Francisca Carla - 'A santa sem corpo' de Tianguá-CE. - anpuh

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só pelo fato de ser isolado, e assim atrair usuários de drogas, podendo vir a acontecer uma fatalidade com os fiéis que vão até o local pagar suas promessas e ainda ressaltou também a questão da distância que separa a capelinha no sitio ate a sede da cidade, que desprestigia os idosos da cidade que não podem se locomover até o sitio a pé. Podemos pensar que essa foi a forma que a Igreja encontrou de trazer os devotos de Francisca para mais perto do seu olhar, sendo uma aproximação com intenção de vigiar os atos dos fiéis que vão visitar o túmulo da sua ‘santa’, observamos assim, um embate entre a igreja e os devotos, em torno do corpo de Francisca, a igreja acredita que detendo o poder sobre o corpo da mesma, vai deter controle sobre a devoção à santa. Seria inviável cogitarmos tal possibilidade, pois as pessoas continuam fazendo romarias para o local onde Francisca faleceu e foi enterrada, pois como o Senhor José Silvério ressaltou, “foi lá que ela morreu”, lá que aconteceu sua história, independente de onde estiverem seus restos mortais, já está imbuído na religiosidade das pessoas que elas tem que pagar a promessa, indo a pé até a capelinha lá no sítio Olho D’água. Quanto ao discurso do padre em ressaltar a questão da distância, do acesso à capelinha de Francisca, como empecilho do contato dos devotos com a mesma, podemos considerar como apenas mais uma maneira de tentar justificar o ato do translado, pois como ressalta Ramos, “Os missionários deixaram no catolicismo sertanejo um claro sentido para o sofrimento (...) Nessa perspectiva, o trabalho, a doença ou a fome assumem o sentido de sofrimento para o corpo e não para o espírito...” ( RAMOS, 1998:32), na religiosidade dos sertões ficou muito imbuído no sentimento das pessoas que é necessário o sofrimento para expurgar os pecados. Para o penitente, a promessa a ser paga só tem validade se tiver algum sacrifício, como as romarias, aonde as pessoas vão a pé até o santuário do seu santo, e alguns ainda achando pouco o sacrifício, levam pedras na cabeça ou andam ajoelhados os últimos metros antes de findar o percurso. Cai no vão, portanto o levantamento do padre, pois o que vale para o perdão dos pecados não é a comodidade de visitar um túmulo dentro da cidade, onde você pode ir até de carro, mas sim a penitência de ir a pé, rezando no caminho, agradecendo a santa a graça alcançada, e depois voltar o mesmo percurso, bem mais aliviado, por ter pagado a promessa. Acredito, portanto, que outras soluções poderiam ser tomadas, o translado não pode ser justificado por nenhum motivo, seja a violência ou a distância do local, a intenção que nos deixa transparecer essa atitude da Igreja, é de receio, de que a culto à Francisca
saísse totalmente do controle, para que isso não acontecesse os restos mortais dela são trazidos para dentro dos muros da igreja oficial, bem debaixo das vistas da mesma. Finalizo essa análise dizendo que mesmo com a Igreja tentando suprimir os atos da religiosidade popular, muito difícil será a missão de conseguir extingui-la, pois ela já está enraizada nos costumes do povo da cidade, em suas vidas, deveria sim ter uma aproximação maior da igreja com os fiéis, pois as mesmas pessoas que têm devoção aos santos populares também são católicos que vão à missa, e praticam os sacramentos, pelo menos dentro de suas possibilidades, se houvesse uma união dessas duas realidades, na criação de um santuário à Francisca, por exemplo, e a iniciativa de canonização oficial da santa popular de Tianguá - Francisca Carla “ A santa sem corpo” - , acreditamos que todos sairiam mais satisfeitos de toda essa história que envolve muito mais do que uma religião oficial e uma popular, envolve sentimento. Bibliografia ANDRADE, Maristela Oliveira de. 500 anos de catolicismos e sincretismos no Brasil. João Pessoa: Editora UFPA, 2002 AUGRAS, Monique. Discurso hagiográfico e constituição do sujeito ocidental. In: LOPES, Luiz Paulo Moita e BASTOS, Liliana Cabral. (Org.) Identidades: Recortes multi e interdisciplinares. CNPq. Mercado de Letras: São Paulo,2002 BEZERRA, L.G. Um olhar sobre Francisca Carla e outros fatos sobre Tianguá. 2ªed. Tianguá,2007 CARVALHO, Amauri Pinto de. Catolicismo do povo, cultura popular. Nos festejos de São Francisco em Tianguá –Ce. 1ª ed. Tianguá –Ce: Gráfica Tavares,2007 HOONAERT, Eduardo. Formação do catolicismo Brasileiro. 1550-1800. 3ª ed. Petrópolis: Editora Vozes,1991 JUNIOR, Agenor Soares e Silva. “Cidades sagradas”: A igreja católica e as transformações urbanas no Ceará ( 1870 -1920). Niterói, 2009. 362 folhas. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal Fluminense. MACIEL, Vilma e MAGALHÃES, Celma. Nordeste Místico. Império da fé. UFC. Casa de José de Alencar. Programa editorial, 1999 RAMOS, Francisco Regis Lopes. O verbo encantado: A construção do Padre Cícero no imaginário dos devotos. Rio Grande do Sul: Editora Unijuí,1998
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