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1 - "garoto do paulistano" - Casa da História

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ALEGUÁ ... GUÁ ...GUÁ PAULISTANO !<br />

Com o tempo nossas lembranças vão pouco a pouco esmaecen<strong>do</strong><br />

e , devagarzinho... bem devagarzinho , começam a desaparecer. Existem<br />

muitas horas de viver e sentir agitar as coisas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> . Existem apenas<br />

poucos momentos para lembra-las . Mesmo porque , quan<strong>do</strong> realmente a<br />

velhice chegar, não teremos certeza que a memória estará em condições<br />

para realmente lembrar to<strong>do</strong>s aqueles bons ou maus momentos vivi<strong>do</strong>s .<br />

Assim sen<strong>do</strong> , neste relato estarei contan<strong>do</strong> , além de fatos de<br />

minha vi<strong>da</strong> , estórias e casos , ocorri<strong>do</strong>s comigo e com nossos<br />

companheiros <strong>do</strong> Club Athletico Paulistano . Eles , to<strong>do</strong>s meus amigos ,<br />

foram e traduzem , desde minha infância , uma convivência muito feliz<br />

em minha vi<strong>da</strong> .<br />

Muitos casos são alegres . Alguns tristes . Será na reali<strong>da</strong>de ,<br />

dentro deste meu relato e antes de mais na<strong>da</strong> , minha homenagem para os<br />

amigos que já nos deixaram . Eles farão sempre parte <strong>da</strong> nossa “Turma <strong>do</strong><br />

Paulistano”<br />

Aqui estarei reviven<strong>do</strong> momentos fraternos que nos marcaram .<br />

Sau<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s irmãos <strong>do</strong> Paulistano que já se foram :<br />

Caio Marcelo Kiehl, Luiz Carlos Junqueira Franco, Luiz<br />

Vicente de Sylos, César Affonseca , Pedro Magalhães Padilha, Paulo<br />

Ribeiro, “Kico” Campassi , Silvio Abreu Jr. , Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro<br />

<strong>da</strong> Silva, Arman<strong>do</strong> Salem, Mario Ottobrini, Roberto Claro, Sérgio<br />

Macha<strong>do</strong> de Lucca, Osval<strong>do</strong> Doria, Antonio Ciampolini, Caio Pompeu<br />

de Tole<strong>do</strong>, “Jujuba” Moreira <strong>da</strong> Costa, Roberto Matarazzo, Antonio<br />

Duva Neto, “Hélinho”Fuganti, Manoel Leal Mendes, Candi<strong>do</strong><br />

Cavalcanti, “Zequinha”Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong>, “Paulão”Viana, Albano de<br />

Azeve<strong>do</strong> e Souza, José Tambelini , Luiz “Velu<strong>do</strong>”Pompeu de Tole<strong>do</strong>,<br />

Mario Fix, Wallinho Simonsen, Fernan<strong>do</strong> Simonsen, Paulinho Fleury,<br />

Adhemar Zacarias, Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Viana, José Cavalieri, Amedeo Papa,<br />

Carlos Dacache, Rubens Limongi França, Gilberto Marcondes Trigo,<br />

Deoclides Brito, Fernan<strong>do</strong> Pondé, Ayrton Baccelar, Mario Guisalberti,<br />

Claudio “Ratão”Fagundes , João Balbi Campos , Antonio Rabello,<br />

Fernan<strong>do</strong> Botelho de Miran<strong>da</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s eles nos deixaram , alguns muito ce<strong>do</strong> , no auge de tu<strong>do</strong><br />

que a vi<strong>da</strong> poderia lhes proporcionar de melhor .<br />

Hoje , no final <strong>da</strong>s tardes de verão , quan<strong>do</strong> o céu fica bem<br />

vermelho com muitas nuvens brancas , mostran<strong>do</strong> então as nossas cores ,<br />

sinto a brisa que traz , lá de cima , nosso canto de guerra :<br />

“Aleguá ... guá ...guá , Paulistano ... Paulistano ... ! ”<br />

Longe ... bem lá longe ... , eles ain<strong>da</strong> estão torcen<strong>do</strong> por nós .<br />

Edu Marcondes


O CLUB ATHLETICO PAULISTANO<br />

Edu Marcondes<br />

Sua Formação – A Antiga Sede Social – Administração Dr. Antonio<br />

Pra<strong>do</strong> – Futebol : Fim <strong>do</strong> Paulistano começo <strong>do</strong> São Paulo F.C. – Os<br />

Antigos Funcionários – “ Fecha<strong>do</strong> para Almoço”- Torneio Branco e<br />

Vermelho –<br />

Como este livro sempre vai girar em torno <strong>do</strong> Paulistano é bom<br />

conhecermos melhor o nosso clube desde este início. Aqui vamos falar <strong>da</strong><br />

sede velha , de seus campos esportivos , piscinas e tu<strong>do</strong> mais.<br />

Comecei freqüentar o Club Atlhetico Paulistano com freqüência ,<br />

conhecen<strong>do</strong> melhor sua história , sua gente e ain<strong>da</strong> fazen<strong>do</strong> muitos<br />

amigos por lá , desde inicio <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> 1.940 .<br />

Seria impossível falarmos sobre nosso clube sem comentarmos a sua<br />

formação e fun<strong>da</strong>ção, sem contarmos coisas sobre sua antiga sede, suas<br />

primeiras ativi<strong>da</strong>des e seus vários e antigos departamentos .<br />

Lembran<strong>do</strong> sempre de nossa gente sempre vitoriosa nos esportes .<br />

De nossas Diretorias.<br />

Também não esquecen<strong>do</strong> <strong>do</strong>s velhos funcionários .<br />

A Turma <strong>do</strong> Paulistano , que foi “Alma Mater”<strong>do</strong> Clube durante<br />

tantos e tantos anos , será narra<strong>da</strong> logo depois, no decorrer de outros fatos ,<br />

de outras histórias , em muitas outras partes . Ela assim se formou .<br />

Antes de mais na<strong>da</strong>, é preciso lembrar <strong>da</strong>s suas origens , <strong>da</strong>s suas<br />

primeiras instalações . Daquela “Antiga Sede <strong>do</strong> Paulistano ” , inicia<strong>da</strong> em<br />

construção por volta <strong>da</strong> primeira déca<strong>da</strong> <strong>do</strong> século XX , no coração <strong>do</strong><br />

Jardim América .<br />

Sua Entra<strong>da</strong> Social naquela época era realiza<strong>da</strong> pela Rua Colômbia ,<br />

ten<strong>do</strong> , alguns anos depois em sua frente , o Monumento aos nossos<br />

Vitoriosos Joga<strong>do</strong>res de Futebol . Eles foram vitoriosos em to<strong>da</strong> Europa .<br />

Porem , enten<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> importante , nesta sua história , contar<br />

como o nosso clube veio crescer em pleno coração <strong>do</strong> Jardim América .<br />

Isto , como lembro agora , ain<strong>da</strong> por volta de 1.910 .<br />

Antes um pequeno reparo que julgo necessário para tirar qualquer<br />

duvi<strong>da</strong> . Pouco tempo atrás vieram me dizer que a fun<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> nosso clube<br />

não tinha realmente aconteci<strong>do</strong> no dia 29 de Dezembro de 1.900 .<br />

. Edgard Scavone , um novo diretos <strong>do</strong> CAP , achou um recibo de<br />

associa<strong>do</strong> , nem se sabe onde , com <strong>da</strong>ta anterior <strong>da</strong>quela acima explicita<strong>da</strong><br />

29/12 /1.900. Apenas com dias de antecedência .<br />

Porem cumpre lembrar que a <strong>da</strong>ta de nossa fun<strong>da</strong>ção é aquela mesmo<br />

que sempre valeu e foi sempre comemora<strong>da</strong> , inclusive por seus antigos<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong>res desde o seu inicio , sempre devi<strong>da</strong>mente muito respeita<strong>da</strong> .


Será que eles não conheciam esta <strong>da</strong>ta ?<br />

Alem <strong>do</strong> mais o tal recibo pode até ter si<strong>do</strong> feito antes ou depois , por<br />

mil e uma razões . Pouco interessa . E nem vem ao caso .<br />

Vai continuar valen<strong>do</strong> a <strong>da</strong>ta que durante mais de 100 anos<br />

comemorou dignamente nossa fun<strong>da</strong>ção . É a nossa tradição .<br />

Na<strong>da</strong> vai representar outra <strong>da</strong>ta perto de nossas grandes tradições .<br />

Nem mesmo poderia !<br />

O Paulistano começou como clube, ten<strong>do</strong> sua área esportiva junto<br />

ao Velódromo. Ele que ficava exatamente onde se situa a atual Praça<br />

Roosevelt. Por lá, naquele Velódromo, começou sua carreira vence<strong>do</strong>ra .<br />

Ali jogou futebol até aproxima<strong>da</strong>mente 1.916 . Ganhou jogos importantes<br />

para a época , com os principais clubes <strong>da</strong> época , tais como :<br />

Paulistano 2x0 Fluminense ; - Paulistano 3x0 Americano ; -<br />

Paulistano 3x0 Dublin <strong>do</strong> Uruguai ; - Paulistano 5 x 0 Sel. Paraná ;<br />

Paulistano 5 x 3 Argentinos ; - Paulistano 4 x 0 Palestra ;- Paulistano 5<br />

x 2 Internacional ;- Paulistano 3 x 0 Corinthians - Paulistano 1 x 0<br />

Palestra ;-Paulistano 4 x 2 Universal /Uruguai ; - Paulistano 2 x 0<br />

Flamengo .<br />

Naqueles tempos a bicicleta tinha ganho adeptos esportistas. Daí o<br />

advento <strong>do</strong> Velódromo . Porem quan<strong>do</strong> apareceu o futebol , vin<strong>do</strong> para o<br />

Brasil com Charles Miller, a preferência mu<strong>do</strong>u . Rapi<strong>da</strong>mente ! Então o<br />

Paulistano também se transformou em um grande clube futebolístico .<br />

Um <strong>do</strong>s mais importantes .<br />

Único clube com quatro títulos paulista em sequência . Até hoje !<br />

Foi o primeiro clube brasileiro que excursionou vitoriosamente pela<br />

Europa , realizan<strong>do</strong> lin<strong>da</strong>s exibições durante o ano de 1.925 , vencen<strong>do</strong><br />

praticamente to<strong>da</strong>s as parti<strong>da</strong>s disputa<strong>da</strong>s. Delas podemos lembrar :<br />

Paulistano 3 x 1 Stade Français ; - Paulistano 4 x 0 Bordeaux ;-<br />

Paulistano 2 x 1 Havre ;- Paulistano 2 x 1 Seleção <strong>da</strong> Alsácia ; -<br />

Paulistano 2 x 1 Zurich.<br />

Por isto mesmo a ci<strong>da</strong>de comemorou devi<strong>da</strong>mente este feito<br />

homenagean<strong>do</strong> o Paulistano e seus atletas , com aquele Marco Histórico ,<br />

implanta<strong>do</strong> na rua Colômbia , bem em frente <strong>da</strong> nossa antiga portaria.<br />

Nosso clube desde aquele tempo foi se transforman<strong>do</strong> em um marco<br />

esportivo de São Paulo e <strong>do</strong> Brasil . Realmente Esportivo .<br />

. - Antiga Sede Social<br />

Pois bem, visan<strong>do</strong> ficar sempre bem localiza<strong>do</strong> , o Paulistano adquiriu<br />

uma grande área, situa<strong>da</strong> entre as Ruas : Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s , Colômbia e<br />

Honduras , no coração <strong>do</strong> Jardim América .<br />

Entretanto , como precisava de um Campo para realizar suas Parti<strong>da</strong>s<br />

de Futebol, seria necessário ampliar o espaço existente naquela nova área .


Precisava de mais metros quadra<strong>do</strong>s para construção de um Campo de<br />

Futebol, com dimensões apropria<strong>da</strong>s. Assim, conforme antigas<br />

informações, de fontes indiscutíveis uma nova área contigua aquela inicial<br />

foi adquiri<strong>da</strong> pela família Pra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>a<strong>da</strong> ao Paulistano . Ficava logo depois<br />

<strong>da</strong>quela inicial e liga<strong>da</strong> a mesma .<br />

Assim nossa área atual chegou até a Rua Argentina .<br />

Isto tu<strong>do</strong> aconteceu praticamente naquela mesma época .<br />

Então nossa área passou a ter as mesmas dimensões atuais . Ficou<br />

praticamente com seus <strong>do</strong>is alqueires .<br />

Enquanto as residências estavam surgin<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> Jardim América, a<br />

nossa sede social já estava sen<strong>do</strong> acaba<strong>da</strong> . Ficou muito bonita , muito<br />

funcional para a época , ampla , clara, ventila<strong>da</strong> e acima de tu<strong>do</strong><br />

extremamente agradável .<br />

Outro dia ouvi de um sócio bem mais novo que a nossa antiga sede<br />

era apenas um “Grande <strong>Casa</strong> Velha” . Falta de respeito inicial . Péssima<br />

educação alem <strong>do</strong> mais . Falar <strong>do</strong> nunca conheceu ! Seria o mesmo que<br />

chamar o nosso lin<strong>do</strong> Teatro Municipal de coisa velha . Absur<strong>do</strong> !<br />

Para tentar <strong>da</strong>r idéia de como era nossa sede , vou descrevê-la , nos<br />

detalhes que a minha memória ain<strong>da</strong> possa recor<strong>da</strong>r , com meus quase<br />

oitenta anos e depois de mais de meio século de seu final , quan<strong>do</strong> ela foi<br />

derruba<strong>da</strong> para ampliar a área <strong>do</strong> CAP , por volta de 1.959 .<br />

A sua Portaria <strong>da</strong>va entra<strong>da</strong> pela Rua Colômbia . Ali se<br />

encontravam <strong>do</strong>is grandes portões , com o símbolo <strong>do</strong> CAP em ca<strong>da</strong> uma<br />

<strong>da</strong>s portas . Logo em segui<strong>da</strong> estava situa<strong>da</strong> uma Guarita . Ali ficavam os<br />

porteiros .<br />

Para acesso ao Paulistano seria indispensável apresentação <strong>da</strong><br />

carteirinha social , para depois passar , entran<strong>do</strong> por uma catraca . A<br />

carteirinha era ain<strong>da</strong> de couro , com o distintivo <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> <strong>do</strong> CAP na capa .<br />

Dentro delas , de um la<strong>do</strong> a foto <strong>do</strong> sócio , nome e sua categoria social . Do<br />

outro o recibo que deveria estar pago .<br />

Os sócios na época poderiam ser <strong>da</strong>s seguintes classes : Infantil<br />

(com mais de 12 anos ) ; Juvenil ( com mais de 14 anos) ; Individual e ou<br />

Familiar ( já na condição de adulto ) . Existia ain<strong>da</strong> a classe <strong>do</strong>s Sócios<br />

Atletas . Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Carteirinha estava o recibo <strong>do</strong> mês . Com atraso<br />

o sócio não entrava .<br />

Dali passaríamos por uma área bem ajardina<strong>da</strong> , bem em frente<br />

<strong>da</strong> antiga sede , até alcançarmos a Entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Sede Social , com suas Altas<br />

Portas de Madeira . Elas ficavam situa<strong>da</strong>s no alto de Três largos e amplos<br />

Degraus de Mármore Branco . Como Cobertura <strong>da</strong> Entra<strong>da</strong> para a Sede<br />

existia um pequeno telha<strong>do</strong> .


Bem <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito <strong>da</strong> portaria ficava um amplo local para as<br />

Bicicletas serem devi<strong>da</strong>mente guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s , sem ocupar muito espaço . Não<br />

tinham cadea<strong>do</strong>s pois naquele tempo ninguém roubava bicicletas .<br />

Dentro , logo na entra<strong>da</strong> havia um Grande Hall , onde estavam<br />

instala<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is grandes bancos, um de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele local . Por ali<br />

existiam ain<strong>da</strong> as Entra<strong>da</strong>s para Duas Alas , bem específicas ,<br />

situa<strong>da</strong>s de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele Hall .<br />

Para o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> existia a Secretaria <strong>do</strong> Club. Vinha logo<br />

depois um corre<strong>do</strong>r que <strong>da</strong>va para o amplo Salão de Barbeiro , com<br />

Manicure e Engraxate . No final <strong>do</strong> tal corre<strong>do</strong>r um largo Banheiro para os<br />

homens .<br />

Do la<strong>do</strong> direito : As Salas <strong>da</strong> Diretoria e Presidência , Cabeleireiro<br />

para mulheres e Banheiro feminino.<br />

Bem em frente ao hall , ocupan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a largura <strong>da</strong> construção ,<br />

um muito Amplo e Longo Salão . Existia nele , logo depois <strong>da</strong> sua entra<strong>da</strong>,<br />

no alto <strong>da</strong>quela entra<strong>da</strong> , uma parte suspensa , como um Pequeno<br />

Camarote. Era possível chegar até lá via uma escadinha lateral que ficava<br />

dentro <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r que ia para o banheiro masculino . Ali, naquele<br />

pequeno camarote, <strong>da</strong>n<strong>do</strong> vista para to<strong>do</strong> Salão Social, muitas vezes nos<br />

escondíamos , depois <strong>do</strong> clube fechar , ficávamos esperan<strong>do</strong> para “Furar<br />

Bailes de Formatura” , logicamente de terceiros que haviam aluga<strong>do</strong> o<br />

Salão . Pura fuzarca <strong>da</strong> juventude .<br />

Aquele Amplo Salão tinha várias funções . Era destina<strong>do</strong> aos<br />

Bailes e Festas em dias previamente marca<strong>do</strong>s , nota<strong>da</strong>mente os Bailes de<br />

Carnaval e <strong>do</strong> Aniversário <strong>do</strong> Paulistano . Sem festas , nem bailes , ele era<br />

Dividi<strong>do</strong> em Duas Partes , por Biombos grandes de couro escuro . Bonitos<br />

e muito funcionais .<br />

Do la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong>s biombos ficava o “Salão de Jogos de<br />

Cartas”. Ali se encontravam os sócios , para nos finais <strong>da</strong>s tardes e mesmo<br />

nas noites realizar jogos de “buraco” , “pôquer” e “pif-paf”.<br />

Do outro la<strong>do</strong> , ampla Sala de Estar , com vista para o Bar Social .<br />

Era decora<strong>da</strong> com móveis bonitos e estofa<strong>do</strong>s em couro , tapetes persas ,<br />

mesinhas laterais com luminárias e mesinhas decorativas com troféus<br />

ganhos pelo CAP . No centro deste Salão sempre ficava uma grande Mesa<br />

Retangular , de madeira muito bonita , com um Grande Vaso de Flores<br />

naturais, bem no centro . Tu<strong>do</strong> muito distinto . Sem ostentação .<br />

Na continui<strong>da</strong>de deste Amplo Salão , passan<strong>do</strong> por Largas Portas de<br />

Vidro , encontrávamos o grande Bar Social <strong>do</strong> Club . Era largo e compri<strong>do</strong><br />

com largas janelas em seus <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s . Em uma parte <strong>do</strong> seu la<strong>do</strong><br />

esquer<strong>do</strong> ficava o Bar propriamente dito , com seu longo Tampo de<br />

Mármore e suas Cadeiras Altas , ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mesmo .


Desde a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele Bar , em sua frente , existiam duas alas de<br />

grandes conjuntos , forma<strong>do</strong>s por uma grande, longa e bonita mesa de<br />

madeira , com <strong>do</strong>is grandes bancos instala<strong>do</strong>s , um de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> . O<br />

conjunto era de madeira de lei . Ca<strong>da</strong> um destes conjuntos servia até para<br />

oito pessoas . Ao re<strong>do</strong>r de tu<strong>do</strong> isto muitas outras mesinhas , com seis<br />

cadeiras ca<strong>da</strong> uma.<br />

Era por lá que se jogava : Com <strong>da</strong><strong>do</strong>s : “Bidu e Bide” , “Du<strong>do</strong>” ,<br />

“Pôquer com Da<strong>do</strong>s”... e conversa fora . Aposta : normalmente cerveja .<br />

Este bar era extremamente ventila<strong>do</strong> com largas e amplas janelas<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s , ten<strong>do</strong> magnífica vista para os jardins internos <strong>do</strong> Clube.<br />

Ele <strong>da</strong>va saí<strong>da</strong> para o nosso longo Terraço . Ocupava to<strong>da</strong> a parte<br />

trazeira <strong>da</strong>quela construção . Ali era considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s melhores lugares<br />

para se tomar um refrigerante , um suco , chá e até mesmo um cafezinho ,<br />

baten<strong>do</strong> papo com os amigos . Paquerar se possível .<br />

Existiam no terraço muitas Mesas com suas Cadeiras de Vime .<br />

Largas poltronas, também de vime , ficavam devi<strong>da</strong>mente encosta<strong>da</strong>s nas<br />

paredes.<br />

A vista para a Paisagem Interior <strong>do</strong> clube até hoje fica na memória .<br />

Muita arvore , muito verde , muito canteiro com flores e muita beleza .<br />

Este Terraço , como to<strong>da</strong> construção <strong>da</strong> sede , estava situa<strong>do</strong> em<br />

uma parte mais alta <strong>do</strong> terreno . Ali, depois <strong>do</strong> terraço , um longo grama<strong>do</strong> ,<br />

no meio <strong>do</strong> qual foi instala<strong>da</strong> uma grande pista de <strong>da</strong>nças, muito utiliza<strong>da</strong><br />

nos Chás Dançantes de Noites de Verão .<br />

Descen<strong>do</strong> três degraus podíamos chegar a qualquer lugar <strong>do</strong> clube .<br />

Daquele Terraço ain<strong>da</strong> podíamos ver ao longe grande parte <strong>do</strong><br />

interior <strong>do</strong> Paulistano . Bem em frente uma ampla área grama<strong>da</strong> onde se<br />

encontravam os famosos “Laguinhos”. Na reali<strong>da</strong>de não eram Laguinhos<br />

mas “Riozinhos”. Eles circun<strong>da</strong>vam por to<strong>da</strong> aquela grande área verde ,<br />

cheia de maravilhosas arvores e suas sombras .<br />

Naquele lugar foi construí<strong>da</strong> a atual e nova piscina .<br />

Daquele terraço ain<strong>da</strong> podíamos ver até o final <strong>do</strong> clube , com seu<br />

Antigo Ginásio e a Pérgula <strong>da</strong> Antiga Piscina . As colunas que formavam<br />

aquela pérgula ain<strong>da</strong> estão no Paulistano . São as mesmas que acompanham<br />

to<strong>do</strong> o caminho para a sede , forman<strong>do</strong> uma pérgula com flores , desde a<br />

entra<strong>da</strong> que existe hoje na Rua Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s .<br />

Lembro que a nossa Antiga Piscina tinha maravilhosa aura de muita<br />

alegria que até hoje é muito difícil de ser encontra<strong>da</strong> . Aquele lugar mágico<br />

fora inaugura<strong>do</strong> pelo Presidente <strong>do</strong> Brasil - Dr. Washington Luiz – caso<br />

não esteja engana<strong>do</strong>, em 1.928 .<br />

Foi a primeira piscina construí<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a América <strong>do</strong> Sul .


Nela nadei desde a infância até seu final . Minha boa saúde foi ali<br />

constituí<strong>da</strong> por seu uso diário . Ali construí muitas boas recor<strong>da</strong>ções .<br />

Do antigo Ginásio sempre ficam na memória aqueles sons<br />

impossíveis de serem esqueci<strong>do</strong>s , aqueles sons que vinham de nossa<br />

torci<strong>da</strong> . Aleguá .. guá ...guá ... Paulistano !<br />

Fica também na memória o som <strong>da</strong>quele piano que acompanhava<br />

diariamente as Aulas de Ginástica Sueca <strong>do</strong> velho Richenbaker . Era na<br />

época a melhor maneira para se manter a forma física , principalmente para<br />

aqueles que trabalhavam o dia inteiro senta<strong>do</strong>s .<br />

É impossível esquecer o Coro de Nossa Gente , torcen<strong>do</strong> , cantan<strong>do</strong> e<br />

vibran<strong>do</strong> pelas cores campeã <strong>do</strong> nosso clube em qualquer jogo ou disputa<br />

Fica até hoje em minha memória :<br />

“ Aleguá... guá... guá ... Paulistano ...Paulistano ...Paulistano ! ”<br />

Naquele mesmo Ginásio , aju<strong>da</strong>n<strong>do</strong> Tozinho Lara Campos , foi cria<strong>da</strong><br />

e forma<strong>da</strong> a Primeira Área de Halteres <strong>do</strong> Paulistano . Para tanto fomos<br />

buscar , em sua casa <strong>da</strong> Av. Brasil , as barras e os diversos pesos .<br />

Ele estava <strong>do</strong>an<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os pesos necessários para nosso CAP .<br />

Naquela noite , Dezembro de 1950 , teríamos a Competição Paulista de<br />

Levantamento de Pesos para Estreantes . E não tínhamos os pesos .<br />

Com Tozinho Lara Campos eles foram consegui<strong>do</strong>s !<br />

Eu estava competin<strong>do</strong> . Fui vice campeão <strong>do</strong>s Meio Pesa<strong>do</strong>s .<br />

Nosso técnico era Renè Usmiani – Egipcio - Antigo campeão mundial.<br />

Entre aquelas duas áreas existia o Campo de Atletismo .Ele<br />

anteriormente fora de Futebol e aconteceram ali grandes vitórias <strong>do</strong><br />

Paulistano . Por consequ~encias muitos campeonatos .<br />

Ao la<strong>do</strong> dele existia sua Arquibanca<strong>da</strong> . Que não mais existe .<br />

Debaixo dela era vestiário para esportes . Logo depois <strong>da</strong>quela<br />

arquibanca<strong>da</strong> existia uma quadra de “Ring”. Maravilhosa para <strong>da</strong>r e criar<br />

fôlego aos atletas .<br />

Dos <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> sede se viam as Múltiplas Quadras de Tênis . Eram<br />

perfeitas e muito utiliza<strong>da</strong>s . Sempre . Algumas já eram ilumina<strong>da</strong>s .<br />

No fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> clube , ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele canto , onde a rua Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s se encontra com a Rua Argentina, ficava e continua existin<strong>do</strong> a<br />

ultima recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>quela época . É uma quadra que serve para Jogos de<br />

Frontão e de Paleta . Realmente a única coisa que sobrou <strong>do</strong> velho<br />

Paulistano . Ali sempre paro, olho e fico lembran<strong>do</strong> .<br />

Quantos amigos ...quantos jogos ... Quantas sau<strong>da</strong>des .<br />

No mais , tu<strong>do</strong> <strong>do</strong> antigo Paulistano veio abaixo , deixan<strong>do</strong> sau<strong>da</strong>des .


Perto <strong>da</strong> piscina e ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo de atletismo existia uma<br />

“Enorme , Maravilhosa , Fron<strong>do</strong>sa e Centenária - “Arvore de Pau Ferro” .<br />

Para ceder espaço à moderni<strong>da</strong>de ela foi elimina<strong>da</strong> . Sem dó !<br />

Por to<strong>da</strong> volta <strong>do</strong> clube existiam antigos eucaliptos . Tinham mais de<br />

50 anos e ficaram tão grandes que se tornaram perigosos . Poderiam cair .<br />

Foram retira<strong>do</strong>s . Existiam justificativas .<br />

Um dia a antiga sede <strong>do</strong> Paulistano estava sen<strong>do</strong> derruba<strong>da</strong> . Ela<br />

<strong>da</strong>ria lugar para uma nova , construí<strong>da</strong> em outra área interna <strong>do</strong> Clube .<br />

Junto com João Campos , Cesar Affonseca Silva e Ari Mace<strong>do</strong><br />

fomos ver sua demolição . Ficamos olhan<strong>do</strong> sem bem entender o por que .<br />

Em uma forma muito espontânea , saiu <strong>da</strong>quela visita um<br />

“sambinha”. Foi feito para lembrar nossas sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quela sede , onde<br />

tanto bons momentos passamos .<br />

Ficou assim :<br />

“ No coração Paulistano<br />

Hoje mora um desengano<br />

Pela sede social nossa tradição ...<br />

Da sede tão afama<strong>da</strong><br />

Agora jaz derruba<strong>da</strong><br />

Só ficou recor<strong>da</strong>ção ...<br />

Até ... o velho Jorge foi despeja<strong>do</strong><br />

E teve que se mu<strong>da</strong>r com seu Barzinho ...<br />

Ai que sau<strong>da</strong>des ...<br />

Da batuca<strong>da</strong> feita naquele cantinho .”<br />

Canta Joãozinho ...!<br />

- Administração <strong>do</strong> Dr. Antonio Pra<strong>do</strong><br />

De to<strong>do</strong>s Presidentes que vi passar , ele era um Presidente bem<br />

diferente no trato <strong>da</strong>s nossas coisas . Sua presença era constante no<br />

Paulistano . Não só na sala <strong>da</strong> Presidência , mas em to<strong>do</strong>s lugares . Não<br />

para praticar esporte ou gozar a presença <strong>do</strong>s amigos . Nem mesmo para<br />

tomar algum café ou refrigerante .<br />

Sua presença constante era de puro administra<strong>do</strong>r . Diária .<br />

To<strong>da</strong> manhã , vestin<strong>do</strong> terno de linho branco no verão , ou cinzento<br />

na meia estação , sempre com colete e corrente de ouro <strong>do</strong> seu relógio<br />

aparecen<strong>do</strong> , isto quan<strong>do</strong> abria por necessi<strong>da</strong>de o paletó , no Paulistano<br />

chegava bem ce<strong>do</strong> o nosso Presidente Antonio Pra<strong>do</strong> .


Lembro muito bem dele . Figura marcante . Chegava por volta <strong>da</strong>s<br />

8,30 horas <strong>da</strong> manhã. O Gerente <strong>da</strong> época , Sr. Coelho , com uma prancheta<br />

na mão , o acompanhava em seu giro diário por to<strong>da</strong>s as dependências <strong>do</strong><br />

Paulistano .<br />

Ele ia ven<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> suas ordens , com prazo acerta<strong>do</strong> para<br />

execução . O Sr. Coelho tomava nota . Depois man<strong>da</strong>va executar e cobrava<br />

em segui<strong>da</strong> . Não tinha conversa . Tu<strong>do</strong> acerta<strong>do</strong> com o Presidente deveria<br />

estar feito e resolvi<strong>do</strong> na hora certa e marca<strong>da</strong> . Sem erro .<br />

Porem Antonio Pra<strong>do</strong> era pessoa afável . Cheia de lógica e de muito<br />

espírito de justiça .Vou contar um caso , aconteci<strong>do</strong> comigo e com amigos .<br />

Certo dia, em 1.951 , quan<strong>do</strong> eu tinha 19 anos, depois de ganhar o<br />

Campeonato de “Braço de Ferro” ( naquele tempo de muitos esportes ele<br />

também existia ) , estávamos ali no Bar Social . Nós iríamos agora<br />

Representar o Paulistano no Campeonato que a “Gazeta Esportiva”<br />

promovia to<strong>do</strong>s os anos . Quem cui<strong>da</strong>va de tu<strong>do</strong> era o amigo Ubirajara<br />

Pillagalo .<br />

Aqueles que tinham participa<strong>do</strong> <strong>do</strong> campeonato interno , mostravam<br />

para amigos o jeito de ajustar e pegar as mãos , antes de começar a fazer<br />

força. Por isto <strong>da</strong>vam risa<strong>da</strong>s e faziam algum barulho, mas que não era<br />

muito .<br />

Subitamente apareceu o Gerente Coelho. O barulho acontecia<br />

naturalmente , pois éramos mais de 18 rapazes .<br />

O Sr. Coelho não teve duvi<strong>da</strong> . No ato suspendeu 5 sócios , entre eles<br />

este seu re<strong>da</strong>tor . Sem o menor motivo. A suspensão foi imediata .<br />

Tivemos que sair <strong>do</strong> Clube naquele momento .<br />

O Sr. Coelho estava aze<strong>do</strong> . Não quis conversas .<br />

Na mesma noite fui jantar em casa de meu avô , Prof. Dr.Thomaz<br />

Oscar Marcondes de Souza . Ele reparou que eu estava aborreci<strong>do</strong> .<br />

Perguntou o que havia aconteci<strong>do</strong> . Eu contei tu<strong>do</strong> , em detalhes . Ele<br />

parou . pensou e disse que era uma indigni<strong>da</strong>de que estávamos sofren<strong>do</strong> .<br />

Ele não gostou . De imediato tomou providencia ligan<strong>do</strong> para o seu<br />

amigo Dr. Antonio Pra<strong>do</strong> . Contou o caso . Logo ficou então combina<strong>do</strong><br />

que no outro dia , as 14 horas , nós os prejudica<strong>do</strong>s , deveríamos ir até a<br />

casa <strong>do</strong> Dr. Antonio Pra<strong>do</strong> , na Av. Higienópolis . Ele iria nos ouvir .<br />

Na hora marca<strong>da</strong> lá estávamos : Roberto Claro , Sérgio Macha<strong>do</strong> ,<br />

Albano de Camargo , João Campos e eu - o causa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> problema .<br />

Fomos recebi<strong>do</strong>s pelo seu Mor<strong>do</strong>mo que pediu para ser<br />

acompanha<strong>do</strong> . O jardim e a casa eram imensos , quase um palácio , local<br />

onde , após seu falecimento , se formou um clube famoso .<br />

Minutos depois ele nos atendeu no Salão de Visita .


Queria saber <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong> . Pedi licença e contei o caso com to<strong>do</strong>s<br />

detalhes . Ele ouviu com muita atenção , sem interromper e na<strong>da</strong> perguntar.<br />

No fim disse que poderíamos voltar a entrar no Paulistano .<br />

A suspensão se acabara . Agradecemos .<br />

Quan<strong>do</strong> estávamos sain<strong>do</strong> ele perguntou : - “Quem é o neto <strong>do</strong><br />

amigo Marcondes ? . De imediato me apresentei . Então ele disse sorrin<strong>do</strong> :<br />

“ Vocês an<strong>da</strong>m jogan<strong>do</strong> futebol no grama<strong>do</strong> <strong>da</strong> pista de atletismo . É<br />

proibi<strong>do</strong> e vocês sabem muito bem ! Porem ..., como jogam descalços e não<br />

estragam a grama, podem continuar ... Como fazem hoje ... Quan<strong>do</strong> eu por<br />

lá não estiver !”<br />

Nota: Aquele jogo de futebol era na reali<strong>da</strong>de um “racha”<br />

realiza<strong>do</strong> com 5 ou 6 <strong>garoto</strong>s em ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong>. Ocupava um pequeno pe<strong>da</strong>ço<br />

de grama<strong>do</strong> em um canto <strong>do</strong> Campo de Atletismo.<br />

As traves eram improvisa<strong>da</strong>s com balizas para Salto em Altura .<br />

Quem também por vezes jogava com a moleca<strong>da</strong> era o grande Arthur<br />

Friedenreicht . Ele ,“El Tigre”, já estava por volta <strong>do</strong>s 53 anos , pois<br />

nascera em 1.898 . Tirava os sapatos e batia bola com aqueles “Pernas de<br />

Pau”. Sabia tu<strong>do</strong> ! E quan<strong>do</strong> fazia um gol vibrava igual um menino !<br />

- Futebol : Fim <strong>do</strong> Paulistano – Início <strong>do</strong> São Paulo F C<br />

Antonio Pra<strong>do</strong> tinha para si que to<strong>do</strong> esporte deveria ser ama<strong>do</strong>r.<br />

Este principio , mais o trato <strong>da</strong>s coisas com serie<strong>da</strong>de , foi básico<br />

para o termino <strong>do</strong> futebol no Paulistano .<br />

Na época o Paulistano era o maior time de futebol brasileiro .<br />

O Fato : No início de 1930 , os clubes que sempre estiveram ao la<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Paulistano , como ama<strong>do</strong>res na LAF – “Liga Ama<strong>do</strong>ra de Futebol”,<br />

passaram a apoiar a APEA , que depois iria se transformar na Federação<br />

Paulista de Futebol . Eles queriam tornar o futebol profissional .<br />

Antonio Pra<strong>do</strong> e alguns diretores <strong>do</strong> CAP não concor<strong>da</strong>ram .<br />

Então o Paulistano se retirou <strong>do</strong> campeonato , definitivamente .<br />

Importante : Agora vou transcrever o que redigiu Antonio Malzonni<br />

– Antigo Re<strong>da</strong>tor , muito conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong> famosa “Gazeta Esportiva” . Um<br />

<strong>do</strong>s mais consagra<strong>do</strong>s jornalistas <strong>do</strong> esporte de to<strong>do</strong>s os tempos. Isto que<br />

transcrevo está no seu “Almanaque Esportivo Olimpicus”, Edição de 1943/<br />

1.944 , na sua pagina 82 . Ali , sem mistérios vamos encontrar :<br />

“ - O desfecho <strong>da</strong> cisão trouxe o desaparecimento <strong>do</strong> glorioso e<br />

tradicional Paulistano ... abrin<strong>do</strong> uma lacuna irreparável . Entretanto , não<br />

se conformaram muitos sócios <strong>da</strong>quele clube , alguns <strong>do</strong>s mais influentes<br />

... Os mais decidi<strong>do</strong>s tomaram uma decisão ...uma solução... sem porem<br />

ferir o Paulistano .<br />

Sabia-se que o antigo Palmeiras (Não Confundir Com o Palestra )<br />

corria o risco de perder seu campo <strong>da</strong> Floresta. Imediatamente surgiu a


idéia de uma união para se formar um novo clube de futebol . Também era<br />

para entrar nesta fusão o São Bento . Porem , ele no final ficou fora .<br />

Foi assim cria<strong>do</strong> o São Paulo F. C.– (<strong>da</strong> Floresta – local onde<br />

treinavam) . Ele que estreou em 9 de Março de 1930 , no novo campeonato<br />

paulista . Logo em segui<strong>da</strong> , o São Paulo F. C. foi Campeão Paulista de<br />

1.931 . Vice campeão de 32 , 33 , 34 .<br />

A maioria <strong>do</strong>s joga<strong>do</strong>res e quase to<strong>do</strong>s seus diretores tinham vin<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Paulistano . Era , com novo nome , mas com mesmos joga<strong>do</strong>res e<br />

diretores , uma continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong> CAP.<br />

. Em 1.935 os diretores <strong>da</strong>quele antigo Palmeiras , resolveram não<br />

mais participar <strong>do</strong> São Paulo F. C. Saíram <strong>do</strong> clube e levaram com eles o<br />

campo <strong>da</strong> Floresta . Com isto vai se separar o São Paulo Futebol Clube <strong>do</strong><br />

antigo Palmeiras . Aquele <strong>da</strong> Floresta” .<br />

Entretanto , não desapareceu o São Paulo Futebol Clube .<br />

O Nome <strong>do</strong> Clube continuou o mesmo ! O Uniforme foi o mesmo !<br />

As Cores as mesmas tricolores ! O Distintivo o mesmo ! Os Joga<strong>do</strong>res os<br />

mesmos . Os Diretores <strong>do</strong> São Paulo os mesmos. Tu<strong>do</strong> era o mesmo .<br />

O São Paulo F.C. é uma continui<strong>da</strong>de real <strong>do</strong> Paulistano , que existe<br />

desde 1930 . Gostem ou não gostem seus adversários !<br />

Os Antigos Emprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> CAP<br />

Sempre achei incrível como um clube , <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong> Paulistano<br />

antigo , com mais de 3.000 sócios na ocasião , pudesse ser tão bem<br />

administra<strong>do</strong> com tão poucos emprega<strong>do</strong>s como ele tinha .<br />

Eram tão poucos que conhecíamos quase to<strong>do</strong>s eles pelo nome .<br />

Por eles éramos atendi<strong>do</strong>s sempre perfeitamente .<br />

Existia um esquema que funcionava . Parte <strong>do</strong>s que trabalhavam<br />

no Paulistano eram emprega<strong>do</strong>s . Parte não , pois algumas Áreas eram<br />

Arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s , diminuin<strong>do</strong> em muito o seu custo operacional .<br />

Vamos lembrar a seguir de alguns nomes .<br />

1- Na Secretaria tínhamos <strong>do</strong>is (2) funcionários : Ivo e Irineu ;<br />

2- A Barbearia era Arren<strong>da</strong><strong>da</strong> , para Rodrigues e outros barbeiros .<br />

Assim o seu Custo era Zero ;<br />

3- O Cabeleireiro Feminino também era Arren<strong>da</strong><strong>do</strong> ! Custo zero !<br />

4- O Bar , que servia alguns pratos leves , posto que na Sede Velha<br />

não existia restaurante , era Arren<strong>da</strong><strong>do</strong> . Custo Zero ! Quem tomava conta<br />

era o Jorge , que até permitia a realização de contas mensais para os sócios.<br />

Assim o seu custo , bem como o custo <strong>do</strong>s garçons era zero! Custo Zero !<br />

5- No Vestiário <strong>do</strong> Tênis Masculino ; quem tomava conta era o<br />

Euclides e um aju<strong>da</strong>nte . Era um caboclo muito forte e muito amigo <strong>do</strong>s<br />

sócios . Quan<strong>do</strong> existiam bailes de terceiros em nossa antiga sede, sempre<br />

ficava de Vigia . Com ele nós entravamos nos Bailes , por pura amizade ;


6- Vestiário Tênis Feminino – Dona Ci<strong>da</strong> e aju<strong>da</strong>nte<br />

7- Na Piscina era o velho Max , que até arranjava “Gumex” para o<br />

cabelo <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> . Ele tomava conta <strong>do</strong>s valores <strong>do</strong>s sócios . Um Salva<br />

Vi<strong>da</strong>s ficava por lá na piscina . Muito atento ;<br />

8- No Ginásio o emprega<strong>do</strong> era “Zé <strong>do</strong> Ginásio” . Depois que ele foi<br />

para a Piscina virou “Zé <strong>da</strong> Piscina” . Quan<strong>do</strong> , já na sede nova ele veio<br />

para o Bilhar , virou “Zé <strong>do</strong> Bilhar”. Aposentou-se no clube .<br />

9 - Os outros funcionários eram Pessoas <strong>da</strong> Limpeza Geral , que<br />

giravam pelo clube , em <strong>do</strong>is ou três grupos de 4 pessoas . Eram ao to<strong>do</strong> 10<br />

ou 15 no máximo . Tinhamos ain<strong>da</strong> 3 jardineiros .<br />

10 – Entretanto , deixo claro que uma coisa é administrar o Clube com<br />

3.000 sócios e poucos emprega<strong>do</strong>s . Outra coisa é realizar administração<br />

com quase 27.000 sócios , inclusive com mais áreas de atuação .<br />

Enten<strong>do</strong> que fica muito mais difícil . Enten<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> que tu<strong>do</strong> continua<br />

sen<strong>do</strong> muito bem administra<strong>do</strong> . Pode haver pequenos erros , mas tu<strong>do</strong> é<br />

bem organiza<strong>do</strong> e funciona muito bem atualmente .<br />

É modelo para outros clubes .<br />

“Fecha<strong>do</strong> para Almoço”<br />

Dentro <strong>do</strong>s costumes paulistas <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 30/40/50 , o Paulistano<br />

ficava fecha<strong>do</strong> desde as 13,00 hora , até as 15,00 horas , no meio <strong>da</strong> tarde .<br />

Isto porque as famílias almoçavam juntas , em casa .<br />

Ali também em casa eram recebi<strong>do</strong>s os amigos , inclusive <strong>do</strong>s seus<br />

filhos e <strong>da</strong>s suas filhas .<br />

Nem sei quantas vezes almocei na casa <strong>do</strong> Roberto Claro , <strong>do</strong> Caio<br />

Kiehl , <strong>do</strong> Vicente de Sylos , <strong>do</strong> Junqueira Franco , <strong>do</strong> Candi<strong>do</strong> Cavalcanti,<br />

<strong>do</strong> Eduar<strong>do</strong> de Paula e de tantos outros amigos . Também nem sei quantas<br />

vezes eles almoçaram em minha casa .<br />

Até nas férias levávamos amigos para passar o perío<strong>do</strong> inteiro<br />

conosco. Um mês com amigos em nossa casa de São Vicente . Também<br />

éramos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para férias em suas casas . Quantas vezes fui para mil<br />

lugares .<br />

Isto era costume . Bom . Muito bom . Tu<strong>do</strong> em família !<br />

Por esta razão o Paulistano podia ficar sempre fecha<strong>do</strong> , sem<br />

problemas , no horário <strong>do</strong> Almoço.<br />

Entretanto , tu<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>u . Enten<strong>do</strong> que este fato necessita de melhor<br />

explicação. Esta forma de vi<strong>da</strong> , em nossa socie<strong>da</strong>de paulistana , só vai<br />

mu<strong>da</strong>r por causa <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Empresas Multinacionais . Quase que<br />

obrigatoriamente após 1954/56/58 .<br />

Os dirigentes estrangeiros não tinham este hábito. Alem <strong>do</strong> mais , no<br />

princípio ain<strong>da</strong> não estavam definitivamente estabeleci<strong>do</strong>s , ain<strong>da</strong> não<br />

tinham casa para receber , nem era seu costume .


Assim convi<strong>da</strong>vam as pessoas para almoçar ou jantar fora . Os<br />

restaurantes em São Paulo começaram a crescer nesta época .<br />

As barrigas também ... !<br />

Analise Geral <strong>do</strong> Fato : Não tínhamos Restaurante... mas<br />

ganhávamos tu<strong>do</strong> em quase to<strong>do</strong>s esportes : Bola ao Cesto , Voleibol ,<br />

Natação , Pólo Aquático , Atletismo, Tênis, Esgrima e em tu<strong>do</strong> mais<br />

relaciona<strong>do</strong> ao desenvolvimento físico .<br />

Aquela época <strong>da</strong> Sede Antiga , foi época de muita saúde e de muitas<br />

vitórias esportivas . De muita gente saudável e bonita .<br />

Principalmente suas moças , muito lin<strong>da</strong>s . Marcaram época .<br />

Bem ... agora temos sempre bons e vários restaurantes em São Paulo.<br />

Eles que também existem no Paulistano . Então vão surgir : “Grandes<br />

Macarrona<strong>da</strong>s com 4 queijos ” -“As Dobradinhas”- As “Feijoa<strong>da</strong>s” - as<br />

“Comidinhas cheias de Creme ” e o “Azeite de Dendê , no Peixe e no<br />

Camarão ” .<br />

Com esta alimentação vão desaparecen<strong>do</strong> os atletas .<br />

Isto com to<strong>da</strong> certeza .<br />

Forma física : - “ Difícil . Nem pensar !”<br />

Entretanto , os sócios <strong>do</strong> Paulistano ain<strong>da</strong> praticam muitos esportes ,<br />

que são bem difundi<strong>do</strong>s e organiza<strong>do</strong>s internamente , nota<strong>da</strong>mente o tênis<br />

que vem ganhan<strong>do</strong> competições municipais . Com outros esportes ...na<strong>da</strong>!<br />

Entretanto, Paulistano é hoje um clube muito mais social .<br />

Muito pouco esportivo . Sinal <strong>do</strong>s tempos .<br />

Enten<strong>do</strong> que isto pode mu<strong>da</strong>r para muito melhor .<br />

Torneio Branco e Vermelho<br />

Uma <strong>da</strong>s coisas que realmente marcou a parte esportiva <strong>do</strong> nosso<br />

Paulistano , durante muitos e muitos anos , foi um torneio esportivo anual ,<br />

para o qual to<strong>do</strong>s os sócios eram convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s à inscrição . E quase to<strong>do</strong>s<br />

que praticavam ou que podiam ain<strong>da</strong> praticar esportes dele iriam participar.<br />

Era o chama<strong>do</strong> “Torneio Branco e Vermelho”.<br />

Antes de mais na<strong>da</strong> era uma forma de unir to<strong>do</strong>s os associa<strong>do</strong>s , de<br />

formar amizades , de revelar esportistas , de abrir as portas para iniciação<br />

em esportes , de motivar para praticas sadias to<strong>do</strong>s aqueles que um dia<br />

pararam . Aqueles que ficavam sempre adian<strong>do</strong> para um “amanhã que não<br />

viria nunca” . Seria possibili<strong>da</strong>de para o recomeço de alguma ativi<strong>da</strong>de que<br />

movimentasse seu corpo . Com determinação e continui<strong>da</strong>de .<br />

O torneio alem <strong>do</strong> mais criava uma “Aura de Fraterni<strong>da</strong>de”.<br />

To<strong>do</strong>s podiam se inscrever nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des que quisessem , fosse ele<br />

praticante <strong>da</strong>quele esporte ou não . Bastava querer , indicar seu nome , e<br />

as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des que desejava competir . Estava inscrito .<br />

As competições eram para homens e mulheres . Podiam competir ,<br />

dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de , nas classes :- infantil , juvenil e adulto .


Depois de encerra<strong>da</strong>s as inscrições o Grupo Dirigente <strong>do</strong> Torneio<br />

dividia os inscritos em <strong>do</strong>is grupos . Um Branco . Outro Vermelho . Não<br />

existia preferência ou determinação de que la<strong>do</strong> um sócio ficaria . Poderia<br />

ter si<strong>do</strong> Vermelho no ano passa<strong>do</strong> e Branco naquele ano . Pouco importava<br />

o la<strong>do</strong> que ele caísse . To<strong>do</strong>s iriam <strong>da</strong>r o sangue para ganhar jogos e<br />

competições que trouxessem me<strong>da</strong>lhas e pontos para o la<strong>do</strong> que ele estava<br />

competin<strong>do</strong> e defenden<strong>do</strong> . Branco ou Vermelho .<br />

No final , a equipe que tivesse mais pontos seria proclama<strong>da</strong><br />

vence<strong>do</strong>ra . Isto iria acontecer em uma festa para a qual to<strong>do</strong>s os<br />

competi<strong>do</strong>res estavam convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . E to<strong>do</strong>s compareciam e comemoravam<br />

juntos . Não importava qual equipe fosse vence<strong>do</strong>ra .<br />

Isto porque na reali<strong>da</strong>de o Sócio não era nem Branco ou nem<br />

Vermelho . Ele era as duas cores ao mesmo tempo . As cores juntas que<br />

formam as cores <strong>do</strong> Paulistano.<br />

Isto quebrava gelo e acabava com pequenas diferenças .<br />

Ali era um <strong>do</strong>s começos para a união <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Desde pequeno to<strong>do</strong>s meninos iam competin<strong>do</strong> em quase to<strong>do</strong>s os<br />

torneios que aconteceram . Eu gostava de me inscrever em muitas<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des : Natação , Pólo Aquático, Atletismo , Voley , Basquete e<br />

Paleta . O importante era competir e participar nas várias mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />

com os nossos companheiros<br />

.<br />

Aquele era o Espírito Amigo <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .


CONSIDERAÇÕES INICIAIS<br />

Edu Marcondes<br />

Explicações necessárias -“ Garoto <strong>do</strong> Paulistano” e “Fôlego de Gato”-<br />

Quem sou eu – Minha Família - Mu<strong>da</strong>nça para <strong>Casa</strong> Nova-<br />

Explicações Iniciais e Necessárias<br />

“Garoto <strong>do</strong> Paulistano” : antes de mais na<strong>da</strong> é preciso explicar<br />

que este livro é Uma Separata , ou seja : - Era parte integrante de outro<br />

livro “Folego de Gato” , também de minha autoria , que narra minha vi<strong>da</strong><br />

passa<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> história de minha família.<br />

Este livro agora tem vi<strong>da</strong> própria .<br />

Para que esta Separata pudesse ser realiza<strong>da</strong> foi necessário escolher<br />

capítulos <strong>do</strong> Fôlego de Gato . Serão aqueles que dissessem e/ou tivessem<br />

respeito com as coisas <strong>do</strong> Paulistano , aconteci<strong>da</strong>s comigo e/ou com seus<br />

sócios , principalmente meus amigos . Assim sen<strong>do</strong> fomos separan<strong>do</strong> :<br />

- Os Capítulos que Ocorreram Com Sócios Dentro <strong>do</strong> Paulistano :<br />

- <strong>História</strong>s Próprias <strong>do</strong> CAP- relativas a sua história ;<br />

- Historias aconteci<strong>da</strong>s com Amigos e Sócios Fora <strong>do</strong> Paulistano ;<br />

- <strong>História</strong>s de Viagens com Amigos e Sócios <strong>do</strong> CAP .<br />

Enten<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> imprescindível separar <strong>do</strong> livro “Fôlego de<br />

Gato” os capítulos que irão formar “Garoto <strong>do</strong> Paulistano”.<br />

Neles serão relata<strong>do</strong>s os fatos ocorri<strong>do</strong>s com sócios e com coisas<br />

relativas ao CAP . Assim teremos melhor idéia <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Como decorrência teremos dimensão <strong>do</strong> CAP <strong>da</strong>quela época . Vou<br />

tentar relatar as coisas de menino até o tempo de adulto . Sempre com meus<br />

amigos . Isto foi necessário. O livro “Fôlego de Gato” diz muito mais<br />

respeito a minha pessoa dentro de minha família. Menos <strong>do</strong> Paulistano.<br />

Assim menor interesse poderia ter para os nossos sócios .<br />

Já “Garoto <strong>do</strong> Paulistano” é to<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong> com a própria historia<br />

<strong>do</strong> Clube , sempre no seu devi<strong>do</strong> tempo . Lembro que estas histórias<br />

aconteceram tanto dentro como fora <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Mesmo assim , o leitor poderá encontrar neste livro muitas citações<br />

ao livro “Fôlego de Gato”. Eles no final tem muitas relações .


- Quem sou eu<br />

Antes de mais na<strong>da</strong> preciso me apresentar com mais detalhes . Como<br />

não poderia deixar de ser sou agora um sócio <strong>da</strong> “Velha Guar<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Paulistano”. Meu nome completo é Eduar<strong>do</strong> Marcondes de Souza .<br />

Entretanto , sou conheci<strong>do</strong> no clube e em socie<strong>da</strong>de por Edu Marcondes .<br />

Este apeli<strong>do</strong> recebi dentro <strong>do</strong> Paulistano , ain<strong>da</strong> em criança . O amigo<br />

Candi<strong>do</strong> Cavalcanti foi quem me rebatizou devi<strong>da</strong>mente , nos anos 40 .<br />

Nasci em São Paulo .<br />

Como não poderia deixar de ser , este livro conta muito de minha vi<strong>da</strong><br />

e ao mesmo tempo também conta muito de muitos sócios <strong>do</strong> CAP,<br />

principalmente <strong>do</strong>s meus amigos , nestes últimos 70 anos .<br />

Assim estarei aqui relatan<strong>do</strong> o que enten<strong>do</strong> ter aconteci<strong>do</strong> de<br />

importante em nossas vi<strong>da</strong>s . Porem é preciso ressaltar . Relato aquilo<br />

que posso lembrar , pois com a i<strong>da</strong>de já um pouco avança<strong>da</strong> , posso ter<br />

esqueci<strong>do</strong> de algumas coisas . Ou de muitas coisas .<br />

Por consequência também relato aqui o que aconteceu na vi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong>queles que estavam ao meu la<strong>do</strong> . Coisas <strong>do</strong>s meus amigos , nota<strong>da</strong>mente<br />

aqueles <strong>do</strong> Paulistano. Eles na reali<strong>da</strong>de são praticamente meus irmãos.<br />

Entretanto , fica claro que os relatos estarão sempre dentro de uma<br />

ótica . Neste caso só pode ser <strong>da</strong> minha . Uma moe<strong>da</strong> possui duas faces ,<br />

mas em determina<strong>do</strong>s momentos só poderemos ver um <strong>do</strong>s seus la<strong>do</strong>s . A<br />

cara ou a coroa . A minha interpretação é um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> .<br />

Preten<strong>do</strong> não <strong>da</strong>r muita força para minhas emoções . Quem vive só<br />

por suas emoções não é senhor de si mesmo . Vive a mercê <strong>do</strong> acaso .<br />

Fato :- O Primeiro titulo <strong>do</strong> livro –“Folego de Gato” , base para<br />

este aqui - foi sugestão <strong>do</strong> queri<strong>do</strong> amigo Rubens Limongi França .<br />

Ele que a meu pedi<strong>do</strong> havia li<strong>do</strong> alguns destes capítulos , mesmo<br />

antes de to<strong>do</strong>s. Queria a sua opinião , pois ele , alem de ser meu parente<br />

distante (sua mãe era <strong>da</strong> família Marcondes) , foi Catedrático <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />

de Direito <strong>do</strong> Lago de São Francisco , foi Jurisconsulto e até excelente<br />

Artista Plástico .<br />

Era , antes de mais na<strong>da</strong> , queri<strong>do</strong> amigo .<br />

Muito culto . Sua opinião para mim era muito valiosa ;<br />

Pois bem , dias depois de receber alguns de meus capítulos , quan<strong>do</strong><br />

eu estava no Paulistano , com Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Vianna e Albano de Souza<br />

Azere<strong>do</strong> , em nosso Bar <strong>do</strong> 1º an<strong>da</strong>r , ali nos reencontramos .<br />

Ele chegou sorrin<strong>do</strong> .Veio comentan<strong>do</strong> alegremente :


“ Edu ...eu já sabia de suas histórias pois que nossos amigos ,<br />

principalmente o Caio Kiehl e o Luiz Carlos Junqueira , sempre contam e<br />

comentam alegremente muitas coisas suas . Suas aventuras e desventuras.<br />

Tanto aquelas ocorri<strong>da</strong>s dentro <strong>do</strong> Club como principalmente fora dele .<br />

Agora , depois <strong>do</strong> que li , tenho certeza de uma coisa . Você vive<br />

enganan<strong>do</strong> a “Bruxa” . Nem sei como... , com tantas Brigas e to<strong>do</strong>s estes<br />

Acidentes e Incidentes .<br />

É difícil acreditar e entender ... Nem sei como você ain<strong>da</strong> está vivo”.<br />

( Ele estava se referin<strong>do</strong> aos incidentes e acidentes que eu relatara em<br />

alguns capítulos , a saber : - “O tiro que levei nas costas - O teto <strong>do</strong> Cine<br />

Rink que caiu em cima de nossas cabeças em Campinas /1.951 - O Choque<br />

Elétrico no Fio de Alta Voltagem <strong>do</strong> bonde em São Vicente – o Naufrágio<br />

em Parati- Capotamento e Destruição <strong>do</strong> carro na Estra<strong>da</strong> de Campos <strong>do</strong><br />

Jordão – As inúmeras Brigas com que tinha ti<strong>do</strong> até então , com gente boa<br />

e com muitos bandi<strong>do</strong>s” .)<br />

Ele continuou falan<strong>do</strong> e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s : “ Na reali<strong>da</strong>de você tem é<br />

“Folego de Gato” ! “Sete vi<strong>da</strong>s”. Caso um dia você termine seu livro o<br />

Prefácio será meu ... Vai ser o Prefacio <strong>do</strong> “Folego de Gato” .<br />

Nem ele , nem eu , poderíamos advinhar naquele momento que,<br />

poucos anos depois , muitas coisas , até piores , iriam acontecer comigo .<br />

Infelizmente o amigo Rubens , faleceu pouco tempo depois , antes<br />

mesmo deste livro ficar acaba<strong>do</strong> e pronto .<br />

Por isto, em sua homenagem, meu livro vai ficar sem Prefácio Escrito.<br />

Vai valer aquela “Intenção <strong>do</strong> Prefácio” <strong>do</strong> amigo Rubens<br />

Realmente , depois de ler e reler meus escritos , achei que o titulo que<br />

ele dera era certamente o mais ajusta<strong>do</strong> . O leitor vai saber por que .<br />

Pois bem , depois <strong>do</strong> falecimento de Rubens ain<strong>da</strong> aconteceram<br />

muitas coisas comigo .<br />

1- Em um assalto, no ano de 1.995 , logo adiante <strong>do</strong> Paulistano, levei um<br />

Tiro na Nuca . Não morri porque Deus não desejou ;<br />

2-Tive em 2004 Câncer e perdi meu Rim esquer<strong>do</strong> ;<br />

3-Estava com Água no Peito , dentro <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s em Sri Lanka , durante o<br />

“Tsunami” de 26 de Dezembro de 2.006 ;<br />

4-Sofri Enfarto Agu<strong>do</strong> , em 2008 , sen<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong> a colocar um “Stend”<br />

no coração .<br />

5- Perdi uma Vista por Erro Médico. Depois de 4 operações necessárias,<br />

fui obriga<strong>do</strong> a efetuar Transplante de Córnea no olho esquer<strong>do</strong> .


Por tu<strong>do</strong> isto ficou e vai ficar valen<strong>do</strong> o Titulo que ele inicialmente<br />

deu para o livro base deste outro : - “Folego de Gato”.<br />

Agora nesta separata “Garoto <strong>do</strong> Paulistano” também vai continuar<br />

valen<strong>do</strong> o mesmo Prefacio , na forma que Rubens Limongi França um dia<br />

entendeu . No jeito que ele imaginou .<br />

Minha Família<br />

Agora é preciso me apresentar .<br />

Nasci no último dia <strong>da</strong> Revolução de 32 . Em 28 de Setembro .<br />

Não foi um dia fácil para minha família que teve total participação<br />

naquela Revolução Democrática pela Constituição <strong>do</strong> Brasil .<br />

A família de meu pai perdeu na Revolução <strong>do</strong>is parentes :<br />

- Draúsio Marcondes de Souza – membro <strong>do</strong> MMDC e Gal. Julio<br />

Marcondes Salga<strong>do</strong> . Estão ambos sepulta<strong>do</strong>s no “Mausoleu <strong>do</strong>s Heróis de<br />

32”, no Ibirapuera .<br />

Na família de minha mãe , quatro de seus irmãos tinham esta<strong>do</strong> na<br />

frente de combate . Deles ain<strong>da</strong> não se tinham noticias naquele momento.<br />

Depois , felizmente to<strong>do</strong>s eles apareceram .<br />

Nasci aqui mesmo na ci<strong>da</strong>de de São Paulo, precisamente na<br />

“Materni<strong>da</strong>de Pro Máter”, na Rua São Carlos <strong>do</strong> Pinhal . Cheguei <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

trabalho , pois custei para ver a luz .<br />

Dias depois , quan<strong>do</strong> eu já estava em casa , Joana uma velha<br />

emprega<strong>da</strong> de minha avó Constança , que estava com ela desde o tempo em<br />

que existia escravatura ,veio me ver . Sempre que nascia alguém <strong>da</strong> família<br />

ela vinha olhar a criança e prever seu futuro .<br />

Parece que antes tinha acerta<strong>do</strong> algumas previsões .<br />

Chegou , tirou minhas fral<strong>da</strong>s e olhou .Virou de um la<strong>do</strong> pro outro ,<br />

revirou e foi dizen<strong>do</strong> : - “...menino calmo ... (errou) - tranquilo ...( errou)...<br />

-vai ser político ...(errou) - bom médico ... ( errou) , muito rico ! (errou) .<br />

Minha avó Constança sempre me contava esta previsão .<br />

Minha mãe sempre disse que tu<strong>do</strong> era pura bobagem . E era !<br />

-<br />

Agora vou apresentar meus pais e minha família .<br />

Mamãe – Dona Zil<strong>da</strong> Marcondes de Souza , era natural de Ribeirão<br />

Preto . Veio com minha avó – Dona Constança Adelaide Rezende Brandão<br />

- para São Paulo , um pouco antes <strong>da</strong> Revolução de 1924 . Esta minha avô<br />

era a pessoa mais <strong>do</strong>ce deste mun<strong>do</strong> .Tinha olhos cor de mel . Ficaram nos<br />

Campos Elísios , na casa de meu tio Carlito, em visita bem programa<strong>da</strong> .


Porem , certo dia , fora <strong>do</strong> programa prepara<strong>do</strong> , começou forte<br />

tiroteio na rua onde meu tio morava - Alame<strong>da</strong> Nothman - bem ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

“Palácio <strong>do</strong> Governo nos Campos Elísios” . Era a tal “Revolução de 24”.<br />

Ali ficariam , obrigatoriamente . To<strong>do</strong>s não puderam sair por muitos<br />

dias , praticamente quase sem comi<strong>da</strong> . No final só existia mortadela<br />

(... que desde aquela época minha mãe passou a detestar...) .<br />

Os tiros não paravam . A rua ficou cheia de mortos , por lá estendi<strong>do</strong>s<br />

por dias . Resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> tal revolução realiza<strong>da</strong> por tenentes <strong>do</strong> exercito foi<br />

zero . O que queriam , não conseguiram na ocasião .<br />

Assim , como começou a revolução parou . Sem aviso ao público .<br />

Minha mãe foi fican<strong>do</strong> por São Paulo . Sempre muito convi<strong>da</strong><strong>da</strong> .<br />

Conheceu meu pai em uma festa na casa <strong>da</strong> Condessa de Serra Negra.<br />

Dona Zil<strong>da</strong> sempre foi muito bonita e elegante . Gostava de plantas e<br />

dizia que elas são a melhor dádiva de Deus . Estu<strong>do</strong>u botânica por conta<br />

própria e com as plantas ganhou muitos prêmios e troféus , até<br />

internacionais .<br />

A<strong>do</strong>rava minha duas filhas – Paula e Alexandra . Tu<strong>do</strong> fazia para<br />

agra<strong>da</strong>r as meninas suas netas , até fantasias de fa<strong>da</strong>s ela confeccionava<br />

para as minhas meninas .<br />

Morreu como sempre quis . Subitamente , de enfarto agu<strong>do</strong>.<br />

Meu pai chamava-se Ernani Marcondes de Souza , era nasci<strong>do</strong> em<br />

São Paulo , mas to<strong>da</strong> a família Marcondes vinha de Pin<strong>da</strong>monhangaba -<br />

Vale <strong>do</strong> Paraíba . Estu<strong>da</strong>va o<strong>do</strong>ntologia quan<strong>do</strong> conheceu minha mãe .<br />

Somente depois de forma<strong>do</strong> é que se casaram . Ele nunca exerceu a<br />

profissão de Dentista . Estu<strong>do</strong>u ain<strong>da</strong> Economia . Foi no início Diretor <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> e mais tarde Industrial <strong>do</strong> Ramo Siderúrgico .<br />

Nos últimos anos de sua vi<strong>da</strong> , estava só , viúvo . Ficou acama<strong>do</strong><br />

pois quebrara o fêmur . Foi opera<strong>do</strong> com sucesso mas nunca mais an<strong>do</strong>u .<br />

Morei com ele durante to<strong>do</strong> aquele tempo em que esteve acama<strong>do</strong> - 3 anos .<br />

Morreu <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> . Estava com 93 anos e muito lúci<strong>do</strong> .<br />

Meu avó paterno era o Dr. Prof. T.O. Marcondes de Souza ,<br />

catedrático <strong>da</strong> FAAP e <strong>da</strong> USP , lecionan<strong>do</strong> <strong>História</strong> e <strong>História</strong> Econômica.<br />

Foi membro <strong>do</strong>s principais Institutos Históricos e Geográficos <strong>da</strong> Europa e<br />

<strong>da</strong>America, participan<strong>do</strong> de Convenções e Congressos Internacionais . Por<br />

seus trabalhos , estu<strong>do</strong>s , pesquisas e livros edita<strong>do</strong>s , também em muitos<br />

países , recebeu inúmeras comen<strong>da</strong>s e títulos internacionais : - <strong>da</strong> França,<br />

<strong>da</strong> Itália , <strong>da</strong> antiga Iugoslávia , entre outras tantas . Foi o Professor de<br />

<strong>História</strong> mais condecora<strong>do</strong> no seu tempo . Foi casa<strong>do</strong> com Dona Rosa<br />

Marcondes de Souza , por mais de 60 anos . Alem de bonita minha avô era<br />

maravilhosa quan<strong>do</strong> resolvia cozinhar .


Meu avô materno , Dr. Carlos Américo Brandão era Cirurgião –<br />

Dentista na ci<strong>da</strong>de de Ribeirão Preto – SP , onde praticamente morou em<br />

to<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> . Este avô morreu logo depois <strong>do</strong> meu nascimento .<br />

Mu<strong>da</strong>nça Para <strong>Casa</strong> Nova<br />

Enten<strong>do</strong> que a vin<strong>da</strong> <strong>da</strong> família para o Jardim Paulista foi<br />

fun<strong>da</strong>mental para o começo e direção de minha vi<strong>da</strong> . Por esta mu<strong>da</strong>nça<br />

ficou fácil freqüentar o Paulistano , criar amigos na região , com os quais<br />

convivi e fui em tantos mil lugares. A casa ficava 8 quadras <strong>do</strong> Clube .<br />

Caso eu tivesse mora<strong>do</strong> na Lapa ou na Mooca enten<strong>do</strong> que na<strong>da</strong> disto<br />

que agora narro poderia acontecer . Por isto conto sobre a casa nova .<br />

Lá por mea<strong>do</strong>s de 1.936 , nos mu<strong>da</strong>mos para o Jardim Paulista .<br />

A casa era lin<strong>da</strong> , to<strong>da</strong> branquinha , com grande terraço ten<strong>do</strong> na<br />

frente , no jardim , um largo grama<strong>do</strong> . Estava completa. Do jeito que meu<br />

pai desejou construir. Com to<strong>do</strong>s os moveis coloniais que ele encomen<strong>da</strong>ra<br />

em Pin<strong>da</strong>monhangaba . No quintal existiam arvores . Jabuticabeiras<br />

nativas <strong>do</strong> terreno . Planta<strong>da</strong>s : amoreiras , goiabeiras e até uma cerejeira<br />

<strong>do</strong> tipo “De<strong>do</strong> de Dama ( cereja rara que é bem compridinha).<br />

Então a noite chegou . Pela primeira vez eu fui <strong>do</strong>rmir sozinho .<br />

No outro dia mamãe chegou e abriu as janelas . Foi então que reparei<br />

em um galho quase entran<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> meu quarto . Fui falan<strong>do</strong> :<br />

“- Olhe ... tem um galho de goiabeira ... muito meti<strong>do</strong> , entran<strong>do</strong> aqui<br />

dentro <strong>do</strong> meu quarto.” Minha mãe corrigiu :<br />

-“ É de jabuticabeira ...não vai atrapalhar em na<strong>da</strong> ...você vai gostar.<br />

Na hora não gostei . Porem muitos anos depois escrevi uma poesia<br />

sobre o “Galho de Jabuticabeira” (em meu livro de “Contos e Poesias”).<br />

Desta poesia deixo aqui o verso primeiro , o <strong>do</strong> meio e o seu final :<br />

“ Cheguei ao casarão bem pequenino<br />

Muito alegre como to<strong>do</strong> menino<br />

Quan<strong>do</strong> vi pela janela balançan<strong>do</strong> ...<br />

E para to<strong>do</strong>s fui logo informan<strong>do</strong><br />

“Olha ...um galho de goiabeira”...<br />

Mamãe corrigiu : “...de jabuticabeira”<br />

O tempo então foi passan<strong>do</strong><br />

E ele sempre me espian<strong>do</strong> ...<br />

Quan<strong>do</strong> para janela eu olhava<br />

Presente sempre ele estava ...<br />

No seu canto...na sua beira


O “galho <strong>da</strong> jabuticabeira” .<br />

Hoje pela janela <strong>do</strong> apartamento<br />

Espio e a ca<strong>da</strong> momento<br />

Espero então encontrar<br />

Em um canto ...a balançar...<br />

Um “galho de jabuticabeira” .<br />

Que sau<strong>da</strong>de matadeira ...”<br />

Ele foi uma <strong>da</strong>s boas lembranças de minha infância / juventude .<br />

Aquele “Galho de Jaboticabeira” era meu confidente ... silencioso .


“A MÁQUINA DA LIBERDADE”<br />

Edu Marcondes<br />

- - O Poder Passear Em Qualquer Lugar – I<strong>da</strong>s ao Paulistano –<br />

- Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> por to<strong>da</strong> Zona Sul - Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> no Rio Pinheiros -<br />

- Bicicletas na Via Anchieta .<br />

Finalmente eu estava fazen<strong>do</strong> aniversário . O melhor é que aquele<br />

dia era o dia de ganhar presentes . Um deles muito especial . Seria minha<br />

bicicleta . Eu esperava sempre pelo aniversário , natal , páscoa e férias .<br />

Quan<strong>do</strong> menino estas <strong>da</strong>tas demoravam para chegar .<br />

Porem a melhor coisa naquele dia era sair com minha tia Zélia –<br />

“Teté”- e escolher o presente que desejava . Uma bicicleta !<br />

Almoçamos e quase não comi na<strong>da</strong> . Despedi<strong>da</strong>s e lá fomos nós.<br />

De bonde para a ci<strong>da</strong>de . Descemos no Largo <strong>do</strong> São Francisco e<br />

fomos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> até a Praça <strong>do</strong> Patriarca . Ali existia uma casa que era o<br />

sonho de to<strong>da</strong> guriza<strong>da</strong> . “Loja São Nicolau” . Existiam brinque<strong>do</strong>s e jogos<br />

de to<strong>do</strong>s os tipos .<br />

Logo que chegamos minha tia pediu para ver as bicicletas . O<br />

vende<strong>do</strong>r nos levou em um setor <strong>da</strong> loja onde existiam muitas .<br />

Então já fui escolhen<strong>do</strong> uma cor prata brilhante . Era a maior que<br />

tinha . Teté e o vende<strong>do</strong>r deram risa<strong>da</strong> e disseram que aquela não servia .<br />

Para o meu tamanho só existiam duas . Pretas : Uma “Phillips” inglesa e<br />

uma “Rex” alemã . Escolhi a alemã pois o freio era <strong>do</strong> tipo “contra pe<strong>da</strong>l” .<br />

A bicicleta foi de taxi para o Jardim Paulista . Fui feliz <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> .<br />

Quan<strong>do</strong> os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s estavam chegan<strong>do</strong> eu ficava mostran<strong>do</strong><br />

minha bicicleta para ca<strong>da</strong> um deles . Tentava an<strong>da</strong>r mas não conseguia.<br />

Somente no sába<strong>do</strong> , depois de alguns tombos, meu pai conseguiu<br />

ensinar a forma de an<strong>da</strong>r naquela “magrela”. Neste mesmo dia comecei ir<br />

até o final <strong>da</strong> rua e voltar sem cair .<br />

Nesta época meu avó Thomaz Oscar estava começan<strong>do</strong> a construir<br />

sua casa na mesma rua que a nossa . Era motivo para que to<strong>do</strong>s os dias eu<br />

fosse até lá . Na reali<strong>da</strong>de eu queria encontrar <strong>do</strong>is amiguinhos que por ali<br />

também an<strong>da</strong>vam de bicicleta . Por coincidência os <strong>do</strong>is também tinham o<br />

nome de Eduar<strong>do</strong> . Um <strong>da</strong> família Figueirôa . Outro <strong>da</strong> família Munhós .<br />

Com eles comecei a conhecer to<strong>da</strong> a região <strong>do</strong>s Jardins . Íamos de<br />

bicicleta passan<strong>do</strong> pelo Clube Harmonia , na Rua Canadá .<br />

Depois seguin<strong>do</strong> a Rua Argentina chegávamos até o Paulistano ,<br />

onde eu já tinha muitos amigos . Íamos sempre de bicicleta .<br />

Estes passeios fiz durante muitos anos .


Na Velha Piscina<br />

Quan<strong>do</strong> estava mais cresci<strong>do</strong> , dentro <strong>do</strong> Paulistano , eu<br />

primeiramente seguia para a piscina e encontrava os amigos Candi<strong>do</strong><br />

Cavalcanti, Pedro “Alemão” e Clovis . Logo chegavam os <strong>do</strong>is irmãos<br />

Mace<strong>do</strong> – Edison e Ari que iriam na<strong>da</strong>r e brincar com nossa turminha .<br />

Outros amigos iam chegan<strong>do</strong> . Eugênio Amaral , Claudio Lunardelli , Luiz<br />

Carlos Anjos , Eduar<strong>do</strong> de Paula , Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n .<br />

Os já mocinhos chegavam um pouco mais tarde : - Pedrinho<br />

Padilha, Paulo Ribeiro , Tozinho Lara Campos , Luis David Ribeiro ,<br />

Cuoco “Coquinho” Um pouco antes <strong>da</strong> hora <strong>do</strong> almoço , os que já<br />

trabalhavam vinham <strong>da</strong>r um mergulho para refrescar . Arman<strong>do</strong> Salem e<br />

Luiz Taliberti nunca faltavam .<br />

As ruas <strong>da</strong> zona sul eram muito pouca movimenta<strong>da</strong>s .<br />

Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> Pela Zona Sul<br />

Independente <strong>da</strong> piscina <strong>do</strong> Paulistano , to<strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> , tanto <strong>do</strong>s<br />

Jardins como os amigos <strong>do</strong> Club , gostava de ir na<strong>da</strong>r em vários locais ,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> a nossa piscina fechava no inverno , no final de<br />

Maio , para limpeza geral . Só reabriria no início de Setembro .<br />

Porem sempre existiam dias de “Veranico”.<br />

Na esquina <strong>da</strong> Groenlândia com a tal rua Escócia ( hoje é a<br />

continuação <strong>da</strong> Av. 9 de Julho ) , nos anos de 37/40 , existia uma “Grande<br />

Boca de Lobo” onde desembocava encachoeira<strong>do</strong> um Córrego , acho que<br />

era o chama<strong>do</strong> “<strong>do</strong> Sapateiro”. ( hoje no local existe o Conjunto de<br />

Edifícios <strong>do</strong>s Bancários”) . O córrego nascia pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Ibirapuera e<br />

vinha canaliza<strong>do</strong> até ali . Formava no local um pequeno lago de pouca<br />

profundi<strong>da</strong>de, onde a criança<strong>da</strong> vinha na<strong>da</strong>r . Foi a alegria <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong><br />

durante muitos anos . Ali se na<strong>da</strong>va de cuecas . A fuzarca era grande pois a<br />

água era limpa , rasa , sem perigo .<br />

Quan<strong>do</strong> deram continui<strong>da</strong>de a Av. 9 de Julho ele sumiu . Foi<br />

aterra<strong>do</strong> .<br />

Outro local ficava logo abaixo <strong>da</strong> Av. Brasil , <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Brigadeiro Luiz Antonio . Por ali logo chegávamos ao antigo Ibirapuera .<br />

Ficava três quadras de minha casa in<strong>do</strong> pela Rua Groenlandia . Ele não era<br />

na<strong>da</strong> pareci<strong>do</strong> com o que apresenta hoje . Era muito mais rústico e mais<br />

natural , tinha mais lagos e muitos mais campos de futebol varzeano.<br />

Naqueles vários lagos <strong>do</strong> Ibirapuera na<strong>da</strong>mos durante anos .<br />

Os “Campos de Futebol”eram bons, pois tanto a Portuguesa como<br />

o São Paulo muita vezes por ali iam treinar .Eles não tinham campos<br />

próprios para treinar naqueles tempos .<br />

Então não existiam ruas calça<strong>da</strong>s nem prédios no Ibirapuera .


O Parque era muito maior que o atual , pois chegava até o Instituto<br />

Biológico, lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Vila Mariana . Não sei como , mas o Parque<br />

que era <strong>do</strong> povo foi corta<strong>do</strong> e recorta<strong>do</strong> várias vezes. Parte <strong>do</strong>s terrenos foi<br />

para a Assembléia Legislativa de São Paulo , que secou um lago e por ali se<br />

instalou . Na<strong>da</strong>mos muitas vezes também naquele lago .<br />

Parte <strong>do</strong> Ibirapuera depois foi ain<strong>da</strong> muito dividi<strong>do</strong> . Parte foi para<br />

o Exercito . Parte para o Ginásio de Esportes. Parte para a OAB , ( nem sei<br />

se por ali continua ) . Até o Judiciário se beneficiou com uma grande parte<br />

lotea<strong>da</strong> em terrenos , hoje denomina<strong>da</strong> Jardim Lusitânia .<br />

Na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> no Rio Pinheiros<br />

Alem <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano , eu tinha minha turminha <strong>da</strong> Rua<br />

Gal. Fonseca Telles . Como já contei , existiam os <strong>do</strong>is Eduar<strong>do</strong>s (Munhos<br />

e Figueirôa). Por lá fiz também amizade com outros <strong>garoto</strong>s que viviam<br />

perto <strong>da</strong> Rua Veneza . Seus nomes : Romeirito , Ditinho , Dieter e Marcos .<br />

Um dia Dieter , que era um pouco mais velho , nos contou boas<br />

coisas sobre o Rio Pinheiros . Dizia que tinha esta<strong>do</strong> por lá com seus<br />

primos. Que era fácil chegarmos no local , sain<strong>do</strong> logo depois <strong>do</strong> almoço e<br />

voltan<strong>do</strong> a tardinha . Tanto contou que , por sugestão de Candi<strong>do</strong><br />

Cavalcanti , resolvemos ir na<strong>da</strong>r no Rio Pinheiros , pois ele garantia que a<br />

água era limpíssima e transparente . Lembro : isto era em 1.944 .<br />

Era final de Agosto e já estava fican<strong>do</strong> quente . Resolvemos ir na<br />

próxima 5ª. Feira . Deveríamos levar um lanche . Ficou tu<strong>do</strong> combina<strong>do</strong> .<br />

No dia marca<strong>do</strong> a tarde estava bem quente . Levamos meia hora de<br />

bicicleta para alcançarmos o Rio Pinheiros , passan<strong>do</strong> por vários campos<br />

de futebol . Candi<strong>do</strong> Cavalcanti com Dieter na frente . O local conheci<strong>do</strong><br />

pelo Dieter era muito bonito . Ficava num remanso , em uma curva <strong>do</strong> rio ,<br />

onde existia nesta época de seca uma prainha de areia . O rio não fora ain<strong>da</strong><br />

retifica<strong>do</strong> , nem recebia esgoto . Tu<strong>do</strong> era natural e limpo .<br />

Do la<strong>do</strong> algumas arvores . Mais para a frente a sede náutica <strong>do</strong><br />

antigo Club Germânia, que na guerra mu<strong>da</strong>ria de nome para Club<br />

Pinheiros. Tiramos a roupa e fomos na<strong>da</strong>r de cueca em uma água bem<br />

limpa . O sol estava bem forte . Dava para ver a unha <strong>do</strong> pé e areia no<br />

fun<strong>do</strong> . Naquele remanso água batia na altura <strong>do</strong> peito . Candi<strong>do</strong> Cavalcanti<br />

comentava a limpeza <strong>da</strong> água .<br />

De repente o Ditinho começou a gritar sem parar . Falava de um<br />

bicho vermelho e grande . Achamos que fosse cobra e saímos <strong>da</strong> água .<br />

Ficamos na margem olhan<strong>do</strong> . Depois de muita brincadeira fomos comer<br />

nossos lanches . A tranqüili<strong>da</strong>de durou pouco . Ditinho voltou a gritar e<br />

mostrar o lugar onde tinha alguma coisa. Dieter logo avistou e foi dizen<strong>do</strong> :<br />

“- Eta neguinho burro ! Medroso ! O bicho é um “pitu ...camarão de<br />

água <strong>do</strong>ce” . De noite não vá mijar nas calças pensan<strong>do</strong> nele”.


Depois de muita gozação voltamos para casa , combinan<strong>do</strong> que<br />

na<strong>da</strong> falaríamos para nossos pais . To<strong>do</strong>s juraram . Foi preciso .<br />

Voltei quan<strong>do</strong> menino muitas vezes até o Rio Pinheiros .<br />

Algumas vezes para na<strong>da</strong>r com os amigos <strong>do</strong> Paulistano : Candi<strong>do</strong><br />

Cavalcanti , Pedro “Alemão”, Jose Hugo , Clovis , Albano Camargo e<br />

muitos outros . Acontecia sempre quan<strong>do</strong> a nossa piscina estava fecha<strong>da</strong> no<br />

Inverno e por acaso em um dia de calor . O Rio Pinheiros era limpíssimo !<br />

Hoje fujo <strong>do</strong> lugar , pois virou o Maior Esgoto ao Céu Aberto .<br />

Muito féti<strong>do</strong> ! O pior : agora está cerca<strong>do</strong> de aveni<strong>da</strong>s e prédios .<br />

Por mais incrível que pareça li no jornal que os bombeiros<br />

capturaram no local uma capivara . Bem viva. Em 2010 !<br />

Dei um apeli<strong>do</strong> para ela : -“ Fedegosa” !<br />

Bicicletas na Via Anchieta<br />

Por volta de 1.949 a Via Anchieta ficou pronta . Então por ali, no<br />

começo <strong>do</strong> uso <strong>da</strong>quela via , ain<strong>da</strong> era possível an<strong>da</strong>r de bicicleta . Quan<strong>do</strong><br />

fui para São Vicente por esta nova estra<strong>da</strong> vi inúmeras bicicletas an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

na Via Anchieta . Até onde iam eu não sabia .<br />

Outros também sabiam <strong>do</strong> fato . Então nossa turma resolveu ir de<br />

bicicleta até Santos . Os que desejavam ir achavam tu<strong>do</strong> muito fácil . Os<br />

que não queriam ir <strong>da</strong>vam mil razões para evitar o passeio . Depois de<br />

muita conversa concluímos que era possível chegarmos em Santos .<br />

Levaríamos 5 horas no máximo , pois eram somente 55 quilómetros .<br />

Assim um grupo de 8 rapazes , com i<strong>da</strong>de varian<strong>do</strong> entre 16 e 18<br />

anos, resolveu que iria no próximo sába<strong>do</strong> . Sairíamos por volta <strong>da</strong>s 5,30<br />

<strong>da</strong> manhã . Entendíamos que até as 11 horas estaríamos na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nas praias<br />

santistas .<br />

Para tanto to<strong>do</strong>s deveriam se encontrar na porta <strong>do</strong> Paulistano ,<br />

levan<strong>do</strong> um bom lanche , garrafa de água na bicicleta e um maiô . A roupa<br />

deveria ser leve , com um boné para evitar o sol . Bicicleta só iria conosco<br />

se tivesse bons pneus e se estivesse em boas condições . Isto ficara muito<br />

claro .<br />

A turma <strong>do</strong>s bicicleteiros que iriam para Santos era a seguinte : -<br />

Hugo Victor , Fredy Magalhães , Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , Clovis Fonseca ,<br />

Cesar Affonseca , Urbano Camargo Avóglio , Roberto Claro e este<br />

narra<strong>do</strong>r .<br />

To<strong>do</strong>s chegaram ce<strong>do</strong> . Saímos depois <strong>da</strong> hora marca<strong>da</strong> , por volta<br />

<strong>da</strong>s 6 horas . Em 50 minutos , com as ruas sem transito, já estávamos<br />

entran<strong>do</strong> na Via Anchieta . Fomos pe<strong>da</strong>lan<strong>do</strong> perto <strong>do</strong> acostamento , um<br />

atrás <strong>do</strong>s outros . O lider <strong>do</strong> grupo ia sen<strong>do</strong> troca<strong>do</strong> de tempos em tempos .<br />

Depois de 1,40 horas chegamos no Estoril . Paramos a beira <strong>da</strong>quela<br />

represa para descansar durante 10 minutos . Dali para frente estaríamos


subin<strong>do</strong> para o alto <strong>da</strong> serra . No caminho existiam trechos de fortes<br />

desci<strong>da</strong>s que muito aju<strong>da</strong>ram a subir outras partes , cheia de altos e baixos .<br />

logo em segui<strong>da</strong> .<br />

Por volta <strong>da</strong>s 9,45 chegamos no alto <strong>da</strong> serra . Dali para frente foi uma<br />

delícia . Foi descer a serra sem veloci<strong>da</strong>de , sem quase pe<strong>da</strong>lar e com<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong> para não esquentar os freios . Descemos sem perigo algum .<br />

A Baixa<strong>da</strong> Santista foi fácil . Um pouco depois <strong>da</strong>s 11 horas já<br />

estávamos na Praia <strong>do</strong> José Menino . Ali poderiamos parar .<br />

Dois <strong>do</strong> grupo sempre ficavam toman<strong>do</strong> conta <strong>da</strong>s roupas e bicicletas .<br />

Os outros iam na<strong>da</strong>r .<br />

Tomamos nossos lanches , secamos , trocamos de roupa e por volta <strong>da</strong>s<br />

3, 30 começamos voltar . Precisávamos subir a serra antes <strong>do</strong> anoitecer .<br />

Na Baixa<strong>da</strong> Santista foi fácil . Porem quan<strong>do</strong> começou a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Serra tu<strong>do</strong> foi fican<strong>do</strong> difícil . Muito difícil . Depois Impossível . As<br />

antigas bicicletas eram bem pesa<strong>da</strong>s , com aproxima<strong>da</strong>mente 20 quilos ou<br />

um pouco mais . Alem de tu<strong>do</strong> , naquele tempo elas não tinham câmbio .<br />

Não iriam nunca subir a Serra <strong>do</strong> Mar . Ficamos to<strong>do</strong>s para<strong>do</strong>s logo no<br />

começo <strong>da</strong> subi<strong>da</strong> . Falan<strong>do</strong>, conversan<strong>do</strong> , discutin<strong>do</strong> , mas sem saber o<br />

que fazer .<br />

Depois de meia hora , por volta <strong>da</strong>s 16,30 horas , parou naquele lugar<br />

um Guar<strong>da</strong> Ro<strong>do</strong>viário. Ele estava de motocicleta . Queria saber o que<br />

estávamos fazen<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> explicamos nosso problema ele deu risa<strong>da</strong> .<br />

Perguntou se não sabíamos antes que isto iria acontecer . Ficamos to<strong>do</strong>s<br />

com cara de tolos .<br />

Pensamos em tu<strong>do</strong> . Esquecemos <strong>do</strong> peso <strong>da</strong>s bicicletas .<br />

A solução veio com aquele mesmo Guar<strong>da</strong> Ro<strong>do</strong>viàrio .<br />

Ele parou um caminhão grande , aberto .Estava vazio . Perguntou<br />

para onde o caminhão iria . A resposta foi : “Para o Merca<strong>do</strong> de Pinheiros”.<br />

Ele perguntou se era possível levar a rapazia<strong>da</strong> e as bicicletas ? Como a<br />

resposta foi positiva , tivemos autorização para subir no caminhão .<br />

Colocamos to<strong>da</strong>s as bicicletas no final <strong>da</strong> carroceria e passamos uma cor<strong>da</strong><br />

por cima . Nos ajuntamos junto a cabine <strong>do</strong> caminhão . To<strong>do</strong>s de braços<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s para maior equilíbrio . Agradecemos o Guar<strong>da</strong> e o motorista .<br />

E lá fomos nós .<br />

Na subi<strong>da</strong> <strong>da</strong> serra , devagar . Depois o vento , com a veloci<strong>da</strong>de <strong>do</strong><br />

caminhão , ficou bem forte . Muitos perderam os bonés .<br />

Por volta <strong>da</strong>s 19,30 chegamos em Pinheiros . O caminhão parou .<br />

Descemos e agradecemos ao Motorista .<br />

Em meia hora já estávamos no Paulistano .<br />

Entramos no clube com cara de triunfantes . To<strong>do</strong>s amigos vinham<br />

nos cumprimentar , perguntan<strong>do</strong> sobre nossa viagem .


A resposta foi uma só : “ Ótima ! O maior problema tivemos com<br />

muito vento na volta . Despenteou o cabelo <strong>da</strong> gente !”<br />

Naquele dia não contamos como subimos a Serra <strong>do</strong> Mar .


Festa à Fantasia de Carnaval –<br />

“O RABO DO DIABO” -<br />

Edu Marcondes<br />

Era véspera <strong>do</strong> Carnaval .<br />

Nossa vizinha <strong>da</strong> casa ao la<strong>do</strong> , Dona Mariá , amiga de infância de<br />

minha mãe desde Ribeirão Preto , iria <strong>da</strong>r uma festinha carnavalesca para a<br />

criança<strong>da</strong> amiga <strong>do</strong> Jardim Paulista e <strong>do</strong> Club Paulistano .<br />

Nossos convites já haviam si<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong>s. Para Saba<strong>do</strong> de Carnaval.<br />

Esta festa era vontade de suas duas filhas : Márcia e May .<br />

Minhas amigas . Eu achava a Márcia a coisa mais lin<strong>da</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />

Dona Mariá era conheci<strong>da</strong> por suas lin<strong>da</strong>s recepções . Seria obrigatório<br />

uso de fantasia para criança<strong>da</strong> .<br />

Na semana anterior , passean<strong>do</strong> pelo centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , vimos varias<br />

fantasias nas vitrines <strong>da</strong>s lojas . Gostei e pedi uma de “pirata” . Marisa<br />

queria de “cigana”.<br />

Meu pai ficou encarrega<strong>do</strong> de comprá-las<br />

Realmente antes <strong>do</strong> almoço de sába<strong>do</strong> meu pai chegou com as<br />

fantasias . Corremos para abraçá-lo . Queríamos ver tu<strong>do</strong> naquela hora .<br />

Primeiro foi a fantasia <strong>da</strong> Marisa . Um “cigana completa na cor azul” .<br />

Ela foi com minha avó experimentá-la. A<strong>do</strong>rou .<br />

Depois foi minha vez. Papai fez mistério:<br />

Então abriu a caixa . Apareceu uma roupinha , de se<strong>da</strong> brilhante ,<br />

vermelha e preta , cheia de bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Uma capinha de se<strong>da</strong> to<strong>da</strong> vermelha<br />

de um la<strong>do</strong> e preta <strong>do</strong> outro . Ain<strong>da</strong> tinha um capuz. De um la<strong>do</strong> vermelho .<br />

Do outro preto . Surgiram meias compri<strong>da</strong> e vermelhas .<br />

Na reali<strong>da</strong>de era uma fantasia muito rica . “Só que era de Diabo !”<br />

Tinha ain<strong>da</strong> o pior : “Dois chifres no capuz . E um rabo no macacão” .<br />

Na duvi<strong>da</strong> , ain<strong>da</strong> perguntei para meu pai , que raio de fantasia era<br />

aquela. Ele respondeu to<strong>do</strong> alegre : “ Para meu capetinha uma roupinha de<br />

diabinho ! Veja como é bonita . Veja que cores vivas e alegres . Ela é<br />

realmente muito lin<strong>da</strong> !”<br />

Comecei a reclamar . Eu não iria em lugar algum com aquela<br />

porcaria. Queria usar roupa de gente e não de diabo . Vi pelos rostos de<br />

minha mãe e de minha avó que elas também não gostaram . Minha mãe<br />

porem tentava por panos quentes dizen<strong>do</strong> que era uma fantasia muito<br />

bonita . Eu estava inflexível . Disse que papai teria de trocar a fantasia .<br />

Ele respondeu que aquela hora a loja já estava fecha<strong>da</strong> .<br />

Então vovó apresentou uma solução . Disse que antes de mais na<strong>da</strong> eu<br />

deveria experimentar. Marisa e Carlinhos concor<strong>da</strong>ram (eles já tinham suas<br />

fantasias ) Teté e mamãe também diziam que eu deveria experimentar.<br />

Fui voto venci<strong>do</strong>. De cara amarra<strong>da</strong> fui provar a tal “fantasia de diabo.


Que diabo ! Cinco minutos depois voltei odian<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> aquilo .<br />

Entretanto , a fantasia caia muito bem no meu corpo e era muito vistosa .<br />

To<strong>do</strong>s bateram palma quan<strong>do</strong> apareci . Então , eu ven<strong>do</strong> que teria de sair<br />

com ela , fiz um pedi<strong>do</strong> : - “Retirar os chifrinhos e o tal de rabinho” .<br />

Ninguém apoiou a idéia . To<strong>do</strong>s acharam que a fantasia perderia sua<br />

graça e beleza . Ficaria pobre e sem senti<strong>do</strong> .<br />

Não teve jeito . Concordei em ir de “diabinho” .<br />

No dia <strong>da</strong> festa de Carnaval chegamos logo depois de seu começo .<br />

Realmente to<strong>do</strong>s admiravam a fantasia de diabinho . Meus amigos <strong>do</strong><br />

Paulistano , apesar de não gostarem , na<strong>da</strong> comentaram . Porem ... Clovis ,<br />

Luiz Carlos , Candi<strong>do</strong> e Paulinho tinham risinhos nos lábios . .<br />

Só que começou a gozação <strong>do</strong>s outros meninos :<br />

-“ Oi...rabudinho !<br />

-“ Oi chifru<strong>do</strong> ... , Sai satanás .. Oi coisa ruim ...”<br />

Passavam por mim e faziam sinal <strong>da</strong> cruz. Davam risa<strong>da</strong> .<br />

Comecei a ficar aborreci<strong>do</strong> . Mamãe falou que era inveja que eles<br />

tinham... Eu queria ir trocar de roupa . Vovó dizia não .<br />

Candi<strong>do</strong> Cavalcanti me segurou . Eu queria trocar de roupa .<br />

Márcia passou e me deu a mão . Fui leva<strong>do</strong> para a ro<strong>da</strong> de <strong>da</strong>nça .<br />

Então começaram a puxar o rabo <strong>da</strong> fantasia . Jogavam a capa na minha<br />

cabeça . Davam tapas <strong>do</strong> meus chifres . Fiquei bravo e sai para um canto .<br />

Fiquei conversan<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesa de <strong>do</strong>ces .<br />

Então um gordinho passou e disse :<br />

“- Coisa ruim ... Quer vender este rabinho prá mim ...?”<br />

Dei –lhe um soco no meio <strong>da</strong> cara . Tomei outros <strong>do</strong>is .<br />

No empurra...empurra que se seguiu perto <strong>da</strong> mesa , foi só bandejas de<br />

<strong>do</strong>ce que caíram no chão . Eu tentava pegar o gordinho mas as mães<br />

presentes não deixavam .<br />

A festa quase terminou .<br />

Minha tia levou-me para o jardim e pediu calma . Disse que era muito<br />

feio brigar em festa . Nem adiantou eu tentar explicar que ele tinha<br />

provoca<strong>do</strong>. To<strong>do</strong>s achavam que eu estava erra<strong>do</strong> . Quase to<strong>do</strong>s .<br />

Entretanto , valeu . Ninguém mais mexeu comigo ...<br />

Fiquei com olho roxo . Porem com o “ego” massagea<strong>do</strong> !<br />

Por mais que meu pai insistisse não fui ao Baile Infantil de Carnaval<br />

<strong>do</strong> Paulistano com aquele roupa de diabo . Era detestável .<br />

Graças a Deus nunca mais tive que usar aquele fantasia .<br />

Minha irmã se apoderou dela e a usou <strong>do</strong>is anos segui<strong>do</strong>s .<br />

“Xô ...Satanás ...!


DOCES LEMBRANÇAS<br />

Edu Marcondes<br />

Lembrança <strong>do</strong> Jardim Paulista – Amigos <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tietê –<br />

A Moleca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Rua Consolação – Aprenden<strong>do</strong> Brigar Por Necessi<strong>da</strong>de .<br />

A guerra nos fez mu<strong>da</strong>r de casa . Faltava gasolina na ocasião .<br />

Tinha sau<strong>da</strong>des de muitas coisas <strong>da</strong> casa <strong>da</strong> Rua Gal . Fonseca<br />

Telles . Os amigos eram uma <strong>da</strong>s sau<strong>da</strong>des . Uma outra , que no começo não<br />

parecia na<strong>da</strong> , marcou bastante . Era lembrança de um velho italiano<br />

chama<strong>do</strong> Bepo. Ele que to<strong>do</strong>s os dias passava pelas ruas <strong>do</strong> Jardim Paulista<br />

venden<strong>do</strong> frutas e verduras.<br />

Vinha , com uma pequena mula que carregava <strong>do</strong>is balaios de<br />

ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu lombo , calmamente . De um la<strong>do</strong> trazia frutas . Do outro<br />

verduras . To<strong>da</strong>s bem escolhi<strong>da</strong>s e bem fresquinhas .<br />

To<strong>do</strong> dia chegava e tocava a campainha . Quanto era atendi<strong>do</strong> ia<br />

falan<strong>do</strong> com sua pronuncia italiana<strong>da</strong> :<br />

“- Bananero , verdurero. Tuto buono signora”.<br />

Eu ia com a mamãe atende-lo .Depois que ela efetuava as<br />

compras ele sempre <strong>da</strong>va uma banana ou uma laranja para mim , e saia<br />

dizen<strong>do</strong> , ou melhor , cantarolan<strong>do</strong> :<br />

“- Andiamo via ... Rosina mia . Andiamo via ...”<br />

A mula ao ouvir o <strong>do</strong>no começava a an<strong>da</strong>r .<br />

Não precisava mais na<strong>da</strong> . Ela seguia seu caminho .<br />

Certo dia , eu tinha i<strong>do</strong> até a casa de meus avós e encontrei-o na<br />

volta . Ain<strong>da</strong> faltava mais de um quarteirão para minha casa . Vim an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

com ele , até que parou para atender uma freguesa . Parei também . Quan<strong>do</strong> ia<br />

continuar no seu caminho perguntou se eu não queria ir na garupa <strong>da</strong> mulinha.<br />

Disse que sim . Então ele me aju<strong>do</strong>u a subir e foi cantarolan<strong>do</strong> :<br />

“-Andiamo via ... Rosina mia .”<br />

Fomos in<strong>do</strong> até chegar em casa . Ele tocou a campainha .Esperei<br />

que mamãe o atendesse para me ver em cima <strong>da</strong> mulinha . Com surpresa ela<br />

sorriu .Fez suas compras , pagou, esperou minha desci<strong>da</strong> e o canto de seu<br />

Bepo :<br />

“- Andiamo via ... Rosina mia.”


Muitas vezes andei na garupa <strong>da</strong> Rosina .E sempre , mesmo<br />

depois de mu<strong>da</strong>r de casa , lembrava de seu Bepo e de seu canto para fazer a<br />

mulinha an<strong>da</strong>r . Lembrança de menino .<br />

Depois de guerra voltamos para a casa <strong>do</strong> Jardim Paulista . Não<br />

via mais nem a mula Rosina nem seu Bepo . Soube , algum tempo depois, que<br />

ele já havia faleci<strong>do</strong> . Senti e sinto a falta <strong>da</strong>quela <strong>do</strong>ce lembrança .<br />

Até hoje , quan<strong>do</strong> quero que alguém saia comigo para passear ,<br />

repito <strong>do</strong>cemente a frase de seu Bepo :<br />

“- Andiamo via ... Rosina mia... ”<br />

- OS AMIGOS DA AL. TIETÊ – AMIGOS DO PAULISTANO<br />

Deixan<strong>do</strong> de la<strong>do</strong> as sau<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Jardim Paulista , comecei a<br />

conhecer novos amigos <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tietê , onde agora residia .<br />

O primeiro foi Saulo Ferraz . Ele era irmão de Nívea , esposa <strong>do</strong><br />

primo Zézito –( Professor de medicina Dr. Jose Paulo Marcondes de Souza ) .<br />

Saulo era de minha i<strong>da</strong>de e com ele comecei a jogar futebol na rua . A bola era<br />

de meia , enchi<strong>da</strong> com papel de jornal , muito amassa<strong>do</strong> e comprimi<strong>do</strong> dentro<br />

de uma meia velha . Ou de duas meias velhas .<br />

Bola de couro era coisa rara ... muito cara . A gente brincava<br />

dizen<strong>do</strong> que , o possui<strong>do</strong>r de uma bola de couro com câmara de ar , era o <strong>do</strong>no<br />

<strong>do</strong> time . Acontecia de ver<strong>da</strong>de . Ele começava e parava o jogo .<br />

Muitas vezes , nas noites de verão , quan<strong>do</strong> havia futebol debaixo<br />

<strong>da</strong>s luzes <strong>do</strong>s lampiões , o primo Zézito , que na época já era médico forma<strong>do</strong><br />

e Assistente <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de , vinha jogar com a moleca<strong>da</strong> . Então , muitas vezes<br />

a bola era de ver<strong>da</strong>de , de couro . Como tinha si<strong>do</strong> grande esportista seu time<br />

quase sempre tinha chance de ganhar . Na rua carro não existia !<br />

Era uma alegria para a moleca<strong>da</strong> jogar com o “Doutor José Paulo<br />

– Zézito”<br />

Através <strong>do</strong> Saulo Ferraz e <strong>da</strong> bola de meia fui fazen<strong>do</strong> novas<br />

amizades . Conheci Domingos Alves Meira. Morava na rua Melo Alves .<br />

Conheci ain<strong>da</strong> três grandes amigos . Brincamos juntos quan<strong>do</strong><br />

meninos, praticamos juntos esportes no Club Athletico Paulistano , crescemos<br />

juntos , fomos juntos em inúmeras festas e até viajamos juntos . Hoje ain<strong>da</strong><br />

quan<strong>do</strong> nos encontramos temos muita alegria . Amizades que duram ,<br />

passa<strong>do</strong>s mais 70 anos . Eles são :<br />

1- Otacílio Lopes Filho , filho <strong>do</strong> famoso Dr. Otacílio Lopes ,<br />

especialista em otorrinolaringologia . Continuou a carreira <strong>do</strong> pai , torna<strong>do</strong>-se,<br />

depois de alguns anos , professor de muito gabarito <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina<br />

<strong>da</strong> Santa <strong>Casa</strong>.


Muitas vezes assistimos juntos desenhos anima<strong>do</strong>s em sua casa<br />

<strong>da</strong> Av, Rebouças .<br />

2 e 3 - Rômulo Mariano Carneiro <strong>da</strong> Cunha -Rominho - , hoje<br />

faleci<strong>do</strong> em um desastre de automóvel, e seu irmão José Mariano Carneiro <strong>da</strong><br />

Cunha - são amizades inesquecíveis. Vou leva-las comigopara sempre .<br />

Eles também moravam na Rua Melo Alves .Com eles aprendi a<br />

jogar “Taco” na rua . Este jogo também era chama<strong>do</strong> de “Beti”. Eram <strong>do</strong>is<br />

joga<strong>do</strong>res de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> .<br />

No caminho <strong>do</strong> Paulistano a nossa turminha pór vezes encontrava<br />

os Brito : Deoclides , Roberto e Claudio . A turminha crescia . Depois já na<br />

Bela Cintra dávamos uma paradinha na casa <strong>do</strong> Cesar Afonseca e Silva .<br />

O final <strong>do</strong>s encontros era na casa <strong>do</strong> João Balbi Campos . Estava<br />

forma<strong>da</strong> a turminha para jogar bola no Paulistano .<br />

Como jogávamos bem , por isto mesmo fazíamos jogos de<br />

futebol com meninos de outras ruas . Hoje em dia as crianças não brincam<br />

nas ruas . Nunca puderam apreender qualquer diversão deste tipo.<br />

Com meus amigos <strong>do</strong> Paulistano também passeávamos muito de<br />

bicicleta, não só pelo bairro , mas com excursões pelo Jardim Europa e muitas<br />

vezes chegan<strong>do</strong> até o Aeroporto de Congonhas .<br />

Outra diversão era correr de carrinho de rolimã pelos declives<br />

<strong>da</strong>s ruas <strong>da</strong> região .Então não faltavam tombos e muitos joelhos rala<strong>do</strong>s .<br />

Com a Guerra a Av. Rebouças ficava vazia . Onibus só de meia<br />

em meia hora . Era o tempo para descer a aveni<strong>da</strong> de carrinho .<br />

A vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> garota<strong>da</strong> , com muitas brincadeiras , era realmente nas<br />

ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Acredito que tivemos uma oportuni<strong>da</strong>de única que hoje nem<br />

se pensa mais . Com to<strong>do</strong>s assaltos , tráfico de drogas e muitos tipos de crime,<br />

as ruas atualmente passaram a ser perigosas . Nenhuma mãe , por mais liberal<br />

que seja , consente em deixar seu filho brincar nas ruas .<br />

Nossa São Paulo , hoje invadi<strong>da</strong> por bandi<strong>do</strong>s , como acredito ,<br />

ficou triste . Não vemos mais crianças brincan<strong>do</strong>. Seja no bairro que for . O tal<br />

“progresso” também neste caso foi péssimo .<br />

Através de minha irmã ,de nossas primas e de suas amigas , fiz<br />

mais três bons amigos, apesar de serem mais novos . José Augusto Medeiros ,<br />

hoje <strong>do</strong>no de um tabelião , seu irmão Geral<strong>do</strong> Medeiros que ficou famoso como<br />

médico e Ladislau Lankzaricz que nunca mais vi nestes últimos anos .


A MOLECADA DA RUA CONSOLAÇÃO<br />

Além destas duas turminhas tinha ain<strong>da</strong> a moleca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Rua <strong>da</strong><br />

Consolação . To<strong>do</strong>s eram pobres e muitos eram filhos <strong>da</strong>s emprega<strong>da</strong>s <strong>do</strong> bairro .<br />

Moravam quase to<strong>do</strong>s em uma velha e grande casa comunitária , na<br />

época chama<strong>da</strong> de “cortiço.” Hoje em seu lugar um lin<strong>do</strong> prédio de apartamentos .<br />

Praticamente aquelas casas comunitárias deram lugar as favelas ,<br />

que por sinal são muito piores , praticamente sem conforto e sem higiene . Até nisso<br />

nossa São Paulo piorou muito .<br />

Ao la<strong>do</strong> desta casa comunitária existia um grande terreno baldio<br />

onde os moleques jogavam futebol .Principalmente no sába<strong>do</strong>. .<br />

Como eu jogava bem , um negrinho amigo .muito queri<strong>do</strong> ,<br />

apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de Vico , que eu realmente gostava muito , sempre me convi<strong>da</strong>va para<br />

disputa de uma “pela<strong>da</strong>”. E lá ia eu enfrentar uma barra pesa<strong>da</strong> pois gostava de<br />

futebol. Uma minoria <strong>do</strong>s moleques gostava de me amolar dizen<strong>do</strong> que eu era<br />

“granfino”<strong>do</strong> Paulistano . E tome botina<strong>da</strong>s . Eu não reclamava .<br />

APRENDENDO BRIGAR POR NECESSIDADE<br />

Dentre esta moleca<strong>da</strong> existiam três que sempre gostavam de<br />

aborrecer. To<strong>da</strong> hora . No futebol ou na rua . Bastava que eu aparecesse . Eles tinham<br />

apeli<strong>do</strong>s . Eram chama<strong>do</strong>s de “João Gor<strong>do</strong>” , “Pingo” e “Torra<strong>da</strong> “. Nunca soube seus<br />

nomes ver<strong>da</strong>deiros .To<strong>do</strong>s eram um pouco mais velhos <strong>do</strong> que eu e tambem maiores .<br />

Certo dia num joga<strong>da</strong> de bola errei um passe . Bastou para o tal <strong>do</strong><br />

João “Gor<strong>do</strong>” começar a berrar comigo e me chamar de “fresquinho”. Pedi<br />

para ele parar . O jogo continuou .<br />

Daí a pouco quem errou um chute para o gol foi ele .Eu comentei com<br />

Vico que era fácil falar .Ele ouviu e veio empurran<strong>do</strong>. Logo em segui<strong>da</strong> recebi<br />

um tapa no rosto . Meu sangue ferveu .Retruquei com um soco que acertei<br />

entre um olho e o nariz . Ele sangrou na hora . Nesta altura <strong>do</strong>s<br />

acontecimentos , sem que eu percebesse , o Pingo veio por trás e me segurou<br />

para o João Gor<strong>do</strong> bater . Apanhava bastante naquele momento .<br />

Não sabia o que fazer .Somente lembro que tomei vários socos , mal<br />

<strong>da</strong><strong>do</strong>s por sinal , enquanto tentava me defender <strong>da</strong>n<strong>do</strong> chutes na direção <strong>do</strong><br />

João Gor<strong>do</strong> .<br />

Só não apanhei muito porque o pai <strong>do</strong> Vico apartou a briga . Naquele<br />

dia o futebol acabou .Eu fui para casa com a camisa rasga<strong>da</strong> e a orelha direita<br />

incha<strong>da</strong> e assobian<strong>do</strong> meu ouvi<strong>do</strong> .<br />

Deste dia em diante começou uma perseguição . To<strong>do</strong> dia , os <strong>do</strong>is ,<br />

sempre que me avistavam, começavam xingar e procurar briga . Eu tentava


evitar . Era difícil pois para ir à escola era necessário passar pela Rua <strong>da</strong><br />

Consolação. Fui obriga<strong>do</strong> a brigar umas vinte vezes . No mínimo .<br />

Como eu era bem menor , muito mais apanhava <strong>do</strong> que batia .<br />

Então resolvi que aquilo tinha que parar . Eu estava apanhan<strong>do</strong> quase<br />

to<strong>do</strong>s os dias .E o pior é que não via uma perspectiva de melhorar a situação.<br />

Então lembrei . No caminho <strong>da</strong> escola sempre via uma estaca de<br />

roseira finca<strong>da</strong> no jardim de uma casa , bem perto <strong>do</strong> muro . Não tive duvi<strong>da</strong>s.<br />

Naquela sexta feira , na volta <strong>da</strong> escola estiquei o braço e , fazen<strong>do</strong> um pouco<br />

de força , peguei a tal estaca.<br />

Comecei a voltar para casa , com a estaca atravessa<strong>da</strong> e presa pela<br />

tampa de couro <strong>da</strong> minha mala escolar .<br />

O que eu esperava aconteceu . Perto <strong>da</strong> Rua Consolação , ain<strong>da</strong> no<br />

meio <strong>do</strong> quarteirão os <strong>do</strong>is me avistaram e vieram em minha direção .<br />

Já vinham xingan<strong>do</strong> . Estavam confiantes .<br />

Não repararam na estaca .<br />

Quan<strong>do</strong> chegaram perto não esperei muito para ser ataca<strong>do</strong> . João<br />

“Gor<strong>do</strong>” veio corren<strong>do</strong> e me deu um tapa na orelha . Puxei a estaca e acertei<br />

uma paula<strong>da</strong> na sua cabeça . João “Gor<strong>do</strong>” gritou de <strong>do</strong>r e imediatamente o<br />

sangue escorreu em sua testa .<br />

Antes que o tal de Pingo saísse <strong>da</strong> surpresa mandei paula<strong>da</strong>s para cima<br />

dele . Só consegui acertar uma , em sua mão , porque depois ele correu. Eu<br />

corri atrás mas não consegui alcança-lo .<br />

To<strong>do</strong>s que estavam na esquina viram a cena .<br />

Naquele dia voltei de alma lava<strong>da</strong> para casa . Escondi no quintal a<br />

estaca .Poderia precisar dela outra vez .<br />

Mas minha alegria durou pouco . Logo depois <strong>do</strong> jantar , os pais <strong>do</strong><br />

João “Gor<strong>do</strong>” e <strong>do</strong> “Pingo” foram até lá em casa , acompanha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Seu<br />

Luiz- o guar<strong>da</strong> civil que fazia a ron<strong>da</strong> na região . Ele soube de tu<strong>do</strong> que tinha<br />

ocorri<strong>do</strong> e contou para meu pai com detalhes . Depois ain<strong>da</strong> disse :<br />

-“Não vou levar esta ocorrência para frente pois seu filho foi sempre<br />

provoca<strong>do</strong> pelos outros <strong>do</strong>is . Testemunhas , tanto <strong>da</strong> Pa<strong>da</strong>ria como <strong>do</strong> Bar lá<br />

<strong>da</strong> esquina , confirmam este fato . Ocorre entretanto que os filhos destes<br />

senhores precisam de atendimento médico . O João precisa levar uns pontos<br />

na cabeça . O Pingo está provavelmente com um de<strong>do</strong> quebra<strong>do</strong> . Alem <strong>do</strong><br />

mais estas brigas diárias vão ter que parar de vez .To<strong>do</strong>s os senhores vão<br />

tomar providências junto aos seus filhos , antes que tenhamos maiores<br />

problemas .”<br />

Meu pai me chamou e eu contei to<strong>da</strong> a história . Ele pediu um minuto<br />

pois iria ligar para o primo Zézito. Ele era nosso médico .


Logo voltou pedin<strong>do</strong> que os meninos fossem leva<strong>do</strong>s para onde meu<br />

primo morava , ali mesmo na Al. Tietê . Ele iria junto .<br />

Ganhei um puxão de orelha e a ordem de ficar em meu quarto .<br />

Duas horas depois ele voltou dizen<strong>do</strong> que o tal de Pingo havia<br />

quebra<strong>do</strong> <strong>do</strong>is de<strong>do</strong>s e que o João “Gor<strong>do</strong>” recebera quatro pontos na cabeça .<br />

Não falou muito mais . Pediu entretanto que eu evitasse brincar com<br />

aqueles moleques . Terminou dizen<strong>do</strong> :<br />

-“Ain<strong>da</strong> bem que você nunca voltou choran<strong>do</strong> , pois então apanharia<br />

também em casa .”<br />

Claro que voltei a brincar com a moleca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Consolação . Guar<strong>da</strong>va<br />

entretanto muita magoa <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is .Tomava cui<strong>da</strong><strong>do</strong> com eles . Fiquei juran<strong>do</strong><br />

que , se um dia ficasse maior <strong>do</strong> que eles , <strong>da</strong>ria uma bela surra nos <strong>do</strong>is .<br />

A Surpresa<br />

O tempo passou . A Guerra acabou . Nos mu<strong>da</strong>mos de volta para o<br />

Jardim Paulista . Praticamente eu não vinha mais para a Alame<strong>da</strong> Tietê .<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei aos vinte anos tinha então 1,82 metros de altura ,<br />

pesava 90 quilos e , graças ao esporte,, era muito musculoso .<br />

Não tinha mais visto os <strong>do</strong>is moleques inimigos por quase 7 anos .<br />

Uma noite , em uma festinha na casa de meu tio Thomaz Oscar , lá na<br />

mesma Alame<strong>da</strong> Tietê , faltou refrigerantes . Então fui com ele até a esquina<br />

<strong>da</strong> Consolação para comprar , na pa<strong>da</strong>ria chama<strong>da</strong> “Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s” que lá<br />

existe até hoje , guaraná e coca cola .<br />

Quan<strong>do</strong> estava entran<strong>do</strong> encontrei o João “Gor<strong>do</strong>” .<br />

Para surpresa minha ele veio to<strong>do</strong> sorridente falar comigo . Era uma<br />

bolinha gor<strong>da</strong> de mais ou menos 1,68 metros de altura. O João “Gor<strong>do</strong>” , que<br />

era bem maior <strong>do</strong> que eu, tinha vira<strong>do</strong> um anão barrigudinho .<br />

Fiquei com pena .<br />

Naquele instante ele ficou per<strong>do</strong>a<strong>do</strong> . Seria muita covardia bater<br />

naquele baixinho . Além <strong>do</strong> mais a raiva havia passa<strong>do</strong> desde muito tempo.<br />

Aproveitei a oportuni<strong>da</strong>de para perguntar sobre o Pingo . Naquele<br />

instante o rosto risonho ficou triste e respondeu :<br />

-“Morreu ... de câncer . Três meses atrás .”<br />

Reparei uma pequena lagrima no canto <strong>do</strong>s olhos <strong>do</strong> João “Gor<strong>do</strong>” .<br />

Estava colocan<strong>do</strong> minha mão em seu ombro ,tentan<strong>do</strong> consolar a per<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

amigo , quan<strong>do</strong> meu “irmãozinho Vico” entrou com o “Torra<strong>da</strong>” . Olhou ,<br />

sorriu e chegou junto . Ganhei um <strong>do</strong>s melhores abraços de to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> .<br />

Dali para frente só tive alegria , pois ca<strong>da</strong> um que chegava ia chamar<br />

um outro para me ver .


Não voltei para a festinha de meu tio . Levei os refrigerantes mas<br />

voltei para a esquina e ficamos conversan<strong>do</strong> sobre o futebol , as corri<strong>da</strong>s atrás<br />

de balão e as palhaça<strong>da</strong>s de nossa infância . Coisa boa que não volta nunca<br />

mais.<br />

Hoje , de vez em quan<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> passo de carro pela esquina <strong>da</strong><br />

Consolação com a Al. Tietê , tento ver se enxergo algum <strong>da</strong>queles moleques<br />

amigos .<br />

Parece que o vento os levou no tempo ... Sinto falta de to<strong>do</strong>s .


PASSEIOS , VISITAS e CINEMAS<br />

Edu Marcondes<br />

A Vi<strong>da</strong> com Amigos e Família – Cinemas – A Limpa e Bonita São<br />

Paulo – Prefeitura ...Sem Sentimento Paulista – “Fratura Exposta”<br />

Na déca<strong>da</strong> de 40 , com a guerra existin<strong>do</strong> na Europa , o mun<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong> estava muito mais sério que o atual . Nos <strong>do</strong>mingos praticamente<br />

existia uma programação constante . Na parte <strong>da</strong> manhã , bem ce<strong>do</strong>, sempre<br />

missa . Na época <strong>do</strong> verão , íamos depois na<strong>da</strong>r no Club . No inverno<br />

passear nos Parques de São Paulo , perto de casa . Trianon e as vezes na<br />

Água Branca , caso existisse alguma exposição . Elas que eram sempre<br />

bonitas .<br />

Outras vezes saia de bicicleta com os amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Nestas ocasiões , quan<strong>do</strong> já estávamos na faixa <strong>do</strong>s 13 anos pe<strong>da</strong>lávamos<br />

até o Aeroporto ou Santo Amaro .<br />

O almoço <strong>do</strong>mingueiro acontecia sempre com familiares . Em meu<br />

caso na casa <strong>do</strong> vovô Oscar. Algumas vezes na casa de um <strong>do</strong>s meus tios ,<br />

tanto <strong>do</strong> la<strong>do</strong> materno como paterno . Por vezes também em nossa casa .<br />

O importante era a família estar sempre junta . Muito uni<strong>da</strong> .<br />

Cinemas<br />

Na parte <strong>da</strong> tarde o cinema era a diversão preferi<strong>da</strong> <strong>da</strong> família . Por<br />

vezes eu ia em matinês com a Turminha <strong>do</strong> Paulistano . O dificil era<br />

escolher o filme . Ca<strong>da</strong> um queria assistir um filme diferente <strong>da</strong>quele que<br />

outros queri . No final alguns cediam íamos to<strong>do</strong>s juntos . A nossa<br />

turminha <strong>do</strong> Cinema era composta pelo Cesar Afonseca , João Campos ,<br />

Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , Ronie Scott , Luiz Carlos Anjos e algumas vezes<br />

Romulo Mariano , Marcos Assumpção ..<br />

Garotas não iam só com rapazes em sessões de cinema <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

.Somente as encontrávamos nas matinês <strong>do</strong> vlho Cine Paulista .<br />

Futebol era uma segun<strong>da</strong> opção , mais para os homens .<br />

Filmes de aventuras eram por nós bem aprecia<strong>do</strong>s .<br />

Também gostavamos de desenhos anima<strong>do</strong>s de longa metragem ,<br />

como “Gulliver”, “Branca de Neve” e “Pinóchio” ..<br />

Entretanto , eu jamais gostei de filmes de “Bandi<strong>do</strong>s e Mocinhos”,<br />

pois na reali<strong>da</strong>de , desde pequeno , eu entendia que tanto bandi<strong>do</strong>s como<br />

mocinhos eram criminosos . Matavam impunemente . Na reali<strong>da</strong>de os<br />

filmes de Mocinhos/Bandi<strong>do</strong>s eram e são só uma Escola de Crimes .<br />

Amor, tipo água com açúcar , era para meninas.<br />

Na maioria <strong>da</strong>s vezes matinê era no Paulista antigo <strong>da</strong> R. Augusta<br />

.Depois no Majestic , que ficava depois <strong>da</strong> Av. Paulista .


Algumas vezes eu ia com os amigos <strong>do</strong> Paulistano nas matines <strong>do</strong>s<br />

cinemas <strong>do</strong> Centro <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de . Naquele tempo , mesmo para jovens era<br />

necessário paletó e gravata . A nossa turminha era muito uni<strong>da</strong> . Além <strong>do</strong><br />

mais naquele tempo a moleca<strong>da</strong> an<strong>da</strong>va solta , sem nenhum problema .<br />

A razão maior era poder assistir os filmes seria<strong>do</strong>s que passavam<br />

nos cinemas <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de . Aconteciam no “Santa Helena”. Entre aqueles<br />

filmes em série : - “Fash Gor<strong>do</strong>n” , “Charlie Chan”, “Zorro” , “Tarzan” e<br />

muitos outros .<br />

Existia na Praça <strong>da</strong> Sé , bem ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Cine Santa Helena , onde<br />

as vezes eu ia com meu pai , um cinema de filmes naturais , nota<strong>da</strong>mente<br />

sobre a guerra que ia acontecen<strong>do</strong>. Chamava-se “Cine Mundi”. Ficava<br />

cheio pois era a única forma de ver o que acontecia na Europa .<br />

Eu separava o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de em duas partes , devi<strong>da</strong>mente<br />

separa<strong>do</strong>s pelos Viadutos <strong>do</strong> Chá e Santa Efigênia . Eram aqueles centros<br />

então chama<strong>do</strong>s de : Centro Velho e Centro Novo .<br />

Dentro <strong>do</strong> Velho ficavam Praça <strong>da</strong> Sé , <strong>do</strong> Patriarca , Rua Direita,<br />

Rua São Bento . Daquele la<strong>do</strong> tínhamos os cines “Alhambra” , “Rosário” ,<br />

“Pedro II”, e mais os <strong>do</strong>is já cita<strong>do</strong>s : “CineMundi e “Santa Helena”. Nem<br />

to<strong>do</strong>s eram de cadeiras estofa<strong>da</strong>s . Alguns tinham sessões duplas , com <strong>do</strong>is<br />

filmes , mais jornais internacionais e por vezes um Curto Desenho. .<br />

No Centro Novo existiam mais cinemas : “Opera” na D. José de<br />

Barros . “Art Palácio” , “Brodway” , “Ritz” e “Metro” na Av. São João .<br />

Na Av. Ipiranga : “Marabá” e “Ipiranga” . Este último era muito elegante e<br />

antes de ca<strong>da</strong> sessão tocava um pianista clássico .<br />

Na Conselheiro . Crispiniano tínhamos o cine “Marrocos” .<br />

To<strong>do</strong>s eles já acabaram ou viraram igrejas protestantes .<br />

Ain<strong>da</strong> lembro que na frente <strong>da</strong>queles cinemas sempre existia um<br />

Guar<strong>da</strong> Civil com Far<strong>da</strong> de Gala - azul marinho , muito elegante , com uma<br />

espa<strong>da</strong> ao la<strong>do</strong> . Impunha respeito .<br />

Nos bairros também existiam cinemas . Na zona sul o que<br />

inicialmente operou foi o primeiro “Cine Paulista” , isto desde o início <strong>do</strong>s<br />

anos 40 . Ficava na esquina <strong>da</strong> Augusta com Oscar Freire . Ao seu la<strong>do</strong><br />

existia uma mercearia-sorveteria que tinha um balcão . Ele que se abria<br />

para o hall de entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> cinema . Isto acontecia antes <strong>da</strong>s sessões e nos<br />

intervalos <strong>do</strong>s filmes , posto que naquele primeiro Cine Paulista , <strong>da</strong>s<br />

cadeiras de madeira, as sessões eram sempre com <strong>do</strong>is filmes .<br />

Matinés só aos sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos .<br />

Muitas vezes saiamos <strong>da</strong>quele “Cine Paulista” para tomar lanche no<br />

Paulistano. No verão ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>va até tempo para pegar o final <strong>da</strong> piscina .<br />

Ela que só fechava as 6 horas .<br />

O crescimento <strong>da</strong> Augusta terminou com o Velho “Cine Paulista” .<br />

Em seu lugar foi construí<strong>do</strong> , lá pelos anos 50 , o novo “Cine<br />

Paulista” . Era de alto luxo , com sessões corri<strong>da</strong>s. Era “chic” assistir as


suas sessões <strong>da</strong>s 22,00 horas de Segun<strong>da</strong> Feira . Hoje ele também<br />

desapareceu .<br />

Na mesma Rua Augusta existiam mais quatro cinemas . Agora já<br />

nos anos 50 . O “Astor” no Conjunto Nacional . Hoje temos em seu lugar a<br />

Livraria Cultura . Um pouco mais para os la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de : - Cines<br />

“Picolino” e “Majestic”.Também não mais existem. Muitas vezes fui<br />

namorar naqueles cinemas . Namoro muito puro . Só de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s .<br />

Mais perto <strong>da</strong> Praça Roosevelt o “Cine Marachá”. Dele nem sinal .<br />

O advento <strong>da</strong> televisão é o responsável pelo final <strong>da</strong> maioria <strong>do</strong>s<br />

cinemas de São Paulo. Fica muito mais fácil e mais barato assistir os<br />

acontecimentos , filmes e futebol em casa , no maior conforto .<br />

Naquele tempo era mesmo exigi<strong>do</strong> o uso de gravata e paletó .<br />

A Limpa e Bonita São Paulo de Meu Tempo<br />

Nas déca<strong>da</strong>s de 1.940 , 50 , 60 e até mesmo 70 a ci<strong>da</strong>de de São<br />

Paulo era realmente uma lin<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Antes de mais na<strong>da</strong> muito limpa . O<br />

centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de era lava<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as noites por caminhões pipa . Dava<br />

gosto ver a conservação <strong>da</strong>s praças , <strong>do</strong>s jardins , <strong>da</strong>s calça<strong>da</strong>s e de to<strong>da</strong>s as<br />

arvores . As vitrines <strong>da</strong>s lojas eram capricha<strong>da</strong>s na sua exposição .<br />

Não apareciam vagabun<strong>do</strong>s pelas ruas , pois ain<strong>da</strong> existia a<br />

“Delegacia de Vadiagem”. Ela funcionava , como ain<strong>da</strong> funciona em to<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> , e ninguém ficava senta<strong>do</strong> , sem rumo , planejan<strong>do</strong> alguma coisa<br />

má contra o povo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />

Também não existiam os “Mora<strong>do</strong>res de Rua”. Estes , caso<br />

surgissem , eram leva<strong>do</strong>s para albergues , cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s , lava<strong>do</strong>s , treina<strong>do</strong>s em<br />

alguma profissão . Só assim eram libera<strong>do</strong>s , ten<strong>do</strong> então emprego fixo<br />

obrigatório .<br />

Lembro que antes , quan<strong>do</strong> aqui chegaram os imigrantes <strong>da</strong><br />

Europa e <strong>da</strong> Ásia , existia até a <strong>Casa</strong> <strong>do</strong> Imigrante . Para recebê-los e<br />

ajustá-los a nossa socie<strong>da</strong>de . O custo era <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> .<br />

O Vale <strong>do</strong> Anhangabaú era realmente o cartão postal <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />

Tinha muito verde com muita grama , flores e muitas arvores . Ele se<br />

estendia desde a Praça <strong>da</strong> Bandeira até a Av. São João . Ia subin<strong>do</strong> até o<br />

Teatro Municipal , chegan<strong>do</strong> mesmo até a Praça Ramos . Era cheio de<br />

grandes palmeiras e coqueiros , onde viviam ban<strong>do</strong>s e mais ban<strong>do</strong>s de<br />

par<strong>da</strong>is .<br />

Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Teatro Municipal , na desci<strong>da</strong> para o Anhangabaú ,<br />

grandes estatuas de bronze , com flores ao la<strong>do</strong> , <strong>do</strong>s principais<br />

personagens <strong>da</strong>s operas mais conheci<strong>da</strong>s . Ain<strong>da</strong> elas existem . To<strong>da</strong>s sujas<br />

e mal cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s .


A vista <strong>do</strong> Anhangabaú , de qualquer la<strong>do</strong> era muito bonita , Eu<br />

ain<strong>da</strong> gostava <strong>da</strong>quela que de cima <strong>do</strong> Viaduto <strong>do</strong> Chá olhava a Praça <strong>da</strong><br />

Bandeira , com enorme bandeira <strong>do</strong> Brasil sempre hastea<strong>da</strong> .<br />

Prefeitura : Sem Sentimento Paulista<br />

Hoje deformaram tu<strong>do</strong> . Uma Prefeita inteiramente ignorante e<br />

muito prepotente , sem sentimento paulista , talvez lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong> secura de<br />

onde veio , acabou com to<strong>do</strong> verde que por ali existia . Só ficou pedra ao<br />

la<strong>do</strong> de pedra . Pedra sobre pedra. Horrível ! Perdemos nosso Cartão<br />

Postal. Por lá , com concreto mal feito por to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> , tu<strong>do</strong> é muito sujo ,<br />

picha<strong>do</strong> e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> . Agora é lugar de prostitutas , mascates e malandros<br />

de quinta categoria . A noite é de assaltos .<br />

Quan<strong>do</strong> chove forte os túneis por ali inun<strong>da</strong>m .<br />

Até os par<strong>da</strong>is fugiram <strong>do</strong> local .<br />

Pior é que acontece nos la<strong>do</strong>s de Santa Efigênia . A droga e os<br />

traficantes tomaram conta <strong>do</strong> lugar . De muitas ruas . Perigo ...Perigo !<br />

E a policia não faz na<strong>da</strong> contra a “Cracolandia”. Por que ?<br />

Um horror . Mesmo como filme de “Terror Cinematográfico” !<br />

Onde estão policia , o judiciário e o poder executivo ??? !!!<br />

“Fratura Exposta...”<br />

O Centro Novo <strong>da</strong> Barão de Itapetininga desapareceu . Foi<br />

inicialmente invadi<strong>do</strong> inteiramente por marreteiros , vin<strong>do</strong>s de fora <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong> de São Paulo . Eles que tomaram conta <strong>da</strong>s ruas .<br />

Ameaçavam e agrediam até os comerciantes e seus emprega<strong>do</strong>s .<br />

Provaram inúmeras brigas . Queriam , e por força vendiam to<strong>da</strong> espécie de<br />

bugigangas e contraban<strong>do</strong>s . Ao anoitecer muitos deles assaltavam o<br />

público distraí<strong>do</strong> . Sujaram e picharam tu<strong>do</strong> .<br />

Ali tu<strong>do</strong> ficou muito feio ! Continua feio .<br />

A policia na<strong>da</strong> fez , nem a Prefeitura . Governo na<strong>da</strong> faz !<br />

Conclusão : - A clientela fugiu , as lojas fecharam e/ou mu<strong>da</strong>ram . O<br />

valor <strong>do</strong>s imóveis naquele lugar é agora desprezível . Muitos prédios<br />

comerciais estão fecha<strong>do</strong>s até hoje . Ninguém compra ... nem aluga ! Os<br />

médicos e dentistas , que formavam um centro especializa<strong>do</strong>, foram para<br />

outros locais . As confeitarias <strong>da</strong> Barão de Itapetininga foram fecha<strong>da</strong>s .<br />

Uma depois <strong>da</strong> outra . Ali , depois que anoitece , é região perigosa .<br />

Em pleno centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />

A única coisa boa que restou foram os velhos lampiões trabalha<strong>do</strong>s<br />

em ferro bati<strong>do</strong> , com cinco luminárias ca<strong>da</strong> um . Hoje estão sem pintura ,<br />

mas existem . Lin<strong>do</strong>s e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s . Qualquer dia vão ser rouba<strong>do</strong>s ...


Outra grande destruição , então com desvirtuamento de bairros, foi<br />

realiza<strong>da</strong> pela gestão na Prefeitura de um “Grande Malandro”, disfarça<strong>do</strong><br />

em gente de bem, que hoje graças a Deus , está sen<strong>do</strong> processa<strong>do</strong> por<br />

muitas roubalheiras e malandragens . Nem pode sair <strong>do</strong> país !<br />

Esta aconteceu principalmente e diretamente no Centro , Bairro de<br />

Santa Cecília e Barra Fun<strong>da</strong> e Agua Branca .<br />

Ate hoje to<strong>do</strong>s reclamam de uma construção horrorosa .Não sei por<br />

que continua existin<strong>do</strong> pois cai aos pe<strong>da</strong>ços . Uns a chamam de<br />

“Horroren<strong>da</strong>” ( mistura de Horrorosa com Horren<strong>da</strong> ) .<br />

Outros contam o seguinte história tenebrosa sobre o “Eleva<strong>do</strong> Costa<br />

e Silva” :<br />

- “Para facilitar a vin<strong>da</strong> de sua casa , situa<strong>da</strong> no Jardim América , e<br />

chega<strong>da</strong> em sua industria , situa<strong>da</strong> na Água Branca , o tal “Prefeito Maluc”<br />

criou um Enorme e Gigantesco Eleva<strong>do</strong> . Parece até viaduto , que vai se<br />

torcen<strong>do</strong> e viran<strong>do</strong> por cima de Ruas e Aveni<strong>da</strong>s , desde seu início ate seu<br />

final . Porem é preciso ter melhor idéia . Ele tem quilômetros .<br />

Ele é chama<strong>do</strong> pelo povo paulista de “Minhocão” .<br />

Uma analise simples de quanto custou , parece indicar que ele<br />

desviou , com a tal obra, milhares de dólares para sua conta particular ,<br />

devi<strong>da</strong>mente disfarça<strong>da</strong>. Provas não existem . Mas é o que muitos falam .<br />

O tal “Minhocão” começa bem no Centro , na Av. São João ,<br />

atravessa grande parte <strong>do</strong>s bairros de Santa Cecilia e Bom Retiro , segue<br />

pela região <strong>da</strong> Água Branca e vai até a Av. Francisco Matarazzo, paran<strong>do</strong><br />

quase em frente de fabrica <strong>da</strong>quele prefeito malandro .<br />

Um Horror... que prejudicou uma grande parte <strong>da</strong> população .<br />

Naqueles bairros existiam milhares de prédios residenciais .<br />

Imagine os carros e motocicletas com escapamento aberto que ficam<br />

agora passan<strong>do</strong> quase cola<strong>do</strong> aos prédios e apartamentos ali existentes , na<br />

altura de suas salas e de seus quartos. Do 1º até o 6º an<strong>da</strong>r.Quem agüenta ?<br />

To<strong>da</strong> região ficou muito desvaloriza<strong>da</strong> ! Muito !<br />

E vá <strong>do</strong>rmir com aquele barulho nos ouvi<strong>do</strong>s .<br />

E vá viver naquela poluição de fumaça de autos .<br />

Vergonha ! E ninguém na política faz na<strong>da</strong> . Na<strong>da</strong> !!!!<br />

Debaixo <strong>da</strong>quele “Minhocão” o mau cheiro toma conta de tu<strong>do</strong> .<br />

Em ca<strong>da</strong> canto marcas de urina , provenientes de migrantes que se<br />

mu<strong>da</strong>m para São Paulo constantemente . Os coita<strong>do</strong>s , não ten<strong>do</strong> onde<br />

morar ficam debaixo <strong>da</strong>quele eleva<strong>do</strong> . Então colchões velhos e rasga<strong>do</strong>s ,<br />

pe<strong>da</strong>ços de madeira , plásticos rasga<strong>do</strong>s , roupas sujas e resto de comi<strong>da</strong><br />

ficam mistura<strong>do</strong>s com aqueles que vivem por ali , com muitos cachorros<br />

vira latas que fazem muito mais sujeira .<br />

Eles que não tem prazo para sair . Nem para onde ir .


Uma tristeza sob qualquer aspecto .<br />

Placas de “Vende-se” e “Aluga-se” em to<strong>da</strong> parte . Na<strong>da</strong> resolvem .<br />

Caso alguém precise de uma prova sobre “Insensibili<strong>da</strong>de ,<br />

Incapaci<strong>da</strong>de e Ganância <strong>do</strong>s Governantes” , que tu<strong>do</strong> permitiram e tu<strong>do</strong><br />

assistem , basta olhar para o tal “Minhoção” .<br />

Ali vão encontrar o “Tu<strong>do</strong> negativo ! ” . Ao vivo e em cores !<br />

Ali é realmente uma Fratura Exposta <strong>da</strong> nossa ci<strong>da</strong>de .<br />

Coita<strong>da</strong> <strong>da</strong> lin<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo de minha moci<strong>da</strong>de !<br />

Foi invadi<strong>da</strong> ... Foi saquea<strong>da</strong> . E o saque continua ...


“NATAÇÃO , FUZARCA E CIA.”<br />

Edu Marcondes<br />

A “Aura” <strong>da</strong> Velha Piscina - Um Tiro na Rua Argentina –<br />

Molecagens no Vestiário Masculino<br />

Hoje , analisan<strong>do</strong> como tu<strong>do</strong> acontecia no passa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paulistano ,<br />

fico admira<strong>do</strong> , realmente admira<strong>do</strong> , como tanta e quanta coisa boa<br />

acontecia na sua Piscina Velha. Ela era na reali<strong>da</strong>de um “Pólo de Muita<br />

Diversão , de Muita Alegria” , principalmente quan<strong>do</strong> a comparamos com<br />

as piscinas atuais .<br />

Agora , tu<strong>do</strong> foi mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> , não só por falta real de espaço , pois o<br />

sócio agora ou fica senta<strong>do</strong> toman<strong>do</strong> sol , ou é obriga<strong>do</strong> a na<strong>da</strong>r . Não tem<br />

nem muito espaço , nem o fun<strong>da</strong>mental para saudável diversão . ou seja :<br />

Uma turma muito amiga . Nem existe o principal . O “clima para viver as<br />

coisas diverti<strong>da</strong>s desta vi<strong>da</strong> !”<br />

Antes a piscina era lugar <strong>do</strong>s mais alegres em to<strong>do</strong> Paulistano . A<br />

“aura existente naquela velha piscina era indescritível” .<br />

Hoje não é a mesma coisa , pelo que tenho visto .<br />

Antigamente , na Piscina Velha , apesar de numero menor de<br />

horas disponíveis para diversão e entretenimento , eles sempre aconteciam.<br />

Vou lembrar e contar algumas destas coisas boas , ain<strong>da</strong> neste capitulo .<br />

Antes . O espírito de irman<strong>da</strong>de e de amizade já começava mesmo<br />

dentro <strong>do</strong> vestiário .. Não existiam armários , somente locais onde era<br />

troca<strong>da</strong> a roupa e pendura<strong>da</strong> .<br />

Seus bens pessoais poderiam ser guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s separa<strong>da</strong>mente .<br />

Entretanto, quase ninguém utilizava este espaço para guar<strong>da</strong> de<br />

bens . Tu<strong>do</strong> que você tinha poderia ficar em seus bolsos . Na<strong>da</strong> sumia !<br />

Tu<strong>do</strong> era realmente <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Clube ,que realmente era um<br />

prolongamento de nossas casas ...!<br />

Dentro <strong>da</strong>quela piscina acontecia de tu<strong>do</strong>, quase com hora marca<strong>da</strong>,<br />

porem sem muito planejamento . Apenas por “Usos e Costumes’ muito<br />

naturais .<br />

Primeiro . Logo bem ce<strong>do</strong> , entre 7 e 7,30 horas <strong>da</strong> manhã ,aqueles<br />

que realmente vinham treinar natação já tinham chega<strong>do</strong>, diariamente .<br />

Nem tínhamos técnico Então , enquanto alguns realizavam ginástica de<br />

aquecimento, outros já estavam na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> , em longa distância ou com tiros<br />

curtos . Dentro desta turma lembro <strong>do</strong> Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , <strong>do</strong> Cláudio<br />

“Pinduca” Lunardelli , Eugenio Amaral , Pedro “Alemão” , Roberto<br />

Guimarães, José Ayres Neto, Urbano Camargo , entre muitos outros .


Lembro sempre que Eugenio Amaral me convi<strong>da</strong>va para um treino<br />

longo. Então combinávamos o tempo, pois não iríamos na<strong>da</strong>r por metros<br />

mas por hora.<br />

Depois , por volta <strong>da</strong>s 8,30 começavam chegar as mamães com a<br />

criança<strong>da</strong> . Naquele tempo, as mães vinham costumeiramente com os filhos<br />

pequenos . Tomavam sol e na<strong>da</strong>vam até as 10 horas , pois o sol ain<strong>da</strong> era<br />

bom . Antes de entrar na piscina a guriza<strong>da</strong> se agrupava , sob olhar atento<br />

<strong>da</strong>s mães . Brincavam . Só alegria .<br />

Então , pelas 10 horas era o tempo de garotas e rapazes . Muitos<br />

inicialmente ficavam na “Pérgula <strong>da</strong> Piscina” , paqueran<strong>do</strong> , jogan<strong>do</strong><br />

conversa fora , toman<strong>do</strong> sorvete . Depois as meninas iriam desfilar com<br />

seus biquínis . Aquele local era amplo e tinha vista para to<strong>do</strong>s cantos <strong>da</strong><br />

piscina .<br />

Neste horário chegava também a moleca<strong>da</strong> . Então começavam as<br />

brincadeiras de pega pega . Aconteciam dentro <strong>da</strong> piscina e fora dela , nos<br />

trampolins e no escorrega<strong>do</strong>r . Por vezes até nos muros que cercavam a<br />

piscina <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rua Argentina . Passavam para o muro pelos trampolins<br />

que ficavam ao la<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> persegui<strong>do</strong>s pulavam <strong>do</strong> muro para dentro<br />

<strong>da</strong> piscina ( eu também pulava . Hoje acho que era muito perigoso ) .<br />

Outra brincadeira <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> era jogar coisas no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> piscina e<br />

depois mergulhar para pegar . Eram coisas bem pequenas como grampos ,<br />

pedrinhas e botões .<br />

Quem já estava trabalhan<strong>do</strong> , muitas vezes vinha se refrescar antes <strong>do</strong><br />

almoço . Podiam ser encontra<strong>do</strong>s Luiz Carlos Tibiriça , Pedro Padilha ,<br />

Luiz David Ribeiro , Arman<strong>do</strong> Salem entre outros .<br />

- UM TIRO NA RUA ARGENTINA<br />

Quan<strong>do</strong> estava chegan<strong>do</strong> meio dia era tempo de trampolim . Quem<br />

sabia saltava . Outros somente pulavam em pé . Queriam espirrar água .<br />

Alguns como “Eugênio Pistinguet” pulavam <strong>do</strong> terceiro trampolim<br />

para o segun<strong>do</strong> . Assim o impulso era muito grande . O lançamento <strong>do</strong><br />

salta<strong>do</strong>r para o alto era bem defini<strong>do</strong> . Ele subia bem alto poden<strong>do</strong> <strong>da</strong>r<br />

estilo ao mergulho .<br />

Naqueles trampolins aconteciam muitas coisas . O terceiro trampolim<br />

ficava em uma Plataforma , a qual por sua altura com mais de oito metros ,<br />

também olhava para fora , para a Rua Argentina .<br />

Um dia um grupo de rapazes estava ali , toman<strong>do</strong> sol e conversan<strong>do</strong> :<br />

- Leo Berman , Caio Kiehl, Luis Carlos Junqueira , Acacio “Geléia” ,<br />

Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong> , Deoclides Brito, “Pistinguet” , Eduar<strong>do</strong> de<br />

Paula e este relator .


Então passou um casalzinho de namora<strong>do</strong>s. A moça era lin<strong>da</strong> . Ca<strong>da</strong><br />

passo que eles <strong>da</strong>vam a turma ia assobian<strong>do</strong> , marcan<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> passo . A<br />

musica <strong>do</strong> assobio era aquela que acompanhava os filmes <strong>do</strong> “Gor<strong>do</strong> e<br />

Magro” . O casalzinho foi passan<strong>do</strong> . Sem falar .<br />

O casal virou a esquina e sumiu . Pouco depois voltou .<br />

Os assobios recomeçaram . Então , quan<strong>do</strong> chegaram bem em frente<br />

<strong>do</strong> trampolim o moço parou . Puxou um revolver , apontou para cima e<br />

atirou . Bem para cima . Para assustar .<br />

Assustou Mas assustou mesmo !<br />

O fogo <strong>do</strong> cano e o barulho <strong>do</strong> tiro espantou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />

Quem sabia pular <strong>do</strong> trampolim pulou .<br />

Quem não sabia pulou também , depois foi se limpar no banheiro.<br />

Também naqueles mesmos trampolins e na plataforma <strong>do</strong> terceiro<br />

an<strong>da</strong>r , começou a se formar , com a geração que veio depois <strong>da</strong> minha , um<br />

grupo de <strong>garoto</strong>s que fazia to<strong>da</strong>s as brincadeiras e to<strong>da</strong>s as palhaça<strong>da</strong>s de<br />

“Aqualoucos”.<br />

Eram coman<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Acácio “Geléia” Mâncio e Chico Apfelbaun<br />

– irmão <strong>do</strong> “Pistinguet” . Até o gran<strong>da</strong>lhão Tozinho Lara entrava na<br />

brincadeira . Vinham as vezes fantasia<strong>do</strong>s e tinham um show muito bem<br />

programa<strong>do</strong> . Nunca entendi como aquela moleca<strong>da</strong> , uns dez ou <strong>do</strong>ze,<br />

conseguiam cair, toman<strong>do</strong> tremen<strong>do</strong>s tombos dentro dágua , tanto <strong>do</strong>s<br />

trampolins , como <strong>da</strong> alta plataforma , sem se machucar e continuar <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

risa<strong>da</strong> . Eles eram realmente bons no que faziam .<br />

Traziam alegria que não custava na<strong>da</strong> .<br />

Hoje nem mais trampolim existe . Alguém não gostava de saltar ...<br />

Quase to<strong>do</strong>s os dias , um pouco antes <strong>do</strong> meio dia , chegava para<br />

na<strong>da</strong>r um senhor um pouco mais velho , ten<strong>do</strong> aproxima<strong>da</strong>mente uns 50<br />

anos . Era muito carequinha . Seu apeli<strong>do</strong> era “Tartaruga”. Isto porque<br />

aquela cabeça careca era a única coisa que ficava fora <strong>da</strong> água . Na<strong>da</strong>va<br />

bem devagar , sem quase movimentar água , no estilo clássico . Aquela<br />

carequinha fora d’água parecia mesmo uma cabeça de tartaruga .<br />

Ele vinha sempre . Então, quan<strong>do</strong> entrava na piscina e ia na<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

devagar , no estilo clássico , to<strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> na<strong>da</strong>va também em estilo<br />

clássico em fila indiana atrás dele . Sempre no maior silêncio . Dava<br />

impressão de uma fila de “tartaruguinhas” . No momento em que ele tocava<br />

na bor<strong>da</strong> para virar , a fila sumia . Para se formar novamente , poucos<br />

metros depois. Isto durava to<strong>do</strong> tempo . Quase em to<strong>do</strong>s os dias . O velho<br />

nunca reclamou . Dava risa<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> saia <strong>da</strong> piscina . Até hoje não sei seu<br />

nome .<br />

“Tartaruga” marcou seu tempo . Por muitas anos .


A piscina fechava a uma hora <strong>da</strong> tarde , em ponto . Um apito <strong>do</strong><br />

Salva Vi<strong>da</strong> anunciava . To<strong>do</strong>s saiam <strong>da</strong> água para se vestir e sair <strong>do</strong><br />

Paulistano, que também ficava fecha<strong>do</strong> até as 15 horas .<br />

Então , depois <strong>da</strong>quela hora , o Clube renascia novamente .<br />

Na parte <strong>da</strong> tarde , muitos vinham na<strong>da</strong>r . Muitos vinham namorar.<br />

Estes eram em maior numero . Porem as 5 <strong>da</strong> tarde começa o jogo de pólo<br />

aquático . Somente a parte rasa <strong>da</strong> piscina ficava livre .<br />

To<strong>do</strong>s respeitavam aqueles jogos que seguiam até a piscina fechar .<br />

Nós nem tínhamos técnico. Apenas jogávamos . Alguns muito bem , pois<br />

eram convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para disputar campeonatos por outros clubes .<br />

Com o tempo o Paulistano cresceu em pólo aquático, teve técnico<br />

e em sua equipe ganhou até um campeão mundial . Seu nome Szabo . Era<br />

húngaro de origem . Com ele ganhamos vários títulos . Cheguei a jogar<br />

com Szabo e com os amigos Telmo Martins , Fernan<strong>do</strong> San<strong>do</strong>val , Zai<strong>da</strong>n ,<br />

Farid Zablit , A<strong>do</strong>fo Dias e Toninho Salem , apenas em alguns treinos .<br />

Quan<strong>do</strong> estes estavam começan<strong>do</strong> no pólo aquático , nós os mais velhos já<br />

estávamos paran<strong>do</strong> .<br />

Szabo era muito forte e sua bola tinha veloci<strong>da</strong>de incrível .<br />

Por falar em Telmo Martins soube que ele tem i<strong>do</strong><br />

continua<strong>da</strong>mente para o Uruguai com o Luiz Potenza . Vão se distrair e<br />

jogar nos cassinos. Boa gente . Telmo e Potenza .<br />

- MOLECAGEM NO VESTIÁRIO<br />

As brincadeiras <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> começavam dentro <strong>do</strong>s vestiários .<br />

Uma delas era típica <strong>da</strong> garota<strong>da</strong> <strong>do</strong>s 10 anos <strong>do</strong> Paulistano . Os<br />

amigos iam na<strong>da</strong>r e deixavam suas roupas no vestiário . Então a Turma <strong>da</strong><br />

Fuzarça pegava as meias <strong>do</strong>s que estavam na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Meias eram corta<strong>da</strong>s<br />

na altura <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s . Eles então ficavam de fora.<br />

Chegou um tempo que nenhum <strong>garoto</strong> tinha os de<strong>do</strong>s <strong>do</strong> pé<br />

cobertos por meias . Eles , os de<strong>do</strong>s , sempre ficavam de fora , lá na ponta<br />

<strong>da</strong>s meias. Era marca registra<strong>da</strong> de pertencer ao grupo .<br />

Quan<strong>do</strong> alguém chegava com a meia inteira , era goza<strong>do</strong> . Diziam<br />

que ele não era <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Outra brincadeira <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> mais jovem , entre os <strong>do</strong>ze e quinze<br />

anos , era <strong>da</strong>r nó nas pernas <strong>da</strong>s calças ou nos braços <strong>da</strong>s camisas . Então<br />

aquele dia o amigo , depois de lutar para soltar o nó , saia com a roupa<br />

“devi<strong>da</strong>mente plissa<strong>da</strong>” . “Mo<strong>da</strong> jovem”!<br />

To<strong>do</strong> tipo de brincadeira acontecia , e só poderia acontecer porque<br />

to<strong>do</strong>s eram realmente muito amigos e trata<strong>do</strong>s como irmãos . Aceitavam<br />

muito bem to<strong>da</strong>s as gozações . Qualquer coisa <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> .


Uma delas era chama<strong>da</strong> de “Esquentar Água <strong>do</strong> Chuveiro” .<br />

Naquele tempo os chuveiros ficavam to<strong>do</strong>s juntos , sem divisórias .<br />

Caso não me engane existiam pelo menos 6 chuveiros em linha .<br />

Então , enquanto alguém tomava banho na água fria , (e naquele<br />

tempo só tínhamos água fria) , ele não podia ficar distraí<strong>do</strong> . Nem fechar<br />

os olhos lavan<strong>do</strong> rosto ou cabeça . Caso ficasse de bobeira os amigos<br />

esquentavam sua perna. Faziam xixi , na perna <strong>do</strong> distraí<strong>do</strong> .<br />

Ain<strong>da</strong> perguntavam :<br />

“- A água não está esquentan<strong>do</strong> ?”<br />

Então o “distraí<strong>do</strong>” se ligava . Ficava passan<strong>do</strong> sabão nas pernas,<br />

sem parar ... Os demais <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> .<br />

Antes disso , eles também já haviam caí<strong>do</strong> na mesma brincadeira .<br />

Aqueles eram outros tempos, em uma outra piscina .<br />

Penso que a amizade de então era muito mais forte . Em tu<strong>do</strong> e por<br />

tu<strong>do</strong> ! Tínhamos uma irman<strong>da</strong>de . A Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Qualquer que fosse o aconteci<strong>do</strong> , qualquer que fosse a brincadeira,<br />

sempre no final <strong>da</strong>s tardes , antes de voltarmos para casa , muitos <strong>da</strong>queles<br />

moleques , quan<strong>do</strong> podiam , iam comer um pe<strong>da</strong>ço de pizza na Columbia.<br />

A Columbia ficava na esquina <strong>da</strong> Rua Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s com Augusta.<br />

Lembro agora : Mesmo quem não podia ... também ia .<br />

Como convi<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong>s outros amigos !


A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL<br />

Edu Marcondes<br />

Av. Rebouças e Re<strong>do</strong>ndezas - Piscina <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina –“Black-<br />

Out” no Guarujá - A Que<strong>da</strong> <strong>do</strong> Avião “A-20” no Bixiga – Dr. Fragoso<br />

Para a maioria <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> a guerra não tinha muita<br />

importância . Porem para meus jovens amigos e colegas judeus o problema era<br />

real . Neste tempo eu notara grande um sentimento de tristeza em to<strong>do</strong>s eles .<br />

Com justa razão , pois a Alemanha vinha ten<strong>do</strong> inúmeros sucessos nas<br />

batalhas européias e o Japão vinha derrotan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> e to<strong>do</strong>s na Ásia .<br />

Os nazistas que dirigiam a Alemanha perseguiam radicalmente<br />

to<strong>do</strong>s judeus e ciganos , em to<strong>do</strong>s os cantos por onde <strong>do</strong>minavam .<br />

Eu costumava freqüentar suas casas , passear , na<strong>da</strong>r , ir ao<br />

cinema e principalmente jogar “futebol de botão” com meus amigos judeus .<br />

Éramos bons amigos . Por isto mesmo a guerra que aborrecia Joel Goldbaun ,<br />

Carlos Taub , Jacques Barmak , Zicha Schwartz , Leo Berman e Eugenio<br />

“Pistingué” Apfelbaun e outros judeus , <strong>do</strong> Paulistano ou não , muito também<br />

me aborrecia , por tabela . Nunca coube ver<strong>da</strong>deiramente em minha mente<br />

qualquer razão para perseguição , revanche ou vingança . Muito menos<br />

descriminação racial .<br />

Pouco tempo depois o Brasil entrou na guerra . Foram<br />

afun<strong>da</strong><strong>do</strong>s alguns navios brasileiros em nosso litoral . Para to<strong>do</strong>s os efeitos os<br />

culpa<strong>do</strong>s eram os alemães . Alguns diziam que os responsáveis haviam si<strong>do</strong> os<br />

americanos , que desejavam culpar os submarinos alemães . Nunca isto foi<br />

bem explica<strong>do</strong> . Entretanto, o Brasil entrou na guerra , <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s .<br />

O efeito veio em cascata . Logo faltou gasolina e os carros<br />

deixaram as ruas . Produtos importa<strong>do</strong>s , que naqueles tempos eram em grande<br />

numero , desapareceram . Farinha de trigo ficou faltan<strong>do</strong> . Açúcar , que por lei<br />

<strong>do</strong> governo Vargas , deveria ter preferência de produção na região nordeste,<br />

também faltou , pois vinha transporta<strong>do</strong> pelos navios <strong>da</strong> Cia Costeira , que<br />

agora pouco navegavam .<br />

Começou a faltar muita coisa . Apareceram os “Cartões de<br />

Racionamento”e as filas para comprar pão . Este era feito com farinha de trigo<br />

mistura<strong>da</strong> com milho , mandioca e outras farinhas mais . As broinhas de milho<br />

fizeram grande sucesso entre a criança<strong>da</strong> .<br />

O responsabili<strong>da</strong>de pela compra <strong>do</strong> pão sempre ficou comigo .<br />

Precisava levantar às 6 horas para enfrentar a fila e trazer o pão antes <strong>da</strong>s 7,30<br />

horas <strong>da</strong> manhã. Nestas horas eu encontrava com vários amigos <strong>do</strong> Paulistano


que também vinham comprar pão . Carlito Taub , Jacques Barmak , Romulo<br />

Mariano , Saulo Ferraz e Domingos Meira . Por vezes eu estava na mesma<br />

fila <strong>do</strong> pão com Deoclides Brito e Cesar Affonseca . Com o tempo to<strong>do</strong>s se<br />

acostumaram a comer “pão de guerra”- Mistura de trigo com farinha de milho.<br />

Laranja , tipo exportação , sobrava e era vendi<strong>da</strong> , não por<br />

dúzia mas por cento (100) , por uma ninharia . Suco de laranja era toma<strong>do</strong> o<br />

dia inteiro . Pelo menos apareceu uma vantagem para o povo .<br />

Como as noticias <strong>da</strong> guerra eram importantes logo surgiu no<br />

rádio um programa de notícias . O famoso “Repórter Esso”, patrocina<strong>do</strong> pela<br />

Esso de Petróleo .<br />

Apareceram também as “Novelas <strong>do</strong> Radio”. Não existia<br />

televisão , o radio <strong>do</strong>minava. E pelo radio surgiram os programas de músicas<br />

americanas . Em to<strong>da</strong>s as rádios . O esquema americano de propagan<strong>da</strong> era<br />

realmente forte e até subliminar . No cinema surgiram “Estórias de Heróis de<br />

Guerra” , onde sempre os alemães eram venci<strong>do</strong>s e os italianos apareciam<br />

como idiotas . Faziam sucesso tais filmes. Apesar de torcer pelos alia<strong>do</strong>s não<br />

<strong>da</strong>va para entender porque tanto esforço para vencer a guerra , quan<strong>do</strong> os<br />

inimigos seriam tão fracos , idiotas e desprezíveis .<br />

Nesta ocasião , tentan<strong>do</strong> unir to<strong>da</strong>s as Américas , foi produzi<strong>do</strong>,<br />

por Walter Disney um desenho anima<strong>do</strong> onde Mickey e Pato Donald<br />

visitavam os paises <strong>da</strong> América Latina . Neste filme , chama<strong>do</strong> “Alô Amigos”,<br />

surgiu o “Zé Carioca”, como um símbolo <strong>do</strong> povo brasileiro . O filme era<br />

diverti<strong>do</strong> e criou laços de fraterni<strong>da</strong>de entre os paises de to<strong>da</strong> América .<br />

Duro mesmo foram as medi<strong>da</strong>s <strong>do</strong> governo brasileiro para os<br />

italianos , alemães e japoneses . Seus bens foram bloquea<strong>do</strong>s . Seus hospitais e<br />

empresas toma<strong>do</strong>s por interventores federais , os quais passaram a ditar a<br />

conduta para funcionamento.<br />

Os clubes esportivos <strong>do</strong>s alemães e italianos foram obriga<strong>do</strong>s a<br />

trocar os nomes estrangeiros por nomes nacionais . O “Palestra Itália” virou<br />

Socie<strong>da</strong>de Esportiva Palmeiras . O “Clube Germânia” se transformou no<br />

Clube Pinheiros. O “Spéria” mu<strong>do</strong>u o nome para Floresta . Os húngaros<br />

perderam o “ Canindé”.<br />

Um sentimento nacionalista foi toman<strong>do</strong> conta de tu<strong>do</strong>,<br />

supervisiona<strong>do</strong> pelo governo federal . Tu<strong>do</strong> resultava conforme os “ Acor<strong>do</strong>s<br />

Internacionais” realiza<strong>do</strong>s com os dirigentes <strong>do</strong>s paises Alia<strong>do</strong>s .<br />

Foi cria<strong>da</strong> a FEB – Força Expedicionária Brasileira , e a FAB –<br />

Força Aérea Brasileira . Ambas , com equipamentos americanos , iriam lutar<br />

na Europa . O sentimento de patriotismo crescia ca<strong>da</strong> dia com a formação<br />

destes grupos de combatentes brasileiros . Eram chama<strong>do</strong>s de “pracinhas”.


Nesta ocasião Guilherme de Almei<strong>da</strong> , grande poeta , criou o<br />

“Hino <strong>do</strong> Expedicionário .” Lembro de alguns de seus trechos pois ele é muito<br />

bonito . Começa assim :<br />

“ Você sabe de onde eu venho<br />

É de uma casa , de um engenho .<br />

Dos pampas , <strong>do</strong>s seringais<br />

Dos campos ,<strong>do</strong>s montes , <strong>do</strong>s rios<br />

Dos verdes mares bravios<br />

Da minha terra natal...”<br />

( O estribilho , muito bonito , guardei inteiro )<br />

“Por mais terra que eu percorra<br />

Não permita Deus que eu morra<br />

Sem que volte para lá ...<br />

Sem que leve por divisa<br />

Este V que simboliza<br />

A vitória que virá !”<br />

“Nossa vitória final<br />

Na mira <strong>do</strong> meu fuzil<br />

Na ração <strong>do</strong> meu bornal<br />

Na água <strong>do</strong> meu cantil ...<br />

Nas asas <strong>do</strong> meu ideal<br />

Na glória <strong>do</strong> meu Brasil .”<br />

E lá se foram os pracinhas brasileiros para lutar na Itália<br />

enquanto a vi<strong>da</strong> , to<strong>da</strong> raciona<strong>da</strong> , continuava por aqui .<br />

Transporte para o povo praticamente era feito por bondes . Os<br />

trens eram os responsáveis pela maioria <strong>da</strong>s cargas entre to<strong>da</strong>s as várias<br />

regiões . Os ônibus eram poucos . Estra<strong>da</strong>s de ro<strong>da</strong>gem eram insuficientes e<br />

nenhuma tinha completa pavimentação . A maioria <strong>do</strong>s transportes entre os<br />

esta<strong>do</strong>s , feita anteriormente por navios <strong>da</strong> “Costeira “ , ficou paralisa<strong>do</strong> com<br />

me<strong>do</strong> <strong>do</strong>s submarinos . Somente nos i<strong>do</strong>s de 1943 é que apareceram os<br />

primeiros automóveis movi<strong>do</strong>s por gasogênio .<br />

Poucos eram os carros que o utilizaram. . Para quem não se<br />

lembra : - “o Gasogênio é um aparelho que , mediante combustão de carvão ,<br />

gera um gás combustível , muito pobre , para movimentar os motores à<br />

explosão <strong>do</strong>s automóveis ” .


A guerra teve um ponto muito positivo para São Paulo . A<br />

Industria Paulista , que já era a mais desenvolvia <strong>da</strong> América Latina , começou<br />

a se expandir produzin<strong>do</strong> muito <strong>da</strong>quilo que antes era importa<strong>do</strong> . Faltava<br />

entretanto o petróleo , pelo qual muito lutara Monteiro Lobato com to<strong>da</strong><br />

razão, pois hoje , com a Petrobrás , já estamos praticamente auto suficientes.<br />

AV. REBOUÇAS E REDONDEZAS<br />

Por tu<strong>do</strong> isto advin<strong>do</strong> <strong>da</strong> guerra as ruas ficaram realmente à<br />

disposição <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> . Basta dizer que andávamos de Carrinho de Rolimã<br />

em plena Aveni<strong>da</strong> Rebouças . Descíamos aquela aveni<strong>da</strong> , sain<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

cruzamento com a rua Mello Alves e chegan<strong>do</strong> até a Aveni<strong>da</strong> Brasil , onde a<br />

rua ficava plana. Depois esperávamos um tempão até que o ônibus 41-<br />

“Amarelinho”- Jardim América , chegasse em seu ponto de para<strong>da</strong> . Então<br />

passávamos uma cor<strong>da</strong> em seu para choque e subíamos de reboque .Como não<br />

tinha transito não tinha problema .<br />

Fazíamos até corri<strong>da</strong>s com estes carrinhos de rolimã .<br />

Na Rebouças , entre as duas vias asfalta<strong>da</strong>s , uma que subia e<br />

outra que descia , existia um largo grama<strong>do</strong> . Ali jogávamos voleibol ,<br />

colocan<strong>do</strong> uma rede presa nas arvores planta<strong>da</strong>s duas a duas , uma de ca<strong>da</strong><br />

la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele grama<strong>do</strong> . Hoje , com o alargamento <strong>do</strong>s trechos asfalta<strong>do</strong>s , as<br />

arvores não existem mais. O canteiro central praticamente sumiu .<br />

Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rebouças existia uma imensa área , em parte<br />

grama<strong>da</strong> , em parte de terra assenta<strong>da</strong> , to<strong>da</strong> acertadinha e projeta<strong>da</strong> para<br />

futura expansão <strong>do</strong> complexo <strong>do</strong> Hospital <strong>da</strong>s Clinicas . Naquele tempo as<br />

Clinicas se resumia apenas no prédio principal . O restante <strong>da</strong> área ficava à<br />

disposição <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> . Lógico que virou nosso principal campo de futebol .<br />

Também naquele tempo meu pai era Diretor Geral <strong>do</strong><br />

Departamento Estadual <strong>do</strong> Trabalho . Ele e seu amigo , o diretor Ângelo<br />

Zannini ( depois Deputa<strong>do</strong> Estadual ) , criaram um clube esportivo que<br />

disputava o campeonato de futebol ama<strong>do</strong>r <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . A sigla deste clube era<br />

CADET , ou seja: Clube Atlético Departamento Estadual <strong>do</strong> Trabalho . Foram<br />

várias vezes campeões ama<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> .<br />

Suas camisas eram azuis com uma ban<strong>da</strong> branca . Quan<strong>do</strong> estas<br />

camisas ficavam velhas e desbota<strong>da</strong>s deveriam ser descarta<strong>da</strong>s . Então eu as<br />

ganhava . Assim criamos o clube <strong>da</strong> menina<strong>da</strong> <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tietê. Também se<br />

chamava CADET (pois não tínhamos como mu<strong>da</strong>r seu distintivo) ou seja :<br />

“Clube Amigos Do Esporte Tietê” .O nome foi bem ajeita<strong>do</strong> mas as camisas<br />

eram enormes para a guriza<strong>da</strong> .


Ali , nos arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s Clínicas , jogávamos contra outros<br />

clubes de moleques <strong>da</strong> região . Nosso primeiro jogo foi contra um time <strong>da</strong> Rua<br />

Morato Coelho , que ficava logo depois , no bairro de Pinheiros . Estreamos as<br />

camisas ganhan<strong>do</strong> de 3x0 . Vico fez os três gols . Lembro que neste jogo<br />

contamos com a presença <strong>do</strong> Cesar Affonseca , <strong>do</strong> João Campos , e <strong>do</strong><br />

Deoclides Brito . Comigo eram quatro <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Era a primeira vez que jogávamos de uniforme completo .<br />

Ganhamos no jogo ... Perdemos na briga ... logo depois <strong>do</strong> jogo.<br />

Quem apanhou mais foi o juiz , um <strong>garoto</strong> chama<strong>do</strong> Luizinho , que morava na<br />

Rua Oscar Freire .<br />

Aquele lugar era ain<strong>da</strong> ideal para empinar papagaios .Não tinha<br />

fios de luz elétrica.<br />

PISCINA DA FACULDADE DE MEDICINA – USP<br />

Mais para cima <strong>da</strong>quela área , que circun<strong>da</strong>va o Hospital <strong>da</strong>s<br />

Clinicas , ficava a Facul<strong>da</strong>de de Medicina . Antes dela tinha uma pequena<br />

mata , cheia de arvores de araçá . Muitas vezes comi <strong>da</strong>quelas frutas , colhi<strong>da</strong>s<br />

naqueles pés . Em to<strong>da</strong> aquela região tinha muito araçá .<br />

Logo depois encontrávamos uma pequena piscina que pertencia<br />

a Facul<strong>da</strong>de . Era a alegria <strong>da</strong> moleca<strong>da</strong> . Ali não era permiti<strong>da</strong> nossa entra<strong>da</strong>.<br />

Quem tomava conta <strong>do</strong> local era um português apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de “Saracura” .<br />

Entretanto , de um jeito ou de outro sempre conseguíamos na<strong>da</strong>r<br />

naquela piscina .<br />

Para tanto tínhamos um esquema . Já íamos com um calção que<br />

permitisse na<strong>da</strong>r . Ficávamos escondi<strong>do</strong>s no mato , por perto . Um <strong>do</strong>s nossos<br />

era escolhi<strong>do</strong> para vigiar o “Saracura” o tempo to<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> ele estava longe<br />

o nosso vigia tocava uma flautinha. Ela soava como um passarinho .<br />

Era o sinal para entrarmos na água . Dois toques segui<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

flautinha significava perigo . Precisávamos sair corren<strong>do</strong> <strong>da</strong> piscina . Muitas<br />

vezes o esquema <strong>da</strong>va certo . Outras vezes o tal de Saracura pegava alguém .<br />

Então ele o carregava pelas orelhas para fora . Ain<strong>da</strong> batia nas suas pernas<br />

com uma varinha . Mesmo assim to<strong>do</strong>s achavam que valia a pena.


“BLACK - OUT” NO GUARUJÁ<br />

No verão de 1943 , precisamente em Janeiro , fomos passar<br />

uma tempora<strong>da</strong> no Guarujá . Papai havia consegui<strong>do</strong> vaga para a família em<br />

uma nova e bonita “Colônia de Férias <strong>do</strong>s Diretores <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” . Foi a<br />

primeira vez que fui para aquelas praias <strong>do</strong> Guarujá .<br />

Tomamos o trem <strong>da</strong> antiga “SPR” na Estação <strong>da</strong> Luz . Com ele<br />

descemos a Serra <strong>do</strong> Mar . Logo depois de ótima viagem chegamos em<br />

Santos. Daquela estação era preciso ain<strong>da</strong> pegar um outro trenzinho , para<br />

alcançarmos o embarca<strong>do</strong>uro <strong>da</strong>s Balsas . Do outro la<strong>do</strong> onde ficava o<br />

Guarujá . Assim , em cima de uma Balsa , era transposto o Canal e desta<br />

forma transpúnhamos o mar , passan<strong>do</strong> de Santos para o Guarujá .<br />

Também foi a primeira vez que andei de “navio.” Era apenas<br />

uma balsa mas a<strong>do</strong>rei , apesar <strong>do</strong> pouco tempo que levava esta travessia .<br />

Depois , ain<strong>da</strong> no trenzinho, seguíamos para as praias <strong>do</strong><br />

Guarujá . Eram lin<strong>da</strong>s , muito brancas , então com uma cor de mar – azul<br />

quase turquesa - que ain<strong>da</strong> não tinha visto.( e que hoje desapareceu).<br />

Desembarcamos em uma pequena estação , junto ao Grande<br />

Hotel <strong>do</strong> Guarujá. Ele era novinho, com extensos terraços em sua volta<br />

Ficava na Praia <strong>da</strong>s Pitangueiras . Na época existiam poucas<br />

casas naquela praia . Para chegarmos à Colônia de Férias , que ficava em outra<br />

praia , na Praia <strong>do</strong> Guarujá , tomávamos uma charrete . Era a única condução<br />

possível .( Os automóveis somente conseguiram autorização para entrar no<br />

Guarujá após nossa volta para São Paulo , no final <strong>da</strong>quele ano ) .<br />

Depois deste passeio , inespera<strong>do</strong> por mim , chegamos ao local<br />

de nossas férias . Era um prédio térreo , bem alonga<strong>do</strong> , com terraços e jardins<br />

na parte frontal . Estava cheio de gente e com muita criança<strong>da</strong> . Gostei .<br />

Gostei ain<strong>da</strong> mais <strong>da</strong> comi<strong>da</strong> , pois chegamos justamente na<br />

hora <strong>do</strong> almoço . A viagem deu fome e o peixe com pirão ficou inesquecível .<br />

.<br />

No fim <strong>da</strong> tarde fomos na<strong>da</strong>r . Naquele tempo as famílias iam<br />

para praia no começo <strong>da</strong>s manhãs e depois <strong>da</strong>s 11 horas não ficava ninguém .<br />

O sol era respeita<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ficava muito forte . Durante a tarde os banhos de<br />

mar só começavam depois <strong>da</strong>s 15 horas .<br />

Naquele dia , contrarian<strong>do</strong> meu costume de coruja , fui <strong>do</strong>rmir<br />

lá pelas 8 horas . Estava muito cansa<strong>do</strong> .<br />

Comecei a conhecer um Guarujá que hoje não existe mais na<br />

manhã seguinte . Na antiga praia <strong>do</strong> Guarujá , que hoje é chama<strong>da</strong> de ‘Praia<br />

<strong>da</strong>s Astúrias”, pela legislação municipal de então existia proibição para<br />

construção arranha céus . Por lá encontrei amigos <strong>do</strong> Paulistano . Praticamente


não houve tempo de ficar com eles . O que morava mais perto era o Urbano<br />

Camargo e seu primo Paulo . Com ele quase to<strong>do</strong> dia íamos na<strong>da</strong>r juntos .<br />

Com desenvolvimento <strong>do</strong> local , os políticos , na época logo<br />

após guerra , arranjaram um jeito de burlarem a lei . Mu<strong>da</strong>ram , por debaixo<br />

<strong>do</strong>s panos , o nome <strong>da</strong> Praia <strong>do</strong> Guarujá para praia <strong>da</strong>s Astúrias , pois papel<br />

aceita tu<strong>do</strong> . Deram para a praia o nome <strong>do</strong> Cassino que existiu no local.<br />

Assim tu<strong>do</strong> ficou “ legal” . Na praia <strong>do</strong> Guarujá continuava proibi<strong>da</strong> a<br />

construção de edifícios ( mas onde é a Praia <strong>do</strong> Guarujá agora ? ) . Porem na<br />

praia <strong>da</strong>s “Astúrias” foi permiti<strong>da</strong> . E tome construção de prédios , em local<br />

que , pela própria natureza , era destina<strong>do</strong> somente para construção de casas .<br />

No final <strong>da</strong>quela praia , onde anteriormente existira um<br />

Cassino, foi tu<strong>do</strong> destruí<strong>do</strong> logo no começo <strong>da</strong> guerra , pois a ordem era<br />

manter to<strong>do</strong> litoral escuro –“ black-out” . O cassino seria muito ilumina<strong>do</strong>.<br />

Qualquer luz poderia ser sinal para submarinos inimigos ... !???! Sei lá !<br />

Entretanto , ao la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong>s Astúrias , saía um caminho para<br />

outras praias que eram praticamente desertas , como a <strong>do</strong> Tombo e <strong>da</strong>s<br />

Tartarugas . Para alcança-las passávamos por vários morros , situa<strong>do</strong>s bem<br />

junto ao mar . As vistas eram lin<strong>da</strong>s .<br />

Muitos dias fui com a garota<strong>da</strong> por aqueles caminhos . Não<br />

íamos sozinhos . Íamos acompanhan<strong>do</strong> os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> Companhia de<br />

Infantaria , pois eles estavam cavan<strong>do</strong> trincheiras em to<strong>do</strong>s os morros <strong>da</strong><br />

região . A criança<strong>da</strong> gostava de passear com eles pois eram simpáticos e o<br />

sargento que os coman<strong>da</strong>va , Sargento Mendes – se não me engano , era gentil<br />

e conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s dirigentes <strong>da</strong> Colônia de Férias .<br />

Outras vezes quan<strong>do</strong> os pesca<strong>do</strong>res caiçaras , que viviam na<br />

região , avistavam cardumes , ficávamos olhan<strong>do</strong> a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s canoas . Depois<br />

ajudávamos a puxar as redes . Vinha peixe de montão . Eram compra<strong>do</strong>s por<br />

quase na<strong>da</strong> . Iam para as panelas <strong>da</strong> Colônia de Férias , pois o cozinheiro era<br />

mestre , principalmente nas peixa<strong>da</strong>s a brasileira . Peixe era prato que<br />

ninguém rejeitava . E o peixe “ que nós pescáramos ”era muito melhor .<br />

Passeio gostoso era aquele para a Praia <strong>da</strong> Ensea<strong>da</strong> . Como<br />

ficava bem longe e não tinha estra<strong>da</strong> , sen<strong>do</strong> o caminho realiza<strong>do</strong> pelas praias<br />

existentes , precisávamos levantar bem ce<strong>do</strong> para alugar as charretes . O<br />

pessoal ia em ban<strong>do</strong>, ocupan<strong>do</strong> sempre três ou mais charretes e alguns<br />

cavalos. . Depois <strong>da</strong> praia <strong>da</strong>s Pitangueiras praticamente não existia mais casa<br />

alguma . Só a natureza . No caminho era fácil encontrarmos muitas jaqueiras<br />

com seus frutos madurinhos .


Somente no fim <strong>da</strong> Ensea<strong>da</strong> é que se avistava umas poucas<br />

casas e um Boteco de Pesca<strong>do</strong>res . Ali , naquele boteco , era a para<strong>da</strong><br />

obrigatória para almoço , na base de camarão e de to<strong>do</strong>s tipos de peixe . O<br />

local era concorri<strong>do</strong> pelos turistas porque a comi<strong>da</strong> era fenomenal .<br />

Se o tempo e a maré permitissem , seguíamos até a praia de<br />

Pernambuco . Sua beleza era indescritível . Era . Hoje não dá para chegar<br />

perto. Gente demais . Ambulantes demais . Sujeira demais .<br />

O tal “progresso” foi terrível para o Guarujá .<br />

As noites <strong>do</strong> Guarujá , na ocasião <strong>da</strong> guerra , não serviam para<br />

passeios noturnos pois o “black-out” era obrigatório .Escuridão completa nas<br />

ruas . To<strong>da</strong>s as janelas eram tampa<strong>da</strong>s com cartolina preta , para a luz não<br />

passar . Assim a diversão noturna era jogar : - <strong>do</strong>minó , víspora , <strong>da</strong>ma ,<br />

cartas e tu<strong>do</strong> mais . Porem , no máximo até as dez horas , pois depois<br />

ninguém mais ficava acor<strong>da</strong><strong>do</strong> . A praia e os passeios começavam bem ce<strong>do</strong> .<br />

Alem disto para alugar cavalo para passear ou mesmo alugar<br />

uma bicicleta era necessário pular ce<strong>do</strong> <strong>da</strong> cama .<br />

O melhor sorvete <strong>da</strong>s férias “acontecia” no “Grill <strong>do</strong> Grande<br />

Hotel”. Ele ficava em cima de um pontão de pedra e areia na praia de<br />

Pitangueiras . Lá existia uma lin<strong>da</strong> piscina cerca<strong>da</strong> por uma área<br />

maravilhosamente pavimenta<strong>da</strong> com pedras poli<strong>da</strong>s e com plantas , flores e<br />

muitas mesinhas . Tinha uma lin<strong>da</strong> pista para <strong>da</strong>nças . Era o ponto alto <strong>da</strong>s<br />

tempora<strong>da</strong>s . Hoje no local , pois foi destruí<strong>do</strong> o tal “Grill” , parece que existe<br />

um clube . Não sei bem .Pode até ser um super merca<strong>do</strong> .Sei lá . Lembro que o<br />

local era muito agradável .<br />

Durante muito tempo o Guarujá foi maravilhoso . Quan<strong>do</strong> moço<br />

fui inúmeras vezes para lá . Gostava <strong>do</strong> Clube <strong>da</strong>s Samambaias que foi<br />

construí<strong>do</strong> na déca<strong>da</strong> de 50 . Um local de gente muito bonita . E to<strong>do</strong>s eram<br />

pessoas conheci<strong>da</strong>s .<br />

É isto ai . Quem viu ...viu . Quem não viu ...nem sabe como era<br />

lin<strong>do</strong> nosso Guarujá , hoje invadi<strong>do</strong> por bandi<strong>do</strong>s e assaltantes .<br />

A última vez que estive no Guarujá foi em 1995 . Fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

para passar o Carnaval na casa <strong>da</strong> amiga Sulita . Depois de levar quase 5 horas<br />

para chegar à praia de Pernambuco tive uma surpresa maior e pior . A ci<strong>da</strong>de e<br />

a praia estavam entupi<strong>da</strong> de gente . Cheia de ambulantes de to<strong>da</strong>s<br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des , que faziam uma sujeira imensa por to<strong>da</strong> praia .Difícil de<br />

acreditar .<br />

To<strong>do</strong>s os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s de minha amiga , que foram comigo,<br />

resolveram voltar para casa . Por sorte , no seu jardim com uma gostosa


pérgula , havia uma lin<strong>da</strong> piscina . Ali passamos to<strong>do</strong> o carnaval que foi<br />

muito bom , pois os amigos eram simpáticos e anima<strong>do</strong>s .<br />

Guarujá ... que pena !<br />

- A QUEDA DO AVIÃO “A- 20”<br />

Em São Paulo também tínhamos “black –out” , mas eram<br />

poucos , somente para treinamentos . As noticias <strong>do</strong> “front” europeu eram<br />

boas . Os pracinhas brasileiros estavam lutan<strong>do</strong> na Itália e obten<strong>do</strong> sucesso ,<br />

principalmente nas batalhas de Monte Castelo .<br />

Poucas coisas tristes sucederam aqui em São Paulo durante a<br />

guerra . Lembro de um único caso . Aconteceu um acidente fatal com um<br />

avião de bombardeio leve que pertencia a FAB . Era <strong>do</strong> tipo A-20 ,com <strong>do</strong>is<br />

motores , de fabricação norte americana .<br />

Nós estávamos na escola , agora inician<strong>do</strong> o ginásio , situa<strong>da</strong><br />

na Av. Paulista , perto <strong>do</strong> Trianon , quan<strong>do</strong> ouvimos um estron<strong>do</strong> .<br />

Ocorreu por volta <strong>da</strong>s nove horas <strong>da</strong> manhã . Ao meio dia ,<br />

quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> <strong>do</strong>s alunos , o aconteci<strong>do</strong> chegou até nós .<br />

Um avião <strong>da</strong> FAB havia caí<strong>do</strong> na Praça 14 Bis , junto à<br />

Aveni<strong>da</strong> 9 de Julho .<br />

To<strong>da</strong> menina<strong>da</strong> foi ver . Mesmo de longe , lá <strong>do</strong> alto <strong>do</strong><br />

Trianon, já <strong>da</strong>va para avistar os destroços . Na ocasião não existiam tantos<br />

prédios obstruin<strong>do</strong> a visão e permitiam uma lin<strong>da</strong> vista <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />

O avião havia caí<strong>do</strong> de bico e afun<strong>da</strong><strong>do</strong> na terra . Só víamos o<br />

resto <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> e pe<strong>da</strong>ços <strong>da</strong>s asas . Mesmo quan<strong>do</strong> chegamos mais perto não<br />

se via direito o avião que ficou enterra<strong>do</strong> . Por sorte ou habili<strong>da</strong>de <strong>do</strong> piloto , o<br />

que nunca soubemos , aquele bombardeiro não atingiu o casario situa<strong>do</strong><br />

naquela parte <strong>do</strong> bairro <strong>da</strong> Bela Vista . Nem explodiu . Infelizmente nenhum<br />

<strong>do</strong>s tripulantes se salvou.<br />

No local o silêncio de respeito pelos mortos tomava conta .<br />

Naquele dia voltei triste para casa . Era a primeira vez que via um acidente<br />

aéreo . E também a primeira vez que via pilotos brasileiros falecerem , mesmo<br />

não sen<strong>do</strong> em combate , mas realizan<strong>do</strong> uma missão .<br />

Para felici<strong>da</strong>de mundial a guerra não durou muito mais . O Eixo<br />

perdeu a guerra . Muito foi comemora<strong>do</strong> .<br />

A comemoração maior , entretanto , aconteceu na chega<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

“pracinhas” brasileiros , trazen<strong>do</strong> no far<strong>da</strong>mento um distintivo , ou melhor ,<br />

um emblema que significava a luta deles na 2 a . Guerra Mundial :


“A cobra está fuman<strong>do</strong> .” Nossa família estava feliz , pois meu<br />

primo , o “pracinha” Hamilton , filho <strong>do</strong> tio Nhonhô Brandão , voltara são e<br />

salvo . Muitos brasileiros ficaram nos campos de batalha . Hoje estão<br />

enterra<strong>do</strong>s no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia – Itália .<br />

Grandes comemorações e desfiles militares foram realiza<strong>do</strong>s em<br />

to<strong>do</strong> Brasil . Em São Paulo ele ocorreu na Av. São João . O povo era tanto que<br />

os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que lutaram na Itália só desfilaram no início <strong>da</strong>s festivi<strong>da</strong>des .<br />

As faixas limites , delinea<strong>da</strong>s por cor<strong>da</strong>s , foram quebra<strong>da</strong>s e o<br />

povo carregou nos ombros to<strong>do</strong>s sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s paulistas .<br />

Um Monumento aos Combatentes Brasileiros Mortos em<br />

Combate foi erigi<strong>do</strong> no final <strong>da</strong> Av. Paulista . Hoje , não sei porque<br />

aparentemente não está mais lá .<br />

Claro ... morto não vota !


RETORNO AO JARDIM PAULISTA<br />

Edu Marcondes<br />

- Os Amigos que Ficaram – O Mundial de 1950 – O Carro Novo –<br />

Novas Amizades no Jardim Paulista -<br />

Em Novembro de 1949 meu pai anunciou que voltaríamos para a<br />

casa <strong>da</strong> Rua Gal. Fonseca Telles . Os problemas aconteci<strong>do</strong>s com a Guerra<br />

tinham termina<strong>do</strong> .<br />

Isto deveria acontecer em Março <strong>do</strong> próximo ano , depois de quase<br />

cinco anos de ação judicial para despejo <strong>do</strong> inquilino . To<strong>do</strong>s ficamos<br />

contentes . A casa <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tiete era boa mas a casa <strong>do</strong> Jardim Paulista era<br />

realmente a nossa casa . Também anunciou que iria fazer pequenas reformas e<br />

pintar a casa antes <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça .<br />

Em um Sába<strong>do</strong> de Janeiro fui com meu pai buscar um Carro<br />

“Hudson/1.950” que ele havia compra<strong>do</strong> . O carro era enorme , preto<br />

brilhante, pneus com faixa branca , estofamento vermelho em couro . Quan<strong>do</strong><br />

voltávamos para casa ele disse que eu , depois <strong>do</strong> almoço , poderia ir com o<br />

carro até o Paulistano. Porem deveria estar de volta até as 19,30 , pois ele iria<br />

ao cinema com minha mãe .<br />

Fui , cheguei e mostrei o carro para amigos e amigas . Ele fez o<br />

maior sucesso . Antes de voltar levei a lin<strong>da</strong> Desirè para casa . Gangei um<br />

beijo .<br />

Naquela noite , deita<strong>do</strong> em meu quarto , fiquei lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong>s coisas<br />

boas que passei na casa <strong>da</strong> Alame<strong>da</strong> Tiete e confesso que senti sau<strong>da</strong>des<br />

antecipa<strong>da</strong>s . Lembrei <strong>do</strong>s amigos que agora ficariam mais longe de mim :<br />

Domingos Alves Meira , Lalau Lanksarics , Geral<strong>do</strong> e Zé Augusto Medeiros ,<br />

Saulo Ferraz , de to<strong>da</strong> turminha <strong>da</strong> Rua Consolação , Carlito Taub , Joel<br />

Goldbaun . Quem morava por lá mas era <strong>do</strong> paulistano eu continuaria a ver<br />

constantemente .<br />

Lembrei <strong>da</strong>s festas juninas e <strong>da</strong> fogueiras <strong>do</strong> Jardim Minervina .<br />

Das reuniões na casa <strong>do</strong> Tio Oscarzinho . Da tia Sibila e suas<br />

comi<strong>da</strong>s gostosas . Do nascimento <strong>do</strong>s primos Thomaz e Sibelle . Das<br />

brincadeiras com os primos Gilberto , Thais , Gláucia , Maria Lucia e Elza<br />

Maria . Agora seriam mais difíceis ,<br />

Das noites de violões com tio Oscar e Pedrinho Granja . Da prima<br />

Olga , que era síndica <strong>da</strong> nossa Vila , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> recriminações quan<strong>do</strong> pisávamos<br />

na grama ou colhíamos algumas azaléias .. Dos sorvetes de frutas, tanto <strong>da</strong><br />

Sorveteria Consolação como <strong>da</strong> Aran<strong>da</strong> .


Dos jogos de taco e futebol .Dos pêssegos maravilhosos colhi<strong>do</strong>s<br />

com Othonielzinho na casa <strong>do</strong> Dr. Othoniel , seu pai . Das “mixiricas” <strong>do</strong><br />

quintal <strong>do</strong> seu Molla .<br />

Lembrei de muita coisa boa aconteci<strong>da</strong> naquele local .<br />

O MUNDIAL DE FUTEBOL – 1950<br />

Lembro ain<strong>da</strong> <strong>do</strong> jogo final <strong>da</strong> Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1950 . Naquele<br />

tempo ain<strong>da</strong> não existia televisão e convidei meu amigo <strong>do</strong> Paulistano - João<br />

Campos – para ouvir a irradiação , pois tínhamos na casa <strong>do</strong> jardim paulista<br />

um imenso trambolho , na época era chama<strong>do</strong> de “Rádio-Vitrola” .<br />

Na ocasião era o máximo em matéria de som .<br />

Naquele dia quan<strong>do</strong> Joãozinho chegou , logo no início <strong>do</strong> jogo ,<br />

fomos para sala e ficamos ouvin<strong>do</strong> a Radio Pan-americana , hoje Jovem Pan,<br />

até o momento que o Brasil marcou o primeiro gol .<br />

Já contan<strong>do</strong> com a vitória e com a comemoração , que aconteceria<br />

no Paulistano , saímos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> em direção ao Club , via Av. Brasil .<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos no Harmonia o Uruguai empatou o jogo .<br />

Continuávamos confiantes . Quan<strong>do</strong> já estávamos na porta <strong>do</strong> Paulistano o<br />

Uruguai marcou o segun<strong>do</strong> gol . Ficamos torcen<strong>do</strong> para o empate que <strong>da</strong>ria a<br />

Copa para o Brasil . Logo depois , já na sede <strong>do</strong> Paulistano, o jogo terminou<br />

e foi a maior decepção . Perdemos a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> de 1950 .<br />

Ficou to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> com cara de “sétimo dia” . Apareceram causas e<br />

justificativas de to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> . Mas era tarde . O “Campeonato Mundial de 50 foi<br />

para o espaço” .<br />

Naquela noite fomos comer pizza com os amigos : Zequinha<br />

Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong> , Eduar<strong>do</strong> de Paula , Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n , Carlos<br />

Calmon , Roberto Claro, Caio Kiehl e Tidinho Viana .<br />

Aquela radio vitrola deixou sau<strong>da</strong>des . Lembro que quan<strong>do</strong> menino<br />

nela escutei muitas vezes a “Escolinha de Dona Olin<strong>da</strong>” com o comediante<br />

“Nhô Totico”. Também ouvia o seria<strong>do</strong> infantil <strong>do</strong> “Vinga<strong>do</strong>r” (era uma<br />

novela para a juventude ). Escutava quase to<strong>do</strong>s os dias músicas brasileiras ,<br />

com Chico Alves , Dick Farney , Os Cariocas , Quatro Azes e um Coringa ,<br />

Gilberto Alves , Orlan<strong>do</strong> Silva , Luiz Gonzaga , Elizete Car<strong>do</strong>so , Silvio<br />

Cal<strong>da</strong>s e muitos outros .<br />

Com ela apreendi a gostar de “jazz” e de canções norte-americanas .<br />

Ouvia tangos e tocava meus primeiros discos de boleros . Com ela e meus pais<br />

apreendi gostar de música clássica . Ficou na lembrança , entre outras peças ,


o “ Concerto de Varsóvia” e as obras de Vivaldi . Também ouvi e gostava de<br />

muitas árias de óperas . Somente as melhores .<br />

Tu<strong>do</strong> aquilo antecipou sau<strong>da</strong>des .<br />

AMIZADES DO JARDIM PAULISTA<br />

No <strong>do</strong>mingo pela manhã fui <strong>da</strong>r uma volta de carro pelo bairro .<br />

Segui depois para a casa de meu avô que ficava na mesma rua , apenas um<br />

quarteirão <strong>da</strong> nossa . Conversan<strong>do</strong> com meus primos Niobe e Nilson fiquei<br />

saben<strong>do</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s . De meus amigos antigos apenas o Eduar<strong>do</strong><br />

Munhoz continuava no bairro . Lembrei que bem em frente de casa existia a<br />

residência de Dona Chiquinha Rodrigues que ali morava com seus filhos,<br />

entre eles Silvio com quem fui varias vezes ao club . Era uma família de<br />

velhos amigos <strong>da</strong> minha família.<br />

Estávamos ain<strong>da</strong> conversan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> chegou uma amiga de minha<br />

prima . Era muito bonita e chamava-se Wilma Abrão . Simpática e alegre.<br />

Morava logo em frente <strong>da</strong> casa de meu avô .<br />

Quan<strong>do</strong> voltei para casa encontrei mamãe conversan<strong>do</strong> com sua<br />

amiga de infância de Ribeirão Preto , também nossa vizinha – Dona Mariá<br />

Modenese que tinha ao seu la<strong>do</strong> suas filhas Márcia e May . Elas tinham<br />

cresci<strong>do</strong> e estavam muito bonitas , principalmente a Márcia que era bem alta e<br />

bem feita de corpo .<br />

Em pouco tempo fiquei conhecen<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as mocinhas <strong>do</strong> bairro que<br />

era privilegia<strong>do</strong> em matéria de beleza feminina . Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> rua<br />

moravam as três irmãs Alves Lima . To<strong>da</strong>s elegantes bonitas e agradáveis .<br />

Três casas depois <strong>da</strong> minha morava Maria Helena Carvalho Pinto . Na esquina<br />

<strong>da</strong> Rua Veneza vivia Karen Heins, uma bonita alemãzinha de tranças . Dois<br />

quarteirões depois Eva Vilma que se tornaria famosa como artista <strong>da</strong> televisão.<br />

Maria Alice Costa morava na Av. Brasil . Um pouco antes Maria<br />

Helena Ferrrari Costa . No mesmo quarteirão de minha casa mas na Rua<br />

Groelândia as irmãs Meca e Ica Lacer<strong>da</strong> Soares.<br />

No bairro também ain<strong>da</strong> moravam vários amigos <strong>do</strong> Paulistano . Na<br />

Rua Primavera ficava a casa <strong>do</strong>s Pannunzio , com Luiz Carlos , José Eduar<strong>do</strong><br />

e Lucila . Na rua Veneza Sérgio D´Avila e seu irmão Aluisio . Na Av. Brasil<br />

morava Alberto Botti . O Airton Baccelar , se não me engano , na Mal.<br />

Bittencourt . Lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Brigadeiro ficava a casa <strong>do</strong> Antonio Lanhoso<br />

de Lima . Ele tocava maravilhosamente violão .<br />

Além <strong>do</strong> mais estava agora perto de meus avós paternos , <strong>da</strong> tia<br />

Djanira , <strong>do</strong> tio Ovídio e <strong>do</strong>s primos Nilson e Niobe .


Voltar para o Jardim Paulista foi muito bom . Os anos que ali<br />

passei com a família foram alegres e muito felizes .<br />

Outro dia conversan<strong>do</strong> com o Acácio “Geléia” Mancio ( agora ele já<br />

se foi ) , lá no Paulistano , ele lembrou que aqueles anos de 50 e 60 foram<br />

tempos de muitas festas namoros , patusca<strong>da</strong>s , fuzarcas , brigas , farras,<br />

viagens e sobretu<strong>do</strong> de muitas risa<strong>da</strong>s .<br />

Muitas risa<strong>da</strong>s . Marcaram nossa moci<strong>da</strong>de .<br />

Acima de tu<strong>do</strong> ... foram tempos de grandes amizades .<br />

Realmente ... anos muito felizes .


FESTAS DA SOCIEDADE PAULISTANA<br />

Edu Marcondes<br />

Muitas festas - Penetras por Acaso – O Mais bonito “Reveillon”- As<br />

“Elegantes <strong>da</strong> Bangu”- Grande Premio São Paulo - Festas Juninas .<br />

To<strong>da</strong> nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano cresceu .<br />

Os “Moleques <strong>do</strong> Paulistano” estavam fican<strong>do</strong> adultos . Agora já<br />

eram “ Os Moços <strong>do</strong> Paulistano . Trabalhavam , estu<strong>da</strong>vam e praticavam<br />

esportes . Alem disto tu<strong>do</strong> estavam gostan<strong>do</strong> de festas e bailes .<br />

Agora começavam a freqüentar a Socie<strong>da</strong>de de São Paulo .<br />

Os namoros estavam fican<strong>do</strong> muito mais sérios .<br />

Durante o começo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50 os Critérios Morais e<br />

Costumes <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Paulistana - eram Muito Mais Rígi<strong>do</strong>s que os atuais .<br />

Moça não saía sozinha de forma alguma . Ou saia com a família ou<br />

acompanha<strong>da</strong> pela mãe , irmão ou irmã . Em dias de festas principalmente .<br />

Namoro naquele tempo era coisa muito séria . Pegar na mão já<br />

trazia emoção . Dançar de rosto cola<strong>do</strong> <strong>da</strong>va um calor que vinha <strong>do</strong>s pés e<br />

subin<strong>do</strong> esquentava tu<strong>do</strong> . Beijinho no rosto se acontecia era de arrepiar .<br />

Os homens e rapazes deveriam usar paletó e gravata para tu<strong>do</strong> ,<br />

inclusive para cinemas . Em festas e bailes mais elegantes era praticamente<br />

obrigatório traje à rigor .<br />

Vesti<strong>do</strong> longo para mulheres e “smoking” para homens .<br />

Assim as festas nas ci<strong>da</strong>des de São Paulo , nota<strong>da</strong>mente <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de paulistana , eram determinantemente elegantes por principio .<br />

Bonitas de serem vistas . Muito espera<strong>da</strong>s .<br />

Dentro deste quadro , inúmeras festas ou reuniões aconteciam nos<br />

fins de semana <strong>da</strong>quela São Paulo <strong>do</strong>s anos 50/60 .<br />

.<br />

Tínhamos ain<strong>da</strong> , os Chás Dançantes nos principais clubes e<br />

algumas vezes Almoços em Sítios e Chácaras situa<strong>da</strong>s nos arre<strong>do</strong>res <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de. Estes convites aconteciam quase sempre para os <strong>do</strong>mingos .<br />

Como existiam muitas famílias <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulistana com filhas<br />

mocinhas , ocorriam Varias Festas no Mesmo Fim de Semana . Por isto<br />

mesmo éramos quase sempre convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Participávamos de quase to<strong>da</strong>s<br />

em um mesmo dia . Passávamos por to<strong>da</strong>s , mas a ultima na noite , com<br />

chega<strong>da</strong> no máximo pelas 22,00 horas, era aquela onde estaria a namoradinha.


Quan<strong>do</strong> não havíamos si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para uma determina<strong>da</strong> festa e<br />

tínhamos interesse em comparecer ... sempre contávamos com aju<strong>da</strong> de um<br />

amigo <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Outras vezes quem nos arranjava convite eram amigos <strong>do</strong> Harmonia.<br />

Tinha um ritual para ser “Penetra bem Educa<strong>do</strong> “<br />

O “Penetra” era leva<strong>do</strong> pelo amigo que conhecia a família e havia<br />

si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> . Então ele era apresenta<strong>do</strong> devi<strong>da</strong>mente para a <strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa<br />

e para seus pais . Para tanto existia um ritual de educação. “Penetra” sim , mas<br />

educa<strong>do</strong> . Sempre se comprava um ramalhete de flores , pois lá no Largo <strong>do</strong><br />

Arouche existiam floriculturas que trabalhavam durante to<strong>da</strong> a noite.<br />

Durante a necessária apresentação , as flores eram oferta<strong>da</strong>s para a<br />

<strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa . Depois , haven<strong>do</strong> possibili<strong>da</strong>de , não deveria deixar de tirar a<br />

<strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa para <strong>da</strong>nçar . As vezes era até muito bom , quan<strong>do</strong> ela era<br />

bonita.<br />

Desta forma foram cria<strong>da</strong>s novas amizades e conhecimentos . Sempre<br />

apadrinha<strong>do</strong>s por conheci<strong>do</strong>s <strong>da</strong> família .<br />

O nosso ponto de encontro para irmos para as Festas <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de de<br />

São Paulo era mesmo a sede <strong>do</strong> Paulistano .<br />

As festas que comparecíamos normalmente aconteciam nos bairros <strong>do</strong>s<br />

Jardins , no Pacaembu , no Brooklyn , Higienópolis ou Perdizes .<br />

Aqueles bairros eram muito bonitos , com casas maravilhosas .Os<br />

primeiros grandes apartamentos apareciam em Higienópolis . Ain<strong>da</strong> nas<br />

aveni<strong>da</strong>s não existiam os malfa<strong>da</strong><strong>do</strong>s “Corre<strong>do</strong>res Comerciais”, escritórios,<br />

consultórios e lojas disfarça<strong>do</strong>s , nem a imensa invasão ilegal de firmas e<br />

empresas em bairros estritamente residencial . Elas que hoje existem nas<br />

Aveni<strong>da</strong>s Brasil, Europa , Av. 9 de Julho , Rua Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e tantas<br />

outras mais.<br />

Para aquelas festas em casas de família quase sempre fui privilegia<strong>do</strong>,<br />

não só pelas minhas amigas e namoradinhas , mas com convites que sempre<br />

recebi <strong>da</strong>s inúmeras amigas de minha irmã Marisa . Elas ou eram colegas <strong>do</strong><br />

Colégio Sion ou amigas <strong>do</strong> Harmonia . Lembro-me bem de Milú e Vera<br />

Loureiro , Regina Vazone , Renata Resende Barbosa ( foi minha<br />

namoradinha) , Lucila Assumpção , June e May Locke , Maisa e Dudu<br />

Amaral, Elsie Cunha Bueno , Silvia Booke , Tais de Carvalho , entre muitas<br />

outras .<br />

Nestas festas realiza<strong>da</strong>s em casas , dependen<strong>do</strong> <strong>da</strong> ocasião , a<br />

música muitas vezes era ao vivo com um organista e acompanhamento . Caso


o local possibilitasse , a música vinha com conjuntos ou mesmo com<br />

pequenas orquestras .<br />

Nos anos 50 algumas coisas não podiam faltar . Uma delas era o<br />

tradicional “ponche” , servi<strong>do</strong> com frutas pica<strong>da</strong>s em uma maravilhosa peça<br />

de cristal ou de prata . Era a bebi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s senhoras e <strong>da</strong>s mocinhas .<br />

Para os rapazes serviam champanhe e vinhos . Começavam a<br />

aparecer uísques com muito mais freqüência . Como sempre gostei de<br />

champanhe , que nunca faltava , até hoje não apreendi muito bem a gostar de<br />

uísque ou de destila<strong>do</strong>s .<br />

Também não faltavam flores . Eram utiliza<strong>da</strong>s pelos <strong>do</strong>nos <strong>da</strong><br />

casa como motivo para decoração . Alem <strong>do</strong> mais sempre existiam aquelas<br />

que os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s man<strong>da</strong>vam para a <strong>do</strong>na <strong>da</strong> festa .<br />

Era de boa educação man<strong>da</strong>r flores .<br />

Assim to<strong>da</strong>s as festas ficavam perfuma<strong>da</strong>s e muito bonitas .<br />

- PENETRAS POR ACASO<br />

As vezes fatos acontecem independentes de nossa vontade e<br />

quan<strong>do</strong> menos esperamos .<br />

No final <strong>do</strong> ano de 1950 , em um saba<strong>do</strong> , no começo <strong>da</strong> noite ,<br />

estávamos reuni<strong>do</strong>s na casa <strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n , lá na Aveni<strong>da</strong><br />

Brasil , perto <strong>da</strong> Rebouças , Então recebemos um telefonema <strong>do</strong> Caio Kiehl .<br />

Ele informava que sua amiga Beatriz resolvera , de última hora ,<br />

realizar uma reunião em sua casa e estava nos convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Fazia mesmo<br />

questão de nossas presenças .<br />

Pergunta<strong>do</strong> sobre o endereço ele não pode precisar . Disse que era<br />

fácil . Informou que a casa ficava na Rua Groenlândia , perto <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong><br />

Europa . Disse ain<strong>da</strong> que seria fácil . Seu carro estaria em frente a casa .<br />

Apesar de estarmos combina<strong>do</strong>s , resolvemos ir para a reunião<br />

indica<strong>da</strong> pelo Caio .<br />

Saímos to<strong>do</strong>s no carro <strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong> , por volta <strong>da</strong>s 21 horas.<br />

Não custamos encontrar uma casa muito grande na esquina <strong>da</strong> Av .<br />

Europa com Groelândia . Estava super ilumina<strong>da</strong> , com muitos carros <strong>do</strong> la<strong>do</strong><br />

de fora e com outros no pátio interno <strong>da</strong> casa . O portão que <strong>da</strong>va acesso ao<br />

pátio estava aberto .<br />

. Eduar<strong>do</strong> de Paula foi dizen<strong>do</strong> :- “O Jaguar <strong>do</strong> Caio deve estar la<br />

dentro . Vamos entrar com o carro”.<br />

Ninguém impediu . Parecia não ser festa jovem .<br />

Roberto Claro achou que estávamos em lugar erra<strong>do</strong> .


Desci . Fomos caminhan<strong>do</strong> para a casa e logo na entra<strong>da</strong><br />

encontramos três mocinhas que estavam nos olhan<strong>do</strong> . Estavam<br />

elegantíssimas. Após cumprimentarmos e nos apresentarmos devi<strong>da</strong>mente<br />

perguntei se ali era casa de Beatriz . Uma delas bem bonitinha informou que<br />

não. Disse que seu nome era Olga e que ali era a casa de suas amigas Silvia e<br />

Gracie Lafer . As duas chegaram logo em segui<strong>da</strong> , acompanha<strong>da</strong>s de mais<br />

outras duas. Foram to<strong>da</strong>s muitos gentis.<br />

Perguntaram se não queríamos entrar . Respondemos que<br />

estávamos com mais três amigos e que nossa entra<strong>da</strong> ali fora por puro engano,<br />

pois estávamos procuran<strong>do</strong> outra festa , onde estariam amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Ouvimos como resposta : -<br />

“Pois gostaríamos de convi<strong>da</strong>r também seus três amigos”.<br />

Neste momento eles se aproximaram e foram feitas as devi<strong>da</strong>s e<br />

formais apresentações . As três outras mocinhas eram : Lucila Assumpção ,<br />

Vivi Loureiro Marinho e Ana Maria Simões .<br />

Silvia então informou que aquela era uma festa de políticos<br />

programa<strong>da</strong> pelo seu pai - Horário Lafer ( ouvin<strong>do</strong> o nome então lembrei que<br />

ele era o Ministro <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> <strong>do</strong> governo de Getulio Vargas ) . Informou<br />

ain<strong>da</strong> que os mais moços ( Nós ) poderiam ficar no pavilhão <strong>da</strong> casa, situa<strong>do</strong><br />

após os jardins interiores , pois era local muito agradável .<br />

Resolvemos ficar . Fomos para aquele local <strong>da</strong> casa .<br />

Ficamos conversan<strong>do</strong> , falan<strong>do</strong> e descobrin<strong>do</strong> amigos comuns ,<br />

clubes e festas que freqüentávamos , falan<strong>do</strong> de nossas famílias e sobre<br />

colégios . Como existia música fomos <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> .<br />

Descobri que Olga Lago Leite era colega de minha irmã Marisa no<br />

Colégio Sion . Ficamos alegres com a coincidência .<br />

Algum tempo depois o Ministro Horácio Lafer , com Dona Mimi<br />

sua senhora , acompanha<strong>do</strong> pelo então Governa<strong>do</strong>r de Minas Gerais –<br />

Juscelino Kubistchec de Oliveira adentraram no pavilhão . Fomos<br />

apresenta<strong>do</strong>s e recebemos to<strong>da</strong> simpatia <strong>da</strong>quelas figuras importantes .<br />

Depois de conversas gerais fomos pergunta<strong>do</strong>s sobre aquela festa.<br />

Como nós to<strong>do</strong>s dissemos que estava lin<strong>da</strong> e muito elegante , fomos então<br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s pelo Ministro Lafer para uma outra festa , a ser realiza<strong>da</strong> em sua<br />

residência no Rio de Janeiro , naquele tempo Capital <strong>da</strong> Republica .<br />

Os dringues , <strong>da</strong>ncinhas e muita conversa foram até as 3 <strong>da</strong><br />

madruga<strong>da</strong> .<br />

No outro dia voltamos para a casa <strong>do</strong>s Lafer , levan<strong>do</strong> junto os<br />

amigos Caio Kiehl , Nico Peres e Albano Camargo . Antes havíamos conta<strong>do</strong><br />

para eles o que sucedera na noite anterior . Foi então acontecen<strong>do</strong> uma


eunião muito alegre . Terminou no final <strong>da</strong> tarde , com a promessa de nosso<br />

comparecimento para festa <strong>do</strong> Rio de Janeiro , na próxima semana .<br />

Na semana seguinte , atenden<strong>do</strong> convite recebi<strong>do</strong> , seguimos<br />

para festa na ci<strong>da</strong>de maravilhosa . Eramos seis amigos . Fomos de avião .<br />

Alguns voavam pela primeira vez . Durante o vôo , naquele velho DC-3 ,<br />

pegamos mau tempo .<br />

Em <strong>da</strong><strong>do</strong> momento , justamente quan<strong>do</strong> Sérgio de Lucca foi ao<br />

banheiro <strong>do</strong> avião, entramos em uma grande turbulência que durou alguns<br />

minutos . O DC-3 ficou pulan<strong>do</strong> para cima e para baixo . Quan<strong>do</strong> melhorou o<br />

tempo Sergio abriu a porta <strong>do</strong> banheiro e foi sain<strong>do</strong> com a cara espanta<strong>da</strong> .<br />

Naquele momento a comissária informou para ele que havíamos ti<strong>do</strong><br />

turbulência . Ele respondeu :<br />

“ Puxa Vi<strong>da</strong> ! Pensei que havia aperta<strong>do</strong> o botão erra<strong>do</strong>”.<br />

.<br />

A festa no Rio aumentou nossa amizade com aquelas meninas ,<br />

principalmente com Vivi Loureiro Marinho e <strong>da</strong> Anna Maria Simões .<br />

Moravam as duas pertinho <strong>do</strong> Paulistano . To<strong>da</strong>s as tardes , depois de suas<br />

aulas , nós fazíamos ponto em suas casas . Elas passaram a ser o “Carro Chefe<br />

Feminino” de nossa turminha . Estávamos , por isto mesmo , sempre sen<strong>do</strong><br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para muitas reuniões em casas de suas amigas .<br />

Alem destas festas e reuniões existiam ain<strong>da</strong> os grandes bailes de<br />

São Paulo , sempre a rigor .Lembro <strong>do</strong> famoso “Glamour Girl” no Harmonia ,<br />

aqueles <strong>do</strong> Aniversário <strong>do</strong> Paulistano ( no dia 29 de Dezembro – hoje quase<br />

esqueci<strong>do</strong>) , o “Baile Branco” para as debutantes de São Paulo , os<br />

“Reveillons” <strong>do</strong> Jockey Club , <strong>do</strong> Harmonia e <strong>da</strong> Hípica Paulista . To<strong>da</strong>s<br />

foram festas formidáveis e famosas que deixaram sau<strong>da</strong>des .<br />

- O MAIS BONITO “REVEILLON”<br />

Entretanto , de to<strong>do</strong>s aqueles “Reveillons”aconteci<strong>do</strong>s , um marcou<br />

para sempre a passagem de fim de ano . Ficou em muitas lembranças .<br />

Foi aquele à fantasia ocorri<strong>do</strong> na casa de Aninha Peruche .<br />

A mansão de sua família , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Alto <strong>da</strong> Boa Vista , era<br />

realmente muito grande e maravilhosa . Ocupava um quarteirão .Tinha um<br />

certo que , lembran<strong>do</strong> o Palácio de Versailles , com esplendi<strong>do</strong>s e enormes<br />

jardins que chegavam com seus grama<strong>do</strong>s e touceiras de flores cercan<strong>do</strong> a<br />

grande piscina .


Chegavam ain<strong>da</strong> aos pequenos bosques e aos vários terraços <strong>da</strong><br />

casa . Tinha ain<strong>da</strong> um enorme Salão de Festas , cheio de espelhos , com varias<br />

saí<strong>da</strong>s para os jardins e decora<strong>do</strong> com esmero . Ele tinha mais de 50 metros de<br />

comprimento , mostran<strong>do</strong> ao fun<strong>do</strong> um lin<strong>do</strong> palco eleva<strong>do</strong>. Na<strong>da</strong> melhor<br />

nem mais próprio para uma esplen<strong>do</strong>rosa Festa de Fim de Ano .<br />

A idéia <strong>do</strong> “Reveillon” ocorreu em um final de tarde , no início de<br />

Dezembro, lá mesmo , durante uma pequena reunião . A idéia foi<br />

imediatamente aprova<strong>da</strong> por Dona Zilú – mãe <strong>da</strong> Aninha .<br />

Ficou combina<strong>do</strong> que quatro de seus amigos iriam aju<strong>da</strong>r a realizar<br />

a festa : - Caio Kiehl , Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Otto Bendix e este narra<strong>do</strong>r. Ca<strong>da</strong><br />

um preparou sua lista de convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Na quarta feira seguinte ficou pronta a<br />

lista final . Aninha havia veta<strong>do</strong> com firmeza algumas pessoas .<br />

Lembro que seiscentas pessoas foram seleciona<strong>da</strong>s .<br />

Ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s amigos ficou com uma incumbência e sua<br />

responsabili<strong>da</strong>de . Caio Kiehl deveria contratar a orquestra <strong>do</strong> Ari <strong>do</strong> Piston<br />

(estava na mo<strong>da</strong> e tocava sempre no Harmonia ) , bem como uma “Escola de<br />

Samba”. Eu deveria cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> impressão <strong>do</strong>s convites com máxima urgência .<br />

Arnal<strong>do</strong> Gasparian aju<strong>da</strong>ria naquilo que fosse surgin<strong>do</strong> . Otto Bendix ,<br />

contan<strong>do</strong> com o motorista <strong>da</strong> família e com alguns outros emprega<strong>do</strong>s ,<br />

deveria efetuar a distribuição <strong>da</strong> maioria destes convites . Nós aju<strong>da</strong>ríamos ,<br />

entregan<strong>do</strong> convites para as pessoas mais chega<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> um .<br />

A noticia <strong>da</strong> festa , divulga<strong>da</strong> pelo cronista social Tavares de<br />

Miran<strong>da</strong> , tomou conta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . To<strong>do</strong>s queriam participar , mas como a lista<br />

foi realmente fecha<strong>da</strong> e fora dela não entrou mais ninguém . Aninha não abriu<br />

um exceção . Foi inteiramente coerente .<br />

Detalhe : “A fantasia deveria ser de luxo e to<strong>da</strong>s as mães<br />

acompanhantes deveriam vir com vesti<strong>do</strong>s brancos com bolinhas pretas” .<br />

Eram condições “sine quae non” , explicita<strong>da</strong>s no convite .<br />

No dia <strong>da</strong> festa , nós os organiza<strong>do</strong>res ao la<strong>do</strong> de Aninha e de Dona<br />

Zilu , ficamos receben<strong>do</strong> os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s no saguão de entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> casa , após a<br />

entra<strong>da</strong> pela portaria <strong>da</strong> casa , onde apresentavam os convites .<br />

A orquestra <strong>do</strong> Ari tomou conta <strong>do</strong> palco e , mesmo antes <strong>do</strong> início<br />

<strong>da</strong> festa , as 21,00 horas , já tínhamos música no ar . Inúmeros garçons já<br />

serviam bebi<strong>da</strong>s , principalmente champanhe . Muitas flores , muitas luzes e<br />

os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s chegan<strong>do</strong> . To<strong>do</strong>s em bonitas fantasias , principalmente as<br />

moças que ficaram maravilhosas naquelas cores bem vivas , próprias para o<br />

alto verão . Lembro muito bem de Ana Maria Valone , Cecília Brasil , Bia<br />

Oliveira , Alice e Regina Perego e Marina Pimentel .


Um <strong>do</strong>s toques de elegância naquela noite foram to<strong>da</strong>s as mães em<br />

seus vesti<strong>do</strong>s de bolinhas pretas . Foram um sucesso .<br />

Nem preciso dizer que a festa pegou fogo imediatamente . Primeiro<br />

com músicas mais suaves . Depois com músicas de carnaval . Quan<strong>do</strong> a meia<br />

noite chegou a Escola de Samba chegou junto . Então a alegria foi total .<br />

Lá pela duas horas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> começou o banho à fantasia . Foi<br />

para piscina quem desejou e quem não quis . Mas só os homens . Um <strong>do</strong>s<br />

primeiros a cair na água foi Acácio “Geléia” acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong> Marcelão<br />

Ribeiro Lima . Como os <strong>do</strong>is sempre foram bem grandes no tamanho tivemos<br />

água por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. A noite bem quente aju<strong>da</strong>va curtir a molhação .<br />

Então a festa tomou conta <strong>do</strong>s jardins pois não <strong>da</strong>va mais para<br />

entrar molha<strong>do</strong> dentro de casa .<br />

O “reveillon” terminou depois <strong>da</strong>s 4 <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> com to<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> muito feliz e pedin<strong>do</strong> mais . Para mim foi o mais lin<strong>do</strong> reveillon de<br />

São Paulo assistiu . Marcou época e foi noticia em to<strong>da</strong>s colunas sociais .<br />

Revi uma foto <strong>da</strong> ocasião outro dia . Aninha vesti<strong>da</strong> de “princesa” , Caio de<br />

“romano”, Otto Bendix de “almirante” , Arnal<strong>do</strong> Gasparian de “não me<br />

lembro” . Eu estava devi<strong>da</strong>mente fantasia<strong>do</strong> de “ samurai ”na companhia de<br />

Maria Clara Lima Guimarães vesti<strong>da</strong> de “havaiana” . Estava lin<strong>da</strong> .<br />

Tempo bom !<br />

- “AS ELEGANTES DA BANGU”<br />

Outro evento importante era a realização de desfile de mo<strong>da</strong>s e<br />

baile , patrocina<strong>da</strong> pela Bolsa de Merca<strong>do</strong>rias de São Paulo em conjunto com<br />

a Fabrica de Teci<strong>do</strong>s Bangu e o Sindicato <strong>da</strong> Industria de Fiação e Tecelagem.<br />

Era chama<strong>da</strong> de “ As Elegantes <strong>da</strong> Bangu”.<br />

Na ocasião eram apresenta<strong>do</strong>s os novos padrões de teci<strong>do</strong>s <strong>da</strong><br />

Bangu , em vesti<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>s pelas moças <strong>da</strong> alta socie<strong>da</strong>de de São Paulo .<br />

Tinha uma programação muito bem feita , principalmente aquela<br />

de 1954 , ano <strong>do</strong> IV Centenário de São Paulo . Na ocasião um far<strong>do</strong> de<br />

algodão foi leiloa<strong>do</strong> no Parque Ibirapuera e o resulta<strong>do</strong> financeiro foi<br />

destina<strong>do</strong> para várias enti<strong>da</strong>des beneficentes .<br />

Esteve presente o Governa<strong>do</strong>r de São Paulo .<br />

Após o leilão ocorreu desfile de mo<strong>da</strong>s na nova sede <strong>do</strong> Clube<br />

Comercial de São Paulo , situa<strong>do</strong> no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , precisamente na rua<br />

Formosa . Para tanto foram convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s as famílias e conheci<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s senhoritas<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulistana que desfilaram com os modelos confecciona<strong>do</strong>s<br />

unicamente em fino algodão .


Aquele desfile , muito bonito e charmoso , teve participação de<br />

muitas conheci<strong>da</strong>s e amigas que atuaram como modelos , inclusive de minha<br />

irmã Marisa Marcondes. Lembro que também desfilaram as moças mais<br />

bonitas de nossa socie<strong>da</strong>de : Ana Maria Simões, Maria Isabel Rodrigues<br />

(Glamour Girl 54 ) , Elsie <strong>da</strong> Cunha Bueno , Helena Zarvos , Maisa Amaral ,<br />

Maria Helena Fonseca , Maria Ignez Whitaker , Silvia Tonani , May Locke ,<br />

Milu Loureiro , Olga Lago Leite , Regina Vasone, Sofia Helena Pentea<strong>do</strong> ,<br />

Silvinha Boock , Silvia Lafer , Tais de Carvalho , Zaira e Zuleica Zablit .<br />

Depois <strong>do</strong> desfile foi realiza<strong>do</strong> baile à rigor com a presença <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de paulistana e <strong>da</strong> “Miss Brasil” – Marta Rocha .<br />

Estive presente em companhia <strong>do</strong>s amigos : Carlos Roberto<br />

Matos , Caio Kiehl , Sérgio Dávila e Luiz Carlos Junqueira .<br />

A festa foi muito bonita , prestigian<strong>do</strong> o algodão brasileiro , o<br />

que hoje não mais ocorre . Não enten<strong>do</strong> por que estas festas não tiveram<br />

continui<strong>da</strong>de . Realmente uma pena .<br />

- “GRANDE PREMIO SÃO PAULO”<br />

Outro acontecimento muito bonito e muito elegante acontecia na<br />

primeira semana de Maio de ca<strong>da</strong> ano . Ocorria então o “ Grande Premio São<br />

Paulo” no Jóquei Clube . Era muito concorri<strong>do</strong> , com o comparecimento<br />

feminino em grande escala . Naquela ocasião os melhores cavalos <strong>da</strong> América<br />

<strong>do</strong> Sul vinham disputar o páreo e o premio , que durante muito tempo foi bem<br />

eleva<strong>do</strong> .<br />

Era realmente uma festa com muita gente bonita desfilan<strong>do</strong> pelas<br />

Sociais e “Pa<strong>do</strong>ck” <strong>da</strong> magnífica instalação <strong>do</strong> Jóquei Clube em “Ci<strong>da</strong>de<br />

Jardim”. Para aquela reunião turfística as senhoras e moças se apresentavam<br />

na melhor elegância possível .<br />

As tribunas <strong>do</strong> Jóquei viravam passarelas com desfile de mo<strong>da</strong>s .<br />

Muitas vezes no início de Maio o frio havia realmente chega<strong>do</strong> e<br />

as roupas eram para o inverno paulista , que naquele tempo realmente existia .<br />

Com um frio até mesmo úmi<strong>do</strong> , depois <strong>da</strong>s chuvas de Abril , as peles<br />

tomavam conta <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> feminino que freqüentava o Jóquei Clube .<br />

Como diziam : “Aquelas ocasiões eram colírio para os homens”<br />

Fui em muitos <strong>da</strong>queles grandes prêmios e vi muitos cavalos<br />

vence<strong>do</strong>res . Entretanto , como não fui turfista , lembro apenas de um <strong>da</strong>queles<br />

magníficos animais vence<strong>do</strong>res. Seu nome era “Gualicho”.<br />

Hoje os grandes prêmios já não possuem a mesma elegância .


- FESTAS JUNINAS<br />

Sau<strong>da</strong>des também tenho <strong>da</strong>s Festas Juninas , com muitas<br />

bandeirinhas colori<strong>da</strong>s , fogos de artifício e ver<strong>da</strong>deiros <strong>do</strong>ces caipira .<br />

Tínhamos paçoca, pipoca , pé de moleque , <strong>do</strong>ce de abóbora , de<br />

batata <strong>do</strong>ce , de batata roxa , maria mole . Quentão aju<strong>da</strong>va esquentar as noites<br />

paulistas , realmente muito frias naquele tempo .<br />

Em volta <strong>da</strong>s fogueiras eram canta<strong>da</strong>s músicas juninas . Tenho<br />

na memória : “Cai ...Cai Balão” , “Noite fria de Junho” e uma que começava<br />

assim – “ Era noite de São João ... Antonio ia se casar ... Mas Pedro fugiu<br />

coma noiva ... na hora de ir pro altar”...<br />

Eram lin<strong>da</strong>s e muito próprias para a ocasião .<br />

Outro costume era ler a sorte em bacias com água . Pingavam<br />

cera de vela acesa na água e “algumas entendi<strong>da</strong>s” fingiam ler futuros<br />

acontecimentos , normalmente liga<strong>do</strong>s aos namoros , nos desenhos e letras que<br />

poderiam aparecer . “ Aquele R é a primeira letra de seu futuro namora<strong>do</strong>”.<br />

Coisa inesquecível eram as “quadrilhas” onde moças e rapazes<br />

<strong>da</strong>nçavam musicas juninas coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s em sua evolução por uma mestre que<br />

indicava acontecimentos . “Olha a cobra” ... e o cordão que ia para um la<strong>do</strong><br />

voltava . “Ta chuven<strong>do</strong>” ... e to<strong>do</strong>s cobriam a cabeça com as mãos . Tinha a<br />

quadrilha inúmeras evoluções .<br />

Logo depois <strong>da</strong> quadrilha existia o “<strong>Casa</strong>mento <strong>do</strong> Caipira”. Os<br />

participantes de tal casamento vinham vesti<strong>do</strong>s à caráter , com roupas de<br />

caipira . Eram roupas velhas , curtas e cheias de remen<strong>do</strong>s coloca<strong>do</strong>s de<br />

propósito . Então chegavam a noiva e o noivo , o delega<strong>do</strong> que obrigava a<br />

realização <strong>do</strong> casamento , o padre e mais outros personagens . Era tu<strong>do</strong> feito<br />

de forma a gerar uma palhaça<strong>da</strong> que terminava normalmente com o noivo in<strong>do</strong><br />

para a cadeia .<br />

O Paulistano realizava uma <strong>da</strong>s mais belas festas , crian<strong>do</strong><br />

inclusive uma pequena Vila Caipira no grama<strong>do</strong> <strong>do</strong> campo de futebol . Com<br />

fogueira e tu<strong>do</strong> mais . Uma <strong>da</strong>s brincadeiras era levar algum amigo para a<br />

falsa cadeia . Ele era preso por um tempo , até pagar a multa ( um quentão ) .<br />

Outra festa de São João , muito bonita , era realiza<strong>da</strong> no Clube de<br />

Campo de São Paulo . Ele até hoje fica longe , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Represa de<br />

Guarapiranga . Naquele tempo parecia mais longe , pois o local era pouco<br />

povoa<strong>do</strong> . Tinha nossa turma uma tradição para entrar no Clube de Campo .<br />

Como poucos eram sócios e o convite não era barato achamos uma solução .<br />

Aqueles que eram sócios levavam em seus carros os amigos , até perto <strong>da</strong><br />

portaria <strong>do</strong> clube .


A sede <strong>do</strong> clube ficava longe <strong>da</strong>quela portaria . Então <strong>do</strong>is ou<br />

três amigos se enfiavam no porta malas <strong>da</strong>queles grandes automóveis <strong>da</strong> época<br />

e ficavam quiétinhos até que os portões fossem passa<strong>do</strong>s . Depois , já dentro<br />

<strong>da</strong> área <strong>do</strong> clube , com o carro estaciona<strong>do</strong> debaixo <strong>da</strong>s arvores , to<strong>do</strong>s os<br />

penetras que estavam no porta malas saiam . Rapi<strong>da</strong>mente entravam para a<br />

festa . Ela era muito concorri<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de paulistana .<br />

Anos depois conversan<strong>do</strong> com um antigo diretor <strong>do</strong> Clube de<br />

Campo , amigo <strong>do</strong> Mário Guisalberti , fui informa<strong>do</strong> que eles sabiam <strong>do</strong> fato .<br />

Não ligavam pois os penetras eram amigos de sócios e traziam grande alegria<br />

para a festa .<br />

Agora As Festas Juninas se Tornaram Muito Caipiras ...Muito !<br />

Hoje as Festas Juninas não tem mais a diversão e a graça<br />

tradicional . A última que fui , fez lembrar com sau<strong>da</strong>des as anteriores<br />

realiza<strong>da</strong>s . Eram to<strong>da</strong>s muito lin<strong>da</strong>s e alegres .<br />

Agora , qualquer que seja o local , nem tocam musicas próprias<br />

para a época . Somente se ouve “rock”, “xaxa<strong>do</strong>”, “forró” e algumas “<br />

tarantelas italianas ”.<br />

A nossas Festas Caipiras viraram uma “coisa”. Pode ser<br />

caracteriza<strong>da</strong> como : “Bagunça Ítalo – Nordestina – Americana !<br />

Nem temos os bons e reais <strong>do</strong>ces caipiras. Seja qual for o clube.<br />

São falsos <strong>do</strong>ces brasileiros , enrola<strong>do</strong>s em plástico transparente , com gosto<br />

de na<strong>da</strong> . São de puro açúcar , colori<strong>do</strong> artificialmente . Sabor “amarelo<br />

metálico” ou “laranja fantasia” ! A Festa perdeu sua raiz !<br />

Não temos mais “Dança <strong>da</strong> Quadrilha”, nem “<strong>Casa</strong>mento <strong>do</strong> Jéca”<br />

Ninguem mais vai com roupa de caipira .<br />

Agora são bebi<strong>do</strong>s uísque , chope e vinho quente ( horroroso por<br />

sinal , posto que o vinho é muito ruim ) . Não existe mais nem um bom<br />

“Quentão “ . O que existe agora é mal feito , com puro gosto de pinga ( de má<br />

quali<strong>da</strong>de ) requenta<strong>do</strong> com canela e gengibre .<br />

Temos ain<strong>da</strong> “Churrasquinho de Gato no Espeto–com Farofa” (sic)<br />

Só as bandeirinhas colori<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> lembram e trazem um “que” de<br />

Festa de São João . A Festa Caipira Paulista virou realmente uma bagunça<br />

difícil de descrever . Lota<strong>da</strong> de gente , em to<strong>do</strong> canto , que só pensa em comer.<br />

Porem pouca gente <strong>da</strong>nça . A maioria fica an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> de lá para cá .<br />

No outro dia dizem que a festa foi ótima ! ????? !


A NOVA SÉDE DO PAULISTANO<br />

Edu Marcondes<br />

Visitas a Construção – Amigos na Inauguração – Inauguran<strong>do</strong> a Piscina-<br />

A Foto <strong>da</strong> Nova Sede – Programas para a Jovem Guar<strong>da</strong> -<br />

A Chega<strong>da</strong> de Gente Boa – Discutin<strong>do</strong> com um Mau Caráter –<br />

O <strong>Casa</strong>mento de Artur Castilho e Anne Marie Pentea<strong>do</strong> .<br />

Em mea<strong>do</strong>s de 1953 , se não estou engana<strong>do</strong> , foi lança<strong>da</strong> a pedra<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> nova sede <strong>do</strong> CAP , durante uma cerimônia , na qual<br />

compareceram os sócios mais habituais <strong>do</strong> clube . Os que lá estiveram<br />

deixaram suas assinaturas em ata , coloca<strong>da</strong> dentro de uma urna<br />

Na nova sede muita coisa iria mu<strong>da</strong>r , visan<strong>do</strong> a<strong>da</strong>ptação ao<br />

crescimento <strong>do</strong> clube dentro <strong>da</strong> região e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . A entra<strong>da</strong> social seria<br />

mu<strong>da</strong><strong>da</strong> . Sairia <strong>da</strong> rua Columbia in<strong>do</strong> para rua Honduras , apesar <strong>do</strong><br />

monumento erigi<strong>do</strong> para comemorar a excursão futebolística vitoriosa <strong>do</strong> CAP<br />

estar situa<strong>do</strong> em frente à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> sede velha. Tal mu<strong>da</strong>nça seria necessária ,<br />

ten<strong>do</strong> em vista o volume de transito , crescente dia a dia , que vinha<br />

aumentan<strong>do</strong> na Rua Augusta e nas suas continui<strong>da</strong>des .<br />

O projeto aprova<strong>do</strong> era muito moderno , espaçoso e até bonito ,<br />

dentro de uma concepção tendente ao que poderia ser mais avança<strong>do</strong> . A única<br />

coisa negativa de to<strong>do</strong> projeto , para muitos como eu , era a determinação para<br />

ser derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> velha piscina , que poderia ser fecha<strong>da</strong> e aqueci<strong>da</strong> . Também<br />

a velha sede , se não me engano projeto <strong>do</strong> Ramos de Azeve<strong>do</strong> ou de um outro<br />

famoso arquiteto <strong>da</strong> época seria derruba<strong>da</strong> . Lutamos até o ultimo dia.<br />

Prevaleceu o projeto original <strong>da</strong> reforma global. A velha sede , posteriormente<br />

quan<strong>do</strong> conclusa a nova , seria posta para o chão deixan<strong>do</strong> sau<strong>da</strong>des . Muitas<br />

sau<strong>da</strong>des até hoje .<br />

Bem , logo depois <strong>da</strong>quela cerimônia <strong>da</strong> pedra fun<strong>da</strong>mental<br />

começou efetivamente sua construção . Enquanto ia sen<strong>do</strong> construí<strong>da</strong> ain<strong>da</strong><br />

utilizávamos a velha sede.<br />

Quan<strong>do</strong> a estrutura de concreto <strong>da</strong> nova sede ficou pronta<br />

tínhamos possibili<strong>da</strong>des de visitá-la , com a entra<strong>da</strong> sen<strong>do</strong> realiza<strong>da</strong> por dentro<br />

<strong>do</strong> próprio clube .<br />

A jovem guar<strong>da</strong> aproveitava a oportuni<strong>da</strong>de para levar , no final<br />

<strong>da</strong>s tardes e já sem a presença <strong>do</strong>s operários , as namoradinhas para<br />

“conhecer” a estrutura <strong>da</strong> nova sede , grande e vazia ..


Ficávamos ven<strong>do</strong> aquela nova sede progredir . Foi fican<strong>do</strong> vistosa.<br />

Logo depois o grande grama<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong> , onde existiam os laguinhos e os<br />

pequenos bosques , foi sen<strong>do</strong> retira<strong>do</strong> . Foi uma pena pois o local era muito<br />

bonito . Porem era necessário . Ali teria inicio a construção <strong>da</strong> grande piscina<br />

nova . Para a época era realmente enorme . Ficava em frente <strong>da</strong> sede , estan<strong>do</strong><br />

conjuga<strong>da</strong> com o bar programa<strong>do</strong> para o térreo . No projeto original nem<br />

existia cerca separan<strong>do</strong> o bar <strong>do</strong> térreo <strong>da</strong> piscina<br />

Lembro bem que quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> termino <strong>da</strong>quela construção , fui<br />

conhecer , com Pedro Padilha e Paulo Ribeiro, o que estava sen<strong>do</strong> feito em<br />

matéria de acabamento e decoração na nova sede . Tu<strong>do</strong> que vi era muito fino<br />

e de muito bom gosto . A<strong>do</strong>rei o Bar <strong>do</strong> Primeiro An<strong>da</strong>r que seria decora<strong>do</strong><br />

em estilo escocês . Iria ficar , como realmente ficou , maravilhoso . Outro<br />

lugar espetacular era a Boite , re<strong>do</strong>n<strong>da</strong> e com vista para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s ,<br />

principalmente aquela que <strong>da</strong>va para os Jardins , com duas pistas para <strong>da</strong>nçar .<br />

Uma <strong>da</strong>s pistas dentro <strong>do</strong> espaço interno e outra <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora , ao la<strong>do</strong> de<br />

um sensacional jardim suspenso , com peixinhos em um pequeno lago.<br />

Aquele lugar , principalmente à noite , permitiria uma lin<strong>da</strong> vista para a ci<strong>da</strong>de<br />

ilumina<strong>da</strong> . Ficaria extremamente romântico . Hoje mu<strong>do</strong>u o terraço com o<br />

pequeno lago deu lugar para uma área coberta amplia<strong>da</strong> .<br />

O Salão de Festas no segun<strong>do</strong> an<strong>da</strong>r , com seu pé direito duplo ,<br />

um mezanino e <strong>do</strong>is grandes terraços, um de ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> , era muito amplo .<br />

Na sua parte superior existia um Mezanino com vista para to<strong>do</strong><br />

Salão<br />

No Bar Térreo existia uma Pista de Danças , feita em alabastro e<br />

ilumina<strong>da</strong> por baixo . Ficou bem charmosa , principalmente para ser usa<strong>da</strong><br />

em noites de verão . Tu<strong>do</strong> naquela construção estava toman<strong>do</strong> formas com<br />

bom gosto , extremamente fino e elegante.<br />

A nova sede iria atender plenamente nossas necessi<strong>da</strong>des, pois<br />

teríamos ain<strong>da</strong> no primeiro an<strong>da</strong>r : Biblioteca , Salão de Estar muito amplo ,<br />

Grande Terraço com mesas que tinham vista para piscina , Salão de Jogos ,<br />

salas especiais para Diretoria , e um requinta<strong>do</strong> Restaurante denomina<strong>do</strong><br />

“1900” . No térreo, alem <strong>do</strong> bar com suas inúmeras mesas , ain<strong>da</strong> teríamos<br />

Barbeiro , Cabeleireiro e uma Sala para jogos de “Snooker” .<br />

Hoje em dia muita coisa mu<strong>do</strong>u <strong>da</strong>quele projeto original .


– VISITAS A NOVA SEDE<br />

Na véspera de sua inauguração , em um grupo de amigos , fomos<br />

<strong>da</strong>r a olha<strong>da</strong> final na decoração <strong>da</strong> nova sede . Agora estava to<strong>da</strong> pronta , já<br />

com piscina e lin<strong>do</strong>s jardins em sua volta .<br />

Caio Kiehl quan<strong>do</strong> avistou a nova piscina disse para Pedrinho<br />

Padilha que ela precisaria de uma Inauguração à Rigor .<br />

Pedrinho Padilha , como Diretor Social , foi explican<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

coisas. Sobraram elogios para tu<strong>do</strong> que vimos e nos deixaram bem<br />

impressiona<strong>do</strong>s . Coube nota<strong>da</strong>mente destaque para as louças que eram<br />

brancas no centro , ten<strong>do</strong> suas bor<strong>da</strong>s em tom vermelho avinha<strong>do</strong> , frisos<br />

<strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s e monograma <strong>do</strong> CAP . Os copos de cristal sextava<strong>do</strong> também<br />

tinham monograma <strong>do</strong> Paulistano . As baixelas e talheres eram de prata . Tu<strong>do</strong><br />

muito fino e de bom gosto . ( Isto tu<strong>do</strong> hoje está desapareci<strong>do</strong> )<br />

A Festa de Inauguração prometia muito , mesmo porque e para<br />

tanto já tínhamos consegui<strong>do</strong> reservar seis mesas , ca<strong>da</strong> uma com oito lugares.<br />

Na mesa que eu ficaria , perto <strong>do</strong> terraço , estariam também Zizinho Papa ,<br />

Luiz Carlos Junqueira Franco e Vicente de Sylos e as nossas convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s .<br />

- OS AMIGOS NA INAUGURAÇÃO DA SEDE<br />

Naquele 29 de Dezembro de 1957 tomei um banho demora<strong>do</strong> ,<br />

vesti camisa para rigor , dei o laço na gravata borboleta , coloquei minha<br />

calça preta <strong>do</strong> “smoking” . Depois de algum tempo finalmente vesti o paletó<br />

<strong>do</strong> “smoking”. Na saí<strong>da</strong> dei um beijo em minha mãe e fui para a festa<br />

colocan<strong>do</strong> um cravo vermelho na lapela.<br />

Lá chegan<strong>do</strong> deixei , conforme combina<strong>do</strong> , o carro em uma <strong>da</strong>s<br />

garagens <strong>da</strong> casa de Roberto Claro . A casa ficava em frente <strong>da</strong> nova sede.<br />

Desde a entra<strong>da</strong> no clube fui encontran<strong>do</strong> muitas plantas e flores<br />

decoran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> , nota<strong>da</strong>mente o Salão de Festas e a Boate . Fui , entre os<br />

meus amigos , um <strong>do</strong>s últimos a chegar . Na nossa mesa já estavam o Zizinho<br />

Papa , Luiz Carlos Junqueira , Caio Kiehl e Luiz Vicente de Sylos . Ca<strong>da</strong> um<br />

já toman<strong>do</strong> taça de champanhe que gentilmente Eugenio Amaral oferecera .<br />

.<br />

Logo depois chegaram nossas convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s , entre elas a moça que<br />

eu tinha convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para ser meu par . Ao la<strong>do</strong> suas amigas . Estava lin<strong>da</strong><br />

naquele vesti<strong>do</strong> branco . Gostou <strong>do</strong> meu cravo na lapela . Não tive duvi<strong>da</strong> e<br />

dei para ela a flor de presente . (Por sinal tenho uma foto <strong>da</strong>quela festa . Com<br />

Zizinho e ela senta<strong>do</strong>s ao meu la<strong>do</strong> ).


Logo avistei as mesas reserva<strong>da</strong>s para a diretoria .<br />

Outras com amigos . Em sua volta muitos sócios e suas senhoras<br />

conversan<strong>do</strong> , entre eles : Herman Moraes Barros , os irmãos Doria , Arman<strong>do</strong><br />

Ferla , Silvio de Magalhães Padilha , Paulo Ribeiro , Adhemar Zacarias ,<br />

Eugenio Amaral, Caio Moura , Caja<strong>do</strong> e Luizinho de Barros e Arman<strong>do</strong><br />

Salem . Com as esposas <strong>da</strong>queles que eram casa<strong>do</strong>s estava minha grande<br />

amiga Soninha Padilha , elegante com sempre, desfilan<strong>do</strong> seus olhos claros .<br />

Em outros vários locais , sempre onde estavam muitas moças , já<br />

poderiam ser vistos : Sérgio e Aloísio Dávila , Alberto Botti , Silvinho Abreu,<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro , Didi e Adriano Gui<strong>do</strong>tti , Helinho Fuganti , Alcyr<br />

Amorim , Nico Peres Oliveira , Roberto Claro , Fernan<strong>do</strong> Ab<strong>do</strong>n , Eduar<strong>do</strong> de<br />

Paula , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Amedeo Papa , Antonio Duva , Sergio<br />

Caiubi Novaes , Rachid Jaudi , Eduar<strong>do</strong> e Marcelo Prates , Carlos Roberto<br />

Matos , Adir Villela , Alberto Andrade e muitos outros amigos .<br />

A “Novíssima Guar<strong>da</strong>” se fez presente com to<strong>da</strong> força ,<br />

representa<strong>da</strong> , entre outros , por uma garota<strong>da</strong> sadia que se não me engano<br />

ain<strong>da</strong> não tinham chega<strong>do</strong> aos 18 anos : Toninho e Armandinho Salem ,<br />

Paulinho Amaral , Luiz Cláudio Calimério , César Giuliano , Acácio “Geléia”<br />

Mancio , Sergio / Gilberto / Carlos Daccache , Beto e Osny Silveira , Flavio<br />

Guimarães, Chico “Foca” Campos , Dudu Brotero , Fernan<strong>do</strong> San<strong>do</strong>val,<br />

Fernan<strong>do</strong> Nabuco de Abreu , Guilherme Prates , Nelson Go<strong>do</strong>y , Telmo<br />

Martins e Farid Zablit. Quase to<strong>do</strong>s com as namoradinhas respectivas .<br />

Formavam lin<strong>do</strong>s pares , bem jovens .<br />

Cabe aqui destaque muito especial .<br />

Naquela época o Paulistano teve uma safra de mocinhas de<br />

extraordinária beleza . Talvez , ouso dizer , tenha si<strong>do</strong> a mais bonita que tive<br />

oportuni<strong>da</strong>de de ver . Eram muitas . E muitas naquela noite estavam presentes,<br />

elegantíssimas e alegres , enfeitan<strong>do</strong> de forma espetacular nossa festa .<br />

Não lembro agora o nome de to<strong>da</strong>s mas vou destacar : Luiza<br />

Ribeiro , Consuelo Ciampolini , Regina Coutinho , Maria Alba , Ci<strong>da</strong> Amaral,<br />

Iara Silveira e sua prima Márcia Silveira Mello , Liliane Ochialini , Lia e<br />

Maria Helena Malzoni , Apareci<strong>da</strong> Giafoni , minha prima Cândi<strong>da</strong> Marcondes<br />

de Souza , Maria Odila Marcondes <strong>da</strong> Silva , Lucia Helena Corradini , Ligia<br />

Brizola , Zaira e Zuleica Zablith , Heloisa Rodrigues Alves Accioly ,<br />

Elizabeth Fontoura Frota , Alice Bestermann , Maria Helena Ferrari Costa ,<br />

Maril<strong>da</strong> e Marisa Azeve<strong>do</strong> Marques , Tereza Salem , Dulce e Vera Serra ,<br />

Vera Scaciotta , Marisa Marcondes de Souza , Silvana Cocito ( Nabuco depois<br />

de casa<strong>da</strong> ) e Julia (lin<strong>da</strong> Julinha , cujo sobrenome húngaro até hoje não<br />

consegui apreender).


Aquela lin<strong>da</strong> safra de moças paulistas , também ocorria no<br />

Harmonia , onde encontrávamos muita beleza , entre elas : Estela Arens ,<br />

Maria Alice Costa , June e May Locke , Tina Pacheco Chaves , Regina<br />

Vazone , Elsie Cunha Bueno , Maria Ignez Whitaker , Maria Helena Fonseca ,<br />

Maria Isabel Rodrigues e Sofia Helena Pentea<strong>do</strong> . Algumas estiveram<br />

presentes naquele baile de inauguração <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Realmente São Paulo naqueles anos apresentou moças de muita<br />

beleza e elegância .<br />

INAUGURAÇÃO DE PISCINA : “A RIGOR”<br />

Voltan<strong>do</strong> agora diretamente para a Festa de Inauguração <strong>do</strong> CAP .<br />

Tu<strong>do</strong> estava e continuou perfeito naquela noite quente e de luar .<br />

Música , amigos , muitas moças lin<strong>da</strong>s , bom garçons e ótimo jantar . Até que<br />

pelas tantas o Caio Kiehl chegou dizen<strong>do</strong> que fossemos para o terraço, pois<br />

iriam inaugurar a piscina . E saiu rapi<strong>da</strong>mente .<br />

To<strong>do</strong>s ficamos curiosos . Lentamente seguimos para o terraço de<br />

onde poderíamos assistir o que aconteceria na piscina . Dali a vista era bonita<br />

e perfeita .<br />

Nem meio minuto depois Caio Kiehl estava entran<strong>do</strong> na área <strong>da</strong><br />

piscina nova . Subiu até o terceiro trampolim ( que naquele tempo existia ),<br />

gritou “Aleguá ... guá ... guá ...Paulistano !” e pulou na piscina com casaca e<br />

tu<strong>do</strong> mais que estava vestin<strong>do</strong>. Na saí<strong>da</strong> , ensopa<strong>do</strong> mas alegre , foi<br />

ovaciona<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s que presenciaram aquela “inauguração à rigor” . O que<br />

ele havia dito para Pedrinho Padilha foi cumpri<strong>do</strong> .<br />

No outro dia foi um “pereréco” para livrar o Caio de uma<br />

suspensão. Deu trabalho , pois muitos <strong>do</strong>s sócios mais velhos gostaram e<br />

acharam alegre a iniciativa , mas entendiam que a nova sede não devia<br />

começar com indisciplina . Foi cria<strong>do</strong> um impasse . Naquele “pune... não<br />

pune , não pune ...pune” , valeu a força <strong>da</strong> jovem guar<strong>da</strong> que conversou muito<br />

com os diretores. Caio não foi puni<strong>do</strong> , somente adverti<strong>do</strong> .<br />

A piscina <strong>do</strong> CAP até hoje , que eu saiba , foi a única em to<strong>do</strong><br />

Mun<strong>do</strong> inaugura<strong>da</strong> com traje à rigor .


- A FOTO DE INAUGURAÇÃO DA SEDE<br />

Na sexta feira seguinte a inauguração , conforme havíamos<br />

combina<strong>do</strong> , iríamos almoçar no novo restaurante . Em principio éramos oito<br />

mas foram chegan<strong>do</strong> mais amigos e a turma <strong>do</strong>brou . Estávamos conversan<strong>do</strong><br />

na entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> clube quan<strong>do</strong> apareceu o amigo “Velu<strong>do</strong>” com uma máquina<br />

fotográfica . Foi dizen<strong>do</strong> que precisávamos tirar uma foto como lembrança .<br />

To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> se ajeitou . E to<strong>do</strong>s saíram sorrin<strong>do</strong> na foto perfeita .<br />

Lá estavam 16 amigos : Luiz Vicente de Sylos , Luiz Carlos<br />

Junqueira Franco, Caio Kiehl , Silvio Abreu , Helinho Fuganti , Pedro Padilha,<br />

Kiko Campassi , Paulo Ribeiro , Antonio Duva Neto , Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro<br />

<strong>da</strong> Silva , Roberto Matarazzo , Roberto Claro , Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti de<br />

Albuquerque , Paulão Viana , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca e este narra<strong>do</strong>r .<br />

Dias depois ganhei uma cópia <strong>da</strong>quela foto .<br />

A vi<strong>da</strong> tem mesmo coisas estranhas . Algumas coincidentes mas<br />

estranhas . Por vezes bem tristes .<br />

Pouco tempo depois “Velu<strong>do</strong>”, que havia tira<strong>do</strong> a tal fotografia,<br />

faleceu em um acidente de automóvel . E por mais incrível que possa parecer<br />

quase to<strong>do</strong>s os demais amigos que estavam naquela foto foram morren<strong>do</strong> nos<br />

anos seguintes. Não de uma vez ,mas pouco a pouco . Detalhe importante . A<br />

maioria faleceu quan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> era muito jovem . Um por um , pelas mais<br />

diversas causas . Dos dezesseis na foto quatorze faleceram . Perdi boa parte<br />

<strong>do</strong>s meus melhores amigos , aqueles mais chega<strong>do</strong>s .<br />

- PROGRAMAS PARA A JOVEM GUARDA<br />

Com a inauguração <strong>da</strong> nova sede , logo no começo , o Paulistano<br />

ficou concorri<strong>do</strong> durante algum tempo . Isto acontecia não só pela afluência<br />

<strong>do</strong>s novos sócios como ain<strong>da</strong> pela vin<strong>da</strong> de sócios antigos , aqueles que pouco<br />

freqüentavam o CAP . To<strong>do</strong>s desejavam naquele momento conhecer as suas<br />

novas instalações .<br />

Depois de alguns meses , aparentemente sem motivo, to<strong>do</strong>s eles<br />

começaram lentamente a frequentar menos . O grande espaço de então ,<br />

existente em sua área social , começava ficar aparentemente enorme , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> a<br />

sensação de vazio , pois o numero de sócios de então era muitas vezes menor .


Não tínhamos muitos jovens freqüentan<strong>do</strong> a nova sede . Tu<strong>do</strong> estava muito<br />

bonito e funcionan<strong>do</strong> muito bem no CAP . Não existiria razão para aparente<br />

redução na freqüência <strong>do</strong>s jovens .<br />

O problema era simples . O clube havia fica<strong>do</strong> em sua antiga<br />

mesmice , que tinha si<strong>do</strong> boa para a sede velha . Agora ela não mais servia<br />

para suas novas instalações , a qual para o numero de sócios <strong>da</strong> época era<br />

grande . Na<strong>da</strong> tinha que pudesse atrair o pessoal mais jovem . A boate ocorria<br />

somente aos sába<strong>do</strong>s , sempre reserva<strong>da</strong> e ocupa<strong>da</strong> por pessoas mais velhas.<br />

O salão de jogos era basicamente destina<strong>do</strong> para pessoas mais velhas . O lin<strong>do</strong><br />

bar <strong>do</strong> 1º an<strong>da</strong>r foi apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de “La Tristesse”. Ali somente algumas mesas<br />

eram ocupa<strong>da</strong>s por senhores , discutin<strong>do</strong> “o não sei que”, no fim <strong>da</strong>s tardes e<br />

começo <strong>da</strong>s noites . Depois ficava praticamente vazio .<br />

O clube estava na reali<strong>da</strong>de com uma mentali<strong>da</strong>de conserva<strong>do</strong>ra<br />

excessiva . Parecia um clube inglês reserva<strong>do</strong> para “Lordes <strong>da</strong> Era<br />

Victoriana”.<br />

Alem <strong>do</strong> mais , e por isto mesmo , as festas e programações em<br />

outros clubes , principalmente nas duas Hípicas , no Harmonia e Clube de<br />

Campo eram sempre muito freqüenta<strong>da</strong>s pelos jovens <strong>do</strong> Paulistano . Elas<br />

eram realiza<strong>da</strong>s para moços e moças . Tinham muito sucesso .<br />

Os rapazes <strong>do</strong> CAP, como não tinham mais na<strong>da</strong> alem <strong>do</strong> que<br />

esportes para praticar , sem nenhuma programação especial <strong>do</strong> Paulistano ,<br />

começaram a viajar nos finais de semana para as praias de São Vicente ,<br />

Santos e Guarujá .<br />

A diretoria evidentemente sentia este fato .<br />

Em Agosto de 1960 , depois de um grande problema que tive com<br />

um diretor <strong>do</strong> CAP , em um fim de tarde , Pedro Padilha - nosso Diretor<br />

Social, , nos procurou . Estávamos em grupo de dez amigos conversan<strong>do</strong> no<br />

bar térreo . Ele expôs o problema e pediu que indicássemos um Representante<br />

<strong>da</strong> “Jovem Guar<strong>da</strong>” para fazer parte <strong>da</strong> sua Diretoria . Este participante na<br />

Diretoria Social iria com ele programar uma Série de Eventos para o pessoal<br />

mais jovem . Seria necessário e teria to<strong>do</strong> o apoio possível .<br />

Meus amigos , para minha surpresa , indicaram meu nome por<br />

unanimi<strong>da</strong>de . Aceitei o convite .<br />

Naquela mesma noite nos reunimos em sua sala . Dei minhas idéias<br />

que coincidiam com as <strong>do</strong> Pedrinho . Eram na reali<strong>da</strong>de as idéias de to<strong>do</strong>s os<br />

sócios . Bastava ter apoio e coloca-las em pratica .<br />

Em uma coisa somente fiz firme questão : Não bastariam eventos<br />

isola<strong>do</strong>s . Era necessário continui<strong>da</strong>de para criar uma aura de alegria , de festa<br />

e de programação continua para os jovens . Como conseqüência criaríamos a


vontade de ir para o Paulistano . Principalmente de forma continua na área<br />

social . Pedro discutiu bastante este item mas no fim acabou concor<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

plenamente .<br />

A primeira coisa que fizemos foi desenvolver um Chá Dançante<br />

que só ocorria as vezes em tardes de <strong>do</strong>mingo .Resolvemos que seria sempre<br />

em to<strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo . E não mais terminaria muito ce<strong>do</strong> . Começaria as 17,00<br />

horas e terminaria as 23,00 . Seria realiza<strong>do</strong> aproveitan<strong>do</strong>-se a Pista Ilumina<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> Térreo e o grande espaço com mesas que ali então tínhamos .<br />

O sucesso foi absoluto . Virou programa fixo para to<strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo .<br />

Foi aquele evento apeli<strong>da</strong><strong>do</strong> de “Mingau Dançante”, pois até jovens de 16<br />

anos poderiam participar e <strong>da</strong>nçar . Para o “ Mingau Dançante” não existia<br />

reserva de mesas e a entra<strong>da</strong> era para sócios e convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

Ao mesmo tempo , ou melhor dito logo depois , criamos a “Boate<br />

Jovem”. Ela aconteceria to<strong>da</strong> sexta feira . Teríamos sempre um artista , cantor<br />

ou cantora de sucesso , como atração . Pedro Padilha ficou preocupa<strong>do</strong> com os<br />

custos , mas demonstrei que a reserva <strong>da</strong>s mesas pagaria o “cachê” <strong>do</strong> artista<br />

e que o consumo crescente absorveria os custos fixos com garçons e<br />

emprega<strong>do</strong>s .<br />

Desde o primeiro dia foi sucesso pois foi permiti<strong>da</strong> a entra<strong>da</strong> de<br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . A reserva de mesa começou a ser intensamente disputa<strong>da</strong> . Desta<br />

forma muita moça bonita <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulista e gente nova , que ganhava<br />

importância na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, começaram a vir para o Paulistano . Ali<br />

começaram muitos namoros que terminaram em casamento .<br />

Ca<strong>da</strong> <strong>do</strong>is meses aconteceria um Baile no Salão de Festas <strong>do</strong> 2º<br />

an<strong>da</strong>r . Para este acontecimento teríamos sempre a presença de um artista de<br />

sucesso , muitas vezes internacional . Como tínhamos muitas mesas , as<br />

reservas de lugares , <strong>da</strong> mesma forma que na boate , pagariam os custos .<br />

Desta forma até Samy Davies Junior e Ella Fitzgerald cantaram em nosso<br />

clube . Aproveitávamos as “beira<strong>da</strong>s de suas apresentações” na ci<strong>da</strong>de . Assim<br />

o custo ficava razoável<br />

Quan<strong>do</strong> chegou o verão realizamos um Baile de Pré-Carnavalesco<br />

à Fantasia , com escola de samba e tu<strong>do</strong> mais . Teve também enorme sucesso,<br />

sain<strong>do</strong> muitas fotos e noticias <strong>da</strong> festa em to<strong>do</strong>s jornais .<br />

Começamos , durante os dias <strong>da</strong> semana , a levar para o bar <strong>do</strong> 1º<br />

an<strong>da</strong>r as nossas “paquerinhas”, as namora<strong>da</strong>s e to<strong>da</strong>s moças amigas .<br />

Naquele tempo muitas vezes acompanha<strong>da</strong>s de amigas , de irmãos , irmãs e<br />

até de tias , pais e mães . Não importava . O que interessava é que aquele bar<br />

nos proporcionava a possibili<strong>da</strong>de de mais um encontro . Antes muito difícil .<br />

Ali , nas outras mesas , também estariam na mesma forma nossos amigos e<br />

amigas . Quem estava sozinho também ia , pois sempre existia a possibili<strong>da</strong>de


de conhecer e paquerar “alguém que acompanhava alguém” . O “La Tristesse”<br />

ficou alegre .<br />

Pedro Padilha aju<strong>do</strong>u a implementar os “Torneios de Buraco” e<br />

enviamos convites para sócios de outros clubes e melhoran<strong>do</strong> os prêmios . Foi<br />

um grande sucesso . Lembro bem que certo dia , em um destes torneios ,<br />

Jacques Zirles e sua parceira ( depois esposa) Tereza Salem , antes mesmo <strong>da</strong><br />

contagem final de pontos, entenderam que não haviam consegui<strong>do</strong><br />

classificação e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> boa noite se foram . Para surpresa nossa eles estavam<br />

classifica<strong>do</strong>s . Solicitei que o torneio ficasse suspenso por alguns minutos pois<br />

eu iria , com Luiz Vicente , buscar o casal na residência <strong>do</strong>s Salem que ficava<br />

na Av. Paulista . Chegamos primeiro que eles .<br />

Pois bem , eles voltaram e foram os ganha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> torneio .<br />

To<strong>da</strong> e qualquer <strong>da</strong>s nossas promoções sociais começaram a ter<br />

sempre muito sucesso . Até mesmo , em um dia em que a boate estava em<br />

acertos e concertos , realizamos o que estava programa<strong>do</strong> para ela no<br />

“Mezanino <strong>do</strong> 2º an<strong>da</strong>r” . Agra<strong>do</strong>u , apesar <strong>do</strong> calor que se fez naquele lugar .<br />

A companhia <strong>do</strong>s amigos e convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s era muito mais importante .<br />

Para tanto contávamos com a constante aju<strong>da</strong> e colaboração de<br />

to<strong>do</strong>s , principalmente <strong>do</strong> Junqueira , Caio , Luiz Vicente e Duva . Eles<br />

sempre diziam para nossos amigos : “ O que você tiver que fazer de bom faça<br />

sempre dentro <strong>do</strong> Paulistano”.<br />

O apoio de Ricar<strong>do</strong> Amaral e principalmente <strong>do</strong> Zé Tavares de<br />

Miran<strong>da</strong> , em suas colunas sociais , divulgan<strong>do</strong> fotos e noticias foi<br />

fun<strong>da</strong>mental .<br />

Minha última participação na Diretoria Social ocorreu com<br />

realização <strong>da</strong> Festa Junina de 1963 . Aquela ocupação , para ter bons<br />

resulta<strong>do</strong>s, necessitava de muito tempo , dedicação e cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s .<br />

Naquela ocasião , eu que já trabalhava como advoga<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Secretaria <strong>do</strong> Trabalho , passei a ser Assessor Jurídico de seu Secretário –<br />

Deputa<strong>do</strong> Antonio Morimoto . Além <strong>do</strong> mais estu<strong>da</strong>va Administração de<br />

Empresas . Tempo ficou coisa muito difícil para se conseguir , principalmente<br />

durante o dia , quan<strong>do</strong> o planejamento e providencias sociais para o CAP<br />

normalmente ocorriam .<br />

Falei com Padilha e acertamos que Caio Kiehl iria para meu lugar .<br />

Sai contente pois tinha cumpri<strong>do</strong> o que planejáramos e implanta<strong>do</strong><br />

com sucesso uma nova e contínua programação para a jovem guar<strong>da</strong> .


BRIGANDO COM UM MAU CARATER<br />

Aquela foi uma época alegre . Entretanto , um pouco antes de<br />

participar <strong>da</strong> Diretoria Social <strong>do</strong> CAP tive sério problema com um antigo<br />

membro <strong>da</strong> sua Diretoria . Guar<strong>do</strong> comigo um sério acontecimento aconteci<strong>do</strong><br />

em Abril de 1.960. O caso ocorri<strong>do</strong> foi o seguinte :<br />

- A minha namora<strong>da</strong> de então – Márcia Silveira Mello - foi<br />

convi<strong>da</strong><strong>da</strong> para aquelas festivi<strong>da</strong>des em Brasília . Na volta trouxe uma<br />

lembrança que me foi entregue no Salão Social <strong>do</strong> CAP . Em agradecimento<br />

dei lhe um beijo no rosto , com o maior respeito e na presença de amigos .<br />

Não é que , um minuto depois , veio um emprega<strong>do</strong> <strong>do</strong> clube ,<br />

devi<strong>da</strong>mente uniformiza<strong>do</strong> interpelar e informar que estávamos sen<strong>do</strong><br />

inconvenientes . Fiquei realmente revolta<strong>do</strong> com aquela insolência . Na<strong>da</strong> de<br />

mais ocorrera . E o pior . A perseguição não parou por ali .<br />

Quan<strong>do</strong> nos despedimos , mais uma vez , ain<strong>da</strong> na presença de<br />

vários amigos e amigas presentes , dei , como fazia sempre , um novo beijo no<br />

rosto de Marcia.<br />

Pois bem , no outro dia , um saba<strong>do</strong> , logo pela manhã Márcia me<br />

telefonou informan<strong>do</strong> que , através de carta , fora suspensa <strong>do</strong> Paulistano :<br />

“Por atitude indecorosa no Salão Social ” . Fiquei aturdi<strong>do</strong> .<br />

Então , logo em segui<strong>da</strong> , minha irmã Marisa trouxe uma carta,<br />

com o timbre <strong>do</strong> CAP , em meu nome . Abri a tal carta . Eu também estava<br />

receben<strong>do</strong> a mesma suspensão , pelo mesmo motivo .<br />

Não tive duvi<strong>da</strong>s . Foi tempo de correr para o Paulistano e lá<br />

chegan<strong>do</strong> procurar e encontrar Pedro Padilha . Ele , ain<strong>da</strong> estava na portaria ,<br />

confirmou a suspensão que foi realiza<strong>da</strong> por ordem de Carlos Wild , diretor <strong>do</strong><br />

clube . Ele era nota<strong>do</strong> por seu tipo avermelha<strong>do</strong> , com um bigode ruivo de<br />

pontas levanta<strong>da</strong>s , sempre queren<strong>do</strong> demonstrar superiori<strong>da</strong>de .<br />

Na ocasião , indigna<strong>do</strong> , contei ao Pedro tu<strong>do</strong> que ocorrera ,<br />

afirman<strong>do</strong> que aquela suspensão era absur<strong>da</strong> . Ele concor<strong>do</strong>u comigo mas<br />

informou que , naquele momento , naquele instante , só Carlos Wild poderia<br />

rever a punição que havia <strong>da</strong><strong>do</strong> . Não esperei mais na<strong>da</strong> . Consegui logo em<br />

segui<strong>da</strong> seu endereço e fui imediatamente para sua casa . Ficava na Aveni<strong>da</strong><br />

Brigadeiro Luiz Antonio , perto <strong>da</strong> Av. Paulista .<br />

Para que não houvessem duvi<strong>da</strong>s , naquilo que eu iria falar com<br />

ele, levei comigo Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti .<br />

Chegamos e fomos atendi<strong>do</strong>s , junto as grades <strong>do</strong> muro e <strong>do</strong><br />

portão de ferro , que por sinal nem foi aberto , por um emprega<strong>do</strong> . Ele<br />

informou que o sr. Carlos não estava . Naquele mesmo instante percebi que ,<br />

pela fresta na cortina <strong>da</strong> janela <strong>da</strong> frente , ele nos olhava , semi escondi<strong>do</strong> .


Insisti em com ele falar . O emprega<strong>do</strong> , devi<strong>da</strong>mente instruí<strong>do</strong> , se retirou <strong>do</strong><br />

jardim e fechou a porta <strong>da</strong> casa .<br />

Fiquei realmente ofendi<strong>do</strong> e disse em voz bem alta , para que ele<br />

ouvisse , que aquilo não iria ficar nem terminar assim .<br />

- CASAMENTO : ARTUR CASTILHO E ANNE MARIE PENTEADO<br />

Naquela mesma noite estava ocorren<strong>do</strong> o casamento de meu<br />

amigo Artur Castilho de Ulhoa Rodrigues com Anne Marie Pentea<strong>do</strong> , filha <strong>do</strong><br />

Conde Pentea<strong>do</strong> . Eu não poderia faltar . Fui para a festa , na Aveni<strong>da</strong><br />

Higienópolis esquina de Itambé , muito aborreci<strong>do</strong> com o problema<br />

aconteci<strong>do</strong> no Paulistano .<br />

Logo que chequei fui interpela<strong>do</strong> , sobre a suspensão <strong>do</strong> CAP, por<br />

vários amigos , amigas e conheci<strong>do</strong>s . Contei o fato e o que pretendia fazer<br />

com aquele idiota pretensioso . O amigo Junqueira , que fora uma <strong>da</strong>s<br />

testemunhas <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> , confirmou ca<strong>da</strong> detalhe . To<strong>do</strong>s acharam absur<strong>do</strong> e<br />

mesmo uma afronta e indigni<strong>da</strong>de com uma moça de socie<strong>da</strong>de .<br />

Ouvin<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> aquilo Soninha Padilha foi até seu pai . Voltou logo<br />

em segui<strong>da</strong> e disse que ele desejava falar comigo .<br />

Por ela fui leva<strong>do</strong> até Silvio de Magalhães Padilha , naquela época<br />

um dirigente maior <strong>do</strong> Paulistano . Estava na mesa com o Conde Pentea<strong>do</strong> .<br />

Convi<strong>do</strong>u-me para sentar e então relatar o aconteci<strong>do</strong> .<br />

Fui direto ao assunto , falan<strong>do</strong> bem baixinho para não chamar<br />

atenção e não atrapalhar a festa . Contei tu<strong>do</strong> com detalhes , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> inclusive<br />

os nomes <strong>da</strong>s minhas várias testemunhas . Finalizei dizen<strong>do</strong> : - “ Enten<strong>do</strong> que<br />

agora o caso saiu <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> <strong>do</strong> Paulistano e passou a ser coisa pessoal de um<br />

cavalheiro ofendi<strong>do</strong> contra uma pessoa que não mais merece meu respeito .<br />

Ele poderia até eliminar minha pessoa <strong>do</strong> Club, mas mexer com a<br />

honra de uma moça , inclusive minha namora<strong>da</strong> , para mim foi demais . Alem<br />

<strong>do</strong> que teve a petulância de chamar expressamente , aquele beijo no rosto , de<br />

ato indecoroso pratica<strong>do</strong> em público . Além de calunia , difamação e covardia<br />

ain<strong>da</strong> feria a digni<strong>da</strong>de de uma moça de família .<br />

Deixei claro que agora o assunto é de minha alça<strong>da</strong> . Deixei claro<br />

também que , to<strong>da</strong> vez que com ele encontrasse , ele teria de brigar comigo.<br />

Tentaria bater naquele covarde com to<strong>da</strong>s minhas forças . Não seria só uma<br />

vez , mas em to<strong>da</strong>s que eu o encontrasse . To<strong>da</strong> vez !<br />

Não é possível esperar na<strong>da</strong> de melhor neste caso .<br />

Pedi desculpas pelo meu desabafo mas digni<strong>da</strong>de e honra não<br />

podem ter tratamento de outra maneira” .


O Major Padilha e Conde Pentea<strong>do</strong> ouviram tu<strong>do</strong> gentilmente e<br />

com muita atenção. Então Major Padilha pediu para que na<strong>da</strong> eu fizesse , pois<br />

no outro dia , logo de manhã , trataria <strong>do</strong> caso . Iria tentar acertar as coisas .<br />

Naquele instante Soninha passou , pegou meu braço e me levou<br />

para <strong>da</strong>nçar. Sabia também que O Major Padilha tinha leva<strong>do</strong> a sério tu<strong>do</strong><br />

que eu pretendia realmente fazer . Ele conhecia bem minha palavra e percebeu<br />

que eu não estava de brincadeira . Eu nunca brincava com a honra .<br />

Independente <strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> a festa foi realmente <strong>da</strong>s mais bonitas .<br />

No outro dia , ain<strong>da</strong> na parte <strong>da</strong> manhã , lá pelas 10,30 horas ,<br />

recebi um telefonema <strong>da</strong> secretária <strong>do</strong> Paulistano. Informava que a tal<br />

“Suspensão” não mais existia , que na<strong>da</strong> ficaria grava<strong>do</strong> nos arquivos e que já<br />

poderíamos , eu e Márcia , continuar freqüentan<strong>do</strong> normalmente o clube .<br />

Pediu que fosse esqueci<strong>do</strong> o caso e que eu não tomasse nenhuma<br />

medi<strong>da</strong> contra aquele diretor .<br />

Respondi que poderiam ficar tranqüilos que na<strong>da</strong> iria acontecer .<br />

Justiça havia si<strong>do</strong> feita e que o fato servira para se conhecer pessoas . Pedi<br />

para agradecer ao Major Padilha , em meu nome e no de Márcia .<br />

Fiquei alivia<strong>do</strong> e liguei para ela contan<strong>do</strong> a boa nova .<br />

O final de tu<strong>do</strong> foi feliz . Lembrei <strong>do</strong> que meu pai dizia :<br />

-“Um pouco de justa valentia, na hora certa , faz parte <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de.<br />

Sempre mantém ou cria muito respeito !”


“BAILES DE FORMATURA e OUTRAS FESTAS”<br />

Edu Marcondes<br />

“Furar os Bailes de Formatura – Suas brigas ” - “Calcinhas”- A Briga<br />

que não aconteceu – “Margari<strong>da</strong> Engoma<strong>da</strong>”- A Turma <strong>da</strong> Barão - Um<br />

Jeito Diferente de Ser : Oswal<strong>do</strong> Vidigal<br />

Alem <strong>da</strong>s festas realiza<strong>da</strong>s em casas de famílias e nos clubes ,<br />

existiam no final de ca<strong>da</strong> ano , os tradicionais bailes de formatura . Ocorriam<br />

em vários salões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo , durante to<strong>do</strong> mês de Dezembro .<br />

Eles eram muito concorri<strong>do</strong>s e a procura de convites acontecia .<br />

Naquela época no final de ca<strong>da</strong> ano , durante a noite , praticamente<br />

to<strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> somente saia trajan<strong>do</strong> rigor – “Smoking , Summer ou Dinner<br />

Jack” . Moças , para aquelas festas , usavam vesti<strong>do</strong>s longos . Isto era<br />

necessário para participar <strong>da</strong>queles bailes que comemoravam não só o termino<br />

de uma facul<strong>da</strong>de mas também o encerramento <strong>do</strong> ciclo ginasial ou colegial .<br />

To<strong>da</strong> escola de gabarito tinha seu “Baile de Forman<strong>do</strong>s” . Ca<strong>da</strong> um<br />

deles com seus forman<strong>do</strong>s e suas famílias respectivas , sempre ocupan<strong>do</strong> uma<br />

mesa posta ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> salão.<br />

No meio desta Festivi<strong>da</strong>de de Formatura existia uma tradição . As<br />

Três Valsas de Formatura . A primeira era <strong>da</strong>nça<strong>da</strong> com o pai ou a mãe <strong>do</strong><br />

forman<strong>do</strong>. A segun<strong>da</strong> com irmão ou irmã . A terceira era com namora<strong>do</strong> ou<br />

namora<strong>da</strong> . Quem não os tivesse deveria arranjar amigo ou amiga para esta<br />

última valsa .<br />

.<br />

Nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano sempre recebia convites . Quan<strong>do</strong> não<br />

recebia o jeito era tentar “furar o baile”, entran<strong>do</strong> sem convite mediante<br />

conversa com porteiros ou arruman<strong>do</strong> um convite . “ Por vezes especial”.<br />

Muitas vezes era fácil quan<strong>do</strong> o mesmo ocorria no salão <strong>do</strong><br />

Paulistano . Com muito jeito e silencio pulávamos o muro e logo<br />

encontrávamos a “fortaleza <strong>do</strong> Euclides” com mais de 100 kilos de<br />

musculatura . Ele era a segurança que ficava <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de fora <strong>da</strong> sede . Era um<br />

amigão de to<strong>da</strong>s as horas e principalmente <strong>da</strong>s noites de bailes . Durante o dia<br />

era ele quem tomava conta <strong>do</strong> vestiário <strong>do</strong> tênis . Gostava <strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

clube . Bastava um abraço e lá íamos nós para o baile .<br />

Em outros clubes era muito mais difícil , mas sempre arrumávamos<br />

uma maneira para entrar no baile . As vezes demorava um tempinho .


O “Campeão de Furar Bailes de Formatura” sempre foi o Chiquinho<br />

“Foca” Campos . Dr. Francisco Campos como ele hoje gosta de ser chama<strong>do</strong> .<br />

Uma de suas façanhas acontecia quan<strong>do</strong> o baile era realiza<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

“Homs Clube” . A Entra<strong>da</strong> Principal <strong>do</strong> Baile era junto a sede <strong>do</strong> Clube .<br />

Antes desta entra<strong>da</strong> ficava um compri<strong>do</strong> e largo jardim , com um portão de<br />

ferro separan<strong>do</strong> a rua <strong>da</strong>quela proprie<strong>da</strong>de . Aquele portão junto a Aveni<strong>da</strong><br />

Paulista estava sempre aberto . Era naquele local , que nunca foi “Portaria <strong>do</strong><br />

Homs”, que Chiquinho atuava com maestria .<br />

Com a maior serie<strong>da</strong>de se postava junto ao portão , muito<br />

empertiga<strong>do</strong> . Esperava chegar um grupo de pessoas e com a voz imposta<strong>da</strong><br />

dizia : - “Convites por favor”. Ninguém tinha duvi<strong>da</strong>s e to<strong>do</strong>s entregavam seus<br />

convites . Recebiam então <strong>do</strong> Chiquinho votos de : “Um bom baile” .<br />

Enquanto eles se encaminhavam para a portaria ver<strong>da</strong>deira , onde os<br />

convites deveriam ser recebi<strong>do</strong>s devi<strong>da</strong>mente , Chiquinho saia de fininho <strong>do</strong><br />

local e se encaminhava para longe , onde estavam os amigos .<br />

Então eram só risa<strong>da</strong>s , alegria e espera de um tempo para to<strong>do</strong>s<br />

seguirem para o baile , com os convites em mãos ... Lógico !<br />

Houve uma ocasião que na mesma postura ele atendeu cinco<br />

pessoas. Ao solicitar os convites foi informa<strong>do</strong> pelos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s que tinham<br />

apenas três convites e pediam para ele <strong>da</strong>r um “jeitinho”, deixan<strong>do</strong> também<br />

entrar os outros <strong>do</strong>is , mesmo sem convites . Com a mesma voz imposta<strong>da</strong><br />

Chiquinho disse que desta vez tu<strong>do</strong> bem ... e man<strong>do</strong>u-os para a portaria onde<br />

realmente o convites deveriam ser entregues . Ain<strong>da</strong> disse : “... mas que o<br />

fato não se repita ! ” E foi embora rapi<strong>da</strong>mente , levan<strong>do</strong> com ele os três<br />

convites para os amigos ...<br />

- “ CALCINHAS”<br />

Um fato diferente e inusita<strong>do</strong> aconteceu em uma destas festas de<br />

formatura à rigor . Foi o único caso que assisti em to<strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> .<br />

Aconteceu na “<strong>Casa</strong> de Portugal”.<br />

Estas festas aconteciam sempre com rapazes de “smoking” e moças<br />

de vesti<strong>do</strong> longo . Então em uma destas festas aconteceu .<br />

Jujuba Moreira <strong>da</strong> Costa namorava uma mocinha que se formava<br />

na ocasião . Vamos chama-la de Leticia X . Fica assim combina<strong>do</strong> ! Letícia !<br />

Ele tinha si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para <strong>da</strong>nçar as duas últimas valsas , não só aquela<br />

terceira que era destina<strong>da</strong> aos namora<strong>do</strong>s mas também a segun<strong>da</strong> , que era <strong>do</strong><br />

irmão . Leticia não tinha irmãos .<br />

Assim foram os pares para o salão .<br />

Quan<strong>do</strong> as três valsas acabaram e os pares se retiravam , não mais <strong>do</strong><br />

que derrepente , apareceu um pequeno pano branco caí<strong>do</strong> no meio <strong>do</strong> salão .


Um rapaz deu um chute naquele pano tentan<strong>do</strong> man<strong>da</strong>-lo para<br />

debaixo de uma mesa . Deu o chute mas o tal pano branco , que tinha buracos ,<br />

ficou preso no seu sapato . Ele tentou retirar o tal pano , levantan<strong>do</strong> a perna<br />

que mantinha o pano preso . Sacudiu a perna ! Na<strong>da</strong> se sair ...<br />

Foi <strong>da</strong>n<strong>do</strong> pequenos chutes no ar , mas o pano não saia . O seu<br />

sapato havia realmente entra<strong>do</strong> em um <strong>do</strong>s buracos <strong>da</strong>quele pano . Depois de<br />

algum esforço conseguiu retirar o pano branco <strong>do</strong> sapato .<br />

O rapaz ficou vermelho pois muita gente estava olhan<strong>do</strong><br />

atentamente . Mas ele agora estava alivia<strong>do</strong> . Saiu rapidinho ...<br />

Na reali<strong>da</strong>de ele tinha se livra<strong>do</strong> de uma peça de vestuário feminino.<br />

Uma calcinha feminina !<br />

Quan<strong>do</strong> nós olhamos o tal pano , com maior atenção , notamos que<br />

era realmente uma calcinha de mulher , muito branca , ren<strong>da</strong><strong>da</strong> e de fino<br />

algodão . Foi só risa<strong>da</strong>s . E muitas pia<strong>da</strong>s no meio de muitas conjeturas . Na<br />

reali<strong>da</strong>de alguma menina “Perdeu as Calcinhas” ou as deixou cair em pleno<br />

baile de formatura .<br />

Comentários : To<strong>do</strong>s possíveis ...com muito riso !<br />

Daí a pouco chegou o Jujuba Moreira <strong>da</strong> Costa . Inteiramente<br />

preocupa<strong>do</strong> , afoguea<strong>do</strong> e meio nervoso . Chamou os amigos de la<strong>do</strong> e foi<br />

falan<strong>do</strong> muito baixinho . Contou o seguinte :<br />

“ Estávamos <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> subitamente a “Leticia X” ( assim vai<br />

ser chama<strong>da</strong> para não ser identifica<strong>da</strong> ) foi informan<strong>do</strong> , imensamente cora<strong>da</strong><br />

no momento , que o elástico <strong>da</strong> sua calcinha tinha se rompi<strong>do</strong> . Ela disse ain<strong>da</strong><br />

que a dita cuja estava cain<strong>do</strong> , pois já estava bem abaixo <strong>do</strong> seu quadril “.<br />

Pedi para ela que continuasse <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> , bem devagar , pois a valsa<br />

já estava terminan<strong>do</strong> e seria muito ruim para nós <strong>do</strong>is saírmos naquele instante<br />

em que estava terminan<strong>do</strong> a segun<strong>da</strong> valsa .<br />

Disse ain<strong>da</strong> que no meio de to<strong>do</strong>s aqueles pares ela , calcinha , não<br />

seria vista inicialmente . Pior seria se , no caminho de saí<strong>da</strong>, a tal calcinha<br />

caísse na pista de <strong>da</strong>nças , em frente de to<strong>do</strong>s .<br />

Caso caísse no salão muito cheio ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>ria para disfarçar .<br />

Então continuamos por mais um momento . Logo depois Letícia<br />

informou que estava com a calcinha nos seus tornozelos atrapalhan<strong>do</strong> a <strong>da</strong>nça.<br />

Pedi que ela ficasse para<strong>da</strong>. Apenas fingíamos que <strong>da</strong>nçávamos<br />

movimentan<strong>do</strong> ombros e braços . Desta forma ela teve o tempo necessário .<br />

Pisou em um la<strong>do</strong> <strong>da</strong> calcinha , então levantou um pé que saiu <strong>da</strong>quela<br />

armadilha . Depois com o outro empurrou-a para o la<strong>do</strong> .<br />

Com a calcinha solta no meio <strong>do</strong> salão , totalmente aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> ,<br />

continuamos valsan<strong>do</strong> até o final ”.


Vicente de Sylos ia fazer uma pia<strong>da</strong> mas em tempo puxei a aba de<br />

seu paletó . Jujuba estava gostan<strong>do</strong> realmente <strong>da</strong> tal Leticia .<br />

Perguntei apenas onde estava agora seu par .<br />

Como resposta Jujuba informou : “ ... Foi buscar em casa uma nova<br />

calcinha . Claro!”<br />

- BRIGAS NOS BAILES<br />

Naqueles bailes de formatura , com muitas pessoas de vários bairros<br />

e clubes diferentes , acontecia algumas vezes que <strong>do</strong>is ou mais rapazes , de<br />

outras turmas , se estranharem com os nossos amigos .<br />

Então , quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> , sempre na saí<strong>da</strong> <strong>do</strong> baile , brigas<br />

aconteciam . Caso estivessem envolvi<strong>do</strong>s rapazes <strong>do</strong> Paulistano não tinha<br />

moleza para ninguém . Tu<strong>do</strong> era resolvi<strong>do</strong> <strong>do</strong> nosso jeito . Para variar a nossa<br />

turma quase sempre era chama<strong>do</strong> para aquele tipo de “<strong>da</strong>nça” .<br />

Naquele tempo brigar era quase um esporte .<br />

Brigavam com um adversário . Não com um inimigo .<br />

Hoje a moral , com muita gente não paulista , mu<strong>do</strong>u . Agora não<br />

mais se briga . Querem é matar .<br />

No nosso tempo , depois <strong>da</strong>s brigas , chegávamos até a conversar<br />

com os adversários e tu<strong>do</strong> ficava bem resolvi<strong>do</strong> . O máximo que podia suceder<br />

era um olho roxo e um lábio incha<strong>do</strong> para ca<strong>da</strong> la<strong>do</strong> . A turma <strong>do</strong> “deixa<br />

disto”sempre chegava a tempo .<br />

Hoje em dia teria graves conseqüência . O espírito é outro .<br />

Atualmente existe muita mal<strong>da</strong>de dentro de muitos. Brigas agora não tem<br />

apenas aspectos de disputa . Por isto mesmo têm graves e funestas<br />

conseqüências . É só ler os jornais .


A BRIGA QUE NÃO ACONTECEU<br />

Por falar em brigas vou agora falar de uma “Grande Briga” .<br />

Não era em um baile de Formatura .<br />

A Grande Briga nunca aconteceu . Entretanto foi programa<strong>da</strong> .<br />

O que aconteceu : - Maria Rosa Lima Conra<strong>do</strong> começou a<br />

freqüentar o Paulistano e gostou <strong>da</strong> nossa gente . Um dia resolveu <strong>da</strong>r uma<br />

festa , comemoran<strong>do</strong> seu aniversário, em sua casa que ficava , se não me<br />

engano , na Rua Traipú ( Pacaembu / Perdizes) .<br />

Convi<strong>do</strong>u praticamente apenas sócios e sócias <strong>do</strong> Paulistano e<br />

algumas amigas, apesar de ter inúmeros conheci<strong>do</strong>s na região onde residia .<br />

Era sua forma de demonstrar satisfação , pelo acolhimento que teve e tinha no<br />

CAP. A festa seria para o pessoal <strong>do</strong> Paulistano .<br />

A turma <strong>da</strong>s Perdizes, conheci<strong>da</strong> de Maria Rosa , tomou<br />

conhecimento <strong>da</strong> programação <strong>da</strong>quela festa , para qual não seria convi<strong>da</strong><strong>da</strong> .<br />

Não gostou na<strong>da</strong> . Resolveram que iriam acabar com a festa .<br />

Hélinho Fuganti que morava na Rua Car<strong>do</strong>so de Almei<strong>da</strong> , não sei<br />

como soube <strong>da</strong>quela intenção e informou a má pretensão <strong>da</strong>quela gente .<br />

Apesar de ficar preocupa<strong>da</strong> Maria Rosa recebeu nossa garantia que<br />

na<strong>da</strong> iria acontecer , pois que lá estaríamos : “para o que der e vier”.<br />

No sába<strong>do</strong> , antes <strong>da</strong> festa , nos reunimos no Paulistano pois<br />

havíamos resolvi<strong>do</strong> que iríamos to<strong>do</strong>s juntos . Resolvemos que qualquer<br />

desentendimento com a turma <strong>da</strong>s Perdizes , grande por sinal , somente<br />

ocorreria fora <strong>da</strong> casa .<br />

No dia marca<strong>do</strong> , por volta de oito e trinta , partimos em vários<br />

carros . Lembro bem que lá estavam , entre outros mais , Roberto Claro , Otto<br />

Bendix , Hélio Fuganti , Caio Kiehl , Luiz Carlos Junqueira Franco , Luiz<br />

Vicente de Sylos , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Fritz Dórey, Urbano Camargo ,<br />

Ulisses Paes de Barros , “Velu<strong>do</strong>” , Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , Dácio Ragazzo<br />

Hélio Fugantti e Alcyr Amorim .<br />

A casa era muito bonita , com lin<strong>do</strong> jardim e grande pátio interno,<br />

liga<strong>do</strong> a parte social , própria para festas .<br />

Um conjunto , com piano , bateria e contrabaixo , já começara a<br />

tocar quan<strong>do</strong> chegamos . Alem disso encontramos muitas moças que até então<br />

desconhecíamos . Bom para ver e paquerar .<br />

Como a noite era de luar a festa prometia muito .


Mal ela começou e subitamente to<strong>da</strong>s as lâmpa<strong>da</strong>s <strong>da</strong> casa se<br />

apagaram . Pensamos que era um corte de luz momentâneo . Os <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> casa<br />

acenderam algumas velas esperan<strong>do</strong> o retorno <strong>da</strong> força elétrica .<br />

Cinco minutos depois um vizinho veio informar que um carro , com<br />

a placa coberta , chegou até o poste <strong>da</strong> esquina . Os ocupantes <strong>do</strong> carro<br />

desceram , passaram uma cor<strong>da</strong> por cima <strong>do</strong>s fios elétricos , amarraram as<br />

pontas <strong>da</strong> cor<strong>da</strong> no pára-choque traseiro <strong>do</strong> veiculo e foram embora . Com isto<br />

os fios se partiram e não mais existia luz em to<strong>do</strong> quarteirão .<br />

Com os telefonemas para Light , contan<strong>do</strong> o ocorri<strong>do</strong> , tivemos<br />

informação que a força somente poderia voltar no mínimo em três horas .<br />

Maria Rosa , meio chorosa , achou que sua festa estava acaban<strong>do</strong> .<br />

Não estava . Iria apenas começar . Saímos em busca de velas nas<br />

pa<strong>da</strong>rias, empórios e merca<strong>do</strong>s <strong>da</strong> região . Tivemos sorte pois aqueles<br />

estabelecimentos, ain<strong>da</strong> abertos , fechariam logo depois , por volta <strong>da</strong>s 22/23<br />

horas .<br />

Em pouco tempo tínhamos um monte de velas , de to<strong>do</strong>s os tipos, de<br />

to<strong>da</strong>s as cores e to<strong>do</strong>s tamanhos . Velas para durar até o amanhecer .<br />

Como naquele tempo os instrumentos <strong>do</strong> conjunto não eram elétricos<br />

ou eletrônicos , música não faltaria .<br />

Então pela primeira vez participamos de uma festa à luz de velas .<br />

Somente com luz de velas . Tu<strong>do</strong> por ali ficou muito mais bonito e<br />

romântico . Dançar no pátio sob luar e ao brilhar <strong>da</strong>quelas pequenas luzes foi<br />

encanta<strong>do</strong>r , principalmente porque foi possível <strong>da</strong>nçar bem mais juntinho<br />

naquela lin<strong>da</strong> e encanta<strong>do</strong>ra penumbra .<br />

Alem <strong>do</strong> mais com músicas bem românticas . Estava começan<strong>do</strong> a<br />

Bossa Nova que tinha imensa aceitação . Ali conheci Julia que foi meu par<br />

somente naquela festa.<br />

As mocinhas ficavam mais bonitas na pouca luz difusa . Julia era<br />

uma encanta<strong>do</strong>ra ruiva de olhos verdes que a<strong>do</strong>rava músicas românticas .<br />

Pediu para tocarem “ Dancing in the Dark”. Era uma música romântica<br />

americana.<br />

Ficamos to<strong>do</strong> tempo esperan<strong>do</strong> uma reação <strong>da</strong>quela turma <strong>da</strong>s<br />

Perdizes . Ela não veio . Tu<strong>do</strong> foi muito bem durante a festa .<br />

A luz de velas deu um toque especial , até mesmo durante o jantar .<br />

Realmente agradável . Quan<strong>do</strong> a eletrici<strong>da</strong>de voltou , por volta <strong>da</strong>s 2,20 horas<br />

<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> , algumas lâmpa<strong>da</strong>s que estavam liga<strong>da</strong>s se acenderam mas<br />

foram logo apaga<strong>da</strong>s . A luz de velas continuou manter a gostosa penumbra .<br />

Foi uma lin<strong>da</strong> festa . Melhor ain<strong>da</strong> : tranqüila .<br />

A briga programa<strong>da</strong> não aconteceu .


“MARGARIDA ENGOMADA”<br />

Pelo meio <strong>do</strong> ano de 1958 apareceu uma sócia nova no Paulistano .<br />

A mocinha pertencia a tradicional família <strong>do</strong>s novos ricos – muito ricos , <strong>do</strong><br />

famoso ramo : “Não sei quem são ...” porem gente muito boa .<br />

Era até bem bonitinha. Vinha sempre muito arruma<strong>da</strong> ,<br />

impecavelmente vesti<strong>da</strong> . Entretanto , tinha muitas “frescuras” e era um<br />

tanto “snob”. Gostava de falar somente sobre coisas inúteis e fúteis . Discutia<br />

sempre que tivesse um leve conhecimento <strong>do</strong> assunto . Gostava de ser a<br />

“Dona <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de” . Mas era boa pessoa .<br />

Não ia para piscina para não queimar sua pele Não praticava<br />

nenhum esporte . Foi tacha<strong>da</strong> de “chata” . Para não revelar nomes, o que não<br />

interessa agora , vamos chamá-la de “Margari<strong>da</strong>” .<br />

A turma não per<strong>do</strong>ava e depois de algum tempo deram-lhe o apeli<strong>do</strong><br />

de “Margari<strong>da</strong> Engoma<strong>da</strong>”.<br />

Por sorte , sempre me dei bem com ela e em um chá <strong>da</strong>nçante <strong>do</strong><br />

clube ficamos juntos na mesma mesa , conversan<strong>do</strong> e <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong>. Então a<br />

gozação passou para meu la<strong>do</strong> . A turma brincava dizen<strong>do</strong> que eu estava<br />

queren<strong>do</strong> “<strong>da</strong>r o golpe <strong>do</strong> baú” .<br />

Quan<strong>do</strong> Setembro chegou ela anunciou que iria comemorar seu<br />

aniversário com uma grande festa em sua casa . Resolveu também que não<br />

devia e não iria convi<strong>da</strong>r a grande maioria <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> Paulistano , pois eles<br />

viviam mexen<strong>do</strong> com ela . Disse ain<strong>da</strong> que iria convi<strong>da</strong>r quase to<strong>do</strong>s seus<br />

amigos e amigas <strong>do</strong> Jockey e de outros clubes .<br />

Por mais que eu e outros mais chega<strong>do</strong>s , que havíamos si<strong>do</strong><br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s , explicássemos que aquilo não era bom e que mu<strong>da</strong>sse de idéia ,<br />

ela não cedeu , nem mu<strong>do</strong>u de opinião .<br />

Assim foi feito e poucos amigos <strong>do</strong> Paulistano receberam convite .<br />

Era sua vontade e seu direito .<br />

A Turma não per<strong>do</strong>ou a discriminação . Nos dias que antecederam a<br />

festa foram pegan<strong>do</strong> , onde encontrassem , principalmente durante a<br />

madruga<strong>da</strong> , to<strong>da</strong>s as faixas e cartazes de propagan<strong>da</strong> .<br />

Eram Faixas com <strong>do</strong>s dizeres possíveis e propagan<strong>da</strong>s incríveis .<br />

Pegaram to<strong>do</strong>s demais anúncios e faixas comerciais que foram encontran<strong>do</strong> .<br />

Guar<strong>da</strong>ram e esperaram .<br />

No dia <strong>da</strong> festa , quan<strong>do</strong> o dia estava raian<strong>do</strong> , no final <strong>da</strong>quela<br />

madruga<strong>da</strong> silenciosa , foram até sua casa e nos muros baixos, no terraço e na<br />

facha<strong>da</strong> colocaram to<strong>do</strong>s aqueles cartazes e faixas .<br />

Não perderam tempo e tiram to<strong>da</strong>s as fotografias possíveis .


Neles podiam ser vistos anúncios , tais como : “Breve Açougue -<br />

Carnes Finas”- “Liqui<strong>da</strong>ção para entrega <strong>do</strong> Prédio” – “Aproveite nossos<br />

Preços de Ocasião”- “ “Vende-se ou Aluga-se”- “Oferecemos os Melhores<br />

Emprega<strong>do</strong>s”- “Aqui Refeições Comerciais a To<strong>da</strong> Hora” .<br />

Como naquele tempo as casas residenciais não tinham guar<strong>da</strong>s e<br />

vigias , nem segurança , ficou fácil colocar to<strong>da</strong>s aquelas faixas e esperar o sol<br />

nascer para tirar aquelas fotos .<br />

Tiraram realmente muitas fotos <strong>da</strong> casa com to<strong>da</strong>s aqueles anúncios.<br />

Fizeram em segui<strong>da</strong> muitas cópias <strong>da</strong>s mesmas<br />

No mesmo dia <strong>da</strong> festa estas fotos já circulavam pelos clubes de São<br />

Paulo . Depois , na noite <strong>da</strong> festa , quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> de convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s , pagaram<br />

moleques para ficar distribuin<strong>do</strong> tais fotos .<br />

Margari<strong>da</strong> demonstrou muita calma quan<strong>do</strong> soube <strong>da</strong>s fotos e viu o<br />

que acontecia . Depois nem comentou o fato .<br />

Manteve a calma , o que foi bom .<br />

Com o tempo o fato esfriou .<br />

Margari<strong>da</strong> continuou na sua vidinha no Paulistano sem aparentar<br />

raiva ou preocupação . Entretanto , meses depois , a sorte pregou uma grande<br />

peça em Margari<strong>da</strong> .<br />

A “Feira <strong>do</strong> Automóvel” , em seu início , acontecia de forma meio<br />

precária em um Pavilhão no Ibirapuera . Arranjos e pequenas obras eram<br />

realiza<strong>da</strong>s para possibilitar tal evento .<br />

O local para estacionar os carros <strong>do</strong>s visitantes naquela Feira era um<br />

descampa<strong>do</strong> , cerca<strong>do</strong> por grama e mato ralo . Mais mato que grama .<br />

Pois bem , numa sexta feira , no começo <strong>da</strong> noite , um grupo de<br />

moças e rapazes , coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s por Vicente de Sylos e Luiz Carlos Junqueira ,<br />

resolveu ir a Feira <strong>do</strong> Automóvel . Junto deles lá se foi Margari<strong>da</strong> .<br />

Chegaram e estacionaram. Começaram descer <strong>do</strong>s carros e<br />

derrepente se ouviu um gritinho . A voz era de Margari<strong>da</strong> .<br />

Mas onde estava ela ? Tinha sumi<strong>do</strong> . To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> procuran<strong>do</strong> no<br />

meio <strong>da</strong> semi escuridão <strong>do</strong> começo <strong>da</strong> noite .<br />

Ouviam seus gritinhos , mas na<strong>da</strong> de encontrar Margari<strong>da</strong> .<br />

Depois de alguns minutos descobriram que Margari<strong>da</strong> . Ela , ao<br />

descer <strong>do</strong> carro no escuro , não reparou que , ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> porta que lhe <strong>da</strong>va<br />

saí<strong>da</strong> , existia um enorme buraco . Grande mesmo !<br />

Desceu <strong>do</strong> carro e caiu lá no fun<strong>do</strong> de uma “Fossa Negra” , aberta<br />

tempos atrás . Cheia de água e com muito uso por operários . Foi aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong><br />

aberta , depois <strong>do</strong> termino <strong>da</strong>s reformas <strong>do</strong> local , onde montaram a tal “Feira<br />

<strong>do</strong>s Automóveis” .


Com a pressa de entregar a obra esqueceram de fechá-la direito.<br />

Com algum esforço Margari<strong>da</strong> foi retira<strong>da</strong> <strong>do</strong> buraco .<br />

Saiu , mas estava um horror , pois a “Fossa Negra” estava repleta de<br />

fezes e de água imun<strong>da</strong> . Saiu molha<strong>da</strong> e cheia de mer<strong>da</strong> por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s.<br />

Fedia por to<strong>do</strong>s os cantos . Dava pena somente de ver ( fóra as<br />

risa<strong>da</strong>s abafa<strong>da</strong>s pois a cena era realmente trágica- cômica ) .<br />

Foi leva<strong>da</strong> para casa . Não tinha mais jeito .<br />

No outro dia , com to<strong>do</strong>s saben<strong>do</strong> <strong>do</strong> fato , mu<strong>da</strong>ram o apeli<strong>do</strong> de<br />

Margari<strong>da</strong> . Não era mais “Engoma<strong>da</strong>”. Passou a ser “Margari<strong>da</strong> Aduba<strong>da</strong>” .<br />

Hoje não sei mais quase na<strong>da</strong> <strong>da</strong> Margari<strong>da</strong> .<br />

Só que casou e sumiu .<br />

A “TURMA DA BARÃO”<br />

Nos anos de 50 se criou , com rapazes de vários bairros , um grupo<br />

que se reunia diariamente na rua Barão de Itapetininga . Encontravam-se<br />

normalmente em frente <strong>do</strong> “ Fazano”, que era uma casa de chá muito fina e<br />

bem freqüenta<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de paulistana . Ali ficavam para paquerar<br />

durante as tardes e sair posteriormente , em grupos , durante a noite .<br />

Eram chama<strong>do</strong>s de “A Turma <strong>da</strong> Barão” . Normalmente , depois de<br />

aprontar no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , seguiam naturalmente para clubes noturnos , ou<br />

“<strong>da</strong>ncings” que existiam em São Paulo . Nem to<strong>do</strong>s trabalhavam e no meio<br />

deles existiam alguns malandros contumazes .<br />

Caso tomassem conhecimento de uma festa iam em direção <strong>da</strong> mesma<br />

em pequenos grupos . Sempre pretenden<strong>do</strong> “Furar a Festa ”, mesmo se a<br />

entra<strong>da</strong> fosse à força . Muitas vezes acabavam com as festas ,<br />

Não eram reconheci<strong>do</strong>s pela gentileza , nem por muito boa educação .<br />

Como muitas vezes íamos até o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de acabamos por<br />

conhecer alguns <strong>da</strong>queles rapazes . O convívio com eles não era fácil e muitas<br />

vezes fomos obriga<strong>do</strong>s a reagir as intimi<strong>da</strong>ções que faziam .<br />

Eu mesmo cheguei a brigar duas vezes com eles , para não aceitar<br />

imposições e provocações . Como me sai bem nas brigas , eles passaram a<br />

respeitar um pouco mais . Mas não muito .<br />

De uma feita conseguiram entrar em uma festa e , dentro <strong>do</strong> espírito<br />

de baderneiros que eram , colocaram purgante no ponche , trancaram as<br />

portas <strong>do</strong>s banheiros e saíram <strong>da</strong> festa levan<strong>do</strong> as chaves . Pura cafajesta<strong>da</strong>.<br />

Depois , em um outro fim de semana fui obriga<strong>do</strong> a novamente<br />

brigar com aqueles cafagestes , antes de por aquela gente para fora <strong>da</strong> casa


onde ocorria uma festa . Eles tentavam estragar bebi<strong>da</strong>s e comi<strong>da</strong>s . Os<br />

presentes perceberam e denunciaram o fato . Caio , Luiz Vicente , Luiz Carlos<br />

Junqueira , Otto Bendix e eu , fomos impedir a palhaça<strong>da</strong> . naquele dia os<br />

malandros <strong>da</strong> barão apanharam tanto que saíram <strong>da</strong> festa arrasta<strong>do</strong>s . Não<br />

ficavam em pé .<br />

Soube que no outro dia contavam o fato , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> gargalha<strong>da</strong>s , como<br />

uma grande coisa que tinham realiza<strong>do</strong> . Eles não tinham jeito<br />

Gostavam também de esvaziar pneus <strong>do</strong>s carros que estacionavam<br />

nas cercanias <strong>da</strong> Barão de Itapetininga . Depois ficavam gozan<strong>do</strong> a pessoa que<br />

era obriga<strong>da</strong> a trocar o pneu . Mal<strong>da</strong>de com eles não faltava .<br />

Aquelas coisas , e muitas outras mais que agora não lembro , nos<br />

aborreciam muito e nos deixavam com um pé atrás .<br />

Acontece que , em um saba<strong>do</strong> de verão , Tozinho Lara como sempre<br />

realizava uma “Festa Preta” na sua “Ilha <strong>do</strong> Sabiá” , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Represa<br />

Billings. A festa , era destina<strong>da</strong> para coristas , moças de pouca reputação e<br />

outras de “famílias quase boas” . Na reali<strong>da</strong>de era uma tremen<strong>da</strong> bagunça<br />

organiza<strong>da</strong> . To<strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong>s podiam entrar levan<strong>do</strong> uma garrafa de bebi<strong>da</strong> e<br />

algumas <strong>da</strong>quelas “mulheres pren<strong>da</strong><strong>da</strong>s” . Ninguém pagava na<strong>da</strong>.<br />

Homem sozinho não entrava . Nem mesmo pagan<strong>do</strong> .<br />

Pois bem , ocorre que exatamente em uma <strong>da</strong>quelas “Festas Pretas”<br />

alguns de nossa turma estavam presente . Desde a tarde , quan<strong>do</strong> fomos<br />

esquiar na represa com o Tozinho , lá nos encontrávamos .<br />

Quan<strong>do</strong> anoiteceu chegou a “Turma <strong>da</strong> Barão” . Eram uns <strong>do</strong>ze<br />

rapazes . Alguns eram até conheci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>do</strong>no <strong>da</strong> casa .<br />

A festa estava cheia de gente simpática que só queria diversão. Mas<br />

logo a “Turma <strong>da</strong> Barão” começou aprontar cafajesta<strong>da</strong>s. Queriam aparecer.<br />

Tinham certeza que eram os “<strong>do</strong>nos <strong>do</strong> pe<strong>da</strong>ço”.<br />

Assim seguiram durante algum tempo .<br />

Então se propuseram a mexer com o Junqueira e com a bonita<br />

mulher que estava com ele . O Junqueira quieto . Eles pensaram que ele estava<br />

com me<strong>do</strong> e , aproveitan<strong>do</strong> um momento em que ele foi buscar uma bebi<strong>da</strong>,<br />

puxaram a tal mulher para <strong>da</strong>nçar .<br />

Não solicitaram , puxaram . Ela reagiu e ficou gritan<strong>do</strong> .<br />

A resposta <strong>do</strong> nosso amigo foi imediata . Aquele mais engraçadinho<br />

recebeu tremen<strong>do</strong> muro na cara e caiu de costas no chão . Os outros <strong>da</strong> Turma<br />

<strong>da</strong> Barão partiram para cima <strong>do</strong> Junqueira .<br />

Pareceu que estávamos esperan<strong>do</strong> .<br />

Como um to<strong>do</strong> a Turma <strong>do</strong> Paulistano que por lá estava voou para<br />

cima deles . Caio , Alcyr Amorim , Luiz Vicente, Otto Bendix e Urbano


Camargo. Outros amigos que estavam fora <strong>da</strong> casa chegaram depois . To<strong>do</strong>s<br />

distribuin<strong>do</strong> panca<strong>da</strong>s para valer . Cheguei em segui<strong>da</strong> e praticamente nem<br />

precisei participar . A briga não durou quase na<strong>da</strong> .<br />

Em pouco tempo eles ficaram fora de ação .<br />

Num canto <strong>do</strong> terraço aqueles <strong>do</strong>ze pilantras estavam agora<br />

quietinhos , um deles com o nariz incha<strong>do</strong> . Repetiam apenas que não tinham<br />

feito na<strong>da</strong> . Que tu<strong>do</strong> era brincadeira . Tozinho , que era muito grande e muito<br />

bravo , juntamente com o pessoal <strong>do</strong> “deixa disso” os obrigou a saírem <strong>da</strong><br />

festa , com to<strong>do</strong> nosso apoio .<br />

Na saí<strong>da</strong> deu uns tapas na cabeça de um mais ler<strong>do</strong> . Mas muitas <strong>da</strong>s<br />

mulheres que chegaram com eles ... ficaram na festa .<br />

Depois disto o Tozinho começou a impedir entra<strong>da</strong> de<br />

desconheci<strong>do</strong>s para as festas <strong>da</strong> Ilha <strong>do</strong> Sabiá . E para a “Turma <strong>da</strong> Barão”<br />

sempre soltava a cachorra<strong>da</strong> que existia na Ilha (Eram <strong>da</strong> raça Fila Brasileiro ).<br />

Muitas outras brigas aconteceram com aquela “Turma <strong>da</strong> Barão”..<br />

Não interessam ! Não vale a pena relatar coisas de cafajestes .<br />

- UM JEITO BEM DIFERENTE : OSVALDINHO VIDIGAL<br />

Quem gostava de fazer brincadeiras e gozações de to<strong>do</strong> tipo era<br />

“Osvaldinho Vidigal ” . Como era rico , moço , solteiro , com to<strong>do</strong> tempo<br />

disponível , invariavelmente estava aprontan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s suas .<br />

Entre milhares de histórias a seu respeito contavam que , certa vez ,<br />

quan<strong>do</strong> estava suspenso <strong>do</strong> clube - o “Harmonia”, por alguma <strong>da</strong>s mil razões<br />

possíveis, em um dia de festa jogou milhares de “Alka Seltzer” na piscina <strong>do</strong><br />

clube . Ela ficou espuman<strong>do</strong> .<br />

Isto não vi e não creio que tenha aconteci<strong>do</strong> , pois é quase<br />

impossível sua realização , por muitas mil razões .<br />

Mas ...“ Si non é vero é molto giocoso”<br />

Entretanto suas gozações ficaram famosas .<br />

A primeira aconteceu lá pelos anos 50 , quan<strong>do</strong> uma sua namora<strong>da</strong><br />

começou a passar Osvaldinho para trás e finalmente deu-lhe o fora .<br />

Daquele dia em diante ele passou a an<strong>da</strong>r com uma galinha debaixo<br />

<strong>do</strong> braço . Era uma galinha amarela<strong>da</strong> , com uma fita vermelha - craveja<strong>da</strong> de<br />

brilhantes ( pedras falsas ) , amarra<strong>da</strong> com um laço no seu pescoço pela<strong>do</strong> .<br />

Ele a chamava de “ Tutuca”. Era a galinha mais feia que já vi !<br />

Aonde ia levava o animal de penas com ele . Aparecia nos clubes<br />

noturnos , nas corri<strong>da</strong>s de automóvel , nas praias e lugares onde tinha amigos<br />

ou era convi<strong>da</strong><strong>do</strong> por conheci<strong>do</strong>s .


Como também era bom cliente de casas noturnas entrava com a tal<br />

galinha nos lugares pagos . Na casa <strong>do</strong>s conheci<strong>do</strong>s , porque era amigo e a tal<br />

galinha não fazia mal para ninguém , também entrava .Era motivo de risa<strong>da</strong>s .<br />

Quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong> qual a razão <strong>da</strong> “Tutuca” respondia :<br />

“- Ca<strong>da</strong> um an<strong>da</strong> com a “galinha” que quiser . É só procurar . Alem<br />

<strong>do</strong> mais esta galinha , a “Tutuca”, é maravilhosa . Nunca exige presentes, nem<br />

jóias , nem jantares , nem roupas caras , nem festas ... nem na<strong>da</strong> ! Alem <strong>do</strong><br />

mais é ótima companheira . Não reclama de na<strong>da</strong> , aceita tu<strong>do</strong> e fica sempre<br />

realmente de “bico cala<strong>do</strong>” . Também a “Tutuca” não fala pelos cotovelos,<br />

pois sem duvi<strong>da</strong>s algumas ela não os tem ...”<br />

Contam que um belo dia Osvaldinho e amigos resolveram ir para o<br />

Rio de Janeiro , pois lá estaria acontecen<strong>do</strong> uma grande festa no Country.<br />

Compraram passagens aéreas . Foram para Congonhas .<br />

Na hora <strong>do</strong> embarque lá estava o Osvaldinho com a galinha debaixo<br />

<strong>do</strong> braço . Quan<strong>do</strong> , na fila para entrar no avião , chegou sua vez o problema<br />

aconteceu . Não quiseram deixar entrar a tal galinha “Tutuca” .<br />

Então começou uma discussão que não terminava mais . Ele<br />

argumentan<strong>do</strong> que a “Tutuca” já entrou e entrava em qualquer lugar . Já esteve<br />

nos mais elegantes locais e , como tinha menos de sete anos , não precisava<br />

pagar passagem aérea . Tinha até esta<strong>do</strong> na Assembléia .<br />

O comissário alegava que , de acor<strong>do</strong> com o regulamento <strong>da</strong><br />

Companhia Aérea , não era permiti<strong>do</strong> que galinha viajasse com outros<br />

passageiros .<br />

Com to<strong>da</strong> esta demora<strong>da</strong> discussão a fila para entrar no avião ficou<br />

para<strong>da</strong> e aqueles que iam viajar reclaman<strong>do</strong> que o vôo já estava muito<br />

atrasa<strong>do</strong> . Então os amigos <strong>do</strong> Osvaldinho começaram a gritar em coro : -<br />

“entra ... entra ... entra !<br />

Os demais passageiros, cansa<strong>do</strong>s de esperar na fila e com pressa de<br />

viajar , induzi<strong>do</strong>s pelo coro e queren<strong>do</strong> resolver a situação engrossaram<br />

simpaticamente o coro <strong>do</strong> “ “entra... entra ... entra ...! ” .<br />

E a Tutuca voou para o Rio de Janeiro . Dizem ...<br />

Dizem também que : “Como o carioca é muito alegre e simpático<br />

Tutuca foi um tremen<strong>do</strong> sucesso , alegran<strong>do</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s lugares por<br />

onde passou”.<br />

Parece que foi a primeira “penosa” a entrar e participar de uma festa<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de naquela ci<strong>da</strong>de . Não fui com ele mas soube <strong>da</strong> história .<br />

Tempos depois , quan<strong>do</strong> o Osvaldinho era encontra<strong>do</strong> , a galinha<br />

Tutuca não estava mais com ele . Pergunta<strong>do</strong> sobre a razão ele ia explican<strong>do</strong>:


“É o tal negócio ... galinha é galinha ... e será sempre galinha !<br />

Bastou eu me distrair um pouco e ela fugiu com um franguinho qualquer ”.<br />

De outra feita Luiz Vicente foi visitá-lo . Queria saber o que tinha<br />

aconteci<strong>do</strong> em uma “boite” <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> , muito bem freqüenta<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de ,<br />

quan<strong>do</strong> Osvaldinho foi barra<strong>do</strong> na entra<strong>da</strong> .<br />

Chegou em sua casa , deu seu nome e o emprega<strong>do</strong> , logo a seguir ,<br />

pediu para que subisse , pois o senhor Osval<strong>do</strong> já o estava esperan<strong>do</strong> em seu<br />

quarto.<br />

Vicente entran<strong>do</strong> no quarto viu , cola<strong>do</strong> na parede , bem em cima <strong>da</strong><br />

cama , um grande cartaz onde estava escrito :<br />

“ Aqui Não Se Aceita Reclamação” .<br />

Dan<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s Vicente perguntou a razão <strong>do</strong> cartaz . A resposta foi<br />

simples : “Meu amigo ... você não imagina quantos problemas ele já<br />

resolveu”.<br />

Depois , in<strong>da</strong>ga<strong>do</strong> sobre o que tinha ocorri<strong>do</strong> na boate , ele foi<br />

explican<strong>do</strong> : “ Aquela noite a tal boate estava “Programa<strong>da</strong> para Namora<strong>do</strong>s” .<br />

Eu que estava sozinho resolvi comparecer com as “primas” que conheci lá<br />

naqueles novos “Inferninhos” <strong>da</strong> Vila Buate” .<br />

Elas , que são até bem bonitinhas , no seu jeito próprio de vestir e<br />

com a pintura característica <strong>da</strong>s que vivem a noite , estavam muito contentes<br />

por irem em uma boite freqüenta<strong>da</strong> pela alta socie<strong>da</strong>de .<br />

Chegamos por volta <strong>da</strong>s 23 horas e fomos entran<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> já<br />

estávamos em frente ao bar fomos barra<strong>do</strong>s pelo gerente e por <strong>do</strong>is “leões de<br />

chácara” . Perguntei qual a razão e o gerente foi dizen<strong>do</strong> : “ Estas mulheres<br />

são de reputação duvi<strong>do</strong>sa” .<br />

Então não agüentei e respondi bem alto , para que to<strong>do</strong>s aqueles ,<br />

que nos estavam espian<strong>do</strong> com a cara aze<strong>da</strong> , ouvissem :<br />

-“ São de reputação duvi<strong>do</strong>sa coisa nenhuma. Elas são Putas ! São<br />

Putas e não de reputação duvi<strong>do</strong>sa ! E são muito reputa<strong>da</strong>s como Putas !<br />

Pergunte para elas e terá confirmação ! E tem mais ... De reputação duvi<strong>do</strong>sa<br />

pode ser qualquer mulher que aqui esteja nos olhan<strong>do</strong> agora , com cara de<br />

quem comeu e não gostou . O senhor as conhece bem ? To<strong>da</strong>s ? Não ...!<br />

Então podem ser de reputação duvi<strong>do</strong>sa ... ” .<br />

Depois continuou contan<strong>do</strong> o caso dizen<strong>do</strong> :<br />

- “Naquela altura <strong>do</strong>s acontecimentos os <strong>do</strong>is “leões de chácara” nos<br />

puseram para fora aos empurrões . Aquilo não foi justo . Principalmente uma<br />

injustiça quanto a reputação duvi<strong>do</strong>sa <strong>da</strong>s “primas putinhas” . Cortaram sem<br />

dó nem pie<strong>da</strong>de a diversão tão deseja<strong>da</strong> <strong>da</strong>s coitadinhas .<br />

Certamente ficaram frustra<strong>da</strong>s ” .


Quan<strong>do</strong> terminou de contar o caso Osvaldinho perguntou se Vicente<br />

tinha realmente gosta<strong>do</strong> <strong>do</strong> cartaz coloca<strong>do</strong> em cima de sua cama . Sem<br />

esperar resposta continuou dizen<strong>do</strong> :<br />

- “Caso eu fosse Oculista iria colocar em meu consultório um outro<br />

cartaz bem grande , onde estaria escrito :<br />

- “ Não Conheço o Senhor de Vista ? ” .


“GATOS DO PAULISTANO” NAS NOITES PAULISTANAS”<br />

Edu Marcondes<br />

Onde a Noite Começava – “Bonilha” – “Nick Bar”- “O Bixiga”- Festas<br />

<strong>do</strong> Fantasma - Um Tiro no Lampião ...<br />

Nos anos 50 surgiram para nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano maiores<br />

possibili<strong>da</strong>des para programas noturnos em São Paulo . A i<strong>da</strong> aos clubes<br />

noturnos passou a ser mo<strong>da</strong> . Principalmente porque começávamos a ter a<br />

i<strong>da</strong>de necessária .<br />

Não deu outra . Juntou-se a fome com a vontade de comer .<br />

Aqueles programas , naqueles tempos , apesar de não serem baratos ,<br />

saben<strong>do</strong> moderar as coisas , não ficavam proibitivos em seus custos .<br />

Em assim sen<strong>do</strong> passamos freqüentar clubes noturnos que eram<br />

chama<strong>do</strong>s de “boates” . Entre outras lembro e destaco : “Arpege” , “Oásis” ,<br />

“J’ai Reviens”, “Nick Bar”, “Boate Lord” (no Lord Hotel) ,“Boate Esplana<strong>da</strong>”<br />

( no antigo hotel <strong>do</strong> mesmo nome ) depois chama<strong>da</strong> de boate “Meninão”.<br />

Hoje naquele prédio situa-se a sede <strong>da</strong> Cia. Votorantin .<br />

Na Rua Augusta , quase esquina <strong>da</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s existia o “Sky<br />

Club” . Nos <strong>do</strong>mingos a tarde ali acontecia também um “Chá Dançante”, onde<br />

poderíamos ir com as “namoradinhas e respectivas velas”.<br />

O mais antigo de to<strong>do</strong>s clubes noturnos foi o “Jequiti”,<br />

freqüenta<strong>do</strong> principalmente pela socie<strong>da</strong>de paulistana no final <strong>do</strong>s anos 40.<br />

“ Onde a Noite Começava ...”<br />

Muitas vezes fui até a boate “Oásis” para assistir grandes artistas<br />

como Elisete Car<strong>do</strong>so , Charles Trenet , Silvio Cal<strong>da</strong>s , Ataulfo Alves . Minha<br />

i<strong>da</strong> sempre ocorria com amigos <strong>do</strong> Paulistano : Manoel Mendes , Cid Mendes,<br />

Cid Ipiranga , Bonilha , Ayrton Bacellar , Alexandre Bacellar , entre muitos<br />

outros . . Aquela casa primava por apresentar shows com grandes nomes<br />

nacionais e internacionais . Era muito concorri<strong>da</strong> .<br />

A primeira vez que lá estive foi com meus companheiros: Sérgio<br />

D’Avila e Silvio “Careca” Abreu . Estávamos para fazer 18 anos e o porteiro<br />

Atílio , que ficou meu amigo , não podia permitir nossa entra<strong>da</strong> pela porta<br />

principal , pois sabia que ain<strong>da</strong> éramos menores de i<strong>da</strong>de . Entretanto fechava<br />

os olhos , saben<strong>do</strong> que entraríamos pela porta <strong>da</strong> cozinha , passan<strong>do</strong> a seguir<br />

pelos camarins , para chegarmos as mesas onde sempre existia um amigo <strong>do</strong><br />

Paulistano esperan<strong>do</strong> . Era o jeito .<br />

No “Arpege” tive a oportuni<strong>da</strong>de de presenciar as primeiras<br />

apresentações de Caubi Peixoto . Seu sucesso se não me engano ali começou .


Apareceram , em paralelo , também pequeninos bares noturnos<br />

chama<strong>do</strong>s de “inferninhos”, onde se buscava , principalmente , companhia<br />

feminina . O “Club de Paris” era um <strong>do</strong>s mais famosos . Estes “inferninhos”<br />

ficavam , em sua maioria , no bairro de Vila Buarque que , por isto mesmo ,<br />

começou a ser chama<strong>do</strong> de “Vila Boate”. Ali muitas vezes fui ver meu amigo<br />

“Noite Ilustra<strong>da</strong>”. Foi ele o rei <strong>da</strong>s musicas de “<strong>do</strong>r de cotovelo”,<br />

principalmente nos finais de noite .<br />

Também surgiram nos anos 50 os restaurantes <strong>da</strong>nçantes típicos<br />

alemães . O primeiro deles , o “Zillertal” , inicialmente instala<strong>do</strong> no prédio<br />

que abrigava a Federação Paulista de Futebol , lá na Brigadeiro Luiz Antonio .<br />

Era por lá , com bastante descontração , que <strong>da</strong>nçávamos valsas ,<br />

xótes e marchinhas alemãs , to<strong>da</strong>s muito alegres e gostosas de ouvir . To<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> brincava e tomava chope . Muito chope . Era um lugar muito<br />

agradável.<br />

Estive por lá inúmeras vezes , com Tozinho Lara , Roberto Bratke,<br />

Aluisio e Sergio D’Avila , Caio Kiehl , Junqueira , Ademar Zacarias ,Antonio<br />

Duva , Vicente de Sylos , Sergio Caiubi , Ayrton Bacelar , Arnal<strong>do</strong> Paiva ,<br />

Hélio Vazone , Antonio Cintra Godinho e muitos outros amigos <strong>do</strong><br />

Paulistano.<br />

Dan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> cobertura para aqueles rapazes que curtiam a noite de<br />

São Paulo desenvolveram-se muitos outros restaurantes e bares que na ocasião<br />

funcionavam por to<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> .<br />

Desta forma , nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano , depois de praticar seus<br />

esportes e bater papo na sede <strong>do</strong> CAP , começou esticar sua noite . Ficou<br />

possível ver e ouvir cantores , cantoras , artistas em “shows” muito bem<br />

monta<strong>do</strong>s , paquerar na noite e depois cear ou comer qualquer coisa no correr<br />

<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> .<br />

Para tanto contávamos com restaurantes como “Parreirinha” (fazia a<br />

melhor feijoa<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite ) , o “Spa<strong>do</strong>ni”( com massas divinas ) , o “Moraes”<br />

(com seu famoso filé com agrião) . Atendiam maravilhosamente bem .<br />

Depois apareceu o “Gigetto” freqüenta<strong>do</strong> por artistas , nota<strong>da</strong>mente<br />

aqueles <strong>da</strong> televisão que começava . No Largo <strong>do</strong> Arouche estava instala<strong>do</strong> ,<br />

como até hoje ain<strong>da</strong> está , o “Gato Que Ri” com preços extremamente<br />

razoáveis . Sua “lasanha” era de <strong>da</strong>r água na boca .<br />

Para um lanche mais simples , estavam de prontidão durante a<br />

madruga<strong>da</strong> , entre outros , o “Sala<strong>da</strong> Paulista”( começou na Rua Dom José de<br />

Barros em frente a antiga sede <strong>do</strong> Clube Pinheiros e depois passou amplia<strong>do</strong><br />

para Av. Ipiranga ) – servia como prato chefe “maionese de batatas com<br />

salsichas” . O “Jeca” (na esquina <strong>da</strong> S. João com Ipiranga ) e o “Ponto Chic”<br />

(onde surgiu o famoso Bauru ) .


Na pior <strong>da</strong>s hipóteses , na volta para casa , tínhamos como opção os<br />

sanduíches <strong>do</strong> “Bar <strong>da</strong> Morte” . Ele ficava perto <strong>do</strong> final <strong>da</strong> Rua Augusta . Era<br />

o refugio de quem estava com pouco dinheiro .Tinha este apeli<strong>do</strong> porque era<br />

realmente muito sujo. Entretanto fazia um filé no pão muito gostoso . Era o<br />

único aberto na madruga<strong>da</strong> pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Jardim América .<br />

No la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Jardim Paulista existia o “Bar e Bilhares Benfica”. Ali as<br />

noites de paqueras frustra<strong>da</strong>s muitas vezes eram passa<strong>da</strong>s em jogos de sinuca .<br />

Eu gostava muito de sair a noite , mas como trabalhava e começava<br />

logo pela manhã , fui obriga<strong>do</strong> arrumar um “Horário Especial” para poder<br />

curtir a vi<strong>da</strong> noturna . Para tanto , durante os dias <strong>da</strong> semana , chegava ce<strong>do</strong><br />

em casa e por volta <strong>da</strong>s 19,30 horas ia <strong>do</strong>rmir .<br />

Deixava, entretanto, o desperta<strong>do</strong>r marca<strong>do</strong> para tocar as 22,30 . Por<br />

volta <strong>da</strong>s 22,45 horas já estava in<strong>do</strong> para algum lugar <strong>da</strong> noite , curtin<strong>do</strong><br />

alguma coisa com amigos . Ficava pela noite normalmente até as 2,00 <strong>da</strong><br />

madruga<strong>da</strong> . Depois voltava para casa e <strong>do</strong>rmia até as 6,15 horas .<br />

O sono atrasa<strong>do</strong> era desconta<strong>do</strong> sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos .<br />

To<strong>do</strong>s nossos amigos também gostavam de curtir um pouco <strong>da</strong> noite.<br />

Mas tinham alguns gostavam demais . Por isto mesmo também bebiam um<br />

pouco mais e estavam sempre um pouco mais alegres . Faziam um pouco<br />

mais de brincadeiras com to<strong>da</strong>s as coisas e com to<strong>da</strong>s pessoas .<br />

Porem sempre com alegria e respeito .<br />

Entre estes grandes bebe<strong>do</strong>res noturnos destaco com sau<strong>da</strong>des : Luiz<br />

Vicente de Sylos , Francisco Bonilha , Luiz Tambelini e o “Velu<strong>do</strong>”Pompeo<br />

de Tole<strong>do</strong> . Eram nossos “ Reis Voláteis <strong>da</strong>s Noites Paulistanas” . Cheios de<br />

histórias vivi<strong>da</strong>s que ficaram conheci<strong>da</strong>s e famosas .<br />

Uma delas : - Em um fim de noite no alto verão , muito quente , na<br />

volta <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, paramos para tomar um refrigerante , obviamente diretamente<br />

no gargalo , no tal “Bar <strong>da</strong> Morte” , como sempre muito sujo .<br />

“Velu<strong>do</strong>” Pompeu aproveitou a para<strong>da</strong> e pediu um sanduíche de filé<br />

com queijo. Nisto foi lembra<strong>do</strong> , como gozação , que aquele sanduíche<br />

deveria vir repleto de “coliformes fecais”. Não teve duvi<strong>da</strong>s e respondeu ,<br />

morden<strong>do</strong> a pontinha <strong>do</strong> filé que estava de fora <strong>do</strong> pão : “É , mas os<br />

coliformes <strong>da</strong>qui são muito mais bem tempera<strong>do</strong>s ” .<br />

Depois ain<strong>da</strong> pediu : - “Salta um conhaque .” Justificava a bebi<strong>da</strong><br />

alcoólica dizen<strong>do</strong> que já era de madruga<strong>da</strong> e sempre esfriava um pouquinho ,<br />

mesmo no alto verão . Alem <strong>do</strong> que “mataria de porre os tais coliformes” .<br />

As noites de São Paulo sempre abrigavam boêmios alegres que<br />

quan<strong>do</strong> bebiam geravam muitas historias , algumas engraça<strong>da</strong>s . Muitas<br />

viraram pia<strong>da</strong>s .


“ BONILHA”<br />

Dentre estes amigos cabe destaque para Bonilha . Francisco Bosco<br />

Bonilha era durante o dia um executivo de primeira linha <strong>da</strong> General Eletric .<br />

Depois <strong>do</strong> expediente tornava-se um <strong>do</strong>s grandes boêmios desta ci<strong>da</strong>de .<br />

Tomava seus uísques no final <strong>da</strong> tarde e depois saia pela noite , beben<strong>do</strong> um<br />

pouco mais . Tinha uma resistência incrível , pois logo bem ce<strong>do</strong> , sem falta ,<br />

já ia trabalhar.Nunca faltava nem atrasava .<br />

Uma madruga<strong>da</strong> o encontramos no “Nick Bar” . Estava alegre ,<br />

brincan<strong>do</strong> com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> , contan<strong>do</strong> pia<strong>da</strong>s . Mas estava pra lá de alto .<br />

Começava perturbar e poderia <strong>da</strong>r trabalho . Precisava ir para casa ,pois<br />

estava cain<strong>do</strong> . De sono e de tanta bebi<strong>da</strong> . Falamos com ele e , com muito<br />

jeito , o levamos até um táxi , sempre encontra<strong>do</strong> estaciona<strong>do</strong> na porta .<br />

Foi deixa<strong>do</strong> senta<strong>do</strong> no banco de trás . Demos ordem ao motorista<br />

para levá-lo para onde ele pedisse .<br />

Alguns minutos depois o motorista voltou e disse que não era<br />

possível leva-lo para lugar algum .<br />

Perguntei por que não . Ele respondeu que , ca<strong>da</strong> vez que solicitava<br />

para onde ele iria , ou qual o seu destino , recebia sempre uma única e mesma<br />

resposta : “ Jamais saberás” !<br />

De outra feita estávamos em um grupo na Boate Oásis . Derrepente<br />

lá chegou, muito “mama<strong>do</strong>” , bem no fim <strong>da</strong> noite , nosso queri<strong>do</strong> Bonilha.<br />

Vinha tromban<strong>do</strong> com as cadeiras . Até que tomou assento na mesa onde<br />

estávamos com Manuel Mendes , seu irmão Ciro Mendes e o velho amigo Cid<br />

Ipiranga . Logo depois sentou e ficou resmungan<strong>do</strong> meio alto . Quan<strong>do</strong><br />

pergunta<strong>do</strong> qual a razão , foi responden<strong>do</strong> :<br />

-“A mulhera<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite esta ca<strong>da</strong> dia mais burra...”<br />

Fez um intervalo na sua explicação , chamou o garçom e disse :<br />

“Quero minha garrafa especial . Preciso de uma “Entradeira”. “Saideira”...<br />

nunca” ! Então , com aquela sua voz rouca de trombone , continuou :<br />

“ O problema foi o seguinte ... Na hora de pagar a ma<strong>da</strong>me puxei<br />

um cheque e o fui preenchen<strong>do</strong> . No valor exato que ela pedira . Quan<strong>do</strong> fui<br />

entregar o tal cheque, que era o ultimo , a jovem reclamou . Dizia que parte<br />

<strong>do</strong> preenchimento escrito tinha fica<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> cheque . Que ficara escrito no<br />

cria<strong>do</strong> mu<strong>do</strong>. Disse que assim meu cheque não valeria na<strong>da</strong> !” .<br />

“Fiquei puto ! Meu cheque sempre teve valor . Sempre !...”<br />

Quan<strong>do</strong> alguém ia começar explicar porque o cheque poderia não<br />

valer ele foi dizen<strong>do</strong> :


“Éra só aquela idiota levar o cheque com o cria<strong>do</strong> mu<strong>do</strong> ao banco”.<br />

“NICK BAR”<br />

O primeiro clube noturno que freqüentei com maior continui<strong>da</strong>de<br />

foi o “Nick Bar” . Ficava ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Teatro Brasileiro de Comédias , lá na Rua<br />

Major Diogo. Ao mesmo tempo que Ciccilo Matarazzo e Ziembisky cui<strong>da</strong>vam<br />

<strong>do</strong> teatro , Joe Kantor montou aquele bar pequenino . Como diz a canção ,<br />

grava<strong>da</strong> por Dick Farney, e que levou o nome de “Nick Bar” :<br />

“ Foi neste bar pequenino...onde encontrei meu amor ..., noites e<br />

noites seguin<strong>do</strong> ... vivo curtin<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>r ...”<br />

Era um lugar muito agradável . Local de encontro de intelectuais , de<br />

artistas <strong>do</strong> teatro , de gente <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de . Principalmente aquelas de teatro ,<br />

pois termina<strong>do</strong> o espetáculo muitos artistas <strong>do</strong> TBC paravam muitas vezes no<br />

Nick Bar. Para jantar ou jogar palavrinhas , também chama<strong>do</strong> de jogo <strong>do</strong><br />

“Mexe-Mexe”( estava na mo<strong>da</strong> ) . Ali sempre foi o melhor lugar para um bom<br />

bate papo na noite. Também ali era feito um “Picadinho no Molho” , com<br />

arroz , milho verde , ovo frito , banana frita e farofinha . Foi insuperável .<br />

Jose Maria era o pianista de primeira . Atendia to<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> .<br />

Alem <strong>do</strong> mais sempre simpático , sempre alegre , .<br />

Uma vez , quan<strong>do</strong> deu uma paradinha para descansar , o nosso<br />

queri<strong>do</strong> amigo Flavio Cayubi , que gostava de piano e tocava razoavelmente<br />

bem como ama<strong>do</strong>r , tomou conta <strong>do</strong> instrumento e ficou tocan<strong>do</strong> sem parar .<br />

Depois de dez minutos , um senhor chegou ao seu la<strong>do</strong> e perguntou<br />

se ele atendia pedi<strong>do</strong>s . Flavio respondeu : “Claro”.<br />

E o senhor então pediu : “- Pode parar ...”.<br />

Quem conta este fato <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> é meu cunha<strong>do</strong> Zéca Leal .<br />

Muitos amigos gostavam de ir ao Nick Bar :- Sergio D’Avila ,<br />

Sivinho Abreu , Zé Alfre<strong>do</strong> Galrão , Arnal<strong>do</strong> Paiva , Caio Kiehl , Luis Carlos<br />

Junqueira , Celso Lara Barberis e principalmente Mario Sergio .<br />

Naquele tempo Mario Sérgio era artista <strong>da</strong> Cinematográfica Vera<br />

Cruz e tinha acaba<strong>do</strong> de filmar , como galã , “Caiçara”.<br />

Ele ficava muito a vontade com o pessoal que trabalhava no teatro e<br />

no cinema . Eu gostava de ir com ele , pois era conheci<strong>do</strong> de muitas moças<br />

que tentavam um lugar como artista ou como “ponta” para cinema . Eram<br />

sempre bonitinhas e com o an<strong>da</strong>r <strong>da</strong> noite e uns drinques ficavam muito mais<br />

interessantes , tornan<strong>do</strong>-se companhia muito agradável ..


Muitas vezes lá encontrei Abílio Pereira de Almei<strong>da</strong> . Era uma<br />

figura muito queri<strong>da</strong> <strong>do</strong> Paulistano e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de paulista , principalmente<br />

por suas peças de sucesso . Lembro bem de “ Moral em Concor<strong>da</strong>ta”.<br />

Fui amigo de seu filho , hoje sumi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Lembro ain<strong>da</strong> que Cacil<strong>da</strong> Becker e Cleide Iaconis passavam sempre<br />

pelo o Nick Bar . Elas e outros grandes nomes femininos <strong>do</strong> meio artístico <strong>da</strong><br />

época como : Ilka Soares , Marisa Pra<strong>do</strong> , Tonia Carrero , Eliane Lage e<br />

Inesita Barroso . To<strong>da</strong>s muito lin<strong>da</strong>s .<br />

A única que ain<strong>da</strong> vejo algumas vezes é a “Vovó Inesita Barroso” ,<br />

lá no bar <strong>da</strong> piscina <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Até hoje não sei porque , depois de tantos anos , foi fecha<strong>do</strong> aquele<br />

lugar . O Nick Bar acabou . O TBC ain<strong>da</strong> continua .<br />

Nick Bar deixou sau<strong>da</strong>des pois era realmente a boate mais<br />

“inteligente” que conheci .Isto pelas pessoas que o freqüentavam .<br />

“O BIXIGA”<br />

Com nossas i<strong>da</strong>s ao “Nick Bar”, que como já disse ficava no Bairro<br />

<strong>do</strong> “Bixiga” ( Bela Vista) , acabamos descobrin<strong>do</strong> as cantinas e pequenos<br />

bares existentes naquela região .<br />

Eram locais freqüenta<strong>do</strong>s por boêmios , poetas , escritores ,<br />

compositores e músicos profissionais . To<strong>do</strong>s aqui de São Paulo .<br />

Ali tu<strong>do</strong> era muito mais simples e bem menos sofistica<strong>do</strong> . Cantinas<br />

com suas maravilhosas comi<strong>da</strong>s italianas , principalmente os antipastos .<br />

Guar<strong>do</strong> até hoje seus deliciosos sabores na lembrança .<br />

Recor<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> de uma pa<strong>da</strong>ria italiana que , quan<strong>do</strong> voltávamos<br />

para casa no raiar <strong>do</strong> dia , perfumava a madruga<strong>da</strong> com cheirinho típico e<br />

característico <strong>do</strong> pão fresco italiano .<br />

Era impossível não levar um <strong>da</strong>queles pães . A pa<strong>da</strong>ria ficava perto<br />

<strong>da</strong> “Saracura de Cima” . Não muito longe <strong>da</strong> “Saracura de Baixo” . Hoje estes<br />

locais praticamente tem outros nomes e o futebol que por ali se jogava não<br />

existe mais .<br />

No Bixiga , junto com Caio Kiehl , Junqueira , Mario Sergio e “Big<br />

Bob” Mauro Garcia , Otto Bendix e tantos outros amigos , conheci muitos<br />

<strong>da</strong>queles “<strong>do</strong>nos <strong>da</strong> noite” . A<strong>do</strong>niran Barbosa e os integrantes <strong>do</strong>s<br />

“Demônios <strong>da</strong> Garoa” fiquei conhecen<strong>do</strong> naquele barzinho que ficava perto <strong>do</strong><br />

Teatro Paramount , lá na Brigadeiro e que , naquele tempo , antes de pegar<br />

fogo , pertencia a Televisão Record .


Conheci os legítimos representantes <strong>do</strong> Bixiga : - Plínio Marcos ,<br />

Jorge Costa , Germano Matias ,Toniquinho e Tonicão , Geral<strong>do</strong> “Filme” e<br />

“Pato N’água” ( Diretor de Bateria e uma “briga tamanho família” ), bem<br />

como muitos participantes e compositores na Escola de Samba “Vai Vai”, ...<br />

lá pelos bares que ficavam na região .<br />

Várias vezes , naqueles pequenos bares, típicos <strong>do</strong> bairro ,<br />

tomávamos umas cervejas juntos com aquela gente simpática . O interessante<br />

é que to<strong>do</strong>s por ali falavam , mesmo os pretos brasileiros que lá residiam ,<br />

com um leve sotaque italiano . Influência <strong>da</strong> colônia que por ali inicialmente<br />

se instalara e por conta ain<strong>da</strong> de alguns italianos que por lá ain<strong>da</strong> viviam .<br />

Uma noite apareceu , em um <strong>da</strong>queles barzinhos , um negão alto e<br />

forte , aparentan<strong>do</strong> mais ou menos 50 anos . Muito simpático . Não tenho<br />

mais certeza de seu nome . Poderia ser Pingo ou Dingo . Não sei ao certo .<br />

Ficamos conversan<strong>do</strong> e ele aproveitan<strong>do</strong> para contar histórias aconteci<strong>da</strong>s no<br />

Bixiga . Bebia saborean<strong>do</strong> realmente ca<strong>da</strong> gole .<br />

Depois , ain<strong>da</strong> conosco , recebeu contínuos pedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s seus<br />

conheci<strong>do</strong>s para que interpretasse a “Uma Noite no Bexiga” . Depois de ficar<br />

sorrin<strong>do</strong> algum tempo não se fez de roga<strong>do</strong> , recitou uma história em versos ,<br />

de autoria <strong>do</strong> grande poeta Paulo Vanzolini (Também compositor de músicas<br />

de sucesso , tais como : “Ron<strong>da</strong>” e “Volta por Cima” ).<br />

Para declamar ele se transfigurou . Na reali<strong>da</strong>de deu um ver<strong>da</strong>deiro<br />

show de interpretação que nunca mais esqueci . Ficamos aplaudi<strong>do</strong> muito<br />

tempo . Ele sorrin<strong>do</strong> de felici<strong>da</strong>de . Quan<strong>do</strong> retornou para nossa mesa pedi a<br />

letra <strong>da</strong>quela poesia que leva por titulo : - “Pelas Ruas <strong>do</strong> Bixiga” .<br />

Ele puxou umas folhas de dentro <strong>do</strong> paletó e ali mesmo ganhei a<br />

cópia <strong>da</strong>queles versos . Ele informou que não teria problemas . Seria um<br />

prazer . Já os conhecia de cor .<br />

Tempos mais tarde tomei conhecimento que Bibi Ferreira fez grande<br />

sucesso declaman<strong>do</strong> em teatro aquela obra bem paulistana <strong>do</strong> Paulo Vanzolini.<br />

Li e reli inúmeras vezes a tal poesia durante muitos anos . Era um<br />

retrato bem paulista <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> Bixiga . Com o tempo ficou em minha<br />

memória , por ser muito diferente e muito ter <strong>do</strong> aspecto regional <strong>da</strong> minha<br />

terra . Por isto mesmo , por representar o Bixiga muito bem , vou tentar<br />

reproduzi-la ( somente o primeiro e o ultimo verso) <strong>do</strong> jeito que lembro .<br />

Paulo Vanzolini que per<strong>do</strong>e as minhas possíveis falhas na<br />

transcrição , pois o original já perdi , desde muitos anos.<br />

Tava num dia azara<strong>do</strong> ...<br />

Meio bebi<strong>do</strong> ... mama<strong>do</strong><br />

“Pelas Ruas <strong>do</strong> Bexiga”


Queren<strong>do</strong> puxá briga<br />

Lá prus la<strong>do</strong> du Bixiga<br />

Quan<strong>do</strong> inscutei uma orquestra .<br />

Taquei meu “pincenes”<br />

I sai apercuran<strong>do</strong> a festa .<br />

Num custei na<strong>da</strong> incontrá !<br />

Mais só pra mi atrapaiá<br />

Na porta tinha um letreiro<br />

Ingressu : Quatru cruzeiro ...!<br />

I eu tava zero di vento .<br />

Mais gostei du movimento<br />

I pensei cá minha cabeça :<br />

Vô pô u corpu pra dentru !<br />

...Ali despois começô a dispara<strong>da</strong> ...<br />

Descemus as isca<strong>da</strong> in treis pulo<br />

Pulemus uns cinco véio muro<br />

Corremus quatro quadra qui para<strong>da</strong> ,<br />

Dispois paremus pra arrespirá ...!<br />

Foi quan<strong>do</strong> a morena alembrô di aperguntá :<br />

“ Cabo Véio ...qui horas qui são ?<br />

Sei lá ... era treis i trinta quan<strong>do</strong> dei arteração ...!<br />

“Xi ... quem mi vê contigo assim<br />

Que qui vai pensá de mim...? ”<br />

Ri com a bossa <strong>da</strong> minha santa<br />

Bem no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> garganta ...<br />

I discutin<strong>do</strong> nossa briga<br />

Sumimus na madruga<strong>da</strong><br />

Pela ruas <strong>do</strong> Bixiga ...<br />

Nunca deixávamos de ir ao Bixiga , mesmo que fosse só para jantar<br />

e neste caso , para variar , comer perna de cabrito assa<strong>do</strong> , com sala<strong>da</strong> de<br />

alface “Laetuga”. As vezes nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano era grande e ficava<br />

difícil encontrar pernas de cabritos para 10 esportistas famintos . Mas sempre<br />

se <strong>da</strong>va um jeito , dividin<strong>do</strong> uma perna com o companheiro que estava com<br />

água na boca .


“FESTAS DO FANTASMA”<br />

Na Rua Itambé , nos i<strong>do</strong>s de 1956 , bem em frente <strong>do</strong> Mackenzie ,<br />

existia uma casa muito velha . Estava mesmo cain<strong>do</strong> aos pe<strong>da</strong>ços , sem portas<br />

e com um buraco no teto . Sobrara só uma parte <strong>do</strong> 1º an<strong>da</strong>r.<br />

Então nossos amigos <strong>do</strong> Paulistano <strong>da</strong> Turma de Arquitetura <strong>do</strong><br />

Mackenzie , aqueles que to<strong>do</strong>s os dias por ali passavam , resolveram que era<br />

o local ideal para realização de uma festa .<br />

Não uma festa qualquer , mas a “Festa <strong>do</strong> Fantasma”.<br />

Faríamos uma festa de fantasias . A primeira “Festa <strong>do</strong> Fantasma”.<br />

Seriam arreca<strong>da</strong><strong>do</strong>s com os amigos valores necessários para comes e bebes ,<br />

para música e decoração . Naquele tempo uma festa naqueles moldes era um<br />

espanto , fora de qualquer padrão .<br />

Mas quem convi<strong>da</strong>ria para tal festa ? Depois de algum tempo ficou<br />

resolvi<strong>do</strong> que o “<strong>Casa</strong>l Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> <strong>da</strong> Cunha” fariam as vezes <strong>do</strong>s anfitriões .<br />

Quem eram os Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Cunha ?<br />

Como dizia o Bonilha : “Jamais saberás...”<br />

Na reali<strong>da</strong>de nunca existiu , mas to<strong>do</strong>s os convites foram impressos<br />

em seu nome . E distribuí<strong>do</strong>s devi<strong>da</strong>mente . (Guar<strong>do</strong> um deste convite de<br />

lembrança até hoje ).<br />

Ficou acerta<strong>do</strong> que não seria festa para mocinhas <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de ,<br />

acompanha<strong>da</strong>s pelas mamães . As convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s e homenagea<strong>da</strong>s seriam :<br />

nossas conheci<strong>da</strong>s na noite , algumas outras que gostavam de programas<br />

diferentes , coristas <strong>do</strong> teatro rebola<strong>do</strong> e outras interessa<strong>da</strong>s ... Realmente<br />

seria uma festa fora <strong>do</strong>s padrões normais para aquele tempo .<br />

Interessante é que , quan<strong>do</strong> souberam <strong>da</strong> tal festa , algumas<br />

desquita<strong>da</strong>s mais alegres e algumas estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> antiga Facul<strong>da</strong>de de<br />

Filosofia , que ficava perto , insistiram em ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s . Diziam que com<br />

as mascaras e fantasias , esconden<strong>do</strong> personali<strong>da</strong>des , escondiam tu<strong>do</strong> mais .<br />

O grupo organiza<strong>do</strong>r ,que era lidera<strong>do</strong> por Danilo Penna , Sérgio<br />

D’Avila , Mauricio Soriano , Alberto Botti , Arnal<strong>do</strong> Paiva , Didi Gui<strong>do</strong>tti e<br />

Mark Rubin , começou a trabalhar . Arreca<strong>da</strong>ram- se os recursos necessários<br />

com os amigos que participariam <strong>da</strong> tal festa . As paredes internas foram<br />

pinta<strong>da</strong>s com motivos fantasmagóricos e decora<strong>da</strong>s com bolas de gás . Tu<strong>do</strong><br />

visan<strong>do</strong> esconder a sujeira . Alugou-se um “Caixão de Defunto , devi<strong>da</strong>mente<br />

coloca<strong>do</strong> em um canto <strong>da</strong> sala” . O gelo seco cui<strong>da</strong>ria de fazer muita neblina .<br />

A música eletrônica viria via baterias , pois eletrici<strong>da</strong>de não existia .


Como a casa não tinha luz elétrica foram usa<strong>do</strong>s alguns lampiões e<br />

muitas velas . Eles mostraram que teríamos uma luz muito fraca . Iria ficar<br />

bem escurinha aquela festa .<br />

O ambiente ficou apropria<strong>do</strong> para uma “Festa de Fantasma” .<br />

Na tarde <strong>do</strong> dia marca<strong>do</strong> , uma sexta feira de Agosto , fomos buscar<br />

as bebi<strong>da</strong>s e sanduíches . Ao anoitecer colocamos varias cruzes pinta<strong>da</strong>s de<br />

branco nos jardim <strong>da</strong> frente . Quan<strong>do</strong> escureceu , um pouco antes <strong>do</strong> início <strong>da</strong><br />

festa , foram acesas , naquele mesmo jardim , quase 100 velas brancas .<br />

A casa ficou estranha , parecen<strong>do</strong> mais um estranho velório .<br />

Quem passava pela rua , em frente <strong>da</strong> casa , até se benzia ou fazia o<br />

sinal <strong>da</strong> cruz .<br />

Por volta <strong>da</strong>s 21 horas os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s e convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s começaram a<br />

chegar . Moças que não tinham convite podiam entrar . Homens não !<br />

Vinham to<strong>do</strong>s fantasia<strong>do</strong>s de múmias , bruxas , de corcun<strong>da</strong>s ,<br />

dráculas e de tu<strong>do</strong> que podia ser estranho. Quem não tinha fantasia colocava<br />

um lençol na cabeça , amarra<strong>do</strong> no pescoço , deixan<strong>do</strong> apenas o rosto de fora .<br />

Os lençóis eram de to<strong>da</strong>s as cores e de to<strong>do</strong>s tamanhos . Deram um ar<br />

diferente naquela noite .<br />

Quan<strong>do</strong> se olhava aquele conjunto de fantasia<strong>do</strong>s , beben<strong>do</strong> e<br />

<strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> com os lençóis giran<strong>do</strong> no ar , no meio <strong>da</strong> penumbra , ao la<strong>do</strong><br />

de um caixão de defunto , na neblina provoca<strong>da</strong> pelo gelo seco e <strong>da</strong>s velas<br />

acesas tínhamos impressão que realmente era coisa de outro mun<strong>do</strong>.<br />

A alegria tomou conta de to<strong>do</strong>s . A festa foi um tremen<strong>do</strong> sucesso<br />

que só terminou quan<strong>do</strong> o dia de saba<strong>do</strong> estava com o sol surgin<strong>do</strong> . To<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> estava no mínimo meio de pilequinho .<br />

Problemas normalmente surgiram com alguns rapazes <strong>da</strong> “Turma <strong>da</strong><br />

Barão”que pretendiam furar nossa festa . Apesar <strong>da</strong>s brigas os penetras não<br />

entraram . O sucesso <strong>da</strong> festa muito comenta<strong>do</strong> por vários dias ,<br />

principalmente na noite <strong>da</strong> “Paulicéia Desvaira<strong>da</strong>” ´- como dizia aquele<br />

cronista conheci<strong>do</strong> ..<br />

Aquele tipo de festa abriu possibili<strong>da</strong>des para realização de outras<br />

<strong>do</strong> mesmo tipo . To<strong>da</strong> vez que descobríamos uma casa , para vender ou<br />

aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> para futura construção , dávamos uma boa gorjeta para o vigilante<br />

e surgia a mais “Nova Festa <strong>do</strong> Fantasma” , promovi<strong>da</strong> naturalmente pelo<br />

“<strong>Casa</strong>l Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> <strong>da</strong> Cunha”.<br />

Uma delas ocorreu em Higienópolis , bem atrás <strong>do</strong> Colégio Sion .<br />

Como a barulheira era muito grande , pois até orquestra havia si<strong>do</strong> contrata<strong>da</strong> ,<br />

as freiras <strong>do</strong> tal colégio reclamaram com a policia .


Não deu outra . O investiga<strong>do</strong>r que lá chegou com outros policiais ,<br />

por volta <strong>da</strong>s duas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> , achou a festa maravilhosa . Só queria saber<br />

quem era o responsável pela sua realização . Com o aparecimento <strong>do</strong><br />

responsável a festa poderia continuar. Mas como o “<strong>Casa</strong>l Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Cunha” nunca poderia estar presente ele foi obriga<strong>do</strong> a acabar com a festa .<br />

A Última “Festa <strong>do</strong> Fantasma” que realizamos aconteceu em 1963,<br />

na casa <strong>do</strong> Luiz Carlos Junqueira . Era uma casa enorme , com enorme área<br />

verde e arvores , situa<strong>da</strong> no Jardim Paulistano . Seu pai a colocara para ven<strong>da</strong><br />

e estava vazia . Não houve duvi<strong>da</strong>s. Iria acontecer mais uma festa <strong>da</strong>quelas .<br />

Caio Kiehl , Bob Mauro Garcia , Otto Bendix , Luiz Carlos<br />

Junqueira e Zizínho Papa cui<strong>da</strong>riam <strong>da</strong> arreca<strong>da</strong>ção <strong>do</strong>s recursos , <strong>da</strong><br />

orquestra , <strong>do</strong>s convites e <strong>da</strong>s compras . Eu fiquei encarrega<strong>do</strong> <strong>da</strong> decoração .<br />

Tu<strong>do</strong> deu muito trabalho . O tempo para sua realização derrepente<br />

ficou pouco pois a casa já estava praticamente vendi<strong>da</strong> . O jeito foi acelerar<br />

tu<strong>do</strong> . A luta passou a ser contra o tempo .<br />

Ficamos saben<strong>do</strong> que a repercussão para os convites foi enorme .<br />

To<strong>do</strong>s queriam participar . Distribuímos 300 convites somente para mulheres .<br />

No dia <strong>da</strong> festa a decoração fantasmagórica havia fica<strong>do</strong><br />

interessante. Tinha de tu<strong>do</strong> . Morcegos pendura<strong>do</strong>s no teto , um grande Bu<strong>da</strong><br />

de gesso pinta<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ura<strong>do</strong> com velas ao la<strong>do</strong> , caixão de defunto com<br />

defunto , guilhotina com cabeça caí<strong>da</strong> ao seu la<strong>do</strong> , teias com enormes<br />

aranhas , uma forca com seu enforca<strong>do</strong> e muita fumaça de gelo seco . A<br />

iluminação foi feita apenas com pequenas lâmpa<strong>da</strong>s roxas e vermelhas que<br />

piscavam lentamente . Assim deixavam momentos de pouca luz e momentos<br />

de escuridão , que não era total graças as velas acesas coloca<strong>da</strong>s junto ao<br />

caixão de defunto .<br />

No meio disto tu<strong>do</strong> muitas mulheres bonitas , profusão de fantasias<br />

exóticas , mesas com baldes de gelo e suas champanhes , garrafas de uísque e<br />

uma pequena orquestra . O conjunto como um to<strong>do</strong> era de bonito e exótico .<br />

Quan<strong>do</strong> a festa tomava embalo deu para perceber que muitas garotas<br />

conheci<strong>da</strong>s , vestin<strong>do</strong> mascaras e fantasias para esconder suas identi<strong>da</strong>des ,<br />

estavam presentes. Era um sinal <strong>do</strong>s tempos , mediante advento <strong>da</strong> pílula anti<br />

concepcional . A mulher realmente começava se libertar sexualmente .<br />

Depois que a festa começou a pegar fogo , pois a maioria <strong>do</strong>s<br />

convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s já havia chega<strong>do</strong> , tivemos um problema . Por causa dele , Caio ,<br />

Junqueira e eu , fomos obriga<strong>do</strong>s a sair <strong>da</strong> casa , irmos até a rua e <strong>da</strong>r algumas<br />

panca<strong>da</strong>s nos penetras <strong>da</strong> “Turma <strong>da</strong> Barão” .<br />

Estavam perturban<strong>do</strong> a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> festa e precisavam ser conti<strong>do</strong>s .


Na volta <strong>da</strong>quela confusão , no escuro , ao pular o muro para não<br />

abrir o portão e ver penetra tentan<strong>do</strong> entrar , cai com o pé em cima de uma<br />

torneira <strong>do</strong> jardim . Doeu muito o calcanhar . Tomei vários analgésicos mas<br />

continuou <strong>do</strong>en<strong>do</strong> a noite to<strong>da</strong> . Fui obriga<strong>do</strong> a <strong>da</strong>nçar somente na ponta <strong>do</strong> pé<br />

esquer<strong>do</strong> . Meio manco .<br />

Mas a festa continuou até o dia raiar . Foi um sucesso . Ficou na<br />

lembrança . Somente pela manhã <strong>do</strong> outro dia é que fui procurar um médico .<br />

Quem me levou foi o Big Bob Garcia que estu<strong>da</strong>va medicina .<br />

Então tomei conhecimento que havia quebra<strong>do</strong> um tal de “osso<br />

calcâneo” . Continuei manco por mais de três meses.<br />

TIRO NO LAMPIÃO<br />

Quan<strong>do</strong> não tínhamos melhores programas aparecia sempre um jogo<br />

de <strong>da</strong><strong>do</strong>s denomina<strong>do</strong> “Crepe” , também chama<strong>do</strong> de “Seven Eleven” .<br />

Ele ocorria na Rua Honduras , debaixo de um lampião , <strong>do</strong> outro<br />

la<strong>do</strong> onde fica a porta principal <strong>do</strong> Paulistano , sempre depois <strong>da</strong> 22 horas . No<br />

club este jogo era proibi<strong>do</strong> .<br />

Então apareciam , entre outros , nossos três amigos <strong>da</strong> família<br />

Daccache , Paulinho Fleury , Duva , Luiz Fernan<strong>do</strong> Ribeiro <strong>da</strong> Silva , Leo<br />

Bergman , Fernan<strong>do</strong> Pondé , Belmiro Dias , os irmãos Coutinho , César<br />

Giuliano e seu irmão “Ratinho Giuliano”, Léo Berman , Junqueira e muito<br />

mais conheci<strong>do</strong>s que por ali passavam .<br />

Jogava quem tinha vontade . Lembro ain<strong>da</strong> que muitos joga<strong>do</strong>res de<br />

cartea<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> saiam <strong>do</strong> clube , também paravam para experimentar a<br />

sorte com os <strong>do</strong>is <strong>da</strong>dinhos . Principalmente aqueles que haviam perdi<strong>do</strong> nas<br />

cartas .<br />

Caso algum carro <strong>da</strong> policia passasse pelo local os <strong>da</strong>dinhos eram<br />

joga<strong>do</strong>s para o jardim <strong>da</strong> casa em frente . Sumiam .<br />

Pois bem , em uma noite que estávamos fazen<strong>do</strong> hora para início <strong>do</strong><br />

jogo de “crepe” , lá na sala de sinuca <strong>do</strong> clube , recebi um telefonema <strong>do</strong> Caio<br />

Kiehl . Falava <strong>da</strong> casa <strong>do</strong> Vicente de Sylos . Foi dizen<strong>do</strong> :<br />

“ Edu , estamos precisan<strong>do</strong> de você agora .Agora ! Um grupo de<br />

pessoas esta tentan<strong>do</strong> invadir a casa e se conseguirem vão quebrar tu<strong>do</strong> .<br />

Estão em numero de seis , alem de um “Leão de Chácara” que veio<br />

junto .<br />

Perguntei a razão e Caio informou :- Vicente tinha toma<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />

seus pilequinhos e feito <strong>da</strong>s suas palhaça<strong>da</strong>s em uma casa de família ,


justamente com as irmãs <strong>da</strong>queles que agora estavam ali no portão <strong>da</strong> casa .<br />

Os namora<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s duas também vieram . Disse que a coisa estava feia .<br />

Lá no Paulistano , naquele momento estavam somente o César<br />

Giuliano , seu irmão “Ratinho” e Paulinho Fleury . Quan<strong>do</strong> contei o que<br />

estava acontecen<strong>do</strong> se prontificaram a ir comigo para casa <strong>do</strong> Vicente . Para o<br />

que der e vier .<br />

Naquele tempo a união de nossa Turma <strong>do</strong> Paulistano ain<strong>da</strong> existia .<br />

Era forte e continua .<br />

Fomos até a Rua Haiti onde Vicente morava . Parei o carro na<br />

esquina e chegamos a pé até lá .<br />

Avistei aquele pessoal perto <strong>do</strong> portão <strong>da</strong> casa . Logo reconheci<br />

to<strong>do</strong>s . Eram meus vizinhos <strong>do</strong> Jardim Paulista . Moravam na rua de trás , a<br />

Groenlândia . O “Leão de Chácara” também era conheci<strong>do</strong> , pois eu havia<br />

ganho dele no “braço de ferro” em um barzinho , lá pelos la<strong>do</strong>s de Pinheiros .<br />

Ficou mais fácil conversar quan<strong>do</strong> cheguei até eles . Perguntei a<br />

razão <strong>da</strong>quele movimento . Recebi como resposta que Luiz Vicente havia<br />

cometi<strong>do</strong> gracinhas e grosserias com suas irmãs e namora<strong>da</strong>s , em uma festa.<br />

Isto eles não iam aturar .<br />

Dei razão e comentei que , se realmente o fato aconteceu , Luiz<br />

Vicente faltara no trato com as moças . Depois fiquei tentan<strong>do</strong> acalmar os<br />

ânimos . Disse ain<strong>da</strong> que aquela briga só poderia trazer problemas para ambos<br />

os la<strong>do</strong>s. Não faria bem para ninguém .<br />

Durante aquele tempo to<strong>do</strong> César Giuliano , seu irmão e Paulinho<br />

Fleury ao meu la<strong>do</strong> . Quietos mas demonstran<strong>do</strong> firmeza . Foram ótimos .<br />

Por fim consegui convencer aquele pessoal que a melhor solução<br />

era levar Vicente para pedir humildemente desculpas para as mocinhas . Eles<br />

concor<strong>da</strong>ram . Disseram , entretanto, que Vicente não precisava ir até a casa.<br />

Não seria bem-vin<strong>do</strong> . Bastaria pedir desculpas em frente to<strong>do</strong>s que ali<br />

estavam .<br />

Alivia<strong>do</strong> entrei na casa , contei o resulta<strong>do</strong> <strong>da</strong> conversa e falei que<br />

Vicente teria que se desculpar pela malcriação feita . Ele concor<strong>do</strong>u .<br />

Então saímos e fomos ao encontro <strong>do</strong>s nossos amigos e <strong>da</strong>queles<br />

rapazes . Lá chegan<strong>do</strong> Vicente pediu muitas desculpas e solicitou que as<br />

mesmas fossem transmiti<strong>da</strong>s para suas irmãs . Pediu ain<strong>da</strong> que sua falta fosse<br />

per<strong>do</strong>a<strong>da</strong> pois ele reconhecia que estava erra<strong>do</strong> . Muito erra<strong>do</strong> .<br />

Aquele pronunciamento agra<strong>do</strong>u e acalmou to<strong>do</strong>s .<br />

Até aquele momento Caio estava quieto . Quan<strong>do</strong> começamos nos<br />

despedir ele falou que “Graças a Deus” não foi necessário violência , pois ele,<br />

por acaso voltan<strong>do</strong> de viagem , estava arma<strong>do</strong> . E caso tentassem invadir a<br />

casa seria obriga<strong>do</strong> a se defender .


Então , como to<strong>do</strong>s fizeram cara de desconfiança , até eu , ele<br />

mostrou um pequenino revolver .<br />

O “Leão de Chácara” , depois de olhar a arma na mão <strong>do</strong> nosso<br />

amigo, disse que era apenas um revolver de brinque<strong>do</strong> .<br />

Caio nem respondeu .<br />

Apontou o revolver para o lampião <strong>da</strong> rua e disparou .<br />

A lâmpa<strong>da</strong> apagou e os cacos caíram no chão .<br />

Depois só deu silencio ...<br />

.


TURMA DO PAULISTANO E AMIGOS DO HARMONIA<br />

Edu Marcondes<br />

O Paulistano de Ontem e de Hoje – A Velha Turma <strong>do</strong> Paulistano –<br />

O Pessoal <strong>do</strong>s “100 Por Hora”- Mais Amigos chegam ao Paulistano<br />

-<br />

Naqueles i<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 50/60 a convivência dentro <strong>do</strong> Paulistano<br />

era antes de mais na<strong>da</strong> de fraterni<strong>da</strong>de . Realmente muito gostosa . To<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> era amigo e se sentia queri<strong>do</strong> . Hoje é um tanto diferente .<br />

Hoje o CAP cresceu muito em seu quadro social , muito além de sua<br />

capaci<strong>da</strong>de física instala<strong>da</strong> . A maioria <strong>do</strong>s sócios praticamente agora não<br />

conhece os demais . Nem poderia . Atualmente é como viver em uma ci<strong>da</strong>de<br />

de 30,000 habitantes . Não podemos conhecer to<strong>do</strong>s .<br />

Desta maneira a convivência <strong>do</strong>s freqüenta<strong>do</strong>res é atualmente<br />

sempre realiza<strong>da</strong> mediante pequenos grupos que se formam . Grupo <strong>do</strong> Tênis ,<br />

<strong>da</strong> Natação , <strong>da</strong> Ginástica , <strong>do</strong>s Jogos de Cartas , <strong>do</strong> Bilhar , <strong>do</strong>s que gostam de<br />

Política Interna , <strong>do</strong>s Freqüenta<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s Bares , <strong>do</strong>s enxadristas e de outros<br />

mais .<br />

A grande maioria <strong>do</strong>s sócios mal se cumprimenta .<br />

Hoje não existe mais um To<strong>do</strong> mas “Pequenas Facções” .<br />

Praticamente desapareceu a “Turma <strong>do</strong> Paulistano”<br />

Os valores são diferencia<strong>do</strong>s . Sinal <strong>do</strong>s tempos.<br />

Hoje também existe uma tal de “Oposição”. Normalmente forma<strong>da</strong><br />

por sócios mais novos . Pergunta : Oposição a que ? Por que ? O que querem ?<br />

Na reali<strong>da</strong>de dão a entender que querem é o “Poder de Man<strong>do</strong>” ,<br />

achan<strong>do</strong> que sabem mais que to<strong>do</strong>s , apesar de menos tempo de clube !<br />

Demonstram ter menores conhecimentos e melhor entendimentos<br />

sobre o que foi e o que é nosso clube .<br />

De desconhecer as nossas Tradições <strong>do</strong> Paulistano .<br />

As Tradições são forma<strong>do</strong>ras de nossa “Alma Mater” , ela que<br />

sempre poderá levar o Paulistano de forma Digna . Sempre Digna !<br />

Lembro bem que tu<strong>do</strong> anteriormente foi bem diferente . Os sócios <strong>do</strong><br />

clube formavam uma Grande Família . Por sinal muito uni<strong>da</strong> . Sempre .<br />

Ninguém ficava isola<strong>do</strong> em uma mesa ou num canto <strong>do</strong> bar ( fato<br />

que impressiona atualmente, principalmente quan<strong>do</strong> vejo um sócio almoçan<strong>do</strong><br />

só ou mesmo beben<strong>do</strong> ... sem ninguém ao la<strong>do</strong> , sem companhia ! )<br />

O clube , como um to<strong>do</strong> , então Transmitia Alegria em qualquer<br />

lugar. Na Sede , na Piscina , no Ginásio , nos Terraços e Jardins . Nas quadras


de Tênis . To<strong>do</strong>s estavam sempre alegres , sorrin<strong>do</strong> . A atmosfera era<br />

realmente muito diferente . Muito mais descontraí<strong>da</strong> .<br />

Não existiam inúmeros pequenos grupos falan<strong>do</strong> baixinho e , por<br />

vezes , de cara amarra<strong>da</strong> . Agora sobram estes grupos . Falam sobre o que ?<br />

Política interna ? Fofocas... sobre o que ? Negócios ? Quem sabe , ou<br />

ninguém sabe sobre o que ? Tu<strong>do</strong> gira aparentemente , agora , em torno de<br />

sigilo , de “muito sigilo” . De estranho sigilo !<br />

O fato é que a espinha <strong>do</strong>rsal de uma Comuni<strong>da</strong>de foi quebra<strong>da</strong> .<br />

Deixou de existir total União e Fraterni<strong>da</strong>de . Hoje praticamente desapareceu<br />

o espírito <strong>da</strong> “Turma <strong>do</strong> Paulistano” . O espírito de Fraterni<strong>da</strong>de . Ele que era<br />

parte <strong>da</strong> “Alma Mater” de nossa gente .<br />

Hoje o que prepondera é a crítica , contínua de um grupo ou de<br />

pessoas , contra outros grupos ou contra outras pessoas . Dá para entender<br />

que existe inveja no ar . Em paralelo muito fingimento .<br />

O Paulistano deixou de ser, como foi durante tantos e tantos anos , a<br />

continuação de nossas casas . Sócios que não tem a mesma formação familiar<br />

e social . Problema advin<strong>do</strong> <strong>do</strong> numero excessivo de associa<strong>do</strong>s . Isto ain<strong>da</strong><br />

pode crescer , com “Títulos Especiais” para filhos de sócios .<br />

Tu<strong>do</strong>, na reali<strong>da</strong>de , começou com a Ven<strong>da</strong> <strong>do</strong>s tais “Títulos” que<br />

inicialmente <strong>da</strong>vam aos sócios adquirentes a vantagem de , ao ficarem<br />

remi<strong>do</strong>s, não mais pagar mensali<strong>da</strong>des. De ter um Titulo Que Valia Bastante.<br />

Lembro que fiz parte de um grupo minoritário que entendeu que...<br />

“Se to<strong>do</strong>s ficassem Remi<strong>do</strong>s o Paulistano iria para a Falência” , pois não<br />

teria recursos para se manter. Quem iria pagar to<strong>da</strong>s as despesas ?<br />

Fomos votos venci<strong>do</strong>s .<br />

Os tais “Títulos” , que permitiram a entra<strong>da</strong> de muitos novos sócios,<br />

foram vendi<strong>do</strong>s sob alegação de necessi<strong>da</strong>de de recursos para novas<br />

construções. Porem enten<strong>do</strong> que elas , as tais construções, não precisavam<br />

serem tantas inicialmente, pois poderiam ser feitas com muitos menos<br />

recursos e de forma mais austera .<br />

Para tanto existia um Plano de Reformas e Ampliação , elabora<strong>do</strong><br />

pela Presidência de Antonio Pra<strong>do</strong> . Procurei saber onde foi parar . Ninguem<br />

sabe . Muitos tinham idéia de arreca<strong>da</strong>r inicialmente somente para Reforma e<br />

Ampliação <strong>da</strong> Sede e a Construção de Nova Piscina. O resto ficaria para<br />

depois . Com o tempo . Não quiseram !...<br />

O Paulistano foi então dimensiona<strong>do</strong> e reforma<strong>do</strong> para um total de,<br />

no máximo , 5.000 freqüenta<strong>do</strong>res . Antes éramos 3.000 sócios .


Não existem boas explicações .Hoje já estamos com mais de 27.000<br />

.<br />

Ocorre que pelo final <strong>do</strong>s anos 70 a reali<strong>da</strong>de apareceu . Verificou-se<br />

que as arreca<strong>da</strong>ções existentes , ca<strong>da</strong> vez mais decrescentes , iriam inviabilizar<br />

a sua existência . As pressas foi altera<strong>do</strong> o Estatuto Social . Então ...<br />

Os Títulos que eram Patrimoniais “Por Mágica” viraram Sociais .<br />

Agora não sen<strong>do</strong> patrimoniais... não tem valor .<br />

Os sócios que tinham um Titulo Patrimonial perderam seu<br />

Patrimônio . Os títulos hoje praticamente na<strong>da</strong> valem . Principalmente<br />

quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com a famosa Taxa de Transferencia”<br />

Antes , quem ficasse remi<strong>do</strong> não poderia vender o título .<br />

Agora é obriga<strong>do</strong> a vender . Assim , com o mesmo numero de títulos,<br />

o numero de sócios aumentou e vai continuar aumentan<strong>do</strong> . Por ca<strong>da</strong> sócio<br />

que fica remi<strong>do</strong> teremos pelo menos mais 4 . Ca<strong>da</strong> sócio que fica remi<strong>do</strong> e<br />

vende o titulo abre a válvula para entra<strong>da</strong> de mais 4 ou 5 sócios<br />

freqüenta<strong>do</strong>res.<br />

São eles os sócios dependentes <strong>do</strong>s titulares que compraram o titulo .<br />

Depois , para evitar a per<strong>da</strong> de receita , POR NÓS PREVISTA<br />

QUANDO DO LANÇAMENTO INICIAIS DOS TITULOS, novos títulos<br />

foram então vendi<strong>do</strong>s . E parece que querem lançar mais outros .<br />

Entretanto , estes não tem direito para Remissão .<br />

Quem estava certo ?<br />

Parece porem que estu<strong>da</strong>m “Nova Remissão” !!?? Sei lá ...<br />

Como falam atualmente :-“ O CAP foi democratiza<strong>do</strong>”.<br />

Assim sen<strong>do</strong> , sua atual estrutura física instala<strong>da</strong> ficou incapacita<strong>da</strong> ,<br />

com quase 27.000 pessoas que podem hoje freqüentar o Paulistano . E podem<br />

chegar a 40.000 . É só multiplicar 9.500 títulos por 4/5 pessoas .<br />

O clube ficou pequeno para tanta gente . Não cresceu . Inchou !<br />

É mesmo maior que muita ci<strong>da</strong>de brasileira em numero de habitantes.<br />

Muito maior em arreca<strong>da</strong>ção . Entretanto , sem espaço físico para tanto !<br />

O pior é que os tais “Títulos”, que foram lança<strong>do</strong>s com determina<strong>do</strong> e<br />

eleva<strong>do</strong> valor , hoje pouco valem . Quase na<strong>da</strong> ! Não são mais títulos<br />

patrimoniais . Agora para entrar como sócio é necessário pagar caríssima<br />

“Transferência de Titulo”. Na reali<strong>da</strong>de voltamos a forma anterior , ou seja :<br />

E´preciso pagar o que antigamente era chama<strong>do</strong> de “Jóia” .<br />

.<br />

Sairá sempre um sócio mas entrarão mais quatro , em média (por<br />

família) . O crescimento de freqüenta<strong>do</strong>res será sempre geométrico . Patético !


Falta pura de visão administrativa para longo prazo <strong>do</strong>s anteriores<br />

dirigentes .<br />

Este Grave Problema passou para a atual Presidência .<br />

Assim meu amigo Antonio Carlos Salem vai ter que “descascar o<br />

abacaxi e carregar o piano” . Tu<strong>do</strong> ao mesmo tempo .<br />

Com isto e o crescente numero de sócios, vamos perceber que<br />

praticamente aconteceu o inevitável :<br />

Desapareceu o espírito <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Nossa grande união sumiu como um to<strong>do</strong> . Temos até oposição !<br />

Para que não paire duvi<strong>da</strong>s vou contar , claro que com sau<strong>da</strong>des .<br />

- A Turma <strong>do</strong> Paulistano<br />

Antes de mais na<strong>da</strong> lembramos mais uma vez e novamente que<br />

existia uma grande fraterni<strong>da</strong>de toman<strong>do</strong> conta de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s . To<strong>do</strong>s se<br />

sentiam como grandes amigos fraternais e assim agiam . Bastava adentrar ao<br />

Paulistano para se sentir em casa . Era chegar e ser recebi<strong>do</strong> com abraços e<br />

sau<strong>da</strong>ções alegres e muita festa . Ninguem ficava só .<br />

To<strong>do</strong>s se conheciam muito bem . As amizades vinham de muito<br />

tempo . Muitas vezes desde o tempo de criança ou de juventude . Com isto foi<br />

cria<strong>da</strong> uma união que agasalhava e protegia to<strong>do</strong>s .<br />

Não interessava religião , riqueza ou origem .<br />

To<strong>do</strong>s faziam parte <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano e assim eram<br />

reconheci<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Um sócio novo também era recebi<strong>do</strong> com o<br />

mesmo respeito e consideração . Ficava integra<strong>do</strong> imediatamente . Brigar<br />

com um <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano era praticamente brigar com to<strong>do</strong>s .<br />

Esta fraterni<strong>da</strong>de realmente favorecia to<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s . Caso<br />

alguém necessitasse de uma aju<strong>da</strong> , de orientação , de uma palavra amiga , de<br />

qualquer coisa , sempre apareciam várias opções , com várias ofertas<br />

desinteressa<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano . Precisava de um médico ?<br />

Aparecia um amigo <strong>da</strong>n<strong>do</strong> to<strong>do</strong> apoio . Precisava de uma apresentação ?<br />

Alguém , através de seus conhecimentos , trazia esta apresentação . Precisava<br />

de um convite ? Alguém conseguia este convite .<br />

Tu<strong>do</strong> era assim resolvi<strong>do</strong> , com muita amizade , digni<strong>da</strong>de e sem<br />

interesse . Alguém tinha um desentendimento com estranhos ? Então to<strong>da</strong><br />

nossa turma , em peso , <strong>da</strong>va apoio .<br />

A união <strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano era muito forte .<br />

Quan<strong>do</strong> em 1961 precisei operar um fibroma nasal quem me assistiu<br />

foi o amigo de infância - Octacilinho Lopes , agora Professor de Medicina . E<br />

na<strong>da</strong> cobrou. Tu<strong>do</strong> que ele fez por mim foi por real e grande amizade .


Quan<strong>do</strong> um grupo ia jantar fora , em algum lugar e alguém , naquele<br />

momento , estava sem dinheiro , não ficava de fora . Era convi<strong>da</strong><strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s<br />

e sua despesa paga por to<strong>do</strong>s . O importante era ter sua companhia .<br />

Tu<strong>do</strong> era assim, sem maiores interesses . To<strong>do</strong>s aju<strong>da</strong>vam to<strong>do</strong>s<br />

com muito prazer e alegria de poder aju<strong>da</strong>r .<br />

Lá pela déca<strong>da</strong> <strong>do</strong>s anos 50/60/70 to<strong>do</strong>s os dias este nosso pessoal<br />

se reunia na sede antiga . Lin<strong>da</strong> sede , acho que o projeto era <strong>do</strong> Ramos de<br />

Azeve<strong>do</strong> ( não tenho certeza) . Normalmente estes encontros aconteciam no<br />

Bar <strong>da</strong> Sede Social ou no Terraço , logo depois <strong>do</strong>s esportes realiza<strong>do</strong>s , no<br />

final <strong>da</strong>s tardes in<strong>do</strong> até o anoitecer .<br />

Então se programava tu<strong>do</strong> . Quem ia com quem jantar , quem iria<br />

naquela festa de saba<strong>do</strong> , nas reuniões na casa de alguem , no cinema <strong>da</strong> noite,<br />

quem seria companhia para visitar a namoradinha . Em qual boate iríamos ,<br />

depois . Quem e com quem iria paquerar na Barão de Itapetininga . Também<br />

eram programa<strong>da</strong>s as viagens para o próximo fim de semana , a aju<strong>da</strong> para<br />

alguém necessita<strong>do</strong> , etc ...etc . Até corri<strong>da</strong>s de automóvel ...<br />

Também trocávamos to<strong>da</strong>s informações possíveis . Sobre estu<strong>do</strong>s ,<br />

trabalhos , política , compras , carros e mecânicos , alfaiates , facul<strong>da</strong>des ,<br />

bons negócios , viagens , o próximo jogo <strong>do</strong> Paulistano , a programação para<br />

esportes . To<strong>do</strong>s ficavam saben<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> naquelas horas de encontro no bar<br />

<strong>da</strong> sede social .<br />

Alem <strong>do</strong> mais existia ain<strong>da</strong> a “Instituição <strong>da</strong> Cria” . Os sócios mais<br />

velhos tomavam conta e <strong>da</strong>vam apoio aos mais novos . Caio Kiehl , Luiz<br />

Carlos Junqueira e eu fomos “Crias” <strong>do</strong> Pedro Padilha e <strong>do</strong> Paulo Ribeiro .<br />

“Geléia” e muitos outros foram minhas “Crias” .<br />

Assim to<strong>do</strong>s aqueles mais novos eram protegi<strong>do</strong>s pelos mais velhos<br />

<strong>da</strong> Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Das amizades cria<strong>da</strong>s com esportes , tanto na piscina velha , <strong>do</strong> tênis,<br />

<strong>do</strong> bola ao cesto ,<strong>do</strong> vôlei e <strong>do</strong> atletismo , veio a nossa base inicial . O<br />

encontro diário desta nossa gente na Sede Social era continui<strong>da</strong>de natural <strong>do</strong><br />

esporte . Era o fecho <strong>do</strong> dia .<br />

Hoje o clube nem mais é realmente esportivo para seus sócios .<br />

No Paulistano de então eram sempre encontra<strong>do</strong>s , entre muitos<br />

outros sócios :<br />

Candi<strong>do</strong> Cavalcanti , José Aires Netto , Pedro “Alemão” Herch ,<br />

Fernan<strong>do</strong> “Baiano” Ab<strong>do</strong>n , Eduar<strong>do</strong> de Paula , Carlinhos Calmon , João e<br />

Cícero Campos , Artur Castilho de Ulhoa Rodrigues , Adir Villela , Cláudio<br />

“Pinduca” Lunardelli, Luciano Lunardelli, Gille Lunardelli , Tozinho Lara


Campos , Nelson Go<strong>do</strong>y , Nelson Boinain , Tarciso e Marcelo Leopol<strong>do</strong> e<br />

Silva , Eugenio”Pistinguet”Apfelbaun , Eugenio Amaral , Pedro Padilha ,<br />

Paulo Ribeiro , Luiz David Ribeiro , César Afonseca e Silva , Edson e Ary<br />

Mace<strong>do</strong> , os irmãos Roberto , Cícero e Deoclides Brito , Leon Alexander ,<br />

Leo Bergman , Ronie Scott , Oswal<strong>do</strong> Lara Vidigal , Gilberto Marcondes ,<br />

Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti , “Kiko” Campassi , Ubirajara Pilagallo , Emil Issa ,<br />

Zequinha Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong> , Adhemar Zacarias , Arnal<strong>do</strong> e Roberto Gasparian,<br />

Toninho Cintra Godinho , Rômulo Mariano e José Mariano Carneiro <strong>da</strong><br />

Cunha , Antonio Ciampolini , Gilberto Chiampaglia, Otacílio Lopes , Caio<br />

Moura , Alcyr “Azeitona” Amorim , Roberto Motta Rabello , Fritz D’Orey ,<br />

Ulisses Paes de Barros , Rafael Paes de Barros, Leonar<strong>do</strong> Frankental , Dácio<br />

Ragazzo , Roberto Trigueiro , Sérgio Cayubi Novaes , Mario Guisalberti ,<br />

Flavio e Hélio Cayubi, Arman<strong>do</strong> Ferla , Silvio de Campos , Carlos Roberto<br />

Matos , Eduar<strong>do</strong> Xande , Eduar<strong>do</strong> de Salles Oliveira , Luiz Edmur<br />

Albuquerque e Caio Kiehl .<br />

( Aqueles com nomes grifa<strong>do</strong>s infelizmente já faleceram )<br />

Começavam também aparecer com continui<strong>da</strong>de os mais jovens :<br />

Beto Go<strong>do</strong>y , Alex e Clovito Tole<strong>do</strong> Piza , Arman<strong>do</strong> e Toninho Salem ,<br />

Flavinho Guimarães , Chico “ Foca” Campos , Acácio “Geléia Mancio ,<br />

Mario Ottobrini Costa , Fernan<strong>do</strong> San<strong>do</strong>val , Dudu Brotero , entre muitos<br />

outros .<br />

Alem <strong>do</strong> bate-papo na Velha Sede ain<strong>da</strong> jogávamos com <strong>da</strong><strong>do</strong>s o<br />

“Bidu- Bidê”- “Pôquer” e “Du<strong>do</strong>”, valen<strong>do</strong> sempre a conta <strong>do</strong> lanche ( valia<br />

mais a gozação) .<br />

“Seven Eleven” só na rua pois no Paulistano era proibi<strong>do</strong> (mas as<br />

escondi<strong>da</strong>s , no final <strong>da</strong>s noites , era joga<strong>do</strong> no banheiro <strong>da</strong> sede social)<br />

Num canto <strong>da</strong> Velha Sede já jogávamos xadrez . Éramos quatro:<br />

Maia Rosenthal , Anibal , Rebello e eu . Os três se foram . Por sorte desde<br />

algum tempo apareceu outro velho amigo para jogar xadrez – o patriarca<br />

Tibiriça . Não fiquei só .Hoje somos os <strong>do</strong>is últimos <strong>da</strong> Velha Guar<strong>da</strong> que<br />

continuam jogan<strong>do</strong> até hoje . Sempre conversan<strong>do</strong>... nas terças e nos sába<strong>do</strong>s,<br />

mas jogan<strong>do</strong> xadrez .<br />

Caso existissem competições <strong>do</strong> Paulistano , de Basquete ou Vôlei ,<br />

logo em segui<strong>da</strong> as reuniões na sede , quase to<strong>do</strong>s estariam no “Velho<br />

Ginásio” torcen<strong>do</strong> , para os irmãos Doria , Jorge Bello , Deoclides Brito ,<br />

Cavalieri , José “Coqueiro” Vital , “Coquinho” , Nick Cavalcanti e para to<strong>do</strong>s<br />

os nossos outros atletas .<br />

Então , apoian<strong>do</strong> nossos atletas , com a nossa torci<strong>da</strong> , surgia<br />

sempre o “Aleguá ...Guá ...Guá ... Paulistano ... Paulistano !<br />

Hoje muita gente nem sabe o que o Paulistano vai disputar .


Nem sabem o que é o Aleguá ..guá ... guá ... .<br />

Naquele tempo muitas namoradinhas vinham assistir estes jogos,<br />

com os pais ou com seus irmãos .<br />

Os Jogos e Esportes faziam também parte Social <strong>do</strong> Club .<br />

Termina<strong>da</strong> a competição íamos comer “pizza” lá no “Columbia” ou<br />

jantar no “Nosso Ponto”.<br />

- O PESSOAL DOS “1OO POR HORA”<br />

Por volta de 1950/51/52/53 , com o advento <strong>do</strong> automóvel em<br />

grande escala , muitos sócios foram se juntan<strong>do</strong> e aumentan<strong>do</strong> aquela nossa<br />

turma que gostava de an<strong>da</strong>r e competir com carros .<br />

Assim e por isto mesmo muitos amigos iam se encontran<strong>do</strong> , para<br />

falar , an<strong>da</strong>r ou mesmo competir com automóveis : Caio Marcelo Kiehl ,<br />

Roberto Claro , Nico Peres de Oliveira , Roberto Matarazzo , Vicente de<br />

Sylos, Urbano Camargo , Bubi Figueire<strong>do</strong> , Bubi Loureiro , Fritz D´orey ,<br />

Celso Lara Barberis , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Antonio Duva , Belmiro<br />

Dias , Leo Berman .<br />

Com algum amigo ao la<strong>do</strong> , passávamos de carro , quase sempre<br />

paqueran<strong>do</strong> as namoradinhas , nas saí<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s colégios <strong>da</strong> meninas conheci<strong>da</strong>s<br />

Entre outros : – “Sacre Coeur , Des Oiseux , Sion e Ofélia Fonseca ” .<br />

Íamos também até a “Lareira”. Era uma escola para moças<br />

apreenderem coisas de administração <strong>do</strong> lar . Como gozação era chama<strong>do</strong> de<br />

“Curso espera Mari<strong>do</strong>”.<br />

Além disto , quan<strong>do</strong> nos encontrávamos fora <strong>do</strong> Paulistano ,<br />

gostávamos de , sempre que possível , competir nas ruas mais afasta<strong>da</strong>s e não<br />

movimenta<strong>da</strong>s que estavam em final de construção , lá pelos la<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

Morumbi. Os “pegas” eram programa<strong>do</strong>s e muitos carros apareciam . Por<br />

vezes corríamos em Interlagos . Então ali era possível .<br />

Lembro que , entre outros , Zé Ayres tinha um carrinho inglês,<br />

senão me engano um “Huxley” de seis cilindros , que era campeão <strong>do</strong>s<br />

pequenos . Caio Kiehl vinha com um “Jaguar – Mark Five” , Nico Peres com<br />

um “Mercury” , Roberto Claro com “Packard” , Roberto Matarazzo com<br />

“Cadillac” , Leon Bergman com Packard , Duva com seu “Studbaker , César<br />

Afonseca com “Volvo”. Fritz D’Orey com vários carros . Fernan<strong>do</strong> “Baiano”<br />

com “Dodge” . Os <strong>do</strong>is “Hudson”preto que eu dirigia , o 1º de meu pai , e<br />

depois o 2º meu , ganharam um só apeli<strong>do</strong> : - “Corvo Negro” .<br />

A maioria <strong>do</strong>s carros eram grandes e pesa<strong>do</strong>s .


Ain<strong>da</strong> , por causa <strong>do</strong>s automóveis , ocorria o “Festival <strong>da</strong> Graxa”.<br />

Ele acontecia quan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s carros de amigo precisava de<br />

polimento . Nos reuníamos , normalmente no quintal <strong>da</strong> casa <strong>do</strong> Roberto<br />

Claro, , que ficava em frente <strong>do</strong> Paulistano , na rua Honduras , e to<strong>do</strong>s<br />

aju<strong>da</strong>vam a deixar o carro de um amigo bem reluzente . Muito rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Eram momentos de só alegria e gozação . Deixan<strong>do</strong> sempre a “massa de<br />

polimento” nos cabelos de algum mais distraí<strong>do</strong> .<br />

Muitas vezes íamos até a pista de Interlagos para tirar “rachas” com<br />

aqueles carros antigos mas possantes . Interlagos naquele tempo era<br />

praticamente aberta , sem muitas dificul<strong>da</strong>des para entrarmos com os carros .<br />

Ali só existia um guar<strong>da</strong> amigo que permitia realização <strong>do</strong>s nossos pegas na<br />

velha pista .<br />

Foi lá que Fritz Dórey começou uma rápi<strong>da</strong> , curta e brilhante<br />

carreira que terminou com grave acidente na Europa , quan<strong>do</strong> , em competição<br />

internacional , guian<strong>do</strong> uma “Ferrari–Gran Prix” - para a escuderia <strong>do</strong><br />

campeão mundial Juan Manuel Fangio , bateu e teve sérios problemas físicos.<br />

Com o tempo se recuperou mas não mais competiu no automobilismo .<br />

Aquele nosso grupinho automobilístico <strong>do</strong> Paulistano tinha um<br />

nome bastante especial : -“100 por Hora” . Na reali<strong>da</strong>de o nome , quan<strong>do</strong><br />

fala<strong>do</strong> , parecia perfeitamente correto foneticamente , induzin<strong>do</strong> crer que o<br />

nome seria :- “100 Km por Hora”.<br />

Na reali<strong>da</strong>de o nome era : –“Sem ..., Por Ora ...” , significava :<br />

“Sem carro ..., por ora”, pois naquele momento , no começo <strong>do</strong>s anos 50 ,<br />

quase sempre os carros pertenciam aos nossos pais .<br />

Os carros passaram a ser muito importantes para nossa vi<strong>da</strong> . Eram<br />

um meio de liber<strong>da</strong>de em nossa movimentação . Tanto para trabalho e<br />

passeios como para vi<strong>da</strong> noturna . Era importante para arranjar um programa<br />

(sexy) , normalmente no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Quem não tinha carro no momento<br />

saia para “paquerar” no carro de um amigo .<br />

As viagens de fins de semana para as praias estavam começan<strong>do</strong> a<br />

crescer . Sempre aparecia um convite .<br />

Nossa maior preocupação passou a ser o “carro próprio” . Com o<br />

tempo , as vezes com alguma dificul<strong>da</strong>de , ele sempre era consegui<strong>do</strong> .


- MAIS AMIGOS VOLTAM AO PAULISTANO<br />

Com a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s muitas Festas em Vários Clubes , Festas<br />

nas <strong>Casa</strong>s de Amigos e conheci<strong>do</strong>s , as i<strong>da</strong>s aos Jogos <strong>da</strong> “Mac- Méd” ,as<br />

Reuniões em <strong>Casa</strong>s de Famílias , os passeios de Lancha na Represa de<br />

Guarapiranga ,as i<strong>da</strong>s aos Clubes Noturnos , as Sessões de Cinema ,as<br />

Viagens para Praias e Campos <strong>do</strong> Jordão , as Competições nas Hípicas<br />

Paulista e Santo Amaro , e tantas outras coisas mais , fizeram a nossa turma<br />

<strong>do</strong> Paulistano aumentar .<br />

Antigos sócios recomeçavam a freqüentar, com mais assidui<strong>da</strong>de, o<br />

Paulistano. Então tínhamos oportuni<strong>da</strong>de e encontrávamos outros sócios<br />

antigos que pouco estavam vin<strong>do</strong> ao CAP .<br />

Aparecem também alguns sócios novos.<br />

Na continui<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s encontros ficávamos mais amigos .<br />

Assim foi natural a integração deles to<strong>do</strong>s conosco . Começaram<br />

freqüentar com mais assidui<strong>da</strong>de o nosso Paulistano os antigos sócios -:<br />

Sergio e Aloísio Dávila, Alberto Botti , Silvio Abreu Jr. , Luiz Fernan<strong>do</strong><br />

Ribeiro <strong>da</strong> Silva , Mauricio Soriano , Adriano e Ademaro Gui<strong>do</strong>tti , Vitor e<br />

Fernan<strong>do</strong> Simonsen, Carlos e seus irmãos Sérgio e Gilberto Daccache ,<br />

Luciano Schwartz , Virgilio de Natal Rosi , Roberto Suplici , Carlito Taub ,<br />

Chico Galvão “Kirongosi”, Mario Sergio , Jorge Gugelmas, Paulo Go<strong>do</strong>y<br />

Moreira , “Jujuba” Moreira <strong>da</strong> Costa , Zizinho , Marcio e Amedeo Papa .<br />

Como alguns <strong>do</strong>s amigos sócios <strong>do</strong> CAP também eram sócios <strong>do</strong><br />

Harmonia muitas vezes éramos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para festas , almoços e reuniões<br />

naquele clube .<br />

A crescente amizade <strong>do</strong>s sócios <strong>do</strong> CAP começou a ter reflexos<br />

mesmo fora <strong>do</strong> Clube . Dentre aqueles sócios , que pertenciam aos <strong>do</strong>is clubes,<br />

lembro de Luiz Carlos Junqueira Franco , Ayrton Baccelar , Tarcisio e<br />

Marcelo Leopol<strong>do</strong> e Silva , Oswal<strong>do</strong> Vidigal , Josè Carlos e Sérgio Leal ,<br />

Guilherme Prates , Eduar<strong>do</strong> e Fernan<strong>do</strong> Levi , entre outros . Eles muitas vezes<br />

nos levavam até o Harmonia . Desta forma ficamos conhecen<strong>do</strong> melhor Zéca<br />

Calmom de Sá , Ricar<strong>do</strong> Rezende Barbosa , Tony Calmon de Sá , os irmãos<br />

Olival Costa , Paulo Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama , Agnal<strong>do</strong> Góes e Nestor Góes , Fredy<br />

Assumpção ,Vico Paes de Barros , Sergio “Cavalo” e muitos outros sócios <strong>do</strong><br />

clube irmão.<br />

Quem muito contribuiu com esta confraternização foi Ricar<strong>do</strong><br />

Amaral com suas crônicas sociais , quan<strong>do</strong> contava o que acontecia e quem<br />

participava <strong>da</strong>s festas com a presença <strong>do</strong> pessoal <strong>do</strong> Harmonia e <strong>do</strong> Paulistano.


Chegamos até a jogar futebol : Paulistano x Harmonia , por<br />

duas vezes , em nosso velho campo . Na ocasião a presença feminina na antiga<br />

arquibanca<strong>da</strong> foi marcante . Moças bonitas por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s .<br />

É preciso também lembrar que o Harmonia foi fun<strong>da</strong><strong>do</strong> por<br />

sócios dissidentes <strong>do</strong> Paulistano na déca<strong>da</strong> de 30 . Conseguiram o terreno com<br />

a Cia.City e construíram o seu clube . As famílias de ambos os clubes se<br />

conheciam . Muitas vezes eram até aparenta<strong>da</strong>s .<br />

Também mantínhamos continua amizade com muitos sócios <strong>da</strong><br />

Hípica Paulista e <strong>do</strong> Clube de Campo ( esse último hoje cerca<strong>do</strong> de favelas )<br />

Assim na São Paulo <strong>da</strong>queles tempos os relacionamentos em<br />

socie<strong>da</strong>de se expandiam com muita facili<strong>da</strong>de . A Turma <strong>do</strong> Paulistano se<br />

apresentava em to<strong>do</strong>s os lugares , em to<strong>da</strong>s ocasiões . A base de tu<strong>do</strong> eram<br />

simples amizades desinteressa<strong>da</strong>s , as quais , com o tempo , se transformaram<br />

em grandes e fortes amizades .<br />

Hoje o clube fisicamente ain<strong>da</strong> é o mesmo Paulistano , mas os<br />

sócios ... não formam mais a Turma <strong>do</strong> Paulistano . Infelizmente .<br />

O forte espírito de fraterni<strong>da</strong>de agora praticamente desapareceu ,<br />

ou pouco aparece .<br />

Além <strong>do</strong> mais muitos <strong>do</strong>s amigos antigos já faleceram . Existe<br />

atualmente uma amizade , mas diferente , sempre um pouco mais a distancia.<br />

Sinal <strong>do</strong>s tempos ...<br />

Esperança : - talvez com o tempo, poderá existir mais união .<br />

É preciso pensar uma forma de unir os sócios , manter nossas<br />

tradições e continuar nosso espirito de competição ;<br />

Aleguá .. Guá ...Guá . Paulistano ... Paulistano !


VIAGEM PARA ARGENTINA<br />

Edu Marcondes<br />

Compra <strong>da</strong>s Passagens – Inicio <strong>da</strong>s “Paqueras “- Uruguai – Buenos Aires<br />

– “Ninotcha”- Encrencas em “La Boca” – Volta ao Brasil<br />

Durante a segun<strong>da</strong> metade <strong>do</strong>s anos 50 teve início uma grande e real<br />

possibili<strong>da</strong>de para brasileiros viajarem ao Uruguai , Chile e Argentina ,<br />

nota<strong>da</strong>mente para este último país . O cambio era muito favorável e os custos,<br />

tanto de alimentação como para estadia e compras , muito acessível .<br />

Em 1956 um grupo de rapazes <strong>do</strong> Paulistano seguiu para Argentina .<br />

Entre eles estavam : José Sachetta , Eduar<strong>do</strong> de Paula e Carlinhos Calmon .<br />

Voltaram contan<strong>do</strong> maravilhas sobre Buenos Aires , de sua vi<strong>da</strong> noturna<br />

extremamente ativa , de seus teatros , <strong>do</strong>s “shows” , <strong>do</strong> bom acolhimento <strong>do</strong>s<br />

portenhos , <strong>da</strong>s compras de vestuário com alta quali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s saborosas<br />

churrascarias <strong>da</strong>quela terra .Tu<strong>do</strong> com preços pequenos .<br />

Também outro grupo <strong>do</strong> CAP , quase na mesma ocasião , seguiu<br />

para fora <strong>do</strong> Brasil , porem para muito mais longe , participan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s “Jogos <strong>da</strong><br />

Juventude Comunista” realiza<strong>do</strong> em Moscou . Nenhum deles era comunista<br />

mas aproveitaram a oportuni<strong>da</strong>de para viajar para a Europa sem gastar<br />

nenhum dinheiro . Quem contou muitas <strong>da</strong>quelas histórias engraça<strong>da</strong>s , com<br />

eles aconteci<strong>da</strong>s nos paises <strong>do</strong> bloco socialista , foi meu grande amigo Edson<br />

Mace<strong>do</strong> .<br />

Isto tu<strong>do</strong> começou despertar vontade nos nossos companheiros e<br />

quase sempre estávamos conversan<strong>do</strong> sobre uma viagem com os amigos <strong>do</strong><br />

CAP . Caso possível para Europa , na pior hipótese para Argentina .<br />

Esta vontade começou a ter concretização no início de 1957 . Alguns<br />

de nossos amigos informavam que , forma<strong>do</strong> um grupo <strong>do</strong> Paulistano ,<br />

estariam participan<strong>do</strong> na deseja<strong>da</strong> excursão rumo Argentina . Em Abril<br />

confirmavam a tal viagem : Sérgio D’Avila , Didi Gui<strong>do</strong>tti , Adriano Gui<strong>do</strong>tti,<br />

Silvinho Abreu , Nelson Cotini , José Alfre<strong>do</strong> Galrão , Luiz Carlos Pannunzio<br />

e Alberto Andrade . Muitos outros mais , <strong>do</strong>s que inicialmente estariam<br />

interessa<strong>do</strong>s na i<strong>da</strong> para Buenos Aires , naquela ocasião já haviam desisti<strong>do</strong> .<br />

Ficou acerta<strong>do</strong> então que nossa viagem aconteceria nas férias de<br />

Junho . Fiquei encarrega<strong>do</strong> de verificar como faríamos e os seus custos .<br />

Naquela época eu estava sempre com o amigo Fritz D’Orey ,<br />

principalmente nas corri<strong>da</strong>s aconteci<strong>da</strong>s em Interlagos . Saiamos muitas vezes<br />

juntos para várias festas , para Guarujá e Campos de Jordão . Estava sempre


in<strong>do</strong> até sua casa <strong>do</strong> Jardim Europa , bem perto <strong>da</strong> casa de Caio Kiehl<br />

localiza<strong>da</strong> na Rua Áustria .<br />

Em uma destas ocasiões , no início <strong>do</strong> mês de Abril , durante um<br />

almoço com sua mãe Dona Rachel e seu pai Sr. Frederico , surgiu não sei<br />

como o assunto <strong>da</strong> tal viagem para Argentina . Fritz confirmou que não<br />

poderia seguir conosco .<br />

Naquele momento seu pai perguntou como iríamos fazer aquela<br />

viagem . A minha resposta foi que preferencialmente de navio . Então para<br />

minha surpresa e alegria ele informou que poderíamos ir pela “ Societè<br />

Gènèral du Tansporte Maritìme” , pois ele , alem de outros tantos negócios ,<br />

era o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> empresa que representava tal companhia no Brasil . Que as<br />

passagens evidentemente teriam um desconto para os amigos de seu filho.<br />

Aceitei a oferta em nome <strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano.<br />

- COMPRA DAS PASSAGENS<br />

Da turma inicial somente Alberto Andrade e Sergio D’Avila<br />

confirmaram a i<strong>da</strong> para Argentina .<br />

Então confirmei o pagamento até sexta feira para uma cabine de três<br />

lugares . I<strong>da</strong> pelo “Province” . Volta pelo “Anna C”.<br />

Ain<strong>da</strong> naquela semana paguei as passagens . Em segui<strong>da</strong> telefonei<br />

para Alberto informan<strong>do</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>rmos <strong>do</strong>s nossos “ Vistos<br />

de Entra<strong>da</strong> e Saí<strong>da</strong> ” para Argentina . Não era necessário passaporte e tu<strong>do</strong><br />

seria resolvi<strong>do</strong> sem demora .<br />

Fui até o Paulistano . Lá encontrei Sergio D’Avila . Então ele<br />

informou não ter consegui<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dinheiro necessário . O que tinha <strong>da</strong>ria para<br />

estadia , refeições e algumas pequenas compras . Para passagem não <strong>da</strong>ria .<br />

Alberto Andrade , que chegou em segui<strong>da</strong> , pagou naquele momento somente<br />

sua parte .<br />

Como as passagens já estavam efetivamente pagas e como a cabine<br />

custaria o mesmo preço , para <strong>do</strong>is ou três passageiros , não tive duvi<strong>da</strong>s e<br />

disse para o amigo Sérgio D’Avila :<br />

“Você não vai deixar de viajar . Vai conosco de qualquer maneira .<br />

As passagens de navio você poderá me pagar quan<strong>do</strong> quiser e puder”.<br />

Recebi um abraço de agradecimento . Depois ficamos acertan<strong>do</strong><br />

detalhes para i<strong>da</strong> até Santos .<br />

Na véspera <strong>do</strong> embarque despedi-me de meus pais e de minha irmã<br />

Marisa .


No outro dia , na hora combina<strong>da</strong> , Fritz chegou . Depois , com uma<br />

hora de viagem , já estávamos na <strong>do</strong>ca marca<strong>da</strong> , ven<strong>do</strong> o “Province”atraca<strong>do</strong> .<br />

Fritz , para variar, tinha pisa<strong>do</strong> fun<strong>do</strong> no acelera<strong>do</strong>r . Era seu jeito de guiar .<br />

Ali já estavam meus <strong>do</strong>is companheiros de viagem e um grupo de<br />

muitos queri<strong>do</strong>s amigos <strong>do</strong> Paulistano . Foram nos <strong>da</strong>r o “bota fora” , por<br />

sinal foi maravilhoso e com inúmeras brincadeiras .<br />

Apresentamos as passagens , guar<strong>da</strong>mos as malas na cabine e fomos<br />

falar com o Coman<strong>da</strong>nte , levan<strong>do</strong> o pedi<strong>do</strong> permissão para nossos amigos<br />

subirem à bor<strong>do</strong> . Foi desnecessário . Eles , com apoio de Fritz , já estavam<br />

embarca<strong>do</strong>s e conversan<strong>do</strong> com as muitas moças que estariam na viagem .<br />

Logo Didi Gui<strong>do</strong>tti veio contar que nós éramos felizar<strong>do</strong>s , pois três grupos<br />

<strong>da</strong>quelas garotas estavam em excursão , justamente naquele navio .<br />

José Rafael e Luiz Carlos Pannunzio logo depois informavam que<br />

os grupos eram <strong>do</strong> Mackenzie/ São Paulo , <strong>do</strong> Colégio Bennet , e de uma<br />

outra escola <strong>do</strong> Rio de Janeiro . Verifiquei que teríamos muito mais mulheres<br />

<strong>do</strong> que homens à bor<strong>do</strong> . Achei ótimoooo !<br />

Mal cheguei no “deck” principal avistei Fritz , em uma mesa ,<br />

beben<strong>do</strong> champanhe e conversan<strong>do</strong> com duas moças . Eram <strong>da</strong>qui de São<br />

Paulo mas eu não as conhecia . Iriam também naquela viagem . Fui<br />

apresenta<strong>do</strong> juntamente com outros amigos que lá chegavam . Naquela altura<br />

Didi chamou o garçom e pediu mais champanhe , recomen<strong>da</strong>n<strong>do</strong> que fosse<br />

“nacional” . Nisto , alguém que não lembro , perguntou por que “nacional” .<br />

Didi , que estava esperan<strong>do</strong> a pergunta , respondeu que navio francês tem<br />

bandeira e solo <strong>da</strong> França . Caso pedisse champanhe estrangeira poderia vir<br />

uma nacional brasileira . Terminou com “bah” que expressava tu<strong>do</strong> .<br />

Tenho até hoje foto <strong>da</strong>quele momento . Infelizmente não gravei o<br />

nome <strong>da</strong>quelas duas meninas .<br />

- INICIO DAS “PAQUERAS”<br />

Logo depois reparei que em uma mesa ao la<strong>do</strong> estavam acomo<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

duas mulheres que nos olhavam atentamente . Deviam ter entre 30 e 35 anos.<br />

Convidei-as para nossa mesa . Sorrin<strong>do</strong> elas gentilmente recusaram o convite .<br />

. Depois de muitas brincadeiras , entrega de “santinhos e<br />

recomen<strong>da</strong>ções para que não perdêssemos as missas” nossos amigos foram<br />

obriga<strong>do</strong>s a desembarcar . O “Province” estaria de parti<strong>da</strong>.<br />

O navio desatracou em meio de muita serpentina e musica . Ficamos<br />

ven<strong>do</strong> nossos amigos <strong>da</strong>n<strong>do</strong> adeus e sumin<strong>do</strong> pouco a pouco no cais .


Enquanto Sergio foi trocar de roupa , eu e Alberto ficamos<br />

conversan<strong>do</strong> com aquelas duas novas amigas que conhecemos . Aquelas que<br />

não aceitaram tomar champanhe conosco .<br />

Soubemos que eram <strong>do</strong> sul , residiam na mesma ci<strong>da</strong>de . Eram<br />

simpáticas . Não sei se acertaria agora seus nomes reais , mas para to<strong>do</strong>s<br />

efeitos , por razões que ficarão obvias , estarão sen<strong>do</strong> chama<strong>da</strong>s de “ Luli e<br />

Tutsi” . Percebi que eram bem interessantes e alegres . Pareciam descendentes<br />

de alemães ou italianos <strong>do</strong> norte. Resolveram fazer aquela excursão e ficariam<br />

25 dias em Buenos Aires. Quan<strong>do</strong> Sergio estava chegan<strong>do</strong> de volta pediram<br />

licença pois iriam se preparar para a noite .<br />

Depois <strong>do</strong> jantar , com vinho incluí<strong>do</strong> no cardápio , fomos para o<br />

Bar- Boite ao la<strong>do</strong> . Ali estavam tocan<strong>do</strong> música e poderíamos <strong>da</strong>nçar . A<br />

parte feminina é que não faltaria .<br />

Naquele bar , pouco depois que chegamos , conhecemos três<br />

cariocas , também estu<strong>da</strong>ntes de arquitetura . Seus nomes : - Pedro Paulo ,<br />

Luiz e Márcio . Eram simpáticos e ficamos conversan<strong>do</strong> e ouvin<strong>do</strong> música .<br />

Alguns pares já estavam <strong>da</strong>nçan<strong>do</strong> . Ali a luz era pouca . Então<br />

tive uma surpresa agradável . Luli , aquela nova conheci<strong>da</strong> <strong>do</strong> sul , veio até<br />

onde estávamos . Estava to<strong>da</strong> sorridente . Convidei-a para <strong>da</strong>nçar .<br />

Ela não <strong>da</strong>nçava nadinha de na<strong>da</strong> , mas em compensação eu fui<br />

agarra<strong>do</strong> , de forma excitante e agradável naquele escurinho <strong>do</strong> bar , durante<br />

mais de 20 minutos . Estava gostan<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> derrepente ela disse :<br />

“ Esta tu<strong>do</strong> muito bom... está tu<strong>do</strong> muito bem ... mas agora que tal<br />

tomar champanhe em minha cabine ”.<br />

Quan<strong>do</strong> fui falar alguma coisa ela já estava me puxan<strong>do</strong> pela mão .<br />

Perguntei como ficaria sua companheira . Ela respondeu que sua amiga<br />

saberia o que fazer .<br />

Pela manhã , depois <strong>do</strong> banho , fui tomar café com os amigos .<br />

Quan<strong>do</strong> as duas chegaram para o desjejum apenas nos cumprimentaram<br />

discretamente . Estranhei .<br />

Foram sentar-se em uma outra mesa distante. . Acaba<strong>do</strong> o café Luli<br />

passou em nossa mesa e disse baixinho em meu ouvi<strong>do</strong> : “Hoje a noite vamos<br />

nos encontrar novamente ”. Sorriu e saiu .<br />

Durante a tarde <strong>da</strong>quele dia ficamos com algumas moças jogan<strong>do</strong><br />

“buraco”. Foi nesta ocasião que conheci Maria Lucia Finoquiaro que depois ,<br />

com maior relacionamento em São Paulo , se tornou minha boa amiga . Ela foi<br />

uma <strong>da</strong>s Rainhas de Festas em São Paulo .


Quan<strong>do</strong> chegou a noite , depois <strong>do</strong> jantar , nem fomos para o bar .<br />

Aconteceu a mesma coisa ocorri<strong>da</strong> na noite anterior . Cabine direto .<br />

No terceiro dia acor<strong>da</strong>mos com o navio balançan<strong>do</strong> , como diziam<br />

no sul , “uma barbari<strong>da</strong>de”. Estávamos no meio <strong>do</strong> Golfo de Santa Catarina<br />

enfrentan<strong>do</strong> um mau tempo <strong>da</strong>na<strong>do</strong> . Na hora <strong>do</strong> café reparei que grande parte<br />

<strong>do</strong>s passageiros não haviam apareci<strong>do</strong> . Sérgio D’Avila também estava<br />

acometi<strong>do</strong> de enjôo , fican<strong>do</strong> na cabine , como a grande maioria .<br />

Na hora <strong>do</strong> almoço o salão estava praticamente vazio . Da nossa<br />

turminha apenas eu e Alberto Andrade não sofríamos com o forte sobe e desce<br />

continuo <strong>do</strong> navio . Almoçamos na mesa <strong>do</strong> Coman<strong>da</strong>nte.<br />

Aquela noite não aconteceu na<strong>da</strong> , pois quase to<strong>do</strong>s estavam<br />

acama<strong>do</strong>s e enjoa<strong>do</strong>s . Principalmente as amigas <strong>do</strong> sul . Aproveitei e <strong>do</strong>rmi<br />

como não <strong>do</strong>rmia desde a saí<strong>da</strong> de minha casa em São Paulo.<br />

URUGUAI<br />

Acor<strong>da</strong>mos com o navio já atraca<strong>do</strong> nas <strong>do</strong>cas de Montevidéu .<br />

Teríamos o dia livre pois o “Province” só zarparia para Buenos Ayres as 23<br />

horas .<br />

Como o tempo seria pouco , pois já eram 10,00 horas , resolvemos<br />

ver em segui<strong>da</strong> alguma coisa <strong>da</strong> capital uruguaia . Alugamos um táxi bem<br />

grande que concor<strong>do</strong>u em levar aqueles seis brasileiros , mediante<br />

recebimento de um extra combina<strong>do</strong> antecipa<strong>da</strong>mente .<br />

Fomos então conhecer o centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ; depois a Facul<strong>da</strong>de de<br />

Arquitetura ; o Monumento <strong>da</strong> Liber<strong>da</strong>de , que apresentava um Carreteiro com<br />

seus bois , to<strong>do</strong>s em tamanho natural e fundi<strong>do</strong>s em bronze ; almoçamos em<br />

uma churrascaria ; fomos até praia de Carrasco e por fim conhecemos alguns<br />

bairros , com muitas casas finas e arquitetura de bom gosto . O Uruguai<br />

naquele tempo era considera<strong>do</strong> a “ Suíça <strong>da</strong> América <strong>do</strong> Sul ”.<br />

- BUENOS AIRES<br />

Na manhã seguinte nosso navio já estava na capital Portenha .<br />

Como as malas já estavam prontas foi só tomarmos um café ,<br />

encontrarmos os cariocas e marcarmos os encontros . Em um hotel com as<br />

meninas <strong>da</strong>s excursões , em outro com as desquita<strong>da</strong>s . De nossa parte o<br />

importante agora era encontrar um lugar para nós , não muito caro .


Fomos de táxi até o Hotel Claridge com os amigos <strong>do</strong> Rio .Era ali<br />

que eles ficariam . Lá deixamos provisoriamente nossas bagagens e saímos<br />

em busca de um hotel bem barato . Fomos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> pelo centro de Buenos<br />

Ayres ..<br />

Depois de uma hora , com muitas para<strong>da</strong>s e pesquisas de preço ,<br />

encontramos o que desejávamos na “Calle Corrientes”.O nome era pomposo :<br />

“Gran Hotel Chacabuco”. Era um hotel muito antigo , bem grande ,de<br />

construção cheia de detalhes e que teve seu esplen<strong>do</strong>r no final <strong>do</strong> século IXX .<br />

Como Alberto dizia : “Tu<strong>do</strong> ali lembrava a casa minha bisavó” .<br />

Era limpo , com moveis antigos , com esca<strong>da</strong>s e corrimões em<br />

madeira lavra<strong>da</strong> . O quarto era enorme , caben<strong>do</strong> com folga as três camas<br />

necessárias , ten<strong>do</strong> um banheiro privativo e bonitos lustres de ferro bati<strong>do</strong> . A<br />

diária muito pequena . O melhor : Havia diariamente uma refeição inclusa .<br />

Em caso de emergência estariam “quebran<strong>do</strong> o galho”.<br />

Quis saber o que significava “Chacabuco”. O gerente explicou que<br />

foi uma batalha decisiva na independência Argentina .<br />

Depois de pagarmos a primeira semana antecipa<strong>da</strong>mente fomos<br />

buscar nossas malas ..<br />

Após um banho fomos pela primeira vez almoçar no “Palácio de las<br />

Papas Fritas”. Papas fritas eram batatas que quan<strong>do</strong> fritas ficavam como<br />

pasteizinhos .Até hoje não sei como os cozinheiros argentinos conseguiam<br />

deixa-las tão estufadinhas . Com um “baby bife” eram deliciosas . O preço na<br />

época irrisório . Posteriormente verificamos que to<strong>da</strong> alimentação na<br />

Argentina era pouco dispendiosa .<br />

.<br />

As lojas eram bonitas com artigos de vestuário muito finos e com<br />

preços incrivelmente baixos para nós brasileiros . Notei que dentre as lojas<br />

havia uma , chama<strong>da</strong> “ Rhodes”, com roupas masculinas muito bem feitas .O<br />

preço era um terço <strong>da</strong>quelas nacionais de boa quali<strong>da</strong>de . Não tive duvi<strong>da</strong>s e<br />

comprei <strong>do</strong>is ternos , um paletó esporte e três coletes . Naquela época estavam<br />

na mo<strong>da</strong> . Arrumei meu guar<strong>da</strong> roupa gastan<strong>do</strong> muito pouco . Depois, quan<strong>do</strong><br />

as usava , sentia que ficava muito elegante . Eram bem corta<strong>da</strong>s e bem<br />

acaba<strong>da</strong>s . Desfilei com elas pelas noites de Buenos Ayres .<br />

Durante um fim de tarde , no “Claridge” , conhecemos <strong>do</strong>is<br />

estu<strong>da</strong>ntes argentinos que foram extremamente simpáticos conosco . Nestor<br />

Eduar<strong>do</strong> Bravo – estu<strong>da</strong>nte de medicina – e Willie Braun – estu<strong>da</strong>nte de<br />

direito. Estavam paqueran<strong>do</strong> as mocinhas brasileiras . Logo ficamos amigos<br />

e muitas vezes eles nos levaram aos mais interessantes e diferentes lugares de<br />

Buenos Ayres , sempre no carro que Willie possuía .


Uma noite fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> por Nestor Eduar<strong>do</strong> para sua residência<br />

argentina . Conheci seus pais , o mobiliário e inclusive seu guar<strong>da</strong> roupas .<br />

Eles foram muito gentis conosco .<br />

Em compensação Sergio lhes apresentou nossas amigas , inclusive<br />

uma <strong>da</strong>s desquita<strong>da</strong>s <strong>do</strong> sul . Luli , entretanto , continuou sain<strong>do</strong> com ele até<br />

o final <strong>da</strong>s férias . Como lembrança até ganhou dela um colete de presente .<br />

Durante os dias conhecíamos to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de com as meninas brasileiras<br />

vin<strong>da</strong>s no “Provence . Nunca no início manhã , pois estávamos curti<strong>do</strong> a<br />

ressaca <strong>da</strong> noite anterior . O vinho argentino era razoável . No meio <strong>da</strong><br />

manhã , por vezes ,aconteciam passeios muito alegres e cheios de<br />

brincadeiras.<br />

.<br />

.<br />

Por varias vezes , almoçamos no “Shorton Grill”. Era um<br />

restaurante <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> . Ali voltávamos , as vezes , também com nossas<br />

“paquerinhas” argentinas , mas durante à noite . De dia tu<strong>do</strong> ficava muito<br />

tranqüilo . Nós também .<br />

De noite é que se sentia que Buenos Ayres tinha uma vi<strong>da</strong> noturna<br />

fora de série . Os argentinos costumavam ceiar por volta <strong>da</strong>s 22,00 horas . Vi<br />

muitas vezes famílias com crianças depois <strong>da</strong>quela hora em casas de lanches e<br />

em restaurantes . Por isto , na parte <strong>da</strong> manhã , a vi<strong>da</strong> começava tarde .<br />

Aderimos a vi<strong>da</strong> noturna <strong>do</strong>s portenhos e começamos in<strong>do</strong> para o<br />

“Tabaris” . Era um tipo de cabaré , no velho estilo . Tinha uma grande pista de<br />

<strong>da</strong>nças cerca<strong>da</strong> por camarotes . Varias orquestras típicas tocavam os lin<strong>do</strong>s<br />

tangos antigos . Mulheres <strong>da</strong> noite por to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> . Naquele local Alberto<br />

Andrade ficava entusiasma<strong>do</strong> e queria conhecer to<strong>da</strong>s argentinas em uma só<br />

noite . Fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> varias vezes para <strong>da</strong>nçar tangos . Nunca recusei e<br />

cheguei até apreender alguns passos . As argentinas nos incentivavam .<br />

Alberto arranjou uma amiga portenha e muitas vezes voltou ao Tabaris .<br />

De dia , durante aqueles passeios com as brasileiras , as vezes<br />

conseguíamos tempo para manter contato com as argentinas .


- NINOTCHA<br />

Em uma ocasião , quan<strong>do</strong> somente eu havia i<strong>do</strong> com as brasileiras<br />

para tomar o chá <strong>da</strong> tarde ( os outros ain<strong>da</strong> não haviam volta<strong>do</strong> <strong>da</strong> noita<strong>da</strong> ) ,<br />

em uma Confeitaria muito bem decora<strong>da</strong> e freqüenta<strong>da</strong> , fui alerta<strong>do</strong> por<br />

minha amiga Maria Rosa Lima Mendes , que uma moça argentina não tirava<br />

não tirava os olhos de mim .<br />

Olhei para o la<strong>do</strong> que ela discretamente indicava e vi a tal argentina.<br />

Estava com uma companheira em uma mesa perto <strong>da</strong> nossa . Vi que tinha<br />

cabelos castanhos bem claros e era muito bonita . Fiquei bem interessa<strong>do</strong> . Fiz<br />

um sinalzinho , ela sorriu. Eu fui até lá.<br />

Depois <strong>da</strong> minha devi<strong>da</strong> apresentação fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para sentar .<br />

Fiquei toman<strong>do</strong> meu chá naquela mesa . O nome <strong>da</strong> moça era Ninotcha.<br />

Descendia de ucranianos e tinha maravilhosos olhos azuis . Era alta e bem<br />

branquinha de pele . Ela achava interessante a proximi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> língua<br />

portuguesa com o castelhano . Nunca tinha conheci<strong>do</strong> um brasileiro antes . Em<br />

1.957 poucos brasileiros haviam chega<strong>do</strong> até lá . Ela era natural de Men<strong>do</strong>za .<br />

Morava agora com sua amiga Laura , aquela que estava ao nosso<br />

la<strong>do</strong> . Trabalhava como secretária em uma empresa de exportação .<br />

No final , depois que paguei a conta <strong>da</strong> mesa , convidei Ninotcha<br />

para jantar e <strong>da</strong>nçar . Ela aceitou , condicionan<strong>do</strong> o encontro para a próxima<br />

noite . Deu o seu endereço e o telefone . Ficou marca<strong>do</strong> nosso encontro para<br />

as 21,00 horas .<br />

Logo depois nos despedimos e elas se foram .<br />

Quan<strong>do</strong> voltei para a mesa <strong>da</strong>s brasileiras to<strong>da</strong>s queriam saber<br />

como foi aquela conversa . Nossas moças , como sempre muito curiosas .<br />

Expliquei apenas que marcara um encontro para o próximo dia .<br />

Quan<strong>do</strong> Sergio D’Avila e os cariocas souberam <strong>do</strong> tal encontro,<br />

marca<strong>do</strong> com uma moça portenha , começaram a gozação dizen<strong>do</strong> que elas<br />

“as portenhas acharam um trouxa para pagar a conta” . Que eu iria tomar um<br />

“cano” , pois o encontro nunca aconteceria . Que as portenhas eram muito<br />

espertas e que eu ficaria apenas na ilusão” . Não liguei para eles .<br />

No fim <strong>da</strong> tarde <strong>do</strong> outro dia , fazen<strong>do</strong> hora para ir ao encontro com<br />

Ninotcha , fui até o hotel <strong>do</strong>s outros brasileiros.<br />

Estava realmente uma tarde muito fria . O frio até <strong>do</strong>ía .<br />

Então os cariocas , quan<strong>do</strong> me viram , brincavam comigo dizen<strong>do</strong><br />

que ... “estava uma noite muito boa para pegar resfria<strong>do</strong> , principalmente<br />

esperan<strong>do</strong> para<strong>do</strong> na esquina”...


Quan<strong>do</strong> chegou a hora dei boa noite , peguei meu sobretu<strong>do</strong> e fui<br />

para meu encontro . Na saí<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> ouvi : “... vamos to<strong>do</strong>s ficar no bar<br />

aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong>... a minha volta , no máximo dentro de uma hora” .<br />

Tomei um táxi , dei o endereço , e fui leva<strong>do</strong> para um bairro bem<br />

próximo <strong>do</strong> centro . Cheguei , dei o nome e numero <strong>do</strong> apartamento ,<br />

solicitan<strong>do</strong> para o porteiro avisar minha chega<strong>da</strong> . Ele ligou e em segui<strong>da</strong><br />

informou que a pessoa já estava descen<strong>do</strong> . Fiquei alivia<strong>do</strong> .<br />

O encontro era real , realíssimo .<br />

Ninotcha logo apareceu . To<strong>da</strong> elegante e muito bonita . Perguntou<br />

como eu estava enfrenta<strong>do</strong> o frio portenho . A resposta foi que eu precisaria de<br />

muito calor feminino aquela noite . Ela sorriu .<br />

Perguntei se ela tinha vontade de ir especialmente em algum lugar ,<br />

pois para mim tu<strong>do</strong> estaria bem em sua companhia . Alem <strong>do</strong> mais seu<br />

conhecimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de era maior e melhor . Ela falou sobre um clube<br />

noturno muito agradável , bem freqüenta<strong>do</strong> , na direção de Olivos , com<br />

musica boa para <strong>da</strong>nçar e uma ótima comi<strong>da</strong> francesa . Gostei <strong>da</strong> sugestão e<br />

fomos em frente .<br />

Realmente foi uma noite maravilhosa .<br />

Aquela noite teve continui<strong>da</strong>de por muitos dias , mais gostosos .<br />

ARRANJANDO ENCRENCA EM “LA BOCA”<br />

Na véspera de nosso retorno fomos com os cariocas conhecer o<br />

restaurante típico italiano chama<strong>do</strong> “Spa<strong>da</strong> Vechia” . Estava na mo<strong>da</strong> e era<br />

bem freqüenta<strong>do</strong> . Ficava lá no bairro <strong>da</strong> Boca . Era muito simples. Na<br />

reali<strong>da</strong>de uma cantina muito alegre , onde to<strong>do</strong>s cantavam e brincavam com<br />

to<strong>do</strong>s .<br />

A comi<strong>da</strong> italiana era sempre a mesma : macarrão , brachola ,<br />

cabrito , sala<strong>da</strong> verde e muito vinho . Muito vinho mesmo . Incluso no preço .<br />

Logo depois de vários copos ficamos bem à vontade com os<br />

argentinos que lá ficamos conhecen<strong>do</strong> . Sentávamos tanto na mesa deles<br />

como eles sentavam na nossa . A confraternização foi grande e a bebedeira<br />

também . Ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s contan<strong>do</strong> seus casos para os <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> . Para<br />

variar fui obriga<strong>do</strong> a tirar “braço de ferro” com vários portenhos .<br />

No meio de to<strong>da</strong> aquela alegria , sem mais nem menos , já no início<br />

<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> , Sergio D’Avila derrepente sumiu . Passa<strong>do</strong>s alguns minutos<br />

Alberto veio informar que ele estava realmente de “fogo” e tinha quebra<strong>do</strong> ,<br />

não sabia como , a pia <strong>do</strong> banheiro . Fui até lá ver . Tinha na reali<strong>da</strong>de


quebra<strong>do</strong> a pia e desloca<strong>do</strong> a bacia <strong>da</strong> priva<strong>da</strong> . Achei melhor irmos embora ,<br />

imediatamente , antes que a destruição fosse descoberta , pois não sabia o que<br />

poderia acontecer . Iria <strong>da</strong>r problemas na certa . E nosso dinheiro naquele<br />

momento já estava fican<strong>do</strong> pouco .<br />

Pagamos a conta e saímos rapi<strong>da</strong>mente levan<strong>do</strong> Sergio que mal<br />

podia an<strong>da</strong>r . No caminho para o táxi perdeu um pé de seu sapatos . Na hora<br />

nem percebeu .<br />

Quan<strong>do</strong> o táxi estava partin<strong>do</strong> ouvi vozes altas que vinham <strong>do</strong><br />

“Spa<strong>da</strong> Vecchia” . Olhei para trás e vi gente an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> apressa<strong>da</strong> na direção <strong>do</strong><br />

nosso táxi . Por sorte o motorista acelerou , saímos ilesos e acabamos<br />

chegan<strong>do</strong> até a esquina <strong>do</strong> nosso hotel . Não fomos direto para o “Chacabuco”<br />

pois o motorista poderia voltar e informar nosso endereço .<br />

A ressaca foi grande . Pior que ela só a continua reclamação <strong>do</strong><br />

Sergio por ter perdi<strong>do</strong> um pé <strong>do</strong> sapato novo .<br />

Eu brincava dizen<strong>do</strong> : “- Agora você pode dizer que é a “Cinderela<br />

Portenha” que perdeu seu “Sapatinho de Cristal no bairro <strong>da</strong> Boca ” . Ruim<br />

será quan<strong>do</strong> , ao invés de uma lin<strong>da</strong> princesa , quem poderá achar seu<br />

sapatinho é aquele enorme estiva<strong>do</strong>r barbu<strong>do</strong>” .<br />

“Aquele ... que você reparou , pelo tamanho , lá no cais . Vai ser<br />

muito duro namorar com ele ...”.<br />

VOLTA PARA BRASIL<br />

No dia <strong>do</strong> embarque no “Anna C” fomos almoçar em um restaurante<br />

perto <strong>do</strong> hotel . Fomos a pé . O local era agradável e tinha calefação que<br />

permitia tirar o sobretu<strong>do</strong> e coloca-lo no cabide junto a parede .<br />

Almoçamos bem e, por volta <strong>da</strong>s duas horas , fomos para o cais ,<br />

pois nosso navio deveria sair as cinco horas .<br />

Chegan<strong>do</strong> no porto Alberto me pediu as “Passagens e o Visto de<br />

Entra<strong>da</strong> e Saí<strong>da</strong>” . Eles haviam fica<strong>do</strong> comigo . Eu os colocara no bolso<br />

interno <strong>do</strong> meu sobretu<strong>do</strong> . Mas onde estava o maldito <strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> ?<br />

Lembrei que o havia coloca<strong>do</strong> no cabide <strong>do</strong> restaurante . Derrepente<br />

a “ficha caiu” . Tinha esqueci<strong>do</strong> <strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> . Agora só restava voltar e<br />

tentar “sobretu<strong>do</strong>” achar aquele maldito sobretu<strong>do</strong> .<br />

Combinei que iria e voltaria em segui<strong>da</strong> . Recomendei que eles não<br />

deixassem o navio partir. Que bobagem ! Seria impossível ...!<br />

Tomei um táxi e fui até o restaurante . Lá chegan<strong>do</strong> olhei para o<br />

cabide . O sobretu<strong>do</strong> ali não estava mais . Fiquei gela<strong>do</strong> . Perguntei pelo


maldito sobretu<strong>do</strong> . Em principio ninguém o tinha visto . Depois apareceu um<br />

garçom contan<strong>do</strong> que um senhor percebeu o esqueci<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong> . Depois<br />

encontrou papeis em seu bolso . Disse ao garçom que ia leva-lo para entregalo<br />

ao <strong>do</strong>no , pois continha <strong>do</strong>cumentos e passagens .<br />

Achei que haviam rouba<strong>do</strong> meu sobretu<strong>do</strong> .<br />

Como não tinha mais jeito , o jeito era tentar embarcar no navio de<br />

qualquer jeito , pedin<strong>do</strong> para que verificassem a Lista <strong>do</strong>s Passageiros .<br />

Tentaríamos descer no Brasil com nossas carteiras de identi<strong>da</strong>de .<br />

Voltei preocupa<strong>do</strong> para o cais . Quan<strong>do</strong> lá cheguei vi Sergio e<br />

Alberto , já na amura<strong>da</strong> <strong>do</strong> navio , conversan<strong>do</strong> alegremente com um oficial<br />

<strong>do</strong> navio . Gritei seus nomes . Como resposta , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s , disseram que<br />

eu já podia subir a bor<strong>do</strong> .<br />

Subi imediatamente e perguntei como eles tinham arranja<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a<br />

coisa .<br />

Alberto então contou : “Um senhor argentino , que nos tinha visto<br />

entrar e que almoçara no mesmo restaurante , percebeu que aquele seu<br />

sobretu<strong>do</strong> ficou aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> no cabide e , olhan<strong>do</strong> os bolsos , encontrou as<br />

passagens e os vistos de entra<strong>da</strong> . Como notara que o navio sairia naquele<br />

mesmo dia , veio ao cais indica<strong>do</strong> nas passagens <strong>do</strong> “Anna C ” .<br />

Então entregou o sobretu<strong>do</strong> e <strong>do</strong>cumentos para o oficial que estava<br />

de serviço . Como já tínhamos conta<strong>do</strong> nosso problema para aquele mesmo<br />

oficial , ele sabia a quem pertenciam as passagens e <strong>do</strong>cumentos . O oficial<br />

nos viu e nos chamou . Tivemos então oportuni<strong>da</strong>de de agradecer aquele<br />

legitimo cavalheiro argentino por sua grande gentileza” .<br />

Apesar <strong>do</strong> frio eu estava suan<strong>do</strong> naquele momento , mas totalmente<br />

alivia<strong>do</strong> . Sossega<strong>do</strong> realmente fiquei quan<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> senti o “Anna C”<br />

descen<strong>do</strong> o Rio <strong>da</strong> Prata .<br />

Quatro dias depois , em um sába<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> chegamos em Santos ,<br />

muitos amigos <strong>do</strong> Paulistano nos esperavam no cais . Foi a maior fuzarca<br />

quan<strong>do</strong> eles conseguiram subir a bor<strong>do</strong> . Lembro <strong>do</strong> Didi Gui<strong>do</strong>tti e de seu<br />

irmão Adriano , <strong>do</strong> Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Luiz Carlos Panunzzio , Alberto<br />

Botti, Flavio Guimarães , Arnal<strong>do</strong> Paiva e Sergio Guastini . Outros também<br />

vieram com amigos <strong>do</strong> Clube XV de Santos .<br />

A alegria continuou com mais uma “Guerra <strong>da</strong> Macarrona<strong>da</strong>”, lá na<br />

casa de Didi em São Vicente . Não preciso nem contar que aquele almoço foi<br />

produção feminina de nossas amigas , namora<strong>da</strong>s e “paquerinhas” .


PRAIAS – LITORAL SUL<br />

Edu Marcondes<br />

Santos/ S. Vicente / Guarujá – O Paulistano nas Praias - Choque em Fio<br />

Elétrico de Bonde – Veleiros – As Festas <strong>do</strong> “Clubeco”<br />

As déca<strong>da</strong>s de 50 e 60 foram realmente muito felizes para a nossa<br />

Turma <strong>do</strong> Paulistano , com muita camara<strong>da</strong>gem e muitos amigos sinceros .<br />

Tu<strong>do</strong> que acontecia ou fazíamos acontecer realmente era feito de forma<br />

inteiramente desinteressa<strong>da</strong> . A boa companhia tinha maior valia .<br />

Naqueles anos , principalmente quan<strong>do</strong> começava esquentar a<br />

temperatura , já na Primavera , em quase to<strong>do</strong>s fins de semana , os amigos <strong>da</strong><br />

nossa Turma seguiam para as praias . De Outubro até Março era o litoral<br />

nosso destino.<br />

Foram tempos de muitas festas , namoros , brincadeiras , farras ,<br />

esportes e muitas risa<strong>da</strong>s . Principalmente muitas risa<strong>da</strong>s .<br />

Alegria estava no ar.<br />

Para tanto existia um “esquema” pratica<strong>do</strong> pela Turma .<br />

Trabalhávamos e estudávamos durante a semana mas ... , nas noites de sexta<br />

feira ia começar alegria <strong>da</strong> rapazia<strong>da</strong> . Funcionava assim :<br />

- Caso existisse para aquela noite uma Festa <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de , sempre<br />

estaríamos presentes . Não ten<strong>do</strong> festa, nem convites , iríamos diretamente<br />

para a “Boate Jovem <strong>do</strong> CAP” .<br />

Entretanto uma coisa era certa . Tanto com festas como com boate ,<br />

depois <strong>da</strong>s 2 <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> o “Programa Saúde” iria começar : Destino<br />

Praias- São Vicente – Santos – Guarujá .<br />

Naquele tempo em uma hora , no máximo , já estávamos em São<br />

Vicente ou Santos . As viagens eram rápi<strong>da</strong>s , a estra<strong>da</strong> boa e os “pilotos”<br />

confiáveis , pois definitivamente quem bebesse não guiava . A Via Anchieta<br />

no horário <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> estava quase sempre vazia , permitin<strong>do</strong> nossa<br />

chega<strong>da</strong> em tempo para um bom sono no litoral .<br />

Levantávamos lá pelas 9 horas <strong>da</strong> matina para podermos aproveitar<br />

as praias desde logo ce<strong>do</strong> .<br />

Dentro deste “esquema” tinha um porem ... No <strong>do</strong>mingo , depois<br />

<strong>da</strong>s 4 <strong>da</strong> tarde , era obrigatório o retorno para São Paulo . To<strong>do</strong>s queriam estar<br />

no “Mingau Dançante” <strong>do</strong> CAP . Ele ocorria na pista de <strong>da</strong>nças que existia<br />

no Bar Térreo . Ela era muito lin<strong>da</strong>, feita de mármore e ilumina<strong>da</strong> por baixo .<br />

Lá normalmente encontraríamos as “paquerinhas” ou as “namoradinhas<br />

titulares”.


Em uma sexta-feira sem festa e sem “Boate Jovem no CAP”,<br />

iríamos mais ce<strong>do</strong> para o litoral . Lembro que naquele dia tivemos uma<br />

obrigação inicial . Primeiramente deveríamos passar , lá pelas 19 horas , em<br />

um coquetel de inauguração <strong>da</strong> Galeria de Artes de um tal Julio , que era<br />

conheci<strong>do</strong> de muitos amigos .<br />

Fui com Sergio “Mojica” D’Ávila , Silvinho“Careca” Abreu e,<br />

Antonio Duva .<br />

Naquele começo de noite senti que o Sergio estava disposto a beber ,<br />

coisa que ele não era habitua<strong>do</strong> . Lá pelas 20,30 horas , olhan<strong>do</strong> para ele ,<br />

disse para Duva e Silvinho que estava na hora de partir , depois de assistir os<br />

vários “drinks” que o nosso amigo já tinha toma<strong>do</strong> . Estava muito mais falante<br />

<strong>do</strong> que era normalmente . Não esperamos mais na<strong>da</strong> . Enfiamos o Sergio<br />

dentro <strong>do</strong> carro e partimos para Santos . Ele <strong>do</strong>rmiu to<strong>do</strong>s aqueles 60 minutos<br />

<strong>da</strong> viagem .<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos ao bar <strong>do</strong> Hotel Parque Balneário vimos que<br />

estava bem cheio e anima<strong>do</strong> , principalmente de mulheres bonitas . O<br />

Serginho tinha acor<strong>da</strong><strong>do</strong> bem alegre e recomeçou a beber . Como tu<strong>do</strong> estava<br />

bem descontraí<strong>do</strong> naqueles dias pré carnavalescos e as “paqueras” muito<br />

interessantes , esqueci <strong>do</strong> amigo durante mais de duas horas .<br />

Antes porem vi que ele havia arruma<strong>do</strong> um chapéu de mexicano ,<br />

não sei onde , e estava tentan<strong>do</strong> “cantar” uma gordinha que se derretia to<strong>da</strong> .<br />

Estava bem diverti<strong>do</strong> . Fiquei despreocupa<strong>do</strong> pois ele era naqueles momentos<br />

realmente uma figura muito alegre .Foi destaque <strong>da</strong> noite no Bar <strong>do</strong> Parque .<br />

Porem a alegria durou pouco . Depois de algum tempo o Silvinho me<br />

chamou e foi dizen<strong>do</strong> que precisávamos levar o Sérgio para o apartamento .<br />

Estranhei e perguntei por que . A resposta foi direta :<br />

- “ Serginho já bebeu to<strong>da</strong>s ... está cain<strong>do</strong> . Bebeu tanto que , quan<strong>do</strong><br />

fui com ele ao banheiro , em vez dele abrir a braguilha e tirar o “pirulito”<br />

mijou <strong>do</strong> la<strong>do</strong> de dentro <strong>da</strong>s calças . Ela era bege e ficou to<strong>da</strong> molha<strong>da</strong> ,<br />

mancha<strong>da</strong> de urina e escura . Está mesmo um horror . Quan<strong>do</strong> percebi ele já<br />

estava to<strong>do</strong> alivia<strong>do</strong> , pimpão e feliz , balançan<strong>do</strong> nas mãos segui<strong>da</strong>mente a<br />

ponta <strong>do</strong> cinto . Agora está sorrin<strong>do</strong> , to<strong>do</strong> mija<strong>do</strong> ... , até dentro <strong>do</strong>s sapatos”.<br />

Jura que a calça esta molha<strong>da</strong> de água . Só água ....<br />

Esta história é ver<strong>da</strong>deira . Foi muito conta<strong>da</strong> .<br />

Tempos depois virou até pia<strong>da</strong> . Porem aconteceu .<br />

Para ir para as praias naqueles fins de semana bastava chegar ao<br />

Paulistano nas tardes de sexta – feira . Sempre encontraria condução e lugar<br />

para ficar . Precisava porem levar a sua “bagagem de praia” , como dizia o


Didi Gui<strong>do</strong>tti : -“ Calção de banho , escova de dentes e bom humor ” . Para<br />

agüentar to<strong>da</strong>s as brincadeiras e gozações .<br />

Um <strong>do</strong>s locais de esta<strong>da</strong> <strong>da</strong> turma em São Vicente acontecia em meu<br />

apartamento , no Edifício Icaraí , que era chama<strong>do</strong> de “ Palácio <strong>do</strong> Riso” ,<br />

pelas bagunças , coquetéis e festinhas nele realiza<strong>do</strong>s .<br />

Ficava na Praia de Gonzaguinha .<br />

Outro destino certo era a casa <strong>do</strong> Didi e de seu irmão Adriano<br />

Gui<strong>do</strong>tti . Ali acontecia , aos <strong>do</strong>mingos , durante to<strong>do</strong> ano a “Guerra <strong>da</strong><br />

Macarrona<strong>da</strong>” . A casa era bem grande .<br />

Ficava entre a praia de Itararé e Gonzaguinha .<br />

Outros <strong>do</strong>is apartamentos usa<strong>do</strong>s estavam na praia de Itararé .<br />

Ficavam em um mesmo quarteirão , depois <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> Estra<strong>da</strong> de Ferro<br />

Sorocabana . Um pertencia ao Alberto Botti , outro ao “Vovô – Luiz Fernan<strong>do</strong><br />

Ribeiro <strong>da</strong> Silva .<br />

Fora destas residências onde a turma ficava , ain<strong>da</strong> existiam várias<br />

outras em São Vicente que eram ocupa<strong>da</strong>s por amigos e seus familiares : A<br />

casa <strong>do</strong> Carlito Taub , a <strong>do</strong> Fernan<strong>do</strong> Ribeiro <strong>da</strong> Silva , outra <strong>do</strong> Vicente de<br />

Sylos , mais uma <strong>do</strong> Antoninho Cintra Godinho , a casa grande <strong>do</strong> Chico e<br />

Roberto Matarazzo e aquela onde era residente e <strong>do</strong>micilia<strong>do</strong> o nosso queri<strong>do</strong><br />

Arnal<strong>do</strong> Conceição Paiva . Esta ficava em Santos.<br />

O Paulistano nas Praias<br />

Era grande a relação <strong>do</strong> pessoal amigo <strong>da</strong>s praias que eram Sócios<br />

<strong>do</strong> Paulistano , mas vamos destacar mais alguns <strong>do</strong>s habituais , alem <strong>do</strong>s que<br />

foram acima já cita<strong>do</strong>s .<br />

Eram eles : Luiz Carlos Junqueira Franco , “Velu<strong>do</strong>” Pompeu de<br />

Tole<strong>do</strong> , Caio Kiehl , Aluisio D’Avila , Alcir “Azeitona” Amorim , Otto<br />

Bendix , Carlos Roberto Mattos , Roberto “Big Bob” Garcia , José Rafael<br />

Cárdia , Zizinho Papa , Amedeo Papa , Mario Sérgio , Chico Galvão , Alberto<br />

Andrade , Flavio Guimarães , Mauricio Soriano , Mark Rubin , os irmãos<br />

Daccache , Caio Stinchi , Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Edi Cury , Danilo Penna ,<br />

Helinho Fugantti , Jose Ayres Neto , Dacio Ragazzo , Aderbal Tolosa , Sérgio<br />

Minsky e Iaião Soares , entre muitos outros .<br />

Alem deles ain<strong>da</strong> existiam aqueles inúmeros amigos <strong>do</strong> Clube XV<br />

de Santos . Eles que estavam sempre com o nosso pessoal .<br />

A turma se tornou tão grande , com tanta gente , que para os Bailes<br />

de Carnaval no Parque Balneário era preciso confeccionar 80 fantasias iguais .<br />

para moças e rapazes . Isto aconteceu em <strong>do</strong>is carnavais segui<strong>do</strong>s .


Antes <strong>da</strong> i<strong>da</strong> para as praias era necessário um desjejum reforça<strong>do</strong><br />

pois somente teríamos um almoço ajantara<strong>do</strong> que acontecia lá pelas 5 <strong>da</strong> tarde.<br />

Depois disso era praia direto . Ali acontecia tu<strong>do</strong> . Jogos de “fresco<br />

ball” , natação , esqui aquático , peteca , vôlei , passeios de lancha , paqueras ,<br />

namoros , “petiscos e bebidinhas”, sonecas no guar<strong>da</strong>-sol e jogos de futebol .<br />

Em um destes jogos de futebol o Junqueira cortou o pé em um<br />

pe<strong>da</strong>ço de lata enferruja<strong>da</strong> escondi<strong>da</strong> na areia . Fui com ele até o primeiro<br />

hospital que encontramos . Era uma uni<strong>da</strong>de <strong>do</strong> SUS - INSS . Como não<br />

poderia deixar de acontecer a demora já atingia quase duas horas e o Junqueira<br />

sem atendimento. Ele alem <strong>do</strong> mais precisava tomar vacina contra tétano . E<br />

tome paciência e espera . ( este quadro hoje só vem pioran<strong>do</strong> )<br />

Derrepente entrou na sala em frente , destina<strong>da</strong> a Pediatria , uma<br />

lin<strong>da</strong> médica recém chega<strong>da</strong> no hospital . O Junqueira olhou , gostou e não<br />

perdeu tempo . Pegou minha mão e disse de forma incisiva : “ Vem comigo !”.<br />

Quan<strong>do</strong> entramos naquela sala a bonita médica olhou bem para ele ,<br />

estranhou e foi dizen<strong>do</strong> :<br />

“- Moço ... Não devo , nem posso atender um adulto . Sou médica<br />

especializa<strong>da</strong> em crianças . Aqui só cui<strong>do</strong> de crianças !”<br />

“- Que absur<strong>do</strong> não é <strong>do</strong>utora ? Por isto a senhora pode calcular há<br />

quanto tempo que eu já estou na fila ... cheguei no colo ...e o tempo foi<br />

passan<strong>do</strong>...agora cresci um pouco . Dá para me atender ?... ”<br />

Não foi atendi<strong>do</strong> por ela quan<strong>do</strong> de seu curativo e aplicação <strong>da</strong><br />

vacina , mas a noite já tinha uma lin<strong>da</strong> companhia para jantar .<br />

Aprendi a esquiar razoavelmente lá na Praínha de São Vicente .<br />

Lancha não faltava pois Alberto Botti , Jose Rafael , Adriano Gui<strong>do</strong>tti e<br />

Roberto Matarazzo , entre outros , colocavam barcos e esquis a disposição <strong>do</strong>s<br />

amigos .<br />

Quan<strong>do</strong> precisávamos de um passeio maior com as paquerinhas de<br />

momento , sempre lá estavam os <strong>do</strong>is enormes iates “Cabrasmar” , que<br />

pertenciam ao Toninho Cintra Godinho e Carlito Taub . Alem destes sempre<br />

apareciam outras barcos de conheci<strong>do</strong>s . A confraternização era geral , com<br />

muitas pia<strong>da</strong>s , histórias cômicas , brincadeiras e muito companheirismo .<br />

Dois , três ou mais barcos saiam juntos para giros curtos pelo litoral .<br />

Então só não poderiam faltar as caipirinhas , as bati<strong>da</strong>s de limão e os<br />

camarões fritos . Musica era indispensável , pois tu<strong>do</strong> virava festa .


CHOQUE ELETRICO EM FIO DE BONDE<br />

Alem destes barcos um dia Didi Gui<strong>do</strong>tti ganhou de presente um<br />

pequeno veleiro – classe “Sharp”. Não tivemos duvi<strong>da</strong>s e em <strong>do</strong>is fins de<br />

semana ele estava inteiramente reforma<strong>do</strong> . Ficava guar<strong>da</strong><strong>do</strong> no grama<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

casa <strong>do</strong> Didi . To<strong>do</strong> fim de semana era leva<strong>do</strong> para a praia em frente , depois<br />

de passarmos uma linha de bonde existente na rua .<br />

Para tanto to<strong>da</strong> vez precisávamos abaixar o mastro , tanto na i<strong>da</strong><br />

como na volta , para não batermos no fio elétrico <strong>do</strong> bonde . Era coisa<br />

demora<strong>da</strong> . Depois de muitas vezes nestas manobras eu achei que <strong>da</strong>va para<br />

passar sem baixar o mastro e sem bater no tal fio elétrico . Outros não<br />

acreditavam . Então eu disse que iria puxar sozinho o barco naquele trecho .<br />

Ninguém quis aju<strong>da</strong>r .<br />

Peguei na cor<strong>da</strong> molha<strong>da</strong> , olhei mais uma vez para o mastro e para o<br />

fio elétrico <strong>do</strong> bonde . Medi com os olhos as respectivas alturas . Esqueci que<br />

com o piso de paralelepípe<strong>do</strong>s o solo era irregular . Puxei o barco sozinho .<br />

bem devagar . Ele subiu um pouco no piso , muito pouco ...<br />

Então a ponta <strong>do</strong> mastro tocou levemente no fio <strong>do</strong> bonde .<br />

No momento em que a biruta existente na ponta <strong>do</strong> mastro<br />

encostou no fio elétrico tomei o maior choque de minha vi<strong>da</strong> .<br />

Foi tão forte que , não sei como, impulsionou por reflexo os<br />

músculos de minhas pernas e eu , sem desejar , dei um grande salto , sain<strong>do</strong><br />

para<strong>do</strong> e sem impulso . Fui parar uns 3 metros de distancia .<br />

No ar , sem querer larguei a cor<strong>da</strong> .<br />

Foi minha sorte pois fiquei desliga<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele fortíssima corrente<br />

elétrica . Tremia to<strong>do</strong> mas continuava vivo .<br />

Continuei tremen<strong>do</strong> por mais duas horas .<br />

Por sorte meu Anjo <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> estava de plantão e a Morte , distraí<strong>da</strong><br />

com os banhistas de fim de semana , me esqueceu<br />

.


-VELEIROS<br />

Veleiros - Outro barco veleiro ficou em nossa história . Sergio<br />

Minsky , natural <strong>do</strong> Rio de Janeiro era médico radica<strong>do</strong> em São Paulo .<br />

Descobriu no Iate Clube <strong>da</strong> Guanabara um lin<strong>do</strong> veleiro , para comprar por um<br />

preço baratíssimo, pois para aquele tipo de barco não existiam competições no<br />

Brasil.<br />

Era um veleiro grande , classe “Internacional-12 metros” , convés<br />

corri<strong>do</strong> , com cabine para 4 pessoas . Na sua quilha , como lastro , havia um<br />

torpe<strong>do</strong> de chumbo de duas tonela<strong>da</strong>s . Alem de tu<strong>do</strong> era um barco veloz .<br />

Sergio conversou com o Arnal<strong>do</strong> Gasparian e resolveram comprar o<br />

tal veleiro . Ele , como não poderia deixar de ser , viria para São Vicente .<br />

Foi monta<strong>da</strong> uma equipagem para trazer o barco . Minsky como<br />

mestre , contan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> com o Caio Richetti , o Lauro ( era um amigo <strong>do</strong><br />

Minsky que fazia halteres com ele no CAP ) e um carioca de nome Léo .<br />

No saba<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> saíram <strong>do</strong> Rio com lin<strong>da</strong> manhã e bons ventos .<br />

A tarde a coisa mu<strong>do</strong>u e a noite caiu uma tempestade que só terminou por<br />

volta <strong>do</strong> meio dia <strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo . Com aquele tempo o barco ficou mesmo<br />

desarvora<strong>do</strong> algum tempo e quase naufragou . Porem chegaram . Marea<strong>do</strong>s<br />

mas chegaram .<br />

Vi pela primeira vez o tal barco pela janela <strong>do</strong> meu apartamento .<br />

Ele era branco e tão lin<strong>do</strong> que mu<strong>da</strong>va a paisagem <strong>da</strong> Baia de São Vicente .<br />

Infelizmente durou muito pouco . Duas semanas depois Caio<br />

Richetti saiu com o barco em uma sexta feira . Não ancorou direito o barco<br />

pois não usou suas duas ancoras . Apenas mergulhou uma poita , o que não era<br />

suficiente para segurar o barco no temporal que viria cair naquela noite na<br />

Baia de São Vicente .<br />

As grandes on<strong>da</strong>s que se formaram arrastaram o barco para uma<br />

pequena praia cerca<strong>da</strong> de roche<strong>do</strong>s .<br />

Ele encalhou e ficou sen<strong>do</strong> bati<strong>do</strong> pelo mar durante to<strong>da</strong> noite . Com<br />

isto o mastro acabou cain<strong>do</strong> e arrebentou grande parte <strong>do</strong> “Deck”.<br />

No saba<strong>do</strong> e <strong>do</strong>mingo tentou-se reboca-lo para fora mas ele estava<br />

tão enfia<strong>do</strong> na areia que só quebrou um pouco mais , fican<strong>do</strong> realmente<br />

inutiliza<strong>do</strong> para sempre .<br />

Foi um triste final para um maravilhoso barco feito na Suécia e que<br />

havia ganho suas competições . Realmente senti não só sua per<strong>da</strong> , mas a falta<br />

<strong>da</strong> beleza que ele trazia por onde passava .


- AS FESTAS DO “CLUBÉCO”<br />

Cabe aqui e agora uma pagina para o Arnal<strong>do</strong> Conceição Paiva , o<br />

“Professor Pavão”, como era chama<strong>do</strong> pelos colegas de arquitetura <strong>do</strong><br />

Mackenzie . Alem de amigão , simpático e muito educa<strong>do</strong> , era muito<br />

dinâmico e gostava de programar e executar as coisas .<br />

Foi ele quem primeiro nos levou ao Clube XV e nos apresentou aos<br />

seus diretores . Foi ele quem nos levou para conhecer o seu excelente<br />

restaurante , por sinal com bons preços . Ele que conseguiu nossa entra<strong>da</strong> livre<br />

para o clube e para suas festas .<br />

Foi também Arnal<strong>do</strong> quem bolou e fun<strong>do</strong>u o “ Clubeco” que <strong>da</strong>va<br />

festas no litoral e tinha uma enorme ten<strong>da</strong> , na praia de Itararé . Pagávamos<br />

uma pequena mensali<strong>da</strong>de para termos a maior mor<strong>do</strong>mia .<br />

A ten<strong>da</strong> era muito grande , monta<strong>da</strong> aos sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos , com<br />

mesas , cadeiras , bar e garçons que serviam champanhe na areia <strong>da</strong> praia .<br />

Com isto também não era mais preciso sair <strong>da</strong> praia para arranjar<br />

bati<strong>da</strong>s geladinhas e camarões fritos na hora . Mor<strong>do</strong>mia total . Tu<strong>do</strong> com o<br />

“Clubeco” era perfeito .<br />

União <strong>do</strong> pessoal de Santos com o pessoal <strong>do</strong> Paulistano /Harmonia .<br />

A primeira “Festa de Luau Havaiano” foi ele quem bolou e a<br />

executou em praia <strong>da</strong> ilha Porchat , em 1955 ( naquele tempo ain<strong>da</strong> fecha<strong>da</strong> ao<br />

publico . Depois naquele local se formou um Clube <strong>da</strong> Ilha ) .<br />

A festa foi lin<strong>da</strong> , com fogueiras , tochas acesas , porco assa<strong>do</strong> na<br />

areia , comidinhas , muitas flores , mil tipos de frutas , vários tipos de bebi<strong>da</strong>s<br />

- inclusive com “Mai-Tai”( coquetel dentro <strong>do</strong> abacaxi) . O melhor eram as<br />

moças , to<strong>da</strong>s vesti<strong>do</strong>s de sarong . Com a noite ficavam lin<strong>da</strong>s ao luar .<br />

Depois ain<strong>da</strong> realizou outra festa na ilha Porchat . Era um Baile de<br />

Fantasia , com amigos e amigas de São Paulo , Santos e Guarujá . Foi uma<br />

festa sensacional , muito concorri<strong>da</strong> e que marcou época , realiza<strong>da</strong> em uma<br />

enorme casa , com jardins ain<strong>da</strong> maiores , situa<strong>da</strong> nos altos <strong>da</strong> ilha . Guar<strong>do</strong> na<br />

lembrança as luzes <strong>da</strong>s casas praianas vistas <strong>do</strong> alto . Não me lembro de to<strong>do</strong>s<br />

detalhes pois aquela noite , vesti<strong>do</strong> de “samurai”, tomei um “pilequinho”.<br />

O professor Arnal<strong>do</strong> era mestre naquilo que fazia .


- DESASTRE NA SERRA DO MAR<br />

Em um dia <strong>do</strong>mingueiro , ain<strong>da</strong> toman<strong>do</strong> umas cervejas na praia ,<br />

acabamos por receber uma noticia muito triste . Acidente com amigo <strong>do</strong> CAP.<br />

O Eugenio “Pistinguet” Apfelbaun havia bati<strong>do</strong> seu automóvel<br />

quan<strong>do</strong> vinha para Santos , ten<strong>do</strong> sua mãe faleci<strong>da</strong> no local . Tu<strong>do</strong> ocorreu no<br />

saba<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> choveu na serra . Seu carro derrapou , bateu no “guard rail” e<br />

caiu serra abaixo . O acidente somente foi descoberto no dia seguinte . O carro<br />

estava inteiramente destroça<strong>do</strong> . Dentro dele só Eugenio . Sua mãe havia caí<strong>do</strong><br />

fora <strong>do</strong> carro e não resistiu . Ele se salvou por milagre e ficou muito tempo no<br />

hospital .<br />

Dias depois fomos visitá-lo , mas ele ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> estava no quarto<br />

hospitalar sem saber direito <strong>da</strong>s coisas .<br />

Tempos depois se recuperou de tu<strong>do</strong> . Fisicamente


LITORAL NORTE – SÃO PAULO E RIO<br />

Edu Marcondes<br />

Ilhabela – Problemas com Mergulhos –Ubatuba – Cabo Frio –<br />

Naufrágio em Paratí – “ Mulhera<strong>da</strong> Sadia no Hotel <strong>da</strong>s Cigarras”<br />

- ILHABELA<br />

- De 1953 até 1956 fui muitas vezes para Ilhabela . Ia para lá ,<br />

quan<strong>do</strong> possível , em alguns feria<strong>do</strong>s mais longos . Depois <strong>da</strong> primeira i<strong>da</strong><br />

sempre fiquei atraí<strong>do</strong> pela beleza <strong>do</strong> local .<br />

Naquele tempo as viagens eram mais demora<strong>da</strong>s pois a quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s não era ain<strong>da</strong> muito boa . Alem <strong>do</strong> mais a travessia para a ilha ,<br />

feita por velhas balsas motoriza<strong>da</strong>s , era extremamente demora<strong>da</strong> .<br />

A viagem sempre começava muito ce<strong>do</strong> , passan<strong>do</strong> por São José <strong>do</strong>s<br />

Campos , para posteriormente , via Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Tamoios , alcançarmos<br />

Caraguatatuba e São Sebastião – onde normalmente almoçavamos .<br />

Sempre pelo início <strong>da</strong> tarde já estávamos entran<strong>do</strong> na beleza<br />

simples , natural e maravilhosa <strong>da</strong> “Ilhabela <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r”. Ali nossa<br />

hospe<strong>da</strong>gem era realiza<strong>da</strong> normalmente em casas simples que alugávamos <strong>do</strong>s<br />

pesca<strong>do</strong>res . As vezes em pequenas pensões que ali ain<strong>da</strong> existiam . Quem<br />

normalmente cui<strong>da</strong>va destes detalhes era o Caio Richetti . Ele tinha amigos<br />

que moravam no local . Cui<strong>da</strong>va de tu<strong>do</strong> por telefone . Caio Kiehl , Carlos<br />

Roberto Matos , Luiz Davis Ribeiro entre tantos mais eram nossos<br />

companheiros .<br />

Uma coisa que marcava nossa esta<strong>da</strong> na ilha eram as Serenatas que<br />

fazíamos praticamente to<strong>da</strong>s as noites . Quase sempre ao la<strong>do</strong> de uma fogueira<br />

para espantar mosquitos . Borrachu<strong>do</strong> só atrapalhava no começo <strong>da</strong>s manhãs<br />

e finais <strong>da</strong>s tardes . Quan<strong>do</strong> estávamos bem queima<strong>do</strong>s de sol praticamente<br />

nem mais sentíamos os borrachu<strong>do</strong>s . O corpo já tinha cria<strong>do</strong> suas defesas .<br />

Daquelas serenatas uma ficou famosa , por não ter aconteci<strong>do</strong> .<br />

Como eu estava de namorico com um par de olhos verdes bem clarinhos , de<br />

nome Angélica , havia chama<strong>do</strong> os amigos e até contrata<strong>do</strong> violeiros <strong>da</strong> ilha<br />

para a serenata que iria acontecer no sába<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s já estavam<br />

prepara<strong>do</strong>s caiu aquela famosa chuva demora<strong>da</strong> litorânea . “Criadeira”.<br />

Só foi parar no fim <strong>da</strong> tarde de Domingo quan<strong>do</strong> já estávamos<br />

voltan<strong>do</strong> . Virou gozação a tal serenata .<br />

Por causa deste tipo de chuva demora<strong>da</strong> e arrasta<strong>da</strong> , que acontecia<br />

na região, to<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong>quele litoral fluminense e paulista tinham apeli<strong>do</strong>s :<br />

“Angra <strong>do</strong>s Raios” , “Paratimbum” , “Ubachuva”, “Caranagua<strong>da</strong>chuva”, “São<br />

Sebastrovão” e “Ilhaumbrela” .


- Problemas com Mergulhos<br />

O litoral <strong>da</strong> ilha era realmente próprio para mergulhos e caça<br />

submarina , que naquele tempo começavam a ganhar muitos adeptos . A Baia<br />

<strong>do</strong>s Castelhanos ,no outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha , já em águas abertas e limpas <strong>do</strong><br />

oceano , era lugar espetacular para mergulhar .<br />

Nota<strong>da</strong>mente em dia de muita luz e sol .<br />

Naquele tempo o cenário submarino era um espetáculo ,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> visto pela primeira vez . Era maravilhoso , cria<strong>do</strong> pela<br />

água clara , enorme quanti<strong>da</strong>de de peixes colori<strong>do</strong>s existentes e pelas plantas<br />

que embelezavam aquele cenário . Hoje como ficou não sei .<br />

Desde menino eu gostava de mergulhar na piscina <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Descia com facili<strong>da</strong>de os 3 metros que a antiga piscina tinha de fun<strong>do</strong> .<br />

O primeiro mergulho no mar encheu minha alma <strong>da</strong> luz e beleza .<br />

Não tinha ain<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de mergulhar muito mais fun<strong>do</strong> , mesmo com pé<br />

de pato e mascara. Mas ficava descen<strong>do</strong> em curtos mergulhos durante grande<br />

parte <strong>do</strong> dia . Sentia o envolvimento <strong>da</strong> beleza natural .Traziam tranqüili<strong>da</strong>de .<br />

Com o tempo , aju<strong>da</strong><strong>do</strong> pelo “snorkel”, depois pelo “aqualung” fui<br />

chegan<strong>do</strong> mais fun<strong>do</strong> . Praticamente não caçava na<strong>da</strong> pois não gostava de<br />

matar . Quan<strong>do</strong> muito , quan<strong>do</strong> necessário , pegava o peixe para o almoço .<br />

Uma coisa acontecia comigo ca<strong>da</strong> vez que mergulhava abaixo <strong>do</strong>s 8<br />

ou 9 metros . Aparecia uma <strong>do</strong>r dentro <strong>da</strong> minha fossa nasal . Entretanto , isto<br />

não impedia inicialmente a continui<strong>da</strong>de de meus mergulhos .<br />

Dos demais mergulha<strong>do</strong>res eu estava impressiona<strong>do</strong> com um<br />

caboclo muito forte que muitas vezes mergulhava conosco . Ele vivia em<br />

Ilhabela e era chama<strong>do</strong> de “Manuel Diabo” . Descia mais de 20 metros e<br />

conseguia ficar debaixo d’agua por quase três minutos , sem mascara , sem pé<br />

de pato , nem na<strong>da</strong> !<br />

Eu queria mergulhar fun<strong>do</strong> mas não conseguia . Eu não descia<br />

fun<strong>do</strong>, mesmo com to<strong>da</strong> aparelhagem, , principalmente por causa de uma <strong>do</strong>r<br />

que aparecia dentro <strong>do</strong> nariz , precisamente na fossa nasal . Ela ia aumentan<strong>do</strong><br />

ca<strong>da</strong> mergulho que eu tentava ir mais fun<strong>do</strong> . Depois realmente passou<br />

incomo<strong>da</strong>r e acabou tapan<strong>do</strong> a narina esquer<strong>da</strong> .<br />

Falei com o irmão médico de minha mãe , com meu tio Abel . Ele<br />

recomen<strong>do</strong>u o Dr. Álvaro Imperatriz , medico <strong>da</strong> família , especializa<strong>do</strong> em<br />

otorrino . Depois <strong>do</strong>s exames foi informan<strong>do</strong> que eu tinha um tumor no fun<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> narina esquer<strong>da</strong> . Tirou dele um pe<strong>da</strong>cinho para realizar biópsia .<br />

Dias depois veio o resulta<strong>do</strong> . Foi um alivio . Era benigno <strong>do</strong> tipo<br />

“fibro-hemangioma” , tipo de tumor que aparecia mais na puber<strong>da</strong>de . Dr.<br />

Imperatriz contou que em meu caso uma célula , provavelmente não muito<br />

bem forma<strong>da</strong> , foi aumentan<strong>do</strong> com a pressão <strong>do</strong>s mergulhos e poderia ter se


transforma<strong>do</strong> naquele tumor . Não se tinha certeza de na<strong>da</strong> . Era uma<br />

hipótese.<br />

Deixei de mergulhar e tempo mais tarde fui opera<strong>do</strong> pelo<br />

Octacilinho Lopes Filho com sucesso . Era ele meu amigo de infância e <strong>do</strong><br />

Paulistano . Ali estava começan<strong>do</strong> um grande médico e Professor de Medicina<br />

. - UBATUBA<br />

Fui melhor conhecer Ubatuba , lá pelos i<strong>do</strong>s de junho / 1956 ,<br />

passan<strong>do</strong> alguns dias na casa que meus tios Abel e Angela possuíam na<br />

ci<strong>da</strong>de. Estava em recuperação <strong>da</strong> operação de apêndice realiza<strong>da</strong> . Fui para<br />

lá com minha mãe . Ela que aproveitava a oportuni<strong>da</strong>de para também visitar<br />

seu irmão Saul e conhecer melhor seus sobrinhos Sérgio , Silvio e Susi , filhos<br />

<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> casamento <strong>da</strong>quele seu irmão. Eles moravam em Taubaté mas<br />

também tinham casa em Ubatuba . Naqueles dias também estariam por lá .<br />

Na tarde <strong>do</strong> primeiro dia fui de carro com meu tio conhecer as<br />

praias de Ubatuba . Na reali<strong>da</strong>de algumas , pois o município começa logo<br />

depois de Caragua e vai até Parati . São mais de 100 Km contínuos de praias .<br />

Ca<strong>da</strong> uma mais bonita que a outra .<br />

Intervalo - Depois <strong>da</strong>quele passeio prometi para mim mesmo ter<br />

uma casa em Ubatuba . Isto foi consegui<strong>do</strong> , após o nascimento de minhas<br />

filhas , em 1978 . A casa ficava perto <strong>da</strong> Praia Vermelha , logo depois <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de , in<strong>do</strong> pela Rio-Santos . Ela tinha 3 quartos , sen<strong>do</strong> um suite , uma sala<br />

dupla e terraço <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s , com jardim na frente e <strong>do</strong> la<strong>do</strong> . Era bem<br />

bonita<br />

Dois queri<strong>do</strong>s amigos e colegas <strong>do</strong> Banco Brascan – Ismar<br />

Procópio de Oliveira e Márcio Rosseti - construíram na mesma época , no<br />

mesmo local , a mesma casa . Ela era um projeto <strong>da</strong> “Bel Recanto” que eu<br />

havia modifica<strong>do</strong> alguns detalhes na planta .<br />

Infelizmente não pude usa-la por muitos anos . A região onde fora<br />

construí<strong>da</strong>, cerca<strong>da</strong> de arvores e com o Rio Pereque <strong>do</strong> la<strong>do</strong> , foi<br />

gra<strong>da</strong>tivamente sen<strong>do</strong> invadi<strong>da</strong> por migrantes nordestinos . To<strong>da</strong> semana<br />

havia um roubo na casa . No final tivemos invasões , com muito trabalho para<br />

retomar o imóvel . O jeito foi vende-lo na “bacia <strong>da</strong>s almas” para alguém que<br />

fosse nela morar .<br />

Foi uma pena pois a casa era lindinha , mas foi necessário .<br />

CABO FRIO<br />

Uma tarde de Sába<strong>do</strong> , com muito sol de verão , quan<strong>do</strong> estávamos<br />

reuni<strong>do</strong>s na piscina <strong>do</strong> CAP , chegou convite para a festa <strong>do</strong> Sába<strong>do</strong> de<br />

Aleluia que seria realiza<strong>da</strong> no “Clube <strong>do</strong> Canal” em Cabo Frio , Quem trazia a<br />

noticia <strong>do</strong> convite , se não me engano , era o Nelson Cottini .


Muitos amigos aderiram de imediato e depois de muito bate papo<br />

ficou combina<strong>do</strong> que sairíamos na próxima Terça Feira , logo pela manhã .<br />

Iriamos ficar em Cabo Frio até Domingo de Páscoa . O encontro para nossa<br />

saí<strong>da</strong> seria na porta <strong>da</strong> nova sede <strong>do</strong> Paulistano .<br />

No dia e na hora combina<strong>da</strong> lá estavam os amigos <strong>do</strong> Paulistano :<br />

Alberto Botti , Sérgio e Aluísio D Àvila , Paulinho Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama ,<br />

“Coquinho” e seu irmão Marcelão Ribeiro de Lima , Eddy “Meiabranca”<br />

Cury, Danilo Penna , “Didi” e seu irmão Adriano Gui<strong>do</strong>tti . Iríamos em três<br />

carros , mais o “jeep”DKW” <strong>do</strong> Nelson Cottini que eu estaria guian<strong>do</strong> .<br />

Saímos bem ce<strong>do</strong> . A primeira para<strong>da</strong> <strong>do</strong>s carros de nossa turma foi<br />

no “Clube <strong>do</strong>s 500” onde almoçamos . Em ca<strong>da</strong> carro foram troca<strong>do</strong>s os<br />

motoristas . Dali em diante só fomos parar no inicio <strong>da</strong>quela estra<strong>da</strong> que<br />

levava para Cabo Frio . Era preciso reabastecer e descansar quem dirigia e<br />

ain<strong>da</strong> tomar um cafezinho . Dali para frente a estra<strong>da</strong> era péssima .<br />

Fomos em frente .<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos na serra , por sinal muito estreita , mal cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e<br />

perigosa , encontramos o que restou de um acidente ocorri<strong>do</strong> naquela manhã .<br />

Um caminhão jamanta , carrega<strong>do</strong> de diésel , perdeu os freios na desci<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

serra e não conseguiu parar . Quan<strong>do</strong> avistou , logo depois de uma curva , um<br />

carro subin<strong>do</strong> a serra , tentou desviar . A sua parte <strong>da</strong> frente , um cavalo –<br />

mecânico, desviou <strong>do</strong> carro , mas o tanque que vinha logo atrás com suas 30<br />

tonela<strong>da</strong>s bateu de la<strong>do</strong> e rolou por cima <strong>do</strong> carro . Depois pegou fogo . To<strong>do</strong>s<br />

que vinham no carro , que ficou com menos de 90 centímetros de altura ,<br />

morreram esmaga<strong>do</strong>s e foram queima<strong>do</strong>s durante horas .<br />

Chegamos quan<strong>do</strong> começou a ser libera<strong>da</strong> aquela estra<strong>da</strong> .<br />

Aquilo serviu de aviso e <strong>da</strong>li para frente fomos bem mais devagar .<br />

Chegamos em Cabo Frio no final <strong>da</strong> tarde . A ci<strong>da</strong>de era bonita ,<br />

to<strong>da</strong> arrumadinha , com pequenas e bonitas lojas , com praias maravilhosas .<br />

Ain<strong>da</strong> tivemos tempo para guar<strong>da</strong>r as coisas no Hotel e <strong>da</strong>r um mergulho na<br />

praia logo em frente . Então descobrimos a razão para a ci<strong>da</strong>de ser chama<strong>da</strong><br />

Cabo Frio . O mar era gela<strong>do</strong> por causa de uma Corrente Oceânica muito fria<br />

que vinha <strong>do</strong> Polo Sul e passava por ali . Acho que se chama “Corrente de<br />

Falkland” .<br />

Depois <strong>do</strong> jantar fomos conhecer o Clube <strong>do</strong> Canal e as pessoas que<br />

nos tinham convi<strong>da</strong><strong>do</strong> . Eram muito simpáticas , alegres como to<strong>do</strong>s cariocas ,<br />

e logo nos deixaram muito a vontade . Fomos ain<strong>da</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para um jogo<br />

de voleibol no outro dia . Alem <strong>do</strong> mais as mocinhas <strong>do</strong> clube eram charmosas<br />

e bonitas . A paquera começava por ali .<br />

No outro dia , como só seis entram e jogam em uma equipe de<br />

voleibol , os demais , comigo incluso , foram conhecer a ci<strong>da</strong>dezinha de São


Pedro <strong>da</strong> Aldeia . Ali o mar era muito mais quente e a água muito , mas muito<br />

mais salga<strong>da</strong> . Ali também estava sen<strong>do</strong> instala<strong>da</strong> uma base aero-naval pela<br />

Marinha <strong>do</strong> Brasil .<br />

Pela noitinha nós encontramos com o resto <strong>do</strong> pessoal e fomos<br />

jantar com os cariocas no Clube <strong>do</strong> Canal . Eles nos tinham desafia<strong>do</strong> para um<br />

jogo de futebol e um jogo tipo Rugby , que porem era joga<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> canal<br />

que <strong>da</strong>va nome ao clube , com uma bola pesa<strong>da</strong> , grande mas que flutuava .<br />

Isto tu<strong>do</strong> aconteceria no próximo dia , uma sexta feira ..<br />

Empatamos no futebol e no jogo de rugby .<br />

No Sába<strong>do</strong> de Alelúia iríamos ao baile marca<strong>do</strong>, por isto não houve<br />

jogo algum . Só batidinhas de limão , coco e maracujá , lá no “deck” <strong>do</strong> Clube<br />

<strong>do</strong> Canal . A tarde ain<strong>da</strong> fomos até uma loja e compramos chapéus de lona<br />

colori<strong>do</strong>s na cor pastel . Um para ca<strong>da</strong> um de nós . Estava na mo<strong>da</strong> .<br />

O baile gerou pilequinhos generaliza<strong>do</strong>s . Foi muito alegre .<br />

Foi difícil levantar ce<strong>do</strong> no Domingo para voltar para São Paulo .<br />

Lá pelas 9 horas já estávamos “man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> brasa” na estra<strong>da</strong> . O duro era<br />

acompanhar aqueles carros grandes com o “jeep” DKW . O máximo que ele<br />

alcançava era 100 km. por hora .<br />

Conseguimos chegar no Paulistano em tempo <strong>do</strong> “Mingau<br />

Dançante” . Os chapéus de lona colori<strong>da</strong> fizeram sucesso .<br />

- NAUFRÁGIO EM PARATI<br />

– Pelo i<strong>do</strong>s de 1960 o compadre Caio Kiehl havia compra<strong>do</strong> um<br />

pequeno navio pesqueiro – Tipo Camaroeiro . Por isto vinha trabalhan<strong>do</strong><br />

segui<strong>da</strong>mente na região de Santos.<br />

Para ele poder melhor se alojar ofereci o apartamento <strong>da</strong> família em<br />

São Vicente . Era onde ele estava fican<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> em terra . Sain<strong>do</strong> mar afora<br />

era obriga<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmir no seu navio .<br />

Caio Kiehl não era apenas e simplesmente o <strong>do</strong>no <strong>do</strong> pequeno navio<br />

pesqueiro. Era inclusive seu Mestre, seu Capitão . Tinha feito , tempos atras ,<br />

to<strong>do</strong> Curso de Navegação. Era Mestre . Podia capitanear barcos em<br />

navegação de cabotagem - de pequeno curso . Desta forma ele saia para o mar<br />

e coman<strong>da</strong>va seu barco durante vários dias segui<strong>do</strong>s de pesca .<br />

Desde muito tempo ele já era apaixona<strong>do</strong> por navegação . Primeiro,<br />

velejan<strong>do</strong> um barco cabina<strong>do</strong> de seu pai , chama<strong>do</strong> “Acauaí , na Represa<br />

Billings , durante finais de semana e férias . Fez isto por vários anos ,<br />

inclusive comigo a bor<strong>do</strong> . Depois continuou navegan<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> comprou<br />

um veleiro tipo “Sharp” para competir na Represa de Guarapiranga . Nestas<br />

ocasiões eu era seu proeiro . Velejamos juntos durante muito tempo . Não<br />

vencemos nenhuma competição promovi<strong>da</strong> pelos clubes de iatismo paulistas ,<br />

mas sempre chegávamos bem coloca<strong>do</strong>s .


Fora disto , virava e mexia , sempre que podia ele estava navegan<strong>do</strong><br />

com algum outro amigo . Ele sem duvi<strong>da</strong>s tinha sempre um barco na cabeça .<br />

Por isto e para ganhar dinheiro , acredito que havia compra<strong>do</strong> o tal<br />

pesqueiro .<br />

Pois bem , naquela quarta feira , feria<strong>do</strong> , dia de verão , quan<strong>do</strong><br />

encontrei o amigo Caio Kiehl em São Vicente , fui surpreendi<strong>do</strong> . Caio<br />

informou que tinha a sua disposição um pequeno veleiro oceânico . Disse<br />

ain<strong>da</strong> que desejava minha saí<strong>da</strong> com ele , como proeiro <strong>do</strong> barco, em um<br />

cruzeiro até a ci<strong>da</strong>de de Parati .<br />

Sabia que eu estava de férias por 15 dias e poderia aproveitar tal<br />

viagem . Disse que eu não iría gastar na<strong>da</strong> ( isto para mim na época era muito<br />

importante ) pois <strong>do</strong>rmiríamos no barco . Foi explican<strong>do</strong> que iríamos levar<br />

nesta viagem apenas 9 dias , entre a i<strong>da</strong> e a volta . Falou de Susana e<br />

Gabriela, duas conheci<strong>da</strong>s muito bonitas , que estavam em Parati ( ele estava<br />

de olho na Gabriela ) . Comentou que seria boa oportuni<strong>da</strong>de passarmos uns<br />

dias em visita à elas .<br />

Acabei convenci<strong>do</strong> . O veleiro tinha nome de “Vambora ”.<br />

Depois <strong>do</strong> almoço fui conhecer o tal veleiro . Estava em um<br />

pequeno estaleiro . Era <strong>da</strong> “Classe Guanabara”. Estava aparentemente em<br />

bom esta<strong>do</strong>. Com algum pequenos reparos voltaria a ter lin<strong>da</strong> aparência . a<br />

pintura estava perfeita . Porem era um barco não muito novo . As velas<br />

estavam boas . O pequeno motor funcionava bem. O mastro e a retranca<br />

tinham bom aspecto . Internamente estava bem arruma<strong>do</strong> e bem limpo .<br />

Até cheiran<strong>do</strong> bem .<br />

Ficou acerta<strong>da</strong> nossa saí<strong>da</strong> para Parati no dia seguinte . Caio pediu<br />

ao pessoal <strong>do</strong> estaleiro para que o veleiro fosse prepara<strong>do</strong> , receben<strong>do</strong> a água<br />

necessária em suas caixas e diésel em seus tanques . Os alimentos e bebi<strong>da</strong>s<br />

nós iríamos trazer no outro dia quan<strong>do</strong> estaríamos de parti<strong>da</strong> .<br />

Bem no começo <strong>da</strong> manhã seguinte , as 5 <strong>da</strong> matina , zarpamos de<br />

Santos com fortes e bons ventos. Caio demarcou a rota . Depois olhou para o<br />

barômetro e o higrômetro e fez anotações . Depois ligou o pequeno “rádio<br />

goniômetro” que trazia com ele. .Desta forma captava as on<strong>da</strong>s sonoras <strong>do</strong>s<br />

“rádios –faróis” existentes naqueles trechos <strong>da</strong> costa e os “avisos aos<br />

navegantes” <strong>da</strong> Hora <strong>do</strong> Brasil , possibilitan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> saber <strong>da</strong>s bóias marinhas,<br />

e <strong>do</strong>s rádios faróis que indicariam posições <strong>do</strong> veleiro .<br />

Conforme necessi<strong>da</strong>des fui caçan<strong>do</strong> ou afrouxan<strong>do</strong> a buja .<br />

Estávamos subin<strong>do</strong> no vento , realizan<strong>do</strong> por isto mesmo de constantes bor<strong>do</strong>s<br />

( mu<strong>da</strong>nças de direção <strong>do</strong> barco) para manter a rota .


Percebi , desde a nossa saí<strong>da</strong> , que alguns cabos de fixação <strong>do</strong><br />

mastro ( stays ) estavam um pouco folga<strong>do</strong>s . Pareciam um pouco frouxos ,<br />

apesar de serem de bom aço trança<strong>do</strong> . Fui apertan<strong>do</strong> aqueles cabos o quanto<br />

podia . Muitos não <strong>da</strong>vam bom aperto . Vibravam com o vai e vem <strong>da</strong> força<br />

<strong>do</strong>s ventos na vela . Falei com Caio a respeito e como resposta ele disse que já<br />

sabia deste fato . Estava programa<strong>do</strong> que na volta seriam arruma<strong>do</strong>s .<br />

O sol estava bem quente mas não <strong>da</strong>va para sentir , pois os ventos<br />

estavam fortes refrescan<strong>do</strong> a nossa pele . Apesar de estarmos bronzea<strong>do</strong>s<br />

estava queiman<strong>do</strong> um pouco mais durante a parte <strong>da</strong> tarde .<br />

Fomos obriga<strong>do</strong>s vestir camisetas .<br />

Alcançamos Ilhabela no fin<strong>da</strong>r <strong>da</strong> tarde . Fomos fundear no Iate<br />

Clube <strong>da</strong> ilha . Ali estaria acontecen<strong>do</strong> uma festa . Ali também iríamos jantar .<br />

No Iate Club ficamos baten<strong>do</strong> longo papo com alguns conheci<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Caio – Marcos Paulo e George Men<strong>do</strong>nça . Paralelamente toman<strong>do</strong> umas<br />

cervejinhas com os outros amigos que íamos encontran<strong>do</strong> . Estávamos<br />

gostan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s garotas com sarongs muitos charmosos que por ali chegavam<br />

para o jantar <strong>da</strong>nçante . Demos muitas risa<strong>da</strong>s com as pia<strong>da</strong>s que surgiram .<br />

A festa começou . Logo nos sentimos dentro dela . Depois<br />

continuou até de madruga<strong>da</strong> , dentro <strong>do</strong> veleiro .<br />

Dormimos dentro <strong>do</strong> barco . A noite já ia longe . Já estava alem <strong>da</strong>s<br />

três horas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>.<br />

No outro dia acor<strong>da</strong>mos muito tarde . Bem depois <strong>do</strong> meio dia .<br />

Existia um lin<strong>do</strong> sol . Caio achou que poderíamos fazer boa viagem , apesar<br />

de tu<strong>do</strong> . Só deu tempo de deixarmos as amigas no Iate Club.<br />

Ficou combina<strong>do</strong> que iríamos em frente de imediato . Comemos<br />

sanduíches e bebemos laranja<strong>da</strong> . Saímos por volta <strong>da</strong>s 3,00 horas . Um pouco<br />

tarde . Pior , na pressa sem olhar o barometro ou o higrômetro . Foram<br />

esqueci<strong>do</strong>s .<br />

O dia estava lin<strong>do</strong> e calor era muito .<br />

Qualquer chuvinha , se caísse , serviria para refrescar aquele calorão<br />

Saímos de Ilhabela ain<strong>da</strong> com muito sol .<br />

Logo depois de Caraguá o tempo começou a mu<strong>da</strong>r rapi<strong>da</strong>mente .<br />

Logo o céu foi fican<strong>do</strong> escuro . O vento aumentou muito . Fortes on<strong>da</strong>s se<br />

formaram . Depois , quan<strong>do</strong> já estávamos alcançan<strong>do</strong> Ubatuba , já com to<strong>do</strong><br />

céu preto, a chuva caiu forte .<br />

E foi fican<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> vez mais forte . Fomos em frente .<br />

O veleiro pequeno começou a balançar muito . Agora estávamos ,<br />

subin<strong>do</strong> descen<strong>do</strong> nas on<strong>da</strong>s . Muito . Rapi<strong>da</strong>mente .


Com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite as on<strong>da</strong>s começaram crescer , fican<strong>do</strong><br />

também ca<strong>da</strong> vez mais fortes . Eu tinha idéia que não estávamos in<strong>do</strong> para<br />

frente . Depois o escuro ficou quase total e a chuva forte confundia a visão .<br />

Iámos ficar sem duvi<strong>da</strong> alguma sem luar e sem estrelas o resto <strong>da</strong> viagem . O<br />

vento foi fican<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> muito mais forte . Virou tempestade .<br />

A Vela Mestre foi baixa<strong>da</strong><br />

Fechamos a cabina e passamos os “Cintos de Macaco” na cintura<br />

(cintos que impediam nossa caí<strong>da</strong> no mar , pois sem eles poderíamos ser<br />

arrasta<strong>do</strong>s pelas on<strong>da</strong>s ). Fomos em frente . Era o jeito .<br />

Mais um pouco depois fomos obriga<strong>do</strong>s baixar a Buja , pois o<br />

vento era agora muito forte. O motor foi liga<strong>do</strong> .<br />

Não sei quanto tempo passou mas parecia que não saiamos <strong>do</strong> lugar<br />

ou que andávamos muito pouco para frente . Realmente tu<strong>do</strong> estava muito<br />

preto . Não se via quase na<strong>da</strong> com tanta chuva . Tínhamos idéia de quanto era<br />

forte a tempestade quan<strong>do</strong> raios caiam e rapi<strong>da</strong>mente, pelas luzes <strong>do</strong>s raios ,<br />

percebíamos as coisas em nossa volta . Sentíamos a tempestade também pelo<br />

forte balanço <strong>do</strong> mar . A inclinação <strong>do</strong> barco nas on<strong>da</strong>s assustava .<br />

Agora o vento estava fortíssimo e as on<strong>da</strong>s eram simplesmente<br />

enormes , passan<strong>do</strong> a to<strong>do</strong> instante por cima <strong>do</strong> deck . Mesmo sem a vela<br />

mestre o mastro tremia muito . Foi um “perereco” amarrar as velas . O<br />

pequeno motor funcionava direitinho . Ele nos <strong>da</strong>va segurança .<br />

Já tínhamos acendi<strong>do</strong> faróis e as poucas luzes que o barco possuía.<br />

Durante algum tempo tivemos alguma clari<strong>da</strong>de a bor<strong>do</strong> .<br />

Fora dela somente os inúmeros raios iluminavam aquela parte <strong>do</strong><br />

oceano . Segui<strong>da</strong>mente , mostran<strong>do</strong> os grandes vagalhões que se formavam ,<br />

jogan<strong>do</strong> o veleiro para cima e para baixo ..<br />

O veleiro descia e subia nas cristas <strong>do</strong>s enormes vagalhões que se<br />

formavam , continua<strong>da</strong>mente . Os cabos <strong>do</strong> mastro vibravam , mesmo sem<br />

velas . Também o veleiro era varri<strong>do</strong> e arrasta<strong>do</strong> por on<strong>da</strong>s que chegavam<br />

com muita força . Quan<strong>do</strong> elas nos pegavam de la<strong>do</strong> <strong>da</strong>va impressão que o<br />

barco iria virar a qualquer momento , pois o mastro saía <strong>da</strong> vertical , fican<strong>do</strong> à<br />

45 graus . A vibração <strong>do</strong>s mastros aumentava sempre . Preocupação !<br />

Não sei quanto tempo ficamos nesta situação mas percebi que a<br />

ca<strong>da</strong> on<strong>da</strong> maior que chegava , o mastro mesmo sem velas , só com o balanço<br />

vibrava ca<strong>da</strong> vez mais e mais . Alem <strong>do</strong> que rangia estranhamente. Tentamos<br />

apertar mais aqueles cabos de sustentação mas o resulta<strong>do</strong> foi realmente nulo .<br />

De repente , um forte e enorme vagalhão elevou muito o barco.<br />

Fomos para o alto , subin<strong>do</strong> como em uma “montanha russa”. Depois , no<br />

cava<strong>do</strong> <strong>do</strong> vagalhão que se formava , o barco foi rapi<strong>da</strong>mente lança<strong>do</strong> para<br />

frente . Foi descen<strong>do</strong> naquela on<strong>da</strong> enorme com a proa bem inclina<strong>da</strong> para


aixo . No momento em que o barco começou , muito rapi<strong>da</strong>mente , voltar<br />

para a posição horizontal , com o peso <strong>do</strong> mastro que tendia no senti<strong>do</strong><br />

contrário e muito balançava , parte <strong>do</strong>s cabos que muito vibravam se partiram.<br />

Em segui<strong>da</strong> to<strong>do</strong>s se partiram .<br />

Sem estabilização , imediatamente o mastro logo caiu para a frente.<br />

A sua parte inferior , aquela que estava fixa<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong> cabine , subiu com<br />

muita força , arrebentan<strong>do</strong> parte <strong>da</strong> proa . Assim na que<strong>da</strong> a parte inferior <strong>do</strong><br />

mastro , aquela que estava dentro <strong>do</strong> casco , se deslocou , subiu e arrancou<br />

parte <strong>do</strong> deck de popa onde estávamos . Apareceu por ali enorme buraco .<br />

Demos sorte de não sermos atingi<strong>do</strong>s. Depois , com uma outra grande on<strong>da</strong> ,<br />

o mastro foi arrasta<strong>do</strong> para fora , fican<strong>do</strong> preso pelos cabos de aço durante<br />

algum tempo junto ao la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> casco . Era arrasta<strong>do</strong> junto ao barco .<br />

A situação ficou terrível .<br />

Então as on<strong>da</strong>s começaram entrar segui<strong>da</strong>mente , pelo enorme<br />

buraco cria<strong>do</strong> pela que<strong>da</strong> <strong>do</strong> mastro , para dentro <strong>do</strong> veleiro . Entravam com<br />

muita intensi<strong>da</strong>de. . Aquela grande quanti<strong>da</strong>de de água logo desligou o motor.<br />

As luzes foram se apagan<strong>do</strong> . Apagaram .<br />

Só deu tempo de soltar as “cinturas de macaco” e entrar pela última<br />

vez na cabina . Com auxilio de uma lanterna pegamos <strong>do</strong>cumentos e as<br />

carteiras . Eles que foram diretamente para os bolsos <strong>da</strong>s nossas calças<br />

“jeans”.<br />

Depois disso Caio disse que o barco estava fazen<strong>do</strong> muita água e<br />

iria afun<strong>da</strong>r brevemente . Eu disse que precisávamos sair rapi<strong>da</strong>mente . Ele<br />

concor<strong>do</strong>u . Iríamos aban<strong>do</strong>nar o “Vambora”<br />

Com auxilio <strong>da</strong> lanterna pequei uma bóia grande que estava com<br />

uma cor<strong>da</strong> amarra<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> sua volta . Falei para o Caio segurar a cor<strong>da</strong> com<br />

firmeza . Pulamos para dentro <strong>do</strong> mar .<br />

Ficamos subin<strong>do</strong> e descen<strong>do</strong> naquelas imensas on<strong>da</strong>s . Eu falava<br />

para o Caio segurar firme pois se soltasse ...<br />

De vez em quan<strong>do</strong> via o rosto <strong>do</strong> parceiro nas luzes de um raio .<br />

Fora disto escuridão total . De repente , com a luz de mais um raio,<br />

percebi que o barco estava rapi<strong>da</strong>mente afun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> novo raio<br />

iluminou o local ele já tinha sumi<strong>do</strong> . Afun<strong>do</strong>u .<br />

Ficamos não sei quanto tempo na escuridão , dentro <strong>da</strong> tempestade ,<br />

subin<strong>do</strong> e descen<strong>do</strong> nas on<strong>da</strong>s , agarra<strong>do</strong>s aquela bóia . Parecia uma<br />

eterni<strong>da</strong>de . Ficávamos falan<strong>do</strong> sem parar . Ca<strong>da</strong> um tentava motivar o<br />

parceiro . Não podíamos esmorecer apesar <strong>do</strong> cansaço que deveria crescer .<br />

Naqueles momentos eu tinha alguns grandes receios :


- 1) Que o Caio fosse leva<strong>do</strong> por uma on<strong>da</strong> , pois não queria ficar<br />

sozinho , nem mesmo perder o amigo ;- 2) Que a bóia furasse : - 3) Que algum<br />

cação nos atacasse ; 4) Que fossemos arrasta<strong>do</strong>s para muito longe .<br />

Depois de muito tempo, de muita preocupação , a tempestade foi<br />

passan<strong>do</strong> e o dia lentamente surgin<strong>do</strong> . A chuva foi paran<strong>do</strong> . Parou .<br />

Com o mar mais calmo pudemos ver ao longe , pela primeira vez ,<br />

as luzes de algum lugar , indican<strong>do</strong> de que la<strong>do</strong> estava a terra . Era o nosso<br />

rumo agora .<br />

Quan<strong>do</strong> o dia foi clarean<strong>do</strong> o mar foi se tornan<strong>do</strong> muito calmo .<br />

Depois de um tempo , com o sol raian<strong>do</strong> , parecia uma piscina . Sem nenhuma<br />

on<strong>da</strong> . No ar uma leve bruma no amanhecer . Começamos na<strong>da</strong>r com mais<br />

decisão , empurran<strong>do</strong> a bóia em direção <strong>da</strong> terra bem distante .<br />

De repente no meio <strong>da</strong>quela leve bruma e <strong>da</strong>quele silencio<br />

escutamos um pequeno barulho de motor . Fazia claramente “ tuc- tuc- tuc-<br />

tuc” . O som era baixinho mas era uma reali<strong>da</strong>de . Logo localizamos a sua<br />

direção e começamos gritar pedin<strong>do</strong> socorro . Tiramos as camisas que<br />

usávamos , uma amarela outra vermelha , e com elas agita<strong>da</strong>s nos braços<br />

tentávamos mostrar nossa localização .<br />

Gritávamos sem parar . Parecia que o barco com aquele “tuc-tuc” <strong>do</strong><br />

motor poderia passar ao largo . Nós gritávamos ain<strong>da</strong> mais , ca<strong>da</strong> vez mais<br />

alto , com to<strong>da</strong> força <strong>do</strong>s pulmões .<br />

De repente , no meio <strong>da</strong>quela bruma leve , avistamos o barco . Era<br />

um pequeno pesqueiro cabina<strong>do</strong> , pinta<strong>do</strong> de branco com uma faixa vermelha .<br />

Então ouvimos claramente alguém falan<strong>do</strong> bem alto : “Já avistamos vocês .<br />

Continuem falan<strong>do</strong> . Firme por ai ... Nós vamos pegar vocês ... ! ”<br />

Depois de alguns minutos (duraram uma eterni<strong>da</strong>de) o barco chegou .<br />

Fomos puxa<strong>do</strong>s para dentro . Recebemos uma xícara de café e um cobertor de<br />

algodão . Não ficamos gela<strong>do</strong>s durante o tempo que estávamos dentro <strong>do</strong> mar<br />

pois era verão e a água estava quente . Mas agora eu estava tremen<strong>do</strong> . Eu não<br />

sabia se era de frio , ou de emoção .<br />

Nossos salva<strong>do</strong>res eram pesca<strong>do</strong>res caiçaras de Caraguatatuba .<br />

Seus nomes : Romão , Manuel e José . Gente boa , inesquecíveis .<br />

Caio foi explican<strong>do</strong> o que tinha aconteci<strong>do</strong> . Fomos depois<br />

informa<strong>do</strong>s : - O barco salva<strong>do</strong>r , onde agora estávamos , era o pesqueiro<br />

“Filhote ” . Ele deveria ter i<strong>do</strong> para Caraguatatuba . Isto deveria ter<br />

aconteci<strong>do</strong> ontem durante a noite. Porem ficou ancora<strong>do</strong> em Parati por causa<br />

<strong>da</strong> tempestade prevista . Nos encontraram pouco depois que zarparam


Depois eles ain<strong>da</strong> informaram que foi loucura nossa sair naquela<br />

tarde/noite , pois os instrumentos acusavam tempo ruim .<br />

Agora , poderíamos ser leva<strong>do</strong>s para Ubatuba , pois iam passar e<br />

parar por ali , ou ficar em Caraguatatuba seu destino final .<br />

Nossa opção foi Ubatuba .<br />

No caminho de volta , com o sol fican<strong>do</strong> forte , nossa roupa secou .<br />

Estávamos aquecen<strong>do</strong> no sol . Quan<strong>do</strong> aquele pesqueiro atracou muito<br />

agradecemos aos seus pesca<strong>do</strong>res . Sem duvi<strong>da</strong> nos salvaram .<br />

Quan<strong>do</strong> começamos as despedi<strong>da</strong>s fornecemos nossos endereços ,<br />

telefones e dissemos que para qualquer problema estaríamos sempre<br />

disponíveis . Ficamos com seus endereços . Nos despedimos com abraços e<br />

muitos sorrisos . Não quiseram aceitar nenhuma recompensa financeira . Eles<br />

estavam felizes por poder aju<strong>da</strong>r . Era a lei <strong>do</strong> mar .<br />

Em Ubatuba compramos sapatos , camisas e almoçamos .<br />

Depois ficamos esperan<strong>do</strong> nossa condução . Demorou .<br />

Então chegou o ônibus para São Paulo . Entramos e sentamos .<br />

Antes dele sair para a estra<strong>da</strong> já estávamos <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> .<br />

“MULHERADA SADIA / HOTEL DAS CIGARRAS”<br />

Ostras pela manhã - “Hotel <strong>da</strong>s Cigarras”.<br />

Na reali<strong>da</strong>de foi uma dúzia de ostras para ca<strong>da</strong> um . Dácio Ragazzo<br />

as havia encomen<strong>da</strong><strong>do</strong> . Isto depois de um café matinal super reforça<strong>do</strong> .<br />

Eu tinha i<strong>do</strong> com ele passar o “Reveillon de 63” naquele hotel que<br />

estava na mo<strong>da</strong> . Tu<strong>do</strong> indicava um feliz fim de ano . O “Cigarras” estava<br />

lota<strong>do</strong>, com políticos , gente importante e simpática .<br />

Alem de lin<strong>da</strong>s mulheres. .<br />

Dácio durante aquele café matinal foi explican<strong>do</strong> :<br />

“ Edu amigo ... para agüentar esta “mulhera<strong>da</strong> sadia” , e note bem,<br />

muito alegre , como você viu ontem a noite quan<strong>do</strong> chegamos , vai ser preciso<br />

estar em perfeita forma física , com muita , mas muita saúde . Elas são minhas<br />

conheci<strong>da</strong>s . Posso dizer que agora a coisa to<strong>da</strong> mu<strong>do</strong>u . A coisa realmente<br />

mu<strong>do</strong>u . Hoje em dia quem precisa ser sério nas coisas sexuais , depois <strong>do</strong><br />

advento <strong>da</strong> pílula anti concepcional , são os homens ...a “mulhera<strong>da</strong> sadia”está<br />

atacan<strong>do</strong>. Atacan<strong>do</strong> !<br />

Depois Dácio continuou explican<strong>do</strong> como deveriam acontecer to<strong>da</strong>s<br />

as coisas em relação aquela “mulhera<strong>da</strong> sadia” :<br />

“ Quan<strong>do</strong> eu vier com uma mulher aqui para este apartamento, antes<br />

avisarei você desta maneira : - “ Edu . Vou trocar de camisa e já volto” .<br />

Assim você ficará saben<strong>do</strong> que estarei aqui acompanha<strong>do</strong> e não virá


atrapalhar. O mesmo você deve fazer . Quan<strong>do</strong> desejar ficar aqui com uma<br />

<strong>da</strong>quelas “mulheres sadias ” avise que virá trocar de camisa . Tu<strong>do</strong> bem<br />

amigo. Está combina<strong>do</strong> ?”<br />

Concordei . Acabamos com as ostras e fomos para a praia em frente<br />

<strong>do</strong> hotel . Ali estavam alguns conheci<strong>do</strong>s com a tal “mulhera<strong>da</strong> sadia” . Dácio<br />

não perdeu tempo e já foi atacan<strong>do</strong> . Depois meia hora de bate papo e de<br />

muitas risa<strong>da</strong>s levou uma morena para na<strong>da</strong>r com ele . Deixei de prestar<br />

atenção e fiquei toman<strong>do</strong> água de meu coco gela<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quela turma<br />

muito simpática .<br />

Dali a pouco Dácio voltou dizen<strong>do</strong> que iria até o hotel . Eu<br />

perguntei : “ Você vai trocar de camisa” ? Ele baixinho falou em meu ouvi<strong>do</strong> :<br />

“ Não , estou com uma leve <strong>do</strong>r de barriga”.<br />

Ele demorava em voltar . Durante aquele tempo também comecei<br />

ficar com <strong>do</strong>r de barriga . Quan<strong>do</strong> Dácio voltou informei que iria até o hotel .<br />

Ele perguntou se eu “ia trocar de camisa” . Informei que não , apenas<br />

precisava ir usar a priva<strong>da</strong> . Urgente . Urgentíssimo . Sai corren<strong>do</strong> .<br />

Aquela <strong>do</strong>r de barriga que eu sentia virou uma disenteria forte , com<br />

muito mal cheiro . Estava <strong>da</strong>n<strong>do</strong> cólicas intestinais que não passavam .<br />

Ain<strong>da</strong> estava no banheiro quan<strong>do</strong> Dácio voltou desespera<strong>do</strong> .<br />

Vomitou . Na pia pois a priva<strong>da</strong> estava ocupa<strong>da</strong> . O mau cheiro piorava as<br />

coisas . Então fui obriga<strong>do</strong> a levantar e <strong>da</strong>r lugar para ele no “trono”, apesar<br />

<strong>da</strong>s cólicas que ain<strong>da</strong> sentia . Dácio parecia muito pior <strong>do</strong> que eu .<br />

Naquele momento não tive mais dúvi<strong>da</strong>s e fui falan<strong>do</strong> :<br />

“ Amigo ... estamos com intoxicação intestinal que deve ter si<strong>do</strong><br />

causa<strong>da</strong> pelas tais ostras . Elas deviam estar “marea<strong>da</strong>s” . Precisamos de<br />

remédios com urgência . Vou ligar para a portaria pedin<strong>do</strong> auxilio ” .<br />

Dácio na<strong>da</strong> respondeu . Tomou um banho rápi<strong>do</strong> pois estava suan<strong>do</strong><br />

muito e deitou em segui<strong>da</strong> . Não demorou e recebi água de coco e umas<br />

pílulas , remédio <strong>do</strong> qual não lembro o nome . Recebi também desculpas<br />

pelas ostras marea<strong>da</strong>s . O gerente man<strong>do</strong>u dizer que sentia muito .<br />

Dácio voltou para a priva<strong>da</strong> . Foi ali senta<strong>do</strong> que tomou água e<br />

remédio . O cheiro no apartamento era horroroso , mesmo com as janelas<br />

abertas . Ficou pior quan<strong>do</strong> novamente eu voltei para a priva<strong>da</strong> .<br />

Depois tomei banho demora<strong>do</strong> . Após o que , com o deso<strong>do</strong>rante<br />

que tinha tentei melhorar o cheiro <strong>do</strong> apartamento . Sensacional ! Ele ficou<br />

com cheiro de ... “ bosta de rosas ”. Horrível !<br />

Meia hora depois o remédio tinha feito seu efeito analgésico . As<br />

cólicas momentaneamente melhoraram . Parecia que tinham para<strong>do</strong> .<br />

Resolvemos voltar para as praias . Voltar para a “mulhera<strong>da</strong> sadia”.


O máximo que conseguimos foi chegar até a portaria <strong>do</strong> hotel . A<br />

“caganeira” voltou com to<strong>da</strong> força . Eu consegui retornar ao apartamento .<br />

Dácio correu para a “toillete <strong>do</strong>s homens” no hall de entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> hotel . Ali o<br />

mau cheiro deve ter fica<strong>do</strong> de lascar . Dácio disse que ficou com vergonha de<br />

sair de lá . Ele disse que parecia ter “mer<strong>da</strong> gasosa” no ar ...<br />

Resolvemos voltar para São Paulo . Realmente precisávamos de<br />

melhor auxilio . Estávamos arruman<strong>do</strong> as malas quan<strong>do</strong> Dácio , bem sua<strong>do</strong>,<br />

disse que “precisava trocar de camisa” . Então de gozação eu perguntei :<br />

- “ Você vai trazer aqui e agora a “mulhera<strong>da</strong> sadia” ?<br />

Ele me man<strong>do</strong>u “para aquele lugar”... e jogou uma tolha molha<strong>da</strong><br />

na minha direção . Peguei então <strong>do</strong>is rolos de papel higiênico . Precaução !<br />

Quan<strong>do</strong> quisemos pagar o hotel o gerente informou que aquela curta<br />

estadia era “cortesia <strong>da</strong> casa” . Pediu desculpas . Depois nos deu o endereço de<br />

um farmacêutico em Caraguá . Disse que ele era muito bom e o recomen<strong>do</strong>u .<br />

Como ficava em nosso caminho paramos por lá e contamos o caso<br />

para um tal Dr. Pedro , <strong>do</strong>no <strong>da</strong> farmácia . Ele preparou um litro de soro<br />

fisiológico para ca<strong>da</strong> um de nós e , na hora deu um remédio , um pózinho<br />

dissolvi<strong>do</strong> em água , para combater infeção intestinal . Depois ain<strong>da</strong> nos<br />

forneceu bananas maçãs um pouco verdes . Recomen<strong>do</strong>u que as comêssemos ,<br />

no mesmo momento em que bebêssemos o soro forneci<strong>do</strong> , pois não<br />

poderíamos ficar com a barriga vazia . Barriga vazia <strong>da</strong>ria cólicas muito<br />

<strong>do</strong>lori<strong>da</strong>s . Comi<strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> também . Agradecemos , pagamos e fomos para a<br />

estra<strong>da</strong> .<br />

Mal começamos subir a serra deu nova <strong>do</strong>r de barriga no Dácio .<br />

Pediu para parar o carro e correu para trás de um matinho na beira <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> .<br />

Daí a pouco voltou alivia<strong>do</strong> . Fomos adiante durante 10 minutos . Então<br />

subitamente parei o carro. Foi minha vez de correr para uma moita fora <strong>da</strong><br />

estra<strong>da</strong> . Dácio saiu guian<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> voltei .<br />

Fomos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e paran<strong>do</strong> , sempre corren<strong>do</strong> para o mato , beben<strong>do</strong><br />

soro e comen<strong>do</strong> bananas meio verdes , durante to<strong>do</strong> percurso na Estra<strong>da</strong> <strong>do</strong>s<br />

Tamoios . Chegamos no Vale <strong>do</strong> Paraíba esgota<strong>do</strong>s . Era até difícil dirigir .<br />

Na Via Dutra o Dácio disse que estava com o rabo arden<strong>do</strong> . Então<br />

eu brinquei com ele dizen<strong>do</strong> :<br />

“ Passarinho que come “ostras marea<strong>da</strong>s” sabe o rabo que tem ...”<br />

Chegamos em São Paulo lá pelas 4 <strong>da</strong> tarde . Fui para a casa de<br />

meus pais e Dácio para seu apartamento . Ele estava sozinho pois sua família<br />

tinha i<strong>do</strong> para Limeira , de onde eles eram originários .<br />

Já em casa contei o fato para minha mãe . Logo depois ela me<br />

trouxe um chá com “gosto de cabo de enxa<strong>da</strong>” . Fui obriga<strong>do</strong> a tomar tu<strong>do</strong> ,


apesar <strong>da</strong> caretas que fazia . Fiquei quieto deita<strong>do</strong> no sofá <strong>do</strong> jardim de<br />

inverno . Acabei <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> .<br />

Fui acor<strong>da</strong><strong>do</strong> depois <strong>do</strong> anoitecer com um telefonema de Dácio .<br />

Ele , to<strong>do</strong> alegre , foi informan<strong>do</strong> :<br />

“ Já estou quase bom . Já reservei mesa no “ João Sebastião Bar” .<br />

Vai ter um “reveillon” sensacional . Falei com uma “ mulhera<strong>da</strong> sadia ” que<br />

irá para lá . Vai ser muito legal nosso fim de ano . Vou pegar você por volta<br />

<strong>da</strong>s 22 horas”.<br />

Quan<strong>do</strong> eu disse que ia ficar em casa ele ficou aborreci<strong>do</strong> . Depois<br />

tentou apelar dizen<strong>do</strong> que eu estava fican<strong>do</strong> frouxo . Por fim aceitou minha<br />

decisão , mas não o convite para vir ceiar conosco . Ficou combina<strong>do</strong> que ele<br />

falaria comigo na manhã <strong>do</strong> primeiro dia de Ano Novo .<br />

Isto não iria acontecer . Por volta <strong>da</strong> meia noite e meia ligaram <strong>do</strong><br />

“João Sebastião Bar” . Dácio estava passan<strong>do</strong> muito mal . Precisava de aju<strong>da</strong> ,<br />

pois além de mais tinha comi<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> erra<strong>do</strong> . E bebi<strong>do</strong> uísque . Não podia<br />

quase an<strong>da</strong>r e nem poderia guiar . Tinha i<strong>do</strong> várias vezes ao banheiro .<br />

Fui para lá o mais rápi<strong>do</strong> possível . Cheguei e deparei com Dácio<br />

senta<strong>do</strong> em uma mesa <strong>do</strong> fun<strong>do</strong> na parte alta <strong>da</strong> “boite”. Estava horrível .<br />

Dormitava sozinho no meio <strong>da</strong>quela barulheira . A “mulhera<strong>da</strong> sadia” estava<br />

se espalhan<strong>do</strong> na pista de <strong>da</strong>nças , na parte de baixo . Quan<strong>do</strong> o acordei para<br />

leva-lo para casa ele ain<strong>da</strong> reclamou , não de <strong>do</strong>r de barriga , mas por ter que<br />

deixar aquela “mulhera<strong>da</strong> sadia” .<br />

Final <strong>da</strong>quele reveillon : - Fui obriga<strong>do</strong> a levar o amigo para uma<br />

farmácia de plantão na Barão de Itapetininga . Tomou injeção na veia . Por<br />

recomen<strong>da</strong>ção <strong>do</strong> farmacêutico , pois seu esta<strong>do</strong> requeria cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s , fui<br />

obriga<strong>do</strong> a <strong>do</strong>rmir no apartamento <strong>do</strong> Dácio, no quarto ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu . Isto<br />

aconteceu depois que ele teve necessi<strong>da</strong>de de tomar vários remédios e até<br />

maldita injeção que ele xingava to<strong>do</strong> tempo .<br />

Depois em 5 minutos estávamos em seu apartamento .<br />

“Feliz Ano Novo” . Era o cartaz que eu via , pela janela <strong>do</strong> quarto,<br />

no outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> Rua São Luiz . O cartaz estava na vitrine de uma <strong>da</strong>s muitas<br />

lojas <strong>da</strong>s companhias aéreas , então ali existentes . Fiquei olhan<strong>do</strong> algum<br />

tempo, enquanto Dácio <strong>do</strong>rmia . No cartaz , logo abaixo <strong>da</strong>quele letreiro , uma<br />

enorme foto com um ban<strong>do</strong> de lin<strong>da</strong>s moças usan<strong>do</strong> “biquínis” minúsculos .<br />

Fiquei pensan<strong>do</strong> ... depois ri sozinho .<br />

Quan<strong>do</strong> Dácio acor<strong>da</strong>sse no outro dia eu iria brincar com ele . Diria<br />

que passei o resto <strong>da</strong> noite ao la<strong>do</strong> de uma “ mulhera<strong>da</strong> sadia” , to<strong>da</strong>s com<br />

muito pouca roupa . Falaria nisto com muita firmeza . Muita firmeza .<br />

E era a mais pura ver<strong>da</strong>de ... engana<strong>do</strong>ra , mas ver<strong>da</strong>de !


ALTITUDE : DOIS MIL METROS<br />

Edu Marcondes<br />

-Férias de “Dois Penetras” – Outras I<strong>da</strong>s para Montanha – “ A <strong>Casa</strong> <strong>da</strong><br />

Tia no Parque <strong>da</strong> Ferradura – “ A Taturana”- Subi<strong>da</strong> na Pedra <strong>do</strong> Baú<br />

– “ O Pulôver Vermelho” - “Conversível em Noite de Zero Grau”-<br />

Dormin<strong>do</strong> no Gela<strong>do</strong> – A Maior Mansão <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de – Capotamento na<br />

Estra<strong>da</strong> – <strong>Casa</strong> Aluga<strong>da</strong> – Choque Térmico – Alemanha “Horizontal”-<br />

Pouca gente tem conhecimento que o local onde hoje se situa<br />

Campos <strong>do</strong> Jordão pertenceu e foi parte integrante de Pin<strong>da</strong>monhangaba . Era<br />

chama<strong>do</strong> de Capivari . Ficava no mesmo local <strong>do</strong> bairro que hoje tem este<br />

nome .<br />

Ali , no alto <strong>da</strong> Mantiqueira foi cria<strong>do</strong> o primeiro núcleo de<br />

colonização naquela serra , realiza<strong>do</strong> por fazendeiros de Pin<strong>da</strong>monhangaba.<br />

“FÉRIAS DE PENETRAS”<br />

Em Maio de 1952 , quan<strong>do</strong> eu já havia volta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s 5 anos de<br />

internato que passei em colégio de Campinas , completamente fora <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de e acreditan<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> que me contavam , aconteceu . Recebi um<br />

convite lá no Paulistano , onde encontrei meu amigo e colega Luiz . Ele<br />

havia termina<strong>do</strong> comigo o Cientifico no Colégio Maria José . Foram só três<br />

meses que assisti aulas por lá . Eu tinha vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ateneu em Campinas ,<br />

depois que o Cine Rink caiu .<br />

Com ele estavam Caio Kiehl e Vicente de Sylos .<br />

No meio de nossa conversa Luiz falou <strong>da</strong> casa de seu pai situa<strong>da</strong><br />

no “Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r”, Disse ain<strong>da</strong> que , em Junho , nas férias , lá<br />

estaria .<br />

Fiquei com muita vontade de realmente conhecer Campos <strong>do</strong> Jordão.<br />

Externei este desejo. Luiz então me disse : “ Espero por vocês . Apareçam<br />

em casa .Terei muito prazer . Serão sempre bem vin<strong>do</strong>s . ” Depois descreveu<br />

com detalhes a casa e o caminho para a Lagoinha .<br />

Naquele tempo ain<strong>da</strong> eu não sabia que o... “ Espero por vocês....<br />

Apareçam lá em casa”... - era apenas uma forma delica<strong>da</strong> e educa<strong>da</strong> de<br />

conversar . Nunca um convite efetivo . Luiz repetiu : “Apareçam por lá ...”<br />

Dias depois encontrei Caio Kiehl . Falamos sobre férias e surgiu a<br />

idéia de irmos até Campos <strong>do</strong> Jordão . Lembramos que muitas moças e amigos<br />

de São Paulo lá estariam . Poderíamos ir e ficar em um hotel . No final <strong>da</strong>


conversa , depois de muitos prós e contras , combinamos que no próximo<br />

saba<strong>do</strong> iríamos subir a Serra <strong>da</strong> Mantiqueira . Em seu Fusca .<br />

Aquele Volkswagen <strong>do</strong> Caio – modelo 1950 - era realmente um<br />

carrinho diferente para a época e bem interessante .Tinha um pequeno mas<br />

valente motor de apenas 1.000 cilindra<strong>da</strong>s<br />

Quan<strong>do</strong> sába<strong>do</strong> chegou , saímos bem ce<strong>do</strong> para Campos de Jordão .<br />

A nossa conversa na estra<strong>da</strong> estava tão anima<strong>da</strong> que nem percebemos que já<br />

havíamos passa<strong>do</strong> por São José <strong>do</strong>s Campos , entra<strong>da</strong> necessária para<br />

pegarmos a estra<strong>da</strong> de terra bati<strong>da</strong> e subirmos a Serra . Era o caminho naquele<br />

tempo . Quan<strong>do</strong> notamos já estávamos bem adiante , em Pin<strong>da</strong>monhangaba .<br />

Paramos para tomar informações e então soubemos que ain<strong>da</strong><br />

existia uma outra estra<strong>da</strong> de terra , construí<strong>da</strong> no tempo <strong>do</strong> Império , que saia<br />

de Pin<strong>da</strong> e seguia para Campos <strong>do</strong> Jordão . Informaram que não era muito boa<br />

..., mas que caminhões ain<strong>da</strong> a utilizavam ...<br />

Caio não quis saber de mais na<strong>da</strong> e disse : “ Se caminhão sobe meu<br />

Fusca vai subir . Vamos ganhar tempo não voltan<strong>do</strong> até São José ”.<br />

Seguimos em direção <strong>da</strong>quela estra<strong>da</strong> . Não existiam placas<br />

indicativas para na<strong>da</strong> . Fomos nos informan<strong>do</strong> em ca<strong>da</strong> canto . Levou algum<br />

tempo mas encontramos a tal estra<strong>da</strong> antiga . Seguimos em frente .<br />

Na sua parte plana foi tu<strong>do</strong> bem . Os problemas começaram na serra.<br />

A pista tinha buracos enormes e grandes pedras rola<strong>da</strong>s , em to<strong>da</strong> parte .<br />

Muitas vezes tivemos que parar o carro para examinar a estra<strong>da</strong> . Não possuía<br />

acostamento e por vezes só existia um pe<strong>da</strong>ço de pista , pois a outra parte<br />

havia desbarranca<strong>do</strong> e caí<strong>do</strong> lá para baixo . Dava até me<strong>do</strong> só de olhar .<br />

Finalmente , depois de três horas , chegamos . O valente Fusca ali<br />

já demonstrava por que seria o carro mais procura<strong>do</strong> durante tantas déca<strong>da</strong>s .<br />

Aquela viagem valeu . Pelas belíssimas paisagens que a velha<br />

estra<strong>da</strong> proporcionava , pelas arvores flori<strong>da</strong>s , lin<strong>da</strong>s matas naturais , riachos ,<br />

pequenas cascatas e por uma “vendinha” que encontramos no final <strong>da</strong> serra .<br />

Ali , naquele pequeno comercio que atendia trabalha<strong>do</strong>res , tomei a melhor<br />

garapa de minha vi<strong>da</strong> e comi deliciosos pasteis de queijo feitos na hora . .<br />

Pasteis com garapa . Tem coisa mais paulista ?<br />

Depois , como já estávamos em Campos <strong>do</strong> Jordão , fomos<br />

passean<strong>do</strong> até chegarmos ao Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r . Logo encontramos a<br />

“Lagoinha”, onde ficava a casa <strong>do</strong> nosso amigo . Pedi para Caio passar sobre<br />

uma ponte ali localiza<strong>da</strong> pois , pela descrição recebi<strong>da</strong> de Luiz , sua casa<br />

ficava logo adiante . O local era coberto de hortênsias e tinha carneirinhos<br />

brancos pastan<strong>do</strong> nos grama<strong>do</strong>s .


Achei que seria realmente bom <strong>da</strong>r um abraço naquele amigo e saber<br />

de algum hotel conheci<strong>do</strong> por ele .<br />

Logo avistamos a casa no final de grande grama<strong>do</strong> . Ele a descreveu<br />

muito bem . Muito lin<strong>da</strong> por sinal . Na chega<strong>da</strong> encontramos no jardim uma<br />

senhora tratan<strong>do</strong> de flores , ten<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> um emprega<strong>do</strong> . Paramos , descemos<br />

<strong>do</strong> carro , demos boa tarde e , pedin<strong>do</strong> licença , perguntei se ali era casa <strong>do</strong><br />

Luiz .<br />

Recebemos resposta afirmativa , que foi complementa<strong>da</strong> : “ Ele está<br />

no Tênis Clube” . Então informei que éramos seus amigos <strong>do</strong> Paulistano e que<br />

tínhamos chega<strong>do</strong> de São Paulo naquele momento .<br />

Aquela senhora era mãe <strong>do</strong> Luiz . Quan<strong>do</strong> soube quem éramos<br />

insistiu que entrássemos e foi dizen<strong>do</strong> : “Ele me avisou <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> de vocês .<br />

São convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s dele . Esperava por vocês <strong>do</strong>is depois <strong>do</strong> almoço , lá pelo fim<br />

<strong>da</strong> tarde . Agora , como tinha um jogo marca<strong>do</strong> , foi para o Tênis Clube .<br />

Pediu que vocês deixassem as malas e fossem encontra-lo lá clube, em<br />

Capivari ” .<br />

Antes que pudéssemos saber ou conhecer maiores detalhes o<br />

emprega<strong>do</strong> veio até o carro , pegou nossas malas e as levou para dentro .<br />

Gostei , mas achei meio estranho . Não confirmara nossa vin<strong>da</strong> ao<br />

Luiz . Apenas havia dito que iria até sua casa quan<strong>do</strong> fosse para Campos <strong>do</strong><br />

Jordão .<br />

Caio ficou sensibiliza<strong>do</strong> com o acolhimento <strong>da</strong>quela família . Ficou<br />

feliz . Em to<strong>do</strong> caso , “como eu era caipira de colégio interno , ain<strong>da</strong> confiava<br />

em tu<strong>do</strong> , comecei acreditar que o convite “Espero por vocês” seria realmente<br />

para ficarmos em sua casa .<br />

Acabei achan<strong>do</strong> que éramos mesmo convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s.<br />

Depois , pedin<strong>do</strong> licença e informan<strong>do</strong> que estaríamos procuran<strong>do</strong><br />

Luiz , fomos no caminho indica<strong>do</strong> para o Tênis Clube .<br />

Logo adiante , por coincidência , cruzamos com outros <strong>do</strong>is nossos<br />

amigos <strong>do</strong> Paulistano : Bubi Figueire<strong>do</strong> e Jarbas . Quan<strong>do</strong> nos vimos , no<br />

mesmo momento demos sinal e fomos paran<strong>do</strong> os carros . Depois <strong>do</strong>s abraços<br />

perguntaram onde nós estávamos. Dissemos que na casa <strong>do</strong> Luiz. Como<br />

resposta contaram que também estavam in<strong>do</strong> para lá .Que Luiz os esperava.<br />

Que seria muito bom estarmos to<strong>do</strong>s juntos . Explicaram que iriam apenas<br />

deixar suas malas , pois estavam chegan<strong>do</strong> naquele momento .<br />

Informamos que Luiz seria encontra<strong>do</strong> no Clube e que estávamos<br />

in<strong>do</strong> para lá . Ficou combina<strong>do</strong> que nos encontraríamos naquele local .


No caminho fui pensan<strong>do</strong> e depois falei para o Caio : “ Acho que<br />

entramos de gaiato neste convite ... A mãe <strong>do</strong> Luiz deve ter se confundi<strong>do</strong> ...<br />

Esperava <strong>do</strong>is amigos de São Paulo e nós somos <strong>do</strong>is ... Esperava <strong>do</strong>is sócios<br />

<strong>do</strong> Paulistano e nós somos <strong>do</strong>is...esperava <strong>do</strong>is amigos <strong>do</strong> Luiz para depois <strong>do</strong><br />

almoço e nós <strong>do</strong>is chegamos depois <strong>do</strong> almoço... Os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s , na reali<strong>da</strong>de,<br />

são Jarbas e Bubi ! Por to<strong>da</strong> estas coincidências nós estamos realmente de<br />

Penetra na casa <strong>do</strong> Luiz ”.<br />

Caio concor<strong>do</strong>u que era mesmo uma grande coincidência que<br />

poderia ter aconteci<strong>do</strong> . Ficou pensativo .<br />

Mal chegamos ao Tênis Clube fui atrás <strong>do</strong> Luiz . Logo o achei.<br />

Estava lá na sede .Quan<strong>do</strong> nos viu ficou contente e veio falar conosco .<br />

Então , sem mais delongas , fui explican<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> que acontecera e<br />

dizen<strong>do</strong> que já estávamos voltan<strong>do</strong> para pegar nossa malas em sua casa .<br />

Naquele instante ele foi muito gentil e muito cavalheiro conosco :<br />

“ De maneira alguma vocês vão sair de minha casa . Caso soubesse<br />

<strong>da</strong> vin<strong>da</strong> de vocês , obviamente seriam devi<strong>da</strong>mente convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Faço<br />

absoluta questão que fiquem conosco . Vai ser muito bom pois na casa existe<br />

outrro quarto e lugar para to<strong>do</strong>s .”<br />

Ain<strong>da</strong> tentamos argumentar mas ele foi muito positivo . Acabamos<br />

fican<strong>do</strong> . Meio sem jeito pela grande “manca<strong>da</strong>”que havíamos <strong>da</strong><strong>do</strong> .<br />

Naquela tarde , alem <strong>do</strong> Bubi e <strong>do</strong> Jarbas , muita gente conheci<strong>da</strong> de<br />

São Paulo chegou . Ficamos perto <strong>do</strong> bar conversan<strong>do</strong> com Marina Cok , Beth<br />

Brito, Fritz D’Orey e Dadiche Levi . Depois combinamos que nos<br />

encontraríamos no “Grande Hotel”, pois lá teríamos um bailinho aquela noite .<br />

Quan<strong>do</strong> começou escurecer o frio chegou com violência . Ao<br />

sairmos <strong>do</strong> clube já havia desci<strong>do</strong> para quase zero grau . Ain<strong>da</strong> bem que tinha<br />

leva<strong>do</strong> uma grossa japona de lã .<br />

Depois <strong>do</strong> jantar , realiza<strong>do</strong> no Grande Hotel, esfriou mais ain<strong>da</strong> e ,<br />

no fim <strong>da</strong> noite , depois <strong>da</strong> festa aconteci<strong>da</strong> , quan<strong>do</strong> voltávamos para casa <strong>do</strong><br />

Luiz , atingiu 4 graus negativos . Nunca havia senti<strong>do</strong> tanto frio . Luiz me<br />

disse que o frio naquela região já baixara até menos 10 graus . Cheguei com os<br />

pés e mãos gela<strong>do</strong>s .<br />

No quarto , que nós quatro ficamos , Caio achou uma seringa de<br />

borracha . Com ela começaram esguichos de água , quase gela<strong>da</strong> , na bun<strong>da</strong> de<br />

quem tirava as calças trocan<strong>do</strong> de roupa .<br />

Na manhã seguinte , após o café matinal , fui com Luiz <strong>da</strong>r uns tiros<br />

com uma velha espingar<strong>da</strong> de carregar pela boca . Depois , com Caio , fomos<br />

conhecer alguma coisa <strong>da</strong> região . Os outros foram ao Tênis Clube.


No caminho compramos chocolates que foram ofereci<strong>do</strong>s para a<br />

senhora mãe de Luiz na hora <strong>do</strong> almoço .<br />

Logo depois <strong>da</strong>quela refeição e <strong>do</strong> cafezinho , servi<strong>do</strong> devi<strong>da</strong>mente<br />

na sala de estar , ficamos conversan<strong>do</strong> sobre as famílias paulistas que tinham<br />

casas em Campos <strong>do</strong> Jordão . Naquela ocasião , logo em segui<strong>da</strong> , Caio disse<br />

que era uma pena Campos de Jordão não ser asfalta<strong>da</strong> . O pai de Luiz<br />

argumentou que o asfalto , tanto na ci<strong>da</strong>de como na estra<strong>da</strong> , seria o fim<br />

<strong>da</strong>quele maravilhoso Campos de Jordão , pois então to<strong>da</strong> a região seria<br />

pequena para muitos turistas que chegariam , de to<strong>do</strong>s lugares , de to<strong>da</strong>s<br />

classes sociais . Os males <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de grande seriam fatais para uma pequena<br />

locali<strong>da</strong>de sem estrutura . Parecia que ele estava adivinhan<strong>do</strong> o que<br />

aconteceria em pouco mais de trinta anos .<br />

Como não queríamos voltar para São Paulo no escuro , pois não<br />

conhecíamos bem a estra<strong>da</strong> , foi tempo de nos despedirmos e “picar a mula”.<br />

Saímos agradecen<strong>do</strong> to<strong>da</strong> hospitali<strong>da</strong>de e gentileza <strong>da</strong>quela família .<br />

OUTRAS VIAGENS PARA CAMPOS DO JORDÃO<br />

Voltei para Campos em quase to<strong>da</strong>s as férias de inverno e algumas<br />

vezes no verão.<br />

Ali sempre carreguei as baterias de minha emoção .<br />

A segun<strong>da</strong> vez que estive em Campos <strong>do</strong> Jordão , em 1953 , foi mais<br />

demora<strong>da</strong>. Fiquei junto com Caio e Luiz Carlos Junqueira , durante quinze<br />

dias , no “ Grande Hotel” . Ali era um <strong>do</strong>s centros de reunião para to<strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de paulista que estava na ci<strong>da</strong>de . Amigos não faltavam . Nem garotas ,<br />

o que era bem melhor .<br />

O mais gostoso de tu<strong>do</strong> era encontrar , em sua grande maioria,<br />

pessoas nossas conheci<strong>da</strong>s . Era sempre uma alegria , em to<strong>do</strong>s lugares que<br />

íamos . Encontros nos fins de tarde no Tênis Clube . Festas e reuniões em<br />

quase to<strong>da</strong>s noites . Lanches com deliciosas tortas de morango ou de<br />

framboesa no Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r .<br />

Aquelas tais tortas de morango ou framboesas eram feitas e servi<strong>da</strong>s<br />

em um pequeno restaurante que pertencia a uma senhora austríaca de nome<br />

Berta. Ela era gor<strong>da</strong> , cora<strong>da</strong> e muito simpática . Tive oportuni<strong>da</strong>de de<br />

conhece-la muito bem em 1955, quan<strong>do</strong> estive hospe<strong>da</strong><strong>do</strong> na casa de<br />

Antoninho Chiampolini . Lá estavam também José Alfre<strong>do</strong> Galrão , Sérgio<br />

D’Avila , Julio Neves e Luizinho Pinto .<br />

Como aquele restaurante era quase vizinho <strong>da</strong> casa e como to<strong>do</strong>s os<br />

dias tomávamos ali to<strong>da</strong>s nossa refeições , por sinal magníficas, foi possível


conhecer os maravilhosos pratos prepara<strong>do</strong>s por Dona Berta . Conseqüência :<br />

Começamos engor<strong>da</strong>r rapi<strong>da</strong>mente .O jeito era fazer exercícios .<br />

.<br />

A noite , quan<strong>do</strong> não tínhamos uma festa ou um jantar em casa de<br />

amigos , tínhamos reuniões no Grande Hotel . To<strong>do</strong>s dias eram alegres com os<br />

conheci<strong>do</strong>s ao nosso la<strong>do</strong> . Nos sába<strong>do</strong>s à noite sempre aconteciam bailes e<br />

festas em algum lugar .<br />

Lembro que as mocinhas , com aqueles trajes de inverno , ficavam<br />

extremamente elegantes e charmosas . Por isto mesmo paqueras aconteciam<br />

quan<strong>do</strong> menos se esperava .<br />

Naquelas férias eu estava namoran<strong>do</strong> Cidinha Giafone .<br />

Além de alegre sempre foi muito bonita . Em sua casa aconteciam<br />

jogos de futebol que a rapazia<strong>da</strong> fazia questão de participar . Também to<strong>do</strong>s os<br />

anos , naquela época de férias , acontecia uma lin<strong>da</strong> festa , comemorativa de<br />

aniversário de um <strong>da</strong>queles rapazes <strong>da</strong> família Giafone , com muitos comes e<br />

bebes .<br />

-“OS MARINHEIROS DO SUBMARINO ALEMÃO”<br />

Uma tarde , esperan<strong>do</strong> os amigos , comecei a conversar com o<br />

“maitre” <strong>do</strong> Grande Hotel . Seu nome era Hans . Ele era alemão , assim como<br />

grande parte <strong>do</strong>s funcionários que ali trabalhavam .<br />

Conversa vai ... Conversa vem ... acabei saben<strong>do</strong> que to<strong>do</strong>s<br />

aqueles alemães eram antigos tripulantes de um submarino germânico que<br />

aqui chegou no início <strong>da</strong> II Grande Guerra . Chegaram antes <strong>do</strong> Brasil entrar<br />

no conflito mundial . Estavam em Campos de Jordão desde 1940 .<br />

Como sempre gostei de história ficamos conversan<strong>do</strong> sobre a guerra.<br />

No começo eles estavam receosos . Mas quan<strong>do</strong> falei sobre o couraça<strong>do</strong><br />

“Graf Spee” , sobre o “Bismark” e de sua odisséia ; sobre o maior piloto de<br />

caça que foi um germânico - o “Barão Vermelho” e <strong>do</strong>s submarinos que<br />

tinham sempre a letra “U”em primeiro lugar , ficaram receptivos . Depois ,<br />

no an<strong>da</strong>r <strong>da</strong> conversa , ficaram muito mais comunicativos. No final estavam<br />

contan<strong>do</strong> suas agruras passa<strong>da</strong>s em um submarino . Contaram sobre a vin<strong>da</strong><br />

para Campos <strong>do</strong> Jordão .<br />

Eles comigo sempre foram muitos gentis e alegres .<br />

Mesmo depois de muitos anos , sempre que voltava para aquela<br />

ci<strong>da</strong>de , ficasse onde ficasse hospe<strong>da</strong><strong>do</strong> , não deixava de visitar Otto e Fritz ,<br />

que trabalhavam na cozinha , e de <strong>da</strong>r um abraço no maitre Hans .


Com o tempo e o “progresso” o Grande Hotel ficou desativa<strong>do</strong> por<br />

alguns anos . Perdi o contato com meus amigos alemães . Mas nunca os<br />

esqueci .<br />

Difícil era retornar para São Paulo e para o trabalho depois <strong>da</strong>queles<br />

dias em Campos <strong>do</strong> Jordão . Mas as amizades ficavam . As promessas de<br />

voltar no outro ano também .<br />

A “CASA DA TIA” - NO PARQUE DA FERRADURA<br />

Dois anos se passaram . Chegou o inverno . Soubemos então que no<br />

próximo saba<strong>do</strong> haveria um Grande Baile no Grande Hotel , com a presença<br />

de Dóris Monteiro . Ela vinha fazen<strong>do</strong> grande sucesso como cantora de<br />

musicas brasileiras . Não poderíamos perder aquela festa . Ficou resolvi<strong>do</strong> ,<br />

em uma reunião no Paulistano , que subiríamos na sexta feira , véspera<br />

<strong>da</strong>quele acontecimento , em <strong>do</strong>is carros . Comigo iria Silvinho Abreu . No<br />

carro com António Duva estaria Otto “Cachorrão” Bendix .<br />

Saímos bem ce<strong>do</strong> pois soubemos que os hotéis estavam cheios .<br />

Deveríamos chegar antes <strong>do</strong>s demais turistas eventuais , para encontrarmos<br />

vaga em algum hotel . Por precaução contra o frio levamos algumas mantas .<br />

Antes <strong>da</strong>s dez horas já estávamos em Campos <strong>do</strong> Jordão .<br />

Vaga não encontramos , em nenhum hotel .<br />

Lembro que naquele tempo o numero de hotéis era pequeno .<br />

<strong>Casa</strong>s <strong>do</strong>s amigos foi também uma tentativa que não deu resulta<strong>do</strong> .<br />

To<strong>da</strong>s lota<strong>da</strong>s pois a ci<strong>da</strong>de estava cheia de gente conheci<strong>da</strong> . Tentamos ,<br />

junto a uma imobiliária , a Cadij , alugar uma residência para o fim de semana.<br />

Na<strong>da</strong> conseguimos .<br />

Porem a sorte nos aju<strong>do</strong>u .<br />

Duva tinha i<strong>do</strong> para o Parque <strong>da</strong> Ferradura . Combinamos que nos<br />

encontraríamos por volta <strong>da</strong>s 13 horas para almoçarmos . Por volta de meio<br />

dia Duva e Otto chegaram sorridentes . Foram informan<strong>do</strong> que acharam uma<br />

casa . Pequena , meio longe mas com lareira . Já estava devi<strong>da</strong>mente a nossa<br />

disposição .<br />

Depois <strong>do</strong> almoço fomos conhecer a tal casa aluga<strong>da</strong> . O lugar ,<br />

como eu já sabia , era meio desabita<strong>do</strong> , com muitos terrenos e poucas casas .<br />

Antes de chegarmos junto a casa , no caminho , passamos pela represa <strong>da</strong><br />

Ferradura. Era lin<strong>da</strong> então , cerca<strong>da</strong> por muitas arvores , muito azul .<br />

A tal casa era bonitinha , mas um pouco aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> . Tinha duas<br />

salas , três quartos , copa-cozinha , <strong>do</strong>is banheiros e um terraço na frente .<br />

Duva foi explican<strong>do</strong> : “ <strong>Casa</strong> só tinha esta . Encontramos o caseiro .<br />

Ele disse que não estava para alugar . Tanto eu falei e insisti que ele contou<br />

que a <strong>do</strong>na , uma ricaça chama<strong>da</strong> de Dona Vilma , nos três últimos anos não


tinha vin<strong>do</strong> para esta casa . Disse ain<strong>da</strong> que ela morava no Rio de Janeiro e<br />

que só man<strong>da</strong>va seu pagamento . As vezes atrasava , como agora em Junho” .<br />

“Então eu disse que , como ela não vinha , ele poderia ceder a casa<br />

sem me<strong>do</strong> e ganhar um dinheiro extra em apenas <strong>do</strong>is dias .<br />

Ele respondeu que , para deixar a gente entrar , precisava de<br />

autorização <strong>da</strong> <strong>do</strong>na . Por escrito .<br />

Resolveu a questão perguntan<strong>do</strong> se ele conhecia a letra <strong>da</strong> tal <strong>do</strong>na<br />

Vilma . Ele disse que não .<br />

Falei que o problema não existia mais , pois ele iria receber uma<br />

“Autorização Escrita”. Ficaria com ele . Caso alguém chegasse ou<br />

perguntasse não teria na<strong>da</strong> contra ele , pois tinha recebi<strong>do</strong> uma autorização por<br />

escrito <strong>da</strong> proprietária . Ele entendeu tu<strong>do</strong> . Era um caipira muito vivo . Coçou<br />

a cabeça e perguntou quanto ganharia . Quan<strong>do</strong> soube <strong>do</strong> valor ficou sorrin<strong>do</strong>,<br />

Depois concor<strong>do</strong>u , ain<strong>da</strong> sorrin<strong>do</strong> . Estava sorrin<strong>do</strong> até agora .<br />

Felizmente não <strong>do</strong>rmimos no frio ... Seria terrível .<br />

- SUBIDA NA PEDRA DO BAÚ<br />

No ano seguinte fui para Campos <strong>do</strong> Jordão com Fritz D’Orey .<br />

Iríamos inicialmente apenas nós <strong>do</strong>is para a casa perto <strong>do</strong> Tênis Clube .<br />

Contu<strong>do</strong> , para variar, a tal casinha ficou cheia de amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Serginho D’Avila , Adriano Gui<strong>do</strong>tti e Alberto Andrade ficaram conosco .<br />

Um pouco antes de minha i<strong>da</strong> para Campos recebi de minha mãe<br />

um lin<strong>do</strong> pulôver. Dona Zil<strong>da</strong> tinha capricha<strong>do</strong> naquele tricota<strong>do</strong> , com trama<br />

bem fina em lã bem grossa . Era vermelho , com gola fecha<strong>da</strong> no pescoço ,<br />

com duas listas pretas no braço direito .<br />

Experimentei o presente e realmente gostei .<br />

Minha tia Ângela disse que era o mais bonito pulôver de homem<br />

que tinha visto . Levei-o comigo para Campos mas ficou guar<strong>da</strong><strong>do</strong> .<br />

No dia marca<strong>do</strong> viajamos em vários carros .<br />

To<strong>do</strong>s os dias apareciam novas programações que não poderíamos<br />

perder . Almoços na casa de Carol e Maria Inês Whitaker , jantares em casa<br />

de sua prima que morava no Rio de Janeiro . Festa na famosa casa <strong>da</strong> Vila<br />

Simonsen , promovi<strong>da</strong> por Vitinho e seu irmão Fernan<strong>do</strong> . Jogo de “crepe” na<br />

casa de Ci<strong>da</strong> e Paulinho Amaral . Jogos de futebol com Dadiche Levi e<br />

companhia. Desfile de mo<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Clo<strong>do</strong>vil no Grande Hotel . Lançamento <strong>do</strong>s<br />

títulos e inauguração <strong>da</strong> Hípica de Campos <strong>do</strong> Jordão . Seresta com fogueiras<br />

no Pico de Itapeva , com participação <strong>da</strong>s nossas paquerinhas , devi<strong>da</strong>mente<br />

acompanha<strong>da</strong>s de suas mães . Vários pic-nics . I<strong>da</strong>s no trenzinho até Pin<strong>da</strong> .<br />

Subi<strong>da</strong>s no Morro <strong>do</strong> Elefante . Festas no Grande Hotel . Jogos de buraco com


Fritz Dórey e Roberto Matarazzo . Reuniões to<strong>da</strong>s as tardes no Tênis Clube .<br />

Tortas de morango no Jardim <strong>do</strong> Embaixa<strong>do</strong>r e muitas outras coisas mais . Os<br />

dias e noites iam sen<strong>do</strong> toma<strong>do</strong>s com programações que surgiam<br />

sucessivamente , sem parar . Era muito bom . Fazia bem até para a alma .<br />

Um belo dia as Mocinhas resolveram subir na “Pedra <strong>do</strong> Baú”.<br />

Como não poderia deixar de ser , mães iriam acompanha-las . Combinamos<br />

que to<strong>do</strong>s deveriam usar calças “Jeans”, inclusive as mães que desejassem<br />

subir . Fomos , pela tarde , em vários carros até o pé <strong>da</strong>quela enorme pedra .<br />

Difícil era subir , através degraus de ferro finca<strong>do</strong>s na pedra , pois , em<br />

determina<strong>do</strong> momento , ficávamos inclina<strong>do</strong>s para trás . Naquele local a Pedra<br />

<strong>do</strong> Baú era saliente para o la<strong>do</strong> de fora . A sensação era realmente de perigo .<br />

Alguns rapazes foram na frente . As meninas logo atrás com alguns<br />

<strong>do</strong>s nossos intermedian<strong>do</strong> a subi<strong>da</strong> . Eu fiquei no último grupo que subiria<br />

com as mães . Naquela altura <strong>do</strong> campeonato falei baixinho para Paulinho<br />

Go<strong>do</strong>y Moreira : “ Vai ser um pereréco trazer to<strong>da</strong>s estas mães de volta.” Ele<br />

deu risa<strong>da</strong> . Fomos em frente .<br />

Depois de muito esforço e muita vontade to<strong>da</strong>s subiram . To<strong>da</strong>s .<br />

A vista lá de cima era espetacular . O vento <strong>da</strong>va uma sensação de<br />

estarmos voan<strong>do</strong> naquela altura que a Pedra <strong>do</strong> Baú proporcionava . Ficamos<br />

olhan<strong>do</strong> a paisagem . O por <strong>do</strong> sol começou muito bonito . To<strong>da</strong>s as moças e<br />

suas mães estavam maravilha<strong>da</strong>s . Mas o frio vinha chegan<strong>do</strong> , ca<strong>da</strong> vez mais<br />

forte . Achamos que estava na hora de descer pois depois ficaria escuro ,<br />

dificultan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> . Falei para o Caio Kiehl e para Junqueira que agora<br />

realmente teríamos problemas com as mães , pois a desci<strong>da</strong> não era fácil .<br />

Muito marmanjo naquelas ocasiões já havia refuga<strong>do</strong> .<br />

Não deu outra . As moças guia<strong>da</strong>s pelos rapazes desceram com<br />

me<strong>do</strong> , mas com alguma facili<strong>da</strong>de . Algumas mães conseguiram descer<br />

gemen<strong>do</strong> e pedin<strong>do</strong> aju<strong>da</strong> aos santos . Duas tentaram , contu<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong><br />

ficavam de costas para o precipício , precisan<strong>do</strong> pisar nos degraus que pouco<br />

viam , o me<strong>do</strong> falava mais alto . Com muita persuasão uma delas desceu<br />

apoia<strong>da</strong> moralmente por to<strong>do</strong>s e assessora<strong>da</strong> por Jujuba Moreira <strong>da</strong> Costa.<br />

A última ( nome não interessa ) que ficou estava em pânico . Dizia<br />

que era impossível descer. Que ela não conseguiria de jeito algum . Queria<br />

ficar lá em cima esperan<strong>do</strong> pelos bombeiros . Queria <strong>do</strong>rmir ali e esperar o dia<br />

nascer. Dizia qualquer coisa para não descer .<br />

Com muita calma eu e Caio explicamos que precisava descer antes<br />

que a escuridão tomasse conta de tu<strong>do</strong> . Que o frio ali poderia atingir até 10


gruas negativos . Que ela poderia sofrer muito . Ela só respondia que ia cair.<br />

Que iria cair e que estava com mau pressentimento .<br />

Então repetimos que não aconteceria na<strong>da</strong> pois iríamos <strong>da</strong>r to<strong>do</strong><br />

apoio . Ela seria amarra<strong>da</strong> pela cintura com uma cor<strong>da</strong> , que também estaria<br />

amarra<strong>da</strong> na minha e na cintura <strong>do</strong> Caio . Eu iria descer na sua frente guian<strong>do</strong><br />

seus passos . Caio , apoia<strong>do</strong> por Junqueira , desceria depois dela , seguran<strong>do</strong> a<br />

cor<strong>da</strong> e impedin<strong>do</strong> sua que<strong>da</strong> .<br />

Levou algum tempo para ela aceitar . Fomos para a bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> Pedra<br />

<strong>do</strong> Baú e lentamente começamos descer . Por sorte ela não era gordinha . Em<br />

ca<strong>da</strong> degrau eu fui colocan<strong>do</strong> seus pés .Um por um . Ela só pedia ao Caio que<br />

a segurasse direitinho . Levou algum tempo mas chegamos em baixo .<br />

Apesar <strong>do</strong> frio intenso estávamos bem sua<strong>do</strong>s . Recebemos uma<br />

salva de palmas e fomos , agora já no escuro , de volta para o Tênis Clube .<br />

As mães ali chegaram contan<strong>do</strong> aquela “imensa aventura”, pois<br />

conseguiram subir e principalmente descer na Pedra <strong>do</strong> Baú . To<strong>da</strong>s estavam<br />

felizes .<br />

- O “PULOVER VERMELHO”<br />

No fim de ca<strong>da</strong> tempora<strong>da</strong> , no último saba<strong>do</strong> , acontecia sempre no<br />

“Hotel Refugio Alpino” a festa <strong>da</strong> “Miss Suéter”. Era muito concorri<strong>da</strong> pois<br />

to<strong>da</strong>s as moças apresentavam-se então com seus melhores pulovers , malhas e<br />

sueters . Ca<strong>da</strong> um mais bonito que o outro . Era uma festa muito alegre , de<br />

muita elegância e bonita de assistir . Nem sei se ain<strong>da</strong> existe .<br />

Pois bem , naquela noite resolvi usar o pulôver vermelho que Dona<br />

Zil<strong>da</strong> tinha feito . Vermelho praticamente não era usa<strong>do</strong> por homens . Somente<br />

vesti o tal na hora que estávamos sain<strong>do</strong> . Os amigos gostaram , apesar de ser<br />

vermelho . Estranhavam a cor pouco usa<strong>da</strong> e brincavam dizen<strong>do</strong> que eu estava<br />

com sorte , pois naquela festa não entrariam touros . Poderíamos encontrar<br />

alguns chifres ... mas não seriam de touros ... Demos risa<strong>da</strong>s .<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei com aquele pulôver no Refugio Alpino realmente<br />

chamei atenção <strong>da</strong>s moças e de algumas mães , principalmente <strong>da</strong>quelas que<br />

faziam parte <strong>da</strong> Comissão Julga<strong>do</strong>ra . Elas iriam determinar , entre to<strong>da</strong>s<br />

mocinhas , qual a que usava o suéter mais bonito.<br />

Ficaram olhan<strong>do</strong> e depois pediram permissão para tocar no meu<br />

pulôver . Achei que estava tu<strong>do</strong> bem . Tu<strong>do</strong> muito bem , mas me sentin<strong>do</strong><br />

meio inseguro . Em segui<strong>da</strong> , pedi licença e fui <strong>da</strong>nçar.<br />

Depois de algum tempo de festa a Comissão Julga<strong>do</strong>ra foi indican<strong>do</strong><br />

as moças que se destacavam em seus lin<strong>do</strong>s sueters . Doze foram seleciona<strong>da</strong>s<br />

e desfilaram pelo salão . Por fim Lucia Helena foi proclama<strong>da</strong> vence<strong>do</strong>ra e<br />

ganhou um premio .


Quan<strong>do</strong> pensei que tu<strong>do</strong> tinha termina<strong>do</strong> fui chama<strong>do</strong> pela tal<br />

Comissão . Disseram que excepcionalmente aquele ano teríamos um “ Mister<br />

Suéter” . Eu tinha si<strong>do</strong> o escolhi<strong>do</strong> . Ganhei um litro de uísque e o direito de<br />

<strong>da</strong>nçar uma valsa com a “Miss Suéter” .<br />

O litro de uísque os amigos levaram . Mas naquela noite , depois de<br />

<strong>da</strong>nçar a tal valsa , conheci a menina mais bonita de to<strong>do</strong>s os tempos . Era<br />

<strong>do</strong>ce , suave , educa<strong>da</strong>, inteligente , muito séria e alem de tu<strong>do</strong> lin<strong>da</strong> . Seu<br />

nome : Regina Barletta . Namoramos durante um tempo . Depois pisei na<br />

bola! Por pura besteira perdi a mais lin<strong>da</strong> namora<strong>da</strong> .<br />

Noto agora , lembran<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s fatos aconteci<strong>do</strong>s em Campos de<br />

Jordão , que seria até possível escrever um livro , somente com os aconteci<strong>do</strong>s<br />

naquela ci<strong>da</strong>de . Por isto mesmo , e por já ter escrito bastante sobre aquela<br />

região , vou contar resumi<strong>da</strong>mente somente mais alguns <strong>do</strong>s muitos fatos e<br />

casos lá ocorri<strong>do</strong>s . Vamos lá :<br />

CARRO CONVERSIVEL NA NOITE - COM ZERO GRAU<br />

No inverno de 1959 não foi possível passar muitos dias de férias lá<br />

na serra . Estava estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> muito , trabalhan<strong>do</strong> na Secretária <strong>do</strong> Trabalho e<br />

realizan<strong>do</strong> meu estagio em direito .<br />

No fim <strong>da</strong> tarde de um saba<strong>do</strong> de inverno , em que tinha esta<strong>do</strong><br />

ocupa<strong>do</strong> o dia to<strong>do</strong> , dei uma chega<strong>da</strong> até o Paulistano .<br />

O clube estava meio vazio , o que era natural naquela época , com<br />

to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> viajan<strong>do</strong> .<br />

Mal cheguei e fui encontran<strong>do</strong> Paulinho Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama . Estava<br />

ele meio triste e tomava um cafezinho com Paulo Colombo . Quan<strong>do</strong> me viu<br />

já foi perguntan<strong>do</strong> por que eu não estava em Campos . Expliquei minhas<br />

razões. Eram iguais as dele .<br />

Depois de alguns minutos de papo fura<strong>do</strong> , falamos <strong>da</strong> festa que ia<br />

ocorrer no Refugio Alpino .<br />

Ele , que ficara to<strong>do</strong> sorriso , perguntou se não queríamos ir agora<br />

para Campos de Jordão , pois estava com seu novo “Chevrolet” conversível e ,<br />

no máximo em três horas , alcançaríamos a ci<strong>da</strong>de em tempo de participar <strong>da</strong><br />

festa . Seu convite não era de brincadeira . Falava bem anima<strong>do</strong> .<br />

Paulo Colombo achou que era muito tarde , pois passava <strong>da</strong>s 18<br />

horas e nem tínhamos reserva<strong>do</strong> hotel . Eu , lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong>s boas coisas que<br />

sempre lá aconteciam , topei a para<strong>da</strong> . Nem discutimos mais na<strong>da</strong> . Ficou


esolvi<strong>do</strong> que sairíamos imediatamente . Passaríamos por nossas casas<br />

pegan<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente o indispensável .<br />

Em meia hora já estávamos na Via Dutra . Uma hora depois em São<br />

José <strong>do</strong>s Campos .<br />

A noite estava clara , com luar mas muito fria .Quan<strong>do</strong> chegamos em<br />

Monteiro Lobato , no pé <strong>da</strong> serra , resolvemos parar e tomar alguma coisa para<br />

espantar o frio . O melhor que encontramos , em um bar de beira de estra<strong>da</strong> ,<br />

foi um litro de Conhaque “Palhinha” . Apesar de muito forte , logo de saí<strong>da</strong><br />

tomamos uns goles , de vira<strong>da</strong> e no gargalo . Rapi<strong>da</strong>mente continuamos a<br />

viagem .<br />

Conforme íamos subin<strong>do</strong> a serra o frio ia aumentan<strong>do</strong> e também iam<br />

aumentan<strong>do</strong> os goles , toma<strong>do</strong>s no gargalo <strong>da</strong> garrafa <strong>do</strong> tal conhaque .<br />

Começaram fazer efeito . Meia hora depois , lá pelo meio <strong>da</strong> serra , estávamos<br />

com calor . Na reali<strong>da</strong>de muito alegres com aquele conhaque , tanto que<br />

resolvemos abaixar a capota <strong>do</strong> carro conversível . Isto foi feito apenas<br />

reduzin<strong>do</strong> bem a veloci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> carro . Nem paramos .<br />

E lá fomos nós . De capota arria<strong>da</strong> , em uma temperatura abaixo de<br />

zero graus , beben<strong>do</strong> no gargalo , sem jantar e <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s de tu<strong>do</strong> que<br />

contávamos .<br />

Chegamos no Refugio Alpino quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s estavam entran<strong>do</strong> para a<br />

festa . Nós <strong>do</strong>is estávamos “como o diabo gosta” . De conversível , três graus<br />

abaixo de zero , com a garrafa <strong>do</strong> conhaque vazia ... mas com a cabeça cheia<br />

até a tampa . Com to<strong>da</strong> alegria e descontração <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />

Quan<strong>do</strong> os amigos nos viram fizeram aquela fuzarca de sempre e<br />

nos levaram com eles para dentro . Nem sei como entramos no baile pois nem<br />

convites tínhamos . Sei apenas que o meio litro toma<strong>do</strong> <strong>do</strong> tal “Palhinha”<br />

estava fazen<strong>do</strong> efeito . Lembro que <strong>da</strong>ncei muitas vezes , que comi alguma<br />

coisa e que depois fui <strong>do</strong>rmir no carro ( agora com a capota fecha<strong>da</strong> ) ,<br />

devi<strong>da</strong>mente embrulha<strong>do</strong> em um acolchoa<strong>do</strong> . Os amigos tinham me leva<strong>do</strong> .<br />

Lembro que quan<strong>do</strong> entrei no carro Paulinho já estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> .<br />

Nós <strong>do</strong>is estávamos apaga<strong>do</strong>s . Definitivamente .<br />

Acordei no outro dia com a cabeça estouran<strong>do</strong> . Nem sabia onde<br />

estava . Procurei um banheiro como primeira providencia . Precisava lavar o<br />

rosto e beber água , para ver se tirava aquele gosto maldito de “cabo de guar<strong>da</strong><br />

chuva”que tinha na boca . Achei o banheiro e entrei .<br />

Encontrei lá dentro , escovan<strong>do</strong> os dentes , Marcelão Ribeiro Lima.<br />

Quan<strong>do</strong> me viu deu risa<strong>da</strong> e foi perguntan<strong>do</strong> como estava minha ressaca .<br />

Antes de minha resposta , Paulinho também entrou no banheiro , reclaman<strong>do</strong><br />

de <strong>do</strong>r de cabeça . Queria saber onde estávamos .


Marcelão aproveitou a presença de nós <strong>do</strong>is e explicou que<br />

estávamos no Hotel <strong>da</strong> Vila Inglesa . Precisamente no Chalé que ele alugara .<br />

Éramos seus convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Apenas precisávamos tomar banho e escovar os<br />

dentes pára tirar aquele espantoso “ bafo de onça”, que , por “ estranha<br />

coincidência ” , tomava conta <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is .<br />

Depois , quan<strong>do</strong> fomos tomar café , encontrei com Chico<br />

“Foca”Campos . Preocupa<strong>do</strong> , pois de na<strong>da</strong> lembrava , fui logo perguntan<strong>do</strong><br />

se eu tinha feito alguma cafajesta<strong>da</strong> . Chico caiu na risa<strong>da</strong> e inicialmente foi<br />

me gozan<strong>do</strong> , contan<strong>do</strong> que eu tinha feito horrores .<br />

Depois , ven<strong>do</strong> minha preocupação , contou a ver<strong>da</strong>de , <strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

inclusive detalhes . Disse que eu apenas tinha beija<strong>do</strong> as mãos de to<strong>da</strong>s as<br />

senhoras que ia encontran<strong>do</strong> ..., <strong>da</strong>n<strong>do</strong> abraços nos conheci<strong>do</strong>s e até em alguns<br />

desconheci<strong>do</strong>s que me apresentavam ... , que tirei para <strong>da</strong>nçar to<strong>da</strong>s as moças ,<br />

com um detalhe que não mais muito usa<strong>do</strong> : pedin<strong>do</strong> com to<strong>da</strong> cerimônia<br />

licença para as mães . Disse ain<strong>da</strong> que bebi em to<strong>do</strong>s os copos , <strong>do</strong>s amigos<br />

mais chega<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s que estava conhecen<strong>do</strong> , brin<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a festa , as meninas ,<br />

as férias e até o Prefeito . Comentou que eu estive “muito alegre”, porem bem<br />

educa<strong>do</strong> . Lembrou que “In Vino Veritas”, pois ca<strong>da</strong> um mostra o que é na<br />

bebi<strong>da</strong> .<br />

Falou ain<strong>da</strong> que , em determina<strong>do</strong> momento , aconteceu um<br />

pequeno porem : - “ Dois guar<strong>da</strong>s municipais , que tomavam conta <strong>do</strong> baile ,<br />

ven<strong>do</strong> to<strong>da</strong> aquela sua alegria esfuziante , vieram lhe perturbar . Queriam<br />

antes de mais na<strong>da</strong> lhe humilhar . Ordenaram que você ficasse senta<strong>do</strong> e bem<br />

quietinho . Sem razão alguma pois to<strong>do</strong>s estavam gostan<strong>do</strong> de suas<br />

brincadeiras . Então foi um pereréco ... Você realmente ficou bravo . Muito<br />

bravo .<br />

Os guardinhas, assusta<strong>do</strong>s pela sua reação , com seu tamanho e<br />

fama , além <strong>do</strong> apoio recebi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s , saíram de fininho .<br />

Foram vigiar a entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> hotel ”.<br />

Conclusão : “Conhaque Palhinha” nunca mais .


DORMINDO NO GELADO<br />

Uma semana depois aconteceu quase a mesma coisa . Então<br />

encontrei Dudu Brotéro no Paulistano , por volta <strong>da</strong>s 7 horas <strong>da</strong> noite de<br />

saba<strong>do</strong> , queren<strong>do</strong> ir para Campos <strong>do</strong> Jordão . Encurtan<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a historia : -<br />

Lá fomos nós !<br />

Daquela vez nem paramos em Monteiro Lobato , nem teve conhaque<br />

“ Palhinha”. Seguimos direto para o Grande Hotel .<br />

Mal chegamos e encontramos gente nossa .<br />

Dudu arrumou uma casa que um amigo comprara . Só que não tinha<br />

ain<strong>da</strong> roupa de cama . Ficamos de <strong>do</strong>rmir no fogo <strong>da</strong> lareira .<br />

Só que na hora de <strong>do</strong>rmir não tinha lenha para lareira . Eram4 horas<br />

<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> . > Conclusão : ficamos acor<strong>da</strong><strong>do</strong>s , gela<strong>do</strong>s até que o sol<br />

apareceu . Então fomos <strong>do</strong>rmir no grama<strong>do</strong> toman<strong>do</strong> o sol <strong>da</strong> montanha<br />

Só conseguimos <strong>do</strong>rmir , um pouco , quan<strong>do</strong> o sol <strong>da</strong> serra<br />

apareceu. . Ele foi fican<strong>do</strong> mais forte perto <strong>da</strong>s 9 <strong>da</strong> manhã . Fomos deitar nos<br />

colchões , agora devi<strong>da</strong>mente estendi<strong>do</strong>s na grama , debaixo <strong>da</strong>quele sol<br />

gostoso . Conclusão: Quase perdemos o almoço.<br />

- A MAIOR E MELHOR MANSÃO DA CIDADE<br />

A Vila Simonsen foi , sem duvi<strong>da</strong> alguma , a melhor residência de<br />

Campos <strong>do</strong> Jordão . Na reali<strong>da</strong>de era uma grande mansão . Estava localiza<strong>da</strong><br />

em uma área enorme , em alguns alqueires , com estra<strong>da</strong> asfalta<strong>da</strong> depois <strong>do</strong>s<br />

portões até atingir a casa , com bosques , vários jardins , muitas flores , quadra<br />

de tênis e tu<strong>do</strong> mais. Ficava em Capivari , bem perto <strong>do</strong> Tenis Clube , no<br />

melhor local <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de .<br />

Para se ter idéia <strong>do</strong> tamanho <strong>da</strong> casa , nunca tive certeza de quantos<br />

quartos ela possuía . Acho que eram trinta , mas não posso afirmar . As salas<br />

enormes , extremamente bem decora<strong>da</strong>s . Na entra<strong>da</strong> existia uma armadura<br />

medieval , em tamanho natural . Tinha sala de jogos com mesa oficial para<br />

sinuca . Uma imensa biblioteca cheia de livros , alguns raros .<br />

Cabe destaque especial para a sala de jantar , pois a mesa que ali<br />

estava era para muitas pessoas , to<strong>da</strong>s sentadinhas ao seu re<strong>do</strong>r .<br />

Do la<strong>do</strong> de fora um magnífico terraço .<br />

Esta mansão pertencia a Dona Rachel Simonsen , sem duvi<strong>da</strong><br />

alguma perfeita anfitriã , pois recebia com grande alegria to<strong>do</strong>s amigos de<br />

seus netos : Fernan<strong>do</strong> e Vitor Simonsen . E sempre eles não eram poucos .


Quem muito freqüentou o local foi Mario Guisalberti e sua esposa<br />

Lílian Bloem Guisalberti . Eram muito amigos <strong>do</strong> Vitor Simonsen – Pai <strong>do</strong><br />

Fernan<strong>do</strong> e <strong>do</strong> Vitinho – casa<strong>do</strong> em 2 a núpcias com Dulce Simonsen . Varias<br />

vezes ali estive , como hospede <strong>da</strong> casa ou como convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para festas .<br />

Vitinho é meu amigo desde muito tempo , desde a déca<strong>da</strong> de 50 .<br />

Fernan<strong>do</strong> , seu irmão , faleceu este ano de 2003 e eu , por estar<br />

viajan<strong>do</strong> na ocasião , só tomei conhecimento depois de sua missa de sétimo<br />

dia . Fico triste só de lembrar . Ele era muito alegre .<br />

Aquela casa , a Vila Simonsen , transpirava alegria to<strong>do</strong> o tempo.<br />

Tinha uma aura fenomenal que trazia descontração até para os mais tími<strong>do</strong>s .<br />

As muitas festas ali realiza<strong>da</strong>s sempre foram as mais bonitas . To<strong>do</strong>s os mais<br />

chega<strong>do</strong>s eram sempre convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s e levavam então muita alegria .<br />

Os jantares diários , com to<strong>do</strong>s os hospedes senta<strong>do</strong>s , sempre com<br />

gente jovem , eram muito diverti<strong>do</strong>s , pois as brincadeiras se sucediam to<strong>do</strong><br />

tempo . Quem ia pela primeira vez “pagava o pato”. Para se servir , tinha de<br />

ir até um grande “bufet” que ficava em frente <strong>da</strong> mesa . Quan<strong>do</strong> o novato se<br />

levantava e ia até lá para se servir , quem estava senta<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong> tirava o<br />

assento de sua cadeira . O assento era móvel . Assim feito deixava apenas ,<br />

disfarçan<strong>do</strong> a retira<strong>da</strong> <strong>do</strong> assento e <strong>do</strong> buraco que ficava , uma almofa<strong>da</strong> , que<br />

to<strong>da</strong>s cadeiras possuíam . Na volta , ao sentar , o incauto despencava com a<br />

bun<strong>da</strong> no buraco <strong>da</strong> cadeira , fican<strong>do</strong> de pernas para o ar . Então , no meio de<br />

parabéns , recebia uma salva de palmas . Tinha passa<strong>do</strong> em sua iniciação .<br />

Nos jantares quan<strong>do</strong> alguém fazia aniversário sempre era exigi<strong>do</strong> um<br />

discurso , homenagean<strong>do</strong> aquele amigo . Eu mesmo fiz um parabenizan<strong>do</strong> o<br />

amigo Luiz David Ribeiro . Depois eram muitas palmas , pic- pics e vivas .<br />

Era impossível esquecer aquele aniversário . Dona Rachel , na cabeceira <strong>da</strong><br />

mesa , tu<strong>do</strong> assistia com alegria . Era pessoa maravilhosa .<br />

Durante a noite , depois de alguma reunião , festa ou jogos ( então o<br />

“crepe” é que corria solto na mesa de sinuca) , as brincadeiras não acabavam .<br />

A turma <strong>do</strong> Paulistano esperava alguém <strong>do</strong>rmir e , silenciosamente , bem de<br />

mansinho , ia até seu quarto e colocava um pe<strong>da</strong>ço de chocolate em sua mão ,<br />

ou as vezes na testa . Quem estava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> não sentia , até que o chocolate<br />

ficasse derreti<strong>do</strong> com o calor de seu corpo e , se ele , por alguma razão ,<br />

passasse a mão no rosto ou nos cabelos , ficava to<strong>do</strong> lambuza<strong>do</strong> e tinha que ir ,<br />

no frio , até o banheiro lavar rosto e mão . Nunca se sabia quem tinha feito a<br />

brincadeira . O silencio era regra <strong>da</strong> nossa turma . Só dávamos risa<strong>da</strong>s . De<br />

to<strong>do</strong>s os quartos vinham risa<strong>da</strong>s . Sempre .


Sapatos eram “rouba<strong>do</strong>s” e coloca<strong>do</strong>s em outros quartos . Tênis ,<br />

mesmo novos , quan<strong>do</strong> cheiravam mal , eram escondi<strong>do</strong>s . Aquela camisa ,<br />

que seria usa<strong>da</strong> em uma ocasião especial , também . Era só procurar que se<br />

achava tu<strong>do</strong> . As vezes demorava mas tu<strong>do</strong> se achava ... no meio <strong>da</strong> gozação .<br />

Uma noite , quan<strong>do</strong> Caio Kiehl <strong>do</strong>rmia , passaram muita pasta de<br />

dentes em seus cabelos . Com o forte cheiro de hortelã ele acor<strong>do</strong>u . Passou a<br />

mão na cabeça , acendeu o abat-jour e me acor<strong>do</strong>u . Morri de rir quan<strong>do</strong> vi<br />

to<strong>da</strong> sua cabeça branquinha . Ele no começo ficou bravo, depois riu junto . Fui<br />

com ele até o banheiro . Então começou a lavar a cabeça . Quanto mais lavava<br />

mais espuma aparecia . Era aquela história : “ quanto mais rezava mais<br />

lobisomem aparecia ” . Eu ria e ele também . Por fim ele disse e até jurava que<br />

o Acácio“Geléia”era o culpa<strong>do</strong> .<br />

A Vila Simonsen tinha alguns convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s constantes . “Geléia” e<br />

meu primo Fausto Marcondes eram alguns deles . Das vezes que lá estive<br />

lembro muito <strong>da</strong>s brincadeiras <strong>do</strong> Luiz Carlos Junqueira , <strong>do</strong> “Jujuba” Moreira<br />

<strong>da</strong> Costa , <strong>do</strong> Rachid Jaudi e <strong>do</strong> Caio . As <strong>do</strong> “ Geléia” foram tantas que nem<br />

dá para contar .<br />

- CAPOTAMENTO NA ESTRADA<br />

No outro saba<strong>do</strong> , quan<strong>do</strong> deveríamos voltar à Vila Simonsen ,<br />

descobrimos , de repente , que ficáramos sem condução . Eu havia deixa<strong>do</strong><br />

meu carro lá em Campos <strong>do</strong> Jordão , pois tinha vin<strong>do</strong> com o <strong>do</strong> Junqueira para<br />

São Paulo . O mesmo aconteceu com Caio e com “Jujuba . Deixaram também<br />

seus carros e também vieram com Junqueira .<br />

Na sexta feira , dia marca<strong>do</strong> para nossa volta , o carro <strong>do</strong> Junqueira<br />

quebrou . Teve que ir para a oficina e só ficaria pronto na próxima terça- feira.<br />

Ficamos sem automóvel . Falamos com “Bubi” Loureiro que iria para<br />

Campos. Ele se prontificou em nos levar , no saba<strong>do</strong> , em seu carro .<br />

Porem ... , tem sempre um porem ... , no saba<strong>do</strong> seu automóvel<br />

também quebrou . Ficamos , os cinco , a pe´.<br />

O jeito foi alugar um Volkswagen , pois era o mais barato , e tocar<br />

para Campos <strong>do</strong> Jordão . Não queríamos perder a festa .<br />

Saímos tarde , nós cinco no Fusca , por volta <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> noite .<br />

“Bubi” guiou até São José pisan<strong>do</strong> fun<strong>do</strong> no acelera<strong>do</strong>r . Depois fui<br />

eu que dirigi até Monteiro Lobato . Ali Caio passou para o volante . Saiu<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> brasa , dizen<strong>do</strong> que estávamos atrasa<strong>do</strong>s para a festa na Vila<br />

Simonsen . Já no final <strong>da</strong> serra passamos um outro Volks com chapa de Minas<br />

Gerais , com o Caio an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> no limite .<br />

De repente a estra<strong>da</strong> apareceu molha<strong>da</strong> . O limite <strong>do</strong> carro , é claro,<br />

naquele instante deveria ser outro . Não deu tempo de reduzir . Caio ain<strong>da</strong><br />

tentou fazer aquela curva de alta . O carro derrapou no molha<strong>do</strong> e batemos ,


meio de frente e meio de la<strong>do</strong> , quase a 100 Km por hora , em um barranco.<br />

To<strong>do</strong>s nós estávamos sem cinto de segurança, que nem existia então .<br />

Com o choque , ocorri<strong>do</strong> naquela veloci<strong>da</strong>de , o Volks empinou a<br />

traseira e capotou de frente , baten<strong>do</strong> a parte de fora <strong>do</strong> teto no barranco e<br />

cain<strong>do</strong> meio de la<strong>do</strong> . A bati<strong>da</strong> foi tão forte que eu , estan<strong>do</strong> senta<strong>do</strong> no meio<br />

<strong>do</strong> banco de trás , enquanto o carro empinava e capotava , fui joga<strong>do</strong> como um<br />

foguete contra o vidro de trás . Ele foi leva<strong>do</strong> junto comigo para fora <strong>do</strong><br />

Fusca. Sai pela janela traseira . Naquele movimento bati minhas coxas , com<br />

to<strong>da</strong> força , na parte interna <strong>do</strong> buraco onde o vidro estava . Fui direto para o<br />

barranco , bati com os ombros , rolei e cai ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> carro . Apenas via<br />

sombras , pois os faróis se quebraram e tu<strong>do</strong> agora estava escuro .<br />

Com muita dificul<strong>da</strong>de , pois as pernas <strong>do</strong>íam muito , cheguei no<br />

Fusca inteiro amassa<strong>do</strong> . Forcei e abri a porta . Vi to<strong>do</strong>s meio zonzos . Caio<br />

tinha quebra<strong>do</strong> o nariz na direção . Bubi estava com um friso <strong>do</strong> painel<br />

espeta<strong>do</strong> na pele <strong>do</strong> pescoço . Jujuba e Junqueira apenas tontos . Ajudei<br />

rapi<strong>da</strong>mente to<strong>do</strong>s saírem <strong>do</strong> carro , pois tinha me<strong>do</strong> de incêndio . Na<strong>da</strong><br />

aconteceu , felizmente .<br />

“Entre mortos e feri<strong>do</strong>s salvaram –se to<strong>do</strong>s”.<br />

Isto , “ si non é vero é bene trovato” , pois a <strong>da</strong>na<strong>da</strong> <strong>da</strong> “Morte”<br />

mais uma vez estava bem escondidinha , viajan<strong>do</strong> , sem eu saber , ao meu<br />

la<strong>do</strong>. Rolou comigo para fora <strong>do</strong> carro mas não aquentou o tranco . Pensei<br />

que a “Dana<strong>da</strong>” tinha morri<strong>do</strong>.<br />

Que na<strong>da</strong> ... apenas deve ter fica<strong>do</strong> por lá desmaia<strong>da</strong>. .<br />

Pela quarta vez em minha vi<strong>da</strong> dei um “drible” na “Bruxa” .<br />

Estávamos pensan<strong>do</strong> como chegaríamos em Campos quan<strong>do</strong><br />

apareceu um carro . Era aquele Fusca com chapa de Minas Gerais que<br />

havíamos passa<strong>do</strong> minutos antes . Demos sinal e ele parou . Por sorte apenas a<br />

chapa era de Minas pois o pessoal era conheci<strong>do</strong> <strong>do</strong> Jujuba .<br />

Encurtan<strong>do</strong> a história . Subimos o resto <strong>da</strong> serra em oito pessoas<br />

dentro <strong>da</strong>quele Fusca . Nem dá para descrever como .<br />

Chegamos na Vila Simonsen em tempo de “curtir a festa” .No outro<br />

dia minhas coxas estavam “Roxinhas <strong>da</strong> Silva”. Fui leva<strong>do</strong> até o<br />

“Sanatorinhos de Campos <strong>do</strong> Jordão” para tirar radiografias . Elas não<br />

descobriram nenhuma fratura mas eu descobri que o fun<strong>da</strong><strong>do</strong>r <strong>da</strong>quele hospital<br />

foi um outro meu parente : Dr. Francisco Marcondes Romeiro .<br />

Hoje, infelizmente , a Vila Simonsen não existe mais . Uma noite ,<br />

sem ninguém dentro , a casa pegou fogo . Na<strong>da</strong> sobrou .<br />

Não foi reconstruí<strong>da</strong> pois Dona Rachel Simonsen já havia faleci<strong>do</strong> .<br />

Aquela época de muita felici<strong>da</strong>de , não volta mais .


A CASA ALUGADA EM CAMPOS DO JORDÃO<br />

A ultima vez que estive em Campos de Jordão, realmente passan<strong>do</strong><br />

férias , ain<strong>da</strong> como solteiro, aconteceu no inverno de 1966 .<br />

Estávamos em um grupo de amigos conversan<strong>do</strong> sobre as férias<br />

próximas quan<strong>do</strong> dei a idéia de alugarmos uma casa em Campos . To<strong>do</strong>s<br />

aprovaram . Ca<strong>da</strong> um começou a fazer planos antecipa<strong>do</strong>s para nossa esta<strong>da</strong><br />

na tal casa . To<strong>do</strong>s acharam que seria o máximo. Ficamos realmente<br />

empolga<strong>do</strong>s com a idéia .<br />

Como eu já sabia que aprovação não significava confirmação ,<br />

principalmente na hora <strong>do</strong> pagamento <strong>da</strong> parte que caberia a ca<strong>da</strong> um , falei<br />

que seria necessário confirmarmos a vontade de locação .To<strong>do</strong>s concor<strong>da</strong>ram .<br />

Então tomei o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de receber naquela hora um cheque , em<br />

branco , <strong>do</strong>s que realmente desejavam alugar a tal casa .Também foi<br />

estipula<strong>do</strong> que o cheque teria um valor máximo determina<strong>do</strong> , relativo a<br />

cobertura <strong>do</strong> aluguel e <strong>do</strong>s mantimentos conforme combináramos . Ele seria o<br />

compromisso firma<strong>do</strong> entre os amigos participantes .<br />

Cobriria não só a locação mas também uma emprega<strong>da</strong> e to<strong>do</strong>s os<br />

mantimentos que seriam usa<strong>do</strong>s durante o mês . Aqueles cheques ficariam<br />

inicialmente com Luiz Carlos Junqueira .<br />

Ficou acerta<strong>do</strong> que eu iria , no próximo saba<strong>do</strong> para Campos <strong>do</strong><br />

Jordão , procurar a tal casa . Ela deveria abrigar 10 amigos que estavam<br />

contribuin<strong>do</strong> para a locação . Os contribuintes , alem deste maluco ( vocês<br />

depois saberão por que ) , foram : Flavio Guimarães , Paulo Colombo ,<br />

Arnal<strong>do</strong> Gasparian , Otto Bendix , Alcir Amorim , Sergio D’Avila , Caio<br />

Kiehl , Luiz Carlos Junqueira e Antonio Duva .<br />

Pouco depois de recebermos os cheques e brin<strong>da</strong>rmos nosso acor<strong>do</strong><br />

chegaram os irmãos Zizinho e Amedeo Papa . Queriam participar no rateio <strong>da</strong><br />

locação . Queriam cinco lugares na casa .<br />

No primeiro saba<strong>do</strong> de Maio subi a serra . Tinha como companheiro<br />

Luiz Vicente de Sylos .<br />

Fui para Capivari e direto para a Imobiliária Cadij . Expliquei o que<br />

queria e consegui alugar uma casa bem grande . Ficava em Descansópolis ,<br />

perto <strong>do</strong> Hotel Rancho Alegre e tinha um mastro para bandeira . Consegui<br />

ain<strong>da</strong> uma casa menor para Zizinho Papa. Ficava perto <strong>da</strong> nossa , na mesma<br />

rua . Arranjei até uma cozinheira . Fiquei como responsável pela casa .<br />

Voltamos para São Paulo e no fim <strong>da</strong> tarde já estávamos <strong>da</strong>n<strong>do</strong> as<br />

boas novas para a Turma <strong>do</strong> Paulistano . Os planos recomeçaram a tomar


conta <strong>da</strong>s conversas . E Luiz Vicente dizia que a casa seria um sucesso com<br />

muitas festas que ali seriam realiza<strong>da</strong>s . Falava que iria levar para a tal casa<br />

algumas suas conheci<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Rio de Janeiro que estariam in<strong>do</strong> para Campos .<br />

Eram moças “avança<strong>da</strong>s”.<br />

Teve reprovação e voto contrário de to<strong>do</strong>s . A casa seria apenas para<br />

descansar , tomar as refeições e <strong>do</strong>rmir . Quan<strong>do</strong> muito <strong>da</strong>ríamos uma única<br />

festa familiar para as moças conheci<strong>da</strong>s .<br />

É ... , assim ficou combina<strong>do</strong> ...MAS ...<br />

- ALEMANHA “HORIZONTAL”<br />

A casa , logo depois , realmente virou a maior “bagunça – meio<br />

organiza<strong>da</strong> ”, pois começaram a chegar os nossos sócios na locação . Vinham<br />

alguns acompanha<strong>do</strong>s de “convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s”(as) . Não eram conheci<strong>da</strong>s , nem <strong>do</strong><br />

Paulistano . E dentro <strong>do</strong> nosso principio que ninguém conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong> turma iria<br />

<strong>do</strong>rmir no frio , to<strong>do</strong>s foram acolhi<strong>do</strong>s .<br />

Dormiam em frente <strong>da</strong> lareira .<br />

Começaram a sobrar cuecas , meias , sapatos e roupas pelos cantos .<br />

Até nos lustres . Dava trabalho <strong>da</strong>na<strong>do</strong> pedir a colaboração de to<strong>do</strong>s . Foi<br />

preciso comprar mais mantimentos pois normalmente os almoços e jantares<br />

eram para 13 ou 14 amigos . Foi necessário melhorar o salário <strong>da</strong> emprega<strong>da</strong> .<br />

.<br />

Mas era preciso ter mão firme para não ter a nossa mora<strong>da</strong> vira<strong>da</strong> de<br />

cabeça para baixo . Apesar de to<strong>do</strong> meu esforço a casa ganhou um apeli<strong>do</strong> :<br />

“Alemanha Horizontal” .<br />

“Alemanha” por que eu tentava manter tu<strong>do</strong> na maior ordem.<br />

“Horizontal” , pois era assim que muitos sempre ficavam no final de<br />

ca<strong>da</strong> festa .<br />

Na casa aluga<strong>da</strong> pelo ZizÍnho Papa era a mesma coisa bagunça<strong>da</strong> .<br />

Moças de família nem mais passavam perto <strong>da</strong> casa .<br />

Festas aconteceram na casa em várias noites . Eram bem diferentes<br />

<strong>da</strong>s festas aconteci<strong>da</strong>s em anos anteriores . Eram agora chama<strong>da</strong>s de “Festas<br />

pois na reali<strong>da</strong>de na<strong>da</strong> tinham <strong>do</strong>s “Baile Branco” <strong>da</strong>s debutantes . Eram bem<br />

concorri<strong>da</strong>s pois apareciam muitas mulheres que nunca tinha visto antes . E<br />

ca<strong>da</strong> vez apareciam mais . De onde vinham não sei .<br />

Senti que o romantismo estava acaban<strong>do</strong> , realmente acaban<strong>do</strong> ,<br />

sen<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente substituí<strong>do</strong> por tu<strong>do</strong> que era pratico e possível de ser<br />

alcança<strong>do</strong> , sem muita demora , sem muito esforço , sem muita inteligência .


Senti principalmente que as mulheres não mais estavam fazen<strong>do</strong><br />

amor . Agora faziam sexo ...basicamente sexo...<br />

A socie<strong>da</strong>de estava mu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente ... Para melhor ou pior ?


UM TIRO E MUDANÇA DE RUMO<br />

Edu Marcondes<br />

Um Guar<strong>da</strong> Maluco e Um Tiro – Mu<strong>da</strong>nça total de Rumo – Latim para<br />

Vestibular- Na Facul<strong>da</strong>de – “Labormetal” de Bauru - _ Primeiras Aulas<br />

– O Desfiles de Calouros<br />

Um ano depois que sai <strong>do</strong> colegial tinha como objetivo principal<br />

estu<strong>da</strong>r arquitetura . Prestei vestibular sem realizar um cursinho especializa<strong>do</strong>.<br />

O resulta<strong>do</strong> foi o natural . Fui devi<strong>da</strong>mente reprova<strong>do</strong>.<br />

Como gostava de desenhar , de pintar quadros e de analisar antigos<br />

projetos de grandes construções , achava que arquitetura seria meu destino .<br />

Resolvi por isto mesmo tentar mais uma vez vestibular naquela facul<strong>da</strong>de .<br />

Alem <strong>do</strong> mais estava muito influencia<strong>do</strong> pelos amigos <strong>do</strong> Paulistano que já<br />

estu<strong>da</strong>vam arquitetura na Facul<strong>da</strong>de Mackenzie . Entre eles Sérgio D`Ávila ,<br />

Mauricio Soriano , Danilo Penna , Alberto Botti , Alberto Andrade e Roberto<br />

Bratke .<br />

Matriculei-me em cursinho especializa<strong>do</strong> e tinha como colega o<br />

Luiz Carlos Pannunzio , vizinho e também amigo <strong>do</strong> CAP .<br />

Logo percebi que não gostava muito de to<strong>da</strong>s matérias . Era porem<br />

um <strong>do</strong>s melhores alunos de desenho . Na reali<strong>da</strong>de eu gostava de arquitetura<br />

pura , que naquelas aulas praticamente pouco existia . Entretanto continuava<br />

estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong>. O curso era noturno pois durante o dia eu tinha meu trabalho .<br />

O tiro que levei teve ocasião especifica , sem a menor razão de<br />

acontecer . Estávamos voltan<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aulas para casa mais ce<strong>do</strong> , por volta <strong>da</strong>s<br />

21,30 horas , em uma Lambreta dirigi<strong>da</strong> pelo Pannunzio .<br />

Quan<strong>do</strong> já estávamos em plena Aveni<strong>da</strong> Brasil , quase esquina <strong>da</strong><br />

Maestro Chiafarelli , percebemos um ônibus quebra<strong>do</strong> e para<strong>do</strong> no meio <strong>da</strong><br />

rua . Pannunzio diminuiu a veloci<strong>da</strong>de para passar aquele acidente e<br />

subitamente , sem mais nem menos , um guar<strong>da</strong> apareceu ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quele<br />

ônibus . Com gestos indicava que deveríamos parar . Estava com um revolver<br />

na mão . Como seria perigoso parar no meio <strong>da</strong> aveni<strong>da</strong> Luiz Carlos fez sinal e<br />

foi passan<strong>do</strong> o ônibus , em veloci<strong>da</strong>de bem reduzi<strong>da</strong> , preparan<strong>do</strong>- se para<br />

estacionar logo na frente .<br />

Parece que o guar<strong>da</strong> entendeu que não iríamos parar.


UM TIRO E UM GUARDA MALUCO<br />

De repente ouvi um tiro. Imediatamente senti que havia si<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong><br />

. Uma panca<strong>da</strong> segui<strong>da</strong> de uma <strong>do</strong>r bem forte vinha <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> de meu<br />

tronco. Pedi para parar . Luiz Carlos , ouvin<strong>do</strong> meu pedi<strong>do</strong> , parou a Lambreta<br />

e desceu comigo .<br />

Apesar <strong>do</strong> tiro , que não me derrubou , eu estava indigna<strong>do</strong> e segui<br />

em direção ao guar<strong>da</strong> . Ele, quan<strong>do</strong> percebeu a besteira que tinha feito , correu<br />

até a Av. 9 de Julho , parou um táxi e fugiu . Não <strong>da</strong>va para persegui-lo pois<br />

notei que sangrava pouco . Fiquei receoso de uma hemorragia interna .<br />

To<strong>do</strong> povo que estava ônibus ficou abobalha<strong>do</strong>. Ninguém viu nem<br />

lembrou de anotar o numero <strong>do</strong> guar<strong>da</strong> , nem tomou nota <strong>da</strong> placa <strong>do</strong> táxi .<br />

Um senhor confirmou que o guar<strong>da</strong> entendeu que a Lambreta fosse<br />

fugir. Disse que o guar<strong>da</strong> xingou e disparou . Ele ain<strong>da</strong> ficou comentan<strong>do</strong> que<br />

era um absur<strong>do</strong> e que tiro só poderia ser em defesa <strong>da</strong> sua própria vi<strong>da</strong> .<br />

Com o alvoroço , em plena Av.Brasil , muitos carros foram<br />

paran<strong>do</strong>. Por sorte em um deles estava Julia , uma amiga de minha irmã<br />

Marisa , com seu noivo. Não lembro mais de seus nomes inteiros . Pedi para<br />

ser leva<strong>do</strong> para o Hospital 9 de Julho . Pedi também para o Luiz Carlos avisar<br />

meu pai , toman<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de dizer que eu estava bem .<br />

Em cinco minutos estava no hospital ligan<strong>do</strong> para tio Abel que era<br />

médico <strong>da</strong>quela casa . Enquanto esperavam sua chega<strong>da</strong> já foram tiran<strong>do</strong><br />

minha pressão e radiografan<strong>do</strong> meu tórax .<br />

Meu Anjo <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong> estava mais uma vez ao meu la<strong>do</strong> . A pressão<br />

estava perfeita e pelas chapas radiográficas deu para notar que a bala havia<br />

entra<strong>do</strong> pelas costas, apenas dez centímetros <strong>da</strong> coluna vertebral , passan<strong>do</strong><br />

milagrosamente entre o rim esquer<strong>do</strong> e o pulmão <strong>do</strong> mesmo la<strong>do</strong> , in<strong>do</strong> parar<br />

em uma costela na parte dianteira <strong>do</strong> tórax , que não quebrou . Na<strong>da</strong> de<br />

importante foi atingi<strong>do</strong> . Não tinha hemorragia interna . Fiquei alivia<strong>do</strong> .Muito<br />

alivia<strong>do</strong> . A morte mais uma vez passou por perto , mas não ficou comigo .<br />

Quan<strong>do</strong> meu tio Abel chegou e viu como eu estava ficou satisfeito .<br />

Disse que iria tirar a bala e que não seria preciso anestesia geral , só local pois<br />

sabia que eu aquentaria bem o tranco .<br />

Assim foi feito e eu suei um boca<strong>do</strong> apesar <strong>da</strong> noite fria . Então<br />

apareceu a tal bala , calibre 32 . Logo depois veio a parte pior . Era preciso<br />

passar um dreno entre o local <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> bala , nas costas , e o corte<br />

cirúrgico realiza<strong>do</strong> na frente , junto a costela . A <strong>do</strong>r foi forte demais e cheguei<br />

a ficar tonto ..


Tio Abel disse que eu poderia ir para casa mas que no outro dia<br />

precisaria trocar o tal dreno , lá no seu consultório .<br />

Naquele momento meu pai chegou . Meu tio informou que seria<br />

necessário avisar a policia pois havia ocorri<strong>do</strong> ferimento à bala . Como estava<br />

tu<strong>do</strong> bem fomos para casa . Demorei para pegar no sono .<br />

No outro dia, logo bem ce<strong>do</strong> na manhã, apareceram <strong>do</strong>is<br />

investiga<strong>do</strong>res em nossa casa <strong>do</strong> Jardim Paulista . Queriam meu depoimento.<br />

Ele foi feito de imediato . Quan<strong>do</strong> pediram testemunhas liguei para Luiz<br />

Carlos . Ele veio. Infelizmente na pressa de avisar meu pai ele esqueceu de<br />

tomar os nomes <strong>do</strong>s presentes que estavam junto ao ônibus quebra<strong>do</strong> . Ele<br />

ficou sen<strong>do</strong> minha única testemunha .<br />

O motorista <strong>do</strong> ônibus disse que não tinha visto na<strong>da</strong> .<br />

Porem o problema maior começou quan<strong>do</strong> , ain<strong>da</strong> na manhã <strong>do</strong><br />

segun<strong>do</strong> dia , apresentei reação alérgica a sulfa . Deu trabalho para contornar .<br />

A noticia <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong> chegou aos amigos e amigas ,<br />

principalmente <strong>do</strong> Paulistano . Naquele dia , na parte <strong>da</strong> tarde , recebi<br />

inúmeros amigos , inclusive vista de minha namoradinha de então : Maria<br />

Helena Malzoni .<br />

Assim , durante aquele final de semana , enquanto fui obriga<strong>do</strong> a<br />

ficar em casa , cansei de contar como aconteceu aquele tiro .<br />

Abriram inquérito “só para inglês ver” . I<strong>da</strong>s as delegacias , mil<br />

perguntas e desculpas . Porem , o guar<strong>da</strong> maluco nunca foi acha<strong>do</strong> . E se foi<br />

não revelaram , apesar <strong>do</strong>s esforços de to<strong>do</strong>s de minha família . Percebi que a<br />

policia fez de tu<strong>do</strong> para encobrir o tal coleguinha culpa<strong>do</strong> , dentro de seu<br />

espírito corporativista .<br />

Durante os dias que fiquei em casa pensei muito na vi<strong>da</strong> e no meu<br />

futuro . Cheguei a conclusão que arquitetura poderia não ser realmente o que<br />

desejava fazer na vi<strong>da</strong> . O que não desejava era perder mais tempo .<br />

- MUDANÇA DE RUMO<br />

Quem definiu definitivamente minha duvi<strong>da</strong> e meu horizonte foi um<br />

nosso queri<strong>do</strong> vizinho , o brilhante Advoga<strong>do</strong> e Professor de Direito - Silvio<br />

Rodrigues , filho de Sr. A<strong>do</strong>lfo e de Dona Chiquinha Rodrigues . Moravam<br />

em frente de nossa casa <strong>do</strong> Jardim Paulista e eram amigos <strong>da</strong> família desde<br />

antes de meu nascimento .<br />

Ele , catedrático <strong>do</strong> Largo de São Francisco , conversan<strong>do</strong> comigo<br />

gostou de minha forma positiva de explanar os fatos sobre a agressão <strong>do</strong><br />

guar<strong>da</strong> . Disse que eu tinha muita lógica na minha argumentação e muito<br />

ênfase no narrar , com muita clareza .<br />

Achou que alem <strong>do</strong> mais eu tinha o <strong>do</strong>m <strong>da</strong> palavra .<br />

Entendia que eu realmente tinha to<strong>do</strong> jeito para advocacia .


Além disto informou que o campo para advoga<strong>do</strong>s era muito vasto .<br />

Eu poderia advogar trabalhan<strong>do</strong> por conta própria , ou em escritórios de<br />

terceiros . Poderia ser contrata<strong>do</strong> e trabalhar como advoga<strong>do</strong> diretamente para<br />

industrias , bancos , empresas em geral . Poderia ain<strong>da</strong> ser Procura<strong>do</strong>r :<br />

Federal , <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ou <strong>do</strong> Município . Ser ain<strong>da</strong> Promotor de Justiça , Juiz<br />

de Direito , Juiz <strong>do</strong> Trabalho ou até Delega<strong>do</strong> de Policia . Alem <strong>do</strong> mais ,<br />

trabalhan<strong>do</strong> para o esta<strong>do</strong> , o tempo que eu já trabalhara na Secretaria <strong>do</strong><br />

Trabalho , também seria conta<strong>do</strong> para minha aposenta<strong>do</strong>ria .<br />

Tu<strong>do</strong> aquilo ficou giran<strong>do</strong> em minha cabeça . Realmente senti que o<br />

campo de trabalho para o advoga<strong>do</strong> era muito maior . Sem duvi<strong>da</strong> alguma .<br />

Pensei bastante , conversei com amigos que cursavam Direito e<br />

depois de um tempo mudei meu rumo em 180 graus .<br />

Iria estu<strong>da</strong>r Direito . A perspectiva me alegrava .<br />

.<br />

LATIM PARA VESTIBULAR<br />

O problema era o tempo para estu<strong>da</strong>r , pois estávamos no fim de<br />

Setembro e eu teria apenas 4 meses para estu<strong>da</strong>r Latim e Literatura .<br />

Vestibular naquele tempo era realiza<strong>do</strong> no fim de Janeiro ou início de<br />

Fevereiro . Durante aquele perío<strong>do</strong> eu passei só estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Por sorte eu tinha<br />

uma boa base escolar , tanto em português como em inglês . Foi um tempo<br />

que praticamente não mais sai de casa . Tirei férias , pois já estava com duas<br />

venci<strong>da</strong>s , colocan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tempo em dedicação ao Latim e a Literatura .<br />

Naquele tempo existiam poucas Facul<strong>da</strong>des de Direito . Apenas 5 ,<br />

se não me engano , a saber : - USP no Largo de São Francisco , Católica de<br />

Santos , Católica de São Paulo , Mackenzie e a de Direito de Bauru . Fiz<br />

minha inscrição no Mackenzie , na USP e no Direito de Bauru . Entendia que<br />

seria muito difícil entrar no São Francisco com apenas 4 meses de estu<strong>do</strong><br />

especializa<strong>do</strong> . Não tinha mais tempo para perder na vi<strong>da</strong> .<br />

Mas não custava tentar .<br />

O primeiro vestibular aconteceu no início de Janeiro na Facul<strong>da</strong>de<br />

de Direito de Bauru . Fui para lá de trem . Hospedei-me no Hotel Rex , bem<br />

no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , onde encontrei Maércio Magalhães , meu conheci<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

Rua Augusta<br />

No outro dia bem ce<strong>do</strong> , dia <strong>da</strong> primeira prova escrita , fomos<br />

conhecer melhor a Facul<strong>da</strong>de de Direito. Ficava em uma área nova <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ,<br />

ten<strong>do</strong> em frente uma grande praça arboriza<strong>da</strong> . Era to<strong>da</strong> em estilo colonial ,<br />

forman<strong>do</strong> um grande quadra<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> , ocupan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> quarteirão . Com<br />

suas paredes interiores , na forma de arcos , no final <strong>do</strong> grande terraço que<br />

<strong>da</strong>va para um amplo pátio com jardim interno . Era bem bonita .


Já dentro <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de tive uma grande alegria . Encontrei o<br />

companheiro José Henrique . Ele era casa<strong>do</strong> com Maria Ângela , irmã <strong>do</strong>s<br />

meus amigos José Rafael e José Alfre<strong>do</strong> Galrão , filhos <strong>do</strong> médico Dr. Galrão.<br />

Descobrimos que estávamos na mesma turma de vestibular . Depois <strong>do</strong>s<br />

abraços fomos fazer a primeira prova. Exame de português : com re<strong>da</strong>ção,<br />

parte gramatical e parte de literatura .<br />

Tive sorte e fui muito bem , principalmente na re<strong>da</strong>ção .<br />

O mesmo aconteceu nos exames <strong>do</strong>s outros dias . Primeiro latim<br />

depois inglês . Tanto nas provas escritas como nos exames orais fui muito<br />

bem . Em latim que era meu me<strong>do</strong> tive sorte .<br />

Sai <strong>do</strong>s exames com certeza que seria aprova<strong>do</strong> .<br />

Na <strong>da</strong>ta para divulgação <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> final , sexta feira pela tarde ,<br />

seguimos para verificar na Facul<strong>da</strong>de o que tinha sucedi<strong>do</strong> . O natural receio<br />

de ser reprova<strong>do</strong> trazia muita angustia .<br />

A surpresa entretanto foi boa , nós três estávamos aprova<strong>do</strong>s . Foi<br />

grande alegria ..<br />

Nossa alegria teve momentos de suspense quan<strong>do</strong> veteranos<br />

chegaram “desejan<strong>do</strong> raspar nossos cabelos”. Como nós três trazíamos<br />

atesta<strong>do</strong>s , informan<strong>do</strong> que éramos funcionários <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo , a<br />

vontade de raspar nossas “cucas” ficou só na vontade . Levamos o trote mas<br />

com nossos cabelos . Logo em segui<strong>da</strong> efetuamos as matriculas necessárias .<br />

23 C- NA FACULDADE<br />

A noite fomos comemorar no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , em uma lanchonete<br />

que era mo<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de , muito freqüenta<strong>da</strong> pela jovem guar<strong>da</strong> . O tal bar e<br />

lanchonete tinha o nome de “Lalai”. Ali , depois de algumas cervejas,<br />

reconhecemos outros que tinham presta<strong>do</strong> o mesmo vestibular com sucesso .<br />

Entre eles o Osval<strong>do</strong> e seu companheiro Gilberto Camargo , este ultimo<br />

usineiro em Dois Córregos . Ele sempre trazia , para ficar com ele em Bauru ,<br />

um ótimo violeiro chama<strong>do</strong> Tião . Assim música não faltou . Ficamos<br />

cantan<strong>do</strong> , com o coro de outros estu<strong>da</strong>ntes , até o bar fechar .<br />

Voltei no saba<strong>do</strong> , logo ce<strong>do</strong> , com primeiro trem <strong>da</strong> Cia. Paulista ,<br />

para casa . Não via a hora para contar aos meus pais que agora eu era<br />

universitário .<br />

A noticia efetivamente alegrou to<strong>da</strong> minha família . Como sempre<br />

minha mãe foi pagar promessa que havia feito para mim .<br />

Naquela noite , depois de telefonar para os amigos, fui para o<br />

Paulistano comemorar . Ali também estavam o Zé Ayres Netto , que havia<br />

entra<strong>do</strong> na Facul<strong>da</strong>de de O<strong>do</strong>ntologia de Campinas e o Octacílinho Lopes ,<br />

que entrara na Facul<strong>da</strong>de de Medicina de Botucatu . Foi só alegria .


A “LABORMETAL” DE BAURU<br />

Dias depois , logo pela manhã , depois de conversar com meu pai,<br />

ficou resolvi<strong>do</strong> que não iria prestar mais nenhum outro vestibular . Nem<br />

mesmo terminar o que estava realizan<strong>do</strong> na Facul<strong>da</strong>de de Direito <strong>do</strong> Largo <strong>do</strong><br />

São Francisco . Por sinal estava in<strong>do</strong> muito bem .<br />

A razão desta mu<strong>da</strong>nça foi uma simples proposta feita pelo meu pai .<br />

Visava solucionar uma dificul<strong>da</strong>de . Eu havia dito que existia um problema<br />

para estu<strong>da</strong>r em Bauru . Teria obrigatoriamente que freqüentar um mínimo de<br />

aulas por mês naquela ci<strong>da</strong>de, para poder alcançar o mínimo de freqüência .<br />

Isto possibilitaria realizar os Exames de Segun<strong>da</strong> Época e poder passar de ano<br />

letivo . Teria que ficar vários dias por mês em Bauru . Isto traria problemas de<br />

custo . Seriam 10 dias assistin<strong>do</strong> aulas .<br />

Meu pai apresentou a solução . Ele contou que sua firma<br />

Labormetel precisava de um representante em Bauru , centro geográfico <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> de São Paulo , sen<strong>do</strong> na época o maior entroncamento ferroviário<br />

brasileiro com três companhias por ali passan<strong>do</strong> ( Paulista –Mogiana -<br />

Noroeste ) , com muito bom comércio e com industrias se instalan<strong>do</strong> .<br />

Entendia que eu , com os dias que teria obrigação de ficar em<br />

Bauru, poderia organizar as ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Labormetal para to<strong>da</strong> a região ,<br />

nomean<strong>do</strong> e credencian<strong>do</strong> empresas para as principais ci<strong>da</strong>des por perto<br />

localiza<strong>da</strong>s . Também poderia efetuar ven<strong>da</strong>s diretas . Teria um pequeno<br />

escritório e uma auxiliar , para receber pedi<strong>do</strong>s e informar São Paulo . Como<br />

as aulas seriam na parte <strong>da</strong> manhã as visitas poderiam ter realização pela tarde<br />

Os produtos siderúrgicos que a Labormetal distribuía, como<br />

atacadista , tinham grande aceitação no merca<strong>do</strong> : - ferro para construção de<br />

to<strong>da</strong>s bitolas , chapas de aço, bobinas de aço , tubos , cotovelos e canos<br />

galvaniza<strong>do</strong>s , conduites , arames , arames farpa<strong>do</strong>s e outros mais . Além <strong>do</strong><br />

mais Labormetal ain<strong>da</strong> produzia pregos de to<strong>do</strong>s tamanhos e bitolas .<br />

Com este trabalho e os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s eu poderia ganhar bem<br />

mais , um pouco para pagar facul<strong>da</strong>de , viagens , hotel , alimentação e compra<br />

de livros . Os livros de direito sempre foram muito caros .<br />

Gostei e aceitei a oferta . Ele ligou para seu sócio e ficou tu<strong>do</strong><br />

arranja<strong>do</strong>. Eu iria estu<strong>da</strong>r Direito e também trabalhar durante alguns dias por<br />

mês em Bauru e região , to<strong>do</strong>s os meses em que por ali estivesse .<br />

Lembro que existia ain<strong>da</strong> um outro complica<strong>do</strong>r para contornar.<br />

O problema era meu serviço na Secretária <strong>do</strong> Trabalho , na ci<strong>da</strong>de de<br />

São Paulo . Naquele momento não queria perder o concurso que fizera , nem<br />

poderia deixar de trabalhar para o Esta<strong>do</strong> . Ficaria difícil me sustentar .<br />

Por outro la<strong>do</strong> , não poderia ausentar-me por to<strong>da</strong> uma semana .


Depois de procurar uma solução durante vários dias o “complica<strong>do</strong>r”<br />

foi supera<strong>do</strong>. Graças ao meu Diretor , que sempre prestigiava estu<strong>da</strong>ntes , fui<br />

devi<strong>da</strong>mente transferi<strong>do</strong> para “Departamento de Estatística <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” , na<br />

função de Pesquisa<strong>do</strong>r. Como os “Pesquisa<strong>do</strong>res de Rua” trabalhavam por<br />

metas e tarefas , realiza<strong>da</strong>s mediante visitas em numero pré determina<strong>do</strong> para<br />

ca<strong>da</strong> mês , eu poderia viajar para Bauru por um perío<strong>do</strong> . Desde que<br />

entregasse minha cota total de visitas e pesquisas <strong>do</strong> mês , em dia certo , antes<br />

de sair de São Paulo .<br />

Seria obriga<strong>do</strong> a trabalhar muito mais nas primeiras três semanas<br />

para viajar na quarta . Mas tu<strong>do</strong> deveria <strong>da</strong>r certo .<br />

- PRIMEIRAS AULAS<br />

O sacrifício valeu . Quan<strong>do</strong> Março chegou , em um <strong>do</strong>mingo pela<br />

manhã , segui com meu carro para Bauru . Ia assistir as primeiras aulas .<br />

Maércio Magalhães foi comigo . Foi a pior viagem . A quase totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

estra<strong>da</strong>s , naquele tempo , não eram asfalta<strong>da</strong>s . Tinha chovi<strong>do</strong> muito geran<strong>do</strong><br />

barro nas estra<strong>da</strong>s de terra . O “Hudson” era um carro baixo e moderno . Não<br />

se <strong>da</strong>va na<strong>da</strong> bem na lama .<br />

.<br />

No outro dia de manhã , já na Facul<strong>da</strong>de , tivemos os primeiros<br />

contatos com nossos professores . A maioria deles era forma<strong>da</strong> por figuras de<br />

destaque na área jurídica . Muitos Juizes e Promotores de São Paulo e <strong>do</strong><br />

interior . Guar<strong>do</strong> até hoje boas recor<strong>da</strong>ções <strong>do</strong>s meus mestres, principalmente<br />

de alguns por seu grande conhecimento jurídico e humani<strong>da</strong>de , entre eles :<br />

Desembarga<strong>do</strong>r Pinheiro Macha<strong>do</strong> , Desembarga<strong>do</strong>r Edgard Moura<br />

Bittencourt , Juiz Octavio Stuchi . Também <strong>do</strong> Deputa<strong>do</strong> Dr . Osny Silveira .<br />

Era professor de Direito Comercial . Pai <strong>do</strong>s meus amigos Iara e Osny Silveira<br />

Junior .<br />

Depois <strong>da</strong>s aulas e <strong>do</strong> almoço , conforme meu planejamento , segui<br />

para as ci<strong>da</strong>des onde deveria nomear Representantes / Distribui<strong>do</strong>res e fechar<br />

ven<strong>da</strong>s para a Labormetal . Já havia toma<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de ter relaciona<strong>do</strong> e<br />

contata<strong>do</strong> previamente as firmas com as quais pretendia negociar .<br />

Como as estra<strong>da</strong>s estavam péssimas realizei aquelas viagens de<br />

negócios por trem , toman<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de acertar os horários de i<strong>da</strong> e volta .<br />

Outras vezes fui de ônibus pois tinham mais freqüência em seus horários .<br />

Assim , com o tempo , fui estabelecen<strong>do</strong> representantes , efetuan<strong>do</strong> contratos e<br />

realizan<strong>do</strong> ven<strong>da</strong>s em Marilia , Lins , Agu<strong>do</strong>s , Pirajuí e outras mais ci<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> região .<br />

Chegava bem cansa<strong>do</strong> na volta , mas sempre com um tempo para ir<br />

até a “Lalai” . Para jantar e ver os colegas .


Naquela última sexta feira de Março , depois <strong>da</strong>s aulas e durante a<br />

noite, foi realiza<strong>da</strong> a “ Passeata <strong>do</strong>s Calouros”. To<strong>do</strong>s alunos participavam .<br />

Calouros carecas ou não , to<strong>do</strong>s pinta<strong>do</strong>s , fantasia<strong>do</strong>s e dirigi<strong>do</strong>s pelos<br />

veteranos . Homens e mulheres .<br />

Uma bandinha furiosa estava inician<strong>do</strong> o acompanhamento <strong>do</strong><br />

cortejo tocan<strong>do</strong> “marchinhas carnavalescas”. As calouras desfilavam de<br />

fantasia , com o rosto pinta<strong>do</strong> e com algumas plumas .<br />

Ficavam até bem bonitinhas . A “paquera” começava ...


FIDELIDADE ... Muita Fideli<strong>da</strong>de !<br />

Edu Marcondes<br />

Esta historia é real . Os Nomes e os Locais são fictícios .<br />

Por motivos óbvios , pois os personagens ain<strong>da</strong> estão vivos .<br />

São também muito conheci<strong>do</strong>s .<br />

Vamos lá :<br />

De to<strong>do</strong>s os meus amigos <strong>do</strong> Paulistano o mais “galinha” , o<br />

mais “mulherengo” era “Márcio”( vai ser assim chama<strong>do</strong> ) . Não podia ver<br />

um bonito “ rabo de saias” que sempre ia atrás. Largava tu<strong>do</strong> por causa de<br />

uma mulher bonita .<br />

Precisava ser realmente mulher bonita ou muito bonita . Então<br />

babava e ninguém o segurava.<br />

Entretanto , seu dia , quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s menos esperavam , chegou .<br />

Foi fisga<strong>do</strong> direitinho .Casou com “Margari<strong>da</strong>”( ficará comeste nome ) , com<br />

direito a igreja , noiva com vesti<strong>do</strong> de noiva , festa e lua de mel . Parecia que<br />

Mauro tinha toma<strong>do</strong> jeito .<br />

Uns <strong>do</strong>is anos se passaram . Uma noite de Setembro , o telefone<br />

tocou lá em casa , por volta <strong>da</strong>s 23 horas . Era o Márcio. Pela voz ,<br />

preocupadíssimo . Quan<strong>do</strong> perguntei o que tinha aconteci<strong>do</strong> foi explican<strong>do</strong> :<br />

-“ Amigão ... você nem sabe o que me aconteceu . Arranjei uma<br />

garota maravilhosa e vim com ela para um motel , aqui na Raposo Tavares .<br />

Chegamos pelas 21,30 horas e as 22,00 já estávamos sen<strong>do</strong> assalta<strong>do</strong>s . No<br />

momento eu estava com a garota dentro <strong>da</strong> piscina aqueci<strong>da</strong> . Man<strong>da</strong>ram que<br />

ficássemos onde estávamos . Sem piar , nem mexer e nem beber ...<br />

Levaram tu<strong>do</strong> . Dinheiro , cheque , relógio e to<strong>da</strong>s as roupas .<br />

As minhas e as <strong>da</strong> garota . Chamei a gerência para reclamar e fui informa<strong>do</strong><br />

que to<strong>do</strong> motel tinha si<strong>do</strong> assalta<strong>do</strong> .<br />

Por sorte eu tinha deixa<strong>do</strong> as chaves dentro <strong>do</strong> carro<br />

estaciona<strong>do</strong> aqui na garagem . Ele ficou . Estamos agora enrola<strong>do</strong>s em toalhas.<br />

E ninguém quer chamar a polícia . Claro !<br />

Preciso de sua aju<strong>da</strong>.”<br />

- “Que diacho Márcio .Como é que você vai voltar para casa<br />

peladinho ..., peladinho . E quan<strong>do</strong> a Margari<strong>da</strong> souber ?”<br />

Eu falava em tom de gozação . É claro que iria aju<strong>da</strong>-lo.<br />

-“Nem fale nisso ! Você sabe que amo minha esposa. Sou fiel .<br />

O problema é esta maldita primavera . Mexe comigo”. Ain<strong>da</strong> disse :<br />

“A saí<strong>da</strong> é você . Tem minha altura e mais ou menos meu peso .<br />

Preciso de um terno azul marinho , uma camisa branca , meias , uma gravata


em tom vermelho . Sapatos ain<strong>da</strong> tenho , pois ficaram debaixo <strong>da</strong> cama . Pelo<br />

amor de Deus preciso de sua aju<strong>da</strong> agora , para poder voltar para casa dentro<br />

de pouco tempo , pois disse para a Margari<strong>da</strong> que a reunião de trabalho com<br />

meu cliente terminava por volta <strong>da</strong> meia noite . E completou :<br />

-“Já vi você com terno azul marinho !”<br />

-“Está bem , em meia hora acho que estarei por ai .<br />

Como é o nome <strong>do</strong> Motel ?”<br />

-“Motel Maravilha” . Quilometro 26 . Obriga<strong>do</strong> amigão.”<br />

Pequei as roupas solicita<strong>da</strong>s , toman<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de coloca-las<br />

em uma sacola de feira . E lá fui eu . “Motel Maravilha” ...que maravilha ...<br />

Chegan<strong>do</strong> identifiquei-me e entrei com facili<strong>da</strong>de pois Márcio<br />

já tinha informa<strong>do</strong> minha vin<strong>da</strong> para a gerência . Fui direto para seu<br />

apartamento . Na primeira bati<strong>da</strong> ele abriu a porta e foi dizen<strong>do</strong> :<br />

-“Que sufoco . Caso não fosse você estaria perdi<strong>do</strong>.”<br />

Enquanto ele enfiava as roupas , com a maior pressa , dei uma<br />

olha<strong>da</strong> para a garota . Era realmente muito lin<strong>da</strong> . Muito gostosa , mesmo<br />

embrulha<strong>da</strong> em toalhas. Além de tu<strong>do</strong> charmosa.<br />

Márcio começava a suar e foi pedin<strong>do</strong> :<br />

-“Preciso ain<strong>da</strong> de você . Não posso atrasar . Pode levar a<br />

“Princesa”para casa ? Vou ficar deven<strong>do</strong> esta para o resto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.”<br />

Como não tinha outro jeito de aju<strong>da</strong>r tive de concor<strong>da</strong>r. Ele me<br />

de um abraço bem aperta<strong>do</strong> e um beijo fraterno em meu rosto.<br />

Saiu corren<strong>do</strong> e agradecen<strong>do</strong> segui<strong>da</strong>mente .<br />

Informou que devolveria minha roupa o mais depressa possível.<br />

.<br />

Levei a “Princesa” para sua casa . Para pagar mais peca<strong>do</strong>s ela<br />

morava na zona norte . Longe ... muito longe mesmo .<br />

Dois dias depois ele ligou agradecen<strong>do</strong> com sinceri<strong>da</strong>de e<br />

informan<strong>do</strong> que estava devolven<strong>do</strong> minhas roupas . Comentamos o caso e dei<br />

algumas risa<strong>da</strong>s .Principalmente quan<strong>do</strong> ele dizia que era um mari<strong>do</strong> fiel ... de<br />

muita fideli<strong>da</strong>de .<br />

O tempo passou e estive com meu amigo e sua lin<strong>da</strong> esposa em<br />

várias ocasiões lá no Paulistano . O assunto estava morto e enterra<strong>do</strong> .<br />

Um ano e pouco depois ... , o telefone tocou lá pelas 3 horas <strong>da</strong><br />

madruga<strong>da</strong> . Acordei assusta<strong>do</strong> . Era o Márcio to<strong>do</strong> afoba<strong>do</strong> :<br />

-“Estou na maior gela<strong>da</strong> <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> e não sei como sair<br />

desta . Por isso mesmo liguei para você . Disse para Margari<strong>da</strong> que ia à uma


eunião e que estaria de volta até meia noite . Vim para o “Motel Fantasia”<br />

com uma garota . Só que depois <strong>do</strong>rmimos ... e só acordei agora !<br />

Como é que vou voltar para casa . Estou “ferra<strong>do</strong>”. Por favor<br />

me ajude . Diga o que posso fazer . Não quero perder minha esposa que<br />

a<strong>do</strong>ro. Você sabe como sou fiel .”<br />

-“ Diga que a reunião demorou ...”<br />

-“ Até as 3 <strong>da</strong> “matina”. Ela vai é me matar !”<br />

Pedi para pensar um pouco . Pedi também para ele tornar a<br />

ligar dentro de 5 minutos . Fiquei <strong>da</strong>n<strong>do</strong> “ tratos a bola”. Depois de alguns<br />

minutos lembrei <strong>do</strong> Hospital que um primo tinha na Lapa.<br />

Liguei para o primo , pedi desculpas pelo horário , expliquei a<br />

situação e por fim acertamos tu<strong>do</strong> .<br />

Alguns minutos depois Marcio ligou de novo e eu expliquei :<br />

-“ Você vai ser interna<strong>do</strong> em um hospital . A história vai ser a<br />

seguinte : - “ Dr. Marcio teve um mal súbito e desmaiou ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> carro , no<br />

caminho de sua casa lá no Pacaembu , por volta <strong>da</strong>s 11 horas de ontem. Foi<br />

encontra<strong>do</strong> por populares.<br />

Uma ambulância foi chama<strong>da</strong> e o levou para o Hospital <strong>da</strong><br />

Lapa.<br />

Você agora vai deixar seu carro perto <strong>do</strong> Pacaembu e vá de táxi<br />

para o Hospital . Eles estarão esperan<strong>do</strong> por você . Sem problemas . Está tu<strong>do</strong><br />

acerta<strong>do</strong> com meu primo que é o <strong>do</strong>no <strong>do</strong> Hospital . Procure por Afonso e não<br />

discuta .<br />

Depois , pela manhã bem ce<strong>do</strong> eles vão ligar para Margari<strong>da</strong><br />

falan<strong>do</strong> <strong>do</strong> caso . Vão explicar seu mal súbito , por muito trabalho ...”<br />

-“Será que vai <strong>da</strong>r certo ?”<br />

-“Você tem outra sugestão melhor ? Então não discuta !”<br />

Ele fez tu<strong>do</strong> direitinho . Foi interna<strong>do</strong> e lá pelas 6 <strong>da</strong> manhã<br />

ligaram <strong>do</strong> Hospital para Margari<strong>da</strong> , que por sinal ain<strong>da</strong> <strong>do</strong>rmia , explican<strong>do</strong><br />

o caso e informan<strong>do</strong> que ele estava bem . Que fora um mal súbito , “stress”,<br />

cansaço por “muito trabalho” e mais na<strong>da</strong> .<br />

Pediam seu comparecimento no hospital , pois os exames na<strong>da</strong><br />

apresentaram . Ele deveria ser leva<strong>do</strong> para casa e manti<strong>do</strong> em observação .<br />

E lá foi a Margari<strong>da</strong> para o hospital com o coração na mão .<br />

Só sossegou quan<strong>do</strong> viu o Marcio , fazen<strong>do</strong> cara de vitima mas<br />

dizen<strong>do</strong> que estava bem . Lá ficaram até as 7,30 <strong>da</strong> manhã .<br />

Na saí<strong>da</strong> ele teve que pagar a conta, na certeza que desta vez<br />

estava salvo . Gastou uma grana boa , mas estava salvo !<br />

Durante to<strong>da</strong> semana o “mari<strong>do</strong> fiel foi trata<strong>do</strong> como um<br />

bebezinho” .


Dias depois fui almoçar com o amigo Marcio lá no Paulistano .<br />

Junto conosco naquele almoço estava Mario Sérgio .<br />

No meio <strong>do</strong> almoço aproveitei a oportuni<strong>da</strong>de e desejei saber<br />

como ele tinha feito para devolver o meu terno , aquele que levei e que por ele<br />

foi usa<strong>do</strong> na vez primeira que deu problema em Motel .<br />

Era uma curiosi<strong>da</strong>de minha que tinha fica<strong>do</strong> sem resposta .<br />

Ele respondeu <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong> .<br />

“ Não tinha outro jeito . Uma manhã em que Margari<strong>da</strong> foi<br />

visitar a mãe roubei seu terno de dentro de minha própria casa . Ele saiu<br />

escondi<strong>do</strong> até meu carro e <strong>da</strong>li para meu escritório . Mandei entregá-lo para<br />

você pelo “Boy” de minha companhia .<br />

-“A Margari<strong>da</strong> até hoje pensa que a emprega<strong>da</strong> , que ela mesma<br />

despediu , foi quem roubou o terno .<br />

E quan<strong>do</strong> ela se lembra , fica xingan<strong>do</strong> sem parar ..., sempre a<br />

emprega<strong>da</strong> ! ”<br />

A gargalha<strong>da</strong> na mesa <strong>do</strong> Paulistano foi geral ...<br />

Edu Marcondes – 1.980


A FESTA DAS MOÇAS BONITAS<br />

Edu Marcondes<br />

Coisa que não posso esquecer : As festas na casa <strong>da</strong> minha amiga<br />

Maria Lúcia Finochiaro . No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 50 e começo <strong>do</strong>s anos 60 , no<br />

bairro <strong>da</strong>s Perdizes/ Pacaembu , aconteciam as famosas “Festas <strong>da</strong>s Moças<br />

Bonitas”. Eram assim chama<strong>da</strong>s pela beleza <strong>da</strong>s convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s .<br />

Realmente em São Paulo sempre existiram muitas moças bonitas, em<br />

to<strong>do</strong>s os bairros , em to<strong>do</strong>s os clubes , em to<strong>do</strong>s lugares . Entretanto , ali no<br />

grande apartamento onde Maria Lúcia morava com seus pais , aconteciam<br />

festas , onde to<strong>da</strong>s convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s eram moças de muita beleza .<br />

Por isto mesmo os rapazes <strong>do</strong> Paulistano e os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s chamavam<br />

aqueles acontecimentos de “As Festas <strong>da</strong>s Moças Bonitas” . Elas aconteciam<br />

esporadicamente , quan<strong>do</strong> Maria Lúcia resolvia realizar um encontro para<br />

rever amigos e amigas , ou comemorar algum aniversário . Então a rapazia<strong>da</strong><br />

ficava acesa , esperan<strong>do</strong> ser devi<strong>da</strong>mente convi<strong>da</strong><strong>da</strong> . Isto era importante , pois<br />

penetras não entravam . Os amigos convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s é que tomavam conta <strong>da</strong> festa .<br />

Conheci Maria Lúcia a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> “Provence” , em viagem para<br />

Buenos Ayres . Depois muitas vezes estivemos juntos nas praias de São<br />

Vicente , no “Grill” <strong>do</strong> Parque Balneário , no Guarujá e em muitas outros<br />

lugares de São Paulo . O grupo de Maria Lúcia era sempre muito simpático .<br />

Lembro de muitos rostos bonitos que vi em sua casa , porem de<br />

apenas poucos nomes <strong>da</strong>s moças bonitas . Eram muitas Rosas , Marias ,<br />

Terezas , Susanas , Ci<strong>da</strong>s , Lilians e Marianas que encontravamos em suas<br />

festas , ou mesmo an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com ela . Uma delas , Cinyra Arru<strong>da</strong> sua grande<br />

amiga , estava sempre presente . Recor<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> de Ana Maria , de Dulce Serra<br />

e sua irmã Verinha Serra , de Rosa Maria Lima entre tantas outras<br />

Nas Festas de Maria Lúcia encontrei duas namora<strong>da</strong>s : Giovanna ,<br />

romance de pouco tempo e Vivian Lindstron , lindíssima sueca de olhos<br />

violetas, namora<strong>da</strong> por bom tempo . Depois ela voltou para a Europa .<br />

De to<strong>da</strong>s aquelas moças bonitas quase na<strong>da</strong> mais sei . Vivian reside<br />

hoje na Suécia , onde se casou . Rosa Lima vive em Salva<strong>do</strong>r . Nunca mais<br />

encontrei , nem tenho noticias de Giovanna , de Dulce e Vera Serra , de Ana<br />

Maria e de to<strong>da</strong>s as outras conheci<strong>da</strong>s .<br />

Quem tenho visto um pouco , mas somente nas telas <strong>da</strong> televisão , é<br />

Cinyra Arru<strong>da</strong> , sempre nos programas <strong>do</strong> SBT <strong>do</strong> Silvio Santos .<br />

Os anos estão passan<strong>do</strong> ... Muito depressa !<br />

Maria Lúcia minha amiga . Onde an<strong>da</strong> você ?


“1 9 6 4 – A REVOLUÇÃO NECESSÁRIA”<br />

Edu Marcondes<br />

Minha Célula Revolucionária – Primeiros Movimentos – Toma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Docas de Santos – A Revolução Vitoriosa – “Não se faz Omeletes ...”- Saí<br />

Fora <strong>do</strong>s Chefes <strong>da</strong> Revolução - Os Bons Frutos <strong>da</strong> Revolução Existiram.<br />

No começo <strong>da</strong>quele ano eu estava realizan<strong>do</strong> Pós Graduação em<br />

Administração de Empresas na Fun<strong>da</strong>ção Getulio Vargas . Isto exigia<br />

freqüência nas aulas e muito estu<strong>do</strong> .<br />

Em paralelo ain<strong>da</strong> trabalhava como Assessor Jurídico <strong>do</strong> Secretario<br />

<strong>do</strong> Trabalho , Industria e Comercio <strong>do</strong> Governo de São Paulo – Deputa<strong>do</strong><br />

Antonio Morimoto . Não estava ten<strong>do</strong> tempo nem para namorar .<br />

Então aconteceu o que se sabia que iria acontecer , mas não queria<br />

que acontecesse naquele momento . Aconteceu . As forças nacionalistas, anti<br />

comunistas , aglutina<strong>da</strong>s em oposição contra Jango Goulart , iniciaram revolta<br />

arma<strong>da</strong> visan<strong>do</strong> derruba<strong>da</strong> de um governo com tendência esquerdista .<br />

Desde o ano anterior , em Março de 1963 , vários Grupos de<br />

Democratas analisavam os acontecimentos políticos . Preparavam resistência<br />

arma<strong>da</strong> , caso fosse necessária , contra um possível Movimento Socialista –<br />

Comunista . Isto realmente poderia ocorrer , pois tu<strong>do</strong> então assim indicava ,<br />

através de medi<strong>da</strong>s inconstitucionais que estavam acontecen<strong>do</strong> no governo de<br />

Jango Goulart . Sentíamos , praticamente em to<strong>do</strong>s os dias , desman<strong>do</strong>s e<br />

ordenações anti democráticas sen<strong>do</strong> implanta<strong>da</strong>s no país .<br />

Meu Núcleo Revolucionário<br />

Então muitas vezes nos reuníamos em vários locais de São Paulo ,<br />

com amigos que integravam nosso movimento . Entre eles cabe destaque para<br />

meus amigos <strong>do</strong> Paulistano , apoia<strong>do</strong>s pelos companheiros <strong>do</strong> Harmonia ,<br />

entre eles : - Herman Moraes Barros , Sérgio “Cavalo” , Orlan<strong>do</strong> de Almei<strong>da</strong><br />

Pra<strong>do</strong> , Chico “Kirongosi” Galvão , Mario Sergio , Caio Kiehl , Luiz Carlos<br />

Junqueira Franco , Eduar<strong>do</strong> “Da<strong>do</strong>” Munhoz , Fernan<strong>do</strong> e Eduar<strong>do</strong> Levi , Luiz<br />

Carlos Levi , Alcir Amorim, Antonio Duva e Cláudio Coutinho .<br />

Alem deste nosso Grupo ain<strong>da</strong> tínhamos noticias de muitos outros.<br />

Existia realmente a possibili<strong>da</strong>de de um movimento arma<strong>do</strong> .<br />

Quinze dias antes <strong>do</strong> início <strong>da</strong> Revolução de 64 um grupo <strong>do</strong>s<br />

nossos, composto pelos mais jovens , coman<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Sergio “Cavalo” , foi<br />

convoca<strong>do</strong> para não permitir uma reunião de cunho socialista que iria<br />

acontecer no Auditório <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Filosofia <strong>da</strong> USP – reputa<strong>do</strong> centro<br />

comunista /socialista. Na ocasião iria falar Ministro de tendência esquerdista .


Não deu outra . No dia e na hora lá estávamos . Apenas com gás<br />

sulfídrico e nossa determinação acabamos com tu<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente .<br />

Nem precisamos usar força .<br />

O movimento contra os esquerdistas vinha crescen<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente .<br />

Os partidários de um Brasil mais sério e mais nacionalista /<br />

democrático estavam razoavelmente organiza<strong>do</strong>s . Já estávamos de prontidão<br />

para uma luta arma<strong>da</strong> , muitos dias antes <strong>da</strong>s tropas <strong>do</strong> Exercito , sedia<strong>do</strong> em<br />

Minas Gerais , iniciar sua movimentação contra o Presidente Jango Goulart .<br />

Éramos voluntários e iríamos para onde quer que fosse necessário .<br />

Avisei em casa o que estava acontecen<strong>do</strong> . Avisei que seria<br />

necessário estocar alimentos pois não se sabia quanto tempo a Revolução<br />

poderia durar . Informei que poderia ficar fora , sem <strong>da</strong>r noticias , durante<br />

vários dias . Minha mãe apenas pediu que eu controlasse meu ímpeto .<br />

Dona Zil<strong>da</strong> sabia <strong>da</strong>s coisas .<br />

Primeiros Movimentos<br />

Naquela ocasião a “Marcha <strong>da</strong>s Mulheres pela Democracia” definia<br />

muito bem a posição <strong>da</strong>s famílias paulistas .Também o apoio <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r<br />

Ademar de Barros foi fun<strong>da</strong>mental para o sucesso <strong>do</strong> movimento . Ele mais<br />

um grupo <strong>do</strong>s nossos lideres estiveram com o Gal. Amauri Kruel , lá coman<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong> Região Militar , que na ocasião ficava na Rua Libero Ba<strong>da</strong>ró . Logo depois<br />

soubemos que Kruel e seus coman<strong>da</strong><strong>do</strong>s ficavam com nossa Revolução .<br />

O governo de Jango Goulart nervosamente divulgava noticias de<br />

resistência através <strong>da</strong>s suas propala<strong>da</strong>s “células populares” . Leonel Brizola<br />

informava que existiria luta arma<strong>da</strong> , pois o seu governo <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul<br />

estaria se preparan<strong>do</strong> para tanto . Parecia que realmente aconteceria uma<br />

guerra civil .<br />

Naquela noite <strong>da</strong> tantas noticias fui para nosso coman<strong>do</strong> que ficava<br />

em uma travessa <strong>da</strong> Av. Rebouças .<br />

A partir deste parágrafo vou resumir minha participação na<br />

Revolução de 1.964 , bem como minhas considerações sobre acontecimentos:<br />

1- ) Recebi , juntamente com o amigo “Da<strong>do</strong>” Munhoz , a 1ª Ordem : Tomar<br />

o Hospital <strong>da</strong>s Clínicas e o Hospital São Paulo . Para lá iriam nossos possíveis<br />

feri<strong>do</strong>s . Horas depois estes hospitais já estavam em nossas mãos ;<br />

2- ) Recebi a missão de seguir para o litoral , juntamente com Pedro Padilha ,<br />

para , em nome <strong>do</strong> Movimento Democrata , tomar as Docas de Santos , com<br />

apoio de tropas de nossa Força Publica , coman<strong>da</strong><strong>da</strong> por oficiais . Na noite<br />

seguinte não só tomamos as Docas mas inclusive o Sindicato <strong>do</strong>s Estiva<strong>do</strong>res .<br />

Para tanto recebemos muito melhor armamento . Não foi utiliza<strong>do</strong> ;


3-) Fiquei a disposição <strong>do</strong> nosso Coman<strong>do</strong> até o final <strong>da</strong> Revolução ;<br />

4-) Fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para o Jantar <strong>da</strong> Vitória que foi realiza<strong>do</strong> no Harmonia ;<br />

5-) Verifiquei que ali estavam “Muitos Estranhos” , que em nenhum momento<br />

participaram ativamente de nosso Movimento . Chegavam depois,<br />

aproveitan<strong>do</strong> o momento de vitória , para se infiltrar . Muitos eram Políticos e<br />

Policiais ( Delega<strong>do</strong>s / Investiga<strong>do</strong>res ) . Herman Moraes Barros os chamava<br />

de “Aves de Arribação” ;<br />

6- ) Não gostei muito <strong>do</strong> nome que deram para nosso jantar : “Clube <strong>do</strong>s<br />

Gorilas”;<br />

7- ) A Revolução de 1964 tinha um ideário bem defini<strong>do</strong> . Primeiro seriam<br />

implanta<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os requisitos necessários para uma Forte Estrutura<br />

Nacionalista e Democrata , para em segui<strong>da</strong> ser implanta<strong>da</strong> a parte social .<br />

Para tanto teríamos inicialmente : A) Criação de um Banco<br />

Central –B) Cassação <strong>do</strong>s Corruptos –C) Corte geral de Despesas<br />

desnecessárias – D) Sistemas de Apoio para Desenvolvimento <strong>do</strong> Norte/<br />

Nordeste – E) Eliminação <strong>do</strong> Analfabetismo – F) Financiamentos com<br />

Custos Baixos para Crescimento <strong>da</strong> Industria – G-) Construção de <strong>Casa</strong>s<br />

Populares – H) Construção de Estra<strong>da</strong>s indispensáveis – I )<br />

Desenvolvimento <strong>da</strong> Exploração <strong>do</strong> Petróleo - entre outras tantas coisas<br />

programa<strong>da</strong>s . Ficara claro que somente depois é que seria realmente<br />

implanta<strong>da</strong> a democracia total . Antes era preciso arrumar e limpar a casa .<br />

8-) Paralelamente a tu<strong>do</strong> aquilo que fora planeja<strong>do</strong> e começava a ser realiza<strong>do</strong>,<br />

tomei conhecimento que ocorriam prisões e torturas desnecessárias e injustas<br />

de estu<strong>da</strong>ntes , efetua<strong>da</strong>s por uma tal de “ Operação Bandeirantes” , chefia<strong>da</strong><br />

por um tal “Delega<strong>do</strong> Fleury.” Os chefes Comunistas já tinham fugi<strong>do</strong> ;<br />

9-) Pouco depois tomávamos conhecimento <strong>da</strong>s Cassações de Pessoas e<br />

Políticos que estiveram realmente conosco , <strong>do</strong> nosso la<strong>do</strong> , na Revolução .<br />

Não existiam razões para tanto . Percebi então que as Vontades Políticas , de<br />

alguns Políticos que agora começavam a man<strong>da</strong>r , estavam falan<strong>do</strong> mais alto ;<br />

10-) As tais “Aves de Arribação” não tinham i<strong>do</strong> para longe . Agora e ca<strong>da</strong><br />

vez mais estavam participan<strong>do</strong> no man<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento . Estavam<br />

Definitivamente no Poder . Militares foram definitivamente para os quartéis.<br />

11-) Políticos não torturavam mas ficavam por trás <strong>da</strong>n<strong>do</strong> ordens . E<br />

nem foram presos aqueles principais políticos socialistas/comunistas ,<br />

assaltantes de bancos , seqüestra<strong>do</strong>res e demagogos , pois já estavam longe <strong>do</strong><br />

país . Deixaram fugir os criminosos . Fugiram simplesmente . Somente eram<br />

deti<strong>do</strong>s e presos pobres suspeitos . Gente sem a menor expressão política .<br />

Idealistas e estu<strong>da</strong>ntes . Puro absur<strong>do</strong> policial .<br />

Uma coisa era Perseguir e Cassar Corruptos .


Outra era Torturar Gente Inocente .<br />

12-) Aquelas “Aves de Arribação ” estavam man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> tanto que , ao que tu<strong>do</strong><br />

indica , foram os responsáveis pela morte <strong>do</strong> Presidente Castelo Branco ;<br />

13-) Daquele momento em diante os Militares só man<strong>da</strong>vam na Cúpula <strong>do</strong><br />

pais. No combate diário contra a Corrupção e contra Comunistas quem<br />

man<strong>da</strong>va era a Policia . To<strong>do</strong> tipo de policia . Na ocasião o fato <strong>da</strong> morte de<br />

Castelo Branco foi chama<strong>do</strong> de “acidente” ... Políticos profissionais não<br />

concor<strong>da</strong>vam com a linha dura e séria de administração por ele imposta ;<br />

14-) Minha preocupação e desagra<strong>do</strong> tornou-se constante ;<br />

As torturas continuavam e em breve passaram a suplantar o que era<br />

Bom . Passaram ser uma marca que políticos corruptos impuseram para a<br />

Revolução de 1964 . Bem Negativa a ponto de empanar o Brilho <strong>da</strong>s<br />

Grandes Coisas que eram então realiza<strong>da</strong>s . Tu<strong>do</strong> por vontade de<br />

políticos de mau caráter que tomavam agora parte em tu<strong>do</strong> . Man<strong>da</strong>vam<br />

em tu<strong>do</strong> . Começavam dirigir tu<strong>do</strong> . Muitos estavam levan<strong>do</strong> boas<br />

vantagens. Parecia que com suas atitudes desejavam incriminar<br />

realmente nossa Revolução .<br />

E na<strong>da</strong> acontecia contra eles . Infelizmente isto já era uma grande<br />

ver<strong>da</strong>de . Aquelas pessoas de má ín<strong>do</strong>le são os mesmos políticos que hoje<br />

to<strong>do</strong>s nós bem conhecemos e que , por mais incrível que pareça , até agora<br />

estão soltos . Muitos Man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> !<br />

Na<strong>da</strong> foi feito contra eles , apesar de inúmeras denuncias muito bem<br />

consubstancia<strong>da</strong>s . Qual a razão? O Poder realmente Corrompe ?<br />

15-) Por não aceitar aquele Esta<strong>do</strong> de Impuni<strong>da</strong>des , em 1969 , para<br />

to<strong>do</strong>s os amigos que se encontravam reuni<strong>do</strong>s no Paulistano , declarei :<br />

“Estou me desligan<strong>do</strong> neste momento <strong>do</strong>s Chefes Políticos <strong>da</strong> Revolução”<br />

NÃO DE NOSSOS IDEAIS OU DE NOSSOS PROGRAMAS !<br />

ELES FORAM ESQUECIDOS !<br />

16-) As “Aves de Arribação e Políticos” : Forçaram logo de início , por<br />

interesses puramente pessoais , a implantação de uma Forma de<br />

Democracia que não estava devi<strong>da</strong>mente clara . Foi imposta . Ela em<br />

reali<strong>da</strong>de continua até hoje . Basta uma melhor analise ! Sem a menor<br />

condição de continui<strong>da</strong>de . Analise ... verifique ! .<br />

17-) Finalmente o Governo caiu graciosamente nas mãos <strong>da</strong>queles mesmos<br />

políticos corruptos e esquerdistas que fugiram <strong>do</strong> país . Graças a uma “Anistia<br />

Geral” , que até hoje não foi bem explica<strong>da</strong> , voltaram ao Brasil . Aqueles<br />

comunistas falavam em democracia . Patético!


18-) Mediante intensa Campanha de Propagan<strong>da</strong> , por eles dirigi<strong>da</strong> ,<br />

sobrou para Revolução de 64 somente a “Pecha de Tortura<strong>do</strong>ra e<br />

Repressiva” . Tu<strong>do</strong> que foi feito de bom é agora devi<strong>da</strong>mente escondi<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> público em geral . Na<strong>da</strong> se fala hoje a respeito <strong>da</strong>s boas coisas<br />

realiza<strong>da</strong>s .<br />

• ALGUNS ÓTIMOS FRUTOS <strong>da</strong> REVOLUÇÃO<br />

Já são passa<strong>do</strong>s 40 anos e agora , com a maior isenção, é possível<br />

uma análise mais clara <strong>do</strong> que aconteceu com o Brasil graças aos Programas<br />

Implanta<strong>do</strong>s pela Revolução de 64 .<br />

É preciso lembrar que :<br />

1º) Com a Revolução de 64 o Brasil chegou a se tornar a 8 A<br />

ECONOMIA MUNDIAL . Seu Produto Interno Bruto atingia patamares<br />

de crescimento de 10% ao ano . Não existia desemprego . Os salários<br />

subiam. O PIB Era praticamente igual ao <strong>da</strong> China .<br />

Tu<strong>do</strong> crescia rapi<strong>da</strong>mente naquela economia devi<strong>do</strong> aos programas<br />

governamentais bem implanta<strong>do</strong>s. Veja a seguir :<br />

2º ) Via BNDE / FINAME , que financiavam com baixos custos<br />

Maquinas/Equipamentos , bem com to<strong>do</strong> tipo de Ativo Fixo e Capital de<br />

Giro necessário , crescia nossa produção em to<strong>da</strong>s as áreas . Isto tinha<br />

continui<strong>da</strong>de Com Programas de Médio e Longo prazo – via CAIXA<br />

ECONÔMICA , realiza<strong>do</strong>s com recursos provenientes <strong>do</strong> PIS .<br />

3º) Com o BNH- Banco Nacional de Habitação , recém cria<strong>do</strong> ,<br />

financiávamos a Construção de <strong>Casa</strong>s e possibilitávamos Recursos para<br />

Industrias Produtoras de Material para Construção - via sal<strong>do</strong>s <strong>do</strong> FGTS.<br />

O seu custo era baixíssimo ! .<br />

4º) – FINANCIAMENTOS AGRICOLAS - com o excedente <strong>do</strong><br />

“Compulsório de Depósitos Bancários”, era financia<strong>do</strong> , com baixíssimos<br />

custos , TODA AGRO PECUARIA , pois quase na<strong>da</strong> custava . A<br />

Agricultura começou a crescer e não parou mais .<br />

5º) SUDAM – SUDENE – SUDEPE Mais desenvolvimento<br />

tivemos com a criação destas enti<strong>da</strong>des para implantação de Empresas no<br />

Nordeste/ Norte e na Pesca ( Estas enti<strong>da</strong>des utilizava recursos abati<strong>do</strong>s<br />

por pessoas jurídicas <strong>do</strong> Imposto de Ren<strong>da</strong> ).<br />

6º) Com a Criação <strong>da</strong> “ZONA FRANCA DE MANAUS ”<br />

começou pela primeira vez em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> , produção industrial em


larga escala na Área Amazônica . o RESULTADO FOI E ain<strong>da</strong> É<br />

FABULOSO.<br />

7º) Com a EMBRAPA – foram seleciona<strong>da</strong>s as melhores<br />

sementes que geraram o atual Crescimento de Nossas Exportações de<br />

Alimentos . Elas é que geram sal<strong>do</strong> positivo atual para a Nação .<br />

To<strong>do</strong>s estes programas eram realiza<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> os Bancos<br />

Governamentais uma Posição de Segun<strong>da</strong> Linha , pois Não Aprovavam<br />

Nem Liberavam os Créditos . Apenas aprovavam os projetos . Assim não<br />

existiam politicagem , “aju<strong>da</strong> eleitoral” , “malas preta” e GRANDE<br />

CORRUPÇÃO para liberar tais créditos .<br />

8º) To<strong>da</strong>s Nossas exportações muito cresceram . Começamos a<br />

exportar não mais somente grãos, Mas ain<strong>da</strong> Bens Duraveis , Vestuário ,<br />

Automóveis , Teci<strong>do</strong>s , Alimentos , Eletro<strong>do</strong>mésticos e tu<strong>do</strong> que<br />

fabricávamos com quali<strong>da</strong>de . A Industria que hoje decresce , Crescia !<br />

9º) CONSTRUÇÃO NAVAL - Visan<strong>do</strong> redução de custos ,<br />

mediante transporte em navios de bandeira nacional , a construção naval<br />

teve rápi<strong>da</strong> expansão , com navios de to<strong>do</strong>s os tipos financia<strong>do</strong>s e<br />

construí<strong>do</strong>s no Rio de Janeiro . Hoje praticamente parou .<br />

10º) O mesmo aconteceu com a “EMBRAER ” e seus aviões . O<br />

controle acionário foi vendi<strong>do</strong> em surdina !<br />

11º)- Ain<strong>da</strong> to<strong>do</strong>s nossos PRODUTOS DE MATERIAL BÉLICO<br />

eram bem reputa<strong>do</strong>s no merca<strong>do</strong> internacional , sen<strong>do</strong> exporta<strong>do</strong>s para<br />

América Latina , África e principalmente para Paises Árabes .<br />

12º) As Estra<strong>da</strong>s Ro<strong>do</strong>viárias mais importantes foram<br />

pavimenta<strong>da</strong>s , ( hoje aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong>s necessitam de urgentes reparos ,<br />

To<strong>da</strong>s elas ) com priori<strong>da</strong>de para aquelas que pudessem facilitar<br />

transporte entre grandes centros ou facilitassem exportações . Foram<br />

abertas estra<strong>da</strong>s de grande importância para a integração nacional , tais<br />

como : “Belém – Brasília” , “Calha Norte” – junto as fronteiras <strong>do</strong> norte<br />

. Foram inicia<strong>da</strong>s a “Transamazônica” , e a “BR 101”- ligan<strong>do</strong> os esta<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> nordeste com esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> centro- leste e sul <strong>do</strong> Brasil . ( até hoje / 2012<br />

não concluí<strong>da</strong>s ) Até estra<strong>da</strong>s vicinais foram então pavimenta<strong>da</strong>s .


13º) PETROBRAS iniciou fase de pesquisas e prospecção de<br />

novas áreas NOTADAMENTE NO “PRÉ SAL” . Firmamos posição de<br />

Limite de 200 milhas para soberania nacional . Antes era somente de 12<br />

milhas . Rapi<strong>da</strong>mente começou aumentar sua produção . Em 1984 já<br />

estávamos alcançan<strong>do</strong> firme posição para nossa auto suficiência . ( hoje<br />

estamos novamente importan<strong>do</strong> gazolina ) . A Petrobras está inteiramente<br />

atrasa<strong>da</strong> nas suas programações .<br />

14º) Iniciávamos também a Exportação de Aço e de seu Minério<br />

de ferro , com quali<strong>da</strong>de que permitia regulari<strong>da</strong>de de negócios . cresceu<br />

muito mas hoje vem sen<strong>do</strong> diminuí<strong>da</strong> .<br />

15º) MOBRAL -Implantou-se o programa que pela primeira vez<br />

tentava-se acabar com o analfabetismo no país . ( Tu<strong>do</strong> foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong><br />

posteriormente . Hoje o “Analfabetismo Funcional” é plena reali<strong>da</strong>de .<br />

16º) Alem disso , com os estu<strong>da</strong>ntes universitários , viajan<strong>do</strong> por<br />

to<strong>do</strong> Brasil nos seus perío<strong>do</strong>s de férias , através <strong>da</strong> “Operação Ron<strong>do</strong>n” ,<br />

era possível <strong>da</strong>rmos assistência gratuita para população mais carente e<br />

mais distante <strong>do</strong>s grandes centros , nas áreas médicas , o<strong>do</strong>ntológicas e<br />

muitas vezes técnicas .<br />

Sentia-se que o desenvolvimento possibilitava melhores condições<br />

de vi<strong>da</strong> para nossa população e que na continui<strong>da</strong>de , se bem administra<strong>do</strong>s<br />

principalmente aqueles programas para o norte nordeste , teríamos certamente<br />

bom desenvolvimento nas regiões mais pobres .<br />

IMPORTANTE<br />

A-) O principal era que tu<strong>do</strong> estava sen<strong>do</strong> “Realiza<strong>do</strong> Sem<br />

Dependência ou Submissão a Enti<strong>da</strong>des Internacionais . Sem Capital<br />

Externo” . Nosso crescimento estava sen<strong>do</strong> efetua<strong>do</strong> sem criação de<br />

divi<strong>da</strong>s externas .<br />

b-) As Bolsas vinham crescen<strong>do</strong> seus movimentos diários e<br />

lançavam novas ações com grande sucesso através <strong>do</strong>s Bancos de<br />

Investimento . As carteiras em ações tinham grande aceitação , pois<br />

apresentavam ótima rentabili<strong>da</strong>de . Sentia-se que poderíamos ter um<br />

novo e grande país .<br />

c-) Porem...existe sempre um Porem ..., em nome de uma Maior<br />

Liber<strong>da</strong>de , de uma “Nova Constituição” , de muito Menor Controle <strong>da</strong>s<br />

Coisas Públicas , de Maior Poder para Políticos Profissionais com


desman<strong>do</strong>s em to<strong>da</strong>s as coisas , nossa Revolução foi posta de la<strong>do</strong><br />

mediante gritos de “DIRETAS JÁ !” Posta de la<strong>do</strong> com a implantação<br />

de estranhos ... muito estranhos “Direitos Humanos”, os quais permitem<br />

e garantem tu<strong>do</strong> para os fora <strong>da</strong> lei . Sinal <strong>do</strong>s tempos !<br />

“BRASIL ... EU ERA FELIZ E NÃO SABIA !”


“BOITE MURADAS” : A MAIOR BRIGA<br />

Edu Marcondes<br />

“Reveillon” com as Argentinas - Garrafa<strong>da</strong>s - A Volta por Cima com a<br />

Turma <strong>do</strong> Paulistano<br />

Tanto falei sobre brigas que ia esquecen<strong>do</strong> <strong>da</strong> mais difícil briga<br />

que enfrentei junto com a Turma <strong>do</strong> Paulistano . Marcou muito pois não foi<br />

uma briga simples , resolvi<strong>da</strong> como antigamente , apenas com força física .<br />

Nossos adversários usaram de to<strong>do</strong>s os meios , até de armas improvisa<strong>da</strong>s .<br />

A briga aconteceu contra um grupo de pessoas não nasci<strong>da</strong>s em<br />

São Paulo . Eram originários de outros esta<strong>do</strong>s . Na ocasião apenas viviam em<br />

São Paulo . Eles não brigavam para firmar um posição ou princípios , honrar<br />

uma palavra <strong>da</strong><strong>da</strong> , um conceito de ética / moral ou uma postura de digni<strong>da</strong>de .<br />

Não brigavam simplesmente . Nem cavalheirescamente .<br />

Para eles não éramos Adversários mas Inimigos !<br />

Brigavam mesmo com muita mal<strong>da</strong>de , visan<strong>do</strong> ferir , ferir<br />

gravemente ou mesmo matar . Era um conceito muito diferente , desconheci<strong>do</strong><br />

por nós , pois até então briga era quase esporte . Então no final muitas vezes<br />

havia reconciliação <strong>do</strong>s briguentos .<br />

Até então , não éramos inimigos mas adversários de momento .<br />

Agora verifico que atualmente as brigas estão se caracterizan<strong>do</strong><br />

pela intenção violenta de matar . É uma condição que aqui não existia<br />

anteriormente . É uma vontade importa<strong>da</strong> . Passou a ser a forma <strong>da</strong>s brigas<br />

que ocorrem em quase to<strong>do</strong>s lugares desta ci<strong>da</strong>de invadi<strong>da</strong> .<br />

Quem hoje brigar deverá saber que estará sujeito a se defender de<br />

quem na reali<strong>da</strong>de o quer matar .<br />

A briga entre cavalheiros , sem golpes sujos, desapareceu .<br />

Enten<strong>do</strong> que o perfil <strong>da</strong> população existente em São Paulo é agora<br />

bem diferente <strong>do</strong> perfil <strong>da</strong>quele anterior povo paulista que ain<strong>da</strong> era <strong>do</strong>no de<br />

São Paulo . Seus atuais princípios também são muito diferentes .


REVEILLON COM ARGENTINAS<br />

Pois bem , a briga em questão , que aqui estarei relatan<strong>do</strong> ,<br />

aconteceu durante o “Reveillon de 1965”. Foi a primeira deste tipo que vi .<br />

Os fatos : - Naquela ocasião um grupo de amigos <strong>do</strong> Paulistano<br />

estava sain<strong>do</strong> com algumas bonitas coristas argentinas . Elas que para aqui<br />

tinham vin<strong>do</strong> para se apresentar em Teatro de Revistas . Faziam sucesso .<br />

Quan<strong>do</strong> chegou a “Passagem <strong>do</strong> Ano”, por falta de melhores opções,<br />

pois já era praticamente dia 30 , resolvemos ir ceiar com as simpáticas<br />

portenhas na “Boate Mura<strong>da</strong>s”. Ela ficava na Rua Martins Fontes , um pouco<br />

antes <strong>do</strong> inicio <strong>da</strong> Rua Augusta , quase na esquina <strong>da</strong> Praça Roosevelt .<br />

Uma vez ajeita<strong>da</strong>s as coisas, chegamos naquela boate por volta <strong>da</strong>s<br />

22,30 horas . Ceiamos , <strong>da</strong>nçamos e brin<strong>da</strong>mos a entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> Ano Novo.<br />

Por volta <strong>da</strong> uma hora , quan<strong>do</strong> tinha início a madruga<strong>da</strong> ,<br />

resolvemos sair . Iríamos <strong>do</strong>rmir em São Vicente . Queríamos aproveitar a<br />

praia no outro dia com as nossas amigas .<br />

Ocupávamos na ocasião duas mesas que estavam praticamente bem<br />

juntas . Em uma Alberto Botti , Zizínho Papa e Sérgio D’Avila com as suas<br />

amigas argentinas. Em outra , bem ao la<strong>do</strong> , eu estava com Luiz Carlos<br />

Junqueira e Alcir “Azeitona” Amorim .<br />

As contas foram pedi<strong>da</strong>s .<br />

Primeiro chegou aquela <strong>da</strong> mesa de Alberto Botti . Eles pagaram .<br />

Como iriam viajar em outro carro despediram-se e foram sain<strong>do</strong> . Nossa conta<br />

demorou um pouco mais . Demorou também a devolução <strong>do</strong> troco .<br />

Depois de acertarmos o pagamento , quan<strong>do</strong> estávamos nos<br />

aproximan<strong>do</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r que <strong>da</strong>va para a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> boate , paramos junto de<br />

uma mesa cheia só de homens . Um deles passou a mão no traseiro <strong>da</strong><br />

argentina que estava comigo . Eu vi . Ela deu um gritinho e reclamou . Antes<br />

que eu pudesse dizer alguma coisa , ele meio embriaga<strong>do</strong> , meti<strong>do</strong> a valente<br />

pois estava com muitos outros ao la<strong>do</strong> , se levantou e foi falan<strong>do</strong> alto :<br />

“- Ó paólista abesta<strong>do</strong> ! Vai saindu sem arrecramá , sinão passo a<br />

mão tamém na sua bun<strong>da</strong> ! Si duvidá passo a mão inté na bun<strong>da</strong> de sua<br />

mãínha”.<br />

Então ele cometeu um erro . Colocou a palma <strong>da</strong> mão em meu peito<br />

e começou a empurrar . Não tive duvi<strong>da</strong> . Rapi<strong>da</strong>mente , com as minhas duas<br />

mãos , pequei o cotovelo <strong>da</strong>quela mão <strong>do</strong> malandro que estava em meu peito .<br />

Fui fazen<strong>do</strong> muita força em seu cotovelo empurran<strong>do</strong> a mão contra meu peito .<br />

Fui também fazen<strong>do</strong> muita pressão sobre aquela sua munheca e mão que<br />

estava espalma<strong>da</strong> contra meu peito . A mão não tinha por onde escapar .


Então senti os estalos que vinham , tanto <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s abertos como <strong>do</strong> pulso<br />

<strong>da</strong>quela mão . Ele , o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> mão , gritou de <strong>do</strong>r e começou se ajoelhar !<br />

Quan<strong>do</strong> aquele sujeito veio para frente , tentan<strong>do</strong> escapar <strong>da</strong><br />

pressão contra sua mão , dei forte cabeça<strong>da</strong> em seu nariz . Ele tonteou . Então<br />

torci a palma de sua mão para o la<strong>do</strong> de fora . Ele perdeu equilíbrio. Começou<br />

a cair . Com minha perna e um forte impulso forcei a sua que<strong>da</strong> . Ele caiu ,<br />

baten<strong>do</strong> com muita força as costas no chão .<br />

Não esperei mais na<strong>da</strong> . Virei , pois sabia que os outros amigos<br />

<strong>da</strong>quele sujeito viriam contra nós . E eles eram , pelo menos , uns oito .<br />

Empurramos as argentinas para a porta e nos posicionamos.<br />

Ficamos na entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r que <strong>da</strong>va para a saí<strong>da</strong> . Apenas nós três , pois<br />

os outros amigos nossos já tinham sain<strong>do</strong> . Aquela gente diferente veio<br />

imediatamente para cima de nós , porem pelo corre<strong>do</strong>r não passavam mais <strong>do</strong><br />

que <strong>do</strong>is ou três de ca<strong>da</strong> vez . Por isto mesmo eles só chegavam de três em<br />

três. Assim iam toman<strong>do</strong> muita panca<strong>da</strong> e não conseguiam nos pegar .<br />

Ven<strong>do</strong> que <strong>da</strong>quele jeito não iriam levar vantagens começaram<br />

quebrar garrafas e copos . Em segui<strong>da</strong> atiravam os grandes cacos que se<br />

formavam contra nós . Vi que o perigo de graves ferimentos se tornava muito<br />

grande . Não deu outra ! Segun<strong>do</strong>s depois Luiz Carlos Junqueira recebeu um<br />

grande caco de garrafa no rosto . Começou a sangrar muito !<br />

O corte que apareceu na sua bochecha foi profun<strong>do</strong> .<br />

A VOLTA POR CIMA !<br />

Resolvemos sair <strong>da</strong>quele bombardeio de cacos de garrafas . No<br />

momento era o que nos restava fazer . Corremos para a porta sob uma<br />

saraiva<strong>da</strong> de grandes pe<strong>da</strong>ços de vidros e palavrões . Eles <strong>da</strong>vam risa<strong>da</strong>s ...<br />

Conseguimos passar pela porta de entra<strong>da</strong> e rapi<strong>da</strong>mente fomos<br />

para nosso carro . Estava uma quadra distante . As argentinas ali nos<br />

esperavam . Então conseguimos parar um taxi . Colocamos as portenhas<br />

dentro e combinamos nos encontrar pela manhã , no hotel onde elas estavam .<br />

Pagamos o taxi . Ele logo foi sain<strong>do</strong> , toman<strong>do</strong> o rumo indica<strong>do</strong> .<br />

Então perguntei para o Junqueira :<br />

“- Quer ir se tratar primeiro ou vamos buscar a Turma <strong>do</strong><br />

Paulistano e <strong>da</strong>r o troco” ? A sua resposta foi imediata :<br />

“- Vamos direto para o Paulistano ! Agora ! ”<br />

Em dez minutos já estávamos dentro <strong>do</strong> clube contan<strong>do</strong> o que<br />

sucedera e nossa intenção de <strong>da</strong>r o troco . A visão <strong>do</strong> ferimento <strong>do</strong> amigo<br />

Junqueira despertava em to<strong>do</strong>s a vontade de “revanche” . Muitos amigos


queriam ir conosco , porem a grande maioria era de rapazes muito jovens e<br />

sem experiência naquelas coisas . Foram convenci<strong>do</strong>s que deveriam ficar.<br />

Mais 5 minutos e já estavam conosco a caminho <strong>da</strong> tal “Boate<br />

Mura<strong>da</strong>s” : - Caio Kiehl , Hélio Fugantti , Otto Bendix , Antonio Duva , Luiz<br />

Vicente de Sylos , Paulinho Fleury e Carlos Dacache . Turma <strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> .<br />

Chegamos . Paramos os carros uma quadra alem <strong>da</strong>quele clube<br />

noturno . Peguei uma grande chave de ro<strong>da</strong>s no porta malas <strong>do</strong> carro . Era<br />

pura precaução caso algum <strong>da</strong>queles cafajestes puxasse uma faca ou coisa<br />

pareci<strong>da</strong> .<br />

Sem muito alari<strong>do</strong> fomos em direção <strong>da</strong> tal boate . To<strong>do</strong>s já<br />

estavam avisa<strong>do</strong>s <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de receberem cacos de vidro joga<strong>do</strong>s por<br />

aquela gente . Já tínhamos combina<strong>do</strong> usar as cadeiras <strong>da</strong> boate como armas<br />

de defesa , viran<strong>do</strong> as pernas <strong>da</strong>s mesmas em direção <strong>do</strong> inimigo e fican<strong>do</strong><br />

com o rosto protegi<strong>do</strong> pela área almofa<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> cadeira .<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos junto a entra<strong>da</strong> o porteiro viu em nossos rostos<br />

decidi<strong>do</strong>s o que deveria acontecer . Saiu <strong>da</strong> frente sem falar na<strong>da</strong> ou discutir .<br />

Entrei primeiro e com a grande chave de ro<strong>da</strong>s dei forte panca<strong>da</strong> na<br />

primeira mesa que estava em minha frente . Aconteceu que ali estava uma<br />

garrafa vazia de Coca-Cola . A ponta <strong>da</strong> chave de ro<strong>da</strong>s bateu exatamente na<br />

boca <strong>da</strong>quela garrafa que estranhamente não quebrou . Em compensação saiu<br />

voan<strong>do</strong> como um foguete e foi bater no grande espelho que estava em frente ,<br />

distante uns 4 metros . Garrafa e espelho viraram imediatamente cacos ,<br />

fazen<strong>do</strong> muito barulho no instante em que se partiam .<br />

Naquele momento , falei gritan<strong>do</strong> :“ Cadê os machões ? ”<br />

Até os bêba<strong>do</strong>s que estavam <strong>do</strong>rmitan<strong>do</strong> acor<strong>da</strong>ram .<br />

Os malandros estavam então perto de uma grande mesa junto a<br />

pista de <strong>da</strong>nças . Quan<strong>do</strong> nos viram entran<strong>do</strong> , apesar <strong>do</strong> susto , correram e se<br />

reuniram no fun<strong>do</strong> <strong>da</strong> boate . Já estavam começan<strong>do</strong> quebrar garrafas e atirar<br />

cacos . Entretanto desta vez estávamos prepara<strong>do</strong>s . Pegamos as cadeiras que<br />

foram vira<strong>da</strong>s com as pernas para o la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cafajestes . Os cacos batiam no<br />

fun<strong>do</strong> <strong>da</strong>s cadeiras e caiam no chão . Ninguem <strong>do</strong>s nossos estava sen<strong>do</strong><br />

atingi<strong>do</strong> . Entretanto , espelhos iam se quebran<strong>do</strong> com os cacos de garrafas ...<br />

Então começamos a <strong>da</strong>r o troco . Agora nós é que estávamos<br />

jogan<strong>do</strong> coisas contra eles . Só que eram cadeiras . Onde elas batiam<br />

arrancavam gemi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s pilantras. Derrubavam ! Muitos caíram tropeçan<strong>do</strong><br />

nas cadeiras joga<strong>da</strong>s . E nós man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> mais cadeiras para cima deles .<br />

Em um determina<strong>do</strong> momento Paulinho Fleury não levantou a<br />

cadeira para jogar . Ele girou a cadeira para o la<strong>do</strong> , queren<strong>do</strong> ter a força<br />

necessária para o lançamento . Naquele instante a cadeira bateu no meu nariz.<br />

Senti que ele havia se quebra<strong>do</strong> . Fiquei tonto . Por um segun<strong>do</strong> .


Como percebemos que estavam acaban<strong>do</strong> as cadeiras , ca<strong>da</strong> um de<br />

nós pegou firmemente uma cadeira . Formamos uma ala de 10 cadeiras<br />

vira<strong>da</strong>s com as pernas para frente . Na reali<strong>da</strong>de existiam 40 pernas de<br />

cadeiras aponta<strong>da</strong>s como lanças contra os malandros . Assim avançamos para<br />

cima deles que foram espremi<strong>do</strong>s em um canto. Literalmente passamos por<br />

cima de to<strong>do</strong>s eles . Dan<strong>do</strong> cadeira<strong>da</strong>s e panca<strong>da</strong>s . Em pouco tempo nenhum<br />

deles mais reagia . Apenas três conseguiram fugir corren<strong>do</strong> para o banheiro .<br />

Caio Kiehl e Hélio Fugantti correram atrás deles . Porem eles<br />

conseguiram entrar e fechar a porta de uma priva<strong>da</strong>. Ficaram seguran<strong>do</strong> a<br />

porta com to<strong>da</strong> força de suas vi<strong>da</strong>s , pois sabiam que se a porta fosse aberta<br />

eles iriam apanhar muito .<br />

Pequei um cara que falava com sotaque , cheio de Ss..., Rs... e<br />

Xs.... Perguntei quem eles eram , de onde eram ? . Ele respondeu que eram <strong>da</strong><br />

Petrobras e <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil . Tinham vin<strong>do</strong> de outros esta<strong>do</strong>s para<br />

trabalhar em São Paulo .<br />

Naquele momento Alcir Amorim repetia que estava na hora de<br />

cairmos fora pois poderia aparecer policia .<br />

Fomos sain<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente .<br />

Quan<strong>do</strong> já estávamos fora <strong>da</strong> boate , um Volkswagen , com<br />

emblema <strong>da</strong> Rádio Patrulha , começou estacionar . Nós continuamos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

como se na<strong>da</strong> tivesse aconteci<strong>do</strong> . Logo pegamos nossos carros e voltamos<br />

para o Paulistano . Estávamos felizes . “Demos Realmente Um Bom Troco” !<br />

A maioria voltou para a Festa de Ano Novo <strong>do</strong> Club. Junqueira e<br />

eu dissemos que iríamos falar com o Dr. Mário Ottobrini . Pedir para ele<br />

cui<strong>da</strong>r <strong>do</strong>s nossos ferimentos .<br />

Então Caio Kiehl murmurou que também iria conosco . Mostrou<br />

a ponta <strong>do</strong> dedinho que um caco de vidro tinha corta<strong>do</strong> fora . Sangrava<br />

bastante. Isto aconteceu quan<strong>do</strong> ele segurava uma cadeira no meio <strong>da</strong><br />

briga .<br />

Outro dia chegou . Dr. Mário Ottobrini já havia cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s<br />

perfeitamente . Sempre com muito carinho . Era nosso amigão queri<strong>do</strong> .<br />

Inesquecível Dr. Mario Ottobrini !<br />

Vinte e tantos dias depois , passan<strong>do</strong> pelo local <strong>da</strong> briga vimos<br />

que a “Boate Mura<strong>da</strong>s” tinha vira<strong>do</strong> simplesmente “Bar Mura<strong>da</strong>s” . Sem<br />

to<strong>do</strong>s aqueles espelhos .<br />

Pudera . Na briga to<strong>do</strong>s espelhos haviam si<strong>do</strong> quebra<strong>do</strong>s ... !


TRABALHO , MUITO TRABALHO<br />

Edu Marcondes<br />

No Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> – Nas Empresas Priva<strong>da</strong>s – No Merca<strong>do</strong> de<br />

Capitais – Em Advocacia / Administração de Empresas<br />

Foi no final de 1.951 que comecei trabalhar . Só foi possível parar<br />

mais de meio século depois . Para ser bem preciso só parei após cinqüenta e<br />

cinco ( 55 ) anos , precisamente em Dezembro de 2.006 .<br />

Neste capitulo vou relatar sinteticamente os trabalhos que realizei<br />

durante to<strong>do</strong> este tempo . Seria facilmente possível escrever um longo livro a<br />

respeito , tantos foram os esforços, os fatos , as coisas boas e más , as políticas<br />

enfrenta<strong>da</strong>s, os bons e maus dirigentes , a variação <strong>do</strong>s momentos econômicos,<br />

a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas , os poderosos e os fracos , os bons resulta<strong>do</strong>s<br />

alcança<strong>do</strong>s , as tristezas e alegrias que foram obti<strong>da</strong>s neste perío<strong>do</strong> .<br />

Lembro que a partir de 1970 não foi possível ir to<strong>do</strong> dia ao<br />

Paulistano . Saia ce<strong>do</strong> e voltava depois <strong>da</strong>s 8 horas . Depois fui obriga<strong>do</strong> a<br />

trabalhar parte <strong>do</strong> tempo em São Paulo , parte <strong>do</strong> tempo no Rio.<br />

Vou por isto mesmo , pois não preten<strong>do</strong> ser cansativo , relatar<br />

apenas onde trabalhei e os seus resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s . Sem muitos detalhes .<br />

Quem não gostar de saber pode pular este capitulo . Acho que ele é aborreci<strong>do</strong><br />

, antes de mais na<strong>da</strong> .Assim sen<strong>do</strong> , primeiramente vou relatar os trabalhos<br />

realiza<strong>do</strong>s para :<br />

A- GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO :<br />

A- De 1951 até 1955 –Auxiliar –Secretaria <strong>do</strong> Trabalho , Industria e Comércio<br />

B- De 1956 até 1960 – Pesquisa<strong>do</strong>r – Departamento Estatística <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> /SP<br />

C-De 1960 até 1962 –Advoga<strong>do</strong> – Serviço de Assistência Jurídica ao<br />

Trabalha<strong>do</strong>r – Secretária <strong>do</strong> Trabalho / SP ;<br />

D- De 1962 até 1965 –Assessor Jurídico <strong>do</strong>s Secretários <strong>do</strong> Trabalho/SP :<br />

- Deputa<strong>do</strong> Antonio Morimoto ( 1962/63/64)<br />

- Deputa<strong>do</strong> Benedito Matarazzo (1965/66 );<br />

E- Em 1966 ( até Agosto) – Advoga<strong>do</strong> – IPEM- Instituto de Pesos e Medi<strong>da</strong>s .<br />

Durante este perío<strong>do</strong> os meus salários não foram muito eleva<strong>do</strong>s<br />

mas graças a eles foi possível pagar meus estu<strong>do</strong>s , tanto em Direito como em<br />

Administração de Empresas . Em paralelo ganhava comissões com ven<strong>da</strong>s de<br />

produtos metalúrgicos para a Labormetal .


B- EMPRESAS PRIVADAS INDUSTRIAIS ONDE TRABALHEI<br />

I- Lambretta <strong>do</strong> Brasil ( Jan./1964 a Jan./1965)- Estagio de UM<br />

ANO em Administração de Empresas – Area de Promoção e Publici<strong>da</strong>de .<br />

Estava terminan<strong>do</strong> administração na Getulio Vargas .<br />

II- Industrias Paramount ( Jan.65 a Jul.69 ) - Fui para a<br />

Paramount , ocupan<strong>do</strong> o cargo de Gerente Geral de Marketing . Depois<br />

acumulei o cargo de Diretor de Marketing e Produção Industrial<br />

A empresa Paramount tinha <strong>do</strong>is centros operacionais .<br />

O Desafio Profissional : Problemas existentes<br />

A-) Estoque de 305.000 metros de teci<strong>do</strong>s acaba<strong>do</strong>s , praticamente<br />

sem ven<strong>da</strong>s ( cores e padrões não agra<strong>da</strong>ram – fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> ) ;<br />

B-) Existiam 420.000 metros de teci<strong>do</strong> cru que necessitava de<br />

acabamentos para posterior ven<strong>da</strong> . O total de teci<strong>do</strong> para<strong>do</strong> e sem ven<strong>da</strong><br />

atingia 725.000 metros ;<br />

C-) A Produção <strong>da</strong> Tecelagem estava quase completamente para<strong>da</strong> .<br />

Não adiantava produzir , somente para aumentar estoques , sem ven<strong>da</strong> ;<br />

D-) To<strong>do</strong> Acabamento – Tinturaria e Estamparia – também<br />

continuava para<strong>do</strong> . Não adiantava acabar teci<strong>do</strong>s sem perspectivas de ven<strong>da</strong> ;<br />

E-) Existia pouca motivação em to<strong>do</strong>s setores <strong>da</strong> empresa ;<br />

F-) O “lay-out” de to<strong>do</strong> acabamento de teci<strong>do</strong>s não era racional .<br />

Resulta<strong>do</strong> : To<strong>do</strong>s estoques foram vendi<strong>do</strong>s e começamos novo<br />

programa de produção . Aumento crescente de faturamento . . Ganhei ótima<br />

gratificação . Com ela comprei um terreno no Morumbi .<br />

C- EMPRESAS DO MERCADO DE CAPITAIS (Jul/69 aDez/ 95 )<br />

Através de meu concunha<strong>do</strong> Josino Fonseca conheci o Presidente – Prof.<br />

Roberto Campos e o Superintendente <strong>do</strong> Investbanco – Galileu José de<br />

Castro –. Eles precisavam de Pesquisas de Merca<strong>do</strong> e <strong>da</strong> Implantação <strong>do</strong>s<br />

Manuais de Produtos Possiveis . Tanto para operar como para <strong>da</strong>r<br />

conhecimento aos clientes potenciais . Recebi convite para este trabalho como<br />

assessor <strong>do</strong> Superintendente : Galileu Jose de Castro . Aceitei .<br />

III- Investbanco – ( Jul/69 a Dez/70 ) - Foi cria<strong>do</strong> pelo Prof.<br />

Roberto Campos , depois que ele deixou de ser Ministro . Em pouco tempo o<br />

merca<strong>do</strong> de investimentos , praticamente pouco atraente até então , muito<br />

cresceu operan<strong>do</strong> em Ações , em Títulos de Ren<strong>da</strong> Fixa , e ain<strong>da</strong> com Carteira<br />

de Financiamentos Próprios ou de baixos custos com Recursos<br />

Governamentais destina<strong>do</strong>s para to<strong>da</strong>s as empresas brasileiras .<br />

O seu sucesso virou rapi<strong>da</strong>mente bola de neve .


Em assim sen<strong>do</strong> as Bolsas de Valores , tanto <strong>do</strong> Rio como de São<br />

Paulo , muito cresceram rapi<strong>da</strong>mente naquele perío<strong>do</strong> . Tinham suporte de<br />

movimentação forneci<strong>do</strong>s por outros Bancos de Investimento .<br />

Outro fator de sucesso foram outros financiamentos de custos muito<br />

baixos para as to<strong>da</strong>s empresas : grandes - médias – pequenas . Eram aqueles<br />

realiza<strong>do</strong>s pelos “Repasses Governamentais”.<br />

Recebi a incumbência de realizar a Pesquisa de Merca<strong>do</strong> que<br />

poderia revelar fatos futuros que seriam de extrema importância para as<br />

Carteiras de Ações . Assim com o apoio <strong>do</strong>s colegas Mário Santos e Thiago<br />

Canguçu de Almei<strong>da</strong> montei e realizei a pesquisa ;<br />

:IV – Banco Auxiliar – ( Jan. 71 / Set. 71) Havia recebi<strong>do</strong> convite<br />

para apenas participar na Criação e Formação de seu Banco de Investimento .<br />

Aceitei . Porem minha passagem no Auxiliar foi de apenas 9 meses .<br />

O Banco de Investimento foi monta<strong>do</strong> e entrou em operações em<br />

apenas 45 dias , com apoio decisivo de Carlos Di Gióia .<br />

Fiquei atuan<strong>do</strong> como Assessor <strong>da</strong> Presidência durante mais 5 meses.<br />

Sai quan<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as operações estavam em pleno an<strong>da</strong>mento .<br />

V- Banco Econômico <strong>da</strong> Bahia – ( Set/71 a Jul/77) Até então era<br />

praticamente um banco com características mais regionais que nacionais , com<br />

não muito grande atuação no sul <strong>do</strong> Brasil .<br />

Em mea<strong>do</strong>s de 1971 era dirigi<strong>do</strong> por Frank Calmon de Sá , irmão <strong>do</strong><br />

meu amigo <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Harmonia de Tênis - Zéca Calmon de Sá .<br />

Quem dirigia a filial de São Paulo era Augusto Calmon Villas Boas.<br />

Fui apresenta<strong>do</strong> a ele pelo Mário Cunha <strong>da</strong> Silva , amigo <strong>do</strong> Paulistano e que<br />

trabalhara comigo no Investbanco .<br />

Fui contrata<strong>do</strong> para dirigir os Repasses Governamentais em São<br />

Paulo . Eles queriam que as operações <strong>do</strong> BNDE – BNH - CAIXA, realiza<strong>da</strong>s<br />

pelo Banco de Investimento , trouxessem clientes e depósitos em conta<br />

corrente para o Banco Comercial . Iriam também usar as operações RECON ,<br />

( financiamento de Materiais de Construção ) , para ampliar estes depósitos à<br />

vista . São Paulo pela força de sua economia seria o carro chefe deste esforço .<br />

A minha primeira e maior providencia foi realizar uma Convenção<br />

com to<strong>do</strong>s os Gerentes <strong>do</strong> Banco no Esta<strong>do</strong> de São Paulo. Antes já tinha<br />

prepara<strong>do</strong> to<strong>do</strong> material e cria<strong>do</strong> pela primeira vez no Brasil um “ Manual<br />

Geral de Financiamentos e Aplicações ”..<br />

Em 75 recebi então uma nova incumbência . Acumularia também a<br />

Gerência Geral de Operações <strong>do</strong> BNH , sedia<strong>da</strong> no Rio de janeiro . Era preciso<br />

agilizar aqueles repasses .


Em assim sen<strong>do</strong> eu seguia to<strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> – Feira , logo bem ce<strong>do</strong><br />

para o Rio , onde ficaria até as 12 horas de Quarta – Feira . As 16 horas<br />

<strong>da</strong>quele dia eu voltava dirigir os repasses de São Paulo .<br />

Vivi na Ponte Aérea durante um ano e meio. No final não agüentava<br />

mais , principalmente quan<strong>do</strong> chegava o forte calor <strong>do</strong> verão .<br />

Pedi demissão pois tinha um novo convite ..<br />

Brascan – depois Banco Montreal ( Ago./ 77 a Jan. / 95 )<br />

Recebi de Paulo Pra<strong>do</strong> - Vice Presidente , convite para dirigir a área<br />

de Marketing / Crédito <strong>do</strong> Banco Brascan – São Paulo . Aceitei.<br />

A origem <strong>do</strong> Banco Brascan de Investimento é liga<strong>da</strong> as antigas<br />

companhias : “Light” (que operava em Luz , Força e Bondes ) e a<br />

“Telefônica”. Eram empresas de capital canadense , que operavam no Brasil<br />

desde o início <strong>do</strong> século , com escritórios no Rio de Janeiro e São Paulo<br />

Na reali<strong>da</strong>de o Grupo Brascan foi cria<strong>do</strong> inicialmente com intuito de<br />

aplicar as disponibili<strong>da</strong>des financeiras que eram recebi<strong>da</strong>s pelas companhias<br />

sob controle <strong>da</strong> Brascan Limited . O dinheiro não podia ficar para<strong>do</strong> .<br />

Limite operacional o Brascan tinha muito , pois o limite era de 10<br />

vezes o capital mais reservas liqui<strong>da</strong>s para Bancos de Investimentos . O limite<br />

operacional poderia aumentar em mais 30% . Bastava utilizar recursos via<br />

negócios realiza<strong>do</strong>s com Repasses Governamentais .<br />

Assim poderíamos operar com taxas menores até atingirmos 8 (oito)<br />

vezes o limite operacional . Depois de realiza<strong>da</strong> esta promoção e de<br />

conseguirmos os clientes potenciais que desejávamos poderíamos<br />

gra<strong>da</strong>tivamente aumentar nosso “spreed”.<br />

As operações seriam de menor prazo possível , possibilitan<strong>do</strong><br />

renovações ou abrin<strong>do</strong> novos limites operacionais .<br />

Na área jurídica o amigo <strong>do</strong> Paulistano - Ismar Procópio de<br />

Oliveira ( dirigia o departamento ) preparou Contratos pré - monta<strong>do</strong>s ,<br />

permitin<strong>do</strong> aceleração no preenchimento , nas assinaturas e liberações .<br />

Com o Plano pronto e aprova<strong>do</strong> fomos visitar e buscar negócios .<br />

Resumo <strong>do</strong> que aconteceu : Nos primeiros seis meses visitamos e<br />

aprovamos linhas de credito para quase to<strong>do</strong>s os grandes clientes . 12 meses<br />

depois já tínhamos volume maior de contratos realiza<strong>do</strong>s que o Rio de Janeiro.<br />

Em 18 meses o volume opera<strong>do</strong> por São Paulo era maior que to<strong>do</strong> aquele <strong>do</strong>s<br />

demais esta<strong>do</strong>s juntos . O mais importante : O nosso “spreed” era pouca coisa<br />

menor que aqueles <strong>do</strong>s principais concorrentes <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> . O lucro era<br />

crescente e com isto recebi muitos prêmios semestrais .<br />

Anos depois , para surpresa nossa , soubemos que o controle<br />

acionário <strong>do</strong> Brascan havia si<strong>do</strong> adquiri<strong>do</strong> por um grupo composto por


Antenor Patinõ e o Grupo Brofman . Ficamos aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> o que poderia<br />

acontecer .<br />

Um mês depois chegou a noticia que as ações haviam si<strong>do</strong><br />

negocia<strong>da</strong>s com o Banco Montreal <strong>do</strong> Cana<strong>da</strong> . As minas de estanho ficaram<br />

com Antenor Patinõ . Mais um mês eles já estavam toman<strong>do</strong> posse <strong>do</strong> banco<br />

no Brasil . Passamos operar com o nome de Banco de Montreal .<br />

O capital foi aumenta<strong>do</strong> e possibilitou maior limite de negócios .<br />

Com isto aumentamos os volumes de negócios e o lucro <strong>do</strong> banco .<br />

Por várias vezes substitui Paulo Pra<strong>do</strong> na Vice Presidência .<br />

Em 1990 tinha tempo suficiente para aposenta<strong>do</strong>ria . Aposentei .<br />

Advocacia / Administração<br />

Depois disto voltei a advogar . Precisamente nas áreas Civil , Fiscal<br />

e Tributária . Também em paralelo criei uma pequena Administra<strong>do</strong>ra de<br />

Con<strong>do</strong>mínios . Cuidei de vários edifícios na ci<strong>da</strong>de de São Paulo . Sempre<br />

com bons resulta<strong>do</strong>s , nota<strong>da</strong>mente nas reduções de custo .<br />

Aposenta<strong>do</strong>ria Final<br />

Um dia senti que estava na hora de parar , pois poderia viver <strong>da</strong><br />

minha pequena aposenta<strong>do</strong>ria ( como to<strong>do</strong>s brasileiros ) mais o reforço <strong>da</strong>s<br />

ren<strong>da</strong>s de meus pequenos imóveis . Estava com 75 anos de i<strong>da</strong>de , sen<strong>do</strong> 55<br />

anos de trabalhos sem interrupção . Estava na hora de parar !<br />

Assim estou até hoje .


MEU CASAMENTO<br />

Edu Marcondes<br />

Infelizmente é preciso dizer que ele não deu certo.<br />

A noiva era sócia <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Meus padrinhos : Dr. Honório de Sylos e Caio Marcelo Kiehl .<br />

A cerimônia religiosa aconteceu na Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Brasil .<br />

Foi noticia em to<strong>da</strong>s colunas sociais <strong>do</strong>s jornais paulistanos .<br />

Tavares de Miran<strong>da</strong> publicou em sua coluna uma reportagem com<br />

várias fotografias <strong>da</strong> cerimonia religiosa . Ocupou meia pagina .<br />

To<strong>do</strong>s os amigos e conheci<strong>do</strong>s estavam presentes .<br />

Os parentes e familiares estavam presentes .<br />

Ganhamos muitos presentes maravilhosos .<br />

Aconteceu lin<strong>da</strong> festa em casa de meus pais .<br />

To<strong>do</strong>s brin<strong>da</strong>ram meu casamento .<br />

Mas meu casamento não deu certo . Existiram mil “porquês” !<br />

Porem ... , dele <strong>do</strong>is resulta<strong>do</strong>s são muito importantes .<br />

Deste casamento surgiram , por graças de Deus, duas maravilhosas<br />

meninas , Paula e Alexandra . Elas que sempre me deram muita alegria , que<br />

estu<strong>da</strong>ram , que cresceram , que ficaram lin<strong>da</strong>s , que se formaram na USP - a<br />

melhor Universi<strong>da</strong>de de São Paulo . Elas que depois se casaram .<br />

Então eu ganhei três maravilhosos netos :<br />

Lucca , Lorenzo e Mia Francis .<br />

Elas que sempre me apoiam<br />

Elas que sempre me convi<strong>da</strong>m<br />

Elas . Uma Imensa Felici<strong>da</strong>de !<br />

Foi o que valeu . É o que vale até hoje . Sempre .<br />

. Edu Marcondes


“ O ATAQUE DAS LAGOSTAS – NA TERRA E NO CÉU”<br />

Edu Marcondes<br />

O Jantar <strong>do</strong> BNH em Fortaleza – o Hospital<br />

O Avião que ia para o Nordeste<br />

Naquele Janeiro de 1979 , aconteceu na ci<strong>da</strong>de de Fortaleza – Ceará ,<br />

a “Convenção <strong>do</strong> BNH” , reunin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os Diretores e Gerentes <strong>do</strong>s Bancos<br />

Repassa<strong>do</strong>res de seus Programas liga<strong>do</strong>s a Construção Civil .<br />

Fui e participei , pois então dirigia aquelas operações para o Banco.<br />

No último dia , como de costume , foi ofereci<strong>do</strong> um “Jantar de<br />

Encerramento”, promovi<strong>do</strong> pelo próprio Banco Nacional de Habitação .<br />

Como sempre acontece no Nordeste , foram servi<strong>do</strong>s vários pratos<br />

com lin<strong>da</strong>s e apetitosas lagostas . Foi o prato mais procura<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s .<br />

Teve , entretanto , um grave porem ! Pelo grande volume<br />

encomen<strong>da</strong><strong>do</strong> , parte <strong>da</strong>quelas lagostas não ficou dentro <strong>da</strong>s geladeiras <strong>do</strong><br />

hotel . Dormiram fora <strong>da</strong> geladeira . Com o calor de verão... se estragaram .<br />

( O fato somente foi descoberto bem posteriormente ) .<br />

Pois bem ... , nem uma hora havia passa<strong>do</strong> depois <strong>do</strong> tal jantar e eu já<br />

estava sofren<strong>do</strong> com cólicas e forte desinteria . Muito forte !<br />

Não teve jeito . A Direção <strong>do</strong> hotel não tinha condições de atender<br />

tanta gente . Fui parar no Hospital que ficou cheio . Junto comigo estava boa<br />

parte <strong>do</strong>s convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s presentes aquele Jantar . Passei grande parte <strong>da</strong> noite<br />

in<strong>do</strong> e voltan<strong>do</strong> <strong>da</strong> priva<strong>da</strong> , toman<strong>do</strong> soro nas veias e beben<strong>do</strong> água de coco .<br />

Neste mesmo ritual via os “colegas de caganeira” <strong>do</strong>s outros bancos .<br />

No hospital acontecia então uma “Caganeira Tipicamente Bancária” !<br />

Por fim , muito cansa<strong>do</strong> , consegui <strong>do</strong>rmir .<br />

Pela manhã , quan<strong>do</strong> acordei , os “Colegas de Caganeira” estavam<br />

morren<strong>do</strong> de rir . Fiquei curioso <strong>da</strong> causa de tantas risa<strong>da</strong>s .<br />

Logo tomei conhecimento <strong>do</strong> por que .<br />

Aquelas risa<strong>da</strong>s eram risa<strong>da</strong>s de consolação , em razão <strong>da</strong> seguinte<br />

trágica - cômica história :<br />

- “ Muitos <strong>do</strong>s que viviam no Nordeste , desejan<strong>do</strong> voltar mais ce<strong>do</strong><br />

para casa , tomaram um avião <strong>da</strong> Varig , logo depois <strong>do</strong> tal jantar . O avião<br />

saiu lota<strong>do</strong> , com muitos bancários e alguns poucos outros passageiros .<br />

Destino : - Natal , Recife , João Pessoa , Maceió e Aracaju .<br />

Entretanto sérios problemas aconteceram antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de<br />

de Natal .


Os passageiros que estiveram no jantar <strong>do</strong> BNH foram violentamente<br />

“ataca<strong>do</strong>s pelas lagostas” . Elas trouxeram “vômitos , cólicas fortes e<br />

continua<strong>da</strong>s caganeiras” . Tu<strong>do</strong> acontecen<strong>do</strong> a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> tal avião que tinha<br />

como destino as capitais <strong>do</strong> Nordeste .<br />

Então foi acontecen<strong>do</strong> :<br />

As piores cenas ocorriam em pleno vôo . Quase ao mesmo tempo os<br />

participantes <strong>do</strong> tal banquete começaram a ter cólicas , com forte desinteria.<br />

Então começou um ver<strong>da</strong>deiro teatro de horrores . Não existiam<br />

priva<strong>da</strong>s para to<strong>do</strong>s . Eles batiam na porta <strong>do</strong>s banheiros , pediam e<br />

imploravam por uma priva<strong>da</strong> . Por fim , sem solução para aquelas tremen<strong>da</strong>s<br />

<strong>do</strong>res intestinais , a “caganeira coletiva” ocorria ali mesmo no corre<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

avião” !!!<br />

Foram muitas . Então o tremen<strong>do</strong> mau cheiro e a sujeira tomaram<br />

conta de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s . Mesmo quem não estava <strong>do</strong>ente , ao sentir o cheiro<br />

<strong>da</strong>quela nojeira , vomitava . O vôo virou um horror ! Um pavor !<br />

Sem solução imediata o piloto por radio pediu ambulâncias para a<br />

Torre de Coman<strong>do</strong> de Natal . O Cheiro nauseabun<strong>do</strong> agora era geral . Forte<br />

.Muito forte mesmo . Intoleravel !<br />

O avião desceu . Abriu suas portas .<br />

Então : - “O Imenso Fe<strong>do</strong>r Nauseabun<strong>do</strong> abalou o mun<strong>do</strong>” .<br />

Os <strong>do</strong>entes foram leva<strong>do</strong>s rapi<strong>da</strong>mente para vários hospitais .<br />

E o avião não mais voou aquela noite .<br />

Recebeu o apeli<strong>do</strong> carinhoso de “Fedegoso”.<br />

Foi para limpeza e desinfeção . Total !<br />

“Aquelas lagostas de Fortaleza lagostas atacaram até no céu” .<br />

Barbari<strong>da</strong>de ! ...


MINHAS FILHAS , MINHA ALEGRIA , MEU ORGULHO<br />

Edu Marcondes<br />

Nascimento – Esportes e Bagunças – Coisas <strong>da</strong>s Meninas – Bichos e<br />

Estu<strong>do</strong>s –Coisas <strong>do</strong>s Colégios – Separação <strong>do</strong>s Pais<br />

I - As grandes alegrias que a vi<strong>da</strong> me proporcionou foram<br />

pouquíssimas , pois as conto nos de<strong>do</strong>s . Elas ficaram para sempre em<br />

minhas lembrança . Duas delas : Minha formatura em Direito e o dia em que<br />

terminei minha casa <strong>do</strong> Morumbi .<br />

Porem as duas maiores alegrias foram sem duvi<strong>da</strong> alguma os<br />

nascimentos de minhas filhas , Paula e Alexandra . A diferença de i<strong>da</strong>de entre<br />

as duas é apenas de 16 meses , A gestação de Paula foi movimenta<strong>da</strong> , pois ela<br />

não parava , pulava sempre e demorou para nascer . Então deu trabalho pois<br />

veio com o cordão umbilical envolto no pescoço .<br />

Já o de Alexandra foi muitíssimo calmo , pois ela nem se mexia . O<br />

seu médico emprestou –me um estetoscópio para que eu pudesse acompanhar<br />

seu batimento cardíaco e confirmar to<strong>do</strong>s os dias que ela continuava viva .<br />

Quan<strong>do</strong> atingiu sete meses de gestação foi tira<strong>da</strong> uma sua radiografia<br />

((naquele tempo ain<strong>da</strong> não tínhamos ultra-som ) .<br />

Ela estava calmamente chupan<strong>do</strong> o de<strong>do</strong> .<br />

Paula fui um bebezinho elétrico , sempre queren<strong>do</strong> ver e mexer nas<br />

coisas . Alexandra foi calma . Via tu<strong>do</strong> placi<strong>da</strong>mente .<br />

Paula falou muito ce<strong>do</strong> mas falava inicialmente com erros .<br />

Alexandra demorou quase 2 anos para falar . Ouvia tu<strong>do</strong> e prestava<br />

atenção . Não gritava , nem falava como criança , nem fava erra<strong>do</strong> . Somente<br />

prestava atenção , muito quieta . Porem quan<strong>do</strong> começou falar não cometia<br />

erros , pois falava certínho e falava bastante . Destampou de vez . Foi mesmo<br />

sensacional . To<strong>do</strong>s admiravam seu jeito de falar e sua pronuncia .<br />

Esportes e Bagunças<br />

II - Quan<strong>do</strong> cresceram mais um pouco as duas foram fican<strong>do</strong> cheias<br />

de vi<strong>da</strong> e logo ce<strong>do</strong> demonstravam que gostavam de to<strong>do</strong>s os esportes .<br />

Quan<strong>do</strong> chegaram para estu<strong>da</strong>r no Porto Seguro já eram esportistas . Na<strong>da</strong>vam<br />

muito bem. Paula até competia com as alemãeszinhas <strong>do</strong> colégio que eram<br />

federa<strong>da</strong>s pelo Clube Pinheiros . E levava vantagem !<br />

Ain<strong>da</strong> jogavam voleibol e basquete .<br />

Praticavam Ginástica Olímpica no Paulistano, sen<strong>do</strong> Vice- Campeãs<br />

Paulistas , na classe Infantil , competin<strong>do</strong> pelo CAP.<br />

Naquele dia estavam muito orgulhosas e felizes .


Paula e Alexandra sempre tiveram na infância duas companhias<br />

quase inseparáveis . Eram suas primas Claudia e Flavia . Elas que são filhas<br />

<strong>da</strong> minha cunha<strong>da</strong> Eliane e seu mari<strong>do</strong> Josino Fonseca . Praticamente Claudia<br />

é <strong>da</strong> mesma i<strong>da</strong>de de Paula e Flavia com pouco menos meses que Alexandra .<br />

Elas formavam duplas . Enquanto faziam barulho tu<strong>do</strong> bem . O<br />

problema é quan<strong>do</strong> ficavam quietas . Sempre iria aparecer uma “arte” logo<br />

depois . Um dia Paula e Claudia entraram na banheira de Eliane . Levaram<br />

juntas to<strong>do</strong>s os cosméticos e produtos de maquiagem que encontraram .<br />

Encheram a banheira de água quente e depois foram jogan<strong>do</strong> dentro tu<strong>do</strong><br />

aquilo que separaram .Fora o batom com o qual pintaram “bocas de palhaços”<br />

Foram encontra<strong>da</strong>s quan<strong>do</strong> a água <strong>da</strong> banheira escorreu para fora .<br />

Coisas <strong>da</strong>s Meninas<br />

III – Uma <strong>da</strong>s coisas que minhas filhas mais gostavam era ir <strong>do</strong>rmir<br />

na casa <strong>da</strong> vovó Zil<strong>da</strong> . Minha mãe fazia to<strong>da</strong>s as comidinhas que elas<br />

gostavam e contava to<strong>da</strong>s as histórias possíveis , principalmente de fa<strong>da</strong>s .<br />

Chegou a fazer duas longas fantasias de fa<strong>da</strong>s , costura<strong>da</strong>s com to<strong>do</strong> esmero<br />

em cetim e “voil”. Uma cor de rosa para Paula e outra azul para Alexandra .<br />

Tenho ain<strong>da</strong> comigo foto <strong>da</strong>s meninas com tais fantasias .<br />

Alem destas , nos dias de carnaval ou de festas , sempre ganhavam<br />

outras fantasias . Tenho de confessar que ficavam lindinhas as meninas !<br />

Quan<strong>do</strong> não viajavam sempre gostavam de sair sozinhas comigo .<br />

Em um Domingo as levei ao Butantã . Quan<strong>do</strong> Paula viu cobra pela<br />

primeira vez , perguntou para mim que bicho era aquele . Antes que pudesse<br />

responder Alexandra foi explican<strong>do</strong>: - “ Cobra é bicho que só tem rabo”.<br />

Em um sába<strong>do</strong> a noite foram em uma Festa Caipira , com roupinhas<br />

colori<strong>da</strong>s de flanela , com pintinhas no rosto , trancinhas e chapéus de palha.<br />

Estavam duas lin<strong>da</strong>s caipirinhas . Então , subitamente , Paula bateu a boca no<br />

balanço e quebrou <strong>do</strong>is dentinhos de leite , aqueles incisivos logo na frente .<br />

Foi imediatamente comigo para o dentista que examinou ,<br />

radiografou, removeu as partes restantes <strong>do</strong>s dentes . Depois disse que não<br />

tinha problema algum , pois os alvéolos <strong>do</strong>s dentes não foram atingi<strong>do</strong>s.<br />

Na volta perguntei para Paula se os dentinhos estavam <strong>do</strong>en<strong>do</strong> . Ela<br />

respondeu :<br />

“Não sei papai . Eles ficaram lá no dentista !”<br />

Elas estavam sempre me surpreenden<strong>do</strong> com suas perguntas e<br />

respostas . Principalmente quan<strong>do</strong> viajávamos em feria<strong>do</strong>s ou em fins de<br />

semana . Certa vez em Campos de Jordão quis mostrar as sete ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> Vale


<strong>do</strong> Paraíba que são vistas , lá de cima , <strong>do</strong> Pico de Itapeva , principalmente<br />

depois <strong>do</strong> anoitecer , pois então as ci<strong>da</strong>des ficam sempre muito ilumina<strong>da</strong>s .<br />

Quan<strong>do</strong> lá chegamos a noite estava plena e o céu cheio de estrelas .<br />

Eu comecei mostran<strong>do</strong> aquelas centenas de estrelas . Disse que sempre<br />

estariam no céu . Então Alexandra me puxou a manga <strong>da</strong> camisa , foi<br />

mostran<strong>do</strong> as ci<strong>da</strong>des ilumina<strong>da</strong>s <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba , dizen<strong>do</strong> :<br />

“ – É ... mais tem uma porção delas que já caiu no chão . Veja ali<br />

em baixo quantas ... quantas ...”<br />

De outra feita foi Paula que me surpreendeu . Eu havia dito que<br />

“depois de amanhã” nós iríamos para o apartamento de São Vicente . Iriamos<br />

para a praia e comer uma peixa<strong>da</strong> . Então ela me perguntou :<br />

“- Papai ... o ontem foi o amanhã de hoje ?<br />

Coisas no Colégio , <strong>do</strong>s Bichos e <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>s<br />

IV – Lembro que quan<strong>do</strong> mu<strong>da</strong>mos para o Morumbi elas foram<br />

matricula<strong>da</strong>s no Colégio Visconde de Porto Seguro . Alem de ser perto de casa<br />

tinha ótima reputação quanto ao ensino ministra<strong>do</strong> . Elas começaram no<br />

Jardim de Infância . Lá ficariam até terminar o Colegial .<br />

O ensino foi tão bom que nem fizeram “Cursinho” para entrar em<br />

várias Facul<strong>da</strong>des , logo a seguir .<br />

Quan<strong>do</strong> pequenas inicialmente eu acompanhava seus estu<strong>do</strong>s . Isto<br />

ocorria sempre depois <strong>do</strong> jantar . Queria ver os deveres de casa que elas<br />

deveriam fazer . Isto durou muito pouco pois que nunca eles deixaram de ser<br />

feitos e bem feitos . Passei a confiar mais nas minhas filhas . Não gostava de<br />

tomar lição pois quan<strong>do</strong> erravam segui<strong>da</strong>mente eu precisava castigar . Aquilo<br />

<strong>do</strong>ía no meu coração .<br />

Na casa <strong>do</strong> Morumbi fui montan<strong>do</strong> , como elas queriam , um<br />

pequeno zoológico , com cachorro , gato , papagaio , um maravilhoso pássaro<br />

preto – “Pelé” – que ficava solto e vinha quan<strong>do</strong> eu chamava ( infelizmente foi<br />

rouba<strong>do</strong> ) . Então resolvi comprar outras aves , entre elas canárinhos .<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei com Paula na loja perguntei qual canarinho ela<br />

gostaria de levar . Sua resposta : “ Aquele ali , o mais “madurinho...”<br />

V - Outra vez fui informan<strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> chegasse as férias de<br />

Janeiro nós Iriamos para Angra <strong>do</strong>s Reis , pois ali eu tinha aluga<strong>do</strong> uma casa .<br />

Ain<strong>da</strong> disse : - “Isto vai acontecer se Deus quiser”.<br />

Então Alexandra disse que Deus ia querer . Eu perguntei como ela<br />

sabia se Deus mora no céu . Ela respondeu :<br />

“- Não Papai . Ele está aqui agora”.<br />

Retruquei : “ Como é que você sabe ?”


Ela to<strong>da</strong> “pimpona” respondeu : - “ Deus é brasileiro ! Não é que<br />

to<strong>do</strong>s dizem a to<strong>da</strong> hora !”<br />

Naquelas férias em Angra <strong>do</strong>s Reis cheguei a comprar um lin<strong>do</strong><br />

saveiro , pois na época eu tinha ganho uma boa gratificação de fim de ano .<br />

Porem nunca cheguei a tomar posse <strong>do</strong> mesmo . A oposição <strong>da</strong><br />

sogra e <strong>da</strong> mulher foram tantas , com tantas ameaças de que não permitiriam a<br />

i<strong>da</strong> de minhas filhas ao barco . Não tive alternativa na ocasião (Ain<strong>da</strong> não<br />

tinha chega<strong>do</strong> a hora <strong>do</strong> Divórcio ).<br />

Fui obriga<strong>do</strong> trocar o saveiro , que era maravilhoso , com 15 metros<br />

de comprimento e 4 cabinas , por uma casa em Ubatuba . Aquela mesma que<br />

foi construí<strong>da</strong> ao mesmo tempo cão a <strong>do</strong> Ismar Procópio de Oliveira .<br />

Do saveiro só ficaram lin<strong>da</strong>s fotos .<br />

VI - As meninas cresciam e sempre precisavam de roupas . Passei a<br />

ser o responsável pela aquisição <strong>da</strong>s mesmas , pois não havia mais ninguém ou<br />

outro jeito . Quan<strong>do</strong> podia saia com as meninas para compras . Quan<strong>do</strong> não<br />

podia as levava para o trabalho e , no horário <strong>do</strong> almoço , deixava que o bom<br />

gosto de minhas secretárias resolvessem as compras .<br />

Durante anos foi esta solução . Fora disto tinham os presentes de<br />

minha mãe e <strong>da</strong>s tias e mesmo <strong>da</strong> sogra . Foram sempre muito úteis .<br />

Por serem muito espertas por vezes também elas <strong>da</strong>vam “pequenos<br />

trabalhos” perante a escola . Na<strong>da</strong> de dramas enormes e sem soluções .<br />

Um dia fui chama<strong>do</strong> pela Diretoria <strong>do</strong> Porto Seguro para resolver<br />

um pequeno problema relativo a Paula . Ela vinha interferin<strong>do</strong> negativamente<br />

em algumas aulas . Quis saber como . Fui logo informa<strong>do</strong> :<br />

“ Na aula de ciências o professor estava explican<strong>do</strong> os animais e<br />

começou dizen<strong>do</strong> que as cobras botam ovos . Paula levantou o de<strong>do</strong> e foi<br />

replican<strong>do</strong> dizen<strong>do</strong> que nem to<strong>da</strong>s são “Ovíparas” , pois algumas nascem<br />

como pessoas . São as “Viviparas” . Não nascem de ovos” .<br />

Assim perturbou a aula e não foi a primeira vez .<br />

Anteriormente quan<strong>do</strong> o professor disse que to<strong>do</strong>s os mamíferos são<br />

iguais na forma de nascer e viver , ela informou que o “ornitorrinco nasce de<br />

ovos , tem bico de pato , tem veneno e é mamífero”. Perturbou de novo !<br />

O Diretor pedia minha participação junto a Paula , pois era ótima<br />

aluna . Precisava segurar seus ímpetos .<br />

Quan<strong>do</strong> falei com ela recebi a promessa que não mais aconteceria<br />

tais fatos . E complementou : “- Disse tu<strong>do</strong> que era a mais pura ver<strong>da</strong>de”.<br />

.


Minhas filhas continuam sen<strong>do</strong> minhas grandes alegrias .<br />

Elas foram formidáveis . Nunca repetiram nenhum ano . Entraram<br />

no Jardim de Infância <strong>do</strong> Colégio Porto Seguro e saíram quan<strong>do</strong> terminaram o<br />

Colegial . Saíram invictas e vence<strong>do</strong>ras .<br />

Depois foram mais alegrias . Entraram com facili<strong>da</strong>de , sem<br />

freqüentar cursínhos , diretamente nas difíceis Facul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

São Paulo .<br />

Hoje estão perfeitamente forma<strong>da</strong>s , sob qualquer aspecto .<br />

Paula e Alexandra estão muito bem casa<strong>da</strong>s e me deram três netos<br />

maravilhosos, Ganhei os netos mais lin<strong>do</strong>s . Mia , Lorenzo e Lucca .<br />

Ganhei <strong>do</strong>is filhos e não <strong>do</strong>is genros .<br />

Minhas filhas sempre trouxeram muita felici<strong>da</strong>de .<br />

Deram para mim muito orgulho !<br />

Hoje em dia , quase sempre estou viajan<strong>do</strong> para fora para ter suas<br />

companhias . Paula está casa<strong>da</strong> com Mark Browning e vive em Singapura.<br />

Alexandra está casa<strong>da</strong> com Javier Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> e vive em Londres .<br />

Difícil é esperar o tempo <strong>da</strong>s viagens para ver meus netos e filhas .


INTERMEZZO – ALEGRIAS E TRISTEZAS<br />

Edu Marcondes<br />

Amigos que Não Mais Aparecem – Os Que se Foram Para Sempre : Luiz<br />

Vicente de Sylos – Luis Carlos Junqueira Franco – Silvio Abreu Jr. –<br />

Caio Kiehl : 7 tiros + Leptoespirose - Boa Gente –- Amizades de Família<br />

com Longo Prazo - Um Tiro <strong>da</strong> Nuca<br />

- AMIGOS QUE NÃO MAIS APARECEM<br />

Primeiro vou falar sobre o Paulistano :<br />

Durante os anos 70 e mesmo até a metade <strong>do</strong>s 80 não foi possível<br />

freqüentar o clube , com a mesma assidui<strong>da</strong>de que freqüentava anteriormente.<br />

Havia aumenta<strong>do</strong> a intensi<strong>da</strong>de de meu trabalho nos bancos que dirigia .<br />

Também perdia oportuni<strong>da</strong>de de encontrar amigos pois , grande<br />

parte <strong>da</strong>s vezes eu podia chegar ao Paulistano , ia com minhas filhas em<br />

horários matinais , bem ce<strong>do</strong> . Elas iam fazer ginastica olímpica ou na<strong>da</strong>r .<br />

Os amigos chegavam bem mais tarde<br />

Sem que imediatamente eu pudesse perceber, mas com o tempo fui<br />

reparan<strong>do</strong> , lentamente, bem lentamente , que muitos <strong>do</strong>s antigos amigos já<br />

não mais apareciam no Paulistano . Em compensação sentia a entra<strong>da</strong> ca<strong>da</strong><br />

vez em numero maior de inúmeros sócios novos .<br />

Ca<strong>da</strong> dia eu via mais uma cara nova , tanto masculina como<br />

feminina . O volume <strong>do</strong>s sócios crescia rapi<strong>da</strong>mente . Ca<strong>da</strong> dia tinha mais<br />

gente no club . Somente fui perceber que o perfil <strong>do</strong>s sócios havia<br />

inteiramente mu<strong>da</strong><strong>do</strong> quan<strong>do</strong> voltei a participar quase que diariamente <strong>da</strong>s<br />

coisas <strong>do</strong> Paulistano . As caras novas para mim tomaram conta de to<strong>da</strong>s as<br />

áreas . Isto depois de 1.980 .<br />

Evidentemente , apesar <strong>da</strong>s novas amizades que eu comecei a<br />

desfrutar , sentia também falta <strong>do</strong>s antigos amigos. Comecei a anotar<br />

mentalmente aqueles que não mais chegavam ao CAP .<br />

Tentava saber <strong>da</strong>s suas razões .:<br />

-1) Sérgio D’Avila casou com Marina Fóz, sócia <strong>do</strong> Harmonia.<br />

Mu<strong>do</strong>u de clube ;<br />

-2). O mesmo aconteceu com seu irmão Aluísio D’Avila , com o<br />

amigo Alberto Botti e com Roberto Bratke . <strong>Casa</strong>ram e mu<strong>da</strong>ram de clube .<br />

-3) Luiz Carlos Pannunzio casou e mu<strong>do</strong>u – se para Brasília .<br />

-4) José Henrique Cardia Galrão foi para a Fazen<strong>da</strong> de Agu<strong>do</strong>s .<br />

-5) Sérgio Guastini se tornou Juiz de Direito e foi para o interior .<br />

6) Os Dacacche casaram e pouco a pouco desapareceram .<br />

7) Arnal<strong>do</strong> Gasparian de vez em quan<strong>do</strong> aparecia . Hoje vem<br />

muito pouco. Falou que não vem mais pois como não conhece quase ninguém.


-8) Didi Gui<strong>do</strong>tti construiu um hotel no litoral norte e vive por lá .<br />

-9)Seu irmão Adriano desapareceu . Nem é mais sócio ;<br />

-10) Belmiro Dias sumiu .<br />

- 11) O mesmo aconteceu com Maurício Soriano<br />

-11) Otto Bendix casou com a ex mulher <strong>do</strong> faleci<strong>do</strong> cômico Zeloni<br />

e se escondeu nas beira<strong>da</strong>s rurais <strong>da</strong> Grande São Paulo .<br />

12-) Chico Galvão e Mário Sérgio onde estarão agora ?<br />

13-) Os Papas – Marcio e Zizínho sumiram .<br />

14-) O mesmo acontece com Gile Lunardelli e com Paulinho<br />

Sal<strong>da</strong>nha <strong>da</strong> Gama . Acho que não gostam mais de vir ao Paulistano<br />

15-) Vico Paes de Barros e Fredy Assumpção sumiram<br />

definitivamente... outro dia soube que morreram . Confesso que chorei .<br />

16-) To<strong>do</strong>s os Levi – Ferna<strong>do</strong> , Eduar<strong>do</strong> . Luiz Carlos e outros<br />

parentes não mais aparecem no Paulistano .<br />

17-)Candi<strong>do</strong> Cavalcanti morreu .<br />

18-)João Campos morreu ,<br />

19-)Cesar Affonseca morreu .Como eles muitos outros morreram .<br />

Quem ain<strong>da</strong> aparece de vez em quan<strong>do</strong> é o Sérgio Caiubi Novaes .<br />

As vezes almoçamos juntos . Contu<strong>do</strong> são poucas vezes .<br />

Encontro ain<strong>da</strong> , esporadicamente , os amigos que na<strong>da</strong>vam comigo<br />

na antiga piscina : - Eugênio Amaral , José Ayres Neto e o Léo Berman .<br />

Estive por algum tempo com o queri<strong>do</strong> amigo Adir Vilella , hoje<br />

em dia moran<strong>do</strong> em São Lourenço/ MG . –<br />

Figura muito difícil ficou o Carlos Roberto “China” Mattos .<br />

Aparece muito pouco , apesar de ser um amigo queri<strong>do</strong> e bem antigo .<br />

Realmente sinto a falta <strong>do</strong>s bate papos com os velhos amigos. O<br />

Paulistano fica diferente , sem a Turma <strong>do</strong> Paulistano .<br />

- AMIGOS QUE SE FORAM PARA SEMPRE<br />

II - Entretanto , pior que não encontrar mais antigos e queri<strong>do</strong>s<br />

amigos era perder definitivamente amigos mais chega<strong>do</strong>s . Aqueles que eram<br />

“os amigos <strong>do</strong> peito” . Aqueles que foram cria<strong>do</strong>s com a gente . Aqueles que<br />

estavam conosco a to<strong>da</strong> hora . Aqueles companheiros de viagens e de lutas .<br />

Aqueles que muitas vezes chamávamos de “irmãos”. Aqueles que o tempo<br />

levou e por isto não voltam mais . Aqueles que não esquecemos .<br />

Antes de 1985 já havíamos perdi<strong>do</strong> o Silvio “Careca” Abreu e o<br />

Luiz Fernan<strong>do</strong> “Vovô” Ribeiro <strong>da</strong> Silva . O primeiro de câncer e o segun<strong>do</strong><br />

em um assalto . Foi muita tristeza .<br />

Depois se foram Pedro Padilha , Paulo Ribeiro , “Kico”<br />

Campassi , Antônio Duva , “Velu<strong>do</strong>” Pompeo , Caio Pompeo de Tole<strong>do</strong> ,


“Jujuba” Moreira <strong>da</strong> Costa , Helinho Fuganti e Zequinha Almei<strong>da</strong> Pra<strong>do</strong><br />

. Roberto Claro , Sergio Macha<strong>do</strong> de Lucca , Kiko Campassi , Claudio<br />

“Ratão” Fagundes , Sergio e Carlos Dacache . Até 1995 foram muitos os<br />

amigos que perdemos repentinamente em muito pouco tempo. .<br />

Quase sempre esquecemos que as coisas podem se repetir , não<br />

identicamente , mas se repetem .<br />

Reven<strong>do</strong> esta relação , agora em 2011 , temos mais amigos que se<br />

foram para além . Fernan<strong>do</strong> Botelho de Miran<strong>da</strong> – o “Mirandinha” e<br />

Antonio Rabello. Depois o Acácio Geléia Mancio e Tozinho Lara Campos<br />

Outros Mais que se Foram<br />

Luiz Vicente de Sylos - Também foi embora muito ce<strong>do</strong> . Não<br />

tinha mais <strong>do</strong> que 50 anos de i<strong>da</strong>de . Teve “Esquemia Cerebral” e faleceu .<br />

Por conta de uma sua emprega<strong>da</strong> seu falecimento virou , no meio<br />

de muita tristeza , um fato meio cômico . Ditinha , a tal emprega<strong>da</strong> , com sua<br />

santa ignorancia , ouviu o “Galo Cantar” e não sabia onde .<br />

Então , “confundin<strong>do</strong> Jesus com Genésio” e “Isquemia ” com “Us<br />

Qui Mia” , acabou dizen<strong>do</strong> para to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que o Vicente tinha faleci<strong>do</strong> de<br />

“Gato Na Cabeça” . Afirmava que Us Que Mia é gato ! Cerebral é na cabeça .<br />

Concluiu isto pela relação fonética <strong>do</strong> que ouviu .<br />

Santa ignorância .<br />

Luiz Carlos Junqueira Franco - Não faleceu muito tempo depois .<br />

Sua vi<strong>da</strong> cheia alegria , mas com muita serie<strong>da</strong>de e trabalho,<br />

subitamente foi fican<strong>do</strong> atrapalha<strong>da</strong> . Desquitou-se <strong>da</strong> esposa . Foi morar em<br />

um sitio compra<strong>do</strong> no Embú . Arranjou uma namora<strong>da</strong> que foi viver com ele .<br />

Então veio o “Plano Collor” . Justamente no momento em que ele<br />

reformava suas três lanchonetes . Com a falta <strong>do</strong> dinheiro que aquele Plano<br />

Collor trouxe , e com os muitos compromissos , ficou impossível quitar<br />

tantas obrigações financeiras . Junqueira foi obriga<strong>do</strong> fechar as Lanchonetes ,<br />

pois não queria deixar de pagar ninguém . Duas foram entregues em “<strong>da</strong>ção de<br />

pagamento” .<br />

Ele era extremamente honesto em tu<strong>do</strong> que fazia .<br />

Sentiu o golpe . Sentiu mais ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> a namora<strong>da</strong> foi embora .<br />

Finalmente quan<strong>do</strong> tentou vender o sitio verificou que a<br />

<strong>do</strong>cumentação não era perfeita .Muitos problemas apareceram . Então ficou<br />

sem recursos . Voltou e foi morar com a mãe em São Paulo .<br />

Aquele amigo que vivia fazen<strong>do</strong> pia<strong>da</strong>s , mesmo quan<strong>do</strong> tomou um<br />

tiro no pé , em uma briga com uns cafajestes que invadiram uma festa <strong>do</strong>


Harmonia ( “ Ele dizia então que seu chulé ficaria sain<strong>do</strong> pelo buraco que a<br />

bala fez no sapato” ) . Agora estava triste . Muito triste mesmo !<br />

Sentia-se abati<strong>do</strong> . Estava muito difícil levantar seu animo . Por<br />

mais que eu tentasse . Por mais que tentássemos . Perdeu aquela alegria de<br />

viver e de contar seus “causus e histórinhas”.<br />

Junqueira se suici<strong>do</strong>u . Chorei muito , principalmente em sua missa<br />

de sétimo dia , quan<strong>do</strong> tocaram aquela musica : “ Amigo é coisa prá se<br />

guar<strong>da</strong>r ...bem no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> peito ...<br />

Caio Kiehl chorava de meu la<strong>do</strong> .<br />

Silvinho “Careca”Abreu brincava com mil coisas . Vivia dizen<strong>do</strong><br />

que na “Próxima Encarnação” queria voltar como “Taturana” , pois ela é um<br />

bicho que vive elegante , de casaco de peles , só comen<strong>do</strong> “brotos” e<br />

an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s dias com “galhos” . E quem mexeu com a Taturana ´tá<br />

queima<strong>do</strong> ! Dizia ain<strong>da</strong> que Taturana não morre ... vira Borboleta !<br />

Então iria virar “Borboleta , porem Macho” , e assim seria um<br />

turista de luxo , voan<strong>do</strong> por ai , sem precisar de passaporte . Poderia sair<br />

beijan<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as flores . Sem problemas ... “<br />

MAIS BOA GENTE QUE SE FOI ...<br />

III – Quem sempre mostrava muita amizade para comigo era<br />

Albano de Souza Azere<strong>do</strong> . Foi muitas vezes meu parceiro para um<br />

joguinho de “tranca”. Outras vezes eu jogava com o Alcides Procópio ,<br />

Luiz Taliberti , Claudio “Ratão” Fagundes .<br />

Eram muitos os bons parceiros que tínhamos então : Emil Issa , Dr.<br />

Quadros e Arman<strong>do</strong> Vieira .<br />

Gostava de freqüentar a casa <strong>do</strong> Vilella e <strong>da</strong> Célia . Ali sempre o<br />

papo era bom . Alem <strong>do</strong> mais jogava Gamão com o amigo ... estes não<br />

faleceram , mas se mu<strong>da</strong>ram para bem longe . Quase não os vejo mais .<br />

As vezes tomava uns drinques com George Gugelmas e<br />

Go<strong>do</strong>fre<strong>do</strong> Viana , lá no bar <strong>do</strong> primeiro an<strong>da</strong>r . Eles se foram<br />

Assim eu ficava um pouco mais com amigos<br />

Quem também muito me convi<strong>da</strong>va para um bom papo e tomar uma<br />

cerveja era o parente Rubens Limongi França . Um dia eu e Vera<br />

apresentamos para ele uma loira amiga . Chamava-se Evelina . Era o tipo de<br />

mulher que ele a<strong>do</strong>rava . Alta , clara , com bonitas pernas , cadeiru<strong>da</strong>,<br />

inteligente , educa<strong>da</strong> e de boa família . Morava no Morumbi . Ele ficou<br />

encanta<strong>do</strong> . Começaram sair e pouco tempo depois estavam juntos , em to<strong>do</strong>s<br />

lugares e viajan<strong>do</strong> para fora <strong>do</strong> Brasil . Juntos em to<strong>do</strong> tempo .


Um dia foram para a Fazen<strong>da</strong> que ele possuía em Guaratinguetá .<br />

Estavam passan<strong>do</strong> um feria<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong> liga<strong>do</strong> em um fim de semana .<br />

Rubens , não se sabe porque , comeu um pe<strong>da</strong>ço de queijo velho que<br />

encontrou na geladeira . Não deu outra . Começou uma forte desinteria que<br />

não passou com remédios de farmácia . Evelina queria vir com ele para São<br />

Paulo . Ele disse que se não melhorasse viria no outro dia .<br />

Foi tarde . Ele entrou em desidratação profun<strong>da</strong> . Quan<strong>do</strong> chegou em<br />

São Paulo foi direto para uma UTI . Não durou muito .<br />

Seu velório foi realiza<strong>do</strong> na Facul<strong>da</strong>de de Direito <strong>do</strong> Largo <strong>do</strong> São<br />

Francisco . Senti muito a per<strong>da</strong> <strong>do</strong> amigo .<br />

CAIO KIEHL : SETE TIROS / SETE VIDAS + LEPTOESPIROSE<br />

As coisas realmente acontecem quan<strong>do</strong> não deviam ,<br />

principalmente quan<strong>do</strong> não esperamos por elas . E muitas vezes ferem<br />

profun<strong>da</strong>mente nossa alma , sem dó nem pie<strong>da</strong>de . Basta an<strong>da</strong>r distraí<strong>do</strong> .<br />

“O homem põe e Deus dispõe”.<br />

Caio Kiehl morava no Con<strong>do</strong>mínio Baronesa de Ararí , no bloco de<br />

luxo , onde os apartamentos possuem três suítes . Vivia reclaman<strong>do</strong> com o<br />

zela<strong>do</strong>r , em razão <strong>do</strong> barulho que uma prensa de lixo fazia durante a<br />

madruga<strong>da</strong> , não deixan<strong>do</strong> ninguem <strong>do</strong>rmir . A queixa era geral .<br />

Uma noite de Sexta Feira , lá pelas 23 horas , a tal prensa recomeçou<br />

a perturbar . Caio não esperou mais na<strong>da</strong> e foi reclamar pessoalmente com o<br />

tal Zela<strong>do</strong>r . Quan<strong>do</strong> chegou ao porão não teve tempo de abrir a boca . O tal<br />

Zela<strong>do</strong>r disse que ele não iria “reclamar mais nunca” . E disparou sete vezes<br />

com uma pistola automática . Foram 7 tiros que o acertaram . Caio caiu . O<br />

Zela<strong>do</strong>r achan<strong>do</strong> que ele tinha morri<strong>do</strong> fugiu .<br />

Primeiro <strong>do</strong> prédio , depois para o nordeste .<br />

Caio que era muito resistente conseguiu se arrastar até a rua . Foi<br />

assisti<strong>do</strong> por passantes que o levaram para o Hospital <strong>da</strong>s Clinicas . Logo a<br />

noticia chegou para nós que estávamos ain<strong>da</strong> jogan<strong>do</strong> no Paulistano naquela<br />

madruga<strong>da</strong> .<br />

Corri para as Clínicas com o Antônio Rabello e o Claudio “Ratão” .<br />

Não foi possível ver Caio . Estava sen<strong>do</strong> opera<strong>do</strong> . No outro dia voltou para<br />

nova operação , pois descobriram uma outra bala que perfurara seu pulmão .<br />

A maioria <strong>da</strong>s balas atingira seu ab<strong>do</strong>me . Só uma passou <strong>do</strong> ab<strong>do</strong>me para o<br />

pulmão , furan<strong>do</strong> a pleura .<br />

Dias depois Caio teve infeção gasosa , aquela que já matou muita<br />

gente . Ele resistiu . Durante três meses ficou nas Clinicas . A turma <strong>do</strong><br />

Paulistano lá ia diariamente . Ele tinha necessi<strong>da</strong>de de an<strong>da</strong>r , para acelerar a<br />

cura . Depois disto se recuperou e saiu , praticamente sem seqüelas .


Realmente ele era muito forte . Tinha “mil horas de brigas ao meu<br />

la<strong>do</strong> ” com to<strong>do</strong> tipo de gente : - pilantras , malandros , “falsos seguranças”<br />

e porteiros de boate. Eles podiam ser grandes e fortes . Não interessava .<br />

Defendia sempre seu direito . Era difícil de ser derruba<strong>do</strong> .<br />

Sofrera naufrágio comigo e ficara horas dentro <strong>do</strong> mar bravo durante<br />

a madruga<strong>da</strong> . Dirigia aquele carro com o qual capotamos na estra<strong>da</strong> de<br />

Campos <strong>do</strong> Jordão , o qual virou sucata .<br />

Era difícil de ser atingi<strong>do</strong> , porem um dia aconteceu . Na forma que<br />

ninguem poderia imaginar , porem foi atingi<strong>do</strong> . Pelo destino ? ...<br />

O que aconteceu foi o seguinte :<br />

O prédio de apartamentos onde ele morava foi interdita<strong>do</strong> durante<br />

um tempo. Precisava de reformas em sua estrutura geral . Caio foi morar<br />

inicialmente com a irmã Celina . Não deu certo .<br />

Então em uma Segun<strong>da</strong> Feira , depois de passar um dia na fazen<strong>da</strong><br />

<strong>do</strong> Antônio Carlos Peres de Oliveira , foi até In<strong>da</strong>iatuba onde estava<br />

reforman<strong>do</strong> um Armazém/Depósito de sua proprie<strong>da</strong>de . Lá <strong>do</strong>rmiu e lá<br />

pegou uma <strong>do</strong>ença estranha , pois dias depois sentia-se fraco , com diarréia .<br />

Muito fraco se sentia .<br />

Telefonou no Sába<strong>do</strong> para a casa <strong>do</strong> Sérgio , onde estávamos<br />

almoçan<strong>do</strong> , informan<strong>do</strong> que se sentia mal , inclusive com forte disenteria .<br />

Não desejou que fossemos busca-lo . Disse que viria sozinho para São<br />

Paulo. Assim aconteceu .<br />

Naquele mesmo sába<strong>do</strong> levamos Caio até o Paulistano . Ele estava<br />

de encontro marca<strong>do</strong> com seu amigo Prof. Jairo Ramos. Ele o examinou<br />

ain<strong>da</strong> no vestiário <strong>do</strong> club . Receitou um remédio informan<strong>do</strong> que não seria o<br />

definitivo . Deixou claro que na Segun<strong>da</strong> Feira Caio deveria procurar seu<br />

assistente para novos exames , pois ele estaria viajan<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> aquela noite<br />

para o exterior .<br />

No dia marca<strong>do</strong> Caio foi até o assistente <strong>do</strong> professor . O remédio<br />

que tomou “mascarou sua <strong>do</strong>ença grave” . Como chegou senti<strong>do</strong>-se melhor<br />

não foi solicita<strong>do</strong> nenhum outro exame. Apenas recomen<strong>da</strong><strong>do</strong> a continui<strong>da</strong>de<br />

<strong>do</strong> remédio inicialmente prescrito . O erro ali aconteceu .<br />

Na Quinta Feira Caio estava muito mal . Como teríamos eleições no<br />

Paulistano ele , que era Conselheiro <strong>do</strong> CAP , foi até lá para escolher comigo<br />

os candi<strong>da</strong>tos em que votaríamos . Entretanto , a ca<strong>da</strong> instante corria para o<br />

banheiro com disenteria . Falei que não poderia continuar assim . Caio<br />

contou que <strong>da</strong>í a pouco sua filha Nana viria busca-lo para leva-lo para<br />

exames no hospital <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Paulista de Medicina .


Lá ficaria interna<strong>do</strong> até saber o que tinha .<br />

Na Sexta Feira tentei visitá-lo no hospital . Então fui informa<strong>do</strong> que<br />

ele estava na UTI - com “Leptoespirose” . Em esta<strong>do</strong> gravíssimo .<br />

Achavam difícil sua recuperação . Nem acreditei .<br />

Porem , faleceu na madruga<strong>da</strong> <strong>da</strong>quele Sába<strong>do</strong><br />

Seu enterro saiu <strong>do</strong> Velório <strong>da</strong> Beneficência Portuguesa .<br />

Ricar<strong>do</strong> Cavalcanti me aju<strong>do</strong>u , quan<strong>do</strong> terminava de vesti-lo ,<br />

acertan<strong>do</strong> o colarinho e o laço <strong>da</strong> sua gravata .<br />

Depois <strong>da</strong>quele enterro fiquei pensan<strong>do</strong> por muitas horas .<br />

“Gato só tem sete vi<strong>da</strong>s. Para o Caio sete balas . Depois...”<br />

AMIZADES DE FAMILIA / DE LONGA DATA .<br />

VI - Caio Kiehl , Luiz Carlos Junqueira e Vicente de Sylos não<br />

eram apenas simplesmente meus amigos . Também não eram aqueles amigos<br />

que encontramos por acaso .<br />

As amizades vinham <strong>da</strong>s nossas famílias . De longo tempo . Éramos<br />

muito mais que amigos . Eles viveram anos dentro de minha casa e eu dentro<br />

de suas casas com suas famílias . Éramos na reali<strong>da</strong>de irmãos de vi<strong>da</strong> . Não<br />

de sangue mas de to<strong>da</strong>s as horas . O que é muito mais importante . E nunca<br />

tínhamos desavenças . Nunca . Podíamos as vezes estarmos distantes mas<br />

isto não mu<strong>da</strong>va na<strong>da</strong> .<br />

Havia entre nós um relacionamento que vinha mesmo de longe .<br />

1) - O pai <strong>do</strong> Caio , Dr. Marcelo , fora colega de meu pai no Ginásio<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> . Caio era meu padrinho de casamento , como eu era padrinho de<br />

seu casamento . Éramos na reali<strong>da</strong>de compadres ;<br />

2) - O pai <strong>do</strong> Junqueira , Sr. Samuel , tinha obturações dentárias<br />

feitas em ouro , ain<strong>da</strong> realiza<strong>da</strong>s em Ribeirão Preto por meu avô materno -<br />

Carlos Américo Brandão . Isto aconteceu quan<strong>do</strong> sr. Samuel ain<strong>da</strong> era moço .<br />

As duas irmãs <strong>do</strong> Luiz Carlos foram colegas de minha irmã desde o Colégio<br />

Sion . Eram amigas . Estávamos sempre juntos em família .<br />

3) - O pai de Vicente , Dr. Honório de Sylos , conhecia meu pai<br />

desde o tempo em que eram moços . Trabalharam juntos para o governo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> . Sua esposa , <strong>do</strong>na Lilia , era amiga de minha mãe . Ele era meu<br />

padrinho . Vicente , que sempre esperou pela herança <strong>do</strong> avô mas que nunca<br />

recebeu na<strong>da</strong> pois morreu , era padrinho de minha filha Paula . Lina sua<br />

irmã era amiga de minha irmã Marisa . Nossas casas eram localiza<strong>da</strong>s no<br />

Jardim Paulista, em São Paulo . Em S. Vicente também estavam perto .<br />

Nossas vi<strong>da</strong>s estavam bem entrelaça<strong>da</strong>s desde muito tempo .<br />

Agora eu estava sozinho . Perdera to<strong>do</strong>s meus amigos irmãos .<br />

Senti no dia <strong>do</strong> enterro <strong>do</strong> Caio um enorme frio dentro de mim .


Não sabia naquele momento por que .<br />

Ficou então um grande vazio .<br />

Parecia que faltava alguma coisa . Ain<strong>da</strong> parece . Sinto !<br />

-UM TIRO NA NUCA<br />

Havia vendi<strong>do</strong> meu carro e compra<strong>do</strong> as coisas fun<strong>da</strong>mentais para<br />

acabar de montar meu escritório de Advocacia e Administra<strong>do</strong>ra .<br />

Como recebi uma parte <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> carro em dólares , deveria<br />

trocar US$ 1.100 . Eles iriam ficar aplica<strong>do</strong>s.<br />

No outro dia falei com o amigo George Guguelmas .<br />

Ele trabalhava com Câmbio . Então ficou combina<strong>do</strong> que eu levaria<br />

os dólares para o Paulistano e lá faríamos a troca . Cambio <strong>do</strong> dia .<br />

Só esquecemos de um detalhe . No outro dia seria Domingo , sem<br />

possibili<strong>da</strong>de de cambio , nem troca de dólares .<br />

Sem lembrar <strong>do</strong> fato , no Domingo , depois <strong>do</strong> almoço com meus<br />

pais , coloquei os dólares dentro de uma pasta de couro , pois as notas eram<br />

muitas , quase to<strong>da</strong>s de 5 (cinco) dólares . O volume não era pequeno . Fui<br />

para o Paulistano .<br />

Quan<strong>do</strong> encontrei George e mostrei o dinheiro ele deu risa<strong>da</strong> . Foi<br />

me lembran<strong>do</strong> que era Domingo , sem cambio possível . Marcamos um<br />

almoço para o dia seguinte na própria casa <strong>do</strong> George .<br />

Iriamos então concretizar a troca .<br />

Fomos para o salão de jogos . Deixei a pasta devi<strong>da</strong>mente guar<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

com o gerente <strong>do</strong> salão e fui jogar “tranca” . Nosso jogo seguiu até as 22 , 30<br />

horas. Então pequei novamente a pasta e desci . Fui procurar um taxi para ir<br />

para casa . Normalmente eles estavam na porta <strong>do</strong> club esperan<strong>do</strong> clientes .<br />

Naquele dia não tinha nenhum.<br />

Esperei algum tempo . Como não chegavam resolvi ir até a<br />

Aveni<strong>da</strong> Brasil , pois por ali passavam muitos taxis .<br />

Quan<strong>do</strong> estava chegan<strong>do</strong> na esquina <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Brasil , vin<strong>do</strong> pela<br />

escura Rua México , parou de meu la<strong>do</strong> um carro Monza . Até hoje não sei se<br />

era preto ou azul marinho . Saíram de dentro três fulanos . Como estava<br />

escuro mal <strong>da</strong>va para ver suas caras . Um deles tinha camisa branca e outro<br />

camisa azul . Vieram direto para mim com cacetes na mão . Não falaram que<br />

era assalto ! Não pediram a pasta ou a carteira ! Partiram para cima de mim .<br />

Senti que queriam bater , ou mesmo matar .<br />

Um outro assaltante , que eu não tinha visto e nem sabia de onde<br />

tinha vin<strong>do</strong> , chegou por trás e agarrou meu pescoço . Ain<strong>da</strong> tive tempo de<br />

girar aquele cara por cima <strong>do</strong> meu ombro e o joguei no chão . Os outros já


haviam chega<strong>do</strong> junto . Lembro tomei muita panca<strong>da</strong> mas que também dei<br />

muita panca<strong>da</strong> naqueles sujeitos . Isto durou algum tempo .<br />

Derrepente eu estava caí<strong>do</strong> de cara no chão , com três em cima de<br />

mim . Então um deles encostou um revolver em minha nuca e foi dizen<strong>do</strong> :<br />

- “ O heroizinho vai morrer agora”.<br />

Só escutei o barulho forte <strong>do</strong> tiro ...<br />

Então me vi em um túnel com muita luz branca que girava em volta<br />

de mim . Aquilo não durou muito tempo .<br />

Tu<strong>do</strong> ficou definitivamente escuro pouco depois .<br />

Devo ter fica<strong>do</strong> mais de meia hora desacor<strong>da</strong><strong>do</strong> e caí<strong>do</strong> perto <strong>da</strong><br />

esquina <strong>da</strong> Aveni<strong>da</strong> Brasil . Quan<strong>do</strong> estava acor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> , me sentia flutuan<strong>do</strong> .<br />

Parecia que olhava meu corpo de cima . Parecia que eu flutuava .<br />

Pensei que ia sair <strong>da</strong>li e deixar meu corpo no chão !<br />

Depois quan<strong>do</strong> realmente tomei os senti<strong>do</strong>s a primeira coisa que vi<br />

foi o relógio <strong>da</strong> igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Brasil . Ele marcava 23,15.<br />

Neste perío<strong>do</strong> ninguém parou para ver o que tinha aconteci<strong>do</strong>.<br />

Apesar de um tanto escuro , graças ao lampião <strong>da</strong> esquina ,<br />

encontrei <strong>do</strong> meu la<strong>do</strong> a minha pasta de couro , aberta e suja de sangue .<br />

Também o sapato que sairá de meu pé esquer<strong>do</strong> .<br />

O dinheiro na pasta e meu relógio Piaget sumiram . Sumiu ain<strong>da</strong><br />

um jogo de canetas Montblanc que estava dentro <strong>da</strong> pasta .<br />

Fiquei algum tempo na esquina <strong>da</strong> Brasil pedin<strong>do</strong> socorro .<br />

Ninguém parava para um sujeito to<strong>do</strong> rasga<strong>do</strong> e sujo de sangue .<br />

Finalmente um casal de jovens que vinha num carrinho velho me<br />

socorreu . Fui leva<strong>do</strong> para o Hospital <strong>da</strong>s Clinicas . Foram gentis e humanos .<br />

Ficaram comigo até o fim .<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei e disse para o médico que tinha leva<strong>do</strong> um tiro na<br />

nuca . Ele deu risa<strong>da</strong> . Foi dizen<strong>do</strong> que devia ser uma paula<strong>da</strong> que eu tomara,<br />

pois tiro na nuca mata mesmo . Só mu<strong>do</strong>u de idéia quan<strong>do</strong> começaram raspar<br />

os cabelos de minha nuca para fazer curativo . Então verificaram e<br />

encontraram to<strong>da</strong> aquela pólvora em torno <strong>da</strong> feri<strong>da</strong> .<br />

Foi um corre ... corre ! Chegaram mais médicos , marcaram Sala<br />

para Cirurgia , pegaram minha caderneta de endereços e ligaram para<br />

alguém que poderia <strong>da</strong>r autorização para cirurgia na cabeça . Tiraram muitas<br />

radiografias e tomografias computariza<strong>da</strong>s .<br />

Depois de algum tempo os médicos se reuniram em grupo e<br />

começaram a <strong>da</strong>r risa<strong>da</strong>s . Um deles chegou e disse , mostran<strong>do</strong> uma<br />

radiografia : “ A bala não entrou ! Ela , pelo tamanho , deve ser ou é <strong>do</strong>


calibre 38 . Ficou inteiramente amassa<strong>da</strong> junto a parede externa <strong>do</strong> crânio.<br />

Por enquanto você está fora de perigo ! Não vai ser preciso operar ”.<br />

Começaram a suturar o ferimento e foram falan<strong>do</strong> que eu dera muita<br />

sorte . Depois disseram que eu deveria voltar dentro de <strong>do</strong>is dias , para ver<br />

como estava o ferimento . Que eu deveria tomar aquelas pílulas de<br />

penicilinas que me <strong>da</strong>riam , durante sete dias . Deveria voltar de novo .<br />

Para a <strong>do</strong>r de cabeça , que naquela altura era imensa , o remédio foi<br />

“ Lisa<strong>do</strong>r”.<br />

Quan<strong>do</strong> estavam terminan<strong>do</strong> as suturas minha irmã Marisa chegou.<br />

Com ela seu mari<strong>do</strong> Zeca Leal . Logo me levaram para casa . O susto de<br />

minha mãe não foi grande pois me via an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e falan<strong>do</strong> . Apenas<br />

recomen<strong>do</strong>u que eu seguisse o que o médico man<strong>da</strong>ra .<br />

Não consegui <strong>do</strong>rmir aquele final de noite . estourar . Alem disso eu<br />

continuava pensan<strong>do</strong> , tentava achar uma explicação para o fato ocorri<strong>do</strong> .<br />

Elas não tinham e não faziam o menor senti<strong>do</strong> .<br />

A minha única conclusão foi que ain<strong>da</strong> não era minha vez ...<br />

Pela manhã seguinte ao assalto Alexandra já estava comigo . Eu lhe<br />

pedi que ligasse para o George cancelan<strong>do</strong> o almoço e explican<strong>do</strong> o por que .<br />

George em segui<strong>da</strong> informou os amigos . Logo pela tarde já estava<br />

sen<strong>do</strong> visitan<strong>do</strong> pelo Claudio “Ratão” Fernandes e o Luiz Gonçalves .<br />

Depois só foram muitos tefonemas .<br />

Neste meio tempo Alexandra arrumou uma cama melhor para mim<br />

Cinco dias depois fui fazer exames no IML. Depois de ser<br />

examina<strong>do</strong> e de verem as radiografias , foram informan<strong>do</strong> :<br />

• Que eu tive muita sorte <strong>da</strong> bala ser calibre 38 , que é bala de<br />

impacto . Elas precisam de espaço para ganhar veloci<strong>da</strong>de .<br />

Caso fosse calibre 22, 7.65 ou 9 milímetros , que são balas de<br />

perfuração , você estaria morto .<br />

• Finalizou dizen<strong>do</strong> que aquela noite a Morte estava de folga !<br />

Mal sabiam eles <strong>do</strong>s ocorri<strong>do</strong>s comigo em outras vezes .<br />

Fiquei quietinho ...


VIAGENS COM VERA - PAULA E ALEXANDRA<br />

Edu Marcondes<br />

Conhecen<strong>do</strong> Europa e Ásia<br />

Desde mea<strong>do</strong>s de 2002 eu havia combina<strong>do</strong> , com minha filha Paula<br />

e seu mari<strong>do</strong> Mark , que iríamos passar o Natal e Ano Novo com eles em<br />

Hong Kong . Já estava com muitas sau<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is e principalmente de meu<br />

netinho Lucca . Alem <strong>do</strong> mais estava morren<strong>do</strong> de vontade de conhecer coisas<br />

<strong>da</strong> China , onde eles estavam viven<strong>do</strong> , em Hong Kong .<br />

Mark ali trabalhava dirigin<strong>do</strong> uma Empresa de Investimentos .<br />

Quan<strong>do</strong> chegou Setembro , Paula telefonou confirman<strong>do</strong> que<br />

esperava por mim e por Vera . Ela havia passa<strong>do</strong> as férias de Junho no<br />

apartamento de Vera , aproveitan<strong>do</strong> para ir até sua fazen<strong>da</strong> em Sorocaba .<br />

Lucca gostara de tu<strong>do</strong>, principalmente de an<strong>da</strong>r à cavalo . Tirou até fotos<br />

monta<strong>do</strong> em um grande cavalo , porem já velhinho ...<br />

Fui então atrás <strong>da</strong> “Air France” , pois minha pesquisa de preços<br />

indicava ser a melhor .. . O roteiro era simples : São Paulo - Paris - Hong<br />

Kong (i<strong>da</strong> e volta) .<br />

Quan<strong>do</strong> estava tu<strong>do</strong> acerta<strong>do</strong> e as passagens já compra<strong>da</strong>s recebi um<br />

telefonema <strong>da</strong> filha Alexandra . Estava indigna<strong>da</strong> . Soube <strong>da</strong> nossa viagem<br />

pela tia Marisa . Queria saber como é que eu iria para a França e não chegava<br />

até Madrid , pelo menos para ver o neto Lorenzo . Argumentava que a<br />

distancia era pouca . Uma hora de vôo . Nesta altura Javier entrou na<br />

conversa telefônica . Foi dizen<strong>do</strong> que a passagem de Paris para Madrid<br />

correria por sua conta . Assim fui intima<strong>do</strong> para ir para Espanha .<br />

Respondi que ia conversar com a “Air France” e voltaria falar com<br />

eles o mais rapi<strong>do</strong> possível .<br />

Liguei imediatamente para a companhia aérea francesa . Para<br />

surpresa minha fui informa<strong>do</strong> que a viagem de Paris para Madrid seria cortesia<br />

<strong>da</strong> própria Air France . A única coisa necessária foi remarcar <strong>da</strong>tas e horários<br />

<strong>da</strong>s passagens , o que foi realiza<strong>do</strong> sem problemas . Iria agora passar 70 dias<br />

fora . O Roteiro mu<strong>do</strong>u para : S. Paulo – Paris – Madrid – Paris – Hong Kong<br />

( i<strong>da</strong> e volta) .<br />

Quan<strong>do</strong> retornei a ligação para Alexandra foi só alegria . Recebi<br />

seu novo endereço e deixei tu<strong>do</strong> combina<strong>do</strong> . Agora iríamos passar os 4 dias<br />

em Paris e depois nosso destino seria Madrid , onde ficaríamos 10 dias ,<br />

conforme Alexandra desejava . A China viria depois . Vera Lúcia quan<strong>do</strong><br />

soube <strong>da</strong> história gostou e muito . Sempre estava disposta para viajar .


– Paris -<br />

No dia 28 de Outubro fomos para Paris em um vôo muito tranqüilo .<br />

Ali já tínhamos reservas no “Hotel du Dragon” , que ficava na “Rue du<br />

Dragon” , em “Saint Germain ” . A indicação era <strong>da</strong> nossa queri<strong>da</strong> amiga<br />

Loélia lá <strong>do</strong> Paulistano . Não era muito dispendioso e ficava em ótimo local.<br />

Logo em frente havia mora<strong>do</strong> Victor Hugo . Ao la<strong>do</strong> uma “boulangerie” onde<br />

to<strong>da</strong>s as manhas fazíamos nosso desjejum com estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Sorbonne .<br />

Chegamos pela manhã e estávamos descansa<strong>do</strong>s , pois <strong>do</strong>rmimos<br />

muito bem no avião . Resolvemos sair passean<strong>do</strong> , apesar de um frio de quase<br />

zero graus ! Saímos a pé , de Saint German na direção <strong>do</strong> Rio Sena . Fomos<br />

paran<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os lugares que gostávamos . Tiran<strong>do</strong> fotos .<br />

No caminho percebi que o nariz de Vera estava fican<strong>do</strong> vermelho<br />

de frio . Alem <strong>do</strong> mais ela estava com dificul<strong>da</strong>des para respirar com o ar<br />

muito gela<strong>do</strong> . Estava colocan<strong>do</strong> um lencinho em frente ao rosto para<br />

enfrentar o frio . Não reclamava na<strong>da</strong> .<br />

Continuamos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> até encontrarmos a Igreja de “Notre Dame” .<br />

Vera nem pensou e foi entran<strong>do</strong> para fugir <strong>da</strong>quele tempo gela<strong>do</strong> . Passei a<br />

mão por sua cabeça e senti que seus cabelos também estavam muito frios .<br />

Visitamos a Notre Dame em to<strong>do</strong>s seus principais detalhes .<br />

Enten<strong>do</strong> que existem igrejas menos famosas , que são mais bonitas .<br />

Entretanto , ali naquela igreja , vale muito mais a Historia que a envolve .<br />

Na saí<strong>da</strong> , antes <strong>do</strong> almoço , vi , em uma lojinha francesa , chapéus<br />

femininos de feltro para o inverno . Vi também mantilhas , de se<strong>da</strong> com<br />

cashemere . Tu<strong>do</strong> muito chique , simples e bonito . Não tive duvi<strong>da</strong>s . Levei<br />

Vera até lá e ela ganhou seus primeiros presentes na Europa . Um chapéu de<br />

feltro combinan<strong>do</strong> com seu casaco e uma mantilha macia que ela achou lin<strong>da</strong> .<br />

Ficou bonita e elegante com a mantilha envolven<strong>do</strong> pescoço e rosto . O<br />

chapeuzinho ficou na cabeça desde o momento em que ela o experimentou .<br />

Depois disto fomos almoçar no Restaurante “Quasimo<strong>do</strong>” . Tem<br />

este nome pois fica ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> “Notre Dame” . “Quasimo<strong>do</strong>” era o tal<br />

“corcun<strong>da</strong>” que vivia na igreja e que salvou a cigana Esmeral<strong>da</strong> !<br />

Ali a comi<strong>da</strong> era simples ( para comi<strong>da</strong> francesa ) mas bem gostosa .<br />

Com Vera devi<strong>da</strong>mente agasalha<strong>da</strong> tivemos coragem para continuar<br />

an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> pelas margens <strong>do</strong> Sena , ven<strong>do</strong> e conhecen<strong>do</strong> as belezas <strong>do</strong> lugar e<br />

os artistas pintores parisienses . Depois , quan<strong>do</strong> sentimos que poderia<br />

rapi<strong>da</strong>mente escurecer , fomos de volta para o Hotel Dragon em Saint<br />

German. No caminho paramos no maravilhoso supermerca<strong>do</strong> “Bom Marché”.<br />

Compramos frutas , suco de laranja , pães de vários tipos , queijos e frios .<br />

Durante a noite fizemos gostoso “pic-nic” em frente <strong>da</strong> televisão .<br />

Ficamos assistin<strong>do</strong> a opera “Carmen” , em ótima apresentação.


No outro dia nossa dedicação total foi para Museus . Pela manhã<br />

direto para o “D’orsay”, onde também almoçamos no seu simpático<br />

restaurante . A comi<strong>da</strong> estava maravilhosa ( com to<strong>da</strong>s as letras ) . Por isto<br />

mesmo nossa visita ao “Louvre” não foi nem a mais demora<strong>da</strong> , nem a mais<br />

instrutiva . Como deveria ser naquele dia . Mas valeu . Depois de um grande<br />

almoço não é possível visitar museus . Voltamos na manhã <strong>do</strong> outro dia.<br />

Naquela noite resolvemos repetir o “pic-nic” em frente <strong>da</strong> televisão<br />

Antes de <strong>do</strong>rmir combinamos passeio por to<strong>da</strong> Paris no conheci<strong>do</strong><br />

Ônibus Turístico . Você pode tomar e descer em qualquer lugar . Depois com<br />

a mesma passagem continuará percorren<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong>de .<br />

Logo ce<strong>do</strong> pegamos o tal “vermelhinho” e ficamos giran<strong>do</strong> e<br />

paran<strong>do</strong> por to<strong>da</strong> Paris . Nem almoçamos . Em muitos lugares , por onde<br />

parávamos , fomos toman<strong>do</strong> pequenos lanches . Deliciosos .<br />

A noite fomos passear por Saint German . O frio estava demais e<br />

depois de alguns quarteirões entramos em um “Café Parisiense” para tomar o<br />

chá mais caro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . Muito ruim . Frio por frio , foi melhor an<strong>da</strong>r pela<br />

rua gela<strong>da</strong> e voltar para o hotel .<br />

Naquela noite ficamos lembran<strong>do</strong> <strong>da</strong> pequena “Boulangerie” onde<br />

to<strong>da</strong>s as manhãs vínhamos toman<strong>do</strong> desjejuns magníficos . Ele ficava quase<br />

em frente <strong>do</strong> nosso hotel .<br />

Não deu outra . Na manhã de nossa parti<strong>da</strong> fomos para lá bem ce<strong>do</strong>,<br />

tomar o gostoso café matinal naquela “Boulangerie du Dragon” ( este era o<br />

nome , se não me engano ) . Desta vez foi sem pressa , bem demora<strong>do</strong> ,<br />

saborean<strong>do</strong> inclusive aquela deliciosa tortinha de morangos .<br />

Quan<strong>do</strong> estávamos sain<strong>do</strong> vimos o taxi chegan<strong>do</strong> . Bem na hora<br />

combina<strong>da</strong> . Pegou as nossas malas e pronto .<br />

Fomos diretamente para o aeroporto . Era um dia nacional qualquer.<br />

No caminho encontramos ruas cheias de sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s bem uniformiza<strong>do</strong>s e<br />

cavalos bonitos . Bandeiras tricolores hastea<strong>da</strong>s em vários locais .<br />

Madrid<br />

Já dentro <strong>do</strong> avião , a caminho de Madrid , fiquei desejan<strong>do</strong> que lá<br />

poderia estar um pouco mais quente . Logo depois a televisão de bor<strong>do</strong> ,<br />

fixa<strong>da</strong> na poltrona <strong>da</strong> frente , contava que o frio era praticamente o mesmo que<br />

aquele de Paris . Quan<strong>do</strong> saímos <strong>do</strong> avião o frio foi confirma<strong>do</strong> .<br />

No carro que nos levava para a casa de Alexandra tive oportuni<strong>da</strong>de<br />

de ver como Madrid estava realmente lin<strong>da</strong> . As ruas largas , muito limpas e<br />

bem arboriza<strong>da</strong>s . O transito funcionan<strong>do</strong> ! Lin<strong>da</strong>s estatuas , Grandes Arcos e<br />

muitas Fontes em quase to<strong>da</strong>s as aveni<strong>da</strong>s . Não se an<strong>da</strong>va muito para<br />

encontrar um Parque , com to<strong>do</strong> aquele verde bem majestoso .


Os prédios públicos , muito bem conserva<strong>do</strong>s , sempre tinham um<br />

bonito jardim em frente . Madrid marca muito por ser bem arruma<strong>da</strong> em to<strong>do</strong>s<br />

detalhes . Rapi<strong>da</strong>mente já estávamos no Bairro <strong>da</strong> Xan<strong>da</strong> .<br />

Chegamos . “Calle de los Alhelies” . A casa de Xan<strong>da</strong> e Javier tem<br />

jardim em <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s , pois é de esquina . Mal tocamos a campainha e a<br />

cachorra<strong>da</strong> já ficou latin<strong>do</strong> .<br />

Xan<strong>da</strong> junto com Lorenzo vieram corren<strong>do</strong> abrir o portão .<br />

Foram muitos beijos e abraços no meio <strong>da</strong>queles <strong>do</strong>is “Poodles”<br />

que não paravam de latir . Queriam nossa atenção . “Delon” é um velho cão<br />

conheci<strong>do</strong> meu , mas a cachorrinha “Lana” era novi<strong>da</strong>de .<br />

Fomos entran<strong>do</strong> levan<strong>do</strong> as malas . As emprega<strong>da</strong>s aju<strong>da</strong>ram ,<br />

apesar <strong>do</strong>s “poodles” se enfiarem entre nossas pernas , geran<strong>do</strong> alegria e<br />

confusão ao mesmo tempo .<br />

A casa , apesar de ser grande , possui apenas <strong>do</strong>is quartos . Por isto<br />

mesmo ficamos hospe<strong>da</strong><strong>do</strong>s no pequeno pavilhão existente junto ao pátio<br />

interno, ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong> piscina . A suite nele existente é bem pequena mas tem<br />

inclusive ar condiciona<strong>do</strong> . Ali no verão deve ser muito gostoso , pois depois<br />

de um banho de piscina se pode <strong>do</strong>rmir logo ao la<strong>do</strong> . No inverno facilita o<br />

aconchego de duas pessoas . Tu<strong>do</strong> ali é apertadinho .<br />

Esperamos Javier . Depois <strong>do</strong>s abraços e entrega <strong>do</strong>s presentes,<br />

fomos com ele jantar em um restaurante típico <strong>da</strong> Galícia . Muito gostoso .<br />

Para variar , ele que gosta de vinho , encomen<strong>do</strong>u um tinto especial . Naquela<br />

noite <strong>do</strong>rmi quentinho e feliz .<br />

No outro dia , um Domingo , Javier nos mostrou to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um giro em Madrid com seu carro . Fiquei impressiona<strong>do</strong> com a beleza<br />

e conservação de to<strong>do</strong>s prédios governamentais .<br />

Apesar de alguns pequenos ataques de malcriação , Xan<strong>da</strong> foi ótima<br />

cicerone . Estranhei , pois ela sempre foi ao mesmo tempo meiga e briguenta .<br />

Malcria<strong>da</strong> nunca . Mesmo assim , em to<strong>do</strong>s aqueles dias , nos levou para<br />

conhecermos muitas coisas .<br />

Fomos ao maravilhoso Palácio Real . Passeamos em seus jardins e<br />

entramos em sua catedral . Fomos a antiga Estação “ La Tocha” ( não guardei<br />

o nome direito ) onde almoçamos , ten<strong>do</strong> em volta seus maravilhosos jardins<br />

de inverno , cheio de plantas tropicais .<br />

Atendemos gentil convite <strong>da</strong> senhora mãe de Javier . Xan<strong>da</strong> nos<br />

levou e nos apresentou . Depois ficamos para comer um cosi<strong>do</strong> típico<br />

espanhol em seu apartamento . Divino e maravilhoso .<br />

No outro dia ela nos levou para ver as lojas . Eu acabei ganhan<strong>do</strong><br />

uma japona de inverno e Vera uma casaco compri<strong>do</strong> . Depois fomos conhecer<br />

uma Arena de Touros , onde a estatuária é espetacular . To<strong>do</strong> lugar e


magnifico . No final <strong>da</strong> tarde tomamos lanche em uma Cafeteria onde Javier<br />

também é sócio . Lorenzo aproveitou para se divertir naquele lugar .<br />

Tole<strong>do</strong> –<br />

O dia seguinte foi tira<strong>do</strong> para conhecermos a ci<strong>da</strong>de de Tole<strong>do</strong> .<br />

Fica apenas uma hora de carro de Madrid . Ir para aquele lugar é realizar uma<br />

volta ao passa<strong>do</strong> medieval . To<strong>da</strong>s as construções tem séculos . Castelos,<br />

Muralhas e suas ameias , Torreões fortifica<strong>do</strong>s , Pontes elevadíças , Mansões<br />

centenárias , Arcos e Portais magníficos .<br />

Tu<strong>do</strong> está perfeitamente conserva<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> ali é muito lin<strong>do</strong> ,<br />

principalmente sua Catedral com mais de oito séculos de existência . As ruas<br />

tortuosas , continuam <strong>da</strong> mesma forma como foram construí<strong>da</strong>s . Apenas por<br />

ali , sem destoar a arquitetura, encontramos ótimos restaurantes e muitas<br />

lojas. . A<strong>do</strong>rei aquele passeio , principalmente por que fomos com Lorenzo<br />

meu netinho .<br />

Escorial<br />

-Não poderíamos deixar de conhecer o “El Escorial” . Vera e eu<br />

tiramos um dia para visitarmos aquela famosa construção . Saímos bem ce<strong>do</strong><br />

para a Estação indica<strong>da</strong> . Fomos tomar o trem para chegar a ci<strong>da</strong>dezinha que<br />

fica uma hora de Madrid . Está situa<strong>da</strong> no topo de uma montanha .<br />

A viagem é maravilhosa , pois o trem tem <strong>do</strong>is an<strong>da</strong>res e<br />

espetacular janelas panorâmicas . Alem <strong>do</strong> que corre quase 200 km. por hora .<br />

A primeira visão Del Escorial , depois que você sobe a montanha ,<br />

mexe com seus sentimentos . Aquela imensa construção de pedras é realmente<br />

imponente . Foi construí<strong>da</strong> por ordem de Felipe II , na época o maior<br />

impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . Tu<strong>do</strong> ali foi realiza<strong>do</strong> pelos maiores artistas <strong>da</strong> época ,<br />

inclusive com obras de “El Greco” , muitas <strong>da</strong>s quais encontram-se atualmente<br />

<strong>do</strong> Museu <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> – Madrid . To<strong>da</strong> a parte de madeiras é <strong>da</strong> maior quali<strong>da</strong>de<br />

já vista . Existe uma Sala chama<strong>da</strong> “Das Batalhas” onde as maiores vitórias<br />

militares de Felipe II são demonstra<strong>da</strong>s em afrescos , pinta<strong>do</strong>s em parede de<br />

50 metros de comprimento . É impossível visitar Espanha e não conhecer El<br />

Escorial . Logo depois de sua saí<strong>da</strong> , descen<strong>do</strong> a encosta <strong>da</strong> montanha , em um<br />

caminho coberto por lin<strong>da</strong>s arvores centenárias , você encontrará o<br />

maravilhoso “Palácio <strong>do</strong> Príncipe <strong>da</strong>s Asturias” .<br />

Bem , se os dias foram movimenta<strong>do</strong>s , imagine as noites .<br />

O único dia que jantamos em casa foi quan<strong>do</strong> Vera , Javier e Xan<strong>da</strong><br />

se comprometeram cozinhar uma feijoa<strong>da</strong> para os irmãos , irmãs , cunha<strong>do</strong>s ,<br />

cunha<strong>da</strong>s e amigos <strong>da</strong> família , sem saber se encontrariam as coisas ,<br />

condimentos e pertences para feijoa<strong>da</strong> . Nem sei direito como Vera conseguiu<br />

e fez . Saiu uma feijoa<strong>da</strong> estiliza<strong>da</strong> , mas saiu . Agra<strong>do</strong>u a to<strong>do</strong>s e ela ganhou<br />

presente. <strong>da</strong> irmã <strong>do</strong> Javier . Foi feijoa<strong>da</strong> alegre . Caipirinha não faltou .


Em outra noite fomos ao futebol ver o Real Madrid no Estádio<br />

Santiago Barnabeu . Dois dias depois fomos ao “Circo Du Soleil” . Aquelas<br />

noites e nas outras demais fomos jantar fora , sempre com familiares ou<br />

amigos de Javier , toman<strong>do</strong> vinho como ele gosta . Dos melhores e mais<br />

finos. Sempre espanhóis . Vera e eu íamos <strong>do</strong>rmir quentinhos !<br />

Lorenzo estava muito alegre e se divertia com os cachorrinhos .<br />

Aquela seria a última manhã que eu brincaria com meu neto naquela<br />

viagem . Esperei Vera chegar para um passeio a pé . Dei um beijo nele e em<br />

Xan<strong>da</strong> . Fomos no caminho <strong>do</strong> centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Achei um Correio .<br />

Coloquei to<strong>do</strong>s os cartões postais para os amigos <strong>do</strong> Paulistano .<br />

Logo adiante Vera encontrou uma loja onde comprou uma caixinha de música<br />

em forma de carrossel .<br />

Depois , quan<strong>do</strong> chegamos mais adiante , em uma praça ampla<br />

conseguiu três mantilhas para levar de presente .<br />

Na volta para casa de Xan<strong>da</strong> eu já estava com sau<strong>da</strong>des de minha<br />

filha, de Lorenzo e de Javier . Também de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s . E <strong>da</strong> Espanha.<br />

No fim <strong>da</strong> tarde : Despedi<strong>da</strong>s e caminho <strong>do</strong> Aeroporto .<br />

CHINA : HONG KONG – LANTAU - MACAU<br />

- Hong Kong– A noite , quan<strong>do</strong> entrei no avião , fui lembran<strong>do</strong> que<br />

naquele vôo teríamos de enfrentar quase 13 horas horas de viagem sem<br />

escalas. Uma viagem difícil ! Mesmo viajan<strong>do</strong> pela Air France .<br />

Havia fala<strong>do</strong> em dias anteriores com Paula , <strong>da</strong>n<strong>do</strong> o numero <strong>do</strong><br />

vôo e a hora prevista para chega<strong>da</strong> . Estávamos combina<strong>do</strong>s que ela estaria<br />

nos esperan<strong>do</strong> no aeroporto . Chegar sozinho em Hong Kong , sem falar<br />

chinês , não <strong>da</strong>va muita confiança . Em caso de desencontro , como última<br />

saí<strong>da</strong> , tinha em mãos o endereço de sua casa .<br />

Finalmente chegamos . Mais mortos que vivos . Na saí<strong>da</strong> ficamos<br />

analisan<strong>do</strong> aquele espetacular aeroporto . E encontramos dificul<strong>da</strong>des com o<br />

primeiro encontro com desconheci<strong>da</strong>s moderni<strong>da</strong>des . Para que la<strong>do</strong><br />

deveríamos tomar o “Metro Interno <strong>do</strong> Aeroporto” para chegar até a saí<strong>da</strong>?<br />

Resolvemos seguir a maioria . Deu certo no começo . Depois encontramos<br />

duas sadias A e B . Em qual Paula estaria esperan<strong>do</strong> ?<br />

Resolvemos que Vera iria pela A e eu pela B . Também deu certo ,<br />

pois logo depois Lucca , apesar de seus tres anos , reconheceu Vera e correu<br />

para seu colo . Foi ganhan<strong>do</strong> beijos . Em segui<strong>da</strong> Mark e Cora já estavam ao<br />

seu la<strong>do</strong> . Foram me buscar logo depois. Então fui eu que ganhei beijos e<br />

abraços . Com meu netinho Lucca agora em meu colo .<br />

E Paula ? Onde estava ?


Mark explicou que ela estava <strong>da</strong>n<strong>do</strong> treinamento em Singapura e<br />

que não deu para chegar em tempo . Estava vin<strong>do</strong> para Hong Kong .<br />

No caminho para casa , Mark nos foi mostran<strong>do</strong> a ci<strong>da</strong>de .<br />

Passamos pela ponte mais extensa <strong>do</strong> planeta , logo depois <strong>do</strong> aeroporto .<br />

Hong Kong é sem duvi<strong>da</strong> a mais moderna ci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> . Em tu<strong>do</strong> e por<br />

tu<strong>do</strong> . É muito bonita em sua topografia . Parece o Rio de Janeiro , com<br />

montanhas , praias , mar , baías e muito verde . Alem <strong>do</strong> mais contem o maior<br />

numero de arranha –céus por metro quadra<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . São prédios<br />

enormes, sempre com mais de 50 an<strong>da</strong>res , em sua média . Ca<strong>da</strong> um tentan<strong>do</strong><br />

ser mais arroja<strong>do</strong> que o outro na arquitetura .<br />

Ali to<strong>do</strong>s os taxis são <strong>da</strong> mesma marca e tem cor vermelha e preto ,<br />

fácil de identificar . O transito funciona perfeitamente , apesar <strong>da</strong>s várias<br />

linhas de bondes com 2 an<strong>da</strong>res e <strong>do</strong>s muitos ônibus com ar condiciona<strong>do</strong>,<br />

sain<strong>do</strong> para to<strong>da</strong>s direções . Tu<strong>do</strong> é muito limpo e cheio de jardins .<br />

Mark foi explican<strong>do</strong> que agora a higiene é meta de to<strong>do</strong>s<br />

governantes chineses . Nisto Hong Kong ain<strong>da</strong> está na frente de outras ci<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> China . O Governo para tanto , como já aconteceu antigamente nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s e países <strong>da</strong> Europa , multa até quem cuspir no chão .<br />

Tu<strong>do</strong> em Hong Kong deve ser sempre o mais moderno existente .<br />

Por muitas razões e princípios de merca<strong>do</strong>logia , bem como por fatores<br />

relativos aos custos , quase to<strong>da</strong>s as grandes industrias mundiais e/ou<br />

empresas com muita importância internacional tem sede ou filial na ci<strong>da</strong>de .<br />

Hoje ela já voltou a fazer parte integrante <strong>da</strong> China . Entretanto ,<br />

continua com Administração Especial , até os próximos 2 anos .<br />

Ali é o local onde mais encontramos os carros mais caros <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>:<br />

Bentley , Rolls Royce , Ferrari , Porche , Lanborguine . Eles passam por você<br />

a to<strong>da</strong> hora . O chinês rico a<strong>do</strong>ra ser “snobe”. Discretamente ...<br />

Chegamos ao apto de Paula /Mark . Fica no alto de uma colina ,<br />

com espetacular vista para a praia e para a baia . Fiquei conhecen<strong>do</strong> a outra<br />

babá <strong>do</strong> Lucca - Dália . Também a gatinha “Natasha”. Ela é muito lin<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

raça “ Blue Russian” . Apesar de mansinha Lucca não gosta dela . Fica longe .<br />

Acho que puxou o seu rabo e foi arranha<strong>do</strong> .<br />

Paula chegou quan<strong>do</strong> já estávamos in<strong>do</strong> <strong>do</strong>rmir . Foi uma festa no<br />

nosso quarto , com Lucca fazen<strong>do</strong> a maior bagunça . Nota : Aquela “bagunça”<br />

virou tradicional . To<strong>do</strong> tempo em que estivemos em Hong Kong , em to<strong>da</strong>s as<br />

noites , Lucca ia para nossa cama e fazíamos barracas com os lençóis , lógico<br />

com ele lá em baixo fazen<strong>do</strong> folia . Até hoje ele lembra .<br />

No outro dia , Sába<strong>do</strong> , Paula convi<strong>do</strong>u para an<strong>da</strong>rmos nas<br />

montanhas . Calcei um mocassino leve e fomos com ela ,Vera e Mark .


Acontece que “an<strong>da</strong>r na montanha era escalar montanha” . Com aquele sapato<br />

derrapan<strong>do</strong> e sain<strong>do</strong> <strong>do</strong> pé não conseguiria escalar nem uma mureta ... quanto<br />

mais uma montanha . Paramos de subir e fomos an<strong>da</strong>r por uma estradinha em<br />

cima <strong>da</strong>s montanhas , ven<strong>do</strong> de um la<strong>do</strong> os lagos artificiais que existem nas<br />

montanhas de Hong Kong ( São reservas de água <strong>do</strong>ce ,forma<strong>da</strong>s pelas chuvas<br />

e pequenos córregos perfeitamente guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s ) , e <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> o mar .<br />

An<strong>da</strong>mos até chegarmos em uma pequena locali<strong>da</strong>de chama<strong>da</strong><br />

“Stanley” . Ali é o bairro “Paraíso <strong>do</strong> Turista” . Você poderá comprar tu<strong>do</strong> :<br />

tênis , eletro <strong>do</strong>mesticos , roupas , perfumes , pinturas e até pérolas . Lembro<br />

que voltamos depois para lá mais uma vez . Compramos muitas coisas .<br />

Vera levou lin<strong>do</strong> conjunto de pérolas negras . Em outro dia , com Paula e<br />

Mark , ganhei um tênis e uma calça curta . A<strong>do</strong>rei , mas deixei claro que : -<br />

“sem tênis ou com tênis não iria mais escalar montanhas” . Os meus 72 anos<br />

estavam pesan<strong>do</strong> muito para escalar !...<br />

Aqueles primeiros dias em Hong Kong foram muito agradáveis . De<br />

manhã eu saia com Vera para passear pelas praias . Andávamos por duas<br />

horas. .O inverno ali é muito suave . Pelas tardes conhecíamos locais de Hong<br />

Kong . Em uma delas fomos até o “Centro Velho” onde Vera adquiriu se<strong>da</strong>s<br />

puras muito bonitas . Fomos e voltamos de bonde. De <strong>do</strong>is an<strong>da</strong>res !<br />

As noites quase sempre tínhamos reuniões em casas <strong>do</strong>s amigos e<br />

amigas de Paula e Mark . Lembro que a vizinha de Paula , chama<strong>da</strong> Andréa ,<br />

uma brasileira bonita e simpática , casa<strong>da</strong> com um filho de inglês com<br />

portuguesa , nos convi<strong>do</strong>u para um jantar brasileiro . Foi muito gostoso ,<br />

principalmente pelo carinho demonstra<strong>do</strong> para outros brasileiros . Outra que<br />

nos tratou maravilhosamente foi a amiga de Paula . Ela se chama Emac , é<br />

grega e estava com uma filhinha nova . No final , quan<strong>do</strong> de nossa volta,<br />

ganhei um “OlhoGrego”, destina<strong>do</strong> a espantar o “mal olha<strong>do</strong>” .<br />

Quan<strong>do</strong> estávamos sem convite então íamos jantar fora . Mark foi<br />

sempre muito gentil nos convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong> . Pela primeira vez tomei vinho <strong>da</strong> Nova<br />

Zelândia . Muito Bom ! Vera também tomou e gostou .<br />

China – Lantau –<br />

De acor<strong>do</strong> com informações de um livro sobre turismo na China ,<br />

achei que seria um bom passeio visitar a ilha de Lantau . Falei com Mark e<br />

ele me confirmou que valeria a pena ir até a ilha , pois o lugar é muito lin<strong>do</strong> ,<br />

místico e possui o maior Bu<strong>da</strong> fundi<strong>do</strong> em bronze <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />

A i<strong>da</strong> poderia ser feita em Lanchas Especiais – Catamarans . Eram<br />

enormes , parecen<strong>do</strong> mini navios , super rápi<strong>da</strong>s e em uma hora estaríamos lá<br />

na ilha . Falei com Vera e resolvemos ir até lá no dia seguinte .<br />

Bem ce<strong>do</strong> Mark nos levou até o Embarca<strong>do</strong>uro para Lantau . Tu<strong>do</strong><br />

muito fácil . Em 10 minutos já havíamos pago as passagens e já estávamos a


or<strong>do</strong> , esperan<strong>do</strong> a parti<strong>da</strong> . Nem sentimos quan<strong>do</strong> a lancha partiu . Foi muito<br />

suave mas rapi<strong>da</strong>mente alcançava espantosa veloci<strong>da</strong>de , sem trepi<strong>da</strong>r . Pude<br />

então reparar que internamente ela mais parecia um avião , com televisão , bar<br />

a bor<strong>do</strong> , cadeiras giratórias e muito mais coisas . Fomos comentan<strong>do</strong> o que<br />

víamos e reparan<strong>do</strong> as paisagens passan<strong>do</strong> rapi<strong>da</strong>mente . Quan<strong>do</strong> demos conta<br />

estávamos atracan<strong>do</strong> no cais de Lantau .<br />

Um ônibus de turismo nos levou até o topo <strong>da</strong> montanha . Levou<br />

quase uma hora , pois o caminho é difícil , costean<strong>do</strong> a montanha em estra<strong>da</strong><br />

estreita . Subimos <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mar até 1.000 metros de altura .<br />

La de cima , em um platô , a vista é incrível . Os aviões que vão<br />

para Macau ou Hong Kong passam mais baixo <strong>do</strong> que o ponto onde você está .<br />

Você vê o avião olhan<strong>do</strong> para baixo . A vista sempre atinge no mínimo 180<br />

graus . Você verá então quase to<strong>da</strong>s pequenas ilhas <strong>da</strong>quela região .<br />

Marca muito aquele local uma melodia suave que vai tocan<strong>do</strong><br />

sempre , por to<strong>da</strong> parte . É mística . Ela parece combinar com a brisa suave<br />

que por ali persiste . O mais importante : De qualquer la<strong>do</strong> que você olhar para<br />

cima verá sempre o enorme Bu<strong>da</strong> de bronze . Ele toma conta <strong>da</strong> paisagem. .<br />

O problema é chegar até ele , que fica no topo de um morro , que<br />

tem uma esca<strong>da</strong>ria com 1.000 degraus . Combinei com Vera que subiria<br />

paran<strong>do</strong> em duas etapas . Não deu . Fui obriga<strong>do</strong> parar cinco vezes para tomar<br />

fôlego e chegar ao Bu<strong>da</strong> de Bronze . Para se ter idéia de seu tamanho vou<br />

lembrar que em sua base existe um museu , relatan<strong>do</strong> a forma de sua<br />

existência e construção , bem como loja de artigos religiosos .<br />

Tão difícil como subir é descer de volta . No meio <strong>do</strong> caminho a<br />

perna fica bamba e você é obriga<strong>do</strong> a parar e refrescar as pernas que já<br />

ferveram ...<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos respiramos um pouco , descansamos as pernas e<br />

fomos almoçar . O bilhete que você compra para ver o Bu<strong>da</strong> dá direito ao<br />

almoço . Por sinal bom . Voltei <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> no ônibus , depois no barco .<br />

Macau- China<br />

Com base no sucesso <strong>da</strong> primeira viagem de lancha resolvemos<br />

realizar nossa i<strong>da</strong> para Macau . A viagem seria um pouco mais longa , com<br />

hora e meia . Dois dias depois já estávamos a caminho . O barco era ain<strong>da</strong><br />

maior e ain<strong>da</strong> mais rapi<strong>do</strong> . Alem <strong>do</strong> mais aquele tinha <strong>do</strong>is an<strong>da</strong>res. Fomos<br />

na parte de cima para ver melhor , pois a vista <strong>do</strong> mar e <strong>da</strong> região é bonita .<br />

Como sempre naqueles barcos a viagem foi maravilhosa .<br />

Chegamos sem sentir . Boa viagem . Desta vez escolhemos um taxi<br />

para nos conduzir por Macau . O seu motorista falava um pouco de português,<br />

o que foi muito bom . Atualmente em Macau apenas 5% <strong>do</strong>s habitantes falam<br />

um péssimo português . A primeira coisa que notamos , mesmo antes de


tomarmos o taxi , foi uma imensa torre destina<strong>da</strong> a televisão . Ela é a maior <strong>da</strong><br />

Ásia e uma <strong>da</strong>s mais altas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> . No alto ela possui um restaurante<br />

famoso .<br />

Ao seu la<strong>do</strong> também uma enorme estatua de mulher . Ela é <strong>da</strong><br />

deusa marinha “Agau” , que deu nome ao ci<strong>da</strong>de e região .<br />

O primeiro lugar que visitamos foi o “Forte <strong>do</strong> Monte” , ain<strong>da</strong> com<br />

seus canhões coloca<strong>do</strong>s estrategicamente , cobrin<strong>do</strong> to<strong>da</strong> aquela área . Porem<br />

ao la<strong>do</strong> deles muitas flores e belas arvores .<br />

Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> forte , ain<strong>da</strong> de pé somente a bela facha<strong>da</strong> de pedra <strong>da</strong><br />

antiga “Igreja de São Francisco” . O restante <strong>do</strong> corpo <strong>da</strong> igreja caiu quan<strong>do</strong><br />

ela pegou fogo . Isto aconteceu na época <strong>da</strong>s batalhas com os holandeses que<br />

tentavam tomar a ci<strong>da</strong>de . Na praça em sua frente enorme canteiro com<br />

milhares de flores colori<strong>da</strong>s .<br />

Duas figuras de muita relevância histórica mundial viveram em<br />

Macau . O poeta “Camões” que ali escreveu parte <strong>do</strong>s Lusía<strong>da</strong>s . O primeiro<br />

Presidente <strong>da</strong> China Republicana – “Sun Yat-Sen” .<br />

Macau foi de extrema importância como base <strong>da</strong>s exportações de<br />

Portugal para a Europa . Irá perder grande parte de seus negócios mediante a<br />

toma<strong>da</strong> de Hong Kong pelos ingleses , através <strong>da</strong> “Guerra <strong>do</strong> Ópio”, por eles<br />

provoca<strong>da</strong> junto com os americanos , para introduzir droga <strong>do</strong> ópio na China .<br />

Hoje Macau é de grande importância turística para a China . Ali<br />

encontramos grande complexo de Cassinos que funcionam com jogos 24 horas<br />

por dia . Alem <strong>do</strong>s sete já existentes estão em construção mais 5 cassinos :<br />

americanos , franceses e chineses . Vai se tornar , em breve , o maior centro<br />

de cassinos <strong>do</strong> mu<strong>do</strong> . Para tanto o Aeroporto Internacional de Macau recebe<br />

continua<strong>da</strong>mente gente de to<strong>da</strong> Ásia que deseja jogar .<br />

Macau é ain<strong>da</strong> procura<strong>da</strong> para “Corri<strong>da</strong>s de Cavalo” e de<br />

“Cachorros” , para compra de Pérolas , pois é grande produtora . Para<br />

Corri<strong>da</strong>s de Formula 2 de Automobilismo . As compras em geral são atração<br />

pelos preços que apresentam , geralmente muito baixos .<br />

Outro grande atrativo são as antigas construções coloniais<br />

portuguesas . Elas estão na parte antiga e tradicional <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de , perfeitamente<br />

conserva<strong>da</strong>s pelos chineses , que foram pintan<strong>do</strong> , arruman<strong>do</strong> e reforman<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> , inclusive seus maravilhosos telha<strong>do</strong>s e seus ladrilhos .<br />

As ruas , praças e edifícios mantém os nomes portugueses . Assim<br />

você encontra a “Praça Lusitana” , a “Rua <strong>do</strong>s Guimarães” e a “Travessa <strong>do</strong><br />

Quintas” , “Aveni<strong>da</strong> Lousa<strong>da</strong>” . To<strong>da</strong>s ruas tem nomes portugueses escritos<br />

em letras romanas . Encontra ain<strong>da</strong> no frontispício <strong>do</strong>s prédios públicos nomes<br />

portugueses como : - “<strong>Casa</strong> de Saúde” , “Ginásio Municipal” “Câmara e<br />

Sena<strong>do</strong> de Macau” . Os chineses fazem questão de manter estes nomes


tradicionais . Também a moe<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> é portuguesa : - a “Pataca” , apesar de<br />

Macau ser inteiramente controla<strong>da</strong> pelos chineses . Eles entendem como<br />

sen<strong>do</strong> grande atração as coisas tradicionais . É pura ver<strong>da</strong>de !<br />

A moderni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de é encontra<strong>da</strong> em outro la<strong>do</strong> , onde existem<br />

inúmeros arranha céus , escritórios , lojas de departamentos , <strong>do</strong>is grandes<br />

lagos salga<strong>do</strong>s artificiais , hotéis internacionais , restaurantes , bares noturnos<br />

com musica e uma enorme estatua ilumina<strong>da</strong> representan<strong>do</strong> a Flor de Lótus .<br />

Voltamos de Macau encanta<strong>do</strong>s . É lugar que , principalmente para<br />

nós que somos descendentes de portugueses , vale a pena conhecer .<br />

CHINA : BEIJING – XIAN<br />

Dois dias depois Paula nos proporcionou grande surpresa .<br />

Beijing (Pequim ) - Nós iríamos , dentro de três dias , visitar e<br />

conhecer duas ci<strong>da</strong>des mais ao <strong>da</strong> norte <strong>da</strong> China . Primeiro Beijing = Pequim<br />

e depois Xian . Lá se fala o “Man<strong>da</strong>rim” , que é a língua oficial chinesa . No<br />

sul , em Hong Kong , ain<strong>da</strong> se fala o “Cantonês” , mas man<strong>da</strong>rim é oficial .<br />

Iriamos de avião e ficaríamos na casa de uma amiga de Paula ( ela é<br />

brasileira , casa<strong>da</strong> com o Vice Presidente <strong>da</strong> Souza Cruz chinesa ) . Depois ,<br />

ain<strong>da</strong> por avião , nosso destino seria Xian , onde conheceríamos os<br />

“Guerreiros de Terracota”.<br />

A surpresa não poderia ser melhor . Tratamos de arrumar uma mala<br />

para nós <strong>do</strong>is . Levaríamos roupas de inverno pois Paula informou que lá o<br />

frio era forte . Lucca e Cora iram conosco . Mark tinha trabalho . Ficaria .<br />

O jato <strong>da</strong> “Air China’ decolou com suavi<strong>da</strong>de e aterrizou <strong>da</strong> mesma<br />

forma . Sem trancos , sem frea<strong>da</strong>s bruscas . Admirei a habili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele<br />

piloto chinês . Chegamos sem problemas em outro imponente aeroporto .<br />

Na saí<strong>da</strong> já encontramos uma guia profissional , contrata<strong>da</strong> por<br />

Paula , um motorista e uma grande perua . Com ela fomos até a casa <strong>da</strong> amiga<br />

de Paula , Ficava num maravilhoso con<strong>do</strong>mínio , to<strong>do</strong> cerca<strong>do</strong> de guar<strong>da</strong>s e<br />

aparentan<strong>do</strong> muita segurança . A casa era muito grande , decora<strong>da</strong> no estilo<br />

ocidental mas com peças chinesas de grande quali<strong>da</strong>de . A sala de visitas alem<br />

de grande tinha o pé direito duplo . tu<strong>do</strong> ali era espaçoso , inclusive as 5 suites<br />

existentes . A casa poderia estar nos Jardins ou em Hollywood . Para entrar<br />

tiravam-se os sapatos . Colocamos então sandálias chinesas .<br />

Os <strong>do</strong>nos <strong>da</strong> casa estavam viajan<strong>do</strong> , por isto fomos recebi<strong>do</strong>s por<br />

uma governanta . É chinesa e não fala inglês . Tu<strong>do</strong> an<strong>do</strong>u na pura mímica .<br />

Depois <strong>do</strong> almoço fomos para a ci<strong>da</strong>de . Ela é imensa . Beijin deve<br />

estar com 13 milhões de habitantes . No caminho , bem como em to<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

só encontramos automóveis , peruas e ônibus modernos . As grandes fabricas


mundiais hoje tem fabricas na China , principalmente em Shangai . Alem<br />

delas existem umas 4 fabricas de automóveis inteiramente chinesas . As tais<br />

“Bicicletas em Quanti<strong>da</strong>de” só podem ser encontra<strong>da</strong>s em filmes americanos ,<br />

de propagan<strong>da</strong> contraria a China .<br />

Naquela tarde fomos visitar um Shopping onde se pode comprar<br />

autênticos móveis chineses antigos . São lin<strong>do</strong>s , mas é preciso ter um técnico<br />

para verificar a veraci<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s mesmos , apesar <strong>do</strong>s certifica<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s .<br />

Ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> Shopping você encontra grande quanti<strong>da</strong>de de cópias<br />

perfeitas <strong>do</strong>s móveis antigos . Poderá compra-los , com preços bem menores .<br />

Muitos estrangeiros os adquirem ali e depois os revendem como autênticos .<br />

Isto vem ocorren<strong>do</strong> em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

Naquele Shopping também é possível adquirir roupas antigas <strong>do</strong>s<br />

nobres chineses . São <strong>da</strong>s mais puríssimas se<strong>da</strong>s , usa<strong>da</strong>s até o começo <strong>do</strong><br />

século XX apenas pelos nobres . A famosa ultima Imperatriz “Tse- Hsi”<br />

também as usava . Ela que man<strong>da</strong>va até no seu filho Impera<strong>do</strong>r .<br />

As roupas são lin<strong>da</strong>s e aqueles bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s , em fios finíssimos de se<strong>da</strong><br />

colori<strong>da</strong> , com pontos microscópicos , dificilmente não serão ver<strong>da</strong>deiros .<br />

Eram bor<strong>da</strong><strong>do</strong>s feitos por mulheres que viviam na Corte Imperial só para isto .<br />

Levavam muito tempo para bor<strong>da</strong>r uma única peça . Custam uma fortuna .<br />

Ain<strong>da</strong> naquela tarde fomos visitar uma fabrica que produz objetos<br />

de jade . No local vimos como se fabricam as peças e depois a imensa coleção<br />

maravilhosa destina<strong>da</strong> para a ven<strong>da</strong> . O Jade varia quanto a quali<strong>da</strong>de . Maior<br />

densi<strong>da</strong>de na pedra inicial é melhor . Depois quanto mais verde escuro mais<br />

caro . Suas cores variam <strong>do</strong> verde água até o preto esverdea<strong>do</strong> , passan<strong>do</strong> pelo<br />

verde médio , bege , marrom, vermelho e laranja . Vera comprou um pulseira<br />

que eu gostei muito . Verde garrafa . Pagou caro .<br />

No outro dia bem ce<strong>do</strong> fomos conhecer as “Muralhas <strong>da</strong> China” .<br />

Saímos de “perua” e em 60 minutos já estávamos ven<strong>do</strong> aquela maravilha<br />

quase indescritível . A Muralha perto de Beijin serpenteia , com sua cor<br />

amarela<strong>da</strong> meio ocre , pelos cumes <strong>da</strong>s altas montanhas verdes . Se você não<br />

parar a cabeça , para olhar fixamente , ira parecer que ela está se mexen<strong>do</strong> .<br />

Tu<strong>do</strong> ali agora está muito organiza<strong>do</strong> . Você paga entra<strong>da</strong> e pode<br />

ficar o tempo que quiser . Por ali não existe somente a Muralha , com seus 9<br />

metros de altura e mais 9 metros de largura , construí<strong>da</strong> no topo de ca<strong>da</strong> morro<br />

<strong>da</strong> serra . Desta forma ela fica muito mais alta . Praticamente Inexpugnável !<br />

Encontramos também Torreões de Defesa situa<strong>do</strong>s ao longo <strong>da</strong> Muralha . De<br />

longe em longe Pequenos Fortes em pontos estratégicos <strong>da</strong> Muralha , com<br />

antiquíssimos e raros Canhões . Muitos mastros para muitas bandeiras


colori<strong>da</strong>s , que os chineses continuam manten<strong>do</strong>-as desfral<strong>da</strong><strong>da</strong>s . O<br />

espetáculo <strong>da</strong>quela paisagem fica muito bonito .<br />

Do la<strong>do</strong> de dentro ain<strong>da</strong> estão situa<strong>do</strong>s os alojamentos para sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s<br />

e para os oficiais . São separa<strong>do</strong>s . Encontramos represas com água e as<br />

estrebarias para os animais . Tu<strong>do</strong> o que vimos e de onde vimos está<br />

perfeitamente conserva<strong>do</strong> .<br />

Não é na<strong>da</strong> fácil an<strong>da</strong>r longos percursos na parte de cima <strong>da</strong><br />

Muralha , pois ela sobe e desce , acompanhan<strong>do</strong> as corcovas <strong>da</strong> montanha .<br />

Para tanto existem grande quanti<strong>da</strong>de de altos degraus .<br />

Imagino o que penavam os defensores chineses para correr de um<br />

la<strong>do</strong> para outro , com lanças , espa<strong>da</strong>s , armaduras e tu<strong>do</strong> mais . Em 5 minutos<br />

an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> por ali e eu já estava de língua prá fora. Os degraus são bem altos e<br />

meio desgasta<strong>do</strong>s , dificultan<strong>do</strong> movimentos .<br />

Lá em cima <strong>da</strong>s Muralhas os chineses modernos arrumaram tu<strong>do</strong> .<br />

Tem lanchonete , com coca-cola e cachorro quente . Tem restaurante . Tem<br />

Loja de Lembranças . Tem Fotografo . Por ali alugam fantasias de Guerreiros ,<br />

de Reis e de Imperatrizes , para você ser fotografa<strong>do</strong> .<br />

Não deu outra ! Tirei foto como Guerreiro , com antiga espa<strong>da</strong> na<br />

mão . Depois tirei foto com Vera . Eu na fantasia de Principe e ela de<br />

Princesa. Nós recebemos na hora as fotos que nos transportavam ao passa<strong>do</strong>.<br />

Notei por ali um costume bem diferente . Os noivos compram <strong>do</strong>is<br />

cadea<strong>do</strong>s . Um é fecha<strong>do</strong> junto com o outro , que por sua vez é tranca<strong>do</strong> e<br />

fecha<strong>do</strong> junto a uma corrente fortemente fixa<strong>da</strong> na Muralha . Depois jogam as<br />

chaves fora , diretamente para dentro <strong>da</strong>s represas . Diz a len<strong>da</strong> que enquanto<br />

durar a Muralha , de uma forma ou de outra , os noivos estarão juntos .<br />

Naquela noite fomos visitar a esposa <strong>do</strong> Presidente <strong>da</strong> Souza Cruz<br />

chinesa . Se não me engano seu nome é Marilia . Primeiro fomos a sua casa .<br />

Também fica em um outro con<strong>do</strong>mínio. A casa é ain<strong>da</strong> maior , bem decora<strong>da</strong><br />

e maravilhosa .<br />

A <strong>do</strong>na é elegante e brasileira . Nos recebeu com um coquetel . Foi<br />

muito simpática . Ela fala chinês . É amiga de Paula desde Singapura .<br />

Depois , como eu era o único homem , convidei-as para jantar . A<br />

sugestão foi “pizza” ( achei ótimo) . Saímos e fomos então comer “pizzas” . O<br />

carro que nos conduziu era um Rolls Royce . Então ocorreu o seguinte : -<br />

“Lá são muito caras as tais “pizzas” , pois só são feitas e servi<strong>da</strong>s em um<br />

restaurante chiquérrimo italiano , utiliza<strong>do</strong> pelos milionários estrangeiros de<br />

Beijing . O vinho “chianti italiano” idem ! Dancei ...”<br />

No outro dia fomos ao “ Templo <strong>do</strong> Céu” construí<strong>do</strong> em 1.400 . Em<br />

sua volta existe um grande parque onde velhos e aposenta<strong>do</strong>s se distraem


fazen<strong>do</strong> mil coisas : pintam , declamam , <strong>da</strong>nçam , cantam , conversam ,<br />

fazem ginastica e jogam um tipo de tênis chinês, onde a bola é mole e não<br />

pula . Vera jogou com um senhor . Gostou . Depois comprou raquetes e bola .<br />

Uma <strong>da</strong>s coisas mais bonitas de Beijing é a “Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong>” .<br />

Chegamos lá em uma manhã gela<strong>da</strong> e nebulosa . Antes de irmos para lá Lucca<br />

não quis comer na<strong>da</strong> , nem tomou remédio , nem banho .<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos na “ Praça <strong>da</strong> Paz Celestial” , por onde se<br />

chega na “Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong>”, o frio era imenso e caia uma garoa gela<strong>da</strong> .<br />

Lucca ficou gela<strong>do</strong> . Mu<strong>do</strong>u de comportamento : Foi juran<strong>do</strong> que tomava<br />

banho , depois o remédio e depois comeria tu<strong>do</strong> . Queria ir para casa pois dizia<br />

que o frio <strong>do</strong>ía e se sentia muito gela<strong>do</strong> . Paula não teve dúvi<strong>da</strong>s : Chamou o<br />

carro e ordenou que Cora o levasse para casa . ( Cora depois contou que ele<br />

fez tu<strong>do</strong> bem quietinho ).<br />

Sem ele fomos até o centro <strong>da</strong> “Praça <strong>da</strong> Paz Celestial” , onde estava<br />

posiciona<strong>da</strong> uma Gigantesca Bandeira Chinesa- Vermelho Vivo com as 5<br />

estrelas - fixa<strong>da</strong> em um altíssimo mastro . Em ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s seus 4 la<strong>do</strong>s ,<br />

efetuan<strong>do</strong> guar<strong>da</strong> , um Oficial . Vestiam impecáveis far<strong>da</strong>s verdes , com<br />

detalhes brancos e <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s . As luvas também eram brancas . Estavam muito<br />

bem vesti<strong>do</strong>s , elegantes até nos detalhes . .<br />

Do outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong>quela imensa praça – a maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>- podia se<br />

ver um muro enorme e compri<strong>do</strong>, na cor laranja avermelha<strong>do</strong> , onde existia<br />

um grande Portal . Era ali a entra<strong>da</strong> para a “Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong>” . Ao seu la<strong>do</strong><br />

um imenso retrato de Mao Tse Tung . Não estava mais ali como político mas<br />

como o Patriarca <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção total <strong>da</strong> China como uma só nação .<br />

Junto a entra<strong>da</strong> “Dois Grandes Dragões de bronze fundi<strong>do</strong>” . Um era<br />

o Macho , e sob sua pata direita estava um globo simbolizan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> . O<br />

outro era a Fêmea e junto <strong>da</strong> pata esquer<strong>da</strong> um menino que simbolizava o<br />

nascimento <strong>do</strong> homem . To<strong>do</strong>s que entravam passavam a mão nos dragões .<br />

A Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> tem aproxima<strong>da</strong>mente 550 anos . Era assim<br />

chama<strong>da</strong> pois ali só entravam os impera<strong>do</strong>res , suas mulheres e concubinas<br />

com seus filhos , os nobres e suas mulheres e filhos , os emprega<strong>do</strong>s<br />

escolhi<strong>do</strong>s e mais chega<strong>do</strong>s , pois eram muito considera<strong>do</strong>s . Entravam<br />

também os generais e coman<strong>da</strong>ntes , com seus principais sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s . Alguém<br />

<strong>do</strong> povo , comerciante , artesão ou artista que entrasse sem consentimento <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>s era automaticamente executa<strong>do</strong> .<br />

Para que se tenha idéia de seu tamanho : Lá dentro ,onde estão suas<br />

construções , em sua área cerca<strong>da</strong> ,caberiam com folga to<strong>do</strong>s os grandes<br />

castelos <strong>da</strong> Europa . A Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> tem muitos e muitos alqueires de<br />

extensão . Ela é to<strong>da</strong> construí<strong>da</strong> em estilo característico imperial chinês ,


sempre com imensos telha<strong>do</strong>s de quatro águas , com um , <strong>do</strong>is ou três an<strong>da</strong>res<br />

no máximo .<br />

As paredes variam em tons que vão <strong>do</strong> laranja mais claro até o<br />

vermelho escuro . Isto forma uma composição homogênea e bonita que não é<br />

cansativa , pois os detalhes de terraços , <strong>da</strong>s portas , colunas de madeira<br />

sempre pinta<strong>da</strong> em tons escuros chamam a atenção .Sempre pelo bom gosto .<br />

Por to<strong>do</strong> local encontramos mármores muito brancos . Eles quebram<br />

qualquer monotonia possível . Outro fator de harmonia são to<strong>do</strong>s os telha<strong>do</strong>s .<br />

São construí<strong>do</strong>s com telhas brilhantes e vermelhas claras .<br />

Nas suas principais cumeeiras estão coloca<strong>do</strong>s sempre figuras de<br />

pequenos animais como ; macacos , esquilos , galos , pavões , gatos , pássaros<br />

etc. . Eles indicam qual a quanti<strong>da</strong>de de cômo<strong>do</strong>s existente dentro de ca<strong>da</strong><br />

construção .<br />

Do la<strong>do</strong> de fora estão coloca<strong>do</strong>s Imensos Vasos de Bronze ,<br />

destina<strong>do</strong>s a guar<strong>da</strong>r água para possíveis incêndios .<br />

O piso de to<strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> é de pedra cinza , onde as cercas ,<br />

as pontes , as divisas e tu<strong>do</strong> o mais são unicamente feitos de mármore branco .<br />

O Palácio Imperial receberia tranqüilamente mais de mil pessoas<br />

dentro dele . Quanto mais alto a sua posição /posto , maior era o seu palácio .<br />

Ali existem inúmeros jardins . Impressionante , entretanto , é aquele<br />

<strong>do</strong> Palácio de Verão <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r . Nele alem de bosques e matas , existe<br />

ain<strong>da</strong> enorme lago , onde pequenos barcos navegavam .<br />

Cerca<strong>do</strong> por canteiros encontra-se o Palácio de Verão .<br />

Completan<strong>do</strong> aquela construção imponente existe por trás de tu<strong>do</strong><br />

um montanha não muito alta . Foi realiza<strong>da</strong> pelas mãos <strong>do</strong>s chineses para<br />

compor a paisagem deseja<strong>da</strong> .<br />

A Ci<strong>da</strong>de Proibi<strong>da</strong> , construí<strong>da</strong> no século XIV de forma a isolar e<br />

possibilitar aos Impera<strong>do</strong>res : Total independência , tranqüili<strong>da</strong>de , força ,<br />

obstinação e determinação , perde a razão de ser no começo <strong>do</strong> século XIX .<br />

Durante to<strong>do</strong> século os Impera<strong>do</strong>res <strong>da</strong> dinastia mandchu - Dinastia Qing ,<br />

por inépcia , por excesso <strong>da</strong>s coisas que enfraquecem , mais a falta de brio e<br />

de pulso firme , foram perden<strong>do</strong> territórios <strong>da</strong> China e permitin<strong>do</strong> que países<br />

estrangeiros humilhassem a China, que sempre foi independente por mais de<br />

30 séculos . Com isto perderam totalmente o poder de man<strong>do</strong> . Rapi<strong>da</strong>mente a<br />

Republica vai tomar o controle. Os impera<strong>do</strong>res e sua Corte irão desaparecer .<br />

Xian – Saímos no outro dia , por avião , para a antiga capital <strong>da</strong><br />

China . Xian teve este destaque pelo perío<strong>do</strong> de 10 séculos . Por ali passaram<br />

mais de onze dinastias . A ci<strong>da</strong>de tem 3.000 anos .


Ten<strong>do</strong> sua capital em Xian , o impera<strong>do</strong>r Chi Huang Ti , em 256<br />

AC., derrota os hunos e tártaros . Depois seus rivais chineses . Assim irá<br />

consoli<strong>da</strong>r o seu Império e destruir definitivamente os feu<strong>do</strong>s que<br />

enfraqueciam a China .<br />

Vai em segui<strong>da</strong> unificar to<strong>do</strong>s os Exércitos , criar Moe<strong>da</strong> Única e<br />

Consoli<strong>da</strong>r as Leis . Então toma a decisão de construir a Muralha <strong>da</strong> China .<br />

Ela inicialmente é realiza<strong>da</strong> mediante a união , ligação e fechamento <strong>da</strong>s<br />

muralhas que já existiam em torno <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> norte . Depois determina<br />

que a muralha atravessará to<strong>do</strong> norte <strong>da</strong> China . Começará no litoral e seguirá<br />

até alcançar o Deserto de Gobi . Assim deixará separa<strong>do</strong> os invasores <strong>do</strong> norte<br />

.<br />

Para seu intento Chi Huang Ti convoca seu exercito de meio milhão<br />

de homens . Indica como principais operários os prisioneiros de guerra , os<br />

condena<strong>do</strong>s pela justiça e os seus inimigos pessoais .<br />

Sentin<strong>do</strong> que o peso <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de vem chegan<strong>do</strong> , um pouco antes <strong>do</strong><br />

termino <strong>da</strong> Primeira Parte <strong>da</strong> Construção <strong>da</strong> Muralha , escolhe um local , dá<br />

inicio e termina a construção de seu Mausoléu . Ali será efetivamente<br />

enterra<strong>do</strong> .<br />

Morre antes <strong>do</strong> termino <strong>da</strong> Muralha <strong>da</strong> China .<br />

Entretanto , muito mais impressionante que seu Mausoléu , será<br />

“Sua Guar<strong>da</strong> de Honra”” . Ela é idealiza<strong>da</strong> e concretiza<strong>da</strong> , sen<strong>do</strong> composta<br />

por milhares de “Guerreiros” , que não serão vivos . Serão de “Terracota”<br />

Eles , durante 22 séculos ficaram de Guar<strong>da</strong>, ao seu la<strong>do</strong> , em<br />

posição de atenção . O detalhe importante é que nenhum Guerreiro é pareci<strong>do</strong><br />

com os demais . Seus rostos , seus pentea<strong>do</strong>s e cabelos , seus bigodes , suas<br />

posições e seus cavalos não são idênticos . As far<strong>da</strong>s também apresentam<br />

algumas diferenças , principalmente entre sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s e oficiais .<br />

Ficaram enterra<strong>do</strong>s durante to<strong>do</strong>s aqueles séculos e foram<br />

descobertos por acaso , quan<strong>do</strong> na região tentavam perfurar poços de água .<br />

Junto deles foram encontra<strong>do</strong>s armamentos , causan<strong>do</strong> admiração espa<strong>da</strong>s de<br />

aço , com o fio <strong>da</strong> lamina coberto com uma liga de aço- cromo .<br />

Hoje no local existe uma “Fazen<strong>da</strong> Museu”. As estatuas já<br />

desenterra<strong>da</strong>s , em numero de 7.000 , ali estão . Outras milhares ain<strong>da</strong> podem<br />

continuar enterra<strong>da</strong>s . La ficarão pois logo que chegam a atmosfera perdem<br />

rapi<strong>da</strong>mente sua cor que foi fixa<strong>da</strong> por gema de ovos . . Estão agora<br />

estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um conservante para manter as cores originais .<br />

No local também encontramos : Loja de Lembranças e Cinema<br />

Circular , com tela circular . Esta tela obriga o especta<strong>do</strong>r ficar em seu centro<br />

para assistir filmes sobre a história <strong>do</strong>s Guerreiros . A sensação é muito mais<br />

realista que em outros cinemas . Você fica cerca<strong>da</strong> pelo que está acontecen<strong>do</strong> .


Os “Guerreiros de Terracota” são hoje considera<strong>do</strong>s como uma <strong>da</strong>s<br />

Maravilhas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Antigo . Desde 1997 o local onde eles se encontram é<br />

tomba<strong>do</strong> e considera<strong>do</strong> “Patrimônio <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de” .<br />

Xian é hoje uma ci<strong>da</strong>de moderna , com grandes edifícios , hotéis<br />

internacionais , largas aveni<strong>da</strong>s e ruas , muitas praças com bosques e flores ,<br />

cerca<strong>da</strong> por antiga e perfeita muralha . Ela foi construí<strong>da</strong> com pedras pequenas<br />

escuras perfeitamente corta<strong>da</strong>s . Esta Muralha é muito mais bonita que a<br />

Muralha <strong>da</strong> China .<br />

Na ci<strong>da</strong>de de Xian ain<strong>da</strong> encontramos a “Grande Pago<strong>da</strong>” e o<br />

“Museu <strong>do</strong>s Caracteres Chineses” . Ali , neste último , encontramos “estelas<br />

de pedra” , com os primeiros caracteres básicos chineses , alguns , segun<strong>do</strong><br />

informações <strong>do</strong>s atendentes <strong>do</strong> Museu , foram realmente idealiza<strong>do</strong>s por<br />

Confúcio e Lao Tze .<br />

Na saí<strong>da</strong> perguntei ao nosso guia chinês por que existia tanto espaço<br />

em volta <strong>do</strong> Museu . Ele alegremente respondeu :<br />

“ Como vocês dizem , os chineses gostam de copiar as coisas boas .<br />

Assim aquele espaço está reserva<strong>do</strong> para realizarmos e implantarmos as outras<br />

“ Sete Maravilhas <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Antigo” .<br />

Saiu <strong>da</strong>n<strong>do</strong> risa<strong>da</strong>s ...<br />

Outras viagens com Vera Lucia<br />

P.S. - _ Desde 2002 fomos por muitos lugares , tanto na Europa<br />

como na Ásia , ten<strong>do</strong> quase sempre Vera como companheira .<br />

Lembro que ro<strong>da</strong>mos muito na Europa. Mais um vez estivemos na<br />

França . depois na Bélgica, Holan<strong>da</strong> , Alemanha , Republica Theca , Hungria<br />

e Itália .<br />

Depois fomos varias vezes visitar Paula em Singapura . Dali<br />

sempre é fácil viajar para outros países asiáticos .Assim , em ca<strong>da</strong> viagem,<br />

fomos conhecen<strong>do</strong> a Malásia, a Ilha de Rawa , Turquia , Japão , In<strong>do</strong>nésia e<br />

o Cambódia .<br />

Paula continua nos convi<strong>da</strong>n<strong>do</strong>


NOVO MILÊNIO - FESTAS , NETOS E COMPRAS<br />

Edu Marcondes<br />

50 anos de Paulistano ––Precisei de “Carro Novo” – Ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> <strong>do</strong><br />

Morumbi – Meus Netos : Lucca e Lorenzo – Os Netinhos de Vera – A<br />

Chega<strong>da</strong> de Minha Netinha Mia Francis .<br />

To<strong>do</strong>s ficavam com perspectivas de novas esperanças pois o novo<br />

milênio estava chegan<strong>do</strong> . Muitos queriam realizar muitas coisas pois que<br />

estas coisas poderiam mu<strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong> para melhor . Eram normalmente os<br />

desejos para quan<strong>do</strong> o novo século despontasse . Este novo século que estava<br />

chegan<strong>do</strong> agora , alem de ser novo, poden<strong>do</strong> trazer novas esperanças , iria<br />

trazer com ele também to<strong>do</strong>s os séculos conti<strong>do</strong>s em um novo milênio . Com<br />

mil novas oportuni<strong>da</strong>des para to<strong>do</strong>s .<br />

Isto poderia e deveria ser muito melhor para muitos<br />

Para mim começou com esperanças e cheio de boas surpresas .<br />

Mais de Cinqüenta Anos de Paulistano -<br />

A boa surpresa aconteceu mesmo antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> no Ano Novo e<br />

<strong>do</strong> Milênio . A Presidência <strong>do</strong> Paulistano , na pessoa de José Manoel Castro<br />

Santos , resolveu em boa hora, não só comemorar Um Século de CAP , como<br />

também Homenagear to<strong>do</strong>s os sócios com 50 anos ou mais de participação no<br />

Paulistano .<br />

Para tanto , no dia 29 de Dezembro de 2.000 , determinou simpático<br />

coquetel que foi realiza<strong>do</strong> nos Salões Sociais <strong>do</strong> 2º an<strong>da</strong>r , com a participação<br />

de to<strong>do</strong>s aqueles sócios cinqüentenários que ain<strong>da</strong> estavam vivos .<br />

Só não foi quem não tinha mínimas condições físicas .<br />

Na reali<strong>da</strong>de foi uma festa para os velhos amigos , pois os sócios com<br />

mais de 50 anos de Paulistano não eram muitos , com certeza absoluta , mas<br />

velhos amigos , pois naquele tempo o CAP tinha um quadro social reduzi<strong>do</strong> e<br />

seleciona<strong>do</strong> . To<strong>do</strong>s ao presentes se conheciam . To<strong>do</strong>s se falavam. . To<strong>do</strong>s se<br />

confraternizavam diariamente . Foi isto que aconteceu novamente .<br />

Naquele coquetel reencontramos alguns antigos amigos , os quais já<br />

não víamos por anos , entre eles Eduar<strong>do</strong> de Paula .<br />

Estive ao la<strong>do</strong> de Vera Lúcia toman<strong>do</strong> drinques e comemoran<strong>do</strong> com<br />

José Carlos Leal ( meu cunha<strong>do</strong>) e Marisa ( minha irmã ) , estive com Myrtes<br />

Issa e seu cunha<strong>do</strong> Waldemar Issa , com o amigo Pamplona e senhora , com<br />

meu companheiro de natação Eugênio Amaral , com o amigo Roberto Rudge<br />

<strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> internato , José Mariano Carneiro <strong>da</strong> Cunha , José Ayres Neto ,<br />

Caio Moura , Gil Caja<strong>do</strong> de Oliveira , Eduar<strong>do</strong> de Salles Oliveira , Edson


Mace<strong>do</strong> e Eugênio “Pistinguet” Apfelbaun , Coquinho , José Manuel entre<br />

outros tantos .<br />

O momento de maior emoção foi quan<strong>do</strong> relembramos to<strong>do</strong>s aqueles<br />

que já se foram . Então a sau<strong>da</strong>de bateu em nosso peito , com reflexos em<br />

nossos olhos .<br />

Precisei de um “Carro Novo” –<br />

Logo depois de ter vendi<strong>do</strong> e recebi<strong>do</strong> minha parte <strong>da</strong> casa <strong>do</strong><br />

Morumbi , achei que estava na hora de trocar de carro . O meu Gol modelo<br />

1995 já estava com quatro anos de uso e resolvi ir vende-lo na Feira de<br />

Automóveis <strong>do</strong> Anhembi . Cheguei , estacionei e logo na primeira hora ele<br />

estava vendi<strong>do</strong> . Era vermelho , estava realmente bonito e em ótimo esta<strong>do</strong> .<br />

Logo achei compra<strong>do</strong>r .<br />

Quan<strong>do</strong> estava acaban<strong>do</strong> de efetuar o negócio estacionou <strong>do</strong> meu<br />

la<strong>do</strong> um “Fusca”- Cor Prata Metálico . O carrinho não estava somente<br />

maravilhoso mas inteiramente perfeito . Fui falar com o <strong>do</strong>no que explicou<br />

que estava venden<strong>do</strong> o Vokswagen pois comprara um outro ain<strong>da</strong> mais novo<br />

que aquele . Achei que era difícil ser mais novo . Fiquei interessa<strong>do</strong> .<br />

Ele mostrava a pintura perfeita , sem o mínimo arranhão. Por dentro<br />

to<strong>do</strong> estofamento de couro e tapetes praticamente novos . Quan<strong>do</strong> o motor<br />

1.600 foi liga<strong>do</strong> o ronco demonstrava a sua quali<strong>da</strong>de. Um carbura<strong>do</strong>r.<br />

Cambio e suspensão estavam perfeitos . Procurei mas não achei a menor<br />

ferrugem . Tinha os paralamas traseiros com faróis grandes – tipo “Fafá de<br />

Belém” . Os frisos e to<strong>do</strong>s croma<strong>do</strong>s impecáveis . Ro<strong>da</strong>s e pneus novos . O<br />

modelo era 1.976 mas estava tão impecável como um carro “O Km” e<br />

chamava muita atenção .<br />

Achei que se aquele carro tinha ro<strong>da</strong><strong>do</strong> 25 anos e estava naquele<br />

esta<strong>do</strong> maravilhoso , com cui<strong>da</strong><strong>do</strong> que <strong>do</strong>u aos meus carros , ele ro<strong>da</strong>ria mais<br />

25 anos . Assim , o que era importante : - eu nunca mais precisaria mais<br />

pensar em trocar de automóvel . Aquele “ Fusca” seria sempre um “Carro<br />

Novo” para mim .<br />

O preço foi um pouco salga<strong>do</strong> . Um outro <strong>do</strong> mesmo ano custaria<br />

metade <strong>do</strong> que eu estava pagan<strong>do</strong> . Mesmo assim comprei aquele “Carro<br />

Novo” . Neste momento chegou o outro Fusca <strong>do</strong> vende<strong>do</strong>r . Veio com seu<br />

filho . Não só era mais novo . Era praticamente zero quilometro .<br />

Antes de ir embora para casa já tinha muita gente olhan<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong><br />

ofertas pelo carrinho . Poderia ter ganho 15% naquela mesma hora .<br />

Na Segun<strong>da</strong> Feira fui buscar o meu “ Fusca ” . Sai com ele to<strong>do</strong><br />

orgulhoso . Em to<strong>do</strong> lugar que parava tinha gente olhan<strong>do</strong> para o carrinho .


Estou com ele desde o final de 1.999. Só tenho alegrias . Não dá <strong>do</strong>r<br />

de cabeça, nem manutenção . O único problema é gasolina falsifica<strong>da</strong> ,<br />

mistura<strong>da</strong> com “solvente”, que pode detonar o motor <strong>do</strong> “bichinho” .<br />

Até hoje quan<strong>do</strong> estaciono em algum lugar tem gente olhan<strong>do</strong> e<br />

paqueran<strong>do</strong> o “Capitão” . Este é o apeli<strong>do</strong> que dei para ele .<br />

PS- Não posso mais vender o “Capitão” .<br />

Meu netinho Lorenzo , que nasceu em 2003 , agora com 6 anos , viu<br />

e an<strong>do</strong>u no carrinho . A<strong>do</strong>rou o “Capitaõ” . Pediu e eu o dei a ele . Mostrava<br />

felici<strong>da</strong>de até no olhar . Depois disse : “Quan<strong>do</strong> crescer vou levar o<br />

“Capitão” para a Europa comigo”<br />

Ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> <strong>do</strong> Morumbi –<br />

Aconteceu assim : Uma noite de Novembro de 1.999 , Paula ligou de<br />

Singapura e deu duas noticias maravilhosas . Primeira : Estava gravi<strong>da</strong> de um<br />

menino que iria nascer em Junho próximo . Fiquei radiante . A noticia <strong>do</strong><br />

nascimento de um neto é coisa maravilhosa . É a continuação de uma família ,<br />

sem duvi<strong>da</strong> alguma . Paula prometeu que viria ao Brasil meses depois <strong>do</strong><br />

nascimento <strong>da</strong> criança . Prometeu ain<strong>da</strong> que estaria man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> muitas fotos .<br />

A outra noticia foi que : Depois de muita luta sua mãe concor<strong>da</strong>ra<br />

com a ven<strong>da</strong> <strong>da</strong> nossa casa <strong>do</strong> Morumbi . Paula já tinha arranja<strong>do</strong> um<br />

advoga<strong>do</strong> , que também era seu procura<strong>do</strong>r , para tratar <strong>da</strong> papela<strong>da</strong> , posto<br />

que já existia um compra<strong>do</strong>r . O advoga<strong>do</strong> era necessário , uma vez que sua<br />

mãe deixara de pagar impostos <strong>da</strong> casa junto a Prefeitura e o compra<strong>do</strong>r<br />

queria comprar o imóvel para ser comercial .<br />

Assim passou o telefone <strong>do</strong> seu advoga<strong>do</strong> – Dr. Júlio .<br />

No outro dia falei com ele . Depois fui procura<strong>do</strong> para últimos ajustes<br />

e ficamos praticamente acerta<strong>do</strong>s quanto a ven<strong>da</strong> <strong>do</strong> imóvel .<br />

Duas Semanas depois foi marca<strong>da</strong> a escritura de ven<strong>da</strong> à vista .<br />

Compareci e recebi minha parte . Não foi o melhor preço .<br />

Entretanto o imóvel fora definitivamente vendi<strong>do</strong> . Doze ( 12 ) anos<br />

depois <strong>do</strong> que deveria ter ocorri<strong>do</strong> .<br />

Como dinheiro não pode ficar para<strong>do</strong> , fui procurar pequenos<br />

apartamentos para comprar . Eles seriam loca<strong>do</strong>s e <strong>da</strong>riam uma receita mensal.<br />

Comprei pequenos apartamentos em São Paulo . Eles são mais fáceis<br />

de alugar e quan<strong>do</strong> um fica vago os demais ain<strong>da</strong> dão ren<strong>da</strong> . Um só não é<br />

seguro , por maior ou melhor que seja . Se o inquilino falhar é preciso pagar<br />

con<strong>do</strong>mínio e impostos . Não entra ren<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> alguma . Com vários ,<br />

mesmo um falhan<strong>do</strong> , os outros cobrem as despesas . Eles são aptos com <strong>do</strong>is<br />

quartos , sala , copa / cozinha banheiro e vaga de garagem . Alguns tem jardim<br />

e salão de festas .


Com eles , mais o apartamento <strong>da</strong> Av. Angélica , as meninas poderão<br />

ficar com bons apartamentos para ca<strong>da</strong> uma . Acho que <strong>da</strong>rão uma boa aju<strong>da</strong>.<br />

A outra parte <strong>do</strong> dinheiro foi aplica<strong>do</strong> no Banco Itaú . Ain<strong>da</strong> estava<br />

procuran<strong>do</strong> mais um apartamento .<br />

Nascimento <strong>do</strong> Lucca<br />

No dia consagra<strong>do</strong> para Santo Antônio , 13 de Junho de 2.002,<br />

nasceu meu primeiro neto , na ci<strong>da</strong>de de Singapura , filho de Mark Browning<br />

e de minha filha Paula. Recebeu por isto mesmo o nome de Antony Lucca<br />

Marcondes Browning . Antony por que nasceu no dia de Santo Antonio e<br />

Lucca por que foi gera<strong>do</strong> naquela ci<strong>da</strong>de italiana .<br />

To<strong>do</strong> o seu nascimento foi fotografa<strong>do</strong> . Depois disto ele vai aparecer<br />

em fotos com a mãe , o pai e o médico . Nasceu bem compri<strong>do</strong> , parecia mais<br />

o “Pernalonga”. Realmente <strong>do</strong> la<strong>do</strong> físico muito se parece com o pai<br />

A primeira vez que consegui pega-lo deu até tremedeira . Pegar no<br />

colo o primeiro neto é uma responsabili<strong>da</strong>de grande . Na ocasião ele estava<br />

bem gorduchinho e grande . Era seu batismo aqui em São Paulo .<br />

Quan<strong>do</strong> estava com quase 3 anos passei 10 dias com ele em Jersey ,<br />

na casa <strong>do</strong>s avós paternos . Gostava de passear comigo , in<strong>do</strong> até os penhascos<br />

que avistam a França . Depois , ele ficava ven<strong>do</strong> o vôo <strong>da</strong>s gaivotas .<br />

Ate´ hoje não parou de crescer . Puxou o pai que é bem alto . Com<br />

quatro anos usa roupa de sete . Está mesmo enorme . Gosta de brincar comigo<br />

e tem loucura por automóveis pequeninos . Tem ganho uma coleção .<br />

Somente uma vez temi por ele antes de tu<strong>do</strong> mais . Foi quan<strong>do</strong><br />

estivemos juntos em Sry Lanka . Então aconteceu o “Tsunami” . Ele era<br />

minha preocupação em caso <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de salvamento . Hoje já esta<br />

falan<strong>do</strong> razoavelmente bem o português . O que dificulta são as babás que só<br />

sabem falar inglês . Mas seu inglês é perfeito . Assim o esforço dele para<br />

apreender outra língua é bem maior <strong>do</strong> que qualquer outra criança . Mas a mãe<br />

insiste e ele luta para falar nossa língua . Nota : Com um sotaque to<strong>do</strong> seu ...<br />

muito gostoso .<br />

Tem ótimo coração e apesar de ser muito mais forte que qualquer<br />

outro menino nunca os agride . Quan<strong>do</strong> muito os afasta carinhosamente . O<br />

que não pode acontecer é deixa-lo bravo . Então sai de perto ...!<br />

É um menino bonito , com olhos e cabelos castanhos claros , que vai<br />

virar um moço muito charmoso .<br />

A<strong>do</strong>ro este meu neto . É continuação <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong> .<br />

Nascimento de Lorenzo -<br />

Um ano e um mês depois <strong>do</strong> nascimento de Lucca veio ao mun<strong>do</strong><br />

meu segun<strong>do</strong> neto . Grande alegria ! Iria se chamar Lorenzo . Alexandra me<br />

avisou que esperava um bebe quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> batiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu outro neto – Lucca .


Avisou que o parto poderia ser induzi<strong>do</strong> e Lorenzo nasceria no dia <strong>do</strong><br />

aniversário <strong>do</strong> pai – Javier . Foi o que aconteceu em 11 de julho .<br />

Um ano e meio depois de seu nascimento ele veio para São Paulo .<br />

A<strong>do</strong>rei ver aquele moléquinho . Era antes de mais na<strong>da</strong> determina<strong>da</strong>mente<br />

risonho e simpático . Ria quan<strong>do</strong> gostava <strong>da</strong>s pessoas . Nunca sem razão<br />

menor. Tinha e tem olhos extremamente vivos , demonstran<strong>do</strong> desde ce<strong>do</strong><br />

muita inteligência . Gostava de brincadeiras . O dia que ficou comigo e com<br />

Vera foi ao Paulistano e já brincava em vários tipos de brinque<strong>do</strong>s e balanços<br />

para crianças de i<strong>da</strong>de mais avança<strong>da</strong> . Não tinha me<strong>do</strong> . Ele os a<strong>do</strong>ra .<br />

A segun<strong>da</strong> vez que estive mais tempo com ele foi em Menorca , onde<br />

passei duas semanas na casa <strong>do</strong>s pais . Ele já estava com mais de <strong>do</strong>is anos e<br />

gostava de uma farra ou uma brincadeira . Estava sempre alegre . Brigava e<br />

chorava quan<strong>do</strong> a mãe saia de carro sem leva-lo . Da mesma forma quan<strong>do</strong> era<br />

para sair <strong>do</strong> carro, pois queria ficar dentro dele , pegan<strong>do</strong> a direção e fingin<strong>do</strong><br />

que estava guian<strong>do</strong> .<br />

A<strong>do</strong>rava passear de lancha com o pai . Já naquele tempo , com <strong>do</strong>is<br />

anos , falava muito bem . Fazia um esparramo para comer e era necessário<br />

passar um vídeo <strong>do</strong> peixinho “Nemo”, que ele gosta , para poder distrai-lo e<br />

<strong>da</strong>r comi<strong>da</strong> na boca . Achei aquilo erra<strong>do</strong>, pois comer deve ser um ato natural.<br />

Deve ser feito junto a família .<br />

Falei com a Xan<strong>da</strong> . Compramos um cadeirão . Colocamos junto a<br />

mesa <strong>da</strong> casa . Ele então comia comigo e com os pais , com a colher na<br />

própria mão . Comia fazen<strong>do</strong> um pouco de sujeira ( na reali<strong>da</strong>de muita ) ...<br />

mas comia sem chorar e sem precisar ficar olhan<strong>do</strong> na<strong>da</strong> .<br />

A ultima vez que esteve em São Paulo impressionou to<strong>do</strong>s muito<br />

bem. . Agora , com apenas pouco mais de 3 anos , fala perfeitamente três<br />

línguas . Inglês por que a Xan<strong>da</strong> só fala com ele nesta língua . Alem <strong>do</strong> mais<br />

como agora eles estão moran<strong>do</strong> em Londres , fala e apreende o idioma inglês<br />

na escola maternal . Fala o português pois to<strong>do</strong> dia fica e conversa com Maria<br />

sua babá .Ela é brasileira . Espanhol fala com o pai , pois que ele assim exige.<br />

O que é bom . Dentro em pouco estarão voltan<strong>do</strong> para a Espanha . Será<br />

trilingüe perfeito . Falan<strong>do</strong> três línguas sem sotaque .<br />

Quan<strong>do</strong> aqui esteve pela última vez , durante um almoço no<br />

Paulistano , contou que tem uma namora<strong>da</strong> que se chama “Gabi ... Gabriela” .<br />

Xan<strong>da</strong> disse que na escola ele é extremamente paquera<strong>do</strong> por to<strong>da</strong>s<br />

menininhas . O bichinho é malandro , mas quan<strong>do</strong> pergunta<strong>do</strong> responde que<br />

gosta só de Gabi... Gabriela . Seu bicho favorito é um peixe chama<strong>do</strong><br />

“Nemo.” Por isto mesmo ficou to<strong>do</strong> feliz quan<strong>do</strong> lhe dei um “abat-jour”<br />

eletrônico , onde os peixinhos estão com Nemo e parecem na<strong>da</strong>r . Gosta de<br />

ficar olhan<strong>do</strong> antes de <strong>do</strong>rmir .


Aquele meu neto me faz lembrar de um “Edu Moleque” . É outra<br />

continui<strong>da</strong>de de minha vi<strong>da</strong> . Mexe com meu coração .<br />

Os Netos de Vera<br />

Vieram um pouco depois <strong>do</strong>s meus . Foi muito bom , pois até pouco<br />

tempo eu considerava que tinha 4 netos , <strong>do</strong>is diretos e <strong>do</strong>is indiretos . Agora<br />

tenho mais <strong>do</strong>is ... Pedro , filho de Antonio Paulo , e João Paulo filhode Paulo<br />

Henrique . Em segui<strong>da</strong> chegou Mia Francis Marcondes Browning , depois a<br />

Gabriella <strong>do</strong> Antonio Paulo . Esta última é especial . Uma espoleta ,<br />

bonitinha , man<strong>do</strong>na que a to<strong>do</strong>s cativa com sua maneira de ser .<br />

- Mia Francis – Minha Queri<strong>da</strong> Netinha –<br />

Não seria possível começar este novo século sem a chega<strong>da</strong> de uma<br />

menininha na família . Paula me contou que durante a sua gestação ela sempre<br />

foi uma nenezinha muito calma . Nasceu em 2.005<br />

Hoje , como sempre , continua muito tranqüila .<br />

Nasceu de parto normal lá em Seul – Coréia , onde segun<strong>do</strong> minha<br />

filha não é o melhor lugar para se ter filhos . Isto pelas condições rígi<strong>da</strong>s que<br />

lá são impostas pela medicina . Ali a mãe sempre vai sofrer as <strong>do</strong>res de um<br />

parto normal . Cesariana só mesmo em último caso .<br />

Mia nasceu compri<strong>da</strong> , com quase 51 centímetros . Puxou a família<br />

britânica de sua avó Francis . Vai ser bem alta .<br />

Alem <strong>do</strong> mais tem semelhança e to<strong>do</strong> jeito <strong>da</strong>quela sua avó .<br />

Ain<strong>da</strong> está com pouco cabelo que pelo jeito vai ser castanho escuro .<br />

Tem o narizinho arrebita<strong>do</strong> e parece mesmo com aquelas antigas bonequinhas<br />

de porcelana , com a pele muito clarinha . Dá vontade de morder ...<br />

Para mim tem a coisa mais gostosa de beijar : duas bochechas rosa<strong>da</strong>s<br />

e bem forma<strong>da</strong>s . É muito alegre e gosta de <strong>da</strong>nçar no colo <strong>da</strong> gente . Quan<strong>do</strong><br />

aparece um desenho na TV o tempo para . Fica olhan<strong>do</strong> fixamente para a<br />

telinha . Qualquer barulho mais forte no filme ela assusta .<br />

Nunca chora praticamente , nem mesmo para mamar . Se está com<br />

fome fica resmungan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tempo até receber sua mamadeira .<br />

Mia é o complemento que faltava para a minha pequena família .<br />

Deus que a abençoe . Sempre .<br />

.


VIAGENS COM AS FILHAS - EUROPA / ÁSIA<br />

Edu Marcondes<br />

Londres – Silverstone – Menorca – Um Italiano em Menorca – Sono<br />

...muito Sono - Jersey – Lembrança <strong>da</strong> Guerra / Diferente em Jersey – O<br />

<strong>Casa</strong>mento de Paula<br />

Não haviam passa<strong>do</strong>s três meses depois de minha volta de Sry<br />

Lanka , onde estive as voltas com a “Tsunami” , quan<strong>do</strong> recebi ligação de<br />

Londres . Ali era onde agora estavam Javier , Alexandra e meu neto Lorenzo .<br />

Eles residiam temporariamente na Inglaterra , pois o “Santander” havia<br />

adquiri<strong>do</strong> o controle acionário <strong>do</strong> tradicional “Banco Abey” <strong>da</strong> Inglaterra.<br />

Junto com a cúpula espanhola Javier estava trabalhan<strong>do</strong> para sua<br />

devi<strong>da</strong> incorporação no grupo Santander .<br />

O motivo <strong>da</strong>quele telefonema era convite de Javier para que eu<br />

fosse passar as férias de Julho, em Menorca , junto com Alexandra e Lorenzo.<br />

Iria conhecer a casa que eles haviam compra<strong>do</strong> , em um lin<strong>do</strong> con<strong>do</strong>mínio<br />

naquela ilha . Javier explicou que ele somente poderia ir nos fins de semana ,<br />

pois estava com muitos compromissos e obrigações em Londres . Eles não<br />

poderiam ser adia<strong>do</strong>s durante aquelas semanas de Julho .<br />

Antes disso ele desejava que eu fosse primeiramente passar alguns<br />

dias na sua casa de Londres .Teria oportuni<strong>da</strong>de de ir assistir com eles a<br />

“Corri<strong>da</strong> de Formula I em Silverstone” . Ele gosta de “carreras” e é fanático<br />

pelo Fernan<strong>do</strong> Alonso.Sabe que eu também gosto <strong>da</strong>quele piloto espanhol.<br />

Enquanto me preparava para a viagem falei com minha irmã<br />

contan<strong>do</strong> <strong>do</strong> convite .<br />

Dias depois Paula ligou . Então aconteceu outra surpresa . Eu ,<br />

naquele momento , estava sen<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para ir à Jersey, onde Paula e<br />

Mark iriam se casar , agora no religioso . Jersey era onde Mark nascera e<br />

onde residiam seus pais , Francis e Jimmy , e ain<strong>da</strong> seus irmãos .<br />

Isto aconteceria quan<strong>do</strong> eu estaria voltan<strong>do</strong> de Menorca . Achei<br />

ótimo . Também ganharia aquelas passagens . Aceitei o convite . Claro !<br />

Não faltaria por na<strong>da</strong> naquele casamento .<br />

.<br />

No dia <strong>da</strong> viagem , bem na hora de parti<strong>da</strong> , lembrei que não tinha o<br />

endereço de Xan<strong>da</strong> em Londres . Liguei . Por sorte ela estava em casa . O tal<br />

endereço nunca mais saiu de minha cabeça : Ca<strong>do</strong>gan Place , 31 .<br />

O vôo saiu na hora certa . Jantei e <strong>do</strong>rmi a noite to<strong>da</strong> .


LONDRES<br />

- Pela manhã foi esperar a aterrissagem e pegar a mala . Achei que<br />

tu<strong>do</strong> seria rapi<strong>do</strong> . Errei ! Houve muita revista para os passageiros . Como eu<br />

estava de terno , muito elegante , fui poupa<strong>do</strong> . Passei lentamente na<br />

alfândega. Ela estava uma loucura . Só depois soube <strong>do</strong> motivo .<br />

Havia ocorri<strong>do</strong> um grande atenta<strong>do</strong> terrorista em Londres . Os<br />

fiscais ingleses viraram to<strong>da</strong>s as malas <strong>do</strong> avesso . Fui libera<strong>do</strong> .. Finalmente ,<br />

quan<strong>do</strong> cheguei na saí<strong>da</strong> , procurava e tentava arrumar um taxi .<br />

Eu normalmente iria tomar o trem para chegar ao centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Entretanto , naquele dia depois <strong>do</strong> atenta<strong>do</strong> terrorista , as coisas ficaram<br />

nebulosas . Poderiam acontecer novos atenta<strong>do</strong>s . Nunca se sabe . Eu tinha<br />

i<strong>do</strong> para passear . Não esperei mais na<strong>da</strong> e mudei de idéia . Na<strong>da</strong> de coletivos<br />

Esperei . Pouco depois a sorte mu<strong>do</strong>u . Consegui o taxi .<br />

Em menos de uma hora eu estava abraçan<strong>do</strong> minha filha e meu neto.<br />

Entreguei os presentes e fiquei brincan<strong>do</strong> com Lorenzo até que Javier chegou.<br />

Foi me cumprimentan<strong>do</strong> com alegria . Depois fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> e saímos para<br />

jantar em restaurante árabe. Ficava perto <strong>da</strong> casa .<br />

Foi muito agradável , mas não demoramos muito tempo . No outro<br />

dia era dia de trabalho . Fomos para casa . Eu fiquei ven<strong>do</strong> televisão com<br />

Xan<strong>da</strong> . O São Paulo Futebol Clube disputava aquela noite a Copa<br />

Liberta<strong>do</strong>res <strong>da</strong>s Américas . Ganhamos e , com nossa torci<strong>da</strong> , a ca<strong>da</strong> gol<br />

(foram quatro ) acordávamos Javier .<br />

O quarto que reservaram para mim era muito bonito , com grande<br />

cama de casal . Ele se abria para um pátio , cheio de plantas e flores . Varias<br />

noites eu <strong>do</strong>rmi com aquelas portas abertas . Quan<strong>do</strong> houve calor .<br />

Na Sexta Feira fui com Javier passear por to<strong>do</strong> o bairro . Fui ven<strong>do</strong><br />

tu<strong>do</strong> <strong>da</strong> melhor forma , a pé ! É por ali, em “Knightsbridge” , que se situam<br />

as bonitas embaixa<strong>da</strong>s em Londres . Dali , em segui<strong>da</strong> , fomos até a frente <strong>do</strong><br />

castelo <strong>da</strong> Rainha Britânica . Não assistimos a “Troca <strong>da</strong> Guar<strong>da</strong>” .<br />

Depois voltamos , passan<strong>do</strong> pelo “Hide Park” . Chegamos já no<br />

escurecer .<br />

SILVERSTONE<br />

O programa de Sába<strong>do</strong> estava feito desde algum tempo . Logo ce<strong>do</strong><br />

estava um carro esperan<strong>do</strong> para nos levar até Silverstone . O transito foi<br />

terrível . Levamos duas horas para chegarmos até a pista .<br />

Valeu a pena . Vimos os treinos de classificação , tiramos fotos ,<br />

entramos nos “Box de Manutenção” , nota<strong>da</strong>mente aquele <strong>da</strong> “Renault”.<br />

Depois fomos almoçar no Pavilhão de Relações Públicas <strong>da</strong>quela<br />

escuderia francesa , conhecemos os <strong>do</strong>is pilotos , almoçamos com os melhores<br />

vinhos e ganhamos uma malinha <strong>da</strong> Renault . Estava cheia de presentes .


Isto só foi possível pois o “Santander” é uma <strong>da</strong>s empresas<br />

patrocina<strong>do</strong>ras <strong>da</strong> “Renault” .<br />

Alonso se classificou na “pole position”.<br />

Entretanto , resolvemos não enfrentar novamente aquele transito<br />

maluco no Domingo , dia <strong>da</strong> corri<strong>da</strong> . Iriamos assistir a Formula I pela<br />

televisão , em casa , lá naquele gostoso pátio. Mesmo por que Javier estaria<br />

cozinhan<strong>do</strong> maravilhosa “Paella” para nós .<br />

Foi gostoso comer aquela delicia , toman<strong>do</strong> vinho de Espanha e<br />

ven<strong>do</strong> a vitória <strong>do</strong> Alonso . Depois foi só ir <strong>do</strong>rmir a “Siesta” .<br />

Aquela semana seguinte foi muito movimenta<strong>da</strong> . Quase em to<strong>da</strong>s<br />

as manhã , logo ce<strong>do</strong> , eu ia passear no parque que pertencia somente as casas<br />

de “Ca<strong>do</strong>gan Place”. Era um parque particular . Para tanto era preciso entrar<br />

com cartão magnético . O lugar trazia para mim muita calma. Era cheio de<br />

pássaros durante o dia . De raposas pela noite , pois somente depois <strong>do</strong> sol se<br />

por é que elas apareciam .<br />

Fui ao teatro com Alexandra na Terça Feira , assistir “ Guys and<br />

Dolls” , comédia musical <strong>do</strong>s anos 50 . Não gostei . Em outro dia nos<br />

dirigimos ao centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Comprei um conjunto de “Cashemere e Se<strong>da</strong>”<br />

em “Regent Street” e em “Oxford Street” um “Tailleur”. Aqueles eram<br />

presentes para Vera .<br />

Comprei ain<strong>da</strong> um carrinho para o Lucca e outro para Lorenzo .<br />

Na Quarta Feira fui a pé , sozinho até “Victória Station”, na parte<br />

<strong>da</strong> manhã. Depois fui para o Museu de Historia Natural , onde passei a tarde .<br />

Na Quinta Feira pela manhã Alexandra e Lorenzo me levaram para<br />

ver o Parlamento , o Tamisa e aquela enorme Ro<strong>da</strong> Gigante denomina<strong>da</strong> “Eye<br />

of Lon<strong>do</strong>n”. A noite jantamos com to<strong>da</strong> diretoria <strong>do</strong> Santander em Londres .<br />

Na Sexta feira fui com Javier e Xan<strong>da</strong> em uma boate <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> . O<br />

nome , se não me engano , é “Cubanita” ou coisa assim . Só tocava mambo ,<br />

salsas e músicas cubanas . R Este tipo de musica está na mo<strong>da</strong> ... mas não<br />

para meu gosto . Valeu pela boa companhia e para conhecer lugares novos e<br />

famosos .<br />

MENORCA<br />

- Quan<strong>do</strong> Sába<strong>do</strong> chegou Alexandra seguiu com Lorenzo para<br />

Menorca . Ela foi receber a emprega<strong>da</strong> e preparar a casa .<br />

Fui com Javier no Domingo , logo bem ce<strong>do</strong> , em vôo que foi<br />

tranqüilo . Durou apenas 100 minutos . O aeroporto de Menorca não é muito<br />

grande . É porem muito moderno e bonito . Fica em Mahon , capital <strong>da</strong> ilha<br />

espanhola . Alexandra ali já estava com o carro nos esperan<strong>do</strong> .<br />

O verão naquelas ilhas Baleares é bem quente , atingin<strong>do</strong> facilmente<br />

35 / 40 graus em alguns dias . Eles acontecem quan<strong>do</strong> sopra vento quente que


vem <strong>da</strong> África . A temperatura então aumenta . Fora destes dias existe sempre<br />

uma brisa suave , nota<strong>da</strong>mente a noite .<br />

No caminho para casa fiquei admiran<strong>do</strong> as estra<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ilha . São<br />

super sinaliza<strong>da</strong>s . Quase perfeitas , apesar de estreitas . As “Praças<br />

Rotatórias”, nos cruzamentos , obrigavam redução de veloci<strong>da</strong>de e dão<br />

priori<strong>da</strong>des de passagem , muito certas e bem determina<strong>da</strong>s.<br />

A paisagem se alterna em ca<strong>da</strong> quilometro . Muitas vezes com vista<br />

para o mar . Outras aparecen<strong>do</strong> pequenas matas junto a suaves elevações .<br />

Normalmente por ali se encontram bonitas proprie<strong>da</strong>des rurais .<br />

Menorca possui várias e pequenas vilas , espalha<strong>da</strong>s por to<strong>do</strong> seu<br />

território , a maioria na orla marítima . São possui<strong>do</strong>ras de grandes belezas ,<br />

destacan<strong>do</strong> : Saint Luiz , Castell , Ferries , Merca<strong>da</strong>l , Saint Clements e<br />

Ciutadella .<br />

Mahon é sua capital , já na quali<strong>da</strong>de de ci<strong>da</strong>de . É muito bonita ,<br />

principalmente por suas praias e por sua urbanização .<br />

O seu porto , com longa extensão , tem suas <strong>do</strong>cas toma<strong>da</strong>s por<br />

grandes iates internacionais . Do outro la<strong>do</strong> temos uma longa aveni<strong>da</strong> que<br />

separa o porto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de . Ali existe to<strong>do</strong> o tipo de comércio , com bonitas<br />

lojas de roupas elegantes , restaurantes internacionais ou típicos espanhóis ,<br />

exposições de obras de arte , perfumarias, antiquários , lojas de decoração e<br />

tu<strong>do</strong> mais necessário para atender vontades e necessi<strong>da</strong>des de milionários<br />

turistas . Para tanto basta que ele saia <strong>do</strong> iate e atravesse a rua .<br />

Fora disto existem vários museus , teatros , hotéis internacionais ,<br />

praças , campos de golfe , bares e clubes noturnos com música ao vivo . To<strong>do</strong><br />

ano , no mês de Agosto , tem festival de Jazz . Além <strong>do</strong> mais em Mahon<br />

existe Cassino funcionan<strong>do</strong> diariamente .<br />

No que tange ao esporte , são realiza<strong>da</strong>s anualmente competições<br />

internacionais de iatismo , de golfe e de ciclismo .<br />

Por trás <strong>do</strong> porto , nas encostas <strong>da</strong> montanha , ain<strong>da</strong> perto <strong>do</strong> mar ,<br />

Mahon possui muralhas muito eleva<strong>da</strong>s que foram construí<strong>da</strong>s 1.400 AC . Até<br />

hoje estão por lá , algumas intactas e outras semi destruí<strong>da</strong>s .<br />

A ilha conserva as mais antigas obras registra<strong>da</strong>s pela arqueologia<br />

em to<strong>da</strong> Europa . Datam de 4.500 anos aproxima<strong>da</strong>mente . São Túmulos de<br />

pedra em forma de U .<br />

Menorca foi durante quase to<strong>da</strong> sua existência palco de grandes<br />

lutas internacionais pelo seu controle . Por isto possui traços <strong>da</strong>s antigas<br />

culturas fenícia , cartaginesa e grega . Seu <strong>do</strong>mínio passou por muitos povos :<br />

- Romanos , Árabes , Turcos e Aragoneses , sen<strong>do</strong> que estes últimos ,<br />

mediante sua união com Castela em 1492 , formaram a Espanha , atual<br />

detentora <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de de Menorca .


No século XVIII franceses e ingleses tentaram seu <strong>do</strong>mínio e<br />

invadiram seu território . Finalmente em 1802 , pelo “ Trata<strong>do</strong> de Amiens” a<br />

Espanha recebe de volta a ilha <strong>da</strong>s mão <strong>do</strong>s ingleses .<br />

A língua local é deriva<strong>da</strong> <strong>do</strong> Catalão , que já e´ difícil . O<br />

“Minorquim” é mais difícil ain<strong>da</strong> . A salvação é a língua oficial : Espanhol .<br />

A produção <strong>da</strong> ilha é bem típica e especifica : - Gin de Menorca ,<br />

Sapatos tipo Abarcas , Malhas de Algodão e/ou lã , Cereais , Queijo tipo<br />

Mahon , Frutas e Licores de Frutas . A construção naval é bastante<br />

desenvolvi<strong>da</strong> , existin<strong>do</strong> inclusive projeto naval próprio , o qual produz barcos<br />

denomina<strong>do</strong>s “Minorquins ”. Os cascos são bem diferencia<strong>do</strong>s .<br />

De to<strong>da</strong>s as coisas existentes aquela que mais chama atenção é a<br />

cor de seu Mar . Turquesa nas partes mais rasas e Azul Marinho nas mais<br />

profun<strong>da</strong>s . Muito bonito . Dos mais bonitos .<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei na casa de Javier notei que to<strong>da</strong>s as demais , tanto<br />

na região como no con<strong>do</strong>mínio , tinham o mesmo estilo arquitetônico :<br />

Mediterrâneo . A casa possui amplas salas , uma suite , <strong>do</strong>is quartos bons ,<br />

banheiro , copa cozinha e ain<strong>da</strong> tem enormes terraços com mais de 150m2 ,<br />

sen<strong>do</strong> uma parte coberta e outra aberta . Fica em um con<strong>do</strong>mínio horizontal ,<br />

com to<strong>da</strong>s casas bem grandes . Também existe ancora<strong>do</strong>uro próprio dentro <strong>do</strong><br />

con<strong>do</strong>mínio . Javier possui lin<strong>da</strong> lancha ali ancora<strong>da</strong> .O con<strong>do</strong>mínio ain<strong>da</strong> tem<br />

um Clube de Campo com quadras de tênis , enorme piscina , salão de festas e<br />

excelente restaurante na beira <strong>da</strong> piscina .<br />

No dia que chegamos já fomos de lancha para uma praia com pouca<br />

gente e mar lindíssimo , extremamente limpo . Lorenzo foi o <strong>do</strong>no <strong>da</strong> “festa”<br />

na<strong>da</strong>n<strong>do</strong> peladinho . Depois tomamos um almoço leve , prepara<strong>do</strong> por<br />

Alexandra .<br />

Na volta <strong>da</strong>quele passeio fui ataca<strong>do</strong> por um sono irresistível , muito<br />

forte . Eu não sabia por que. Não <strong>da</strong>va para segurar . Dormi até senta<strong>do</strong> na<br />

lancha . Parecia mais um desmaio . To<strong>do</strong> aquele tempo que estive em<br />

Menorca estive com um sono que não era bom . Impossível de segurar . Ele<br />

iria continuar até em Jersey , onde a temperatura era muito mais amena . O<br />

problema não era calor .<br />

Não me sentia muito bem . Javier reparou . Achou que era pelo<br />

vinho toma<strong>do</strong> . Porem , mesmo não toman<strong>do</strong> vinho , não passava aquele sono<br />

e a cabeça continuava pesadíssima .<br />

Comecei a sentir o que nunca existiu para mim em to<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> :<br />

Fraqueza ! Não <strong>do</strong>ía na<strong>da</strong> , mas eu não era o mesmo . Aquilo continuou<br />

mesmo no Brasil .<br />

Depois <strong>da</strong>quela viagem , com calma , analisan<strong>do</strong> a coisa to<strong>da</strong> ,<br />

lembrei que , desde o final de 2004, aquele sono aparecia . No início era bem


pouco , mas aparecia . Sem perceber eu estava perden<strong>do</strong> potência física e<br />

mental .<br />

A coisa chegava silenciosa sem grandes alardes . Já durava mais de<br />

8 meses. . Quan<strong>do</strong> a cabeça pesava eu tinha absoluta necessi<strong>da</strong>de de<br />

<strong>do</strong>rmir. Fosse no cinema , no teatro , em visita , em qualquer lugar .<br />

Somente no início de 2006 , um ano depois , fazen<strong>do</strong> exame de<br />

rotina foi descoberta a causa . Um câncer - Carcinoma - em meu rim esquer<strong>do</strong>.<br />

Porem o primeiro sintoma apareceu bem antes .<br />

Na Sexta feira pela manhã fomos comprar um “Cadeirão” para<br />

Lorenzo . Ele estava muito grande para receber comi<strong>da</strong> na boca , inclusive<br />

fican<strong>do</strong> ven<strong>do</strong> filmes de desenhos anima<strong>do</strong>s . Comer deve ser um ato natural .<br />

Precisava apreender comer conosco . Por conta própria .<br />

Na ci<strong>da</strong>de iríamos encontrar um bom e bonito.<br />

Foi ótimo ! Na hora <strong>do</strong> almoço colocamos o “Cadeirão” ao la<strong>do</strong> <strong>da</strong><br />

mesa , junto <strong>da</strong> gente . Lorenzo ficou senta<strong>do</strong> , com seu prato e sua colher .<br />

Gostou . Primeiro fez o maior esparramo na comi<strong>da</strong> . Mas comeu sozinho .<br />

Quanto quis .<br />

Javier chegou na Sexta Feira pelo fim <strong>da</strong> tarde . Fui com Xan<strong>da</strong> e<br />

Lorenzo recebe-lo no aeroporto . Aquele seria meu último fim de semana em<br />

Menorca . Já havia recebi<strong>do</strong> inclusive as passagens aéreas providencia<strong>da</strong>s por<br />

Paula . Praticamente já estava com as malas arruma<strong>da</strong>s .<br />

Como sempre Javier , muito gentil , tinha reserva<strong>do</strong> mesa no<br />

restaurante mais charmoso <strong>da</strong> ilha . Ficava no porto de Mahon . O jantar seria<br />

típico espanhol . Tinha início por volta <strong>da</strong>s 8 horas <strong>da</strong> noite e não tinha tempo<br />

para acabar .<br />

Começava com drinques e com “tapas” picantes , para abrir o<br />

apetite . Depois vinha a sala<strong>da</strong> . A seguir o vinho , muito bem escolhi<strong>do</strong> , que<br />

iríamos tomar . Então aparecia o primeiro prato . Finalmente o prato principal.<br />

Fora a sobremesa , o café e o licor para arrematar .<br />

Somente lá pelas 23 horas estávamos voltan<strong>do</strong> para casa .<br />

Eles foram deitar . Eu fiquei sozinho no terraço , com uma enorme<br />

Lua Cheia . Ela deixava o mar brilhan<strong>do</strong> na cor laranja . Fiquei com sau<strong>da</strong>des<br />

<strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong>s amigos<br />

Domingo , bem ce<strong>do</strong> , sai com Lorenzo e fomos até a praia em<br />

frente <strong>da</strong> casa .. Ficamos an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> um pouco por ali . Depois resolvi voltar ,<br />

antes que Xan<strong>da</strong> acor<strong>da</strong>sse e , não ven<strong>do</strong> o filho , fosse “<strong>da</strong>r a bronca”.


Depois <strong>do</strong> almoço preparei minha roupa , fechei a mala e fiquei<br />

esperan<strong>do</strong> a hora de ir com Xavier para o aeroporto . Quan<strong>do</strong> chegou o<br />

momento Xan<strong>da</strong> nos levou . Foi difícil ter de me despedir dela e de meu neto .<br />

Logo o avião subiu . Fiquei com meus pensamentos .Javier <strong>do</strong>rmiu .<br />

Eu iria ficar to<strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Feira em Londres . Assim tinha de ser<br />

pois meu vôo para Jersey sairia de Londres , na Terça Feira , as 7,30 <strong>da</strong><br />

manhã. .<br />

Eu já tinha contrata<strong>do</strong> um taxi , que servia Alexandra , para me<br />

pegar as 5,30 horas . Eles eram pontuais e de confiança .<br />

Ao anoitecer Javier passou para me pegar . Fomos jantar com seu<br />

Presidente . Foi muito agradável .Agradeci a gentileza <strong>do</strong> convite e me<br />

coloquei a disposição <strong>da</strong>quele senhor para qualquer coisa no Brasil .<br />

Antes de <strong>do</strong>rmir fiz minhas despedi<strong>da</strong>s e agradecimentos ao Javier .<br />

Por sair muito ce<strong>do</strong> não mais iria vê-lo naquela oportuni<strong>da</strong>de .<br />

JERSEY<br />

Quan<strong>do</strong> cheguei ao salão <strong>do</strong> Aeroporto , a primeira coisa que vi foi<br />

um menino corren<strong>do</strong> para mim . Era Lucca que tinha cresci<strong>do</strong> muito mesmo .<br />

Alem <strong>do</strong> mais ficara muito mais bonito .<br />

Minha alegria foi grande em poder abraçar to<strong>da</strong> aquela parte de minha<br />

família . Estes momentos ficam inesquecíveis .<br />

Dali eles me levaram para conhecer um pouco de Jersey . Seu mar e<br />

bem azul e a ilha tem várias praias . É lugar muito bom para veleiros , pois<br />

existem muitos . No topo de uma montanha ao la<strong>do</strong> de muitas casas na beira<br />

<strong>do</strong> mar e de uma praia existe um grande e maravilhoso castelo chama<strong>do</strong> :<br />

“L’Orgueil” ( O Orgulho) . A ilha é uma <strong>da</strong>s regiões mais flori<strong>da</strong>s que já<br />

conheci . Tem vasos com vários tipos de flores por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s.<br />

Jersey está localiza<strong>da</strong> no Canal <strong>da</strong> Mancha , ten<strong>do</strong> ao seu la<strong>do</strong> uma ilha<br />

irmã : Guernesey . Fica treze milhas <strong>da</strong>s costas <strong>da</strong> Normandia – França .<br />

Pertenceu aquela nação até as guerras Napoleônicas . Depois passou para a<br />

Inglaterra . A ci<strong>da</strong>de é to<strong>da</strong> corta<strong>da</strong> de estra<strong>da</strong>s bem calça<strong>da</strong>s e estreitas.<br />

Muitas delas sombrea<strong>da</strong>s por grandes arvores .<br />

Existem várias locali<strong>da</strong>des que formam pequenas vilas .<br />

A sua Capital é Saint Helier . Bonita , flori<strong>da</strong> , cheia de lojas e de<br />

restaurantes , onde se come peixa<strong>da</strong>s maravilhosas . O interessante é que<br />

quase to<strong>do</strong>s restaurantes pertencem a portugueses que vivem na ilha . Eles<br />

também são os <strong>do</strong>nos <strong>do</strong>s principais navios de pesca de Jersey . A Ilha deve<br />

ter mais de 10% de portugueses . Falei muito em português em Jersey .


Depois de um giro pela ci<strong>da</strong>de Mark me levou para conhecer a casa de<br />

sua mãe – Francis e seu mari<strong>do</strong> Jimmy. Fica fora <strong>do</strong> perímetro urbano .Os<br />

<strong>do</strong>is foram muitos simpáticos comigo . Por eles fui leva<strong>do</strong> até meu quarto .<br />

Em frente <strong>da</strong> casa existe um típico pasto de Ga<strong>do</strong> Jersey – originário<br />

<strong>da</strong>quela ilha . São de cor castanha , não muito grandes e são os reis <strong>do</strong> bom<br />

leite . O pasto não é grande , ten<strong>do</strong> 200 x 200 metros , com arvores e abrigos<br />

para o ga<strong>do</strong> . Eles recebem ração em horas certas , mas vivem soltos . Ficam<br />

confina<strong>do</strong>s apenas por uma cerca elétrica .<br />

Não muito longe <strong>da</strong>quela residência ficam os “Riffs”- Penhascos , de<br />

onde é possível avistar to<strong>da</strong> a costa <strong>da</strong> Normandia . Fui vários dias an<strong>da</strong>n<strong>do</strong><br />

até lá , em companhia <strong>do</strong> Lucca . Bem no topo , lá em cima , tem uma<br />

“Camionete- Lanchonete” onde sempre meu neto ganhava um sorvete.<br />

O clima <strong>da</strong> ilha é muito agradável atrain<strong>do</strong> sempre muitos turistas ,<br />

principalmente no verão quan<strong>do</strong> <strong>do</strong>bra sua população .<br />

Vem gente de to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> .<br />

Nos próximos dias fui conhecer os irmão de Mark , suas esposas e seus<br />

sobrinhos . Foram to<strong>do</strong>s muito simpáticos comigo .<br />

Lembranças <strong>da</strong> Guerra - Algo Diferente em Jersey<br />

Naqueles dias em que fui conhecen<strong>do</strong> Jersey senti que existia alguma<br />

coisa de diferente na ilha . Não gostam de ser chama<strong>do</strong>s de ingleses , mesmo<br />

porque são “britânicos” . Eles se auto denominam de “islanders”. Não<br />

hasteiam a bandeira “Union Jack” – aquela que é azul- vermelha e branca ,<br />

feita com listas diagonais e cruza<strong>da</strong>s . Ela que é vista em to<strong>do</strong>s lugares <strong>da</strong><br />

Inglaterra . Hasteiam a bandeira branca com listas diagonais vermelhas<br />

cruza<strong>da</strong>s pelo meio , que é a bandeira de Jersey.<br />

Conversa <strong>da</strong>qui , se pergunta <strong>da</strong>li , pega-se uma frase acolá , escutamos<br />

fatos isola<strong>do</strong>s , lemos em <strong>do</strong>cumentos um pouco <strong>do</strong>s acontecimentos sobre a<br />

IIª Guerra Mundial e , subitamente, quan<strong>do</strong> ligamos os fatos , acabamos por<br />

entender as várias razões para este procedimento generaliza<strong>do</strong> de prevenção<br />

contra os ingleses . As causas foram e ain<strong>da</strong> são muitas :<br />

1º-) Por ser Membro <strong>da</strong> “Comuni<strong>da</strong>de Britânica” Jersey sempre pagou<br />

Impostos para a Inglaterra , destina<strong>do</strong>s a defesa de sua terra ;<br />

2º-) Quan<strong>do</strong> os exércitos ingleses foram bati<strong>do</strong>s na França , o Governa<strong>do</strong>r de<br />

Jersey inquiriu o Ministro de Defesa <strong>da</strong> Inglaterra , sobre o que seria realiza<strong>do</strong><br />

para defender Jersey ;<br />

3º-) Naquela semana Churchill comunica : “ Jersey não será defendi<strong>da</strong>” !<br />

4º-) Naquele mesmo dia to<strong>da</strong>s as tropas inglesas estaciona<strong>da</strong>s em Jersey foram<br />

embarca<strong>da</strong>s para a Inglaterra , com to<strong>do</strong>s seus armamentos ;


5º-) Sem meios de defesa o povo de Jersey sentiu-se aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> . Os<br />

descendentes de ingleses tentaram fugir <strong>da</strong> ilha . Alguns conseguiram .Os<br />

demais , com os descendentes de franceses , celtas e de outras raízes , que<br />

eram a grande maioria , não tinham para onde ir;<br />

6º-) Os ingleses , como seria necessário pelas leis internacionais , não<br />

comunicaram que Jersey ficará Sem Defesa e se tornara “ Ci<strong>da</strong>de Aberta”. Isto<br />

pouparia vi<strong>da</strong>s e destruição . Mas era parte de sua estratégia esconder a<br />

ocorrência . Os alemães , desconhecen<strong>do</strong> o fato , bombardeiam Saint Helier e<br />

La Rocque , em 28 de junho ;<br />

7º-) Somente <strong>do</strong>is dias depois <strong>do</strong> bombardeio , por causa <strong>da</strong> mortes ocorri<strong>da</strong>s,<br />

a Inglaterra ,através <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s que na época era neutro , comunicam<br />

sua sai<strong>da</strong> de Jersey . No mesmo dia a BBC comunica o fato para o Mun<strong>do</strong> ;<br />

8º-) A Alemanha através de folhetos informa que desejava entrar<br />

pacificamente em Jersey . Pedia que a resposta viesse através de bandeiras<br />

brancas . Elas elas surgiram aos milhares de to<strong>da</strong>s as janelas . Não tinham<br />

outra opção pois estavam desarma<strong>do</strong>s, desmotiva<strong>do</strong>s e aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s ;<br />

9º-) Poucos dias depois os alemães já estavam chegan<strong>do</strong> a ilha pacificamente.<br />

Parte <strong>da</strong> Grã Bretanha havia si<strong>do</strong> toma<strong>da</strong> sem luta ;<br />

10º-) Durante 5 anos os habitantes <strong>da</strong> ilha ficam na condição de povo<br />

invadi<strong>do</strong>, com governo estrangeiro e ten<strong>do</strong> sua terra toma<strong>da</strong> ;<br />

Não termina com a invasão alemã os problemas de Jersey<br />

11º-) Quan<strong>do</strong> em Junho de 1.944 as tropas alia<strong>da</strong>s invadem a Normandia, Os<br />

habitantes de Jersey ouvem o ronco <strong>do</strong>s aviões , o troar <strong>do</strong>s canhões e as luzes<br />

<strong>da</strong>s explosões durante a noite . Acreditam que em breve serão liberta<strong>do</strong>s .<br />

Porem Junho se torna Julho . Logo chega Agosto . O barulho <strong>da</strong>s batalhas<br />

some de vez . Tu<strong>do</strong> foi para frente . Somente eles ficaram , sozinhos e<br />

<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelos invasores ;<br />

12º-) Com a toma<strong>da</strong> <strong>da</strong> França pelos alia<strong>do</strong>s as Comunicações e o<br />

Recebimento de Remédios e Provisões ficam muito mais difícil . Começa a<br />

faltar remédios e medicamentos para os velhos e crianças . A Inglaterra não<br />

permite que sejam envia<strong>do</strong>s suprimentos para Jersey . Alguns remédios são<br />

consegui<strong>do</strong>s por coman<strong>do</strong>s alemães , eles que sain<strong>do</strong> de Jersey , atacam bases<br />

alia<strong>da</strong>s durante a madruga<strong>da</strong> nas costas <strong>da</strong> França ;<br />

13º-) Somente por muita insistência <strong>da</strong> Cruz Vermelha a Inglaterra permite<br />

que o Navio “Vega” , com bandeira <strong>da</strong> Cruz Vermelha , leve remédios e<br />

suprimentos essenciais para Jersey ;<br />

14º-) O pior acontece quan<strong>do</strong> a insensibili<strong>da</strong>de de Churchill determina : Não<br />

haverá mais suprimentos para Jersey . Ele escreve em seu diário :<br />

- “ Deixem Jersey ficar na miséria !”


15º-) A II ª Guerra Mundial termina em 6 de maio de 1.945 . Menos para os<br />

habitantes de Jersey . Os ingleses não tomam a menor providencia no que diz<br />

respeito a ilha . Não dão o menor sinal de vi<strong>da</strong> ! Por mais incrível que pareça ,<br />

no dia 8 de Maio os alemães e os “islanders” de Jersey ouvem juntos , na<br />

principal Praça de Saint Helier , o “Discurso <strong>da</strong> Vitória “ de Churchill . Os<br />

alemães pretendem se entregar , só não sabem para quem !<br />

16º-) Somente três dias depois , em 9 de Maio , vai ser possível a rendição <strong>do</strong>s<br />

alemães de Jersey . Os alia<strong>do</strong>s a bor<strong>do</strong> <strong>do</strong> “Destroyer Bul<strong>do</strong>g” , recebem<br />

naquele dia a rendição <strong>do</strong>s generais alemães .<br />

Estes fatos , passa<strong>do</strong>s mais de 60 anos , não foram esqueci<strong>do</strong>s até hoje<br />

pelo habitantes de Jersey . Eles não falam nem reclamam diretamente , mas<br />

com muita classe e muita firmeza sempre demonstram , até diariamente , o seu<br />

descontentamento . É só prestar atenção :<br />

A-) Tu<strong>do</strong> o que existe ou aconteceu dentro de Jersey , no tempo <strong>da</strong><br />

ocupação alemã , que chamava a ilha de “Muralha <strong>do</strong> Atlantico”está<br />

Perfeitamente Conserva<strong>do</strong> e Organiza<strong>do</strong> por duas associações . Elas se<br />

denominam :“Chanel Islands Ocupation Society” e “Jersey War Tunnel” .<br />

Em sua sedes existentes , ao la<strong>do</strong> de um hospital que foi cava<strong>do</strong> nas<br />

montanhas , eles tem to<strong>do</strong>s os Arquivos <strong>da</strong> Guerra feitos pelos alemães , Fotos<br />

<strong>da</strong> Guerra na região , Documentos Alemães , Plantas <strong>da</strong> colocação <strong>do</strong>s<br />

Armamentos Pesa<strong>do</strong>s , <strong>da</strong>s Construções <strong>do</strong>s “Bunkers” , Relatórios sobre<br />

Munições , Relação <strong>do</strong>s prisioneiros e muitas outras coisas de grande<br />

importância . Assim guar<strong>da</strong><strong>do</strong>s e preserva<strong>do</strong>s nunca o que aconteceu será<br />

esqueci<strong>do</strong>. Eles fazem história .Obs To<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos que comprovam<br />

esta minha narrativa foram consegui<strong>do</strong>s junto aquelas Associações ;<br />

B-) O Hospital Militar Alemão , denomina<strong>do</strong> “H 8” , construí<strong>do</strong><br />

dentro de túneis cava<strong>do</strong>s na rocha de uma montanha , continua perfeitamente<br />

preserva<strong>do</strong> , mas inoperante .<br />

Virou com tu<strong>do</strong> que possuía Museu de Sofrimento <strong>do</strong>s Islanders.<br />

Lá ain<strong>da</strong> estão as mesas cirúrgicas , os laboratórios , as salas de tratamentos ,<br />

as os uniformes de médicos e enfermeiras alemãs , as Bandeiras com a<br />

Suástica , Far<strong>da</strong>s Nazistas e os Arquivos de Pacientes ;<br />

C-) To<strong>da</strong>s as construções militares edifica<strong>da</strong>s pelos alemães estão<br />

preserva<strong>da</strong>s perfeitamente . Visitan<strong>do</strong> os “Bunkers” , interliga<strong>do</strong>s por<br />

Corre<strong>do</strong>res Subterrâneos , será possível encontrar : Capacetes , Armas ,<br />

Far<strong>da</strong>s, Bandeiras Nazistas , Quepis nazistas e <strong>do</strong>rmitórios . Alem disto o que<br />

mais impressiona são : Os Tuneis ligan<strong>do</strong> os Centros de Artilharia / Canhões ,<br />

os Trilhos para envios <strong>da</strong> munição , as <strong>Casa</strong>matas , As Torres de Observação ,


as Fortificações feitas em Concreto . Em to<strong>do</strong>s locais as bandeiras com<br />

suástica estão como foram encontra<strong>da</strong>s .<br />

D-) O “Ingresso para Visitas” para estas diversas áreas são “Cópias<br />

<strong>da</strong>s Carteiras de Identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong>s “Islanders ” forneci<strong>da</strong>s pelos alemães , durante<br />

a ocupação de Jersey . To<strong>do</strong>s os porta<strong>do</strong>res <strong>da</strong>queles <strong>do</strong>cumentos copia<strong>do</strong>s<br />

morreram na guerra . Eles continuarão a divulgar continua<strong>da</strong>mente os<br />

sofrimentos , a fome, e to<strong>da</strong>s as necessi<strong>da</strong>des possíveis que passaram os<br />

habitantes de Jersey, sem o menor apoio <strong>do</strong>s ingleses . Estiveram sós .<br />

E-) Tu<strong>do</strong> isto é manti<strong>do</strong> para lembrança <strong>do</strong>s ingleses e conhecimento<br />

de turistas de muitos países . Porem mais um fato impressiona . Apesar <strong>da</strong><br />

língua oficial ser inglesa , to<strong>da</strong>s as Ruas , Aveni<strong>da</strong>s , Estra<strong>da</strong>s , Praças , Locais<br />

e Edificios Públicos possuem Nomes Franceses , escritos em Francês . Os<br />

“islanders” fazem questão <strong>da</strong> perfeita pronuncia quan<strong>do</strong> falam aqueles nomes .<br />

O <strong>Casa</strong>mento de Paula<br />

Dois dias antes <strong>do</strong> casamento fui conhecer o Castelo onde aconteceria<br />

o casamento . Era muito bonito , cerca<strong>do</strong> por um jardim esplendi<strong>do</strong> . Ali<br />

aconteceria to<strong>da</strong> a cerimônia e o almoço . Paula e Mark ficariam no Castelo<br />

por <strong>do</strong>is dias após a festa <strong>da</strong> cerimônia de despedi<strong>da</strong> que seria ali mesmo<br />

realiza<strong>da</strong> , em Sala Especial .<br />

As ultimas providencias foram : A compra <strong>da</strong> roupa branca <strong>do</strong> Lucca<br />

e a compra <strong>do</strong>s lenços e gravatas <strong>do</strong>s padrinhos .<br />

No dia <strong>do</strong> casamento fui com Lucca , Francis e Jimmy para o castelo .<br />

A cerimônia seria realiza<strong>da</strong> as 13,00 horas .<br />

Um orgão abriu a cerimônia .<br />

Eu levei Paula até o altar e a deixei com Mark . Ali já estavam os<br />

padrinhos <strong>do</strong>s noivos . Lucca que levava as alianças logo depois apareceu.<br />

Em segui<strong>da</strong> entregou as alianças para o pai . Foi muito bonito .<br />

Graças a Deus a cerimônia foi to<strong>da</strong> elegante e muito rápi<strong>da</strong> .<br />

No final fiquei conversan<strong>do</strong> com uma Juíza de Jersey . Convidei - a<br />

para o almoço junto aos noivos . Ela não aceitou . Alegou outros<br />

compromissos.<br />

Os convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s já estavam nas mesas comemoran<strong>do</strong> . Quan<strong>do</strong> cheguei<br />

até lá fui convi<strong>da</strong><strong>do</strong> para fazer um discurso . Como não estava prepara<strong>do</strong> e fui<br />

toma<strong>do</strong> de surpresa, apenas falei <strong>da</strong>s minhas dificul<strong>da</strong>des em fazer um bom<br />

discurso em inglês . Desejei Saúde e Felici<strong>da</strong>des aos noivos , tanto em<br />

Inglês como em Português . Fui aplaudi<strong>do</strong> . Surpresa agradável .<br />

No fim <strong>da</strong> tarde , depois de muitas fotografias , beijos e abraços ,<br />

foram feitas as despedi<strong>da</strong>s aos noivos . Naquele instante Paula fez o<br />

“lançamento de seu buquet de flores” . Ela estava muito feliz .


Isto alegrava meu coração .<br />

Três dias depois eu estava me despedin<strong>do</strong> <strong>da</strong> minha filha , de seu<br />

mari<strong>do</strong> Mark e de meu netinho Lucca . Com eles mais Jimmy e Francis fui<br />

leva<strong>do</strong> para o aeroporto .<br />

Iria para Londres e de lá para o Brasil .<br />

Estaria com minhas filhas e meus netos ... na lembrança .


“ TSUNAMI ”<br />

Edu Marcondes<br />

Viagem para Sri Lanka /Ceilão – An<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nos “Tuc-Tuc”- Chega<strong>da</strong> <strong>do</strong><br />

Tsunami – Muita Destruição - Fuga para Mosteiro Budista / Colombo –<br />

A Caminho <strong>da</strong>s Montanhas / Seguiria – Mu<strong>da</strong>nça Temporária de<br />

Filosofia<br />

Paula nos surpreendeu em nossa viagem para a China . Logo<br />

anunciou que iríamos passar o Natal e Ano Novo em Sri Lanka . Estaríamos<br />

ain<strong>da</strong> visitan<strong>do</strong> sua amiga Sharlene , em sua casa na Praia de Bentota .<br />

A viagem para o Ceilão foi rápi<strong>da</strong> e gostosa , apesar de pequeno<br />

problema com o visto de embarque para lá .<br />

Chegamos pelo anoitecer e fomos direto para uma <strong>Casa</strong> Colonial<br />

inglesa . Ela é muito antiga e bonita . Fomos logo depois para a Ceia de Natal<br />

que iria acontecer na casa de Sharlene . Tu<strong>do</strong> aquela noite foi muito agradável.<br />

O outro dia , aquela manhã de 26 de Dezembro de 2004<br />

amanheceu muito bonita na praia de Ambentota - Sri Lanka , com céu azul<br />

muito límpi<strong>do</strong> e suave brisa vin<strong>da</strong> <strong>do</strong> mar .<br />

Naquele mesmo dia meu pai estaria comemoran<strong>do</strong> 100 anos .<br />

Rezei pela sua alma e pedi sua benção .<br />

Por volta <strong>da</strong>s nove horas tomei um suco de laranja e fui levar<br />

minha filha Paula até a praia . Ela ficava logo em frente <strong>da</strong> <strong>Casa</strong> Colonial , em<br />

segui<strong>da</strong> de um grande coqueiral existente .<br />

Íamos em busca de meu netinho Lucca e de Vera Lucia . Não<br />

sabia perfeitamente onde estavam . Eles tinham i<strong>do</strong> logo ce<strong>do</strong> fazer castelos<br />

na areia . Contu<strong>do</strong> não seria difícil encontra-los pois as praias ali eram<br />

freqüenta<strong>da</strong>s normalmente por poucas pessoas .<br />

Aqueles dias nas praias <strong>do</strong> antigo Ceilão seriam o fecho de ouro<br />

para aquelas maravilhosas férias que Paula e Mark nos estavam<br />

proporcionan<strong>do</strong> . Havíamos esta<strong>do</strong> antes por vários lugares <strong>da</strong> China .<br />

Quan<strong>do</strong> começávamos voltar <strong>da</strong> praia ain<strong>da</strong> não sabíamos , nem<br />

tínhamos a menor idéia , mas naquela hora “ Ele” – o Tsunami ,<br />

silenciosamente , já estava a caminho <strong>do</strong> litoral de Sri Lanka . Aquelas on<strong>da</strong>s<br />

gigantes iriam trazer muita destruição . Muita desolação . Muita tristeza .<br />

Entretanto , como o homem põe mas Deus dispõe , por nossa<br />

sorte havíamos si<strong>do</strong> convi<strong>da</strong><strong>do</strong>s para aperitivos e almoço na nova casa de<br />

Sharlene . Ela era amiga de Paula desde o tempo em que minha filha morou<br />

em Cingapura .


Não ficaríamos muito mais tempo naquela praia onde então<br />

estávamos . Assim sen<strong>do</strong> , depois de meia hora , já estávamos na casa<br />

colonial trazen<strong>do</strong> meu netinho de 2 anos e Vera Lúcia .<br />

Para não atrasarmos ao encontro , rapi<strong>da</strong>mente fomos tomar<br />

banho e trocar de roupa . Roupa leve pois o calor era grande . Já estava<br />

chegan<strong>do</strong> a hora de irmos para a casa de Sharlene .<br />

An<strong>da</strong>n<strong>do</strong> nos “Tuc- Tuc” .<br />

Pouco tempo depois chegaram os <strong>do</strong>is pequeninos veículos ,<br />

denomina<strong>do</strong>s localmente de “Tuc –Tuc”, que meu genro Mark chamara .<br />

Ele , Paula e Lucca , como ficaram prontos primeiro , saíram<br />

primeiro , logo em segui<strong>da</strong> . Vera Lucia , para variar , havia se atrasa<strong>do</strong> um<br />

pouco , por isso sairíamos logo depois . Eu gostava de an<strong>da</strong>r naquele<br />

pequenino triciclo , com motor de motocicleta , muito comum em to<strong>da</strong>s as<br />

regiões <strong>do</strong> Oceano Índico . O nome “Tuc –Tuc” vinha <strong>do</strong> barulho que fazia<br />

seu motor .<br />

Para chegarmos até a nova casa de Sharlene levaríamos 10<br />

minutos . Ela fora construí<strong>da</strong> , com mais outras duas , forman<strong>do</strong> uma pequena<br />

vila , logo mais adiante , na mesma praia de Ambentota . As três residências<br />

formavam um belo conjunto , coroa<strong>do</strong> com uma longa piscina situa<strong>da</strong> em um<br />

jardim em frente as casas e com bonita vista para o mar azul .<br />

O lugar era além <strong>do</strong> mais muito agradável , cheio de altíssimos<br />

coqueiros que <strong>da</strong>vam diferentes e bonitos cocos , de casca inteiramente<br />

amarela , típicos de to<strong>da</strong> Sri Lanka . Também no jardim não faltavam esquilos<br />

de rabo pelu<strong>do</strong> , muito comuns naquela região . A casa ain<strong>da</strong> não estava<br />

inteiramente pronta pois faltavam alguns detalhes em sua decoração .<br />

Lembrava então que ali , no dia anterior , em grupo composto por<br />

26 pessoas , algumas locais e outras oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Austrália , Nova Zelândia ,<br />

Gran Bretanha e Brasil , tivéramos um agradável almoço de Natal .<br />

Naquele grupo estavam ain<strong>da</strong> os pais , tios , o irmão de Sharlene<br />

com sua namora<strong>da</strong> . Quase to<strong>do</strong>s presentes eram amigos desde alguns anos<br />

pois se conheciam de Cingapura . Gostavam de Paula e nos tratavam com<br />

simpatia . Naquele anoitecer natalino , ven<strong>do</strong> tanta gente , lembrei e senti<br />

falta de meus pais e parentes faleci<strong>do</strong>s . Rezei por eles .<br />

Agora , ain<strong>da</strong> dentro <strong>do</strong> “Tuc-Tuc” , quan<strong>do</strong> estávamos quase<br />

chegan<strong>do</strong> , após uma pequena curva naquela estra<strong>da</strong> que contornava a praia ,<br />

para surpresa nossa encontramos um trecho <strong>da</strong> estreita ro<strong>do</strong>via inteiramente


molha<strong>do</strong> . Molha<strong>do</strong> e muito bem molha<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s . A água<br />

remanescente na estra<strong>da</strong> brilhava ao sol como milhares de diamantes .<br />

Estranhamos muito pois não existia a menor possibili<strong>da</strong>de de<br />

haver chovi<strong>do</strong> . O céu continuava límpi<strong>do</strong> e totalmente azul . Muito azul .<br />

Logo depois vi ajuntamento de pessoas . Vi gente corren<strong>do</strong> mas<br />

não dei muita importância . Já estávamos chega<strong>do</strong> e eu separava as “rúpias”<br />

para pagar a corri<strong>da</strong> no “Tuc –Tuc”. Vera brincou dizen<strong>do</strong> que ali realmente a<br />

estra<strong>da</strong> fora bem lava<strong>da</strong> . Inteiramente muito bem lava<strong>da</strong> com muita água .<br />

Sem saber estávamos passan<strong>do</strong> pelo local onde a primeira on<strong>da</strong><br />

“Tsunami” havia atingi<strong>do</strong> aquele litoral . Ela adentrara pela praia , passara por<br />

cima <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e atingira a mata <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> . Isto aconteceu , pois ali ,<br />

naquele trecho , o relevo <strong>da</strong> praia local era realmente muito baixo , não ten<strong>do</strong><br />

mais de <strong>do</strong>is metros de altura entre o piso <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> e o preamar , ou seja : de<br />

onde as on<strong>da</strong>s normalmente se quebram na praia e aquele trecho <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> .<br />

Chega<strong>da</strong> <strong>do</strong> Tsunami<br />

Pouco depois o “Tuc-Tuc” parou e paguei motorista . Quan<strong>do</strong><br />

começamos entrar na casa percebi , olhan<strong>do</strong> para o jardim e para o mar , que<br />

algo inusita<strong>do</strong> acontecia . A larga faixa <strong>da</strong> praia já havia desapareci<strong>do</strong> em to<strong>da</strong><br />

sua extensão , debaixo de enormes e fortes on<strong>da</strong>s que o mar estava trazen<strong>do</strong> .<br />

Elas , fazen<strong>do</strong> muita espuma , estavam agora começan<strong>do</strong> entrar pelo jardim .<br />

Uma segun<strong>da</strong> grande on<strong>da</strong> , muito forte , bateu na cerca <strong>da</strong> casa<br />

logo depois. Agora o mar , no seu violento recuo , estava levan<strong>do</strong> com seu<br />

repuxo um barco de pesca (e ele não era pequeno ) que ain<strong>da</strong> ontem servira de<br />

cenário para fotos que tiráramos naquele por <strong>do</strong> sol . A larga praia de<br />

Ambentota estava momentaneamente inteiramente desapareci<strong>da</strong> . Fiquei<br />

preocupa<strong>do</strong> . Nunca tinha visto aquele tipo de maré em tantos anos que<br />

passara em praias .<br />

Rapi<strong>da</strong>mente fomos <strong>do</strong> jardim para casa . Ain<strong>da</strong> deu para tirar<br />

algumas fotos , pois logo depois mais outra on<strong>da</strong> enorme já atingia o terraço e<br />

cobria a piscina com violência incrível .<br />

Ain<strong>da</strong> ontem eu brincara ali com Lucca . A piscina subitamente<br />

ficou escura , coberta de água e areia , com to<strong>da</strong> sujeira que o mar trouxe . As<br />

on<strong>da</strong>s agora tinham de tu<strong>do</strong> : paus , cocos , plásticos e to<strong>da</strong> espécie de coisas<br />

encontra<strong>da</strong>s nas praias . Tu<strong>do</strong> surgia e desaparecia dentro <strong>da</strong> força <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s ,<br />

o que já era assusta<strong>do</strong>r . Mais assusta<strong>do</strong>r era o forte barulho que faziam .<br />

Naquele momento aquelas on<strong>da</strong>s praticamente já elevaram to<strong>do</strong> o mar para<br />

uma altura de mais três metros . Iriam elevar ain<strong>da</strong> mais .<br />

Percebi que as próximas on<strong>da</strong>s deveriam certamente invadir a<br />

parte térrea <strong>da</strong> casa . To<strong>do</strong>s que estavam no la<strong>do</strong> de fora <strong>da</strong> casa correram


para dentro . As mulheres e crianças passaram rapi<strong>da</strong>mente para o an<strong>da</strong>r<br />

superior . Ain<strong>da</strong> vi quan<strong>do</strong> Vera , Paula e Lucca subiam a esca<strong>da</strong> juntamente<br />

com a babá Cora . Logo em segui<strong>da</strong> a on<strong>da</strong> que chegou molhou o piso de<br />

to<strong>da</strong>s as salas . Ain<strong>da</strong> lavou meus pés com força .<br />

Alguns <strong>do</strong>s amigos queriam então fechar as grandes portas que<br />

<strong>da</strong>vam para o terraço e jardim . Falei que seria um grande risco pois elas não<br />

resistiriam a força <strong>do</strong> mar . Naquele momento fui voto venci<strong>do</strong> e as portas<br />

foram fecha<strong>da</strong>s . Assim ficaram apenas por alguns rápi<strong>do</strong>s momentos .<br />

A nova grande on<strong>da</strong> chegou bem alta , com mais de quatro<br />

metros de altura , bateu violentamente e simplesmente arrancou to<strong>da</strong>s portas<br />

de seus batentes e as jogou contra nós . Por sorte ninguém foi atingi<strong>do</strong><br />

frontalmente . Mas sofremos pequenos ferimentos . Eu machuquei as pernas .<br />

Com as on<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> vinham to<strong>da</strong> espécie de paus e cocos que a força <strong>do</strong> mar<br />

trazia . Batiam com violência e poderiam ferir seriamente .<br />

Os homens começavam agora subir para o an<strong>da</strong>r superior ,<br />

quan<strong>do</strong> uma mais alta e mais forte <strong>da</strong>quelas on<strong>da</strong>s atingiu as paredes <strong>da</strong> casa .<br />

Eu , o pai e o tio Willie de Sharlene , éramos os últimos na parte de baixo e<br />

vimos quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s aqueles grandes e fortes vidros , que formavam parte <strong>da</strong>s<br />

paredes externas , foram simplesmente estraçalha<strong>do</strong>s por aquela on<strong>da</strong> .<br />

Agora até o chão passara a ser perigoso com tantos cacos<br />

espalha<strong>do</strong>s . A água <strong>do</strong> mar já cobria nossas pernas naquele momento . Cair<br />

por ali era risco sério .<br />

Quan<strong>do</strong> eu estava começan<strong>do</strong> subir a esca<strong>da</strong> , com tio Willie logo<br />

atrás , mais uma on<strong>da</strong> nos atingiu . Logo em segui<strong>da</strong> senti que seu repuxo era<br />

muito forte . Puxava realmente .Tive de fazer alguma força para não<br />

escorregar e cair .<br />

Chegan<strong>do</strong> ao segun<strong>do</strong> piso minha primeira preocupação foi<br />

verificar como estavam to<strong>do</strong>s os meus . Lucca meu neto estava tranqüilo com<br />

sua babá Cora , ten<strong>do</strong> Paula ao la<strong>do</strong> . Tinha nas mãos o carrinho que sobrara<br />

de sua coleção que o mar já levara . Mark Browning , meu genro ,<br />

demonstrava alguma preocupação . Paula que sempre foi destemi<strong>da</strong> e muito<br />

forte tentava animar as pessoas . Vera Lúcia apesar de durona estava<br />

preocupa<strong>da</strong> e rin<strong>do</strong> dizia : - “ Que tristeza , viajar tanto para vir morrer longe<br />

de casa , neste fim de mun<strong>do</strong>”.<br />

Respondi que na<strong>da</strong> iria acontecer . Fiquei para<strong>do</strong> por alguns<br />

momentos pensan<strong>do</strong> o que poderia fazer para salvar o meu pessoal . Chequei a<br />

conclusão que seria pouco . Muito pouco mesmo .


“Tsunami” passou<br />

Somente tive certeza de que na<strong>da</strong> nos iria acontecer quan<strong>do</strong><br />

cheguei ao terraço superior e olhan<strong>do</strong> para o mar percebi que naquele<br />

momento , rapi<strong>da</strong>mente , <strong>da</strong> mesma forma como subiu , ele começava a<br />

baixar . Realmente tu<strong>do</strong> estava acontecen<strong>do</strong> muito velozmente . Não havia<br />

demora<strong>do</strong> mais de 15 minutos. Respirei alivia<strong>do</strong> e comentei o fato com o<br />

australiano Mickey . Ele concor<strong>do</strong>u , suspirou e depois sorriu demora<strong>da</strong>mente,<br />

levantan<strong>do</strong> o polegar direito .<br />

Pouco depois o mar realmente baixava para níveis praticamente<br />

normais . Descemos e fomos desobstruir a porta de entra<strong>da</strong> que ficava junto ao<br />

jardim . Tu<strong>do</strong> que o mar trouxera de lixo , mais as pesa<strong>da</strong>s espreguiçadeiras de<br />

madeira massiça <strong>do</strong> terraço , estava agora empilha<strong>do</strong> junto a porta <strong>da</strong> rua.<br />

Tinha tanta sujeira que nem sonhan<strong>do</strong> <strong>da</strong>va para saber de onde veio.<br />

Paula chegou . Vinha contar as noticias que ouvira no radio : _ -<br />

“Um terremoto de enorme proporção , com mais de nove pontos na Escala<br />

Richter , ocorrera perto de Sumatra ten<strong>do</strong> uma larga extensão , precisamente<br />

entre as ilhas An<strong>da</strong>man e Nicobar . Foi segui<strong>do</strong> de vários outros terremotos<br />

menores . Com isto ocorreu um gigantesco deslocamento no solo marítimo e a<br />

formação <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s enormes – “Tsunamis” - que alcançaram mais de 10<br />

metros de altura na sua linha de frente ao atingirem as praias . Elas avançaram<br />

por to<strong>do</strong> o Oceano Indico na veloci<strong>da</strong>de aproxima<strong>da</strong> de 900 km/hora , para<br />

depois fazer grandes destruições na In<strong>do</strong>nésia , Tailândia , Índia , Paquistão ,<br />

Myanmar e Sri Lanka . Ain<strong>da</strong> agora naquele local perto de Sumatra estavam<br />

ocorren<strong>do</strong> outros terremotos de menor intensi<strong>da</strong>de” .<br />

Contou que , como nossa praia não ficava na linha principal de<br />

avanço <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s , pois se situava <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha , fomos atingi<strong>do</strong>s com<br />

menor violência e menor intensi<strong>da</strong>de pela “Tsunami” . Por isto , apesar <strong>do</strong><br />

susto e <strong>do</strong> banho , estávamos ain<strong>da</strong> vivos . O grande impacto <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s<br />

enormes , com mais de 10 metros de altura , somente atingira Sri Lanka pelo<br />

outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> ilha , ou seja la<strong>do</strong> Leste . Ali o numero de mortos era enorme e<br />

a destruição indescritível .<br />

Fugas Para : Mosteiro – Colombo - Seguiria<br />

Mesmo haven<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> aqueles momentos de grande perigo<br />

continuávamos muito preocupa<strong>do</strong>s , pois poderia ain<strong>da</strong> ocorrer , como<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s segui<strong>do</strong>s terremotos , novo maremoto , nova “Tsunami” .<br />

Naquele momento não <strong>da</strong>va para saber com certeza o que poderia acontecer .<br />

Alem <strong>do</strong> mais estávamos em plena Lua Cheia , quan<strong>do</strong> as marés são mais<br />

fortes . A chega<strong>da</strong> de uma nova “Tsunami” poderia ser fatal .


Ficou resolvi<strong>do</strong> que imediatamente , pois não tínhamos maiores<br />

informações e opções , deveríamos seguir para um lugar alto , para um templo<br />

budista existente nas imediações de onde estávamos . Ele se localizava em um<br />

morro com mais de 60 metros de altura . Ali o perigo poderia ser menor .<br />

To<strong>da</strong>s 26 pessoas amigas foram coloca<strong>da</strong>s em duas peruas que se<br />

encontravam na casa . Não me pergunte como . Era o jeito .<br />

No caminho já deu para ver um pouco <strong>da</strong> destruição que a<br />

“Tsunami” provocara . <strong>Casa</strong>s mais simples destroça<strong>da</strong>s , pontes desloca<strong>da</strong>s<br />

assim como o leito <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> de ferro , animais mortos , florestas destruí<strong>da</strong>s,<br />

muito lixo esparrama<strong>do</strong> , barcos joga<strong>do</strong>s no meio <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> , ônibus e carros<br />

vira<strong>do</strong>s . Alem <strong>do</strong> mais tinha muita água brilhan<strong>do</strong> ao sol por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s .<br />

Não vimos naquele momento , mas sabíamos de muitas pessoas mortas . Tu<strong>do</strong><br />

debaixo de contrastante e maravilhoso céu azul .<br />

Meia hora depois já estávamos nas áreas <strong>da</strong>quele templo. To<strong>do</strong>s<br />

demonstran<strong>do</strong> muita preocupação . Fomos recebi<strong>do</strong>s pelo Lama e seus<br />

discípulos . Foram gentis e até ofereceram almoço , típico budista , com muita<br />

pimenta , legumes e verduras cozi<strong>da</strong>s .<br />

Então ca<strong>da</strong> um comentava de seu mo<strong>do</strong> o aconteci<strong>do</strong> e as<br />

conseqüências . Os meninos <strong>do</strong>s australianos Mickey e Moi lamentavam seus<br />

sapatos que foram leva<strong>do</strong>s naquelas on<strong>da</strong>s . Lucca falava <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de seus<br />

carrinhos . Sharlene não reclamava <strong>do</strong>s <strong>da</strong>nos sofri<strong>do</strong>s na casa , apenas repetia<br />

que aquilo jamais havia aconteci<strong>do</strong> antes . Tio Willie falava <strong>da</strong>s portas e<br />

cui<strong>da</strong>va de cortes nas pernas . Paula animava os amigos .Vera Lucia<br />

estranhamente não falava na<strong>da</strong> . Vi nos seus olhos transparecer o perigo.<br />

To<strong>do</strong>s comentavam que tivéramos sorte. Muita sorte até aquele momento .<br />

Naquele local cheio de silencio e próprio para meditação comecei<br />

com muita calma analisar nossa situação . Cheguei a conclusão que tivéramos<br />

realmente muita , mas muita sorte mesmo , graças a Deus .<br />

Primeiro – Porque Vera Lucia e meu neto Lucca escaparam de<br />

morrer na praia quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Tsunami . Ela ocorreu por volta <strong>da</strong>s<br />

11,45 , apenas uma hora e pouco depois que eles saíram <strong>da</strong> praia . Foram<br />

salvos por causa <strong>do</strong> almoço marca<strong>do</strong> com Sharlene ;<br />

Segun<strong>do</strong> – Se a Tsunami nos tivesse alcança<strong>do</strong> na estra<strong>da</strong> não sei<br />

o que poderia acontecer .Os “Tuc- Tuc”não agüentariam o impacto <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s ;<br />

Terceiro – A casa , bem construí<strong>da</strong> , era bastante alta e resistente,<br />

suportan<strong>do</strong> as on<strong>da</strong>s que atingiram mais de 4 metros e meio de altura ;<br />

Quarto – A casa tinha um an<strong>da</strong>r superior e não ficamos<br />

inteiramente expostos a força <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s . Apenas sua parte térrea foi atingi<strong>da</strong> ,


fican<strong>do</strong> destruí<strong>da</strong> e inun<strong>da</strong><strong>da</strong> . Se a casa fosse somente térrea provavelmente<br />

as conseqüências seriam outras , imprevisíveis e provavelmente terríveis ;<br />

Quinto – O mais importante . Estávamos , por muita sorte , <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> bom <strong>da</strong> ilha onde as on<strong>da</strong>s foram muito menores . Graças a Deus !<br />

No meio <strong>da</strong> tarde chegaram mais noticias contan<strong>do</strong> as<br />

devastações ocorri<strong>da</strong>s em to<strong>do</strong> Oceano Indico . O numero de mortos crescia<br />

assusta<strong>do</strong>ramente a ca<strong>da</strong> instante . A enorme ilha de Sumatra havia se<br />

desloca<strong>do</strong> 40 metros . O eixo <strong>da</strong> terra fora ligeiramente altera<strong>do</strong> . Soubemos<br />

também que a capital Colombo , por sorte em sua localização , fora <strong>da</strong> frente<br />

<strong>da</strong>s grandes on<strong>da</strong>s e pela altura de suas praias , não fora atingi<strong>da</strong> . Que a casa<br />

colonial onde estávamos hospe<strong>da</strong><strong>do</strong>s também ficara fora <strong>da</strong> destruição , pois o<br />

local onde estava situa<strong>da</strong> era bem mais alto que as on<strong>da</strong>s forma<strong>da</strong>s pela<br />

“Tsunami” . Elas atingiram a praia com violência , sem chegar até a casa .<br />

Depois de alguma conversa ficou resolvi<strong>do</strong> que iríamos para<br />

Colombo . Não ficaríamos na praia de Ambentota pois poderia existir mais<br />

problemas advin<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s terremotos continua<strong>do</strong>s . Naquele instante ficava<br />

claro que nossa maior preocupação era fugir de novas e possíveis “Tsunamis”.<br />

Ficou acerta<strong>do</strong> que primeiro passaríamos na casa colonial para<br />

pegar nossas malas . Dali seguiríamos para Colombo onde os parentes de<br />

Sharlene nos <strong>da</strong>riam hospe<strong>da</strong>gem . Depois , de acor<strong>do</strong> com o planeja<strong>do</strong><br />

inicialmente para nossa viagem , iríamos para um Spa Budista , pertencente ao<br />

irmão de Sharlene . Ele se situava bem alto nas montanhas , dentro de uma<br />

fazen<strong>da</strong> , no caminho para <strong>do</strong>is bonitos lugares turísticos denomina<strong>do</strong>s<br />

Massalla e Segyria . Lá ficaríamos uma semana , até o dia para nosso vôo de<br />

regresso .<br />

O dito foi feito e pouco depois já estávamos na casa colonial<br />

pegan<strong>do</strong> malas e aguar<strong>da</strong>n<strong>do</strong> condução . Esta inicialmente chegou em numero<br />

insuficiente . Ficou acerta<strong>do</strong> que primeiro seguiriam as crianças com suas<br />

mães . Vera Lucia foi com elas . To<strong>do</strong>s continuavam temen<strong>do</strong> a possibili<strong>da</strong>de<br />

de outra “Tsunami”. A espera era angustiante .<br />

Saímos logo depois para uma viagem que levou quase 5 horas<br />

mas que normalmente poderia ser feita em apenas duas . O receio de novas<br />

on<strong>da</strong>s gigantes fez que muita gente se afastasse <strong>da</strong> costa . O transito ficou<br />

pesa<strong>do</strong> . Parecia filme de terror . Gente corren<strong>do</strong> para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s com<br />

me<strong>do</strong> <strong>da</strong>s Tsunamis . Pior era a dificul<strong>da</strong>de para encontrarmos combustível.<br />

Nos postos de gasolina haviam filas de carros para abastecimento . E a to<strong>do</strong><br />

instante existia a expectativa de surgir nova on<strong>da</strong> gigante . Ansie<strong>da</strong>de pairava<br />

no ar em ca<strong>da</strong> momento . Aquela sensação e a expectativa eram terríveis .


Depois de muitas para<strong>da</strong>s em postos vazios conseguimos gasolina<br />

e finalmente , durante a noite , chegamos em Colombo . Foi um alivio !<br />

Felizmente o grande receio de uma nova Tsunami que nos<br />

poderia pegar nas estra<strong>da</strong>s não ocorreu .<br />

Infelizmente tivemos grande tristeza ao tomarmos conhecimento<br />

<strong>da</strong>s muitas mortes e assistin<strong>do</strong> a destruição ocorri<strong>da</strong> . A televisão mostrava<br />

fotos , filmes e noticiário sobre a Tsunami . Locali<strong>da</strong>des cingalesas como<br />

Galle , Matara , Kalmunai , Samanturai e Marindu apresentavam grandes<br />

per<strong>da</strong>s humanas e enormes devastações . Também chegavam noticias <strong>da</strong>s<br />

mortes ocorri<strong>da</strong>s em to<strong>do</strong>s paises <strong>do</strong> Indico . Naquele momento já se falava<br />

em mais de 100.000 mortos .<br />

Meu calculo foi que as per<strong>da</strong>s humanas alcançariam no mínimo<br />

meio milhão , pois seria impossível saber realmente o numero de<br />

desapareci<strong>do</strong>s e quantos ficariam para sempre dentro <strong>do</strong> mar .<br />

Soubemos que os corpos <strong>do</strong>s mortos eram fotografa<strong>do</strong>s , tira<strong>da</strong>s<br />

suas impressões digitais e em segui<strong>da</strong> enterra<strong>do</strong>s em covas comuns . Era o<br />

jeito de evitar epidemias .<br />

A CAMINHO DAS MONTANHAS<br />

Preocupa<strong>da</strong> com o que poderia ser visto no amanhã seguinte , via<br />

televisões , minha filha Paula Marcondes ligou para minha irmã Marisa .<br />

Falou que to<strong>do</strong>s nós estávamos bem , pedin<strong>do</strong> ain<strong>da</strong> que fossem informa<strong>do</strong>s<br />

parentes , amigos e os filhos de Vera Lucia .<br />

No dia seguinte , fomos para o Spa Budista .<br />

No caminho cruzamos com vários comboios de caminhões de<br />

socorro portan<strong>do</strong> bandeiras <strong>da</strong> Cruz Vermelha .<br />

Três horas depois estávamos chegan<strong>do</strong> , sem maiores problemas.<br />

O Spa era tipicamente budista , na construção e conceito .<br />

Ali os dias iriam passar e as noticias sobre o número de per<strong>da</strong>s<br />

humanas crescer. Ficávamos saben<strong>do</strong> de tu<strong>do</strong> pelos jornais que chegavam até<br />

nós com a vin<strong>da</strong> <strong>do</strong>s novos hospedes . Len<strong>do</strong> o noticiário soubemos <strong>da</strong> sorte<br />

de alguns e <strong>do</strong> azar de outros . Fatos incríveis ocorreram , salvan<strong>do</strong> ou<br />

matan<strong>do</strong> pessoas . As fotos nos jornais eram impressionantes. Nos obrigavam<br />

a pensar segui<strong>da</strong>mente sobre aquela tragédia aconteci<strong>da</strong> a beira mar .<br />

Segun<strong>do</strong> alguns geólogos , to<strong>do</strong> ocorri<strong>do</strong> com as “Tsunamis”<br />

seria uma reação <strong>da</strong> terra . A teoria se baseava no fato de que a causa principal<br />

estaria no calor gera<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong> pela queima excessiva de petróleo.<br />

Aumentan<strong>do</strong> a temperatura , em muito , destruía parte <strong>da</strong> cama<strong>da</strong> de ozônio .<br />

Assim desprotegi<strong>da</strong> , pelo calor gera<strong>do</strong> e graças aos raios ultravioleta<br />

e outros mais que bombardeam a esfera terrestre com mais intensi<strong>da</strong>de,


ocorrem contínuos degelos diretos nas calotas <strong>do</strong> Pólo Norte e <strong>da</strong> Antártica .<br />

O gelo vinha e vem se transforman<strong>do</strong> em água que corre para o mar . Os<br />

pólos perdiam peso segui<strong>da</strong>mente . Sem o peso normal concentra<strong>do</strong> nas<br />

calotas polares diminuía a pressão no interior <strong>da</strong> Terra . Desta forma as<br />

cama<strong>da</strong>s internas <strong>do</strong> planeta tenderiam a novos ajustamentos . Daí<br />

possivelmente os terremotos . Eles poderiam ser agora mais contínuos e<br />

freqüentes .<br />

Aproveitamos to<strong>do</strong>s aqueles dias para descansar , passear e<br />

principalmente meditar sobre o ocorri<strong>do</strong> . Era impossível esquecer .<br />

Mu<strong>da</strong>nça Temporária de Filosofia<br />

O lugar ali , naquela parte alta de Sri-Lanka , é lin<strong>do</strong> , com<br />

muitas flores , um grande lago e uma majestosa montanha ao fun<strong>do</strong> . Ali não<br />

na<strong>da</strong> de moderni<strong>da</strong>de . Não havia eletrici<strong>da</strong>de , telefone , televisão, radio ,<br />

água quente encana<strong>da</strong> , gelo e nenhum outro conforto moderno. A pouca luz<br />

para as noites vinha de pequenas e românticas lamparinas. Por ali tive<br />

oportuni<strong>da</strong>de de ficar e passear mais alguns dias com meu neto Lucca .<br />

A comi<strong>da</strong> , sem nenhum prato oriun<strong>do</strong> de peixe ou carne de<br />

qualquer tipo , era bem apimenta<strong>da</strong> , farta e servi<strong>da</strong> em terrinas coloca<strong>da</strong>s em<br />

grandes esteiras que ficavam no chão , em um lin<strong>do</strong> local coberto e cerca<strong>do</strong><br />

por muitas plantas e flores . Lembro que lá dentro existiam inúmeras e<br />

confortáveis almofa<strong>da</strong>s . Bebi<strong>da</strong> era limona<strong>da</strong> ou suco de lima .<br />

No início detestei aquela total simplici<strong>da</strong>de . Entretanto , bem<br />

rapi<strong>da</strong>mente , senti os benefícios de uma vi<strong>da</strong> realmente muito mais simples .<br />

Comecei , apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des , a gozar de uma imensa paz .<br />

Enquanto aguardávamos o dia marca<strong>do</strong> para pegarmos o avião de<br />

volta , viven<strong>do</strong> uma vi<strong>da</strong> bem simples , deu para verificar quantas são as<br />

muitas bobagens que hoje fazemos , inteiramente desnecessárias . A socie<strong>da</strong>de<br />

moderna , apega<strong>da</strong> as coisas materiais , perdeu completamente o senso <strong>do</strong><br />

valor intrínseco de ca<strong>da</strong> bem . Ca<strong>da</strong> vez mais precisa de coisas completamente<br />

inúteis , que no final só irão atrapalhar pessoas , algumas por excesso , outras<br />

pela falta. Irão causar grandes frustrações . Tu<strong>do</strong> inteiramente desnecessário .<br />

Pela primeira vez passei um “reveillon” na maior tranqüili<strong>da</strong>de ,<br />

sem luxo nem ostentação , mas sentin<strong>do</strong> a grande alegria por ter ao meu la<strong>do</strong><br />

Paula , Mark e Vera Lucia . Alem <strong>do</strong> mais estava sentin<strong>do</strong> e ven<strong>do</strong> o sorriso<br />

feliz de meu neto Lucca Marcondes - Browning – minha continui<strong>da</strong>de .<br />

Dias depois , quan<strong>do</strong> no avião de volta para Hong Kong ,Vera<br />

Lucia Costa comentan<strong>do</strong> a “Tsunami” que enfrentáramos , disse que não havia


chega<strong>do</strong> nossa hora . “Que só peru morre de véspera ... Que tu<strong>do</strong> está escrito,<br />

“Mactube” – como dizem os árabes . Que tu<strong>do</strong> é só destino”.<br />

Ouvi e depois fiquei pensan<strong>do</strong> quantas vezes eu já estivera<br />

realmente em perigo de vi<strong>da</strong> . Lembrei que já tinha sofri<strong>do</strong> naufrágio ,<br />

desabamento de cinema , bati<strong>da</strong> com destruição total de carro , choque elétrico<br />

de alta voltagem , tiro nas costas . Levei até tiro na cabeça.<br />

Recordei que segun<strong>do</strong> a len<strong>da</strong> , como um gato , por sete vezes ,<br />

eu ficara frente a frente com a morte . E na<strong>da</strong> de muito mal me aconteceu . Sai<br />

sempre com vi<strong>da</strong> . “ Mactube ” ? Não sei ...<br />

Sei que agora preciso tomar muito cui<strong>da</strong><strong>do</strong> , pois após a<br />

“Tsunami” não tenho mais novas vi<strong>da</strong>s de reserva . As setes já se tinham i<strong>do</strong> .<br />

2 Edu Marcondes – 02/2005<br />

P.S. - Dificilmente alguém que esteve presente , dentro realmente de uma<br />

“Tsunami”, terá esta oportuni<strong>da</strong>de de escrever testemunhan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s<br />

aqueles fatos . Por esta razão , para que o ocorri<strong>do</strong> não possa virar mais<br />

uma “Pagina Esmaeci<strong>da</strong> ”, deixo aqui meu depoimento .

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