1 UMA ESTÁTUA PARA UM HERÓI. No dia 08 de Abril de ... - anpuh
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<strong><strong>UM</strong>A</strong> <strong>ESTÁTUA</strong> <strong>PARA</strong> <strong>UM</strong> <strong>HERÓI</strong>.<br />
Liesly Oliveira Barbosa<br />
Bacharelanda em História – UFC<br />
<strong>No</strong> <strong>dia</strong> <strong>08</strong> <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> <strong>de</strong> 1888 é inaugurada a primeira estátua <strong>de</strong> caracter<br />
nacionalista em uma praça <strong>de</strong> Fortaleza. A estátua era uma homenagem <strong>de</strong> seus<br />
admiradores ao General Antônio Tibúrcio Ferreira <strong>de</strong> Sousa que lutou na Guerra do<br />
Paraguai. As celebrações e homenagens foram organizadas por gran<strong>de</strong> parte das<br />
instituições comerciais, civis e militares da capital.<br />
Segundo Ricardo Oriá, os primeiros monumentos erigidos em Fortaleza se<br />
<strong>de</strong>stacam por representar o i<strong>de</strong>ário monarquico na cida<strong>de</strong>, porém, por mais que o<br />
monumento em homenagem ao General Tibúrcio tenha sido erigido durante o período<br />
imperial e represente um heroi da pátria na Guerra do Paraguai, não po<strong>de</strong>mos analisá-lo<br />
somente como representante do i<strong>de</strong>ário monarquico, pois Tibúrcio era consi<strong>de</strong>rado por<br />
aqueles que o exaltaram como Democrata. Pois em matéria Publicada no Jornal<br />
Libertador <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1887 e posteriormente transcrita na Revista do Instituto<br />
Histórico do Ceará intitulada: O General Tiburcio. Traços principais, é novamente<br />
evi<strong>de</strong>nciado o pensamento político <strong>de</strong> Tibúrcio quando o autor <strong>de</strong>staca que o mesmo<br />
“Era profundamente republicano”. Sem esquecer que a participação ativa <strong>de</strong> Tibúrcio<br />
na campanha abolicionista era tão intensa que o ren<strong>de</strong>u uma homenagem no quadro<br />
Fortaleza Liberta , figurando-o entre os abolicionistas que participaram da abolição no<br />
Ceará. Sendo assim, o pensamento político do General não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado,<br />
principalmente se levarmos em consi<strong>de</strong>ração o momento histórico da criação <strong>de</strong> sua<br />
estátua, on<strong>de</strong> seus admiradores e amigos conheciam e <strong>de</strong>fen<strong>dia</strong>m seus i<strong>de</strong>ais, pois o que<br />
<strong>de</strong>veria ser homenageado era o próprio Tibúrcio e os seus feitos pela nação, o império<br />
só seria representado no monumento pela importância da Guerra do Paraguai.<br />
<strong>No</strong>s poucos números dos jornais ainda preservados <strong>de</strong> parte do período que vai<br />
<strong>de</strong> 1885, ano da idéia, a 1888, ano da inauguração , durante o anno <strong>de</strong> 1887 e 1888, na<br />
coluna Monumento Tiburcio do jornal Libertador foram publicados para a população os<br />
passos para a efetivação do monumento e para as festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua inauguração. A<br />
organização das festivida<strong>de</strong>s foi planejada com antece<strong>de</strong>ncia a partir da divisão das<br />
commisões que contavam com vários setores da socieda<strong>de</strong> da capital e do exterior para<br />
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a ereção do monumento e a organização da cerimônia. Para Catroga, com a convocação<br />
dos indivíduos para espaços públicos e ao ar livre, montaram-se representações com<br />
explícitos propósitos pedagógicos-cívicos, mormente na <strong>de</strong>coração, or<strong>de</strong>nação e<br />
composiçãos dos <strong>de</strong>sfiles. E o mesmo po<strong>de</strong> ser percebido quando da análise da efetiva<br />
participação <strong>de</strong> vários setores da socieda<strong>de</strong> nas várias comissões encarregadas dos<br />
festejos <strong>de</strong> inauguração.<br />
Dentre as publicações do jornal Libertador encontram-se os anuncios <strong>de</strong> várias<br />
commissão envolvidas na inauguração do monumento que enviariam representantes<br />
nomeados para a solenida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre estas po<strong>de</strong>mos citar: o Club Educando Caixeiral, a<br />
classe dos funccionarios públicos, a Socieda<strong>de</strong> Beneficente 25 <strong>de</strong> Março do Pará, o<br />
Congresso Republicano, a Socieda<strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> Outubro, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito do Recife,<br />
a commissão do Instituto Histórico do Ceará, a Legião patriotica das senhoras, o Club<br />
Litterario, a commissão do batalhão Patriotico <strong>de</strong> Infantaria dos empregados do<br />
commercio, o batalhão patriotico dos artistas e o corpo <strong>de</strong> estudantes do secundário.<br />
Todas estas comissões reunião-se regularmente com o intuito <strong>de</strong> organizar o préstito<br />
cívico que ocorreria no <strong>dia</strong> da inauguração do monumento. Outras comissões<br />
trabalharam paralelamente com pessoas distintas, estas comissões ficaram encarregadas<br />
pala <strong>de</strong>coração e iliminação das ruas e praças por on<strong>de</strong> passaria o <strong>de</strong>sfile cívico. Porém,<br />
<strong>de</strong> acordo com alguns convites publicados no periódico a população também foi<br />
convidada a participar das festivida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inauguração do monumento que ocorreriam<br />
durante três <strong>dia</strong>s. Ficou ciente a população da cerimônia pelo seguinte convite:<br />
“Pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dirigir convites individualmente para toda<br />
população, a commissão do monumento expediu-os somente ao corpo<br />
consular, chefes <strong>de</strong> serviços públicos e auctorida<strong>de</strong>s civis, eclesiasticas,<br />
militares e judiciarias, convidando as <strong>de</strong>mais pessoas pela imprensa”. 1<br />
Assim sendo, algumas consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>vem ser feitas: que parcela da<br />
população do período era letrada? Quem tinha acesso aos jornais? Qual a tiragem dos<br />
periódicos? A que público eles aten<strong>dia</strong>m? Segundo o Albúm <strong>de</strong> Fortaleza organizado<br />
por Paulo Bezerra e <strong>de</strong>dicado ao Exmo. Sr. Capitão Roberto Carneiro <strong>de</strong> Mendonça<br />
então interventor fe<strong>de</strong>ral em 1931, a população <strong>de</strong> Fortaleza no ano <strong>de</strong> 1887 estava<br />
estimada em 26.943 habitantes e apenas 9.456 habitantes eram letrados. Sendo assim,<br />
po<strong>de</strong>mos perceber que menos da meta<strong>de</strong> da população <strong>de</strong> Fortaleza tinha acesso a<br />
leitura. Porém, neste período a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza ainda não tinha seu território<br />
1 Jornal Libertador <strong>de</strong> 02 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> <strong>de</strong> 1888, repetindo-se no <strong>dia</strong> 04 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> do mesmo ano.<br />
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expandido habitacionalmente, o bairro <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional e importância<br />
comercial era o centro, os outros bairros ainda não haviam sido habitados, bairros como<br />
o Benfica, hoje consi<strong>de</strong>rados centrais, ainda po<strong>dia</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como periferia, ou<br />
arraiais.<br />
A estátua do General Tibúcio foi encomendada a firma estrangeira Thiebaut<br />
Fréres <strong>de</strong> Paris por intermedio da filial da casa Boris em Fortaleza, que renunciou a<br />
qualquer commissão na encommenda, que lhes foi feita, da estatua do General<br />
Tiburcio, a qual tem contractado na officina dos Srs. Thiebaut & C a2 . Para a construção<br />
do pe<strong>de</strong>stal foi contratado o artista Fre<strong>de</strong>rico Skinner, contratado especialmente para<br />
essa obra e que posteriormente assentou mora<strong>dia</strong> em nossa capital e passou a oferecer<br />
seus serviços na imprensa local. A cargo do artista Val<strong>de</strong>vino Soares Freire ficou a<br />
criação <strong>de</strong> um Gradil <strong>de</strong> Ferro dourado que foi feito na Fundição Cearense. As colunas<br />
<strong>de</strong> ferro foram fundidas nas oficínas da Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong> Baturité e soldadas pelo<br />
artista Alfredo Milton <strong>de</strong> Sousa Leão.<br />
Diante da efetivação da obra e da sua posterior inauguração a comissão divulgou<br />
o programa dos festejos <strong>de</strong> inauguração do monumento Tibúrcio, que foram publicados<br />
no jornal Libertador <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> <strong>de</strong> 1888 3 , e relata o programa dos três <strong>dia</strong>s <strong>de</strong><br />
festivida<strong>de</strong>s. De acordo com o programa dos festejos po<strong>de</strong>mos perceber que o intuito da<br />
comissão era reunir no <strong>dia</strong> da inauguração do monumento gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, já<br />
que a festa não se resumiu ao ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar a estátua com os tradicionais discursos. A<br />
organização <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile cívico com a presença <strong>de</strong> várias agremiações e bandas<br />
musicais parece ter a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> congregar mais populares para as festivida<strong>de</strong>s já que<br />
a presença das autorida<strong>de</strong>s das classes abastadas já era uma certeza. Segundo Catroga<br />
(2005, p. 103-104), <strong>de</strong>ste modo, as comemorações tinham por finalida<strong>de</strong> representificar<br />
o passado, silenciando o facto <strong>de</strong> a sua evocação ser selectiva, processo me<strong>dia</strong>nte o<br />
qual o presente paga aos <strong>de</strong>funtos ilustres a sua dívida <strong>de</strong> reconhecimento, não por<br />
mero prazer necromântico, mas >. 4 Outro fato interessante é que<br />
após a inauguração do monumento as classes abastardas passaram a se confraternizar<br />
2 Jornal Libertador <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1887.<br />
3 encontrado no setor <strong>de</strong> micro-filmagem da Biblioteca pública Menezes Pimentel.<br />
4 CATROGA, Fernando. Nação, mito e rito: religião civil e comemoracionismo (EUA, França e Portugal)<br />
/ Fernando Catroga. – Fortaleza: Edições NUDOC / Museu do Ceará, 2005.<br />
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em outros locais como <strong>de</strong>staca a <strong>de</strong>scrissão do <strong>dia</strong> nove. Porém, mesmo <strong>dia</strong>nte <strong>de</strong>ste<br />
fato, a praça continuou iluminada e alegrada pelas bandas <strong>de</strong> musica durante mais dois<br />
<strong>dia</strong>s, sendo estas provi<strong>de</strong>ncias tomadas para que a população fizesse parte <strong>de</strong>stes<br />
momentos <strong>de</strong> celebração a memória <strong>de</strong> Tibúrcio, talvez na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong> criar um<br />
sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e pertença em relação a esta memória imposta.<br />
A inauguração do Monumento Tiburcio teve gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na imprensa local,<br />
chegando ao ponto do Jornal Libertador, um dos três orgão da imprensa local escolhidos<br />
para realizar a divulgação das subscrições, suspen<strong>de</strong>r a publicação do sábado <strong>dia</strong> 7 <strong>de</strong><br />
<strong>Abril</strong>, para <strong>de</strong>didar todo o expediente e funcionários para os trabalhos da edição<br />
ilustrada que seria publicada no domingo <strong>dia</strong> 8. A edição do <strong>dia</strong> da inauguração trás em<br />
<strong>de</strong>staque na capa a litografia do monumento Tibúrcio e nas páginas seguintes, o<br />
histórico da i<strong>de</strong>alização do monumento, a <strong>de</strong>scrição do mesmo, o hino composto<br />
especialmente para a inauguração, e várias poesias exaltando a vida e as glórias do<br />
“inclyto General”. A imagem <strong>de</strong> capa do Libertador é a única fonte ainda preservada<br />
que retrata o monumento assim como ele foi realizado, pois o monumento que po<strong>de</strong>mos<br />
vislumbrar hoje em <strong>dia</strong> é processo <strong>de</strong> algumas reformas. sendo assim, analisemos a<br />
litografia.<br />
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Fig. 01<br />
Com base no monumento Tibúrcio, dois jornais da época publicaram a<br />
<strong>de</strong>scrissão do monumento original. Vejamos como ele é <strong>de</strong>scrito, no Jornal O Cearense<br />
do <strong>dia</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> <strong>de</strong> 1888:<br />
“A estátua, que me<strong>de</strong> dous metros <strong>de</strong> altura, é fundida em<br />
bronze, e representa o general, posto <strong>de</strong> pé, com a mão apoiada a espada e<br />
na direita o chapeo, em gran<strong>de</strong> uniforme. Aspecto aeroso.”<br />
Segue-se a <strong>de</strong>scrissão do monumento Tibúrcio do jornal<br />
Libertador, que apresenta-se mais <strong>de</strong>talhada:<br />
“Á praça do General Tiburcio, antiga <strong>de</strong> Palacio, levanta-se o<br />
monumento que representa a gravura da 1ª página <strong>de</strong> nossa edição <strong>de</strong><br />
hoje.<br />
Sobre um exagono <strong>de</strong> alvenaria <strong>de</strong> pedra, <strong>de</strong> 2 m 50 <strong>de</strong> extenção<br />
em cada fece, 1 m 90 <strong>de</strong> elevação, embasa o pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong> marmore <strong>de</strong> 2 m 50.<br />
A este sobrepõe-se a estatua <strong>de</strong> bronze fundido representando o<br />
general em gran<strong>de</strong> uniforme.<br />
O pe<strong>de</strong>stal esta cercado <strong>de</strong> um gradil <strong>de</strong> ferro dourado, que<br />
assenta sobre uma soleira <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> lisboa e é separado em cada ângulo<br />
do exagono por uma columna <strong>de</strong> ferro fundido.<br />
<strong>No</strong> pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong> marmore nas quatro faces estão gravadas as<br />
inscripções:<br />
A<br />
Tiburcio<br />
XI Agosto<br />
MDCCCXXVII<br />
XXVI Junho<br />
MDCCCLI<br />
XXVIII Março<br />
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5
MDCCCLXXXV<br />
Estas datas são as do nascimento, praça e morte <strong>de</strong> Tiburcio.<br />
A fé d’officio do general esta inscripta nas columnas do gradil que<br />
contém os seguintes dizeres;<br />
Corrientes 25 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1865.<br />
--<br />
Riachuelo 11 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1865.<br />
--<br />
Ilha da re<strong>de</strong>mpção 10 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> <strong>de</strong> 1866.<br />
--<br />
Tuyuty 21 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1866.<br />
--<br />
Chaco 2, 4, 8 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1868.<br />
--<br />
12, 16, 18 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1869<br />
O espaço entre o gradil e o pe<strong>de</strong>stal é ladrilhado a marmore<br />
preto.”<br />
De acordo com a ilustração e com os relatos acima <strong>de</strong>scritos po<strong>de</strong>mos perceber<br />
que a memória selecionada para ser rememorada na estátua é a <strong>de</strong> Tibúrcio como<br />
General, são as glórias militares <strong>de</strong> Tibúrcio que <strong>de</strong>vem ser exaltadas. Em todos os<br />
elementos do monumento po<strong>de</strong>mos perceber a intenção <strong>de</strong> preservar e exaltar a<br />
memória <strong>de</strong> Tibúrcio como oficial. A estátua representa o General em trages militares,<br />
con<strong>de</strong>corado com várias medalhas, a postura erecta, serena e o chapéu a mão direita<br />
representam um homem que parece ter consciência do <strong>de</strong>ver cumprido, a mão esquerda<br />
que pousa sobre a espada embanhada parece representar uma constante preparação para<br />
a batalha, mesmo não sendo mais a espada o armamento utilizado pelos soldados nas<br />
lutas após a segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, a espada possui sua significação, representa<br />
a superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um herói do exército brasileiro, que segundo a biografia <strong>de</strong> Tibúrcio<br />
escrita por Eusébio <strong>de</strong> Sousa “do valor <strong>de</strong> Tibúrcio, na guerra, di-lo a documentação<br />
oficial da época <strong>de</strong>ssa campanha do Paraguai em que justamente refletiu a sua figura<br />
heróica <strong>de</strong> soldado e metralhador, espécie <strong>de</strong> fúria <strong>de</strong>senfreada no campo <strong>de</strong> batalha”.<br />
<strong>No</strong> mármore são <strong>de</strong>scritas as datas importantes <strong>de</strong> sua vida e nas colunas do gradil <strong>de</strong><br />
ferro a fé <strong>de</strong> ofício do General. Quanto a <strong>de</strong>scrissão das comemorações da inauguração<br />
do monumento Tibúrcio, constam os relatos dos jornais Libertador, Gazeta do <strong>No</strong>rte e<br />
Cearense na capital e O Cruzeiro do município <strong>de</strong> Baturité, porém nas matérias dos<br />
jornais O Cearense e O Cruzeiro, a cerimônia é <strong>de</strong>scrita por auto e os sujeitos que<br />
participaram do ato não foram nomeados, sendo assim, para uma análise mais geral da<br />
solenida<strong>de</strong> e seus atores, faço a opção <strong>de</strong> análise do texto publicado no jornal<br />
Libertador. O artigo que consta do jornal Libertador apresenta a seguinte <strong>de</strong>scrição:<br />
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6
“A cida<strong>de</strong> da Fortaleza celebrou hontem a festa immensa em que o<br />
coração popular quis fazer solemne e brilhante glorificação <strong>de</strong> seu gran<strong>de</strong><br />
heroe.<br />
O <strong>de</strong>slumbramento não se dissipou ainda, os espiritos ainda não<br />
voltaram dos espasmos <strong>de</strong> admiração; os corações ainda palpitam <strong>de</strong><br />
enthusiasmo.<br />
E entretanto temos o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver o gran<strong>de</strong> sucesso, que,<br />
confessamos, é impossivel fazer bem e fielmente.<br />
Sabemos, porém que os leitores vao ter mais uma con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ncia<br />
comnosco, supprindo com o que presenciaram e applaudiram que falta no<br />
que vamos <strong>de</strong>ixar n’estas linhas escriptas a correr.<br />
- -<br />
Conforme o programma previamente annunciado, effectuou-se a<br />
solemnida<strong>de</strong> patriótica da inauguração do monumento erigido á memoria do<br />
general cearense, Antonio Tiburcio Ferreira <strong>de</strong> Souza.<br />
A’s 11 do <strong>dia</strong>, perante numerosissimo concurso <strong>de</strong> povo,<br />
auctorida<strong>de</strong>s civis e militares, chefes e empregados <strong>de</strong> diversas repartições,<br />
representantes da imprensa, do commercio, <strong>de</strong> muitas classes e associações<br />
e varias municipalida<strong>de</strong>s, reunidos à praça do General Tiburcio, proferiu o<br />
Major João Brígido dos Santos, o discurso inaugural, por parte da<br />
commissão, sendo em seguida, <strong>de</strong>svelada a estatua pelos Exmos. Srs. Bispo<br />
Diocesano, Presi<strong>de</strong>nte da Provincia, commandante do 11 batalhão <strong>de</strong><br />
Infanteria, Barão <strong>de</strong> Ibiapina, representantes do commercio, e Major<br />
Manoel Bezerra <strong>de</strong> Albuquerque, Presi<strong>de</strong>nte da commissão do Monumento.<br />
Uma girandola annunciou o <strong>de</strong>scortinar do monumento á<br />
Fortaleza que <strong>de</strong>u uma salva <strong>de</strong> 11 tiros.<br />
As bandas <strong>de</strong> música do 11 batalhão e do corpo <strong>de</strong> polícia tocaram<br />
o hymno nacional e a multidão salvou a estatua do guerreiro com uma<br />
prolongada salva <strong>de</strong> palmas.<br />
Em seguida fes-se a leitura do auto respectivo que é do seguinte<br />
theor:<br />
Aos oito <strong>dia</strong>s do mez <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> do anno do nascimento <strong>de</strong> Jesus<br />
Christo <strong>de</strong> mil oitocentos e oitenta e oito, quarto do movimento civil, que<br />
extinguiu a escravidão na provincia do ceará, congregados o povo,<br />
auctorida<strong>de</strong>s e tropa na praça do General Tiburcio n’esta cida<strong>de</strong> da<br />
Fortaleza, às onze horas da manhã, foi rompido o véo da estatua em bronze<br />
do Briga<strong>de</strong>iro, antigo alumno da Escola Militar Antonio Tiburcio Ferreira<br />
<strong>de</strong> Souza, natural <strong>de</strong> Villa-Viçosa, a qual fôra erigida, por subscripção<br />
publica na provincia e no imperio, promovida por uma commissão<br />
composta das Exmas. Sras. D. Maria Thomazia Figueiras Lima, Helda<br />
Cor<strong>de</strong>iro, Elvira Pinho e Julia Vaz e dos cidadãos Major Manoel Bezerra <strong>de</strong><br />
Albuquerque Junior, capitão Manoel Thomé Cor<strong>de</strong>iro, Capitão Candido<br />
Leopoldo Esteves, Capitão Tristão Sucupira <strong>de</strong> Alencar Araripe, Tenente<br />
Francisco Pedro dos Santos, Tenente Raimundo do Carmo Ferreira Chaves,<br />
Alferes João Martins Alves Ferreira, Alferes José Custódio da Silveira,<br />
Wiliam Lopes Ferreira Filho, Justiniano <strong>de</strong> Serpa e João Brígido dos<br />
Santos, Jornalistas, em consi<strong>de</strong>ração ao patriotismo, honra, saber e valor<br />
<strong>de</strong>sse heroico filho do Ceará, que se immortalisou, fazendo todos os cinco<br />
annos das guerra do Paraguay em commandos, commissões <strong>de</strong> engenharia,<br />
serviços <strong>de</strong> estado maior, combates em terra e mar, sempre vencedor, e<br />
notavel ainda, como orador, philosofo, professor, publicista e admirador.<br />
Depois das cerimonias do estylo, para mais perpetuar o testemunho <strong>de</strong> amor<br />
a sua memoria, <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento e admiração da patria, as pessoas<br />
presentes fizeram lavrar este auto que vae assignado por gran<strong>de</strong> parte<br />
d’ellas, para ser <strong>de</strong>positado nos Archivos da Camara Municipal, orgam da<br />
população fortalezense, a qual presidiu igualmente a solemnida<strong>de</strong>. Eu<br />
Alfredo Salgado o escrevi. (Seguem-se as assignaturas)<br />
- -<br />
Assignado o auto por quase todas as pessoas presentes, a guarda <strong>de</strong><br />
honra do 11 batalhão, alli postada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 10 horas do <strong>dia</strong>, e a eschola <strong>de</strong><br />
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Aprendizes marinheiros <strong>de</strong>sfilaram em revistas, perante a estatua, retirandose<br />
em seguida o povo e a tropa.<br />
- -<br />
O aspecto da praça era realmente soberbo. Ban<strong>de</strong>iras, galhar<strong>de</strong>tes,<br />
arcarias <strong>de</strong> palmas folhagem, o chão alastrado <strong>de</strong> junco e flores, as janellas<br />
<strong>de</strong> todas as casas cheias, a mais não ser, <strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> cabeças e a estatua<br />
magnífica <strong>de</strong> expressão e vida em sua immortalida<strong>de</strong> bronzea. Affirmando<br />
perante a multidão a immortalida<strong>de</strong> do heroe cuja lembrança perpetua.<br />
- -<br />
A penna e canneta <strong>de</strong> ouro com que foi assignado o auto foi<br />
entregue ao presi<strong>de</strong>nte da Camara Municipal, para ser guardada no Archivo<br />
d’aquella corporação”. 5<br />
Analisando a primeira parte do texto publicado po<strong>de</strong>mos perceber o entusiasmo<br />
com que o redator <strong>de</strong>screve a cerimônia inaugural do monumento, talvez todo esse<br />
<strong>de</strong>slumbramento seja consequência da participação ativa do periódico na efetivação da<br />
obra, pois nos outros periódicos pesquisados a inauguração do monumento não mereceu<br />
tanto <strong>de</strong>staque, sendo publicados apenas artigos <strong>de</strong>screvendo o ato inaugural. Na<br />
segunda parte do texto po<strong>de</strong>mos perceber que <strong>de</strong> acordo com a <strong>de</strong>scrissão das pessoas<br />
envolvidas na comissão organizadora do monumento e participantes do ato inaugural,<br />
estes indivíduos faziam parte da elite da socieda<strong>de</strong> local. Portanto, po<strong>de</strong>mos perceber<br />
quais os sujeitos e classes sociais que realmente estavam envolvidos na construção do<br />
monumento e assim, compreen<strong>de</strong>r quais i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> nação e <strong>de</strong> cidadão estavam sendo<br />
exaltados, era o homem fiel a pátria cumpridor <strong>de</strong> suas obrigações que seria lembrado.<br />
Porém, a participação <strong>de</strong> populares não foi <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado pelo artigo, a presença das<br />
bandas e a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>coração do entorno do monumento e da praça <strong>de</strong>vem ter sido um<br />
gran<strong>de</strong> atrativo para a população. Ainda na segunda parte do artigo é transcrito o auto <strong>de</strong><br />
inauguração do monumento e assim sendo, po<strong>de</strong>mos perceber o intuito <strong>de</strong> transmitir<br />
para a socieda<strong>de</strong> da época através da escrita a importância daquele ato. Também é<br />
<strong>de</strong>stacado que o auto foi entregue para a câmara municipal para ser guardo em seus<br />
arquivos e este ato representa um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que no futuro o mesmo possa ser analisado.<br />
Na terceira parte é relatado mais um momento em que a escrita merece <strong>de</strong>staque, é o<br />
momento em que os participante da inauguração assinam o auto, representando assim, a<br />
necessida<strong>de</strong> dos mesmos <strong>de</strong> confirmar também através da escrita, a participação na<br />
inauguração do monumento. Na quarta parte do texto é relatada a <strong>de</strong>scrição da<br />
ornamentação da praça, das casas ao seu redor e do monumento. A <strong>de</strong>coração como já<br />
vimos foi realizada por várias comissões encarregadas <strong>de</strong> cada local por on<strong>de</strong> o préstito<br />
5 Jornal Libertador <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> <strong>de</strong> 1888.<br />
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cívico passaria. A própria <strong>de</strong>coração da festa, segundo o jornal, “affirmava” a<br />
população a imortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tibúrcio. Porém, mesmo <strong>dia</strong>nte da <strong>de</strong>scrissão do aspecto da<br />
praça pela imprensa po<strong>de</strong>mos perceber por relatos posteriores que a praça não era<br />
totalmente pavimentada nem ajardinada, o único espaço pavimentado da praça se<br />
resumia a alguns poucos metros do entorno da estátua, e a mesma servia para <strong>de</strong>spejo,<br />
<strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> materiaes e <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> pastagem para animaes 6 e não passava <strong>de</strong> um<br />
campo aberto como po<strong>de</strong>mos perceber na seguinte foto:<br />
Fig. 02<br />
A publicação <strong>de</strong>sta foto no relatório do inten<strong>de</strong>nte José Albano serviu como<br />
fonte para as compações do antes e <strong>de</strong>pois das melhorias realizadas em sua gestão, não<br />
sendo assim, por mero acaso feita a sua escolha. Portanto, a representação dos animais<br />
pastando no momento da foto visa <strong>de</strong>preciar o <strong>de</strong>scuido dos inten<strong>de</strong>ntes anteriores com<br />
esta praça, não se encaixando a mesma naquele momento nos idéias europeus <strong>de</strong><br />
arquitetura e urbanismo. Sendo somente incluida nos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> europeus após<br />
as melhorias realizadas por José Albano. Porém o fato da praça ainda não ser totalmente<br />
pavimentada, ajardinada ou ornamentada não <strong>de</strong>preciava <strong>de</strong> maneira alguma a sua<br />
importância para a população daquela época, pois pensada como local <strong>de</strong> ventilação e<br />
passeio, a praça congregava em seus espaços vários momentos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> dos<br />
cidadãos da cida<strong>de</strong>, e também reunia em seu entorno vários equipamentos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da<br />
Fortaleza antiga, principalmente em um período em que o lazer ainda não havia sido<br />
privatizado nos clubes, shoppings, boates e outros. E por fim na quinta parte do texto é<br />
informado ao leitor que a pena e a caneta <strong>de</strong> ouro com que foi assinado o auto foram<br />
6 Relatório apresentado á Câmara Municipal <strong>de</strong> Fortaleza pelo Inten<strong>de</strong>nte Municipal Il<strong>de</strong>fonso Albano.<br />
Em 10 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1914.<br />
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entregues para serem guardadas no arquivo da câmara municipal, assim como também o<br />
auto da inauguração. Porém, cabe <strong>de</strong>stacar que estes documentos e objetos não foram<br />
preservados, talvés não tenham sido entregues, ou até mesmo tenham sido roubados ou<br />
perdidos, pois não se encontam nos arquivos da câmara municipal e nem do Museu do<br />
Ceará, outro local no qual po<strong>de</strong>raim ser preservados estes documentos.<br />
Após a publicação <strong>de</strong>stas matérias a respeito da inauguração do monumento<br />
seguem apenas as publicações que relatam as cerimônias posteriores ainda em<br />
homenagem a Tiburcio ocorridas na praça com as bandas <strong>de</strong> musica e iluminação e<br />
nos salões do quartel do 11º. Batalhão <strong>de</strong> infantaria, organizadas pelo recreio militar,<br />
sendo um sarau em comemoração a véspera do aniversário da batalha <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>nção no<br />
qual mais uma vez foi entoado o hino do monumento, não sendo mais noticiadas nos<br />
anos seguintes nenhuma notícia a respeito do Monumento e a Memória que propõe<br />
perpetuar.<br />
Durante os anos que se seguiram a inauguração do Monumento Tiburcio, nos<br />
poucos jornais ainda preservados daquele período, não foram noticiadas na imprensa<br />
local, novas celebrações ou solenida<strong>de</strong>s em comemoração a inauguração do<br />
monumento. Porém, o ano <strong>de</strong> 1892 traz novamente ao cenário cearense <strong>de</strong> culto aos<br />
símbolos nacionais a figura <strong>de</strong> Tiburcio e sua estátua.<br />
Consta que na noite <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1892 um bombar<strong>de</strong>io, que visava à<br />
<strong>de</strong>posição do General Clarindo <strong>de</strong> Queiroz do governo do Estado, atingiu a estátua do<br />
General e a <strong>de</strong>rrubou do seu pe<strong>de</strong>stal, o alvo era o palácio do governo, mas <strong>de</strong>vido à<br />
proximida<strong>de</strong> entre o palácio e a estatua situada na praça em frente, a mesma foi<br />
atingida. E com a queda da Estátua entra em cena uma nova comissão organizadora para<br />
reinaugurar a estátua do General e segundo consta do auto:<br />
“Aos vinte e quatro <strong>dia</strong>s do mês <strong>de</strong> maio do ano <strong>de</strong> mil oitocentos e<br />
noventa e três, quinto da Republica, nesta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza, capital do<br />
estado do Ceará, na Praça do General Tiburcio, ás quatro e meia horas da<br />
tar<strong>de</strong>, presente o Exmo Presi<strong>de</strong>nte do Estado, Tenente Coronel José Freire<br />
Bezerril Fontenele para o efeito <strong>de</strong> novamente inaugurar a estatua do inclito<br />
cearense – General Antonio Tiburcio Ferreira <strong>de</strong> Sousa, benemerito da<br />
patria, caída <strong>de</strong> seu pe<strong>de</strong>stal por ocasião do combate <strong>de</strong> <strong>de</strong>seseis <strong>de</strong><br />
fevereiro do ano <strong>de</strong> mil oitocentos e noventa e dous, concorreram para se<br />
associarem á manifestação <strong>de</strong> amor, respeito e admiração pelo gran<strong>de</strong><br />
homem, cuja memória se consagrava.<br />
Estava postada na praça uma brigada <strong>de</strong> artilharia e infantaria,<br />
composta do corpo <strong>de</strong> alunos da Escola Militar, os Aprendizes Marinheiros<br />
e Batalhão <strong>de</strong> Segurança, sob o comando do Snr. Tenente Coronel<br />
Francisco Xavier Batista, comandante da Escola e da Guarnição, presentes<br />
mais o presi<strong>de</strong>nte e membros do Tribunal da Relação, presi<strong>de</strong>nte da<br />
Assembléia Legislativa Dr. Gonçalo <strong>de</strong> Almeida Souto, os respectivos<br />
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secretários e alguns <strong>de</strong>putados, o capitão do Porto e comandante da Escola<br />
<strong>de</strong> Aprendizes Marinheiros, 1º. Tenente Caio <strong>de</strong> Vasconcelos Pinheiro, o<br />
corpo docente e oficialida<strong>de</strong> da Escola Militar, o Inten<strong>de</strong>nte Municipal<br />
major Joaquim Francisco dos Santos, presi<strong>de</strong>nte da câmara municipal<br />
coronel Val<strong>de</strong>miro Moreira, vereadores e muitas outras autorida<strong>de</strong>s civis e<br />
militares, os secretários <strong>de</strong> Estado, o Diretor da Estrada <strong>de</strong> Ferro <strong>de</strong><br />
Baturité, Dr. Ernesto A. Lassance Cunha e 1º. Engenheiro da mesma<br />
Estrada <strong>de</strong> Ferro Dr. Lucio <strong>de</strong> Freitas Amaral, o comandante da fôrça<br />
publica do Estado, Coronel José Ribeiro Pereira e respectiva oficialida<strong>de</strong>,<br />
gran<strong>de</strong> parte do corpo consular, empregados estaduais e fe<strong>de</strong>rais,<br />
comerciantes, artistas, homens <strong>de</strong> letras, tudo que a socieda<strong>de</strong> reúne <strong>de</strong> mais<br />
egregio e mais prestadio á causa publica.<br />
Antes da leitura do discurso inaugural proferido pelo cidadão Julio<br />
César Fonseca Filho, Secretario da Camara Municipal, S. Excia. O Snr.<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Estado <strong>de</strong>clarou reinaugurado o monumento fazendo <strong>de</strong>scer a<br />
cortina, que velava o vulto do heróe cearense.<br />
Os circunstantes proromperam em vivas e saudaram as duas<br />
bandas <strong>de</strong> musica; os corpos <strong>de</strong> alunos militares, corpo <strong>de</strong> segurança e<br />
aprendizes marinheiros fizeram continências, encorporados sob o comando<br />
do Snr. Tenente Coronel Francisco Xavier Batista. De todo este festivo e<br />
solene acontecimento em homenagem ao heróe que o povo cearense honra,<br />
como um estimulo á posterida<strong>de</strong>, acordou-se lavrar esta ata que assinam os<br />
circunstantes. Eu, Cesidio d’Albuquerque Martins Pereira, a escrevi.” 7<br />
O primeiro parágrafo do auto <strong>de</strong>staca as informações referentes à data, local,<br />
horário, nomes dos presentes mais ilustres e o motivo pelo qual estava sendo lavrado o<br />
seguinte auto. O segundo parágrafo <strong>de</strong>screve os <strong>de</strong>mais participantes da cerimônia,<br />
porém estes participantes também faziam parte da elite cearense, o que se po<strong>de</strong> perceber<br />
quando é <strong>de</strong>stacado no texto: tudo que a socieda<strong>de</strong> reúne <strong>de</strong> mais egregio e mais<br />
prestadio á causa publica. O terceiro parágrafo <strong>de</strong>staca o <strong>de</strong>scortinar da estátua pelo<br />
Presi<strong>de</strong>nte do Estado Sr. Tenente Coronel José Freire Bezerril Fontenele e o<br />
pronunciamento do discurso inaugural pelo Sr. Julio Cezar da Fonseca Filho. E por fim,<br />
o quarto parágrafo <strong>de</strong>screve os momentos que se suce<strong>de</strong>m ao <strong>de</strong>scortinar da estátua e ao<br />
pronunciamento do discurso <strong>de</strong>stacando a aclamação dos participantes e a saudação às<br />
bandas <strong>de</strong> música como também as continências feitas pelos militares presentes e o<br />
motivo pelo qual o auto foi lavrado, <strong>de</strong>stacando um estímulo á posterida<strong>de</strong>. Sendo<br />
assim, po<strong>de</strong>mos perceber mais uma vez a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perpetuação dos fatos a partir<br />
da escrita e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir aos futuros cidadãos os gestos feitos pelos<br />
cidadãos da época.<br />
Como conseqüência da remo<strong>de</strong>lação que foi feita no monumento após a queda<br />
da estátua Eusébio <strong>de</strong> Sousa, em estudo realizado no ano <strong>de</strong> 1932, ressalta que as<br />
legendas primitivas da estátua <strong>de</strong>sapareceram e <strong>de</strong>stacam-se apenas as seguintes<br />
7 SOUSA, Eusébio <strong>de</strong>. Os Monumentos do Estado do Ceará. Referencia Histórico-Descritiva. Separata da<br />
Revista do Instituto do Ceará – Tomo XLVI Ano XLVI (1932). Tipografia Ga<strong>de</strong>lha, 1932.<br />
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inscrições nas quatro faces do pe<strong>de</strong>stal: “Nascido – XI Agosto MDCCCXXXVIII –<br />
Praça – XXVI Junho MDCCCLI - Falecido – XXVIII Março MDCCCLXXIV – Ao<br />
General Tiburcio a Patria” E que o pe<strong>de</strong>stal <strong>de</strong> granito on<strong>de</strong> assenta a estatua compõe<br />
se <strong>de</strong> uma plataforma <strong>de</strong> 10 metros em quadro, com superfície <strong>de</strong> 100 metros<br />
quadrados, circundada com lages <strong>de</strong> granito rajado. . 8 portanto pela <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />
Eusébio <strong>de</strong> Souza po<strong>de</strong>mos perceber qual área pavimentada que circundava a estátua<br />
naquele período. E vale <strong>de</strong>stacar que os únicos documentos preservados da época<br />
constam dos que aqui foram analisados, não sendo possível, portanto uma análise nos<br />
relatos dos periódicos que relataram estas cerimônias.<br />
Durante a administração <strong>de</strong> Il<strong>de</strong>fonso Albano a cargo da Intendência municipal<br />
<strong>de</strong> Fortaleza foram realizadas reformas na Praça General Tiburcio com o intuito <strong>de</strong><br />
embelezar o espaço e torná-lo mais semelhante em seu aspecto com o mo<strong>de</strong>lo europeu.<br />
Analisando o relatório apresentado a câmara municipal por Il<strong>de</strong>fonso albano em 10 <strong>de</strong><br />
Junho <strong>de</strong> 1914, po<strong>de</strong>mos perceber que o primeiro aspecto importante do relatório é a<br />
apresentação que faz dos seus trabalhos incluindo os atos <strong>de</strong> seu pai, mostrando assim<br />
que a publicação <strong>de</strong>ste relatório tanto servia para informar a câmara o andamento dos<br />
seus trabalhos como para glorificar e perpetuar os seus atos e os da sua ascendência.A<br />
partir do alinhamento das casas ao perímetro da praça realizado pelo inten<strong>de</strong>nte<br />
po<strong>de</strong>mos perceber que as praças também <strong>de</strong>veriam estar <strong>de</strong> acordo com o traçado<br />
urbano da cida<strong>de</strong>, no qual o traçado em xadrez e o alinhamento das ruas <strong>de</strong>veriam ser<br />
respeitados. Também é interessante perceber que o inten<strong>de</strong>nte teve a preocupação <strong>de</strong><br />
inserir em seu relatório as fotos do antes e <strong>de</strong>pois da praça como a seguinte foto, que<br />
<strong>de</strong>staca o recuo das casas ao novo perímetro alinhado da praça.<br />
O ajardinamento e a arborização, a construção do novo coreto ao ar livre e o<br />
assentamento das novas estátuas e vasos, a nova iluminação e os novos bancos<br />
<strong>de</strong>monstram o interesse da administração pública <strong>de</strong> tornar a praça mais a<strong>de</strong>quada ao<br />
mo<strong>de</strong>lo que inspirava a civilização <strong>de</strong> nossa capital. E foi baseado neste mo<strong>de</strong>lo<br />
urbanístico e paisagístico que gran<strong>de</strong> parte das praças <strong>de</strong> Fortaleza foram <strong>de</strong>coradas com<br />
jarros, vasos, esculturas e estátuas, entre elas o Passeio Público, a Praça do Ferreira e a<br />
Praça Marques do Herval. As estátuas dos leões foram encomendadas pela intendência<br />
municipal na França pela quantia <strong>de</strong> 3:942$560 réis e dispostas em três ângulos da<br />
8 SOUSA, Eusébio <strong>de</strong>. Os Monumentos do Estado do Ceará. Referencia Histórico-Descritiva. Separata da<br />
Revista do Instituto do Ceará – Tomo XLVI Ano XLVI (1932). Tipografia Ga<strong>de</strong>lha, 1932.<br />
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Praça do General Tiburcio, sendo, duas que dão vista para as ruas São Paulo e Con<strong>de</strong><br />
D’Eu e uma assentada ao lado do palácio da Luz próxima a Igreja do Rosário, sendo<br />
assim possível aos transeuntes <strong>de</strong>stas vias avistarem estas estátuas dispostas na praça.<br />
Porém, cabe <strong>de</strong>stacar que não há por parte do inten<strong>de</strong>nte a justificativa da escolha <strong>de</strong>stes<br />
animais em seu relatório, on<strong>de</strong> apenas é feita uma menção <strong>de</strong> que estas esculturas<br />
representavam verda<strong>de</strong>iras obras <strong>de</strong> arte. Também não é possível encontrar no relatório<br />
o nome da firma contratada para a compra dos leões e pelo estado <strong>de</strong> má conservação ou<br />
ausência das placas não é possível i<strong>de</strong>ntificar a fundição na qual foram feitas as<br />
estátuas. Sendo assim, os leões que hoje <strong>de</strong>nominam popularmente a Praça General<br />
Tiburcio, foram produtos <strong>de</strong> uma remo<strong>de</strong>lação da praça com a intenção <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar<br />
“uma das praças mais centrais”, nas palavras do inten<strong>de</strong>nte, aos padrões <strong>de</strong> civilização<br />
europeus.<br />
E por fim o último momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque que envolve a celebração do General<br />
foi no ano <strong>de</strong> 1952 em <strong>de</strong>corrência do aniversário <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> Tibúrcio em que<br />
mais uma comissão foi formada com a incumbência <strong>de</strong> realizar as cerimônias que<br />
envolveriam o ato <strong>de</strong> transladação dos restos mortais <strong>de</strong> Tibúrcio para a cripta<br />
construída aos pés <strong>de</strong> sua estátua na praça que leva o seu nome. A composição <strong>de</strong>sta<br />
comissão foi formada apenas por componentes da elite das forças armadas, segundo os<br />
relatos da imprensa. Porém, as cerimônias também foram presenciadas pela elite<br />
política, intelectual e por representantes <strong>de</strong> algumas instituições <strong>de</strong> Fortaleza<br />
Porém, com o problema da falta <strong>de</strong> conhecimento da população em relação ao<br />
Gran<strong>de</strong> Herói da nação surge também a preocupação com o problema do vandalismo,<br />
consi<strong>de</strong>rado por vários setores da socieda<strong>de</strong> como <strong>de</strong>corrente da falta <strong>de</strong> apego e<br />
respeito ao patrimônio da nossa cida<strong>de</strong> e da falta <strong>de</strong> memória da nossa população, sendo<br />
constantemente utilizado para justificar esses <strong>de</strong>srespeitos à memória nacional o ditado<br />
popular: “O Brasil é um país <strong>de</strong> <strong>de</strong>smemoriados”, não levando em consi<strong>de</strong>ração qual<br />
memória é essa que <strong>de</strong>ve ser lembrada, sendo assim, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada a memória vivida.<br />
O artigo publicado no jornal Diário do <strong>No</strong>r<strong>de</strong>ste, no ca<strong>de</strong>rno Cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong><br />
Março <strong>de</strong> 2001, retrata bem essa preocupação com o <strong>de</strong>scaso público, o vandalismo e os<br />
crimes na praça, sendo <strong>de</strong>stacado que:<br />
As gra<strong>de</strong>s que cercavam a estátua do general Tiburcio na Praça dos<br />
Leões teve partes arrancadas e outras retorcidas durante o período do<br />
Carnaval. O ato <strong>de</strong> vandalismo não é surpresa para os freqüentadores da<br />
praça que procuram não passar por lá ao anoitecer.<br />
“Aqui tem muito assalto <strong>de</strong>pois que escurece. Eu que não me<br />
arrisco a passar por aqui <strong>de</strong>pois das 18 horas. Faço as minhas vendas até no<br />
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máximo 17 horas e vou embora”, comenta o ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> livros José Luis<br />
da Silva.<br />
Segundo o gerente da Livraria do Contador, que fica em frente a<br />
Praça dos Leões, o vandalismo e a <strong>de</strong>struição da praça pioraram muito<br />
<strong>de</strong>pois do início da reforma da Igreja do Rosário. “Aqui nunca esteve tão<br />
abandonado como agora, o próprio monumento é feito <strong>de</strong> banheiro. E tem<br />
até um formigueiro gigante que está acabando com uma palmeira no canto<br />
da praça”, diz.<br />
O pároco da Igreja do Rosário, Clairton Alexandrino, conta que já<br />
pediu várias vezes à Prefeitura para resolver a situação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gestão <strong>de</strong><br />
Elizeu Becco na Regional II, mas até agora nada.<br />
“O pessoal usa a estátua <strong>de</strong> um herói nacional como banheiro. Para<br />
melhorar isso eu ainda oferecia o banheiro da igreja para os moradores <strong>de</strong><br />
rua que não têm on<strong>de</strong> fazer suas necessida<strong>de</strong>s. Mas agora a igreja está<br />
fechada. Já ajudaria se fossem construídos banheiros públicos na praça”,<br />
ressaltou.(...)<br />
O período pesquisado pelo jornal retrata a situação da praça no momento<br />
em que a Igreja do Rosário passava por restauração e a praça encontrava-se em estado<br />
<strong>de</strong> abandono. Segundo o jornal as gra<strong>de</strong>s que circundavam a estátua <strong>de</strong> Tiburcio foram<br />
arrancadas e retorcidas durante o carnaval por vândalos, a população não se sentia<br />
segura para permanecer no seu entorno por medo dos assaltos e o monumento a<br />
Tiburcio composto atualmente pela cripta e a estátua do General tornaram-se banheiros<br />
públicos, também <strong>de</strong>staca a preocupação daqueles que freqüentam a praça com o<br />
<strong>de</strong>scaso da administração pública, sendo <strong>de</strong>stacado pelo pároco da Igreja as várias<br />
tentativas <strong>de</strong> resolução dos problemas através <strong>de</strong> comunicados as autorida<strong>de</strong>s<br />
competentes. E <strong>dia</strong>nte <strong>de</strong>stes discursos, po<strong>de</strong>mos perceber que o <strong>de</strong>scaso e <strong>de</strong>sprezo a<br />
esta memória são evi<strong>de</strong>ntes nos <strong>dia</strong>s atuais.<br />
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