Francisca Carla - 'A santa sem corpo' de Tianguá-CE. - anpuh
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Chiquinha, Dona Julity que conviveu com ela <strong>de</strong> perto, através dos relatos <strong>de</strong> sua irmã,<br />
nos confirma a sua vida humil<strong>de</strong> e simples, e chama atenção para um fato interessante,<br />
os “paninhos”, que a menina Chiquinha, <strong>sem</strong>pre trazia amarrados às pontas dos seus<br />
<strong>de</strong>dos, talvez já indícios da doença, pois sabe-se que a doença primeiro atinge as pontas<br />
dos <strong>de</strong>dos dos pés e das mãos e <strong>de</strong>pois vai se espalhando pelo corpo, po<strong>de</strong> estar aí,<br />
portanto, o inicio da doença que po<strong>de</strong> ter lhe acompanhado a vida toda.<br />
Bezerra na sua obra nos relata um <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Dona Julity on<strong>de</strong> ela diz como foi no<br />
dia do famoso almoço:<br />
Dona Julity conta que lá pelas tantas com o almoço bem em andamento,<br />
o médico foi observando a Chiquinha da cabeça aos pés, pediu uma<br />
agulha ou alfinete da casa e aproximou-se <strong>de</strong>la, consultando-a, sobre<br />
toques na pele, extremida<strong>de</strong>s do corpo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste exame que fez foi<br />
dizendo: “Esta criatura é portadora <strong>de</strong> Hanseníase (Lepra)”. Houve<br />
tumulto entre os presentes apontado pelo notório estado <strong>de</strong> pânico<br />
aterrador. ( BEZERRA, 2007: 92)<br />
A partir <strong>de</strong> então a vida <strong>de</strong> <strong>Francisca</strong> <strong>Carla</strong> mudaria completamente, poucos dias <strong>de</strong>pois<br />
do dito almoço, <strong>Francisca</strong> vai ser isolada do convívio social, tendo em vista que naquela<br />
época era muito caro manter uma pessoa em um leprosário, e o mais próximo ficava em<br />
Fortaleza, a solução mais viável seria mantê-la ali mesmo por perto, <strong>de</strong> maneira que não<br />
corresse o risco <strong>de</strong> transmitir sua doença a ninguém.<br />
A Senhora Dalgiza Araújo <strong>de</strong> Sá, aposentada, 72 anos, nos relata também que:<br />
... no dia do almoço dizem que foi uma confusão muito gran<strong>de</strong>, porque<br />
um médico lá, <strong>de</strong>scobriu que a Chiquinha tinha uma doença que podia<br />
passar ‘pras’ pessoa, foi poucos dias <strong>de</strong>pois e a doente <strong>de</strong>sapareceu<br />
da casa do Seu Adauto, só <strong>de</strong>pois é que agente ouviu o comentário que<br />
ela tava lá cabana na ‘beira’ da estrada. ( Entrevista gravada em<br />
10/03/2009 às 15:00 hs)<br />
E assim aconteceu, sua sentença foi proferida rapidamente, sendo levada para os fundos<br />
da proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma senhora chamada Dona Salú, vizinha as terras do Sr Adauto<br />
Damasceno, assim a doente ficaria próxima <strong>de</strong> sua família, porém por interpelação da<br />
filha da senhora Salú que residia nesta época em Fortaleza, a doente teve que ser<br />
afastada <strong>de</strong>sta proprieda<strong>de</strong>, sendo que a filha da Dona Salú temia pela saú<strong>de</strong> da mãe,<br />
então a doente foi banida.<br />
Receberia uma segunda morada agora nas terras do Sr. Silvério Fi<strong>de</strong>les, ali ela viveria<br />
até o último dia <strong>de</strong> vida, teria mais uma cabana, tendo em vista que a segunda se<br />
<strong>de</strong>sgastou por conta da ação das intempéries da natureza, esta terceira cabaninha teria