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Francisca Carla - 'A santa sem corpo' de Tianguá-CE. - anpuh

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pessoas citadas na obra <strong>de</strong> Bezerra, se dispuseram a inumar o corpo já em estado <strong>de</strong><br />

putrefação, e enterrá-la em uma cova simples ao lado da cabaninha.<br />

A senhora Dalgiza ainda em <strong>de</strong>poimento nos relata que:<br />

... era ela mesma quem fazia sua comida, tem uma história que o povo<br />

conta que num dia <strong>de</strong> festa num sitio próximo on<strong>de</strong> ela estava, um<br />

homem escapou <strong>de</strong> uma briga e foi pedir refúgio atrás da barraquinha<br />

<strong>de</strong> <strong>Francisca</strong>, passou uma noite toda lá, <strong>Francisca</strong> foi solidária com<br />

ele e <strong>de</strong>u até comida para ele, era um peixe que foram <strong>de</strong>ixar lá para<br />

ela comer, mas em <strong>de</strong>corrência da doença <strong>de</strong>la, inflamava muito suas<br />

feridas, eu passava lá com meu irmão, e ela pedia uns “pauzinho <strong>de</strong><br />

lenha”, aí eu ia “caçar” lenha mais o Vicente, ela era conformada,<br />

nunca agente nunca ouvia ela se reclamar <strong>de</strong> nada. ( Entrevista<br />

gravada em 10/03/2009 às 15:00 hs)<br />

A <strong>de</strong>poente diz que viu por algumas vezes uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da cabana, “ pra mim que eu<br />

“tô” vendo a redinha lá <strong>de</strong>ntro”, e que as pessoas da comunida<strong>de</strong> rezavam<br />

constantemente por ela, tiravam o terço pela saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, nessa época a <strong>de</strong>poente tinha 16<br />

anos, e lembra que lá tinha uma mata muito fechada, só tinha uma estradinha que as<br />

pessoas passavam <strong>sem</strong>pre perto da sua cabana, mas era muito raro ver o rosto <strong>de</strong>la.<br />

Po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> pessoas que tiveram esse contato com<br />

ela, que a sua vida foi muito sofrida, principalmente <strong>de</strong>pois do seu isolamento na mata<br />

do sitio Olho D’água, o seu medo e a sua solidão lhe consumiam dia após dia, talvez<br />

fosse até um alento para sua alma quando ouvia vozes passar pelo caminho, mas não<br />

tinha coragem <strong>de</strong> sair e falar com as pessoas <strong>de</strong> perto por medo <strong>de</strong> contagiá-las com sua<br />

doença, enfim, observamos em todos os <strong>de</strong>poimentos a insistência da doente, em sofrer<br />

sozinha suas amarguras.<br />

E é assim, basicamente através <strong>de</strong> registros orais, que está sendo produzida a história e<br />

memória <strong>de</strong> <strong>Francisca</strong> <strong>Carla</strong> a Santa dos aflitos, necessitados, doentes, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Tianguá</strong>, os <strong>de</strong>votos são recorrentes em seus relatos quando dizem que foi o sofrimento<br />

que santificou <strong>Francisca</strong> <strong>Carla</strong>, e que o fato <strong>de</strong> ela ter sido ‘gente como a gente’<br />

aproxima os fieis da <strong>santa</strong> popular, se ela que foi ser humano e sentiu na pele todas as<br />

augruras da vida e da morte.<br />

Agora passaremos para uma discussão sobre a relação entre os <strong>de</strong>votos e sua <strong>santa</strong>, todos os<br />

embates que estão se gerando em torno da figura <strong>de</strong> <strong>Francisca</strong>, quais os fatores que os <strong>de</strong>votos<br />

atribuem para a santificação da mesma e a disputa entre fiéis e igreja em torno dos restos<br />

mortais <strong>de</strong> <strong>Francisca</strong> <strong>Carla</strong>.<br />

O senhor Vicente Araújo nos relata em <strong>de</strong>poimento que: “Depois que ela foi enterrada,

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