />
surgiu o “Zé Carioca”, como um símbolo <strong>do</strong> povo brasileiro . O filme era<br />
diverti<strong>do</strong> e criou laços de fraterni<strong>da</strong>de entre os paises de to<strong>da</strong> América .<br />
Duro mesmo foram as medi<strong>da</strong>s <strong>do</strong> governo brasileiro para os<br />
italianos , alemães e japoneses . Seus bens foram bloquea<strong>do</strong>s . Seus hospitais e<br />
empresas toma<strong>do</strong>s por interventores federais , os quais passaram a ditar a<br />
conduta para funcionamento.<br />
Os clubes esportivos <strong>do</strong>s alemães e italianos foram obriga<strong>do</strong>s a<br />
trocar os nomes estrangeiros por nomes nacionais . O “Palestra Itália” virou<br />
Socie<strong>da</strong>de Esportiva Palmeiras . O “Clube Germânia” se transformou no<br />
Clube Pinheiros. O “Spéria” mu<strong>do</strong>u o nome para Floresta . Os húngaros<br />
perderam o “ Canindé”.<br />
Um sentimento nacionalista foi toman<strong>do</strong> conta de tu<strong>do</strong>,<br />
supervisiona<strong>do</strong> pelo governo federal . Tu<strong>do</strong> resultava conforme os “ Acor<strong>do</strong>s<br />
Internacionais” realiza<strong>do</strong>s com os dirigentes <strong>do</strong>s paises Alia<strong>do</strong>s .<br />
Foi cria<strong>da</strong> a FEB – Força Expedicionária Brasileira , e a FAB –<br />
Força Aérea Brasileira . Ambas , com equipamentos americanos , iriam lutar<br />
na Europa . O sentimento de patriotismo crescia ca<strong>da</strong> dia com a formação<br />
destes grupos de combatentes brasileiros . Eram chama<strong>do</strong>s de “pracinhas”.
Nesta ocasião Guilherme de Almei<strong>da</strong> , grande poeta , criou o<br />
“Hino <strong>do</strong> Expedicionário .” Lembro de alguns de seus trechos pois ele é muito<br />
bonito . Começa assim :<br />
“ Você sabe de onde eu venho<br />
É de uma casa , de um engenho .<br />
Dos pampas , <strong>do</strong>s seringais<br />
Dos campos ,<strong>do</strong>s montes , <strong>do</strong>s rios<br />
Dos verdes mares bravios<br />
Da minha terra natal...”<br />
( O estribilho , muito bonito , guardei inteiro )<br />
“Por mais terra que eu percorra<br />
Não permita Deus que eu morra<br />
Sem que volte para lá ...<br />
Sem que leve por divisa<br />
Este V que simboliza<br />
A vitória que virá !”<br />
“Nossa vitória final<br />
Na mira <strong>do</strong> meu fuzil<br />
Na ração <strong>do</strong> meu bornal<br />
Na água <strong>do</strong> meu cantil ...<br />
Nas asas <strong>do</strong> meu ideal<br />
Na glória <strong>do</strong> meu Brasil .”<br />
E lá se foram os pracinhas brasileiros para lutar na Itália<br />
enquanto a vi<strong>da</strong> , to<strong>da</strong> raciona<strong>da</strong> , continuava por aqui .<br />
Transporte para o povo praticamente era feito por bondes . Os<br />
trens eram os responsáveis pela maioria <strong>da</strong>s cargas entre to<strong>da</strong>s as várias<br />
regiões . Os ônibus eram poucos . Estra<strong>da</strong>s de ro<strong>da</strong>gem eram insuficientes e<br />
nenhuma tinha completa pavimentação . A maioria <strong>do</strong>s transportes entre os<br />
esta<strong>do</strong>s , feita anteriormente por navios <strong>da</strong> “Costeira “ , ficou paralisa<strong>do</strong> com<br />
me<strong>do</strong> <strong>do</strong>s submarinos . Somente nos i<strong>do</strong>s de 1943 é que apareceram os<br />
primeiros automóveis movi<strong>do</strong>s por gasogênio .<br />
Poucos eram os carros que o utilizaram. . Para quem não se<br />
lembra : - “o Gasogênio é um aparelho que , mediante combustão de carvão ,<br />
gera um gás combustível , muito pobre , para movimentar os motores à<br />
explosão <strong>do</strong>s automóveis ” .
A guerra teve um ponto muito positivo para São Paulo . A<br />
Industria Paulista , que já era a mais desenvolvia <strong>da</strong> América Latina , começou<br />
a se expandir produzin<strong>do</strong> muito <strong>da</strong>quilo que antes era importa<strong>do</strong> . Faltava<br />
entretanto o petróleo , pelo qual muito lutara Monteiro Lobato com to<strong>da</strong><br />
razão, pois hoje , com a Petrobrás , já estamos praticamente auto suficientes.<br />
AV. REBOUÇAS E REDONDEZAS<br />
Por tu<strong>do</strong> isto advin<strong>do</strong> <strong>da</strong> guerra as ruas ficaram realmente à<br />
disposição <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> . Basta dizer que andávamos de Carrinho de Rolimã<br />
em plena Aveni<strong>da</strong> Rebouças . Descíamos aquela aveni<strong>da</strong> , sain<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
cruzamento com a rua Mello Alves e chegan<strong>do</strong> até a Aveni<strong>da</strong> Brasil , onde a<br />
rua ficava plana. Depois esperávamos um tempão até que o ônibus 41-<br />
“Amarelinho”- Jardim América , chegasse em seu ponto de para<strong>da</strong> . Então<br />
passávamos uma cor<strong>da</strong> em seu para choque e subíamos de reboque .Como não<br />
tinha transito não tinha problema .<br />
Fazíamos até corri<strong>da</strong>s com estes carrinhos de rolimã .<br />
Na Rebouças , entre as duas vias asfalta<strong>da</strong>s , uma que subia e<br />
outra que descia , existia um largo grama<strong>do</strong> . Ali jogávamos voleibol ,<br />
colocan<strong>do</strong> uma rede presa nas arvores planta<strong>da</strong>s duas a duas , uma de ca<strong>da</strong><br />
la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele grama<strong>do</strong> . Hoje , com o alargamento <strong>do</strong>s trechos asfalta<strong>do</strong>s , as<br />
arvores não existem mais. O canteiro central praticamente sumiu .<br />
Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rebouças existia uma imensa área , em parte<br />
grama<strong>da</strong> , em parte de terra assenta<strong>da</strong> , to<strong>da</strong> acertadinha e projeta<strong>da</strong> para<br />
futura expansão <strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Hospital <strong>da</strong>s Clinicas . Naquele tempo as<br />
Clinicas se resumia apenas no prédio principal . O restante <strong>da</strong> área ficava à<br />
disposição <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> . Lógico que virou nosso principal campo de futebol .<br />
Também naquele tempo meu pai era Diretor Geral <strong>do</strong><br />
Departamento Estadual <strong>do</strong> Trabalho . Ele e seu amigo , o diretor Ângelo<br />
Zannini ( depois Deputa<strong>do</strong> Estadual ) , criaram um clube esportivo que<br />
disputava o campeonato de futebol ama<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . A sigla deste clube era<br />
CADET , ou seja: Clube Atlético Departamento Estadual <strong>do</strong> Trabalho . Foram<br />
várias vezes campeões ama<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> .<br />
Suas camisas eram azuis com uma ban<strong>da</strong> branca . Quan<strong>do</strong> estas<br />
camisas ficavam velhas e desbota<strong>da</strong>s deveriam ser descarta<strong>da</strong>s . Então eu as<br />
ganhava . Assim criamos o clube <strong>da</strong> menina<strong>da</strong> <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tietê. Também se<br />
chamava CADET (pois não tínhamos como mu<strong>da</strong>r seu distintivo) ou seja :<br />
“Clube Amigos Do Esporte Tietê” .O nome foi bem ajeita<strong>do</strong> mas as camisas<br />
eram enormes para a guriza<strong>da</strong> .
Ali , nos arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s Clínicas , jogávamos contra outros<br />
clubes de moleques <strong>da</strong> região . Nosso primeiro jogo foi contra um time <strong>da</strong> Rua<br />
Morato Coelho , que ficava logo depois , no bairro de Pinheiros . Estreamos as<br />
camisas ganhan<strong>do</strong> de 3x0 . Vico fez os três gols . Lembro que neste jogo<br />
contamos com a presença <strong>do</strong> Cesar Affonseca , <strong>do</strong> João Campos , e <strong>do</strong><br />
Deoclides Brito . Comigo eram quatro <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Era a primeira vez que jogávamos de uniforme completo .<br />
Ganhamos no jogo ... Perdemos na briga ... logo depois <strong>do</strong> jogo.<br />
Quem apanhou mais foi o juiz , um <strong>garoto</strong> chama<strong>do</strong> Luizinho , que morava na<br />
Rua Oscar Freire .<br />
Aquele lugar era ain<strong>da</strong> ideal para empinar papagaios .Não tinha<br />
fios de luz elétrica.<br />
PISCINA DA FACULDADE DE MEDICINA – USP<br />
Mais para cima <strong>da</strong>quela área , que circun<strong>da</strong>va o Hospital <strong>da</strong>s<br />
Clinicas , ficava a Facul<strong>da</strong>de de Medicina . Antes dela tinha uma pequena<br />
mata , cheia de arvores de araçá . Muitas vezes comi <strong>da</strong>quelas frutas , colhi<strong>da</strong>s<br />
naqueles pés . Em to<strong>da</strong> aquela região tinha muito araçá .<br />
Logo depois encontrávamos uma pequena piscina que pertencia<br />
a Facul<strong>da</strong>de . Era a alegria <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> . Ali não era permiti<strong>da</strong> nossa entra<strong>da</strong>.<br />
Quem tomava conta <strong>do</strong> local era um português apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de “Saracura” .<br />
Entretanto , de um jeito ou de outro sempre conseguíamos na<strong>da</strong>r<br />
naquela piscina .<br />
Para tanto tínhamos um esquema . Já íamos com um calção que<br />
permitisse na<strong>da</strong>r . Ficávamos escondi<strong>do</strong>s no mato , por perto . Um <strong>do</strong>s nossos<br />
era escolhi<strong>do</strong> para vigiar o “Saracura” o tempo to<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> ele estava longe<br />
o nosso vigia tocava uma flautinha. Ela soava como um passarinho .<br />
Era o sinal para entrarmos na água . Dois toques segui<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />
flautinha significava perigo . Precisávamos sair corren<strong>do</strong> <strong>da</strong> piscina . Muitas<br />
vezes o esquema <strong>da</strong>va certo . Outras vezes o tal de Saracura pegava alguém .<br />
Então ele o carregava pelas orelhas para fora . Ain<strong>da</strong> batia nas suas pernas<br />
com uma varinha . Mesmo assim to<strong>do</strong>s achavam que valia a pena.
“BLACK - OUT” NO GUARUJÁ<br />
No verão de 1943 , precisamente em Janeiro , fomos passar<br />
uma tempora<strong>da</strong> no Guarujá . Papai havia consegui<strong>do</strong> vaga para a família em<br />
uma nova e bonita “Colônia de Férias <strong>do</strong>s Diretores <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” . Foi a<br />
primeira vez que fui para aquelas praias <strong>do</strong> Guarujá .<br />
Tomamos o trem <strong>da</strong> antiga “SPR” na Estação <strong>da</strong> Luz . Com ele<br />
descemos a Serra <strong>do</strong> Mar . Logo depois de ótima viagem chegamos em<br />
Santos. Daquela estação era preciso ain<strong>da</strong> pegar um outro trenzinho , para<br />
alcançarmos o embarca<strong>do</strong>uro <strong>da</strong>s Balsas . Do outro la<strong>do</strong> onde ficava o<br />
Guarujá . Assim , em cima de uma Balsa , era transposto o Canal e desta<br />
forma transpúnhamos o mar , passan<strong>do</strong> de Santos para o Guarujá .<br />
Também foi a primeira vez que andei de “navio.” Era apenas<br />
uma balsa mas a<strong>do</strong>rei , apesar <strong>do</strong> pouco tempo que levava esta travessia .<br />
Depois , ain<strong>da</strong> no trenzinho, seguíamos para as praias <strong>do</strong><br />
Guarujá . Eram lin<strong>da</strong>s , muito brancas , então com uma cor de mar – azul<br />
quase turquesa - que ain<strong>da</strong> não tinha visto.( e que hoje desapareceu).<br />
Desembarcamos em uma pequena estação , junto ao Grande<br />
Hotel <strong>do</strong> Guarujá. Ele era novinho, com extensos terraços em sua volta<br />
Ficava na Praia <strong>da</strong>s Pitangueiras . Na época existiam poucas<br />
casas naquela praia . Para chegarmos à Colônia de Férias , que ficava em outra<br />
praia , na Praia <strong>do</strong> Guarujá , tomávamos uma charrete . Era a única condução<br />
possível .( Os automóveis somente conseguiram autorização para entrar no<br />
Guarujá após nossa volta para São Paulo , no final <strong>da</strong>quele ano ) .<br />
Depois deste passeio , inespera<strong>do</strong> por mim , chegamos ao local<br />
de nossas férias . Era um prédio térreo , bem alonga<strong>do</strong> , com terraços e jardins<br />
na parte frontal . Estava cheio de gente e com muita criança<strong>da</strong> . Gostei .<br />
Gostei ain<strong>da</strong> mais <strong>da</strong> comi<strong>da</strong> , pois chegamos justamente na<br />
hora <strong>do</strong> almoço . A viagem deu fome e o peixe com pirão ficou inesquecível .<br />
.<br />
No fim <strong>da</strong> tarde fomos na<strong>da</strong>r . Naquele tempo as famílias iam<br />
para praia no começo <strong>da</strong>s manhãs e depois <strong>da</strong>s 11 horas não ficava ninguém .<br />
O sol era respeita<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ficava muito forte . Durante a tarde os banhos de<br />
mar só começavam depois <strong>da</strong>s 15 horas .<br />
Naquele dia , contrarian<strong>do</strong> meu costume de coruja , fui <strong>do</strong>rmir<br />
lá pelas 8 horas . Estava muito cansa<strong>do</strong> .<br />
Comecei a conhecer um Guarujá que hoje não existe mais na<br />
manhã seguinte . Na antiga praia <strong>do</strong> Guarujá , que hoje é chama<strong>da</strong> de ‘Praia<br />
<strong>da</strong>s Astúrias”, pela legislação municipal de então existia proibição para<br />
construção arranha céus . Por lá encontrei amigos <strong>do</strong> Paulistano . Praticamente
não houve tempo de ficar com eles . O que morava mais perto era o Urbano<br />
Camargo e seu primo Paulo . Com ele quase to<strong>do</strong> dia íamos na<strong>da</strong>r juntos .<br />
Com desenvolvimento <strong>do</strong> local , os políticos , na época logo<br />
após guerra , arranjaram um jeito de burlarem a lei . Mu<strong>da</strong>ram , por debaixo<br />
<strong>do</strong>s panos , o nome <strong>da</strong> Praia <strong>do</strong> Guarujá para praia <strong>da</strong>s Astúrias , pois papel<br />
aceita tu<strong>do</strong> . Deram para a praia o nome <strong>do</strong> Cassino que existiu no local.<br />
Assim tu<strong>do</strong> ficou “ legal” . Na praia <strong>do</strong> Guarujá continuava proibi<strong>da</strong> a<br />
construção de edifícios ( mas onde é a Praia <strong>do</strong> Guarujá agora ? ) . Porem na<br />
praia <strong>da</strong>s “Astúrias” foi permiti<strong>da</strong> . E tome construção de prédios , em local<br />
que , pela própria natureza , era destina<strong>do</strong> somente para construção de casas .<br />
No final <strong>da</strong>quela praia , onde anteriormente existira um<br />
Cassino, foi tu<strong>do</strong> destruí<strong>do</strong> logo no começo <strong>da</strong> guerra , pois a ordem era<br />
manter to<strong>do</strong> litoral escuro –“ black-out” . O cassino seria muito ilumina<strong>do</strong>.<br />
Qualquer luz poderia ser sinal para submarinos inimigos ... !???! Sei lá !<br />
Entretanto , ao la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong>s Astúrias , saía um caminho para<br />
outras praias que eram praticamente desertas , como a <strong>do</strong> Tombo e <strong>da</strong>s<br />
Tartarugas . Para alcança-las passávamos por vários morros , situa<strong>do</strong>s bem<br />
junto ao mar . As vistas eram lin<strong>da</strong>s .<br />
Muitos dias fui com a garota<strong>da</strong> por aqueles caminhos . Não<br />
íamos sozinhos . Íamos acompanhan<strong>do</strong> os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Companhia de<br />
Infantaria , pois eles estavam cavan<strong>do</strong> trincheiras em to<strong>do</strong>s os morros <strong>da</strong><br />
região . A criança<strong>da</strong> gostava de passear com eles pois eram simpáticos e o<br />
sargento que os coman<strong>da</strong>va , Sargento Mendes – se não me engano , era gentil<br />
e conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dirigentes <strong>da</strong> Colônia de Férias .<br />
Outras vezes quan<strong>do</strong> os pesca<strong>do</strong>res caiçaras , que viviam na<br />
região , avistavam cardumes , ficávamos olhan<strong>do</strong> a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s canoas . Depois<br />
ajudávamos a puxar as redes . Vinha peixe de montão . Eram compra<strong>do</strong>s por<br />
quase na<strong>da</strong> . Iam para as panelas <strong>da</strong> Colônia de Férias , pois o cozinheiro era<br />
mestre , principalmente nas peixa<strong>da</strong>s a brasileira . Peixe era prato que<br />
ninguém rejeitava . E o peixe “ que nós pescáramos ”era muito melhor .<br />
Passeio gostoso era aquele para a Praia <strong>da</strong> Ensea<strong>da</strong> . Como<br />
ficava bem longe e não tinha estra<strong>da</strong> , sen<strong>do</strong> o caminho realiza<strong>do</strong> pelas praias<br />
existentes , precisávamos levantar bem ce<strong>do</strong> para alugar as charretes . O<br />
pessoal ia em ban<strong>do</strong>, ocupan<strong>do</strong> sempre três ou mais charretes e alguns<br />
cavalos. . Depois <strong>da</strong> praia <strong>da</strong>s Pitangueiras praticamente não existia mais casa<br />
alguma . Só a natureza . No caminho era fácil encontrarmos muitas jaqueiras<br />
com seus frutos madurinhos .
Somente no fim <strong>da</strong> Ensea<strong>da</strong> é que se avistava umas poucas<br />
casas e um Boteco de Pesca<strong>do</strong>res . Ali , naquele boteco , era a para<strong>da</strong><br />
obrigatória para almoço , na base de camarão e de to<strong>do</strong>s tipos de peixe . O<br />
local era concorri<strong>do</strong> pelos turistas porque a comi<strong>da</strong> era fenomenal .<br />
Se o tempo e a maré permitissem , seguíamos até a praia de<br />
Pernambuco . Sua beleza era indescritível . Era . Hoje não dá para chegar<br />
perto. Gente demais . Ambulantes demais . Sujeira demais .<br />
O tal “progresso” foi terrível para o Guarujá .<br />
As noites <strong>do</strong> Guarujá , na ocasião <strong>da</strong> guerra , não serviam para<br />
passeios noturnos pois o “black-out” era obrigatório .Escuridão completa nas<br />
ruas . To<strong>da</strong>s as janelas eram tampa<strong>da</strong>s com cartolina preta , para a luz não<br />
passar . Assim a diversão noturna era jogar : - <strong>do</strong>minó , víspora , <strong>da</strong>ma ,<br />
cartas e tu<strong>do</strong> mais . Porem , no máximo até as dez horas , pois depois<br />
ninguém mais ficava acor<strong>da</strong><strong>do</strong> . A praia e os passeios começavam bem ce<strong>do</strong> .<br />
Alem disto para alugar cavalo para passear ou mesmo alugar<br />
uma bicicleta era necessário pular ce<strong>do</strong> <strong>da</strong> cama .<br />
O melhor sorvete <strong>da</strong>s férias “acontecia” no “Grill <strong>do</strong> Grande<br />
Hotel”. Ele ficava em cima de um pontão de pedra e areia na praia de<br />
Pitangueiras . Lá existia uma lin<strong>da</strong> piscina cerca<strong>da</strong> por uma área<br />
maravilhosamente pavimenta<strong>da</strong> com pedras poli<strong>da</strong>s e com plantas , flores e<br />
muitas mesinhas . Tinha uma lin<strong>da</strong> pista para <strong>da</strong>nças . Era o ponto alto <strong>da</strong>s<br />
tempora<strong>da</strong>s . Hoje no local , pois foi destruí<strong>do</strong> o tal “Grill” , parece que existe<br />
um clube . Não sei bem .Pode até ser um super merca<strong>do</strong> .Sei lá . Lembro que o<br />
local era muito agradável .<br />
Durante muito tempo o Guarujá foi maravilhoso . Quan<strong>do</strong> moço<br />
fui inúmeras vezes para lá . Gostava <strong>do</strong> Clube <strong>da</strong>s Samambaias que foi<br />
construí<strong>do</strong> na déca<strong>da</strong> de 50 . Um local de gente muito bonita . E to<strong>do</strong>s eram<br />
pessoas conheci<strong>da</strong>s .<br />
É isto ai . Quem viu ...viu . Quem não viu ...nem sabe como era<br />
lin<strong>do</strong> nosso Guarujá , hoje invadi<strong>do</strong> por bandi<strong>do</strong>s e assaltantes .<br />
A última vez que estive no Guarujá foi em 1995 . Fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong><br />
para passar o Carnaval na casa <strong>da</strong> amiga Sulita . Depois de levar quase 5 horas<br />
para chegar à praia de Pernambuco tive uma surpresa maior e pior . A ci<strong>da</strong>de e<br />
a praia estavam entupi<strong>da</strong> de gente . Cheia de ambulantes de to<strong>da</strong>s<br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des , que faziam uma sujeira imensa por to<strong>da</strong> praia .Difícil de<br />
acreditar .<br />
To<strong>do</strong>s os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s de minha amiga , que foram comigo,<br />
resolveram voltar para casa . Por sorte , no seu jardim com uma gostosa
pérgula , havia uma lin<strong>da</strong> piscina . Ali passamos to<strong>do</strong> o carnaval que foi<br />
muito bom , pois os amigos eram simpáticos e anima<strong>do</strong>s .<br />
Guarujá ... que pena !<br />
- A QUEDA DO AVIÃO “A- 20”<br />
Em São Paulo também tínhamos “black –out” , mas eram<br />
poucos , somente para treinamentos . As noticias <strong>do</strong> “front” europeu eram<br />
boas . Os pracinhas brasileiros estavam lutan<strong>do</strong> na Itália e obten<strong>do</strong> sucesso ,<br />
principalmente nas batalhas de Monte Castelo .<br />
Poucas coisas tristes sucederam aqui em São Paulo durante a<br />
guerra . Lembro de um único caso . Aconteceu um acidente fatal com um<br />
avião de bombardeio leve que pertencia a FAB . Era <strong>do</strong> tipo A-20 ,com <strong>do</strong>is<br />
motores , de fabricação norte americana .<br />
Nós estávamos na escola , agora inician<strong>do</strong> o ginásio , situa<strong>da</strong><br />
na Av. Paulista , perto <strong>do</strong> Trianon , quan<strong>do</strong> ouvimos um estron<strong>do</strong> .<br />
Ocorreu por volta <strong>da</strong>s nove horas <strong>da</strong> manhã . Ao meio dia ,<br />
quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> <strong>do</strong>s alunos , o aconteci<strong>do</strong> chegou até nós .<br />
Um avião <strong>da</strong> FAB havia caí<strong>do</strong> na Praça 14 Bis , junto à<br />
Aveni<strong>da</strong> 9 de Julho .<br />
To<strong>da</strong> menina<strong>da</strong> foi ver . Mesmo de longe , lá <strong>do</strong> alto <strong>do</strong><br />
Trianon, já <strong>da</strong>va para avistar os destroços . Na ocasião não existiam tantos<br />
prédios obstruin<strong>do</strong> a visão e permitiam uma lin<strong>da</strong> vista <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />
O avião havia caí<strong>do</strong> de bico e afun<strong>da</strong><strong>do</strong> na terra . Só víamos o<br />
resto <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> e pe<strong>da</strong>ços <strong>da</strong>s asas . Mesmo quan<strong>do</strong> chegamos mais perto não<br />
se via direito o avião que ficou enterra<strong>do</strong> . Por sorte ou habili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> piloto , o<br />
que nunca soubemos , aquele bombardeiro não atingiu o casario situa<strong>do</strong><br />
naquela parte <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Bela Vista . Nem explodiu . Infelizmente nenhum<br />
<strong>do</strong>s tripulantes se salvou.<br />
No local o silêncio de respeito pelos mortos tomava conta .<br />
Naquele dia voltei triste para casa . Era a primeira vez que via um acidente<br />
aéreo . E também a primeira vez que via pilotos brasileiros falecerem , mesmo<br />
não sen<strong>do</strong> em combate , mas realizan<strong>do</strong> uma missão .<br />
Para felici<strong>da</strong>de mundial a guerra não durou muito mais . O Eixo<br />
perdeu a guerra . Muito foi comemora<strong>do</strong> .<br />
A comemoração maior , entretanto , aconteceu na chega<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />
“pracinhas” brasileiros , trazen<strong>do</strong> no far<strong>da</strong>mento um distintivo , ou melhor ,<br />
um emblema que significava a luta deles na 2 a . Guerra Mundial :
“A cobra está fuman<strong>do</strong> .” Nossa família estava feliz , pois meu<br />
primo , o “pracinha” Hamilton , filho <strong>do</strong> tio Nhonhô Brandão , voltara são e<br />
salvo . Muitos brasileiros ficaram nos campos de batalha . Hoje estão<br />
enterra<strong>do</strong>s no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia – Itália .<br />
Grandes comemorações e desfiles militares foram realiza<strong>do</strong>s em<br />
to<strong>do</strong> Brasil . Em São Paulo ele ocorreu na Av. São João . O povo era tanto que<br />
os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que lutaram na Itália só desfilaram no início <strong>da</strong>s festivi<strong>da</strong>des .<br />
As faixas limites , delinea<strong>da</strong>s por cor<strong>da</strong>s , foram quebra<strong>da</strong>s e o<br />
povo carregou nos ombros to<strong>do</strong>s sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s paulistas .<br />
Um Monumento aos Combatentes Brasileiros Mortos em<br />
Combate foi erigi<strong>do</strong> no final <strong>da</strong> Av. Paulista . Hoje , não sei porque<br />
aparentemente não está mais lá .<br />
Claro ... morto não vota !
RETORNO AO JARDIM PAULISTA<br />
Edu Marcondes<br />
- Os Amigos que Ficaram – O Mundial de 1950 – O Carro Novo –<br />
Novas Amizades no Jardim Paulista -<br />
Em Novembro de 1949 meu pai anunciou que voltaríamos para a<br />
casa <strong>da</strong> Rua Gal. Fonseca Telles . Os problemas aconteci<strong>do</strong>s com a Guerra<br />
tinham termina<strong>do</strong> .<br />
Isto deveria acontecer em Março <strong>do</strong> próximo ano , depois de quase<br />
cinco anos de ação judicial para despejo <strong>do</strong> inquilino . To<strong>do</strong>s ficamos<br />
contentes . A casa <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tiete era boa mas a casa <strong>do</strong> Jardim Paulista era<br />
realmente a nossa casa . Também anunciou que iria fazer pequenas reformas e<br />
pintar a casa antes <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça .<br />
Em um Sába<strong>do</strong> de Janeiro fui com meu pai buscar um Carro<br />
“Hudson/1.950” que ele havia compra<strong>do</strong> . O carro era enorme , preto<br />
brilhante, pneus com faixa branca , estofamento vermelho em couro . Quan<strong>do</strong><br />
voltávamos para casa ele disse que eu , depois <strong>do</strong> almoço , poderia ir com o<br />
carro até o Paulistano. Porem deveria estar de volta até as 19,30 , pois ele iria<br />
ao cinema com minha mãe .<br />
Fui , cheguei e mostrei o carro para amigos e amigas . Ele fez o<br />
maior sucesso . Antes de voltar levei a lin<strong>da</strong> Desirè para casa . Gangei um<br />
beijo .<br />
Naquela noite , deita<strong>do</strong> em meu quarto , fiquei lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong>s coisas<br />
boas que passei na casa <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tiete e confesso que senti sau<strong>da</strong>des<br />
antecipa<strong>da</strong>s . Lembrei <strong>do</strong>s amigos que agora ficariam mais longe de mim :<br />
Domingos Alves Meira , Lalau Lanksarics , Geral<strong>do</strong> e Zé Augusto Medeiros ,<br />
Saulo Ferraz , de to<strong>da</strong> turminha <strong>da</strong> Rua Consolação , Carlito Taub , Joel<br />
Goldbaun . Quem morava por lá mas era <strong>do</strong> paulistano eu continuaria a ver<br />
constantemente .<br />
Lembrei <strong>da</strong>s festas juninas e <strong>da</strong> fogueiras <strong>do</strong> Jardim Minervina .<br />
Das reuniões na casa <strong>do</strong> Tio Oscarzinho . Da tia Sibila e suas<br />
comi<strong>da</strong>s gostosas . Do nascimento <strong>do</strong>s primos Thomaz e Sibelle . Das<br />
brincadeiras com os primos Gilberto , Thais , Gláucia , Maria Lucia e Elza<br />
Maria . Agora seriam mais difíceis ,<br />
Das noites de violões com tio Oscar e Pedrinho Granja . Da prima<br />
Olga , que era síndica <strong>da</strong> nossa Vila , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> recriminações quan<strong>do</strong> pisávamos<br />
na grama ou colhíamos algumas azaléias .. Dos sorvetes de frutas, tanto <strong>da</strong><br />
Sorveteria Consolação como <strong>da</strong> Aran<strong>da</strong> .
Dos jogos de taco e futebol .Dos pêssegos maravilhosos colhi<strong>do</strong>s<br />
com Othonielzinho na casa <strong>do</strong> Dr. Othoniel , seu pai . Das “mixiricas” <strong>do</strong><br />
quintal <strong>do</strong> seu Molla .<br />
Lembrei de muita coisa boa aconteci<strong>da</strong> naquele local .<br />
O MUNDIAL DE FUTEBOL – 1950<br />
Lembro ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> jogo final <strong>da</strong> Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1950 . Naquele<br />
tempo ain<strong>da</strong> não existia televisão e convidei meu amigo <strong>do</strong> Paulistano - João<br />
Campos – para ouvir a irradiação , pois tínhamos na casa <strong>do</strong> jardim paulista<br />
um imenso trambolho , na época era chama<strong>do</strong> de “Rádio-Vitrola” .<br />
Na ocasião era o máximo em matéria de som .<br />
Naquele dia quan<strong>do</strong> Joãozinho chegou , logo no início <strong>do</strong> jogo ,<br />
fomos para sala e ficamos ouvin<strong>do</strong> a Radio Pan-americana , hoje Jovem Pan,<br />
até o momento que o Brasil marcou o primeiro gol .<br />
Já contan<strong>do</strong> com a vitória e com a comemoração , que aconteceria<br />
no Paulistano , saímos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> em direção ao Club , via Av. Brasil .<br />
Quan<strong>do</strong> chegamos no Harmonia o Uruguai empatou o jogo .<br />
Continuávamos confiantes . Quan<strong>do</strong> já estávamos na porta <strong>do</strong> Paulistano o<br />
Uruguai marcou o segun<strong>do</strong> gol . Ficamos torcen<strong>do</strong> para o empate que <strong>da</strong>ria a<br />
Copa para o Brasil . Logo depois , já na sede <strong>do</strong> Paulistano, o jogo terminou<br />
e foi a maior decepção . Perdemos a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1950 .<br />
Ficou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com cara de “sétimo dia” . Apareceram causas e<br />
justificativas de to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> . Mas era tarde . O “Campeonato Mundial de 50 foi<br />
para o espaço” .<br />
Naquela noite fomos comer pizza com os amigos : Zequinha<br />
Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong> , Eduar<strong>do</strong> de Paula , Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n , Carlos<br />
Calmon , Roberto Claro, Caio Kiehl e Tidinho Viana .<br />
Aquela radio vitrola deixou sau<strong>da</strong>des . Lembro que quan<strong>do</strong> menino<br />
nela escutei muitas vezes a “Escolinha de Dona Olin<strong>da</strong>” com o comediante<br />
“Nhô Totico”. Também ouvia o seria<strong>do</strong> infantil <strong>do</strong> “Vinga<strong>do</strong>r” (era uma<br />
novela para a juventude ). Escutava quase to<strong>do</strong>s os dias músicas brasileiras ,<br />
com Chico Alves , Dick Farney , Os Cariocas , Quatro Azes e um Coringa ,<br />
Gilberto Alves , Orlan<strong>do</strong> Silva , Luiz Gonzaga , Elizete Car<strong>do</strong>so , Silvio<br />
Cal<strong>da</strong>s e muitos outros .<br />
Com ela apreendi a gostar de “jazz” e de canções norte-americanas .<br />
Ouvia tangos e tocava meus primeiros discos de boleros . Com ela e meus pais<br />
apreendi gostar de música clássica . Ficou na lembrança , entre outras peças ,
o “ Concerto de Varsóvia” e as obras de Vivaldi . Também ouvi e gostava de<br />
muitas árias de óperas . Somente as melhores .<br />
Tu<strong>do</strong> aquilo antecipou sau<strong>da</strong>des .<br />
AMIZADES DO JARDIM PAULISTA<br />
No <strong>do</strong>mingo pela manhã fui <strong>da</strong>r uma volta de carro pelo bairro .<br />
Segui depois para a casa de meu avô que ficava na mesma rua , apenas um<br />
quarteirão <strong>da</strong> nossa . Conversan<strong>do</strong> com meus primos Niobe e Nilson fiquei<br />
saben<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s . De meus amigos antigos apenas o Eduar<strong>do</strong><br />
Munhoz continuava no bairro . Lembrei que bem em frente de casa existia a<br />
residência de Dona Chiquinha Rodrigues que ali morava com seus filhos,<br />
entre eles Silvio com quem fui varias vezes ao club . Era uma família de<br />
velhos amigos <strong>da</strong> minha família.<br />
Estávamos ain<strong>da</strong> conversan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> chegou uma amiga de minha<br />
prima . Era muito bonita e chamava-se Wilma Abrão . Simpática e alegre.<br />
Morava logo em frente <strong>da</strong> casa de meu avô .<br />
Quan<strong>do</strong> voltei para casa encontrei mamãe conversan<strong>do</strong> com sua<br />
amiga de infância de Ribeirão Preto , também nossa vizinha – Dona Mariá<br />
Modenese que tinha ao seu la<strong>do</strong> suas filhas Márcia e May . Elas tinham<br />
cresci<strong>do</strong> e estavam muito bonitas , principalmente a Márcia que era bem alta e<br />
bem feita de corpo .<br />
Em pouco tempo fiquei conhecen<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as mocinhas <strong>do</strong> bairro que<br />
era privilegia<strong>do</strong> em matéria de beleza feminina . Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua<br />
moravam as três irmãs Alves Lima . To<strong>da</strong>s elegantes bonitas e agradáveis .<br />
Três casas depois <strong>da</strong> minha morava Maria Helena Carvalho Pinto . Na esquina<br />
<strong>da</strong> Rua Veneza vivia Karen Heins, uma bonita alemãzinha de tranças . Dois<br />
quarteirões depois Eva Vilma que se tornaria famosa como artista <strong>da</strong> televisão.<br />
Maria Alice Costa morava na Av. Brasil . Um pouco antes Maria<br />
Helena Ferrrari Costa . No mesmo quarteirão de minha casa mas na Rua<br />
Groelândia as irmãs Meca e Ica Lacer<strong>da</strong> Soares.<br />
No bairro também ain<strong>da</strong> moravam vários amigos <strong>do</strong> Paulistano . Na<br />
Rua Primavera ficava a casa <strong>do</strong>s Pannunzio , com Luiz Carlos , José Eduar<strong>do</strong><br />
e Lucila . Na rua Veneza Sérgio D´Avila e seu irmão Aluisio . Na Av. Brasil<br />
morava Alberto Botti . O Airton Baccelar , se não me engano , na Mal.<br />
Bittencourt . Lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Brigadeiro ficava a casa <strong>do</strong> Antonio Lanhoso<br />
de Lima . Ele tocava maravilhosamente violão .<br />
Além <strong>do</strong> mais estava agora perto de meus avós paternos , <strong>da</strong> tia<br />
Djanira , <strong>do</strong> tio Ovídio e <strong>do</strong>s primos Nilson e Niobe .
Voltar para o Jardim Paulista foi muito bom . Os anos que ali<br />
passei com a família foram alegres e muito felizes .<br />
Outro dia conversan<strong>do</strong> com o Acácio “Geléia” Mancio ( agora ele já<br />
se foi ) , lá no Paulistano , ele lembrou que aqueles anos de 50 e 60 foram<br />
tempos de muitas festas namoros , patusca<strong>da</strong>s , fuzarcas , brigas , farras,<br />
viagens e sobretu<strong>do</strong> de muitas risa<strong>da</strong>s .<br />
Muitas risa<strong>da</strong>s . Marcaram nossa moci<strong>da</strong>de .<br />
Acima de tu<strong>do</strong> ... foram tempos de grandes amizades .<br />
Realmente ... anos muito felizes .
FESTAS DA SOCIEDADE PAULISTANA<br />
Edu Marcondes<br />
Muitas festas - Penetras por Acaso – O Mais bonito “Reveillon”- As<br />
“Elegantes <strong>da</strong> Bangu”- Grande Premio São Paulo - Festas Juninas .<br />
To<strong>da</strong> nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano cresceu .<br />
Os “Moleques <strong>do</strong> Paulistano” estavam fican<strong>do</strong> adultos . Agora já<br />
eram “ Os Moços <strong>do</strong> Paulistano . Trabalhavam , estu<strong>da</strong>vam e praticavam<br />
esportes . Alem disto tu<strong>do</strong> estavam gostan<strong>do</strong> de festas e bailes .<br />
Agora começavam a freqüentar a Socie<strong>da</strong>de de São Paulo .<br />
Os namoros estavam fican<strong>do</strong> muito mais sérios .<br />
Durante o começo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50 os Critérios Morais e<br />
Costumes <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Paulistana - eram Muito Mais Rígi<strong>do</strong>s que os atuais .<br />
Moça não saía sozinha de forma alguma . Ou saia com a família ou<br />
acompanha<strong>da</strong> pela mãe , irmão ou irmã . Em dias de festas principalmente .<br />
Namoro naquele tempo era coisa muito séria . Pegar na mão já<br />
trazia emoção . Dançar de rosto cola<strong>do</strong> <strong>da</strong>va um calor que vinha <strong>do</strong>s pés e<br />
subin<strong>do</strong> esquentava tu<strong>do</strong> . Beijinho no rosto se acontecia era de arrepiar .<br />
Os homens e rapazes deveriam usar paletó e gravata para tu<strong>do</strong> ,<br />
inclusive para cinemas . Em festas e bailes mais elegantes era praticamente<br />
obrigatório traje à rigor .<br />
Vesti<strong>do</strong> longo para mulheres e “smoking” para homens .<br />
Assim as festas nas ci<strong>da</strong>des de São Paulo , nota<strong>da</strong>mente <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de paulistana , eram determinantemente elegantes por principio .<br />
Bonitas de serem vistas . Muito espera<strong>da</strong>s .<br />
Dentro deste quadro , inúmeras festas ou reuniões aconteciam nos<br />
fins de semana <strong>da</strong>quela São Paulo <strong>do</strong>s anos 50/60 .<br />
.<br />
Tínhamos ain<strong>da</strong> , os Chás Dançantes nos principais clubes e<br />
algumas vezes Almoços em Sítios e Chácaras situa<strong>da</strong>s nos arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de. Estes convites aconteciam quase sempre para os <strong>do</strong>mingos .<br />
Como existiam muitas famílias <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulistana com filhas<br />
mocinhas , ocorriam Varias Festas no Mesmo Fim de Semana . Por isto<br />
mesmo éramos quase sempre convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Participávamos de quase to<strong>da</strong>s<br />
em um mesmo dia . Passávamos por to<strong>da</strong>s , mas a ultima na noite , com<br />
chega<strong>da</strong> no máximo pelas 22,00 horas, era aquela onde estaria a namoradinha.
Quan<strong>do</strong> não havíamos si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para uma determina<strong>da</strong> festa e<br />
tínhamos interesse em comparecer ... sempre contávamos com aju<strong>da</strong> de um<br />
amigo <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Outras vezes quem nos arranjava convite eram amigos <strong>do</strong> Harmonia.<br />
Tinha um ritual para ser “Penetra bem Educa<strong>do</strong> “<br />
O “Penetra” era leva<strong>do</strong> pelo amigo que conhecia a família e havia<br />
si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> . Então ele era apresenta<strong>do</strong> devi<strong>da</strong>mente para a <strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa<br />
e para seus pais . Para tanto existia um ritual de educação. “Penetra” sim , mas<br />
educa<strong>do</strong> . Sempre se comprava um ramalhete de flores , pois lá no Largo <strong>do</strong><br />
Arouche existiam floriculturas que trabalhavam durante to<strong>da</strong> a noite.<br />
Durante a necessária apresentação , as flores eram oferta<strong>da</strong>s para a<br />
<strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa . Depois , haven<strong>do</strong> possibili<strong>da</strong>de , não deveria deixar de tirar a<br />
<strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa para <strong>da</strong>nçar . As vezes era até muito bom , quan<strong>do</strong> ela era<br />
bonita.<br />
Desta forma foram cria<strong>da</strong>s novas amizades e conhecimentos . Sempre<br />
apadrinha<strong>do</strong>s por conheci<strong>do</strong>s <strong>da</strong> família .<br />
O nosso ponto de encontro para irmos para as Festas <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de de<br />
São Paulo era mesmo a sede <strong>do</strong> Paulistano .<br />
As festas que comparecíamos normalmente aconteciam nos bairros <strong>do</strong>s<br />
Jardins , no Pacaembu , no Brooklyn , Higienópolis ou Perdizes .<br />
Aqueles bairros eram muito bonitos , com casas maravilhosas .Os<br />
primeiros grandes apartamentos apareciam em Higienópolis . Ain<strong>da</strong> nas<br />
aveni<strong>da</strong>s não existiam os malfa<strong>da</strong><strong>do</strong>s “Corre<strong>do</strong>res Comerciais”, escritórios,<br />
consultórios e lojas disfarça<strong>do</strong>s , nem a imensa invasão ilegal de firmas e<br />
empresas em bairros estritamente residencial . Elas que hoje existem nas<br />
Aveni<strong>da</strong>s Brasil, Europa , Av. 9 de Julho , Rua Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e tantas<br />
outras mais.<br />
Para aquelas festas em casas de família quase sempre fui privilegia<strong>do</strong>,<br />
não só pelas minhas amigas e namoradinhas , mas com convites que sempre<br />
recebi <strong>da</strong>s inúmeras amigas de minha irmã Marisa . Elas ou eram colegas <strong>do</strong><br />
Colégio Sion ou amigas <strong>do</strong> Harmonia . Lembro-me bem de Milú e Vera<br />
Loureiro , Regina Vazone , Renata Resende Barbosa ( foi minha<br />
namoradinha) , Lucila Assumpção , June e May Locke , Maisa e Dudu<br />
Amaral, Elsie Cunha Bueno , Silvia Booke , Tais de Carvalho , entre muitas<br />
outras .<br />
Nestas festas realiza<strong>da</strong>s em casas , dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> ocasião , a<br />
música muitas vezes era ao vivo com um organista e acompanhamento . Caso
o local possibilitasse , a música vinha com conjuntos ou mesmo com<br />
pequenas orquestras .<br />
Nos anos 50 algumas coisas não podiam faltar . Uma delas era o<br />
tradicional “ponche” , servi<strong>do</strong> com frutas pica<strong>da</strong>s em uma maravilhosa peça<br />
de cristal ou de prata . Era a bebi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s senhoras e <strong>da</strong>s mocinhas .<br />
Para os rapazes serviam champanhe e vinhos . Começavam a<br />
aparecer uísques com muito mais freqüência . Como sempre gostei de<br />
champanhe , que nunca faltava , até hoje não apreendi muito bem a gostar de<br />
uísque ou de destila<strong>do</strong>s .<br />
Também não faltavam flores . Eram utiliza<strong>da</strong>s pelos <strong>do</strong>nos <strong>da</strong><br />
casa como motivo para decoração . Alem <strong>do</strong> mais sempre existiam aquelas<br />
que os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s man<strong>da</strong>vam para a <strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa .<br />
Era de boa educação man<strong>da</strong>r flores .<br />
Assim to<strong>da</strong>s as festas ficavam perfuma<strong>da</strong>s e muito bonitas .<br />
- PENETRAS POR ACASO<br />
As vezes fatos acontecem independentes de nossa vontade e<br />
quan<strong>do</strong> menos esperamos .<br />
No final <strong>do</strong> ano de 1950 , em um saba<strong>do</strong> , no começo <strong>da</strong> noite ,<br />
estávamos reuni<strong>do</strong>s na casa <strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n , lá na Aveni<strong>da</strong><br />
Brasil , perto <strong>da</strong> Rebouças , Então recebemos um telefonema <strong>do</strong> Caio Kiehl .<br />
Ele informava que sua amiga Beatriz resolvera , de última hora ,<br />
realizar uma reunião em sua casa e estava nos convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Fazia mesmo<br />
questão de nossas presenças .<br />
Pergunta<strong>do</strong> sobre o endereço ele não pode precisar . Disse que era<br />
fácil . Informou que a casa ficava na Rua Groenlândia , perto <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong><br />
Europa . Disse ain<strong>da</strong> que seria fácil . Seu carro estaria em frente a casa .<br />
Apesar de estarmos combina<strong>do</strong>s , resolvemos ir para a reunião<br />
indica<strong>da</strong> pelo Caio .<br />
Saímos to<strong>do</strong>s no carro <strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong> , por volta <strong>da</strong>s 21 horas.<br />
Não custamos encontrar uma casa muito grande na esquina <strong>da</strong> Av .<br />
Europa com Groelândia . Estava super ilumina<strong>da</strong> , com muitos carros <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />
de fora e com outros no pátio interno <strong>da</strong> casa . O portão que <strong>da</strong>va acesso ao<br />
pátio estava aberto .<br />
. Eduar<strong>do</strong> de Paula foi dizen<strong>do</strong> :- “O Jaguar <strong>do</strong> Caio deve estar la<br />
dentro . Vamos entrar com o carro”.<br />
Ninguém impediu . Parecia não ser festa jovem .<br />
Roberto Claro achou que estávamos em lugar erra<strong>do</strong> .
Desci . Fomos caminhan<strong>do</strong> para a casa e logo na entra<strong>da</strong><br />
encontramos três mocinhas que estavam nos olhan<strong>do</strong> . Estavam<br />
elegantíssimas. Após cumprimentarmos e nos apresentarmos devi<strong>da</strong>mente<br />
perguntei se ali era casa de Beatriz . Uma delas bem bonitinha informou que<br />
não. Disse que seu nome era Olga e que ali era a casa de suas amigas Silvia e<br />
Gracie Lafer . As duas chegaram logo em segui<strong>da</strong> , acompanha<strong>da</strong>s de mais<br />
outras duas. Foram to<strong>da</strong>s muitos gentis.<br />
Perguntaram se não queríamos entrar . Respondemos que<br />
estávamos com mais três amigos e que nossa entra<strong>da</strong> ali fora por puro engano,<br />
pois estávamos procuran<strong>do</strong> outra festa , onde estariam amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Ouvimos como resposta : -<br />
“Pois gostaríamos de convi<strong>da</strong>r também seus três amigos”.<br />
Neste momento eles se aproximaram e foram feitas as devi<strong>da</strong>s e<br />
formais apresentações . As três outras mocinhas eram : Lucila Assumpção ,<br />
Vivi Loureiro Marinho e Ana Maria Simões .<br />
Silvia então informou que aquela era uma festa de políticos<br />
programa<strong>da</strong> pelo seu pai - Horário Lafer ( ouvin<strong>do</strong> o nome então lembrei que<br />
ele era o Ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> governo de Getulio Vargas ) . Informou<br />
ain<strong>da</strong> que os mais moços ( Nós ) poderiam ficar no pavilhão <strong>da</strong> casa, situa<strong>do</strong><br />
após os jardins interiores , pois era local muito agradável .<br />
Resolvemos ficar . Fomos para aquele local <strong>da</strong> casa .<br />
Ficamos conversan<strong>do</strong> , falan<strong>do</strong> e descobrin<strong>do</strong> amigos comuns ,<br />
clubes e festas que freqüentávamos , falan<strong>do</strong> de nossas famílias e sobre<br />
colégios . Como existia música fomos <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> .<br />
Descobri que Olga Lago Leite era colega de minha irmã Marisa no<br />
Colégio Sion . Ficamos alegres com a coincidência .<br />
Algum tempo depois o Ministro Horácio Lafer , com Dona Mimi<br />
sua senhora , acompanha<strong>do</strong> pelo então Governa<strong>do</strong>r de Minas Gerais –<br />
Juscelino Kubistchec de Oliveira adentraram no pavilhão . Fomos<br />
apresenta<strong>do</strong>s e recebemos to<strong>da</strong> simpatia <strong>da</strong>quelas figuras importantes .<br />
Depois de conversas gerais fomos pergunta<strong>do</strong>s sobre aquela festa.<br />
Como nós to<strong>do</strong>s dissemos que estava lin<strong>da</strong> e muito elegante , fomos então<br />
convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s pelo Ministro Lafer para uma outra festa , a ser realiza<strong>da</strong> em sua<br />
residência no Rio de Janeiro , naquele tempo Capital <strong>da</strong> Republica .<br />
Os dringues , <strong>da</strong>ncinhas e muita conversa foram até as 3 <strong>da</strong><br />
madruga<strong>da</strong> .<br />
No outro dia voltamos para a casa <strong>do</strong>s Lafer , levan<strong>do</strong> junto os<br />
amigos Caio Kiehl , Nico Peres e Albano Camargo . Antes havíamos conta<strong>do</strong><br />
para eles o que sucedera na noite anterior . Foi então acontecen<strong>do</strong> uma
eunião muito alegre . Terminou no final <strong>da</strong> tarde , com a promessa de nosso<br />
comparecimento para festa <strong>do</strong> Rio de Janeiro , na próxima semana .<br />
Na semana seguinte , atenden<strong>do</strong> convite recebi<strong>do</strong> , seguimos<br />
para festa na ci<strong>da</strong>de maravilhosa . Eramos seis amigos . Fomos de avião .<br />
Alguns voavam pela primeira vez . Durante o vôo , naquele velho DC-3 ,<br />
pegamos mau tempo .<br />
Em <strong>da</strong><strong>do</strong> momento , justamente quan<strong>do</strong> Sérgio de Lucca foi ao<br />
banheiro <strong>do</strong> avião, entramos em uma grande turbulência que durou alguns<br />
minutos . O DC-3 ficou pulan<strong>do</strong> para cima e para baixo . Quan<strong>do</strong> melhorou o<br />
tempo Sergio abriu a porta <strong>do</strong> banheiro e foi sain<strong>do</strong> com a cara espanta<strong>da</strong> .<br />
Naquele momento a comissária informou para ele que havíamos ti<strong>do</strong><br />
turbulência . Ele respondeu :<br />
“ Puxa Vi<strong>da</strong> ! Pensei que havia aperta<strong>do</strong> o botão erra<strong>do</strong>”.<br />
.<br />
A festa no Rio aumentou nossa amizade com aquelas meninas ,<br />
principalmente com Vivi Loureiro Marinho e <strong>da</strong> Anna Maria Simões .<br />
Moravam as duas pertinho <strong>do</strong> Paulistano . To<strong>da</strong>s as tardes , depois de suas<br />
aulas , nós fazíamos ponto em suas casas . Elas passaram a ser o “Carro Chefe<br />
Feminino” de nossa turminha . Estávamos , por isto mesmo , sempre sen<strong>do</strong><br />
convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para muitas reuniões em casas de suas amigas .<br />
Alem destas festas e reuniões existiam ain<strong>da</strong> os grandes bailes de<br />
São Paulo , sempre a rigor .Lembro <strong>do</strong> famoso “Glamour Girl” no Harmonia ,<br />
aqueles <strong>do</strong> Aniversário <strong>do</strong> Paulistano ( no dia 29 de Dezembro – hoje quase<br />
esqueci<strong>do</strong>) , o “Baile Branco” para as debutantes de São Paulo , os<br />
“Reveillons” <strong>do</strong> Jockey Club , <strong>do</strong> Harmonia e <strong>da</strong> Hípica Paulista . To<strong>da</strong>s<br />
foram festas formidáveis e famosas que deixaram sau<strong>da</strong>des .<br />
- O MAIS BONITO “REVEILLON”<br />
Entretanto , de to<strong>do</strong>s aqueles “Reveillons”aconteci<strong>do</strong>s , um marcou<br />
para sempre a passagem de fim de ano . Ficou em muitas lembranças .<br />
Foi aquele à fantasia ocorri<strong>do</strong> na casa de Aninha Peruche .<br />
A mansão de sua família , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Alto <strong>da</strong> Boa Vista , era<br />
realmente muito grande e maravilhosa . Ocupava um quarteirão .Tinha um<br />
certo que , lembran<strong>do</strong> o Palácio de Versailles , com esplendi<strong>do</strong>s e enormes<br />
jardins que chegavam com seus grama<strong>do</strong>s e touceiras de flores cercan<strong>do</strong> a<br />
grande piscina .
Chegavam ain<strong>da</strong> aos pequenos bosques e aos vários terraços <strong>da</strong><br />
casa . Tinha ain<strong>da</strong> um enorme Salão de Festas , cheio de espelhos , com varias<br />
saí<strong>da</strong>s para os jardins e decora<strong>do</strong> com esmero . Ele tinha mais de 50 metros de<br />
comprimento , mostran<strong>do</strong> ao fun<strong>do</strong> um lin<strong>do</strong> palco eleva<strong>do</strong>. Na<strong>da</strong> melhor<br />
nem mais próprio para uma esplen<strong>do</strong>rosa Festa de Fim de Ano .<br />
A idéia <strong>do</strong> “Reveillon” ocorreu em um final de tarde , no início de<br />
Dezembro, lá mesmo , durante uma pequena reunião . A idéia foi<br />
imediatamente aprova<strong>da</strong> por Dona Zilú – mãe <strong>da</strong> Aninha .<br />
Ficou combina<strong>do</strong> que quatro de seus amigos iriam aju<strong>da</strong>r a realizar<br />
a festa : - Caio Kiehl , Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Otto Bendix e este narra<strong>do</strong>r. Ca<strong>da</strong><br />
um preparou sua lista de convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Na quarta feira seguinte ficou pronta a<br />
lista final . Aninha havia veta<strong>do</strong> com firmeza algumas pessoas .<br />
Lembro que seiscentas pessoas foram seleciona<strong>da</strong>s .<br />
Ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s amigos ficou com uma incumbência e sua<br />
responsabili<strong>da</strong>de . Caio Kiehl deveria contratar a orquestra <strong>do</strong> Ari <strong>do</strong> Piston<br />
(estava na mo<strong>da</strong> e tocava sempre no Harmonia ) , bem como uma “Escola de<br />
Samba”. Eu deveria cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> impressão <strong>do</strong>s convites com máxima urgência .<br />
Arnal<strong>do</strong> Gasparian aju<strong>da</strong>ria naquilo que fosse surgin<strong>do</strong> . Otto Bendix ,<br />
contan<strong>do</strong> com o motorista <strong>da</strong> família e com alguns outros emprega<strong>do</strong>s ,<br />
deveria efetuar a distribuição <strong>da</strong> maioria destes convites . Nós aju<strong>da</strong>ríamos ,<br />
entregan<strong>do</strong> convites para as pessoas mais chega<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> um .<br />
A noticia <strong>da</strong> festa , divulga<strong>da</strong> pelo cronista social Tavares de<br />
Miran<strong>da</strong> , tomou conta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . To<strong>do</strong>s queriam participar , mas como a lista<br />
foi realmente fecha<strong>da</strong> e fora dela não entrou mais ninguém . Aninha não abriu<br />
um exceção . Foi inteiramente coerente .<br />
Detalhe : “A fantasia deveria ser de luxo e to<strong>da</strong>s as mães<br />
acompanhantes deveriam vir com vesti<strong>do</strong>s brancos com bolinhas pretas” .<br />
Eram condições “sine quae non” , explicita<strong>da</strong>s no convite .<br />
No dia <strong>da</strong> festa , nós os organiza<strong>do</strong>res ao la<strong>do</strong> de Aninha e de Dona<br />
Zilu , ficamos receben<strong>do</strong> os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s no saguão de entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa , após a<br />
entra<strong>da</strong> pela portaria <strong>da</strong> casa , onde apresentavam os convites .<br />
A orquestra <strong>do</strong> Ari tomou conta <strong>do</strong> palco e , mesmo antes <strong>do</strong> início<br />
<strong>da</strong> festa , as 21,00 horas , já tínhamos música no ar . Inúmeros garçons já<br />
serviam bebi<strong>da</strong>s , principalmente champanhe . Muitas flores , muitas luzes e<br />
os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s chegan<strong>do</strong> . To<strong>do</strong>s em bonitas fantasias , principalmente as<br />
moças que ficaram maravilhosas naquelas cores bem vivas , próprias para o<br />
alto verão . Lembro muito bem de Ana Maria Valone , Cecília Brasil , Bia<br />
Oliveira , Alice e Regina Perego e Marina Pimentel .
Um <strong>do</strong>s toques de elegância naquela noite foram to<strong>da</strong>s as mães em<br />
seus vesti<strong>do</strong>s de bolinhas pretas . Foram um sucesso .<br />
Nem preciso dizer que a festa pegou fogo imediatamente . Primeiro<br />
com músicas mais suaves . Depois com músicas de carnaval . Quan<strong>do</strong> a meia<br />
noite chegou a Escola de Samba chegou junto . Então a alegria foi total .<br />
Lá pela duas horas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> começou o banho à fantasia . Foi<br />
para piscina quem desejou e quem não quis . Mas só os homens . Um <strong>do</strong>s<br />
primeiros a cair na água foi Acácio “Geléia” acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong> Marcelão<br />
Ribeiro Lima . Como os <strong>do</strong>is sempre foram bem grandes no tamanho tivemos<br />
água por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. A noite bem quente aju<strong>da</strong>va curtir a molhação .<br />
Então a festa tomou conta <strong>do</strong>s jardins pois não <strong>da</strong>va mais para<br />
entrar molha<strong>do</strong> dentro de casa .<br />
O “reveillon” terminou depois <strong>da</strong>s 4 <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> com to<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> muito feliz e pedin<strong>do</strong> mais . Para mim foi o mais lin<strong>do</strong> reveillon de<br />
São Paulo assistiu . Marcou época e foi noticia em to<strong>da</strong>s colunas sociais .<br />
Revi uma foto <strong>da</strong> ocasião outro dia . Aninha vesti<strong>da</strong> de “princesa” , Caio de<br />
“romano”, Otto Bendix de “almirante” , Arnal<strong>do</strong> Gasparian de “não me<br />
lembro” . Eu estava devi<strong>da</strong>mente fantasia<strong>do</strong> de “ samurai ”na companhia de<br />
Maria Clara Lima Guimarães vesti<strong>da</strong> de “havaiana” . Estava lin<strong>da</strong> .<br />
Tempo bom !<br />
- “AS ELEGANTES DA BANGU”<br />
Outro evento importante era a realização de desfile de mo<strong>da</strong>s e<br />
baile , patrocina<strong>da</strong> pela Bolsa de Merca<strong>do</strong>rias de São Paulo em conjunto com<br />
a Fabrica de Teci<strong>do</strong>s Bangu e o Sindicato <strong>da</strong> Industria de Fiação e Tecelagem.<br />
Era chama<strong>da</strong> de “ As Elegantes <strong>da</strong> Bangu”.<br />
Na ocasião eram apresenta<strong>do</strong>s os novos padrões de teci<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />
Bangu , em vesti<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s pelas moças <strong>da</strong> alta socie<strong>da</strong>de de São Paulo .<br />
Tinha uma programação muito bem feita , principalmente aquela<br />
de 1954 , ano <strong>do</strong> IV Centenário de São Paulo . Na ocasião um far<strong>do</strong> de<br />
algodão foi leiloa<strong>do</strong> no Parque Ibirapuera e o resulta<strong>do</strong> financeiro foi<br />
destina<strong>do</strong> para várias enti<strong>da</strong>des beneficentes .<br />
Esteve presente o Governa<strong>do</strong>r de São Paulo .<br />
Após o leilão ocorreu desfile de mo<strong>da</strong>s na nova sede <strong>do</strong> Clube<br />
Comercial de São Paulo , situa<strong>do</strong> no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , precisamente na rua<br />
Formosa . Para tanto foram convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s as famílias e conheci<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s senhoritas<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulistana que desfilaram com os modelos confecciona<strong>do</strong>s<br />
unicamente em fino algodão .
Aquele desfile , muito bonito e charmoso , teve participação de<br />
muitas conheci<strong>da</strong>s e amigas que atuaram como modelos , inclusive de minha<br />
irmã Marisa Marcondes. Lembro que também desfilaram as moças mais<br />
bonitas de nossa socie<strong>da</strong>de : Ana Maria Simões, Maria Isabel Rodrigues<br />
(Glamour Girl 54 ) , Elsie <strong>da</strong> Cunha Bueno , Helena Zarvos , Maisa Amaral ,<br />
Maria Helena Fonseca , Maria Ignez Whitaker , Silvia Tonani , May Locke ,<br />
Milu Loureiro , Olga Lago Leite , Regina Vasone, Sofia Helena Pentea<strong>do</strong> ,<br />
Silvinha Boock , Silvia Lafer , Tais de Carvalho , Zaira e Zuleica Zablit .<br />
Depois <strong>do</strong> desfile foi realiza<strong>do</strong> baile à rigor com a presença <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de paulistana e <strong>da</strong> “Miss Brasil” – Marta Rocha .<br />
Estive presente em companhia <strong>do</strong>s amigos : Carlos Roberto<br />
Matos , Caio Kiehl , Sérgio Dávila e Luiz Carlos Junqueira .<br />
A festa foi muito bonita , prestigian<strong>do</strong> o algodão brasileiro , o<br />
que hoje não mais ocorre . Não enten<strong>do</strong> por que estas festas não tiveram<br />
continui<strong>da</strong>de . Realmente uma pena .<br />
- “GRANDE PREMIO SÃO PAULO”<br />
Outro acontecimento muito bonito e muito elegante acontecia na<br />
primeira semana de Maio de ca<strong>da</strong> ano . Ocorria então o “ Grande Premio São<br />
Paulo” no Jóquei Clube . Era muito concorri<strong>do</strong> , com o comparecimento<br />
feminino em grande escala . Naquela ocasião os melhores cavalos <strong>da</strong> América<br />
<strong>do</strong> Sul vinham disputar o páreo e o premio , que durante muito tempo foi bem<br />
eleva<strong>do</strong> .<br />
Era realmente uma festa com muita gente bonita desfilan<strong>do</strong> pelas<br />
Sociais e “Pa<strong>do</strong>ck” <strong>da</strong> magnífica instalação <strong>do</strong> Jóquei Clube em “Ci<strong>da</strong>de<br />
Jardim”. Para aquela reunião turfística as senhoras e moças se apresentavam<br />
na melhor elegância possível .<br />
As tribunas <strong>do</strong> Jóquei viravam passarelas com desfile de mo<strong>da</strong>s .<br />
Muitas vezes no início de Maio o frio havia realmente chega<strong>do</strong> e<br />
as roupas eram para o inverno paulista , que naquele tempo realmente existia .<br />
Com um frio até mesmo úmi<strong>do</strong> , depois <strong>da</strong>s chuvas de Abril , as peles<br />
tomavam conta <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> feminino que freqüentava o Jóquei Clube .<br />
Como diziam : “Aquelas ocasiões eram colírio para os homens”<br />
Fui em muitos <strong>da</strong>queles grandes prêmios e vi muitos cavalos<br />
vence<strong>do</strong>res . Entretanto , como não fui turfista , lembro apenas de um <strong>da</strong>queles<br />
magníficos animais vence<strong>do</strong>res. Seu nome era “Gualicho”.<br />
Hoje os grandes prêmios já não possuem a mesma elegância .
- FESTAS JUNINAS<br />
Sau<strong>da</strong>des também tenho <strong>da</strong>s Festas Juninas , com muitas<br />
bandeirinhas colori<strong>da</strong>s , fogos de artifício e ver<strong>da</strong>deiros <strong>do</strong>ces caipira .<br />
Tínhamos paçoca, pipoca , pé de moleque , <strong>do</strong>ce de abóbora , de<br />
batata <strong>do</strong>ce , de batata roxa , maria mole . Quentão aju<strong>da</strong>va esquentar as noites<br />
paulistas , realmente muito frias naquele tempo .<br />
Em volta <strong>da</strong>s fogueiras eram canta<strong>da</strong>s músicas juninas . Tenho<br />
na memória : “Cai ...Cai Balão” , “Noite fria de Junho” e uma que começava<br />
assim – “ Era noite de São João ... Antonio ia se casar ... Mas Pedro fugiu<br />
coma noiva ... na hora de ir pro altar”...<br />
Eram lin<strong>da</strong>s e muito próprias para a ocasião .<br />
Outro costume era ler a sorte em bacias com água . Pingavam<br />
cera de vela acesa na água e “algumas entendi<strong>da</strong>s” fingiam ler futuros<br />
acontecimentos , normalmente liga<strong>do</strong>s aos namoros , nos desenhos e letras que<br />
poderiam aparecer . “ Aquele R é a primeira letra de seu futuro namora<strong>do</strong>”.<br />
Coisa inesquecível eram as “quadrilhas” onde moças e rapazes<br />
<strong>da</strong>nçavam musicas juninas coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s em sua evolução por uma mestre que<br />
indicava acontecimentos . “Olha a cobra” ... e o cordão que ia para um la<strong>do</strong><br />
voltava . “Ta chuven<strong>do</strong>” ... e to<strong>do</strong>s cobriam a cabeça com as mãos . Tinha a<br />
quadrilha inúmeras evoluções .<br />
Logo depois <strong>da</strong> quadrilha existia o “<strong>Casa</strong>mento <strong>do</strong> Caipira”. Os<br />
participantes de tal casamento vinham vesti<strong>do</strong>s à caráter , com roupas de<br />
caipira . Eram roupas velhas , curtas e cheias de remen<strong>do</strong>s coloca<strong>do</strong>s de<br />
propósito . Então chegavam a noiva e o noivo , o delega<strong>do</strong> que obrigava a<br />
realização <strong>do</strong> casamento , o padre e mais outros personagens . Era tu<strong>do</strong> feito<br />
de forma a gerar uma palhaça<strong>da</strong> que terminava normalmente com o noivo in<strong>do</strong><br />
para a cadeia .<br />
O Paulistano realizava uma <strong>da</strong>s mais belas festas , crian<strong>do</strong><br />
inclusive uma pequena Vila Caipira no grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo de futebol . Com<br />
fogueira e tu<strong>do</strong> mais . Uma <strong>da</strong>s brincadeiras era levar algum amigo para a<br />
falsa cadeia . Ele era preso por um tempo , até pagar a multa ( um quentão ) .<br />
Outra festa de São João , muito bonita , era realiza<strong>da</strong> no Clube de<br />
Campo de São Paulo . Ele até hoje fica longe , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Represa de<br />
Guarapiranga . Naquele tempo parecia mais longe , pois o local era pouco<br />
povoa<strong>do</strong> . Tinha nossa turma uma tradição para entrar no Clube de Campo .<br />
Como poucos eram sócios e o convite não era barato achamos uma solução .<br />
Aqueles que eram sócios levavam em seus carros os amigos , até perto <strong>da</strong><br />
portaria <strong>do</strong> clube .
A sede <strong>do</strong> clube ficava longe <strong>da</strong>quela portaria . Então <strong>do</strong>is ou<br />
três amigos se enfiavam no porta malas <strong>da</strong>queles grandes automóveis <strong>da</strong> época<br />
e ficavam quiétinhos até que os portões fossem passa<strong>do</strong>s . Depois , já dentro<br />
<strong>da</strong> área <strong>do</strong> clube , com o carro estaciona<strong>do</strong> debaixo <strong>da</strong>s arvores , to<strong>do</strong>s os<br />
penetras que estavam no porta malas saiam . Rapi<strong>da</strong>mente entravam para a<br />
festa . Ela era muito concorri<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de paulistana .<br />
Anos depois conversan<strong>do</strong> com um antigo diretor <strong>do</strong> Clube de<br />
Campo , amigo <strong>do</strong> Mário Guisalberti , fui informa<strong>do</strong> que eles sabiam <strong>do</strong> fato .<br />
Não ligavam pois os penetras eram amigos de sócios e traziam grande alegria<br />
para a festa .<br />
Agora As Festas Juninas se Tornaram Muito Caipiras ...Muito !<br />
Hoje as Festas Juninas não tem mais a diversão e a graça<br />
tradicional . A última que fui , fez lembrar com sau<strong>da</strong>des as anteriores<br />
realiza<strong>da</strong>s . Eram to<strong>da</strong>s muito lin<strong>da</strong>s e alegres .<br />
Agora , qualquer que seja o local , nem tocam musicas próprias<br />
para a época . Somente se ouve “rock”, “xaxa<strong>do</strong>”, “forró” e algumas “<br />
tarantelas italianas ”.<br />
A nossas Festas Caipiras viraram uma “coisa”. Pode ser<br />
caracteriza<strong>da</strong> como : “Bagunça Ítalo – Nordestina – Americana !<br />
Nem temos os bons e reais <strong>do</strong>ces caipiras. Seja qual for o clube.<br />
São falsos <strong>do</strong>ces brasileiros , enrola<strong>do</strong>s em plástico transparente , com gosto<br />
de na<strong>da</strong> . São de puro açúcar , colori<strong>do</strong> artificialmente . Sabor “amarelo<br />
metálico” ou “laranja fantasia” ! A Festa perdeu sua raiz !<br />
Não temos mais “Dança <strong>da</strong> Quadrilha”, nem “<strong>Casa</strong>mento <strong>do</strong> Jéca”<br />
Ninguem mais vai com roupa de caipira .<br />
Agora são bebi<strong>do</strong>s uísque , chope e vinho quente ( horroroso por<br />
sinal , posto que o vinho é muito ruim ) . Não existe mais nem um bom<br />
“Quentão “ . O que existe agora é mal feito , com puro gosto de pinga ( de má<br />
quali<strong>da</strong>de ) requenta<strong>do</strong> com canela e gengibre .<br />
Temos ain<strong>da</strong> “Churrasquinho de Gato no Espeto–com Farofa” (sic)<br />
Só as bandeirinhas colori<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> lembram e trazem um “que” de<br />
Festa de São João . A Festa Caipira Paulista virou realmente uma bagunça<br />
difícil de descrever . Lota<strong>da</strong> de gente , em to<strong>do</strong> canto , que só pensa em comer.<br />
Porem pouca gente <strong>da</strong>nça . A maioria fica an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> de lá para cá .<br />
No outro dia dizem que a festa foi ótima ! ????? !
A NOVA SÉDE DO PAULISTANO<br />
Edu Marcondes<br />
Visitas a Construção – Amigos na Inauguração – Inauguran<strong>do</strong> a Piscina-<br />
A Foto <strong>da</strong> Nova Sede – Programas para a Jovem Guar<strong>da</strong> -<br />
A Chega<strong>da</strong> de Gente Boa – Discutin<strong>do</strong> com um Mau Caráter –<br />
O <strong>Casa</strong>mento de Artur Castilho e Anne Marie Pentea<strong>do</strong> .<br />
Em mea<strong>do</strong>s de 1953 , se não estou engana<strong>do</strong> , foi lança<strong>da</strong> a pedra<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> nova sede <strong>do</strong> CAP , durante uma cerimônia , na qual<br />
compareceram os sócios mais habituais <strong>do</strong> clube . Os que lá estiveram<br />
deixaram suas assinaturas em ata , coloca<strong>da</strong> dentro de uma urna<br />
Na nova sede muita coisa iria mu<strong>da</strong>r , visan<strong>do</strong> a<strong>da</strong>ptação ao<br />
crescimento <strong>do</strong> clube dentro <strong>da</strong> região e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . A entra<strong>da</strong> social seria<br />
mu<strong>da</strong><strong>da</strong> . Sairia <strong>da</strong> rua Columbia in<strong>do</strong> para rua Honduras , apesar <strong>do</strong><br />
monumento erigi<strong>do</strong> para comemorar a excursão futebolística vitoriosa <strong>do</strong> CAP<br />
estar situa<strong>do</strong> em frente à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> sede velha. Tal mu<strong>da</strong>nça seria necessária ,<br />
ten<strong>do</strong> em vista o volume de transito , crescente dia a dia , que vinha<br />
aumentan<strong>do</strong> na Rua Augusta e nas suas continui<strong>da</strong>des .<br />
O projeto aprova<strong>do</strong> era muito moderno , espaçoso e até bonito ,<br />
dentro de uma concepção tendente ao que poderia ser mais avança<strong>do</strong> . A única<br />
coisa negativa de to<strong>do</strong> projeto , para muitos como eu , era a determinação para<br />
ser derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> velha piscina , que poderia ser fecha<strong>da</strong> e aqueci<strong>da</strong> . Também<br />
a velha sede , se não me engano projeto <strong>do</strong> Ramos de Azeve<strong>do</strong> ou de um outro<br />
famoso arquiteto <strong>da</strong> época seria derruba<strong>da</strong> . Lutamos até o ultimo dia.<br />
Prevaleceu o projeto original <strong>da</strong> reforma global. A velha sede , posteriormente<br />
quan<strong>do</strong> conclusa a nova , seria posta para o chão deixan<strong>do</strong> sau<strong>da</strong>des . Muitas<br />
sau<strong>da</strong>des até hoje .<br />
Bem , logo depois <strong>da</strong>quela cerimônia <strong>da</strong> pedra fun<strong>da</strong>mental<br />
começou efetivamente sua construção . Enquanto ia sen<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> ain<strong>da</strong><br />
utilizávamos a velha sede.<br />
Quan<strong>do</strong> a estrutura de concreto <strong>da</strong> nova sede ficou pronta<br />
tínhamos possibili<strong>da</strong>des de visitá-la , com a entra<strong>da</strong> sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> por dentro<br />
<strong>do</strong> próprio clube .<br />
A jovem guar<strong>da</strong> aproveitava a oportuni<strong>da</strong>de para levar , no final<br />
<strong>da</strong>s tardes e já sem a presença <strong>do</strong>s operários , as namoradinhas para<br />
“conhecer” a estrutura <strong>da</strong> nova sede , grande e vazia ..
Ficávamos ven<strong>do</strong> aquela nova sede progredir . Foi fican<strong>do</strong> vistosa.<br />
Logo depois o grande grama<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong> , onde existiam os laguinhos e os<br />
pequenos bosques , foi sen<strong>do</strong> retira<strong>do</strong> . Foi uma pena pois o local era muito<br />
bonito . Porem era necessário . Ali teria inicio a construção <strong>da</strong> grande piscina<br />
nova . Para a época era realmente enorme . Ficava em frente <strong>da</strong> sede , estan<strong>do</strong><br />
conjuga<strong>da</strong> com o bar programa<strong>do</strong> para o térreo . No projeto original nem<br />
existia cerca separan<strong>do</strong> o bar <strong>do</strong> térreo <strong>da</strong> piscina<br />
Lembro bem que quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> termino <strong>da</strong>quela construção , fui<br />
conhecer , com Pedro Padilha e Paulo Ribeiro, o que estava sen<strong>do</strong> feito em<br />
matéria de acabamento e decoração na nova sede . Tu<strong>do</strong> que vi era muito fino<br />
e de muito bom gosto . A<strong>do</strong>rei o Bar <strong>do</strong> Primeiro An<strong>da</strong>r que seria decora<strong>do</strong><br />
em estilo escocês . Iria ficar , como realmente ficou , maravilhoso . Outro<br />
lugar espetacular era a Boite , re<strong>do</strong>n<strong>da</strong> e com vista para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s ,<br />
principalmente aquela que <strong>da</strong>va para os Jardins , com duas pistas para <strong>da</strong>nçar .<br />
Uma <strong>da</strong>s pistas dentro <strong>do</strong> espaço interno e outra <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora , ao la<strong>do</strong> de<br />
um sensacional jardim suspenso , com peixinhos em um pequeno lago.<br />
Aquele lugar , principalmente à noite , permitiria uma lin<strong>da</strong> vista para a ci<strong>da</strong>de<br />
ilumina<strong>da</strong> . Ficaria extremamente romântico . Hoje mu<strong>do</strong>u o terraço com o<br />
pequeno lago deu lugar para uma área coberta amplia<strong>da</strong> .<br />
O Salão de Festas no segun<strong>do</strong> an<strong>da</strong>r , com seu pé direito duplo ,<br />
um mezanino e <strong>do</strong>is grandes terraços, um de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> , era muito amplo .<br />
Na sua parte superior existia um Mezanino com vista para to<strong>do</strong><br />
Salão<br />
No Bar Térreo existia uma Pista de Danças , feita em alabastro e<br />
ilumina<strong>da</strong> por baixo . Ficou bem charmosa , principalmente para ser usa<strong>da</strong><br />
em noites de verão . Tu<strong>do</strong> naquela construção estava toman<strong>do</strong> formas com<br />
bom gosto , extremamente fino e elegante.<br />
A nova sede iria atender plenamente nossas necessi<strong>da</strong>des, pois<br />
teríamos ain<strong>da</strong> no primeiro an<strong>da</strong>r : Biblioteca , Salão de Estar muito amplo ,<br />
Grande Terraço com mesas que tinham vista para piscina , Salão de Jogos ,<br />
salas especiais para Diretoria , e um requinta<strong>do</strong> Restaurante denomina<strong>do</strong><br />
“1900” . No térreo, alem <strong>do</strong> bar com suas inúmeras mesas , ain<strong>da</strong> teríamos<br />
Barbeiro , Cabeleireiro e uma Sala para jogos de “Snooker” .<br />
Hoje em dia muita coisa mu<strong>do</strong>u <strong>da</strong>quele projeto original .
– VISITAS A NOVA SEDE<br />
Na véspera de sua inauguração , em um grupo de amigos , fomos<br />
<strong>da</strong>r a olha<strong>da</strong> final na decoração <strong>da</strong> nova sede . Agora estava to<strong>da</strong> pronta , já<br />
com piscina e lin<strong>do</strong>s jardins em sua volta .<br />
Caio Kiehl quan<strong>do</strong> avistou a nova piscina disse para Pedrinho<br />
Padilha que ela precisaria de uma Inauguração à Rigor .<br />
Pedrinho Padilha , como Diretor Social , foi explican<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
coisas. Sobraram elogios para tu<strong>do</strong> que vimos e nos deixaram bem<br />
impressiona<strong>do</strong>s . Coube nota<strong>da</strong>mente destaque para as louças que eram<br />
brancas no centro , ten<strong>do</strong> suas bor<strong>da</strong>s em tom vermelho avinha<strong>do</strong> , frisos<br />
<strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s e monograma <strong>do</strong> CAP . Os copos de cristal sextava<strong>do</strong> também<br />
tinham monograma <strong>do</strong> Paulistano . As baixelas e talheres eram de prata . Tu<strong>do</strong><br />
muito fino e de bom gosto . ( Isto tu<strong>do</strong> hoje está desapareci<strong>do</strong> )<br />
A Festa de Inauguração prometia muito , mesmo porque e para<br />
tanto já tínhamos consegui<strong>do</strong> reservar seis mesas , ca<strong>da</strong> uma com oito lugares.<br />
Na mesa que eu ficaria , perto <strong>do</strong> terraço , estariam também Zizinho Papa ,<br />
Luiz Carlos Junqueira Franco e Vicente de Sylos e as nossas convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s .<br />
- OS AMIGOS NA INAUGURAÇÃO DA SEDE<br />
Naquele 29 de Dezembro de 1957 tomei um banho demora<strong>do</strong> ,<br />
vesti camisa para rigor , dei o laço na gravata borboleta , coloquei minha<br />
calça preta <strong>do</strong> “smoking” . Depois de algum tempo finalmente vesti o paletó<br />
<strong>do</strong> “smoking”. Na saí<strong>da</strong> dei um beijo em minha mãe e fui para a festa<br />
colocan<strong>do</strong> um cravo vermelho na lapela.<br />
Lá chegan<strong>do</strong> deixei , conforme combina<strong>do</strong> , o carro em uma <strong>da</strong>s<br />
garagens <strong>da</strong> casa de Roberto Claro . A casa ficava em frente <strong>da</strong> nova sede.<br />
Desde a entra<strong>da</strong> no clube fui encontran<strong>do</strong> muitas plantas e flores<br />
decoran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> , nota<strong>da</strong>mente o Salão de Festas e a Boate . Fui , entre os<br />
meus amigos , um <strong>do</strong>s últimos a chegar . Na nossa mesa já estavam o Zizinho<br />
Papa , Luiz Carlos Junqueira , Caio Kiehl e Luiz Vicente de Sylos . Ca<strong>da</strong> um<br />
já toman<strong>do</strong> taça de champanhe que gentilmente Eugenio Amaral oferecera .<br />
.<br />
Logo depois chegaram nossas convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s , entre elas a moça que<br />
eu tinha convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para ser meu par . Ao la<strong>do</strong> suas amigas . Estava lin<strong>da</strong><br />
naquele vesti<strong>do</strong> branco . Gostou <strong>do</strong> meu cravo na lapela . Não tive duvi<strong>da</strong> e<br />
dei para ela a flor de presente . (Por sinal tenho uma foto <strong>da</strong>quela festa . Com<br />
Zizinho e ela senta<strong>do</strong>s ao meu la<strong>do</strong> ).
Logo avistei as mesas reserva<strong>da</strong>s para a diretoria .<br />
Outras com amigos . Em sua volta muitos sócios e suas senhoras<br />
conversan<strong>do</strong> , entre eles : Herman Moraes Barros , os irmãos Doria , Arman<strong>do</strong><br />
Ferla , Silvio de Magalhães Padilha , Paulo Ribeiro , Adhemar Zacarias ,<br />
Eugenio Amaral, Caio Moura , Caja<strong>do</strong> e Luizinho de Barros e Arman<strong>do</strong><br />
Salem . Com as esposas <strong>da</strong>queles que eram casa<strong>do</strong>s estava minha grande<br />
amiga Soninha Padilha , elegante com sempre, desfilan<strong>do</strong> seus olhos claros .<br />
Em outros vários locais , sempre onde estavam muitas moças , já<br />
poderiam ser vistos : Sérgio e Aloísio Dávila , Alberto Botti , Silvinho Abreu,<br />
Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro , Didi e Adriano Gui<strong>do</strong>tti , Helinho Fuganti , Alcyr<br />
Amorim , Nico Peres Oliveira , Roberto Claro , Fernan<strong>do</strong> Ab<strong>do</strong>n , Eduar<strong>do</strong> de<br />
Paula , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Amedeo Papa , Antonio Duva , Sergio<br />
Caiubi Novaes , Rachid Jaudi , Eduar<strong>do</strong> e Marcelo Prates , Carlos Roberto<br />
Matos , Adir Villela , Alberto Andrade e muitos outros amigos .<br />
A “Novíssima Guar<strong>da</strong>” se fez presente com to<strong>da</strong> força ,<br />
representa<strong>da</strong> , entre outros , por uma garota<strong>da</strong> sadia que se não me engano<br />
ain<strong>da</strong> não tinham chega<strong>do</strong> aos 18 anos : Toninho e Armandinho Salem ,<br />
Paulinho Amaral , Luiz Cláudio Calimério , César Giuliano , Acácio “Geléia”<br />
Mancio , Sergio / Gilberto / Carlos Daccache , Beto e Osny Silveira , Flavio<br />
Guimarães, Chico “Foca” Campos , Dudu Brotero , Fernan<strong>do</strong> San<strong>do</strong>val,<br />
Fernan<strong>do</strong> Nabuco de Abreu , Guilherme Prates , Nelson Go<strong>do</strong>y , Telmo<br />
Martins e Farid Zablit. Quase to<strong>do</strong>s com as namoradinhas respectivas .<br />
Formavam lin<strong>do</strong>s pares , bem jovens .<br />
Cabe aqui destaque muito especial .<br />
Naquela época o Paulistano teve uma safra de mocinhas de<br />
extraordinária beleza . Talvez , ouso dizer , tenha si<strong>do</strong> a mais bonita que tive<br />
oportuni<strong>da</strong>de de ver . Eram muitas . E muitas naquela noite estavam presentes,<br />
elegantíssimas e alegres , enfeitan<strong>do</strong> de forma espetacular nossa festa .<br />
Não lembro agora o nome de to<strong>da</strong>s mas vou destacar : Luiza<br />
Ribeiro , Consuelo Ciampolini , Regina Coutinho , Maria Alba , Ci<strong>da</strong> Amaral,<br />
Iara Silveira e sua prima Márcia Silveira Mello , Liliane Ochialini , Lia e<br />
Maria Helena Malzoni , Apareci<strong>da</strong> Giafoni , minha prima Cândi<strong>da</strong> Marcondes<br />
de Souza , Maria Odila Marcondes <strong>da</strong> Silva , Lucia Helena Corradini , Ligia<br />
Brizola , Zaira e Zuleica Zablith , Heloisa Rodrigues Alves Accioly ,<br />
Elizabeth Fontoura Frota , Alice Bestermann , Maria Helena Ferrari Costa ,<br />
Maril<strong>da</strong> e Marisa Azeve<strong>do</strong> Marques , Tereza Salem , Dulce e Vera Serra ,<br />
Vera Scaciotta , Marisa Marcondes de Souza , Silvana Cocito ( Nabuco depois<br />
de casa<strong>da</strong> ) e Julia (lin<strong>da</strong> Julinha , cujo sobrenome húngaro até hoje não<br />
consegui apreender).
Aquela lin<strong>da</strong> safra de moças paulistas , também ocorria no<br />
Harmonia , onde encontrávamos muita beleza , entre elas : Estela Arens ,<br />
Maria Alice Costa , June e May Locke , Tina Pacheco Chaves , Regina<br />
Vazone , Elsie Cunha Bueno , Maria Ignez Whitaker , Maria Helena Fonseca ,<br />
Maria Isabel Rodrigues e Sofia Helena Pentea<strong>do</strong> . Algumas estiveram<br />
presentes naquele baile de inauguração <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Realmente São Paulo naqueles anos apresentou moças de muita<br />
beleza e elegância .<br />
INAUGURAÇÃO DE PISCINA : “A RIGOR”<br />
Voltan<strong>do</strong> agora diretamente para a Festa de Inauguração <strong>do</strong> CAP .<br />
Tu<strong>do</strong> estava e continuou perfeito naquela noite quente e de luar .<br />
Música , amigos , muitas moças lin<strong>da</strong>s , bom garçons e ótimo jantar . Até que<br />
pelas tantas o Caio Kiehl chegou dizen<strong>do</strong> que fossemos para o terraço, pois<br />
iriam inaugurar a piscina . E saiu rapi<strong>da</strong>mente .<br />
To<strong>do</strong>s ficamos curiosos . Lentamente seguimos para o terraço de<br />
onde poderíamos assistir o que aconteceria na piscina . Dali a vista era bonita<br />
e perfeita .<br />
Nem meio minuto depois Caio Kiehl estava entran<strong>do</strong> na área <strong>da</strong><br />
piscina nova . Subiu até o terceiro trampolim ( que naquele tempo existia ),<br />
gritou “Aleguá ... guá ... guá ...Paulistano !” e pulou na piscina com casaca e<br />
tu<strong>do</strong> mais que estava vestin<strong>do</strong>. Na saí<strong>da</strong> , ensopa<strong>do</strong> mas alegre , foi<br />
ovaciona<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s que presenciaram aquela “inauguração à rigor” . O que<br />
ele havia dito para Pedrinho Padilha foi cumpri<strong>do</strong> .<br />
No outro dia foi um “pereréco” para livrar o Caio de uma<br />
suspensão. Deu trabalho , pois muitos <strong>do</strong>s sócios mais velhos gostaram e<br />
acharam alegre a iniciativa , mas entendiam que a nova sede não devia<br />
começar com indisciplina . Foi cria<strong>do</strong> um impasse . Naquele “pune... não<br />
pune , não pune ...pune” , valeu a força <strong>da</strong> jovem guar<strong>da</strong> que conversou muito<br />
com os diretores. Caio não foi puni<strong>do</strong> , somente adverti<strong>do</strong> .<br />
A piscina <strong>do</strong> CAP até hoje , que eu saiba , foi a única em to<strong>do</strong><br />
Mun<strong>do</strong> inaugura<strong>da</strong> com traje à rigor .
- A FOTO DE INAUGURAÇÃO DA SEDE<br />
Na sexta feira seguinte a inauguração , conforme havíamos<br />
combina<strong>do</strong> , iríamos almoçar no novo restaurante . Em principio éramos oito<br />
mas foram chegan<strong>do</strong> mais amigos e a turma <strong>do</strong>brou . Estávamos conversan<strong>do</strong><br />
na entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> clube quan<strong>do</strong> apareceu o amigo “Velu<strong>do</strong>” com uma máquina<br />
fotográfica . Foi dizen<strong>do</strong> que precisávamos tirar uma foto como lembrança .<br />
To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se ajeitou . E to<strong>do</strong>s saíram sorrin<strong>do</strong> na foto perfeita .<br />
Lá estavam 16 amigos : Luiz Vicente de Sylos , Luiz Carlos<br />
Junqueira Franco, Caio Kiehl , Silvio Abreu , Helinho Fuganti , Pedro Padilha,<br />
Kiko Campassi , Paulo Ribeiro , Antonio Duva Neto , Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro<br />
<strong>da</strong> Silva , Roberto Matarazzo , Roberto Claro , Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti de<br />
Albuquerque , Paulão Viana , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca e este narra<strong>do</strong>r .<br />
Dias depois ganhei uma cópia <strong>da</strong>quela foto .<br />
A vi<strong>da</strong> tem mesmo coisas estranhas . Algumas coincidentes mas<br />
estranhas . Por vezes bem tristes .<br />
Pouco tempo depois “Velu<strong>do</strong>”, que havia tira<strong>do</strong> a tal fotografia,<br />
faleceu em um acidente de automóvel . E por mais incrível que possa parecer<br />
quase to<strong>do</strong>s os demais amigos que estavam naquela foto foram morren<strong>do</strong> nos<br />
anos seguintes. Não de uma vez ,mas pouco a pouco . Detalhe importante . A<br />
maioria faleceu quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> era muito jovem . Um por um , pelas mais<br />
diversas causas . Dos dezesseis na foto quatorze faleceram . Perdi boa parte<br />
<strong>do</strong>s meus melhores amigos , aqueles mais chega<strong>do</strong>s .<br />
- PROGRAMAS PARA A JOVEM GUARDA<br />
Com a inauguração <strong>da</strong> nova sede , logo no começo , o Paulistano<br />
ficou concorri<strong>do</strong> durante algum tempo . Isto acontecia não só pela afluência<br />
<strong>do</strong>s novos sócios como ain<strong>da</strong> pela vin<strong>da</strong> de sócios antigos , aqueles que pouco<br />
freqüentavam o CAP . To<strong>do</strong>s desejavam naquele momento conhecer as suas<br />
novas instalações .<br />
Depois de alguns meses , aparentemente sem motivo, to<strong>do</strong>s eles<br />
começaram lentamente a frequentar menos . O grande espaço de então ,<br />
existente em sua área social , começava ficar aparentemente enorme , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a<br />
sensação de vazio , pois o numero de sócios de então era muitas vezes menor .
Não tínhamos muitos jovens freqüentan<strong>do</strong> a nova sede . Tu<strong>do</strong> estava muito<br />
bonito e funcionan<strong>do</strong> muito bem no CAP . Não existiria razão para aparente<br />
redução na freqüência <strong>do</strong>s jovens .<br />
O problema era simples . O clube havia fica<strong>do</strong> em sua antiga<br />
mesmice , que tinha si<strong>do</strong> boa para a sede velha . Agora ela não mais servia<br />
para suas novas instalações , a qual para o numero de sócios <strong>da</strong> época era<br />
grande . Na<strong>da</strong> tinha que pudesse atrair o pessoal mais jovem . A boate ocorria<br />
somente aos sába<strong>do</strong>s , sempre reserva<strong>da</strong> e ocupa<strong>da</strong> por pessoas mais velhas.<br />
O salão de jogos era basicamente destina<strong>do</strong> para pessoas mais velhas . O lin<strong>do</strong><br />
bar <strong>do</strong> 1º an<strong>da</strong>r foi apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de “La Tristesse”. Ali somente algumas mesas<br />
eram ocupa<strong>da</strong>s por senhores , discutin<strong>do</strong> “o não sei que”, no fim <strong>da</strong>s tardes e<br />
começo <strong>da</strong>s noites . Depois ficava praticamente vazio .<br />
O clube estava na reali<strong>da</strong>de com uma mentali<strong>da</strong>de conserva<strong>do</strong>ra<br />
excessiva . Parecia um clube inglês reserva<strong>do</strong> para “Lordes <strong>da</strong> Era<br />
Victoriana”.<br />
Alem <strong>do</strong> mais , e por isto mesmo , as festas e programações em<br />
outros clubes , principalmente nas duas Hípicas , no Harmonia e Clube de<br />
Campo eram sempre muito freqüenta<strong>da</strong>s pelos jovens <strong>do</strong> Paulistano . Elas<br />
eram realiza<strong>da</strong>s para moços e moças . Tinham muito sucesso .<br />
Os rapazes <strong>do</strong> CAP, como não tinham mais na<strong>da</strong> alem <strong>do</strong> que<br />
esportes para praticar , sem nenhuma programação especial <strong>do</strong> Paulistano ,<br />
começaram a viajar nos finais de semana para as praias de São Vicente ,<br />
Santos e Guarujá .<br />
A diretoria evidentemente sentia este fato .<br />
Em Agosto de 1960 , depois de um grande problema que tive com<br />
um diretor <strong>do</strong> CAP , em um fim de tarde , Pedro Padilha - nosso Diretor<br />
Social, , nos procurou . Estávamos em grupo de dez amigos conversan<strong>do</strong> no<br />
bar térreo . Ele expôs o problema e pediu que indicássemos um Representante<br />
<strong>da</strong> “Jovem Guar<strong>da</strong>” para fazer parte <strong>da</strong> sua Diretoria . Este participante na<br />
Diretoria Social iria com ele programar uma Série de Eventos para o pessoal<br />
mais jovem . Seria necessário e teria to<strong>do</strong> o apoio possível .<br />
Meus amigos , para minha surpresa , indicaram meu nome por<br />
unanimi<strong>da</strong>de . Aceitei o convite .<br />
Naquela mesma noite nos reunimos em sua sala . Dei minhas idéias<br />
que coincidiam com as <strong>do</strong> Pedrinho . Eram na reali<strong>da</strong>de as idéias de to<strong>do</strong>s os<br />
sócios . Bastava ter apoio e coloca-las em pratica .<br />
Em uma coisa somente fiz firme questão : Não bastariam eventos<br />
isola<strong>do</strong>s . Era necessário continui<strong>da</strong>de para criar uma aura de alegria , de festa<br />
e de programação continua para os jovens . Como conseqüência criaríamos a
vontade de ir para o Paulistano . Principalmente de forma continua na área<br />
social . Pedro discutiu bastante este item mas no fim acabou concor<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
plenamente .<br />
A primeira coisa que fizemos foi desenvolver um Chá Dançante<br />
que só ocorria as vezes em tardes de <strong>do</strong>mingo .Resolvemos que seria sempre<br />
em to<strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo . E não mais terminaria muito ce<strong>do</strong> . Começaria as 17,00<br />
horas e terminaria as 23,00 . Seria realiza<strong>do</strong> aproveitan<strong>do</strong>-se a Pista Ilumina<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong> Térreo e o grande espaço com mesas que ali então tínhamos .<br />
O sucesso foi absoluto . Virou programa fixo para to<strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo .<br />
Foi aquele evento apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de “Mingau Dançante”, pois até jovens de 16<br />
anos poderiam participar e <strong>da</strong>nçar . Para o “ Mingau Dançante” não existia<br />
reserva de mesas e a entra<strong>da</strong> era para sócios e convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />
Ao mesmo tempo , ou melhor dito logo depois , criamos a “Boate<br />
Jovem”. Ela aconteceria to<strong>da</strong> sexta feira . Teríamos sempre um artista , cantor<br />
ou cantora de sucesso , como atração . Pedro Padilha ficou preocupa<strong>do</strong> com os<br />
custos , mas demonstrei que a reserva <strong>da</strong>s mesas pagaria o “cachê” <strong>do</strong> artista<br />
e que o consumo crescente absorveria os custos fixos com garçons e<br />
emprega<strong>do</strong>s .<br />
Desde o primeiro dia foi sucesso pois foi permiti<strong>da</strong> a entra<strong>da</strong> de<br />
convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . A reserva de mesa começou a ser intensamente disputa<strong>da</strong> . Desta<br />
forma muita moça bonita <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulista e gente nova , que ganhava<br />
importância na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, começaram a vir para o Paulistano . Ali<br />
começaram muitos namoros que terminaram em casamento .<br />
Ca<strong>da</strong> <strong>do</strong>is meses aconteceria um Baile no Salão de Festas <strong>do</strong> 2º<br />
an<strong>da</strong>r . Para este acontecimento teríamos sempre a presença de um artista de<br />
sucesso , muitas vezes internacional . Como tínhamos muitas mesas , as<br />
reservas de lugares , <strong>da</strong> mesma forma que na boate , pagariam os custos .<br />
Desta forma até Samy Davies Junior e Ella Fitzgerald cantaram em nosso<br />
clube . Aproveitávamos as “beira<strong>da</strong>s de suas apresentações” na ci<strong>da</strong>de . Assim<br />
o custo ficava razoável<br />
Quan<strong>do</strong> chegou o verão realizamos um Baile de Pré-Carnavalesco<br />
à Fantasia , com escola de samba e tu<strong>do</strong> mais . Teve também enorme sucesso,<br />
sain<strong>do</strong> muitas fotos e noticias <strong>da</strong> festa em to<strong>do</strong>s jornais .<br />
Começamos , durante os dias <strong>da</strong> semana , a levar para o bar <strong>do</strong> 1º<br />
an<strong>da</strong>r as nossas “paquerinhas”, as namora<strong>da</strong>s e to<strong>da</strong>s moças amigas .<br />
Naquele tempo muitas vezes acompanha<strong>da</strong>s de amigas , de irmãos , irmãs e<br />
até de tias , pais e mães . Não importava . O que interessava é que aquele bar<br />
nos proporcionava a possibili<strong>da</strong>de de mais um encontro . Antes muito difícil .<br />
Ali , nas outras mesas , também estariam na mesma forma nossos amigos e<br />
amigas . Quem estava sozinho também ia , pois sempre existia a possibili<strong>da</strong>de
de conhecer e paquerar “alguém que acompanhava alguém” . O “La Tristesse”<br />
ficou alegre .<br />
Pedro Padilha aju<strong>do</strong>u a implementar os “Torneios de Buraco” e<br />
enviamos convites para sócios de outros clubes e melhoran<strong>do</strong> os prêmios . Foi<br />
um grande sucesso . Lembro bem que certo dia , em um destes torneios ,<br />
Jacques Zirles e sua parceira ( depois esposa) Tereza Salem , antes mesmo <strong>da</strong><br />
contagem final de pontos, entenderam que não haviam consegui<strong>do</strong><br />
classificação e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> boa noite se foram . Para surpresa nossa eles estavam<br />
classifica<strong>do</strong>s . Solicitei que o torneio ficasse suspenso por alguns minutos pois<br />
eu iria , com Luiz Vicente , buscar o casal na residência <strong>do</strong>s Salem que ficava<br />
na Av. Paulista . Chegamos primeiro que eles .<br />
Pois bem , eles voltaram e foram os ganha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> torneio .<br />
To<strong>da</strong> e qualquer <strong>da</strong>s nossas promoções sociais começaram a ter<br />
sempre muito sucesso . Até mesmo , em um dia em que a boate estava em<br />
acertos e concertos , realizamos o que estava programa<strong>do</strong> para ela no<br />
“Mezanino <strong>do</strong> 2º an<strong>da</strong>r” . Agra<strong>do</strong>u , apesar <strong>do</strong> calor que se fez naquele lugar .<br />
A companhia <strong>do</strong>s amigos e convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s era muito mais importante .<br />
Para tanto contávamos com a constante aju<strong>da</strong> e colaboração de<br />
to<strong>do</strong>s , principalmente <strong>do</strong> Junqueira , Caio , Luiz Vicente e Duva . Eles<br />
sempre diziam para nossos amigos : “ O que você tiver que fazer de bom faça<br />
sempre dentro <strong>do</strong> Paulistano”.<br />
O apoio de Ricar<strong>do</strong> Amaral e principalmente <strong>do</strong> Zé Tavares de<br />
Miran<strong>da</strong> , em suas colunas sociais , divulgan<strong>do</strong> fotos e noticias foi<br />
fun<strong>da</strong>mental .<br />
Minha última participação na Diretoria Social ocorreu com<br />
realização <strong>da</strong> Festa Junina de 1963 . Aquela ocupação , para ter bons<br />
resulta<strong>do</strong>s, necessitava de muito tempo , dedicação e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s .<br />
Naquela ocasião , eu que já trabalhava como advoga<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
Secretaria <strong>do</strong> Trabalho , passei a ser Assessor Jurídico de seu Secretário –<br />
Deputa<strong>do</strong> Antonio Morimoto . Além <strong>do</strong> mais estu<strong>da</strong>va Administração de<br />
Empresas . Tempo ficou coisa muito difícil para se conseguir , principalmente<br />
durante o dia , quan<strong>do</strong> o planejamento e providencias sociais para o CAP<br />
normalmente ocorriam .<br />
Falei com Padilha e acertamos que Caio Kiehl iria para meu lugar .<br />
Sai contente pois tinha cumpri<strong>do</strong> o que planejáramos e implanta<strong>do</strong><br />
com sucesso uma nova e contínua programação para a jovem guar<strong>da</strong> .
BRIGANDO COM UM MAU CARATER<br />
Aquela foi uma época alegre . Entretanto , um pouco antes de<br />
participar <strong>da</strong> Diretoria Social <strong>do</strong> CAP tive sério problema com um antigo<br />
membro <strong>da</strong> sua Diretoria . Guar<strong>do</strong> comigo um sério acontecimento aconteci<strong>do</strong><br />
em Abril de 1.960. O caso ocorri<strong>do</strong> foi o seguinte :<br />
- A minha namora<strong>da</strong> de então – Márcia Silveira Mello - foi<br />
convi<strong>da</strong><strong>da</strong> para aquelas festivi<strong>da</strong>des em Brasília . Na volta trouxe uma<br />
lembrança que me foi entregue no Salão Social <strong>do</strong> CAP . Em agradecimento<br />
dei lhe um beijo no rosto , com o maior respeito e na presença de amigos .<br />
Não é que , um minuto depois , veio um emprega<strong>do</strong> <strong>do</strong> clube ,<br />
devi<strong>da</strong>mente uniformiza<strong>do</strong> interpelar e informar que estávamos sen<strong>do</strong><br />
inconvenientes . Fiquei realmente revolta<strong>do</strong> com aquela insolência . Na<strong>da</strong> de<br />
mais ocorrera . E o pior . A perseguição não parou por ali .<br />
Quan<strong>do</strong> nos despedimos , mais uma vez , ain<strong>da</strong> na presença de<br />
vários amigos e amigas presentes , dei , como fazia sempre , um novo beijo no<br />
rosto de Marcia.<br />
Pois bem , no outro dia , um saba<strong>do</strong> , logo pela manhã Márcia me<br />
telefonou informan<strong>do</strong> que , através de carta , fora suspensa <strong>do</strong> Paulistano :<br />
“Por atitude indecorosa no Salão Social ” . Fiquei aturdi<strong>do</strong> .<br />
Então , logo em segui<strong>da</strong> , minha irmã Marisa trouxe uma carta,<br />
com o timbre <strong>do</strong> CAP , em meu nome . Abri a tal carta . Eu também estava<br />
receben<strong>do</strong> a mesma suspensão , pelo mesmo motivo .<br />
Não tive duvi<strong>da</strong>s . Foi tempo de correr para o Paulistano e lá<br />
chegan<strong>do</strong> procurar e encontrar Pedro Padilha . Ele , ain<strong>da</strong> estava na portaria ,<br />
confirmou a suspensão que foi realiza<strong>da</strong> por ordem de Carlos Wild , diretor <strong>do</strong><br />
clube . Ele era nota<strong>do</strong> por seu tipo avermelha<strong>do</strong> , com um bigode ruivo de<br />
pontas levanta<strong>da</strong>s , sempre queren<strong>do</strong> demonstrar superiori<strong>da</strong>de .<br />
Na ocasião , indigna<strong>do</strong> , contei ao Pedro tu<strong>do</strong> que ocorrera ,<br />
afirman<strong>do</strong> que aquela suspensão era absur<strong>da</strong> . Ele concor<strong>do</strong>u comigo mas<br />
informou que , naquele momento , naquele instante , só Carlos Wild poderia<br />
rever a punição que havia <strong>da</strong><strong>do</strong> . Não esperei mais na<strong>da</strong> . Consegui logo em<br />
segui<strong>da</strong> seu endereço e fui imediatamente para sua casa . Ficava na Aveni<strong>da</strong><br />
Brigadeiro Luiz Antonio , perto <strong>da</strong> Av. Paulista .<br />
Para que não houvessem duvi<strong>da</strong>s , naquilo que eu iria falar com<br />
ele, levei comigo Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti .<br />
Chegamos e fomos atendi<strong>do</strong>s , junto as grades <strong>do</strong> muro e <strong>do</strong><br />
portão de ferro , que por sinal nem foi aberto , por um emprega<strong>do</strong> . Ele<br />
informou que o sr. Carlos não estava . Naquele mesmo instante percebi que ,<br />
pela fresta na cortina <strong>da</strong> janela <strong>da</strong> frente , ele nos olhava , semi escondi<strong>do</strong> .
Insisti em com ele falar . O emprega<strong>do</strong> , devi<strong>da</strong>mente instruí<strong>do</strong> , se retirou <strong>do</strong><br />
jardim e fechou a porta <strong>da</strong> casa .<br />
Fiquei realmente ofendi<strong>do</strong> e disse em voz bem alta , para que ele<br />
ouvisse , que aquilo não iria ficar nem terminar assim .<br />
- CASAMENTO : ARTUR CASTILHO E ANNE MARIE PENTEADO<br />
Naquela mesma noite estava ocorren<strong>do</strong> o casamento de meu<br />
amigo Artur Castilho de Ulhoa Rodrigues com Anne Marie Pentea<strong>do</strong> , filha <strong>do</strong><br />
Conde Pentea<strong>do</strong> . Eu não poderia faltar . Fui para a festa , na Aveni<strong>da</strong><br />
Higienópolis esquina de Itambé , muito aborreci<strong>do</strong> com o problema<br />
aconteci<strong>do</strong> no Paulistano .<br />
Logo que chequei fui interpela<strong>do</strong> , sobre a suspensão <strong>do</strong> CAP, por<br />
vários amigos , amigas e conheci<strong>do</strong>s . Contei o fato e o que pretendia fazer<br />
com aquele idiota pretensioso . O amigo Junqueira , que fora uma <strong>da</strong>s<br />
testemunhas <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> , confirmou ca<strong>da</strong> detalhe . To<strong>do</strong>s acharam absur<strong>do</strong> e<br />
mesmo uma afronta e indigni<strong>da</strong>de com uma moça de socie<strong>da</strong>de .<br />
Ouvin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> aquilo Soninha Padilha foi até seu pai . Voltou logo<br />
em segui<strong>da</strong> e disse que ele desejava falar comigo .<br />
Por ela fui leva<strong>do</strong> até Silvio de Magalhães Padilha , naquela época<br />
um dirigente maior <strong>do</strong> Paulistano . Estava na mesa com o Conde Pentea<strong>do</strong> .<br />
Convi<strong>do</strong>u-me para sentar e então relatar o aconteci<strong>do</strong> .<br />
Fui direto ao assunto , falan<strong>do</strong> bem baixinho para não chamar<br />
atenção e não atrapalhar a festa . Contei tu<strong>do</strong> com detalhes , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> inclusive<br />
os nomes <strong>da</strong>s minhas várias testemunhas . Finalizei dizen<strong>do</strong> : - “ Enten<strong>do</strong> que<br />
agora o caso saiu <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> <strong>do</strong> Paulistano e passou a ser coisa pessoal de um<br />
cavalheiro ofendi<strong>do</strong> contra uma pessoa que não mais merece meu respeito .<br />
Ele poderia até eliminar minha pessoa <strong>do</strong> Club, mas mexer com a<br />
honra de uma moça , inclusive minha namora<strong>da</strong> , para mim foi demais . Alem<br />
<strong>do</strong> que teve a petulância de chamar expressamente , aquele beijo no rosto , de<br />
ato indecoroso pratica<strong>do</strong> em público . Além de calunia , difamação e covardia<br />
ain<strong>da</strong> feria a digni<strong>da</strong>de de uma moça de família .<br />
Deixei claro que agora o assunto é de minha alça<strong>da</strong> . Deixei claro<br />
também que , to<strong>da</strong> vez que com ele encontrasse , ele teria de brigar comigo.<br />
Tentaria bater naquele covarde com to<strong>da</strong>s minhas forças . Não seria só uma<br />
vez , mas em to<strong>da</strong>s que eu o encontrasse . To<strong>da</strong> vez !<br />
Não é possível esperar na<strong>da</strong> de melhor neste caso .<br />
Pedi desculpas pelo meu desabafo mas digni<strong>da</strong>de e honra não<br />
podem ter tratamento de outra maneira” .
O Major Padilha e Conde Pentea<strong>do</strong> ouviram tu<strong>do</strong> gentilmente e<br />
com muita atenção. Então Major Padilha pediu para que na<strong>da</strong> eu fizesse , pois<br />
no outro dia , logo de manhã , trataria <strong>do</strong> caso . Iria tentar acertar as coisas .<br />
Naquele instante Soninha passou , pegou meu braço e me levou<br />
para <strong>da</strong>nçar. Sabia também que O Major Padilha tinha leva<strong>do</strong> a sério tu<strong>do</strong><br />
que eu pretendia realmente fazer . Ele conhecia bem minha palavra e percebeu<br />
que eu não estava de brincadeira . Eu nunca brincava com a honra .<br />
Independente <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> a festa foi realmente <strong>da</strong>s mais bonitas .<br />
No outro dia , ain<strong>da</strong> na parte <strong>da</strong> manhã , lá pelas 10,30 horas ,<br />
recebi um telefonema <strong>da</strong> secretária <strong>do</strong> Paulistano. Informava que a tal<br />
“Suspensão” não mais existia , que na<strong>da</strong> ficaria grava<strong>do</strong> nos arquivos e que já<br />
poderíamos , eu e Márcia , continuar freqüentan<strong>do</strong> normalmente o clube .<br />
Pediu que fosse esqueci<strong>do</strong> o caso e que eu não tomasse nenhuma<br />
medi<strong>da</strong> contra aquele diretor .<br />
Respondi que poderiam ficar tranqüilos que na<strong>da</strong> iria acontecer .<br />
Justiça havia si<strong>do</strong> feita e que o fato servira para se conhecer pessoas . Pedi<br />
para agradecer ao Major Padilha , em meu nome e no de Márcia .<br />
Fiquei alivia<strong>do</strong> e liguei para ela contan<strong>do</strong> a boa nova .<br />
O final de tu<strong>do</strong> foi feliz . Lembrei <strong>do</strong> que meu pai dizia :<br />
-“Um pouco de justa valentia, na hora certa , faz parte <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de.<br />
Sempre mantém ou cria muito respeito !”
“BAILES DE FORMATURA e OUTRAS FESTAS”<br />
Edu Marcondes<br />
“Furar os Bailes de Formatura – Suas brigas ” - “Calcinhas”- A Briga<br />
que não aconteceu – “Margari<strong>da</strong> Engoma<strong>da</strong>”- A Turma <strong>da</strong> Barão - Um<br />
Jeito Diferente de Ser : Oswal<strong>do</strong> Vidigal<br />
Alem <strong>da</strong>s festas realiza<strong>da</strong>s em casas de famílias e nos clubes ,<br />
existiam no final de ca<strong>da</strong> ano , os tradicionais bailes de formatura . Ocorriam<br />
em vários salões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo , durante to<strong>do</strong> mês de Dezembro .<br />
Eles eram muito concorri<strong>do</strong>s e a procura de convites acontecia .<br />
Naquela época no final de ca<strong>da</strong> ano , durante a noite , praticamente<br />
to<strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> somente saia trajan<strong>do</strong> rigor – “Smoking , Summer ou Dinner<br />
Jack” . Moças , para aquelas festas , usavam vesti<strong>do</strong>s longos . Isto era<br />
necessário para participar <strong>da</strong>queles bailes que comemoravam não só o termino<br />
de uma facul<strong>da</strong>de mas também o encerramento <strong>do</strong> ciclo ginasial ou colegial .<br />
To<strong>da</strong> escola de gabarito tinha seu “Baile de Forman<strong>do</strong>s” . Ca<strong>da</strong> um<br />
deles com seus forman<strong>do</strong>s e suas famílias respectivas , sempre ocupan<strong>do</strong> uma<br />
mesa posta ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> salão.<br />
No meio desta Festivi<strong>da</strong>de de Formatura existia uma tradição . As<br />
Três Valsas de Formatura . A primeira era <strong>da</strong>nça<strong>da</strong> com o pai ou a mãe <strong>do</strong><br />
forman<strong>do</strong>. A segun<strong>da</strong> com irmão ou irmã . A terceira era com namora<strong>do</strong> ou<br />
namora<strong>da</strong> . Quem não os tivesse deveria arranjar amigo ou amiga para esta<br />
última valsa .<br />
.<br />
Nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano sempre recebia convites . Quan<strong>do</strong> não<br />
recebia o jeito era tentar “furar o baile”, entran<strong>do</strong> sem convite mediante<br />
conversa com porteiros ou arruman<strong>do</strong> um convite . “ Por vezes especial”.<br />
Muitas vezes era fácil quan<strong>do</strong> o mesmo ocorria no salão <strong>do</strong><br />
Paulistano . Com muito jeito e silencio pulávamos o muro e logo<br />
encontrávamos a “fortaleza <strong>do</strong> Euclides” com mais de 100 kilos de<br />
musculatura . Ele era a segurança que ficava <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora <strong>da</strong> sede . Era um<br />
amigão de to<strong>da</strong>s as horas e principalmente <strong>da</strong>s noites de bailes . Durante o dia<br />
era ele quem tomava conta <strong>do</strong> vestiário <strong>do</strong> tênis . Gostava <strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />
clube . Bastava um abraço e lá íamos nós para o baile .<br />
Em outros clubes era muito mais difícil , mas sempre arrumávamos<br />
uma maneira para entrar no baile . As vezes demorava um tempinho .
O “Campeão de Furar Bailes de Formatura” sempre foi o Chiquinho<br />
“Foca” Campos . Dr. Francisco Campos como ele hoje gosta de ser chama<strong>do</strong> .<br />
Uma de suas façanhas acontecia quan<strong>do</strong> o baile era realiza<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
“Homs Clube” . A Entra<strong>da</strong> Principal <strong>do</strong> Baile era junto a sede <strong>do</strong> Clube .<br />
Antes desta entra<strong>da</strong> ficava um compri<strong>do</strong> e largo jardim , com um portão de<br />
ferro separan<strong>do</strong> a rua <strong>da</strong>quela proprie<strong>da</strong>de . Aquele portão junto a Aveni<strong>da</strong><br />
Paulista estava sempre aberto . Era naquele local , que nunca foi “Portaria <strong>do</strong><br />
Homs”, que Chiquinho atuava com maestria .<br />
Com a maior serie<strong>da</strong>de se postava junto ao portão , muito<br />
empertiga<strong>do</strong> . Esperava chegar um grupo de pessoas e com a voz imposta<strong>da</strong><br />
dizia : - “Convites por favor”. Ninguém tinha duvi<strong>da</strong>s e to<strong>do</strong>s entregavam seus<br />
convites . Recebiam então <strong>do</strong> Chiquinho votos de : “Um bom baile” .<br />
Enquanto eles se encaminhavam para a portaria ver<strong>da</strong>deira , onde os<br />
convites deveriam ser recebi<strong>do</strong>s devi<strong>da</strong>mente , Chiquinho saia de fininho <strong>do</strong><br />
local e se encaminhava para longe , onde estavam os amigos .<br />
Então eram só risa<strong>da</strong>s , alegria e espera de um tempo para to<strong>do</strong>s<br />
seguirem para o baile , com os convites em mãos ... Lógico !<br />
Houve uma ocasião que na mesma postura ele atendeu cinco<br />
pessoas. Ao solicitar os convites foi informa<strong>do</strong> pelos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s que tinham<br />
apenas três convites e pediam para ele <strong>da</strong>r um “jeitinho”, deixan<strong>do</strong> também<br />
entrar os outros <strong>do</strong>is , mesmo sem convites . Com a mesma voz imposta<strong>da</strong><br />
Chiquinho disse que desta vez tu<strong>do</strong> bem ... e man<strong>do</strong>u-os para a portaria onde<br />
realmente o convites deveriam ser entregues . Ain<strong>da</strong> disse : “... mas que o<br />
fato não se repita ! ” E foi embora rapi<strong>da</strong>mente , levan<strong>do</strong> com ele os três<br />
convites para os amigos ...<br />
- “ CALCINHAS”<br />
Um fato diferente e inusita<strong>do</strong> aconteceu em uma destas festas de<br />
formatura à rigor . Foi o único caso que assisti em to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> .<br />
Aconteceu na “<strong>Casa</strong> de Portugal”.<br />
Estas festas aconteciam sempre com rapazes de “smoking” e moças<br />
de vesti<strong>do</strong> longo . Então em uma destas festas aconteceu .<br />
Jujuba Moreira <strong>da</strong> Costa namorava uma mocinha que se formava<br />
na ocasião . Vamos chama-la de Leticia X . Fica assim combina<strong>do</strong> ! Letícia !<br />
Ele tinha si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para <strong>da</strong>nçar as duas últimas valsas , não só aquela<br />
terceira que era destina<strong>da</strong> aos namora<strong>do</strong>s mas também a segun<strong>da</strong> , que era <strong>do</strong><br />
irmão . Leticia não tinha irmãos .<br />
Assim foram os pares para o salão .<br />
Quan<strong>do</strong> as três valsas acabaram e os pares se retiravam , não mais <strong>do</strong><br />
que derrepente , apareceu um pequeno pano branco caí<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> salão .
Um rapaz deu um chute naquele pano tentan<strong>do</strong> man<strong>da</strong>-lo para<br />
debaixo de uma mesa . Deu o chute mas o tal pano branco , que tinha buracos ,<br />
ficou preso no seu sapato . Ele tentou retirar o tal pano , levantan<strong>do</strong> a perna<br />
que mantinha o pano preso . Sacudiu a perna ! Na<strong>da</strong> se sair ...<br />
Foi <strong>da</strong>n<strong>do</strong> pequenos chutes no ar , mas o pano não saia . O seu<br />
sapato havia realmente entra<strong>do</strong> em um <strong>do</strong>s buracos <strong>da</strong>quele pano . Depois de<br />
algum esforço conseguiu retirar o pano branco <strong>do</strong> sapato .<br />
O rapaz ficou vermelho pois muita gente estava olhan<strong>do</strong><br />
atentamente . Mas ele agora estava alivia<strong>do</strong> . Saiu rapidinho ...<br />
Na reali<strong>da</strong>de ele tinha se livra<strong>do</strong> de uma peça de vestuário feminino.<br />
Uma calcinha feminina !<br />
Quan<strong>do</strong> nós olhamos o tal pano , com maior atenção , notamos que<br />
era realmente uma calcinha de mulher , muito branca , ren<strong>da</strong><strong>da</strong> e de fino<br />
algodão . Foi só risa<strong>da</strong>s . E muitas pia<strong>da</strong>s no meio de muitas conjeturas . Na<br />
reali<strong>da</strong>de alguma menina “Perdeu as Calcinhas” ou as deixou cair em pleno<br />
baile de formatura .<br />
Comentários : To<strong>do</strong>s possíveis ...com muito riso !<br />
Daí a pouco chegou o Jujuba Moreira <strong>da</strong> Costa . Inteiramente<br />
preocupa<strong>do</strong> , afoguea<strong>do</strong> e meio nervoso . Chamou os amigos de la<strong>do</strong> e foi<br />
falan<strong>do</strong> muito baixinho . Contou o seguinte :<br />
“ Estávamos <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> subitamente a “Leticia X” ( assim vai<br />
ser chama<strong>da</strong> para não ser identifica<strong>da</strong> ) foi informan<strong>do</strong> , imensamente cora<strong>da</strong><br />
no momento , que o elástico <strong>da</strong> sua calcinha tinha se rompi<strong>do</strong> . Ela disse ain<strong>da</strong><br />
que a dita cuja estava cain<strong>do</strong> , pois já estava bem abaixo <strong>do</strong> seu quadril “.<br />
Pedi para ela que continuasse <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> , bem devagar , pois a valsa<br />
já estava terminan<strong>do</strong> e seria muito ruim para nós <strong>do</strong>is saírmos naquele instante<br />
em que estava terminan<strong>do</strong> a segun<strong>da</strong> valsa .<br />
Disse ain<strong>da</strong> que no meio de to<strong>do</strong>s aqueles pares ela , calcinha , não<br />
seria vista inicialmente . Pior seria se , no caminho de saí<strong>da</strong>, a tal calcinha<br />
caísse na pista de <strong>da</strong>nças , em frente de to<strong>do</strong>s .<br />
Caso caísse no salão muito cheio ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>ria para disfarçar .<br />
Então continuamos por mais um momento . Logo depois Letícia<br />
informou que estava com a calcinha nos seus tornozelos atrapalhan<strong>do</strong> a <strong>da</strong>nça.<br />
Pedi que ela ficasse para<strong>da</strong>. Apenas fingíamos que <strong>da</strong>nçávamos<br />
movimentan<strong>do</strong> ombros e braços . Desta forma ela teve o tempo necessário .<br />
Pisou em um la<strong>do</strong> <strong>da</strong> calcinha , então levantou um pé que saiu <strong>da</strong>quela<br />
armadilha . Depois com o outro empurrou-a para o la<strong>do</strong> .<br />
Com a calcinha solta no meio <strong>do</strong> salão , totalmente aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> ,<br />
continuamos valsan<strong>do</strong> até o final ”.
Vicente de Sylos ia fazer uma pia<strong>da</strong> mas em tempo puxei a aba de<br />
seu paletó . Jujuba estava gostan<strong>do</strong> realmente <strong>da</strong> tal Leticia .<br />
Perguntei apenas onde estava agora seu par .<br />
Como resposta Jujuba informou : “ ... Foi buscar em casa uma nova<br />
calcinha . Claro!”<br />
- BRIGAS NOS BAILES<br />
Naqueles bailes de formatura , com muitas pessoas de vários bairros<br />
e clubes diferentes , acontecia algumas vezes que <strong>do</strong>is ou mais rapazes , de<br />
outras turmas , se estranharem com os nossos amigos .<br />
Então , quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> , sempre na saí<strong>da</strong> <strong>do</strong> baile , brigas<br />
aconteciam . Caso estivessem envolvi<strong>do</strong>s rapazes <strong>do</strong> Paulistano não tinha<br />
moleza para ninguém . Tu<strong>do</strong> era resolvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> nosso jeito . Para variar a nossa<br />
turma quase sempre era chama<strong>do</strong> para aquele tipo de “<strong>da</strong>nça” .<br />
Naquele tempo brigar era quase um esporte .<br />
Brigavam com um adversário . Não com um inimigo .<br />
Hoje a moral , com muita gente não paulista , mu<strong>do</strong>u . Agora não<br />
mais se briga . Querem é matar .<br />
No nosso tempo , depois <strong>da</strong>s brigas , chegávamos até a conversar<br />
com os adversários e tu<strong>do</strong> ficava bem resolvi<strong>do</strong> . O máximo que podia suceder<br />
era um olho roxo e um lábio incha<strong>do</strong> para ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> . A turma <strong>do</strong> “deixa<br />
disto”sempre chegava a tempo .<br />
Hoje em dia teria graves conseqüência . O espírito é outro .<br />
Atualmente existe muita mal<strong>da</strong>de dentro de muitos. Brigas agora não tem<br />
apenas aspectos de disputa . Por isto mesmo têm graves e funestas<br />
conseqüências . É só ler os jornais .
A BRIGA QUE NÃO ACONTECEU<br />
Por falar em brigas vou agora falar de uma “Grande Briga” .<br />
Não era em um baile de Formatura .<br />
A Grande Briga nunca aconteceu . Entretanto foi programa<strong>da</strong> .<br />
O que aconteceu : - Maria Rosa Lima Conra<strong>do</strong> começou a<br />
freqüentar o Paulistano e gostou <strong>da</strong> nossa gente . Um dia resolveu <strong>da</strong>r uma<br />
festa , comemoran<strong>do</strong> seu aniversário, em sua casa que ficava , se não me<br />
engano , na Rua Traipú ( Pacaembu / Perdizes) .<br />
Convi<strong>do</strong>u praticamente apenas sócios e sócias <strong>do</strong> Paulistano e<br />
algumas amigas, apesar de ter inúmeros conheci<strong>do</strong>s na região onde residia .<br />
Era sua forma de demonstrar satisfação , pelo acolhimento que teve e tinha no<br />
CAP. A festa seria para o pessoal <strong>do</strong> Paulistano .<br />
A turma <strong>da</strong>s Perdizes, conheci<strong>da</strong> de Maria Rosa , tomou<br />
conhecimento <strong>da</strong> programação <strong>da</strong>quela festa , para qual não seria convi<strong>da</strong><strong>da</strong> .<br />
Não gostou na<strong>da</strong> . Resolveram que iriam acabar com a festa .<br />
Hélinho Fuganti que morava na Rua Car<strong>do</strong>so de Almei<strong>da</strong> , não sei<br />
como soube <strong>da</strong>quela intenção e informou a má pretensão <strong>da</strong>quela gente .<br />
Apesar de ficar preocupa<strong>da</strong> Maria Rosa recebeu nossa garantia que<br />
na<strong>da</strong> iria acontecer , pois que lá estaríamos : “para o que der e vier”.<br />
No sába<strong>do</strong> , antes <strong>da</strong> festa , nos reunimos no Paulistano pois<br />
havíamos resolvi<strong>do</strong> que iríamos to<strong>do</strong>s juntos . Resolvemos que qualquer<br />
desentendimento com a turma <strong>da</strong>s Perdizes , grande por sinal , somente<br />
ocorreria fora <strong>da</strong> casa .<br />
No dia marca<strong>do</strong> , por volta de oito e trinta , partimos em vários<br />
carros . Lembro bem que lá estavam , entre outros mais , Roberto Claro , Otto<br />
Bendix , Hélio Fuganti , Caio Kiehl , Luiz Carlos Junqueira Franco , Luiz<br />
Vicente de Sylos , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Fritz Dórey, Urbano Camargo ,<br />
Ulisses Paes de Barros , “Velu<strong>do</strong>” , Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , Dácio Ragazzo<br />
Hélio Fugantti e Alcyr Amorim .<br />
A casa era muito bonita , com lin<strong>do</strong> jardim e grande pátio interno,<br />
liga<strong>do</strong> a parte social , própria para festas .<br />
Um conjunto , com piano , bateria e contrabaixo , já começara a<br />
tocar quan<strong>do</strong> chegamos . Alem disso encontramos muitas moças que até então<br />
desconhecíamos . Bom para ver e paquerar .<br />
Como a noite era de luar a festa prometia muito .
Mal ela começou e subitamente to<strong>da</strong>s as lâmpa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> casa se<br />
apagaram . Pensamos que era um corte de luz momentâneo . Os <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> casa<br />
acenderam algumas velas esperan<strong>do</strong> o retorno <strong>da</strong> força elétrica .<br />
Cinco minutos depois um vizinho veio informar que um carro , com<br />
a placa coberta , chegou até o poste <strong>da</strong> esquina . Os ocupantes <strong>do</strong> carro<br />
desceram , passaram uma cor<strong>da</strong> por cima <strong>do</strong>s fios elétricos , amarraram as<br />
pontas <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> no pára-choque traseiro <strong>do</strong> veiculo e foram embora . Com isto<br />
os fios se partiram e não mais existia luz em to<strong>do</strong> quarteirão .<br />
Com os telefonemas para Light , contan<strong>do</strong> o ocorri<strong>do</strong> , tivemos<br />
informação que a força somente poderia voltar no mínimo em três horas .<br />
Maria Rosa , meio chorosa , achou que sua festa estava acaban<strong>do</strong> .<br />
Não estava . Iria apenas começar . Saímos em busca de velas nas<br />
pa<strong>da</strong>rias, empórios e merca<strong>do</strong>s <strong>da</strong> região . Tivemos sorte pois aqueles<br />
estabelecimentos, ain<strong>da</strong> abertos , fechariam logo depois , por volta <strong>da</strong>s 22/23<br />
horas .<br />
Em pouco tempo tínhamos um monte de velas , de to<strong>do</strong>s os tipos, de<br />
to<strong>da</strong>s as cores e to<strong>do</strong>s tamanhos . Velas para durar até o amanhecer .<br />
Como naquele tempo os instrumentos <strong>do</strong> conjunto não eram elétricos<br />
ou eletrônicos , música não faltaria .<br />
Então pela primeira vez participamos de uma festa à luz de velas .<br />
Somente com luz de velas . Tu<strong>do</strong> por ali ficou muito mais bonito e<br />
romântico . Dançar no pátio sob luar e ao brilhar <strong>da</strong>quelas pequenas luzes foi<br />
encanta<strong>do</strong>r , principalmente porque foi possível <strong>da</strong>nçar bem mais juntinho<br />
naquela lin<strong>da</strong> e encanta<strong>do</strong>ra penumbra .<br />
Alem <strong>do</strong> mais com músicas bem românticas . Estava começan<strong>do</strong> a<br />
Bossa Nova que tinha imensa aceitação . Ali conheci Julia que foi meu par<br />
somente naquela festa.<br />
As mocinhas ficavam mais bonitas na pouca luz difusa . Julia era<br />
uma encanta<strong>do</strong>ra ruiva de olhos verdes que a<strong>do</strong>rava músicas românticas .<br />
Pediu para tocarem “ Dancing in the Dark”. Era uma música romântica<br />
americana.<br />
Ficamos to<strong>do</strong> tempo esperan<strong>do</strong> uma reação <strong>da</strong>quela turma <strong>da</strong>s<br />
Perdizes . Ela não veio . Tu<strong>do</strong> foi muito bem durante a festa .<br />
A luz de velas deu um toque especial , até mesmo durante o jantar .<br />
Realmente agradável . Quan<strong>do</strong> a eletrici<strong>da</strong>de voltou , por volta <strong>da</strong>s 2,20 horas<br />
<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> , algumas lâmpa<strong>da</strong>s que estavam liga<strong>da</strong>s se acenderam mas<br />
foram logo apaga<strong>da</strong>s . A luz de velas continuou manter a gostosa penumbra .<br />
Foi uma lin<strong>da</strong> festa . Melhor ain<strong>da</strong> : tranqüila .<br />
A briga programa<strong>da</strong> não aconteceu .
“MARGARIDA ENGOMADA”<br />
Pelo meio <strong>do</strong> ano de 1958 apareceu uma sócia nova no Paulistano .<br />
A mocinha pertencia a tradicional família <strong>do</strong>s novos ricos – muito ricos , <strong>do</strong><br />
famoso ramo : “Não sei quem são ...” porem gente muito boa .<br />
Era até bem bonitinha. Vinha sempre muito arruma<strong>da</strong> ,<br />
impecavelmente vesti<strong>da</strong> . Entretanto , tinha muitas “frescuras” e era um<br />
tanto “snob”. Gostava de falar somente sobre coisas inúteis e fúteis . Discutia<br />
sempre que tivesse um leve conhecimento <strong>do</strong> assunto . Gostava de ser a<br />
“Dona <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de” . Mas era boa pessoa .<br />
Não ia para piscina para não queimar sua pele Não praticava<br />
nenhum esporte . Foi tacha<strong>da</strong> de “chata” . Para não revelar nomes, o que não<br />
interessa agora , vamos chamá-la de “Margari<strong>da</strong>” .<br />
A turma não per<strong>do</strong>ava e depois de algum tempo deram-lhe o apeli<strong>do</strong><br />
de “Margari<strong>da</strong> Engoma<strong>da</strong>”.<br />
Por sorte , sempre me dei bem com ela e em um chá <strong>da</strong>nçante <strong>do</strong><br />
clube ficamos juntos na mesma mesa , conversan<strong>do</strong> e <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong>. Então a<br />
gozação passou para meu la<strong>do</strong> . A turma brincava dizen<strong>do</strong> que eu estava<br />
queren<strong>do</strong> “<strong>da</strong>r o golpe <strong>do</strong> baú” .<br />
Quan<strong>do</strong> Setembro chegou ela anunciou que iria comemorar seu<br />
aniversário com uma grande festa em sua casa . Resolveu também que não<br />
devia e não iria convi<strong>da</strong>r a grande maioria <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> Paulistano , pois eles<br />
viviam mexen<strong>do</strong> com ela . Disse ain<strong>da</strong> que iria convi<strong>da</strong>r quase to<strong>do</strong>s seus<br />
amigos e amigas <strong>do</strong> Jockey e de outros clubes .<br />
Por mais que eu e outros mais chega<strong>do</strong>s , que havíamos si<strong>do</strong><br />
convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s , explicássemos que aquilo não era bom e que mu<strong>da</strong>sse de idéia ,<br />
ela não cedeu , nem mu<strong>do</strong>u de opinião .<br />
Assim foi feito e poucos amigos <strong>do</strong> Paulistano receberam convite .<br />
Era sua vontade e seu direito .<br />
A Turma não per<strong>do</strong>ou a discriminação . Nos dias que antecederam a<br />
festa foram pegan<strong>do</strong> , onde encontrassem , principalmente durante a<br />
madruga<strong>da</strong> , to<strong>da</strong>s as faixas e cartazes de propagan<strong>da</strong> .<br />
Eram Faixas com <strong>do</strong>s dizeres possíveis e propagan<strong>da</strong>s incríveis .<br />
Pegaram to<strong>do</strong>s demais anúncios e faixas comerciais que foram encontran<strong>do</strong> .<br />
Guar<strong>da</strong>ram e esperaram .<br />
No dia <strong>da</strong> festa , quan<strong>do</strong> o dia estava raian<strong>do</strong> , no final <strong>da</strong>quela<br />
madruga<strong>da</strong> silenciosa , foram até sua casa e nos muros baixos, no terraço e na<br />
facha<strong>da</strong> colocaram to<strong>do</strong>s aqueles cartazes e faixas .<br />
Não perderam tempo e tiram to<strong>da</strong>s as fotografias possíveis .
Neles podiam ser vistos anúncios , tais como : “Breve Açougue -<br />
Carnes Finas”- “Liqui<strong>da</strong>ção para entrega <strong>do</strong> Prédio” – “Aproveite nossos<br />
Preços de Ocasião”- “ “Vende-se ou Aluga-se”- “Oferecemos os Melhores<br />
Emprega<strong>do</strong>s”- “Aqui Refeições Comerciais a To<strong>da</strong> Hora” .<br />
Como naquele tempo as casas residenciais não tinham guar<strong>da</strong>s e<br />
vigias , nem segurança , ficou fácil colocar to<strong>da</strong>s aquelas faixas e esperar o sol<br />
nascer para tirar aquelas fotos .<br />
Tiraram realmente muitas fotos <strong>da</strong> casa com to<strong>da</strong>s aqueles anúncios.<br />
Fizeram em segui<strong>da</strong> muitas cópias <strong>da</strong>s mesmas<br />
No mesmo dia <strong>da</strong> festa estas fotos já circulavam pelos clubes de São<br />
Paulo . Depois , na noite <strong>da</strong> festa , quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s , pagaram<br />
moleques para ficar distribuin<strong>do</strong> tais fotos .<br />
Margari<strong>da</strong> demonstrou muita calma quan<strong>do</strong> soube <strong>da</strong>s fotos e viu o<br />
que acontecia . Depois nem comentou o fato .<br />
Manteve a calma , o que foi bom .<br />
Com o tempo o fato esfriou .<br />
Margari<strong>da</strong> continuou na sua vidinha no Paulistano sem aparentar<br />
raiva ou preocupação . Entretanto , meses depois , a sorte pregou uma grande<br />
peça em Margari<strong>da</strong> .<br />
A “Feira <strong>do</strong> Automóvel” , em seu início , acontecia de forma meio<br />
precária em um Pavilhão no Ibirapuera . Arranjos e pequenas obras eram<br />
realiza<strong>da</strong>s para possibilitar tal evento .<br />
O local para estacionar os carros <strong>do</strong>s visitantes naquela Feira era um<br />
descampa<strong>do</strong> , cerca<strong>do</strong> por grama e mato ralo . Mais mato que grama .<br />
Pois bem , numa sexta feira , no começo <strong>da</strong> noite , um grupo de<br />
moças e rapazes , coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s por Vicente de Sylos e Luiz Carlos Junqueira ,<br />
resolveu ir a Feira <strong>do</strong> Automóvel . Junto deles lá se foi Margari<strong>da</strong> .<br />
Chegaram e estacionaram. Começaram descer <strong>do</strong>s carros e<br />
derrepente se ouviu um gritinho . A voz era de Margari<strong>da</strong> .<br />
Mas onde estava ela ? Tinha sumi<strong>do</strong> . To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> procuran<strong>do</strong> no<br />
meio <strong>da</strong> semi escuridão <strong>do</strong> começo <strong>da</strong> noite .<br />
Ouviam seus gritinhos , mas na<strong>da</strong> de encontrar Margari<strong>da</strong> .<br />
Depois de alguns minutos descobriram que Margari<strong>da</strong> . Ela , ao<br />
descer <strong>do</strong> carro no escuro , não reparou que , ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> porta que lhe <strong>da</strong>va<br />
saí<strong>da</strong> , existia um enorme buraco . Grande mesmo !<br />
Desceu <strong>do</strong> carro e caiu lá no fun<strong>do</strong> de uma “Fossa Negra” , aberta<br />
tempos atrás . Cheia de água e com muito uso por operários . Foi aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong><br />
aberta , depois <strong>do</strong> termino <strong>da</strong>s reformas <strong>do</strong> local , onde montaram a tal “Feira<br />
<strong>do</strong>s Automóveis” .
Com a pressa de entregar a obra esqueceram de fechá-la direito.<br />
Com algum esforço Margari<strong>da</strong> foi retira<strong>da</strong> <strong>do</strong> buraco .<br />
Saiu , mas estava um horror , pois a “Fossa Negra” estava repleta de<br />
fezes e de água imun<strong>da</strong> . Saiu molha<strong>da</strong> e cheia de mer<strong>da</strong> por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s.<br />
Fedia por to<strong>do</strong>s os cantos . Dava pena somente de ver ( fóra as<br />
risa<strong>da</strong>s abafa<strong>da</strong>s pois a cena era realmente trágica- cômica ) .<br />
Foi leva<strong>da</strong> para casa . Não tinha mais jeito .<br />
No outro dia , com to<strong>do</strong>s saben<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato , mu<strong>da</strong>ram o apeli<strong>do</strong> de<br />
Margari<strong>da</strong> . Não era mais “Engoma<strong>da</strong>”. Passou a ser “Margari<strong>da</strong> Aduba<strong>da</strong>” .<br />
Hoje não sei mais quase na<strong>da</strong> <strong>da</strong> Margari<strong>da</strong> .<br />
Só que casou e sumiu .<br />
A “TURMA DA BARÃO”<br />
Nos anos de 50 se criou , com rapazes de vários bairros , um grupo<br />
que se reunia diariamente na rua Barão de Itapetininga . Encontravam-se<br />
normalmente em frente <strong>do</strong> “ Fazano”, que era uma casa de chá muito fina e<br />
bem freqüenta<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de paulistana . Ali ficavam para paquerar<br />
durante as tardes e sair posteriormente , em grupos , durante a noite .<br />
Eram chama<strong>do</strong>s de “A Turma <strong>da</strong> Barão” . Normalmente , depois de<br />
aprontar no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , seguiam naturalmente para clubes noturnos , ou<br />
“<strong>da</strong>ncings” que existiam em São Paulo . Nem to<strong>do</strong>s trabalhavam e no meio<br />
deles existiam alguns malandros contumazes .<br />
Caso tomassem conhecimento de uma festa iam em direção <strong>da</strong> mesma<br />
em pequenos grupos . Sempre pretenden<strong>do</strong> “Furar a Festa ”, mesmo se a<br />
entra<strong>da</strong> fosse à força . Muitas vezes acabavam com as festas ,<br />
Não eram reconheci<strong>do</strong>s pela gentileza , nem por muito boa educação .<br />
Como muitas vezes íamos até o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de acabamos por<br />
conhecer alguns <strong>da</strong>queles rapazes . O convívio com eles não era fácil e muitas<br />
vezes fomos obriga<strong>do</strong>s a reagir as intimi<strong>da</strong>ções que faziam .<br />
Eu mesmo cheguei a brigar duas vezes com eles , para não aceitar<br />
imposições e provocações . Como me sai bem nas brigas , eles passaram a<br />
respeitar um pouco mais . Mas não muito .<br />
De uma feita conseguiram entrar em uma festa e , dentro <strong>do</strong> espírito<br />
de baderneiros que eram , colocaram purgante no ponche , trancaram as<br />
portas <strong>do</strong>s banheiros e saíram <strong>da</strong> festa levan<strong>do</strong> as chaves . Pura cafajesta<strong>da</strong>.<br />
Depois , em um outro fim de semana fui obriga<strong>do</strong> a novamente<br />
brigar com aqueles cafagestes , antes de por aquela gente para fora <strong>da</strong> casa
onde ocorria uma festa . Eles tentavam estragar bebi<strong>da</strong>s e comi<strong>da</strong>s . Os<br />
presentes perceberam e denunciaram o fato . Caio , Luiz Vicente , Luiz Carlos<br />
Junqueira , Otto Bendix e eu , fomos impedir a palhaça<strong>da</strong> . naquele dia os<br />
malandros <strong>da</strong> barão apanharam tanto que saíram <strong>da</strong> festa arrasta<strong>do</strong>s . Não<br />
ficavam em pé .<br />
Soube que no outro dia contavam o fato , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> gargalha<strong>da</strong>s , como<br />
uma grande coisa que tinham realiza<strong>do</strong> . Eles não tinham jeito<br />
Gostavam também de esvaziar pneus <strong>do</strong>s carros que estacionavam<br />
nas cercanias <strong>da</strong> Barão de Itapetininga . Depois ficavam gozan<strong>do</strong> a pessoa que<br />
era obriga<strong>da</strong> a trocar o pneu . Mal<strong>da</strong>de com eles não faltava .<br />
Aquelas coisas , e muitas outras mais que agora não lembro , nos<br />
aborreciam muito e nos deixavam com um pé atrás .<br />
Acontece que , em um saba<strong>do</strong> de verão , Tozinho Lara como sempre<br />
realizava uma “Festa Preta” na sua “Ilha <strong>do</strong> Sabiá” , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Represa<br />
Billings. A festa , era destina<strong>da</strong> para coristas , moças de pouca reputação e<br />
outras de “famílias quase boas” . Na reali<strong>da</strong>de era uma tremen<strong>da</strong> bagunça<br />
organiza<strong>da</strong> . To<strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong>s podiam entrar levan<strong>do</strong> uma garrafa de bebi<strong>da</strong> e<br />
algumas <strong>da</strong>quelas “mulheres pren<strong>da</strong><strong>da</strong>s” . Ninguém pagava na<strong>da</strong>.<br />
Homem sozinho não entrava . Nem mesmo pagan<strong>do</strong> .<br />
Pois bem , ocorre que exatamente em uma <strong>da</strong>quelas “Festas Pretas”<br />
alguns de nossa turma estavam presente . Desde a tarde , quan<strong>do</strong> fomos<br />
esquiar na represa com o Tozinho , lá nos encontrávamos .<br />
Quan<strong>do</strong> anoiteceu chegou a “Turma <strong>da</strong> Barão” . Eram uns <strong>do</strong>ze<br />
rapazes . Alguns eram até conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>do</strong>no <strong>da</strong> casa .<br />
A festa estava cheia de gente simpática que só queria diversão. Mas<br />
logo a “Turma <strong>da</strong> Barão” começou aprontar cafajesta<strong>da</strong>s. Queriam aparecer.<br />
Tinham certeza que eram os “<strong>do</strong>nos <strong>do</strong> pe<strong>da</strong>ço”.<br />
Assim seguiram durante algum tempo .<br />
Então se propuseram a mexer com o Junqueira e com a bonita<br />
mulher que estava com ele . O Junqueira quieto . Eles pensaram que ele estava<br />
com me<strong>do</strong> e , aproveitan<strong>do</strong> um momento em que ele foi buscar uma bebi<strong>da</strong>,<br />
puxaram a tal mulher para <strong>da</strong>nçar .<br />
Não solicitaram , puxaram . Ela reagiu e ficou gritan<strong>do</strong> .<br />
A resposta <strong>do</strong> nosso amigo foi imediata . Aquele mais engraçadinho<br />
recebeu tremen<strong>do</strong> muro na cara e caiu de costas no chão . Os outros <strong>da</strong> Turma<br />
<strong>da</strong> Barão partiram para cima <strong>do</strong> Junqueira .<br />
Pareceu que estávamos esperan<strong>do</strong> .<br />
Como um to<strong>do</strong> a Turma <strong>do</strong> Paulistano que por lá estava voou para<br />
cima deles . Caio , Alcyr Amorim , Luiz Vicente, Otto Bendix e Urbano
Camargo. Outros amigos que estavam fora <strong>da</strong> casa chegaram depois . To<strong>do</strong>s<br />
distribuin<strong>do</strong> panca<strong>da</strong>s para valer . Cheguei em segui<strong>da</strong> e praticamente nem<br />
precisei participar . A briga não durou quase na<strong>da</strong> .<br />
Em pouco tempo eles ficaram fora de ação .<br />
Num canto <strong>do</strong> terraço aqueles <strong>do</strong>ze pilantras estavam agora<br />
quietinhos , um deles com o nariz incha<strong>do</strong> . Repetiam apenas que não tinham<br />
feito na<strong>da</strong> . Que tu<strong>do</strong> era brincadeira . Tozinho , que era muito grande e muito<br />
bravo , juntamente com o pessoal <strong>do</strong> “deixa disso” os obrigou a saírem <strong>da</strong><br />
festa , com to<strong>do</strong> nosso apoio .<br />
Na saí<strong>da</strong> deu uns tapas na cabeça de um mais ler<strong>do</strong> . Mas muitas <strong>da</strong>s<br />
mulheres que chegaram com eles ... ficaram na festa .<br />
Depois disto o Tozinho começou a impedir entra<strong>da</strong> de<br />
desconheci<strong>do</strong>s para as festas <strong>da</strong> Ilha <strong>do</strong> Sabiá . E para a “Turma <strong>da</strong> Barão”<br />
sempre soltava a cachorra<strong>da</strong> que existia na Ilha (Eram <strong>da</strong> raça Fila Brasileiro ).<br />
Muitas outras brigas aconteceram com aquela “Turma <strong>da</strong> Barão”..<br />
Não interessam ! Não vale a pena relatar coisas de cafajestes .<br />
- UM JEITO BEM DIFERENTE : OSVALDINHO VIDIGAL<br />
Quem gostava de fazer brincadeiras e gozações de to<strong>do</strong> tipo era<br />
“Osvaldinho Vidigal ” . Como era rico , moço , solteiro , com to<strong>do</strong> tempo<br />
disponível , invariavelmente estava aprontan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s suas .<br />
Entre milhares de histórias a seu respeito contavam que , certa vez ,<br />
quan<strong>do</strong> estava suspenso <strong>do</strong> clube - o “Harmonia”, por alguma <strong>da</strong>s mil razões<br />
possíveis, em um dia de festa jogou milhares de “Alka Seltzer” na piscina <strong>do</strong><br />
clube . Ela ficou espuman<strong>do</strong> .<br />
Isto não vi e não creio que tenha aconteci<strong>do</strong> , pois é quase<br />
impossível sua realização , por muitas mil razões .<br />
Mas ...“ Si non é vero é molto giocoso”<br />
Entretanto suas gozações ficaram famosas .<br />
A primeira aconteceu lá pelos anos 50 , quan<strong>do</strong> uma sua namora<strong>da</strong><br />
começou a passar Osvaldinho para trás e finalmente deu-lhe o fora .<br />
Daquele dia em diante ele passou a an<strong>da</strong>r com uma galinha debaixo<br />
<strong>do</strong> braço . Era uma galinha amarela<strong>da</strong> , com uma fita vermelha - craveja<strong>da</strong> de<br />
brilhantes ( pedras falsas ) , amarra<strong>da</strong> com um laço no seu pescoço pela<strong>do</strong> .<br />
Ele a chamava de “ Tutuca”. Era a galinha mais feia que já vi !<br />
Aonde ia levava o animal de penas com ele . Aparecia nos clubes<br />
noturnos , nas corri<strong>da</strong>s de automóvel , nas praias e lugares onde tinha amigos<br />
ou era convi<strong>da</strong><strong>do</strong> por conheci<strong>do</strong>s .
Como também era bom cliente de casas noturnas entrava com a tal<br />
galinha nos lugares pagos . Na casa <strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong>s , porque era amigo e a tal<br />
galinha não fazia mal para ninguém , também entrava .Era motivo de risa<strong>da</strong>s .<br />
Quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong> qual a razão <strong>da</strong> “Tutuca” respondia :<br />
“- Ca<strong>da</strong> um an<strong>da</strong> com a “galinha” que quiser . É só procurar . Alem<br />
<strong>do</strong> mais esta galinha , a “Tutuca”, é maravilhosa . Nunca exige presentes, nem<br />
jóias , nem jantares , nem roupas caras , nem festas ... nem na<strong>da</strong> ! Alem <strong>do</strong><br />
mais é ótima companheira . Não reclama de na<strong>da</strong> , aceita tu<strong>do</strong> e fica sempre<br />
realmente de “bico cala<strong>do</strong>” . Também a “Tutuca” não fala pelos cotovelos,<br />
pois sem duvi<strong>da</strong>s algumas ela não os tem ...”<br />
Contam que um belo dia Osvaldinho e amigos resolveram ir para o<br />
Rio de Janeiro , pois lá estaria acontecen<strong>do</strong> uma grande festa no Country.<br />
Compraram passagens aéreas . Foram para Congonhas .<br />
Na hora <strong>do</strong> embarque lá estava o Osvaldinho com a galinha debaixo<br />
<strong>do</strong> braço . Quan<strong>do</strong> , na fila para entrar no avião , chegou sua vez o problema<br />
aconteceu . Não quiseram deixar entrar a tal galinha “Tutuca” .<br />
Então começou uma discussão que não terminava mais . Ele<br />
argumentan<strong>do</strong> que a “Tutuca” já entrou e entrava em qualquer lugar . Já esteve<br />
nos mais elegantes locais e , como tinha menos de sete anos , não precisava<br />
pagar passagem aérea . Tinha até esta<strong>do</strong> na Assembléia .<br />
O comissário alegava que , de acor<strong>do</strong> com o regulamento <strong>da</strong><br />
Companhia Aérea , não era permiti<strong>do</strong> que galinha viajasse com outros<br />
passageiros .<br />
Com to<strong>da</strong> esta demora<strong>da</strong> discussão a fila para entrar no avião ficou<br />
para<strong>da</strong> e aqueles que iam viajar reclaman<strong>do</strong> que o vôo já estava muito<br />
atrasa<strong>do</strong> . Então os amigos <strong>do</strong> Osvaldinho começaram a gritar em coro : -<br />
“entra ... entra ... entra !<br />
Os demais passageiros, cansa<strong>do</strong>s de esperar na fila e com pressa de<br />
viajar , induzi<strong>do</strong>s pelo coro e queren<strong>do</strong> resolver a situação engrossaram<br />
simpaticamente o coro <strong>do</strong> “ “entra... entra ... entra ...! ” .<br />
E a Tutuca voou para o Rio de Janeiro . Dizem ...<br />
Dizem também que : “Como o carioca é muito alegre e simpático<br />
Tutuca foi um tremen<strong>do</strong> sucesso , alegran<strong>do</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s lugares por<br />
onde passou”.<br />
Parece que foi a primeira “penosa” a entrar e participar de uma festa<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de naquela ci<strong>da</strong>de . Não fui com ele mas soube <strong>da</strong> história .<br />
Tempos depois , quan<strong>do</strong> o Osvaldinho era encontra<strong>do</strong> , a galinha<br />
Tutuca não estava mais com ele . Pergunta<strong>do</strong> sobre a razão ele ia explican<strong>do</strong>:
“É o tal negócio ... galinha é galinha ... e será sempre galinha !<br />
Bastou eu me distrair um pouco e ela fugiu com um franguinho qualquer ”.<br />
De outra feita Luiz Vicente foi visitá-lo . Queria saber o que tinha<br />
aconteci<strong>do</strong> em uma “boite” <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> , muito bem freqüenta<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de ,<br />
quan<strong>do</strong> Osvaldinho foi barra<strong>do</strong> na entra<strong>da</strong> .<br />
Chegou em sua casa , deu seu nome e o emprega<strong>do</strong> , logo a seguir ,<br />
pediu para que subisse , pois o senhor Osval<strong>do</strong> já o estava esperan<strong>do</strong> em seu<br />
quarto.<br />
Vicente entran<strong>do</strong> no quarto viu , cola<strong>do</strong> na parede , bem em cima <strong>da</strong><br />
cama , um grande cartaz onde estava escrito :<br />
“ Aqui Não Se Aceita Reclamação” .<br />
Dan<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s Vicente perguntou a razão <strong>do</strong> cartaz . A resposta foi<br />
simples : “Meu amigo ... você não imagina quantos problemas ele já<br />
resolveu”.<br />
Depois , in<strong>da</strong>ga<strong>do</strong> sobre o que tinha ocorri<strong>do</strong> na boate , ele foi<br />
explican<strong>do</strong> : “ Aquela noite a tal boate estava “Programa<strong>da</strong> para Namora<strong>do</strong>s” .<br />
Eu que estava sozinho resolvi comparecer com as “primas” que conheci lá<br />
naqueles novos “Inferninhos” <strong>da</strong> Vila Buate” .<br />
Elas , que são até bem bonitinhas , no seu jeito próprio de vestir e<br />
com a pintura característica <strong>da</strong>s que vivem a noite , estavam muito contentes<br />
por irem em uma boite freqüenta<strong>da</strong> pela alta socie<strong>da</strong>de .<br />
Chegamos por volta <strong>da</strong>s 23 horas e fomos entran<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> já<br />
estávamos em frente ao bar fomos barra<strong>do</strong>s pelo gerente e por <strong>do</strong>is “leões de<br />
chácara” . Perguntei qual a razão e o gerente foi dizen<strong>do</strong> : “ Estas mulheres<br />
são de reputação duvi<strong>do</strong>sa” .<br />
Então não agüentei e respondi bem alto , para que to<strong>do</strong>s aqueles ,<br />
que nos estavam espian<strong>do</strong> com a cara aze<strong>da</strong> , ouvissem :<br />
-“ São de reputação duvi<strong>do</strong>sa coisa nenhuma. Elas são Putas ! São<br />
Putas e não de reputação duvi<strong>do</strong>sa ! E são muito reputa<strong>da</strong>s como Putas !<br />
Pergunte para elas e terá confirmação ! E tem mais ... De reputação duvi<strong>do</strong>sa<br />
pode ser qualquer mulher que aqui esteja nos olhan<strong>do</strong> agora , com cara de<br />
quem comeu e não gostou . O senhor as conhece bem ? To<strong>da</strong>s ? Não ...!<br />
Então podem ser de reputação duvi<strong>do</strong>sa ... ” .<br />
Depois continuou contan<strong>do</strong> o caso dizen<strong>do</strong> :<br />
- “Naquela altura <strong>do</strong>s acontecimentos os <strong>do</strong>is “leões de chácara” nos<br />
puseram para fora aos empurrões . Aquilo não foi justo . Principalmente uma<br />
injustiça quanto a reputação duvi<strong>do</strong>sa <strong>da</strong>s “primas putinhas” . Cortaram sem<br />
dó nem pie<strong>da</strong>de a diversão tão deseja<strong>da</strong> <strong>da</strong>s coitadinhas .<br />
Certamente ficaram frustra<strong>da</strong>s ” .
Quan<strong>do</strong> terminou de contar o caso Osvaldinho perguntou se Vicente<br />
tinha realmente gosta<strong>do</strong> <strong>do</strong> cartaz coloca<strong>do</strong> em cima de sua cama . Sem<br />
esperar resposta continuou dizen<strong>do</strong> :<br />
- “Caso eu fosse Oculista iria colocar em meu consultório um outro<br />
cartaz bem grande , onde estaria escrito :<br />
- “ Não Conheço o Senhor de Vista ? ” .
“GATOS DO PAULISTANO” NAS NOITES PAULISTANAS”<br />
Edu Marcondes<br />
Onde a Noite Começava – “Bonilha” – “Nick Bar”- “O Bixiga”- Festas<br />
<strong>do</strong> Fantasma - Um Tiro no Lampião ...<br />
Nos anos 50 surgiram para nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano maiores<br />
possibili<strong>da</strong>des para programas noturnos em São Paulo . A i<strong>da</strong> aos clubes<br />
noturnos passou a ser mo<strong>da</strong> . Principalmente porque começávamos a ter a<br />
i<strong>da</strong>de necessária .<br />
Não deu outra . Juntou-se a fome com a vontade de comer .<br />
Aqueles programas , naqueles tempos , apesar de não serem baratos ,<br />
saben<strong>do</strong> moderar as coisas , não ficavam proibitivos em seus custos .<br />
Em assim sen<strong>do</strong> passamos freqüentar clubes noturnos que eram<br />
chama<strong>do</strong>s de “boates” . Entre outras lembro e destaco : “Arpege” , “Oásis” ,<br />
“J’ai Reviens”, “Nick Bar”, “Boate Lord” (no Lord Hotel) ,“Boate Esplana<strong>da</strong>”<br />
( no antigo hotel <strong>do</strong> mesmo nome ) depois chama<strong>da</strong> de boate “Meninão”.<br />
Hoje naquele prédio situa-se a sede <strong>da</strong> Cia. Votorantin .<br />
Na Rua Augusta , quase esquina <strong>da</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s existia o “Sky<br />
Club” . Nos <strong>do</strong>mingos a tarde ali acontecia também um “Chá Dançante”, onde<br />
poderíamos ir com as “namoradinhas e respectivas velas”.<br />
O mais antigo de to<strong>do</strong>s clubes noturnos foi o “Jequiti”,<br />
freqüenta<strong>do</strong> principalmente pela socie<strong>da</strong>de paulistana no final <strong>do</strong>s anos 40.<br />
“ Onde a Noite Começava ...”<br />
Muitas vezes fui até a boate “Oásis” para assistir grandes artistas<br />
como Elisete Car<strong>do</strong>so , Charles Trenet , Silvio Cal<strong>da</strong>s , Ataulfo Alves . Minha<br />
i<strong>da</strong> sempre ocorria com amigos <strong>do</strong> Paulistano : Manoel Mendes , Cid Mendes,<br />
Cid Ipiranga , Bonilha , Ayrton Bacellar , Alexandre Bacellar , entre muitos<br />
outros . . Aquela casa primava por apresentar shows com grandes nomes<br />
nacionais e internacionais . Era muito concorri<strong>da</strong> .<br />
A primeira vez que lá estive foi com meus companheiros: Sérgio<br />
D’Avila e Silvio “Careca” Abreu . Estávamos para fazer 18 anos e o porteiro<br />
Atílio , que ficou meu amigo , não podia permitir nossa entra<strong>da</strong> pela porta<br />
principal , pois sabia que ain<strong>da</strong> éramos menores de i<strong>da</strong>de . Entretanto fechava<br />
os olhos , saben<strong>do</strong> que entraríamos pela porta <strong>da</strong> cozinha , passan<strong>do</strong> a seguir<br />
pelos camarins , para chegarmos as mesas onde sempre existia um amigo <strong>do</strong><br />
Paulistano esperan<strong>do</strong> . Era o jeito .<br />
No “Arpege” tive a oportuni<strong>da</strong>de de presenciar as primeiras<br />
apresentações de Caubi Peixoto . Seu sucesso se não me engano ali começou .
Apareceram , em paralelo , também pequeninos bares noturnos<br />
chama<strong>do</strong>s de “inferninhos”, onde se buscava , principalmente , companhia<br />
feminina . O “Club de Paris” era um <strong>do</strong>s mais famosos . Estes “inferninhos”<br />
ficavam , em sua maioria , no bairro de Vila Buarque que , por isto mesmo ,<br />
começou a ser chama<strong>do</strong> de “Vila Boate”. Ali muitas vezes fui ver meu amigo<br />
“Noite Ilustra<strong>da</strong>”. Foi ele o rei <strong>da</strong>s musicas de “<strong>do</strong>r de cotovelo”,<br />
principalmente nos finais de noite .<br />
Também surgiram nos anos 50 os restaurantes <strong>da</strong>nçantes típicos<br />
alemães . O primeiro deles , o “Zillertal” , inicialmente instala<strong>do</strong> no prédio<br />
que abrigava a Federação Paulista de Futebol , lá na Brigadeiro Luiz Antonio .<br />
Era por lá , com bastante descontração , que <strong>da</strong>nçávamos valsas ,<br />
xótes e marchinhas alemãs , to<strong>da</strong>s muito alegres e gostosas de ouvir . To<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> brincava e tomava chope . Muito chope . Era um lugar muito<br />
agradável.<br />
Estive por lá inúmeras vezes , com Tozinho Lara , Roberto Bratke,<br />
Aluisio e Sergio D’Avila , Caio Kiehl , Junqueira , Ademar Zacarias ,Antonio<br />
Duva , Vicente de Sylos , Sergio Caiubi , Ayrton Bacelar , Arnal<strong>do</strong> Paiva ,<br />
Hélio Vazone , Antonio Cintra Godinho e muitos outros amigos <strong>do</strong><br />
Paulistano.<br />
Dan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> cobertura para aqueles rapazes que curtiam a noite de<br />
São Paulo desenvolveram-se muitos outros restaurantes e bares que na ocasião<br />
funcionavam por to<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> .<br />
Desta forma , nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano , depois de praticar seus<br />
esportes e bater papo na sede <strong>do</strong> CAP , começou esticar sua noite . Ficou<br />
possível ver e ouvir cantores , cantoras , artistas em “shows” muito bem<br />
monta<strong>do</strong>s , paquerar na noite e depois cear ou comer qualquer coisa no correr<br />
<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> .<br />
Para tanto contávamos com restaurantes como “Parreirinha” (fazia a<br />
melhor feijoa<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite ) , o “Spa<strong>do</strong>ni”( com massas divinas ) , o “Moraes”<br />
(com seu famoso filé com agrião) . Atendiam maravilhosamente bem .<br />
Depois apareceu o “Gigetto” freqüenta<strong>do</strong> por artistas , nota<strong>da</strong>mente<br />
aqueles <strong>da</strong> televisão que começava . No Largo <strong>do</strong> Arouche estava instala<strong>do</strong> ,<br />
como até hoje ain<strong>da</strong> está , o “Gato Que Ri” com preços extremamente<br />
razoáveis . Sua “lasanha” era de <strong>da</strong>r água na boca .<br />
Para um lanche mais simples , estavam de prontidão durante a<br />
madruga<strong>da</strong> , entre outros , o “Sala<strong>da</strong> Paulista”( começou na Rua Dom José de<br />
Barros em frente a antiga sede <strong>do</strong> Clube Pinheiros e depois passou amplia<strong>do</strong><br />
para Av. Ipiranga ) – servia como prato chefe “maionese de batatas com<br />
salsichas” . O “Jeca” (na esquina <strong>da</strong> S. João com Ipiranga ) e o “Ponto Chic”<br />
(onde surgiu o famoso Bauru ) .
Na pior <strong>da</strong>s hipóteses , na volta para casa , tínhamos como opção os<br />
sanduíches <strong>do</strong> “Bar <strong>da</strong> Morte” . Ele ficava perto <strong>do</strong> final <strong>da</strong> Rua Augusta . Era<br />
o refugio de quem estava com pouco dinheiro .Tinha este apeli<strong>do</strong> porque era<br />
realmente muito sujo. Entretanto fazia um filé no pão muito gostoso . Era o<br />
único aberto na madruga<strong>da</strong> pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Jardim América .<br />
No la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Jardim Paulista existia o “Bar e Bilhares Benfica”. Ali as<br />
noites de paqueras frustra<strong>da</strong>s muitas vezes eram passa<strong>da</strong>s em jogos de sinuca .<br />
Eu gostava muito de sair a noite , mas como trabalhava e começava<br />
logo pela manhã , fui obriga<strong>do</strong> arrumar um “Horário Especial” para poder<br />
curtir a vi<strong>da</strong> noturna . Para tanto , durante os dias <strong>da</strong> semana , chegava ce<strong>do</strong><br />
em casa e por volta <strong>da</strong>s 19,30 horas ia <strong>do</strong>rmir .<br />
Deixava, entretanto, o desperta<strong>do</strong>r marca<strong>do</strong> para tocar as 22,30 . Por<br />
volta <strong>da</strong>s 22,45 horas já estava in<strong>do</strong> para algum lugar <strong>da</strong> noite , curtin<strong>do</strong><br />
alguma coisa com amigos . Ficava pela noite normalmente até as 2,00 <strong>da</strong><br />
madruga<strong>da</strong> . Depois voltava para casa e <strong>do</strong>rmia até as 6,15 horas .<br />
O sono atrasa<strong>do</strong> era desconta<strong>do</strong> sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos .<br />
To<strong>do</strong>s nossos amigos também gostavam de curtir um pouco <strong>da</strong> noite.<br />
Mas tinham alguns gostavam demais . Por isto mesmo também bebiam um<br />
pouco mais e estavam sempre um pouco mais alegres . Faziam um pouco<br />
mais de brincadeiras com to<strong>da</strong>s as coisas e com to<strong>da</strong>s pessoas .<br />
Porem sempre com alegria e respeito .<br />
Entre estes grandes bebe<strong>do</strong>res noturnos destaco com sau<strong>da</strong>des : Luiz<br />
Vicente de Sylos , Francisco Bonilha , Luiz Tambelini e o “Velu<strong>do</strong>”Pompeo<br />
de Tole<strong>do</strong> . Eram nossos “ Reis Voláteis <strong>da</strong>s Noites Paulistanas” . Cheios de<br />
histórias vivi<strong>da</strong>s que ficaram conheci<strong>da</strong>s e famosas .<br />
Uma delas : - Em um fim de noite no alto verão , muito quente , na<br />
volta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, paramos para tomar um refrigerante , obviamente diretamente<br />
no gargalo , no tal “Bar <strong>da</strong> Morte” , como sempre muito sujo .<br />
“Velu<strong>do</strong>” Pompeu aproveitou a para<strong>da</strong> e pediu um sanduíche de filé<br />
com queijo. Nisto foi lembra<strong>do</strong> , como gozação , que aquele sanduíche<br />
deveria vir repleto de “coliformes fecais”. Não teve duvi<strong>da</strong>s e respondeu ,<br />
morden<strong>do</strong> a pontinha <strong>do</strong> filé que estava de fora <strong>do</strong> pão : “É , mas os<br />
coliformes <strong>da</strong>qui são muito mais bem tempera<strong>do</strong>s ” .<br />
Depois ain<strong>da</strong> pediu : - “Salta um conhaque .” Justificava a bebi<strong>da</strong><br />
alcoólica dizen<strong>do</strong> que já era de madruga<strong>da</strong> e sempre esfriava um pouquinho ,<br />
mesmo no alto verão . Alem <strong>do</strong> que “mataria de porre os tais coliformes” .<br />
As noites de São Paulo sempre abrigavam boêmios alegres que<br />
quan<strong>do</strong> bebiam geravam muitas historias , algumas engraça<strong>da</strong>s . Muitas<br />
viraram pia<strong>da</strong>s .
“ BONILHA”<br />
Dentre estes amigos cabe destaque para Bonilha . Francisco Bosco<br />
Bonilha era durante o dia um executivo de primeira linha <strong>da</strong> General Eletric .<br />
Depois <strong>do</strong> expediente tornava-se um <strong>do</strong>s grandes boêmios desta ci<strong>da</strong>de .<br />
Tomava seus uísques no final <strong>da</strong> tarde e depois saia pela noite , beben<strong>do</strong> um<br />
pouco mais . Tinha uma resistência incrível , pois logo bem ce<strong>do</strong> , sem falta ,<br />
já ia trabalhar.Nunca faltava nem atrasava .<br />
Uma madruga<strong>da</strong> o encontramos no “Nick Bar” . Estava alegre ,<br />
brincan<strong>do</strong> com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> , contan<strong>do</strong> pia<strong>da</strong>s . Mas estava pra lá de alto .<br />
Começava perturbar e poderia <strong>da</strong>r trabalho . Precisava ir para casa ,pois<br />
estava cain<strong>do</strong> . De sono e de tanta bebi<strong>da</strong> . Falamos com ele e , com muito<br />
jeito , o levamos até um táxi , sempre encontra<strong>do</strong> estaciona<strong>do</strong> na porta .<br />
Foi deixa<strong>do</strong> senta<strong>do</strong> no banco de trás . Demos ordem ao motorista<br />
para levá-lo para onde ele pedisse .<br />
Alguns minutos depois o motorista voltou e disse que não era<br />
possível leva-lo para lugar algum .<br />
Perguntei por que não . Ele respondeu que , ca<strong>da</strong> vez que solicitava<br />
para onde ele iria , ou qual o seu destino , recebia sempre uma única e mesma<br />
resposta : “ Jamais saberás” !<br />
De outra feita estávamos em um grupo na Boate Oásis . Derrepente<br />
lá chegou, muito “mama<strong>do</strong>” , bem no fim <strong>da</strong> noite , nosso queri<strong>do</strong> Bonilha.<br />
Vinha tromban<strong>do</strong> com as cadeiras . Até que tomou assento na mesa onde<br />
estávamos com Manuel Mendes , seu irmão Ciro Mendes e o velho amigo Cid<br />
Ipiranga . Logo depois sentou e ficou resmungan<strong>do</strong> meio alto . Quan<strong>do</strong><br />
pergunta<strong>do</strong> qual a razão , foi responden<strong>do</strong> :<br />
-“A mulhera<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite esta ca<strong>da</strong> dia mais burra...”<br />
Fez um intervalo na sua explicação , chamou o garçom e disse :<br />
“Quero minha garrafa especial . Preciso de uma “Entradeira”. “Saideira”...<br />
nunca” ! Então , com aquela sua voz rouca de trombone , continuou :<br />
“ O problema foi o seguinte ... Na hora de pagar a ma<strong>da</strong>me puxei<br />
um cheque e o fui preenchen<strong>do</strong> . No valor exato que ela pedira . Quan<strong>do</strong> fui<br />
entregar o tal cheque, que era o ultimo , a jovem reclamou . Dizia que parte<br />
<strong>do</strong> preenchimento escrito tinha fica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> cheque . Que ficara escrito no<br />
cria<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>. Disse que assim meu cheque não valeria na<strong>da</strong> !” .<br />
“Fiquei puto ! Meu cheque sempre teve valor . Sempre !...”<br />
Quan<strong>do</strong> alguém ia começar explicar porque o cheque poderia não<br />
valer ele foi dizen<strong>do</strong> :
“Éra só aquela idiota levar o cheque com o cria<strong>do</strong> mu<strong>do</strong> ao banco”.<br />
“NICK BAR”<br />
O primeiro clube noturno que freqüentei com maior continui<strong>da</strong>de<br />
foi o “Nick Bar” . Ficava ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Teatro Brasileiro de Comédias , lá na Rua<br />
Major Diogo. Ao mesmo tempo que Ciccilo Matarazzo e Ziembisky cui<strong>da</strong>vam<br />
<strong>do</strong> teatro , Joe Kantor montou aquele bar pequenino . Como diz a canção ,<br />
grava<strong>da</strong> por Dick Farney, e que levou o nome de “Nick Bar” :<br />
“ Foi neste bar pequenino...onde encontrei meu amor ..., noites e<br />
noites seguin<strong>do</strong> ... vivo curtin<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>r ...”<br />
Era um lugar muito agradável . Local de encontro de intelectuais , de<br />
artistas <strong>do</strong> teatro , de gente <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de . Principalmente aquelas de teatro ,<br />
pois termina<strong>do</strong> o espetáculo muitos artistas <strong>do</strong> TBC paravam muitas vezes no<br />
Nick Bar. Para jantar ou jogar palavrinhas , também chama<strong>do</strong> de jogo <strong>do</strong><br />
“Mexe-Mexe”( estava na mo<strong>da</strong> ) . Ali sempre foi o melhor lugar para um bom<br />
bate papo na noite. Também ali era feito um “Picadinho no Molho” , com<br />
arroz , milho verde , ovo frito , banana frita e farofinha . Foi insuperável .<br />
Jose Maria era o pianista de primeira . Atendia to<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> .<br />
Alem <strong>do</strong> mais sempre simpático , sempre alegre , .<br />
Uma vez , quan<strong>do</strong> deu uma paradinha para descansar , o nosso<br />
queri<strong>do</strong> amigo Flavio Cayubi , que gostava de piano e tocava razoavelmente<br />
bem como ama<strong>do</strong>r , tomou conta <strong>do</strong> instrumento e ficou tocan<strong>do</strong> sem parar .<br />
Depois de dez minutos , um senhor chegou ao seu la<strong>do</strong> e perguntou<br />
se ele atendia pedi<strong>do</strong>s . Flavio respondeu : “Claro”.<br />
E o senhor então pediu : “- Pode parar ...”.<br />
Quem conta este fato <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> é meu cunha<strong>do</strong> Zéca Leal .<br />
Muitos amigos gostavam de ir ao Nick Bar :- Sergio D’Avila ,<br />
Sivinho Abreu , Zé Alfre<strong>do</strong> Galrão , Arnal<strong>do</strong> Paiva , Caio Kiehl , Luis Carlos<br />
Junqueira , Celso Lara Barberis e principalmente Mario Sergio .<br />
Naquele tempo Mario Sérgio era artista <strong>da</strong> Cinematográfica Vera<br />
Cruz e tinha acaba<strong>do</strong> de filmar , como galã , “Caiçara”.<br />
Ele ficava muito a vontade com o pessoal que trabalhava no teatro e<br />
no cinema . Eu gostava de ir com ele , pois era conheci<strong>do</strong> de muitas moças<br />
que tentavam um lugar como artista ou como “ponta” para cinema . Eram<br />
sempre bonitinhas e com o an<strong>da</strong>r <strong>da</strong> noite e uns drinques ficavam muito mais<br />
interessantes , tornan<strong>do</strong>-se companhia muito agradável ..
Muitas vezes lá encontrei Abílio Pereira de Almei<strong>da</strong> . Era uma<br />
figura muito queri<strong>da</strong> <strong>do</strong> Paulistano e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulista , principalmente<br />
por suas peças de sucesso . Lembro bem de “ Moral em Concor<strong>da</strong>ta”.<br />
Fui amigo de seu filho , hoje sumi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Lembro ain<strong>da</strong> que Cacil<strong>da</strong> Becker e Cleide Iaconis passavam sempre<br />
pelo o Nick Bar . Elas e outros grandes nomes femininos <strong>do</strong> meio artístico <strong>da</strong><br />
época como : Ilka Soares , Marisa Pra<strong>do</strong> , Tonia Carrero , Eliane Lage e<br />
Inesita Barroso . To<strong>da</strong>s muito lin<strong>da</strong>s .<br />
A única que ain<strong>da</strong> vejo algumas vezes é a “Vovó Inesita Barroso” ,<br />
lá no bar <strong>da</strong> piscina <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Até hoje não sei porque , depois de tantos anos , foi fecha<strong>do</strong> aquele<br />
lugar . O Nick Bar acabou . O TBC ain<strong>da</strong> continua .<br />
Nick Bar deixou sau<strong>da</strong>des pois era realmente a boate mais<br />
“inteligente” que conheci .Isto pelas pessoas que o freqüentavam .<br />
“O BIXIGA”<br />
Com nossas i<strong>da</strong>s ao “Nick Bar”, que como já disse ficava no Bairro<br />
<strong>do</strong> “Bixiga” ( Bela Vista) , acabamos descobrin<strong>do</strong> as cantinas e pequenos<br />
bares existentes naquela região .<br />
Eram locais freqüenta<strong>do</strong>s por boêmios , poetas , escritores ,<br />
compositores e músicos profissionais . To<strong>do</strong>s aqui de São Paulo .<br />
Ali tu<strong>do</strong> era muito mais simples e bem menos sofistica<strong>do</strong> . Cantinas<br />
com suas maravilhosas comi<strong>da</strong>s italianas , principalmente os antipastos .<br />
Guar<strong>do</strong> até hoje seus deliciosos sabores na lembrança .<br />
Recor<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> de uma pa<strong>da</strong>ria italiana que , quan<strong>do</strong> voltávamos<br />
para casa no raiar <strong>do</strong> dia , perfumava a madruga<strong>da</strong> com cheirinho típico e<br />
característico <strong>do</strong> pão fresco italiano .<br />
Era impossível não levar um <strong>da</strong>queles pães . A pa<strong>da</strong>ria ficava perto<br />
<strong>da</strong> “Saracura de Cima” . Não muito longe <strong>da</strong> “Saracura de Baixo” . Hoje estes<br />
locais praticamente tem outros nomes e o futebol que por ali se jogava não<br />
existe mais .<br />
No Bixiga , junto com Caio Kiehl , Junqueira , Mario Sergio e “Big<br />
Bob” Mauro Garcia , Otto Bendix e tantos outros amigos , conheci muitos<br />
<strong>da</strong>queles “<strong>do</strong>nos <strong>da</strong> noite” . A<strong>do</strong>niran Barbosa e os integrantes <strong>do</strong>s<br />
“Demônios <strong>da</strong> Garoa” fiquei conhecen<strong>do</strong> naquele barzinho que ficava perto <strong>do</strong><br />
Teatro Paramount , lá na Brigadeiro e que , naquele tempo , antes de pegar<br />
fogo , pertencia a Televisão Record .
Conheci os legítimos representantes <strong>do</strong> Bixiga : - Plínio Marcos ,<br />
Jorge Costa , Germano Matias ,Toniquinho e Tonicão , Geral<strong>do</strong> “Filme” e<br />
“Pato N’água” ( Diretor de Bateria e uma “briga tamanho família” ), bem<br />
como muitos participantes e compositores na Escola de Samba “Vai Vai”, ...<br />
lá pelos bares que ficavam na região .<br />
Várias vezes , naqueles pequenos bares, típicos <strong>do</strong> bairro ,<br />
tomávamos umas cervejas juntos com aquela gente simpática . O interessante<br />
é que to<strong>do</strong>s por ali falavam , mesmo os pretos brasileiros que lá residiam ,<br />
com um leve sotaque italiano . Influência <strong>da</strong> colônia que por ali inicialmente<br />
se instalara e por conta ain<strong>da</strong> de alguns italianos que por lá ain<strong>da</strong> viviam .<br />
Uma noite apareceu , em um <strong>da</strong>queles barzinhos , um negão alto e<br />
forte , aparentan<strong>do</strong> mais ou menos 50 anos . Muito simpático . Não tenho<br />
mais certeza de seu nome . Poderia ser Pingo ou Dingo . Não sei ao certo .<br />
Ficamos conversan<strong>do</strong> e ele aproveitan<strong>do</strong> para contar histórias aconteci<strong>da</strong>s no<br />
Bixiga . Bebia saborean<strong>do</strong> realmente ca<strong>da</strong> gole .<br />
Depois , ain<strong>da</strong> conosco , recebeu contínuos pedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus<br />
conheci<strong>do</strong>s para que interpretasse a “Uma Noite no Bexiga” . Depois de ficar<br />
sorrin<strong>do</strong> algum tempo não se fez de roga<strong>do</strong> , recitou uma história em versos ,<br />
de autoria <strong>do</strong> grande poeta Paulo Vanzolini (Também compositor de músicas<br />
de sucesso , tais como : “Ron<strong>da</strong>” e “Volta por Cima” ).<br />
Para declamar ele se transfigurou . Na reali<strong>da</strong>de deu um ver<strong>da</strong>deiro<br />
show de interpretação que nunca mais esqueci . Ficamos aplaudi<strong>do</strong> muito<br />
tempo . Ele sorrin<strong>do</strong> de felici<strong>da</strong>de . Quan<strong>do</strong> retornou para nossa mesa pedi a<br />
letra <strong>da</strong>quela poesia que leva por titulo : - “Pelas Ruas <strong>do</strong> Bixiga” .<br />
Ele puxou umas folhas de dentro <strong>do</strong> paletó e ali mesmo ganhei a<br />
cópia <strong>da</strong>queles versos . Ele informou que não teria problemas . Seria um<br />
prazer . Já os conhecia de cor .<br />
Tempos mais tarde tomei conhecimento que Bibi Ferreira fez grande<br />
sucesso declaman<strong>do</strong> em teatro aquela obra bem paulistana <strong>do</strong> Paulo Vanzolini.<br />
Li e reli inúmeras vezes a tal poesia durante muitos anos . Era um<br />
retrato bem paulista <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> Bixiga . Com o tempo ficou em minha<br />
memória , por ser muito diferente e muito ter <strong>do</strong> aspecto regional <strong>da</strong> minha<br />
terra . Por isto mesmo , por representar o Bixiga muito bem , vou tentar<br />
reproduzi-la ( somente o primeiro e o ultimo verso) <strong>do</strong> jeito que lembro .<br />
Paulo Vanzolini que per<strong>do</strong>e as minhas possíveis falhas na<br />
transcrição , pois o original já perdi , desde muitos anos.<br />
Tava num dia azara<strong>do</strong> ...<br />
Meio bebi<strong>do</strong> ... mama<strong>do</strong><br />
“Pelas Ruas <strong>do</strong> Bexiga”
Queren<strong>do</strong> puxá briga<br />
Lá prus la<strong>do</strong> du Bixiga<br />
Quan<strong>do</strong> inscutei uma orquestra .<br />
Taquei meu “pincenes”<br />
I sai apercuran<strong>do</strong> a festa .<br />
Num custei na<strong>da</strong> incontrá !<br />
Mais só pra mi atrapaiá<br />
Na porta tinha um letreiro<br />
Ingressu : Quatru cruzeiro ...!<br />
I eu tava zero di vento .<br />
Mais gostei du movimento<br />
I pensei cá minha cabeça :<br />
Vô pô u corpu pra dentru !<br />
...Ali despois começô a dispara<strong>da</strong> ...<br />
Descemus as isca<strong>da</strong> in treis pulo<br />
Pulemus uns cinco véio muro<br />
Corremus quatro quadra qui para<strong>da</strong> ,<br />
Dispois paremus pra arrespirá ...!<br />
Foi quan<strong>do</strong> a morena alembrô di aperguntá :<br />
“ Cabo Véio ...qui horas qui são ?<br />
Sei lá ... era treis i trinta quan<strong>do</strong> dei arteração ...!<br />
“Xi ... quem mi vê contigo assim<br />
Que qui vai pensá de mim...? ”<br />
Ri com a bossa <strong>da</strong> minha santa<br />
Bem no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> garganta ...<br />
I discutin<strong>do</strong> nossa briga<br />
Sumimus na madruga<strong>da</strong><br />
Pela ruas <strong>do</strong> Bixiga ...<br />
Nunca deixávamos de ir ao Bixiga , mesmo que fosse só para jantar<br />
e neste caso , para variar , comer perna de cabrito assa<strong>do</strong> , com sala<strong>da</strong> de<br />
alface “Laetuga”. As vezes nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano era grande e ficava<br />
difícil encontrar pernas de cabritos para 10 esportistas famintos . Mas sempre<br />
se <strong>da</strong>va um jeito , dividin<strong>do</strong> uma perna com o companheiro que estava com<br />
água na boca .
“FESTAS DO FANTASMA”<br />
Na Rua Itambé , nos i<strong>do</strong>s de 1956 , bem em frente <strong>do</strong> Mackenzie ,<br />
existia uma casa muito velha . Estava mesmo cain<strong>do</strong> aos pe<strong>da</strong>ços , sem portas<br />
e com um buraco no teto . Sobrara só uma parte <strong>do</strong> 1º an<strong>da</strong>r.<br />
Então nossos amigos <strong>do</strong> Paulistano <strong>da</strong> Turma de Arquitetura <strong>do</strong><br />
Mackenzie , aqueles que to<strong>do</strong>s os dias por ali passavam , resolveram que era<br />
o local ideal para realização de uma festa .<br />
Não uma festa qualquer , mas a “Festa <strong>do</strong> Fantasma”.<br />
Faríamos uma festa de fantasias . A primeira “Festa <strong>do</strong> Fantasma”.<br />
Seriam arreca<strong>da</strong><strong>do</strong>s com os amigos valores necessários para comes e bebes ,<br />
para música e decoração . Naquele tempo uma festa naqueles moldes era um<br />
espanto , fora de qualquer padrão .<br />
Mas quem convi<strong>da</strong>ria para tal festa ? Depois de algum tempo ficou<br />
resolvi<strong>do</strong> que o “<strong>Casa</strong>l Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> <strong>da</strong> Cunha” fariam as vezes <strong>do</strong>s anfitriões .<br />
Quem eram os Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Cunha ?<br />
Como dizia o Bonilha : “Jamais saberás...”<br />
Na reali<strong>da</strong>de nunca existiu , mas to<strong>do</strong>s os convites foram impressos<br />
em seu nome . E distribuí<strong>do</strong>s devi<strong>da</strong>mente . (Guar<strong>do</strong> um deste convite de<br />
lembrança até hoje ).<br />
Ficou acerta<strong>do</strong> que não seria festa para mocinhas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de ,<br />
acompanha<strong>da</strong>s pelas mamães . As convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s e homenagea<strong>da</strong>s seriam :<br />
nossas conheci<strong>da</strong>s na noite , algumas outras que gostavam de programas<br />
diferentes , coristas <strong>do</strong> teatro rebola<strong>do</strong> e outras interessa<strong>da</strong>s ... Realmente<br />
seria uma festa fora <strong>do</strong>s padrões normais para aquele tempo .<br />
Interessante é que , quan<strong>do</strong> souberam <strong>da</strong> tal festa , algumas<br />
desquita<strong>da</strong>s mais alegres e algumas estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> antiga Facul<strong>da</strong>de de<br />
Filosofia , que ficava perto , insistiram em ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s . Diziam que com<br />
as mascaras e fantasias , esconden<strong>do</strong> personali<strong>da</strong>des , escondiam tu<strong>do</strong> mais .<br />
O grupo organiza<strong>do</strong>r ,que era lidera<strong>do</strong> por Danilo Penna , Sérgio<br />
D’Avila , Mauricio Soriano , Alberto Botti , Arnal<strong>do</strong> Paiva , Didi Gui<strong>do</strong>tti e<br />
Mark Rubin , começou a trabalhar . Arreca<strong>da</strong>ram- se os recursos necessários<br />
com os amigos que participariam <strong>da</strong> tal festa . As paredes internas foram<br />
pinta<strong>da</strong>s com motivos fantasmagóricos e decora<strong>da</strong>s com bolas de gás . Tu<strong>do</strong><br />
visan<strong>do</strong> esconder a sujeira . Alugou-se um “Caixão de Defunto , devi<strong>da</strong>mente<br />
coloca<strong>do</strong> em um canto <strong>da</strong> sala” . O gelo seco cui<strong>da</strong>ria de fazer muita neblina .<br />
A música eletrônica viria via baterias , pois eletrici<strong>da</strong>de não existia .
Como a casa não tinha luz elétrica foram usa<strong>do</strong>s alguns lampiões e<br />
muitas velas . Eles mostraram que teríamos uma luz muito fraca . Iria ficar<br />
bem escurinha aquela festa .<br />
O ambiente ficou apropria<strong>do</strong> para uma “Festa de Fantasma” .<br />
Na tarde <strong>do</strong> dia marca<strong>do</strong> , uma sexta feira de Agosto , fomos buscar<br />
as bebi<strong>da</strong>s e sanduíches . Ao anoitecer colocamos varias cruzes pinta<strong>da</strong>s de<br />
branco nos jardim <strong>da</strong> frente . Quan<strong>do</strong> escureceu , um pouco antes <strong>do</strong> início <strong>da</strong><br />
festa , foram acesas , naquele mesmo jardim , quase 100 velas brancas .<br />
A casa ficou estranha , parecen<strong>do</strong> mais um estranho velório .<br />
Quem passava pela rua , em frente <strong>da</strong> casa , até se benzia ou fazia o<br />
sinal <strong>da</strong> cruz .<br />
Por volta <strong>da</strong>s 21 horas os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s e convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s começaram a<br />
chegar . Moças que não tinham convite podiam entrar . Homens não !<br />
Vinham to<strong>do</strong>s fantasia<strong>do</strong>s de múmias , bruxas , de corcun<strong>da</strong>s ,<br />
dráculas e de tu<strong>do</strong> que podia ser estranho. Quem não tinha fantasia colocava<br />
um lençol na cabeça , amarra<strong>do</strong> no pescoço , deixan<strong>do</strong> apenas o rosto de fora .<br />
Os lençóis eram de to<strong>da</strong>s as cores e de to<strong>do</strong>s tamanhos . Deram um ar<br />
diferente naquela noite .<br />
Quan<strong>do</strong> se olhava aquele conjunto de fantasia<strong>do</strong>s , beben<strong>do</strong> e<br />
<strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> com os lençóis giran<strong>do</strong> no ar , no meio <strong>da</strong> penumbra , ao la<strong>do</strong><br />
de um caixão de defunto , na neblina provoca<strong>da</strong> pelo gelo seco e <strong>da</strong>s velas<br />
acesas tínhamos impressão que realmente era coisa de outro mun<strong>do</strong>.<br />
A alegria tomou conta de to<strong>do</strong>s . A festa foi um tremen<strong>do</strong> sucesso<br />
que só terminou quan<strong>do</strong> o dia de saba<strong>do</strong> estava com o sol surgin<strong>do</strong> . To<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> estava no mínimo meio de pilequinho .<br />
Problemas normalmente surgiram com alguns rapazes <strong>da</strong> “Turma <strong>da</strong><br />
Barão”que pretendiam furar nossa festa . Apesar <strong>da</strong>s brigas os penetras não<br />
entraram . O sucesso <strong>da</strong> festa muito comenta<strong>do</strong> por vários dias ,<br />
principalmente na noite <strong>da</strong> “Paulicéia Desvaira<strong>da</strong>” ´- como dizia aquele<br />
cronista conheci<strong>do</strong> ..<br />
Aquele tipo de festa abriu possibili<strong>da</strong>des para realização de outras<br />
<strong>do</strong> mesmo tipo . To<strong>da</strong> vez que descobríamos uma casa , para vender ou<br />
aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> para futura construção , dávamos uma boa gorjeta para o vigilante<br />
e surgia a mais “Nova Festa <strong>do</strong> Fantasma” , promovi<strong>da</strong> naturalmente pelo<br />
“<strong>Casa</strong>l Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> <strong>da</strong> Cunha”.<br />
Uma delas ocorreu em Higienópolis , bem atrás <strong>do</strong> Colégio Sion .<br />
Como a barulheira era muito grande , pois até orquestra havia si<strong>do</strong> contrata<strong>da</strong> ,<br />
as freiras <strong>do</strong> tal colégio reclamaram com a policia .
Não deu outra . O investiga<strong>do</strong>r que lá chegou com outros policiais ,<br />
por volta <strong>da</strong>s duas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> , achou a festa maravilhosa . Só queria saber<br />
quem era o responsável pela sua realização . Com o aparecimento <strong>do</strong><br />
responsável a festa poderia continuar. Mas como o “<strong>Casa</strong>l Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
Cunha” nunca poderia estar presente ele foi obriga<strong>do</strong> a acabar com a festa .<br />
A Última “Festa <strong>do</strong> Fantasma” que realizamos aconteceu em 1963,<br />
na casa <strong>do</strong> Luiz Carlos Junqueira . Era uma casa enorme , com enorme área<br />
verde e arvores , situa<strong>da</strong> no Jardim Paulistano . Seu pai a colocara para ven<strong>da</strong><br />
e estava vazia . Não houve duvi<strong>da</strong>s. Iria acontecer mais uma festa <strong>da</strong>quelas .<br />
Caio Kiehl , Bob Mauro Garcia , Otto Bendix , Luiz Carlos<br />
Junqueira e Zizínho Papa cui<strong>da</strong>riam <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s recursos , <strong>da</strong><br />
orquestra , <strong>do</strong>s convites e <strong>da</strong>s compras . Eu fiquei encarrega<strong>do</strong> <strong>da</strong> decoração .<br />
Tu<strong>do</strong> deu muito trabalho . O tempo para sua realização derrepente<br />
ficou pouco pois a casa já estava praticamente vendi<strong>da</strong> . O jeito foi acelerar<br />
tu<strong>do</strong> . A luta passou a ser contra o tempo .<br />
Ficamos saben<strong>do</strong> que a repercussão para os convites foi enorme .<br />
To<strong>do</strong>s queriam participar . Distribuímos 300 convites somente para mulheres .<br />
No dia <strong>da</strong> festa a decoração fantasmagórica havia fica<strong>do</strong><br />
interessante. Tinha de tu<strong>do</strong> . Morcegos pendura<strong>do</strong>s no teto , um grande Bu<strong>da</strong><br />
de gesso pinta<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> com velas ao la<strong>do</strong> , caixão de defunto com<br />
defunto , guilhotina com cabeça caí<strong>da</strong> ao seu la<strong>do</strong> , teias com enormes<br />
aranhas , uma forca com seu enforca<strong>do</strong> e muita fumaça de gelo seco . A<br />
iluminação foi feita apenas com pequenas lâmpa<strong>da</strong>s roxas e vermelhas que<br />
piscavam lentamente . Assim deixavam momentos de pouca luz e momentos<br />
de escuridão , que não era total graças as velas acesas coloca<strong>da</strong>s junto ao<br />
caixão de defunto .<br />
No meio disto tu<strong>do</strong> muitas mulheres bonitas , profusão de fantasias<br />
exóticas , mesas com baldes de gelo e suas champanhes , garrafas de uísque e<br />
uma pequena orquestra . O conjunto como um to<strong>do</strong> era de bonito e exótico .<br />
Quan<strong>do</strong> a festa tomava embalo deu para perceber que muitas garotas<br />
conheci<strong>da</strong>s , vestin<strong>do</strong> mascaras e fantasias para esconder suas identi<strong>da</strong>des ,<br />
estavam presentes. Era um sinal <strong>do</strong>s tempos , mediante advento <strong>da</strong> pílula anti<br />
concepcional . A mulher realmente começava se libertar sexualmente .<br />
Depois que a festa começou a pegar fogo , pois a maioria <strong>do</strong>s<br />
convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s já havia chega<strong>do</strong> , tivemos um problema . Por causa dele , Caio ,<br />
Junqueira e eu , fomos obriga<strong>do</strong>s a sair <strong>da</strong> casa , irmos até a rua e <strong>da</strong>r algumas<br />
panca<strong>da</strong>s nos penetras <strong>da</strong> “Turma <strong>da</strong> Barão” .<br />
Estavam perturban<strong>do</strong> a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> festa e precisavam ser conti<strong>do</strong>s .
Na volta <strong>da</strong>quela confusão , no escuro , ao pular o muro para não<br />
abrir o portão e ver penetra tentan<strong>do</strong> entrar , cai com o pé em cima de uma<br />
torneira <strong>do</strong> jardim . Doeu muito o calcanhar . Tomei vários analgésicos mas<br />
continuou <strong>do</strong>en<strong>do</strong> a noite to<strong>da</strong> . Fui obriga<strong>do</strong> a <strong>da</strong>nçar somente na ponta <strong>do</strong> pé<br />
esquer<strong>do</strong> . Meio manco .<br />
Mas a festa continuou até o dia raiar . Foi um sucesso . Ficou na<br />
lembrança . Somente pela manhã <strong>do</strong> outro dia é que fui procurar um médico .<br />
Quem me levou foi o Big Bob Garcia que estu<strong>da</strong>va medicina .<br />
Então tomei conhecimento que havia quebra<strong>do</strong> um tal de “osso<br />
calcâneo” . Continuei manco por mais de três meses.<br />
TIRO NO LAMPIÃO<br />
Quan<strong>do</strong> não tínhamos melhores programas aparecia sempre um jogo<br />
de <strong>da</strong><strong>do</strong>s denomina<strong>do</strong> “Crepe” , também chama<strong>do</strong> de “Seven Eleven” .<br />
Ele ocorria na Rua Honduras , debaixo de um lampião , <strong>do</strong> outro<br />
la<strong>do</strong> onde fica a porta principal <strong>do</strong> Paulistano , sempre depois <strong>da</strong> 22 horas . No<br />
club este jogo era proibi<strong>do</strong> .<br />
Então apareciam , entre outros , nossos três amigos <strong>da</strong> família<br />
Daccache , Paulinho Fleury , Duva , Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro <strong>da</strong> Silva , Leo<br />
Bergman , Fernan<strong>do</strong> Pondé , Belmiro Dias , os irmãos Coutinho , César<br />
Giuliano e seu irmão “Ratinho Giuliano”, Léo Berman , Junqueira e muito<br />
mais conheci<strong>do</strong>s que por ali passavam .<br />
Jogava quem tinha vontade . Lembro ain<strong>da</strong> que muitos joga<strong>do</strong>res de<br />
cartea<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> saiam <strong>do</strong> clube , também paravam para experimentar a<br />
sorte com os <strong>do</strong>is <strong>da</strong>dinhos . Principalmente aqueles que haviam perdi<strong>do</strong> nas<br />
cartas .<br />
Caso algum carro <strong>da</strong> policia passasse pelo local os <strong>da</strong>dinhos eram<br />
joga<strong>do</strong>s para o jardim <strong>da</strong> casa em frente . Sumiam .<br />
Pois bem , em uma noite que estávamos fazen<strong>do</strong> hora para início <strong>do</strong><br />
jogo de “crepe” , lá na sala de sinuca <strong>do</strong> clube , recebi um telefonema <strong>do</strong> Caio<br />
Kiehl . Falava <strong>da</strong> casa <strong>do</strong> Vicente de Sylos . Foi dizen<strong>do</strong> :<br />
“ Edu , estamos precisan<strong>do</strong> de você agora .Agora ! Um grupo de<br />
pessoas esta tentan<strong>do</strong> invadir a casa e se conseguirem vão quebrar tu<strong>do</strong> .<br />
Estão em numero de seis , alem de um “Leão de Chácara” que veio<br />
junto .<br />
Perguntei a razão e Caio informou :- Vicente tinha toma<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />
seus pilequinhos e feito <strong>da</strong>s suas palhaça<strong>da</strong>s em uma casa de família ,
justamente com as irmãs <strong>da</strong>queles que agora estavam ali no portão <strong>da</strong> casa .<br />
Os namora<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s duas também vieram . Disse que a coisa estava feia .<br />
Lá no Paulistano , naquele momento estavam somente o César<br />
Giuliano , seu irmão “Ratinho” e Paulinho Fleury . Quan<strong>do</strong> contei o que<br />
estava acontecen<strong>do</strong> se prontificaram a ir comigo para casa <strong>do</strong> Vicente . Para o<br />
que der e vier .<br />
Naquele tempo a união de nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano ain<strong>da</strong> existia .<br />
Era forte e continua .<br />
Fomos até a Rua Haiti onde Vicente morava . Parei o carro na<br />
esquina e chegamos a pé até lá .<br />
Avistei aquele pessoal perto <strong>do</strong> portão <strong>da</strong> casa . Logo reconheci<br />
to<strong>do</strong>s . Eram meus vizinhos <strong>do</strong> Jardim Paulista . Moravam na rua de trás , a<br />
Groenlândia . O “Leão de Chácara” também era conheci<strong>do</strong> , pois eu havia<br />
ganho dele no “braço de ferro” em um barzinho , lá pelos la<strong>do</strong>s de Pinheiros .<br />
Ficou mais fácil conversar quan<strong>do</strong> cheguei até eles . Perguntei a<br />
razão <strong>da</strong>quele movimento . Recebi como resposta que Luiz Vicente havia<br />
cometi<strong>do</strong> gracinhas e grosserias com suas irmãs e namora<strong>da</strong>s , em uma festa.<br />
Isto eles não iam aturar .<br />
Dei razão e comentei que , se realmente o fato aconteceu , Luiz<br />
Vicente faltara no trato com as moças . Depois fiquei tentan<strong>do</strong> acalmar os<br />
ânimos . Disse ain<strong>da</strong> que aquela briga só poderia trazer problemas para ambos<br />
os la<strong>do</strong>s. Não faria bem para ninguém .<br />
Durante aquele tempo to<strong>do</strong> César Giuliano , seu irmão e Paulinho<br />
Fleury ao meu la<strong>do</strong> . Quietos mas demonstran<strong>do</strong> firmeza . Foram ótimos .<br />
Por fim consegui convencer aquele pessoal que a melhor solução<br />
era levar Vicente para pedir humildemente desculpas para as mocinhas . Eles<br />
concor<strong>da</strong>ram . Disseram , entretanto, que Vicente não precisava ir até a casa.<br />
Não seria bem-vin<strong>do</strong> . Bastaria pedir desculpas em frente to<strong>do</strong>s que ali<br />
estavam .<br />
Alivia<strong>do</strong> entrei na casa , contei o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> conversa e falei que<br />
Vicente teria que se desculpar pela malcriação feita . Ele concor<strong>do</strong>u .<br />
Então saímos e fomos ao encontro <strong>do</strong>s nossos amigos e <strong>da</strong>queles<br />
rapazes . Lá chegan<strong>do</strong> Vicente pediu muitas desculpas e solicitou que as<br />
mesmas fossem transmiti<strong>da</strong>s para suas irmãs . Pediu ain<strong>da</strong> que sua falta fosse<br />
per<strong>do</strong>a<strong>da</strong> pois ele reconhecia que estava erra<strong>do</strong> . Muito erra<strong>do</strong> .<br />
Aquele pronunciamento agra<strong>do</strong>u e acalmou to<strong>do</strong>s .<br />
Até aquele momento Caio estava quieto . Quan<strong>do</strong> começamos nos<br />
despedir ele falou que “Graças a Deus” não foi necessário violência , pois ele,<br />
por acaso voltan<strong>do</strong> de viagem , estava arma<strong>do</strong> . E caso tentassem invadir a<br />
casa seria obriga<strong>do</strong> a se defender .
Então , como to<strong>do</strong>s fizeram cara de desconfiança , até eu , ele<br />
mostrou um pequenino revolver .<br />
O “Leão de Chácara” , depois de olhar a arma na mão <strong>do</strong> nosso<br />
amigo, disse que era apenas um revolver de brinque<strong>do</strong> .<br />
Caio nem respondeu .<br />
Apontou o revolver para o lampião <strong>da</strong> rua e disparou .<br />
A lâmpa<strong>da</strong> apagou e os cacos caíram no chão .<br />
Depois só deu silencio ...<br />
.
TURMA DO PAULISTANO E AMIGOS DO HARMONIA<br />
Edu Marcondes<br />
O Paulistano de Ontem e de Hoje – A Velha Turma <strong>do</strong> Paulistano –<br />
O Pessoal <strong>do</strong>s “100 Por Hora”- Mais Amigos chegam ao Paulistano<br />
-<br />
Naqueles i<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 50/60 a convivência dentro <strong>do</strong> Paulistano<br />
era antes de mais na<strong>da</strong> de fraterni<strong>da</strong>de . Realmente muito gostosa . To<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> era amigo e se sentia queri<strong>do</strong> . Hoje é um tanto diferente .<br />
Hoje o CAP cresceu muito em seu quadro social , muito além de sua<br />
capaci<strong>da</strong>de física instala<strong>da</strong> . A maioria <strong>do</strong>s sócios praticamente agora não<br />
conhece os demais . Nem poderia . Atualmente é como viver em uma ci<strong>da</strong>de<br />
de 30,000 habitantes . Não podemos conhecer to<strong>do</strong>s .<br />
Desta maneira a convivência <strong>do</strong>s freqüenta<strong>do</strong>res é atualmente<br />
sempre realiza<strong>da</strong> mediante pequenos grupos que se formam . Grupo <strong>do</strong> Tênis ,<br />
<strong>da</strong> Natação , <strong>da</strong> Ginástica , <strong>do</strong>s Jogos de Cartas , <strong>do</strong> Bilhar , <strong>do</strong>s que gostam de<br />
Política Interna , <strong>do</strong>s Freqüenta<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Bares , <strong>do</strong>s enxadristas e de outros<br />
mais .<br />
A grande maioria <strong>do</strong>s sócios mal se cumprimenta .<br />
Hoje não existe mais um To<strong>do</strong> mas “Pequenas Facções” .<br />
Praticamente desapareceu a “Turma <strong>do</strong> Paulistano”<br />
Os valores são diferencia<strong>do</strong>s . Sinal <strong>do</strong>s tempos.<br />
Hoje também existe uma tal de “Oposição”. Normalmente forma<strong>da</strong><br />
por sócios mais novos . Pergunta : Oposição a que ? Por que ? O que querem ?<br />
Na reali<strong>da</strong>de dão a entender que querem é o “Poder de Man<strong>do</strong>” ,<br />
achan<strong>do</strong> que sabem mais que to<strong>do</strong>s , apesar de menos tempo de clube !<br />
Demonstram ter menores conhecimentos e melhor entendimentos<br />
sobre o que foi e o que é nosso clube .<br />
De desconhecer as nossas Tradições <strong>do</strong> Paulistano .<br />
As Tradições são forma<strong>do</strong>ras de nossa “Alma Mater” , ela que<br />
sempre poderá levar o Paulistano de forma Digna . Sempre Digna !<br />
Lembro bem que tu<strong>do</strong> anteriormente foi bem diferente . Os sócios <strong>do</strong><br />
clube formavam uma Grande Família . Por sinal muito uni<strong>da</strong> . Sempre .<br />
Ninguém ficava isola<strong>do</strong> em uma mesa ou num canto <strong>do</strong> bar ( fato<br />
que impressiona atualmente, principalmente quan<strong>do</strong> vejo um sócio almoçan<strong>do</strong><br />
só ou mesmo beben<strong>do</strong> ... sem ninguém ao la<strong>do</strong> , sem companhia ! )<br />
O clube , como um to<strong>do</strong> , então Transmitia Alegria em qualquer<br />
lugar. Na Sede , na Piscina , no Ginásio , nos Terraços e Jardins . Nas quadras
de Tênis . To<strong>do</strong>s estavam sempre alegres , sorrin<strong>do</strong> . A atmosfera era<br />
realmente muito diferente . Muito mais descontraí<strong>da</strong> .<br />
Não existiam inúmeros pequenos grupos falan<strong>do</strong> baixinho e , por<br />
vezes , de cara amarra<strong>da</strong> . Agora sobram estes grupos . Falam sobre o que ?<br />
Política interna ? Fofocas... sobre o que ? Negócios ? Quem sabe , ou<br />
ninguém sabe sobre o que ? Tu<strong>do</strong> gira aparentemente , agora , em torno de<br />
sigilo , de “muito sigilo” . De estranho sigilo !<br />
O fato é que a espinha <strong>do</strong>rsal de uma Comuni<strong>da</strong>de foi quebra<strong>da</strong> .<br />
Deixou de existir total União e Fraterni<strong>da</strong>de . Hoje praticamente desapareceu<br />
o espírito <strong>da</strong> “Turma <strong>do</strong> Paulistano” . O espírito de Fraterni<strong>da</strong>de . Ele que era<br />
parte <strong>da</strong> “Alma Mater” de nossa gente .<br />
Hoje o que prepondera é a crítica , contínua de um grupo ou de<br />
pessoas , contra outros grupos ou contra outras pessoas . Dá para entender<br />
que existe inveja no ar . Em paralelo muito fingimento .<br />
O Paulistano deixou de ser, como foi durante tantos e tantos anos , a<br />
continuação de nossas casas . Sócios que não tem a mesma formação familiar<br />
e social . Problema advin<strong>do</strong> <strong>do</strong> numero excessivo de associa<strong>do</strong>s . Isto ain<strong>da</strong><br />
pode crescer , com “Títulos Especiais” para filhos de sócios .<br />
Tu<strong>do</strong>, na reali<strong>da</strong>de , começou com a Ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s tais “Títulos” que<br />
inicialmente <strong>da</strong>vam aos sócios adquirentes a vantagem de , ao ficarem<br />
remi<strong>do</strong>s, não mais pagar mensali<strong>da</strong>des. De ter um Titulo Que Valia Bastante.<br />
Lembro que fiz parte de um grupo minoritário que entendeu que...<br />
“Se to<strong>do</strong>s ficassem Remi<strong>do</strong>s o Paulistano iria para a Falência” , pois não<br />
teria recursos para se manter. Quem iria pagar to<strong>da</strong>s as despesas ?<br />
Fomos votos venci<strong>do</strong>s .<br />
Os tais “Títulos” , que permitiram a entra<strong>da</strong> de muitos novos sócios,<br />
foram vendi<strong>do</strong>s sob alegação de necessi<strong>da</strong>de de recursos para novas<br />
construções. Porem enten<strong>do</strong> que elas , as tais construções, não precisavam<br />
serem tantas inicialmente, pois poderiam ser feitas com muitos menos<br />
recursos e de forma mais austera .<br />
Para tanto existia um Plano de Reformas e Ampliação , elabora<strong>do</strong><br />
pela Presidência de Antonio Pra<strong>do</strong> . Procurei saber onde foi parar . Ninguem<br />
sabe . Muitos tinham idéia de arreca<strong>da</strong>r inicialmente somente para Reforma e<br />
Ampliação <strong>da</strong> Sede e a Construção de Nova Piscina. O resto ficaria para<br />
depois . Com o tempo . Não quiseram !...<br />
O Paulistano foi então dimensiona<strong>do</strong> e reforma<strong>do</strong> para um total de,<br />
no máximo , 5.000 freqüenta<strong>do</strong>res . Antes éramos 3.000 sócios .
Não existem boas explicações .Hoje já estamos com mais de 27.000<br />
.<br />
Ocorre que pelo final <strong>do</strong>s anos 70 a reali<strong>da</strong>de apareceu . Verificou-se<br />
que as arreca<strong>da</strong>ções existentes , ca<strong>da</strong> vez mais decrescentes , iriam inviabilizar<br />
a sua existência . As pressas foi altera<strong>do</strong> o Estatuto Social . Então ...<br />
Os Títulos que eram Patrimoniais “Por Mágica” viraram Sociais .<br />
Agora não sen<strong>do</strong> patrimoniais... não tem valor .<br />
Os sócios que tinham um Titulo Patrimonial perderam seu<br />
Patrimônio . Os títulos hoje praticamente na<strong>da</strong> valem . Principalmente<br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com a famosa Taxa de Transferencia”<br />
Antes , quem ficasse remi<strong>do</strong> não poderia vender o título .<br />
Agora é obriga<strong>do</strong> a vender . Assim , com o mesmo numero de títulos,<br />
o numero de sócios aumentou e vai continuar aumentan<strong>do</strong> . Por ca<strong>da</strong> sócio<br />
que fica remi<strong>do</strong> teremos pelo menos mais 4 . Ca<strong>da</strong> sócio que fica remi<strong>do</strong> e<br />
vende o titulo abre a válvula para entra<strong>da</strong> de mais 4 ou 5 sócios<br />
freqüenta<strong>do</strong>res.<br />
São eles os sócios dependentes <strong>do</strong>s titulares que compraram o titulo .<br />
Depois , para evitar a per<strong>da</strong> de receita , POR NÓS PREVISTA<br />
QUANDO DO LANÇAMENTO INICIAIS DOS TITULOS, novos títulos<br />
foram então vendi<strong>do</strong>s . E parece que querem lançar mais outros .<br />
Entretanto , estes não tem direito para Remissão .<br />
Quem estava certo ?<br />
Parece porem que estu<strong>da</strong>m “Nova Remissão” !!?? Sei lá ...<br />
Como falam atualmente :-“ O CAP foi democratiza<strong>do</strong>”.<br />
Assim sen<strong>do</strong> , sua atual estrutura física instala<strong>da</strong> ficou incapacita<strong>da</strong> ,<br />
com quase 27.000 pessoas que podem hoje freqüentar o Paulistano . E podem<br />
chegar a 40.000 . É só multiplicar 9.500 títulos por 4/5 pessoas .<br />
O clube ficou pequeno para tanta gente . Não cresceu . Inchou !<br />
É mesmo maior que muita ci<strong>da</strong>de brasileira em numero de habitantes.<br />
Muito maior em arreca<strong>da</strong>ção . Entretanto , sem espaço físico para tanto !<br />
O pior é que os tais “Títulos”, que foram lança<strong>do</strong>s com determina<strong>do</strong> e<br />
eleva<strong>do</strong> valor , hoje pouco valem . Quase na<strong>da</strong> ! Não são mais títulos<br />
patrimoniais . Agora para entrar como sócio é necessário pagar caríssima<br />
“Transferência de Titulo”. Na reali<strong>da</strong>de voltamos a forma anterior , ou seja :<br />
E´preciso pagar o que antigamente era chama<strong>do</strong> de “Jóia” .<br />
.<br />
Sairá sempre um sócio mas entrarão mais quatro , em média (por<br />
família) . O crescimento de freqüenta<strong>do</strong>res será sempre geométrico . Patético !
Falta pura de visão administrativa para longo prazo <strong>do</strong>s anteriores<br />
dirigentes .<br />
Este Grave Problema passou para a atual Presidência .<br />
Assim meu amigo Antonio Carlos Salem vai ter que “descascar o<br />
abacaxi e carregar o piano” . Tu<strong>do</strong> ao mesmo tempo .<br />
Com isto e o crescente numero de sócios, vamos perceber que<br />
praticamente aconteceu o inevitável :<br />
Desapareceu o espírito <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Nossa grande união sumiu como um to<strong>do</strong> . Temos até oposição !<br />
Para que não paire duvi<strong>da</strong>s vou contar , claro que com sau<strong>da</strong>des .<br />
- A Turma <strong>do</strong> Paulistano<br />
Antes de mais na<strong>da</strong> lembramos mais uma vez e novamente que<br />
existia uma grande fraterni<strong>da</strong>de toman<strong>do</strong> conta de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s . To<strong>do</strong>s se<br />
sentiam como grandes amigos fraternais e assim agiam . Bastava adentrar ao<br />
Paulistano para se sentir em casa . Era chegar e ser recebi<strong>do</strong> com abraços e<br />
sau<strong>da</strong>ções alegres e muita festa . Ninguem ficava só .<br />
To<strong>do</strong>s se conheciam muito bem . As amizades vinham de muito<br />
tempo . Muitas vezes desde o tempo de criança ou de juventude . Com isto foi<br />
cria<strong>da</strong> uma união que agasalhava e protegia to<strong>do</strong>s .<br />
Não interessava religião , riqueza ou origem .<br />
To<strong>do</strong>s faziam parte <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano e assim eram<br />
reconheci<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Um sócio novo também era recebi<strong>do</strong> com o<br />
mesmo respeito e consideração . Ficava integra<strong>do</strong> imediatamente . Brigar<br />
com um <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano era praticamente brigar com to<strong>do</strong>s .<br />
Esta fraterni<strong>da</strong>de realmente favorecia to<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s . Caso<br />
alguém necessitasse de uma aju<strong>da</strong> , de orientação , de uma palavra amiga , de<br />
qualquer coisa , sempre apareciam várias opções , com várias ofertas<br />
desinteressa<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano . Precisava de um médico ?<br />
Aparecia um amigo <strong>da</strong>n<strong>do</strong> to<strong>do</strong> apoio . Precisava de uma apresentação ?<br />
Alguém , através de seus conhecimentos , trazia esta apresentação . Precisava<br />
de um convite ? Alguém conseguia este convite .<br />
Tu<strong>do</strong> era assim resolvi<strong>do</strong> , com muita amizade , digni<strong>da</strong>de e sem<br />
interesse . Alguém tinha um desentendimento com estranhos ? Então to<strong>da</strong><br />
nossa turma , em peso , <strong>da</strong>va apoio .<br />
A união <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano era muito forte .<br />
Quan<strong>do</strong> em 1961 precisei operar um fibroma nasal quem me assistiu<br />
foi o amigo de infância - Octacilinho Lopes , agora Professor de Medicina . E<br />
na<strong>da</strong> cobrou. Tu<strong>do</strong> que ele fez por mim foi por real e grande amizade .
Quan<strong>do</strong> um grupo ia jantar fora , em algum lugar e alguém , naquele<br />
momento , estava sem dinheiro , não ficava de fora . Era convi<strong>da</strong><strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s<br />
e sua despesa paga por to<strong>do</strong>s . O importante era ter sua companhia .<br />
Tu<strong>do</strong> era assim, sem maiores interesses . To<strong>do</strong>s aju<strong>da</strong>vam to<strong>do</strong>s<br />
com muito prazer e alegria de poder aju<strong>da</strong>r .<br />
Lá pela déca<strong>da</strong> <strong>do</strong>s anos 50/60/70 to<strong>do</strong>s os dias este nosso pessoal<br />
se reunia na sede antiga . Lin<strong>da</strong> sede , acho que o projeto era <strong>do</strong> Ramos de<br />
Azeve<strong>do</strong> ( não tenho certeza) . Normalmente estes encontros aconteciam no<br />
Bar <strong>da</strong> Sede Social ou no Terraço , logo depois <strong>do</strong>s esportes realiza<strong>do</strong>s , no<br />
final <strong>da</strong>s tardes in<strong>do</strong> até o anoitecer .<br />
Então se programava tu<strong>do</strong> . Quem ia com quem jantar , quem iria<br />
naquela festa de saba<strong>do</strong> , nas reuniões na casa de alguem , no cinema <strong>da</strong> noite,<br />
quem seria companhia para visitar a namoradinha . Em qual boate iríamos ,<br />
depois . Quem e com quem iria paquerar na Barão de Itapetininga . Também<br />
eram programa<strong>da</strong>s as viagens para o próximo fim de semana , a aju<strong>da</strong> para<br />
alguém necessita<strong>do</strong> , etc ...etc . Até corri<strong>da</strong>s de automóvel ...<br />
Também trocávamos to<strong>da</strong>s informações possíveis . Sobre estu<strong>do</strong>s ,<br />
trabalhos , política , compras , carros e mecânicos , alfaiates , facul<strong>da</strong>des ,<br />
bons negócios , viagens , o próximo jogo <strong>do</strong> Paulistano , a programação para<br />
esportes . To<strong>do</strong>s ficavam saben<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> naquelas horas de encontro no bar<br />
<strong>da</strong> sede social .<br />
Alem <strong>do</strong> mais existia ain<strong>da</strong> a “Instituição <strong>da</strong> Cria” . Os sócios mais<br />
velhos tomavam conta e <strong>da</strong>vam apoio aos mais novos . Caio Kiehl , Luiz<br />
Carlos Junqueira e eu fomos “Crias” <strong>do</strong> Pedro Padilha e <strong>do</strong> Paulo Ribeiro .<br />
“Geléia” e muitos outros foram minhas “Crias” .<br />
Assim to<strong>do</strong>s aqueles mais novos eram protegi<strong>do</strong>s pelos mais velhos<br />
<strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Das amizades cria<strong>da</strong>s com esportes , tanto na piscina velha , <strong>do</strong> tênis,<br />
<strong>do</strong> bola ao cesto ,<strong>do</strong> vôlei e <strong>do</strong> atletismo , veio a nossa base inicial . O<br />
encontro diário desta nossa gente na Sede Social era continui<strong>da</strong>de natural <strong>do</strong><br />
esporte . Era o fecho <strong>do</strong> dia .<br />
Hoje o clube nem mais é realmente esportivo para seus sócios .<br />
No Paulistano de então eram sempre encontra<strong>do</strong>s , entre muitos<br />
outros sócios :<br />
Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , José Aires Netto , Pedro “Alemão” Herch ,<br />
Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n , Eduar<strong>do</strong> de Paula , Carlinhos Calmon , João e<br />
Cícero Campos , Artur Castilho de Ulhoa Rodrigues , Adir Villela , Cláudio<br />
“Pinduca” Lunardelli, Luciano Lunardelli, Gille Lunardelli , Tozinho Lara
Campos , Nelson Go<strong>do</strong>y , Nelson Boinain , Tarciso e Marcelo Leopol<strong>do</strong> e<br />
Silva , Eugenio”Pistinguet”Apfelbaun , Eugenio Amaral , Pedro Padilha ,<br />
Paulo Ribeiro , Luiz David Ribeiro , César Afonseca e Silva , Edson e Ary<br />
Mace<strong>do</strong> , os irmãos Roberto , Cícero e Deoclides Brito , Leon Alexander ,<br />
Leo Bergman , Ronie Scott , Oswal<strong>do</strong> Lara Vidigal , Gilberto Marcondes ,<br />
Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti , “Kiko” Campassi , Ubirajara Pilagallo , Emil Issa ,<br />
Zequinha Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong> , Adhemar Zacarias , Arnal<strong>do</strong> e Roberto Gasparian,<br />
Toninho Cintra Godinho , Rômulo Mariano e José Mariano Carneiro <strong>da</strong><br />
Cunha , Antonio Ciampolini , Gilberto Chiampaglia, Otacílio Lopes , Caio<br />
Moura , Alcyr “Azeitona” Amorim , Roberto Motta Rabello , Fritz D’Orey ,<br />
Ulisses Paes de Barros , Rafael Paes de Barros, Leonar<strong>do</strong> Frankental , Dácio<br />
Ragazzo , Roberto Trigueiro , Sérgio Cayubi Novaes , Mario Guisalberti ,<br />
Flavio e Hélio Cayubi, Arman<strong>do</strong> Ferla , Silvio de Campos , Carlos Roberto<br />
Matos , Eduar<strong>do</strong> Xande , Eduar<strong>do</strong> de Salles Oliveira , Luiz Edmur<br />
Albuquerque e Caio Kiehl .<br />
( Aqueles com nomes grifa<strong>do</strong>s infelizmente já faleceram )<br />
Começavam também aparecer com continui<strong>da</strong>de os mais jovens :<br />
Beto Go<strong>do</strong>y , Alex e Clovito Tole<strong>do</strong> Piza , Arman<strong>do</strong> e Toninho Salem ,<br />
Flavinho Guimarães , Chico “ Foca” Campos , Acácio “Geléia Mancio ,<br />
Mario Ottobrini Costa , Fernan<strong>do</strong> San<strong>do</strong>val , Dudu Brotero , entre muitos<br />
outros .<br />
Alem <strong>do</strong> bate-papo na Velha Sede ain<strong>da</strong> jogávamos com <strong>da</strong><strong>do</strong>s o<br />
“Bidu- Bidê”- “Pôquer” e “Du<strong>do</strong>”, valen<strong>do</strong> sempre a conta <strong>do</strong> lanche ( valia<br />
mais a gozação) .<br />
“Seven Eleven” só na rua pois no Paulistano era proibi<strong>do</strong> (mas as<br />
escondi<strong>da</strong>s , no final <strong>da</strong>s noites , era joga<strong>do</strong> no banheiro <strong>da</strong> sede social)<br />
Num canto <strong>da</strong> Velha Sede já jogávamos xadrez . Éramos quatro:<br />
Maia Rosenthal , Anibal , Rebello e eu . Os três se foram . Por sorte desde<br />
algum tempo apareceu outro velho amigo para jogar xadrez – o patriarca<br />
Tibiriça . Não fiquei só .Hoje somos os <strong>do</strong>is últimos <strong>da</strong> Velha Guar<strong>da</strong> que<br />
continuam jogan<strong>do</strong> até hoje . Sempre conversan<strong>do</strong>... nas terças e nos sába<strong>do</strong>s,<br />
mas jogan<strong>do</strong> xadrez .<br />
Caso existissem competições <strong>do</strong> Paulistano , de Basquete ou Vôlei ,<br />
logo em segui<strong>da</strong> as reuniões na sede , quase to<strong>do</strong>s estariam no “Velho<br />
Ginásio” torcen<strong>do</strong> , para os irmãos Doria , Jorge Bello , Deoclides Brito ,<br />
Cavalieri , José “Coqueiro” Vital , “Coquinho” , Nick Cavalcanti e para to<strong>do</strong>s<br />
os nossos outros atletas .<br />
Então , apoian<strong>do</strong> nossos atletas , com a nossa torci<strong>da</strong> , surgia<br />
sempre o “Aleguá ...Guá ...Guá ... Paulistano ... Paulistano !<br />
Hoje muita gente nem sabe o que o Paulistano vai disputar .
Nem sabem o que é o Aleguá ..guá ... guá ... .<br />
Naquele tempo muitas namoradinhas vinham assistir estes jogos,<br />
com os pais ou com seus irmãos .<br />
Os Jogos e Esportes faziam também parte Social <strong>do</strong> Club .<br />
Termina<strong>da</strong> a competição íamos comer “pizza” lá no “Columbia” ou<br />
jantar no “Nosso Ponto”.<br />
- O PESSOAL DOS “1OO POR HORA”<br />
Por volta de 1950/51/52/53 , com o advento <strong>do</strong> automóvel em<br />
grande escala , muitos sócios foram se juntan<strong>do</strong> e aumentan<strong>do</strong> aquela nossa<br />
turma que gostava de an<strong>da</strong>r e competir com carros .<br />
Assim e por isto mesmo muitos amigos iam se encontran<strong>do</strong> , para<br />
falar , an<strong>da</strong>r ou mesmo competir com automóveis : Caio Marcelo Kiehl ,<br />
Roberto Claro , Nico Peres de Oliveira , Roberto Matarazzo , Vicente de<br />
Sylos, Urbano Camargo , Bubi Figueire<strong>do</strong> , Bubi Loureiro , Fritz D´orey ,<br />
Celso Lara Barberis , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Antonio Duva , Belmiro<br />
Dias , Leo Berman .<br />
Com algum amigo ao la<strong>do</strong> , passávamos de carro , quase sempre<br />
paqueran<strong>do</strong> as namoradinhas , nas saí<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s colégios <strong>da</strong> meninas conheci<strong>da</strong>s<br />
Entre outros : – “Sacre Coeur , Des Oiseux , Sion e Ofélia Fonseca ” .<br />
Íamos também até a “Lareira”. Era uma escola para moças<br />
apreenderem coisas de administração <strong>do</strong> lar . Como gozação era chama<strong>do</strong> de<br />
“Curso espera Mari<strong>do</strong>”.<br />
Além disto , quan<strong>do</strong> nos encontrávamos fora <strong>do</strong> Paulistano ,<br />
gostávamos de , sempre que possível , competir nas ruas mais afasta<strong>da</strong>s e não<br />
movimenta<strong>da</strong>s que estavam em final de construção , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
Morumbi. Os “pegas” eram programa<strong>do</strong>s e muitos carros apareciam . Por<br />
vezes corríamos em Interlagos . Então ali era possível .<br />
Lembro que , entre outros , Zé Ayres tinha um carrinho inglês,<br />
senão me engano um “Huxley” de seis cilindros , que era campeão <strong>do</strong>s<br />
pequenos . Caio Kiehl vinha com um “Jaguar – Mark Five” , Nico Peres com<br />
um “Mercury” , Roberto Claro com “Packard” , Roberto Matarazzo com<br />
“Cadillac” , Leon Bergman com Packard , Duva com seu “Studbaker , César<br />
Afonseca com “Volvo”. Fritz D’Orey com vários carros . Fernan<strong>do</strong> “Baiano”<br />
com “Dodge” . Os <strong>do</strong>is “Hudson”preto que eu dirigia , o 1º de meu pai , e<br />
depois o 2º meu , ganharam um só apeli<strong>do</strong> : - “Corvo Negro” .<br />
A maioria <strong>do</strong>s carros eram grandes e pesa<strong>do</strong>s .
Ain<strong>da</strong> , por causa <strong>do</strong>s automóveis , ocorria o “Festival <strong>da</strong> Graxa”.<br />
Ele acontecia quan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s carros de amigo precisava de<br />
polimento . Nos reuníamos , normalmente no quintal <strong>da</strong> casa <strong>do</strong> Roberto<br />
Claro, , que ficava em frente <strong>do</strong> Paulistano , na rua Honduras , e to<strong>do</strong>s<br />
aju<strong>da</strong>vam a deixar o carro de um amigo bem reluzente . Muito rapi<strong>da</strong>mente.<br />
Eram momentos de só alegria e gozação . Deixan<strong>do</strong> sempre a “massa de<br />
polimento” nos cabelos de algum mais distraí<strong>do</strong> .<br />
Muitas vezes íamos até a pista de Interlagos para tirar “rachas” com<br />
aqueles carros antigos mas possantes . Interlagos naquele tempo era<br />
praticamente aberta , sem muitas dificul<strong>da</strong>des para entrarmos com os carros .<br />
Ali só existia um guar<strong>da</strong> amigo que permitia realização <strong>do</strong>s nossos pegas na<br />
velha pista .<br />
Foi lá que Fritz Dórey começou uma rápi<strong>da</strong> , curta e brilhante<br />
carreira que terminou com grave acidente na Europa , quan<strong>do</strong> , em competição<br />
internacional , guian<strong>do</strong> uma “Ferrari–Gran Prix” - para a escuderia <strong>do</strong><br />
campeão mundial Juan Manuel Fangio , bateu e teve sérios problemas físicos.<br />
Com o tempo se recuperou mas não mais competiu no automobilismo .<br />
Aquele nosso grupinho automobilístico <strong>do</strong> Paulistano tinha um<br />
nome bastante especial : -“100 por Hora” . Na reali<strong>da</strong>de o nome , quan<strong>do</strong><br />
fala<strong>do</strong> , parecia perfeitamente correto foneticamente , induzin<strong>do</strong> crer que o<br />
nome seria :- “100 Km por Hora”.<br />
Na reali<strong>da</strong>de o nome era : –“Sem ..., Por Ora ...” , significava :<br />
“Sem carro ..., por ora”, pois naquele momento , no começo <strong>do</strong>s anos 50 ,<br />
quase sempre os carros pertenciam aos nossos pais .<br />
Os carros passaram a ser muito importantes para nossa vi<strong>da</strong> . Eram<br />
um meio de liber<strong>da</strong>de em nossa movimentação . Tanto para trabalho e<br />
passeios como para vi<strong>da</strong> noturna . Era importante para arranjar um programa<br />
(sexy) , normalmente no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Quem não tinha carro no momento<br />
saia para “paquerar” no carro de um amigo .<br />
As viagens de fins de semana para as praias estavam começan<strong>do</strong> a<br />
crescer . Sempre aparecia um convite .<br />
Nossa maior preocupação passou a ser o “carro próprio” . Com o<br />
tempo , as vezes com alguma dificul<strong>da</strong>de , ele sempre era consegui<strong>do</strong> .
- MAIS AMIGOS VOLTAM AO PAULISTANO<br />
Com a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s muitas Festas em Vários Clubes , Festas<br />
nas <strong>Casa</strong>s de Amigos e conheci<strong>do</strong>s , as i<strong>da</strong>s aos Jogos <strong>da</strong> “Mac- Méd” ,as<br />
Reuniões em <strong>Casa</strong>s de Famílias , os passeios de Lancha na Represa de<br />
Guarapiranga ,as i<strong>da</strong>s aos Clubes Noturnos , as Sessões de Cinema ,as<br />
Viagens para Praias e Campos <strong>do</strong> Jordão , as Competições nas Hípicas<br />
Paulista e Santo Amaro , e tantas outras coisas mais , fizeram a nossa turma<br />
<strong>do</strong> Paulistano aumentar .<br />
Antigos sócios recomeçavam a freqüentar, com mais assidui<strong>da</strong>de, o<br />
Paulistano. Então tínhamos oportuni<strong>da</strong>de e encontrávamos outros sócios<br />
antigos que pouco estavam vin<strong>do</strong> ao CAP .<br />
Aparecem também alguns sócios novos.<br />
Na continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s encontros ficávamos mais amigos .<br />
Assim foi natural a integração deles to<strong>do</strong>s conosco . Começaram<br />
freqüentar com mais assidui<strong>da</strong>de o nosso Paulistano os antigos sócios -:<br />
Sergio e Aloísio Dávila, Alberto Botti , Silvio Abreu Jr. , Luiz Fernan<strong>do</strong><br />
Ribeiro <strong>da</strong> Silva , Mauricio Soriano , Adriano e Ademaro Gui<strong>do</strong>tti , Vitor e<br />
Fernan<strong>do</strong> Simonsen, Carlos e seus irmãos Sérgio e Gilberto Daccache ,<br />
Luciano Schwartz , Virgilio de Natal Rosi , Roberto Suplici , Carlito Taub ,<br />
Chico Galvão “Kirongosi”, Mario Sergio , Jorge Gugelmas, Paulo Go<strong>do</strong>y<br />
Moreira , “Jujuba” Moreira <strong>da</strong> Costa , Zizinho , Marcio e Amedeo Papa .<br />
Como alguns <strong>do</strong>s amigos sócios <strong>do</strong> CAP também eram sócios <strong>do</strong><br />
Harmonia muitas vezes éramos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para festas , almoços e reuniões<br />
naquele clube .<br />
A crescente amizade <strong>do</strong>s sócios <strong>do</strong> CAP começou a ter reflexos<br />
mesmo fora <strong>do</strong> Clube . Dentre aqueles sócios , que pertenciam aos <strong>do</strong>is clubes,<br />
lembro de Luiz Carlos Junqueira Franco , Ayrton Baccelar , Tarcisio e<br />
Marcelo Leopol<strong>do</strong> e Silva , Oswal<strong>do</strong> Vidigal , Josè Carlos e Sérgio Leal ,<br />
Guilherme Prates , Eduar<strong>do</strong> e Fernan<strong>do</strong> Levi , entre outros . Eles muitas vezes<br />
nos levavam até o Harmonia . Desta forma ficamos conhecen<strong>do</strong> melhor Zéca<br />
Calmom de Sá , Ricar<strong>do</strong> Rezende Barbosa , Tony Calmon de Sá , os irmãos<br />
Olival Costa , Paulo Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama , Agnal<strong>do</strong> Góes e Nestor Góes , Fredy<br />
Assumpção ,Vico Paes de Barros , Sergio “Cavalo” e muitos outros sócios <strong>do</strong><br />
clube irmão.<br />
Quem muito contribuiu com esta confraternização foi Ricar<strong>do</strong><br />
Amaral com suas crônicas sociais , quan<strong>do</strong> contava o que acontecia e quem<br />
participava <strong>da</strong>s festas com a presença <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> Harmonia e <strong>do</strong> Paulistano.
Chegamos até a jogar futebol : Paulistano x Harmonia , por<br />
duas vezes , em nosso velho campo . Na ocasião a presença feminina na antiga<br />
arquibanca<strong>da</strong> foi marcante . Moças bonitas por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s .<br />
É preciso também lembrar que o Harmonia foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong> por<br />
sócios dissidentes <strong>do</strong> Paulistano na déca<strong>da</strong> de 30 . Conseguiram o terreno com<br />
a Cia.City e construíram o seu clube . As famílias de ambos os clubes se<br />
conheciam . Muitas vezes eram até aparenta<strong>da</strong>s .<br />
Também mantínhamos continua amizade com muitos sócios <strong>da</strong><br />
Hípica Paulista e <strong>do</strong> Clube de Campo ( esse último hoje cerca<strong>do</strong> de favelas )<br />
Assim na São Paulo <strong>da</strong>queles tempos os relacionamentos em<br />
socie<strong>da</strong>de se expandiam com muita facili<strong>da</strong>de . A Turma <strong>do</strong> Paulistano se<br />
apresentava em to<strong>do</strong>s os lugares , em to<strong>da</strong>s ocasiões . A base de tu<strong>do</strong> eram<br />
simples amizades desinteressa<strong>da</strong>s , as quais , com o tempo , se transformaram<br />
em grandes e fortes amizades .<br />
Hoje o clube fisicamente ain<strong>da</strong> é o mesmo Paulistano , mas os<br />
sócios ... não formam mais a Turma <strong>do</strong> Paulistano . Infelizmente .<br />
O forte espírito de fraterni<strong>da</strong>de agora praticamente desapareceu ,<br />
ou pouco aparece .<br />
Além <strong>do</strong> mais muitos <strong>do</strong>s amigos antigos já faleceram . Existe<br />
atualmente uma amizade , mas diferente , sempre um pouco mais a distancia.<br />
Sinal <strong>do</strong>s tempos ...<br />
Esperança : - talvez com o tempo, poderá existir mais união .<br />
É preciso pensar uma forma de unir os sócios , manter nossas<br />
tradições e continuar nosso espirito de competição ;<br />
Aleguá .. Guá ...Guá . Paulistano ... Paulistano !
VIAGEM PARA ARGENTINA<br />
Edu Marcondes<br />
Compra <strong>da</strong>s Passagens – Inicio <strong>da</strong>s “Paqueras “- Uruguai – Buenos Aires<br />
– “Ninotcha”- Encrencas em “La Boca” – Volta ao Brasil<br />
Durante a segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong>s anos 50 teve início uma grande e real<br />
possibili<strong>da</strong>de para brasileiros viajarem ao Uruguai , Chile e Argentina ,<br />
nota<strong>da</strong>mente para este último país . O cambio era muito favorável e os custos,<br />
tanto de alimentação como para estadia e compras , muito acessível .<br />
Em 1956 um grupo de rapazes <strong>do</strong> Paulistano seguiu para Argentina .<br />
Entre eles estavam : José Sachetta , Eduar<strong>do</strong> de Paula e Carlinhos Calmon .<br />
Voltaram contan<strong>do</strong> maravilhas sobre Buenos Aires , de sua vi<strong>da</strong> noturna<br />
extremamente ativa , de seus teatros , <strong>do</strong>s “shows” , <strong>do</strong> bom acolhimento <strong>do</strong>s<br />
portenhos , <strong>da</strong>s compras de vestuário com alta quali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s saborosas<br />
churrascarias <strong>da</strong>quela terra .Tu<strong>do</strong> com preços pequenos .<br />
Também outro grupo <strong>do</strong> CAP , quase na mesma ocasião , seguiu<br />
para fora <strong>do</strong> Brasil , porem para muito mais longe , participan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s “Jogos <strong>da</strong><br />
Juventude Comunista” realiza<strong>do</strong> em Moscou . Nenhum deles era comunista<br />
mas aproveitaram a oportuni<strong>da</strong>de para viajar para a Europa sem gastar<br />
nenhum dinheiro . Quem contou muitas <strong>da</strong>quelas histórias engraça<strong>da</strong>s , com<br />
eles aconteci<strong>da</strong>s nos paises <strong>do</strong> bloco socialista , foi meu grande amigo Edson<br />
Mace<strong>do</strong> .<br />
Isto tu<strong>do</strong> começou despertar vontade nos nossos companheiros e<br />
quase sempre estávamos conversan<strong>do</strong> sobre uma viagem com os amigos <strong>do</strong><br />
CAP . Caso possível para Europa , na pior hipótese para Argentina .<br />
Esta vontade começou a ter concretização no início de 1957 . Alguns<br />
de nossos amigos informavam que , forma<strong>do</strong> um grupo <strong>do</strong> Paulistano ,<br />
estariam participan<strong>do</strong> na deseja<strong>da</strong> excursão rumo Argentina . Em Abril<br />
confirmavam a tal viagem : Sérgio D’Avila , Didi Gui<strong>do</strong>tti , Adriano Gui<strong>do</strong>tti,<br />
Silvinho Abreu , Nelson Cotini , José Alfre<strong>do</strong> Galrão , Luiz Carlos Pannunzio<br />
e Alberto Andrade . Muitos outros mais , <strong>do</strong>s que inicialmente estariam<br />
interessa<strong>do</strong>s na i<strong>da</strong> para Buenos Aires , naquela ocasião já haviam desisti<strong>do</strong> .<br />
Ficou acerta<strong>do</strong> então que nossa viagem aconteceria nas férias de<br />
Junho . Fiquei encarrega<strong>do</strong> de verificar como faríamos e os seus custos .<br />
Naquela época eu estava sempre com o amigo Fritz D’Orey ,<br />
principalmente nas corri<strong>da</strong>s aconteci<strong>da</strong>s em Interlagos . Saiamos muitas vezes<br />
juntos para várias festas , para Guarujá e Campos de Jordão . Estava sempre
in<strong>do</strong> até sua casa <strong>do</strong> Jardim Europa , bem perto <strong>da</strong> casa de Caio Kiehl<br />
localiza<strong>da</strong> na Rua Áustria .<br />
Em uma destas ocasiões , no início <strong>do</strong> mês de Abril , durante um<br />
almoço com sua mãe Dona Rachel e seu pai Sr. Frederico , surgiu não sei<br />
como o assunto <strong>da</strong> tal viagem para Argentina . Fritz confirmou que não<br />
poderia seguir conosco .<br />
Naquele momento seu pai perguntou como iríamos fazer aquela<br />
viagem . A minha resposta foi que preferencialmente de navio . Então para<br />
minha surpresa e alegria ele informou que poderíamos ir pela “ Societè<br />
Gènèral du Tansporte Maritìme” , pois ele , alem de outros tantos negócios ,<br />
era o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> empresa que representava tal companhia no Brasil . Que as<br />
passagens evidentemente teriam um desconto para os amigos de seu filho.<br />
Aceitei a oferta em nome <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano.<br />
- COMPRA DAS PASSAGENS<br />
Da turma inicial somente Alberto Andrade e Sergio D’Avila<br />
confirmaram a i<strong>da</strong> para Argentina .<br />
Então confirmei o pagamento até sexta feira para uma cabine de três<br />
lugares . I<strong>da</strong> pelo “Province” . Volta pelo “Anna C”.<br />
Ain<strong>da</strong> naquela semana paguei as passagens . Em segui<strong>da</strong> telefonei<br />
para Alberto informan<strong>do</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>rmos <strong>do</strong>s nossos “ Vistos<br />
de Entra<strong>da</strong> e Saí<strong>da</strong> ” para Argentina . Não era necessário passaporte e tu<strong>do</strong><br />
seria resolvi<strong>do</strong> sem demora .<br />
Fui até o Paulistano . Lá encontrei Sergio D’Avila . Então ele<br />
informou não ter consegui<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dinheiro necessário . O que tinha <strong>da</strong>ria para<br />
estadia , refeições e algumas pequenas compras . Para passagem não <strong>da</strong>ria .<br />
Alberto Andrade , que chegou em segui<strong>da</strong> , pagou naquele momento somente<br />
sua parte .<br />
Como as passagens já estavam efetivamente pagas e como a cabine<br />
custaria o mesmo preço , para <strong>do</strong>is ou três passageiros , não tive duvi<strong>da</strong>s e<br />
disse para o amigo Sérgio D’Avila :<br />
“Você não vai deixar de viajar . Vai conosco de qualquer maneira .<br />
As passagens de navio você poderá me pagar quan<strong>do</strong> quiser e puder”.<br />
Recebi um abraço de agradecimento . Depois ficamos acertan<strong>do</strong><br />
detalhes para i<strong>da</strong> até Santos .<br />
Na véspera <strong>do</strong> embarque despedi-me de meus pais e de minha irmã<br />
Marisa .
No outro dia , na hora combina<strong>da</strong> , Fritz chegou . Depois , com uma<br />
hora de viagem , já estávamos na <strong>do</strong>ca marca<strong>da</strong> , ven<strong>do</strong> o “Province”atraca<strong>do</strong> .<br />
Fritz , para variar, tinha pisa<strong>do</strong> fun<strong>do</strong> no acelera<strong>do</strong>r . Era seu jeito de guiar .<br />
Ali já estavam meus <strong>do</strong>is companheiros de viagem e um grupo de<br />
muitos queri<strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano . Foram nos <strong>da</strong>r o “bota fora” , por<br />
sinal foi maravilhoso e com inúmeras brincadeiras .<br />
Apresentamos as passagens , guar<strong>da</strong>mos as malas na cabine e fomos<br />
falar com o Coman<strong>da</strong>nte , levan<strong>do</strong> o pedi<strong>do</strong> permissão para nossos amigos<br />
subirem à bor<strong>do</strong> . Foi desnecessário . Eles , com apoio de Fritz , já estavam<br />
embarca<strong>do</strong>s e conversan<strong>do</strong> com as muitas moças que estariam na viagem .<br />
Logo Didi Gui<strong>do</strong>tti veio contar que nós éramos felizar<strong>do</strong>s , pois três grupos<br />
<strong>da</strong>quelas garotas estavam em excursão , justamente naquele navio .<br />
José Rafael e Luiz Carlos Pannunzio logo depois informavam que<br />
os grupos eram <strong>do</strong> Mackenzie/ São Paulo , <strong>do</strong> Colégio Bennet , e de uma<br />
outra escola <strong>do</strong> Rio de Janeiro . Verifiquei que teríamos muito mais mulheres<br />
<strong>do</strong> que homens à bor<strong>do</strong> . Achei ótimoooo !<br />
Mal cheguei no “deck” principal avistei Fritz , em uma mesa ,<br />
beben<strong>do</strong> champanhe e conversan<strong>do</strong> com duas moças . Eram <strong>da</strong>qui de São<br />
Paulo mas eu não as conhecia . Iriam também naquela viagem . Fui<br />
apresenta<strong>do</strong> juntamente com outros amigos que lá chegavam . Naquela altura<br />
Didi chamou o garçom e pediu mais champanhe , recomen<strong>da</strong>n<strong>do</strong> que fosse<br />
“nacional” . Nisto , alguém que não lembro , perguntou por que “nacional” .<br />
Didi , que estava esperan<strong>do</strong> a pergunta , respondeu que navio francês tem<br />
bandeira e solo <strong>da</strong> França . Caso pedisse champanhe estrangeira poderia vir<br />
uma nacional brasileira . Terminou com “bah” que expressava tu<strong>do</strong> .<br />
Tenho até hoje foto <strong>da</strong>quele momento . Infelizmente não gravei o<br />
nome <strong>da</strong>quelas duas meninas .<br />
- INICIO DAS “PAQUERAS”<br />
Logo depois reparei que em uma mesa ao la<strong>do</strong> estavam acomo<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
duas mulheres que nos olhavam atentamente . Deviam ter entre 30 e 35 anos.<br />
Convidei-as para nossa mesa . Sorrin<strong>do</strong> elas gentilmente recusaram o convite .<br />
. Depois de muitas brincadeiras , entrega de “santinhos e<br />
recomen<strong>da</strong>ções para que não perdêssemos as missas” nossos amigos foram<br />
obriga<strong>do</strong>s a desembarcar . O “Province” estaria de parti<strong>da</strong>.<br />
O navio desatracou em meio de muita serpentina e musica . Ficamos<br />
ven<strong>do</strong> nossos amigos <strong>da</strong>n<strong>do</strong> adeus e sumin<strong>do</strong> pouco a pouco no cais .
Enquanto Sergio foi trocar de roupa , eu e Alberto ficamos<br />
conversan<strong>do</strong> com aquelas duas novas amigas que conhecemos . Aquelas que<br />
não aceitaram tomar champanhe conosco .<br />
Soubemos que eram <strong>do</strong> sul , residiam na mesma ci<strong>da</strong>de . Eram<br />
simpáticas . Não sei se acertaria agora seus nomes reais , mas para to<strong>do</strong>s<br />
efeitos , por razões que ficarão obvias , estarão sen<strong>do</strong> chama<strong>da</strong>s de “ Luli e<br />
Tutsi” . Percebi que eram bem interessantes e alegres . Pareciam descendentes<br />
de alemães ou italianos <strong>do</strong> norte. Resolveram fazer aquela excursão e ficariam<br />
25 dias em Buenos Aires. Quan<strong>do</strong> Sergio estava chegan<strong>do</strong> de volta pediram<br />
licença pois iriam se preparar para a noite .<br />
Depois <strong>do</strong> jantar , com vinho incluí<strong>do</strong> no cardápio , fomos para o<br />
Bar- Boite ao la<strong>do</strong> . Ali estavam tocan<strong>do</strong> música e poderíamos <strong>da</strong>nçar . A<br />
parte feminina é que não faltaria .<br />
Naquele bar , pouco depois que chegamos , conhecemos três<br />
cariocas , também estu<strong>da</strong>ntes de arquitetura . Seus nomes : - Pedro Paulo ,<br />
Luiz e Márcio . Eram simpáticos e ficamos conversan<strong>do</strong> e ouvin<strong>do</strong> música .<br />
Alguns pares já estavam <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> . Ali a luz era pouca . Então<br />
tive uma surpresa agradável . Luli , aquela nova conheci<strong>da</strong> <strong>do</strong> sul , veio até<br />
onde estávamos . Estava to<strong>da</strong> sorridente . Convidei-a para <strong>da</strong>nçar .<br />
Ela não <strong>da</strong>nçava nadinha de na<strong>da</strong> , mas em compensação eu fui<br />
agarra<strong>do</strong> , de forma excitante e agradável naquele escurinho <strong>do</strong> bar , durante<br />
mais de 20 minutos . Estava gostan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> derrepente ela disse :<br />
“ Esta tu<strong>do</strong> muito bom... está tu<strong>do</strong> muito bem ... mas agora que tal<br />
tomar champanhe em minha cabine ”.<br />
Quan<strong>do</strong> fui falar alguma coisa ela já estava me puxan<strong>do</strong> pela mão .<br />
Perguntei como ficaria sua companheira . Ela respondeu que sua amiga<br />
saberia o que fazer .<br />
Pela manhã , depois <strong>do</strong> banho , fui tomar café com os amigos .<br />
Quan<strong>do</strong> as duas chegaram para o desjejum apenas nos cumprimentaram<br />
discretamente . Estranhei .<br />
Foram sentar-se em uma outra mesa distante. . Acaba<strong>do</strong> o café Luli<br />
passou em nossa mesa e disse baixinho em meu ouvi<strong>do</strong> : “Hoje a noite vamos<br />
nos encontrar novamente ”. Sorriu e saiu .<br />
Durante a tarde <strong>da</strong>quele dia ficamos com algumas moças jogan<strong>do</strong><br />
“buraco”. Foi nesta ocasião que conheci Maria Lucia Finoquiaro que depois ,<br />
com maior relacionamento em São Paulo , se tornou minha boa amiga . Ela foi<br />
uma <strong>da</strong>s Rainhas de Festas em São Paulo .
Quan<strong>do</strong> chegou a noite , depois <strong>do</strong> jantar , nem fomos para o bar .<br />
Aconteceu a mesma coisa ocorri<strong>da</strong> na noite anterior . Cabine direto .<br />
No terceiro dia acor<strong>da</strong>mos com o navio balançan<strong>do</strong> , como diziam<br />
no sul , “uma barbari<strong>da</strong>de”. Estávamos no meio <strong>do</strong> Golfo de Santa Catarina<br />
enfrentan<strong>do</strong> um mau tempo <strong>da</strong>na<strong>do</strong> . Na hora <strong>do</strong> café reparei que grande parte<br />
<strong>do</strong>s passageiros não haviam apareci<strong>do</strong> . Sérgio D’Avila também estava<br />
acometi<strong>do</strong> de enjôo , fican<strong>do</strong> na cabine , como a grande maioria .<br />
Na hora <strong>do</strong> almoço o salão estava praticamente vazio . Da nossa<br />
turminha apenas eu e Alberto Andrade não sofríamos com o forte sobe e desce<br />
continuo <strong>do</strong> navio . Almoçamos na mesa <strong>do</strong> Coman<strong>da</strong>nte.<br />
Aquela noite não aconteceu na<strong>da</strong> , pois quase to<strong>do</strong>s estavam<br />
acama<strong>do</strong>s e enjoa<strong>do</strong>s . Principalmente as amigas <strong>do</strong> sul . Aproveitei e <strong>do</strong>rmi<br />
como não <strong>do</strong>rmia desde a saí<strong>da</strong> de minha casa em São Paulo.<br />
URUGUAI<br />
Acor<strong>da</strong>mos com o navio já atraca<strong>do</strong> nas <strong>do</strong>cas de Montevidéu .<br />
Teríamos o dia livre pois o “Province” só zarparia para Buenos Ayres as 23<br />
horas .<br />
Como o tempo seria pouco , pois já eram 10,00 horas , resolvemos<br />
ver em segui<strong>da</strong> alguma coisa <strong>da</strong> capital uruguaia . Alugamos um táxi bem<br />
grande que concor<strong>do</strong>u em levar aqueles seis brasileiros , mediante<br />
recebimento de um extra combina<strong>do</strong> antecipa<strong>da</strong>mente .<br />
Fomos então conhecer o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ; depois a Facul<strong>da</strong>de de<br />
Arquitetura ; o Monumento <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de , que apresentava um Carreteiro com<br />
seus bois , to<strong>do</strong>s em tamanho natural e fundi<strong>do</strong>s em bronze ; almoçamos em<br />
uma churrascaria ; fomos até praia de Carrasco e por fim conhecemos alguns<br />
bairros , com muitas casas finas e arquitetura de bom gosto . O Uruguai<br />
naquele tempo era considera<strong>do</strong> a “ Suíça <strong>da</strong> América <strong>do</strong> Sul ”.<br />
- BUENOS AIRES<br />
Na manhã seguinte nosso navio já estava na capital Portenha .<br />
Como as malas já estavam prontas foi só tomarmos um café ,<br />
encontrarmos os cariocas e marcarmos os encontros . Em um hotel com as<br />
meninas <strong>da</strong>s excursões , em outro com as desquita<strong>da</strong>s . De nossa parte o<br />
importante agora era encontrar um lugar para nós , não muito caro .
Fomos de táxi até o Hotel Claridge com os amigos <strong>do</strong> Rio .Era ali<br />
que eles ficariam . Lá deixamos provisoriamente nossas bagagens e saímos<br />
em busca de um hotel bem barato . Fomos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> pelo centro de Buenos<br />
Ayres ..<br />
Depois de uma hora , com muitas para<strong>da</strong>s e pesquisas de preço ,<br />
encontramos o que desejávamos na “Calle Corrientes”.O nome era pomposo :<br />
“Gran Hotel Chacabuco”. Era um hotel muito antigo , bem grande ,de<br />
construção cheia de detalhes e que teve seu esplen<strong>do</strong>r no final <strong>do</strong> século IXX .<br />
Como Alberto dizia : “Tu<strong>do</strong> ali lembrava a casa minha bisavó” .<br />
Era limpo , com moveis antigos , com esca<strong>da</strong>s e corrimões em<br />
madeira lavra<strong>da</strong> . O quarto era enorme , caben<strong>do</strong> com folga as três camas<br />
necessárias , ten<strong>do</strong> um banheiro privativo e bonitos lustres de ferro bati<strong>do</strong> . A<br />
diária muito pequena . O melhor : Havia diariamente uma refeição inclusa .<br />
Em caso de emergência estariam “quebran<strong>do</strong> o galho”.<br />
Quis saber o que significava “Chacabuco”. O gerente explicou que<br />
foi uma batalha decisiva na independência Argentina .<br />
Depois de pagarmos a primeira semana antecipa<strong>da</strong>mente fomos<br />
buscar nossas malas ..<br />
Após um banho fomos pela primeira vez almoçar no “Palácio de las<br />
Papas Fritas”. Papas fritas eram batatas que quan<strong>do</strong> fritas ficavam como<br />
pasteizinhos .Até hoje não sei como os cozinheiros argentinos conseguiam<br />
deixa-las tão estufadinhas . Com um “baby bife” eram deliciosas . O preço na<br />
época irrisório . Posteriormente verificamos que to<strong>da</strong> alimentação na<br />
Argentina era pouco dispendiosa .<br />
.<br />
As lojas eram bonitas com artigos de vestuário muito finos e com<br />
preços incrivelmente baixos para nós brasileiros . Notei que dentre as lojas<br />
havia uma , chama<strong>da</strong> “ Rhodes”, com roupas masculinas muito bem feitas .O<br />
preço era um terço <strong>da</strong>quelas nacionais de boa quali<strong>da</strong>de . Não tive duvi<strong>da</strong>s e<br />
comprei <strong>do</strong>is ternos , um paletó esporte e três coletes . Naquela época estavam<br />
na mo<strong>da</strong> . Arrumei meu guar<strong>da</strong> roupa gastan<strong>do</strong> muito pouco . Depois, quan<strong>do</strong><br />
as usava , sentia que ficava muito elegante . Eram bem corta<strong>da</strong>s e bem<br />
acaba<strong>da</strong>s . Desfilei com elas pelas noites de Buenos Ayres .<br />
Durante um fim de tarde , no “Claridge” , conhecemos <strong>do</strong>is<br />
estu<strong>da</strong>ntes argentinos que foram extremamente simpáticos conosco . Nestor<br />
Eduar<strong>do</strong> Bravo – estu<strong>da</strong>nte de medicina – e Willie Braun – estu<strong>da</strong>nte de<br />
direito. Estavam paqueran<strong>do</strong> as mocinhas brasileiras . Logo ficamos amigos<br />
e muitas vezes eles nos levaram aos mais interessantes e diferentes lugares de<br />
Buenos Ayres , sempre no carro que Willie possuía .
Uma noite fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> por Nestor Eduar<strong>do</strong> para sua residência<br />
argentina . Conheci seus pais , o mobiliário e inclusive seu guar<strong>da</strong> roupas .<br />
Eles foram muito gentis conosco .<br />
Em compensação Sergio lhes apresentou nossas amigas , inclusive<br />
uma <strong>da</strong>s desquita<strong>da</strong>s <strong>do</strong> sul . Luli , entretanto , continuou sain<strong>do</strong> com ele até<br />
o final <strong>da</strong>s férias . Como lembrança até ganhou dela um colete de presente .<br />
Durante os dias conhecíamos to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de com as meninas brasileiras<br />
vin<strong>da</strong>s no “Provence . Nunca no início manhã , pois estávamos curti<strong>do</strong> a<br />
ressaca <strong>da</strong> noite anterior . O vinho argentino era razoável . No meio <strong>da</strong><br />
manhã , por vezes ,aconteciam passeios muito alegres e cheios de<br />
brincadeiras.<br />
.<br />
.<br />
Por varias vezes , almoçamos no “Shorton Grill”. Era um<br />
restaurante <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> . Ali voltávamos , as vezes , também com nossas<br />
“paquerinhas” argentinas , mas durante à noite . De dia tu<strong>do</strong> ficava muito<br />
tranqüilo . Nós também .<br />
De noite é que se sentia que Buenos Ayres tinha uma vi<strong>da</strong> noturna<br />
fora de série . Os argentinos costumavam ceiar por volta <strong>da</strong>s 22,00 horas . Vi<br />
muitas vezes famílias com crianças depois <strong>da</strong>quela hora em casas de lanches e<br />
em restaurantes . Por isto , na parte <strong>da</strong> manhã , a vi<strong>da</strong> começava tarde .<br />
Aderimos a vi<strong>da</strong> noturna <strong>do</strong>s portenhos e começamos in<strong>do</strong> para o<br />
“Tabaris” . Era um tipo de cabaré , no velho estilo . Tinha uma grande pista de<br />
<strong>da</strong>nças cerca<strong>da</strong> por camarotes . Varias orquestras típicas tocavam os lin<strong>do</strong>s<br />
tangos antigos . Mulheres <strong>da</strong> noite por to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> . Naquele local Alberto<br />
Andrade ficava entusiasma<strong>do</strong> e queria conhecer to<strong>da</strong>s argentinas em uma só<br />
noite . Fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> varias vezes para <strong>da</strong>nçar tangos . Nunca recusei e<br />
cheguei até apreender alguns passos . As argentinas nos incentivavam .<br />
Alberto arranjou uma amiga portenha e muitas vezes voltou ao Tabaris .<br />
De dia , durante aqueles passeios com as brasileiras , as vezes<br />
conseguíamos tempo para manter contato com as argentinas .
- NINOTCHA<br />
Em uma ocasião , quan<strong>do</strong> somente eu havia i<strong>do</strong> com as brasileiras<br />
para tomar o chá <strong>da</strong> tarde ( os outros ain<strong>da</strong> não haviam volta<strong>do</strong> <strong>da</strong> noita<strong>da</strong> ) ,<br />
em uma Confeitaria muito bem decora<strong>da</strong> e freqüenta<strong>da</strong> , fui alerta<strong>do</strong> por<br />
minha amiga Maria Rosa Lima Mendes , que uma moça argentina não tirava<br />
não tirava os olhos de mim .<br />
Olhei para o la<strong>do</strong> que ela discretamente indicava e vi a tal argentina.<br />
Estava com uma companheira em uma mesa perto <strong>da</strong> nossa . Vi que tinha<br />
cabelos castanhos bem claros e era muito bonita . Fiquei bem interessa<strong>do</strong> . Fiz<br />
um sinalzinho , ela sorriu. Eu fui até lá.<br />
Depois <strong>da</strong> minha devi<strong>da</strong> apresentação fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para sentar .<br />
Fiquei toman<strong>do</strong> meu chá naquela mesa . O nome <strong>da</strong> moça era Ninotcha.<br />
Descendia de ucranianos e tinha maravilhosos olhos azuis . Era alta e bem<br />
branquinha de pele . Ela achava interessante a proximi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> língua<br />
portuguesa com o castelhano . Nunca tinha conheci<strong>do</strong> um brasileiro antes . Em<br />
1.957 poucos brasileiros haviam chega<strong>do</strong> até lá . Ela era natural de Men<strong>do</strong>za .<br />
Morava agora com sua amiga Laura , aquela que estava ao nosso<br />
la<strong>do</strong> . Trabalhava como secretária em uma empresa de exportação .<br />
No final , depois que paguei a conta <strong>da</strong> mesa , convidei Ninotcha<br />
para jantar e <strong>da</strong>nçar . Ela aceitou , condicionan<strong>do</strong> o encontro para a próxima<br />
noite . Deu o seu endereço e o telefone . Ficou marca<strong>do</strong> nosso encontro para<br />
as 21,00 horas .<br />
Logo depois nos despedimos e elas se foram .<br />
Quan<strong>do</strong> voltei para a mesa <strong>da</strong>s brasileiras to<strong>da</strong>s queriam saber<br />
como foi aquela conversa . Nossas moças , como sempre muito curiosas .<br />
Expliquei apenas que marcara um encontro para o próximo dia .<br />
Quan<strong>do</strong> Sergio D’Avila e os cariocas souberam <strong>do</strong> tal encontro,<br />
marca<strong>do</strong> com uma moça portenha , começaram a gozação dizen<strong>do</strong> que elas<br />
“as portenhas acharam um trouxa para pagar a conta” . Que eu iria tomar um<br />
“cano” , pois o encontro nunca aconteceria . Que as portenhas eram muito<br />
espertas e que eu ficaria apenas na ilusão” . Não liguei para eles .<br />
No fim <strong>da</strong> tarde <strong>do</strong> outro dia , fazen<strong>do</strong> hora para ir ao encontro com<br />
Ninotcha , fui até o hotel <strong>do</strong>s outros brasileiros.<br />
Estava realmente uma tarde muito fria . O frio até <strong>do</strong>ía .<br />
Então os cariocas , quan<strong>do</strong> me viram , brincavam comigo dizen<strong>do</strong><br />
que ... “estava uma noite muito boa para pegar resfria<strong>do</strong> , principalmente<br />
esperan<strong>do</strong> para<strong>do</strong> na esquina”...
Quan<strong>do</strong> chegou a hora dei boa noite , peguei meu sobretu<strong>do</strong> e fui<br />
para meu encontro . Na saí<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> ouvi : “... vamos to<strong>do</strong>s ficar no bar<br />
aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong>... a minha volta , no máximo dentro de uma hora” .<br />
Tomei um táxi , dei o endereço , e fui leva<strong>do</strong> para um bairro bem<br />
próximo <strong>do</strong> centro . Cheguei , dei o nome e numero <strong>do</strong> apartamento ,<br />
solicitan<strong>do</strong> para o porteiro avisar minha chega<strong>da</strong> . Ele ligou e em segui<strong>da</strong><br />
informou que a pessoa já estava descen<strong>do</strong> . Fiquei alivia<strong>do</strong> .<br />
O encontro era real , realíssimo .<br />
Ninotcha logo apareceu . To<strong>da</strong> elegante e muito bonita . Perguntou<br />
como eu estava enfrenta<strong>do</strong> o frio portenho . A resposta foi que eu precisaria de<br />
muito calor feminino aquela noite . Ela sorriu .<br />
Perguntei se ela tinha vontade de ir especialmente em algum lugar ,<br />
pois para mim tu<strong>do</strong> estaria bem em sua companhia . Alem <strong>do</strong> mais seu<br />
conhecimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de era maior e melhor . Ela falou sobre um clube<br />
noturno muito agradável , bem freqüenta<strong>do</strong> , na direção de Olivos , com<br />
musica boa para <strong>da</strong>nçar e uma ótima comi<strong>da</strong> francesa . Gostei <strong>da</strong> sugestão e<br />
fomos em frente .<br />
Realmente foi uma noite maravilhosa .<br />
Aquela noite teve continui<strong>da</strong>de por muitos dias , mais gostosos .<br />
ARRANJANDO ENCRENCA EM “LA BOCA”<br />
Na véspera de nosso retorno fomos com os cariocas conhecer o<br />
restaurante típico italiano chama<strong>do</strong> “Spa<strong>da</strong> Vechia” . Estava na mo<strong>da</strong> e era<br />
bem freqüenta<strong>do</strong> . Ficava lá no bairro <strong>da</strong> Boca . Era muito simples. Na<br />
reali<strong>da</strong>de uma cantina muito alegre , onde to<strong>do</strong>s cantavam e brincavam com<br />
to<strong>do</strong>s .<br />
A comi<strong>da</strong> italiana era sempre a mesma : macarrão , brachola ,<br />
cabrito , sala<strong>da</strong> verde e muito vinho . Muito vinho mesmo . Incluso no preço .<br />
Logo depois de vários copos ficamos bem à vontade com os<br />
argentinos que lá ficamos conhecen<strong>do</strong> . Sentávamos tanto na mesa deles<br />
como eles sentavam na nossa . A confraternização foi grande e a bebedeira<br />
também . Ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s contan<strong>do</strong> seus casos para os <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> . Para<br />
variar fui obriga<strong>do</strong> a tirar “braço de ferro” com vários portenhos .<br />
No meio de to<strong>da</strong> aquela alegria , sem mais nem menos , já no início<br />
<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> , Sergio D’Avila derrepente sumiu . Passa<strong>do</strong>s alguns minutos<br />
Alberto veio informar que ele estava realmente de “fogo” e tinha quebra<strong>do</strong> ,<br />
não sabia como , a pia <strong>do</strong> banheiro . Fui até lá ver . Tinha na reali<strong>da</strong>de
quebra<strong>do</strong> a pia e desloca<strong>do</strong> a bacia <strong>da</strong> priva<strong>da</strong> . Achei melhor irmos embora ,<br />
imediatamente , antes que a destruição fosse descoberta , pois não sabia o que<br />
poderia acontecer . Iria <strong>da</strong>r problemas na certa . E nosso dinheiro naquele<br />
momento já estava fican<strong>do</strong> pouco .<br />
Pagamos a conta e saímos rapi<strong>da</strong>mente levan<strong>do</strong> Sergio que mal<br />
podia an<strong>da</strong>r . No caminho para o táxi perdeu um pé de seu sapatos . Na hora<br />
nem percebeu .<br />
Quan<strong>do</strong> o táxi estava partin<strong>do</strong> ouvi vozes altas que vinham <strong>do</strong><br />
“Spa<strong>da</strong> Vecchia” . Olhei para trás e vi gente an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> apressa<strong>da</strong> na direção <strong>do</strong><br />
nosso táxi . Por sorte o motorista acelerou , saímos ilesos e acabamos<br />
chegan<strong>do</strong> até a esquina <strong>do</strong> nosso hotel . Não fomos direto para o “Chacabuco”<br />
pois o motorista poderia voltar e informar nosso endereço .<br />
A ressaca foi grande . Pior que ela só a continua reclamação <strong>do</strong><br />
Sergio por ter perdi<strong>do</strong> um pé <strong>do</strong> sapato novo .<br />
Eu brincava dizen<strong>do</strong> : “- Agora você pode dizer que é a “Cinderela<br />
Portenha” que perdeu seu “Sapatinho de Cristal no bairro <strong>da</strong> Boca ” . Ruim<br />
será quan<strong>do</strong> , ao invés de uma lin<strong>da</strong> princesa , quem poderá achar seu<br />
sapatinho é aquele enorme estiva<strong>do</strong>r barbu<strong>do</strong>” .<br />
“Aquele ... que você reparou , pelo tamanho , lá no cais . Vai ser<br />
muito duro namorar com ele ...”.<br />
VOLTA PARA BRASIL<br />
No dia <strong>do</strong> embarque no “Anna C” fomos almoçar em um restaurante<br />
perto <strong>do</strong> hotel . Fomos a pé . O local era agradável e tinha calefação que<br />
permitia tirar o sobretu<strong>do</strong> e coloca-lo no cabide junto a parede .<br />
Almoçamos bem e, por volta <strong>da</strong>s duas horas , fomos para o cais ,<br />
pois nosso navio deveria sair as cinco horas .<br />
Chegan<strong>do</strong> no porto Alberto me pediu as “Passagens e o Visto de<br />
Entra<strong>da</strong> e Saí<strong>da</strong>” . Eles haviam fica<strong>do</strong> comigo . Eu os colocara no bolso<br />
interno <strong>do</strong> meu sobretu<strong>do</strong> . Mas onde estava o maldito <strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> ?<br />
Lembrei que o havia coloca<strong>do</strong> no cabide <strong>do</strong> restaurante . Derrepente<br />
a “ficha caiu” . Tinha esqueci<strong>do</strong> <strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> . Agora só restava voltar e<br />
tentar “sobretu<strong>do</strong>” achar aquele maldito sobretu<strong>do</strong> .<br />
Combinei que iria e voltaria em segui<strong>da</strong> . Recomendei que eles não<br />
deixassem o navio partir. Que bobagem ! Seria impossível ...!<br />
Tomei um táxi e fui até o restaurante . Lá chegan<strong>do</strong> olhei para o<br />
cabide . O sobretu<strong>do</strong> ali não estava mais . Fiquei gela<strong>do</strong> . Perguntei pelo
maldito sobretu<strong>do</strong> . Em principio ninguém o tinha visto . Depois apareceu um<br />
garçom contan<strong>do</strong> que um senhor percebeu o esqueci<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> . Depois<br />
encontrou papeis em seu bolso . Disse ao garçom que ia leva-lo para entregalo<br />
ao <strong>do</strong>no , pois continha <strong>do</strong>cumentos e passagens .<br />
Achei que haviam rouba<strong>do</strong> meu sobretu<strong>do</strong> .<br />
Como não tinha mais jeito , o jeito era tentar embarcar no navio de<br />
qualquer jeito , pedin<strong>do</strong> para que verificassem a Lista <strong>do</strong>s Passageiros .<br />
Tentaríamos descer no Brasil com nossas carteiras de identi<strong>da</strong>de .<br />
Voltei preocupa<strong>do</strong> para o cais . Quan<strong>do</strong> lá cheguei vi Sergio e<br />
Alberto , já na amura<strong>da</strong> <strong>do</strong> navio , conversan<strong>do</strong> alegremente com um oficial<br />
<strong>do</strong> navio . Gritei seus nomes . Como resposta , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s , disseram que<br />
eu já podia subir a bor<strong>do</strong> .<br />
Subi imediatamente e perguntei como eles tinham arranja<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a<br />
coisa .<br />
Alberto então contou : “Um senhor argentino , que nos tinha visto<br />
entrar e que almoçara no mesmo restaurante , percebeu que aquele seu<br />
sobretu<strong>do</strong> ficou aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> no cabide e , olhan<strong>do</strong> os bolsos , encontrou as<br />
passagens e os vistos de entra<strong>da</strong> . Como notara que o navio sairia naquele<br />
mesmo dia , veio ao cais indica<strong>do</strong> nas passagens <strong>do</strong> “Anna C ” .<br />
Então entregou o sobretu<strong>do</strong> e <strong>do</strong>cumentos para o oficial que estava<br />
de serviço . Como já tínhamos conta<strong>do</strong> nosso problema para aquele mesmo<br />
oficial , ele sabia a quem pertenciam as passagens e <strong>do</strong>cumentos . O oficial<br />
nos viu e nos chamou . Tivemos então oportuni<strong>da</strong>de de agradecer aquele<br />
legitimo cavalheiro argentino por sua grande gentileza” .<br />
Apesar <strong>do</strong> frio eu estava suan<strong>do</strong> naquele momento , mas totalmente<br />
alivia<strong>do</strong> . Sossega<strong>do</strong> realmente fiquei quan<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> senti o “Anna C”<br />
descen<strong>do</strong> o Rio <strong>da</strong> Prata .<br />
Quatro dias depois , em um sába<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> chegamos em Santos ,<br />
muitos amigos <strong>do</strong> Paulistano nos esperavam no cais . Foi a maior fuzarca<br />
quan<strong>do</strong> eles conseguiram subir a bor<strong>do</strong> . Lembro <strong>do</strong> Didi Gui<strong>do</strong>tti e de seu<br />
irmão Adriano , <strong>do</strong> Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Luiz Carlos Panunzzio , Alberto<br />
Botti, Flavio Guimarães , Arnal<strong>do</strong> Paiva e Sergio Guastini . Outros também<br />
vieram com amigos <strong>do</strong> Clube XV de Santos .<br />
A alegria continuou com mais uma “Guerra <strong>da</strong> Macarrona<strong>da</strong>”, lá na<br />
casa de Didi em São Vicente . Não preciso nem contar que aquele almoço foi<br />
produção feminina de nossas amigas , namora<strong>da</strong>s e “paquerinhas” .
PRAIAS – LITORAL SUL<br />
Edu Marcondes<br />
Santos/ S. Vicente / Guarujá – O Paulistano nas Praias - Choque em Fio<br />
Elétrico de Bonde – Veleiros – As Festas <strong>do</strong> “Clubeco”<br />
As déca<strong>da</strong>s de 50 e 60 foram realmente muito felizes para a nossa<br />
Turma <strong>do</strong> Paulistano , com muita camara<strong>da</strong>gem e muitos amigos sinceros .<br />
Tu<strong>do</strong> que acontecia ou fazíamos acontecer realmente era feito de forma<br />
inteiramente desinteressa<strong>da</strong> . A boa companhia tinha maior valia .<br />
Naqueles anos , principalmente quan<strong>do</strong> começava esquentar a<br />
temperatura , já na Primavera , em quase to<strong>do</strong>s fins de semana , os amigos <strong>da</strong><br />
nossa Turma seguiam para as praias . De Outubro até Março era o litoral<br />
nosso destino.<br />
Foram tempos de muitas festas , namoros , brincadeiras , farras ,<br />
esportes e muitas risa<strong>da</strong>s . Principalmente muitas risa<strong>da</strong>s .<br />
Alegria estava no ar.<br />
Para tanto existia um “esquema” pratica<strong>do</strong> pela Turma .<br />
Trabalhávamos e estudávamos durante a semana mas ... , nas noites de sexta<br />
feira ia começar alegria <strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> . Funcionava assim :<br />
- Caso existisse para aquela noite uma Festa <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de , sempre<br />
estaríamos presentes . Não ten<strong>do</strong> festa, nem convites , iríamos diretamente<br />
para a “Boate Jovem <strong>do</strong> CAP” .<br />
Entretanto uma coisa era certa . Tanto com festas como com boate ,<br />
depois <strong>da</strong>s 2 <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> o “Programa Saúde” iria começar : Destino<br />
Praias- São Vicente – Santos – Guarujá .<br />
Naquele tempo em uma hora , no máximo , já estávamos em São<br />
Vicente ou Santos . As viagens eram rápi<strong>da</strong>s , a estra<strong>da</strong> boa e os “pilotos”<br />
confiáveis , pois definitivamente quem bebesse não guiava . A Via Anchieta<br />
no horário <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> estava quase sempre vazia , permitin<strong>do</strong> nossa<br />
chega<strong>da</strong> em tempo para um bom sono no litoral .<br />
Levantávamos lá pelas 9 horas <strong>da</strong> matina para podermos aproveitar<br />
as praias desde logo ce<strong>do</strong> .<br />
Dentro deste “esquema” tinha um porem ... No <strong>do</strong>mingo , depois<br />
<strong>da</strong>s 4 <strong>da</strong> tarde , era obrigatório o retorno para São Paulo . To<strong>do</strong>s queriam estar<br />
no “Mingau Dançante” <strong>do</strong> CAP . Ele ocorria na pista de <strong>da</strong>nças que existia<br />
no Bar Térreo . Ela era muito lin<strong>da</strong>, feita de mármore e ilumina<strong>da</strong> por baixo .<br />
Lá normalmente encontraríamos as “paquerinhas” ou as “namoradinhas<br />
titulares”.
Em uma sexta-feira sem festa e sem “Boate Jovem no CAP”,<br />
iríamos mais ce<strong>do</strong> para o litoral . Lembro que naquele dia tivemos uma<br />
obrigação inicial . Primeiramente deveríamos passar , lá pelas 19 horas , em<br />
um coquetel de inauguração <strong>da</strong> Galeria de Artes de um tal Julio , que era<br />
conheci<strong>do</strong> de muitos amigos .<br />
Fui com Sergio “Mojica” D’Ávila , Silvinho“Careca” Abreu e,<br />
Antonio Duva .<br />
Naquele começo de noite senti que o Sergio estava disposto a beber ,<br />
coisa que ele não era habitua<strong>do</strong> . Lá pelas 20,30 horas , olhan<strong>do</strong> para ele ,<br />
disse para Duva e Silvinho que estava na hora de partir , depois de assistir os<br />
vários “drinks” que o nosso amigo já tinha toma<strong>do</strong> . Estava muito mais falante<br />
<strong>do</strong> que era normalmente . Não esperamos mais na<strong>da</strong> . Enfiamos o Sergio<br />
dentro <strong>do</strong> carro e partimos para Santos . Ele <strong>do</strong>rmiu to<strong>do</strong>s aqueles 60 minutos<br />
<strong>da</strong> viagem .<br />
Quan<strong>do</strong> chegamos ao bar <strong>do</strong> Hotel Parque Balneário vimos que<br />
estava bem cheio e anima<strong>do</strong> , principalmente de mulheres bonitas . O<br />
Serginho tinha acor<strong>da</strong><strong>do</strong> bem alegre e recomeçou a beber . Como tu<strong>do</strong> estava<br />
bem descontraí<strong>do</strong> naqueles dias pré carnavalescos e as “paqueras” muito<br />
interessantes , esqueci <strong>do</strong> amigo durante mais de duas horas .<br />
Antes porem vi que ele havia arruma<strong>do</strong> um chapéu de mexicano ,<br />
não sei onde , e estava tentan<strong>do</strong> “cantar” uma gordinha que se derretia to<strong>da</strong> .<br />
Estava bem diverti<strong>do</strong> . Fiquei despreocupa<strong>do</strong> pois ele era naqueles momentos<br />
realmente uma figura muito alegre .Foi destaque <strong>da</strong> noite no Bar <strong>do</strong> Parque .<br />
Porem a alegria durou pouco . Depois de algum tempo o Silvinho me<br />
chamou e foi dizen<strong>do</strong> que precisávamos levar o Sérgio para o apartamento .<br />
Estranhei e perguntei por que . A resposta foi direta :<br />
- “ Serginho já bebeu to<strong>da</strong>s ... está cain<strong>do</strong> . Bebeu tanto que , quan<strong>do</strong><br />
fui com ele ao banheiro , em vez dele abrir a braguilha e tirar o “pirulito”<br />
mijou <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de dentro <strong>da</strong>s calças . Ela era bege e ficou to<strong>da</strong> molha<strong>da</strong> ,<br />
mancha<strong>da</strong> de urina e escura . Está mesmo um horror . Quan<strong>do</strong> percebi ele já<br />
estava to<strong>do</strong> alivia<strong>do</strong> , pimpão e feliz , balançan<strong>do</strong> nas mãos segui<strong>da</strong>mente a<br />
ponta <strong>do</strong> cinto . Agora está sorrin<strong>do</strong> , to<strong>do</strong> mija<strong>do</strong> ... , até dentro <strong>do</strong>s sapatos”.<br />
Jura que a calça esta molha<strong>da</strong> de água . Só água ....<br />
Esta história é ver<strong>da</strong>deira . Foi muito conta<strong>da</strong> .<br />
Tempos depois virou até pia<strong>da</strong> . Porem aconteceu .<br />
Para ir para as praias naqueles fins de semana bastava chegar ao<br />
Paulistano nas tardes de sexta – feira . Sempre encontraria condução e lugar<br />
para ficar . Precisava porem levar a sua “bagagem de praia” , como dizia o
Didi Gui<strong>do</strong>tti : -“ Calção de banho , escova de dentes e bom humor ” . Para<br />
agüentar to<strong>da</strong>s as brincadeiras e gozações .<br />
Um <strong>do</strong>s locais de esta<strong>da</strong> <strong>da</strong> turma em São Vicente acontecia em meu<br />
apartamento , no Edifício Icaraí , que era chama<strong>do</strong> de “ Palácio <strong>do</strong> Riso” ,<br />
pelas bagunças , coquetéis e festinhas nele realiza<strong>do</strong>s .<br />
Ficava na Praia de Gonzaguinha .<br />
Outro destino certo era a casa <strong>do</strong> Didi e de seu irmão Adriano<br />
Gui<strong>do</strong>tti . Ali acontecia , aos <strong>do</strong>mingos , durante to<strong>do</strong> ano a “Guerra <strong>da</strong><br />
Macarrona<strong>da</strong>” . A casa era bem grande .<br />
Ficava entre a praia de Itararé e Gonzaguinha .<br />
Outros <strong>do</strong>is apartamentos usa<strong>do</strong>s estavam na praia de Itararé .<br />
Ficavam em um mesmo quarteirão , depois <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> de Ferro<br />
Sorocabana . Um pertencia ao Alberto Botti , outro ao “Vovô – Luiz Fernan<strong>do</strong><br />
Ribeiro <strong>da</strong> Silva .<br />
Fora destas residências onde a turma ficava , ain<strong>da</strong> existiam várias<br />
outras em São Vicente que eram ocupa<strong>da</strong>s por amigos e seus familiares : A<br />
casa <strong>do</strong> Carlito Taub , a <strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong> Ribeiro <strong>da</strong> Silva , outra <strong>do</strong> Vicente de<br />
Sylos , mais uma <strong>do</strong> Antoninho Cintra Godinho , a casa grande <strong>do</strong> Chico e<br />
Roberto Matarazzo e aquela onde era residente e <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong> o nosso queri<strong>do</strong><br />
Arnal<strong>do</strong> Conceição Paiva . Esta ficava em Santos.<br />
O Paulistano nas Praias<br />
Era grande a relação <strong>do</strong> pessoal amigo <strong>da</strong>s praias que eram Sócios<br />
<strong>do</strong> Paulistano , mas vamos destacar mais alguns <strong>do</strong>s habituais , alem <strong>do</strong>s que<br />
foram acima já cita<strong>do</strong>s .<br />
Eram eles : Luiz Carlos Junqueira Franco , “Velu<strong>do</strong>” Pompeu de<br />
Tole<strong>do</strong> , Caio Kiehl , Aluisio D’Avila , Alcir “Azeitona” Amorim , Otto<br />
Bendix , Carlos Roberto Mattos , Roberto “Big Bob” Garcia , José Rafael<br />
Cárdia , Zizinho Papa , Amedeo Papa , Mario Sérgio , Chico Galvão , Alberto<br />
Andrade , Flavio Guimarães , Mauricio Soriano , Mark Rubin , os irmãos<br />
Daccache , Caio Stinchi , Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Edi Cury , Danilo Penna ,<br />
Helinho Fugantti , Jose Ayres Neto , Dacio Ragazzo , Aderbal Tolosa , Sérgio<br />
Minsky e Iaião Soares , entre muitos outros .<br />
Alem deles ain<strong>da</strong> existiam aqueles inúmeros amigos <strong>do</strong> Clube XV<br />
de Santos . Eles que estavam sempre com o nosso pessoal .<br />
A turma se tornou tão grande , com tanta gente , que para os Bailes<br />
de Carnaval no Parque Balneário era preciso confeccionar 80 fantasias iguais .<br />
para moças e rapazes . Isto aconteceu em <strong>do</strong>is carnavais segui<strong>do</strong>s .
Antes <strong>da</strong> i<strong>da</strong> para as praias era necessário um desjejum reforça<strong>do</strong><br />
pois somente teríamos um almoço ajantara<strong>do</strong> que acontecia lá pelas 5 <strong>da</strong> tarde.<br />
Depois disso era praia direto . Ali acontecia tu<strong>do</strong> . Jogos de “fresco<br />
ball” , natação , esqui aquático , peteca , vôlei , passeios de lancha , paqueras ,<br />
namoros , “petiscos e bebidinhas”, sonecas no guar<strong>da</strong>-sol e jogos de futebol .<br />
Em um destes jogos de futebol o Junqueira cortou o pé em um<br />
pe<strong>da</strong>ço de lata enferruja<strong>da</strong> escondi<strong>da</strong> na areia . Fui com ele até o primeiro<br />
hospital que encontramos . Era uma uni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> SUS - INSS . Como não<br />
poderia deixar de acontecer a demora já atingia quase duas horas e o Junqueira<br />
sem atendimento. Ele alem <strong>do</strong> mais precisava tomar vacina contra tétano . E<br />
tome paciência e espera . ( este quadro hoje só vem pioran<strong>do</strong> )<br />
Derrepente entrou na sala em frente , destina<strong>da</strong> a Pediatria , uma<br />
lin<strong>da</strong> médica recém chega<strong>da</strong> no hospital . O Junqueira olhou , gostou e não<br />
perdeu tempo . Pegou minha mão e disse de forma incisiva : “ Vem comigo !”.<br />
Quan<strong>do</strong> entramos naquela sala a bonita médica olhou bem para ele ,<br />
estranhou e foi dizen<strong>do</strong> :<br />
“- Moço ... Não devo , nem posso atender um adulto . Sou médica<br />
especializa<strong>da</strong> em crianças . Aqui só cui<strong>do</strong> de crianças !”<br />
“- Que absur<strong>do</strong> não é <strong>do</strong>utora ? Por isto a senhora pode calcular há<br />
quanto tempo que eu já estou na fila ... cheguei no colo ...e o tempo foi<br />
passan<strong>do</strong>...agora cresci um pouco . Dá para me atender ?... ”<br />
Não foi atendi<strong>do</strong> por ela quan<strong>do</strong> de seu curativo e aplicação <strong>da</strong><br />
vacina , mas a noite já tinha uma lin<strong>da</strong> companhia para jantar .<br />
Aprendi a esquiar razoavelmente lá na Praínha de São Vicente .<br />
Lancha não faltava pois Alberto Botti , Jose Rafael , Adriano Gui<strong>do</strong>tti e<br />
Roberto Matarazzo , entre outros , colocavam barcos e esquis a disposição <strong>do</strong>s<br />
amigos .<br />
Quan<strong>do</strong> precisávamos de um passeio maior com as paquerinhas de<br />
momento , sempre lá estavam os <strong>do</strong>is enormes iates “Cabrasmar” , que<br />
pertenciam ao Toninho Cintra Godinho e Carlito Taub . Alem destes sempre<br />
apareciam outras barcos de conheci<strong>do</strong>s . A confraternização era geral , com<br />
muitas pia<strong>da</strong>s , histórias cômicas , brincadeiras e muito companheirismo .<br />
Dois , três ou mais barcos saiam juntos para giros curtos pelo litoral .<br />
Então só não poderiam faltar as caipirinhas , as bati<strong>da</strong>s de limão e os<br />
camarões fritos . Musica era indispensável , pois tu<strong>do</strong> virava festa .
CHOQUE ELETRICO EM FIO DE BONDE<br />
Alem destes barcos um dia Didi Gui<strong>do</strong>tti ganhou de presente um<br />
pequeno veleiro – classe “Sharp”. Não tivemos duvi<strong>da</strong>s e em <strong>do</strong>is fins de<br />
semana ele estava inteiramente reforma<strong>do</strong> . Ficava guar<strong>da</strong><strong>do</strong> no grama<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
casa <strong>do</strong> Didi . To<strong>do</strong> fim de semana era leva<strong>do</strong> para a praia em frente , depois<br />
de passarmos uma linha de bonde existente na rua .<br />
Para tanto to<strong>da</strong> vez precisávamos abaixar o mastro , tanto na i<strong>da</strong><br />
como na volta , para não batermos no fio elétrico <strong>do</strong> bonde . Era coisa<br />
demora<strong>da</strong> . Depois de muitas vezes nestas manobras eu achei que <strong>da</strong>va para<br />
passar sem baixar o mastro e sem bater no tal fio elétrico . Outros não<br />
acreditavam . Então eu disse que iria puxar sozinho o barco naquele trecho .<br />
Ninguém quis aju<strong>da</strong>r .<br />
Peguei na cor<strong>da</strong> molha<strong>da</strong> , olhei mais uma vez para o mastro e para o<br />
fio elétrico <strong>do</strong> bonde . Medi com os olhos as respectivas alturas . Esqueci que<br />
com o piso de paralelepípe<strong>do</strong>s o solo era irregular . Puxei o barco sozinho .<br />
bem devagar . Ele subiu um pouco no piso , muito pouco ...<br />
Então a ponta <strong>do</strong> mastro tocou levemente no fio <strong>do</strong> bonde .<br />
No momento em que a biruta existente na ponta <strong>do</strong> mastro<br />
encostou no fio elétrico tomei o maior choque de minha vi<strong>da</strong> .<br />
Foi tão forte que , não sei como, impulsionou por reflexo os<br />
músculos de minhas pernas e eu , sem desejar , dei um grande salto , sain<strong>do</strong><br />
para<strong>do</strong> e sem impulso . Fui parar uns 3 metros de distancia .<br />
No ar , sem querer larguei a cor<strong>da</strong> .<br />
Foi minha sorte pois fiquei desliga<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele fortíssima corrente<br />
elétrica . Tremia to<strong>do</strong> mas continuava vivo .<br />
Continuei tremen<strong>do</strong> por mais duas horas .<br />
Por sorte meu Anjo <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> estava de plantão e a Morte , distraí<strong>da</strong><br />
com os banhistas de fim de semana , me esqueceu<br />
.
-VELEIROS<br />
Veleiros - Outro barco veleiro ficou em nossa história . Sergio<br />
Minsky , natural <strong>do</strong> Rio de Janeiro era médico radica<strong>do</strong> em São Paulo .<br />
Descobriu no Iate Clube <strong>da</strong> Guanabara um lin<strong>do</strong> veleiro , para comprar por um<br />
preço baratíssimo, pois para aquele tipo de barco não existiam competições no<br />
Brasil.<br />
Era um veleiro grande , classe “Internacional-12 metros” , convés<br />
corri<strong>do</strong> , com cabine para 4 pessoas . Na sua quilha , como lastro , havia um<br />
torpe<strong>do</strong> de chumbo de duas tonela<strong>da</strong>s . Alem de tu<strong>do</strong> era um barco veloz .<br />
Sergio conversou com o Arnal<strong>do</strong> Gasparian e resolveram comprar o<br />
tal veleiro . Ele , como não poderia deixar de ser , viria para São Vicente .<br />
Foi monta<strong>da</strong> uma equipagem para trazer o barco . Minsky como<br />
mestre , contan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> com o Caio Richetti , o Lauro ( era um amigo <strong>do</strong><br />
Minsky que fazia halteres com ele no CAP ) e um carioca de nome Léo .<br />
No saba<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> saíram <strong>do</strong> Rio com lin<strong>da</strong> manhã e bons ventos .<br />
A tarde a coisa mu<strong>do</strong>u e a noite caiu uma tempestade que só terminou por<br />
volta <strong>do</strong> meio dia <strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo . Com aquele tempo o barco ficou mesmo<br />
desarvora<strong>do</strong> algum tempo e quase naufragou . Porem chegaram . Marea<strong>do</strong>s<br />
mas chegaram .<br />
Vi pela primeira vez o tal barco pela janela <strong>do</strong> meu apartamento .<br />
Ele era branco e tão lin<strong>do</strong> que mu<strong>da</strong>va a paisagem <strong>da</strong> Baia de São Vicente .<br />
Infelizmente durou muito pouco . Duas semanas depois Caio<br />
Richetti saiu com o barco em uma sexta feira . Não ancorou direito o barco<br />
pois não usou suas duas ancoras . Apenas mergulhou uma poita , o que não era<br />
suficiente para segurar o barco no temporal que viria cair naquela noite na<br />
Baia de São Vicente .<br />
As grandes on<strong>da</strong>s que se formaram arrastaram o barco para uma<br />
pequena praia cerca<strong>da</strong> de roche<strong>do</strong>s .<br />
Ele encalhou e ficou sen<strong>do</strong> bati<strong>do</strong> pelo mar durante to<strong>da</strong> noite . Com<br />
isto o mastro acabou cain<strong>do</strong> e arrebentou grande parte <strong>do</strong> “Deck”.<br />
No saba<strong>do</strong> e <strong>do</strong>mingo tentou-se reboca-lo para fora mas ele estava<br />
tão enfia<strong>do</strong> na areia que só quebrou um pouco mais , fican<strong>do</strong> realmente<br />
inutiliza<strong>do</strong> para sempre .<br />
Foi um triste final para um maravilhoso barco feito na Suécia e que<br />
havia ganho suas competições . Realmente senti não só sua per<strong>da</strong> , mas a falta<br />
<strong>da</strong> beleza que ele trazia por onde passava .
- AS FESTAS DO “CLUBÉCO”<br />
Cabe aqui e agora uma pagina para o Arnal<strong>do</strong> Conceição Paiva , o<br />
“Professor Pavão”, como era chama<strong>do</strong> pelos colegas de arquitetura <strong>do</strong><br />
Mackenzie . Alem de amigão , simpático e muito educa<strong>do</strong> , era muito<br />
dinâmico e gostava de programar e executar as coisas .<br />
Foi ele quem primeiro nos levou ao Clube XV e nos apresentou aos<br />
seus diretores . Foi ele quem nos levou para conhecer o seu excelente<br />
restaurante , por sinal com bons preços . Ele que conseguiu nossa entra<strong>da</strong> livre<br />
para o clube e para suas festas .<br />
Foi também Arnal<strong>do</strong> quem bolou e fun<strong>do</strong>u o “ Clubeco” que <strong>da</strong>va<br />
festas no litoral e tinha uma enorme ten<strong>da</strong> , na praia de Itararé . Pagávamos<br />
uma pequena mensali<strong>da</strong>de para termos a maior mor<strong>do</strong>mia .<br />
A ten<strong>da</strong> era muito grande , monta<strong>da</strong> aos sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos , com<br />
mesas , cadeiras , bar e garçons que serviam champanhe na areia <strong>da</strong> praia .<br />
Com isto também não era mais preciso sair <strong>da</strong> praia para arranjar<br />
bati<strong>da</strong>s geladinhas e camarões fritos na hora . Mor<strong>do</strong>mia total . Tu<strong>do</strong> com o<br />
“Clubeco” era perfeito .<br />
União <strong>do</strong> pessoal de Santos com o pessoal <strong>do</strong> Paulistano /Harmonia .<br />
A primeira “Festa de Luau Havaiano” foi ele quem bolou e a<br />
executou em praia <strong>da</strong> ilha Porchat , em 1955 ( naquele tempo ain<strong>da</strong> fecha<strong>da</strong> ao<br />
publico . Depois naquele local se formou um Clube <strong>da</strong> Ilha ) .<br />
A festa foi lin<strong>da</strong> , com fogueiras , tochas acesas , porco assa<strong>do</strong> na<br />
areia , comidinhas , muitas flores , mil tipos de frutas , vários tipos de bebi<strong>da</strong>s<br />
- inclusive com “Mai-Tai”( coquetel dentro <strong>do</strong> abacaxi) . O melhor eram as<br />
moças , to<strong>da</strong>s vesti<strong>do</strong>s de sarong . Com a noite ficavam lin<strong>da</strong>s ao luar .<br />
Depois ain<strong>da</strong> realizou outra festa na ilha Porchat . Era um Baile de<br />
Fantasia , com amigos e amigas de São Paulo , Santos e Guarujá . Foi uma<br />
festa sensacional , muito concorri<strong>da</strong> e que marcou época , realiza<strong>da</strong> em uma<br />
enorme casa , com jardins ain<strong>da</strong> maiores , situa<strong>da</strong> nos altos <strong>da</strong> ilha . Guar<strong>do</strong> na<br />
lembrança as luzes <strong>da</strong>s casas praianas vistas <strong>do</strong> alto . Não me lembro de to<strong>do</strong>s<br />
detalhes pois aquela noite , vesti<strong>do</strong> de “samurai”, tomei um “pilequinho”.<br />
O professor Arnal<strong>do</strong> era mestre naquilo que fazia .
- DESASTRE NA SERRA DO MAR<br />
Em um dia <strong>do</strong>mingueiro , ain<strong>da</strong> toman<strong>do</strong> umas cervejas na praia ,<br />
acabamos por receber uma noticia muito triste . Acidente com amigo <strong>do</strong> CAP.<br />
O Eugenio “Pistinguet” Apfelbaun havia bati<strong>do</strong> seu automóvel<br />
quan<strong>do</strong> vinha para Santos , ten<strong>do</strong> sua mãe faleci<strong>da</strong> no local . Tu<strong>do</strong> ocorreu no<br />
saba<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> choveu na serra . Seu carro derrapou , bateu no “guard rail” e<br />
caiu serra abaixo . O acidente somente foi descoberto no dia seguinte . O carro<br />
estava inteiramente destroça<strong>do</strong> . Dentro dele só Eugenio . Sua mãe havia caí<strong>do</strong><br />
fora <strong>do</strong> carro e não resistiu . Ele se salvou por milagre e ficou muito tempo no<br />
hospital .<br />
Dias depois fomos visitá-lo , mas ele ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> estava no quarto<br />
hospitalar sem saber direito <strong>da</strong>s coisas .<br />
Tempos depois se recuperou de tu<strong>do</strong> . Fisicamente
LITORAL NORTE – SÃO PAULO E RIO<br />
Edu Marcondes<br />
Ilhabela – Problemas com Mergulhos –Ubatuba – Cabo Frio –<br />
Naufrágio em Paratí – “ Mulhera<strong>da</strong> Sadia no Hotel <strong>da</strong>s Cigarras”<br />
- ILHABELA<br />
- De 1953 até 1956 fui muitas vezes para Ilhabela . Ia para lá ,<br />
quan<strong>do</strong> possível , em alguns feria<strong>do</strong>s mais longos . Depois <strong>da</strong> primeira i<strong>da</strong><br />
sempre fiquei atraí<strong>do</strong> pela beleza <strong>do</strong> local .<br />
Naquele tempo as viagens eram mais demora<strong>da</strong>s pois a quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s não era ain<strong>da</strong> muito boa . Alem <strong>do</strong> mais a travessia para a ilha ,<br />
feita por velhas balsas motoriza<strong>da</strong>s , era extremamente demora<strong>da</strong> .<br />
A viagem sempre começava muito ce<strong>do</strong> , passan<strong>do</strong> por São José <strong>do</strong>s<br />
Campos , para posteriormente , via Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Tamoios , alcançarmos<br />
Caraguatatuba e São Sebastião – onde normalmente almoçavamos .<br />
Sempre pelo início <strong>da</strong> tarde já estávamos entran<strong>do</strong> na beleza<br />
simples , natural e maravilhosa <strong>da</strong> “Ilhabela <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r”. Ali nossa<br />
hospe<strong>da</strong>gem era realiza<strong>da</strong> normalmente em casas simples que alugávamos <strong>do</strong>s<br />
pesca<strong>do</strong>res . As vezes em pequenas pensões que ali ain<strong>da</strong> existiam . Quem<br />
normalmente cui<strong>da</strong>va destes detalhes era o Caio Richetti . Ele tinha amigos<br />
que moravam no local . Cui<strong>da</strong>va de tu<strong>do</strong> por telefone . Caio Kiehl , Carlos<br />
Roberto Matos , Luiz Davis Ribeiro entre tantos mais eram nossos<br />
companheiros .<br />
Uma coisa que marcava nossa esta<strong>da</strong> na ilha eram as Serenatas que<br />
fazíamos praticamente to<strong>da</strong>s as noites . Quase sempre ao la<strong>do</strong> de uma fogueira<br />
para espantar mosquitos . Borrachu<strong>do</strong> só atrapalhava no começo <strong>da</strong>s manhãs<br />
e finais <strong>da</strong>s tardes . Quan<strong>do</strong> estávamos bem queima<strong>do</strong>s de sol praticamente<br />
nem mais sentíamos os borrachu<strong>do</strong>s . O corpo já tinha cria<strong>do</strong> suas defesas .<br />
Daquelas serenatas uma ficou famosa , por não ter aconteci<strong>do</strong> .<br />
Como eu estava de namorico com um par de olhos verdes bem clarinhos , de<br />
nome Angélica , havia chama<strong>do</strong> os amigos e até contrata<strong>do</strong> violeiros <strong>da</strong> ilha<br />
para a serenata que iria acontecer no sába<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s já estavam<br />
prepara<strong>do</strong>s caiu aquela famosa chuva demora<strong>da</strong> litorânea . “Criadeira”.<br />
Só foi parar no fim <strong>da</strong> tarde de Domingo quan<strong>do</strong> já estávamos<br />
voltan<strong>do</strong> . Virou gozação a tal serenata .<br />
Por causa deste tipo de chuva demora<strong>da</strong> e arrasta<strong>da</strong> , que acontecia<br />
na região, to<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quele litoral fluminense e paulista tinham apeli<strong>do</strong>s :<br />
“Angra <strong>do</strong>s Raios” , “Paratimbum” , “Ubachuva”, “Caranagua<strong>da</strong>chuva”, “São<br />
Sebastrovão” e “Ilhaumbrela” .
- Problemas com Mergulhos<br />
O litoral <strong>da</strong> ilha era realmente próprio para mergulhos e caça<br />
submarina , que naquele tempo começavam a ganhar muitos adeptos . A Baia<br />
<strong>do</strong>s Castelhanos ,no outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha , já em águas abertas e limpas <strong>do</strong><br />
oceano , era lugar espetacular para mergulhar .<br />
Nota<strong>da</strong>mente em dia de muita luz e sol .<br />
Naquele tempo o cenário submarino era um espetáculo ,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> visto pela primeira vez . Era maravilhoso , cria<strong>do</strong> pela<br />
água clara , enorme quanti<strong>da</strong>de de peixes colori<strong>do</strong>s existentes e pelas plantas<br />
que embelezavam aquele cenário . Hoje como ficou não sei .<br />
Desde menino eu gostava de mergulhar na piscina <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Descia com facili<strong>da</strong>de os 3 metros que a antiga piscina tinha de fun<strong>do</strong> .<br />
O primeiro mergulho no mar encheu minha alma <strong>da</strong> luz e beleza .<br />
Não tinha ain<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de mergulhar muito mais fun<strong>do</strong> , mesmo com pé<br />
de pato e mascara. Mas ficava descen<strong>do</strong> em curtos mergulhos durante grande<br />
parte <strong>do</strong> dia . Sentia o envolvimento <strong>da</strong> beleza natural .Traziam tranqüili<strong>da</strong>de .<br />
Com o tempo , aju<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo “snorkel”, depois pelo “aqualung” fui<br />
chegan<strong>do</strong> mais fun<strong>do</strong> . Praticamente não caçava na<strong>da</strong> pois não gostava de<br />
matar . Quan<strong>do</strong> muito , quan<strong>do</strong> necessário , pegava o peixe para o almoço .<br />
Uma coisa acontecia comigo ca<strong>da</strong> vez que mergulhava abaixo <strong>do</strong>s 8<br />
ou 9 metros . Aparecia uma <strong>do</strong>r dentro <strong>da</strong> minha fossa nasal . Entretanto , isto<br />
não impedia inicialmente a continui<strong>da</strong>de de meus mergulhos .<br />
Dos demais mergulha<strong>do</strong>res eu estava impressiona<strong>do</strong> com um<br />
caboclo muito forte que muitas vezes mergulhava conosco . Ele vivia em<br />
Ilhabela e era chama<strong>do</strong> de “Manuel Diabo” . Descia mais de 20 metros e<br />
conseguia ficar debaixo d’agua por quase três minutos , sem mascara , sem pé<br />
de pato , nem na<strong>da</strong> !<br />
Eu queria mergulhar fun<strong>do</strong> mas não conseguia . Eu não descia<br />
fun<strong>do</strong>, mesmo com to<strong>da</strong> aparelhagem, , principalmente por causa de uma <strong>do</strong>r<br />
que aparecia dentro <strong>do</strong> nariz , precisamente na fossa nasal . Ela ia aumentan<strong>do</strong><br />
ca<strong>da</strong> mergulho que eu tentava ir mais fun<strong>do</strong> . Depois realmente passou<br />
incomo<strong>da</strong>r e acabou tapan<strong>do</strong> a narina esquer<strong>da</strong> .<br />
Falei com o irmão médico de minha mãe , com meu tio Abel . Ele<br />
recomen<strong>do</strong>u o Dr. Álvaro Imperatriz , medico <strong>da</strong> família , especializa<strong>do</strong> em<br />
otorrino . Depois <strong>do</strong>s exames foi informan<strong>do</strong> que eu tinha um tumor no fun<strong>do</strong><br />
<strong>da</strong> narina esquer<strong>da</strong> . Tirou dele um pe<strong>da</strong>cinho para realizar biópsia .<br />
Dias depois veio o resulta<strong>do</strong> . Foi um alivio . Era benigno <strong>do</strong> tipo<br />
“fibro-hemangioma” , tipo de tumor que aparecia mais na puber<strong>da</strong>de . Dr.<br />
Imperatriz contou que em meu caso uma célula , provavelmente não muito<br />
bem forma<strong>da</strong> , foi aumentan<strong>do</strong> com a pressão <strong>do</strong>s mergulhos e poderia ter se
transforma<strong>do</strong> naquele tumor . Não se tinha certeza de na<strong>da</strong> . Era uma<br />
hipótese.<br />
Deixei de mergulhar e tempo mais tarde fui opera<strong>do</strong> pelo<br />
Octacilinho Lopes Filho com sucesso . Era ele meu amigo de infância e <strong>do</strong><br />
Paulistano . Ali estava começan<strong>do</strong> um grande médico e Professor de Medicina<br />
. - UBATUBA<br />
Fui melhor conhecer Ubatuba , lá pelos i<strong>do</strong>s de junho / 1956 ,<br />
passan<strong>do</strong> alguns dias na casa que meus tios Abel e Angela possuíam na<br />
ci<strong>da</strong>de. Estava em recuperação <strong>da</strong> operação de apêndice realiza<strong>da</strong> . Fui para<br />
lá com minha mãe . Ela que aproveitava a oportuni<strong>da</strong>de para também visitar<br />
seu irmão Saul e conhecer melhor seus sobrinhos Sérgio , Silvio e Susi , filhos<br />
<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> casamento <strong>da</strong>quele seu irmão. Eles moravam em Taubaté mas<br />
também tinham casa em Ubatuba . Naqueles dias também estariam por lá .<br />
Na tarde <strong>do</strong> primeiro dia fui de carro com meu tio conhecer as<br />
praias de Ubatuba . Na reali<strong>da</strong>de algumas , pois o município começa logo<br />
depois de Caragua e vai até Parati . São mais de 100 Km contínuos de praias .<br />
Ca<strong>da</strong> uma mais bonita que a outra .<br />
Intervalo - Depois <strong>da</strong>quele passeio prometi para mim mesmo ter<br />
uma casa em Ubatuba . Isto foi consegui<strong>do</strong> , após o nascimento de minhas<br />
filhas , em 1978 . A casa ficava perto <strong>da</strong> Praia Vermelha , logo depois <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de , in<strong>do</strong> pela Rio-Santos . Ela tinha 3 quartos , sen<strong>do</strong> um suite , uma sala<br />
dupla e terraço <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s , com jardim na frente e <strong>do</strong> la<strong>do</strong> . Era bem<br />
bonita<br />
Dois queri<strong>do</strong>s amigos e colegas <strong>do</strong> Banco Brascan – Ismar<br />
Procópio de Oliveira e Márcio Rosseti - construíram na mesma época , no<br />
mesmo local , a mesma casa . Ela era um projeto <strong>da</strong> “Bel Recanto” que eu<br />
havia modifica<strong>do</strong> alguns detalhes na planta .<br />
Infelizmente não pude usa-la por muitos anos . A região onde fora<br />
construí<strong>da</strong>, cerca<strong>da</strong> de arvores e com o Rio Pereque <strong>do</strong> la<strong>do</strong> , foi<br />
gra<strong>da</strong>tivamente sen<strong>do</strong> invadi<strong>da</strong> por migrantes nordestinos . To<strong>da</strong> semana<br />
havia um roubo na casa . No final tivemos invasões , com muito trabalho para<br />
retomar o imóvel . O jeito foi vende-lo na “bacia <strong>da</strong>s almas” para alguém que<br />
fosse nela morar .<br />
Foi uma pena pois a casa era lindinha , mas foi necessário .<br />
CABO FRIO<br />
Uma tarde de Sába<strong>do</strong> , com muito sol de verão , quan<strong>do</strong> estávamos<br />
reuni<strong>do</strong>s na piscina <strong>do</strong> CAP , chegou convite para a festa <strong>do</strong> Sába<strong>do</strong> de<br />
Aleluia que seria realiza<strong>da</strong> no “Clube <strong>do</strong> Canal” em Cabo Frio , Quem trazia a<br />
noticia <strong>do</strong> convite , se não me engano , era o Nelson Cottini .
Muitos amigos aderiram de imediato e depois de muito bate papo<br />
ficou combina<strong>do</strong> que sairíamos na próxima Terça Feira , logo pela manhã .<br />
Iriamos ficar em Cabo Frio até Domingo de Páscoa . O encontro para nossa<br />
saí<strong>da</strong> seria na porta <strong>da</strong> nova sede <strong>do</strong> Paulistano .<br />
No dia e na hora combina<strong>da</strong> lá estavam os amigos <strong>do</strong> Paulistano :<br />
Alberto Botti , Sérgio e Aluísio D Àvila , Paulinho Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama ,<br />
“Coquinho” e seu irmão Marcelão Ribeiro de Lima , Eddy “Meiabranca”<br />
Cury, Danilo Penna , “Didi” e seu irmão Adriano Gui<strong>do</strong>tti . Iríamos em três<br />
carros , mais o “jeep”DKW” <strong>do</strong> Nelson Cottini que eu estaria guian<strong>do</strong> .<br />
Saímos bem ce<strong>do</strong> . A primeira para<strong>da</strong> <strong>do</strong>s carros de nossa turma foi<br />
no “Clube <strong>do</strong>s 500” onde almoçamos . Em ca<strong>da</strong> carro foram troca<strong>do</strong>s os<br />
motoristas . Dali em diante só fomos parar no inicio <strong>da</strong>quela estra<strong>da</strong> que<br />
levava para Cabo Frio . Era preciso reabastecer e descansar quem dirigia e<br />
ain<strong>da</strong> tomar um cafezinho . Dali para frente a estra<strong>da</strong> era péssima .<br />
Fomos em frente .<br />
Quan<strong>do</strong> chegamos na serra , por sinal muito estreita , mal cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e<br />
perigosa , encontramos o que restou de um acidente ocorri<strong>do</strong> naquela manhã .<br />
Um caminhão jamanta , carrega<strong>do</strong> de diésel , perdeu os freios na desci<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
serra e não conseguiu parar . Quan<strong>do</strong> avistou , logo depois de uma curva , um<br />
carro subin<strong>do</strong> a serra , tentou desviar . A sua parte <strong>da</strong> frente , um cavalo –<br />
mecânico, desviou <strong>do</strong> carro , mas o tanque que vinha logo atrás com suas 30<br />
tonela<strong>da</strong>s bateu de la<strong>do</strong> e rolou por cima <strong>do</strong> carro . Depois pegou fogo . To<strong>do</strong>s<br />
que vinham no carro , que ficou com menos de 90 centímetros de altura ,<br />
morreram esmaga<strong>do</strong>s e foram queima<strong>do</strong>s durante horas .<br />
Chegamos quan<strong>do</strong> começou a ser libera<strong>da</strong> aquela estra<strong>da</strong> .<br />
Aquilo serviu de aviso e <strong>da</strong>li para frente fomos bem mais devagar .<br />
Chegamos em Cabo Frio no final <strong>da</strong> tarde . A ci<strong>da</strong>de era bonita ,<br />
to<strong>da</strong> arrumadinha , com pequenas e bonitas lojas , com praias maravilhosas .<br />
Ain<strong>da</strong> tivemos tempo para guar<strong>da</strong>r as coisas no Hotel e <strong>da</strong>r um mergulho na<br />
praia logo em frente . Então descobrimos a razão para a ci<strong>da</strong>de ser chama<strong>da</strong><br />
Cabo Frio . O mar era gela<strong>do</strong> por causa de uma Corrente Oceânica muito fria<br />
que vinha <strong>do</strong> Polo Sul e passava por ali . Acho que se chama “Corrente de<br />
Falkland” .<br />
Depois <strong>do</strong> jantar fomos conhecer o Clube <strong>do</strong> Canal e as pessoas que<br />
nos tinham convi<strong>da</strong><strong>do</strong> . Eram muito simpáticas , alegres como to<strong>do</strong>s cariocas ,<br />
e logo nos deixaram muito a vontade . Fomos ain<strong>da</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para um jogo<br />
de voleibol no outro dia . Alem <strong>do</strong> mais as mocinhas <strong>do</strong> clube eram charmosas<br />
e bonitas . A paquera começava por ali .<br />
No outro dia , como só seis entram e jogam em uma equipe de<br />
voleibol , os demais , comigo incluso , foram conhecer a ci<strong>da</strong>dezinha de São
Pedro <strong>da</strong> Aldeia . Ali o mar era muito mais quente e a água muito , mas muito<br />
mais salga<strong>da</strong> . Ali também estava sen<strong>do</strong> instala<strong>da</strong> uma base aero-naval pela<br />
Marinha <strong>do</strong> Brasil .<br />
Pela noitinha nós encontramos com o resto <strong>do</strong> pessoal e fomos<br />
jantar com os cariocas no Clube <strong>do</strong> Canal . Eles nos tinham desafia<strong>do</strong> para um<br />
jogo de futebol e um jogo tipo Rugby , que porem era joga<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> canal<br />
que <strong>da</strong>va nome ao clube , com uma bola pesa<strong>da</strong> , grande mas que flutuava .<br />
Isto tu<strong>do</strong> aconteceria no próximo dia , uma sexta feira ..<br />
Empatamos no futebol e no jogo de rugby .<br />
No Sába<strong>do</strong> de Alelúia iríamos ao baile marca<strong>do</strong>, por isto não houve<br />
jogo algum . Só batidinhas de limão , coco e maracujá , lá no “deck” <strong>do</strong> Clube<br />
<strong>do</strong> Canal . A tarde ain<strong>da</strong> fomos até uma loja e compramos chapéus de lona<br />
colori<strong>do</strong>s na cor pastel . Um para ca<strong>da</strong> um de nós . Estava na mo<strong>da</strong> .<br />
O baile gerou pilequinhos generaliza<strong>do</strong>s . Foi muito alegre .<br />
Foi difícil levantar ce<strong>do</strong> no Domingo para voltar para São Paulo .<br />
Lá pelas 9 horas já estávamos “man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> brasa” na estra<strong>da</strong> . O duro era<br />
acompanhar aqueles carros grandes com o “jeep” DKW . O máximo que ele<br />
alcançava era 100 km. por hora .<br />
Conseguimos chegar no Paulistano em tempo <strong>do</strong> “Mingau<br />
Dançante” . Os chapéus de lona colori<strong>da</strong> fizeram sucesso .<br />
- NAUFRÁGIO EM PARATI<br />
– Pelo i<strong>do</strong>s de 1960 o compadre Caio Kiehl havia compra<strong>do</strong> um<br />
pequeno navio pesqueiro – Tipo Camaroeiro . Por isto vinha trabalhan<strong>do</strong><br />
segui<strong>da</strong>mente na região de Santos.<br />
Para ele poder melhor se alojar ofereci o apartamento <strong>da</strong> família em<br />
São Vicente . Era onde ele estava fican<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> em terra . Sain<strong>do</strong> mar afora<br />
era obriga<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmir no seu navio .<br />
Caio Kiehl não era apenas e simplesmente o <strong>do</strong>no <strong>do</strong> pequeno navio<br />
pesqueiro. Era inclusive seu Mestre, seu Capitão . Tinha feito , tempos atras ,<br />
to<strong>do</strong> Curso de Navegação. Era Mestre . Podia capitanear barcos em<br />
navegação de cabotagem - de pequeno curso . Desta forma ele saia para o mar<br />
e coman<strong>da</strong>va seu barco durante vários dias segui<strong>do</strong>s de pesca .<br />
Desde muito tempo ele já era apaixona<strong>do</strong> por navegação . Primeiro,<br />
velejan<strong>do</strong> um barco cabina<strong>do</strong> de seu pai , chama<strong>do</strong> “Acauaí , na Represa<br />
Billings , durante finais de semana e férias . Fez isto por vários anos ,<br />
inclusive comigo a bor<strong>do</strong> . Depois continuou navegan<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> comprou<br />
um veleiro tipo “Sharp” para competir na Represa de Guarapiranga . Nestas<br />
ocasiões eu era seu proeiro . Velejamos juntos durante muito tempo . Não<br />
vencemos nenhuma competição promovi<strong>da</strong> pelos clubes de iatismo paulistas ,<br />
mas sempre chegávamos bem coloca<strong>do</strong>s .
Fora disto , virava e mexia , sempre que podia ele estava navegan<strong>do</strong><br />
com algum outro amigo . Ele sem duvi<strong>da</strong>s tinha sempre um barco na cabeça .<br />
Por isto e para ganhar dinheiro , acredito que havia compra<strong>do</strong> o tal<br />
pesqueiro .<br />
Pois bem , naquela quarta feira , feria<strong>do</strong> , dia de verão , quan<strong>do</strong><br />
encontrei o amigo Caio Kiehl em São Vicente , fui surpreendi<strong>do</strong> . Caio<br />
informou que tinha a sua disposição um pequeno veleiro oceânico . Disse<br />
ain<strong>da</strong> que desejava minha saí<strong>da</strong> com ele , como proeiro <strong>do</strong> barco, em um<br />
cruzeiro até a ci<strong>da</strong>de de Parati .<br />
Sabia que eu estava de férias por 15 dias e poderia aproveitar tal<br />
viagem . Disse que eu não iría gastar na<strong>da</strong> ( isto para mim na época era muito<br />
importante ) pois <strong>do</strong>rmiríamos no barco . Foi explican<strong>do</strong> que iríamos levar<br />
nesta viagem apenas 9 dias , entre a i<strong>da</strong> e a volta . Falou de Susana e<br />
Gabriela, duas conheci<strong>da</strong>s muito bonitas , que estavam em Parati ( ele estava<br />
de olho na Gabriela ) . Comentou que seria boa oportuni<strong>da</strong>de passarmos uns<br />
dias em visita à elas .<br />
Acabei convenci<strong>do</strong> . O veleiro tinha nome de “Vambora ”.<br />
Depois <strong>do</strong> almoço fui conhecer o tal veleiro . Estava em um<br />
pequeno estaleiro . Era <strong>da</strong> “Classe Guanabara”. Estava aparentemente em<br />
bom esta<strong>do</strong>. Com algum pequenos reparos voltaria a ter lin<strong>da</strong> aparência . a<br />
pintura estava perfeita . Porem era um barco não muito novo . As velas<br />
estavam boas . O pequeno motor funcionava bem. O mastro e a retranca<br />
tinham bom aspecto . Internamente estava bem arruma<strong>do</strong> e bem limpo .<br />
Até cheiran<strong>do</strong> bem .<br />
Ficou acerta<strong>da</strong> nossa saí<strong>da</strong> para Parati no dia seguinte . Caio pediu<br />
ao pessoal <strong>do</strong> estaleiro para que o veleiro fosse prepara<strong>do</strong> , receben<strong>do</strong> a água<br />
necessária em suas caixas e diésel em seus tanques . Os alimentos e bebi<strong>da</strong>s<br />
nós iríamos trazer no outro dia quan<strong>do</strong> estaríamos de parti<strong>da</strong> .<br />
Bem no começo <strong>da</strong> manhã seguinte , as 5 <strong>da</strong> matina , zarpamos de<br />
Santos com fortes e bons ventos. Caio demarcou a rota . Depois olhou para o<br />
barômetro e o higrômetro e fez anotações . Depois ligou o pequeno “rádio<br />
goniômetro” que trazia com ele. .Desta forma captava as on<strong>da</strong>s sonoras <strong>do</strong>s<br />
“rádios –faróis” existentes naqueles trechos <strong>da</strong> costa e os “avisos aos<br />
navegantes” <strong>da</strong> Hora <strong>do</strong> Brasil , possibilitan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> saber <strong>da</strong>s bóias marinhas,<br />
e <strong>do</strong>s rádios faróis que indicariam posições <strong>do</strong> veleiro .<br />
Conforme necessi<strong>da</strong>des fui caçan<strong>do</strong> ou afrouxan<strong>do</strong> a buja .<br />
Estávamos subin<strong>do</strong> no vento , realizan<strong>do</strong> por isto mesmo de constantes bor<strong>do</strong>s<br />
( mu<strong>da</strong>nças de direção <strong>do</strong> barco) para manter a rota .
Percebi , desde a nossa saí<strong>da</strong> , que alguns cabos de fixação <strong>do</strong><br />
mastro ( stays ) estavam um pouco folga<strong>do</strong>s . Pareciam um pouco frouxos ,<br />
apesar de serem de bom aço trança<strong>do</strong> . Fui apertan<strong>do</strong> aqueles cabos o quanto<br />
podia . Muitos não <strong>da</strong>vam bom aperto . Vibravam com o vai e vem <strong>da</strong> força<br />
<strong>do</strong>s ventos na vela . Falei com Caio a respeito e como resposta ele disse que já<br />
sabia deste fato . Estava programa<strong>do</strong> que na volta seriam arruma<strong>do</strong>s .<br />
O sol estava bem quente mas não <strong>da</strong>va para sentir , pois os ventos<br />
estavam fortes refrescan<strong>do</strong> a nossa pele . Apesar de estarmos bronzea<strong>do</strong>s<br />
estava queiman<strong>do</strong> um pouco mais durante a parte <strong>da</strong> tarde .<br />
Fomos obriga<strong>do</strong>s vestir camisetas .<br />
Alcançamos Ilhabela no fin<strong>da</strong>r <strong>da</strong> tarde . Fomos fundear no Iate<br />
Clube <strong>da</strong> ilha . Ali estaria acontecen<strong>do</strong> uma festa . Ali também iríamos jantar .<br />
No Iate Club ficamos baten<strong>do</strong> longo papo com alguns conheci<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> Caio – Marcos Paulo e George Men<strong>do</strong>nça . Paralelamente toman<strong>do</strong> umas<br />
cervejinhas com os outros amigos que íamos encontran<strong>do</strong> . Estávamos<br />
gostan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s garotas com sarongs muitos charmosos que por ali chegavam<br />
para o jantar <strong>da</strong>nçante . Demos muitas risa<strong>da</strong>s com as pia<strong>da</strong>s que surgiram .<br />
A festa começou . Logo nos sentimos dentro dela . Depois<br />
continuou até de madruga<strong>da</strong> , dentro <strong>do</strong> veleiro .<br />
Dormimos dentro <strong>do</strong> barco . A noite já ia longe . Já estava alem <strong>da</strong>s<br />
três horas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>.<br />
No outro dia acor<strong>da</strong>mos muito tarde . Bem depois <strong>do</strong> meio dia .<br />
Existia um lin<strong>do</strong> sol . Caio achou que poderíamos fazer boa viagem , apesar<br />
de tu<strong>do</strong> . Só deu tempo de deixarmos as amigas no Iate Club.<br />
Ficou combina<strong>do</strong> que iríamos em frente de imediato . Comemos<br />
sanduíches e bebemos laranja<strong>da</strong> . Saímos por volta <strong>da</strong>s 3,00 horas . Um pouco<br />
tarde . Pior , na pressa sem olhar o barometro ou o higrômetro . Foram<br />
esqueci<strong>do</strong>s .<br />
O dia estava lin<strong>do</strong> e calor era muito .<br />
Qualquer chuvinha , se caísse , serviria para refrescar aquele calorão<br />
Saímos de Ilhabela ain<strong>da</strong> com muito sol .<br />
Logo depois de Caraguá o tempo começou a mu<strong>da</strong>r rapi<strong>da</strong>mente .<br />
Logo o céu foi fican<strong>do</strong> escuro . O vento aumentou muito . Fortes on<strong>da</strong>s se<br />
formaram . Depois , quan<strong>do</strong> já estávamos alcançan<strong>do</strong> Ubatuba , já com to<strong>do</strong><br />
céu preto, a chuva caiu forte .<br />
E foi fican<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais forte . Fomos em frente .<br />
O veleiro pequeno começou a balançar muito . Agora estávamos ,<br />
subin<strong>do</strong> descen<strong>do</strong> nas on<strong>da</strong>s . Muito . Rapi<strong>da</strong>mente .
Com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite as on<strong>da</strong>s começaram crescer , fican<strong>do</strong><br />
também ca<strong>da</strong> vez mais fortes . Eu tinha idéia que não estávamos in<strong>do</strong> para<br />
frente . Depois o escuro ficou quase total e a chuva forte confundia a visão .<br />
Iámos ficar sem duvi<strong>da</strong> alguma sem luar e sem estrelas o resto <strong>da</strong> viagem . O<br />
vento foi fican<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> muito mais forte . Virou tempestade .<br />
A Vela Mestre foi baixa<strong>da</strong><br />
Fechamos a cabina e passamos os “Cintos de Macaco” na cintura<br />
(cintos que impediam nossa caí<strong>da</strong> no mar , pois sem eles poderíamos ser<br />
arrasta<strong>do</strong>s pelas on<strong>da</strong>s ). Fomos em frente . Era o jeito .<br />
Mais um pouco depois fomos obriga<strong>do</strong>s baixar a Buja , pois o<br />
vento era agora muito forte. O motor foi liga<strong>do</strong> .<br />
Não sei quanto tempo passou mas parecia que não saiamos <strong>do</strong> lugar<br />
ou que andávamos muito pouco para frente . Realmente tu<strong>do</strong> estava muito<br />
preto . Não se via quase na<strong>da</strong> com tanta chuva . Tínhamos idéia de quanto era<br />
forte a tempestade quan<strong>do</strong> raios caiam e rapi<strong>da</strong>mente, pelas luzes <strong>do</strong>s raios ,<br />
percebíamos as coisas em nossa volta . Sentíamos a tempestade também pelo<br />
forte balanço <strong>do</strong> mar . A inclinação <strong>do</strong> barco nas on<strong>da</strong>s assustava .<br />
Agora o vento estava fortíssimo e as on<strong>da</strong>s eram simplesmente<br />
enormes , passan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> instante por cima <strong>do</strong> deck . Mesmo sem a vela<br />
mestre o mastro tremia muito . Foi um “perereco” amarrar as velas . O<br />
pequeno motor funcionava direitinho . Ele nos <strong>da</strong>va segurança .<br />
Já tínhamos acendi<strong>do</strong> faróis e as poucas luzes que o barco possuía.<br />
Durante algum tempo tivemos alguma clari<strong>da</strong>de a bor<strong>do</strong> .<br />
Fora dela somente os inúmeros raios iluminavam aquela parte <strong>do</strong><br />
oceano . Segui<strong>da</strong>mente , mostran<strong>do</strong> os grandes vagalhões que se formavam ,<br />
jogan<strong>do</strong> o veleiro para cima e para baixo ..<br />
O veleiro descia e subia nas cristas <strong>do</strong>s enormes vagalhões que se<br />
formavam , continua<strong>da</strong>mente . Os cabos <strong>do</strong> mastro vibravam , mesmo sem<br />
velas . Também o veleiro era varri<strong>do</strong> e arrasta<strong>do</strong> por on<strong>da</strong>s que chegavam<br />
com muita força . Quan<strong>do</strong> elas nos pegavam de la<strong>do</strong> <strong>da</strong>va impressão que o<br />
barco iria virar a qualquer momento , pois o mastro saía <strong>da</strong> vertical , fican<strong>do</strong> à<br />
45 graus . A vibração <strong>do</strong>s mastros aumentava sempre . Preocupação !<br />
Não sei quanto tempo ficamos nesta situação mas percebi que a<br />
ca<strong>da</strong> on<strong>da</strong> maior que chegava , o mastro mesmo sem velas , só com o balanço<br />
vibrava ca<strong>da</strong> vez mais e mais . Alem <strong>do</strong> que rangia estranhamente. Tentamos<br />
apertar mais aqueles cabos de sustentação mas o resulta<strong>do</strong> foi realmente nulo .<br />
De repente , um forte e enorme vagalhão elevou muito o barco.<br />
Fomos para o alto , subin<strong>do</strong> como em uma “montanha russa”. Depois , no<br />
cava<strong>do</strong> <strong>do</strong> vagalhão que se formava , o barco foi rapi<strong>da</strong>mente lança<strong>do</strong> para<br />
frente . Foi descen<strong>do</strong> naquela on<strong>da</strong> enorme com a proa bem inclina<strong>da</strong> para
aixo . No momento em que o barco começou , muito rapi<strong>da</strong>mente , voltar<br />
para a posição horizontal , com o peso <strong>do</strong> mastro que tendia no senti<strong>do</strong><br />
contrário e muito balançava , parte <strong>do</strong>s cabos que muito vibravam se partiram.<br />
Em segui<strong>da</strong> to<strong>do</strong>s se partiram .<br />
Sem estabilização , imediatamente o mastro logo caiu para a frente.<br />
A sua parte inferior , aquela que estava fixa<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> cabine , subiu com<br />
muita força , arrebentan<strong>do</strong> parte <strong>da</strong> proa . Assim na que<strong>da</strong> a parte inferior <strong>do</strong><br />
mastro , aquela que estava dentro <strong>do</strong> casco , se deslocou , subiu e arrancou<br />
parte <strong>do</strong> deck de popa onde estávamos . Apareceu por ali enorme buraco .<br />
Demos sorte de não sermos atingi<strong>do</strong>s. Depois , com uma outra grande on<strong>da</strong> ,<br />
o mastro foi arrasta<strong>do</strong> para fora , fican<strong>do</strong> preso pelos cabos de aço durante<br />
algum tempo junto ao la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> casco . Era arrasta<strong>do</strong> junto ao barco .<br />
A situação ficou terrível .<br />
Então as on<strong>da</strong>s começaram entrar segui<strong>da</strong>mente , pelo enorme<br />
buraco cria<strong>do</strong> pela que<strong>da</strong> <strong>do</strong> mastro , para dentro <strong>do</strong> veleiro . Entravam com<br />
muita intensi<strong>da</strong>de. . Aquela grande quanti<strong>da</strong>de de água logo desligou o motor.<br />
As luzes foram se apagan<strong>do</strong> . Apagaram .<br />
Só deu tempo de soltar as “cinturas de macaco” e entrar pela última<br />
vez na cabina . Com auxilio de uma lanterna pegamos <strong>do</strong>cumentos e as<br />
carteiras . Eles que foram diretamente para os bolsos <strong>da</strong>s nossas calças<br />
“jeans”.<br />
Depois disso Caio disse que o barco estava fazen<strong>do</strong> muita água e<br />
iria afun<strong>da</strong>r brevemente . Eu disse que precisávamos sair rapi<strong>da</strong>mente . Ele<br />
concor<strong>do</strong>u . Iríamos aban<strong>do</strong>nar o “Vambora”<br />
Com auxilio <strong>da</strong> lanterna pequei uma bóia grande que estava com<br />
uma cor<strong>da</strong> amarra<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> sua volta . Falei para o Caio segurar a cor<strong>da</strong> com<br />
firmeza . Pulamos para dentro <strong>do</strong> mar .<br />
Ficamos subin<strong>do</strong> e descen<strong>do</strong> naquelas imensas on<strong>da</strong>s . Eu falava<br />
para o Caio segurar firme pois se soltasse ...<br />
De vez em quan<strong>do</strong> via o rosto <strong>do</strong> parceiro nas luzes de um raio .<br />
Fora disto escuridão total . De repente , com a luz de mais um raio,<br />
percebi que o barco estava rapi<strong>da</strong>mente afun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> novo raio<br />
iluminou o local ele já tinha sumi<strong>do</strong> . Afun<strong>do</strong>u .<br />
Ficamos não sei quanto tempo na escuridão , dentro <strong>da</strong> tempestade ,<br />
subin<strong>do</strong> e descen<strong>do</strong> nas on<strong>da</strong>s , agarra<strong>do</strong>s aquela bóia . Parecia uma<br />
eterni<strong>da</strong>de . Ficávamos falan<strong>do</strong> sem parar . Ca<strong>da</strong> um tentava motivar o<br />
parceiro . Não podíamos esmorecer apesar <strong>do</strong> cansaço que deveria crescer .<br />
Naqueles momentos eu tinha alguns grandes receios :
- 1) Que o Caio fosse leva<strong>do</strong> por uma on<strong>da</strong> , pois não queria ficar<br />
sozinho , nem mesmo perder o amigo ;- 2) Que a bóia furasse : - 3) Que algum<br />
cação nos atacasse ; 4) Que fossemos arrasta<strong>do</strong>s para muito longe .<br />
Depois de muito tempo, de muita preocupação , a tempestade foi<br />
passan<strong>do</strong> e o dia lentamente surgin<strong>do</strong> . A chuva foi paran<strong>do</strong> . Parou .<br />
Com o mar mais calmo pudemos ver ao longe , pela primeira vez ,<br />
as luzes de algum lugar , indican<strong>do</strong> de que la<strong>do</strong> estava a terra . Era o nosso<br />
rumo agora .<br />
Quan<strong>do</strong> o dia foi clarean<strong>do</strong> o mar foi se tornan<strong>do</strong> muito calmo .<br />
Depois de um tempo , com o sol raian<strong>do</strong> , parecia uma piscina . Sem nenhuma<br />
on<strong>da</strong> . No ar uma leve bruma no amanhecer . Começamos na<strong>da</strong>r com mais<br />
decisão , empurran<strong>do</strong> a bóia em direção <strong>da</strong> terra bem distante .<br />
De repente no meio <strong>da</strong>quela leve bruma e <strong>da</strong>quele silencio<br />
escutamos um pequeno barulho de motor . Fazia claramente “ tuc- tuc- tuc-<br />
tuc” . O som era baixinho mas era uma reali<strong>da</strong>de . Logo localizamos a sua<br />
direção e começamos gritar pedin<strong>do</strong> socorro . Tiramos as camisas que<br />
usávamos , uma amarela outra vermelha , e com elas agita<strong>da</strong>s nos braços<br />
tentávamos mostrar nossa localização .<br />
Gritávamos sem parar . Parecia que o barco com aquele “tuc-tuc” <strong>do</strong><br />
motor poderia passar ao largo . Nós gritávamos ain<strong>da</strong> mais , ca<strong>da</strong> vez mais<br />
alto , com to<strong>da</strong> força <strong>do</strong>s pulmões .<br />
De repente , no meio <strong>da</strong>quela bruma leve , avistamos o barco . Era<br />
um pequeno pesqueiro cabina<strong>do</strong> , pinta<strong>do</strong> de branco com uma faixa vermelha .<br />
Então ouvimos claramente alguém falan<strong>do</strong> bem alto : “Já avistamos vocês .<br />
Continuem falan<strong>do</strong> . Firme por ai ... Nós vamos pegar vocês ... ! ”<br />
Depois de alguns minutos (duraram uma eterni<strong>da</strong>de) o barco chegou .<br />
Fomos puxa<strong>do</strong>s para dentro . Recebemos uma xícara de café e um cobertor de<br />
algodão . Não ficamos gela<strong>do</strong>s durante o tempo que estávamos dentro <strong>do</strong> mar<br />
pois era verão e a água estava quente . Mas agora eu estava tremen<strong>do</strong> . Eu não<br />
sabia se era de frio , ou de emoção .<br />
Nossos salva<strong>do</strong>res eram pesca<strong>do</strong>res caiçaras de Caraguatatuba .<br />
Seus nomes : Romão , Manuel e José . Gente boa , inesquecíveis .<br />
Caio foi explican<strong>do</strong> o que tinha aconteci<strong>do</strong> . Fomos depois<br />
informa<strong>do</strong>s : - O barco salva<strong>do</strong>r , onde agora estávamos , era o pesqueiro<br />
“Filhote ” . Ele deveria ter i<strong>do</strong> para Caraguatatuba . Isto deveria ter<br />
aconteci<strong>do</strong> ontem durante a noite. Porem ficou ancora<strong>do</strong> em Parati por causa<br />
<strong>da</strong> tempestade prevista . Nos encontraram pouco depois que zarparam
Depois eles ain<strong>da</strong> informaram que foi loucura nossa sair naquela<br />
tarde/noite , pois os instrumentos acusavam tempo ruim .<br />
Agora , poderíamos ser leva<strong>do</strong>s para Ubatuba , pois iam passar e<br />
parar por ali , ou ficar em Caraguatatuba seu destino final .<br />
Nossa opção foi Ubatuba .<br />
No caminho de volta , com o sol fican<strong>do</strong> forte , nossa roupa secou .<br />
Estávamos aquecen<strong>do</strong> no sol . Quan<strong>do</strong> aquele pesqueiro atracou muito<br />
agradecemos aos seus pesca<strong>do</strong>res . Sem duvi<strong>da</strong> nos salvaram .<br />
Quan<strong>do</strong> começamos as despedi<strong>da</strong>s fornecemos nossos endereços ,<br />
telefones e dissemos que para qualquer problema estaríamos sempre<br />
disponíveis . Ficamos com seus endereços . Nos despedimos com abraços e<br />
muitos sorrisos . Não quiseram aceitar nenhuma recompensa financeira . Eles<br />
estavam felizes por poder aju<strong>da</strong>r . Era a lei <strong>do</strong> mar .<br />
Em Ubatuba compramos sapatos , camisas e almoçamos .<br />
Depois ficamos esperan<strong>do</strong> nossa condução . Demorou .<br />
Então chegou o ônibus para São Paulo . Entramos e sentamos .<br />
Antes dele sair para a estra<strong>da</strong> já estávamos <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> .<br />
“MULHERADA SADIA / HOTEL DAS CIGARRAS”<br />
Ostras pela manhã - “Hotel <strong>da</strong>s Cigarras”.<br />
Na reali<strong>da</strong>de foi uma dúzia de ostras para ca<strong>da</strong> um . Dácio Ragazzo<br />
as havia encomen<strong>da</strong><strong>do</strong> . Isto depois de um café matinal super reforça<strong>do</strong> .<br />
Eu tinha i<strong>do</strong> com ele passar o “Reveillon de 63” naquele hotel que<br />
estava na mo<strong>da</strong> . Tu<strong>do</strong> indicava um feliz fim de ano . O “Cigarras” estava<br />
lota<strong>do</strong>, com políticos , gente importante e simpática .<br />
Alem de lin<strong>da</strong>s mulheres. .<br />
Dácio durante aquele café matinal foi explican<strong>do</strong> :<br />
“ Edu amigo ... para agüentar esta “mulhera<strong>da</strong> sadia” , e note bem,<br />
muito alegre , como você viu ontem a noite quan<strong>do</strong> chegamos , vai ser preciso<br />
estar em perfeita forma física , com muita , mas muita saúde . Elas são minhas<br />
conheci<strong>da</strong>s . Posso dizer que agora a coisa to<strong>da</strong> mu<strong>do</strong>u . A coisa realmente<br />
mu<strong>do</strong>u . Hoje em dia quem precisa ser sério nas coisas sexuais , depois <strong>do</strong><br />
advento <strong>da</strong> pílula anti concepcional , são os homens ...a “mulhera<strong>da</strong> sadia”está<br />
atacan<strong>do</strong>. Atacan<strong>do</strong> !<br />
Depois Dácio continuou explican<strong>do</strong> como deveriam acontecer to<strong>da</strong>s<br />
as coisas em relação aquela “mulhera<strong>da</strong> sadia” :<br />
“ Quan<strong>do</strong> eu vier com uma mulher aqui para este apartamento, antes<br />
avisarei você desta maneira : - “ Edu . Vou trocar de camisa e já volto” .<br />
Assim você ficará saben<strong>do</strong> que estarei aqui acompanha<strong>do</strong> e não virá
atrapalhar. O mesmo você deve fazer . Quan<strong>do</strong> desejar ficar aqui com uma<br />
<strong>da</strong>quelas “mulheres sadias ” avise que virá trocar de camisa . Tu<strong>do</strong> bem<br />
amigo. Está combina<strong>do</strong> ?”<br />
Concordei . Acabamos com as ostras e fomos para a praia em frente<br />
<strong>do</strong> hotel . Ali estavam alguns conheci<strong>do</strong>s com a tal “mulhera<strong>da</strong> sadia” . Dácio<br />
não perdeu tempo e já foi atacan<strong>do</strong> . Depois meia hora de bate papo e de<br />
muitas risa<strong>da</strong>s levou uma morena para na<strong>da</strong>r com ele . Deixei de prestar<br />
atenção e fiquei toman<strong>do</strong> água de meu coco gela<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quela turma<br />
muito simpática .<br />
Dali a pouco Dácio voltou dizen<strong>do</strong> que iria até o hotel . Eu<br />
perguntei : “ Você vai trocar de camisa” ? Ele baixinho falou em meu ouvi<strong>do</strong> :<br />
“ Não , estou com uma leve <strong>do</strong>r de barriga”.<br />
Ele demorava em voltar . Durante aquele tempo também comecei<br />
ficar com <strong>do</strong>r de barriga . Quan<strong>do</strong> Dácio voltou informei que iria até o hotel .<br />
Ele perguntou se eu “ia trocar de camisa” . Informei que não , apenas<br />
precisava ir usar a priva<strong>da</strong> . Urgente . Urgentíssimo . Sai corren<strong>do</strong> .<br />
Aquela <strong>do</strong>r de barriga que eu sentia virou uma disenteria forte , com<br />
muito mal cheiro . Estava <strong>da</strong>n<strong>do</strong> cólicas intestinais que não passavam .<br />
Ain<strong>da</strong> estava no banheiro quan<strong>do</strong> Dácio voltou desespera<strong>do</strong> .<br />
Vomitou . Na pia pois a priva<strong>da</strong> estava ocupa<strong>da</strong> . O mau cheiro piorava as<br />
coisas . Então fui obriga<strong>do</strong> a levantar e <strong>da</strong>r lugar para ele no “trono”, apesar<br />
<strong>da</strong>s cólicas que ain<strong>da</strong> sentia . Dácio parecia muito pior <strong>do</strong> que eu .<br />
Naquele momento não tive mais dúvi<strong>da</strong>s e fui falan<strong>do</strong> :<br />
“ Amigo ... estamos com intoxicação intestinal que deve ter si<strong>do</strong><br />
causa<strong>da</strong> pelas tais ostras . Elas deviam estar “marea<strong>da</strong>s” . Precisamos de<br />
remédios com urgência . Vou ligar para a portaria pedin<strong>do</strong> auxilio ” .<br />
Dácio na<strong>da</strong> respondeu . Tomou um banho rápi<strong>do</strong> pois estava suan<strong>do</strong><br />
muito e deitou em segui<strong>da</strong> . Não demorou e recebi água de coco e umas<br />
pílulas , remédio <strong>do</strong> qual não lembro o nome . Recebi também desculpas<br />
pelas ostras marea<strong>da</strong>s . O gerente man<strong>do</strong>u dizer que sentia muito .<br />
Dácio voltou para a priva<strong>da</strong> . Foi ali senta<strong>do</strong> que tomou água e<br />
remédio . O cheiro no apartamento era horroroso , mesmo com as janelas<br />
abertas . Ficou pior quan<strong>do</strong> novamente eu voltei para a priva<strong>da</strong> .<br />
Depois tomei banho demora<strong>do</strong> . Após o que , com o deso<strong>do</strong>rante<br />
que tinha tentei melhorar o cheiro <strong>do</strong> apartamento . Sensacional ! Ele ficou<br />
com cheiro de ... “ bosta de rosas ”. Horrível !<br />
Meia hora depois o remédio tinha feito seu efeito analgésico . As<br />
cólicas momentaneamente melhoraram . Parecia que tinham para<strong>do</strong> .<br />
Resolvemos voltar para as praias . Voltar para a “mulhera<strong>da</strong> sadia”.
O máximo que conseguimos foi chegar até a portaria <strong>do</strong> hotel . A<br />
“caganeira” voltou com to<strong>da</strong> força . Eu consegui retornar ao apartamento .<br />
Dácio correu para a “toillete <strong>do</strong>s homens” no hall de entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> hotel . Ali o<br />
mau cheiro deve ter fica<strong>do</strong> de lascar . Dácio disse que ficou com vergonha de<br />
sair de lá . Ele disse que parecia ter “mer<strong>da</strong> gasosa” no ar ...<br />
Resolvemos voltar para São Paulo . Realmente precisávamos de<br />
melhor auxilio . Estávamos arruman<strong>do</strong> as malas quan<strong>do</strong> Dácio , bem sua<strong>do</strong>,<br />
disse que “precisava trocar de camisa” . Então de gozação eu perguntei :<br />
- “ Você vai trazer aqui e agora a “mulhera<strong>da</strong> sadia” ?<br />
Ele me man<strong>do</strong>u “para aquele lugar”... e jogou uma tolha molha<strong>da</strong><br />
na minha direção . Peguei então <strong>do</strong>is rolos de papel higiênico . Precaução !<br />
Quan<strong>do</strong> quisemos pagar o hotel o gerente informou que aquela curta<br />
estadia era “cortesia <strong>da</strong> casa” . Pediu desculpas . Depois nos deu o endereço de<br />
um farmacêutico em Caraguá . Disse que ele era muito bom e o recomen<strong>do</strong>u .<br />
Como ficava em nosso caminho paramos por lá e contamos o caso<br />
para um tal Dr. Pedro , <strong>do</strong>no <strong>da</strong> farmácia . Ele preparou um litro de soro<br />
fisiológico para ca<strong>da</strong> um de nós e , na hora deu um remédio , um pózinho<br />
dissolvi<strong>do</strong> em água , para combater infeção intestinal . Depois ain<strong>da</strong> nos<br />
forneceu bananas maçãs um pouco verdes . Recomen<strong>do</strong>u que as comêssemos ,<br />
no mesmo momento em que bebêssemos o soro forneci<strong>do</strong> , pois não<br />
poderíamos ficar com a barriga vazia . Barriga vazia <strong>da</strong>ria cólicas muito<br />
<strong>do</strong>lori<strong>da</strong>s . Comi<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> também . Agradecemos , pagamos e fomos para a<br />
estra<strong>da</strong> .<br />
Mal começamos subir a serra deu nova <strong>do</strong>r de barriga no Dácio .<br />
Pediu para parar o carro e correu para trás de um matinho na beira <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> .<br />
Daí a pouco voltou alivia<strong>do</strong> . Fomos adiante durante 10 minutos . Então<br />
subitamente parei o carro. Foi minha vez de correr para uma moita fora <strong>da</strong><br />
estra<strong>da</strong> . Dácio saiu guian<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> voltei .<br />
Fomos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e paran<strong>do</strong> , sempre corren<strong>do</strong> para o mato , beben<strong>do</strong><br />
soro e comen<strong>do</strong> bananas meio verdes , durante to<strong>do</strong> percurso na Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />
Tamoios . Chegamos no Vale <strong>do</strong> Paraíba esgota<strong>do</strong>s . Era até difícil dirigir .<br />
Na Via Dutra o Dácio disse que estava com o rabo arden<strong>do</strong> . Então<br />
eu brinquei com ele dizen<strong>do</strong> :<br />
“ Passarinho que come “ostras marea<strong>da</strong>s” sabe o rabo que tem ...”<br />
Chegamos em São Paulo lá pelas 4 <strong>da</strong> tarde . Fui para a casa de<br />
meus pais e Dácio para seu apartamento . Ele estava sozinho pois sua família<br />
tinha i<strong>do</strong> para Limeira , de onde eles eram originários .<br />
Já em casa contei o fato para minha mãe . Logo depois ela me<br />
trouxe um chá com “gosto de cabo de enxa<strong>da</strong>” . Fui obriga<strong>do</strong> a tomar tu<strong>do</strong> ,
apesar <strong>da</strong> caretas que fazia . Fiquei quieto deita<strong>do</strong> no sofá <strong>do</strong> jardim de<br />
inverno . Acabei <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> .<br />
Fui acor<strong>da</strong><strong>do</strong> depois <strong>do</strong> anoitecer com um telefonema de Dácio .<br />
Ele , to<strong>do</strong> alegre , foi informan<strong>do</strong> :<br />
“ Já estou quase bom . Já reservei mesa no “ João Sebastião Bar” .<br />
Vai ter um “reveillon” sensacional . Falei com uma “ mulhera<strong>da</strong> sadia ” que<br />
irá para lá . Vai ser muito legal nosso fim de ano . Vou pegar você por volta<br />
<strong>da</strong>s 22 horas”.<br />
Quan<strong>do</strong> eu disse que ia ficar em casa ele ficou aborreci<strong>do</strong> . Depois<br />
tentou apelar dizen<strong>do</strong> que eu estava fican<strong>do</strong> frouxo . Por fim aceitou minha<br />
decisão , mas não o convite para vir ceiar conosco . Ficou combina<strong>do</strong> que ele<br />
falaria comigo na manhã <strong>do</strong> primeiro dia de Ano Novo .<br />
Isto não iria acontecer . Por volta <strong>da</strong> meia noite e meia ligaram <strong>do</strong><br />
“João Sebastião Bar” . Dácio estava passan<strong>do</strong> muito mal . Precisava de aju<strong>da</strong> ,<br />
pois além de mais tinha comi<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> . E bebi<strong>do</strong> uísque . Não podia<br />
quase an<strong>da</strong>r e nem poderia guiar . Tinha i<strong>do</strong> várias vezes ao banheiro .<br />
Fui para lá o mais rápi<strong>do</strong> possível . Cheguei e deparei com Dácio<br />
senta<strong>do</strong> em uma mesa <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> na parte alta <strong>da</strong> “boite”. Estava horrível .<br />
Dormitava sozinho no meio <strong>da</strong>quela barulheira . A “mulhera<strong>da</strong> sadia” estava<br />
se espalhan<strong>do</strong> na pista de <strong>da</strong>nças , na parte de baixo . Quan<strong>do</strong> o acordei para<br />
leva-lo para casa ele ain<strong>da</strong> reclamou , não de <strong>do</strong>r de barriga , mas por ter que<br />
deixar aquela “mulhera<strong>da</strong> sadia” .<br />
Final <strong>da</strong>quele reveillon : - Fui obriga<strong>do</strong> a levar o amigo para uma<br />
farmácia de plantão na Barão de Itapetininga . Tomou injeção na veia . Por<br />
recomen<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> farmacêutico , pois seu esta<strong>do</strong> requeria cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s , fui<br />
obriga<strong>do</strong> a <strong>do</strong>rmir no apartamento <strong>do</strong> Dácio, no quarto ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu . Isto<br />
aconteceu depois que ele teve necessi<strong>da</strong>de de tomar vários remédios e até<br />
maldita injeção que ele xingava to<strong>do</strong> tempo .<br />
Depois em 5 minutos estávamos em seu apartamento .<br />
“Feliz Ano Novo” . Era o cartaz que eu via , pela janela <strong>do</strong> quarto,<br />
no outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rua São Luiz . O cartaz estava na vitrine de uma <strong>da</strong>s muitas<br />
lojas <strong>da</strong>s companhias aéreas , então ali existentes . Fiquei olhan<strong>do</strong> algum<br />
tempo, enquanto Dácio <strong>do</strong>rmia . No cartaz , logo abaixo <strong>da</strong>quele letreiro , uma<br />
enorme foto com um ban<strong>do</strong> de lin<strong>da</strong>s moças usan<strong>do</strong> “biquínis” minúsculos .<br />
Fiquei pensan<strong>do</strong> ... depois ri sozinho .<br />
Quan<strong>do</strong> Dácio acor<strong>da</strong>sse no outro dia eu iria brincar com ele . Diria<br />
que passei o resto <strong>da</strong> noite ao la<strong>do</strong> de uma “ mulhera<strong>da</strong> sadia” , to<strong>da</strong>s com<br />
muito pouca roupa . Falaria nisto com muita firmeza . Muita firmeza .<br />
E era a mais pura ver<strong>da</strong>de ... engana<strong>do</strong>ra , mas ver<strong>da</strong>de !
ALTITUDE : DOIS MIL METROS<br />
Edu Marcondes<br />
-Férias de “Dois Penetras” – Outras I<strong>da</strong>s para Montanha – “ A <strong>Casa</strong> <strong>da</strong><br />
Tia no Parque <strong>da</strong> Ferradura – “ A Taturana”- Subi<strong>da</strong> na Pedra <strong>do</strong> Baú<br />
– “ O Pulôver Vermelho” - “Conversível em Noite de Zero Grau”-<br />
Dormin<strong>do</strong> no Gela<strong>do</strong> – A Maior Mansão <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de – Capotamento na<br />
Estra<strong>da</strong> – <strong>Casa</strong> Aluga<strong>da</strong> – Choque Térmico – Alemanha “Horizontal”-<br />
Pouca gente tem conhecimento que o local onde hoje se situa<br />
Campos <strong>do</strong> Jordão pertenceu e foi parte integrante de Pin<strong>da</strong>monhangaba . Era<br />
chama<strong>do</strong> de Capivari . Ficava no mesmo local <strong>do</strong> bairro que hoje tem este<br />
nome .<br />
Ali , no alto <strong>da</strong> Mantiqueira foi cria<strong>do</strong> o primeiro núcleo de<br />
colonização naquela serra , realiza<strong>do</strong> por fazendeiros de Pin<strong>da</strong>monhangaba.<br />
“FÉRIAS DE PENETRAS”<br />
Em Maio de 1952 , quan<strong>do</strong> eu já havia volta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s 5 anos de<br />
internato que passei em colégio de Campinas , completamente fora <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de e acreditan<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> que me contavam , aconteceu . Recebi um<br />
convite lá no Paulistano , onde encontrei meu amigo e colega Luiz . Ele<br />
havia termina<strong>do</strong> comigo o Cientifico no Colégio Maria José . Foram só três<br />
meses que assisti aulas por lá . Eu tinha vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ateneu em Campinas ,<br />
depois que o Cine Rink caiu .<br />
Com ele estavam Caio Kiehl e Vicente de Sylos .<br />
No meio de nossa conversa Luiz falou <strong>da</strong> casa de seu pai situa<strong>da</strong><br />
no “Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r”, Disse ain<strong>da</strong> que , em Junho , nas férias , lá<br />
estaria .<br />
Fiquei com muita vontade de realmente conhecer Campos <strong>do</strong> Jordão.<br />
Externei este desejo. Luiz então me disse : “ Espero por vocês . Apareçam<br />
em casa .Terei muito prazer . Serão sempre bem vin<strong>do</strong>s . ” Depois descreveu<br />
com detalhes a casa e o caminho para a Lagoinha .<br />
Naquele tempo ain<strong>da</strong> eu não sabia que o... “ Espero por vocês....<br />
Apareçam lá em casa”... - era apenas uma forma delica<strong>da</strong> e educa<strong>da</strong> de<br />
conversar . Nunca um convite efetivo . Luiz repetiu : “Apareçam por lá ...”<br />
Dias depois encontrei Caio Kiehl . Falamos sobre férias e surgiu a<br />
idéia de irmos até Campos <strong>do</strong> Jordão . Lembramos que muitas moças e amigos<br />
de São Paulo lá estariam . Poderíamos ir e ficar em um hotel . No final <strong>da</strong>
conversa , depois de muitos prós e contras , combinamos que no próximo<br />
saba<strong>do</strong> iríamos subir a Serra <strong>da</strong> Mantiqueira . Em seu Fusca .<br />
Aquele Volkswagen <strong>do</strong> Caio – modelo 1950 - era realmente um<br />
carrinho diferente para a época e bem interessante .Tinha um pequeno mas<br />
valente motor de apenas 1.000 cilindra<strong>da</strong>s<br />
Quan<strong>do</strong> sába<strong>do</strong> chegou , saímos bem ce<strong>do</strong> para Campos de Jordão .<br />
A nossa conversa na estra<strong>da</strong> estava tão anima<strong>da</strong> que nem percebemos que já<br />
havíamos passa<strong>do</strong> por São José <strong>do</strong>s Campos , entra<strong>da</strong> necessária para<br />
pegarmos a estra<strong>da</strong> de terra bati<strong>da</strong> e subirmos a Serra . Era o caminho naquele<br />
tempo . Quan<strong>do</strong> notamos já estávamos bem adiante , em Pin<strong>da</strong>monhangaba .<br />
Paramos para tomar informações e então soubemos que ain<strong>da</strong><br />
existia uma outra estra<strong>da</strong> de terra , construí<strong>da</strong> no tempo <strong>do</strong> Império , que saia<br />
de Pin<strong>da</strong> e seguia para Campos <strong>do</strong> Jordão . Informaram que não era muito boa<br />
..., mas que caminhões ain<strong>da</strong> a utilizavam ...<br />
Caio não quis saber de mais na<strong>da</strong> e disse : “ Se caminhão sobe meu<br />
Fusca vai subir . Vamos ganhar tempo não voltan<strong>do</strong> até São José ”.<br />
Seguimos em direção <strong>da</strong>quela estra<strong>da</strong> . Não existiam placas<br />
indicativas para na<strong>da</strong> . Fomos nos informan<strong>do</strong> em ca<strong>da</strong> canto . Levou algum<br />
tempo mas encontramos a tal estra<strong>da</strong> antiga . Seguimos em frente .<br />
Na sua parte plana foi tu<strong>do</strong> bem . Os problemas começaram na serra.<br />
A pista tinha buracos enormes e grandes pedras rola<strong>da</strong>s , em to<strong>da</strong> parte .<br />
Muitas vezes tivemos que parar o carro para examinar a estra<strong>da</strong> . Não possuía<br />
acostamento e por vezes só existia um pe<strong>da</strong>ço de pista , pois a outra parte<br />
havia desbarranca<strong>do</strong> e caí<strong>do</strong> lá para baixo . Dava até me<strong>do</strong> só de olhar .<br />
Finalmente , depois de três horas , chegamos . O valente Fusca ali<br />
já demonstrava por que seria o carro mais procura<strong>do</strong> durante tantas déca<strong>da</strong>s .<br />
Aquela viagem valeu . Pelas belíssimas paisagens que a velha<br />
estra<strong>da</strong> proporcionava , pelas arvores flori<strong>da</strong>s , lin<strong>da</strong>s matas naturais , riachos ,<br />
pequenas cascatas e por uma “vendinha” que encontramos no final <strong>da</strong> serra .<br />
Ali , naquele pequeno comercio que atendia trabalha<strong>do</strong>res , tomei a melhor<br />
garapa de minha vi<strong>da</strong> e comi deliciosos pasteis de queijo feitos na hora . .<br />
Pasteis com garapa . Tem coisa mais paulista ?<br />
Depois , como já estávamos em Campos <strong>do</strong> Jordão , fomos<br />
passean<strong>do</strong> até chegarmos ao Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r . Logo encontramos a<br />
“Lagoinha”, onde ficava a casa <strong>do</strong> nosso amigo . Pedi para Caio passar sobre<br />
uma ponte ali localiza<strong>da</strong> pois , pela descrição recebi<strong>da</strong> de Luiz , sua casa<br />
ficava logo adiante . O local era coberto de hortênsias e tinha carneirinhos<br />
brancos pastan<strong>do</strong> nos grama<strong>do</strong>s .
Achei que seria realmente bom <strong>da</strong>r um abraço naquele amigo e saber<br />
de algum hotel conheci<strong>do</strong> por ele .<br />
Logo avistamos a casa no final de grande grama<strong>do</strong> . Ele a descreveu<br />
muito bem . Muito lin<strong>da</strong> por sinal . Na chega<strong>da</strong> encontramos no jardim uma<br />
senhora tratan<strong>do</strong> de flores , ten<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> um emprega<strong>do</strong> . Paramos , descemos<br />
<strong>do</strong> carro , demos boa tarde e , pedin<strong>do</strong> licença , perguntei se ali era casa <strong>do</strong><br />
Luiz .<br />
Recebemos resposta afirmativa , que foi complementa<strong>da</strong> : “ Ele está<br />
no Tênis Clube” . Então informei que éramos seus amigos <strong>do</strong> Paulistano e que<br />
tínhamos chega<strong>do</strong> de São Paulo naquele momento .<br />
Aquela senhora era mãe <strong>do</strong> Luiz . Quan<strong>do</strong> soube quem éramos<br />
insistiu que entrássemos e foi dizen<strong>do</strong> : “Ele me avisou <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> de vocês .<br />
São convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s dele . Esperava por vocês <strong>do</strong>is depois <strong>do</strong> almoço , lá pelo fim<br />
<strong>da</strong> tarde . Agora , como tinha um jogo marca<strong>do</strong> , foi para o Tênis Clube .<br />
Pediu que vocês deixassem as malas e fossem encontra-lo lá clube, em<br />
Capivari ” .<br />
Antes que pudéssemos saber ou conhecer maiores detalhes o<br />
emprega<strong>do</strong> veio até o carro , pegou nossas malas e as levou para dentro .<br />
Gostei , mas achei meio estranho . Não confirmara nossa vin<strong>da</strong> ao<br />
Luiz . Apenas havia dito que iria até sua casa quan<strong>do</strong> fosse para Campos <strong>do</strong><br />
Jordão .<br />
Caio ficou sensibiliza<strong>do</strong> com o acolhimento <strong>da</strong>quela família . Ficou<br />
feliz . Em to<strong>do</strong> caso , “como eu era caipira de colégio interno , ain<strong>da</strong> confiava<br />
em tu<strong>do</strong> , comecei acreditar que o convite “Espero por vocês” seria realmente<br />
para ficarmos em sua casa .<br />
Acabei achan<strong>do</strong> que éramos mesmo convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />
Depois , pedin<strong>do</strong> licença e informan<strong>do</strong> que estaríamos procuran<strong>do</strong><br />
Luiz , fomos no caminho indica<strong>do</strong> para o Tênis Clube .<br />
Logo adiante , por coincidência , cruzamos com outros <strong>do</strong>is nossos<br />
amigos <strong>do</strong> Paulistano : Bubi Figueire<strong>do</strong> e Jarbas . Quan<strong>do</strong> nos vimos , no<br />
mesmo momento demos sinal e fomos paran<strong>do</strong> os carros . Depois <strong>do</strong>s abraços<br />
perguntaram onde nós estávamos. Dissemos que na casa <strong>do</strong> Luiz. Como<br />
resposta contaram que também estavam in<strong>do</strong> para lá .Que Luiz os esperava.<br />
Que seria muito bom estarmos to<strong>do</strong>s juntos . Explicaram que iriam apenas<br />
deixar suas malas , pois estavam chegan<strong>do</strong> naquele momento .<br />
Informamos que Luiz seria encontra<strong>do</strong> no Clube e que estávamos<br />
in<strong>do</strong> para lá . Ficou combina<strong>do</strong> que nos encontraríamos naquele local .
No caminho fui pensan<strong>do</strong> e depois falei para o Caio : “ Acho que<br />
entramos de gaiato neste convite ... A mãe <strong>do</strong> Luiz deve ter se confundi<strong>do</strong> ...<br />
Esperava <strong>do</strong>is amigos de São Paulo e nós somos <strong>do</strong>is ... Esperava <strong>do</strong>is sócios<br />
<strong>do</strong> Paulistano e nós somos <strong>do</strong>is...esperava <strong>do</strong>is amigos <strong>do</strong> Luiz para depois <strong>do</strong><br />
almoço e nós <strong>do</strong>is chegamos depois <strong>do</strong> almoço... Os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s , na reali<strong>da</strong>de,<br />
são Jarbas e Bubi ! Por to<strong>da</strong> estas coincidências nós estamos realmente de<br />
Penetra na casa <strong>do</strong> Luiz ”.<br />
Caio concor<strong>do</strong>u que era mesmo uma grande coincidência que<br />
poderia ter aconteci<strong>do</strong> . Ficou pensativo .<br />
Mal chegamos ao Tênis Clube fui atrás <strong>do</strong> Luiz . Logo o achei.<br />
Estava lá na sede .Quan<strong>do</strong> nos viu ficou contente e veio falar conosco .<br />
Então , sem mais delongas , fui explican<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que acontecera e<br />
dizen<strong>do</strong> que já estávamos voltan<strong>do</strong> para pegar nossa malas em sua casa .<br />
Naquele instante ele foi muito gentil e muito cavalheiro conosco :<br />
“ De maneira alguma vocês vão sair de minha casa . Caso soubesse<br />
<strong>da</strong> vin<strong>da</strong> de vocês , obviamente seriam devi<strong>da</strong>mente convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Faço<br />
absoluta questão que fiquem conosco . Vai ser muito bom pois na casa existe<br />
outrro quarto e lugar para to<strong>do</strong>s .”<br />
Ain<strong>da</strong> tentamos argumentar mas ele foi muito positivo . Acabamos<br />
fican<strong>do</strong> . Meio sem jeito pela grande “manca<strong>da</strong>”que havíamos <strong>da</strong><strong>do</strong> .<br />
Naquela tarde , alem <strong>do</strong> Bubi e <strong>do</strong> Jarbas , muita gente conheci<strong>da</strong> de<br />
São Paulo chegou . Ficamos perto <strong>do</strong> bar conversan<strong>do</strong> com Marina Cok , Beth<br />
Brito, Fritz D’Orey e Dadiche Levi . Depois combinamos que nos<br />
encontraríamos no “Grande Hotel”, pois lá teríamos um bailinho aquela noite .<br />
Quan<strong>do</strong> começou escurecer o frio chegou com violência . Ao<br />
sairmos <strong>do</strong> clube já havia desci<strong>do</strong> para quase zero grau . Ain<strong>da</strong> bem que tinha<br />
leva<strong>do</strong> uma grossa japona de lã .<br />
Depois <strong>do</strong> jantar , realiza<strong>do</strong> no Grande Hotel, esfriou mais ain<strong>da</strong> e ,<br />
no fim <strong>da</strong> noite , depois <strong>da</strong> festa aconteci<strong>da</strong> , quan<strong>do</strong> voltávamos para casa <strong>do</strong><br />
Luiz , atingiu 4 graus negativos . Nunca havia senti<strong>do</strong> tanto frio . Luiz me<br />
disse que o frio naquela região já baixara até menos 10 graus . Cheguei com os<br />
pés e mãos gela<strong>do</strong>s .<br />
No quarto , que nós quatro ficamos , Caio achou uma seringa de<br />
borracha . Com ela começaram esguichos de água , quase gela<strong>da</strong> , na bun<strong>da</strong> de<br />
quem tirava as calças trocan<strong>do</strong> de roupa .<br />
Na manhã seguinte , após o café matinal , fui com Luiz <strong>da</strong>r uns tiros<br />
com uma velha espingar<strong>da</strong> de carregar pela boca . Depois , com Caio , fomos<br />
conhecer alguma coisa <strong>da</strong> região . Os outros foram ao Tênis Clube.
No caminho compramos chocolates que foram ofereci<strong>do</strong>s para a<br />
senhora mãe de Luiz na hora <strong>do</strong> almoço .<br />
Logo depois <strong>da</strong>quela refeição e <strong>do</strong> cafezinho , servi<strong>do</strong> devi<strong>da</strong>mente<br />
na sala de estar , ficamos conversan<strong>do</strong> sobre as famílias paulistas que tinham<br />
casas em Campos <strong>do</strong> Jordão . Naquela ocasião , logo em segui<strong>da</strong> , Caio disse<br />
que era uma pena Campos de Jordão não ser asfalta<strong>da</strong> . O pai de Luiz<br />
argumentou que o asfalto , tanto na ci<strong>da</strong>de como na estra<strong>da</strong> , seria o fim<br />
<strong>da</strong>quele maravilhoso Campos de Jordão , pois então to<strong>da</strong> a região seria<br />
pequena para muitos turistas que chegariam , de to<strong>do</strong>s lugares , de to<strong>da</strong>s<br />
classes sociais . Os males <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de grande seriam fatais para uma pequena<br />
locali<strong>da</strong>de sem estrutura . Parecia que ele estava adivinhan<strong>do</strong> o que<br />
aconteceria em pouco mais de trinta anos .<br />
Como não queríamos voltar para São Paulo no escuro , pois não<br />
conhecíamos bem a estra<strong>da</strong> , foi tempo de nos despedirmos e “picar a mula”.<br />
Saímos agradecen<strong>do</strong> to<strong>da</strong> hospitali<strong>da</strong>de e gentileza <strong>da</strong>quela família .<br />
OUTRAS VIAGENS PARA CAMPOS DO JORDÃO<br />
Voltei para Campos em quase to<strong>da</strong>s as férias de inverno e algumas<br />
vezes no verão.<br />
Ali sempre carreguei as baterias de minha emoção .<br />
A segun<strong>da</strong> vez que estive em Campos <strong>do</strong> Jordão , em 1953 , foi mais<br />
demora<strong>da</strong>. Fiquei junto com Caio e Luiz Carlos Junqueira , durante quinze<br />
dias , no “ Grande Hotel” . Ali era um <strong>do</strong>s centros de reunião para to<strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de paulista que estava na ci<strong>da</strong>de . Amigos não faltavam . Nem garotas ,<br />
o que era bem melhor .<br />
O mais gostoso de tu<strong>do</strong> era encontrar , em sua grande maioria,<br />
pessoas nossas conheci<strong>da</strong>s . Era sempre uma alegria , em to<strong>do</strong>s lugares que<br />
íamos . Encontros nos fins de tarde no Tênis Clube . Festas e reuniões em<br />
quase to<strong>da</strong>s noites . Lanches com deliciosas tortas de morango ou de<br />
framboesa no Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r .<br />
Aquelas tais tortas de morango ou framboesas eram feitas e servi<strong>da</strong>s<br />
em um pequeno restaurante que pertencia a uma senhora austríaca de nome<br />
Berta. Ela era gor<strong>da</strong> , cora<strong>da</strong> e muito simpática . Tive oportuni<strong>da</strong>de de<br />
conhece-la muito bem em 1955, quan<strong>do</strong> estive hospe<strong>da</strong><strong>do</strong> na casa de<br />
Antoninho Chiampolini . Lá estavam também José Alfre<strong>do</strong> Galrão , Sérgio<br />
D’Avila , Julio Neves e Luizinho Pinto .<br />
Como aquele restaurante era quase vizinho <strong>da</strong> casa e como to<strong>do</strong>s os<br />
dias tomávamos ali to<strong>da</strong>s nossa refeições , por sinal magníficas, foi possível
conhecer os maravilhosos pratos prepara<strong>do</strong>s por Dona Berta . Conseqüência :<br />
Começamos engor<strong>da</strong>r rapi<strong>da</strong>mente .O jeito era fazer exercícios .<br />
.<br />
A noite , quan<strong>do</strong> não tínhamos uma festa ou um jantar em casa de<br />
amigos , tínhamos reuniões no Grande Hotel . To<strong>do</strong>s dias eram alegres com os<br />
conheci<strong>do</strong>s ao nosso la<strong>do</strong> . Nos sába<strong>do</strong>s à noite sempre aconteciam bailes e<br />
festas em algum lugar .<br />
Lembro que as mocinhas , com aqueles trajes de inverno , ficavam<br />
extremamente elegantes e charmosas . Por isto mesmo paqueras aconteciam<br />
quan<strong>do</strong> menos se esperava .<br />
Naquelas férias eu estava namoran<strong>do</strong> Cidinha Giafone .<br />
Além de alegre sempre foi muito bonita . Em sua casa aconteciam<br />
jogos de futebol que a rapazia<strong>da</strong> fazia questão de participar . Também to<strong>do</strong>s os<br />
anos , naquela época de férias , acontecia uma lin<strong>da</strong> festa , comemorativa de<br />
aniversário de um <strong>da</strong>queles rapazes <strong>da</strong> família Giafone , com muitos comes e<br />
bebes .<br />
-“OS MARINHEIROS DO SUBMARINO ALEMÃO”<br />
Uma tarde , esperan<strong>do</strong> os amigos , comecei a conversar com o<br />
“maitre” <strong>do</strong> Grande Hotel . Seu nome era Hans . Ele era alemão , assim como<br />
grande parte <strong>do</strong>s funcionários que ali trabalhavam .<br />
Conversa vai ... Conversa vem ... acabei saben<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s<br />
aqueles alemães eram antigos tripulantes de um submarino germânico que<br />
aqui chegou no início <strong>da</strong> II Grande Guerra . Chegaram antes <strong>do</strong> Brasil entrar<br />
no conflito mundial . Estavam em Campos de Jordão desde 1940 .<br />
Como sempre gostei de história ficamos conversan<strong>do</strong> sobre a guerra.<br />
No começo eles estavam receosos . Mas quan<strong>do</strong> falei sobre o couraça<strong>do</strong><br />
“Graf Spee” , sobre o “Bismark” e de sua odisséia ; sobre o maior piloto de<br />
caça que foi um germânico - o “Barão Vermelho” e <strong>do</strong>s submarinos que<br />
tinham sempre a letra “U”em primeiro lugar , ficaram receptivos . Depois ,<br />
no an<strong>da</strong>r <strong>da</strong> conversa , ficaram muito mais comunicativos. No final estavam<br />
contan<strong>do</strong> suas agruras passa<strong>da</strong>s em um submarino . Contaram sobre a vin<strong>da</strong><br />
para Campos <strong>do</strong> Jordão .<br />
Eles comigo sempre foram muitos gentis e alegres .<br />
Mesmo depois de muitos anos , sempre que voltava para aquela<br />
ci<strong>da</strong>de , ficasse onde ficasse hospe<strong>da</strong><strong>do</strong> , não deixava de visitar Otto e Fritz ,<br />
que trabalhavam na cozinha , e de <strong>da</strong>r um abraço no maitre Hans .
Com o tempo e o “progresso” o Grande Hotel ficou desativa<strong>do</strong> por<br />
alguns anos . Perdi o contato com meus amigos alemães . Mas nunca os<br />
esqueci .<br />
Difícil era retornar para São Paulo e para o trabalho depois <strong>da</strong>queles<br />
dias em Campos <strong>do</strong> Jordão . Mas as amizades ficavam . As promessas de<br />
voltar no outro ano também .<br />
A “CASA DA TIA” - NO PARQUE DA FERRADURA<br />
Dois anos se passaram . Chegou o inverno . Soubemos então que no<br />
próximo saba<strong>do</strong> haveria um Grande Baile no Grande Hotel , com a presença<br />
de Dóris Monteiro . Ela vinha fazen<strong>do</strong> grande sucesso como cantora de<br />
musicas brasileiras . Não poderíamos perder aquela festa . Ficou resolvi<strong>do</strong> ,<br />
em uma reunião no Paulistano , que subiríamos na sexta feira , véspera<br />
<strong>da</strong>quele acontecimento , em <strong>do</strong>is carros . Comigo iria Silvinho Abreu . No<br />
carro com António Duva estaria Otto “Cachorrão” Bendix .<br />
Saímos bem ce<strong>do</strong> pois soubemos que os hotéis estavam cheios .<br />
Deveríamos chegar antes <strong>do</strong>s demais turistas eventuais , para encontrarmos<br />
vaga em algum hotel . Por precaução contra o frio levamos algumas mantas .<br />
Antes <strong>da</strong>s dez horas já estávamos em Campos <strong>do</strong> Jordão .<br />
Vaga não encontramos , em nenhum hotel .<br />
Lembro que naquele tempo o numero de hotéis era pequeno .<br />
<strong>Casa</strong>s <strong>do</strong>s amigos foi também uma tentativa que não deu resulta<strong>do</strong> .<br />
To<strong>da</strong>s lota<strong>da</strong>s pois a ci<strong>da</strong>de estava cheia de gente conheci<strong>da</strong> . Tentamos ,<br />
junto a uma imobiliária , a Cadij , alugar uma residência para o fim de semana.<br />
Na<strong>da</strong> conseguimos .<br />
Porem a sorte nos aju<strong>do</strong>u .<br />
Duva tinha i<strong>do</strong> para o Parque <strong>da</strong> Ferradura . Combinamos que nos<br />
encontraríamos por volta <strong>da</strong>s 13 horas para almoçarmos . Por volta de meio<br />
dia Duva e Otto chegaram sorridentes . Foram informan<strong>do</strong> que acharam uma<br />
casa . Pequena , meio longe mas com lareira . Já estava devi<strong>da</strong>mente a nossa<br />
disposição .<br />
Depois <strong>do</strong> almoço fomos conhecer a tal casa aluga<strong>da</strong> . O lugar ,<br />
como eu já sabia , era meio desabita<strong>do</strong> , com muitos terrenos e poucas casas .<br />
Antes de chegarmos junto a casa , no caminho , passamos pela represa <strong>da</strong><br />
Ferradura. Era lin<strong>da</strong> então , cerca<strong>da</strong> por muitas arvores , muito azul .<br />
A tal casa era bonitinha , mas um pouco aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> . Tinha duas<br />
salas , três quartos , copa-cozinha , <strong>do</strong>is banheiros e um terraço na frente .<br />
Duva foi explican<strong>do</strong> : “ <strong>Casa</strong> só tinha esta . Encontramos o caseiro .<br />
Ele disse que não estava para alugar . Tanto eu falei e insisti que ele contou<br />
que a <strong>do</strong>na , uma ricaça chama<strong>da</strong> de Dona Vilma , nos três últimos anos não
tinha vin<strong>do</strong> para esta casa . Disse ain<strong>da</strong> que ela morava no Rio de Janeiro e<br />
que só man<strong>da</strong>va seu pagamento . As vezes atrasava , como agora em Junho” .<br />
“Então eu disse que , como ela não vinha , ele poderia ceder a casa<br />
sem me<strong>do</strong> e ganhar um dinheiro extra em apenas <strong>do</strong>is dias .<br />
Ele respondeu que , para deixar a gente entrar , precisava de<br />
autorização <strong>da</strong> <strong>do</strong>na . Por escrito .<br />
Resolveu a questão perguntan<strong>do</strong> se ele conhecia a letra <strong>da</strong> tal <strong>do</strong>na<br />
Vilma . Ele disse que não .<br />
Falei que o problema não existia mais , pois ele iria receber uma<br />
“Autorização Escrita”. Ficaria com ele . Caso alguém chegasse ou<br />
perguntasse não teria na<strong>da</strong> contra ele , pois tinha recebi<strong>do</strong> uma autorização por<br />
escrito <strong>da</strong> proprietária . Ele entendeu tu<strong>do</strong> . Era um caipira muito vivo . Coçou<br />
a cabeça e perguntou quanto ganharia . Quan<strong>do</strong> soube <strong>do</strong> valor ficou sorrin<strong>do</strong>,<br />
Depois concor<strong>do</strong>u , ain<strong>da</strong> sorrin<strong>do</strong> . Estava sorrin<strong>do</strong> até agora .<br />
Felizmente não <strong>do</strong>rmimos no frio ... Seria terrível .<br />
- SUBIDA NA PEDRA DO BAÚ<br />
No ano seguinte fui para Campos <strong>do</strong> Jordão com Fritz D’Orey .<br />
Iríamos inicialmente apenas nós <strong>do</strong>is para a casa perto <strong>do</strong> Tênis Clube .<br />
Contu<strong>do</strong> , para variar, a tal casinha ficou cheia de amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Serginho D’Avila , Adriano Gui<strong>do</strong>tti e Alberto Andrade ficaram conosco .<br />
Um pouco antes de minha i<strong>da</strong> para Campos recebi de minha mãe<br />
um lin<strong>do</strong> pulôver. Dona Zil<strong>da</strong> tinha capricha<strong>do</strong> naquele tricota<strong>do</strong> , com trama<br />
bem fina em lã bem grossa . Era vermelho , com gola fecha<strong>da</strong> no pescoço ,<br />
com duas listas pretas no braço direito .<br />
Experimentei o presente e realmente gostei .<br />
Minha tia Ângela disse que era o mais bonito pulôver de homem<br />
que tinha visto . Levei-o comigo para Campos mas ficou guar<strong>da</strong><strong>do</strong> .<br />
No dia marca<strong>do</strong> viajamos em vários carros .<br />
To<strong>do</strong>s os dias apareciam novas programações que não poderíamos<br />
perder . Almoços na casa de Carol e Maria Inês Whitaker , jantares em casa<br />
de sua prima que morava no Rio de Janeiro . Festa na famosa casa <strong>da</strong> Vila<br />
Simonsen , promovi<strong>da</strong> por Vitinho e seu irmão Fernan<strong>do</strong> . Jogo de “crepe” na<br />
casa de Ci<strong>da</strong> e Paulinho Amaral . Jogos de futebol com Dadiche Levi e<br />
companhia. Desfile de mo<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Clo<strong>do</strong>vil no Grande Hotel . Lançamento <strong>do</strong>s<br />
títulos e inauguração <strong>da</strong> Hípica de Campos <strong>do</strong> Jordão . Seresta com fogueiras<br />
no Pico de Itapeva , com participação <strong>da</strong>s nossas paquerinhas , devi<strong>da</strong>mente<br />
acompanha<strong>da</strong>s de suas mães . Vários pic-nics . I<strong>da</strong>s no trenzinho até Pin<strong>da</strong> .<br />
Subi<strong>da</strong>s no Morro <strong>do</strong> Elefante . Festas no Grande Hotel . Jogos de buraco com
Fritz Dórey e Roberto Matarazzo . Reuniões to<strong>da</strong>s as tardes no Tênis Clube .<br />
Tortas de morango no Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r e muitas outras coisas mais . Os<br />
dias e noites iam sen<strong>do</strong> toma<strong>do</strong>s com programações que surgiam<br />
sucessivamente , sem parar . Era muito bom . Fazia bem até para a alma .<br />
Um belo dia as Mocinhas resolveram subir na “Pedra <strong>do</strong> Baú”.<br />
Como não poderia deixar de ser , mães iriam acompanha-las . Combinamos<br />
que to<strong>do</strong>s deveriam usar calças “Jeans”, inclusive as mães que desejassem<br />
subir . Fomos , pela tarde , em vários carros até o pé <strong>da</strong>quela enorme pedra .<br />
Difícil era subir , através degraus de ferro finca<strong>do</strong>s na pedra , pois , em<br />
determina<strong>do</strong> momento , ficávamos inclina<strong>do</strong>s para trás . Naquele local a Pedra<br />
<strong>do</strong> Baú era saliente para o la<strong>do</strong> de fora . A sensação era realmente de perigo .<br />
Alguns rapazes foram na frente . As meninas logo atrás com alguns<br />
<strong>do</strong>s nossos intermedian<strong>do</strong> a subi<strong>da</strong> . Eu fiquei no último grupo que subiria<br />
com as mães . Naquela altura <strong>do</strong> campeonato falei baixinho para Paulinho<br />
Go<strong>do</strong>y Moreira : “ Vai ser um pereréco trazer to<strong>da</strong>s estas mães de volta.” Ele<br />
deu risa<strong>da</strong> . Fomos em frente .<br />
Depois de muito esforço e muita vontade to<strong>da</strong>s subiram . To<strong>da</strong>s .<br />
A vista lá de cima era espetacular . O vento <strong>da</strong>va uma sensação de<br />
estarmos voan<strong>do</strong> naquela altura que a Pedra <strong>do</strong> Baú proporcionava . Ficamos<br />
olhan<strong>do</strong> a paisagem . O por <strong>do</strong> sol começou muito bonito . To<strong>da</strong>s as moças e<br />
suas mães estavam maravilha<strong>da</strong>s . Mas o frio vinha chegan<strong>do</strong> , ca<strong>da</strong> vez mais<br />
forte . Achamos que estava na hora de descer pois depois ficaria escuro ,<br />
dificultan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> . Falei para o Caio Kiehl e para Junqueira que agora<br />
realmente teríamos problemas com as mães , pois a desci<strong>da</strong> não era fácil .<br />
Muito marmanjo naquelas ocasiões já havia refuga<strong>do</strong> .<br />
Não deu outra . As moças guia<strong>da</strong>s pelos rapazes desceram com<br />
me<strong>do</strong> , mas com alguma facili<strong>da</strong>de . Algumas mães conseguiram descer<br />
gemen<strong>do</strong> e pedin<strong>do</strong> aju<strong>da</strong> aos santos . Duas tentaram , contu<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong><br />
ficavam de costas para o precipício , precisan<strong>do</strong> pisar nos degraus que pouco<br />
viam , o me<strong>do</strong> falava mais alto . Com muita persuasão uma delas desceu<br />
apoia<strong>da</strong> moralmente por to<strong>do</strong>s e assessora<strong>da</strong> por Jujuba Moreira <strong>da</strong> Costa.<br />
A última ( nome não interessa ) que ficou estava em pânico . Dizia<br />
que era impossível descer. Que ela não conseguiria de jeito algum . Queria<br />
ficar lá em cima esperan<strong>do</strong> pelos bombeiros . Queria <strong>do</strong>rmir ali e esperar o dia<br />
nascer. Dizia qualquer coisa para não descer .<br />
Com muita calma eu e Caio explicamos que precisava descer antes<br />
que a escuridão tomasse conta de tu<strong>do</strong> . Que o frio ali poderia atingir até 10
gruas negativos . Que ela poderia sofrer muito . Ela só respondia que ia cair.<br />
Que iria cair e que estava com mau pressentimento .<br />
Então repetimos que não aconteceria na<strong>da</strong> pois iríamos <strong>da</strong>r to<strong>do</strong><br />
apoio . Ela seria amarra<strong>da</strong> pela cintura com uma cor<strong>da</strong> , que também estaria<br />
amarra<strong>da</strong> na minha e na cintura <strong>do</strong> Caio . Eu iria descer na sua frente guian<strong>do</strong><br />
seus passos . Caio , apoia<strong>do</strong> por Junqueira , desceria depois dela , seguran<strong>do</strong> a<br />
cor<strong>da</strong> e impedin<strong>do</strong> sua que<strong>da</strong> .<br />
Levou algum tempo para ela aceitar . Fomos para a bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> Pedra<br />
<strong>do</strong> Baú e lentamente começamos descer . Por sorte ela não era gordinha . Em<br />
ca<strong>da</strong> degrau eu fui colocan<strong>do</strong> seus pés .Um por um . Ela só pedia ao Caio que<br />
a segurasse direitinho . Levou algum tempo mas chegamos em baixo .<br />
Apesar <strong>do</strong> frio intenso estávamos bem sua<strong>do</strong>s . Recebemos uma<br />
salva de palmas e fomos , agora já no escuro , de volta para o Tênis Clube .<br />
As mães ali chegaram contan<strong>do</strong> aquela “imensa aventura”, pois<br />
conseguiram subir e principalmente descer na Pedra <strong>do</strong> Baú . To<strong>da</strong>s estavam<br />
felizes .<br />
- O “PULOVER VERMELHO”<br />
No fim de ca<strong>da</strong> tempora<strong>da</strong> , no último saba<strong>do</strong> , acontecia sempre no<br />
“Hotel Refugio Alpino” a festa <strong>da</strong> “Miss Suéter”. Era muito concorri<strong>da</strong> pois<br />
to<strong>da</strong>s as moças apresentavam-se então com seus melhores pulovers , malhas e<br />
sueters . Ca<strong>da</strong> um mais bonito que o outro . Era uma festa muito alegre , de<br />
muita elegância e bonita de assistir . Nem sei se ain<strong>da</strong> existe .<br />
Pois bem , naquela noite resolvi usar o pulôver vermelho que Dona<br />
Zil<strong>da</strong> tinha feito . Vermelho praticamente não era usa<strong>do</strong> por homens . Somente<br />
vesti o tal na hora que estávamos sain<strong>do</strong> . Os amigos gostaram , apesar de ser<br />
vermelho . Estranhavam a cor pouco usa<strong>da</strong> e brincavam dizen<strong>do</strong> que eu estava<br />
com sorte , pois naquela festa não entrariam touros . Poderíamos encontrar<br />
alguns chifres ... mas não seriam de touros ... Demos risa<strong>da</strong>s .<br />
Quan<strong>do</strong> cheguei com aquele pulôver no Refugio Alpino realmente<br />
chamei atenção <strong>da</strong>s moças e de algumas mães , principalmente <strong>da</strong>quelas que<br />
faziam parte <strong>da</strong> Comissão Julga<strong>do</strong>ra . Elas iriam determinar , entre to<strong>da</strong>s<br />
mocinhas , qual a que usava o suéter mais bonito.<br />
Ficaram olhan<strong>do</strong> e depois pediram permissão para tocar no meu<br />
pulôver . Achei que estava tu<strong>do</strong> bem . Tu<strong>do</strong> muito bem , mas me sentin<strong>do</strong><br />
meio inseguro . Em segui<strong>da</strong> , pedi licença e fui <strong>da</strong>nçar.<br />
Depois de algum tempo de festa a Comissão Julga<strong>do</strong>ra foi indican<strong>do</strong><br />
as moças que se destacavam em seus lin<strong>do</strong>s sueters . Doze foram seleciona<strong>da</strong>s<br />
e desfilaram pelo salão . Por fim Lucia Helena foi proclama<strong>da</strong> vence<strong>do</strong>ra e<br />
ganhou um premio .
Quan<strong>do</strong> pensei que tu<strong>do</strong> tinha termina<strong>do</strong> fui chama<strong>do</strong> pela tal<br />
Comissão . Disseram que excepcionalmente aquele ano teríamos um “ Mister<br />
Suéter” . Eu tinha si<strong>do</strong> o escolhi<strong>do</strong> . Ganhei um litro de uísque e o direito de<br />
<strong>da</strong>nçar uma valsa com a “Miss Suéter” .<br />
O litro de uísque os amigos levaram . Mas naquela noite , depois de<br />
<strong>da</strong>nçar a tal valsa , conheci a menina mais bonita de to<strong>do</strong>s os tempos . Era<br />
<strong>do</strong>ce , suave , educa<strong>da</strong>, inteligente , muito séria e alem de tu<strong>do</strong> lin<strong>da</strong> . Seu<br />
nome : Regina Barletta . Namoramos durante um tempo . Depois pisei na<br />
bola! Por pura besteira perdi a mais lin<strong>da</strong> namora<strong>da</strong> .<br />
Noto agora , lembran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s fatos aconteci<strong>do</strong>s em Campos de<br />
Jordão , que seria até possível escrever um livro , somente com os aconteci<strong>do</strong>s<br />
naquela ci<strong>da</strong>de . Por isto mesmo , e por já ter escrito bastante sobre aquela<br />
região , vou contar resumi<strong>da</strong>mente somente mais alguns <strong>do</strong>s muitos fatos e<br />
casos lá ocorri<strong>do</strong>s . Vamos lá :<br />
CARRO CONVERSIVEL NA NOITE - COM ZERO GRAU<br />
No inverno de 1959 não foi possível passar muitos dias de férias lá<br />
na serra . Estava estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> muito , trabalhan<strong>do</strong> na Secretária <strong>do</strong> Trabalho e<br />
realizan<strong>do</strong> meu estagio em direito .<br />
No fim <strong>da</strong> tarde de um saba<strong>do</strong> de inverno , em que tinha esta<strong>do</strong><br />
ocupa<strong>do</strong> o dia to<strong>do</strong> , dei uma chega<strong>da</strong> até o Paulistano .<br />
O clube estava meio vazio , o que era natural naquela época , com<br />
to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> viajan<strong>do</strong> .<br />
Mal cheguei e fui encontran<strong>do</strong> Paulinho Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama . Estava<br />
ele meio triste e tomava um cafezinho com Paulo Colombo . Quan<strong>do</strong> me viu<br />
já foi perguntan<strong>do</strong> por que eu não estava em Campos . Expliquei minhas<br />
razões. Eram iguais as dele .<br />
Depois de alguns minutos de papo fura<strong>do</strong> , falamos <strong>da</strong> festa que ia<br />
ocorrer no Refugio Alpino .<br />
Ele , que ficara to<strong>do</strong> sorriso , perguntou se não queríamos ir agora<br />
para Campos de Jordão , pois estava com seu novo “Chevrolet” conversível e ,<br />
no máximo em três horas , alcançaríamos a ci<strong>da</strong>de em tempo de participar <strong>da</strong><br />
festa . Seu convite não era de brincadeira . Falava bem anima<strong>do</strong> .<br />
Paulo Colombo achou que era muito tarde , pois passava <strong>da</strong>s 18<br />
horas e nem tínhamos reserva<strong>do</strong> hotel . Eu , lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong>s boas coisas que<br />
sempre lá aconteciam , topei a para<strong>da</strong> . Nem discutimos mais na<strong>da</strong> . Ficou
esolvi<strong>do</strong> que sairíamos imediatamente . Passaríamos por nossas casas<br />
pegan<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente o indispensável .<br />
Em meia hora já estávamos na Via Dutra . Uma hora depois em São<br />
José <strong>do</strong>s Campos .<br />
A noite estava clara , com luar mas muito fria .Quan<strong>do</strong> chegamos em<br />
Monteiro Lobato , no pé <strong>da</strong> serra , resolvemos parar e tomar alguma coisa para<br />
espantar o frio . O melhor que encontramos , em um bar de beira de estra<strong>da</strong> ,<br />
foi um litro de Conhaque “Palhinha” . Apesar de muito forte , logo de saí<strong>da</strong><br />
tomamos uns goles , de vira<strong>da</strong> e no gargalo . Rapi<strong>da</strong>mente continuamos a<br />
viagem .<br />
Conforme íamos subin<strong>do</strong> a serra o frio ia aumentan<strong>do</strong> e também iam<br />
aumentan<strong>do</strong> os goles , toma<strong>do</strong>s no gargalo <strong>da</strong> garrafa <strong>do</strong> tal conhaque .<br />
Começaram fazer efeito . Meia hora depois , lá pelo meio <strong>da</strong> serra , estávamos<br />
com calor . Na reali<strong>da</strong>de muito alegres com aquele conhaque , tanto que<br />
resolvemos abaixar a capota <strong>do</strong> carro conversível . Isto foi feito apenas<br />
reduzin<strong>do</strong> bem a veloci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> carro . Nem paramos .<br />
E lá fomos nós . De capota arria<strong>da</strong> , em uma temperatura abaixo de<br />
zero graus , beben<strong>do</strong> no gargalo , sem jantar e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s de tu<strong>do</strong> que<br />
contávamos .<br />
Chegamos no Refugio Alpino quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s estavam entran<strong>do</strong> para a<br />
festa . Nós <strong>do</strong>is estávamos “como o diabo gosta” . De conversível , três graus<br />
abaixo de zero , com a garrafa <strong>do</strong> conhaque vazia ... mas com a cabeça cheia<br />
até a tampa . Com to<strong>da</strong> alegria e descontração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />
Quan<strong>do</strong> os amigos nos viram fizeram aquela fuzarca de sempre e<br />
nos levaram com eles para dentro . Nem sei como entramos no baile pois nem<br />
convites tínhamos . Sei apenas que o meio litro toma<strong>do</strong> <strong>do</strong> tal “Palhinha”<br />
estava fazen<strong>do</strong> efeito . Lembro que <strong>da</strong>ncei muitas vezes , que comi alguma<br />
coisa e que depois fui <strong>do</strong>rmir no carro ( agora com a capota fecha<strong>da</strong> ) ,<br />
devi<strong>da</strong>mente embrulha<strong>do</strong> em um acolchoa<strong>do</strong> . Os amigos tinham me leva<strong>do</strong> .<br />
Lembro que quan<strong>do</strong> entrei no carro Paulinho já estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> .<br />
Nós <strong>do</strong>is estávamos apaga<strong>do</strong>s . Definitivamente .<br />
Acordei no outro dia com a cabeça estouran<strong>do</strong> . Nem sabia onde<br />
estava . Procurei um banheiro como primeira providencia . Precisava lavar o<br />
rosto e beber água , para ver se tirava aquele gosto maldito de “cabo de guar<strong>da</strong><br />
chuva”que tinha na boca . Achei o banheiro e entrei .<br />
Encontrei lá dentro , escovan<strong>do</strong> os dentes , Marcelão Ribeiro Lima.<br />
Quan<strong>do</strong> me viu deu risa<strong>da</strong> e foi perguntan<strong>do</strong> como estava minha ressaca .<br />
Antes de minha resposta , Paulinho também entrou no banheiro , reclaman<strong>do</strong><br />
de <strong>do</strong>r de cabeça . Queria saber onde estávamos .
Marcelão aproveitou a presença de nós <strong>do</strong>is e explicou que<br />
estávamos no Hotel <strong>da</strong> Vila Inglesa . Precisamente no Chalé que ele alugara .<br />
Éramos seus convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Apenas precisávamos tomar banho e escovar os<br />
dentes pára tirar aquele espantoso “ bafo de onça”, que , por “ estranha<br />
coincidência ” , tomava conta <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is .<br />
Depois , quan<strong>do</strong> fomos tomar café , encontrei com Chico<br />
“Foca”Campos . Preocupa<strong>do</strong> , pois de na<strong>da</strong> lembrava , fui logo perguntan<strong>do</strong><br />
se eu tinha feito alguma cafajesta<strong>da</strong> . Chico caiu na risa<strong>da</strong> e inicialmente foi<br />
me gozan<strong>do</strong> , contan<strong>do</strong> que eu tinha feito horrores .<br />
Depois , ven<strong>do</strong> minha preocupação , contou a ver<strong>da</strong>de , <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
inclusive detalhes . Disse que eu apenas tinha beija<strong>do</strong> as mãos de to<strong>da</strong>s as<br />
senhoras que ia encontran<strong>do</strong> ..., <strong>da</strong>n<strong>do</strong> abraços nos conheci<strong>do</strong>s e até em alguns<br />
desconheci<strong>do</strong>s que me apresentavam ... , que tirei para <strong>da</strong>nçar to<strong>da</strong>s as moças ,<br />
com um detalhe que não mais muito usa<strong>do</strong> : pedin<strong>do</strong> com to<strong>da</strong> cerimônia<br />
licença para as mães . Disse ain<strong>da</strong> que bebi em to<strong>do</strong>s os copos , <strong>do</strong>s amigos<br />
mais chega<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s que estava conhecen<strong>do</strong> , brin<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a festa , as meninas ,<br />
as férias e até o Prefeito . Comentou que eu estive “muito alegre”, porem bem<br />
educa<strong>do</strong> . Lembrou que “In Vino Veritas”, pois ca<strong>da</strong> um mostra o que é na<br />
bebi<strong>da</strong> .<br />
Falou ain<strong>da</strong> que , em determina<strong>do</strong> momento , aconteceu um<br />
pequeno porem : - “ Dois guar<strong>da</strong>s municipais , que tomavam conta <strong>do</strong> baile ,<br />
ven<strong>do</strong> to<strong>da</strong> aquela sua alegria esfuziante , vieram lhe perturbar . Queriam<br />
antes de mais na<strong>da</strong> lhe humilhar . Ordenaram que você ficasse senta<strong>do</strong> e bem<br />
quietinho . Sem razão alguma pois to<strong>do</strong>s estavam gostan<strong>do</strong> de suas<br />
brincadeiras . Então foi um pereréco ... Você realmente ficou bravo . Muito<br />
bravo .<br />
Os guardinhas, assusta<strong>do</strong>s pela sua reação , com seu tamanho e<br />
fama , além <strong>do</strong> apoio recebi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s , saíram de fininho .<br />
Foram vigiar a entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> hotel ”.<br />
Conclusão : “Conhaque Palhinha” nunca mais .
DORMINDO NO GELADO<br />
Uma semana depois aconteceu quase a mesma coisa . Então<br />
encontrei Dudu Brotéro no Paulistano , por volta <strong>da</strong>s 7 horas <strong>da</strong> noite de<br />
saba<strong>do</strong> , queren<strong>do</strong> ir para Campos <strong>do</strong> Jordão . Encurtan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a historia : -<br />
Lá fomos nós !<br />
Daquela vez nem paramos em Monteiro Lobato , nem teve conhaque<br />
“ Palhinha”. Seguimos direto para o Grande Hotel .<br />
Mal chegamos e encontramos gente nossa .<br />
Dudu arrumou uma casa que um amigo comprara . Só que não tinha<br />
ain<strong>da</strong> roupa de cama . Ficamos de <strong>do</strong>rmir no fogo <strong>da</strong> lareira .<br />
Só que na hora de <strong>do</strong>rmir não tinha lenha para lareira . Eram4 horas<br />
<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> . > Conclusão : ficamos acor<strong>da</strong><strong>do</strong>s , gela<strong>do</strong>s até que o sol<br />
apareceu . Então fomos <strong>do</strong>rmir no grama<strong>do</strong> toman<strong>do</strong> o sol <strong>da</strong> montanha<br />
Só conseguimos <strong>do</strong>rmir , um pouco , quan<strong>do</strong> o sol <strong>da</strong> serra<br />
apareceu. . Ele foi fican<strong>do</strong> mais forte perto <strong>da</strong>s 9 <strong>da</strong> manhã . Fomos deitar nos<br />
colchões , agora devi<strong>da</strong>mente estendi<strong>do</strong>s na grama , debaixo <strong>da</strong>quele sol<br />
gostoso . Conclusão: Quase perdemos o almoço.<br />
- A MAIOR E MELHOR MANSÃO DA CIDADE<br />
A Vila Simonsen foi , sem duvi<strong>da</strong> alguma , a melhor residência de<br />
Campos <strong>do</strong> Jordão . Na reali<strong>da</strong>de era uma grande mansão . Estava localiza<strong>da</strong><br />
em uma área enorme , em alguns alqueires , com estra<strong>da</strong> asfalta<strong>da</strong> depois <strong>do</strong>s<br />
portões até atingir a casa , com bosques , vários jardins , muitas flores , quadra<br />
de tênis e tu<strong>do</strong> mais. Ficava em Capivari , bem perto <strong>do</strong> Tenis Clube , no<br />
melhor local <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />
Para se ter idéia <strong>do</strong> tamanho <strong>da</strong> casa , nunca tive certeza de quantos<br />
quartos ela possuía . Acho que eram trinta , mas não posso afirmar . As salas<br />
enormes , extremamente bem decora<strong>da</strong>s . Na entra<strong>da</strong> existia uma armadura<br />
medieval , em tamanho natural . Tinha sala de jogos com mesa oficial para<br />
sinuca . Uma imensa biblioteca cheia de livros , alguns raros .<br />
Cabe destaque especial para a sala de jantar , pois a mesa que ali<br />
estava era para muitas pessoas , to<strong>da</strong>s sentadinhas ao seu re<strong>do</strong>r .<br />
Do la<strong>do</strong> de fora um magnífico terraço .<br />
Esta mansão pertencia a Dona Rachel Simonsen , sem duvi<strong>da</strong><br />
alguma perfeita anfitriã , pois recebia com grande alegria to<strong>do</strong>s amigos de<br />
seus netos : Fernan<strong>do</strong> e Vitor Simonsen . E sempre eles não eram poucos .
Quem muito freqüentou o local foi Mario Guisalberti e sua esposa<br />
Lílian Bloem Guisalberti . Eram muito amigos <strong>do</strong> Vitor Simonsen – Pai <strong>do</strong><br />
Fernan<strong>do</strong> e <strong>do</strong> Vitinho – casa<strong>do</strong> em 2 a núpcias com Dulce Simonsen . Varias<br />
vezes ali estive , como hospede <strong>da</strong> casa ou como convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para festas .<br />
Vitinho é meu amigo desde muito tempo , desde a déca<strong>da</strong> de 50 .<br />
Fernan<strong>do</strong> , seu irmão , faleceu este ano de 2003 e eu , por estar<br />
viajan<strong>do</strong> na ocasião , só tomei conhecimento depois de sua missa de sétimo<br />
dia . Fico triste só de lembrar . Ele era muito alegre .<br />
Aquela casa , a Vila Simonsen , transpirava alegria to<strong>do</strong> o tempo.<br />
Tinha uma aura fenomenal que trazia descontração até para os mais tími<strong>do</strong>s .<br />
As muitas festas ali realiza<strong>da</strong>s sempre foram as mais bonitas . To<strong>do</strong>s os mais<br />
chega<strong>do</strong>s eram sempre convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s e levavam então muita alegria .<br />
Os jantares diários , com to<strong>do</strong>s os hospedes senta<strong>do</strong>s , sempre com<br />
gente jovem , eram muito diverti<strong>do</strong>s , pois as brincadeiras se sucediam to<strong>do</strong><br />
tempo . Quem ia pela primeira vez “pagava o pato”. Para se servir , tinha de<br />
ir até um grande “bufet” que ficava em frente <strong>da</strong> mesa . Quan<strong>do</strong> o novato se<br />
levantava e ia até lá para se servir , quem estava senta<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong> tirava o<br />
assento de sua cadeira . O assento era móvel . Assim feito deixava apenas ,<br />
disfarçan<strong>do</strong> a retira<strong>da</strong> <strong>do</strong> assento e <strong>do</strong> buraco que ficava , uma almofa<strong>da</strong> , que<br />
to<strong>da</strong>s cadeiras possuíam . Na volta , ao sentar , o incauto despencava com a<br />
bun<strong>da</strong> no buraco <strong>da</strong> cadeira , fican<strong>do</strong> de pernas para o ar . Então , no meio de<br />
parabéns , recebia uma salva de palmas . Tinha passa<strong>do</strong> em sua iniciação .<br />
Nos jantares quan<strong>do</strong> alguém fazia aniversário sempre era exigi<strong>do</strong> um<br />
discurso , homenagean<strong>do</strong> aquele amigo . Eu mesmo fiz um parabenizan<strong>do</strong> o<br />
amigo Luiz David Ribeiro . Depois eram muitas palmas , pic- pics e vivas .<br />
Era impossível esquecer aquele aniversário . Dona Rachel , na cabeceira <strong>da</strong><br />
mesa , tu<strong>do</strong> assistia com alegria . Era pessoa maravilhosa .<br />
Durante a noite , depois de alguma reunião , festa ou jogos ( então o<br />
“crepe” é que corria solto na mesa de sinuca) , as brincadeiras não acabavam .<br />
A turma <strong>do</strong> Paulistano esperava alguém <strong>do</strong>rmir e , silenciosamente , bem de<br />
mansinho , ia até seu quarto e colocava um pe<strong>da</strong>ço de chocolate em sua mão ,<br />
ou as vezes na testa . Quem estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> não sentia , até que o chocolate<br />
ficasse derreti<strong>do</strong> com o calor de seu corpo e , se ele , por alguma razão ,<br />
passasse a mão no rosto ou nos cabelos , ficava to<strong>do</strong> lambuza<strong>do</strong> e tinha que ir ,<br />
no frio , até o banheiro lavar rosto e mão . Nunca se sabia quem tinha feito a<br />
brincadeira . O silencio era regra <strong>da</strong> nossa turma . Só dávamos risa<strong>da</strong>s . De<br />
to<strong>do</strong>s os quartos vinham risa<strong>da</strong>s . Sempre .
Sapatos eram “rouba<strong>do</strong>s” e coloca<strong>do</strong>s em outros quartos . Tênis ,<br />
mesmo novos , quan<strong>do</strong> cheiravam mal , eram escondi<strong>do</strong>s . Aquela camisa ,<br />
que seria usa<strong>da</strong> em uma ocasião especial , também . Era só procurar que se<br />
achava tu<strong>do</strong> . As vezes demorava mas tu<strong>do</strong> se achava ... no meio <strong>da</strong> gozação .<br />
Uma noite , quan<strong>do</strong> Caio Kiehl <strong>do</strong>rmia , passaram muita pasta de<br />
dentes em seus cabelos . Com o forte cheiro de hortelã ele acor<strong>do</strong>u . Passou a<br />
mão na cabeça , acendeu o abat-jour e me acor<strong>do</strong>u . Morri de rir quan<strong>do</strong> vi<br />
to<strong>da</strong> sua cabeça branquinha . Ele no começo ficou bravo, depois riu junto . Fui<br />
com ele até o banheiro . Então começou a lavar a cabeça . Quanto mais lavava<br />
mais espuma aparecia . Era aquela história : “ quanto mais rezava mais<br />
lobisomem aparecia ” . Eu ria e ele também . Por fim ele disse e até jurava que<br />
o Acácio“Geléia”era o culpa<strong>do</strong> .<br />
A Vila Simonsen tinha alguns convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s constantes . “Geléia” e<br />
meu primo Fausto Marcondes eram alguns deles . Das vezes que lá estive<br />
lembro muito <strong>da</strong>s brincadeiras <strong>do</strong> Luiz Carlos Junqueira , <strong>do</strong> “Jujuba” Moreira<br />
<strong>da</strong> Costa , <strong>do</strong> Rachid Jaudi e <strong>do</strong> Caio . As <strong>do</strong> “ Geléia” foram tantas que nem<br />
dá para contar .<br />
- CAPOTAMENTO NA ESTRADA<br />
No outro saba<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> deveríamos voltar à Vila Simonsen ,<br />
descobrimos , de repente , que ficáramos sem condução . Eu havia deixa<strong>do</strong><br />
meu carro lá em Campos <strong>do</strong> Jordão , pois tinha vin<strong>do</strong> com o <strong>do</strong> Junqueira para<br />
São Paulo . O mesmo aconteceu com Caio e com “Jujuba . Deixaram também<br />
seus carros e também vieram com Junqueira .<br />
Na sexta feira , dia marca<strong>do</strong> para nossa volta , o carro <strong>do</strong> Junqueira<br />
quebrou . Teve que ir para a oficina e só ficaria pronto na próxima terça- feira.<br />
Ficamos sem automóvel . Falamos com “Bubi” Loureiro que iria para<br />
Campos. Ele se prontificou em nos levar , no saba<strong>do</strong> , em seu carro .<br />
Porem ... , tem sempre um porem ... , no saba<strong>do</strong> seu automóvel<br />
também quebrou . Ficamos , os cinco , a pe´.<br />
O jeito foi alugar um Volkswagen , pois era o mais barato , e tocar<br />
para Campos <strong>do</strong> Jordão . Não queríamos perder a festa .<br />
Saímos tarde , nós cinco no Fusca , por volta <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> noite .<br />
“Bubi” guiou até São José pisan<strong>do</strong> fun<strong>do</strong> no acelera<strong>do</strong>r . Depois fui<br />
eu que dirigi até Monteiro Lobato . Ali Caio passou para o volante . Saiu<br />
man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> brasa , dizen<strong>do</strong> que estávamos atrasa<strong>do</strong>s para a festa na Vila<br />
Simonsen . Já no final <strong>da</strong> serra passamos um outro Volks com chapa de Minas<br />
Gerais , com o Caio an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> no limite .<br />
De repente a estra<strong>da</strong> apareceu molha<strong>da</strong> . O limite <strong>do</strong> carro , é claro,<br />
naquele instante deveria ser outro . Não deu tempo de reduzir . Caio ain<strong>da</strong><br />
tentou fazer aquela curva de alta . O carro derrapou no molha<strong>do</strong> e batemos ,
meio de frente e meio de la<strong>do</strong> , quase a 100 Km por hora , em um barranco.<br />
To<strong>do</strong>s nós estávamos sem cinto de segurança, que nem existia então .<br />
Com o choque , ocorri<strong>do</strong> naquela veloci<strong>da</strong>de , o Volks empinou a<br />
traseira e capotou de frente , baten<strong>do</strong> a parte de fora <strong>do</strong> teto no barranco e<br />
cain<strong>do</strong> meio de la<strong>do</strong> . A bati<strong>da</strong> foi tão forte que eu , estan<strong>do</strong> senta<strong>do</strong> no meio<br />
<strong>do</strong> banco de trás , enquanto o carro empinava e capotava , fui joga<strong>do</strong> como um<br />
foguete contra o vidro de trás . Ele foi leva<strong>do</strong> junto comigo para fora <strong>do</strong><br />
Fusca. Sai pela janela traseira . Naquele movimento bati minhas coxas , com<br />
to<strong>da</strong> força , na parte interna <strong>do</strong> buraco onde o vidro estava . Fui direto para o<br />
barranco , bati com os ombros , rolei e cai ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> carro . Apenas via<br />
sombras , pois os faróis se quebraram e tu<strong>do</strong> agora estava escuro .<br />
Com muita dificul<strong>da</strong>de , pois as pernas <strong>do</strong>íam muito , cheguei no<br />
Fusca inteiro amassa<strong>do</strong> . Forcei e abri a porta . Vi to<strong>do</strong>s meio zonzos . Caio<br />
tinha quebra<strong>do</strong> o nariz na direção . Bubi estava com um friso <strong>do</strong> painel<br />
espeta<strong>do</strong> na pele <strong>do</strong> pescoço . Jujuba e Junqueira apenas tontos . Ajudei<br />
rapi<strong>da</strong>mente to<strong>do</strong>s saírem <strong>do</strong> carro , pois tinha me<strong>do</strong> de incêndio . Na<strong>da</strong><br />
aconteceu , felizmente .<br />
“Entre mortos e feri<strong>do</strong>s salvaram –se to<strong>do</strong>s”.<br />
Isto , “ si non é vero é bene trovato” , pois a <strong>da</strong>na<strong>da</strong> <strong>da</strong> “Morte”<br />
mais uma vez estava bem escondidinha , viajan<strong>do</strong> , sem eu saber , ao meu<br />
la<strong>do</strong>. Rolou comigo para fora <strong>do</strong> carro mas não aquentou o tranco . Pensei<br />
que a “Dana<strong>da</strong>” tinha morri<strong>do</strong>.<br />
Que na<strong>da</strong> ... apenas deve ter fica<strong>do</strong> por lá desmaia<strong>da</strong>. .<br />
Pela quarta vez em minha vi<strong>da</strong> dei um “drible” na “Bruxa” .<br />
Estávamos pensan<strong>do</strong> como chegaríamos em Campos quan<strong>do</strong><br />
apareceu um carro . Era aquele Fusca com chapa de Minas Gerais que<br />
havíamos passa<strong>do</strong> minutos antes . Demos sinal e ele parou . Por sorte apenas a<br />
chapa era de Minas pois o pessoal era conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> Jujuba .<br />
Encurtan<strong>do</strong> a história . Subimos o resto <strong>da</strong> serra em oito pessoas<br />
dentro <strong>da</strong>quele Fusca . Nem dá para descrever como .<br />
Chegamos na Vila Simonsen em tempo de “curtir a festa” .No outro<br />
dia minhas coxas estavam “Roxinhas <strong>da</strong> Silva”. Fui leva<strong>do</strong> até o<br />
“Sanatorinhos de Campos <strong>do</strong> Jordão” para tirar radiografias . Elas não<br />
descobriram nenhuma fratura mas eu descobri que o fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong>quele hospital<br />
foi um outro meu parente : Dr. Francisco Marcondes Romeiro .<br />
Hoje, infelizmente , a Vila Simonsen não existe mais . Uma noite ,<br />
sem ninguém dentro , a casa pegou fogo . Na<strong>da</strong> sobrou .<br />
Não foi reconstruí<strong>da</strong> pois Dona Rachel Simonsen já havia faleci<strong>do</strong> .<br />
Aquela época de muita felici<strong>da</strong>de , não volta mais .
A CASA ALUGADA EM CAMPOS DO JORDÃO<br />
A ultima vez que estive em Campos de Jordão, realmente passan<strong>do</strong><br />
férias , ain<strong>da</strong> como solteiro, aconteceu no inverno de 1966 .<br />
Estávamos em um grupo de amigos conversan<strong>do</strong> sobre as férias<br />
próximas quan<strong>do</strong> dei a idéia de alugarmos uma casa em Campos . To<strong>do</strong>s<br />
aprovaram . Ca<strong>da</strong> um começou a fazer planos antecipa<strong>do</strong>s para nossa esta<strong>da</strong><br />
na tal casa . To<strong>do</strong>s acharam que seria o máximo. Ficamos realmente<br />
empolga<strong>do</strong>s com a idéia .<br />
Como eu já sabia que aprovação não significava confirmação ,<br />
principalmente na hora <strong>do</strong> pagamento <strong>da</strong> parte que caberia a ca<strong>da</strong> um , falei<br />
que seria necessário confirmarmos a vontade de locação .To<strong>do</strong>s concor<strong>da</strong>ram .<br />
Então tomei o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de receber naquela hora um cheque , em<br />
branco , <strong>do</strong>s que realmente desejavam alugar a tal casa .Também foi<br />
estipula<strong>do</strong> que o cheque teria um valor máximo determina<strong>do</strong> , relativo a<br />
cobertura <strong>do</strong> aluguel e <strong>do</strong>s mantimentos conforme combináramos . Ele seria o<br />
compromisso firma<strong>do</strong> entre os amigos participantes .<br />
Cobriria não só a locação mas também uma emprega<strong>da</strong> e to<strong>do</strong>s os<br />
mantimentos que seriam usa<strong>do</strong>s durante o mês . Aqueles cheques ficariam<br />
inicialmente com Luiz Carlos Junqueira .<br />
Ficou acerta<strong>do</strong> que eu iria , no próximo saba<strong>do</strong> para Campos <strong>do</strong><br />
Jordão , procurar a tal casa . Ela deveria abrigar 10 amigos que estavam<br />
contribuin<strong>do</strong> para a locação . Os contribuintes , alem deste maluco ( vocês<br />
depois saberão por que ) , foram : Flavio Guimarães , Paulo Colombo ,<br />
Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Otto Bendix , Alcir Amorim , Sergio D’Avila , Caio<br />
Kiehl , Luiz Carlos Junqueira e Antonio Duva .<br />
Pouco depois de recebermos os cheques e brin<strong>da</strong>rmos nosso acor<strong>do</strong><br />
chegaram os irmãos Zizinho e Amedeo Papa . Queriam participar no rateio <strong>da</strong><br />
locação . Queriam cinco lugares na casa .<br />
No primeiro saba<strong>do</strong> de Maio subi a serra . Tinha como companheiro<br />
Luiz Vicente de Sylos .<br />
Fui para Capivari e direto para a Imobiliária Cadij . Expliquei o que<br />
queria e consegui alugar uma casa bem grande . Ficava em Descansópolis ,<br />
perto <strong>do</strong> Hotel Rancho Alegre e tinha um mastro para bandeira . Consegui<br />
ain<strong>da</strong> uma casa menor para Zizinho Papa. Ficava perto <strong>da</strong> nossa , na mesma<br />
rua . Arranjei até uma cozinheira . Fiquei como responsável pela casa .<br />
Voltamos para São Paulo e no fim <strong>da</strong> tarde já estávamos <strong>da</strong>n<strong>do</strong> as<br />
boas novas para a Turma <strong>do</strong> Paulistano . Os planos recomeçaram a tomar
conta <strong>da</strong>s conversas . E Luiz Vicente dizia que a casa seria um sucesso com<br />
muitas festas que ali seriam realiza<strong>da</strong>s . Falava que iria levar para a tal casa<br />
algumas suas conheci<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Rio de Janeiro que estariam in<strong>do</strong> para Campos .<br />
Eram moças “avança<strong>da</strong>s”.<br />
Teve reprovação e voto contrário de to<strong>do</strong>s . A casa seria apenas para<br />
descansar , tomar as refeições e <strong>do</strong>rmir . Quan<strong>do</strong> muito <strong>da</strong>ríamos uma única<br />
festa familiar para as moças conheci<strong>da</strong>s .<br />
É ... , assim ficou combina<strong>do</strong> ...MAS ...<br />
- ALEMANHA “HORIZONTAL”<br />
A casa , logo depois , realmente virou a maior “bagunça – meio<br />
organiza<strong>da</strong> ”, pois começaram a chegar os nossos sócios na locação . Vinham<br />
alguns acompanha<strong>do</strong>s de “convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s”(as) . Não eram conheci<strong>da</strong>s , nem <strong>do</strong><br />
Paulistano . E dentro <strong>do</strong> nosso principio que ninguém conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong> turma iria<br />
<strong>do</strong>rmir no frio , to<strong>do</strong>s foram acolhi<strong>do</strong>s .<br />
Dormiam em frente <strong>da</strong> lareira .<br />
Começaram a sobrar cuecas , meias , sapatos e roupas pelos cantos .<br />
Até nos lustres . Dava trabalho <strong>da</strong>na<strong>do</strong> pedir a colaboração de to<strong>do</strong>s . Foi<br />
preciso comprar mais mantimentos pois normalmente os almoços e jantares<br />
eram para 13 ou 14 amigos . Foi necessário melhorar o salário <strong>da</strong> emprega<strong>da</strong> .<br />
.<br />
Mas era preciso ter mão firme para não ter a nossa mora<strong>da</strong> vira<strong>da</strong> de<br />
cabeça para baixo . Apesar de to<strong>do</strong> meu esforço a casa ganhou um apeli<strong>do</strong> :<br />
“Alemanha Horizontal” .<br />
“Alemanha” por que eu tentava manter tu<strong>do</strong> na maior ordem.<br />
“Horizontal” , pois era assim que muitos sempre ficavam no final de<br />
ca<strong>da</strong> festa .<br />
Na casa aluga<strong>da</strong> pelo ZizÍnho Papa era a mesma coisa bagunça<strong>da</strong> .<br />
Moças de família nem mais passavam perto <strong>da</strong> casa .<br />
Festas aconteceram na casa em várias noites . Eram bem diferentes<br />
<strong>da</strong>s festas aconteci<strong>da</strong>s em anos anteriores . Eram agora chama<strong>da</strong>s de “Festas<br />
pois na reali<strong>da</strong>de na<strong>da</strong> tinham <strong>do</strong>s “Baile Branco” <strong>da</strong>s debutantes . Eram bem<br />
concorri<strong>da</strong>s pois apareciam muitas mulheres que nunca tinha visto antes . E<br />
ca<strong>da</strong> vez apareciam mais . De onde vinham não sei .<br />
Senti que o romantismo estava acaban<strong>do</strong> , realmente acaban<strong>do</strong> ,<br />
sen<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente substituí<strong>do</strong> por tu<strong>do</strong> que era pratico e possível de ser<br />
alcança<strong>do</strong> , sem muita demora , sem muito esforço , sem muita inteligência .
Senti principalmente que as mulheres não mais estavam fazen<strong>do</strong><br />
amor . Agora faziam sexo ...basicamente sexo...<br />
A socie<strong>da</strong>de estava mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente ... Para melhor ou pior ?
UM TIRO E MUDANÇA DE RUMO<br />
Edu Marcondes<br />
Um Guar<strong>da</strong> Maluco e Um Tiro – Mu<strong>da</strong>nça total de Rumo – Latim para<br />
Vestibular- Na Facul<strong>da</strong>de – “Labormetal” de Bauru - _ Primeiras Aulas<br />
– O Desfiles de Calouros<br />
Um ano depois que sai <strong>do</strong> colegial tinha como objetivo principal<br />
estu<strong>da</strong>r arquitetura . Prestei vestibular sem realizar um cursinho especializa<strong>do</strong>.<br />
O resulta<strong>do</strong> foi o natural . Fui devi<strong>da</strong>mente reprova<strong>do</strong>.<br />
Como gostava de desenhar , de pintar quadros e de analisar antigos<br />
projetos de grandes construções , achava que arquitetura seria meu destino .<br />
Resolvi por isto mesmo tentar mais uma vez vestibular naquela facul<strong>da</strong>de .<br />
Alem <strong>do</strong> mais estava muito influencia<strong>do</strong> pelos amigos <strong>do</strong> Paulistano que já<br />
estu<strong>da</strong>vam arquitetura na Facul<strong>da</strong>de Mackenzie . Entre eles Sérgio D`Ávila ,<br />
Mauricio Soriano , Danilo Penna , Alberto Botti , Alberto Andrade e Roberto<br />
Bratke .<br />
Matriculei-me em cursinho especializa<strong>do</strong> e tinha como colega o<br />
Luiz Carlos Pannunzio , vizinho e também amigo <strong>do</strong> CAP .<br />
Logo percebi que não gostava muito de to<strong>da</strong>s matérias . Era porem<br />
um <strong>do</strong>s melhores alunos de desenho . Na reali<strong>da</strong>de eu gostava de arquitetura<br />
pura , que naquelas aulas praticamente pouco existia . Entretanto continuava<br />
estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong>. O curso era noturno pois durante o dia eu tinha meu trabalho .<br />
O tiro que levei teve ocasião especifica , sem a menor razão de<br />
acontecer . Estávamos voltan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aulas para casa mais ce<strong>do</strong> , por volta <strong>da</strong>s<br />
21,30 horas , em uma Lambreta dirigi<strong>da</strong> pelo Pannunzio .<br />
Quan<strong>do</strong> já estávamos em plena Aveni<strong>da</strong> Brasil , quase esquina <strong>da</strong><br />
Maestro Chiafarelli , percebemos um ônibus quebra<strong>do</strong> e para<strong>do</strong> no meio <strong>da</strong><br />
rua . Pannunzio diminuiu a veloci<strong>da</strong>de para passar aquele acidente e<br />
subitamente , sem mais nem menos , um guar<strong>da</strong> apareceu ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele<br />
ônibus . Com gestos indicava que deveríamos parar . Estava com um revolver<br />
na mão . Como seria perigoso parar no meio <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Luiz Carlos fez sinal e<br />
foi passan<strong>do</strong> o ônibus , em veloci<strong>da</strong>de bem reduzi<strong>da</strong> , preparan<strong>do</strong>- se para<br />
estacionar logo na frente .<br />
Parece que o guar<strong>da</strong> entendeu que não iríamos parar.
UM TIRO E UM GUARDA MALUCO<br />
De repente ouvi um tiro. Imediatamente senti que havia si<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong><br />
. Uma panca<strong>da</strong> segui<strong>da</strong> de uma <strong>do</strong>r bem forte vinha <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> de meu<br />
tronco. Pedi para parar . Luiz Carlos , ouvin<strong>do</strong> meu pedi<strong>do</strong> , parou a Lambreta<br />
e desceu comigo .<br />
Apesar <strong>do</strong> tiro , que não me derrubou , eu estava indigna<strong>do</strong> e segui<br />
em direção ao guar<strong>da</strong> . Ele, quan<strong>do</strong> percebeu a besteira que tinha feito , correu<br />
até a Av. 9 de Julho , parou um táxi e fugiu . Não <strong>da</strong>va para persegui-lo pois<br />
notei que sangrava pouco . Fiquei receoso de uma hemorragia interna .<br />
To<strong>do</strong> povo que estava ônibus ficou abobalha<strong>do</strong>. Ninguém viu nem<br />
lembrou de anotar o numero <strong>do</strong> guar<strong>da</strong> , nem tomou nota <strong>da</strong> placa <strong>do</strong> táxi .<br />
Um senhor confirmou que o guar<strong>da</strong> entendeu que a Lambreta fosse<br />
fugir. Disse que o guar<strong>da</strong> xingou e disparou . Ele ain<strong>da</strong> ficou comentan<strong>do</strong> que<br />
era um absur<strong>do</strong> e que tiro só poderia ser em defesa <strong>da</strong> sua própria vi<strong>da</strong> .<br />
Com o alvoroço , em plena Av.Brasil , muitos carros foram<br />
paran<strong>do</strong>. Por sorte em um deles estava Julia , uma amiga de minha irmã<br />
Marisa , com seu noivo. Não lembro mais de seus nomes inteiros . Pedi para<br />
ser leva<strong>do</strong> para o Hospital 9 de Julho . Pedi também para o Luiz Carlos avisar<br />
meu pai , toman<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de dizer que eu estava bem .<br />
Em cinco minutos estava no hospital ligan<strong>do</strong> para tio Abel que era<br />
médico <strong>da</strong>quela casa . Enquanto esperavam sua chega<strong>da</strong> já foram tiran<strong>do</strong><br />
minha pressão e radiografan<strong>do</strong> meu tórax .<br />
Meu Anjo <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> estava mais uma vez ao meu la<strong>do</strong> . A pressão<br />
estava perfeita e pelas chapas radiográficas deu para notar que a bala havia<br />
entra<strong>do</strong> pelas costas, apenas dez centímetros <strong>da</strong> coluna vertebral , passan<strong>do</strong><br />
milagrosamente entre o rim esquer<strong>do</strong> e o pulmão <strong>do</strong> mesmo la<strong>do</strong> , in<strong>do</strong> parar<br />
em uma costela na parte dianteira <strong>do</strong> tórax , que não quebrou . Na<strong>da</strong> de<br />
importante foi atingi<strong>do</strong> . Não tinha hemorragia interna . Fiquei alivia<strong>do</strong> .Muito<br />
alivia<strong>do</strong> . A morte mais uma vez passou por perto , mas não ficou comigo .<br />
Quan<strong>do</strong> meu tio Abel chegou e viu como eu estava ficou satisfeito .<br />
Disse que iria tirar a bala e que não seria preciso anestesia geral , só local pois<br />
sabia que eu aquentaria bem o tranco .<br />
Assim foi feito e eu suei um boca<strong>do</strong> apesar <strong>da</strong> noite fria . Então<br />
apareceu a tal bala , calibre 32 . Logo depois veio a parte pior . Era preciso<br />
passar um dreno entre o local <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> bala , nas costas , e o corte<br />
cirúrgico realiza<strong>do</strong> na frente , junto a costela . A <strong>do</strong>r foi forte demais e cheguei<br />
a ficar tonto ..
Tio Abel disse que eu poderia ir para casa mas que no outro dia<br />
precisaria trocar o tal dreno , lá no seu consultório .<br />
Naquele momento meu pai chegou . Meu tio informou que seria<br />
necessário avisar a policia pois havia ocorri<strong>do</strong> ferimento à bala . Como estava<br />
tu<strong>do</strong> bem fomos para casa . Demorei para pegar no sono .<br />
No outro dia, logo bem ce<strong>do</strong> na manhã, apareceram <strong>do</strong>is<br />
investiga<strong>do</strong>res em nossa casa <strong>do</strong> Jardim Paulista . Queriam meu depoimento.<br />
Ele foi feito de imediato . Quan<strong>do</strong> pediram testemunhas liguei para Luiz<br />
Carlos . Ele veio. Infelizmente na pressa de avisar meu pai ele esqueceu de<br />
tomar os nomes <strong>do</strong>s presentes que estavam junto ao ônibus quebra<strong>do</strong> . Ele<br />
ficou sen<strong>do</strong> minha única testemunha .<br />
O motorista <strong>do</strong> ônibus disse que não tinha visto na<strong>da</strong> .<br />
Porem o problema maior começou quan<strong>do</strong> , ain<strong>da</strong> na manhã <strong>do</strong><br />
segun<strong>do</strong> dia , apresentei reação alérgica a sulfa . Deu trabalho para contornar .<br />
A noticia <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong> chegou aos amigos e amigas ,<br />
principalmente <strong>do</strong> Paulistano . Naquele dia , na parte <strong>da</strong> tarde , recebi<br />
inúmeros amigos , inclusive vista de minha namoradinha de então : Maria<br />
Helena Malzoni .<br />
Assim , durante aquele final de semana , enquanto fui obriga<strong>do</strong> a<br />
ficar em casa , cansei de contar como aconteceu aquele tiro .<br />
Abriram inquérito “só para inglês ver” . I<strong>da</strong>s as delegacias , mil<br />
perguntas e desculpas . Porem , o guar<strong>da</strong> maluco nunca foi acha<strong>do</strong> . E se foi<br />
não revelaram , apesar <strong>do</strong>s esforços de to<strong>do</strong>s de minha família . Percebi que a<br />
policia fez de tu<strong>do</strong> para encobrir o tal coleguinha culpa<strong>do</strong> , dentro de seu<br />
espírito corporativista .<br />
Durante os dias que fiquei em casa pensei muito na vi<strong>da</strong> e no meu<br />
futuro . Cheguei a conclusão que arquitetura poderia não ser realmente o que<br />
desejava fazer na vi<strong>da</strong> . O que não desejava era perder mais tempo .<br />
- MUDANÇA DE RUMO<br />
Quem definiu definitivamente minha duvi<strong>da</strong> e meu horizonte foi um<br />
nosso queri<strong>do</strong> vizinho , o brilhante Advoga<strong>do</strong> e Professor de Direito - Silvio<br />
Rodrigues , filho de Sr. A<strong>do</strong>lfo e de Dona Chiquinha Rodrigues . Moravam<br />
em frente de nossa casa <strong>do</strong> Jardim Paulista e eram amigos <strong>da</strong> família desde<br />
antes de meu nascimento .<br />
Ele , catedrático <strong>do</strong> Largo de São Francisco , conversan<strong>do</strong> comigo<br />
gostou de minha forma positiva de explanar os fatos sobre a agressão <strong>do</strong><br />
guar<strong>da</strong> . Disse que eu tinha muita lógica na minha argumentação e muito<br />
ênfase no narrar , com muita clareza .<br />
Achou que alem <strong>do</strong> mais eu tinha o <strong>do</strong>m <strong>da</strong> palavra .<br />
Entendia que eu realmente tinha to<strong>do</strong> jeito para advocacia .
Além disto informou que o campo para advoga<strong>do</strong>s era muito vasto .<br />
Eu poderia advogar trabalhan<strong>do</strong> por conta própria , ou em escritórios de<br />
terceiros . Poderia ser contrata<strong>do</strong> e trabalhar como advoga<strong>do</strong> diretamente para<br />
industrias , bancos , empresas em geral . Poderia ain<strong>da</strong> ser Procura<strong>do</strong>r :<br />
Federal , <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> Município . Ser ain<strong>da</strong> Promotor de Justiça , Juiz<br />
de Direito , Juiz <strong>do</strong> Trabalho ou até Delega<strong>do</strong> de Policia . Alem <strong>do</strong> mais ,<br />
trabalhan<strong>do</strong> para o esta<strong>do</strong> , o tempo que eu já trabalhara na Secretaria <strong>do</strong><br />
Trabalho , também seria conta<strong>do</strong> para minha aposenta<strong>do</strong>ria .<br />
Tu<strong>do</strong> aquilo ficou giran<strong>do</strong> em minha cabeça . Realmente senti que o<br />
campo de trabalho para o advoga<strong>do</strong> era muito maior . Sem duvi<strong>da</strong> alguma .<br />
Pensei bastante , conversei com amigos que cursavam Direito e<br />
depois de um tempo mudei meu rumo em 180 graus .<br />
Iria estu<strong>da</strong>r Direito . A perspectiva me alegrava .<br />
.<br />
LATIM PARA VESTIBULAR<br />
O problema era o tempo para estu<strong>da</strong>r , pois estávamos no fim de<br />
Setembro e eu teria apenas 4 meses para estu<strong>da</strong>r Latim e Literatura .<br />
Vestibular naquele tempo era realiza<strong>do</strong> no fim de Janeiro ou início de<br />
Fevereiro . Durante aquele perío<strong>do</strong> eu passei só estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Por sorte eu tinha<br />
uma boa base escolar , tanto em português como em inglês . Foi um tempo<br />
que praticamente não mais sai de casa . Tirei férias , pois já estava com duas<br />
venci<strong>da</strong>s , colocan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tempo em dedicação ao Latim e a Literatura .<br />
Naquele tempo existiam poucas Facul<strong>da</strong>des de Direito . Apenas 5 ,<br />
se não me engano , a saber : - USP no Largo de São Francisco , Católica de<br />
Santos , Católica de São Paulo , Mackenzie e a de Direito de Bauru . Fiz<br />
minha inscrição no Mackenzie , na USP e no Direito de Bauru . Entendia que<br />
seria muito difícil entrar no São Francisco com apenas 4 meses de estu<strong>do</strong><br />
especializa<strong>do</strong> . Não tinha mais tempo para perder na vi<strong>da</strong> .<br />
Mas não custava tentar .<br />
O primeiro vestibular aconteceu no início de Janeiro na Facul<strong>da</strong>de<br />
de Direito de Bauru . Fui para lá de trem . Hospedei-me no Hotel Rex , bem<br />
no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , onde encontrei Maércio Magalhães , meu conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
Rua Augusta<br />
No outro dia bem ce<strong>do</strong> , dia <strong>da</strong> primeira prova escrita , fomos<br />
conhecer melhor a Facul<strong>da</strong>de de Direito. Ficava em uma área nova <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ,<br />
ten<strong>do</strong> em frente uma grande praça arboriza<strong>da</strong> . Era to<strong>da</strong> em estilo colonial ,<br />
forman<strong>do</strong> um grande quadra<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> , ocupan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> quarteirão . Com<br />
suas paredes interiores , na forma de arcos , no final <strong>do</strong> grande terraço que<br />
<strong>da</strong>va para um amplo pátio com jardim interno . Era bem bonita .
Já dentro <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de tive uma grande alegria . Encontrei o<br />
companheiro José Henrique . Ele era casa<strong>do</strong> com Maria Ângela , irmã <strong>do</strong>s<br />
meus amigos José Rafael e José Alfre<strong>do</strong> Galrão , filhos <strong>do</strong> médico Dr. Galrão.<br />
Descobrimos que estávamos na mesma turma de vestibular . Depois <strong>do</strong>s<br />
abraços fomos fazer a primeira prova. Exame de português : com re<strong>da</strong>ção,<br />
parte gramatical e parte de literatura .<br />
Tive sorte e fui muito bem , principalmente na re<strong>da</strong>ção .<br />
O mesmo aconteceu nos exames <strong>do</strong>s outros dias . Primeiro latim<br />
depois inglês . Tanto nas provas escritas como nos exames orais fui muito<br />
bem . Em latim que era meu me<strong>do</strong> tive sorte .<br />
Sai <strong>do</strong>s exames com certeza que seria aprova<strong>do</strong> .<br />
Na <strong>da</strong>ta para divulgação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> final , sexta feira pela tarde ,<br />
seguimos para verificar na Facul<strong>da</strong>de o que tinha sucedi<strong>do</strong> . O natural receio<br />
de ser reprova<strong>do</strong> trazia muita angustia .<br />
A surpresa entretanto foi boa , nós três estávamos aprova<strong>do</strong>s . Foi<br />
grande alegria ..<br />
Nossa alegria teve momentos de suspense quan<strong>do</strong> veteranos<br />
chegaram “desejan<strong>do</strong> raspar nossos cabelos”. Como nós três trazíamos<br />
atesta<strong>do</strong>s , informan<strong>do</strong> que éramos funcionários <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo , a<br />
vontade de raspar nossas “cucas” ficou só na vontade . Levamos o trote mas<br />
com nossos cabelos . Logo em segui<strong>da</strong> efetuamos as matriculas necessárias .<br />
23 C- NA FACULDADE<br />
A noite fomos comemorar no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , em uma lanchonete<br />
que era mo<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de , muito freqüenta<strong>da</strong> pela jovem guar<strong>da</strong> . O tal bar e<br />
lanchonete tinha o nome de “Lalai”. Ali , depois de algumas cervejas,<br />
reconhecemos outros que tinham presta<strong>do</strong> o mesmo vestibular com sucesso .<br />
Entre eles o Osval<strong>do</strong> e seu companheiro Gilberto Camargo , este ultimo<br />
usineiro em Dois Córregos . Ele sempre trazia , para ficar com ele em Bauru ,<br />
um ótimo violeiro chama<strong>do</strong> Tião . Assim música não faltou . Ficamos<br />
cantan<strong>do</strong> , com o coro de outros estu<strong>da</strong>ntes , até o bar fechar .<br />
Voltei no saba<strong>do</strong> , logo ce<strong>do</strong> , com primeiro trem <strong>da</strong> Cia. Paulista ,<br />
para casa . Não via a hora para contar aos meus pais que agora eu era<br />
universitário .<br />
A noticia efetivamente alegrou to<strong>da</strong> minha família . Como sempre<br />
minha mãe foi pagar promessa que havia feito para mim .<br />
Naquela noite , depois de telefonar para os amigos, fui para o<br />
Paulistano comemorar . Ali também estavam o Zé Ayres Netto , que havia<br />
entra<strong>do</strong> na Facul<strong>da</strong>de de O<strong>do</strong>ntologia de Campinas e o Octacílinho Lopes ,<br />
que entrara na Facul<strong>da</strong>de de Medicina de Botucatu . Foi só alegria .
A “LABORMETAL” DE BAURU<br />
Dias depois , logo pela manhã , depois de conversar com meu pai,<br />
ficou resolvi<strong>do</strong> que não iria prestar mais nenhum outro vestibular . Nem<br />
mesmo terminar o que estava realizan<strong>do</strong> na Facul<strong>da</strong>de de Direito <strong>do</strong> Largo <strong>do</strong><br />
São Francisco . Por sinal estava in<strong>do</strong> muito bem .<br />
A razão desta mu<strong>da</strong>nça foi uma simples proposta feita pelo meu pai .<br />
Visava solucionar uma dificul<strong>da</strong>de . Eu havia dito que existia um problema<br />
para estu<strong>da</strong>r em Bauru . Teria obrigatoriamente que freqüentar um mínimo de<br />
aulas por mês naquela ci<strong>da</strong>de, para poder alcançar o mínimo de freqüência .<br />
Isto possibilitaria realizar os Exames de Segun<strong>da</strong> Época e poder passar de ano<br />
letivo . Teria que ficar vários dias por mês em Bauru . Isto traria problemas de<br />
custo . Seriam 10 dias assistin<strong>do</strong> aulas .<br />
Meu pai apresentou a solução . Ele contou que sua firma<br />
Labormetel precisava de um representante em Bauru , centro geográfico <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> de São Paulo , sen<strong>do</strong> na época o maior entroncamento ferroviário<br />
brasileiro com três companhias por ali passan<strong>do</strong> ( Paulista –Mogiana -<br />
Noroeste ) , com muito bom comércio e com industrias se instalan<strong>do</strong> .<br />
Entendia que eu , com os dias que teria obrigação de ficar em<br />
Bauru, poderia organizar as ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Labormetal para to<strong>da</strong> a região ,<br />
nomean<strong>do</strong> e credencian<strong>do</strong> empresas para as principais ci<strong>da</strong>des por perto<br />
localiza<strong>da</strong>s . Também poderia efetuar ven<strong>da</strong>s diretas . Teria um pequeno<br />
escritório e uma auxiliar , para receber pedi<strong>do</strong>s e informar São Paulo . Como<br />
as aulas seriam na parte <strong>da</strong> manhã as visitas poderiam ter realização pela tarde<br />
Os produtos siderúrgicos que a Labormetal distribuía, como<br />
atacadista , tinham grande aceitação no merca<strong>do</strong> : - ferro para construção de<br />
to<strong>da</strong>s bitolas , chapas de aço, bobinas de aço , tubos , cotovelos e canos<br />
galvaniza<strong>do</strong>s , conduites , arames , arames farpa<strong>do</strong>s e outros mais . Além <strong>do</strong><br />
mais Labormetal ain<strong>da</strong> produzia pregos de to<strong>do</strong>s tamanhos e bitolas .<br />
Com este trabalho e os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s eu poderia ganhar bem<br />
mais , um pouco para pagar facul<strong>da</strong>de , viagens , hotel , alimentação e compra<br />
de livros . Os livros de direito sempre foram muito caros .<br />
Gostei e aceitei a oferta . Ele ligou para seu sócio e ficou tu<strong>do</strong><br />
arranja<strong>do</strong>. Eu iria estu<strong>da</strong>r Direito e também trabalhar durante alguns dias por<br />
mês em Bauru e região , to<strong>do</strong>s os meses em que por ali estivesse .<br />
Lembro que existia ain<strong>da</strong> um outro complica<strong>do</strong>r para contornar.<br />
O problema era meu serviço na Secretária <strong>do</strong> Trabalho , na ci<strong>da</strong>de de<br />
São Paulo . Naquele momento não queria perder o concurso que fizera , nem<br />
poderia deixar de trabalhar para o Esta<strong>do</strong> . Ficaria difícil me sustentar .<br />
Por outro la<strong>do</strong> , não poderia ausentar-me por to<strong>da</strong> uma semana .
Depois de procurar uma solução durante vários dias o “complica<strong>do</strong>r”<br />
foi supera<strong>do</strong>. Graças ao meu Diretor , que sempre prestigiava estu<strong>da</strong>ntes , fui<br />
devi<strong>da</strong>mente transferi<strong>do</strong> para “Departamento de Estatística <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” , na<br />
função de Pesquisa<strong>do</strong>r. Como os “Pesquisa<strong>do</strong>res de Rua” trabalhavam por<br />
metas e tarefas , realiza<strong>da</strong>s mediante visitas em numero pré determina<strong>do</strong> para<br />
ca<strong>da</strong> mês , eu poderia viajar para Bauru por um perío<strong>do</strong> . Desde que<br />
entregasse minha cota total de visitas e pesquisas <strong>do</strong> mês , em dia certo , antes<br />
de sair de São Paulo .<br />
Seria obriga<strong>do</strong> a trabalhar muito mais nas primeiras três semanas<br />
para viajar na quarta . Mas tu<strong>do</strong> deveria <strong>da</strong>r certo .<br />
- PRIMEIRAS AULAS<br />
O sacrifício valeu . Quan<strong>do</strong> Março chegou , em um <strong>do</strong>mingo pela<br />
manhã , segui com meu carro para Bauru . Ia assistir as primeiras aulas .<br />
Maércio Magalhães foi comigo . Foi a pior viagem . A quase totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />
estra<strong>da</strong>s , naquele tempo , não eram asfalta<strong>da</strong>s . Tinha chovi<strong>do</strong> muito geran<strong>do</strong><br />
barro nas estra<strong>da</strong>s de terra . O “Hudson” era um carro baixo e moderno . Não<br />
se <strong>da</strong>va na<strong>da</strong> bem na lama .<br />
.<br />
No outro dia de manhã , já na Facul<strong>da</strong>de , tivemos os primeiros<br />
contatos com nossos professores . A maioria deles era forma<strong>da</strong> por figuras de<br />
destaque na área jurídica . Muitos Juizes e Promotores de São Paulo e <strong>do</strong><br />
interior . Guar<strong>do</strong> até hoje boas recor<strong>da</strong>ções <strong>do</strong>s meus mestres, principalmente<br />
de alguns por seu grande conhecimento jurídico e humani<strong>da</strong>de , entre eles :<br />
Desembarga<strong>do</strong>r Pinheiro Macha<strong>do</strong> , Desembarga<strong>do</strong>r Edgard Moura<br />
Bittencourt , Juiz Octavio Stuchi . Também <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> Dr . Osny Silveira .<br />
Era professor de Direito Comercial . Pai <strong>do</strong>s meus amigos Iara e Osny Silveira<br />
Junior .<br />
Depois <strong>da</strong>s aulas e <strong>do</strong> almoço , conforme meu planejamento , segui<br />
para as ci<strong>da</strong>des onde deveria nomear Representantes / Distribui<strong>do</strong>res e fechar<br />
ven<strong>da</strong>s para a Labormetal . Já havia toma<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de ter relaciona<strong>do</strong> e<br />
contata<strong>do</strong> previamente as firmas com as quais pretendia negociar .<br />
Como as estra<strong>da</strong>s estavam péssimas realizei aquelas viagens de<br />
negócios por trem , toman<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de acertar os horários de i<strong>da</strong> e volta .<br />
Outras vezes fui de ônibus pois tinham mais freqüência em seus horários .<br />
Assim , com o tempo , fui estabelecen<strong>do</strong> representantes , efetuan<strong>do</strong> contratos e<br />
realizan<strong>do</strong> ven<strong>da</strong>s em Marilia , Lins , Agu<strong>do</strong>s , Pirajuí e outras mais ci<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> região .<br />
Chegava bem cansa<strong>do</strong> na volta , mas sempre com um tempo para ir<br />
até a “Lalai” . Para jantar e ver os colegas .
Naquela última sexta feira de Março , depois <strong>da</strong>s aulas e durante a<br />
noite, foi realiza<strong>da</strong> a “ Passeata <strong>do</strong>s Calouros”. To<strong>do</strong>s alunos participavam .<br />
Calouros carecas ou não , to<strong>do</strong>s pinta<strong>do</strong>s , fantasia<strong>do</strong>s e dirigi<strong>do</strong>s pelos<br />
veteranos . Homens e mulheres .<br />
Uma bandinha furiosa estava inician<strong>do</strong> o acompanhamento <strong>do</strong><br />
cortejo tocan<strong>do</strong> “marchinhas carnavalescas”. As calouras desfilavam de<br />
fantasia , com o rosto pinta<strong>do</strong> e com algumas plumas .<br />
Ficavam até bem bonitinhas . A “paquera” começava ...
FIDELIDADE ... Muita Fideli<strong>da</strong>de !<br />
Edu Marcondes<br />
Esta historia é real . Os Nomes e os Locais são fictícios .<br />
Por motivos óbvios , pois os personagens ain<strong>da</strong> estão vivos .<br />
São também muito conheci<strong>do</strong>s .<br />
Vamos lá :<br />
De to<strong>do</strong>s os meus amigos <strong>do</strong> Paulistano o mais “galinha” , o<br />
mais “mulherengo” era “Márcio”( vai ser assim chama<strong>do</strong> ) . Não podia ver<br />
um bonito “ rabo de saias” que sempre ia atrás. Largava tu<strong>do</strong> por causa de<br />
uma mulher bonita .<br />
Precisava ser realmente mulher bonita ou muito bonita . Então<br />
babava e ninguém o segurava.<br />
Entretanto , seu dia , quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s menos esperavam , chegou .<br />
Foi fisga<strong>do</strong> direitinho .Casou com “Margari<strong>da</strong>”( ficará comeste nome ) , com<br />
direito a igreja , noiva com vesti<strong>do</strong> de noiva , festa e lua de mel . Parecia que<br />
Mauro tinha toma<strong>do</strong> jeito .<br />
Uns <strong>do</strong>is anos se passaram . Uma noite de Setembro , o telefone<br />
tocou lá em casa , por volta <strong>da</strong>s 23 horas . Era o Márcio. Pela voz ,<br />
preocupadíssimo . Quan<strong>do</strong> perguntei o que tinha aconteci<strong>do</strong> foi explican<strong>do</strong> :<br />
-“ Amigão ... você nem sabe o que me aconteceu . Arranjei uma<br />
garota maravilhosa e vim com ela para um motel , aqui na Raposo Tavares .<br />
Chegamos pelas 21,30 horas e as 22,00 já estávamos sen<strong>do</strong> assalta<strong>do</strong>s . No<br />
momento eu estava com a garota dentro <strong>da</strong> piscina aqueci<strong>da</strong> . Man<strong>da</strong>ram que<br />
ficássemos onde estávamos . Sem piar , nem mexer e nem beber ...<br />
Levaram tu<strong>do</strong> . Dinheiro , cheque , relógio e to<strong>da</strong>s as roupas .<br />
As minhas e as <strong>da</strong> garota . Chamei a gerência para reclamar e fui informa<strong>do</strong><br />
que to<strong>do</strong> motel tinha si<strong>do</strong> assalta<strong>do</strong> .<br />
Por sorte eu tinha deixa<strong>do</strong> as chaves dentro <strong>do</strong> carro<br />
estaciona<strong>do</strong> aqui na garagem . Ele ficou . Estamos agora enrola<strong>do</strong>s em toalhas.<br />
E ninguém quer chamar a polícia . Claro !<br />
Preciso de sua aju<strong>da</strong>.”<br />
- “Que diacho Márcio .Como é que você vai voltar para casa<br />
peladinho ..., peladinho . E quan<strong>do</strong> a Margari<strong>da</strong> souber ?”<br />
Eu falava em tom de gozação . É claro que iria aju<strong>da</strong>-lo.<br />
-“Nem fale nisso ! Você sabe que amo minha esposa. Sou fiel .<br />
O problema é esta maldita primavera . Mexe comigo”. Ain<strong>da</strong> disse :<br />
“A saí<strong>da</strong> é você . Tem minha altura e mais ou menos meu peso .<br />
Preciso de um terno azul marinho , uma camisa branca , meias , uma gravata
em tom vermelho . Sapatos ain<strong>da</strong> tenho , pois ficaram debaixo <strong>da</strong> cama . Pelo<br />
amor de Deus preciso de sua aju<strong>da</strong> agora , para poder voltar para casa dentro<br />
de pouco tempo , pois disse para a Margari<strong>da</strong> que a reunião de trabalho com<br />
meu cliente terminava por volta <strong>da</strong> meia noite . E completou :<br />
-“Já vi você com terno azul marinho !”<br />
-“Está bem , em meia hora acho que estarei por ai .<br />
Como é o nome <strong>do</strong> Motel ?”<br />
-“Motel Maravilha” . Quilometro 26 . Obriga<strong>do</strong> amigão.”<br />
Pequei as roupas solicita<strong>da</strong>s , toman<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de coloca-las<br />
em uma sacola de feira . E lá fui eu . “Motel Maravilha” ...que maravilha ...<br />
Chegan<strong>do</strong> identifiquei-me e entrei com facili<strong>da</strong>de pois Márcio<br />
já tinha informa<strong>do</strong> minha vin<strong>da</strong> para a gerência . Fui direto para seu<br />
apartamento . Na primeira bati<strong>da</strong> ele abriu a porta e foi dizen<strong>do</strong> :<br />
-“Que sufoco . Caso não fosse você estaria perdi<strong>do</strong>.”<br />
Enquanto ele enfiava as roupas , com a maior pressa , dei uma<br />
olha<strong>da</strong> para a garota . Era realmente muito lin<strong>da</strong> . Muito gostosa , mesmo<br />
embrulha<strong>da</strong> em toalhas. Além de tu<strong>do</strong> charmosa.<br />
Márcio começava a suar e foi pedin<strong>do</strong> :<br />
-“Preciso ain<strong>da</strong> de você . Não posso atrasar . Pode levar a<br />
“Princesa”para casa ? Vou ficar deven<strong>do</strong> esta para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.”<br />
Como não tinha outro jeito de aju<strong>da</strong>r tive de concor<strong>da</strong>r. Ele me<br />
de um abraço bem aperta<strong>do</strong> e um beijo fraterno em meu rosto.<br />
Saiu corren<strong>do</strong> e agradecen<strong>do</strong> segui<strong>da</strong>mente .<br />
Informou que devolveria minha roupa o mais depressa possível.<br />
.<br />
Levei a “Princesa” para sua casa . Para pagar mais peca<strong>do</strong>s ela<br />
morava na zona norte . Longe ... muito longe mesmo .<br />
Dois dias depois ele ligou agradecen<strong>do</strong> com sinceri<strong>da</strong>de e<br />
informan<strong>do</strong> que estava devolven<strong>do</strong> minhas roupas . Comentamos o caso e dei<br />
algumas risa<strong>da</strong>s .Principalmente quan<strong>do</strong> ele dizia que era um mari<strong>do</strong> fiel ... de<br />
muita fideli<strong>da</strong>de .<br />
O tempo passou e estive com meu amigo e sua lin<strong>da</strong> esposa em<br />
várias ocasiões lá no Paulistano . O assunto estava morto e enterra<strong>do</strong> .<br />
Um ano e pouco depois ... , o telefone tocou lá pelas 3 horas <strong>da</strong><br />
madruga<strong>da</strong> . Acordei assusta<strong>do</strong> . Era o Márcio to<strong>do</strong> afoba<strong>do</strong> :<br />
-“Estou na maior gela<strong>da</strong> <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> e não sei como sair<br />
desta . Por isso mesmo liguei para você . Disse para Margari<strong>da</strong> que ia à uma
eunião e que estaria de volta até meia noite . Vim para o “Motel Fantasia”<br />
com uma garota . Só que depois <strong>do</strong>rmimos ... e só acordei agora !<br />
Como é que vou voltar para casa . Estou “ferra<strong>do</strong>”. Por favor<br />
me ajude . Diga o que posso fazer . Não quero perder minha esposa que<br />
a<strong>do</strong>ro. Você sabe como sou fiel .”<br />
-“ Diga que a reunião demorou ...”<br />
-“ Até as 3 <strong>da</strong> “matina”. Ela vai é me matar !”<br />
Pedi para pensar um pouco . Pedi também para ele tornar a<br />
ligar dentro de 5 minutos . Fiquei <strong>da</strong>n<strong>do</strong> “ tratos a bola”. Depois de alguns<br />
minutos lembrei <strong>do</strong> Hospital que um primo tinha na Lapa.<br />
Liguei para o primo , pedi desculpas pelo horário , expliquei a<br />
situação e por fim acertamos tu<strong>do</strong> .<br />
Alguns minutos depois Marcio ligou de novo e eu expliquei :<br />
-“ Você vai ser interna<strong>do</strong> em um hospital . A história vai ser a<br />
seguinte : - “ Dr. Marcio teve um mal súbito e desmaiou ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> carro , no<br />
caminho de sua casa lá no Pacaembu , por volta <strong>da</strong>s 11 horas de ontem. Foi<br />
encontra<strong>do</strong> por populares.<br />
Uma ambulância foi chama<strong>da</strong> e o levou para o Hospital <strong>da</strong><br />
Lapa.<br />
Você agora vai deixar seu carro perto <strong>do</strong> Pacaembu e vá de táxi<br />
para o Hospital . Eles estarão esperan<strong>do</strong> por você . Sem problemas . Está tu<strong>do</strong><br />
acerta<strong>do</strong> com meu primo que é o <strong>do</strong>no <strong>do</strong> Hospital . Procure por Afonso e não<br />
discuta .<br />
Depois , pela manhã bem ce<strong>do</strong> eles vão ligar para Margari<strong>da</strong><br />
falan<strong>do</strong> <strong>do</strong> caso . Vão explicar seu mal súbito , por muito trabalho ...”<br />
-“Será que vai <strong>da</strong>r certo ?”<br />
-“Você tem outra sugestão melhor ? Então não discuta !”<br />
Ele fez tu<strong>do</strong> direitinho . Foi interna<strong>do</strong> e lá pelas 6 <strong>da</strong> manhã<br />
ligaram <strong>do</strong> Hospital para Margari<strong>da</strong> , que por sinal ain<strong>da</strong> <strong>do</strong>rmia , explican<strong>do</strong><br />
o caso e informan<strong>do</strong> que ele estava bem . Que fora um mal súbito , “stress”,<br />
cansaço por “muito trabalho” e mais na<strong>da</strong> .<br />
Pediam seu comparecimento no hospital , pois os exames na<strong>da</strong><br />
apresentaram . Ele deveria ser leva<strong>do</strong> para casa e manti<strong>do</strong> em observação .<br />
E lá foi a Margari<strong>da</strong> para o hospital com o coração na mão .<br />
Só sossegou quan<strong>do</strong> viu o Marcio , fazen<strong>do</strong> cara de vitima mas<br />
dizen<strong>do</strong> que estava bem . Lá ficaram até as 7,30 <strong>da</strong> manhã .<br />
Na saí<strong>da</strong> ele teve que pagar a conta, na certeza que desta vez<br />
estava salvo . Gastou uma grana boa , mas estava salvo !<br />
Durante to<strong>da</strong> semana o “mari<strong>do</strong> fiel foi trata<strong>do</strong> como um<br />
bebezinho” .
Dias depois fui almoçar com o amigo Marcio lá no Paulistano .<br />
Junto conosco naquele almoço estava Mario Sérgio .<br />
No meio <strong>do</strong> almoço aproveitei a oportuni<strong>da</strong>de e desejei saber<br />
como ele tinha feito para devolver o meu terno , aquele que levei e que por ele<br />
foi usa<strong>do</strong> na vez primeira que deu problema em Motel .<br />
Era uma curiosi<strong>da</strong>de minha que tinha fica<strong>do</strong> sem resposta .<br />
Ele respondeu <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> .<br />
“ Não tinha outro jeito . Uma manhã em que Margari<strong>da</strong> foi<br />
visitar a mãe roubei seu terno de dentro de minha própria casa . Ele saiu<br />
escondi<strong>do</strong> até meu carro e <strong>da</strong>li para meu escritório . Mandei entregá-lo para<br />
você pelo “Boy” de minha companhia .<br />
-“A Margari<strong>da</strong> até hoje pensa que a emprega<strong>da</strong> , que ela mesma<br />
despediu , foi quem roubou o terno .<br />
E quan<strong>do</strong> ela se lembra , fica xingan<strong>do</strong> sem parar ..., sempre a<br />
emprega<strong>da</strong> ! ”<br />
A gargalha<strong>da</strong> na mesa <strong>do</strong> Paulistano foi geral ...<br />
Edu Marcondes – 1.980
A FESTA DAS MOÇAS BONITAS<br />
Edu Marcondes<br />
Coisa que não posso esquecer : As festas na casa <strong>da</strong> minha amiga<br />
Maria Lúcia Finochiaro . No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50 e começo <strong>do</strong>s anos 60 , no<br />
bairro <strong>da</strong>s Perdizes/ Pacaembu , aconteciam as famosas “Festas <strong>da</strong>s Moças<br />
Bonitas”. Eram assim chama<strong>da</strong>s pela beleza <strong>da</strong>s convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s .<br />
Realmente em São Paulo sempre existiram muitas moças bonitas, em<br />
to<strong>do</strong>s os bairros , em to<strong>do</strong>s os clubes , em to<strong>do</strong>s lugares . Entretanto , ali no<br />
grande apartamento onde Maria Lúcia morava com seus pais , aconteciam<br />
festas , onde to<strong>da</strong>s convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s eram moças de muita beleza .<br />
Por isto mesmo os rapazes <strong>do</strong> Paulistano e os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s chamavam<br />
aqueles acontecimentos de “As Festas <strong>da</strong>s Moças Bonitas” . Elas aconteciam<br />
esporadicamente , quan<strong>do</strong> Maria Lúcia resolvia realizar um encontro para<br />
rever amigos e amigas , ou comemorar algum aniversário . Então a rapazia<strong>da</strong><br />
ficava acesa , esperan<strong>do</strong> ser devi<strong>da</strong>mente convi<strong>da</strong><strong>da</strong> . Isto era importante , pois<br />
penetras não entravam . Os amigos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s é que tomavam conta <strong>da</strong> festa .<br />
Conheci Maria Lúcia a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> “Provence” , em viagem para<br />
Buenos Ayres . Depois muitas vezes estivemos juntos nas praias de São<br />
Vicente , no “Grill” <strong>do</strong> Parque Balneário , no Guarujá e em muitas outros<br />
lugares de São Paulo . O grupo de Maria Lúcia era sempre muito simpático .<br />
Lembro de muitos rostos bonitos que vi em sua casa , porem de<br />
apenas poucos nomes <strong>da</strong>s moças bonitas . Eram muitas Rosas , Marias ,<br />
Terezas , Susanas , Ci<strong>da</strong>s , Lilians e Marianas que encontravamos em suas<br />
festas , ou mesmo an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com ela . Uma delas , Cinyra Arru<strong>da</strong> sua grande<br />
amiga , estava sempre presente . Recor<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> de Ana Maria , de Dulce Serra<br />
e sua irmã Verinha Serra , de Rosa Maria Lima entre tantas outras<br />
Nas Festas de Maria Lúcia encontrei duas namora<strong>da</strong>s : Giovanna ,<br />
romance de pouco tempo e Vivian Lindstron , lindíssima sueca de olhos<br />
violetas, namora<strong>da</strong> por bom tempo . Depois ela voltou para a Europa .<br />
De to<strong>da</strong>s aquelas moças bonitas quase na<strong>da</strong> mais sei . Vivian reside<br />
hoje na Suécia , onde se casou . Rosa Lima vive em Salva<strong>do</strong>r . Nunca mais<br />
encontrei , nem tenho noticias de Giovanna , de Dulce e Vera Serra , de Ana<br />
Maria e de to<strong>da</strong>s as outras conheci<strong>da</strong>s .<br />
Quem tenho visto um pouco , mas somente nas telas <strong>da</strong> televisão , é<br />
Cinyra Arru<strong>da</strong> , sempre nos programas <strong>do</strong> SBT <strong>do</strong> Silvio Santos .<br />
Os anos estão passan<strong>do</strong> ... Muito depressa !<br />
Maria Lúcia minha amiga . Onde an<strong>da</strong> você ?
“1 9 6 4 – A REVOLUÇÃO NECESSÁRIA”<br />
Edu Marcondes<br />
Minha Célula Revolucionária – Primeiros Movimentos – Toma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
Docas de Santos – A Revolução Vitoriosa – “Não se faz Omeletes ...”- Saí<br />
Fora <strong>do</strong>s Chefes <strong>da</strong> Revolução - Os Bons Frutos <strong>da</strong> Revolução Existiram.<br />
No começo <strong>da</strong>quele ano eu estava realizan<strong>do</strong> Pós Graduação em<br />
Administração de Empresas na Fun<strong>da</strong>ção Getulio Vargas . Isto exigia<br />
freqüência nas aulas e muito estu<strong>do</strong> .<br />
Em paralelo ain<strong>da</strong> trabalhava como Assessor Jurídico <strong>do</strong> Secretario<br />
<strong>do</strong> Trabalho , Industria e Comercio <strong>do</strong> Governo de São Paulo – Deputa<strong>do</strong><br />
Antonio Morimoto . Não estava ten<strong>do</strong> tempo nem para namorar .<br />
Então aconteceu o que se sabia que iria acontecer , mas não queria<br />
que acontecesse naquele momento . Aconteceu . As forças nacionalistas, anti<br />
comunistas , aglutina<strong>da</strong>s em oposição contra Jango Goulart , iniciaram revolta<br />
arma<strong>da</strong> visan<strong>do</strong> derruba<strong>da</strong> de um governo com tendência esquerdista .<br />
Desde o ano anterior , em Março de 1963 , vários Grupos de<br />
Democratas analisavam os acontecimentos políticos . Preparavam resistência<br />
arma<strong>da</strong> , caso fosse necessária , contra um possível Movimento Socialista –<br />
Comunista . Isto realmente poderia ocorrer , pois tu<strong>do</strong> então assim indicava ,<br />
através de medi<strong>da</strong>s inconstitucionais que estavam acontecen<strong>do</strong> no governo de<br />
Jango Goulart . Sentíamos , praticamente em to<strong>do</strong>s os dias , desman<strong>do</strong>s e<br />
ordenações anti democráticas sen<strong>do</strong> implanta<strong>da</strong>s no país .<br />
Meu Núcleo Revolucionário<br />
Então muitas vezes nos reuníamos em vários locais de São Paulo ,<br />
com amigos que integravam nosso movimento . Entre eles cabe destaque para<br />
meus amigos <strong>do</strong> Paulistano , apoia<strong>do</strong>s pelos companheiros <strong>do</strong> Harmonia ,<br />
entre eles : - Herman Moraes Barros , Sérgio “Cavalo” , Orlan<strong>do</strong> de Almei<strong>da</strong><br />
Pra<strong>do</strong> , Chico “Kirongosi” Galvão , Mario Sergio , Caio Kiehl , Luiz Carlos<br />
Junqueira Franco , Eduar<strong>do</strong> “Da<strong>do</strong>” Munhoz , Fernan<strong>do</strong> e Eduar<strong>do</strong> Levi , Luiz<br />
Carlos Levi , Alcir Amorim, Antonio Duva e Cláudio Coutinho .<br />
Alem deste nosso Grupo ain<strong>da</strong> tínhamos noticias de muitos outros.<br />
Existia realmente a possibili<strong>da</strong>de de um movimento arma<strong>do</strong> .<br />
Quinze dias antes <strong>do</strong> início <strong>da</strong> Revolução de 64 um grupo <strong>do</strong>s<br />
nossos, composto pelos mais jovens , coman<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Sergio “Cavalo” , foi<br />
convoca<strong>do</strong> para não permitir uma reunião de cunho socialista que iria<br />
acontecer no Auditório <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Filosofia <strong>da</strong> USP – reputa<strong>do</strong> centro<br />
comunista /socialista. Na ocasião iria falar Ministro de tendência esquerdista .
Não deu outra . No dia e na hora lá estávamos . Apenas com gás<br />
sulfídrico e nossa determinação acabamos com tu<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente .<br />
Nem precisamos usar força .<br />
O movimento contra os esquerdistas vinha crescen<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente .<br />
Os partidários de um Brasil mais sério e mais nacionalista /<br />
democrático estavam razoavelmente organiza<strong>do</strong>s . Já estávamos de prontidão<br />
para uma luta arma<strong>da</strong> , muitos dias antes <strong>da</strong>s tropas <strong>do</strong> Exercito , sedia<strong>do</strong> em<br />
Minas Gerais , iniciar sua movimentação contra o Presidente Jango Goulart .<br />
Éramos voluntários e iríamos para onde quer que fosse necessário .<br />
Avisei em casa o que estava acontecen<strong>do</strong> . Avisei que seria<br />
necessário estocar alimentos pois não se sabia quanto tempo a Revolução<br />
poderia durar . Informei que poderia ficar fora , sem <strong>da</strong>r noticias , durante<br />
vários dias . Minha mãe apenas pediu que eu controlasse meu ímpeto .<br />
Dona Zil<strong>da</strong> sabia <strong>da</strong>s coisas .<br />
Primeiros Movimentos<br />
Naquela ocasião a “Marcha <strong>da</strong>s Mulheres pela Democracia” definia<br />
muito bem a posição <strong>da</strong>s famílias paulistas .Também o apoio <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r<br />
Ademar de Barros foi fun<strong>da</strong>mental para o sucesso <strong>do</strong> movimento . Ele mais<br />
um grupo <strong>do</strong>s nossos lideres estiveram com o Gal. Amauri Kruel , lá coman<strong>do</strong><br />
<strong>da</strong> Região Militar , que na ocasião ficava na Rua Libero Ba<strong>da</strong>ró . Logo depois<br />
soubemos que Kruel e seus coman<strong>da</strong><strong>do</strong>s ficavam com nossa Revolução .<br />
O governo de Jango Goulart nervosamente divulgava noticias de<br />
resistência através <strong>da</strong>s suas propala<strong>da</strong>s “células populares” . Leonel Brizola<br />
informava que existiria luta arma<strong>da</strong> , pois o seu governo <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul<br />
estaria se preparan<strong>do</strong> para tanto . Parecia que realmente aconteceria uma<br />
guerra civil .<br />
Naquela noite <strong>da</strong> tantas noticias fui para nosso coman<strong>do</strong> que ficava<br />
em uma travessa <strong>da</strong> Av. Rebouças .<br />
A partir deste parágrafo vou resumir minha participação na<br />
Revolução de 1.964 , bem como minhas considerações sobre acontecimentos:<br />
1- ) Recebi , juntamente com o amigo “Da<strong>do</strong>” Munhoz , a 1ª Ordem : Tomar<br />
o Hospital <strong>da</strong>s Clínicas e o Hospital São Paulo . Para lá iriam nossos possíveis<br />
feri<strong>do</strong>s . Horas depois estes hospitais já estavam em nossas mãos ;<br />
2- ) Recebi a missão de seguir para o litoral , juntamente com Pedro Padilha ,<br />
para , em nome <strong>do</strong> Movimento Democrata , tomar as Docas de Santos , com<br />
apoio de tropas de nossa Força Publica , coman<strong>da</strong><strong>da</strong> por oficiais . Na noite<br />
seguinte não só tomamos as Docas mas inclusive o Sindicato <strong>do</strong>s Estiva<strong>do</strong>res .<br />
Para tanto recebemos muito melhor armamento . Não foi utiliza<strong>do</strong> ;
3-) Fiquei a disposição <strong>do</strong> nosso Coman<strong>do</strong> até o final <strong>da</strong> Revolução ;<br />
4-) Fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para o Jantar <strong>da</strong> Vitória que foi realiza<strong>do</strong> no Harmonia ;<br />
5-) Verifiquei que ali estavam “Muitos Estranhos” , que em nenhum momento<br />
participaram ativamente de nosso Movimento . Chegavam depois,<br />
aproveitan<strong>do</strong> o momento de vitória , para se infiltrar . Muitos eram Políticos e<br />
Policiais ( Delega<strong>do</strong>s / Investiga<strong>do</strong>res ) . Herman Moraes Barros os chamava<br />
de “Aves de Arribação” ;<br />
6- ) Não gostei muito <strong>do</strong> nome que deram para nosso jantar : “Clube <strong>do</strong>s<br />
Gorilas”;<br />
7- ) A Revolução de 1964 tinha um ideário bem defini<strong>do</strong> . Primeiro seriam<br />
implanta<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os requisitos necessários para uma Forte Estrutura<br />
Nacionalista e Democrata , para em segui<strong>da</strong> ser implanta<strong>da</strong> a parte social .<br />
Para tanto teríamos inicialmente : A) Criação de um Banco<br />
Central –B) Cassação <strong>do</strong>s Corruptos –C) Corte geral de Despesas<br />
desnecessárias – D) Sistemas de Apoio para Desenvolvimento <strong>do</strong> Norte/<br />
Nordeste – E) Eliminação <strong>do</strong> Analfabetismo – F) Financiamentos com<br />
Custos Baixos para Crescimento <strong>da</strong> Industria – G-) Construção de <strong>Casa</strong>s<br />
Populares – H) Construção de Estra<strong>da</strong>s indispensáveis – I )<br />
Desenvolvimento <strong>da</strong> Exploração <strong>do</strong> Petróleo - entre outras tantas coisas<br />
programa<strong>da</strong>s . Ficara claro que somente depois é que seria realmente<br />
implanta<strong>da</strong> a democracia total . Antes era preciso arrumar e limpar a casa .<br />
8-) Paralelamente a tu<strong>do</strong> aquilo que fora planeja<strong>do</strong> e começava a ser realiza<strong>do</strong>,<br />
tomei conhecimento que ocorriam prisões e torturas desnecessárias e injustas<br />
de estu<strong>da</strong>ntes , efetua<strong>da</strong>s por uma tal de “ Operação Bandeirantes” , chefia<strong>da</strong><br />
por um tal “Delega<strong>do</strong> Fleury.” Os chefes Comunistas já tinham fugi<strong>do</strong> ;<br />
9-) Pouco depois tomávamos conhecimento <strong>da</strong>s Cassações de Pessoas e<br />
Políticos que estiveram realmente conosco , <strong>do</strong> nosso la<strong>do</strong> , na Revolução .<br />
Não existiam razões para tanto . Percebi então que as Vontades Políticas , de<br />
alguns Políticos que agora começavam a man<strong>da</strong>r , estavam falan<strong>do</strong> mais alto ;<br />
10-) As tais “Aves de Arribação” não tinham i<strong>do</strong> para longe . Agora e ca<strong>da</strong><br />
vez mais estavam participan<strong>do</strong> no man<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento . Estavam<br />
Definitivamente no Poder . Militares foram definitivamente para os quartéis.<br />
11-) Políticos não torturavam mas ficavam por trás <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ordens . E<br />
nem foram presos aqueles principais políticos socialistas/comunistas ,<br />
assaltantes de bancos , seqüestra<strong>do</strong>res e demagogos , pois já estavam longe <strong>do</strong><br />
país . Deixaram fugir os criminosos . Fugiram simplesmente . Somente eram<br />
deti<strong>do</strong>s e presos pobres suspeitos . Gente sem a menor expressão política .<br />
Idealistas e estu<strong>da</strong>ntes . Puro absur<strong>do</strong> policial .<br />
Uma coisa era Perseguir e Cassar Corruptos .
Outra era Torturar Gente Inocente .<br />
12-) Aquelas “Aves de Arribação ” estavam man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> tanto que , ao que tu<strong>do</strong><br />
indica , foram os responsáveis pela morte <strong>do</strong> Presidente Castelo Branco ;<br />
13-) Daquele momento em diante os Militares só man<strong>da</strong>vam na Cúpula <strong>do</strong><br />
pais. No combate diário contra a Corrupção e contra Comunistas quem<br />
man<strong>da</strong>va era a Policia . To<strong>do</strong> tipo de policia . Na ocasião o fato <strong>da</strong> morte de<br />
Castelo Branco foi chama<strong>do</strong> de “acidente” ... Políticos profissionais não<br />
concor<strong>da</strong>vam com a linha dura e séria de administração por ele imposta ;<br />
14-) Minha preocupação e desagra<strong>do</strong> tornou-se constante ;<br />
As torturas continuavam e em breve passaram a suplantar o que era<br />
Bom . Passaram ser uma marca que políticos corruptos impuseram para a<br />
Revolução de 1964 . Bem Negativa a ponto de empanar o Brilho <strong>da</strong>s<br />
Grandes Coisas que eram então realiza<strong>da</strong>s . Tu<strong>do</strong> por vontade de<br />
políticos de mau caráter que tomavam agora parte em tu<strong>do</strong> . Man<strong>da</strong>vam<br />
em tu<strong>do</strong> . Começavam dirigir tu<strong>do</strong> . Muitos estavam levan<strong>do</strong> boas<br />
vantagens. Parecia que com suas atitudes desejavam incriminar<br />
realmente nossa Revolução .<br />
E na<strong>da</strong> acontecia contra eles . Infelizmente isto já era uma grande<br />
ver<strong>da</strong>de . Aquelas pessoas de má ín<strong>do</strong>le são os mesmos políticos que hoje<br />
to<strong>do</strong>s nós bem conhecemos e que , por mais incrível que pareça , até agora<br />
estão soltos . Muitos Man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> !<br />
Na<strong>da</strong> foi feito contra eles , apesar de inúmeras denuncias muito bem<br />
consubstancia<strong>da</strong>s . Qual a razão? O Poder realmente Corrompe ?<br />
15-) Por não aceitar aquele Esta<strong>do</strong> de Impuni<strong>da</strong>des , em 1969 , para<br />
to<strong>do</strong>s os amigos que se encontravam reuni<strong>do</strong>s no Paulistano , declarei :<br />
“Estou me desligan<strong>do</strong> neste momento <strong>do</strong>s Chefes Políticos <strong>da</strong> Revolução”<br />
NÃO DE NOSSOS IDEAIS OU DE NOSSOS PROGRAMAS !<br />
ELES FORAM ESQUECIDOS !<br />
16-) As “Aves de Arribação e Políticos” : Forçaram logo de início , por<br />
interesses puramente pessoais , a implantação de uma Forma de<br />
Democracia que não estava devi<strong>da</strong>mente clara . Foi imposta . Ela em<br />
reali<strong>da</strong>de continua até hoje . Basta uma melhor analise ! Sem a menor<br />
condição de continui<strong>da</strong>de . Analise ... verifique ! .<br />
17-) Finalmente o Governo caiu graciosamente nas mãos <strong>da</strong>queles mesmos<br />
políticos corruptos e esquerdistas que fugiram <strong>do</strong> país . Graças a uma “Anistia<br />
Geral” , que até hoje não foi bem explica<strong>da</strong> , voltaram ao Brasil . Aqueles<br />
comunistas falavam em democracia . Patético!
18-) Mediante intensa Campanha de Propagan<strong>da</strong> , por eles dirigi<strong>da</strong> ,<br />
sobrou para Revolução de 64 somente a “Pecha de Tortura<strong>do</strong>ra e<br />
Repressiva” . Tu<strong>do</strong> que foi feito de bom é agora devi<strong>da</strong>mente escondi<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> público em geral . Na<strong>da</strong> se fala hoje a respeito <strong>da</strong>s boas coisas<br />
realiza<strong>da</strong>s .<br />
• ALGUNS ÓTIMOS FRUTOS <strong>da</strong> REVOLUÇÃO<br />
Já são passa<strong>do</strong>s 40 anos e agora , com a maior isenção, é possível<br />
uma análise mais clara <strong>do</strong> que aconteceu com o Brasil graças aos Programas<br />
Implanta<strong>do</strong>s pela Revolução de 64 .<br />
É preciso lembrar que :<br />
1º) Com a Revolução de 64 o Brasil chegou a se tornar a 8 A<br />
ECONOMIA MUNDIAL . Seu Produto Interno Bruto atingia patamares<br />
de crescimento de 10% ao ano . Não existia desemprego . Os salários<br />
subiam. O PIB Era praticamente igual ao <strong>da</strong> China .<br />
Tu<strong>do</strong> crescia rapi<strong>da</strong>mente naquela economia devi<strong>do</strong> aos programas<br />
governamentais bem implanta<strong>do</strong>s. Veja a seguir :<br />
2º ) Via BNDE / FINAME , que financiavam com baixos custos<br />
Maquinas/Equipamentos , bem com to<strong>do</strong> tipo de Ativo Fixo e Capital de<br />
Giro necessário , crescia nossa produção em to<strong>da</strong>s as áreas . Isto tinha<br />
continui<strong>da</strong>de Com Programas de Médio e Longo prazo – via CAIXA<br />
ECONÔMICA , realiza<strong>do</strong>s com recursos provenientes <strong>do</strong> PIS .<br />
3º) Com o BNH- Banco Nacional de Habitação , recém cria<strong>do</strong> ,<br />
financiávamos a Construção de <strong>Casa</strong>s e possibilitávamos Recursos para<br />
Industrias Produtoras de Material para Construção - via sal<strong>do</strong>s <strong>do</strong> FGTS.<br />
O seu custo era baixíssimo ! .<br />
4º) – FINANCIAMENTOS AGRICOLAS - com o excedente <strong>do</strong><br />
“Compulsório de Depósitos Bancários”, era financia<strong>do</strong> , com baixíssimos<br />
custos , TODA AGRO PECUARIA , pois quase na<strong>da</strong> custava . A<br />
Agricultura começou a crescer e não parou mais .<br />
5º) SUDAM – SUDENE – SUDEPE Mais desenvolvimento<br />
tivemos com a criação destas enti<strong>da</strong>des para implantação de Empresas no<br />
Nordeste/ Norte e na Pesca ( Estas enti<strong>da</strong>des utilizava recursos abati<strong>do</strong>s<br />
por pessoas jurídicas <strong>do</strong> Imposto de Ren<strong>da</strong> ).<br />
6º) Com a Criação <strong>da</strong> “ZONA FRANCA DE MANAUS ”<br />
começou pela primeira vez em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> , produção industrial em
larga escala na Área Amazônica . o RESULTADO FOI E ain<strong>da</strong> É<br />
FABULOSO.<br />
7º) Com a EMBRAPA – foram seleciona<strong>da</strong>s as melhores<br />
sementes que geraram o atual Crescimento de Nossas Exportações de<br />
Alimentos . Elas é que geram sal<strong>do</strong> positivo atual para a Nação .<br />
To<strong>do</strong>s estes programas eram realiza<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> os Bancos<br />
Governamentais uma Posição de Segun<strong>da</strong> Linha , pois Não Aprovavam<br />
Nem Liberavam os Créditos . Apenas aprovavam os projetos . Assim não<br />
existiam politicagem , “aju<strong>da</strong> eleitoral” , “malas preta” e GRANDE<br />
CORRUPÇÃO para liberar tais créditos .<br />
8º) To<strong>da</strong>s Nossas exportações muito cresceram . Começamos a<br />
exportar não mais somente grãos, Mas ain<strong>da</strong> Bens Duraveis , Vestuário ,<br />
Automóveis , Teci<strong>do</strong>s , Alimentos , Eletro<strong>do</strong>mésticos e tu<strong>do</strong> que<br />
fabricávamos com quali<strong>da</strong>de . A Industria que hoje decresce , Crescia !<br />
9º) CONSTRUÇÃO NAVAL - Visan<strong>do</strong> redução de custos ,<br />
mediante transporte em navios de bandeira nacional , a construção naval<br />
teve rápi<strong>da</strong> expansão , com navios de to<strong>do</strong>s os tipos financia<strong>do</strong>s e<br />
construí<strong>do</strong>s no Rio de Janeiro . Hoje praticamente parou .<br />
10º) O mesmo aconteceu com a “EMBRAER ” e seus aviões . O<br />
controle acionário foi vendi<strong>do</strong> em surdina !<br />
11º)- Ain<strong>da</strong> to<strong>do</strong>s nossos PRODUTOS DE MATERIAL BÉLICO<br />
eram bem reputa<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> internacional , sen<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>s para<br />
América Latina , África e principalmente para Paises Árabes .<br />
12º) As Estra<strong>da</strong>s Ro<strong>do</strong>viárias mais importantes foram<br />
pavimenta<strong>da</strong>s , ( hoje aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s necessitam de urgentes reparos ,<br />
To<strong>da</strong>s elas ) com priori<strong>da</strong>de para aquelas que pudessem facilitar<br />
transporte entre grandes centros ou facilitassem exportações . Foram<br />
abertas estra<strong>da</strong>s de grande importância para a integração nacional , tais<br />
como : “Belém – Brasília” , “Calha Norte” – junto as fronteiras <strong>do</strong> norte<br />
. Foram inicia<strong>da</strong>s a “Transamazônica” , e a “BR 101”- ligan<strong>do</strong> os esta<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong> nordeste com esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> centro- leste e sul <strong>do</strong> Brasil . ( até hoje / 2012<br />
não concluí<strong>da</strong>s ) Até estra<strong>da</strong>s vicinais foram então pavimenta<strong>da</strong>s .
13º) PETROBRAS iniciou fase de pesquisas e prospecção de<br />
novas áreas NOTADAMENTE NO “PRÉ SAL” . Firmamos posição de<br />
Limite de 200 milhas para soberania nacional . Antes era somente de 12<br />
milhas . Rapi<strong>da</strong>mente começou aumentar sua produção . Em 1984 já<br />
estávamos alcançan<strong>do</strong> firme posição para nossa auto suficiência . ( hoje<br />
estamos novamente importan<strong>do</strong> gazolina ) . A Petrobras está inteiramente<br />
atrasa<strong>da</strong> nas suas programações .<br />
14º) Iniciávamos também a Exportação de Aço e de seu Minério<br />
de ferro , com quali<strong>da</strong>de que permitia regulari<strong>da</strong>de de negócios . cresceu<br />
muito mas hoje vem sen<strong>do</strong> diminuí<strong>da</strong> .<br />
15º) MOBRAL -Implantou-se o programa que pela primeira vez<br />
tentava-se acabar com o analfabetismo no país . ( Tu<strong>do</strong> foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong><br />
posteriormente . Hoje o “Analfabetismo Funcional” é plena reali<strong>da</strong>de .<br />
16º) Alem disso , com os estu<strong>da</strong>ntes universitários , viajan<strong>do</strong> por<br />
to<strong>do</strong> Brasil nos seus perío<strong>do</strong>s de férias , através <strong>da</strong> “Operação Ron<strong>do</strong>n” ,<br />
era possível <strong>da</strong>rmos assistência gratuita para população mais carente e<br />
mais distante <strong>do</strong>s grandes centros , nas áreas médicas , o<strong>do</strong>ntológicas e<br />
muitas vezes técnicas .<br />
Sentia-se que o desenvolvimento possibilitava melhores condições<br />
de vi<strong>da</strong> para nossa população e que na continui<strong>da</strong>de , se bem administra<strong>do</strong>s<br />
principalmente aqueles programas para o norte nordeste , teríamos certamente<br />
bom desenvolvimento nas regiões mais pobres .<br />
IMPORTANTE<br />
A-) O principal era que tu<strong>do</strong> estava sen<strong>do</strong> “Realiza<strong>do</strong> Sem<br />
Dependência ou Submissão a Enti<strong>da</strong>des Internacionais . Sem Capital<br />
Externo” . Nosso crescimento estava sen<strong>do</strong> efetua<strong>do</strong> sem criação de<br />
divi<strong>da</strong>s externas .<br />
b-) As Bolsas vinham crescen<strong>do</strong> seus movimentos diários e<br />
lançavam novas ações com grande sucesso através <strong>do</strong>s Bancos de<br />
Investimento . As carteiras em ações tinham grande aceitação , pois<br />
apresentavam ótima rentabili<strong>da</strong>de . Sentia-se que poderíamos ter um<br />
novo e grande país .<br />
c-) Porem...existe sempre um Porem ..., em nome de uma Maior<br />
Liber<strong>da</strong>de , de uma “Nova Constituição” , de muito Menor Controle <strong>da</strong>s<br />
Coisas Públicas , de Maior Poder para Políticos Profissionais com
desman<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong>s as coisas , nossa Revolução foi posta de la<strong>do</strong><br />
mediante gritos de “DIRETAS JÁ !” Posta de la<strong>do</strong> com a implantação<br />
de estranhos ... muito estranhos “Direitos Humanos”, os quais permitem<br />
e garantem tu<strong>do</strong> para os fora <strong>da</strong> lei . Sinal <strong>do</strong>s tempos !<br />
“BRASIL ... EU ERA FELIZ E NÃO SABIA !”
“BOITE MURADAS” : A MAIOR BRIGA<br />
Edu Marcondes<br />
“Reveillon” com as Argentinas - Garrafa<strong>da</strong>s - A Volta por Cima com a<br />
Turma <strong>do</strong> Paulistano<br />
Tanto falei sobre brigas que ia esquecen<strong>do</strong> <strong>da</strong> mais difícil briga<br />
que enfrentei junto com a Turma <strong>do</strong> Paulistano . Marcou muito pois não foi<br />
uma briga simples , resolvi<strong>da</strong> como antigamente , apenas com força física .<br />
Nossos adversários usaram de to<strong>do</strong>s os meios , até de armas improvisa<strong>da</strong>s .<br />
A briga aconteceu contra um grupo de pessoas não nasci<strong>da</strong>s em<br />
São Paulo . Eram originários de outros esta<strong>do</strong>s . Na ocasião apenas viviam em<br />
São Paulo . Eles não brigavam para firmar um posição ou princípios , honrar<br />
uma palavra <strong>da</strong><strong>da</strong> , um conceito de ética / moral ou uma postura de digni<strong>da</strong>de .<br />
Não brigavam simplesmente . Nem cavalheirescamente .<br />
Para eles não éramos Adversários mas Inimigos !<br />
Brigavam mesmo com muita mal<strong>da</strong>de , visan<strong>do</strong> ferir , ferir<br />
gravemente ou mesmo matar . Era um conceito muito diferente , desconheci<strong>do</strong><br />
por nós , pois até então briga era quase esporte . Então no final muitas vezes<br />
havia reconciliação <strong>do</strong>s briguentos .<br />
Até então , não éramos inimigos mas adversários de momento .<br />
Agora verifico que atualmente as brigas estão se caracterizan<strong>do</strong><br />
pela intenção violenta de matar . É uma condição que aqui não existia<br />
anteriormente . É uma vontade importa<strong>da</strong> . Passou a ser a forma <strong>da</strong>s brigas<br />
que ocorrem em quase to<strong>do</strong>s lugares desta ci<strong>da</strong>de invadi<strong>da</strong> .<br />
Quem hoje brigar deverá saber que estará sujeito a se defender de<br />
quem na reali<strong>da</strong>de o quer matar .<br />
A briga entre cavalheiros , sem golpes sujos, desapareceu .<br />
Enten<strong>do</strong> que o perfil <strong>da</strong> população existente em São Paulo é agora<br />
bem diferente <strong>do</strong> perfil <strong>da</strong>quele anterior povo paulista que ain<strong>da</strong> era <strong>do</strong>no de<br />
São Paulo . Seus atuais princípios também são muito diferentes .
REVEILLON COM ARGENTINAS<br />
Pois bem , a briga em questão , que aqui estarei relatan<strong>do</strong> ,<br />
aconteceu durante o “Reveillon de 1965”. Foi a primeira deste tipo que vi .<br />
Os fatos : - Naquela ocasião um grupo de amigos <strong>do</strong> Paulistano<br />
estava sain<strong>do</strong> com algumas bonitas coristas argentinas . Elas que para aqui<br />
tinham vin<strong>do</strong> para se apresentar em Teatro de Revistas . Faziam sucesso .<br />
Quan<strong>do</strong> chegou a “Passagem <strong>do</strong> Ano”, por falta de melhores opções,<br />
pois já era praticamente dia 30 , resolvemos ir ceiar com as simpáticas<br />
portenhas na “Boate Mura<strong>da</strong>s”. Ela ficava na Rua Martins Fontes , um pouco<br />
antes <strong>do</strong> inicio <strong>da</strong> Rua Augusta , quase na esquina <strong>da</strong> Praça Roosevelt .<br />
Uma vez ajeita<strong>da</strong>s as coisas, chegamos naquela boate por volta <strong>da</strong>s<br />
22,30 horas . Ceiamos , <strong>da</strong>nçamos e brin<strong>da</strong>mos a entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Ano Novo.<br />
Por volta <strong>da</strong> uma hora , quan<strong>do</strong> tinha início a madruga<strong>da</strong> ,<br />
resolvemos sair . Iríamos <strong>do</strong>rmir em São Vicente . Queríamos aproveitar a<br />
praia no outro dia com as nossas amigas .<br />
Ocupávamos na ocasião duas mesas que estavam praticamente bem<br />
juntas . Em uma Alberto Botti , Zizínho Papa e Sérgio D’Avila com as suas<br />
amigas argentinas. Em outra , bem ao la<strong>do</strong> , eu estava com Luiz Carlos<br />
Junqueira e Alcir “Azeitona” Amorim .<br />
As contas foram pedi<strong>da</strong>s .<br />
Primeiro chegou aquela <strong>da</strong> mesa de Alberto Botti . Eles pagaram .<br />
Como iriam viajar em outro carro despediram-se e foram sain<strong>do</strong> . Nossa conta<br />
demorou um pouco mais . Demorou também a devolução <strong>do</strong> troco .<br />
Depois de acertarmos o pagamento , quan<strong>do</strong> estávamos nos<br />
aproximan<strong>do</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r que <strong>da</strong>va para a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> boate , paramos junto de<br />
uma mesa cheia só de homens . Um deles passou a mão no traseiro <strong>da</strong><br />
argentina que estava comigo . Eu vi . Ela deu um gritinho e reclamou . Antes<br />
que eu pudesse dizer alguma coisa , ele meio embriaga<strong>do</strong> , meti<strong>do</strong> a valente<br />
pois estava com muitos outros ao la<strong>do</strong> , se levantou e foi falan<strong>do</strong> alto :<br />
“- Ó paólista abesta<strong>do</strong> ! Vai saindu sem arrecramá , sinão passo a<br />
mão tamém na sua bun<strong>da</strong> ! Si duvidá passo a mão inté na bun<strong>da</strong> de sua<br />
mãínha”.<br />
Então ele cometeu um erro . Colocou a palma <strong>da</strong> mão em meu peito<br />
e começou a empurrar . Não tive duvi<strong>da</strong> . Rapi<strong>da</strong>mente , com as minhas duas<br />
mãos , pequei o cotovelo <strong>da</strong>quela mão <strong>do</strong> malandro que estava em meu peito .<br />
Fui fazen<strong>do</strong> muita força em seu cotovelo empurran<strong>do</strong> a mão contra meu peito .<br />
Fui também fazen<strong>do</strong> muita pressão sobre aquela sua munheca e mão que<br />
estava espalma<strong>da</strong> contra meu peito . A mão não tinha por onde escapar .
Então senti os estalos que vinham , tanto <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s abertos como <strong>do</strong> pulso<br />
<strong>da</strong>quela mão . Ele , o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> mão , gritou de <strong>do</strong>r e começou se ajoelhar !<br />
Quan<strong>do</strong> aquele sujeito veio para frente , tentan<strong>do</strong> escapar <strong>da</strong><br />
pressão contra sua mão , dei forte cabeça<strong>da</strong> em seu nariz . Ele tonteou . Então<br />
torci a palma de sua mão para o la<strong>do</strong> de fora . Ele perdeu equilíbrio. Começou<br />
a cair . Com minha perna e um forte impulso forcei a sua que<strong>da</strong> . Ele caiu ,<br />
baten<strong>do</strong> com muita força as costas no chão .<br />
Não esperei mais na<strong>da</strong> . Virei , pois sabia que os outros amigos<br />
<strong>da</strong>quele sujeito viriam contra nós . E eles eram , pelo menos , uns oito .<br />
Empurramos as argentinas para a porta e nos posicionamos.<br />
Ficamos na entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r que <strong>da</strong>va para a saí<strong>da</strong> . Apenas nós três , pois<br />
os outros amigos nossos já tinham sain<strong>do</strong> . Aquela gente diferente veio<br />
imediatamente para cima de nós , porem pelo corre<strong>do</strong>r não passavam mais <strong>do</strong><br />
que <strong>do</strong>is ou três de ca<strong>da</strong> vez . Por isto mesmo eles só chegavam de três em<br />
três. Assim iam toman<strong>do</strong> muita panca<strong>da</strong> e não conseguiam nos pegar .<br />
Ven<strong>do</strong> que <strong>da</strong>quele jeito não iriam levar vantagens começaram<br />
quebrar garrafas e copos . Em segui<strong>da</strong> atiravam os grandes cacos que se<br />
formavam contra nós . Vi que o perigo de graves ferimentos se tornava muito<br />
grande . Não deu outra ! Segun<strong>do</strong>s depois Luiz Carlos Junqueira recebeu um<br />
grande caco de garrafa no rosto . Começou a sangrar muito !<br />
O corte que apareceu na sua bochecha foi profun<strong>do</strong> .<br />
A VOLTA POR CIMA !<br />
Resolvemos sair <strong>da</strong>quele bombardeio de cacos de garrafas . No<br />
momento era o que nos restava fazer . Corremos para a porta sob uma<br />
saraiva<strong>da</strong> de grandes pe<strong>da</strong>ços de vidros e palavrões . Eles <strong>da</strong>vam risa<strong>da</strong>s ...<br />
Conseguimos passar pela porta de entra<strong>da</strong> e rapi<strong>da</strong>mente fomos<br />
para nosso carro . Estava uma quadra distante . As argentinas ali nos<br />
esperavam . Então conseguimos parar um taxi . Colocamos as portenhas<br />
dentro e combinamos nos encontrar pela manhã , no hotel onde elas estavam .<br />
Pagamos o taxi . Ele logo foi sain<strong>do</strong> , toman<strong>do</strong> o rumo indica<strong>do</strong> .<br />
Então perguntei para o Junqueira :<br />
“- Quer ir se tratar primeiro ou vamos buscar a Turma <strong>do</strong><br />
Paulistano e <strong>da</strong>r o troco” ? A sua resposta foi imediata :<br />
“- Vamos direto para o Paulistano ! Agora ! ”<br />
Em dez minutos já estávamos dentro <strong>do</strong> clube contan<strong>do</strong> o que<br />
sucedera e nossa intenção de <strong>da</strong>r o troco . A visão <strong>do</strong> ferimento <strong>do</strong> amigo<br />
Junqueira despertava em to<strong>do</strong>s a vontade de “revanche” . Muitos amigos
queriam ir conosco , porem a grande maioria era de rapazes muito jovens e<br />
sem experiência naquelas coisas . Foram convenci<strong>do</strong>s que deveriam ficar.<br />
Mais 5 minutos e já estavam conosco a caminho <strong>da</strong> tal “Boate<br />
Mura<strong>da</strong>s” : - Caio Kiehl , Hélio Fugantti , Otto Bendix , Antonio Duva , Luiz<br />
Vicente de Sylos , Paulinho Fleury e Carlos Dacache . Turma <strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> .<br />
Chegamos . Paramos os carros uma quadra alem <strong>da</strong>quele clube<br />
noturno . Peguei uma grande chave de ro<strong>da</strong>s no porta malas <strong>do</strong> carro . Era<br />
pura precaução caso algum <strong>da</strong>queles cafajestes puxasse uma faca ou coisa<br />
pareci<strong>da</strong> .<br />
Sem muito alari<strong>do</strong> fomos em direção <strong>da</strong> tal boate . To<strong>do</strong>s já<br />
estavam avisa<strong>do</strong>s <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de receberem cacos de vidro joga<strong>do</strong>s por<br />
aquela gente . Já tínhamos combina<strong>do</strong> usar as cadeiras <strong>da</strong> boate como armas<br />
de defesa , viran<strong>do</strong> as pernas <strong>da</strong>s mesmas em direção <strong>do</strong> inimigo e fican<strong>do</strong><br />
com o rosto protegi<strong>do</strong> pela área almofa<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> cadeira .<br />
Quan<strong>do</strong> chegamos junto a entra<strong>da</strong> o porteiro viu em nossos rostos<br />
decidi<strong>do</strong>s o que deveria acontecer . Saiu <strong>da</strong> frente sem falar na<strong>da</strong> ou discutir .<br />
Entrei primeiro e com a grande chave de ro<strong>da</strong>s dei forte panca<strong>da</strong> na<br />
primeira mesa que estava em minha frente . Aconteceu que ali estava uma<br />
garrafa vazia de Coca-Cola . A ponta <strong>da</strong> chave de ro<strong>da</strong>s bateu exatamente na<br />
boca <strong>da</strong>quela garrafa que estranhamente não quebrou . Em compensação saiu<br />
voan<strong>do</strong> como um foguete e foi bater no grande espelho que estava em frente ,<br />
distante uns 4 metros . Garrafa e espelho viraram imediatamente cacos ,<br />
fazen<strong>do</strong> muito barulho no instante em que se partiam .<br />
Naquele momento , falei gritan<strong>do</strong> :“ Cadê os machões ? ”<br />
Até os bêba<strong>do</strong>s que estavam <strong>do</strong>rmitan<strong>do</strong> acor<strong>da</strong>ram .<br />
Os malandros estavam então perto de uma grande mesa junto a<br />
pista de <strong>da</strong>nças . Quan<strong>do</strong> nos viram entran<strong>do</strong> , apesar <strong>do</strong> susto , correram e se<br />
reuniram no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> boate . Já estavam começan<strong>do</strong> quebrar garrafas e atirar<br />
cacos . Entretanto desta vez estávamos prepara<strong>do</strong>s . Pegamos as cadeiras que<br />
foram vira<strong>da</strong>s com as pernas para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cafajestes . Os cacos batiam no<br />
fun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s cadeiras e caiam no chão . Ninguem <strong>do</strong>s nossos estava sen<strong>do</strong><br />
atingi<strong>do</strong> . Entretanto , espelhos iam se quebran<strong>do</strong> com os cacos de garrafas ...<br />
Então começamos a <strong>da</strong>r o troco . Agora nós é que estávamos<br />
jogan<strong>do</strong> coisas contra eles . Só que eram cadeiras . Onde elas batiam<br />
arrancavam gemi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pilantras. Derrubavam ! Muitos caíram tropeçan<strong>do</strong><br />
nas cadeiras joga<strong>da</strong>s . E nós man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> mais cadeiras para cima deles .<br />
Em um determina<strong>do</strong> momento Paulinho Fleury não levantou a<br />
cadeira para jogar . Ele girou a cadeira para o la<strong>do</strong> , queren<strong>do</strong> ter a força<br />
necessária para o lançamento . Naquele instante a cadeira bateu no meu nariz.<br />
Senti que ele havia se quebra<strong>do</strong> . Fiquei tonto . Por um segun<strong>do</strong> .
Como percebemos que estavam acaban<strong>do</strong> as cadeiras , ca<strong>da</strong> um de<br />
nós pegou firmemente uma cadeira . Formamos uma ala de 10 cadeiras<br />
vira<strong>da</strong>s com as pernas para frente . Na reali<strong>da</strong>de existiam 40 pernas de<br />
cadeiras aponta<strong>da</strong>s como lanças contra os malandros . Assim avançamos para<br />
cima deles que foram espremi<strong>do</strong>s em um canto. Literalmente passamos por<br />
cima de to<strong>do</strong>s eles . Dan<strong>do</strong> cadeira<strong>da</strong>s e panca<strong>da</strong>s . Em pouco tempo nenhum<br />
deles mais reagia . Apenas três conseguiram fugir corren<strong>do</strong> para o banheiro .<br />
Caio Kiehl e Hélio Fugantti correram atrás deles . Porem eles<br />
conseguiram entrar e fechar a porta de uma priva<strong>da</strong>. Ficaram seguran<strong>do</strong> a<br />
porta com to<strong>da</strong> força de suas vi<strong>da</strong>s , pois sabiam que se a porta fosse aberta<br />
eles iriam apanhar muito .<br />
Pequei um cara que falava com sotaque , cheio de Ss..., Rs... e<br />
Xs.... Perguntei quem eles eram , de onde eram ? . Ele respondeu que eram <strong>da</strong><br />
Petrobras e <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil . Tinham vin<strong>do</strong> de outros esta<strong>do</strong>s para<br />
trabalhar em São Paulo .<br />
Naquele momento Alcir Amorim repetia que estava na hora de<br />
cairmos fora pois poderia aparecer policia .<br />
Fomos sain<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente .<br />
Quan<strong>do</strong> já estávamos fora <strong>da</strong> boate , um Volkswagen , com<br />
emblema <strong>da</strong> Rádio Patrulha , começou estacionar . Nós continuamos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
como se na<strong>da</strong> tivesse aconteci<strong>do</strong> . Logo pegamos nossos carros e voltamos<br />
para o Paulistano . Estávamos felizes . “Demos Realmente Um Bom Troco” !<br />
A maioria voltou para a Festa de Ano Novo <strong>do</strong> Club. Junqueira e<br />
eu dissemos que iríamos falar com o Dr. Mário Ottobrini . Pedir para ele<br />
cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong>s nossos ferimentos .<br />
Então Caio Kiehl murmurou que também iria conosco . Mostrou<br />
a ponta <strong>do</strong> dedinho que um caco de vidro tinha corta<strong>do</strong> fora . Sangrava<br />
bastante. Isto aconteceu quan<strong>do</strong> ele segurava uma cadeira no meio <strong>da</strong><br />
briga .<br />
Outro dia chegou . Dr. Mário Ottobrini já havia cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s<br />
perfeitamente . Sempre com muito carinho . Era nosso amigão queri<strong>do</strong> .<br />
Inesquecível Dr. Mario Ottobrini !<br />
Vinte e tantos dias depois , passan<strong>do</strong> pelo local <strong>da</strong> briga vimos<br />
que a “Boate Mura<strong>da</strong>s” tinha vira<strong>do</strong> simplesmente “Bar Mura<strong>da</strong>s” . Sem<br />
to<strong>do</strong>s aqueles espelhos .<br />
Pudera . Na briga to<strong>do</strong>s espelhos haviam si<strong>do</strong> quebra<strong>do</strong>s ... !
TRABALHO , MUITO TRABALHO<br />
Edu Marcondes<br />
No Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> – Nas Empresas Priva<strong>da</strong>s – No Merca<strong>do</strong> de<br />
Capitais – Em Advocacia / Administração de Empresas<br />
Foi no final de 1.951 que comecei trabalhar . Só foi possível parar<br />
mais de meio século depois . Para ser bem preciso só parei após cinqüenta e<br />
cinco ( 55 ) anos , precisamente em Dezembro de 2.006 .<br />
Neste capitulo vou relatar sinteticamente os trabalhos que realizei<br />
durante to<strong>do</strong> este tempo . Seria facilmente possível escrever um longo livro a<br />
respeito , tantos foram os esforços, os fatos , as coisas boas e más , as políticas<br />
enfrenta<strong>da</strong>s, os bons e maus dirigentes , a variação <strong>do</strong>s momentos econômicos,<br />
a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas , os poderosos e os fracos , os bons resulta<strong>do</strong>s<br />
alcança<strong>do</strong>s , as tristezas e alegrias que foram obti<strong>da</strong>s neste perío<strong>do</strong> .<br />
Lembro que a partir de 1970 não foi possível ir to<strong>do</strong> dia ao<br />
Paulistano . Saia ce<strong>do</strong> e voltava depois <strong>da</strong>s 8 horas . Depois fui obriga<strong>do</strong> a<br />
trabalhar parte <strong>do</strong> tempo em São Paulo , parte <strong>do</strong> tempo no Rio.<br />
Vou por isto mesmo , pois não preten<strong>do</strong> ser cansativo , relatar<br />
apenas onde trabalhei e os seus resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s . Sem muitos detalhes .<br />
Quem não gostar de saber pode pular este capitulo . Acho que ele é aborreci<strong>do</strong><br />
, antes de mais na<strong>da</strong> .Assim sen<strong>do</strong> , primeiramente vou relatar os trabalhos<br />
realiza<strong>do</strong>s para :<br />
A- GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO :<br />
A- De 1951 até 1955 –Auxiliar –Secretaria <strong>do</strong> Trabalho , Industria e Comércio<br />
B- De 1956 até 1960 – Pesquisa<strong>do</strong>r – Departamento Estatística <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> /SP<br />
C-De 1960 até 1962 –Advoga<strong>do</strong> – Serviço de Assistência Jurídica ao<br />
Trabalha<strong>do</strong>r – Secretária <strong>do</strong> Trabalho / SP ;<br />
D- De 1962 até 1965 –Assessor Jurídico <strong>do</strong>s Secretários <strong>do</strong> Trabalho/SP :<br />
- Deputa<strong>do</strong> Antonio Morimoto ( 1962/63/64)<br />
- Deputa<strong>do</strong> Benedito Matarazzo (1965/66 );<br />
E- Em 1966 ( até Agosto) – Advoga<strong>do</strong> – IPEM- Instituto de Pesos e Medi<strong>da</strong>s .<br />
Durante este perío<strong>do</strong> os meus salários não foram muito eleva<strong>do</strong>s<br />
mas graças a eles foi possível pagar meus estu<strong>do</strong>s , tanto em Direito como em<br />
Administração de Empresas . Em paralelo ganhava comissões com ven<strong>da</strong>s de<br />
produtos metalúrgicos para a Labormetal .
B- EMPRESAS PRIVADAS INDUSTRIAIS ONDE TRABALHEI<br />
I- Lambretta <strong>do</strong> Brasil ( Jan./1964 a Jan./1965)- Estagio de UM<br />
ANO em Administração de Empresas – Area de Promoção e Publici<strong>da</strong>de .<br />
Estava terminan<strong>do</strong> administração na Getulio Vargas .<br />
II- Industrias Paramount ( Jan.65 a Jul.69 ) - Fui para a<br />
Paramount , ocupan<strong>do</strong> o cargo de Gerente Geral de Marketing . Depois<br />
acumulei o cargo de Diretor de Marketing e Produção Industrial<br />
A empresa Paramount tinha <strong>do</strong>is centros operacionais .<br />
O Desafio Profissional : Problemas existentes<br />
A-) Estoque de 305.000 metros de teci<strong>do</strong>s acaba<strong>do</strong>s , praticamente<br />
sem ven<strong>da</strong>s ( cores e padrões não agra<strong>da</strong>ram – fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> ) ;<br />
B-) Existiam 420.000 metros de teci<strong>do</strong> cru que necessitava de<br />
acabamentos para posterior ven<strong>da</strong> . O total de teci<strong>do</strong> para<strong>do</strong> e sem ven<strong>da</strong><br />
atingia 725.000 metros ;<br />
C-) A Produção <strong>da</strong> Tecelagem estava quase completamente para<strong>da</strong> .<br />
Não adiantava produzir , somente para aumentar estoques , sem ven<strong>da</strong> ;<br />
D-) To<strong>do</strong> Acabamento – Tinturaria e Estamparia – também<br />
continuava para<strong>do</strong> . Não adiantava acabar teci<strong>do</strong>s sem perspectivas de ven<strong>da</strong> ;<br />
E-) Existia pouca motivação em to<strong>do</strong>s setores <strong>da</strong> empresa ;<br />
F-) O “lay-out” de to<strong>do</strong> acabamento de teci<strong>do</strong>s não era racional .<br />
Resulta<strong>do</strong> : To<strong>do</strong>s estoques foram vendi<strong>do</strong>s e começamos novo<br />
programa de produção . Aumento crescente de faturamento . . Ganhei ótima<br />
gratificação . Com ela comprei um terreno no Morumbi .<br />
C- EMPRESAS DO MERCADO DE CAPITAIS (Jul/69 aDez/ 95 )<br />
Através de meu concunha<strong>do</strong> Josino Fonseca conheci o Presidente – Prof.<br />
Roberto Campos e o Superintendente <strong>do</strong> Investbanco – Galileu José de<br />
Castro –. Eles precisavam de Pesquisas de Merca<strong>do</strong> e <strong>da</strong> Implantação <strong>do</strong>s<br />
Manuais de Produtos Possiveis . Tanto para operar como para <strong>da</strong>r<br />
conhecimento aos clientes potenciais . Recebi convite para este trabalho como<br />
assessor <strong>do</strong> Superintendente : Galileu Jose de Castro . Aceitei .<br />
III- Investbanco – ( Jul/69 a Dez/70 ) - Foi cria<strong>do</strong> pelo Prof.<br />
Roberto Campos , depois que ele deixou de ser Ministro . Em pouco tempo o<br />
merca<strong>do</strong> de investimentos , praticamente pouco atraente até então , muito<br />
cresceu operan<strong>do</strong> em Ações , em Títulos de Ren<strong>da</strong> Fixa , e ain<strong>da</strong> com Carteira<br />
de Financiamentos Próprios ou de baixos custos com Recursos<br />
Governamentais destina<strong>do</strong>s para to<strong>da</strong>s as empresas brasileiras .<br />
O seu sucesso virou rapi<strong>da</strong>mente bola de neve .
Em assim sen<strong>do</strong> as Bolsas de Valores , tanto <strong>do</strong> Rio como de São<br />
Paulo , muito cresceram rapi<strong>da</strong>mente naquele perío<strong>do</strong> . Tinham suporte de<br />
movimentação forneci<strong>do</strong>s por outros Bancos de Investimento .<br />
Outro fator de sucesso foram outros financiamentos de custos muito<br />
baixos para as to<strong>da</strong>s empresas : grandes - médias – pequenas . Eram aqueles<br />
realiza<strong>do</strong>s pelos “Repasses Governamentais”.<br />
Recebi a incumbência de realizar a Pesquisa de Merca<strong>do</strong> que<br />
poderia revelar fatos futuros que seriam de extrema importância para as<br />
Carteiras de Ações . Assim com o apoio <strong>do</strong>s colegas Mário Santos e Thiago<br />
Canguçu de Almei<strong>da</strong> montei e realizei a pesquisa ;<br />
:IV – Banco Auxiliar – ( Jan. 71 / Set. 71) Havia recebi<strong>do</strong> convite<br />
para apenas participar na Criação e Formação de seu Banco de Investimento .<br />
Aceitei . Porem minha passagem no Auxiliar foi de apenas 9 meses .<br />
O Banco de Investimento foi monta<strong>do</strong> e entrou em operações em<br />
apenas 45 dias , com apoio decisivo de Carlos Di Gióia .<br />
Fiquei atuan<strong>do</strong> como Assessor <strong>da</strong> Presidência durante mais 5 meses.<br />
Sai quan<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as operações estavam em pleno an<strong>da</strong>mento .<br />
V- Banco Econômico <strong>da</strong> Bahia – ( Set/71 a Jul/77) Até então era<br />
praticamente um banco com características mais regionais que nacionais , com<br />
não muito grande atuação no sul <strong>do</strong> Brasil .<br />
Em mea<strong>do</strong>s de 1971 era dirigi<strong>do</strong> por Frank Calmon de Sá , irmão <strong>do</strong><br />
meu amigo <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Harmonia de Tênis - Zéca Calmon de Sá .<br />
Quem dirigia a filial de São Paulo era Augusto Calmon Villas Boas.<br />
Fui apresenta<strong>do</strong> a ele pelo Mário Cunha <strong>da</strong> Silva , amigo <strong>do</strong> Paulistano e que<br />
trabalhara comigo no Investbanco .<br />
Fui contrata<strong>do</strong> para dirigir os Repasses Governamentais em São<br />
Paulo . Eles queriam que as operações <strong>do</strong> BNDE – BNH - CAIXA, realiza<strong>da</strong>s<br />
pelo Banco de Investimento , trouxessem clientes e depósitos em conta<br />
corrente para o Banco Comercial . Iriam também usar as operações RECON ,<br />
( financiamento de Materiais de Construção ) , para ampliar estes depósitos à<br />
vista . São Paulo pela força de sua economia seria o carro chefe deste esforço .<br />
A minha primeira e maior providencia foi realizar uma Convenção<br />
com to<strong>do</strong>s os Gerentes <strong>do</strong> Banco no Esta<strong>do</strong> de São Paulo. Antes já tinha<br />
prepara<strong>do</strong> to<strong>do</strong> material e cria<strong>do</strong> pela primeira vez no Brasil um “ Manual<br />
Geral de Financiamentos e Aplicações ”..<br />
Em 75 recebi então uma nova incumbência . Acumularia também a<br />
Gerência Geral de Operações <strong>do</strong> BNH , sedia<strong>da</strong> no Rio de janeiro . Era preciso<br />
agilizar aqueles repasses .
Em assim sen<strong>do</strong> eu seguia to<strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> – Feira , logo bem ce<strong>do</strong><br />
para o Rio , onde ficaria até as 12 horas de Quarta – Feira . As 16 horas<br />
<strong>da</strong>quele dia eu voltava dirigir os repasses de São Paulo .<br />
Vivi na Ponte Aérea durante um ano e meio. No final não agüentava<br />
mais , principalmente quan<strong>do</strong> chegava o forte calor <strong>do</strong> verão .<br />
Pedi demissão pois tinha um novo convite ..<br />
Brascan – depois Banco Montreal ( Ago./ 77 a Jan. / 95 )<br />
Recebi de Paulo Pra<strong>do</strong> - Vice Presidente , convite para dirigir a área<br />
de Marketing / Crédito <strong>do</strong> Banco Brascan – São Paulo . Aceitei.<br />
A origem <strong>do</strong> Banco Brascan de Investimento é liga<strong>da</strong> as antigas<br />
companhias : “Light” (que operava em Luz , Força e Bondes ) e a<br />
“Telefônica”. Eram empresas de capital canadense , que operavam no Brasil<br />
desde o início <strong>do</strong> século , com escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo<br />
Na reali<strong>da</strong>de o Grupo Brascan foi cria<strong>do</strong> inicialmente com intuito de<br />
aplicar as disponibili<strong>da</strong>des financeiras que eram recebi<strong>da</strong>s pelas companhias<br />
sob controle <strong>da</strong> Brascan Limited . O dinheiro não podia ficar para<strong>do</strong> .<br />
Limite operacional o Brascan tinha muito , pois o limite era de 10<br />
vezes o capital mais reservas liqui<strong>da</strong>s para Bancos de Investimentos . O limite<br />
operacional poderia aumentar em mais 30% . Bastava utilizar recursos via<br />
negócios realiza<strong>do</strong>s com Repasses Governamentais .<br />
Assim poderíamos operar com taxas menores até atingirmos 8 (oito)<br />
vezes o limite operacional . Depois de realiza<strong>da</strong> esta promoção e de<br />
conseguirmos os clientes potenciais que desejávamos poderíamos<br />
gra<strong>da</strong>tivamente aumentar nosso “spreed”.<br />
As operações seriam de menor prazo possível , possibilitan<strong>do</strong><br />
renovações ou abrin<strong>do</strong> novos limites operacionais .<br />
Na área jurídica o amigo <strong>do</strong> Paulistano - Ismar Procópio de<br />
Oliveira ( dirigia o departamento ) preparou Contratos pré - monta<strong>do</strong>s ,<br />
permitin<strong>do</strong> aceleração no preenchimento , nas assinaturas e liberações .<br />
Com o Plano pronto e aprova<strong>do</strong> fomos visitar e buscar negócios .<br />
Resumo <strong>do</strong> que aconteceu : Nos primeiros seis meses visitamos e<br />
aprovamos linhas de credito para quase to<strong>do</strong>s os grandes clientes . 12 meses<br />
depois já tínhamos volume maior de contratos realiza<strong>do</strong>s que o Rio de Janeiro.<br />
Em 18 meses o volume opera<strong>do</strong> por São Paulo era maior que to<strong>do</strong> aquele <strong>do</strong>s<br />
demais esta<strong>do</strong>s juntos . O mais importante : O nosso “spreed” era pouca coisa<br />
menor que aqueles <strong>do</strong>s principais concorrentes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> . O lucro era<br />
crescente e com isto recebi muitos prêmios semestrais .<br />
Anos depois , para surpresa nossa , soubemos que o controle<br />
acionário <strong>do</strong> Brascan havia si<strong>do</strong> adquiri<strong>do</strong> por um grupo composto por
Antenor Patinõ e o Grupo Brofman . Ficamos aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o que poderia<br />
acontecer .<br />
Um mês depois chegou a noticia que as ações haviam si<strong>do</strong><br />
negocia<strong>da</strong>s com o Banco Montreal <strong>do</strong> Cana<strong>da</strong> . As minas de estanho ficaram<br />
com Antenor Patinõ . Mais um mês eles já estavam toman<strong>do</strong> posse <strong>do</strong> banco<br />
no Brasil . Passamos operar com o nome de Banco de Montreal .<br />
O capital foi aumenta<strong>do</strong> e possibilitou maior limite de negócios .<br />
Com isto aumentamos os volumes de negócios e o lucro <strong>do</strong> banco .<br />
Por várias vezes substitui Paulo Pra<strong>do</strong> na Vice Presidência .<br />
Em 1990 tinha tempo suficiente para aposenta<strong>do</strong>ria . Aposentei .<br />
Advocacia / Administração<br />
Depois disto voltei a advogar . Precisamente nas áreas Civil , Fiscal<br />
e Tributária . Também em paralelo criei uma pequena Administra<strong>do</strong>ra de<br />
Con<strong>do</strong>mínios . Cuidei de vários edifícios na ci<strong>da</strong>de de São Paulo . Sempre<br />
com bons resulta<strong>do</strong>s , nota<strong>da</strong>mente nas reduções de custo .<br />
Aposenta<strong>do</strong>ria Final<br />
Um dia senti que estava na hora de parar , pois poderia viver <strong>da</strong><br />
minha pequena aposenta<strong>do</strong>ria ( como to<strong>do</strong>s brasileiros ) mais o reforço <strong>da</strong>s<br />
ren<strong>da</strong>s de meus pequenos imóveis . Estava com 75 anos de i<strong>da</strong>de , sen<strong>do</strong> 55<br />
anos de trabalhos sem interrupção . Estava na hora de parar !<br />
Assim estou até hoje .
MEU CASAMENTO<br />
Edu Marcondes<br />
Infelizmente é preciso dizer que ele não deu certo.<br />
A noiva era sócia <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Meus padrinhos : Dr. Honório de Sylos e Caio Marcelo Kiehl .<br />
A cerimônia religiosa aconteceu na Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Brasil .<br />
Foi noticia em to<strong>da</strong>s colunas sociais <strong>do</strong>s jornais paulistanos .<br />
Tavares de Miran<strong>da</strong> publicou em sua coluna uma reportagem com<br />
várias fotografias <strong>da</strong> cerimonia religiosa . Ocupou meia pagina .<br />
To<strong>do</strong>s os amigos e conheci<strong>do</strong>s estavam presentes .<br />
Os parentes e familiares estavam presentes .<br />
Ganhamos muitos presentes maravilhosos .<br />
Aconteceu lin<strong>da</strong> festa em casa de meus pais .<br />
To<strong>do</strong>s brin<strong>da</strong>ram meu casamento .<br />
Mas meu casamento não deu certo . Existiram mil “porquês” !<br />
Porem ... , dele <strong>do</strong>is resulta<strong>do</strong>s são muito importantes .<br />
Deste casamento surgiram , por graças de Deus, duas maravilhosas<br />
meninas , Paula e Alexandra . Elas que sempre me deram muita alegria , que<br />
estu<strong>da</strong>ram , que cresceram , que ficaram lin<strong>da</strong>s , que se formaram na USP - a<br />
melhor Universi<strong>da</strong>de de São Paulo . Elas que depois se casaram .<br />
Então eu ganhei três maravilhosos netos :<br />
Lucca , Lorenzo e Mia Francis .<br />
Elas que sempre me apoiam<br />
Elas que sempre me convi<strong>da</strong>m<br />
Elas . Uma Imensa Felici<strong>da</strong>de !<br />
Foi o que valeu . É o que vale até hoje . Sempre .<br />
. Edu Marcondes
“ O ATAQUE DAS LAGOSTAS – NA TERRA E NO CÉU”<br />
Edu Marcondes<br />
O Jantar <strong>do</strong> BNH em Fortaleza – o Hospital<br />
O Avião que ia para o Nordeste<br />
Naquele Janeiro de 1979 , aconteceu na ci<strong>da</strong>de de Fortaleza – Ceará ,<br />
a “Convenção <strong>do</strong> BNH” , reunin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os Diretores e Gerentes <strong>do</strong>s Bancos<br />
Repassa<strong>do</strong>res de seus Programas liga<strong>do</strong>s a Construção Civil .<br />
Fui e participei , pois então dirigia aquelas operações para o Banco.<br />
No último dia , como de costume , foi ofereci<strong>do</strong> um “Jantar de<br />
Encerramento”, promovi<strong>do</strong> pelo próprio Banco Nacional de Habitação .<br />
Como sempre acontece no Nordeste , foram servi<strong>do</strong>s vários pratos<br />
com lin<strong>da</strong>s e apetitosas lagostas . Foi o prato mais procura<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s .<br />
Teve , entretanto , um grave porem ! Pelo grande volume<br />
encomen<strong>da</strong><strong>do</strong> , parte <strong>da</strong>quelas lagostas não ficou dentro <strong>da</strong>s geladeiras <strong>do</strong><br />
hotel . Dormiram fora <strong>da</strong> geladeira . Com o calor de verão... se estragaram .<br />
( O fato somente foi descoberto bem posteriormente ) .<br />
Pois bem ... , nem uma hora havia passa<strong>do</strong> depois <strong>do</strong> tal jantar e eu já<br />
estava sofren<strong>do</strong> com cólicas e forte desinteria . Muito forte !<br />
Não teve jeito . A Direção <strong>do</strong> hotel não tinha condições de atender<br />
tanta gente . Fui parar no Hospital que ficou cheio . Junto comigo estava boa<br />
parte <strong>do</strong>s convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s presentes aquele Jantar . Passei grande parte <strong>da</strong> noite<br />
in<strong>do</strong> e voltan<strong>do</strong> <strong>da</strong> priva<strong>da</strong> , toman<strong>do</strong> soro nas veias e beben<strong>do</strong> água de coco .<br />
Neste mesmo ritual via os “colegas de caganeira” <strong>do</strong>s outros bancos .<br />
No hospital acontecia então uma “Caganeira Tipicamente Bancária” !<br />
Por fim , muito cansa<strong>do</strong> , consegui <strong>do</strong>rmir .<br />
Pela manhã , quan<strong>do</strong> acordei , os “Colegas de Caganeira” estavam<br />
morren<strong>do</strong> de rir . Fiquei curioso <strong>da</strong> causa de tantas risa<strong>da</strong>s .<br />
Logo tomei conhecimento <strong>do</strong> por que .<br />
Aquelas risa<strong>da</strong>s eram risa<strong>da</strong>s de consolação , em razão <strong>da</strong> seguinte<br />
trágica - cômica história :<br />
- “ Muitos <strong>do</strong>s que viviam no Nordeste , desejan<strong>do</strong> voltar mais ce<strong>do</strong><br />
para casa , tomaram um avião <strong>da</strong> Varig , logo depois <strong>do</strong> tal jantar . O avião<br />
saiu lota<strong>do</strong> , com muitos bancários e alguns poucos outros passageiros .<br />
Destino : - Natal , Recife , João Pessoa , Maceió e Aracaju .<br />
Entretanto sérios problemas aconteceram antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de<br />
de Natal .
Os passageiros que estiveram no jantar <strong>do</strong> BNH foram violentamente<br />
“ataca<strong>do</strong>s pelas lagostas” . Elas trouxeram “vômitos , cólicas fortes e<br />
continua<strong>da</strong>s caganeiras” . Tu<strong>do</strong> acontecen<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> tal avião que tinha<br />
como destino as capitais <strong>do</strong> Nordeste .<br />
Então foi acontecen<strong>do</strong> :<br />
As piores cenas ocorriam em pleno vôo . Quase ao mesmo tempo os<br />
participantes <strong>do</strong> tal banquete começaram a ter cólicas , com forte desinteria.<br />
Então começou um ver<strong>da</strong>deiro teatro de horrores . Não existiam<br />
priva<strong>da</strong>s para to<strong>do</strong>s . Eles batiam na porta <strong>do</strong>s banheiros , pediam e<br />
imploravam por uma priva<strong>da</strong> . Por fim , sem solução para aquelas tremen<strong>da</strong>s<br />
<strong>do</strong>res intestinais , a “caganeira coletiva” ocorria ali mesmo no corre<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
avião” !!!<br />
Foram muitas . Então o tremen<strong>do</strong> mau cheiro e a sujeira tomaram<br />
conta de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s . Mesmo quem não estava <strong>do</strong>ente , ao sentir o cheiro<br />
<strong>da</strong>quela nojeira , vomitava . O vôo virou um horror ! Um pavor !<br />
Sem solução imediata o piloto por radio pediu ambulâncias para a<br />
Torre de Coman<strong>do</strong> de Natal . O Cheiro nauseabun<strong>do</strong> agora era geral . Forte<br />
.Muito forte mesmo . Intoleravel !<br />
O avião desceu . Abriu suas portas .<br />
Então : - “O Imenso Fe<strong>do</strong>r Nauseabun<strong>do</strong> abalou o mun<strong>do</strong>” .<br />
Os <strong>do</strong>entes foram leva<strong>do</strong>s rapi<strong>da</strong>mente para vários hospitais .<br />
E o avião não mais voou aquela noite .<br />
Recebeu o apeli<strong>do</strong> carinhoso de “Fedegoso”.<br />
Foi para limpeza e desinfeção . Total !<br />
“Aquelas lagostas de Fortaleza lagostas atacaram até no céu” .<br />
Barbari<strong>da</strong>de ! ...
MINHAS FILHAS , MINHA ALEGRIA , MEU ORGULHO<br />
Edu Marcondes<br />
Nascimento – Esportes e Bagunças – Coisas <strong>da</strong>s Meninas – Bichos e<br />
Estu<strong>do</strong>s –Coisas <strong>do</strong>s Colégios – Separação <strong>do</strong>s Pais<br />
I - As grandes alegrias que a vi<strong>da</strong> me proporcionou foram<br />
pouquíssimas , pois as conto nos de<strong>do</strong>s . Elas ficaram para sempre em<br />
minhas lembrança . Duas delas : Minha formatura em Direito e o dia em que<br />
terminei minha casa <strong>do</strong> Morumbi .<br />
Porem as duas maiores alegrias foram sem duvi<strong>da</strong> alguma os<br />
nascimentos de minhas filhas , Paula e Alexandra . A diferença de i<strong>da</strong>de entre<br />
as duas é apenas de 16 meses , A gestação de Paula foi movimenta<strong>da</strong> , pois ela<br />
não parava , pulava sempre e demorou para nascer . Então deu trabalho pois<br />
veio com o cordão umbilical envolto no pescoço .<br />
Já o de Alexandra foi muitíssimo calmo , pois ela nem se mexia . O<br />
seu médico emprestou –me um estetoscópio para que eu pudesse acompanhar<br />
seu batimento cardíaco e confirmar to<strong>do</strong>s os dias que ela continuava viva .<br />
Quan<strong>do</strong> atingiu sete meses de gestação foi tira<strong>da</strong> uma sua radiografia<br />
((naquele tempo ain<strong>da</strong> não tínhamos ultra-som ) .<br />
Ela estava calmamente chupan<strong>do</strong> o de<strong>do</strong> .<br />
Paula fui um bebezinho elétrico , sempre queren<strong>do</strong> ver e mexer nas<br />
coisas . Alexandra foi calma . Via tu<strong>do</strong> placi<strong>da</strong>mente .<br />
Paula falou muito ce<strong>do</strong> mas falava inicialmente com erros .<br />
Alexandra demorou quase 2 anos para falar . Ouvia tu<strong>do</strong> e prestava<br />
atenção . Não gritava , nem falava como criança , nem fava erra<strong>do</strong> . Somente<br />
prestava atenção , muito quieta . Porem quan<strong>do</strong> começou falar não cometia<br />
erros , pois falava certínho e falava bastante . Destampou de vez . Foi mesmo<br />
sensacional . To<strong>do</strong>s admiravam seu jeito de falar e sua pronuncia .<br />
Esportes e Bagunças<br />
II - Quan<strong>do</strong> cresceram mais um pouco as duas foram fican<strong>do</strong> cheias<br />
de vi<strong>da</strong> e logo ce<strong>do</strong> demonstravam que gostavam de to<strong>do</strong>s os esportes .<br />
Quan<strong>do</strong> chegaram para estu<strong>da</strong>r no Porto Seguro já eram esportistas . Na<strong>da</strong>vam<br />
muito bem. Paula até competia com as alemãeszinhas <strong>do</strong> colégio que eram<br />
federa<strong>da</strong>s pelo Clube Pinheiros . E levava vantagem !<br />
Ain<strong>da</strong> jogavam voleibol e basquete .<br />
Praticavam Ginástica Olímpica no Paulistano, sen<strong>do</strong> Vice- Campeãs<br />
Paulistas , na classe Infantil , competin<strong>do</strong> pelo CAP.<br />
Naquele dia estavam muito orgulhosas e felizes .
Paula e Alexandra sempre tiveram na infância duas companhias<br />
quase inseparáveis . Eram suas primas Claudia e Flavia . Elas que são filhas<br />
<strong>da</strong> minha cunha<strong>da</strong> Eliane e seu mari<strong>do</strong> Josino Fonseca . Praticamente Claudia<br />
é <strong>da</strong> mesma i<strong>da</strong>de de Paula e Flavia com pouco menos meses que Alexandra .<br />
Elas formavam duplas . Enquanto faziam barulho tu<strong>do</strong> bem . O<br />
problema é quan<strong>do</strong> ficavam quietas . Sempre iria aparecer uma “arte” logo<br />
depois . Um dia Paula e Claudia entraram na banheira de Eliane . Levaram<br />
juntas to<strong>do</strong>s os cosméticos e produtos de maquiagem que encontraram .<br />
Encheram a banheira de água quente e depois foram jogan<strong>do</strong> dentro tu<strong>do</strong><br />
aquilo que separaram .Fora o batom com o qual pintaram “bocas de palhaços”<br />
Foram encontra<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> a água <strong>da</strong> banheira escorreu para fora .<br />
Coisas <strong>da</strong>s Meninas<br />
III – Uma <strong>da</strong>s coisas que minhas filhas mais gostavam era ir <strong>do</strong>rmir<br />
na casa <strong>da</strong> vovó Zil<strong>da</strong> . Minha mãe fazia to<strong>da</strong>s as comidinhas que elas<br />
gostavam e contava to<strong>da</strong>s as histórias possíveis , principalmente de fa<strong>da</strong>s .<br />
Chegou a fazer duas longas fantasias de fa<strong>da</strong>s , costura<strong>da</strong>s com to<strong>do</strong> esmero<br />
em cetim e “voil”. Uma cor de rosa para Paula e outra azul para Alexandra .<br />
Tenho ain<strong>da</strong> comigo foto <strong>da</strong>s meninas com tais fantasias .<br />
Alem destas , nos dias de carnaval ou de festas , sempre ganhavam<br />
outras fantasias . Tenho de confessar que ficavam lindinhas as meninas !<br />
Quan<strong>do</strong> não viajavam sempre gostavam de sair sozinhas comigo .<br />
Em um Domingo as levei ao Butantã . Quan<strong>do</strong> Paula viu cobra pela<br />
primeira vez , perguntou para mim que bicho era aquele . Antes que pudesse<br />
responder Alexandra foi explican<strong>do</strong>: - “ Cobra é bicho que só tem rabo”.<br />
Em um sába<strong>do</strong> a noite foram em uma Festa Caipira , com roupinhas<br />
colori<strong>da</strong>s de flanela , com pintinhas no rosto , trancinhas e chapéus de palha.<br />
Estavam duas lin<strong>da</strong>s caipirinhas . Então , subitamente , Paula bateu a boca no<br />
balanço e quebrou <strong>do</strong>is dentinhos de leite , aqueles incisivos logo na frente .<br />
Foi imediatamente comigo para o dentista que examinou ,<br />
radiografou, removeu as partes restantes <strong>do</strong>s dentes . Depois disse que não<br />
tinha problema algum , pois os alvéolos <strong>do</strong>s dentes não foram atingi<strong>do</strong>s.<br />
Na volta perguntei para Paula se os dentinhos estavam <strong>do</strong>en<strong>do</strong> . Ela<br />
respondeu :<br />
“Não sei papai . Eles ficaram lá no dentista !”<br />
Elas estavam sempre me surpreenden<strong>do</strong> com suas perguntas e<br />
respostas . Principalmente quan<strong>do</strong> viajávamos em feria<strong>do</strong>s ou em fins de<br />
semana . Certa vez em Campos de Jordão quis mostrar as sete ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Vale
<strong>do</strong> Paraíba que são vistas , lá de cima , <strong>do</strong> Pico de Itapeva , principalmente<br />
depois <strong>do</strong> anoitecer , pois então as ci<strong>da</strong>des ficam sempre muito ilumina<strong>da</strong>s .<br />
Quan<strong>do</strong> lá chegamos a noite estava plena e o céu cheio de estrelas .<br />
Eu comecei mostran<strong>do</strong> aquelas centenas de estrelas . Disse que sempre<br />
estariam no céu . Então Alexandra me puxou a manga <strong>da</strong> camisa , foi<br />
mostran<strong>do</strong> as ci<strong>da</strong>des ilumina<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba , dizen<strong>do</strong> :<br />
“ – É ... mais tem uma porção delas que já caiu no chão . Veja ali<br />
em baixo quantas ... quantas ...”<br />
De outra feita foi Paula que me surpreendeu . Eu havia dito que<br />
“depois de amanhã” nós iríamos para o apartamento de São Vicente . Iriamos<br />
para a praia e comer uma peixa<strong>da</strong> . Então ela me perguntou :<br />
“- Papai ... o ontem foi o amanhã de hoje ?<br />
Coisas no Colégio , <strong>do</strong>s Bichos e <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>s<br />
IV – Lembro que quan<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>mos para o Morumbi elas foram<br />
matricula<strong>da</strong>s no Colégio Visconde de Porto Seguro . Alem de ser perto de casa<br />
tinha ótima reputação quanto ao ensino ministra<strong>do</strong> . Elas começaram no<br />
Jardim de Infância . Lá ficariam até terminar o Colegial .<br />
O ensino foi tão bom que nem fizeram “Cursinho” para entrar em<br />
várias Facul<strong>da</strong>des , logo a seguir .<br />
Quan<strong>do</strong> pequenas inicialmente eu acompanhava seus estu<strong>do</strong>s . Isto<br />
ocorria sempre depois <strong>do</strong> jantar . Queria ver os deveres de casa que elas<br />
deveriam fazer . Isto durou muito pouco pois que nunca eles deixaram de ser<br />
feitos e bem feitos . Passei a confiar mais nas minhas filhas . Não gostava de<br />
tomar lição pois quan<strong>do</strong> erravam segui<strong>da</strong>mente eu precisava castigar . Aquilo<br />
<strong>do</strong>ía no meu coração .<br />
Na casa <strong>do</strong> Morumbi fui montan<strong>do</strong> , como elas queriam , um<br />
pequeno zoológico , com cachorro , gato , papagaio , um maravilhoso pássaro<br />
preto – “Pelé” – que ficava solto e vinha quan<strong>do</strong> eu chamava ( infelizmente foi<br />
rouba<strong>do</strong> ) . Então resolvi comprar outras aves , entre elas canárinhos .<br />
Quan<strong>do</strong> cheguei com Paula na loja perguntei qual canarinho ela<br />
gostaria de levar . Sua resposta : “ Aquele ali , o mais “madurinho...”<br />
V - Outra vez fui informan<strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> chegasse as férias de<br />
Janeiro nós Iriamos para Angra <strong>do</strong>s Reis , pois ali eu tinha aluga<strong>do</strong> uma casa .<br />
Ain<strong>da</strong> disse : - “Isto vai acontecer se Deus quiser”.<br />
Então Alexandra disse que Deus ia querer . Eu perguntei como ela<br />
sabia se Deus mora no céu . Ela respondeu :<br />
“- Não Papai . Ele está aqui agora”.<br />
Retruquei : “ Como é que você sabe ?”
Ela to<strong>da</strong> “pimpona” respondeu : - “ Deus é brasileiro ! Não é que<br />
to<strong>do</strong>s dizem a to<strong>da</strong> hora !”<br />
Naquelas férias em Angra <strong>do</strong>s Reis cheguei a comprar um lin<strong>do</strong><br />
saveiro , pois na época eu tinha ganho uma boa gratificação de fim de ano .<br />
Porem nunca cheguei a tomar posse <strong>do</strong> mesmo . A oposição <strong>da</strong><br />
sogra e <strong>da</strong> mulher foram tantas , com tantas ameaças de que não permitiriam a<br />
i<strong>da</strong> de minhas filhas ao barco . Não tive alternativa na ocasião (Ain<strong>da</strong> não<br />
tinha chega<strong>do</strong> a hora <strong>do</strong> Divórcio ).<br />
Fui obriga<strong>do</strong> trocar o saveiro , que era maravilhoso , com 15 metros<br />
de comprimento e 4 cabinas , por uma casa em Ubatuba . Aquela mesma que<br />
foi construí<strong>da</strong> ao mesmo tempo cão a <strong>do</strong> Ismar Procópio de Oliveira .<br />
Do saveiro só ficaram lin<strong>da</strong>s fotos .<br />
VI - As meninas cresciam e sempre precisavam de roupas . Passei a<br />
ser o responsável pela aquisição <strong>da</strong>s mesmas , pois não havia mais ninguém ou<br />
outro jeito . Quan<strong>do</strong> podia saia com as meninas para compras . Quan<strong>do</strong> não<br />
podia as levava para o trabalho e , no horário <strong>do</strong> almoço , deixava que o bom<br />
gosto de minhas secretárias resolvessem as compras .<br />
Durante anos foi esta solução . Fora disto tinham os presentes de<br />
minha mãe e <strong>da</strong>s tias e mesmo <strong>da</strong> sogra . Foram sempre muito úteis .<br />
Por serem muito espertas por vezes também elas <strong>da</strong>vam “pequenos<br />
trabalhos” perante a escola . Na<strong>da</strong> de dramas enormes e sem soluções .<br />
Um dia fui chama<strong>do</strong> pela Diretoria <strong>do</strong> Porto Seguro para resolver<br />
um pequeno problema relativo a Paula . Ela vinha interferin<strong>do</strong> negativamente<br />
em algumas aulas . Quis saber como . Fui logo informa<strong>do</strong> :<br />
“ Na aula de ciências o professor estava explican<strong>do</strong> os animais e<br />
começou dizen<strong>do</strong> que as cobras botam ovos . Paula levantou o de<strong>do</strong> e foi<br />
replican<strong>do</strong> dizen<strong>do</strong> que nem to<strong>da</strong>s são “Ovíparas” , pois algumas nascem<br />
como pessoas . São as “Viviparas” . Não nascem de ovos” .<br />
Assim perturbou a aula e não foi a primeira vez .<br />
Anteriormente quan<strong>do</strong> o professor disse que to<strong>do</strong>s os mamíferos são<br />
iguais na forma de nascer e viver , ela informou que o “ornitorrinco nasce de<br />
ovos , tem bico de pato , tem veneno e é mamífero”. Perturbou de novo !<br />
O Diretor pedia minha participação junto a Paula , pois era ótima<br />
aluna . Precisava segurar seus ímpetos .<br />
Quan<strong>do</strong> falei com ela recebi a promessa que não mais aconteceria<br />
tais fatos . E complementou : “- Disse tu<strong>do</strong> que era a mais pura ver<strong>da</strong>de”.<br />
.
Minhas filhas continuam sen<strong>do</strong> minhas grandes alegrias .<br />
Elas foram formidáveis . Nunca repetiram nenhum ano . Entraram<br />
no Jardim de Infância <strong>do</strong> Colégio Porto Seguro e saíram quan<strong>do</strong> terminaram o<br />
Colegial . Saíram invictas e vence<strong>do</strong>ras .<br />
Depois foram mais alegrias . Entraram com facili<strong>da</strong>de , sem<br />
freqüentar cursínhos , diretamente nas difíceis Facul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />
São Paulo .<br />
Hoje estão perfeitamente forma<strong>da</strong>s , sob qualquer aspecto .<br />
Paula e Alexandra estão muito bem casa<strong>da</strong>s e me deram três netos<br />
maravilhosos, Ganhei os netos mais lin<strong>do</strong>s . Mia , Lorenzo e Lucca .<br />
Ganhei <strong>do</strong>is filhos e não <strong>do</strong>is genros .<br />
Minhas filhas sempre trouxeram muita felici<strong>da</strong>de .<br />
Deram para mim muito orgulho !<br />
Hoje em dia , quase sempre estou viajan<strong>do</strong> para fora para ter suas<br />
companhias . Paula está casa<strong>da</strong> com Mark Browning e vive em Singapura.<br />
Alexandra está casa<strong>da</strong> com Javier Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e vive em Londres .<br />
Difícil é esperar o tempo <strong>da</strong>s viagens para ver meus netos e filhas .
INTERMEZZO – ALEGRIAS E TRISTEZAS<br />
Edu Marcondes<br />
Amigos que Não Mais Aparecem – Os Que se Foram Para Sempre : Luiz<br />
Vicente de Sylos – Luis Carlos Junqueira Franco – Silvio Abreu Jr. –<br />
Caio Kiehl : 7 tiros + Leptoespirose - Boa Gente –- Amizades de Família<br />
com Longo Prazo - Um Tiro <strong>da</strong> Nuca<br />
- AMIGOS QUE NÃO MAIS APARECEM<br />
Primeiro vou falar sobre o Paulistano :<br />
Durante os anos 70 e mesmo até a metade <strong>do</strong>s 80 não foi possível<br />
freqüentar o clube , com a mesma assidui<strong>da</strong>de que freqüentava anteriormente.<br />
Havia aumenta<strong>do</strong> a intensi<strong>da</strong>de de meu trabalho nos bancos que dirigia .<br />
Também perdia oportuni<strong>da</strong>de de encontrar amigos pois , grande<br />
parte <strong>da</strong>s vezes eu podia chegar ao Paulistano , ia com minhas filhas em<br />
horários matinais , bem ce<strong>do</strong> . Elas iam fazer ginastica olímpica ou na<strong>da</strong>r .<br />
Os amigos chegavam bem mais tarde<br />
Sem que imediatamente eu pudesse perceber, mas com o tempo fui<br />
reparan<strong>do</strong> , lentamente, bem lentamente , que muitos <strong>do</strong>s antigos amigos já<br />
não mais apareciam no Paulistano . Em compensação sentia a entra<strong>da</strong> ca<strong>da</strong><br />
vez em numero maior de inúmeros sócios novos .<br />
Ca<strong>da</strong> dia eu via mais uma cara nova , tanto masculina como<br />
feminina . O volume <strong>do</strong>s sócios crescia rapi<strong>da</strong>mente . Ca<strong>da</strong> dia tinha mais<br />
gente no club . Somente fui perceber que o perfil <strong>do</strong>s sócios havia<br />
inteiramente mu<strong>da</strong><strong>do</strong> quan<strong>do</strong> voltei a participar quase que diariamente <strong>da</strong>s<br />
coisas <strong>do</strong> Paulistano . As caras novas para mim tomaram conta de to<strong>da</strong>s as<br />
áreas . Isto depois de 1.980 .<br />
Evidentemente , apesar <strong>da</strong>s novas amizades que eu comecei a<br />
desfrutar , sentia também falta <strong>do</strong>s antigos amigos. Comecei a anotar<br />
mentalmente aqueles que não mais chegavam ao CAP .<br />
Tentava saber <strong>da</strong>s suas razões .:<br />
-1) Sérgio D’Avila casou com Marina Fóz, sócia <strong>do</strong> Harmonia.<br />
Mu<strong>do</strong>u de clube ;<br />
-2). O mesmo aconteceu com seu irmão Aluísio D’Avila , com o<br />
amigo Alberto Botti e com Roberto Bratke . <strong>Casa</strong>ram e mu<strong>da</strong>ram de clube .<br />
-3) Luiz Carlos Pannunzio casou e mu<strong>do</strong>u – se para Brasília .<br />
-4) José Henrique Cardia Galrão foi para a Fazen<strong>da</strong> de Agu<strong>do</strong>s .<br />
-5) Sérgio Guastini se tornou Juiz de Direito e foi para o interior .<br />
6) Os Dacacche casaram e pouco a pouco desapareceram .<br />
7) Arnal<strong>do</strong> Gasparian de vez em quan<strong>do</strong> aparecia . Hoje vem<br />
muito pouco. Falou que não vem mais pois como não conhece quase ninguém.
-8) Didi Gui<strong>do</strong>tti construiu um hotel no litoral norte e vive por lá .<br />
-9)Seu irmão Adriano desapareceu . Nem é mais sócio ;<br />
-10) Belmiro Dias sumiu .<br />
- 11) O mesmo aconteceu com Maurício Soriano<br />
-11) Otto Bendix casou com a ex mulher <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> cômico Zeloni<br />
e se escondeu nas beira<strong>da</strong>s rurais <strong>da</strong> Grande São Paulo .<br />
12-) Chico Galvão e Mário Sérgio onde estarão agora ?<br />
13-) Os Papas – Marcio e Zizínho sumiram .<br />
14-) O mesmo acontece com Gile Lunardelli e com Paulinho<br />
Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama . Acho que não gostam mais de vir ao Paulistano<br />
15-) Vico Paes de Barros e Fredy Assumpção sumiram<br />
definitivamente... outro dia soube que morreram . Confesso que chorei .<br />
16-) To<strong>do</strong>s os Levi – Ferna<strong>do</strong> , Eduar<strong>do</strong> . Luiz Carlos e outros<br />
parentes não mais aparecem no Paulistano .<br />
17-)Candi<strong>do</strong> Cavalcanti morreu .<br />
18-)João Campos morreu ,<br />
19-)Cesar Affonseca morreu .Como eles muitos outros morreram .<br />
Quem ain<strong>da</strong> aparece de vez em quan<strong>do</strong> é o Sérgio Caiubi Novaes .<br />
As vezes almoçamos juntos . Contu<strong>do</strong> são poucas vezes .<br />
Encontro ain<strong>da</strong> , esporadicamente , os amigos que na<strong>da</strong>vam comigo<br />
na antiga piscina : - Eugênio Amaral , José Ayres Neto e o Léo Berman .<br />
Estive por algum tempo com o queri<strong>do</strong> amigo Adir Vilella , hoje<br />
em dia moran<strong>do</strong> em São Lourenço/ MG . –<br />
Figura muito difícil ficou o Carlos Roberto “China” Mattos .<br />
Aparece muito pouco , apesar de ser um amigo queri<strong>do</strong> e bem antigo .<br />
Realmente sinto a falta <strong>do</strong>s bate papos com os velhos amigos. O<br />
Paulistano fica diferente , sem a Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />
- AMIGOS QUE SE FORAM PARA SEMPRE<br />
II - Entretanto , pior que não encontrar mais antigos e queri<strong>do</strong>s<br />
amigos era perder definitivamente amigos mais chega<strong>do</strong>s . Aqueles que eram<br />
“os amigos <strong>do</strong> peito” . Aqueles que foram cria<strong>do</strong>s com a gente . Aqueles que<br />
estavam conosco a to<strong>da</strong> hora . Aqueles companheiros de viagens e de lutas .<br />
Aqueles que muitas vezes chamávamos de “irmãos”. Aqueles que o tempo<br />
levou e por isto não voltam mais . Aqueles que não esquecemos .<br />
Antes de 1985 já havíamos perdi<strong>do</strong> o Silvio “Careca” Abreu e o<br />
Luiz Fernan<strong>do</strong> “Vovô” Ribeiro <strong>da</strong> Silva . O primeiro de câncer e o segun<strong>do</strong><br />
em um assalto . Foi muita tristeza .<br />
Depois se foram Pedro Padilha , Paulo Ribeiro , “Kico”<br />
Campassi , Antônio Duva , “Velu<strong>do</strong>” Pompeo , Caio Pompeo de Tole<strong>do</strong> ,
“Jujuba” Moreira <strong>da</strong> Costa , Helinho Fuganti e Zequinha Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong><br />
. Roberto Claro , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Kiko Campassi , Claudio<br />
“Ratão” Fagundes , Sergio e Carlos Dacache . Até 1995 foram muitos os<br />
amigos que perdemos repentinamente em muito pouco tempo. .<br />
Quase sempre esquecemos que as coisas podem se repetir , não<br />
identicamente , mas se repetem .<br />
Reven<strong>do</strong> esta relação , agora em 2011 , temos mais amigos que se<br />
foram para além . Fernan<strong>do</strong> Botelho de Miran<strong>da</strong> – o “Mirandinha” e<br />
Antonio Rabello. Depois o Acácio Geléia Mancio e Tozinho Lara Campos<br />
Outros Mais que se Foram<br />
Luiz Vicente de Sylos - Também foi embora muito ce<strong>do</strong> . Não<br />
tinha mais <strong>do</strong> que 50 anos de i<strong>da</strong>de . Teve “Esquemia Cerebral” e faleceu .<br />
Por conta de uma sua emprega<strong>da</strong> seu falecimento virou , no meio<br />
de muita tristeza , um fato meio cômico . Ditinha , a tal emprega<strong>da</strong> , com sua<br />
santa ignorancia , ouviu o “Galo Cantar” e não sabia onde .<br />
Então , “confundin<strong>do</strong> Jesus com Genésio” e “Isquemia ” com “Us<br />
Qui Mia” , acabou dizen<strong>do</strong> para to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que o Vicente tinha faleci<strong>do</strong> de<br />
“Gato Na Cabeça” . Afirmava que Us Que Mia é gato ! Cerebral é na cabeça .<br />
Concluiu isto pela relação fonética <strong>do</strong> que ouviu .<br />
Santa ignorância .<br />
Luiz Carlos Junqueira Franco - Não faleceu muito tempo depois .<br />
Sua vi<strong>da</strong> cheia alegria , mas com muita serie<strong>da</strong>de e trabalho,<br />
subitamente foi fican<strong>do</strong> atrapalha<strong>da</strong> . Desquitou-se <strong>da</strong> esposa . Foi morar em<br />
um sitio compra<strong>do</strong> no Embú . Arranjou uma namora<strong>da</strong> que foi viver com ele .<br />
Então veio o “Plano Collor” . Justamente no momento em que ele<br />
reformava suas três lanchonetes . Com a falta <strong>do</strong> dinheiro que aquele Plano<br />
Collor trouxe , e com os muitos compromissos , ficou impossível quitar<br />
tantas obrigações financeiras . Junqueira foi obriga<strong>do</strong> fechar as Lanchonetes ,<br />
pois não queria deixar de pagar ninguém . Duas foram entregues em “<strong>da</strong>ção de<br />
pagamento” .<br />
Ele era extremamente honesto em tu<strong>do</strong> que fazia .<br />
Sentiu o golpe . Sentiu mais ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> a namora<strong>da</strong> foi embora .<br />
Finalmente quan<strong>do</strong> tentou vender o sitio verificou que a<br />
<strong>do</strong>cumentação não era perfeita .Muitos problemas apareceram . Então ficou<br />
sem recursos . Voltou e foi morar com a mãe em São Paulo .<br />
Aquele amigo que vivia fazen<strong>do</strong> pia<strong>da</strong>s , mesmo quan<strong>do</strong> tomou um<br />
tiro no pé , em uma briga com uns cafajestes que invadiram uma festa <strong>do</strong>
Harmonia ( “ Ele dizia então que seu chulé ficaria sain<strong>do</strong> pelo buraco que a<br />
bala fez no sapato” ) . Agora estava triste . Muito triste mesmo !<br />
Sentia-se abati<strong>do</strong> . Estava muito difícil levantar seu animo . Por<br />
mais que eu tentasse . Por mais que tentássemos . Perdeu aquela alegria de<br />
viver e de contar seus “causus e histórinhas”.<br />
Junqueira se suici<strong>do</strong>u . Chorei muito , principalmente em sua missa<br />
de sétimo dia , quan<strong>do</strong> tocaram aquela musica : “ Amigo é coisa prá se<br />
guar<strong>da</strong>r ...bem no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> peito ...<br />
Caio Kiehl chorava de meu la<strong>do</strong> .<br />
Silvinho “Careca”Abreu brincava com mil coisas . Vivia dizen<strong>do</strong><br />
que na “Próxima Encarnação” queria voltar como “Taturana” , pois ela é um<br />
bicho que vive elegante , de casaco de peles , só comen<strong>do</strong> “brotos” e<br />
an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s dias com “galhos” . E quem mexeu com a Taturana ´tá<br />
queima<strong>do</strong> ! Dizia ain<strong>da</strong> que Taturana não morre ... vira Borboleta !<br />
Então iria virar “Borboleta , porem Macho” , e assim seria um<br />
turista de luxo , voan<strong>do</strong> por ai , sem precisar de passaporte . Poderia sair<br />
beijan<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as flores . Sem problemas ... “<br />
MAIS BOA GENTE QUE SE FOI ...<br />
III – Quem sempre mostrava muita amizade para comigo era<br />
Albano de Souza Azere<strong>do</strong> . Foi muitas vezes meu parceiro para um<br />
joguinho de “tranca”. Outras vezes eu jogava com o Alcides Procópio ,<br />
Luiz Taliberti , Claudio “Ratão” Fagundes .<br />
Eram muitos os bons parceiros que tínhamos então : Emil Issa , Dr.<br />
Quadros e Arman<strong>do</strong> Vieira .<br />
Gostava de freqüentar a casa <strong>do</strong> Vilella e <strong>da</strong> Célia . Ali sempre o<br />
papo era bom . Alem <strong>do</strong> mais jogava Gamão com o amigo ... estes não<br />
faleceram , mas se mu<strong>da</strong>ram para bem longe . Quase não os vejo mais .<br />
As vezes tomava uns drinques com George Gugelmas e<br />
Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Viana , lá no bar <strong>do</strong> primeiro an<strong>da</strong>r . Eles se foram<br />
Assim eu ficava um pouco mais com amigos<br />
Quem também muito me convi<strong>da</strong>va para um bom papo e tomar uma<br />
cerveja era o parente Rubens Limongi França . Um dia eu e Vera<br />
apresentamos para ele uma loira amiga . Chamava-se Evelina . Era o tipo de<br />
mulher que ele a<strong>do</strong>rava . Alta , clara , com bonitas pernas , cadeiru<strong>da</strong>,<br />
inteligente , educa<strong>da</strong> e de boa família . Morava no Morumbi . Ele ficou<br />
encanta<strong>do</strong> . Começaram sair e pouco tempo depois estavam juntos , em to<strong>do</strong>s<br />
lugares e viajan<strong>do</strong> para fora <strong>do</strong> Brasil . Juntos em to<strong>do</strong> tempo .
Um dia foram para a Fazen<strong>da</strong> que ele possuía em Guaratinguetá .<br />
Estavam passan<strong>do</strong> um feria<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong> liga<strong>do</strong> em um fim de semana .<br />
Rubens , não se sabe porque , comeu um pe<strong>da</strong>ço de queijo velho que<br />
encontrou na geladeira . Não deu outra . Começou uma forte desinteria que<br />
não passou com remédios de farmácia . Evelina queria vir com ele para São<br />
Paulo . Ele disse que se não melhorasse viria no outro dia .<br />
Foi tarde . Ele entrou em desidratação profun<strong>da</strong> . Quan<strong>do</strong> chegou em<br />
São Paulo foi direto para uma UTI . Não durou muito .<br />
Seu velório foi realiza<strong>do</strong> na Facul<strong>da</strong>de de Direito <strong>do</strong> Largo <strong>do</strong> São<br />
Francisco . Senti muito a per<strong>da</strong> <strong>do</strong> amigo .<br />
CAIO KIEHL : SETE TIROS / SETE VIDAS + LEPTOESPIROSE<br />
As coisas realmente acontecem quan<strong>do</strong> não deviam ,<br />
principalmente quan<strong>do</strong> não esperamos por elas . E muitas vezes ferem<br />
profun<strong>da</strong>mente nossa alma , sem dó nem pie<strong>da</strong>de . Basta an<strong>da</strong>r distraí<strong>do</strong> .<br />
“O homem põe e Deus dispõe”.<br />
Caio Kiehl morava no Con<strong>do</strong>mínio Baronesa de Ararí , no bloco de<br />
luxo , onde os apartamentos possuem três suítes . Vivia reclaman<strong>do</strong> com o<br />
zela<strong>do</strong>r , em razão <strong>do</strong> barulho que uma prensa de lixo fazia durante a<br />
madruga<strong>da</strong> , não deixan<strong>do</strong> ninguem <strong>do</strong>rmir . A queixa era geral .<br />
Uma noite de Sexta Feira , lá pelas 23 horas , a tal prensa recomeçou<br />
a perturbar . Caio não esperou mais na<strong>da</strong> e foi reclamar pessoalmente com o<br />
tal Zela<strong>do</strong>r . Quan<strong>do</strong> chegou ao porão não teve tempo de abrir a boca . O tal<br />
Zela<strong>do</strong>r disse que ele não iria “reclamar mais nunca” . E disparou sete vezes<br />
com uma pistola automática . Foram 7 tiros que o acertaram . Caio caiu . O<br />
Zela<strong>do</strong>r achan<strong>do</strong> que ele tinha morri<strong>do</strong> fugiu .<br />
Primeiro <strong>do</strong> prédio , depois para o nordeste .<br />
Caio que era muito resistente conseguiu se arrastar até a rua . Foi<br />
assisti<strong>do</strong> por passantes que o levaram para o Hospital <strong>da</strong>s Clinicas . Logo a<br />
noticia chegou para nós que estávamos ain<strong>da</strong> jogan<strong>do</strong> no Paulistano naquela<br />
madruga<strong>da</strong> .<br />
Corri para as Clínicas com o Antônio Rabello e o Claudio “Ratão” .<br />
Não foi possível ver Caio . Estava sen<strong>do</strong> opera<strong>do</strong> . No outro dia voltou para<br />
nova operação , pois descobriram uma outra bala que perfurara seu pulmão .<br />
A maioria <strong>da</strong>s balas atingira seu ab<strong>do</strong>me . Só uma passou <strong>do</strong> ab<strong>do</strong>me para o<br />
pulmão , furan<strong>do</strong> a pleura .<br />
Dias depois Caio teve infeção gasosa , aquela que já matou muita<br />
gente . Ele resistiu . Durante três meses ficou nas Clinicas . A turma <strong>do</strong><br />
Paulistano lá ia diariamente . Ele tinha necessi<strong>da</strong>de de an<strong>da</strong>r , para acelerar a<br />
cura . Depois disto se recuperou e saiu , praticamente sem seqüelas .
Realmente ele era muito forte . Tinha “mil horas de brigas ao meu<br />
la<strong>do</strong> ” com to<strong>do</strong> tipo de gente : - pilantras , malandros , “falsos seguranças”<br />
e porteiros de boate. Eles podiam ser grandes e fortes . Não interessava .<br />
Defendia sempre seu direito . Era difícil de ser derruba<strong>do</strong> .<br />
Sofrera naufrágio comigo e ficara horas dentro <strong>do</strong> mar bravo durante<br />
a madruga<strong>da</strong> . Dirigia aquele carro com o qual capotamos na estra<strong>da</strong> de<br />
Campos <strong>do</strong> Jordão , o qual virou sucata .<br />
Era difícil de ser atingi<strong>do</strong> , porem um dia aconteceu . Na forma que<br />
ninguem poderia imaginar , porem foi atingi<strong>do</strong> . Pelo destino ? ...<br />
O que aconteceu foi o seguinte :<br />
O prédio de apartamentos onde ele morava foi interdita<strong>do</strong> durante<br />
um tempo. Precisava de reformas em sua estrutura geral . Caio foi morar<br />
inicialmente com a irmã Celina . Não deu certo .<br />
Então em uma Segun<strong>da</strong> Feira , depois de passar um dia na fazen<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong> Antônio Carlos Peres de Oliveira , foi até In<strong>da</strong>iatuba onde estava<br />
reforman<strong>do</strong> um Armazém/Depósito de sua proprie<strong>da</strong>de . Lá <strong>do</strong>rmiu e lá<br />
pegou uma <strong>do</strong>ença estranha , pois dias depois sentia-se fraco , com diarréia .<br />
Muito fraco se sentia .<br />
Telefonou no Sába<strong>do</strong> para a casa <strong>do</strong> Sérgio , onde estávamos<br />
almoçan<strong>do</strong> , informan<strong>do</strong> que se sentia mal , inclusive com forte disenteria .<br />
Não desejou que fossemos busca-lo . Disse que viria sozinho para São<br />
Paulo. Assim aconteceu .<br />
Naquele mesmo sába<strong>do</strong> levamos Caio até o Paulistano . Ele estava<br />
de encontro marca<strong>do</strong> com seu amigo Prof. Jairo Ramos. Ele o examinou<br />
ain<strong>da</strong> no vestiário <strong>do</strong> club . Receitou um remédio informan<strong>do</strong> que não seria o<br />
definitivo . Deixou claro que na Segun<strong>da</strong> Feira Caio deveria procurar seu<br />
assistente para novos exames , pois ele estaria viajan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> aquela noite<br />
para o exterior .<br />
No dia marca<strong>do</strong> Caio foi até o assistente <strong>do</strong> professor . O remédio<br />
que tomou “mascarou sua <strong>do</strong>ença grave” . Como chegou senti<strong>do</strong>-se melhor<br />
não foi solicita<strong>do</strong> nenhum outro exame. Apenas recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> a continui<strong>da</strong>de<br />
<strong>do</strong> remédio inicialmente prescrito . O erro ali aconteceu .<br />
Na Quinta Feira Caio estava muito mal . Como teríamos eleições no<br />
Paulistano ele , que era Conselheiro <strong>do</strong> CAP , foi até lá para escolher comigo<br />
os candi<strong>da</strong>tos em que votaríamos . Entretanto , a ca<strong>da</strong> instante corria para o<br />
banheiro com disenteria . Falei que não poderia continuar assim . Caio<br />
contou que <strong>da</strong>í a pouco sua filha Nana viria busca-lo para leva-lo para<br />
exames no hospital <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Paulista de Medicina .
Lá ficaria interna<strong>do</strong> até saber o que tinha .<br />
Na Sexta Feira tentei visitá-lo no hospital . Então fui informa<strong>do</strong> que<br />
ele estava na UTI - com “Leptoespirose” . Em esta<strong>do</strong> gravíssimo .<br />
Achavam difícil sua recuperação . Nem acreditei .<br />
Porem , faleceu na madruga<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele Sába<strong>do</strong><br />
Seu enterro saiu <strong>do</strong> Velório <strong>da</strong> Beneficência Portuguesa .<br />
Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti me aju<strong>do</strong>u , quan<strong>do</strong> terminava de vesti-lo ,<br />
acertan<strong>do</strong> o colarinho e o laço <strong>da</strong> sua gravata .<br />
Depois <strong>da</strong>quele enterro fiquei pensan<strong>do</strong> por muitas horas .<br />
“Gato só tem sete vi<strong>da</strong>s. Para o Caio sete balas . Depois...”<br />
AMIZADES DE FAMILIA / DE LONGA DATA .<br />
VI - Caio Kiehl , Luiz Carlos Junqueira e Vicente de Sylos não<br />
eram apenas simplesmente meus amigos . Também não eram aqueles amigos<br />
que encontramos por acaso .<br />
As amizades vinham <strong>da</strong>s nossas famílias . De longo tempo . Éramos<br />
muito mais que amigos . Eles viveram anos dentro de minha casa e eu dentro<br />
de suas casas com suas famílias . Éramos na reali<strong>da</strong>de irmãos de vi<strong>da</strong> . Não<br />
de sangue mas de to<strong>da</strong>s as horas . O que é muito mais importante . E nunca<br />
tínhamos desavenças . Nunca . Podíamos as vezes estarmos distantes mas<br />
isto não mu<strong>da</strong>va na<strong>da</strong> .<br />
Havia entre nós um relacionamento que vinha mesmo de longe .<br />
1) - O pai <strong>do</strong> Caio , Dr. Marcelo , fora colega de meu pai no Ginásio<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> . Caio era meu padrinho de casamento , como eu era padrinho de<br />
seu casamento . Éramos na reali<strong>da</strong>de compadres ;<br />
2) - O pai <strong>do</strong> Junqueira , Sr. Samuel , tinha obturações dentárias<br />
feitas em ouro , ain<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong>s em Ribeirão Preto por meu avô materno -<br />
Carlos Américo Brandão . Isto aconteceu quan<strong>do</strong> sr. Samuel ain<strong>da</strong> era moço .<br />
As duas irmãs <strong>do</strong> Luiz Carlos foram colegas de minha irmã desde o Colégio<br />
Sion . Eram amigas . Estávamos sempre juntos em família .<br />
3) - O pai de Vicente , Dr. Honório de Sylos , conhecia meu pai<br />
desde o tempo em que eram moços . Trabalharam juntos para o governo <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> . Sua esposa , <strong>do</strong>na Lilia , era amiga de minha mãe . Ele era meu<br />
padrinho . Vicente , que sempre esperou pela herança <strong>do</strong> avô mas que nunca<br />
recebeu na<strong>da</strong> pois morreu , era padrinho de minha filha Paula . Lina sua<br />
irmã era amiga de minha irmã Marisa . Nossas casas eram localiza<strong>da</strong>s no<br />
Jardim Paulista, em São Paulo . Em S. Vicente também estavam perto .<br />
Nossas vi<strong>da</strong>s estavam bem entrelaça<strong>da</strong>s desde muito tempo .<br />
Agora eu estava sozinho . Perdera to<strong>do</strong>s meus amigos irmãos .<br />
Senti no dia <strong>do</strong> enterro <strong>do</strong> Caio um enorme frio dentro de mim .
Não sabia naquele momento por que .<br />
Ficou então um grande vazio .<br />
Parecia que faltava alguma coisa . Ain<strong>da</strong> parece . Sinto !<br />
-UM TIRO NA NUCA<br />
Havia vendi<strong>do</strong> meu carro e compra<strong>do</strong> as coisas fun<strong>da</strong>mentais para<br />
acabar de montar meu escritório de Advocacia e Administra<strong>do</strong>ra .<br />
Como recebi uma parte <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> carro em dólares , deveria<br />
trocar US$ 1.100 . Eles iriam ficar aplica<strong>do</strong>s.<br />
No outro dia falei com o amigo George Guguelmas .<br />
Ele trabalhava com Câmbio . Então ficou combina<strong>do</strong> que eu levaria<br />
os dólares para o Paulistano e lá faríamos a troca . Cambio <strong>do</strong> dia .<br />
Só esquecemos de um detalhe . No outro dia seria Domingo , sem<br />
possibili<strong>da</strong>de de cambio , nem troca de dólares .<br />
Sem lembrar <strong>do</strong> fato , no Domingo , depois <strong>do</strong> almoço com meus<br />
pais , coloquei os dólares dentro de uma pasta de couro , pois as notas eram<br />
muitas , quase to<strong>da</strong>s de 5 (cinco) dólares . O volume não era pequeno . Fui<br />
para o Paulistano .<br />
Quan<strong>do</strong> encontrei George e mostrei o dinheiro ele deu risa<strong>da</strong> . Foi<br />
me lembran<strong>do</strong> que era Domingo , sem cambio possível . Marcamos um<br />
almoço para o dia seguinte na própria casa <strong>do</strong> George .<br />
Iriamos então concretizar a troca .<br />
Fomos para o salão de jogos . Deixei a pasta devi<strong>da</strong>mente guar<strong>da</strong><strong>da</strong><br />
com o gerente <strong>do</strong> salão e fui jogar “tranca” . Nosso jogo seguiu até as 22 , 30<br />
horas. Então pequei novamente a pasta e desci . Fui procurar um taxi para ir<br />
para casa . Normalmente eles estavam na porta <strong>do</strong> club esperan<strong>do</strong> clientes .<br />
Naquele dia não tinha nenhum.<br />
Esperei algum tempo . Como não chegavam resolvi ir até a<br />
Aveni<strong>da</strong> Brasil , pois por ali passavam muitos taxis .<br />
Quan<strong>do</strong> estava chegan<strong>do</strong> na esquina <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Brasil , vin<strong>do</strong> pela<br />
escura Rua México , parou de meu la<strong>do</strong> um carro Monza . Até hoje não sei se<br />
era preto ou azul marinho . Saíram de dentro três fulanos . Como estava<br />
escuro mal <strong>da</strong>va para ver suas caras . Um deles tinha camisa branca e outro<br />
camisa azul . Vieram direto para mim com cacetes na mão . Não falaram que<br />
era assalto ! Não pediram a pasta ou a carteira ! Partiram para cima de mim .<br />
Senti que queriam bater , ou mesmo matar .<br />
Um outro assaltante , que eu não tinha visto e nem sabia de onde<br />
tinha vin<strong>do</strong> , chegou por trás e agarrou meu pescoço . Ain<strong>da</strong> tive tempo de<br />
girar aquele cara por cima <strong>do</strong> meu ombro e o joguei no chão . Os outros já
haviam chega<strong>do</strong> junto . Lembro tomei muita panca<strong>da</strong> mas que também dei<br />
muita panca<strong>da</strong> naqueles sujeitos . Isto durou algum tempo .<br />
Derrepente eu estava caí<strong>do</strong> de cara no chão , com três em cima de<br />
mim . Então um deles encostou um revolver em minha nuca e foi dizen<strong>do</strong> :<br />
- “ O heroizinho vai morrer agora”.<br />
Só escutei o barulho forte <strong>do</strong> tiro ...<br />
Então me vi em um túnel com muita luz branca que girava em volta<br />
de mim . Aquilo não durou muito tempo .<br />
Tu<strong>do</strong> ficou definitivamente escuro pouco depois .<br />
Devo ter fica<strong>do</strong> mais de meia hora desacor<strong>da</strong><strong>do</strong> e caí<strong>do</strong> perto <strong>da</strong><br />
esquina <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Brasil . Quan<strong>do</strong> estava acor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> , me sentia flutuan<strong>do</strong> .<br />
Parecia que olhava meu corpo de cima . Parecia que eu flutuava .<br />
Pensei que ia sair <strong>da</strong>li e deixar meu corpo no chão !<br />
Depois quan<strong>do</strong> realmente tomei os senti<strong>do</strong>s a primeira coisa que vi<br />
foi o relógio <strong>da</strong> igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Brasil . Ele marcava 23,15.<br />
Neste perío<strong>do</strong> ninguém parou para ver o que tinha aconteci<strong>do</strong>.<br />
Apesar de um tanto escuro , graças ao lampião <strong>da</strong> esquina ,<br />
encontrei <strong>do</strong> meu la<strong>do</strong> a minha pasta de couro , aberta e suja de sangue .<br />
Também o sapato que sairá de meu pé esquer<strong>do</strong> .<br />
O dinheiro na pasta e meu relógio Piaget sumiram . Sumiu ain<strong>da</strong><br />
um jogo de canetas Montblanc que estava dentro <strong>da</strong> pasta .<br />
Fiquei algum tempo na esquina <strong>da</strong> Brasil pedin<strong>do</strong> socorro .<br />
Ninguém parava para um sujeito to<strong>do</strong> rasga<strong>do</strong> e sujo de sangue .<br />
Finalmente um casal de jovens que vinha num carrinho velho me<br />
socorreu . Fui leva<strong>do</strong> para o Hospital <strong>da</strong>s Clinicas . Foram gentis e humanos .<br />
Ficaram comigo até o fim .<br />
Quan<strong>do</strong> cheguei e disse para o médico que tinha leva<strong>do</strong> um tiro na<br />
nuca . Ele deu risa<strong>da</strong> . Foi dizen<strong>do</strong> que devia ser uma paula<strong>da</strong> que eu tomara,<br />
pois tiro na nuca mata mesmo . Só mu<strong>do</strong>u de idéia quan<strong>do</strong> começaram raspar<br />
os cabelos de minha nuca para fazer curativo . Então verificaram e<br />
encontraram to<strong>da</strong> aquela pólvora em torno <strong>da</strong> feri<strong>da</strong> .<br />
Foi um corre ... corre ! Chegaram mais médicos , marcaram Sala<br />
para Cirurgia , pegaram minha caderneta de endereços e ligaram para<br />
alguém que poderia <strong>da</strong>r autorização para cirurgia na cabeça . Tiraram muitas<br />
radiografias e tomografias computariza<strong>da</strong>s .<br />
Depois de algum tempo os médicos se reuniram em grupo e<br />
começaram a <strong>da</strong>r risa<strong>da</strong>s . Um deles chegou e disse , mostran<strong>do</strong> uma<br />
radiografia : “ A bala não entrou ! Ela , pelo tamanho , deve ser ou é <strong>do</strong>
calibre 38 . Ficou inteiramente amassa<strong>da</strong> junto a parede externa <strong>do</strong> crânio.<br />
Por enquanto você está fora de perigo ! Não vai ser preciso operar ”.<br />
Começaram a suturar o ferimento e foram falan<strong>do</strong> que eu dera muita<br />
sorte . Depois disseram que eu deveria voltar dentro de <strong>do</strong>is dias , para ver<br />
como estava o ferimento . Que eu deveria tomar aquelas pílulas de<br />
penicilinas que me <strong>da</strong>riam , durante sete dias . Deveria voltar de novo .<br />
Para a <strong>do</strong>r de cabeça , que naquela altura era imensa , o remédio foi<br />
“ Lisa<strong>do</strong>r”.<br />
Quan<strong>do</strong> estavam terminan<strong>do</strong> as suturas minha irmã Marisa chegou.<br />
Com ela seu mari<strong>do</strong> Zeca Leal . Logo me levaram para casa . O susto de<br />
minha mãe não foi grande pois me via an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e falan<strong>do</strong> . Apenas<br />
recomen<strong>do</strong>u que eu seguisse o que o médico man<strong>da</strong>ra .<br />
Não consegui <strong>do</strong>rmir aquele final de noite . estourar . Alem disso eu<br />
continuava pensan<strong>do</strong> , tentava achar uma explicação para o fato ocorri<strong>do</strong> .<br />
Elas não tinham e não faziam o menor senti<strong>do</strong> .<br />
A minha única conclusão foi que ain<strong>da</strong> não era minha vez ...<br />
Pela manhã seguinte ao assalto Alexandra já estava comigo . Eu lhe<br />
pedi que ligasse para o George cancelan<strong>do</strong> o almoço e explican<strong>do</strong> o por que .<br />
George em segui<strong>da</strong> informou os amigos . Logo pela tarde já estava<br />
sen<strong>do</strong> visitan<strong>do</strong> pelo Claudio “Ratão” Fernandes e o Luiz Gonçalves .<br />
Depois só foram muitos tefonemas .<br />
Neste meio tempo Alexandra arrumou uma cama melhor para mim<br />
Cinco dias depois fui fazer exames no IML. Depois de ser<br />
examina<strong>do</strong> e de verem as radiografias , foram informan<strong>do</strong> :<br />
• Que eu tive muita sorte <strong>da</strong> bala ser calibre 38 , que é bala de<br />
impacto . Elas precisam de espaço para ganhar veloci<strong>da</strong>de .<br />
Caso fosse calibre 22, 7.65 ou 9 milímetros , que são balas de<br />
perfuração , você estaria morto .<br />
• Finalizou dizen<strong>do</strong> que aquela noite a Morte estava de folga !<br />
Mal sabiam eles <strong>do</strong>s ocorri<strong>do</strong>s comigo em outras vezes .<br />
Fiquei quietinho ...
VIAGENS COM VERA - PAULA E ALEXANDRA<br />
Edu Marcondes<br />
Conhecen<strong>do</strong> Europa e Ásia<br />
Desde mea<strong>do</strong>s de 2002 eu havia combina<strong>do</strong> , com minha filha Paula<br />
e seu mari<strong>do</strong> Mark , que iríamos passar o Natal e Ano Novo com eles em<br />
Hong Kong . Já estava com muitas sau<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is e principalmente de meu<br />
netinho Lucca . Alem <strong>do</strong> mais estava morren<strong>do</strong> de vontade de conhecer coisas<br />
<strong>da</strong> China , onde eles estavam viven<strong>do</strong> , em Hong Kong .<br />
Mark ali trabalhava dirigin<strong>do</strong> uma Empresa de Investimentos .<br />
Quan<strong>do</strong> chegou Setembro , Paula telefonou confirman<strong>do</strong> que<br />
esperava por mim e por Vera . Ela havia passa<strong>do</strong> as férias de Junho no<br />
apartamento de Vera , aproveitan<strong>do</strong> para ir até sua fazen<strong>da</strong> em Sorocaba .<br />
Lucca gostara de tu<strong>do</strong>, principalmente de an<strong>da</strong>r à cavalo . Tirou até fotos<br />
monta<strong>do</strong> em um grande cavalo , porem já velhinho ...<br />
Fui então atrás <strong>da</strong> “Air France” , pois minha pesquisa de preços<br />
indicava ser a melhor .. . O roteiro era simples : São Paulo - Paris - Hong<br />
Kong (i<strong>da</strong> e volta) .<br />
Quan<strong>do</strong> estava tu<strong>do</strong> acerta<strong>do</strong> e as passagens já compra<strong>da</strong>s recebi um<br />
telefonema <strong>da</strong> filha Alexandra . Estava indigna<strong>da</strong> . Soube <strong>da</strong> nossa viagem<br />
pela tia Marisa . Queria saber como é que eu iria para a França e não chegava<br />
até Madrid , pelo menos para ver o neto Lorenzo . Argumentava que a<br />
distancia era pouca . Uma hora de vôo . Nesta altura Javier entrou na<br />
conversa telefônica . Foi dizen<strong>do</strong> que a passagem de Paris para Madrid<br />
correria por sua conta . Assim fui intima<strong>do</strong> para ir para Espanha .<br />
Respondi que ia conversar com a “Air France” e voltaria falar com<br />
eles o mais rapi<strong>do</strong> possível .<br />
Liguei imediatamente para a companhia aérea francesa . Para<br />
surpresa minha fui informa<strong>do</strong> que a viagem de Paris para Madrid seria cortesia<br />
<strong>da</strong> própria Air France . A única coisa necessária foi remarcar <strong>da</strong>tas e horários<br />
<strong>da</strong>s passagens , o que foi realiza<strong>do</strong> sem problemas . Iria agora passar 70 dias<br />
fora . O Roteiro mu<strong>do</strong>u para : S. Paulo – Paris – Madrid – Paris – Hong Kong<br />
( i<strong>da</strong> e volta) .<br />
Quan<strong>do</strong> retornei a ligação para Alexandra foi só alegria . Recebi<br />
seu novo endereço e deixei tu<strong>do</strong> combina<strong>do</strong> . Agora iríamos passar os 4 dias<br />
em Paris e depois nosso destino seria Madrid , onde ficaríamos 10 dias ,<br />
conforme Alexandra desejava . A China viria depois . Vera Lúcia quan<strong>do</strong><br />
soube <strong>da</strong> história gostou e muito . Sempre estava disposta para viajar .
– Paris -<br />
No dia 28 de Outubro fomos para Paris em um vôo muito tranqüilo .<br />
Ali já tínhamos reservas no “Hotel du Dragon” , que ficava na “Rue du<br />
Dragon” , em “Saint Germain ” . A indicação era <strong>da</strong> nossa queri<strong>da</strong> amiga<br />
Loélia lá <strong>do</strong> Paulistano . Não era muito dispendioso e ficava em ótimo local.<br />
Logo em frente havia mora<strong>do</strong> Victor Hugo . Ao la<strong>do</strong> uma “boulangerie” onde<br />
to<strong>da</strong>s as manhas fazíamos nosso desjejum com estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Sorbonne .<br />
Chegamos pela manhã e estávamos descansa<strong>do</strong>s , pois <strong>do</strong>rmimos<br />
muito bem no avião . Resolvemos sair passean<strong>do</strong> , apesar de um frio de quase<br />
zero graus ! Saímos a pé , de Saint German na direção <strong>do</strong> Rio Sena . Fomos<br />
paran<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os lugares que gostávamos . Tiran<strong>do</strong> fotos .<br />
No caminho percebi que o nariz de Vera estava fican<strong>do</strong> vermelho<br />
de frio . Alem <strong>do</strong> mais ela estava com dificul<strong>da</strong>des para respirar com o ar<br />
muito gela<strong>do</strong> . Estava colocan<strong>do</strong> um lencinho em frente ao rosto para<br />
enfrentar o frio . Não reclamava na<strong>da</strong> .<br />
Continuamos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> até encontrarmos a Igreja de “Notre Dame” .<br />
Vera nem pensou e foi entran<strong>do</strong> para fugir <strong>da</strong>quele tempo gela<strong>do</strong> . Passei a<br />
mão por sua cabeça e senti que seus cabelos também estavam muito frios .<br />
Visitamos a Notre Dame em to<strong>do</strong>s seus principais detalhes .<br />
Enten<strong>do</strong> que existem igrejas menos famosas , que são mais bonitas .<br />
Entretanto , ali naquela igreja , vale muito mais a Historia que a envolve .<br />
Na saí<strong>da</strong> , antes <strong>do</strong> almoço , vi , em uma lojinha francesa , chapéus<br />
femininos de feltro para o inverno . Vi também mantilhas , de se<strong>da</strong> com<br />
cashemere . Tu<strong>do</strong> muito chique , simples e bonito . Não tive duvi<strong>da</strong>s . Levei<br />
Vera até lá e ela ganhou seus primeiros presentes na Europa . Um chapéu de<br />
feltro combinan<strong>do</strong> com seu casaco e uma mantilha macia que ela achou lin<strong>da</strong> .<br />
Ficou bonita e elegante com a mantilha envolven<strong>do</strong> pescoço e rosto . O<br />
chapeuzinho ficou na cabeça desde o momento em que ela o experimentou .<br />
Depois disto fomos almoçar no Restaurante “Quasimo<strong>do</strong>” . Tem<br />
este nome pois fica ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> “Notre Dame” . “Quasimo<strong>do</strong>” era o tal<br />
“corcun<strong>da</strong>” que vivia na igreja e que salvou a cigana Esmeral<strong>da</strong> !<br />
Ali a comi<strong>da</strong> era simples ( para comi<strong>da</strong> francesa ) mas bem gostosa .<br />
Com Vera devi<strong>da</strong>mente agasalha<strong>da</strong> tivemos coragem para continuar<br />
an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> pelas margens <strong>do</strong> Sena , ven<strong>do</strong> e conhecen<strong>do</strong> as belezas <strong>do</strong> lugar e<br />
os artistas pintores parisienses . Depois , quan<strong>do</strong> sentimos que poderia<br />
rapi<strong>da</strong>mente escurecer , fomos de volta para o Hotel Dragon em Saint<br />
German. No caminho paramos no maravilhoso supermerca<strong>do</strong> “Bom Marché”.<br />
Compramos frutas , suco de laranja , pães de vários tipos , queijos e frios .<br />
Durante a noite fizemos gostoso “pic-nic” em frente <strong>da</strong> televisão .<br />
Ficamos assistin<strong>do</strong> a opera “Carmen” , em ótima apresentação.
No outro dia nossa dedicação total foi para Museus . Pela manhã<br />
direto para o “D’orsay”, onde também almoçamos no seu simpático<br />
restaurante . A comi<strong>da</strong> estava maravilhosa ( com to<strong>da</strong>s as letras ) . Por isto<br />
mesmo nossa visita ao “Louvre” não foi nem a mais demora<strong>da</strong> , nem a mais<br />
instrutiva . Como deveria ser naquele dia . Mas valeu . Depois de um grande<br />
almoço não é possível visitar museus . Voltamos na manhã <strong>do</strong> outro dia.<br />
Naquela noite resolvemos repetir o “pic-nic” em frente <strong>da</strong> televisão<br />
Antes de <strong>do</strong>rmir combinamos passeio por to<strong>da</strong> Paris no conheci<strong>do</strong><br />
Ônibus Turístico . Você pode tomar e descer em qualquer lugar . Depois com<br />
a mesma passagem continuará percorren<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong>de .<br />
Logo ce<strong>do</strong> pegamos o tal “vermelhinho” e ficamos giran<strong>do</strong> e<br />
paran<strong>do</strong> por to<strong>da</strong> Paris . Nem almoçamos . Em muitos lugares , por onde<br />
parávamos , fomos toman<strong>do</strong> pequenos lanches . Deliciosos .<br />
A noite fomos passear por Saint German . O frio estava demais e<br />
depois de alguns quarteirões entramos em um “Café Parisiense” para tomar o<br />
chá mais caro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . Muito ruim . Frio por frio , foi melhor an<strong>da</strong>r pela<br />
rua gela<strong>da</strong> e voltar para o hotel .<br />
Naquela noite ficamos lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong> pequena “Boulangerie” onde<br />
to<strong>da</strong>s as manhãs vínhamos toman<strong>do</strong> desjejuns magníficos . Ele ficava quase<br />
em frente <strong>do</strong> nosso hotel .<br />
Não deu outra . Na manhã de nossa parti<strong>da</strong> fomos para lá bem ce<strong>do</strong>,<br />
tomar o gostoso café matinal naquela “Boulangerie du Dragon” ( este era o<br />
nome , se não me engano ) . Desta vez foi sem pressa , bem demora<strong>do</strong> ,<br />
saborean<strong>do</strong> inclusive aquela deliciosa tortinha de morangos .<br />
Quan<strong>do</strong> estávamos sain<strong>do</strong> vimos o taxi chegan<strong>do</strong> . Bem na hora<br />
combina<strong>da</strong> . Pegou as nossas malas e pronto .<br />
Fomos diretamente para o aeroporto . Era um dia nacional qualquer.<br />
No caminho encontramos ruas cheias de sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s bem uniformiza<strong>do</strong>s e<br />
cavalos bonitos . Bandeiras tricolores hastea<strong>da</strong>s em vários locais .<br />
Madrid<br />
Já dentro <strong>do</strong> avião , a caminho de Madrid , fiquei desejan<strong>do</strong> que lá<br />
poderia estar um pouco mais quente . Logo depois a televisão de bor<strong>do</strong> ,<br />
fixa<strong>da</strong> na poltrona <strong>da</strong> frente , contava que o frio era praticamente o mesmo que<br />
aquele de Paris . Quan<strong>do</strong> saímos <strong>do</strong> avião o frio foi confirma<strong>do</strong> .<br />
No carro que nos levava para a casa de Alexandra tive oportuni<strong>da</strong>de<br />
de ver como Madrid estava realmente lin<strong>da</strong> . As ruas largas , muito limpas e<br />
bem arboriza<strong>da</strong>s . O transito funcionan<strong>do</strong> ! Lin<strong>da</strong>s estatuas , Grandes Arcos e<br />
muitas Fontes em quase to<strong>da</strong>s as aveni<strong>da</strong>s . Não se an<strong>da</strong>va muito para<br />
encontrar um Parque , com to<strong>do</strong> aquele verde bem majestoso .
Os prédios públicos , muito bem conserva<strong>do</strong>s , sempre tinham um<br />
bonito jardim em frente . Madrid marca muito por ser bem arruma<strong>da</strong> em to<strong>do</strong>s<br />
detalhes . Rapi<strong>da</strong>mente já estávamos no Bairro <strong>da</strong> Xan<strong>da</strong> .<br />
Chegamos . “Calle de los Alhelies” . A casa de Xan<strong>da</strong> e Javier tem<br />
jardim em <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s , pois é de esquina . Mal tocamos a campainha e a<br />
cachorra<strong>da</strong> já ficou latin<strong>do</strong> .<br />
Xan<strong>da</strong> junto com Lorenzo vieram corren<strong>do</strong> abrir o portão .<br />
Foram muitos beijos e abraços no meio <strong>da</strong>queles <strong>do</strong>is “Poodles”<br />
que não paravam de latir . Queriam nossa atenção . “Delon” é um velho cão<br />
conheci<strong>do</strong> meu , mas a cachorrinha “Lana” era novi<strong>da</strong>de .<br />
Fomos entran<strong>do</strong> levan<strong>do</strong> as malas . As emprega<strong>da</strong>s aju<strong>da</strong>ram ,<br />
apesar <strong>do</strong>s “poodles” se enfiarem entre nossas pernas , geran<strong>do</strong> alegria e<br />
confusão ao mesmo tempo .<br />
A casa , apesar de ser grande , possui apenas <strong>do</strong>is quartos . Por isto<br />
mesmo ficamos hospe<strong>da</strong><strong>do</strong>s no pequeno pavilhão existente junto ao pátio<br />
interno, ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> piscina . A suite nele existente é bem pequena mas tem<br />
inclusive ar condiciona<strong>do</strong> . Ali no verão deve ser muito gostoso , pois depois<br />
de um banho de piscina se pode <strong>do</strong>rmir logo ao la<strong>do</strong> . No inverno facilita o<br />
aconchego de duas pessoas . Tu<strong>do</strong> ali é apertadinho .<br />
Esperamos Javier . Depois <strong>do</strong>s abraços e entrega <strong>do</strong>s presentes,<br />
fomos com ele jantar em um restaurante típico <strong>da</strong> Galícia . Muito gostoso .<br />
Para variar , ele que gosta de vinho , encomen<strong>do</strong>u um tinto especial . Naquela<br />
noite <strong>do</strong>rmi quentinho e feliz .<br />
No outro dia , um Domingo , Javier nos mostrou to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um giro em Madrid com seu carro . Fiquei impressiona<strong>do</strong> com a beleza<br />
e conservação de to<strong>do</strong>s prédios governamentais .<br />
Apesar de alguns pequenos ataques de malcriação , Xan<strong>da</strong> foi ótima<br />
cicerone . Estranhei , pois ela sempre foi ao mesmo tempo meiga e briguenta .<br />
Malcria<strong>da</strong> nunca . Mesmo assim , em to<strong>do</strong>s aqueles dias , nos levou para<br />
conhecermos muitas coisas .<br />
Fomos ao maravilhoso Palácio Real . Passeamos em seus jardins e<br />
entramos em sua catedral . Fomos a antiga Estação “ La Tocha” ( não guardei<br />
o nome direito ) onde almoçamos , ten<strong>do</strong> em volta seus maravilhosos jardins<br />
de inverno , cheio de plantas tropicais .<br />
Atendemos gentil convite <strong>da</strong> senhora mãe de Javier . Xan<strong>da</strong> nos<br />
levou e nos apresentou . Depois ficamos para comer um cosi<strong>do</strong> típico<br />
espanhol em seu apartamento . Divino e maravilhoso .<br />
No outro dia ela nos levou para ver as lojas . Eu acabei ganhan<strong>do</strong><br />
uma japona de inverno e Vera uma casaco compri<strong>do</strong> . Depois fomos conhecer<br />
uma Arena de Touros , onde a estatuária é espetacular . To<strong>do</strong> lugar e
magnifico . No final <strong>da</strong> tarde tomamos lanche em uma Cafeteria onde Javier<br />
também é sócio . Lorenzo aproveitou para se divertir naquele lugar .<br />
Tole<strong>do</strong> –<br />
O dia seguinte foi tira<strong>do</strong> para conhecermos a ci<strong>da</strong>de de Tole<strong>do</strong> .<br />
Fica apenas uma hora de carro de Madrid . Ir para aquele lugar é realizar uma<br />
volta ao passa<strong>do</strong> medieval . To<strong>da</strong>s as construções tem séculos . Castelos,<br />
Muralhas e suas ameias , Torreões fortifica<strong>do</strong>s , Pontes elevadíças , Mansões<br />
centenárias , Arcos e Portais magníficos .<br />
Tu<strong>do</strong> está perfeitamente conserva<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> ali é muito lin<strong>do</strong> ,<br />
principalmente sua Catedral com mais de oito séculos de existência . As ruas<br />
tortuosas , continuam <strong>da</strong> mesma forma como foram construí<strong>da</strong>s . Apenas por<br />
ali , sem destoar a arquitetura, encontramos ótimos restaurantes e muitas<br />
lojas. . A<strong>do</strong>rei aquele passeio , principalmente por que fomos com Lorenzo<br />
meu netinho .<br />
Escorial<br />
-Não poderíamos deixar de conhecer o “El Escorial” . Vera e eu<br />
tiramos um dia para visitarmos aquela famosa construção . Saímos bem ce<strong>do</strong><br />
para a Estação indica<strong>da</strong> . Fomos tomar o trem para chegar a ci<strong>da</strong>dezinha que<br />
fica uma hora de Madrid . Está situa<strong>da</strong> no topo de uma montanha .<br />
A viagem é maravilhosa , pois o trem tem <strong>do</strong>is an<strong>da</strong>res e<br />
espetacular janelas panorâmicas . Alem <strong>do</strong> que corre quase 200 km. por hora .<br />
A primeira visão Del Escorial , depois que você sobe a montanha ,<br />
mexe com seus sentimentos . Aquela imensa construção de pedras é realmente<br />
imponente . Foi construí<strong>da</strong> por ordem de Felipe II , na época o maior<br />
impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . Tu<strong>do</strong> ali foi realiza<strong>do</strong> pelos maiores artistas <strong>da</strong> época ,<br />
inclusive com obras de “El Greco” , muitas <strong>da</strong>s quais encontram-se atualmente<br />
<strong>do</strong> Museu <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> – Madrid . To<strong>da</strong> a parte de madeiras é <strong>da</strong> maior quali<strong>da</strong>de<br />
já vista . Existe uma Sala chama<strong>da</strong> “Das Batalhas” onde as maiores vitórias<br />
militares de Felipe II são demonstra<strong>da</strong>s em afrescos , pinta<strong>do</strong>s em parede de<br />
50 metros de comprimento . É impossível visitar Espanha e não conhecer El<br />
Escorial . Logo depois de sua saí<strong>da</strong> , descen<strong>do</strong> a encosta <strong>da</strong> montanha , em um<br />
caminho coberto por lin<strong>da</strong>s arvores centenárias , você encontrará o<br />
maravilhoso “Palácio <strong>do</strong> Príncipe <strong>da</strong>s Asturias” .<br />
Bem , se os dias foram movimenta<strong>do</strong>s , imagine as noites .<br />
O único dia que jantamos em casa foi quan<strong>do</strong> Vera , Javier e Xan<strong>da</strong><br />
se comprometeram cozinhar uma feijoa<strong>da</strong> para os irmãos , irmãs , cunha<strong>do</strong>s ,<br />
cunha<strong>da</strong>s e amigos <strong>da</strong> família , sem saber se encontrariam as coisas ,<br />
condimentos e pertences para feijoa<strong>da</strong> . Nem sei direito como Vera conseguiu<br />
e fez . Saiu uma feijoa<strong>da</strong> estiliza<strong>da</strong> , mas saiu . Agra<strong>do</strong>u a to<strong>do</strong>s e ela ganhou<br />
presente. <strong>da</strong> irmã <strong>do</strong> Javier . Foi feijoa<strong>da</strong> alegre . Caipirinha não faltou .
Em outra noite fomos ao futebol ver o Real Madrid no Estádio<br />
Santiago Barnabeu . Dois dias depois fomos ao “Circo Du Soleil” . Aquelas<br />
noites e nas outras demais fomos jantar fora , sempre com familiares ou<br />
amigos de Javier , toman<strong>do</strong> vinho como ele gosta . Dos melhores e mais<br />
finos. Sempre espanhóis . Vera e eu íamos <strong>do</strong>rmir quentinhos !<br />
Lorenzo estava muito alegre e se divertia com os cachorrinhos .<br />
Aquela seria a última manhã que eu brincaria com meu neto naquela<br />
viagem . Esperei Vera chegar para um passeio a pé . Dei um beijo nele e em<br />
Xan<strong>da</strong> . Fomos no caminho <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Achei um Correio .<br />
Coloquei to<strong>do</strong>s os cartões postais para os amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />
Logo adiante Vera encontrou uma loja onde comprou uma caixinha de música<br />
em forma de carrossel .<br />
Depois , quan<strong>do</strong> chegamos mais adiante , em uma praça ampla<br />
conseguiu três mantilhas para levar de presente .<br />
Na volta para casa de Xan<strong>da</strong> eu já estava com sau<strong>da</strong>des de minha<br />
filha, de Lorenzo e de Javier . Também de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s . E <strong>da</strong> Espanha.<br />
No fim <strong>da</strong> tarde : Despedi<strong>da</strong>s e caminho <strong>do</strong> Aeroporto .<br />
CHINA : HONG KONG – LANTAU - MACAU<br />
- Hong Kong– A noite , quan<strong>do</strong> entrei no avião , fui lembran<strong>do</strong> que<br />
naquele vôo teríamos de enfrentar quase 13 horas horas de viagem sem<br />
escalas. Uma viagem difícil ! Mesmo viajan<strong>do</strong> pela Air France .<br />
Havia fala<strong>do</strong> em dias anteriores com Paula , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> o numero <strong>do</strong><br />
vôo e a hora prevista para chega<strong>da</strong> . Estávamos combina<strong>do</strong>s que ela estaria<br />
nos esperan<strong>do</strong> no aeroporto . Chegar sozinho em Hong Kong , sem falar<br />
chinês , não <strong>da</strong>va muita confiança . Em caso de desencontro , como última<br />
saí<strong>da</strong> , tinha em mãos o endereço de sua casa .<br />
Finalmente chegamos . Mais mortos que vivos . Na saí<strong>da</strong> ficamos<br />
analisan<strong>do</strong> aquele espetacular aeroporto . E encontramos dificul<strong>da</strong>des com o<br />
primeiro encontro com desconheci<strong>da</strong>s moderni<strong>da</strong>des . Para que la<strong>do</strong><br />
deveríamos tomar o “Metro Interno <strong>do</strong> Aeroporto” para chegar até a saí<strong>da</strong>?<br />
Resolvemos seguir a maioria . Deu certo no começo . Depois encontramos<br />
duas sadias A e B . Em qual Paula estaria esperan<strong>do</strong> ?<br />
Resolvemos que Vera iria pela A e eu pela B . Também deu certo ,<br />
pois logo depois Lucca , apesar de seus tres anos , reconheceu Vera e correu<br />
para seu colo . Foi ganhan<strong>do</strong> beijos . Em segui<strong>da</strong> Mark e Cora já estavam ao<br />
seu la<strong>do</strong> . Foram me buscar logo depois. Então fui eu que ganhei beijos e<br />
abraços . Com meu netinho Lucca agora em meu colo .<br />
E Paula ? Onde estava ?
Mark explicou que ela estava <strong>da</strong>n<strong>do</strong> treinamento em Singapura e<br />
que não deu para chegar em tempo . Estava vin<strong>do</strong> para Hong Kong .<br />
No caminho para casa , Mark nos foi mostran<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong>de .<br />
Passamos pela ponte mais extensa <strong>do</strong> planeta , logo depois <strong>do</strong> aeroporto .<br />
Hong Kong é sem duvi<strong>da</strong> a mais moderna ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> . Em tu<strong>do</strong> e por<br />
tu<strong>do</strong> . É muito bonita em sua topografia . Parece o Rio de Janeiro , com<br />
montanhas , praias , mar , baías e muito verde . Alem <strong>do</strong> mais contem o maior<br />
numero de arranha –céus por metro quadra<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . São prédios<br />
enormes, sempre com mais de 50 an<strong>da</strong>res , em sua média . Ca<strong>da</strong> um tentan<strong>do</strong><br />
ser mais arroja<strong>do</strong> que o outro na arquitetura .<br />
Ali to<strong>do</strong>s os taxis são <strong>da</strong> mesma marca e tem cor vermelha e preto ,<br />
fácil de identificar . O transito funciona perfeitamente , apesar <strong>da</strong>s várias<br />
linhas de bondes com 2 an<strong>da</strong>res e <strong>do</strong>s muitos ônibus com ar condiciona<strong>do</strong>,<br />
sain<strong>do</strong> para to<strong>da</strong>s direções . Tu<strong>do</strong> é muito limpo e cheio de jardins .<br />
Mark foi explican<strong>do</strong> que agora a higiene é meta de to<strong>do</strong>s<br />
governantes chineses . Nisto Hong Kong ain<strong>da</strong> está na frente de outras ci<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> China . O Governo para tanto , como já aconteceu antigamente nos Esta<strong>do</strong>s<br />
Uni<strong>do</strong>s e países <strong>da</strong> Europa , multa até quem cuspir no chão .<br />
Tu<strong>do</strong> em Hong Kong deve ser sempre o mais moderno existente .<br />
Por muitas razões e princípios de merca<strong>do</strong>logia , bem como por fatores<br />
relativos aos custos , quase to<strong>da</strong>s as grandes industrias mundiais e/ou<br />
empresas com muita importância internacional tem sede ou filial na ci<strong>da</strong>de .<br />
Hoje ela já voltou a fazer parte integrante <strong>da</strong> China . Entretanto ,<br />
continua com Administração Especial , até os próximos 2 anos .<br />
Ali é o local onde mais encontramos os carros mais caros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>:<br />
Bentley , Rolls Royce , Ferrari , Porche , Lanborguine . Eles passam por você<br />
a to<strong>da</strong> hora . O chinês rico a<strong>do</strong>ra ser “snobe”. Discretamente ...<br />
Chegamos ao apto de Paula /Mark . Fica no alto de uma colina ,<br />
com espetacular vista para a praia e para a baia . Fiquei conhecen<strong>do</strong> a outra<br />
babá <strong>do</strong> Lucca - Dália . Também a gatinha “Natasha”. Ela é muito lin<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
raça “ Blue Russian” . Apesar de mansinha Lucca não gosta dela . Fica longe .<br />
Acho que puxou o seu rabo e foi arranha<strong>do</strong> .<br />
Paula chegou quan<strong>do</strong> já estávamos in<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmir . Foi uma festa no<br />
nosso quarto , com Lucca fazen<strong>do</strong> a maior bagunça . Nota : Aquela “bagunça”<br />
virou tradicional . To<strong>do</strong> tempo em que estivemos em Hong Kong , em to<strong>da</strong>s as<br />
noites , Lucca ia para nossa cama e fazíamos barracas com os lençóis , lógico<br />
com ele lá em baixo fazen<strong>do</strong> folia . Até hoje ele lembra .<br />
No outro dia , Sába<strong>do</strong> , Paula convi<strong>do</strong>u para an<strong>da</strong>rmos nas<br />
montanhas . Calcei um mocassino leve e fomos com ela ,Vera e Mark .
Acontece que “an<strong>da</strong>r na montanha era escalar montanha” . Com aquele sapato<br />
derrapan<strong>do</strong> e sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> pé não conseguiria escalar nem uma mureta ... quanto<br />
mais uma montanha . Paramos de subir e fomos an<strong>da</strong>r por uma estradinha em<br />
cima <strong>da</strong>s montanhas , ven<strong>do</strong> de um la<strong>do</strong> os lagos artificiais que existem nas<br />
montanhas de Hong Kong ( São reservas de água <strong>do</strong>ce ,forma<strong>da</strong>s pelas chuvas<br />
e pequenos córregos perfeitamente guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s ) , e <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> o mar .<br />
An<strong>da</strong>mos até chegarmos em uma pequena locali<strong>da</strong>de chama<strong>da</strong><br />
“Stanley” . Ali é o bairro “Paraíso <strong>do</strong> Turista” . Você poderá comprar tu<strong>do</strong> :<br />
tênis , eletro <strong>do</strong>mesticos , roupas , perfumes , pinturas e até pérolas . Lembro<br />
que voltamos depois para lá mais uma vez . Compramos muitas coisas .<br />
Vera levou lin<strong>do</strong> conjunto de pérolas negras . Em outro dia , com Paula e<br />
Mark , ganhei um tênis e uma calça curta . A<strong>do</strong>rei , mas deixei claro que : -<br />
“sem tênis ou com tênis não iria mais escalar montanhas” . Os meus 72 anos<br />
estavam pesan<strong>do</strong> muito para escalar !...<br />
Aqueles primeiros dias em Hong Kong foram muito agradáveis . De<br />
manhã eu saia com Vera para passear pelas praias . Andávamos por duas<br />
horas. .O inverno ali é muito suave . Pelas tardes conhecíamos locais de Hong<br />
Kong . Em uma delas fomos até o “Centro Velho” onde Vera adquiriu se<strong>da</strong>s<br />
puras muito bonitas . Fomos e voltamos de bonde. De <strong>do</strong>is an<strong>da</strong>res !<br />
As noites quase sempre tínhamos reuniões em casas <strong>do</strong>s amigos e<br />
amigas de Paula e Mark . Lembro que a vizinha de Paula , chama<strong>da</strong> Andréa ,<br />
uma brasileira bonita e simpática , casa<strong>da</strong> com um filho de inglês com<br />
portuguesa , nos convi<strong>do</strong>u para um jantar brasileiro . Foi muito gostoso ,<br />
principalmente pelo carinho demonstra<strong>do</strong> para outros brasileiros . Outra que<br />
nos tratou maravilhosamente foi a amiga de Paula . Ela se chama Emac , é<br />
grega e estava com uma filhinha nova . No final , quan<strong>do</strong> de nossa volta,<br />
ganhei um “OlhoGrego”, destina<strong>do</strong> a espantar o “mal olha<strong>do</strong>” .<br />
Quan<strong>do</strong> estávamos sem convite então íamos jantar fora . Mark foi<br />
sempre muito gentil nos convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Pela primeira vez tomei vinho <strong>da</strong> Nova<br />
Zelândia . Muito Bom ! Vera também tomou e gostou .<br />
China – Lantau –<br />
De acor<strong>do</strong> com informações de um livro sobre turismo na China ,<br />
achei que seria um bom passeio visitar a ilha de Lantau . Falei com Mark e<br />
ele me confirmou que valeria a pena ir até a ilha , pois o lugar é muito lin<strong>do</strong> ,<br />
místico e possui o maior Bu<strong>da</strong> fundi<strong>do</strong> em bronze <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />
A i<strong>da</strong> poderia ser feita em Lanchas Especiais – Catamarans . Eram<br />
enormes , parecen<strong>do</strong> mini navios , super rápi<strong>da</strong>s e em uma hora estaríamos lá<br />
na ilha . Falei com Vera e resolvemos ir até lá no dia seguinte .<br />
Bem ce<strong>do</strong> Mark nos levou até o Embarca<strong>do</strong>uro para Lantau . Tu<strong>do</strong><br />
muito fácil . Em 10 minutos já havíamos pago as passagens e já estávamos a
or<strong>do</strong> , esperan<strong>do</strong> a parti<strong>da</strong> . Nem sentimos quan<strong>do</strong> a lancha partiu . Foi muito<br />
suave mas rapi<strong>da</strong>mente alcançava espantosa veloci<strong>da</strong>de , sem trepi<strong>da</strong>r . Pude<br />
então reparar que internamente ela mais parecia um avião , com televisão , bar<br />
a bor<strong>do</strong> , cadeiras giratórias e muito mais coisas . Fomos comentan<strong>do</strong> o que<br />
víamos e reparan<strong>do</strong> as paisagens passan<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente . Quan<strong>do</strong> demos conta<br />
estávamos atracan<strong>do</strong> no cais de Lantau .<br />
Um ônibus de turismo nos levou até o topo <strong>da</strong> montanha . Levou<br />
quase uma hora , pois o caminho é difícil , costean<strong>do</strong> a montanha em estra<strong>da</strong><br />
estreita . Subimos <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mar até 1.000 metros de altura .<br />
La de cima , em um platô , a vista é incrível . Os aviões que vão<br />
para Macau ou Hong Kong passam mais baixo <strong>do</strong> que o ponto onde você está .<br />
Você vê o avião olhan<strong>do</strong> para baixo . A vista sempre atinge no mínimo 180<br />
graus . Você verá então quase to<strong>da</strong>s pequenas ilhas <strong>da</strong>quela região .<br />
Marca muito aquele local uma melodia suave que vai tocan<strong>do</strong><br />
sempre , por to<strong>da</strong> parte . É mística . Ela parece combinar com a brisa suave<br />
que por ali persiste . O mais importante : De qualquer la<strong>do</strong> que você olhar para<br />
cima verá sempre o enorme Bu<strong>da</strong> de bronze . Ele toma conta <strong>da</strong> paisagem. .<br />
O problema é chegar até ele , que fica no topo de um morro , que<br />
tem uma esca<strong>da</strong>ria com 1.000 degraus . Combinei com Vera que subiria<br />
paran<strong>do</strong> em duas etapas . Não deu . Fui obriga<strong>do</strong> parar cinco vezes para tomar<br />
fôlego e chegar ao Bu<strong>da</strong> de Bronze . Para se ter idéia de seu tamanho vou<br />
lembrar que em sua base existe um museu , relatan<strong>do</strong> a forma de sua<br />
existência e construção , bem como loja de artigos religiosos .<br />
Tão difícil como subir é descer de volta . No meio <strong>do</strong> caminho a<br />
perna fica bamba e você é obriga<strong>do</strong> a parar e refrescar as pernas que já<br />
ferveram ...<br />
Quan<strong>do</strong> chegamos respiramos um pouco , descansamos as pernas e<br />
fomos almoçar . O bilhete que você compra para ver o Bu<strong>da</strong> dá direito ao<br />
almoço . Por sinal bom . Voltei <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> no ônibus , depois no barco .<br />
Macau- China<br />
Com base no sucesso <strong>da</strong> primeira viagem de lancha resolvemos<br />
realizar nossa i<strong>da</strong> para Macau . A viagem seria um pouco mais longa , com<br />
hora e meia . Dois dias depois já estávamos a caminho . O barco era ain<strong>da</strong><br />
maior e ain<strong>da</strong> mais rapi<strong>do</strong> . Alem <strong>do</strong> mais aquele tinha <strong>do</strong>is an<strong>da</strong>res. Fomos<br />
na parte de cima para ver melhor , pois a vista <strong>do</strong> mar e <strong>da</strong> região é bonita .<br />
Como sempre naqueles barcos a viagem foi maravilhosa .<br />
Chegamos sem sentir . Boa viagem . Desta vez escolhemos um taxi<br />
para nos conduzir por Macau . O seu motorista falava um pouco de português,<br />
o que foi muito bom . Atualmente em Macau apenas 5% <strong>do</strong>s habitantes falam<br />
um péssimo português . A primeira coisa que notamos , mesmo antes de
tomarmos o taxi , foi uma imensa torre destina<strong>da</strong> a televisão . Ela é a maior <strong>da</strong><br />
Ásia e uma <strong>da</strong>s mais altas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . No alto ela possui um restaurante<br />
famoso .<br />
Ao seu la<strong>do</strong> também uma enorme estatua de mulher . Ela é <strong>da</strong><br />
deusa marinha “Agau” , que deu nome ao ci<strong>da</strong>de e região .<br />
O primeiro lugar que visitamos foi o “Forte <strong>do</strong> Monte” , ain<strong>da</strong> com<br />
seus canhões coloca<strong>do</strong>s estrategicamente , cobrin<strong>do</strong> to<strong>da</strong> aquela área . Porem<br />
ao la<strong>do</strong> deles muitas flores e belas arvores .<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> forte , ain<strong>da</strong> de pé somente a bela facha<strong>da</strong> de pedra <strong>da</strong><br />
antiga “Igreja de São Francisco” . O restante <strong>do</strong> corpo <strong>da</strong> igreja caiu quan<strong>do</strong><br />
ela pegou fogo . Isto aconteceu na época <strong>da</strong>s batalhas com os holandeses que<br />
tentavam tomar a ci<strong>da</strong>de . Na praça em sua frente enorme canteiro com<br />
milhares de flores colori<strong>da</strong>s .<br />
Duas figuras de muita relevância histórica mundial viveram em<br />
Macau . O poeta “Camões” que ali escreveu parte <strong>do</strong>s Lusía<strong>da</strong>s . O primeiro<br />
Presidente <strong>da</strong> China Republicana – “Sun Yat-Sen” .<br />
Macau foi de extrema importância como base <strong>da</strong>s exportações de<br />
Portugal para a Europa . Irá perder grande parte de seus negócios mediante a<br />
toma<strong>da</strong> de Hong Kong pelos ingleses , através <strong>da</strong> “Guerra <strong>do</strong> Ópio”, por eles<br />
provoca<strong>da</strong> junto com os americanos , para introduzir droga <strong>do</strong> ópio na China .<br />
Hoje Macau é de grande importância turística para a China . Ali<br />
encontramos grande complexo de Cassinos que funcionam com jogos 24 horas<br />
por dia . Alem <strong>do</strong>s sete já existentes estão em construção mais 5 cassinos :<br />
americanos , franceses e chineses . Vai se tornar , em breve , o maior centro<br />
de cassinos <strong>do</strong> mu<strong>do</strong> . Para tanto o Aeroporto Internacional de Macau recebe<br />
continua<strong>da</strong>mente gente de to<strong>da</strong> Ásia que deseja jogar .<br />
Macau é ain<strong>da</strong> procura<strong>da</strong> para “Corri<strong>da</strong>s de Cavalo” e de<br />
“Cachorros” , para compra de Pérolas , pois é grande produtora . Para<br />
Corri<strong>da</strong>s de Formula 2 de Automobilismo . As compras em geral são atração<br />
pelos preços que apresentam , geralmente muito baixos .<br />
Outro grande atrativo são as antigas construções coloniais<br />
portuguesas . Elas estão na parte antiga e tradicional <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , perfeitamente<br />
conserva<strong>da</strong>s pelos chineses , que foram pintan<strong>do</strong> , arruman<strong>do</strong> e reforman<strong>do</strong><br />
tu<strong>do</strong> , inclusive seus maravilhosos telha<strong>do</strong>s e seus ladrilhos .<br />
As ruas , praças e edifícios mantém os nomes portugueses . Assim<br />
você encontra a “Praça Lusitana” , a “Rua <strong>do</strong>s Guimarães” e a “Travessa <strong>do</strong><br />
Quintas” , “Aveni<strong>da</strong> Lousa<strong>da</strong>” . To<strong>da</strong>s ruas tem nomes portugueses escritos<br />
em letras romanas . Encontra ain<strong>da</strong> no frontispício <strong>do</strong>s prédios públicos nomes<br />
portugueses como : - “<strong>Casa</strong> de Saúde” , “Ginásio Municipal” “Câmara e<br />
Sena<strong>do</strong> de Macau” . Os chineses fazem questão de manter estes nomes
tradicionais . Também a moe<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> é portuguesa : - a “Pataca” , apesar de<br />
Macau ser inteiramente controla<strong>da</strong> pelos chineses . Eles entendem como<br />
sen<strong>do</strong> grande atração as coisas tradicionais . É pura ver<strong>da</strong>de !<br />
A moderni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de é encontra<strong>da</strong> em outro la<strong>do</strong> , onde existem<br />
inúmeros arranha céus , escritórios , lojas de departamentos , <strong>do</strong>is grandes<br />
lagos salga<strong>do</strong>s artificiais , hotéis internacionais , restaurantes , bares noturnos<br />
com musica e uma enorme estatua ilumina<strong>da</strong> representan<strong>do</strong> a Flor de Lótus .<br />
Voltamos de Macau encanta<strong>do</strong>s . É lugar que , principalmente para<br />
nós que somos descendentes de portugueses , vale a pena conhecer .<br />
CHINA : BEIJING – XIAN<br />
Dois dias depois Paula nos proporcionou grande surpresa .<br />
Beijing (Pequim ) - Nós iríamos , dentro de três dias , visitar e<br />
conhecer duas ci<strong>da</strong>des mais ao <strong>da</strong> norte <strong>da</strong> China . Primeiro Beijing = Pequim<br />
e depois Xian . Lá se fala o “Man<strong>da</strong>rim” , que é a língua oficial chinesa . No<br />
sul , em Hong Kong , ain<strong>da</strong> se fala o “Cantonês” , mas man<strong>da</strong>rim é oficial .<br />
Iriamos de avião e ficaríamos na casa de uma amiga de Paula ( ela é<br />
brasileira , casa<strong>da</strong> com o Vice Presidente <strong>da</strong> Souza Cruz chinesa ) . Depois ,<br />
ain<strong>da</strong> por avião , nosso destino seria Xian , onde conheceríamos os<br />
“Guerreiros de Terracota”.<br />
A surpresa não poderia ser melhor . Tratamos de arrumar uma mala<br />
para nós <strong>do</strong>is . Levaríamos roupas de inverno pois Paula informou que lá o<br />
frio era forte . Lucca e Cora iram conosco . Mark tinha trabalho . Ficaria .<br />
O jato <strong>da</strong> “Air China’ decolou com suavi<strong>da</strong>de e aterrizou <strong>da</strong> mesma<br />
forma . Sem trancos , sem frea<strong>da</strong>s bruscas . Admirei a habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele<br />
piloto chinês . Chegamos sem problemas em outro imponente aeroporto .<br />
Na saí<strong>da</strong> já encontramos uma guia profissional , contrata<strong>da</strong> por<br />
Paula , um motorista e uma grande perua . Com ela fomos até a casa <strong>da</strong> amiga<br />
de Paula , Ficava num maravilhoso con<strong>do</strong>mínio , to<strong>do</strong> cerca<strong>do</strong> de guar<strong>da</strong>s e<br />
aparentan<strong>do</strong> muita segurança . A casa era muito grande , decora<strong>da</strong> no estilo<br />
ocidental mas com peças chinesas de grande quali<strong>da</strong>de . A sala de visitas alem<br />
de grande tinha o pé direito duplo . tu<strong>do</strong> ali era espaçoso , inclusive as 5 suites<br />
existentes . A casa poderia estar nos Jardins ou em Hollywood . Para entrar<br />
tiravam-se os sapatos . Colocamos então sandálias chinesas .<br />
Os <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> casa estavam viajan<strong>do</strong> , por isto fomos recebi<strong>do</strong>s por<br />
uma governanta . É chinesa e não fala inglês . Tu<strong>do</strong> an<strong>do</strong>u na pura mímica .<br />
Depois <strong>do</strong> almoço fomos para a ci<strong>da</strong>de . Ela é imensa . Beijin deve<br />
estar com 13 milhões de habitantes . No caminho , bem como em to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
só encontramos automóveis , peruas e ônibus modernos . As grandes fabricas
mundiais hoje tem fabricas na China , principalmente em Shangai . Alem<br />
delas existem umas 4 fabricas de automóveis inteiramente chinesas . As tais<br />
“Bicicletas em Quanti<strong>da</strong>de” só podem ser encontra<strong>da</strong>s em filmes americanos ,<br />
de propagan<strong>da</strong> contraria a China .<br />
Naquela tarde fomos visitar um Shopping onde se pode comprar<br />
autênticos móveis chineses antigos . São lin<strong>do</strong>s , mas é preciso ter um técnico<br />
para verificar a veraci<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s mesmos , apesar <strong>do</strong>s certifica<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s .<br />
Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Shopping você encontra grande quanti<strong>da</strong>de de cópias<br />
perfeitas <strong>do</strong>s móveis antigos . Poderá compra-los , com preços bem menores .<br />
Muitos estrangeiros os adquirem ali e depois os revendem como autênticos .<br />
Isto vem ocorren<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />
Naquele Shopping também é possível adquirir roupas antigas <strong>do</strong>s<br />
nobres chineses . São <strong>da</strong>s mais puríssimas se<strong>da</strong>s , usa<strong>da</strong>s até o começo <strong>do</strong><br />
século XX apenas pelos nobres . A famosa ultima Imperatriz “Tse- Hsi”<br />
também as usava . Ela que man<strong>da</strong>va até no seu filho Impera<strong>do</strong>r .<br />
As roupas são lin<strong>da</strong>s e aqueles bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s , em fios finíssimos de se<strong>da</strong><br />
colori<strong>da</strong> , com pontos microscópicos , dificilmente não serão ver<strong>da</strong>deiros .<br />
Eram bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s feitos por mulheres que viviam na Corte Imperial só para isto .<br />
Levavam muito tempo para bor<strong>da</strong>r uma única peça . Custam uma fortuna .<br />
Ain<strong>da</strong> naquela tarde fomos visitar uma fabrica que produz objetos<br />
de jade . No local vimos como se fabricam as peças e depois a imensa coleção<br />
maravilhosa destina<strong>da</strong> para a ven<strong>da</strong> . O Jade varia quanto a quali<strong>da</strong>de . Maior<br />
densi<strong>da</strong>de na pedra inicial é melhor . Depois quanto mais verde escuro mais<br />
caro . Suas cores variam <strong>do</strong> verde água até o preto esverdea<strong>do</strong> , passan<strong>do</strong> pelo<br />
verde médio , bege , marrom, vermelho e laranja . Vera comprou um pulseira<br />
que eu gostei muito . Verde garrafa . Pagou caro .<br />
No outro dia bem ce<strong>do</strong> fomos conhecer as “Muralhas <strong>da</strong> China” .<br />
Saímos de “perua” e em 60 minutos já estávamos ven<strong>do</strong> aquela maravilha<br />
quase indescritível . A Muralha perto de Beijin serpenteia , com sua cor<br />
amarela<strong>da</strong> meio ocre , pelos cumes <strong>da</strong>s altas montanhas verdes . Se você não<br />
parar a cabeça , para olhar fixamente , ira parecer que ela está se mexen<strong>do</strong> .<br />
Tu<strong>do</strong> ali agora está muito organiza<strong>do</strong> . Você paga entra<strong>da</strong> e pode<br />
ficar o tempo que quiser . Por ali não existe somente a Muralha , com seus 9<br />
metros de altura e mais 9 metros de largura , construí<strong>da</strong> no topo de ca<strong>da</strong> morro<br />
<strong>da</strong> serra . Desta forma ela fica muito mais alta . Praticamente Inexpugnável !<br />
Encontramos também Torreões de Defesa situa<strong>do</strong>s ao longo <strong>da</strong> Muralha . De<br />
longe em longe Pequenos Fortes em pontos estratégicos <strong>da</strong> Muralha , com<br />
antiquíssimos e raros Canhões . Muitos mastros para muitas bandeiras
colori<strong>da</strong>s , que os chineses continuam manten<strong>do</strong>-as desfral<strong>da</strong><strong>da</strong>s . O<br />
espetáculo <strong>da</strong>quela paisagem fica muito bonito .<br />
Do la<strong>do</strong> de dentro ain<strong>da</strong> estão situa<strong>do</strong>s os alojamentos para sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />
e para os oficiais . São separa<strong>do</strong>s . Encontramos represas com água e as<br />
estrebarias para os animais . Tu<strong>do</strong> o que vimos e de onde vimos está<br />
perfeitamente conserva<strong>do</strong> .<br />
Não é na<strong>da</strong> fácil an<strong>da</strong>r longos percursos na parte de cima <strong>da</strong><br />
Muralha , pois ela sobe e desce , acompanhan<strong>do</strong> as corcovas <strong>da</strong> montanha .<br />
Para tanto existem grande quanti<strong>da</strong>de de altos degraus .<br />
Imagino o que penavam os defensores chineses para correr de um<br />
la<strong>do</strong> para outro , com lanças , espa<strong>da</strong>s , armaduras e tu<strong>do</strong> mais . Em 5 minutos<br />
an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> por ali e eu já estava de língua prá fora. Os degraus são bem altos e<br />
meio desgasta<strong>do</strong>s , dificultan<strong>do</strong> movimentos .<br />
Lá em cima <strong>da</strong>s Muralhas os chineses modernos arrumaram tu<strong>do</strong> .<br />
Tem lanchonete , com coca-cola e cachorro quente . Tem restaurante . Tem<br />
Loja de Lembranças . Tem Fotografo . Por ali alugam fantasias de Guerreiros ,<br />
de Reis e de Imperatrizes , para você ser fotografa<strong>do</strong> .<br />
Não deu outra ! Tirei foto como Guerreiro , com antiga espa<strong>da</strong> na<br />
mão . Depois tirei foto com Vera . Eu na fantasia de Principe e ela de<br />
Princesa. Nós recebemos na hora as fotos que nos transportavam ao passa<strong>do</strong>.<br />
Notei por ali um costume bem diferente . Os noivos compram <strong>do</strong>is<br />
cadea<strong>do</strong>s . Um é fecha<strong>do</strong> junto com o outro , que por sua vez é tranca<strong>do</strong> e<br />
fecha<strong>do</strong> junto a uma corrente fortemente fixa<strong>da</strong> na Muralha . Depois jogam as<br />
chaves fora , diretamente para dentro <strong>da</strong>s represas . Diz a len<strong>da</strong> que enquanto<br />
durar a Muralha , de uma forma ou de outra , os noivos estarão juntos .<br />
Naquela noite fomos visitar a esposa <strong>do</strong> Presidente <strong>da</strong> Souza Cruz<br />
chinesa . Se não me engano seu nome é Marilia . Primeiro fomos a sua casa .<br />
Também fica em um outro con<strong>do</strong>mínio. A casa é ain<strong>da</strong> maior , bem decora<strong>da</strong><br />
e maravilhosa .<br />
A <strong>do</strong>na é elegante e brasileira . Nos recebeu com um coquetel . Foi<br />
muito simpática . Ela fala chinês . É amiga de Paula desde Singapura .<br />
Depois , como eu era o único homem , convidei-as para jantar . A<br />
sugestão foi “pizza” ( achei ótimo) . Saímos e fomos então comer “pizzas” . O<br />
carro que nos conduziu era um Rolls Royce . Então ocorreu o seguinte : -<br />
“Lá são muito caras as tais “pizzas” , pois só são feitas e servi<strong>da</strong>s em um<br />
restaurante chiquérrimo italiano , utiliza<strong>do</strong> pelos milionários estrangeiros de<br />
Beijing . O vinho “chianti italiano” idem ! Dancei ...”<br />
No outro dia fomos ao “ Templo <strong>do</strong> Céu” construí<strong>do</strong> em 1.400 . Em<br />
sua volta existe um grande parque onde velhos e aposenta<strong>do</strong>s se distraem
fazen<strong>do</strong> mil coisas : pintam , declamam , <strong>da</strong>nçam , cantam , conversam ,<br />
fazem ginastica e jogam um tipo de tênis chinês, onde a bola é mole e não<br />
pula . Vera jogou com um senhor . Gostou . Depois comprou raquetes e bola .<br />
Uma <strong>da</strong>s coisas mais bonitas de Beijing é a “Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong>” .<br />
Chegamos lá em uma manhã gela<strong>da</strong> e nebulosa . Antes de irmos para lá Lucca<br />
não quis comer na<strong>da</strong> , nem tomou remédio , nem banho .<br />
Quan<strong>do</strong> chegamos na “ Praça <strong>da</strong> Paz Celestial” , por onde se<br />
chega na “Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong>”, o frio era imenso e caia uma garoa gela<strong>da</strong> .<br />
Lucca ficou gela<strong>do</strong> . Mu<strong>do</strong>u de comportamento : Foi juran<strong>do</strong> que tomava<br />
banho , depois o remédio e depois comeria tu<strong>do</strong> . Queria ir para casa pois dizia<br />
que o frio <strong>do</strong>ía e se sentia muito gela<strong>do</strong> . Paula não teve dúvi<strong>da</strong>s : Chamou o<br />
carro e ordenou que Cora o levasse para casa . ( Cora depois contou que ele<br />
fez tu<strong>do</strong> bem quietinho ).<br />
Sem ele fomos até o centro <strong>da</strong> “Praça <strong>da</strong> Paz Celestial” , onde estava<br />
posiciona<strong>da</strong> uma Gigantesca Bandeira Chinesa- Vermelho Vivo com as 5<br />
estrelas - fixa<strong>da</strong> em um altíssimo mastro . Em ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s seus 4 la<strong>do</strong>s ,<br />
efetuan<strong>do</strong> guar<strong>da</strong> , um Oficial . Vestiam impecáveis far<strong>da</strong>s verdes , com<br />
detalhes brancos e <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s . As luvas também eram brancas . Estavam muito<br />
bem vesti<strong>do</strong>s , elegantes até nos detalhes . .<br />
Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quela imensa praça – a maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>- podia se<br />
ver um muro enorme e compri<strong>do</strong>, na cor laranja avermelha<strong>do</strong> , onde existia<br />
um grande Portal . Era ali a entra<strong>da</strong> para a “Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong>” . Ao seu la<strong>do</strong><br />
um imenso retrato de Mao Tse Tung . Não estava mais ali como político mas<br />
como o Patriarca <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção total <strong>da</strong> China como uma só nação .<br />
Junto a entra<strong>da</strong> “Dois Grandes Dragões de bronze fundi<strong>do</strong>” . Um era<br />
o Macho , e sob sua pata direita estava um globo simbolizan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> . O<br />
outro era a Fêmea e junto <strong>da</strong> pata esquer<strong>da</strong> um menino que simbolizava o<br />
nascimento <strong>do</strong> homem . To<strong>do</strong>s que entravam passavam a mão nos dragões .<br />
A Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> tem aproxima<strong>da</strong>mente 550 anos . Era assim<br />
chama<strong>da</strong> pois ali só entravam os impera<strong>do</strong>res , suas mulheres e concubinas<br />
com seus filhos , os nobres e suas mulheres e filhos , os emprega<strong>do</strong>s<br />
escolhi<strong>do</strong>s e mais chega<strong>do</strong>s , pois eram muito considera<strong>do</strong>s . Entravam<br />
também os generais e coman<strong>da</strong>ntes , com seus principais sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Alguém<br />
<strong>do</strong> povo , comerciante , artesão ou artista que entrasse sem consentimento <strong>do</strong><br />
Impera<strong>do</strong>s era automaticamente executa<strong>do</strong> .<br />
Para que se tenha idéia de seu tamanho : Lá dentro ,onde estão suas<br />
construções , em sua área cerca<strong>da</strong> ,caberiam com folga to<strong>do</strong>s os grandes<br />
castelos <strong>da</strong> Europa . A Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> tem muitos e muitos alqueires de<br />
extensão . Ela é to<strong>da</strong> construí<strong>da</strong> em estilo característico imperial chinês ,
sempre com imensos telha<strong>do</strong>s de quatro águas , com um , <strong>do</strong>is ou três an<strong>da</strong>res<br />
no máximo .<br />
As paredes variam em tons que vão <strong>do</strong> laranja mais claro até o<br />
vermelho escuro . Isto forma uma composição homogênea e bonita que não é<br />
cansativa , pois os detalhes de terraços , <strong>da</strong>s portas , colunas de madeira<br />
sempre pinta<strong>da</strong> em tons escuros chamam a atenção .Sempre pelo bom gosto .<br />
Por to<strong>do</strong> local encontramos mármores muito brancos . Eles quebram<br />
qualquer monotonia possível . Outro fator de harmonia são to<strong>do</strong>s os telha<strong>do</strong>s .<br />
São construí<strong>do</strong>s com telhas brilhantes e vermelhas claras .<br />
Nas suas principais cumeeiras estão coloca<strong>do</strong>s sempre figuras de<br />
pequenos animais como ; macacos , esquilos , galos , pavões , gatos , pássaros<br />
etc. . Eles indicam qual a quanti<strong>da</strong>de de cômo<strong>do</strong>s existente dentro de ca<strong>da</strong><br />
construção .<br />
Do la<strong>do</strong> de fora estão coloca<strong>do</strong>s Imensos Vasos de Bronze ,<br />
destina<strong>do</strong>s a guar<strong>da</strong>r água para possíveis incêndios .<br />
O piso de to<strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> é de pedra cinza , onde as cercas ,<br />
as pontes , as divisas e tu<strong>do</strong> o mais são unicamente feitos de mármore branco .<br />
O Palácio Imperial receberia tranqüilamente mais de mil pessoas<br />
dentro dele . Quanto mais alto a sua posição /posto , maior era o seu palácio .<br />
Ali existem inúmeros jardins . Impressionante , entretanto , é aquele<br />
<strong>do</strong> Palácio de Verão <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r . Nele alem de bosques e matas , existe<br />
ain<strong>da</strong> enorme lago , onde pequenos barcos navegavam .<br />
Cerca<strong>do</strong> por canteiros encontra-se o Palácio de Verão .<br />
Completan<strong>do</strong> aquela construção imponente existe por trás de tu<strong>do</strong><br />
um montanha não muito alta . Foi realiza<strong>da</strong> pelas mãos <strong>do</strong>s chineses para<br />
compor a paisagem deseja<strong>da</strong> .<br />
A Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> , construí<strong>da</strong> no século XIV de forma a isolar e<br />
possibilitar aos Impera<strong>do</strong>res : Total independência , tranqüili<strong>da</strong>de , força ,<br />
obstinação e determinação , perde a razão de ser no começo <strong>do</strong> século XIX .<br />
Durante to<strong>do</strong> século os Impera<strong>do</strong>res <strong>da</strong> dinastia mandchu - Dinastia Qing ,<br />
por inépcia , por excesso <strong>da</strong>s coisas que enfraquecem , mais a falta de brio e<br />
de pulso firme , foram perden<strong>do</strong> territórios <strong>da</strong> China e permitin<strong>do</strong> que países<br />
estrangeiros humilhassem a China, que sempre foi independente por mais de<br />
30 séculos . Com isto perderam totalmente o poder de man<strong>do</strong> . Rapi<strong>da</strong>mente a<br />
Republica vai tomar o controle. Os impera<strong>do</strong>res e sua Corte irão desaparecer .<br />
Xian – Saímos no outro dia , por avião , para a antiga capital <strong>da</strong><br />
China . Xian teve este destaque pelo perío<strong>do</strong> de 10 séculos . Por ali passaram<br />
mais de onze dinastias . A ci<strong>da</strong>de tem 3.000 anos .
Ten<strong>do</strong> sua capital em Xian , o impera<strong>do</strong>r Chi Huang Ti , em 256<br />
AC., derrota os hunos e tártaros . Depois seus rivais chineses . Assim irá<br />
consoli<strong>da</strong>r o seu Império e destruir definitivamente os feu<strong>do</strong>s que<br />
enfraqueciam a China .<br />
Vai em segui<strong>da</strong> unificar to<strong>do</strong>s os Exércitos , criar Moe<strong>da</strong> Única e<br />
Consoli<strong>da</strong>r as Leis . Então toma a decisão de construir a Muralha <strong>da</strong> China .<br />
Ela inicialmente é realiza<strong>da</strong> mediante a união , ligação e fechamento <strong>da</strong>s<br />
muralhas que já existiam em torno <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> norte . Depois determina<br />
que a muralha atravessará to<strong>do</strong> norte <strong>da</strong> China . Começará no litoral e seguirá<br />
até alcançar o Deserto de Gobi . Assim deixará separa<strong>do</strong> os invasores <strong>do</strong> norte<br />
.<br />
Para seu intento Chi Huang Ti convoca seu exercito de meio milhão<br />
de homens . Indica como principais operários os prisioneiros de guerra , os<br />
condena<strong>do</strong>s pela justiça e os seus inimigos pessoais .<br />
Sentin<strong>do</strong> que o peso <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de vem chegan<strong>do</strong> , um pouco antes <strong>do</strong><br />
termino <strong>da</strong> Primeira Parte <strong>da</strong> Construção <strong>da</strong> Muralha , escolhe um local , dá<br />
inicio e termina a construção de seu Mausoléu . Ali será efetivamente<br />
enterra<strong>do</strong> .<br />
Morre antes <strong>do</strong> termino <strong>da</strong> Muralha <strong>da</strong> China .<br />
Entretanto , muito mais impressionante que seu Mausoléu , será<br />
“Sua Guar<strong>da</strong> de Honra”” . Ela é idealiza<strong>da</strong> e concretiza<strong>da</strong> , sen<strong>do</strong> composta<br />
por milhares de “Guerreiros” , que não serão vivos . Serão de “Terracota”<br />
Eles , durante 22 séculos ficaram de Guar<strong>da</strong>, ao seu la<strong>do</strong> , em<br />
posição de atenção . O detalhe importante é que nenhum Guerreiro é pareci<strong>do</strong><br />
com os demais . Seus rostos , seus pentea<strong>do</strong>s e cabelos , seus bigodes , suas<br />
posições e seus cavalos não são idênticos . As far<strong>da</strong>s também apresentam<br />
algumas diferenças , principalmente entre sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s e oficiais .<br />
Ficaram enterra<strong>do</strong>s durante to<strong>do</strong>s aqueles séculos e foram<br />
descobertos por acaso , quan<strong>do</strong> na região tentavam perfurar poços de água .<br />
Junto deles foram encontra<strong>do</strong>s armamentos , causan<strong>do</strong> admiração espa<strong>da</strong>s de<br />
aço , com o fio <strong>da</strong> lamina coberto com uma liga de aço- cromo .<br />
Hoje no local existe uma “Fazen<strong>da</strong> Museu”. As estatuas já<br />
desenterra<strong>da</strong>s , em numero de 7.000 , ali estão . Outras milhares ain<strong>da</strong> podem<br />
continuar enterra<strong>da</strong>s . La ficarão pois logo que chegam a atmosfera perdem<br />
rapi<strong>da</strong>mente sua cor que foi fixa<strong>da</strong> por gema de ovos . . Estão agora<br />
estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um conservante para manter as cores originais .<br />
No local também encontramos : Loja de Lembranças e Cinema<br />
Circular , com tela circular . Esta tela obriga o especta<strong>do</strong>r ficar em seu centro<br />
para assistir filmes sobre a história <strong>do</strong>s Guerreiros . A sensação é muito mais<br />
realista que em outros cinemas . Você fica cerca<strong>da</strong> pelo que está acontecen<strong>do</strong> .
Os “Guerreiros de Terracota” são hoje considera<strong>do</strong>s como uma <strong>da</strong>s<br />
Maravilhas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Antigo . Desde 1997 o local onde eles se encontram é<br />
tomba<strong>do</strong> e considera<strong>do</strong> “Patrimônio <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de” .<br />
Xian é hoje uma ci<strong>da</strong>de moderna , com grandes edifícios , hotéis<br />
internacionais , largas aveni<strong>da</strong>s e ruas , muitas praças com bosques e flores ,<br />
cerca<strong>da</strong> por antiga e perfeita muralha . Ela foi construí<strong>da</strong> com pedras pequenas<br />
escuras perfeitamente corta<strong>da</strong>s . Esta Muralha é muito mais bonita que a<br />
Muralha <strong>da</strong> China .<br />
Na ci<strong>da</strong>de de Xian ain<strong>da</strong> encontramos a “Grande Pago<strong>da</strong>” e o<br />
“Museu <strong>do</strong>s Caracteres Chineses” . Ali , neste último , encontramos “estelas<br />
de pedra” , com os primeiros caracteres básicos chineses , alguns , segun<strong>do</strong><br />
informações <strong>do</strong>s atendentes <strong>do</strong> Museu , foram realmente idealiza<strong>do</strong>s por<br />
Confúcio e Lao Tze .<br />
Na saí<strong>da</strong> perguntei ao nosso guia chinês por que existia tanto espaço<br />
em volta <strong>do</strong> Museu . Ele alegremente respondeu :<br />
“ Como vocês dizem , os chineses gostam de copiar as coisas boas .<br />
Assim aquele espaço está reserva<strong>do</strong> para realizarmos e implantarmos as outras<br />
“ Sete Maravilhas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Antigo” .<br />
Saiu <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s ...<br />
Outras viagens com Vera Lucia<br />
P.S. - _ Desde 2002 fomos por muitos lugares , tanto na Europa<br />
como na Ásia , ten<strong>do</strong> quase sempre Vera como companheira .<br />
Lembro que ro<strong>da</strong>mos muito na Europa. Mais um vez estivemos na<br />
França . depois na Bélgica, Holan<strong>da</strong> , Alemanha , Republica Theca , Hungria<br />
e Itália .<br />
Depois fomos varias vezes visitar Paula em Singapura . Dali<br />
sempre é fácil viajar para outros países asiáticos .Assim , em ca<strong>da</strong> viagem,<br />
fomos conhecen<strong>do</strong> a Malásia, a Ilha de Rawa , Turquia , Japão , In<strong>do</strong>nésia e<br />
o Cambódia .<br />
Paula continua nos convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong>
NOVO MILÊNIO - FESTAS , NETOS E COMPRAS<br />
Edu Marcondes<br />
50 anos de Paulistano ––Precisei de “Carro Novo” – Ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> <strong>do</strong><br />
Morumbi – Meus Netos : Lucca e Lorenzo – Os Netinhos de Vera – A<br />
Chega<strong>da</strong> de Minha Netinha Mia Francis .<br />
To<strong>do</strong>s ficavam com perspectivas de novas esperanças pois o novo<br />
milênio estava chegan<strong>do</strong> . Muitos queriam realizar muitas coisas pois que<br />
estas coisas poderiam mu<strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong> para melhor . Eram normalmente os<br />
desejos para quan<strong>do</strong> o novo século despontasse . Este novo século que estava<br />
chegan<strong>do</strong> agora , alem de ser novo, poden<strong>do</strong> trazer novas esperanças , iria<br />
trazer com ele também to<strong>do</strong>s os séculos conti<strong>do</strong>s em um novo milênio . Com<br />
mil novas oportuni<strong>da</strong>des para to<strong>do</strong>s .<br />
Isto poderia e deveria ser muito melhor para muitos<br />
Para mim começou com esperanças e cheio de boas surpresas .<br />
Mais de Cinqüenta Anos de Paulistano -<br />
A boa surpresa aconteceu mesmo antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> no Ano Novo e<br />
<strong>do</strong> Milênio . A Presidência <strong>do</strong> Paulistano , na pessoa de José Manoel Castro<br />
Santos , resolveu em boa hora, não só comemorar Um Século de CAP , como<br />
também Homenagear to<strong>do</strong>s os sócios com 50 anos ou mais de participação no<br />
Paulistano .<br />
Para tanto , no dia 29 de Dezembro de 2.000 , determinou simpático<br />
coquetel que foi realiza<strong>do</strong> nos Salões Sociais <strong>do</strong> 2º an<strong>da</strong>r , com a participação<br />
de to<strong>do</strong>s aqueles sócios cinqüentenários que ain<strong>da</strong> estavam vivos .<br />
Só não foi quem não tinha mínimas condições físicas .<br />
Na reali<strong>da</strong>de foi uma festa para os velhos amigos , pois os sócios com<br />
mais de 50 anos de Paulistano não eram muitos , com certeza absoluta , mas<br />
velhos amigos , pois naquele tempo o CAP tinha um quadro social reduzi<strong>do</strong> e<br />
seleciona<strong>do</strong> . To<strong>do</strong>s ao presentes se conheciam . To<strong>do</strong>s se falavam. . To<strong>do</strong>s se<br />
confraternizavam diariamente . Foi isto que aconteceu novamente .<br />
Naquele coquetel reencontramos alguns antigos amigos , os quais já<br />
não víamos por anos , entre eles Eduar<strong>do</strong> de Paula .<br />
Estive ao la<strong>do</strong> de Vera Lúcia toman<strong>do</strong> drinques e comemoran<strong>do</strong> com<br />
José Carlos Leal ( meu cunha<strong>do</strong>) e Marisa ( minha irmã ) , estive com Myrtes<br />
Issa e seu cunha<strong>do</strong> Waldemar Issa , com o amigo Pamplona e senhora , com<br />
meu companheiro de natação Eugênio Amaral , com o amigo Roberto Rudge<br />
<strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> internato , José Mariano Carneiro <strong>da</strong> Cunha , José Ayres Neto ,<br />
Caio Moura , Gil Caja<strong>do</strong> de Oliveira , Eduar<strong>do</strong> de Salles Oliveira , Edson
Mace<strong>do</strong> e Eugênio “Pistinguet” Apfelbaun , Coquinho , José Manuel entre<br />
outros tantos .<br />
O momento de maior emoção foi quan<strong>do</strong> relembramos to<strong>do</strong>s aqueles<br />
que já se foram . Então a sau<strong>da</strong>de bateu em nosso peito , com reflexos em<br />
nossos olhos .<br />
Precisei de um “Carro Novo” –<br />
Logo depois de ter vendi<strong>do</strong> e recebi<strong>do</strong> minha parte <strong>da</strong> casa <strong>do</strong><br />
Morumbi , achei que estava na hora de trocar de carro . O meu Gol modelo<br />
1995 já estava com quatro anos de uso e resolvi ir vende-lo na Feira de<br />
Automóveis <strong>do</strong> Anhembi . Cheguei , estacionei e logo na primeira hora ele<br />
estava vendi<strong>do</strong> . Era vermelho , estava realmente bonito e em ótimo esta<strong>do</strong> .<br />
Logo achei compra<strong>do</strong>r .<br />
Quan<strong>do</strong> estava acaban<strong>do</strong> de efetuar o negócio estacionou <strong>do</strong> meu<br />
la<strong>do</strong> um “Fusca”- Cor Prata Metálico . O carrinho não estava somente<br />
maravilhoso mas inteiramente perfeito . Fui falar com o <strong>do</strong>no que explicou<br />
que estava venden<strong>do</strong> o Vokswagen pois comprara um outro ain<strong>da</strong> mais novo<br />
que aquele . Achei que era difícil ser mais novo . Fiquei interessa<strong>do</strong> .<br />
Ele mostrava a pintura perfeita , sem o mínimo arranhão. Por dentro<br />
to<strong>do</strong> estofamento de couro e tapetes praticamente novos . Quan<strong>do</strong> o motor<br />
1.600 foi liga<strong>do</strong> o ronco demonstrava a sua quali<strong>da</strong>de. Um carbura<strong>do</strong>r.<br />
Cambio e suspensão estavam perfeitos . Procurei mas não achei a menor<br />
ferrugem . Tinha os paralamas traseiros com faróis grandes – tipo “Fafá de<br />
Belém” . Os frisos e to<strong>do</strong>s croma<strong>do</strong>s impecáveis . Ro<strong>da</strong>s e pneus novos . O<br />
modelo era 1.976 mas estava tão impecável como um carro “O Km” e<br />
chamava muita atenção .<br />
Achei que se aquele carro tinha ro<strong>da</strong><strong>do</strong> 25 anos e estava naquele<br />
esta<strong>do</strong> maravilhoso , com cui<strong>da</strong><strong>do</strong> que <strong>do</strong>u aos meus carros , ele ro<strong>da</strong>ria mais<br />
25 anos . Assim , o que era importante : - eu nunca mais precisaria mais<br />
pensar em trocar de automóvel . Aquele “ Fusca” seria sempre um “Carro<br />
Novo” para mim .<br />
O preço foi um pouco salga<strong>do</strong> . Um outro <strong>do</strong> mesmo ano custaria<br />
metade <strong>do</strong> que eu estava pagan<strong>do</strong> . Mesmo assim comprei aquele “Carro<br />
Novo” . Neste momento chegou o outro Fusca <strong>do</strong> vende<strong>do</strong>r . Veio com seu<br />
filho . Não só era mais novo . Era praticamente zero quilometro .<br />
Antes de ir embora para casa já tinha muita gente olhan<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong><br />
ofertas pelo carrinho . Poderia ter ganho 15% naquela mesma hora .<br />
Na Segun<strong>da</strong> Feira fui buscar o meu “ Fusca ” . Sai com ele to<strong>do</strong><br />
orgulhoso . Em to<strong>do</strong> lugar que parava tinha gente olhan<strong>do</strong> para o carrinho .
Estou com ele desde o final de 1.999. Só tenho alegrias . Não dá <strong>do</strong>r<br />
de cabeça, nem manutenção . O único problema é gasolina falsifica<strong>da</strong> ,<br />
mistura<strong>da</strong> com “solvente”, que pode detonar o motor <strong>do</strong> “bichinho” .<br />
Até hoje quan<strong>do</strong> estaciono em algum lugar tem gente olhan<strong>do</strong> e<br />
paqueran<strong>do</strong> o “Capitão” . Este é o apeli<strong>do</strong> que dei para ele .<br />
PS- Não posso mais vender o “Capitão” .<br />
Meu netinho Lorenzo , que nasceu em 2003 , agora com 6 anos , viu<br />
e an<strong>do</strong>u no carrinho . A<strong>do</strong>rou o “Capitaõ” . Pediu e eu o dei a ele . Mostrava<br />
felici<strong>da</strong>de até no olhar . Depois disse : “Quan<strong>do</strong> crescer vou levar o<br />
“Capitão” para a Europa comigo”<br />
Ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> <strong>do</strong> Morumbi –<br />
Aconteceu assim : Uma noite de Novembro de 1.999 , Paula ligou de<br />
Singapura e deu duas noticias maravilhosas . Primeira : Estava gravi<strong>da</strong> de um<br />
menino que iria nascer em Junho próximo . Fiquei radiante . A noticia <strong>do</strong><br />
nascimento de um neto é coisa maravilhosa . É a continuação de uma família ,<br />
sem duvi<strong>da</strong> alguma . Paula prometeu que viria ao Brasil meses depois <strong>do</strong><br />
nascimento <strong>da</strong> criança . Prometeu ain<strong>da</strong> que estaria man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> muitas fotos .<br />
A outra noticia foi que : Depois de muita luta sua mãe concor<strong>da</strong>ra<br />
com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> nossa casa <strong>do</strong> Morumbi . Paula já tinha arranja<strong>do</strong> um<br />
advoga<strong>do</strong> , que também era seu procura<strong>do</strong>r , para tratar <strong>da</strong> papela<strong>da</strong> , posto<br />
que já existia um compra<strong>do</strong>r . O advoga<strong>do</strong> era necessário , uma vez que sua<br />
mãe deixara de pagar impostos <strong>da</strong> casa junto a Prefeitura e o compra<strong>do</strong>r<br />
queria comprar o imóvel para ser comercial .<br />
Assim passou o telefone <strong>do</strong> seu advoga<strong>do</strong> – Dr. Júlio .<br />
No outro dia falei com ele . Depois fui procura<strong>do</strong> para últimos ajustes<br />
e ficamos praticamente acerta<strong>do</strong>s quanto a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> imóvel .<br />
Duas Semanas depois foi marca<strong>da</strong> a escritura de ven<strong>da</strong> à vista .<br />
Compareci e recebi minha parte . Não foi o melhor preço .<br />
Entretanto o imóvel fora definitivamente vendi<strong>do</strong> . Doze ( 12 ) anos<br />
depois <strong>do</strong> que deveria ter ocorri<strong>do</strong> .<br />
Como dinheiro não pode ficar para<strong>do</strong> , fui procurar pequenos<br />
apartamentos para comprar . Eles seriam loca<strong>do</strong>s e <strong>da</strong>riam uma receita mensal.<br />
Comprei pequenos apartamentos em São Paulo . Eles são mais fáceis<br />
de alugar e quan<strong>do</strong> um fica vago os demais ain<strong>da</strong> dão ren<strong>da</strong> . Um só não é<br />
seguro , por maior ou melhor que seja . Se o inquilino falhar é preciso pagar<br />
con<strong>do</strong>mínio e impostos . Não entra ren<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> alguma . Com vários ,<br />
mesmo um falhan<strong>do</strong> , os outros cobrem as despesas . Eles são aptos com <strong>do</strong>is<br />
quartos , sala , copa / cozinha banheiro e vaga de garagem . Alguns tem jardim<br />
e salão de festas .
Com eles , mais o apartamento <strong>da</strong> Av. Angélica , as meninas poderão<br />
ficar com bons apartamentos para ca<strong>da</strong> uma . Acho que <strong>da</strong>rão uma boa aju<strong>da</strong>.<br />
A outra parte <strong>do</strong> dinheiro foi aplica<strong>do</strong> no Banco Itaú . Ain<strong>da</strong> estava<br />
procuran<strong>do</strong> mais um apartamento .<br />
Nascimento <strong>do</strong> Lucca<br />
No dia consagra<strong>do</strong> para Santo Antônio , 13 de Junho de 2.002,<br />
nasceu meu primeiro neto , na ci<strong>da</strong>de de Singapura , filho de Mark Browning<br />
e de minha filha Paula. Recebeu por isto mesmo o nome de Antony Lucca<br />
Marcondes Browning . Antony por que nasceu no dia de Santo Antonio e<br />
Lucca por que foi gera<strong>do</strong> naquela ci<strong>da</strong>de italiana .<br />
To<strong>do</strong> o seu nascimento foi fotografa<strong>do</strong> . Depois disto ele vai aparecer<br />
em fotos com a mãe , o pai e o médico . Nasceu bem compri<strong>do</strong> , parecia mais<br />
o “Pernalonga”. Realmente <strong>do</strong> la<strong>do</strong> físico muito se parece com o pai<br />
A primeira vez que consegui pega-lo deu até tremedeira . Pegar no<br />
colo o primeiro neto é uma responsabili<strong>da</strong>de grande . Na ocasião ele estava<br />
bem gorduchinho e grande . Era seu batismo aqui em São Paulo .<br />
Quan<strong>do</strong> estava com quase 3 anos passei 10 dias com ele em Jersey ,<br />
na casa <strong>do</strong>s avós paternos . Gostava de passear comigo , in<strong>do</strong> até os penhascos<br />
que avistam a França . Depois , ele ficava ven<strong>do</strong> o vôo <strong>da</strong>s gaivotas .<br />
Ate´ hoje não parou de crescer . Puxou o pai que é bem alto . Com<br />
quatro anos usa roupa de sete . Está mesmo enorme . Gosta de brincar comigo<br />
e tem loucura por automóveis pequeninos . Tem ganho uma coleção .<br />
Somente uma vez temi por ele antes de tu<strong>do</strong> mais . Foi quan<strong>do</strong><br />
estivemos juntos em Sry Lanka . Então aconteceu o “Tsunami” . Ele era<br />
minha preocupação em caso <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de salvamento . Hoje já esta<br />
falan<strong>do</strong> razoavelmente bem o português . O que dificulta são as babás que só<br />
sabem falar inglês . Mas seu inglês é perfeito . Assim o esforço dele para<br />
apreender outra língua é bem maior <strong>do</strong> que qualquer outra criança . Mas a mãe<br />
insiste e ele luta para falar nossa língua . Nota : Com um sotaque to<strong>do</strong> seu ...<br />
muito gostoso .<br />
Tem ótimo coração e apesar de ser muito mais forte que qualquer<br />
outro menino nunca os agride . Quan<strong>do</strong> muito os afasta carinhosamente . O<br />
que não pode acontecer é deixa-lo bravo . Então sai de perto ...!<br />
É um menino bonito , com olhos e cabelos castanhos claros , que vai<br />
virar um moço muito charmoso .<br />
A<strong>do</strong>ro este meu neto . É continuação <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> .<br />
Nascimento de Lorenzo -<br />
Um ano e um mês depois <strong>do</strong> nascimento de Lucca veio ao mun<strong>do</strong><br />
meu segun<strong>do</strong> neto . Grande alegria ! Iria se chamar Lorenzo . Alexandra me<br />
avisou que esperava um bebe quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> batiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu outro neto – Lucca .
Avisou que o parto poderia ser induzi<strong>do</strong> e Lorenzo nasceria no dia <strong>do</strong><br />
aniversário <strong>do</strong> pai – Javier . Foi o que aconteceu em 11 de julho .<br />
Um ano e meio depois de seu nascimento ele veio para São Paulo .<br />
A<strong>do</strong>rei ver aquele moléquinho . Era antes de mais na<strong>da</strong> determina<strong>da</strong>mente<br />
risonho e simpático . Ria quan<strong>do</strong> gostava <strong>da</strong>s pessoas . Nunca sem razão<br />
menor. Tinha e tem olhos extremamente vivos , demonstran<strong>do</strong> desde ce<strong>do</strong><br />
muita inteligência . Gostava de brincadeiras . O dia que ficou comigo e com<br />
Vera foi ao Paulistano e já brincava em vários tipos de brinque<strong>do</strong>s e balanços<br />
para crianças de i<strong>da</strong>de mais avança<strong>da</strong> . Não tinha me<strong>do</strong> . Ele os a<strong>do</strong>ra .<br />
A segun<strong>da</strong> vez que estive mais tempo com ele foi em Menorca , onde<br />
passei duas semanas na casa <strong>do</strong>s pais . Ele já estava com mais de <strong>do</strong>is anos e<br />
gostava de uma farra ou uma brincadeira . Estava sempre alegre . Brigava e<br />
chorava quan<strong>do</strong> a mãe saia de carro sem leva-lo . Da mesma forma quan<strong>do</strong> era<br />
para sair <strong>do</strong> carro, pois queria ficar dentro dele , pegan<strong>do</strong> a direção e fingin<strong>do</strong><br />
que estava guian<strong>do</strong> .<br />
A<strong>do</strong>rava passear de lancha com o pai . Já naquele tempo , com <strong>do</strong>is<br />
anos , falava muito bem . Fazia um esparramo para comer e era necessário<br />
passar um vídeo <strong>do</strong> peixinho “Nemo”, que ele gosta , para poder distrai-lo e<br />
<strong>da</strong>r comi<strong>da</strong> na boca . Achei aquilo erra<strong>do</strong>, pois comer deve ser um ato natural.<br />
Deve ser feito junto a família .<br />
Falei com a Xan<strong>da</strong> . Compramos um cadeirão . Colocamos junto a<br />
mesa <strong>da</strong> casa . Ele então comia comigo e com os pais , com a colher na<br />
própria mão . Comia fazen<strong>do</strong> um pouco de sujeira ( na reali<strong>da</strong>de muita ) ...<br />
mas comia sem chorar e sem precisar ficar olhan<strong>do</strong> na<strong>da</strong> .<br />
A ultima vez que esteve em São Paulo impressionou to<strong>do</strong>s muito<br />
bem. . Agora , com apenas pouco mais de 3 anos , fala perfeitamente três<br />
línguas . Inglês por que a Xan<strong>da</strong> só fala com ele nesta língua . Alem <strong>do</strong> mais<br />
como agora eles estão moran<strong>do</strong> em Londres , fala e apreende o idioma inglês<br />
na escola maternal . Fala o português pois to<strong>do</strong> dia fica e conversa com Maria<br />
sua babá .Ela é brasileira . Espanhol fala com o pai , pois que ele assim exige.<br />
O que é bom . Dentro em pouco estarão voltan<strong>do</strong> para a Espanha . Será<br />
trilingüe perfeito . Falan<strong>do</strong> três línguas sem sotaque .<br />
Quan<strong>do</strong> aqui esteve pela última vez , durante um almoço no<br />
Paulistano , contou que tem uma namora<strong>da</strong> que se chama “Gabi ... Gabriela” .<br />
Xan<strong>da</strong> disse que na escola ele é extremamente paquera<strong>do</strong> por to<strong>da</strong>s<br />
menininhas . O bichinho é malandro , mas quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong> responde que<br />
gosta só de Gabi... Gabriela . Seu bicho favorito é um peixe chama<strong>do</strong><br />
“Nemo.” Por isto mesmo ficou to<strong>do</strong> feliz quan<strong>do</strong> lhe dei um “abat-jour”<br />
eletrônico , onde os peixinhos estão com Nemo e parecem na<strong>da</strong>r . Gosta de<br />
ficar olhan<strong>do</strong> antes de <strong>do</strong>rmir .
Aquele meu neto me faz lembrar de um “Edu Moleque” . É outra<br />
continui<strong>da</strong>de de minha vi<strong>da</strong> . Mexe com meu coração .<br />
Os Netos de Vera<br />
Vieram um pouco depois <strong>do</strong>s meus . Foi muito bom , pois até pouco<br />
tempo eu considerava que tinha 4 netos , <strong>do</strong>is diretos e <strong>do</strong>is indiretos . Agora<br />
tenho mais <strong>do</strong>is ... Pedro , filho de Antonio Paulo , e João Paulo filhode Paulo<br />
Henrique . Em segui<strong>da</strong> chegou Mia Francis Marcondes Browning , depois a<br />
Gabriella <strong>do</strong> Antonio Paulo . Esta última é especial . Uma espoleta ,<br />
bonitinha , man<strong>do</strong>na que a to<strong>do</strong>s cativa com sua maneira de ser .<br />
- Mia Francis – Minha Queri<strong>da</strong> Netinha –<br />
Não seria possível começar este novo século sem a chega<strong>da</strong> de uma<br />
menininha na família . Paula me contou que durante a sua gestação ela sempre<br />
foi uma nenezinha muito calma . Nasceu em 2.005<br />
Hoje , como sempre , continua muito tranqüila .<br />
Nasceu de parto normal lá em Seul – Coréia , onde segun<strong>do</strong> minha<br />
filha não é o melhor lugar para se ter filhos . Isto pelas condições rígi<strong>da</strong>s que<br />
lá são impostas pela medicina . Ali a mãe sempre vai sofrer as <strong>do</strong>res de um<br />
parto normal . Cesariana só mesmo em último caso .<br />
Mia nasceu compri<strong>da</strong> , com quase 51 centímetros . Puxou a família<br />
britânica de sua avó Francis . Vai ser bem alta .<br />
Alem <strong>do</strong> mais tem semelhança e to<strong>do</strong> jeito <strong>da</strong>quela sua avó .<br />
Ain<strong>da</strong> está com pouco cabelo que pelo jeito vai ser castanho escuro .<br />
Tem o narizinho arrebita<strong>do</strong> e parece mesmo com aquelas antigas bonequinhas<br />
de porcelana , com a pele muito clarinha . Dá vontade de morder ...<br />
Para mim tem a coisa mais gostosa de beijar : duas bochechas rosa<strong>da</strong>s<br />
e bem forma<strong>da</strong>s . É muito alegre e gosta de <strong>da</strong>nçar no colo <strong>da</strong> gente . Quan<strong>do</strong><br />
aparece um desenho na TV o tempo para . Fica olhan<strong>do</strong> fixamente para a<br />
telinha . Qualquer barulho mais forte no filme ela assusta .<br />
Nunca chora praticamente , nem mesmo para mamar . Se está com<br />
fome fica resmungan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tempo até receber sua mamadeira .<br />
Mia é o complemento que faltava para a minha pequena família .<br />
Deus que a abençoe . Sempre .<br />
.
VIAGENS COM AS FILHAS - EUROPA / ÁSIA<br />
Edu Marcondes<br />
Londres – Silverstone – Menorca – Um Italiano em Menorca – Sono<br />
...muito Sono - Jersey – Lembrança <strong>da</strong> Guerra / Diferente em Jersey – O<br />
<strong>Casa</strong>mento de Paula<br />
Não haviam passa<strong>do</strong>s três meses depois de minha volta de Sry<br />
Lanka , onde estive as voltas com a “Tsunami” , quan<strong>do</strong> recebi ligação de<br />
Londres . Ali era onde agora estavam Javier , Alexandra e meu neto Lorenzo .<br />
Eles residiam temporariamente na Inglaterra , pois o “Santander” havia<br />
adquiri<strong>do</strong> o controle acionário <strong>do</strong> tradicional “Banco Abey” <strong>da</strong> Inglaterra.<br />
Junto com a cúpula espanhola Javier estava trabalhan<strong>do</strong> para sua<br />
devi<strong>da</strong> incorporação no grupo Santander .<br />
O motivo <strong>da</strong>quele telefonema era convite de Javier para que eu<br />
fosse passar as férias de Julho, em Menorca , junto com Alexandra e Lorenzo.<br />
Iria conhecer a casa que eles haviam compra<strong>do</strong> , em um lin<strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio<br />
naquela ilha . Javier explicou que ele somente poderia ir nos fins de semana ,<br />
pois estava com muitos compromissos e obrigações em Londres . Eles não<br />
poderiam ser adia<strong>do</strong>s durante aquelas semanas de Julho .<br />
Antes disso ele desejava que eu fosse primeiramente passar alguns<br />
dias na sua casa de Londres .Teria oportuni<strong>da</strong>de de ir assistir com eles a<br />
“Corri<strong>da</strong> de Formula I em Silverstone” . Ele gosta de “carreras” e é fanático<br />
pelo Fernan<strong>do</strong> Alonso.Sabe que eu também gosto <strong>da</strong>quele piloto espanhol.<br />
Enquanto me preparava para a viagem falei com minha irmã<br />
contan<strong>do</strong> <strong>do</strong> convite .<br />
Dias depois Paula ligou . Então aconteceu outra surpresa . Eu ,<br />
naquele momento , estava sen<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para ir à Jersey, onde Paula e<br />
Mark iriam se casar , agora no religioso . Jersey era onde Mark nascera e<br />
onde residiam seus pais , Francis e Jimmy , e ain<strong>da</strong> seus irmãos .<br />
Isto aconteceria quan<strong>do</strong> eu estaria voltan<strong>do</strong> de Menorca . Achei<br />
ótimo . Também ganharia aquelas passagens . Aceitei o convite . Claro !<br />
Não faltaria por na<strong>da</strong> naquele casamento .<br />
.<br />
No dia <strong>da</strong> viagem , bem na hora de parti<strong>da</strong> , lembrei que não tinha o<br />
endereço de Xan<strong>da</strong> em Londres . Liguei . Por sorte ela estava em casa . O tal<br />
endereço nunca mais saiu de minha cabeça : Ca<strong>do</strong>gan Place , 31 .<br />
O vôo saiu na hora certa . Jantei e <strong>do</strong>rmi a noite to<strong>da</strong> .
LONDRES<br />
- Pela manhã foi esperar a aterrissagem e pegar a mala . Achei que<br />
tu<strong>do</strong> seria rapi<strong>do</strong> . Errei ! Houve muita revista para os passageiros . Como eu<br />
estava de terno , muito elegante , fui poupa<strong>do</strong> . Passei lentamente na<br />
alfândega. Ela estava uma loucura . Só depois soube <strong>do</strong> motivo .<br />
Havia ocorri<strong>do</strong> um grande atenta<strong>do</strong> terrorista em Londres . Os<br />
fiscais ingleses viraram to<strong>da</strong>s as malas <strong>do</strong> avesso . Fui libera<strong>do</strong> .. Finalmente ,<br />
quan<strong>do</strong> cheguei na saí<strong>da</strong> , procurava e tentava arrumar um taxi .<br />
Eu normalmente iria tomar o trem para chegar ao centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />
Entretanto , naquele dia depois <strong>do</strong> atenta<strong>do</strong> terrorista , as coisas ficaram<br />
nebulosas . Poderiam acontecer novos atenta<strong>do</strong>s . Nunca se sabe . Eu tinha<br />
i<strong>do</strong> para passear . Não esperei mais na<strong>da</strong> e mudei de idéia . Na<strong>da</strong> de coletivos<br />
Esperei . Pouco depois a sorte mu<strong>do</strong>u . Consegui o taxi .<br />
Em menos de uma hora eu estava abraçan<strong>do</strong> minha filha e meu neto.<br />
Entreguei os presentes e fiquei brincan<strong>do</strong> com Lorenzo até que Javier chegou.<br />
Foi me cumprimentan<strong>do</strong> com alegria . Depois fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> e saímos para<br />
jantar em restaurante árabe. Ficava perto <strong>da</strong> casa .<br />
Foi muito agradável , mas não demoramos muito tempo . No outro<br />
dia era dia de trabalho . Fomos para casa . Eu fiquei ven<strong>do</strong> televisão com<br />
Xan<strong>da</strong> . O São Paulo Futebol Clube disputava aquela noite a Copa<br />
Liberta<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s Américas . Ganhamos e , com nossa torci<strong>da</strong> , a ca<strong>da</strong> gol<br />
(foram quatro ) acordávamos Javier .<br />
O quarto que reservaram para mim era muito bonito , com grande<br />
cama de casal . Ele se abria para um pátio , cheio de plantas e flores . Varias<br />
noites eu <strong>do</strong>rmi com aquelas portas abertas . Quan<strong>do</strong> houve calor .<br />
Na Sexta Feira fui com Javier passear por to<strong>do</strong> o bairro . Fui ven<strong>do</strong><br />
tu<strong>do</strong> <strong>da</strong> melhor forma , a pé ! É por ali, em “Knightsbridge” , que se situam<br />
as bonitas embaixa<strong>da</strong>s em Londres . Dali , em segui<strong>da</strong> , fomos até a frente <strong>do</strong><br />
castelo <strong>da</strong> Rainha Britânica . Não assistimos a “Troca <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong>” .<br />
Depois voltamos , passan<strong>do</strong> pelo “Hide Park” . Chegamos já no<br />
escurecer .<br />
SILVERSTONE<br />
O programa de Sába<strong>do</strong> estava feito desde algum tempo . Logo ce<strong>do</strong><br />
estava um carro esperan<strong>do</strong> para nos levar até Silverstone . O transito foi<br />
terrível . Levamos duas horas para chegarmos até a pista .<br />
Valeu a pena . Vimos os treinos de classificação , tiramos fotos ,<br />
entramos nos “Box de Manutenção” , nota<strong>da</strong>mente aquele <strong>da</strong> “Renault”.<br />
Depois fomos almoçar no Pavilhão de Relações Públicas <strong>da</strong>quela<br />
escuderia francesa , conhecemos os <strong>do</strong>is pilotos , almoçamos com os melhores<br />
vinhos e ganhamos uma malinha <strong>da</strong> Renault . Estava cheia de presentes .
Isto só foi possível pois o “Santander” é uma <strong>da</strong>s empresas<br />
patrocina<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> “Renault” .<br />
Alonso se classificou na “pole position”.<br />
Entretanto , resolvemos não enfrentar novamente aquele transito<br />
maluco no Domingo , dia <strong>da</strong> corri<strong>da</strong> . Iriamos assistir a Formula I pela<br />
televisão , em casa , lá naquele gostoso pátio. Mesmo por que Javier estaria<br />
cozinhan<strong>do</strong> maravilhosa “Paella” para nós .<br />
Foi gostoso comer aquela delicia , toman<strong>do</strong> vinho de Espanha e<br />
ven<strong>do</strong> a vitória <strong>do</strong> Alonso . Depois foi só ir <strong>do</strong>rmir a “Siesta” .<br />
Aquela semana seguinte foi muito movimenta<strong>da</strong> . Quase em to<strong>da</strong>s<br />
as manhã , logo ce<strong>do</strong> , eu ia passear no parque que pertencia somente as casas<br />
de “Ca<strong>do</strong>gan Place”. Era um parque particular . Para tanto era preciso entrar<br />
com cartão magnético . O lugar trazia para mim muita calma. Era cheio de<br />
pássaros durante o dia . De raposas pela noite , pois somente depois <strong>do</strong> sol se<br />
por é que elas apareciam .<br />
Fui ao teatro com Alexandra na Terça Feira , assistir “ Guys and<br />
Dolls” , comédia musical <strong>do</strong>s anos 50 . Não gostei . Em outro dia nos<br />
dirigimos ao centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Comprei um conjunto de “Cashemere e Se<strong>da</strong>”<br />
em “Regent Street” e em “Oxford Street” um “Tailleur”. Aqueles eram<br />
presentes para Vera .<br />
Comprei ain<strong>da</strong> um carrinho para o Lucca e outro para Lorenzo .<br />
Na Quarta Feira fui a pé , sozinho até “Victória Station”, na parte<br />
<strong>da</strong> manhã. Depois fui para o Museu de Historia Natural , onde passei a tarde .<br />
Na Quinta Feira pela manhã Alexandra e Lorenzo me levaram para<br />
ver o Parlamento , o Tamisa e aquela enorme Ro<strong>da</strong> Gigante denomina<strong>da</strong> “Eye<br />
of Lon<strong>do</strong>n”. A noite jantamos com to<strong>da</strong> diretoria <strong>do</strong> Santander em Londres .<br />
Na Sexta feira fui com Javier e Xan<strong>da</strong> em uma boate <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> . O<br />
nome , se não me engano , é “Cubanita” ou coisa assim . Só tocava mambo ,<br />
salsas e músicas cubanas . R Este tipo de musica está na mo<strong>da</strong> ... mas não<br />
para meu gosto . Valeu pela boa companhia e para conhecer lugares novos e<br />
famosos .<br />
MENORCA<br />
- Quan<strong>do</strong> Sába<strong>do</strong> chegou Alexandra seguiu com Lorenzo para<br />
Menorca . Ela foi receber a emprega<strong>da</strong> e preparar a casa .<br />
Fui com Javier no Domingo , logo bem ce<strong>do</strong> , em vôo que foi<br />
tranqüilo . Durou apenas 100 minutos . O aeroporto de Menorca não é muito<br />
grande . É porem muito moderno e bonito . Fica em Mahon , capital <strong>da</strong> ilha<br />
espanhola . Alexandra ali já estava com o carro nos esperan<strong>do</strong> .<br />
O verão naquelas ilhas Baleares é bem quente , atingin<strong>do</strong> facilmente<br />
35 / 40 graus em alguns dias . Eles acontecem quan<strong>do</strong> sopra vento quente que
vem <strong>da</strong> África . A temperatura então aumenta . Fora destes dias existe sempre<br />
uma brisa suave , nota<strong>da</strong>mente a noite .<br />
No caminho para casa fiquei admiran<strong>do</strong> as estra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ilha . São<br />
super sinaliza<strong>da</strong>s . Quase perfeitas , apesar de estreitas . As “Praças<br />
Rotatórias”, nos cruzamentos , obrigavam redução de veloci<strong>da</strong>de e dão<br />
priori<strong>da</strong>des de passagem , muito certas e bem determina<strong>da</strong>s.<br />
A paisagem se alterna em ca<strong>da</strong> quilometro . Muitas vezes com vista<br />
para o mar . Outras aparecen<strong>do</strong> pequenas matas junto a suaves elevações .<br />
Normalmente por ali se encontram bonitas proprie<strong>da</strong>des rurais .<br />
Menorca possui várias e pequenas vilas , espalha<strong>da</strong>s por to<strong>do</strong> seu<br />
território , a maioria na orla marítima . São possui<strong>do</strong>ras de grandes belezas ,<br />
destacan<strong>do</strong> : Saint Luiz , Castell , Ferries , Merca<strong>da</strong>l , Saint Clements e<br />
Ciutadella .<br />
Mahon é sua capital , já na quali<strong>da</strong>de de ci<strong>da</strong>de . É muito bonita ,<br />
principalmente por suas praias e por sua urbanização .<br />
O seu porto , com longa extensão , tem suas <strong>do</strong>cas toma<strong>da</strong>s por<br />
grandes iates internacionais . Do outro la<strong>do</strong> temos uma longa aveni<strong>da</strong> que<br />
separa o porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Ali existe to<strong>do</strong> o tipo de comércio , com bonitas<br />
lojas de roupas elegantes , restaurantes internacionais ou típicos espanhóis ,<br />
exposições de obras de arte , perfumarias, antiquários , lojas de decoração e<br />
tu<strong>do</strong> mais necessário para atender vontades e necessi<strong>da</strong>des de milionários<br />
turistas . Para tanto basta que ele saia <strong>do</strong> iate e atravesse a rua .<br />
Fora disto existem vários museus , teatros , hotéis internacionais ,<br />
praças , campos de golfe , bares e clubes noturnos com música ao vivo . To<strong>do</strong><br />
ano , no mês de Agosto , tem festival de Jazz . Além <strong>do</strong> mais em Mahon<br />
existe Cassino funcionan<strong>do</strong> diariamente .<br />
No que tange ao esporte , são realiza<strong>da</strong>s anualmente competições<br />
internacionais de iatismo , de golfe e de ciclismo .<br />
Por trás <strong>do</strong> porto , nas encostas <strong>da</strong> montanha , ain<strong>da</strong> perto <strong>do</strong> mar ,<br />
Mahon possui muralhas muito eleva<strong>da</strong>s que foram construí<strong>da</strong>s 1.400 AC . Até<br />
hoje estão por lá , algumas intactas e outras semi destruí<strong>da</strong>s .<br />
A ilha conserva as mais antigas obras registra<strong>da</strong>s pela arqueologia<br />
em to<strong>da</strong> Europa . Datam de 4.500 anos aproxima<strong>da</strong>mente . São Túmulos de<br />
pedra em forma de U .<br />
Menorca foi durante quase to<strong>da</strong> sua existência palco de grandes<br />
lutas internacionais pelo seu controle . Por isto possui traços <strong>da</strong>s antigas<br />
culturas fenícia , cartaginesa e grega . Seu <strong>do</strong>mínio passou por muitos povos :<br />
- Romanos , Árabes , Turcos e Aragoneses , sen<strong>do</strong> que estes últimos ,<br />
mediante sua união com Castela em 1492 , formaram a Espanha , atual<br />
detentora <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de de Menorca .
No século XVIII franceses e ingleses tentaram seu <strong>do</strong>mínio e<br />
invadiram seu território . Finalmente em 1802 , pelo “ Trata<strong>do</strong> de Amiens” a<br />
Espanha recebe de volta a ilha <strong>da</strong>s mão <strong>do</strong>s ingleses .<br />
A língua local é deriva<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catalão , que já e´ difícil . O<br />
“Minorquim” é mais difícil ain<strong>da</strong> . A salvação é a língua oficial : Espanhol .<br />
A produção <strong>da</strong> ilha é bem típica e especifica : - Gin de Menorca ,<br />
Sapatos tipo Abarcas , Malhas de Algodão e/ou lã , Cereais , Queijo tipo<br />
Mahon , Frutas e Licores de Frutas . A construção naval é bastante<br />
desenvolvi<strong>da</strong> , existin<strong>do</strong> inclusive projeto naval próprio , o qual produz barcos<br />
denomina<strong>do</strong>s “Minorquins ”. Os cascos são bem diferencia<strong>do</strong>s .<br />
De to<strong>da</strong>s as coisas existentes aquela que mais chama atenção é a<br />
cor de seu Mar . Turquesa nas partes mais rasas e Azul Marinho nas mais<br />
profun<strong>da</strong>s . Muito bonito . Dos mais bonitos .<br />
Quan<strong>do</strong> cheguei na casa de Javier notei que to<strong>da</strong>s as demais , tanto<br />
na região como no con<strong>do</strong>mínio , tinham o mesmo estilo arquitetônico :<br />
Mediterrâneo . A casa possui amplas salas , uma suite , <strong>do</strong>is quartos bons ,<br />
banheiro , copa cozinha e ain<strong>da</strong> tem enormes terraços com mais de 150m2 ,<br />
sen<strong>do</strong> uma parte coberta e outra aberta . Fica em um con<strong>do</strong>mínio horizontal ,<br />
com to<strong>da</strong>s casas bem grandes . Também existe ancora<strong>do</strong>uro próprio dentro <strong>do</strong><br />
con<strong>do</strong>mínio . Javier possui lin<strong>da</strong> lancha ali ancora<strong>da</strong> .O con<strong>do</strong>mínio ain<strong>da</strong> tem<br />
um Clube de Campo com quadras de tênis , enorme piscina , salão de festas e<br />
excelente restaurante na beira <strong>da</strong> piscina .<br />
No dia que chegamos já fomos de lancha para uma praia com pouca<br />
gente e mar lindíssimo , extremamente limpo . Lorenzo foi o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> “festa”<br />
na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> peladinho . Depois tomamos um almoço leve , prepara<strong>do</strong> por<br />
Alexandra .<br />
Na volta <strong>da</strong>quele passeio fui ataca<strong>do</strong> por um sono irresistível , muito<br />
forte . Eu não sabia por que. Não <strong>da</strong>va para segurar . Dormi até senta<strong>do</strong> na<br />
lancha . Parecia mais um desmaio . To<strong>do</strong> aquele tempo que estive em<br />
Menorca estive com um sono que não era bom . Impossível de segurar . Ele<br />
iria continuar até em Jersey , onde a temperatura era muito mais amena . O<br />
problema não era calor .<br />
Não me sentia muito bem . Javier reparou . Achou que era pelo<br />
vinho toma<strong>do</strong> . Porem , mesmo não toman<strong>do</strong> vinho , não passava aquele sono<br />
e a cabeça continuava pesadíssima .<br />
Comecei a sentir o que nunca existiu para mim em to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> :<br />
Fraqueza ! Não <strong>do</strong>ía na<strong>da</strong> , mas eu não era o mesmo . Aquilo continuou<br />
mesmo no Brasil .<br />
Depois <strong>da</strong>quela viagem , com calma , analisan<strong>do</strong> a coisa to<strong>da</strong> ,<br />
lembrei que , desde o final de 2004, aquele sono aparecia . No início era bem
pouco , mas aparecia . Sem perceber eu estava perden<strong>do</strong> potência física e<br />
mental .<br />
A coisa chegava silenciosa sem grandes alardes . Já durava mais de<br />
8 meses. . Quan<strong>do</strong> a cabeça pesava eu tinha absoluta necessi<strong>da</strong>de de<br />
<strong>do</strong>rmir. Fosse no cinema , no teatro , em visita , em qualquer lugar .<br />
Somente no início de 2006 , um ano depois , fazen<strong>do</strong> exame de<br />
rotina foi descoberta a causa . Um câncer - Carcinoma - em meu rim esquer<strong>do</strong>.<br />
Porem o primeiro sintoma apareceu bem antes .<br />
Na Sexta feira pela manhã fomos comprar um “Cadeirão” para<br />
Lorenzo . Ele estava muito grande para receber comi<strong>da</strong> na boca , inclusive<br />
fican<strong>do</strong> ven<strong>do</strong> filmes de desenhos anima<strong>do</strong>s . Comer deve ser um ato natural .<br />
Precisava apreender comer conosco . Por conta própria .<br />
Na ci<strong>da</strong>de iríamos encontrar um bom e bonito.<br />
Foi ótimo ! Na hora <strong>do</strong> almoço colocamos o “Cadeirão” ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />
mesa , junto <strong>da</strong> gente . Lorenzo ficou senta<strong>do</strong> , com seu prato e sua colher .<br />
Gostou . Primeiro fez o maior esparramo na comi<strong>da</strong> . Mas comeu sozinho .<br />
Quanto quis .<br />
Javier chegou na Sexta Feira pelo fim <strong>da</strong> tarde . Fui com Xan<strong>da</strong> e<br />
Lorenzo recebe-lo no aeroporto . Aquele seria meu último fim de semana em<br />
Menorca . Já havia recebi<strong>do</strong> inclusive as passagens aéreas providencia<strong>da</strong>s por<br />
Paula . Praticamente já estava com as malas arruma<strong>da</strong>s .<br />
Como sempre Javier , muito gentil , tinha reserva<strong>do</strong> mesa no<br />
restaurante mais charmoso <strong>da</strong> ilha . Ficava no porto de Mahon . O jantar seria<br />
típico espanhol . Tinha início por volta <strong>da</strong>s 8 horas <strong>da</strong> noite e não tinha tempo<br />
para acabar .<br />
Começava com drinques e com “tapas” picantes , para abrir o<br />
apetite . Depois vinha a sala<strong>da</strong> . A seguir o vinho , muito bem escolhi<strong>do</strong> , que<br />
iríamos tomar . Então aparecia o primeiro prato . Finalmente o prato principal.<br />
Fora a sobremesa , o café e o licor para arrematar .<br />
Somente lá pelas 23 horas estávamos voltan<strong>do</strong> para casa .<br />
Eles foram deitar . Eu fiquei sozinho no terraço , com uma enorme<br />
Lua Cheia . Ela deixava o mar brilhan<strong>do</strong> na cor laranja . Fiquei com sau<strong>da</strong>des<br />
<strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong>s amigos<br />
Domingo , bem ce<strong>do</strong> , sai com Lorenzo e fomos até a praia em<br />
frente <strong>da</strong> casa .. Ficamos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um pouco por ali . Depois resolvi voltar ,<br />
antes que Xan<strong>da</strong> acor<strong>da</strong>sse e , não ven<strong>do</strong> o filho , fosse “<strong>da</strong>r a bronca”.
Depois <strong>do</strong> almoço preparei minha roupa , fechei a mala e fiquei<br />
esperan<strong>do</strong> a hora de ir com Xavier para o aeroporto . Quan<strong>do</strong> chegou o<br />
momento Xan<strong>da</strong> nos levou . Foi difícil ter de me despedir dela e de meu neto .<br />
Logo o avião subiu . Fiquei com meus pensamentos .Javier <strong>do</strong>rmiu .<br />
Eu iria ficar to<strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Feira em Londres . Assim tinha de ser<br />
pois meu vôo para Jersey sairia de Londres , na Terça Feira , as 7,30 <strong>da</strong><br />
manhã. .<br />
Eu já tinha contrata<strong>do</strong> um taxi , que servia Alexandra , para me<br />
pegar as 5,30 horas . Eles eram pontuais e de confiança .<br />
Ao anoitecer Javier passou para me pegar . Fomos jantar com seu<br />
Presidente . Foi muito agradável .Agradeci a gentileza <strong>do</strong> convite e me<br />
coloquei a disposição <strong>da</strong>quele senhor para qualquer coisa no Brasil .<br />
Antes de <strong>do</strong>rmir fiz minhas despedi<strong>da</strong>s e agradecimentos ao Javier .<br />
Por sair muito ce<strong>do</strong> não mais iria vê-lo naquela oportuni<strong>da</strong>de .<br />
JERSEY<br />
Quan<strong>do</strong> cheguei ao salão <strong>do</strong> Aeroporto , a primeira coisa que vi foi<br />
um menino corren<strong>do</strong> para mim . Era Lucca que tinha cresci<strong>do</strong> muito mesmo .<br />
Alem <strong>do</strong> mais ficara muito mais bonito .<br />
Minha alegria foi grande em poder abraçar to<strong>da</strong> aquela parte de minha<br />
família . Estes momentos ficam inesquecíveis .<br />
Dali eles me levaram para conhecer um pouco de Jersey . Seu mar e<br />
bem azul e a ilha tem várias praias . É lugar muito bom para veleiros , pois<br />
existem muitos . No topo de uma montanha ao la<strong>do</strong> de muitas casas na beira<br />
<strong>do</strong> mar e de uma praia existe um grande e maravilhoso castelo chama<strong>do</strong> :<br />
“L’Orgueil” ( O Orgulho) . A ilha é uma <strong>da</strong>s regiões mais flori<strong>da</strong>s que já<br />
conheci . Tem vasos com vários tipos de flores por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s.<br />
Jersey está localiza<strong>da</strong> no Canal <strong>da</strong> Mancha , ten<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong> uma ilha<br />
irmã : Guernesey . Fica treze milhas <strong>da</strong>s costas <strong>da</strong> Normandia – França .<br />
Pertenceu aquela nação até as guerras Napoleônicas . Depois passou para a<br />
Inglaterra . A ci<strong>da</strong>de é to<strong>da</strong> corta<strong>da</strong> de estra<strong>da</strong>s bem calça<strong>da</strong>s e estreitas.<br />
Muitas delas sombrea<strong>da</strong>s por grandes arvores .<br />
Existem várias locali<strong>da</strong>des que formam pequenas vilas .<br />
A sua Capital é Saint Helier . Bonita , flori<strong>da</strong> , cheia de lojas e de<br />
restaurantes , onde se come peixa<strong>da</strong>s maravilhosas . O interessante é que<br />
quase to<strong>do</strong>s restaurantes pertencem a portugueses que vivem na ilha . Eles<br />
também são os <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s principais navios de pesca de Jersey . A Ilha deve<br />
ter mais de 10% de portugueses . Falei muito em português em Jersey .
Depois de um giro pela ci<strong>da</strong>de Mark me levou para conhecer a casa de<br />
sua mãe – Francis e seu mari<strong>do</strong> Jimmy. Fica fora <strong>do</strong> perímetro urbano .Os<br />
<strong>do</strong>is foram muitos simpáticos comigo . Por eles fui leva<strong>do</strong> até meu quarto .<br />
Em frente <strong>da</strong> casa existe um típico pasto de Ga<strong>do</strong> Jersey – originário<br />
<strong>da</strong>quela ilha . São de cor castanha , não muito grandes e são os reis <strong>do</strong> bom<br />
leite . O pasto não é grande , ten<strong>do</strong> 200 x 200 metros , com arvores e abrigos<br />
para o ga<strong>do</strong> . Eles recebem ração em horas certas , mas vivem soltos . Ficam<br />
confina<strong>do</strong>s apenas por uma cerca elétrica .<br />
Não muito longe <strong>da</strong>quela residência ficam os “Riffs”- Penhascos , de<br />
onde é possível avistar to<strong>da</strong> a costa <strong>da</strong> Normandia . Fui vários dias an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />
até lá , em companhia <strong>do</strong> Lucca . Bem no topo , lá em cima , tem uma<br />
“Camionete- Lanchonete” onde sempre meu neto ganhava um sorvete.<br />
O clima <strong>da</strong> ilha é muito agradável atrain<strong>do</strong> sempre muitos turistas ,<br />
principalmente no verão quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>bra sua população .<br />
Vem gente de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />
Nos próximos dias fui conhecer os irmão de Mark , suas esposas e seus<br />
sobrinhos . Foram to<strong>do</strong>s muito simpáticos comigo .<br />
Lembranças <strong>da</strong> Guerra - Algo Diferente em Jersey<br />
Naqueles dias em que fui conhecen<strong>do</strong> Jersey senti que existia alguma<br />
coisa de diferente na ilha . Não gostam de ser chama<strong>do</strong>s de ingleses , mesmo<br />
porque são “britânicos” . Eles se auto denominam de “islanders”. Não<br />
hasteiam a bandeira “Union Jack” – aquela que é azul- vermelha e branca ,<br />
feita com listas diagonais e cruza<strong>da</strong>s . Ela que é vista em to<strong>do</strong>s lugares <strong>da</strong><br />
Inglaterra . Hasteiam a bandeira branca com listas diagonais vermelhas<br />
cruza<strong>da</strong>s pelo meio , que é a bandeira de Jersey.<br />
Conversa <strong>da</strong>qui , se pergunta <strong>da</strong>li , pega-se uma frase acolá , escutamos<br />
fatos isola<strong>do</strong>s , lemos em <strong>do</strong>cumentos um pouco <strong>do</strong>s acontecimentos sobre a<br />
IIª Guerra Mundial e , subitamente, quan<strong>do</strong> ligamos os fatos , acabamos por<br />
entender as várias razões para este procedimento generaliza<strong>do</strong> de prevenção<br />
contra os ingleses . As causas foram e ain<strong>da</strong> são muitas :<br />
1º-) Por ser Membro <strong>da</strong> “Comuni<strong>da</strong>de Britânica” Jersey sempre pagou<br />
Impostos para a Inglaterra , destina<strong>do</strong>s a defesa de sua terra ;<br />
2º-) Quan<strong>do</strong> os exércitos ingleses foram bati<strong>do</strong>s na França , o Governa<strong>do</strong>r de<br />
Jersey inquiriu o Ministro de Defesa <strong>da</strong> Inglaterra , sobre o que seria realiza<strong>do</strong><br />
para defender Jersey ;<br />
3º-) Naquela semana Churchill comunica : “ Jersey não será defendi<strong>da</strong>” !<br />
4º-) Naquele mesmo dia to<strong>da</strong>s as tropas inglesas estaciona<strong>da</strong>s em Jersey foram<br />
embarca<strong>da</strong>s para a Inglaterra , com to<strong>do</strong>s seus armamentos ;
5º-) Sem meios de defesa o povo de Jersey sentiu-se aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> . Os<br />
descendentes de ingleses tentaram fugir <strong>da</strong> ilha . Alguns conseguiram .Os<br />
demais , com os descendentes de franceses , celtas e de outras raízes , que<br />
eram a grande maioria , não tinham para onde ir;<br />
6º-) Os ingleses , como seria necessário pelas leis internacionais , não<br />
comunicaram que Jersey ficará Sem Defesa e se tornara “ Ci<strong>da</strong>de Aberta”. Isto<br />
pouparia vi<strong>da</strong>s e destruição . Mas era parte de sua estratégia esconder a<br />
ocorrência . Os alemães , desconhecen<strong>do</strong> o fato , bombardeiam Saint Helier e<br />
La Rocque , em 28 de junho ;<br />
7º-) Somente <strong>do</strong>is dias depois <strong>do</strong> bombardeio , por causa <strong>da</strong> mortes ocorri<strong>da</strong>s,<br />
a Inglaterra ,através <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s que na época era neutro , comunicam<br />
sua sai<strong>da</strong> de Jersey . No mesmo dia a BBC comunica o fato para o Mun<strong>do</strong> ;<br />
8º-) A Alemanha através de folhetos informa que desejava entrar<br />
pacificamente em Jersey . Pedia que a resposta viesse através de bandeiras<br />
brancas . Elas elas surgiram aos milhares de to<strong>da</strong>s as janelas . Não tinham<br />
outra opção pois estavam desarma<strong>do</strong>s, desmotiva<strong>do</strong>s e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s ;<br />
9º-) Poucos dias depois os alemães já estavam chegan<strong>do</strong> a ilha pacificamente.<br />
Parte <strong>da</strong> Grã Bretanha havia si<strong>do</strong> toma<strong>da</strong> sem luta ;<br />
10º-) Durante 5 anos os habitantes <strong>da</strong> ilha ficam na condição de povo<br />
invadi<strong>do</strong>, com governo estrangeiro e ten<strong>do</strong> sua terra toma<strong>da</strong> ;<br />
Não termina com a invasão alemã os problemas de Jersey<br />
11º-) Quan<strong>do</strong> em Junho de 1.944 as tropas alia<strong>da</strong>s invadem a Normandia, Os<br />
habitantes de Jersey ouvem o ronco <strong>do</strong>s aviões , o troar <strong>do</strong>s canhões e as luzes<br />
<strong>da</strong>s explosões durante a noite . Acreditam que em breve serão liberta<strong>do</strong>s .<br />
Porem Junho se torna Julho . Logo chega Agosto . O barulho <strong>da</strong>s batalhas<br />
some de vez . Tu<strong>do</strong> foi para frente . Somente eles ficaram , sozinhos e<br />
<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelos invasores ;<br />
12º-) Com a toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> França pelos alia<strong>do</strong>s as Comunicações e o<br />
Recebimento de Remédios e Provisões ficam muito mais difícil . Começa a<br />
faltar remédios e medicamentos para os velhos e crianças . A Inglaterra não<br />
permite que sejam envia<strong>do</strong>s suprimentos para Jersey . Alguns remédios são<br />
consegui<strong>do</strong>s por coman<strong>do</strong>s alemães , eles que sain<strong>do</strong> de Jersey , atacam bases<br />
alia<strong>da</strong>s durante a madruga<strong>da</strong> nas costas <strong>da</strong> França ;<br />
13º-) Somente por muita insistência <strong>da</strong> Cruz Vermelha a Inglaterra permite<br />
que o Navio “Vega” , com bandeira <strong>da</strong> Cruz Vermelha , leve remédios e<br />
suprimentos essenciais para Jersey ;<br />
14º-) O pior acontece quan<strong>do</strong> a insensibili<strong>da</strong>de de Churchill determina : Não<br />
haverá mais suprimentos para Jersey . Ele escreve em seu diário :<br />
- “ Deixem Jersey ficar na miséria !”
15º-) A II ª Guerra Mundial termina em 6 de maio de 1.945 . Menos para os<br />
habitantes de Jersey . Os ingleses não tomam a menor providencia no que diz<br />
respeito a ilha . Não dão o menor sinal de vi<strong>da</strong> ! Por mais incrível que pareça ,<br />
no dia 8 de Maio os alemães e os “islanders” de Jersey ouvem juntos , na<br />
principal Praça de Saint Helier , o “Discurso <strong>da</strong> Vitória “ de Churchill . Os<br />
alemães pretendem se entregar , só não sabem para quem !<br />
16º-) Somente três dias depois , em 9 de Maio , vai ser possível a rendição <strong>do</strong>s<br />
alemães de Jersey . Os alia<strong>do</strong>s a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> “Destroyer Bul<strong>do</strong>g” , recebem<br />
naquele dia a rendição <strong>do</strong>s generais alemães .<br />
Estes fatos , passa<strong>do</strong>s mais de 60 anos , não foram esqueci<strong>do</strong>s até hoje<br />
pelo habitantes de Jersey . Eles não falam nem reclamam diretamente , mas<br />
com muita classe e muita firmeza sempre demonstram , até diariamente , o seu<br />
descontentamento . É só prestar atenção :<br />
A-) Tu<strong>do</strong> o que existe ou aconteceu dentro de Jersey , no tempo <strong>da</strong><br />
ocupação alemã , que chamava a ilha de “Muralha <strong>do</strong> Atlantico”está<br />
Perfeitamente Conserva<strong>do</strong> e Organiza<strong>do</strong> por duas associações . Elas se<br />
denominam :“Chanel Islands Ocupation Society” e “Jersey War Tunnel” .<br />
Em sua sedes existentes , ao la<strong>do</strong> de um hospital que foi cava<strong>do</strong> nas<br />
montanhas , eles tem to<strong>do</strong>s os Arquivos <strong>da</strong> Guerra feitos pelos alemães , Fotos<br />
<strong>da</strong> Guerra na região , Documentos Alemães , Plantas <strong>da</strong> colocação <strong>do</strong>s<br />
Armamentos Pesa<strong>do</strong>s , <strong>da</strong>s Construções <strong>do</strong>s “Bunkers” , Relatórios sobre<br />
Munições , Relação <strong>do</strong>s prisioneiros e muitas outras coisas de grande<br />
importância . Assim guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s e preserva<strong>do</strong>s nunca o que aconteceu será<br />
esqueci<strong>do</strong>. Eles fazem história .Obs To<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos que comprovam<br />
esta minha narrativa foram consegui<strong>do</strong>s junto aquelas Associações ;<br />
B-) O Hospital Militar Alemão , denomina<strong>do</strong> “H 8” , construí<strong>do</strong><br />
dentro de túneis cava<strong>do</strong>s na rocha de uma montanha , continua perfeitamente<br />
preserva<strong>do</strong> , mas inoperante .<br />
Virou com tu<strong>do</strong> que possuía Museu de Sofrimento <strong>do</strong>s Islanders.<br />
Lá ain<strong>da</strong> estão as mesas cirúrgicas , os laboratórios , as salas de tratamentos ,<br />
as os uniformes de médicos e enfermeiras alemãs , as Bandeiras com a<br />
Suástica , Far<strong>da</strong>s Nazistas e os Arquivos de Pacientes ;<br />
C-) To<strong>da</strong>s as construções militares edifica<strong>da</strong>s pelos alemães estão<br />
preserva<strong>da</strong>s perfeitamente . Visitan<strong>do</strong> os “Bunkers” , interliga<strong>do</strong>s por<br />
Corre<strong>do</strong>res Subterrâneos , será possível encontrar : Capacetes , Armas ,<br />
Far<strong>da</strong>s, Bandeiras Nazistas , Quepis nazistas e <strong>do</strong>rmitórios . Alem disto o que<br />
mais impressiona são : Os Tuneis ligan<strong>do</strong> os Centros de Artilharia / Canhões ,<br />
os Trilhos para envios <strong>da</strong> munição , as <strong>Casa</strong>matas , As Torres de Observação ,
as Fortificações feitas em Concreto . Em to<strong>do</strong>s locais as bandeiras com<br />
suástica estão como foram encontra<strong>da</strong>s .<br />
D-) O “Ingresso para Visitas” para estas diversas áreas são “Cópias<br />
<strong>da</strong>s Carteiras de Identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s “Islanders ” forneci<strong>da</strong>s pelos alemães , durante<br />
a ocupação de Jersey . To<strong>do</strong>s os porta<strong>do</strong>res <strong>da</strong>queles <strong>do</strong>cumentos copia<strong>do</strong>s<br />
morreram na guerra . Eles continuarão a divulgar continua<strong>da</strong>mente os<br />
sofrimentos , a fome, e to<strong>da</strong>s as necessi<strong>da</strong>des possíveis que passaram os<br />
habitantes de Jersey, sem o menor apoio <strong>do</strong>s ingleses . Estiveram sós .<br />
E-) Tu<strong>do</strong> isto é manti<strong>do</strong> para lembrança <strong>do</strong>s ingleses e conhecimento<br />
de turistas de muitos países . Porem mais um fato impressiona . Apesar <strong>da</strong><br />
língua oficial ser inglesa , to<strong>da</strong>s as Ruas , Aveni<strong>da</strong>s , Estra<strong>da</strong>s , Praças , Locais<br />
e Edificios Públicos possuem Nomes Franceses , escritos em Francês . Os<br />
“islanders” fazem questão <strong>da</strong> perfeita pronuncia quan<strong>do</strong> falam aqueles nomes .<br />
O <strong>Casa</strong>mento de Paula<br />
Dois dias antes <strong>do</strong> casamento fui conhecer o Castelo onde aconteceria<br />
o casamento . Era muito bonito , cerca<strong>do</strong> por um jardim esplendi<strong>do</strong> . Ali<br />
aconteceria to<strong>da</strong> a cerimônia e o almoço . Paula e Mark ficariam no Castelo<br />
por <strong>do</strong>is dias após a festa <strong>da</strong> cerimônia de despedi<strong>da</strong> que seria ali mesmo<br />
realiza<strong>da</strong> , em Sala Especial .<br />
As ultimas providencias foram : A compra <strong>da</strong> roupa branca <strong>do</strong> Lucca<br />
e a compra <strong>do</strong>s lenços e gravatas <strong>do</strong>s padrinhos .<br />
No dia <strong>do</strong> casamento fui com Lucca , Francis e Jimmy para o castelo .<br />
A cerimônia seria realiza<strong>da</strong> as 13,00 horas .<br />
Um orgão abriu a cerimônia .<br />
Eu levei Paula até o altar e a deixei com Mark . Ali já estavam os<br />
padrinhos <strong>do</strong>s noivos . Lucca que levava as alianças logo depois apareceu.<br />
Em segui<strong>da</strong> entregou as alianças para o pai . Foi muito bonito .<br />
Graças a Deus a cerimônia foi to<strong>da</strong> elegante e muito rápi<strong>da</strong> .<br />
No final fiquei conversan<strong>do</strong> com uma Juíza de Jersey . Convidei - a<br />
para o almoço junto aos noivos . Ela não aceitou . Alegou outros<br />
compromissos.<br />
Os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s já estavam nas mesas comemoran<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> cheguei<br />
até lá fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para fazer um discurso . Como não estava prepara<strong>do</strong> e fui<br />
toma<strong>do</strong> de surpresa, apenas falei <strong>da</strong>s minhas dificul<strong>da</strong>des em fazer um bom<br />
discurso em inglês . Desejei Saúde e Felici<strong>da</strong>des aos noivos , tanto em<br />
Inglês como em Português . Fui aplaudi<strong>do</strong> . Surpresa agradável .<br />
No fim <strong>da</strong> tarde , depois de muitas fotografias , beijos e abraços ,<br />
foram feitas as despedi<strong>da</strong>s aos noivos . Naquele instante Paula fez o<br />
“lançamento de seu buquet de flores” . Ela estava muito feliz .
Isto alegrava meu coração .<br />
Três dias depois eu estava me despedin<strong>do</strong> <strong>da</strong> minha filha , de seu<br />
mari<strong>do</strong> Mark e de meu netinho Lucca . Com eles mais Jimmy e Francis fui<br />
leva<strong>do</strong> para o aeroporto .<br />
Iria para Londres e de lá para o Brasil .<br />
Estaria com minhas filhas e meus netos ... na lembrança .
“ TSUNAMI ”<br />
Edu Marcondes<br />
Viagem para Sri Lanka /Ceilão – An<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nos “Tuc-Tuc”- Chega<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />
Tsunami – Muita Destruição - Fuga para Mosteiro Budista / Colombo –<br />
A Caminho <strong>da</strong>s Montanhas / Seguiria – Mu<strong>da</strong>nça Temporária de<br />
Filosofia<br />
Paula nos surpreendeu em nossa viagem para a China . Logo<br />
anunciou que iríamos passar o Natal e Ano Novo em Sri Lanka . Estaríamos<br />
ain<strong>da</strong> visitan<strong>do</strong> sua amiga Sharlene , em sua casa na Praia de Bentota .<br />
A viagem para o Ceilão foi rápi<strong>da</strong> e gostosa , apesar de pequeno<br />
problema com o visto de embarque para lá .<br />
Chegamos pelo anoitecer e fomos direto para uma <strong>Casa</strong> Colonial<br />
inglesa . Ela é muito antiga e bonita . Fomos logo depois para a Ceia de Natal<br />
que iria acontecer na casa de Sharlene . Tu<strong>do</strong> aquela noite foi muito agradável.<br />
O outro dia , aquela manhã de 26 de Dezembro de 2004<br />
amanheceu muito bonita na praia de Ambentota - Sri Lanka , com céu azul<br />
muito límpi<strong>do</strong> e suave brisa vin<strong>da</strong> <strong>do</strong> mar .<br />
Naquele mesmo dia meu pai estaria comemoran<strong>do</strong> 100 anos .<br />
Rezei pela sua alma e pedi sua benção .<br />
Por volta <strong>da</strong>s nove horas tomei um suco de laranja e fui levar<br />
minha filha Paula até a praia . Ela ficava logo em frente <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> Colonial , em<br />
segui<strong>da</strong> de um grande coqueiral existente .<br />
Íamos em busca de meu netinho Lucca e de Vera Lucia . Não<br />
sabia perfeitamente onde estavam . Eles tinham i<strong>do</strong> logo ce<strong>do</strong> fazer castelos<br />
na areia . Contu<strong>do</strong> não seria difícil encontra-los pois as praias ali eram<br />
freqüenta<strong>da</strong>s normalmente por poucas pessoas .<br />
Aqueles dias nas praias <strong>do</strong> antigo Ceilão seriam o fecho de ouro<br />
para aquelas maravilhosas férias que Paula e Mark nos estavam<br />
proporcionan<strong>do</strong> . Havíamos esta<strong>do</strong> antes por vários lugares <strong>da</strong> China .<br />
Quan<strong>do</strong> começávamos voltar <strong>da</strong> praia ain<strong>da</strong> não sabíamos , nem<br />
tínhamos a menor idéia , mas naquela hora “ Ele” – o Tsunami ,<br />
silenciosamente , já estava a caminho <strong>do</strong> litoral de Sri Lanka . Aquelas on<strong>da</strong>s<br />
gigantes iriam trazer muita destruição . Muita desolação . Muita tristeza .<br />
Entretanto , como o homem põe mas Deus dispõe , por nossa<br />
sorte havíamos si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para aperitivos e almoço na nova casa de<br />
Sharlene . Ela era amiga de Paula desde o tempo em que minha filha morou<br />
em Cingapura .
Não ficaríamos muito mais tempo naquela praia onde então<br />
estávamos . Assim sen<strong>do</strong> , depois de meia hora , já estávamos na casa<br />
colonial trazen<strong>do</strong> meu netinho de 2 anos e Vera Lúcia .<br />
Para não atrasarmos ao encontro , rapi<strong>da</strong>mente fomos tomar<br />
banho e trocar de roupa . Roupa leve pois o calor era grande . Já estava<br />
chegan<strong>do</strong> a hora de irmos para a casa de Sharlene .<br />
An<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nos “Tuc- Tuc” .<br />
Pouco tempo depois chegaram os <strong>do</strong>is pequeninos veículos ,<br />
denomina<strong>do</strong>s localmente de “Tuc –Tuc”, que meu genro Mark chamara .<br />
Ele , Paula e Lucca , como ficaram prontos primeiro , saíram<br />
primeiro , logo em segui<strong>da</strong> . Vera Lucia , para variar , havia se atrasa<strong>do</strong> um<br />
pouco , por isso sairíamos logo depois . Eu gostava de an<strong>da</strong>r naquele<br />
pequenino triciclo , com motor de motocicleta , muito comum em to<strong>da</strong>s as<br />
regiões <strong>do</strong> Oceano Índico . O nome “Tuc –Tuc” vinha <strong>do</strong> barulho que fazia<br />
seu motor .<br />
Para chegarmos até a nova casa de Sharlene levaríamos 10<br />
minutos . Ela fora construí<strong>da</strong> , com mais outras duas , forman<strong>do</strong> uma pequena<br />
vila , logo mais adiante , na mesma praia de Ambentota . As três residências<br />
formavam um belo conjunto , coroa<strong>do</strong> com uma longa piscina situa<strong>da</strong> em um<br />
jardim em frente as casas e com bonita vista para o mar azul .<br />
O lugar era além <strong>do</strong> mais muito agradável , cheio de altíssimos<br />
coqueiros que <strong>da</strong>vam diferentes e bonitos cocos , de casca inteiramente<br />
amarela , típicos de to<strong>da</strong> Sri Lanka . Também no jardim não faltavam esquilos<br />
de rabo pelu<strong>do</strong> , muito comuns naquela região . A casa ain<strong>da</strong> não estava<br />
inteiramente pronta pois faltavam alguns detalhes em sua decoração .<br />
Lembrava então que ali , no dia anterior , em grupo composto por<br />
26 pessoas , algumas locais e outras oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Austrália , Nova Zelândia ,<br />
Gran Bretanha e Brasil , tivéramos um agradável almoço de Natal .<br />
Naquele grupo estavam ain<strong>da</strong> os pais , tios , o irmão de Sharlene<br />
com sua namora<strong>da</strong> . Quase to<strong>do</strong>s presentes eram amigos desde alguns anos<br />
pois se conheciam de Cingapura . Gostavam de Paula e nos tratavam com<br />
simpatia . Naquele anoitecer natalino , ven<strong>do</strong> tanta gente , lembrei e senti<br />
falta de meus pais e parentes faleci<strong>do</strong>s . Rezei por eles .<br />
Agora , ain<strong>da</strong> dentro <strong>do</strong> “Tuc-Tuc” , quan<strong>do</strong> estávamos quase<br />
chegan<strong>do</strong> , após uma pequena curva naquela estra<strong>da</strong> que contornava a praia ,<br />
para surpresa nossa encontramos um trecho <strong>da</strong> estreita ro<strong>do</strong>via inteiramente
molha<strong>do</strong> . Molha<strong>do</strong> e muito bem molha<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s . A água<br />
remanescente na estra<strong>da</strong> brilhava ao sol como milhares de diamantes .<br />
Estranhamos muito pois não existia a menor possibili<strong>da</strong>de de<br />
haver chovi<strong>do</strong> . O céu continuava límpi<strong>do</strong> e totalmente azul . Muito azul .<br />
Logo depois vi ajuntamento de pessoas . Vi gente corren<strong>do</strong> mas<br />
não dei muita importância . Já estávamos chega<strong>do</strong> e eu separava as “rúpias”<br />
para pagar a corri<strong>da</strong> no “Tuc –Tuc”. Vera brincou dizen<strong>do</strong> que ali realmente a<br />
estra<strong>da</strong> fora bem lava<strong>da</strong> . Inteiramente muito bem lava<strong>da</strong> com muita água .<br />
Sem saber estávamos passan<strong>do</strong> pelo local onde a primeira on<strong>da</strong><br />
“Tsunami” havia atingi<strong>do</strong> aquele litoral . Ela adentrara pela praia , passara por<br />
cima <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e atingira a mata <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> . Isto aconteceu , pois ali ,<br />
naquele trecho , o relevo <strong>da</strong> praia local era realmente muito baixo , não ten<strong>do</strong><br />
mais de <strong>do</strong>is metros de altura entre o piso <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e o preamar , ou seja : de<br />
onde as on<strong>da</strong>s normalmente se quebram na praia e aquele trecho <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> .<br />
Chega<strong>da</strong> <strong>do</strong> Tsunami<br />
Pouco depois o “Tuc-Tuc” parou e paguei motorista . Quan<strong>do</strong><br />
começamos entrar na casa percebi , olhan<strong>do</strong> para o jardim e para o mar , que<br />
algo inusita<strong>do</strong> acontecia . A larga faixa <strong>da</strong> praia já havia desapareci<strong>do</strong> em to<strong>da</strong><br />
sua extensão , debaixo de enormes e fortes on<strong>da</strong>s que o mar estava trazen<strong>do</strong> .<br />
Elas , fazen<strong>do</strong> muita espuma , estavam agora começan<strong>do</strong> entrar pelo jardim .<br />
Uma segun<strong>da</strong> grande on<strong>da</strong> , muito forte , bateu na cerca <strong>da</strong> casa<br />
logo depois. Agora o mar , no seu violento recuo , estava levan<strong>do</strong> com seu<br />
repuxo um barco de pesca (e ele não era pequeno ) que ain<strong>da</strong> ontem servira de<br />
cenário para fotos que tiráramos naquele por <strong>do</strong> sol . A larga praia de<br />
Ambentota estava momentaneamente inteiramente desapareci<strong>da</strong> . Fiquei<br />
preocupa<strong>do</strong> . Nunca tinha visto aquele tipo de maré em tantos anos que<br />
passara em praias .<br />
Rapi<strong>da</strong>mente fomos <strong>do</strong> jardim para casa . Ain<strong>da</strong> deu para tirar<br />
algumas fotos , pois logo depois mais outra on<strong>da</strong> enorme já atingia o terraço e<br />
cobria a piscina com violência incrível .<br />
Ain<strong>da</strong> ontem eu brincara ali com Lucca . A piscina subitamente<br />
ficou escura , coberta de água e areia , com to<strong>da</strong> sujeira que o mar trouxe . As<br />
on<strong>da</strong>s agora tinham de tu<strong>do</strong> : paus , cocos , plásticos e to<strong>da</strong> espécie de coisas<br />
encontra<strong>da</strong>s nas praias . Tu<strong>do</strong> surgia e desaparecia dentro <strong>da</strong> força <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s ,<br />
o que já era assusta<strong>do</strong>r . Mais assusta<strong>do</strong>r era o forte barulho que faziam .<br />
Naquele momento aquelas on<strong>da</strong>s praticamente já elevaram to<strong>do</strong> o mar para<br />
uma altura de mais três metros . Iriam elevar ain<strong>da</strong> mais .<br />
Percebi que as próximas on<strong>da</strong>s deveriam certamente invadir a<br />
parte térrea <strong>da</strong> casa . To<strong>do</strong>s que estavam no la<strong>do</strong> de fora <strong>da</strong> casa correram
para dentro . As mulheres e crianças passaram rapi<strong>da</strong>mente para o an<strong>da</strong>r<br />
superior . Ain<strong>da</strong> vi quan<strong>do</strong> Vera , Paula e Lucca subiam a esca<strong>da</strong> juntamente<br />
com a babá Cora . Logo em segui<strong>da</strong> a on<strong>da</strong> que chegou molhou o piso de<br />
to<strong>da</strong>s as salas . Ain<strong>da</strong> lavou meus pés com força .<br />
Alguns <strong>do</strong>s amigos queriam então fechar as grandes portas que<br />
<strong>da</strong>vam para o terraço e jardim . Falei que seria um grande risco pois elas não<br />
resistiriam a força <strong>do</strong> mar . Naquele momento fui voto venci<strong>do</strong> e as portas<br />
foram fecha<strong>da</strong>s . Assim ficaram apenas por alguns rápi<strong>do</strong>s momentos .<br />
A nova grande on<strong>da</strong> chegou bem alta , com mais de quatro<br />
metros de altura , bateu violentamente e simplesmente arrancou to<strong>da</strong>s portas<br />
de seus batentes e as jogou contra nós . Por sorte ninguém foi atingi<strong>do</strong><br />
frontalmente . Mas sofremos pequenos ferimentos . Eu machuquei as pernas .<br />
Com as on<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> vinham to<strong>da</strong> espécie de paus e cocos que a força <strong>do</strong> mar<br />
trazia . Batiam com violência e poderiam ferir seriamente .<br />
Os homens começavam agora subir para o an<strong>da</strong>r superior ,<br />
quan<strong>do</strong> uma mais alta e mais forte <strong>da</strong>quelas on<strong>da</strong>s atingiu as paredes <strong>da</strong> casa .<br />
Eu , o pai e o tio Willie de Sharlene , éramos os últimos na parte de baixo e<br />
vimos quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s aqueles grandes e fortes vidros , que formavam parte <strong>da</strong>s<br />
paredes externas , foram simplesmente estraçalha<strong>do</strong>s por aquela on<strong>da</strong> .<br />
Agora até o chão passara a ser perigoso com tantos cacos<br />
espalha<strong>do</strong>s . A água <strong>do</strong> mar já cobria nossas pernas naquele momento . Cair<br />
por ali era risco sério .<br />
Quan<strong>do</strong> eu estava começan<strong>do</strong> subir a esca<strong>da</strong> , com tio Willie logo<br />
atrás , mais uma on<strong>da</strong> nos atingiu . Logo em segui<strong>da</strong> senti que seu repuxo era<br />
muito forte . Puxava realmente .Tive de fazer alguma força para não<br />
escorregar e cair .<br />
Chegan<strong>do</strong> ao segun<strong>do</strong> piso minha primeira preocupação foi<br />
verificar como estavam to<strong>do</strong>s os meus . Lucca meu neto estava tranqüilo com<br />
sua babá Cora , ten<strong>do</strong> Paula ao la<strong>do</strong> . Tinha nas mãos o carrinho que sobrara<br />
de sua coleção que o mar já levara . Mark Browning , meu genro ,<br />
demonstrava alguma preocupação . Paula que sempre foi destemi<strong>da</strong> e muito<br />
forte tentava animar as pessoas . Vera Lúcia apesar de durona estava<br />
preocupa<strong>da</strong> e rin<strong>do</strong> dizia : - “ Que tristeza , viajar tanto para vir morrer longe<br />
de casa , neste fim de mun<strong>do</strong>”.<br />
Respondi que na<strong>da</strong> iria acontecer . Fiquei para<strong>do</strong> por alguns<br />
momentos pensan<strong>do</strong> o que poderia fazer para salvar o meu pessoal . Chequei a<br />
conclusão que seria pouco . Muito pouco mesmo .
“Tsunami” passou<br />
Somente tive certeza de que na<strong>da</strong> nos iria acontecer quan<strong>do</strong><br />
cheguei ao terraço superior e olhan<strong>do</strong> para o mar percebi que naquele<br />
momento , rapi<strong>da</strong>mente , <strong>da</strong> mesma forma como subiu , ele começava a<br />
baixar . Realmente tu<strong>do</strong> estava acontecen<strong>do</strong> muito velozmente . Não havia<br />
demora<strong>do</strong> mais de 15 minutos. Respirei alivia<strong>do</strong> e comentei o fato com o<br />
australiano Mickey . Ele concor<strong>do</strong>u , suspirou e depois sorriu demora<strong>da</strong>mente,<br />
levantan<strong>do</strong> o polegar direito .<br />
Pouco depois o mar realmente baixava para níveis praticamente<br />
normais . Descemos e fomos desobstruir a porta de entra<strong>da</strong> que ficava junto ao<br />
jardim . Tu<strong>do</strong> que o mar trouxera de lixo , mais as pesa<strong>da</strong>s espreguiçadeiras de<br />
madeira massiça <strong>do</strong> terraço , estava agora empilha<strong>do</strong> junto a porta <strong>da</strong> rua.<br />
Tinha tanta sujeira que nem sonhan<strong>do</strong> <strong>da</strong>va para saber de onde veio.<br />
Paula chegou . Vinha contar as noticias que ouvira no radio : _ -<br />
“Um terremoto de enorme proporção , com mais de nove pontos na Escala<br />
Richter , ocorrera perto de Sumatra ten<strong>do</strong> uma larga extensão , precisamente<br />
entre as ilhas An<strong>da</strong>man e Nicobar . Foi segui<strong>do</strong> de vários outros terremotos<br />
menores . Com isto ocorreu um gigantesco deslocamento no solo marítimo e a<br />
formação <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s enormes – “Tsunamis” - que alcançaram mais de 10<br />
metros de altura na sua linha de frente ao atingirem as praias . Elas avançaram<br />
por to<strong>do</strong> o Oceano Indico na veloci<strong>da</strong>de aproxima<strong>da</strong> de 900 km/hora , para<br />
depois fazer grandes destruições na In<strong>do</strong>nésia , Tailândia , Índia , Paquistão ,<br />
Myanmar e Sri Lanka . Ain<strong>da</strong> agora naquele local perto de Sumatra estavam<br />
ocorren<strong>do</strong> outros terremotos de menor intensi<strong>da</strong>de” .<br />
Contou que , como nossa praia não ficava na linha principal de<br />
avanço <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s , pois se situava <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha , fomos atingi<strong>do</strong>s com<br />
menor violência e menor intensi<strong>da</strong>de pela “Tsunami” . Por isto , apesar <strong>do</strong><br />
susto e <strong>do</strong> banho , estávamos ain<strong>da</strong> vivos . O grande impacto <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s<br />
enormes , com mais de 10 metros de altura , somente atingira Sri Lanka pelo<br />
outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha , ou seja la<strong>do</strong> Leste . Ali o numero de mortos era enorme e<br />
a destruição indescritível .<br />
Fugas Para : Mosteiro – Colombo - Seguiria<br />
Mesmo haven<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> aqueles momentos de grande perigo<br />
continuávamos muito preocupa<strong>do</strong>s , pois poderia ain<strong>da</strong> ocorrer , como<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s segui<strong>do</strong>s terremotos , novo maremoto , nova “Tsunami” .<br />
Naquele momento não <strong>da</strong>va para saber com certeza o que poderia acontecer .<br />
Alem <strong>do</strong> mais estávamos em plena Lua Cheia , quan<strong>do</strong> as marés são mais<br />
fortes . A chega<strong>da</strong> de uma nova “Tsunami” poderia ser fatal .
Ficou resolvi<strong>do</strong> que imediatamente , pois não tínhamos maiores<br />
informações e opções , deveríamos seguir para um lugar alto , para um templo<br />
budista existente nas imediações de onde estávamos . Ele se localizava em um<br />
morro com mais de 60 metros de altura . Ali o perigo poderia ser menor .<br />
To<strong>da</strong>s 26 pessoas amigas foram coloca<strong>da</strong>s em duas peruas que se<br />
encontravam na casa . Não me pergunte como . Era o jeito .<br />
No caminho já deu para ver um pouco <strong>da</strong> destruição que a<br />
“Tsunami” provocara . <strong>Casa</strong>s mais simples destroça<strong>da</strong>s , pontes desloca<strong>da</strong>s<br />
assim como o leito <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro , animais mortos , florestas destruí<strong>da</strong>s,<br />
muito lixo esparrama<strong>do</strong> , barcos joga<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> , ônibus e carros<br />
vira<strong>do</strong>s . Alem <strong>do</strong> mais tinha muita água brilhan<strong>do</strong> ao sol por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s .<br />
Não vimos naquele momento , mas sabíamos de muitas pessoas mortas . Tu<strong>do</strong><br />
debaixo de contrastante e maravilhoso céu azul .<br />
Meia hora depois já estávamos nas áreas <strong>da</strong>quele templo. To<strong>do</strong>s<br />
demonstran<strong>do</strong> muita preocupação . Fomos recebi<strong>do</strong>s pelo Lama e seus<br />
discípulos . Foram gentis e até ofereceram almoço , típico budista , com muita<br />
pimenta , legumes e verduras cozi<strong>da</strong>s .<br />
Então ca<strong>da</strong> um comentava de seu mo<strong>do</strong> o aconteci<strong>do</strong> e as<br />
conseqüências . Os meninos <strong>do</strong>s australianos Mickey e Moi lamentavam seus<br />
sapatos que foram leva<strong>do</strong>s naquelas on<strong>da</strong>s . Lucca falava <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de seus<br />
carrinhos . Sharlene não reclamava <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos sofri<strong>do</strong>s na casa , apenas repetia<br />
que aquilo jamais havia aconteci<strong>do</strong> antes . Tio Willie falava <strong>da</strong>s portas e<br />
cui<strong>da</strong>va de cortes nas pernas . Paula animava os amigos .Vera Lucia<br />
estranhamente não falava na<strong>da</strong> . Vi nos seus olhos transparecer o perigo.<br />
To<strong>do</strong>s comentavam que tivéramos sorte. Muita sorte até aquele momento .<br />
Naquele local cheio de silencio e próprio para meditação comecei<br />
com muita calma analisar nossa situação . Cheguei a conclusão que tivéramos<br />
realmente muita , mas muita sorte mesmo , graças a Deus .<br />
Primeiro – Porque Vera Lucia e meu neto Lucca escaparam de<br />
morrer na praia quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Tsunami . Ela ocorreu por volta <strong>da</strong>s<br />
11,45 , apenas uma hora e pouco depois que eles saíram <strong>da</strong> praia . Foram<br />
salvos por causa <strong>do</strong> almoço marca<strong>do</strong> com Sharlene ;<br />
Segun<strong>do</strong> – Se a Tsunami nos tivesse alcança<strong>do</strong> na estra<strong>da</strong> não sei<br />
o que poderia acontecer .Os “Tuc- Tuc”não agüentariam o impacto <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s ;<br />
Terceiro – A casa , bem construí<strong>da</strong> , era bastante alta e resistente,<br />
suportan<strong>do</strong> as on<strong>da</strong>s que atingiram mais de 4 metros e meio de altura ;<br />
Quarto – A casa tinha um an<strong>da</strong>r superior e não ficamos<br />
inteiramente expostos a força <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s . Apenas sua parte térrea foi atingi<strong>da</strong> ,
fican<strong>do</strong> destruí<strong>da</strong> e inun<strong>da</strong><strong>da</strong> . Se a casa fosse somente térrea provavelmente<br />
as conseqüências seriam outras , imprevisíveis e provavelmente terríveis ;<br />
Quinto – O mais importante . Estávamos , por muita sorte , <strong>do</strong><br />
la<strong>do</strong> bom <strong>da</strong> ilha onde as on<strong>da</strong>s foram muito menores . Graças a Deus !<br />
No meio <strong>da</strong> tarde chegaram mais noticias contan<strong>do</strong> as<br />
devastações ocorri<strong>da</strong>s em to<strong>do</strong> Oceano Indico . O numero de mortos crescia<br />
assusta<strong>do</strong>ramente a ca<strong>da</strong> instante . A enorme ilha de Sumatra havia se<br />
desloca<strong>do</strong> 40 metros . O eixo <strong>da</strong> terra fora ligeiramente altera<strong>do</strong> . Soubemos<br />
também que a capital Colombo , por sorte em sua localização , fora <strong>da</strong> frente<br />
<strong>da</strong>s grandes on<strong>da</strong>s e pela altura de suas praias , não fora atingi<strong>da</strong> . Que a casa<br />
colonial onde estávamos hospe<strong>da</strong><strong>do</strong>s também ficara fora <strong>da</strong> destruição , pois o<br />
local onde estava situa<strong>da</strong> era bem mais alto que as on<strong>da</strong>s forma<strong>da</strong>s pela<br />
“Tsunami” . Elas atingiram a praia com violência , sem chegar até a casa .<br />
Depois de alguma conversa ficou resolvi<strong>do</strong> que iríamos para<br />
Colombo . Não ficaríamos na praia de Ambentota pois poderia existir mais<br />
problemas advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s terremotos continua<strong>do</strong>s . Naquele instante ficava<br />
claro que nossa maior preocupação era fugir de novas e possíveis “Tsunamis”.<br />
Ficou acerta<strong>do</strong> que primeiro passaríamos na casa colonial para<br />
pegar nossas malas . Dali seguiríamos para Colombo onde os parentes de<br />
Sharlene nos <strong>da</strong>riam hospe<strong>da</strong>gem . Depois , de acor<strong>do</strong> com o planeja<strong>do</strong><br />
inicialmente para nossa viagem , iríamos para um Spa Budista , pertencente ao<br />
irmão de Sharlene . Ele se situava bem alto nas montanhas , dentro de uma<br />
fazen<strong>da</strong> , no caminho para <strong>do</strong>is bonitos lugares turísticos denomina<strong>do</strong>s<br />
Massalla e Segyria . Lá ficaríamos uma semana , até o dia para nosso vôo de<br />
regresso .<br />
O dito foi feito e pouco depois já estávamos na casa colonial<br />
pegan<strong>do</strong> malas e aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> condução . Esta inicialmente chegou em numero<br />
insuficiente . Ficou acerta<strong>do</strong> que primeiro seguiriam as crianças com suas<br />
mães . Vera Lucia foi com elas . To<strong>do</strong>s continuavam temen<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de<br />
de outra “Tsunami”. A espera era angustiante .<br />
Saímos logo depois para uma viagem que levou quase 5 horas<br />
mas que normalmente poderia ser feita em apenas duas . O receio de novas<br />
on<strong>da</strong>s gigantes fez que muita gente se afastasse <strong>da</strong> costa . O transito ficou<br />
pesa<strong>do</strong> . Parecia filme de terror . Gente corren<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s com<br />
me<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Tsunamis . Pior era a dificul<strong>da</strong>de para encontrarmos combustível.<br />
Nos postos de gasolina haviam filas de carros para abastecimento . E a to<strong>do</strong><br />
instante existia a expectativa de surgir nova on<strong>da</strong> gigante . Ansie<strong>da</strong>de pairava<br />
no ar em ca<strong>da</strong> momento . Aquela sensação e a expectativa eram terríveis .
Depois de muitas para<strong>da</strong>s em postos vazios conseguimos gasolina<br />
e finalmente , durante a noite , chegamos em Colombo . Foi um alivio !<br />
Felizmente o grande receio de uma nova Tsunami que nos<br />
poderia pegar nas estra<strong>da</strong>s não ocorreu .<br />
Infelizmente tivemos grande tristeza ao tomarmos conhecimento<br />
<strong>da</strong>s muitas mortes e assistin<strong>do</strong> a destruição ocorri<strong>da</strong> . A televisão mostrava<br />
fotos , filmes e noticiário sobre a Tsunami . Locali<strong>da</strong>des cingalesas como<br />
Galle , Matara , Kalmunai , Samanturai e Marindu apresentavam grandes<br />
per<strong>da</strong>s humanas e enormes devastações . Também chegavam noticias <strong>da</strong>s<br />
mortes ocorri<strong>da</strong>s em to<strong>do</strong>s paises <strong>do</strong> Indico . Naquele momento já se falava<br />
em mais de 100.000 mortos .<br />
Meu calculo foi que as per<strong>da</strong>s humanas alcançariam no mínimo<br />
meio milhão , pois seria impossível saber realmente o numero de<br />
desapareci<strong>do</strong>s e quantos ficariam para sempre dentro <strong>do</strong> mar .<br />
Soubemos que os corpos <strong>do</strong>s mortos eram fotografa<strong>do</strong>s , tira<strong>da</strong>s<br />
suas impressões digitais e em segui<strong>da</strong> enterra<strong>do</strong>s em covas comuns . Era o<br />
jeito de evitar epidemias .<br />
A CAMINHO DAS MONTANHAS<br />
Preocupa<strong>da</strong> com o que poderia ser visto no amanhã seguinte , via<br />
televisões , minha filha Paula Marcondes ligou para minha irmã Marisa .<br />
Falou que to<strong>do</strong>s nós estávamos bem , pedin<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> que fossem informa<strong>do</strong>s<br />
parentes , amigos e os filhos de Vera Lucia .<br />
No dia seguinte , fomos para o Spa Budista .<br />
No caminho cruzamos com vários comboios de caminhões de<br />
socorro portan<strong>do</strong> bandeiras <strong>da</strong> Cruz Vermelha .<br />
Três horas depois estávamos chegan<strong>do</strong> , sem maiores problemas.<br />
O Spa era tipicamente budista , na construção e conceito .<br />
Ali os dias iriam passar e as noticias sobre o número de per<strong>da</strong>s<br />
humanas crescer. Ficávamos saben<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> pelos jornais que chegavam até<br />
nós com a vin<strong>da</strong> <strong>do</strong>s novos hospedes . Len<strong>do</strong> o noticiário soubemos <strong>da</strong> sorte<br />
de alguns e <strong>do</strong> azar de outros . Fatos incríveis ocorreram , salvan<strong>do</strong> ou<br />
matan<strong>do</strong> pessoas . As fotos nos jornais eram impressionantes. Nos obrigavam<br />
a pensar segui<strong>da</strong>mente sobre aquela tragédia aconteci<strong>da</strong> a beira mar .<br />
Segun<strong>do</strong> alguns geólogos , to<strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> com as “Tsunamis”<br />
seria uma reação <strong>da</strong> terra . A teoria se baseava no fato de que a causa principal<br />
estaria no calor gera<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> pela queima excessiva de petróleo.<br />
Aumentan<strong>do</strong> a temperatura , em muito , destruía parte <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de ozônio .<br />
Assim desprotegi<strong>da</strong> , pelo calor gera<strong>do</strong> e graças aos raios ultravioleta<br />
e outros mais que bombardeam a esfera terrestre com mais intensi<strong>da</strong>de,
ocorrem contínuos degelos diretos nas calotas <strong>do</strong> Pólo Norte e <strong>da</strong> Antártica .<br />
O gelo vinha e vem se transforman<strong>do</strong> em água que corre para o mar . Os<br />
pólos perdiam peso segui<strong>da</strong>mente . Sem o peso normal concentra<strong>do</strong> nas<br />
calotas polares diminuía a pressão no interior <strong>da</strong> Terra . Desta forma as<br />
cama<strong>da</strong>s internas <strong>do</strong> planeta tenderiam a novos ajustamentos . Daí<br />
possivelmente os terremotos . Eles poderiam ser agora mais contínuos e<br />
freqüentes .<br />
Aproveitamos to<strong>do</strong>s aqueles dias para descansar , passear e<br />
principalmente meditar sobre o ocorri<strong>do</strong> . Era impossível esquecer .<br />
Mu<strong>da</strong>nça Temporária de Filosofia<br />
O lugar ali , naquela parte alta de Sri-Lanka , é lin<strong>do</strong> , com<br />
muitas flores , um grande lago e uma majestosa montanha ao fun<strong>do</strong> . Ali não<br />
na<strong>da</strong> de moderni<strong>da</strong>de . Não havia eletrici<strong>da</strong>de , telefone , televisão, radio ,<br />
água quente encana<strong>da</strong> , gelo e nenhum outro conforto moderno. A pouca luz<br />
para as noites vinha de pequenas e românticas lamparinas. Por ali tive<br />
oportuni<strong>da</strong>de de ficar e passear mais alguns dias com meu neto Lucca .<br />
A comi<strong>da</strong> , sem nenhum prato oriun<strong>do</strong> de peixe ou carne de<br />
qualquer tipo , era bem apimenta<strong>da</strong> , farta e servi<strong>da</strong> em terrinas coloca<strong>da</strong>s em<br />
grandes esteiras que ficavam no chão , em um lin<strong>do</strong> local coberto e cerca<strong>do</strong><br />
por muitas plantas e flores . Lembro que lá dentro existiam inúmeras e<br />
confortáveis almofa<strong>da</strong>s . Bebi<strong>da</strong> era limona<strong>da</strong> ou suco de lima .<br />
No início detestei aquela total simplici<strong>da</strong>de . Entretanto , bem<br />
rapi<strong>da</strong>mente , senti os benefícios de uma vi<strong>da</strong> realmente muito mais simples .<br />
Comecei , apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des , a gozar de uma imensa paz .<br />
Enquanto aguardávamos o dia marca<strong>do</strong> para pegarmos o avião de<br />
volta , viven<strong>do</strong> uma vi<strong>da</strong> bem simples , deu para verificar quantas são as<br />
muitas bobagens que hoje fazemos , inteiramente desnecessárias . A socie<strong>da</strong>de<br />
moderna , apega<strong>da</strong> as coisas materiais , perdeu completamente o senso <strong>do</strong><br />
valor intrínseco de ca<strong>da</strong> bem . Ca<strong>da</strong> vez mais precisa de coisas completamente<br />
inúteis , que no final só irão atrapalhar pessoas , algumas por excesso , outras<br />
pela falta. Irão causar grandes frustrações . Tu<strong>do</strong> inteiramente desnecessário .<br />
Pela primeira vez passei um “reveillon” na maior tranqüili<strong>da</strong>de ,<br />
sem luxo nem ostentação , mas sentin<strong>do</strong> a grande alegria por ter ao meu la<strong>do</strong><br />
Paula , Mark e Vera Lucia . Alem <strong>do</strong> mais estava sentin<strong>do</strong> e ven<strong>do</strong> o sorriso<br />
feliz de meu neto Lucca Marcondes - Browning – minha continui<strong>da</strong>de .<br />
Dias depois , quan<strong>do</strong> no avião de volta para Hong Kong ,Vera<br />
Lucia Costa comentan<strong>do</strong> a “Tsunami” que enfrentáramos , disse que não havia
chega<strong>do</strong> nossa hora . “Que só peru morre de véspera ... Que tu<strong>do</strong> está escrito,<br />
“Mactube” – como dizem os árabes . Que tu<strong>do</strong> é só destino”.<br />
Ouvi e depois fiquei pensan<strong>do</strong> quantas vezes eu já estivera<br />
realmente em perigo de vi<strong>da</strong> . Lembrei que já tinha sofri<strong>do</strong> naufrágio ,<br />
desabamento de cinema , bati<strong>da</strong> com destruição total de carro , choque elétrico<br />
de alta voltagem , tiro nas costas . Levei até tiro na cabeça.<br />
Recordei que segun<strong>do</strong> a len<strong>da</strong> , como um gato , por sete vezes ,<br />
eu ficara frente a frente com a morte . E na<strong>da</strong> de muito mal me aconteceu . Sai<br />
sempre com vi<strong>da</strong> . “ Mactube ” ? Não sei ...<br />
Sei que agora preciso tomar muito cui<strong>da</strong><strong>do</strong> , pois após a<br />
“Tsunami” não tenho mais novas vi<strong>da</strong>s de reserva . As setes já se tinham i<strong>do</strong> .<br />
2 Edu Marcondes – 02/2005<br />
P.S. - Dificilmente alguém que esteve presente , dentro realmente de uma<br />
“Tsunami”, terá esta oportuni<strong>da</strong>de de escrever testemunhan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />
aqueles fatos . Por esta razão , para que o ocorri<strong>do</strong> não possa virar mais<br />
uma “Pagina Esmaeci<strong>da</strong> ”, deixo aqui meu depoimento .