Assistência de enfermagem a recém-nascidos ... - Rede Sindical
Assistência de enfermagem a recém-nascidos ... - Rede Sindical Assistência de enfermagem a recém-nascidos ... - Rede Sindical
Trabalho 545 Eu lembro que eu saía... tipo assim... na hora de dar medicamento. Assim, então na hora de fazer raio-x ou alguma coisa assim eu saía, entendeu?!...mas quando eu tava aí...elas pediam pra eu sair rapidinho mas eu voltava (Beija-flor). Durante o cuidado intensivo, os procedimentos são mais complexos e instrumentalizados por técnicas específicas, mediadas por vários equipamentos, que são alternadamente instrumentos e objetos do trabalho da equipe, este com a finalidade de centrar-se na recuperação biológica de um ser imaturo, com abordagem centrada na criança e sem espaços para a inserção da mãe na organização do trabalho (7) . Segundo Guimarães; Monticelli(10) é comum que todos os cuidados ao recém-nascido sejam assumidos pela equipe neonatal em sua totalidade, muitas vezes até com certo poder sobre os mesmos. Isso faz com que os pais comecem a acreditar que, naquele ambiente, somente os profissionais têm que cuidar e suprir as necessidades do neonato, cabendo a eles apenas a observação, de longe, de tudo o que acontece no dia a dia. Outros depoimentos demonstraram que a saída dos pais também é solicitada porque os procedimentos causam irritação à criança, sendo uma forma de evitar que eles presenciem o sofrimento do recém-nascido. Com isso, a equipe acaba aliando o poder que tem sobre o cuidado com o sentimento de impotência e sofrimento por parte dos pais. A gente vê eles manuseando. Pede pra gente sair porque, como no caso do meu filho mesmo, ele é muito inquieto, então quando você pega nele ele já começa a chorar. A gente não guenta ver o filho chorando, né?! Mesmo sabendo que é recém-nascido (Canário). Ela não deixa a gente ver não. Nem tirar sangue...não é só do bebê da gente, mas de outro bebê também eles não deixa. Fica com medo de a gente ver e se assustar, entendeu?!Aí nunca deixa não (Sabiá). Pede pra eu sair, aí eu saio. Que diz que as mãe tem dó... quando eles tá furando o bebezinho. Que a mãe fica com dó, aí pede pra sair (Bem-te-vi). Os pais veem os procedimentos mais invasivos como causadores de angústia para os filhos. Além disso, ainda reconhecem que a sua saída durante as técnicas se deve ao fato de sofrerem juntamente com eles. 4618
Trabalho 545 Souza et al(11) encontraram em estudo que alguns equipamentos e cuidados técnicos são vistos pelos pais como geradores de sofrimento, embora tenham a consciência de sua necessidade para a melhoria do quadro clínico do bebê e aumento da chance de sobrevida. A presença do sofrimento também é uma justificativa utilizada pelos profissionais para a ausência dos pais durante os procedimentos, considerando que influenciará negativamente na realização do trabalho da equipe. Além disso, os pais acreditam que os profissionais evitam a angústia deles quando não permitem a visualização de algumas técnicas. Elas têm medo da gente ver e ficar assustada e acabar até atrapalhando o trabalho deles. Então elas pedem pra gente ir lá fora [...] depois elas chamam a gente de volta [...] mas eles não deixa a gente olhar eles furar, nem tudo não, pra gente não passar mal, sabe?! (Sabiá). Diante da ideia desses autores e das falas dos pais supracitados, sempre é necessário que a permanência deles junto ao filho durante qualquer procedimento invasivo e/ou doloroso seja discutida com os próprios pais e que não seja previamente instituída pelo serviço de saúde que eles saiam para a realização desses procedimentos. Dessa forma, a equipe flexibiliza a permanência da família no momento em que esta se achar preparada e considerar o momento oportuno para estar junto à criança. A partir dos depoimentos, notou-se que os cuidados técnicos como troca de fraldas, mudança de decúbito, alimentação e terapia medicamentosa eram realizados com responsabilidade, delicadeza e atenção. Entretanto, os pais, em sua maioria, não presenciaram a realização de cuidados mais complexos e invasivos, pois a equipe sustentou-se no argumento de que eles sofrem juntamente com os filhos, o que também acaba dificultando a assistência de enfermagem aos recém- nascidos. Neste sentido, o cuidado de enfermagem é em si mesmo tecnológico, pois congrega o saber (ciência) ao fazer (arte e ideal) e deve ser provido da maior atenção, em prol da dignidade do ser humano. A utilização dos recursos técnicos e tecnológicos sinaliza a necessidade de repensar bioeticamente o cotidiano do cuidado (12) . 4619
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Trabalho 545<br />
Souza et al(11) encontraram em estudo que alguns equipamentos e<br />
cuidados técnicos são vistos pelos pais como geradores <strong>de</strong> sofrimento, embora<br />
tenham a consciência <strong>de</strong> sua necessida<strong>de</strong> para a melhoria do quadro clínico do<br />
bebê e aumento da chance <strong>de</strong> sobrevida.<br />
A presença do sofrimento também é uma justificativa utilizada pelos<br />
profissionais para a ausência dos pais durante os procedimentos, consi<strong>de</strong>rando que<br />
influenciará negativamente na realização do trabalho da equipe. Além disso, os pais<br />
acreditam que os profissionais evitam a angústia <strong>de</strong>les quando não permitem a<br />
visualização <strong>de</strong> algumas técnicas.<br />
Elas têm medo da gente ver e ficar assustada e acabar até<br />
atrapalhando o trabalho <strong>de</strong>les. Então elas pe<strong>de</strong>m pra gente ir lá fora<br />
[...] <strong>de</strong>pois elas chamam a gente <strong>de</strong> volta [...] mas eles não <strong>de</strong>ixa a<br />
gente olhar eles furar, nem tudo não, pra gente não passar mal,<br />
sabe?! (Sabiá).<br />
Diante da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>sses autores e das falas dos pais supracitados, sempre é<br />
necessário que a permanência <strong>de</strong>les junto ao filho durante qualquer procedimento<br />
invasivo e/ou doloroso seja discutida com os próprios pais e que não seja<br />
previamente instituída pelo serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que eles saiam para a realização<br />
<strong>de</strong>sses procedimentos. Dessa forma, a equipe flexibiliza a permanência da família<br />
no momento em que esta se achar preparada e consi<strong>de</strong>rar o momento oportuno<br />
para estar junto à criança.<br />
A partir dos <strong>de</strong>poimentos, notou-se que os cuidados técnicos como troca <strong>de</strong><br />
fraldas, mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito, alimentação e terapia medicamentosa eram<br />
realizados com responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e atenção. Entretanto, os pais, em sua<br />
maioria, não presenciaram a realização <strong>de</strong> cuidados mais complexos e invasivos,<br />
pois a equipe sustentou-se no argumento <strong>de</strong> que eles sofrem juntamente com os<br />
filhos, o que também acaba dificultando a assistência <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> aos <strong>recém</strong>-<br />
<strong>nascidos</strong>.<br />
Neste sentido, o cuidado <strong>de</strong> <strong>enfermagem</strong> é em si mesmo tecnológico, pois<br />
congrega o saber (ciência) ao fazer (arte e i<strong>de</strong>al) e <strong>de</strong>ve ser provido da maior<br />
atenção, em prol da dignida<strong>de</strong> do ser humano. A utilização dos recursos técnicos e<br />
tecnológicos sinaliza a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar bioeticamente o cotidiano do<br />
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