Francisca Carla - 'A santa sem corpo' de Tianguá-CE. - anpuh
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Oliveira vem trazer no seu trabalho, “500 anos <strong>de</strong> catolicismos e sincretismos no<br />
Brasil”, a origem <strong>de</strong>sta divisão que há na igreja católica, <strong>de</strong> um lado o povo e sua<br />
religiosida<strong>de</strong> popular, e do outro a igreja e os preceitos da religiosida<strong>de</strong> oficial, ambas<br />
compõem a religião católica no Brasil. Ela ressalta que:<br />
Segundo a autora o início da ruptura da força católica no país, <strong>de</strong>u-se com a expulsão<br />
dos jesuítas do território brasileiro em 1759, e ainda a extinção da inquisição em 1770,<br />
ambos eram braços muitos fortes da igreja, os primeiros foram responsáveis diretos pela<br />
catequização dos indígenas brasileiros, levando a fé católica às mais longínquas<br />
paragens, e a inquisição era a responsável por punir todos os casos <strong>de</strong> heresia que<br />
aconteces<strong>sem</strong> na colônia, e não foram poucos, os “<strong>de</strong>sobedientes” à nova fé seriam<br />
punidos exemplarmente pela inquisição.<br />
No seio da crise do catolicismo no século XIX no Brasil em que a Igreja se<br />
<strong>de</strong>bate abertamente com o Estado, ela volta-se contra as <strong>de</strong>turpações<br />
geradas nela própria, originando práticas religiosas espúrias, não mais<br />
reconhecidas pela Igreja oficial. Num exercício <strong>de</strong> autocrítica motivado<br />
pela vinda <strong>de</strong> religiosos estrangeiros para o Brasil, a Igreja rompeu com as<br />
formas “primitivas” do catolicismo que ela própria teria alimentado ao<br />
longo <strong>de</strong> todo o período colonial, passando a distinguir nitidamente duas<br />
vertentes do catolicismo: a popular e a institucional ou oficial.<br />
( ANDRADE, 2002:151)<br />
Com a saída dos jesuítas do país, o clero que aqui ficou não conseguiu suprir<br />
todas as lacunas <strong>de</strong>ixadas pelos expulsos, “... cada vez mais, mal preparado, viciado e<br />
inoperante, o clero tornou-se o alvo principal dos projetos <strong>de</strong> reforma postos em prática<br />
pela igreja através da abertura dos <strong>sem</strong>inários diocesanos...” ( ANDRADE, 2002: 126),<br />
além <strong>de</strong> o clero local não estar conseguindo aten<strong>de</strong>r à todo o povo católico, ainda estava<br />
imerso em práticas proibidas pela igreja romana, não raros eram os casos <strong>de</strong> padres que<br />
viviam maritalmente com mulheres e tinham até filhos, indo totalmente contra o que<br />
Roma pregava que é o celibato total dos sacerdotes.<br />
Depois o Estado vai tentar também se <strong>de</strong>sfazer da igreja, não totalmente como<br />
esta fez com os jesuítas, mas enfraquecê-la, pois os seus domínios estavam ficando fora<br />
do controle do Estado, principalmente economicamente falando, adotando a medida <strong>de</strong><br />
liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto, que foi promulgada na constituição <strong>de</strong> 1824, dando um golpe<br />
certeiro na hegemonia católica que até então era a única que po<strong>de</strong>ria ser abertamente<br />
praticada.<br />
A partir <strong>de</strong> então, igreja e estado digladiar-se-ão constantemente e abertamente, é nesse