schwannoma do hipoglosso.pmd - SPR
schwannoma do hipoglosso.pmd - SPR
schwannoma do hipoglosso.pmd - SPR
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Schwannoma <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong>: relato de caso / Barbosa ABR et al.<br />
Relato de Caso<br />
Schwannoma <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong>: relato de caso<br />
Al<strong>do</strong> Benjamim Rodrigues Barbosa 1 , Cristine Norwig Galvão 2 , Hilton Yamasaki 3 , Geral<strong>do</strong> Hidalgo 4 ,<br />
José Reinal<strong>do</strong> Walther Silva5 , Vagner Chiapetti3 , Lúcia Helena Senna Ogata6 Descritores:<br />
Paralisia <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong>; Hemiatrofia<br />
lingual; Schwannomas.<br />
Recebi<strong>do</strong> para publicação em 15/12/2005. Aceito,<br />
após revisão, em 4/7/2006.<br />
Trabalho realiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> Departamento de Diagnóstico<br />
de Imagem <strong>do</strong> Hospital de Câncer de Barretos –<br />
Fundação Pio XII, Barretos, SP.<br />
1<br />
Médico Radiologista da Medicina Diagnóstica<br />
Ogata em Monte Alto, SP, e da Unidade Radiológica<br />
de Itapagipe, MG.<br />
2<br />
Médica Radiologista da Fundação Pio XII – Hospital<br />
de Câncer de Barretos.<br />
3<br />
Médicos Residente em Radiologia e Diagnóstico<br />
por Imagem da Fundação Pio XII – Hospital de<br />
Câncer de Barretos.<br />
4<br />
Médico Patologista da Fundação Pio XII – Hospital<br />
de Câncer de Barretos.<br />
5<br />
Médico Neurocirurgião da Fundação Pio XII –<br />
Hospital de Câncer de Barretos.<br />
6<br />
Médica Radiologista da Medicina Diagnóstica<br />
Ogata em Monte Alto.<br />
Correspondência: Dr. Al<strong>do</strong> Benjamim Rodrigues<br />
Barbosa. Rua Oito, 730, Centro. Itapagipe, MG,<br />
38240-000. E-mail: al<strong>do</strong>benjamim@ig.com.br<br />
Resumo<br />
Os autores relatam o caso de um paciente com <strong>schwannoma</strong> <strong>do</strong> nervo <strong>hipoglosso</strong> confirma<strong>do</strong> por<br />
estu<strong>do</strong> histopatológico, descrevem as características da lesão, suas manifestações clínicas e<br />
aspectos de imagem, e apresentam breve revisão da literatura relevante.<br />
Schwannomas são tumores benignos originários das células de Schwann ou das<br />
bainhas das fibras nervosas. São conheci<strong>do</strong>s como neurinomas ou neurilemomas.<br />
É a mais comum neoplasia <strong>do</strong> espaço carotídeo, segui<strong>do</strong> pelos paragangliomas [1] .<br />
Os <strong>schwannoma</strong>s <strong>do</strong>s nervos cranianos têm predileção de ocorrer em suas divisões<br />
sensitivas, como o nervo vestibular, coclear e trigêmeo, sen<strong>do</strong> que o acometimento<br />
de nervos puramente motores é extremamente raro [2] .<br />
O nervo <strong>hipoglosso</strong> (12º nervo craniano) é essencialmente motor e emerge <strong>do</strong><br />
sulco lateral anterior <strong>do</strong> bulbo sob a forma de filamentos radiculares que se unem<br />
para formar o tronco <strong>do</strong> nervo. Este emerge <strong>do</strong> crânio pelo canal <strong>hipoglosso</strong>, assumin<strong>do</strong><br />
um trajeto descendente, distribuin<strong>do</strong>-se para os músculos intrínsecos e extrínsecos<br />
da língua [3–5] . O <strong>schwannoma</strong> <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong> é causa incomum de paralisia<br />
<strong>do</strong> 12º nervo craniano, poden<strong>do</strong> ser lesão puramente intracraniana, intra- e extracraniana<br />
ou essencialmente extracraniana [6,7] .<br />
RELATO DO CASO<br />
Paciente <strong>do</strong> sexo masculino, 40 anos de idade, branco, com queixas de náuseas,<br />
vômitos e cefaléia, e sem história de trauma. Ao exame físico apresentava sinais<br />
semiológicos de paralisia <strong>do</strong> 12º nervo craniano.<br />
A avaliação por ressonância magnética (RM) evidenciou, nos cortes axiais ao nível<br />
da fossa posterior, lesão expansiva, bem definida, de contornos ligeiramente lobula<strong>do</strong>s,<br />
com aspecto em “ampulheta”, apresentan<strong>do</strong> parte localizada na fossa posterior,<br />
onde comprimia o tronco cerebral à direita, e parte localizada no espaço carotídeo<br />
direito (Fig. 1). Os cortes axiais ao nível da base <strong>do</strong> crânio mostravam lesão<br />
no espaço carotídeo direito, bem definida, apresentan<strong>do</strong> atividade de sinal intermediário,<br />
associada a hemiatrofia da língua ipsilateral, infiltrada por gordura (Fig. 2).<br />
Nas seqüências ponderadas em T2, a lesão possuía intensidade de sinal mista, deslocan<strong>do</strong><br />
os vasos carotídeos, anteriormente (Fig. 3). Após a administração de contraste<br />
paramagnético, observou-se, no plano sagital, lesão extra-axial na fossa posterior<br />
à direita, com captação heterogênea pelo contraste, apresentan<strong>do</strong> áreas de<br />
intenso reforço sólidas e áreas sem reforço de aspecto cístico (Fig. 4).<br />
O paciente foi submeti<strong>do</strong> à ressecção cirúrgica da porção intracraniana da lesão<br />
por via retossigmóide, observan<strong>do</strong>-se tumor de limites bem defini<strong>do</strong>s, parcialmente<br />
aderi<strong>do</strong>s ao bulbo (Fig. 5).<br />
Rev Imagem 2006;28(2):109–112<br />
109
Barbosa ABR et al. / Schwannoma <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong>: relato de caso<br />
O estu<strong>do</strong> histopatológico da lesão mostrou células<br />
fusiformes sem atipias, dispostas em feixes que esboçam<br />
arranjo em “paliçada”, com o diagnóstico de lesão fusocelular<br />
benigna, <strong>schwannoma</strong> <strong>do</strong> tipo Antoni B (Fig. 6).<br />
Fig. 1 – Lesão expansiva bem definida, de contornos ligeiramente<br />
lobula<strong>do</strong>s, com aspecto em “ampulheta”, com parte na fossa posterior,<br />
onde se comprime o tronco cerebral à direita, e parte no espaço<br />
carotídeo direito. Plano axial, seqüência gradiente eco ponderada em<br />
T2 (TR: 700.0; TE: 26.0).<br />
A B<br />
Fig. 2 – Lesão com atividade de sinal intermediário no espaço carotídeo direito e hemiatrofia da língua infiltrada por gordura. Cortes axiais,<br />
seqüência FLAIR (TI: 2500.0; TR: 10000.0; TE 115.0) e seqüência T1 (TR: 580.0; TE: 14.0).<br />
110<br />
DISCUSSÃO<br />
Os <strong>schwannoma</strong>s <strong>do</strong> 12º nervo craniano são lesões<br />
extremamente raras, benignas, solitárias e que crescem<br />
lentamente através da cisterna magna e se estendem<br />
extracranialmente pelo canal <strong>do</strong> nervo <strong>hipoglosso</strong> [7,8] .<br />
Há pre<strong>do</strong>minância no sexo feminino (74%), com<br />
idade média de 40 a 50 anos. Os sintomas mais comuns<br />
são: sinais de paralisia <strong>do</strong> 12º nervo craniano (93,5%),<br />
sinais cerebelares (47,8%), <strong>do</strong>r occipital (54,3%) por irritação<br />
meníngea e radicular, e distúrbios motores/sensitivos<br />
(37,0%) decorrentes <strong>do</strong> efeito compressivo <strong>do</strong><br />
tumor.<br />
O acha<strong>do</strong> mais característico desses pacientes é a<br />
hemiatrofia unilateral lingual associada à fibrilação com<br />
desvio da língua.<br />
As principais causas de paralisia <strong>do</strong> 12º nervo craniano<br />
podem ser de origem idiopática, pós-traumática,<br />
pós-radiação de tumores parafaríngeos, pós-dissecção<br />
da artéria carótida interna, ou ser secundária a uma fístula<br />
arteriovenosa da veia condilar anterior [2,9,10] .<br />
O diagnóstico por imagem inclui a tomografia computa<strong>do</strong>rizada<br />
(TC) e a RM, que são importantes no estu<strong>do</strong><br />
para o planejamento pré-operatório.<br />
Existe indicação cirúrgica da porção intracraniana<br />
da lesão, pois há tendência de esses tumores sofrerem<br />
degeneração necrótica e hemorragias, e, conseqüentemente,<br />
desenvolverem sintomas de irritação meníngea.<br />
Rev Imagem 2006;28(2):109–112
Fig. 3 – Deslocamento anterior <strong>do</strong>s vasos carotídeos à direita por lesão<br />
bem definida com intensidade de sinais mista. Plano axial, seqüência<br />
T2 (TR: 3950.0; TE: 100.0).<br />
Fig. 5 – Lesão bem definida localizada na fossa posterior.<br />
A abordagem da porção extracraniana depende das<br />
dimensões e <strong>do</strong>s sintomas provoca<strong>do</strong>s [8,9] .<br />
A avaliação pela TC apresenta certas dificuldades.<br />
Ao menos que seja grande, a porção extracraniana <strong>do</strong>s<br />
<strong>schwannoma</strong>s é de difícil análise. A TC evidencia massa<br />
ovóide, bem definida, com realce variável e com curvas<br />
Schwannoma <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong>: relato de caso / Barbosa ABR et al.<br />
Fig. 4 – Lesão extra-axial na fossa posterior à direita, com captação<br />
heterogênea de contraste, com áreas sólidas e císticas. Plano sagital,<br />
seqüência T1 após administração en<strong>do</strong>venosa de contraste paramagnético<br />
(TR: 519.0; TE: 14.0).<br />
hipovasculares, distinguin<strong>do</strong>-se das curvas hipervasculares<br />
<strong>do</strong>s paragangliomas.<br />
O padrão de deslocamento é importante na diferenciação<br />
<strong>do</strong>s tumores, pois os <strong>schwannoma</strong>s, em sua maioria,<br />
deslocam anteriormente a artéria carótida interna,<br />
enquanto os tumores das glândulas salivares menores<br />
deslocam-na posteriormente [1,2,5,10] .<br />
Os <strong>schwannoma</strong>s avalia<strong>do</strong>s pela RM apresentam,<br />
nas imagens ponderadas em T2, sinal intermediário e<br />
hipersinal. Podem apresentar áreas de necrose, hemorragia<br />
e áreas de degeneração cística, que levam um aumento<br />
da intensidade de sinal. Nas imagens ponderadas<br />
em T1, os <strong>schwannoma</strong>s são usualmente homogêneos<br />
e apresentam sinal intermediário. Nas grandes<br />
lesões, focos de hipossinal e hipersinal representam<br />
áreas de necrose, hemorragia ou degeneração cística.<br />
Os <strong>schwannoma</strong>s não podem ser diferencia<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
tumores extraparotídeos das glândulas salivares apenas<br />
pela intensidade de sinal; deve-se avaliar, também, o<br />
padrão de deslocamento da artéria carótida interna.<br />
Paragangliomas apresentam intensidade de sinal intermediário<br />
em T1 e modera<strong>do</strong> a alto em T2 e contêm<br />
pequenos pontos de perda de sinal bem defini<strong>do</strong>s em<br />
seu interior causada pelo fluxo sanguíneo de alta velocidade.<br />
Este aspecto de massa com hipersinal e focos de<br />
perda de sinal conferem aparência de “sal e pimenta”<br />
típica <strong>do</strong>s paragangliomas [7,9,10] .<br />
Rev Imagem 2006;28(2):109–112 111
Barbosa ABR et al. / Schwannoma <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong>: relato de caso<br />
CONCLUSÃO<br />
Os <strong>schwannoma</strong>s <strong>do</strong> <strong>hipoglosso</strong> são infreqüentes e<br />
devem ser considera<strong>do</strong>s como causa de paralisia <strong>do</strong> 12º<br />
nervo craniano. A RM é excelente arma para a confirmação<br />
diagnóstica, nos diagnósticos diferenciais e no<br />
planejamento cirúrgico, pois demonstra a exata extensão<br />
da massa, a localização anatômica precisa e as relações<br />
com as estruturas adjacentes [2,7,8,9] .<br />
REFERÊNCIAS<br />
1. Curtin HD, Som PM, Braun IF, Nadel L. Skull base. In: Som PM,<br />
Curtin HD, editors. Head and neck imaging. 3rd ed. St. Louis:<br />
Mosby-Year Book, 1996;1273–89.<br />
2. Beldarrain MG, Cantón GF, Garcia-Moncó JC. Hypoglossal<br />
<strong>schwannoma</strong>: an uncommon cause of twelfth-nerve palsy. Neurologia<br />
2000;15:182–3.<br />
3. O’Rahilly R. Pescoço. In: Gardner E, Gray D, O’Rahilly R, editores.<br />
Anatomia: estu<strong>do</strong> regional <strong>do</strong> corpo humano. 4ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Guanabara Koogan, 1988;690–1.<br />
4. Macha<strong>do</strong> A. Nervos cranianos. In: Macha<strong>do</strong> A, editor. Neuroanatomia<br />
funcional. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 1987;95–103.<br />
112<br />
Fig. 6 – Lesão fusocelular benigna:<br />
<strong>schwannoma</strong>. Fotomicrografia<br />
(magnificações originais 100× e<br />
400×, coloração H-E) demonstra<br />
células fusiformes sem atipias dispostas<br />
em feixes esboçan<strong>do</strong> arranjo<br />
em paliçada.<br />
5. De Foer B, Hermans R, Fossion E, Sciot R, Baert A. Imaging case<br />
study of the month: Hypoglossal <strong>schwannoma</strong>. Ann Otol Rhinol<br />
Laryngol 1995;104:490–2.<br />
6. Sato M, Kanai N, Fukushima Y, et al. Hypoglossal neurinoma extending<br />
intra and extracranially: case report. Surg Neurol<br />
1996;45:172–5.<br />
7. Okura A, Shigemori M, Abe T, Yamashita M, Kojima K, Noguchi<br />
S. Hemiatrophy of the tongue due to hypoglossal <strong>schwannoma</strong><br />
shown by MRI. Neuroradiology 1994;36:239–40.<br />
8. Berger MS, Edwards MSB, Bingham WG. Hypoglossal neurilemoma.<br />
Case report and review of the literature. Neurosurgery<br />
1982;10:617–20.<br />
9. Tuck RR, Mokri B, Cilluff JM. Intracranial <strong>schwannoma</strong> of the<br />
hypoglossal nerve. Arch Neurol 1984;41:502–5.<br />
10. Miyanori M, Yamano K, Hasegawa K. A case of hypoglossal neurinoma.<br />
J Neurosurgery 1992;1:265–9.<br />
Abstract. Hypoglossal <strong>schwannoma</strong>: a case report.<br />
The authors present a case of a patient with hypoglossal <strong>schwannoma</strong><br />
confirmed by histopathological examination, describe the<br />
characteristics of lesion, clinical manifestations, imaging findings,<br />
and review the relevant literature.<br />
Keywords: Hypoglossal palsy; Tongue hemiatrophy; Schwannomas.<br />
Rev Imagem 2006;28(2):109–112