Francisca Carla - 'A santa sem corpo' de Tianguá-CE. - anpuh

Na imagem observamos muitas imagens de santos em um altar improvisado, bem
próximo a uma cruz no chão onde estavam enterrados os restos mortais de Francisca, o
que mais nos chama atenção é que mesmo sendo uma devoção popular, observamos
esse sincretismo entre oficial e popular, dentro de uma capelinha dedicada à uma santa
não canonizada, muitas imagens de santos oficiais, e a cruz, o maior símbolo do
catolicismo oficial, para demarcar o lugar exato onde Francisca foi sepultada.
E também muitas fitinhas de São Francisco envoltas nas imagens, terços, elementos
esses que são simbologias da religião oficial, eis os embates que são gerados em torno
da santa, essa mesclagem da religiosidade oficial que já está presente na vida dessas
pessoas assim como também a popular, ao terem devoção a uma santa popular. Daí
podermos também ressaltar neste trabalho, o embate que se gerou entre a igreja e os
devotos, a partir do momento que os restos mortais de Francisca no dia 01 de Novembro
de 1999, foram transladados, da capelinha que marcava o lugar onde ela viveu os
últimos anos de sua vida e faleceu, para o novo cemitério que recebeu a denominação de
Cemitério Francisca Carla, esse fato gerou uma grande polêmica na cidade, pois os
devotos sentiram-se lesados, com a perda do corpo de sua santa.
O Senhor José Silvério em entrevista nos relata que: “... eu sou contra o que a igreja fez,
o corpo da ‘santa’ tinha era que ficar lá mesmo, porque foi lá que ela morreu, é lá que
ela tem que ficar...” (Entrevista realizada em 15/05/2009 às 17:00 hs), podemos
compreender deste depoimento a insatisfação do depoente, em não concordar com o ato
da igreja em realizar o traslado.
Na entrevista feita ao vigário da cidade, foi indagado ainda sobre o translado dos restos
mortais de Francisca para o novo cemitério, onde ele respondeu:
A nossa cidade de um tempo para cá tornou-se muito insegura, a
violência está crescendo bastante e muito rapidamente, e se nós aqui no
centro da cidade nos sentimos inseguros, imagine lá no sítio, longe do
meio urbano, em meio a uma mata fechada, é bem mais perigoso que
essas pessoas fiquem se deslocando até lá, esse seria um primeiro motivo
do translado dos restos mortais de lá para o cemitério novo, e um outro
motivo seria a aproximação dos restos mortais dela com a população da
cidade, onde algumas pessoas idosas não tinham condições de fazer a
caminhada de mais de uma hora até o sitio que é muito exaustante. (
Entrevista realizada em 04/06/2009 às 16:20)
Observemos que o padre enquanto representante do catolicismo oficial da cidade, diz
que os motivos principais do traslado são a insegurança do local, mesmo até hoje não
tendo sido constatado nenhum caso de violência na região onde se encontra a capelinha,