Assistência de enfermagem a recém-nascidos ... - Rede Sindical

Trabalho 545
Assistência de enfermagem a recém-nascidos prematuros em uma UTI
neonatal: percepção dos pais¹
Nursing care of premature newborns in a neonatal ICU: perception of parents
Cuidados de enfermería de recién nacidos prematuros en una UCI neonatal:
percepción de los padres
Aisiane Cedraz Morais I , Welvys de Carvalho Araujo II
1 Recorte do Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, intitulado “Assistência de
enfermagem a recém-nascidos prematuros em uma UTI neonatal: percepção dos
pais”.
I Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem (UFBA). Docente da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Email: aisicedraz@hotmail.com
II Enfermeiro; Graduado em Enfermagem pela UFRB. Coordenador da Pediatria do
Hospital Regional de Irecê. Email: waraujo_09@yahoo.com.br;
RESUMO
Introdução: Um internamento na Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTIN)
deve dar conta de questões complexas, estando a abordagem da Enfermagem
vinculada às questões biológicas, assim como às demandas emocionais dos pais e
das crianças, incluindo a abordagem da família neste cuidado. Assim, é importante
conhecermos como os pais percebem esse cuidado dispensado, de maneira que
esse estudo tem como objetivo geral compreender a percepção dos pais de recém-
nascidos (RN’s) prematuros internados sobre a assistência de enfermagem em uma
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Metodologia: Apresenta abordagem
qualitativa, caráter exploratório e descritivo. Realizado na UTIN de Hospital público
na cidade de Feira de Santana –BA. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas
com nove pais de prematuros, analisadas segundo análise de conteúdo de Bardin.
Resultados: Emergiram as seguintes categorias: Cuidados com a criança;
Evolução da Criança como reflexo do cuidado; Atenção de Enfermagem com a
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família e A confiança na equipe de enfermagem. Os resultados apontam que os
pais percebem a assistência de enfermagem atrelada aos procedimentos técnicos,
além de identificarem condutas humanizadas pela forma dos profissionais tocar e
conversar com as crianças. Evidencia-se que os profissionais realizam os
procedimentos com responsabilidade, demonstrando ainda carinho e afeto.
Conclusões: Reforça-se a necessidade dos profissionais de enfermagem das
UTINs sempre incorporarem o cuidado humanizado na sua prática, através de uma
proximidade com a criança e a família.
INTRODUÇÃO
De acordo com o Ministério da Saúde, considera-se como recém-nascido
prematuro aquele com idade gestacional inferior a 37 semanas. Estudos apontam
inúmeras causas que levam ao nascimento prematuro, a exemplo das relacionadas
ao aparelho genital feminino, alterações placentárias (placenta prévia e
descolamento prematuro) e excesso de líquido amniótico. A idade materna (maior
incidência em mães mais jovens), infecções maternas, primiparidade (mais
frequente no primeiro filho) também são outros fatores a serem considerados,
embora, na maioria dos casos, a causa seja desconhecida (1).
Quando necessita permanecer sob cuidados pós-nascimento, o neonato é
colocado em um ambiente bastante diferente daquele em que se desenvolveu por
vários meses, agora sem a proteção do líquido amniótico e o som da voz materna,
repleto de equipamentos e recursos tecnológicos, onde receberá cuidados especiais
para a sua sobrevivência e o seu bem-estar: a Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal (UTIN).
Para os pais, a UTIN representa tanto a esperança de recuperação como
também o receio de perder um filho. Os pais que possuem filhos internados nesse
tipo de unidade vivenciam emoções como medo, angústia, ansiedade, solidão, que
se entremeiam, por outro lado, com a fé, alegria e esperança. Diante desses
sentimentos, a equipe de profissionais que trabalha na UTIN deve ser formada com
o intuito de prestar os cuidados técnicos necessários à recuperação e bem-estar do
neonato aliando-os ao cuidado humanístico e incentivando a relação família-bebê,
praticando, dessa forma, um cuidado humanizado (2) .
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Humanizar é resgatar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis
dos aspectos humanos na intervenção em saúde. É dar condição humana, é
civilizar (3) . A humanização é como o fortalecimento do comportamento ético de
articular o cuidado técnico-científico com o inconsolável, o diferente e singular, é
ressaltar a importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos físicos
e biológicos (3) .
A Enfermagem, por ser a profissão de saúde que mais está em contato
direto com o paciente e família, deve se preocupar ainda mais com a prestação de
cuidados em que o conhecimento científico não seja aplicado apenas na
manipulação de equipamentos e execução técnica, mas também que esteja
direcionado para as questões emocionais e comodidade dos indivíduos.
Foi instituído pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria/GM nº 569, de
01/06/2000, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), que
tem como prioridades: concentração de esforços para a redução das altas taxas de
morbi-mortalidade materna, peri e neonatal registradas no país; adoção de medidas
que melhorem o acesso, cobertura e qualidade do acompanhamento pré-natal, da
assistência ao parto, puerpério e neonatal; e ampliação das ações na área de
atenção à gestante (como, por exemplo, investimentos nas redes estaduais de
assistência à gestação de alto risco e destinação de recursos para treinamento e
capacitação de profissionais, além dos investimentos nas unidades hospitalares) (4) .
O enfermeiro da UTIN muitas vezes apresenta-se sobrecarregado de
atividades, em nível de tensão, com um ritmo de trabalho intenso e exaustivo, alguns
dos fatores que dificultam a prática do cuidado humanizado. Apesar disso, não pode
deixar de lado a preocupação com a assistência humanizada, em detrimento dos
afazeres burocráticos, os quais também fazem parte da rotina do enfermeiro na
UTIN para a prestação de cuidados, mas também deve incentivar toda a sua equipe
para cuidar humanamente.
Isso motivou a realização de uma pesquisa acerca da percepção dos pais de
recém-nascidos (RN’s) prematuros internados sobre a assistência de enfermagem
prestada em uma UTIN, partindo da problemática de que a humanização da
assistência de enfermagem aos recém-nascidos prematuros internados na Unidade
de Terapia Intensiva Neonatal do hospital pode ser negligenciada, ao tempo que se
valorizam os procedimentos técnicos e especializados.
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Diante do abordado, surge como questão de pesquisa: “Qual a percepção
dos pais de recém-nascidos prematuros internados sobre a assistência de
enfermagem prestada em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal?”
Espera-se que este estudo possa contribuir para o conhecimento sobre a
assistência de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, a partir
da opinião dos usuários do serviço. Isso proporcionará reflexões sobre o processo
de trabalho do profissional de enfermagem e sensibilizará a equipe quanto à prática
de cuidados voltados à humanização da assistência de enfermagem ao recém-
nascido prematuro. Espera-se também que os resultados encontrados forneçam
subsídios para intervenções diante da realidade encontrada, a exemplo da
capacitação de recursos humanos e/ou revisão de políticas sobre humanização.
Os objetivos desse estudo são: compreender a percepção dos pais de
recém-nascidos prematuros internados sobre a assistência de enfermagem em uma
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal; identificar aspectos inerentes à assistência
de enfermagem ao RN prematuro; e analisar a opinião dos pais sobre a prática de
cuidados de enfermagem aos recém-nascidos prematuros.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. O campo
para realização da pesquisa foi a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital
Geral Clériston Andrade (HGCA), localizado em Feira de Santana – Bahia. Este
setor foi escolhido devido ser referência de assistência neonatal na região.
Os sujeitos do estudo foram 09 (nove) pais de recém-nascidos prematuros
internados na UTIN há pelo menos quatro dias, que estiveram presentes no
momento da pesquisa. Esse período de internação foi definido devido à suposição
de maior contato dos sujeitos com a equipe de enfermagem do setor, fator esse que
facilitaria a descrição do processo de trabalho desta equipe por parte do
entrevistado.
Como critérios de inclusão, considerou-se: ser pai ou mãe do RN prematuro;
ter visitado o filho pelo menos três vezes e assinar voluntariamente o Termo de
Consentimento Livre e esclarecido. Foram adotados como critérios de exclusão:
genitores adolescentes, portadores de surdez e/ou mudez, ou que estivessem em
condição psicológica que impedisse a realização da entrevista.
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A coleta de dados foi facilitada considerando que os pais têm acesso livre à
UTIN, podendo permanecer o tempo que quiserem, com exceção da pernoite, pois o
setor não tem acomodações para que estes durmam.
Com relação aos aspectos éticos, os sujeitos foram identificados com um
nome de um pássaro, a fim de garantir a confidencialidade de identidade e a
privacidade. A pesquisa teve parecer favorável do Comitê de Ética da Faculdade
Maria Milza (FAMAM), protocolo nº 072/2010.
Para coleta de dados, foi utilizada a técnica da entrevista semi-estruturada.
A entrevista semi-estruturada possibilita a interação pesquisador-pesquisado e
permite a captação imediata das informações indispensáveis, praticamente com
qualquer tipo de informante, permitindo o entrevistador fazer as adaptações
necessárias e a formulação de perguntas de forma mais livre (5) .
enfermagem”
Para realização da entrevista, formulou-se duas questões norteadoras:
• “Fale sobre a assistência que seu filho tem recebido aqui da equipe de
• “Como seu filho está sendo cuidado?”
De acordo com cada entrevista, outras questões relacionadas aos objetivos
do estudo foram feitas com o objetivo de esclarecer o máximo possível sobre o
assunto e direcionar o curso da entrevista. As entrevistas foram gravadas e
realizadas em uma sala reservada do Alojamento Canguru, a fim de garantir
privacidade e sigilo por parte do entrevistado.
A coleta de dados ocorreu no mês de novembro de 2010, sendo adotada
como estratégia facilitadora a ida do pesquisador preferencialmente no período da
manhã, pois foi neste turno que aconteceram um maior número de visitas realizadas
pelos pais.
As entrevistas foram transcritas na íntegra, atentando-se para o fato destas
não perderem aspectos relevantes para a interpretação e análise, tais como: os
silêncios, as palavras, as pausas, exclamações e interrogações, os risos e choros,
etc. Posteriormente, as falas foram conferidas quanto à ortografia e à gramática,
conservando criteriosamente o teor das mesmas e as expressões idiomáticas
específicas.
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Para análise dos dados, os mesmos foram agrupados e analisados segundo
a Análise de Conteúdo proposta por Bardin. Este método permite identificar os
principais elementos nos discursos em um determinado grupo (6) , o qual neste estudo
direcionou-se para a visão dos pais sobe os cuidados de enfermagem com a criança
prematura.
Esta técnica consiste em três etapas: a pré-análise, por meio da leitura
exaustiva das entrevistas; a exploração do material, que se trata da análise
propriamente dita; e a interpretação dos dados (5) .
As unidades temáticas foram elaboradas a partir da convergência das falas e
emergiram as seguintes categorias: Cuidados com a criança; Evolução da
Criança como reflexo do cuidado; Atenção de Enfermagem com a família; “A
confiança como ferramenta do cuidado”.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Este capítulo retrata o universo temático do cuidado de enfermagem junto à
criança prematura a partir da percepção dos pais. Na primeira parte, faz-se uma
apresentação dos sujeitos envolvidos neste estudo, através das suas características
sócio-demográficas e posteriormente apresentam-se as falas mais significativas dos
pais, agrupadas segundo as categorias.
OS PAIS DOS PREMATUROS
Foi possível conhecer os sujeitos entrevistados, por meio dos dados sobre o
perfil sócio-demográfico dos mesmos, envolvendo o contexto social em que vivem.
Também foi questionado aos pais se já haviam acompanhado o
internamento de algum filho antes, sendo que tal questão não se aplicou àqueles
que possuíam apenas um filho; todos responderam negativamente, evidenciando
que estavam passando por uma experiência nova.
A caracterização dos pais entrevistados evidenciou que eram jovens, com
idade entre 19 e 36 anos; a maioria com 2º grau completo e apenas um filho. Dos 09
(nove) participantes, apenas 03 (três) eram do sexo masculino.
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A presença do pai nos cuidados com o filho é dificultada pela questão
cultural de nossa sociedade, na qual a atenção e o cuidado com o filho é uma
atribuição exclusiva da mulher, sendo esta a que mais se faz presente na unidade (7) .
Com relação à religião, dois afirmaram possuir a religião católica, outros dois
afirmaram ser Testemunhas de Jeová e três relataram ser evangélicos. Dois
entrevistados optaram por não divulgar a sua religião, por motivos desconhecidos.
A religião representa um conforto para a família da criança hospitalizada,
minimiza o sofrimento, a inquietação e traz esperança; o surgimento de uma doença
gera para o familiar um questionamento existencial sobre o sentido da vida e os
motivos pelos quais está vivenciando aquela situação, fazendo com que procure
explicações pautadas na vontade divina (8) .
Todos os entrevistados, exceto um, que estava desempregado, relataram ter
uma profissão/ocupação. Quanto ao número de filhos, 07 (sete) pais afirmaram ter
apenas um (o RN internado, neste caso) e outros dois possuíam 02 (dois) filhos
cada um.
CUIDADOS COM A CRIANÇA
Nesta categoria, discute-se o universo temático sobre o cuidado com a
criança, a partir dos procedimentos técnicos descritos pelos pais, assim como pelos
cuidados referentes à aproximação do profissional de enfermagem com a criança.
Cuidados Técnicos: uma estratégia para o cuidado humanizado
Nessa subcategoria, percebe-se que os cuidados de enfermagem estão
associados, para os pais, aos cuidados técnicos, os quais são traduzidos como
cumprimento de horários, delicadeza ao manipular a criança, cuidados com a
higiene e conforto.
Eu tô sempre... entro assim no horário que está dando medicamento
e às vezes também alimentando...e tudo na hora certa...tudo no
horário correto (Beija-flor).
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Se ela faz cocô eles sempre trocam, nunca deixam ela de cocô, se
ela faz xixi, eles tiram o xixi, alimentação na hora certa, não deixa ela
chorar (Sabiá).
Nós já vimos eles dando leite, alimentação a ele pela sonda. [...] dá
banho, alimentação nas horas certa (Pássaro Preto).
A recuperação da criança também está relacionada com os cuidados
técnicos mais simples, como a troca de fraldas, que pode evitar uma infecção
urinária, por exemplo, a mudança de decúbito, a higiene do leito e alimentação, de
acordo com as necessidades de cada criança.
Os relatos acima, associados à fala abaixo, deixam transparecer que os pais
percebem que os cuidados são realizados com responsabilidade, associando-os ao
cumprimento de horários para medicações e dietas.
As pessoas são boas, tem muita responsabilidade (Beija-flor).
Para Kamada; Rocha(9), as intervenções de enfermagem devem promover
conforto para a criança e ajudá-la na transição da vida intra-uterina para a vida
extra-uterina, evitando o estresse, manipulação desnecessária e estimulação
indesejada. Estes autores ainda encontraram como resultado de seu estudo que os
cuidados dispensados à criança, como higiene corporal, troca de fraldas, higiene do
ambiente são percebidos pelos pais como função da enfermagem.
Alguns exemplos de procedimentos de enfermagem realizados com as
crianças e percebidos pelos pais como importantes para o conforto e comodidade de
seus filhos foram elucidados, apesar de, algumas vezes, transmitirem incômodo. Os
pais caracterizaram a assistência de enfermagem pela delicadeza e cuidado com
que os profissionais realizavam os procedimentos.
A assistência de enfermagem ela é super bem, sabe?! [...] Eles não
deixam chorar e às vezes tá numa posição lá que a gente vê que tá
passando mal [...] eles vem, ajuda a gente, vira, às vezes fica
agoniada porque fica de buço, aí a gente fica com medo de ficar
sufocada [...] Elas vai e vira...são bem cuidadosas mesmo elas
(Sabiá).
Eu já vi eles colocando [...] sonda né?!...e é um procedimento meio
chato pra ele, que ele...toda vez que ele se incomoda ele puxa. Já vi
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ela colocar e ele tirar logo depois, aí tem que colocar as luvinhas na
mão pra ele não ficar puxando. Mas é feito com muita delicadeza
(Canário).
Por outro lado, observou-se que a falta de higiene na UTIN também foi
relatada, apontada como de grande importância no ambiente em questão. O
depoimento abaixo revela a opinião de que os profissionais da UTIN têm que se
mostrar como exemplos para os pais, haja vista que exigem que os mesmos adotem
as precauções higiênicas para terem acesso, mas os próprios profissionais que
orientam não as executam. Além disso, nota-se que há uma preocupação da mãe
quanto às conseqüências da falta de higiene para a saúde do filho.
Tava saindo uma secreção da cabeça, tinha alguns paninhos lá
dentro e o lençol tava sujo, o braço... tudo, o pescoço... percebi que
tava sujo, que era pra tá limpando toda hora, mas já que é na UTI
tem que ter mais higiene [...] tantos cuidados pra gente entrar na
sala, tem que lavar as mãos direito, tem que usar a roupa, mas lá
dentro não tá assim... sendo como deveria, a gente fica pensando
nisso também. Será se não pega alguma... infecção, alguma doença,
da falta de higiene?! Por que se eles pedem pra que a gente limpe,
lave as mãos, passe o gel em tudo, então deveria também tá atento
a todo esse cuidado, de tá trocando sempre (Gaivota).
Percebeu-se também que os profissionais solicitavam a saída dos pais para
que fossem realizados alguns procedimentos mais invasivos, considerados muito
impactantes para eles. Dessa forma, esse tipo de assistência de enfermagem com
as crianças não era realizado, na maioria das vezes, sob observação dos pais, os
quais se retiravam da unidade durante qualquer procedimento, demonstrando uma
centralização dos cuidados pela equipe de enfermagem.
Às vezes eles pede pra sair porque às vezes a criança pode ter
alguma reação, já sabem, né?! [...] Teve um momento mesmo que a
gente presenciou quando nosso bebê deu uma crise, ela chamou o
médico e já foi logo fazendo os procedimentos e disse: “Ó pai e mãe,
se retirem. Daqui a pouco a gente chama vocês que é rapidinho”
(Azulão).
Quando elas vão fazer algum procedimento a gente tem que sair. Aí
não tem como ver o que acontece lá nesse momento (Gaivota).
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Eu lembro que eu saía... tipo assim... na hora de dar medicamento.
Assim, então na hora de fazer raio-x ou alguma coisa assim eu saía,
entendeu?!...mas quando eu tava aí...elas pediam pra eu sair
rapidinho mas eu voltava (Beija-flor).
Durante o cuidado intensivo, os procedimentos são mais complexos e
instrumentalizados por técnicas específicas, mediadas por vários equipamentos, que
são alternadamente instrumentos e objetos do trabalho da equipe, este com a
finalidade de centrar-se na recuperação biológica de um ser imaturo, com
abordagem centrada na criança e sem espaços para a inserção da mãe na
organização do trabalho (7) .
Segundo Guimarães; Monticelli(10) é comum que todos os cuidados ao
recém-nascido sejam assumidos pela equipe neonatal em sua totalidade, muitas
vezes até com certo poder sobre os mesmos. Isso faz com que os pais comecem a
acreditar que, naquele ambiente, somente os profissionais têm que cuidar e suprir as
necessidades do neonato, cabendo a eles apenas a observação, de longe, de tudo o
que acontece no dia a dia.
Outros depoimentos demonstraram que a saída dos pais também é
solicitada porque os procedimentos causam irritação à criança, sendo uma forma de
evitar que eles presenciem o sofrimento do recém-nascido. Com isso, a equipe
acaba aliando o poder que tem sobre o cuidado com o sentimento de impotência e
sofrimento por parte dos pais.
A gente vê eles manuseando. Pede pra gente sair porque, como no
caso do meu filho mesmo, ele é muito inquieto, então quando você
pega nele ele já começa a chorar. A gente não guenta ver o filho
chorando, né?! Mesmo sabendo que é recém-nascido (Canário).
Ela não deixa a gente ver não. Nem tirar sangue...não é só do bebê
da gente, mas de outro bebê também eles não deixa. Fica com medo
de a gente ver e se assustar, entendeu?!Aí nunca deixa não (Sabiá).
Pede pra eu sair, aí eu saio. Que diz que as mãe tem dó... quando
eles tá furando o bebezinho. Que a mãe fica com dó, aí pede pra sair
(Bem-te-vi).
Os pais veem os procedimentos mais invasivos como causadores de
angústia para os filhos. Além disso, ainda reconhecem que a sua saída durante as
técnicas se deve ao fato de sofrerem juntamente com eles.
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Souza et al(11) encontraram em estudo que alguns equipamentos e
cuidados técnicos são vistos pelos pais como geradores de sofrimento, embora
tenham a consciência de sua necessidade para a melhoria do quadro clínico do
bebê e aumento da chance de sobrevida.
A presença do sofrimento também é uma justificativa utilizada pelos
profissionais para a ausência dos pais durante os procedimentos, considerando que
influenciará negativamente na realização do trabalho da equipe. Além disso, os pais
acreditam que os profissionais evitam a angústia deles quando não permitem a
visualização de algumas técnicas.
Elas têm medo da gente ver e ficar assustada e acabar até
atrapalhando o trabalho deles. Então elas pedem pra gente ir lá fora
[...] depois elas chamam a gente de volta [...] mas eles não deixa a
gente olhar eles furar, nem tudo não, pra gente não passar mal,
sabe?! (Sabiá).
Diante da ideia desses autores e das falas dos pais supracitados, sempre é
necessário que a permanência deles junto ao filho durante qualquer procedimento
invasivo e/ou doloroso seja discutida com os próprios pais e que não seja
previamente instituída pelo serviço de saúde que eles saiam para a realização
desses procedimentos. Dessa forma, a equipe flexibiliza a permanência da família
no momento em que esta se achar preparada e considerar o momento oportuno
para estar junto à criança.
A partir dos depoimentos, notou-se que os cuidados técnicos como troca de
fraldas, mudança de decúbito, alimentação e terapia medicamentosa eram
realizados com responsabilidade, delicadeza e atenção. Entretanto, os pais, em sua
maioria, não presenciaram a realização de cuidados mais complexos e invasivos,
pois a equipe sustentou-se no argumento de que eles sofrem juntamente com os
filhos, o que também acaba dificultando a assistência de enfermagem aos recém-
nascidos.
Neste sentido, o cuidado de enfermagem é em si mesmo tecnológico, pois
congrega o saber (ciência) ao fazer (arte e ideal) e deve ser provido da maior
atenção, em prol da dignidade do ser humano. A utilização dos recursos técnicos e
tecnológicos sinaliza a necessidade de repensar bioeticamente o cotidiano do
cuidado (12) .
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Nesta perspectiva, o acolhimento dos anseios e do sofrimento pode auxiliar
na re-significação do trabalho do enfermeiro, no qual seu saber cuidar é
caracterizado pelo vínculo, pela responsabilização (12) .
O cuidado humanizado a partir da interação profissional-criança
No ambiente hospitalar da UTIN são utilizados técnicas e procedimentos
sofisticados que podem propiciar reversão do quadro clínico que coloca em risco a
vida do recém-nascido. Entretanto, também é de fundamental importância que a
equipe de enfermagem que atua em UTIN encontre medidas para minimizar o
sofrimento e a dor do bebê e também de sua família. Com isso, não devem estar
somente capacitados tecnicamente, mas também sensibilizados para que planejem
uma assistência baseada nos fundamentos da humanização e da integralidade do
cuidado, proporcionando um ambiente tranquilo e acolhedor (13) .
Em se tratando de cuidado humanizado, as opiniões dos pais convergem na
medida em que relatam a presença de carinho, amor, atenção, responsabilidade,
dedicação, diálogo e aproximação dos profissionais durante a assistência de
enfermagem aos recém-nascidos.
Então eu vejo responsabilidade sabe?!...eu vejo aí fazendo
completamente com amor, com carinho, dedicação (Beija-flor).
Fala palavras carinhosas pra ela, cuida dela bastante; [...] transmite
aquele carinho, aquela atenção toda que faz ela se sentir bem; [...]
ela sempre vai lá e brinca: “Tá chorando porque bonequinho?”. Aí
sempre tá lá com o maior carinho, maior atenção com os bebês.
Quase todos os dias que eu tô lá vendo ela, eles sempre tão ali...
sempre tão ali brincando com o bebê e dando atenção a bebê
(Sabiá).
Fica fazendo carinho, dá o biquinho, pra ele ficar calmo. [...] Tratam
com muito carinho (Bem-te-vi).
A gente vê, com bastante amor mesmo da parte deles, bastante
atenção, bastante cuidado, prestação a todo momento. [...]
Conversam, chegam de junto, toca, conversa (Azulão).
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Os pais desejam que o cuidado não seja realizado apenas como obrigação e
meramente técnico, mas que esteja aliado a um gesto de carinho, um toque seguro,
uma voz suave. Os estímulos não partem somente dos aparelhos e equipamentos
modernos, mas também das mãos do cuidador que, muitas vezes, também realizam
procedimentos especializados e que promovem dor (10) .
A assistência de enfermagem ao recém-nascido prematuro perpassa os
cuidados técnico-científicos; vai além da administração de medicamentos, da troca
de fraldas, da sondagem e da monitoração de equipamentos. Abaixo, um
depoimento que contrasta com esse tipo de assistência, deixando claro que a
atenção e carinho são oferecidos apenas pelos pais.
Eu acho que o papel delas, além de trocar fralda, fazer curativo,
também é dar essa atenção, porque se eles dizem que não precisa
ficar aqui à noite, né?!, não precisa tá aqui o dia todo, é porque
poderia eles terem o mesmo cuidado (Gaivota).
A humanização presume um encontro entre a equipe de enfermagem e o
recém-nascido doente em que “a condição essencial é a vontade de encontrar e de
ser encontrado. O encontro pressupõe escuta, olhar, contato claro, aberto e
amoroso” (3) .
O trecho a seguir representa a preocupação do pai, após ser interrogado
sobre o conceito de ser bem cuidado, na transmissão de carinho à criança pelos
cuidadores, fazendo com que os mesmos transformem o ambiente complexo da
UTIN num ambiente seguro.
Ter carinho com a criança, né?! Porque alguns acham que ter
cuidado é dar todo equipamento, toda ferramenta; [...] Não é bem
isso. O filho pra ele tá...ter segurança, as pessoas tem que tá
manuseando e conversando com ele; pra ele saber que tem gente ali
que tá cuidando dele, né?! Que ele tá num lugar seguro. Então o
carinho é o mais importante do que até certos equipamentos que tem
lá (Canário).
Atrelado a isso, Rolim; Cardoso(3) afirmam que os conhecimentos não
podem ser direcionados apenas ao funcionamento de equipamentos, pois “o
conhecimento mais amplo do pequeno ser a quem se devota assistência é
primordial”. Essa ideia deve ser constante e a busca pela sua execução faz a equipe
de enfermagem mostrar empenho na prática do cuidado humanizado.
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O relato abaixo demonstra a opinião de uma mãe sobre o trabalho do
profissional enfermeiro, considerado por ela apenas como a execução de
procedimentos técnicos, desvinculados da prática de um cuidado humanizado.
Só tá fazendo o trabalho dele de enfermeiro mesmo, no caso o que
aprende que é fazer o curativo, limpar... essas coisas, mas eu acho
que atenção e carinho é um pouco frio, nesse aspecto, é frio
(Gaivota).
O relato acima torna-se uma exceção dos demais, pois foi a única
entrevistada que fez uma descrição de um cuidado meramente técnico, não
podendo, portanto, constituir-se como retrato do serviço onde foi realizada a coleta.
Por outro lado, sinaliza que ainda existem profissionais que não incorporam de
forma sistemática o cuidado humanizado em suas atividades cotidianas.
Quanto ao cuidado humanizado, os pais ainda demonstraram preocupação
com a realização destes, a partir da observação do tratamento dos profissionais
tanto com seus filhos como também com as outras crianças da unidade.
A gente fica observando como é que elas trata o bebê. E não é só o
da gente. os outros bebê que tá lá por fora [...] quando chora elas
vem brinca, e...sabe?!...tem aquele carinho todo, aí dá pra perceber
que tá sendo bem cuidado (Sabiá).
Às vezes eles pega no colo, quando pega eu fico observando como
tratam, tudo isso eu fico atenta, realmente eu fico (Patativa).
É a mesma coisa que a gente vê que tão tratando os outros, né?!. A
gente vê que quando a enfermeira vai tocar em outro vai
conversando com o bebê e aquele carinho, delicadeza; a gente vê lá
com os outros, a mesma coisa assim (Canário).
Kamada; Rocha(9), em estudo sobre as expectativas de pais e profissionais
de enfermagem em relação ao trabalho da enfermeira em UTIN, perceberam que o
cuidado de enfermagem dispensado aos bebês neste setor foi considerado muito
carinhoso; os pais avaliam a equipe como atenciosa e responsável e, muitas vezes,
observam o que estão fazendo não só com o seu filho, mas também com as outras
crianças.
Para alguns pais, a conversa do profissional de enfermagem com o recém-
nascido também é sinônimo de carinho e atenção. Os pais enfatizaram ainda a
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comunicação verbal do cuidador com a criança durante a realização de alguns
procedimentos:
Conversa com a criança: “Ô bebê, a mamãe tá aqui, ó. Vai ficar bem,
vai ficar melhor logo, você vai sair daqui”. Tá dando o medicamento e
tá conversando com o bebê (Patativa).
Aplica o medicamento eles explica: “Vai doer um pouquinho”; aquela
forma assim de carinho mesmo, de atenção (Azulão).
Ela chegou e falou: “Calma, moço! Vá dormir. Já tá fazendo esse
barulhinho de novo?!”. É como sentimento de carinho com ele
(Andorinha).
Conversa com ele [...] “Ô bebê, calma, calma, deixa eu fazer isso
aqui com você”; e fala o procedimento que vai fazer (Canário).
Esses relatos evidenciam a interação da equipe com os recém-nascidos,
processo que deve ser contínuo numa UTIN e fato para o qual Rolim; Cardoso(14)
sinalizam que a enfermagem atua individualizando e reconstruindo o cuidado, no
qual o RN se comporta não como objeto, mas como sujeito ativo e receptivo,
percebendo e interagindo com o cuidador.
Contrapondo a maioria das opiniões, outro depoimento revela que não há
relacionamento do cuidador com o recém-nascido, por meio da conversa e
manifestação de carinho:
Não conversa assim com ele, que deveria também né?! Quando tá,
no caso...fazendo alguns procedimentos. [...] Ele é muito agitado, aí
pra acalmar... na hora que for mexer... na hora que for cuidar... eu
acho que deveria conversar... com ele... tocar, fazer carinho pra ele,
pra ficar mais calmo (Gaivota).
O cuidado humanizado está relacionado com atitudes de dar atenção, ter
responsabilidade, cuidar bem, assistindo de forma integral, respeitando as
particularidades de cada um (13) .
A conversa com o recém-nascido representa uma preocupação dos
profissionais em dar atenção ao ser que está sendo cuidado, valorizando a sua
existência e não o entendimento da linguagem por ele. Isso é retratado pela
afirmação de um pai, o qual relata que a criança não precisa entender o que está
sendo dito para a mesma se acalmar:
4623

Trabalho 545
Ele não entende o que a...o enfermeiro tá falando, mas ele se acalma
quando a gente conversa com ele (Canário).
Com isso, os pais reconhecem que o cuidado humanizado, realizado com
atenção centrada no recém-nascido, tem influência na recuperação do mesmo.
Nesse sentido, torna-se oportuno ressaltar que a equipe incorpore a
comunicação como atividade sistematizada no cuidado do bebê, de maneira a
garantir que o cuidado implantado ou implementado seja sempre individualizado e
humanizado.
EVOLUÇÃO DA CRIANÇA COMO REFLEXO DO CUIDADO
Nesta categoria, discute-se a percepção dos pais em relação ao cuidado
recebido pela criança, a partir da sua recuperação. A melhoria do quadro clínico
significou, para eles, que o recém-nascido foi bem cuidado. Ou seja, a evolução da
criança torna-se reflexo da assistência que a mesma recebeu na UTIN.
Ele chegou lá bem complicado mesmo, o caso dele, e hoje já tá de
alta, né?! Então foi bem cuidado (Pássaro preto).
Essa visão reflete que as pessoas ainda têm incorporado o modelo
biomédico como padrão, à medida que entendem que a criança foi bem cuidada se
tem respostas positivas ao tratamento realizado. Nesta perspectiva, o cuidado se
restringe ao restabelecimento da saúde a partir da atuação exclusiva na doença,
através de tecnologias que a controlem, que a dominem (12) .
A partir do depoimento abaixo, pode-se afirmar que os pais souberam
identificar quando o recém-nascido estava evoluindo positivamente, citando, como
referência, o aumento do apetite:
Cada hora que eu chego lá que ela tá engordando, que ela tá
saudável [...] não tem nenhum tipo de doença [...] aí dá pra gente
perceber que o bebê tá bem através desse apetite dela, o que ela
toma (Sabiá).
Ao relatar que a assistência de enfermagem estava adequada, um dos pais
foi interrogado sobre o que o levou a tal conclusão:
4624

Trabalho 545
A melhora dele. A melhora dele como de outros bebês. Que a gente
já viu hoje comentando que um vai dar alta hoje. E devido ao tempo,
poucos dias, o bebê tá bem. Já tiraram do tubo ontem, só tá com o
tubinho no nariz, já tiraram o da boca. Tá se recuperando bastante.
[...] Ontem ele tava ainda com o tubinho na boquinha pra poder
respirar, hoje ele já tá sem, só tá no narizinho. Isso é melhora
(Azulão).
Percebe-se que o pai qualifica a assistência de enfermagem tomando como
base a recuperação não só de seu filho, mas também a de todos os RN’s da
unidade, além de levar em consideração o curto espaço de tempo em que houve a
evolução. Ademais, demonstra ainda que o significado dessa evolução se traduz na
redução de equipamentos/dispositivos em uso pela criança.
O recém-nascido, com frequência, tem pelo menos uma infusão venosa, fios
ligados para monitorização, sonda endotraqueal acoplada a um respirador e, na
maioria das vezes, permanece no interior de incubadoras (13) . Quando os pais veem a
diminuição gradativa desses equipamentos/dispositivos, apresentam sentimento de
esperança por acreditarem que a evolução está relacionada com a ausência destes.
A fala abaixo deixa claro que a mãe percebe a melhora do filho, associada
aos cuidados da equipe de enfermagem. Entretanto, está implícita a sua vontade de
permanecer com seu filho; assim como associa que este estaria ainda melhor se
houvesse a permanência constante dos pais.
Se eu tivesse com ele aqui seria diferente, mas... é... a questão
assim, que ele tá se recuperando direitinho... então é porque [...] tão
cuidando dele direitinho (Gaivota).
Carvalho et al(2) consideram que os pais passam a reconhecer a
necessidade de permanência do filho prematuro na UTIN quando observam a
evolução das condições de saúde do mesmo.
Com isso, é importante que eles tenham a consciência de que o filho precisa
estar naquele ambiente para que, cada vez mais, receba a assistência que necessita
em prol de sua recuperação. Mas, ratifica-se que, apesar disso, não devem se
esquecer de que a evolução do filho está dependente também de uma assistência
de enfermagem humanizada, a qual também envolve o cuidado com o bem estar
dos pais nesse processo, aspecto a ser abordado na categoria subsequente.
ATENÇÃO DE ENFERMAGEM COM A FAMÍLIA
4625

Trabalho 545
Aqui, são agrupados trechos das entrevistas em que os pais relatam sobre a
atenção de enfermagem para com eles, por meio do esclarecimento de dúvidas,
transmissão de informações e incentivo ao vínculo com o recém-nascido.
Ela disse: “Ó mãe, ela tá aqui na incubadeira pra poder...como se ela
tivesse dentro de sua barriga. Tá vendo esse aparelho aqui? Ela não
vai precisar respirar por esse aparelho aqui. Aqui a gente bota o
soro. Aqui é pra poder coisar a temperatura”. Então ela sempre
explica a gente o que é que significa. Ou então quando a gente tem
alguma dúvida a gente sempre pergunta: “Ó, pra que que isso aqui
serve?”. (Sabiá)
Ensina como pegar, como deixar ela quietinha. Põe a mão na cabeça
e nas perninhas. [...] Quando ela tá lá agitada, aí elas mandam eu
fazer isso. (Bem-te-vi)
Explica pra gente pra quando chegar, pegar na cabecinha firme,
conversar. (Azulão)
A UTIN representa um ambiente agressivo para os neonatos internados,
sendo que todo o aparato tecnológico visa à manutenção dos sinais vitais e melhoria
do quadro clínico (15) . Com isso, o amparo às mães e familiares nesse processo
torna-se muito importante, haja vista que tudo é novo para eles, requerendo uma
atenção especial por parte dos profissionais de saúde.
Logo, o enfermeiro deve dispensar atenção à família e ser capaz de auxiliá-
la na superação de seus medos, inseguranças, dúvidas, anseios e obstáculos que
venham a prejudicar na maneira de lidar com a internação do filho.
Para este fato, Silva, Silva; Christoffel(12) sinalizam que a equipe de
enfermagem deve compreender a vivência dos pais e do bebê numa situação-limite,
para dispor-se a valorizar as diferentes formas de enfrentamento que cada um
assume diante das dificuldades, as maneiras como experimentam o sofrimento da
separação, do adoecimento e da perda do contato corporal.
Apesar dos neonatos doentes estarem sobrevivendo com mais facilidade
devido às altas tecnologias e conhecimentos novos, sua internação em UTIN poderá
resultar em transtornos para as famílias, pois estas poderão ter dúvidas sobre a
intervenção utilizada, além de desgaste emocional (16) .
4626

Trabalho 545
Às vezes eu fico meio nervoso porque o pé dele solta o coisinha do
coração, né?! Aí eu chamo os enfermeiro, vai lá e explica porque é,
que é porque ele balançou o pezinho, botou um pé em cima do outro.
Na hora que a gente chama eles e procura algumas coisa, eles
conversa com a gente, tem atenção. (Pássaro preto)
Abaixo, um exemplo de que o profissional de enfermagem se preocupa com
o esclarecimento de dúvidas apresentadas pela mãe, se mostrando sempre com
disposição para atendê-la e, inclusive, incentivando que a mesma questione sobre a
situação clínica de seu filho:
Se eu quero pegar o bebê, se eu quero ficar com ela, aí elas me
ensina que eu posso passar a mão, que eu posso ficar com ela, que
eu posso pegar no colo, que eu posso perguntar como é que ela tá,
como é que ela não tá, que ela sempre tá lá disposta pra responder.
(Sabiá)
O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN)
fundamenta-se na ideia de que a humanização da Assistência Obstétrica e Neonatal
é condição primeira para o adequado acompanhamento do parto e do puerpério. Um
dos aspectos fundamentais compreendidos pela humanização diz respeito à
“convicção de que é dever das unidades de saúde receber a mulher, seus familiares
e o recém-nascido”, que requer ética e solidariedade por parte dos profissionais de
saúde e a organização da instituição com o objetivo de criar um ambiente
acolhedor (4) .
Os pais afirmaram também receber explicações sobre alguns procedimentos
que estavam sendo realizados pelos profissionais, durante sua execução,
demonstrando que eram incluídos na assistência direta ao recém-nascido.
Diz que vai dar um remedinho pra ele...que ia botar...que um ali era o
alimento dele...que dava na veia. (Bem-te-vi)
Às vezes vai dar um medicamento, aí eu tô perto: “Ó mãe, vai dar um
medicamento aqui”. (Patativa)
Eles informam que vai fazer o procedimento: “Ó mãe, tô dando
remédio, tô dando soro base, tô dando [...]”. (Azulão)
Todavia, dentre os depoimentos, apenas foi elucidada a informação quanto à
administração de medicamentos, haja vista que procedimentos mais complexos não
eram visualizados pelos pais, como já explicitado anteriormente.
4627

Trabalho 545
A presença efetiva da equipe de enfermagem é tão importante quanto o
procedimento técnico, uma vez que este nem sempre funciona tão bem diante de
situações de estresse. A essência do cuidar humano é atendida e compreendida
somente vendo, escutando, e sentindo o recém-nascido e a família com um todo.
Com isso, a enfermagem possui a responsabilidade de “envolver os familiares,
centrado na figura dos pais, no cuidado direto aos seus bebês” (13) .
Com relação ao incentivo ao vínculo família e recém-nascido, os pais
afirmaram que a equipe os tranquiliza quando os insere na assistência ao filho,
dando atenção e elogiando quando permanecem ao lado do mesmo. Além disso,
exemplificaram como a equipe faz para aproximá-los da criança e aumentar esse
vínculo.
Até o tempo que eu fico eles chegam, elogiam: “Ó mãe, continua
conversando que tá ajudando!”. Então eu sei que também tá atento a
mim. Então isso já me tranquiliza. (Patativa)
Explica pra gente pra quando chegar, pegar na cabecinha firme,
conversar. [...] Fala pra gente [...] conversar bastante que isso ajuda
bastante o bebê, estimular a criança ajuda bastante; manda a gente
conversar, manda a gente tocar firme [...]. (Azulão)
Eles falaram pra mim que quando eu for visitar ele pra sempre tá
tocando nele, acariciando, abraçando com ele. Deram até um
folhetinho explicando a importância do toque materno. [...] Eles falam
que é pra gente acariciar o bebê, pra ele sentir a nossa presença.
(Andorinha)
Percebe-se que a atenção da equipe de enfermagem com os pais transmite
tranquilidade aos mesmos, fazendo com que eles acreditem que a formação do
vínculo é benéfica à recuperação da criança.
Algumas mães conseguem superar o medo que sentem no primeiro contato
com o recém-nascido prematuro e, com o tempo, vão percebendo que, do mesmo
modo que foram importantes para gerar aquele ser, agora são essenciais para
mantê-lo. Percebem “que mesmo não podendo pegar no colo e amamentarem, o
simples fato de estarem presentes, conversarem, acariciarem e tocarem significa
muito para o RN, ajudando-o na sua recuperação” (17) .
Quanto mais a gente for pra ele sentir a presença da gente, melhor
pra ele, a recuperação é mais rápida. (Andorinha)
4628

Trabalho 545
Loureiro; Castilho; Silva(18) afirmam que o estabelecimento e manutenção
do vínculo durante o período de hospitalização é fundamental para o despertar do
cuidado da família para com o RN, pois acelera o processo de recuperação da
saúde deste. Sinalizam ainda que o contato íntimo dos pais com o bebê exerce
profundos efeitos no futuro crescimento e desenvolvimento do filho. No primeiro
contato dos pais com o RN, deve-se explicar todo equipamento envolvido no
cuidado e as razões pelas quais o mesmo necessita de cuidados intensivos e qual
será o curso do tratamento.
Logo, o profissional de enfermagem deve integrar à assistência o cuidado
com a transmissão de informações à família sobre tudo o que acontece com o
recém-nascido. O relato a seguir demonstra o contrário, ou seja, a enfermeira não
mantém um diálogo sobre o curso do tratamento da criança com a família,
transferindo-o para o profissional médico.
Ontem eu cheguei lá e tavam querendo entubar ele, sabe?! A
enfermeira veio e disse: “Não, não se preocupe muito não que depois
o médico vem falar com você”. Mandou eu sentar e aguardar. Eu
sentei, aguardei, e o médico chegou e conversou comigo. (Pássaro
preto)
A criança e a família como centro da assistência de enfermagem ainda é
incipiente e a convivência dos enfermeiros com a realidade de cada família tem
sensibilizado na experiência do cuidado. Nesse contexto, sugere-se que a
enfermagem se faça presente, interagindo dia-a-dia com o RN e familiares,
compartilhando percepções, crenças e valores, auxiliando na reorganização dos pais
e familiares, na sua adaptação em relação à situação vivenciada, ao ambiente
hospitalar, promovendo, dessa forma, o desenvolvimento do vínculo dos pais/família
com a criança, sendo de vital importância para um crescimento e desenvolvimento
saudável desta (13) .
“A CONFIANÇA COMO FERRAMENTA DO CUIDADO”
Nessa categoria, são elencados os depoimentos dos pais relativos à
confiança na equipe de enfermagem. Aqui, a confiança é compreendida como a
esperança firme em alguém, sentimento de segurança, de certeza, tranqüilidade,
sossego daquele que confia na probidade de alguém.
4629

Trabalho 545
Eles relatam que, mesmo estando longe dos filhos em alguns momentos,
sentem-se seguros quanto à assistência recebida pelos mesmos, fazendo referência
aos profissionais como pessoas da própria família que estão prestando os cuidados.
Transmite até um pouco de confiança pra gente mesmo que somos
mãe que estamos longe, e às vezes a gente vai pra casa e deixa eles
lá [...] elas tratam como se fosse parente [...] como se fosse alguém
da própria família delas. (Sabiá)
É que lá é bem cuidado, como se fosse a mãe. (Bem-te-vi)
Parece como se fosse sobrinho ou filho, sabe?! Como se fosse
alguém achegado a eles. (Canário)
Essas falas demonstram a proximidade da equipe com a criança, a qual
possibilita que a família confie nos profissionais de saúde, permitindo uma certa
tranqüilidade nos momentos me que aquele não pode estar presente.
Outro depoimento permite concluir que a atenção de enfermagem também é
facilitadora no processo de confiança da família no profissional:
Esse tipo de atitude mesmo, que chega: „Ó mãe, aqui come e dorme.
Aqui é uma benção. Não abusa, não chora de jeito nenhum‟. Então
são atitudes que passa a gente ficar mais confiante. Pra gente saber
que nosso filho está em boas mãos. (Sabiá)
A atenção recebida e o relacionamento interpessoal estabelecido entre
enfermeiros e pais são ações que geram conforto e sentimento de segurança e
confiança na equipe de enfermagem.
A tecnologia utilizada e os equipamentos modernos desencadeiam
insegurança e medo nos genitores, como já foi explicitado, mas esses sentimentos
podem ser amenizados à medida que recebem orientações e confiam na equipe de
enfermagem que cuida do seu filho. Dessa forma, novos sentimentos são aflorados
como a fé, a alegria, confiança e esperança, pois os pais entendem que os
profissionais possuem capacidade técnica para desempenho de suas funções (2) .
Os pais confiam na capacidade da equipe de enfermagem em manusear os
equipamentos, cuidar do bebê e transmitir informações, sendo que sentem-se
respeitados quando suas dúvidas são esclarecidas e suas necessidades são
atendidas (9) .
4630

Trabalho 545
Eles conversam com a gente. O jeito que ele passa as informações,
o jeito que eles trata. Isso tudo a gente vê que a equipe de
enfermagem tão bem preparados pra agir no cargo deles. (Azulão)
Então aqui a gente vê um tratamento é...muito bem feito, percebe
que tem muita segurança no trabalho deles. [...] uma estrutura já
montada, eles já sabem onde tão as ferramentas, já tem tudo no
lugar certo. Então eles fazem as coisas com muita segurança e com
muita calma. (Canário)
Percebe-se que os pais se referem ao trabalho dos profissionais de
enfermagem, não só envolvendo a capacidade técnica e presença de instrumentos
necessários para isso, como também a preocupação com o cuidado humanizado, a
partir do diálogo e inclusão da família na assistência ao recém-nascido. Eles
demonstram confiar na equipe quando afirmam que, além dos profissionais estarem
preparados para exercer a profissão, estes mantém a calma e trabalham com
segurança.
Mezzaroba; Freitas; Kochla(19) consideram que a formação dos
profissionais de saúde, na maioria das vezes, “está voltada para o agir a partir de
uma visão individualizada e objetivada do corpo e da doença, com base no modelo
biomédico”. Porém, contrariando esse paradigma, devem estar aptos às novas
demandas da assistência para que consigam formar vínculo e confiança por parte da
família.
O cuidado de enfermagem com a família deve ir além da permissão da
visita, deve incluir o estabelecimento da relação de confiança, segurança e de ajuda,
na qual a equipe de enfermagem identifica as necessidades da família e paciente,
beneficiando o tratamento do último (19) .
Com isso, os pais afirmaram sair da visita na UTIN e, mesmo na ausência,
confiarem na equipe de enfermagem:
Eu vou pra casa sossegada, aliviada com minha consciência [...]
limpa. Porque eu sei que minha filha está em boas mãos. Sei que
minha filha não está em mãos ruins. Eu sei que minha filha está com
pessoas que tá do lado dela 24 horas ali, no tudo que ela precisar, tá
ali disposto pra ajudar ela. Então eu vou pra casa sem preocupação
nenhuma, bem aliviada mesmo. (Sabiá)
A gente fica imaginando se acontecer alguma coisa quando a gente
não está lá, né?! Mas como a gente vê, assim...a forma que eles
4631

Trabalho 545
tratam, né?! A gente fica seguro. [...] A gente é pai, a gente [...] quer
tá do lado do filho o tempo todo, né?! Mas eu sinto segurança sim,
quando eu saio de lá, eu sempre sei que eles estão cuidando bem
dele. (Canário)
Por outro lado, alguns pais ainda revelaram um pouco de preocupação ao
sair da unidade e deixar o filho “sozinho”, apenas sob cuidados dos profissionais,
demonstrando também que o bom cuidado é aquele dado apenas por eles:
Eu fico pensando: “Como é que tá lá? Será que tão tratando como a
gente tá lá?”. Porque quando a gente tá na UTI eu vejo que eles
tratam com carinho, com amor. Vejo que eles têm cuidado.[...] fico
preocupada. Porque bom mesmo é quando tá com a gente, né?!
(Bem-te-vi)
Eu fico imaginando: [...] “Será que tão cuidando, será que tão é...
fazendo tudo direitinho?”. Fico com medo. [...] a gente dá os
cuidados que eles deveria ter em casa, da mesma forma eu acho
que deveria ser aqui. [...] eles deveriam suprir o que ele teria em
casa. (Gaivota)
Nesse caso, apesar de elogiarem a assistência de enfermagem quando
estão presentes na unidade, não têm confiança suficiente na equipe para fazerem o
mesmo quando estão ausentes. Isso faz com que os pais das crianças
hospitalizadas fiquem ansiosos e preocupados, como foi visto, podendo até sofrer
problemas relacionados à saúde.
De acordo com Dias; Motta(20), em muitos momentos, a família é incapaz
de dar apoio psicológico ao seu filho, devido às próprias incertezas sobre o que
fazer no hospital, associado, por vezes, ao linguajar estranho da equipe e aos
próprios sentimentos de medo. Portanto, o cuidado deve fluir de forma tranquila e
coerente, sedimentando-o através do interesse mútuo e respeito às limitações. A
adaptação ao ambiente hospitalar solidifica-se com atitudes verdadeiras de cuidado,
levando a uma parceria da família com a enfermagem. Desse modo, pode surgir a
confiança como ferramenta de cuidado.
Para que a segurança e confiança na equipe estejam presentes, torna-se de
grande relevância a inclusão da família na assistência ao recém-nascido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
4632

Trabalho 545
A realização do presente estudo foi facilitada pela receptividade, tanto das
equipes de enfermagem que estavam de plantão no momento da pesquisa quanto
àquela referente aos sujeitos do estudo e ao próprio hospital como um todo, os quais
compreenderam a importância de estudos como este para a melhoria da assistência
de enfermagem ao recém-nascido prematuro, a partir da opinião de quem usufrui
deste serviço.
Entretanto, algumas dificuldades também se fizeram presentes, como o
horário de visitas realizadas pelos pais, o qual fez com que o pesquisador
permanecesse um tempo maior na unidade, visto que eles não estabeleciam
horários fixos para a visita, pois o horário desta era livre; a carga horária acadêmica
elevada aliada à localização do hospital, o que muitas vezes inviabilizou a ida a
campo; e a falta de espaço na UTIN destinado à realização de entrevistas, fazendo
com que o pesquisador se deslocasse para o Alojamento Conjunto do hospital para
tal.
A partir dos depoimentos, observou-se que os pais se constituem em
verdadeiros avaliadores da assistência de enfermagem em uma Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal. São eles que têm conhecimento das reais necessidades dos
filhos, da maneira como se comportam, do que fazem sorrir ou chorar, do que mais
incomoda, do que realmente os faz bem. Querem estar sempre presentes, tirar
dúvidas e assistir a cuidados simples que imaginavam estar fazendo após o
nascimento do filho.
A equipe de enfermagem deve estar preparada para receber esses pais e
incluí-los nos cuidados do filho, seja nos cuidados básicos (troca de fraldas,
alimentação, higiene), seja no apoio emocional. Essa equipe deve ter sensibilidade e
compreensão de que a presença dos pais na UTIN é essencial para uma
recuperação mais rápida do recém-nascido; tornando-se, dessa forma, grandes
parceiros na eficácia da assistência de enfermagem, a qual deve estar centrada na
díade família-criança.
Os depoimentos dos pais dos recém-nascidos prematuros revelaram que a
assistência de enfermagem, apesar de às vezes deter-se em procedimentos
técnicos e especializados, também esteve voltada para o cuidado com amor,
carinho, atenção, responsabilidade e segurança por parte dos profissionais. Os pais
demonstraram confiar na equipe de enfermagem durante a ausência na UTIN e
observaram que alguns profissionais incentivam o vínculo quando estão na visita.
4633

Trabalho 545
É válido ressaltar que, de acordo com a opinião dos pais, a assistência de
enfermagem na UTIN pesquisada está sendo humanizada, apesar de alguns relatos
isolados apontarem atitudes contrárias, pois os profissionais de enfermagem
assistem não só as carências físicas do recém-nascido como também suas
necessidades emocionais, dando carinho, afeto, amor, atenção e, além disso,
incluem também os pais nesse processo, como cuidadores e co-participantes da
assistência.
Apesar disso, em alguns momentos os pais perceberam que a presença ao
lado do filho durante a realização de procedimentos pela equipe de enfermagem
poderia atrapalhar a assistência, distanciando-se nesse momento, sendo
encorajados a fazer isso pela própria equipe. Os profissionais não permitiram que os
pais assistissem a alguns procedimentos porque julgaram provocar sentimento de
compaixão nestes.
Algumas entrevistas revelaram que os pais têm consciência da permanência
do filho na UTIN para que consiga a recuperação clínica, esta observada por eles
principalmente pelo ganho de peso, ausência/diminuição de aparelhos e dispositivos
em uso e aumento do apetite da criança. Ademais, ainda ressaltaram a importância
da equipe de enfermagem e de uma assistência de qualidade para que o tempo de
internação fosse diminuído e, dessa forma, conseguissem ter o filho o mais breve
possível sob seus cuidados.
Percebeu-se que os pais identificaram e distinguiram os cuidados tecnicistas
daqueles relacionados aos sentimentos e emocional da criança. Relataram que a
aproximação do profissional de enfermagem com o recém-nascido é um fator que
contribui para o seu prognóstico positivo, além de transmitir confiança e diminuir a
ansiedade por parte deles.
Com isso, diante dos resultados encontrados, notou-se que a assistência de
enfermagem é compreendida pelos pais como a realização de procedimentos como
a troca de fraldas, administração de medicamentos, troca de curativos, aliados à
formação de vínculo profissional-recém-nascido, principalmente por meio da
conversa, e ao incentivo ao vínculo família-criança.
Faz-se necessário que o profissional de enfermagem que trabalha na UTIN
sempre esteja atualizado no que concerne aos conhecimentos sobre o cuidado de
enfermagem humanizado, haja vista que lidam diariamente com pacientes recém-
chegados ao mundo extra-uterino, que ainda não apresentam nem compreendem a
4634

Trabalho 545
linguagem, os quais estão fortemente ligados à família, representante de suas
preferências e questionamentos. Para isso, intervenções a exemplo da capacitação
de recursos humanos e revisão de políticas sobre humanização devem ser
realizadas, além de mais estudos sobre a temática na comunidade científica.
Espera-se que as equipes de enfermagem se sensibilizem, diante do
reconhecimento dos pais sobre a assistência de enfermagem prestada em uma
UTIN, e percebam que também devem inserir a família nesse processo, praticando
cuidados voltados à humanização da assistência de enfermagem e vínculo com a
família. Sugere-se a realização de atividades de capacitação profissional pelos
serviços de saúde sobre a temática, haja vista que alguns profissionais ainda têm
práticas isoladas com relação ao cuidado humanizado, de forma a garantir uma
incorporação do cuidado humanizado como filosofia institucional e prática pessoal.
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Trabalho 545
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