MANACORDA, Mario Alighiero. A Educação no Setecentos. In ...
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fundamentos dos pensadores gregos e roma<strong>no</strong>s e ao esvaziamento do latim como língua do pensamento,<br />
do argumento, etc: o prevalecimento do interesse pelas artes reais e mecânicas (“reales et<br />
mecahanicae”) <strong>no</strong> modelo baconia<strong>no</strong> e ou das modernas academias que respondiam e eram exigências<br />
do <strong>no</strong>vo modo de produção que se consolidava; o ideal do <strong>no</strong>vo “gentlman” pensado por John locke<br />
onde o latim não passa de um item de boas maneiras.<br />
O nascimento e consolidação da ciência moderna retirou do antigo patrimônio cultural a<br />
condição de “exclusivo e suficiente”. A consolidação das grandes línguas nacionais e a conquista do<br />
ligar de influência internacional fez como que o latim perdesse a condição de língua universal.<br />
Desse humanismo clássico o que restou? O “prestígio ideal” porque a cultura do mundo<br />
clássico (Grecia e Roma) ainda influencia a literatura e os costumes dos setecentos, como o latim<br />
superado pelo grego e à cultura grega.<br />
Para Manacorda o humanismo livresco sofreu as mesmas críticas que usou contra a<br />
“escolástica medieval”. Há um movimento de reafirmação da dignidade do homem que tendia a tornar<br />
popular e democrática a condição cortesã e aristocrática. Trata-se de um <strong>no</strong>vo humanismo que está<br />
presente <strong>no</strong>s reformadores, utopistas e revolucionários, que adquiriu expressão com os Iluministas.<br />
Senão, vejamos algumas destas características:<br />
a) “Educar humanamente todos os homens torna-se o grande objetivo da educação moderna<br />
[…] não sem grandes recaídas <strong>no</strong> paternalismo e <strong>no</strong> assistencialismo(<strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 236). O<br />
que essas recaídas indicam? Que o objetivo dessa educação era formar o homem autô<strong>no</strong>mo e de<br />
iniciativa. Para explicar essa condição da educação moderna, Manacorda cita dois escritos do período<br />
(Robinson Crusoé – de Daniel Defoe e As viagens de Gulliver – de Johnathan Swif).<br />
Como Robinson Crusoé é personificado? “[...] carregado da ciência e da ideologia de<br />
contemporânea” expressa-se na “[...] capacidade teórica prática de […] construir sua habitação e sua<br />
mobília […] porque estudara matemática [...]” que <strong>no</strong> sua condição de náufrago, diante da questão da<br />
sobrevivência “[...] associa, na realidade, matemática e capacidade manual [...]” (<strong>MANACORDA</strong>,<br />
1999, p.236). Nesse sentido é um homem moder<strong>no</strong>, e progressista.<br />
Mas, há o outro lado da moeda: seu conservadorismo. A educação que procurou dar ao<br />
índio Sexta Feira demonstra sua condição conservadora, na medida em que faz uso da pedagogia do<br />
medo que está evidente na expressão “[...] era mais fácil imprimir na sua mente retas <strong>no</strong>ções sobre o<br />
diabo do que instruí-lo sobre a existência de Deus” (DEFOE, Daniel in <strong>MANACORDA</strong>, 1999, p. 237).<br />
A literatura de Johnathan Swif, como <strong>no</strong> caso de As viagens de Gulliver usa de um<br />
sarcasmo extremado, como <strong>no</strong> caso que apresenta a criança de um a<strong>no</strong> de idade e saudável em Londres<br />
como um “prato delicioso, muito nutritivo e sadio [...]”. E prosegue Manacorda citando Swif que<br />
afirma ser sua proposta de que os filhos pobres na Irlanda como alimento: entre as vantagens estaria a<br />
diminuição dos “[...]papistas 2 […] que são os maiores fabricantes de crianças em todo o país […]<br />
(SWIF <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 237). O tema em discussão é o controle da natalidade e a<br />
diminuição da miséria pelo controle da explosão demográfica.<br />
Swif criticava também as instituições culturais inglesas que de<strong>no</strong>mina de “ilha suspensa <strong>no</strong><br />
ar” expressa na cidade imaginária de Laputa: “[...]assinala o problema das relações entre teoria e prática<br />
[..] (SWIF <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 238). Outra cidade de sua literatura é Lagado, onde os<br />
inventores dedicam-se as pesquisas sem sentido como “[...]fazer voltar os excrementos huma<strong>no</strong>s aos<br />
alimentos originais […]”. (SWIF <strong>In</strong> <strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 237).<br />
Manacorda lembra que bem antes de Robinson Crusoé e Gulliver Monstesquieu já usara<br />
deste mesmo recurso literário em “As Letress persanes” onde apresenta a viagem de uma estrangeiro<br />
persa na França que relata suas “impressões sobre as escolas francesas”: um bando de gente que ensina<br />
o que não sabe (<strong>MANACORDA</strong> ,1999, p. 237).<br />
3 AS LUZES E A ENCICLOPÉDIA (240 – 245).<br />
As enciclopédias <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s setecentos refere-se ao trabalho de “[...] transcrição moderna<br />
dos antigos o<strong>no</strong>mástica 3 , das coletâneas clássicas e medievais, dos Summae, dicionários e tantas obras<br />
2 Conservador extremo, católico tradicional do tempo de Swif e de outros tempos que entre suas defesas é contra o<br />
controle de natalidade. O termo é muito usado em sua obra “Uma Modesta Proposta”<br />
3 Do grego ὀνομαστική (atribuir <strong>no</strong>me), neste caso da Enclopédia refere-se às obras antigas que tem o <strong>no</strong>me de seus<br />
autores ou lugares, fossem eles reais ou fictícios.