danillo alves rippel - serex 2012

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CÍRCULO DE CULTURA SURDA: UMA PROPOSTA UTILIZANDO ANIMAÇÃO PARA APROXIMAR AS CULTURAS SURDA E OUVINTE RIPPEL, Danillo Alves; MOURA, Darlene de Mesquita, SILVA, Fernanda Cristhina Nicolau; ARAUJO, Juscelino Pereira de Júnior; COSTA, Kora Silveira Braga; HIROZAWA, Paula Yumi; PAIXÃO, Luísa Cássia da; Palavras-chave: Surdez, Animação, Cultura, Biculturalismo Introdução Cultura caracteriza-se por histórias, significados e valores compartilhados pelas pessoas que constituem uma determinada comunidade. Mais do que deficientes auditivos, os Surdos desenvolvem formas diferentes de ser, ver e relacionar-se com o mundo, compondo uma cultura própria de identidade particular. Assim, Surdos brasileiros compartilham histórias, significados e valores por meio da Língua de sinais brasileira (Libras), reconhecida como língua oficial do país em 2002. Dado que, no ambiente escolar, poucos ouvintes (em geral, somente o intérprete e a professora regente) dominam língua de sinais, a criança e/ou o jovem surdo têm acesso limitado à valores, histórias e informações sobre a Cultura Surda preservados pela Comunidade Surda composta por surdos adultos (LANE, 1992; STROBEL, 2008). Um Círculo de Cultura Surda permite que surdos e ouvintes de diferentes níveis escolares, culturais e etários criem e partilhem significados relacionados a temas comuns, de forma que questões linguísticas (Libras e língua portuguesa) e culturais (Cultura Surda e Cultura Ouvinte) não sejam entraves à comunicação. Animação é uma linguagem artística com características próprias (LUCENA JUNIOR, 2002) e que possui a flexibilidade necessária para funcionar como meio de compartilhar significados comuns. Metodologia

CÍRCULO DE CULTURA SURDA: UMA PROPOSTA UTILIZANDO ANIMAÇÃO<br />

PARA APROXIMAR AS CULTURAS SURDA E OUVINTE<br />

RIPPEL, Danillo Alves; MOURA, Darlene de Mesquita, SILVA, Fernanda Cristhina<br />

Nicolau; ARAUJO, Juscelino Pereira de Júnior; COSTA, Kora Silveira Braga;<br />

HIROZAWA, Paula Yumi; PAIXÃO, Luísa Cássia da;<br />

Palavras-chave: Surdez, Animação, Cultura, Biculturalismo<br />

Introdução<br />

Cultura caracteriza-se por histórias, significados e valores compartilhados<br />

pelas pessoas que constituem uma determinada comunidade. Mais do que<br />

deficientes auditivos, os Surdos desenvolvem formas diferentes de ser, ver e<br />

relacionar-se com o mundo, compondo uma cultura própria de identidade<br />

particular. Assim, Surdos brasileiros compartilham histórias, significados e valores<br />

por meio da Língua de sinais brasileira (Libras), reconhecida como língua oficial do<br />

país em 2002. Dado que, no ambiente escolar, poucos ouvintes (em geral,<br />

somente o intérprete e a professora regente) dominam língua de sinais, a criança<br />

e/ou o jovem surdo têm acesso limitado à valores, histórias e informações sobre a<br />

Cultura Surda preservados pela Comunidade Surda composta por surdos adultos<br />

(LANE, 1992; STROBEL, 2008). Um Círculo de Cultura Surda permite que surdos<br />

e ouvintes de diferentes níveis escolares, culturais e etários criem e partilhem<br />

significados relacionados a temas comuns, de forma que questões linguísticas<br />

(Libras e língua portuguesa) e culturais (Cultura Surda e Cultura Ouvinte) não<br />

sejam entraves à comunicação. Animação é uma linguagem artística com<br />

características próprias (LUCENA JUNIOR, 2002) e que possui a flexibilidade<br />

necessária para funcionar como meio de compartilhar significados comuns.<br />

Metodologia


Participantes do projeto: 15 alunos extensionistas de graduação<br />

provenientes de diferentes cursos, 2 Surdos estudantes da rede pública de ensino,<br />

1 Surdo graduando do curso de desing gráfico, 1 estudante da rede pública<br />

Surdocego e 1 Surda graduada em pedagogia. A participação dos alunos ouvintes<br />

se constitui no auxílio aos Surdos em: apresentação das animações nas escolas;<br />

estruturação de cursos de Libras; produção de artigos científicos sobre a interação<br />

entre Surdos e ouvintes; e atividades escolares. Em todos os contextos de<br />

trabalho, o projeto conta com o trabalho de pelo menos um Surdo juntamente com<br />

o ouvinte, buscando sempre a comunicação pela LIBRAS e utilizando os três<br />

princípios que funcionam como pilares do projeto: aceitação das diferenças<br />

culturais entre Surdos e Ouvintes, empatia durante o relacionamento profissional e<br />

congruência entre o que fazermos e o que defendemos.<br />

Ao entrar no projeto, os Surdos são ensinados por Surdos que já trabalham<br />

no projeto a como utilizar os softwares de animação. Após esse momento, os<br />

Surdos criam uma estória, elaboram um roteiro, preparam a animação, gravam<br />

uma interpretação da estória em Libras, preparam a legenda da LIBRAS, fazem o<br />

alinhamento da gravação com a interpretação em Libras e gravam um DVD com a<br />

animação finalizada. Esse DVD será exibido nas escolas da rede pública do<br />

Distrito Federal e utilizado para: apresentar a LIBRAS para os alunos das escolas<br />

públicas; levantar questionamentos sobre os estados subjetivos dos personagens<br />

das animações; solicitar para Surdos e ouvintes tanto avaliações estéticas do filme<br />

(por exemplo, o que mais gostou no filme, o que não entendeu na narrativa em<br />

LIBRAS que acompanha o filme...) como também possíveis continuações para a<br />

animação apresentada.<br />

Resultados<br />

As apresentações de filmes de animação mostram que é possível surdos e<br />

ouvintes trabalharem em parceria na criação de narrativas em um formato<br />

dialógico. Surdos e ouvintes reagem positivamente aos filmes de animação<br />

narrados em Libras, ouvintes interagem positivamente com estudantes surdos


perguntando a eles quais o sinais de determinados estados subjetivos (indagando<br />

qual o sinal de tédio, por exemplo), surdos criaram sinais para estados subjetivos<br />

(foi criado o sinal para tédio), ouvintes e Surdos continuaram a narrativa do filme<br />

de animação utilizando o sinal criado pelo surdos. Após 1 mês de exibição dos<br />

filmes, os professores e intérpretes apontam uma maior frequência dos alunos<br />

Surdos em sala de aula e uma maior comunicação entre Surdos e ouvintes<br />

O projeto tem parceria firmada com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH)<br />

e está buscando parcerias com outros locais para exibição das animações<br />

produzidas pelos Surdos. Dessa forma, os Surdos encontram no projeto um local<br />

onde recebem reforço escolar, capacitação para trabalhar com a criação de<br />

animações, reconhecimento e valorização de seu trabalho e interações com os<br />

ouvintes positivas e pautadas no respeito a suas individualidades. Ao mesmo<br />

tempo, os ouvintes tem a oportunidade de interagir com o Surdos com pouca<br />

resistência, o que torna o ambiente facilitador para o aprendizado da LIBRAS,<br />

realizar produção científica e trabalhar em equipes diversas e multidisciplinares.<br />

Conclusão<br />

Alguns pontos em comum com a proposta freireana são: a busca da<br />

autonomia do aprendiz (os extensionistas são facilitadores no processo de criação<br />

de narrativas do estudantes surdos, por exemplo); o respeito tanto ao<br />

conhecimento prévio do aluno quanto ao seu contexto cultural, social e econômico;<br />

a busca por meios de contato entre o centro de interesse do aluno e conhecimento<br />

formal da escola. O conceito de Círculo de Cultura pode ajudar a comprender o<br />

tipo de relação que ocorre quando grupos culturais distintos e heterogêneos<br />

realizam uma tarefa tal como um filme de animação. As pessoas em um "Círculo<br />

de Cultura" de alfabetização compartilham diferentes usos da palavra, nova ou<br />

geradora, que estão aprendendo a ler e/ou a escrever e, em um "Círculo de<br />

Cultura Surda", ocorre uma relação circular em que todos podem contribuir para a<br />

construção de narrativas surdas e as respectivas animações.


Essa abordagem freireana, combinada a uma forma de relacionamento<br />

baseada na congruência, na empatia e na aceitação dos Surdos, gera um<br />

ambiente seguro de trocas de aprendizagem e produção de conhecimento. Todos<br />

os agentes do projeto (a escola, a universidade, os granduandos, os Surdos e o<br />

Governo) trabalham de forma conjunta e integrada, gerando um espaço<br />

diferenciado de inclusão e crescimento profissional.<br />

Referências Bibliográficas<br />

LANE, Harlan. Máscara da Benevolência: a comunidade surda amordaçada.<br />

Lisboa: Instituto Piaget. 1992<br />

LUCENA JUNIOR, Alberto. Arte da Animação – técnica e estética através da<br />

História. Senac. São Paulo. 2002<br />

MARQUES, Suely Moreira. Pensar e agir na inclusão escolar de crianças com<br />

necessidades educacionais especiais decorrentes de uma deficiência, a<br />

partir de referenciais freirianos: rupturas e mutações culturais na escola<br />

brasileira. 346 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação,<br />

Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007.<br />

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis:<br />

Editora UFSC. 2008.

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