mundo do pacífico - Departamento de Prospectiva e Planeamento

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Economia Internacional O ”MUNDO DO PACÍFICO” – FLUXOS DE CAPITAIS E RELAÇÕES ENTRE MOEDAS José Félix Ribeiro A Economia Mundial foi marcada durante a década de 90 por quatro grandes Forças Motrizes, fortemente inter-relacionadas: Emergência de Economias, Mutação de Tecnologias, Internacionalização de Empresas e Globalização de Poupanças • O aspecto principal da Emergência de Economias foi a ascensão das economias da Ásia/Pacífico e das “Economias Chinesas” (República Popular da China, Hong Kong, Taiwan e Singapura) como força motora do crescimento na Ásia/Pacífico, economias caracterizadas por elevados níveis de poupança e orientação exportadora de bens; em fase mais atrasada de emergência encontra-se a Índia, embora tenha vindo a acumular um potencial tecnológico significativo, que a transforma já em parceiro das empresas americanas da área das Tecnologias da Informação; uma consequência chave da emergência das economias é a pressão sobre a oferta de petróleo e gás natural e respectivos preços; em consequência desta elevação a economia da Rússia tem por sua vez novas condições para se tornar também uma economia emergente; • o aspecto principal da Mutação Tecnológica é a convergência das telecomunicações/Informática e Audiovisual em torno da nova fronteira aberta pela Internet e pela criação do ciberespaço exigindo um investimento maciço na constituição das respectivas infra-estruturas (equipamentos e “software”) e no estabelecimento das conexões de um número crescente de utilizadores a esse espaço e a exploração do código genético; • o aspecto principal da Internacionalização das Empresas consiste em que na indústria e nos serviços a posição das empresas não se joga no seu “mercado único” de base, mas na presença em pelo menos dois dos principais mercados desenvolvidos (América do Norte, Europa Ocidental e Ásia do Nordeste (Japão e Coreia do Sul) e de uma presença selectiva numa das macro-regiões em que se concentram as Economias Emergentes (Ásia/Pacífico e América Latina), experiência há muito feita pelas maiores empresas dos EUA, depois ensaiada pelas empresas japonesas a partir da segunda metade da década de 80, e por último pelas empresas europeias a partir da segunda metade da década de 90; • o aspecto principal da Globalização é a constituição de um “pool” mundial de poupanças, disponível para investimento em qualquer parte do mundo, através dos mercados de capitais, crescentemente integrados, e do papel central dos investidores institucionais e dos bancos de investimento no sistema financeiro internacional; no centro deste processo está o modo como as economias da Ásia/Pacífico (com destaque para o Japão) transferem o seu excesso de poupanças.

Economia Internacional<br />

O ”MUNDO DO PACÍFICO” – FLUXOS DE CAPITAIS E RELAÇÕES ENTRE<br />

MOEDAS<br />

José Félix Ribeiro<br />

A Economia Mundial foi marcada durante a década <strong>de</strong> 90 por quatro gran<strong>de</strong>s Forças<br />

Motrizes, fortemente inter-relacionadas: Emergência <strong>de</strong> Economias, Mutação <strong>de</strong><br />

Tecnologias, Internacionalização <strong>de</strong> Empresas e Globalização <strong>de</strong> Poupanças<br />

• O aspecto principal da Emergência <strong>de</strong> Economias foi a ascensão das economias da<br />

Ásia/Pacífico e das “Economias Chinesas” (República Popular da China, Hong Kong,<br />

Taiwan e Singapura) como força motora <strong>do</strong> crescimento na Ásia/Pacífico, economias<br />

caracterizadas por eleva<strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> poupança e orientação exporta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> bens;<br />

em fase mais atrasada <strong>de</strong> emergência encontra-se a Índia, embora tenha vin<strong>do</strong> a<br />

acumular um potencial tecnológico significativo, que a transforma já em parceiro das<br />

empresas americanas da área das Tecnologias da Informação; uma consequência<br />

chave da emergência das economias é a pressão sobre a oferta <strong>de</strong> petróleo e gás<br />

natural e respectivos preços; em consequência <strong>de</strong>sta elevação a economia da Rússia<br />

tem por sua vez novas condições para se tornar também uma economia emergente;<br />

• o aspecto principal da Mutação Tecnológica é a convergência das<br />

telecomunicações/Informática e Audiovisual em torno da nova fronteira aberta pela<br />

Internet e pela criação <strong>do</strong> ciberespaço exigin<strong>do</strong> um investimento maciço na<br />

constituição das respectivas infra-estruturas (equipamentos e “software”) e no<br />

estabelecimento das conexões <strong>de</strong> um número crescente <strong>de</strong> utiliza<strong>do</strong>res a esse<br />

espaço e a exploração <strong>do</strong> código genético;<br />

• o aspecto principal da Internacionalização das Empresas consiste em que na<br />

indústria e nos serviços a posição das empresas não se joga no seu “merca<strong>do</strong> único”<br />

<strong>de</strong> base, mas na presença em pelo menos <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s principais merca<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s (América <strong>do</strong> Norte, Europa Oci<strong>de</strong>ntal e Ásia <strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste (Japão e<br />

Coreia <strong>do</strong> Sul) e <strong>de</strong> uma presença selectiva numa das macro-regiões em que se<br />

concentram as Economias Emergentes (Ásia/Pacífico e América Latina), experiência<br />

há muito feita pelas maiores empresas <strong>do</strong>s EUA, <strong>de</strong>pois ensaiada pelas empresas<br />

japonesas a partir da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 80, e por último pelas empresas<br />

europeias a partir da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 90;<br />

• o aspecto principal da Globalização é a constituição <strong>de</strong> um “pool” mundial <strong>de</strong><br />

poupanças, disponível para investimento em qualquer parte <strong>do</strong> <strong>mun<strong>do</strong></strong>, através <strong>do</strong>s<br />

merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais, crescentemente integra<strong>do</strong>s, e <strong>do</strong> papel central <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res<br />

institucionais e <strong>do</strong>s bancos <strong>de</strong> investimento no sistema financeiro internacional; no<br />

centro <strong>de</strong>ste processo está o mo<strong>do</strong> como as economias da Ásia/Pacífico (com<br />

<strong>de</strong>staque para o Japão) transferem o seu excesso <strong>de</strong> poupanças.


Informação Internacional<br />

54<br />

MUTAÇÃO DE<br />

TECNOLOGIAS<br />

Figura 1<br />

QUATRO DINÂMICAS CHAVE NA ECONOMIA MUNDIAL<br />

EMERGÊNCIA<br />

DE<br />

ECONOMIAS<br />

GLOBALIZAÇÃO DE<br />

POUPANÇAS<br />

1. O “MUNDO DO PACÍFICO” NO CENTRO DA ECONOMIA MUNDIAL<br />

INTERNACIONALI-<br />

ZAÇÃO DE<br />

EMPRESAS<br />

Já anteriormente se formulou a hipótese que a Economia Mundial tem como estrutura<br />

organiza<strong>do</strong>ra o que se <strong>de</strong>signou como “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”, ou seja o conjunto acções e<br />

interacções entre alguns gran<strong>de</strong>s Entida<strong>de</strong>s:<br />

• Os EUA, o Japão, as Novas Economias Industrializadas – Coreia <strong>do</strong> Sul, Singapura,<br />

Taiwan e Hong Kong/China – as Economias Emergentes – China e Ásia <strong>do</strong>s Su<strong>de</strong>ste<br />

(In<strong>do</strong>nésia, Malásia, Tailândia e Filipinas), o México e a Arábia Saudita e o Reino<br />

Uni<strong>do</strong>.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> agora os Atributos e as Interacções <strong>de</strong>stas Entida<strong>de</strong>s (traduzidas em<br />

“fluxos”) po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stacar-se os seguintes aspectos característicos das duas últimas<br />

décadas:


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

• os EUA acumulam conhecimentos, inovam num largo espectro <strong>de</strong> sectores e<br />

activida<strong>de</strong>s e valorizam essa acumulação e inovação no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais; atraem<br />

recursos humanos <strong>de</strong> elevada qualida<strong>de</strong> das economias emergentes e capitais <strong>de</strong><br />

médio/longo prazo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o <strong>mun<strong>do</strong></strong> para os seus merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acções e obrigações e<br />

para o investimento nas empresas neles sediadas;<br />

• os EUA têm níveis reduzi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> poupança privada (sobretu<strong>do</strong> das famílias), embora<br />

estas apliquem as suas poupanças em activos que permitem aumentar rapidamente o<br />

seu património (imobiliário, na fase <strong>de</strong> inflação; acções <strong>de</strong> empresas, na fase <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sinflação);<br />

• os EUA funcionam como o “consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> última instância” no “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”<br />

absorven<strong>do</strong> uma parte, hoje não maioritária, mas <strong>de</strong> qualquer mo<strong>do</strong> muito<br />

significativa, das exportações <strong>de</strong> produtos industriais da Ásia/Pacífico; têm défices<br />

comerciais em larga escala com o Japão, com as “Novas Economias Industrializadas”<br />

(Coreia <strong>do</strong> Sul, Taiwan, Singapura, China/Hong Kong) e com Economias Emergentes,<br />

nomeadamente com a China;<br />

• os EUA, pela via <strong>do</strong> Investimento Directo Internacional das suas empresas<br />

multinacionais e pelo processo <strong>de</strong> diversificação geográfica das “carteiras <strong>de</strong> activos”<br />

<strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s investi<strong>do</strong>res institucionais – fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensões, fun<strong>do</strong>s mobiliários e<br />

companhias <strong>de</strong> seguros <strong>de</strong> vida – que são actores <strong>do</strong>minantes á escala <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong> capitais <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o <strong>mun<strong>do</strong></strong>, geram fluxos <strong>de</strong> capitais a longo prazo que se dirigem<br />

para as Novas Economias Industrializadas e para as Economias Emergentes <strong>do</strong><br />

“Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”;<br />

• os EUA colocam uma parte significativa da sua dívida pública a curto prazo, junto <strong>do</strong>s<br />

Bancos Centrais <strong>do</strong> Japão e das Economias Emergentes (Ásia/Pacífico e México), em<br />

contrapartida <strong>do</strong> aumento das reservas cambiais das economias emergentes ou<br />

recém industrializadas da Ásia/Pacífico – cujas moedas nacionais estão<br />

tradicionalmente alinhadas com o dólar ou com um “cabaz <strong>de</strong> moedas” em que o<br />

dólar é pre<strong>do</strong>minante;<br />

• o Japão gera e acumula conhecimentos tecnológicos num conjunto relativamente<br />

focaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> áreas – chave da mutação tecnológica em curso (vd. microelectrónica,<br />

optoelectrónica, fotónica, terminais <strong>de</strong> computação e jogos, materiais funcionais para<br />

a micro e optoelectrónica, instrumentação e meios <strong>de</strong> diagnóstico, burótica, robótica,<br />

novas motorizações etc.) e difun<strong>de</strong> nos EUA e em toda a Ásia/Pacífico as suas<br />

competências excepcionais na área da fabricação;<br />

• o Japão acumula exce<strong>de</strong>ntes comerciais, com os principais Actores <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Pacífico” – EUA, Novas Economias Industrializadas e Economias Emergentes, sen<strong>do</strong><br />

o “negativo” da posição <strong>do</strong>s EUA que acumula défices com to<strong>do</strong>s eles;<br />

• o Japão é a economia que poupa em 1ª Instância no “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”,<br />

exportan<strong>do</strong> capitais a curto prazo para os EUA (adquirin<strong>do</strong> títulos <strong>do</strong> tesouro como<br />

contrapartida das suas reservas cambiais maioritariamente expressas em dólares ou<br />

emprestan<strong>do</strong> em yens a opera<strong>do</strong>res norte-americanos que transformam esses<br />

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Informação Internacional<br />

56<br />

empréstimos em investimentos em activos <strong>de</strong> longo prazo, noutros locais <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Pacífico), para as Economias Emergentes, sob a forma <strong>de</strong> empréstimos bancários<br />

a curto prazo; e exportan<strong>do</strong> capitais a longo prazo para os EUA e Reino Uni<strong>do</strong> (em<br />

ambos os casos, sob a forma <strong>de</strong> Investimento Directo Internacional, e no caso <strong>do</strong>s<br />

EUA também sob a forma <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> Tesouro a longo prazo pelos<br />

investi<strong>do</strong>res institucionais japoneses – nomeadamente pelas companhias <strong>de</strong> seguros<br />

<strong>de</strong> vida);<br />

• as Novas Economias Industrializadas (Coreia <strong>do</strong> Sul, Singapura, Hong Kong,<br />

Taiwan), todas elas com elevadas poupanças privadas, orçamentos tradicionalmente<br />

equilibra<strong>do</strong>s ou exce<strong>de</strong>ntários e atrain<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> Investimento Directo<br />

Internacional (menos a Coreia <strong>do</strong> Sul, até recentemente), têm vin<strong>do</strong> a colocar capitais<br />

a curto prazo nos EUA (vd. acumulação <strong>de</strong> reservas cambiais em títulos <strong>do</strong> tesouro a<br />

curto prazo) e a longo prazo nas Economias Emergentes, nomeadamente da China;<br />

• as Economias Emergentes (China e Su<strong>de</strong>ste Asiático) apresentam elevadas<br />

poupanças privadas, em simultâneo com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atracção <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong>s<br />

fluxos <strong>de</strong> capitais a longo prazo, com <strong>de</strong>staque para o Investimento Directo<br />

Internacional; e colocam volumes eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais a curto prazo nos EUA, por via<br />

<strong>do</strong> seus Bancos Centrais (como forma <strong>de</strong> materializarem as suas crescentes reservas<br />

cambiais);<br />

• a Arábia Saudita é o gran<strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> petróleo das economias importa<strong>do</strong>ras <strong>do</strong><br />

“Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” (embora o México e a Venezuela funcionem como fornece<strong>do</strong>res<br />

“regionais” mais significativos <strong>do</strong>s EUA); conforme o nível <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong> petróleo,<br />

cujas transacções são feitas em dólares e o câmbio <strong>do</strong> dólar face ao yen e às moedas<br />

europeias, assim obtém níveis <strong>de</strong> “renda petrolífera” mais ou menos eleva<strong>do</strong>s, que<br />

por tradição, coloca maioritariamente junto <strong>de</strong> instituições financeiras <strong>do</strong>s EUA.<br />

O “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” dispõe assim no seu interior <strong>do</strong>s principais motores <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocação<br />

das “Fronteiras Geoeconómica e Tecnológica e <strong>de</strong> Infra estruturação da Economia Mundial,<br />

articulan<strong>do</strong>, também no seu interior as principais Assimetrias, nomeadamente as da<br />

Poupança /Investimento, Conhecimentos/Competências e Energéticas. Po<strong>de</strong> pois, a esta<br />

luz, afirmar-se que constitui o “sistema motor” da Economia Mundial. Mas se quisermos<br />

completar este mo<strong>de</strong>lo simplifica<strong>do</strong> da Economia Mundial teríamos que introduzir quatro<br />

outras entida<strong>de</strong>s:<br />

• a Europa Continental – <strong>do</strong>minada pelas quatro gran<strong>de</strong>s economias que estão no<br />

centro da zona euro – Alemanha, França, Itália e Espanha – e ainda pela Bélgica e<br />

pela Áustria, partilhan<strong>do</strong> entre si um mo<strong>de</strong>lo básico <strong>de</strong> capitalismo fortemente<br />

diferencia<strong>do</strong> <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo anglo-saxónico;<br />

• a Europa Atlântica – que po<strong>de</strong>mos situar entre a Europa Continental e o “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Pacífico” <strong>do</strong>minada pelo Reino Uni<strong>do</strong> e pelas pequenas economias fortemente<br />

internacionalizadas, com forte relação <strong>de</strong> investimento com os EUA e com elementos<br />

<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo anglo-saxónico – Irlanda, Holanda, Luxemburgo, Suécia,<br />

Finlândia e Suíça – em paralelo com elementos <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo euro-continental;


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

• a América <strong>do</strong> Sul organizada em torno <strong>do</strong> Mercosul – que inclui o Brasil, Argentina,<br />

Uruguai e Paraguai – e que está presente no comércio internacional, sobretu<strong>do</strong> por<br />

via das matérias primas e <strong>do</strong>s produtos da sua transformação; e é caracterizada por<br />

baixas taxas <strong>de</strong> poupança, ao contrário <strong>do</strong> que acontece com as Ásia;<br />

• a Rússia – cuja presença no comércio internacional se faz por via da energia,<br />

matérias primas e indústrias da <strong>de</strong>fesa e em que o investimento directo e <strong>de</strong> carteira<br />

<strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res anglo-saxónicos tem si<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>minante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio da sua<br />

transição para a economia <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Figura 2<br />

ZONAS MONETÁRIO/CAMBIAIS NA ECONOMIA MUNDIAL PÓS 1999<br />

JAPÃO<br />

ECONOMIAS<br />

CHINESAS<br />

Em 2000, após a passagem à terceira fase da UEM a economia mundial podia ser dividida<br />

em três gran<strong>de</strong>s realida<strong>de</strong>s a nível monetário/cambial, ilustradas na Figura 2:<br />

EUA<br />

ZONA<br />

DÓLAR<br />

OUTRAS<br />

ECONOMIAS<br />

EMERGENTES DA<br />

ÁSIA E AMÉRICA<br />

LATINA<br />

ZONA<br />

EURO<br />

ECONOMIAS<br />

ENERGÉTICAS<br />

DO GOLFO<br />

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Informação Internacional<br />

58<br />

• uma zona dólar on<strong>de</strong> se inclui os EUA, as “Economias Chinesas” (entendidas a este<br />

nível como integran<strong>do</strong> a República Popular da China, Hong Kong, Taiwan e<br />

Singapura) e outras economias emergentes da Ásia/Pacífico; a Arábia Saudita e as<br />

outras economias energéticas <strong>do</strong> Golfo; o México e gran<strong>de</strong> parte da América Latina;<br />

• uma economia “refém” da zona dólar – o Japão – que importa matérias primas e<br />

energia <strong>de</strong>nominadas em dólares; exporta produtos industriais para o interior da zona<br />

dólar – nomeadamente para os EUA, “Economias Chinesas” e economias emergentes<br />

da Ásia Pacífico; e importa cada vez mais componentes e outros produtos intermédios<br />

das economias asiáticas da zona dólar; e exporta capitais para os EUA e, Economias<br />

Chinesas e outras economias emergentes da Ásia/Pacífico;<br />

• a zona Euro que integra as economias da Europa Continental e três das economias<br />

da Europa Atlântica – Holanda, Irlanda e Finlândia – <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> fora o Reino Uni<strong>do</strong>,<br />

a Suécia e a Suíça; a Rússia não tem ainda uma posição <strong>de</strong>finida entre a zona dólar e<br />

a zona Euro – irá exportar cada vez mais energia para a “zona Euro” –<br />

nomeadamente Alemanha, França e Itália – e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s empréstimos da<br />

Alemanha; mas no seu interior circula um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> dólares.<br />

Os EUA <strong>de</strong>têm uma posição central na economia mundial <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>, em primeiro lugar à sua<br />

centralida<strong>de</strong> no ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” e em segun<strong>do</strong> lugar à sua relação tradicional com a(s)<br />

Europa(s) e a América Latina, quer ao nível <strong>do</strong> investimento directo, quer <strong>do</strong> comércio; essa<br />

posição central po<strong>de</strong> apreciar-se ao observar os seguintes aspectos:<br />

• os EUA beneficiaram com a Emergência das Economias não só porque quase<br />

todas as economias com estas características, situadas na Ásia/Pacífico ou na<br />

América Latina se enquadram na “zona dólar” geran<strong>do</strong> um fluxo <strong>de</strong> capitais a curto<br />

prazo que se dirige para os EUA sob a forma <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> Tesouro em<br />

que se concretizam as reservas cambiais <strong>de</strong>sses países mas também porque<br />

integraram algumas <strong>de</strong>las na dinâmica da sua mutação tecnológica associan<strong>do</strong>-as ao<br />

fornecimento <strong>de</strong> “hardware” e “software” para o seu sector <strong>de</strong> TI (vd. Taiwan,<br />

Singapura, Malásia e Índia);<br />

• os EUA beneficiaram com a Internacionalização das Empresas, não tanto pelo que<br />

investiram no exterior, já que são há muito a mais “multinacionalizada” das economias<br />

<strong>de</strong>senvolvidas, mas porque a <strong>do</strong>tação <strong>de</strong> bases produtivas nos próprios EUA é a<br />

tarefa primeira e <strong>de</strong> maior importância para as empresas japonesas e europeias que<br />

se internacionalizam, quer o façam por investimento directo <strong>de</strong> raiz, por aquisições e<br />

fusões ou por alianças estratégicas;<br />

• os EUA beneficiaram com a Mutação Tecnológica porque são eles que comandaram<br />

a revolução da convergência e da Internet e se colocaram em posição excelente nas<br />

tecnologias da banda larga, graças ao enorme investimento realiza<strong>do</strong> pelos<br />

opera<strong>do</strong>res <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação e audiovisual, e é neles que mais se tem<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> a aplicação comercial das <strong>de</strong>scobertas da genética, e mais<br />

recentemente da genómica.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

Os EUA estão no centro <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> Globalização das Poupanças, graças ao seu<br />

“mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo” que lhes dá vantagens únicas:<br />

• um sistema financeiro cada vez mais estrutura<strong>do</strong> em torno <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais,<br />

o que associa<strong>do</strong> à própria dimensão da economia americana lhes dá uma<br />

profundida<strong>de</strong> e liqui<strong>de</strong>z sem igual a nível mundial, e que graças à competição nele<br />

existentes gera inovações financeiras susceptíveis <strong>de</strong> atrair uma gama cada vez mais<br />

diversificada <strong>de</strong> investi<strong>do</strong>res, fim das separação entre bancos comerciais e <strong>de</strong><br />

investimento e das proibições <strong>do</strong>s bancos negociarem em títulos por conta própria;<br />

• um sistema <strong>de</strong> pensões em que têm expressão <strong>do</strong>minante os regimes <strong>de</strong><br />

capitalização, quer sob a forma <strong>de</strong> planos ocupacionais geri<strong>do</strong>s por fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

pensões constituí<strong>do</strong>s em torno <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s emprega<strong>do</strong>ras e <strong>de</strong> planos individuais <strong>de</strong><br />

poupança que estimularam o crescimento <strong>do</strong>s “mutual funds”;<br />

• um intenso merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> controlo das empresas, que torna os EUA no principal foco <strong>de</strong><br />

Fusões &Aquisições a nível mundial;<br />

• um sistema <strong>de</strong> financiamento da inovação basea<strong>do</strong> no papel <strong>do</strong> capital <strong>de</strong> risco, na<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensões e <strong>do</strong>s bancos <strong>de</strong> investimento canalizarem fun<strong>do</strong>s<br />

para o fornecimento <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco e no papel <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais,<br />

nomeadamente através das IPO e da formação <strong>do</strong> Nasdaq;<br />

• um sistema <strong>de</strong> ensino superior <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong>, competitivo, com forte<br />

financiamento priva<strong>do</strong>, tradição <strong>de</strong> ligação às empresas e exercen<strong>do</strong> o capaz <strong>de</strong><br />

alargar a sua base <strong>de</strong> recrutamento à escala mundial, com <strong>de</strong>staque para os jovens<br />

das “economias emergentes”;<br />

• uma fiscalida<strong>de</strong> que não penaliza os ganhos <strong>de</strong> capital face a outras fontes <strong>de</strong><br />

rendimento <strong>de</strong>rivada da posse <strong>de</strong> activos financeiros (vd. juros e divi<strong>de</strong>n<strong>do</strong>s) e <strong>de</strong>sse<br />

mo<strong>do</strong> estimula a orientação das poupanças para o investimento em acções, e das<br />

gran<strong>de</strong>s fortunas para os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco.<br />

Na década <strong>de</strong> 90 os EUA pu<strong>de</strong>ram adicionalmente beneficiar com a Globalização pelo<br />

diferencial <strong>de</strong> crescimento que obtiveram face ao Japão- a braços com um longo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

estagnação/recessão que se seguiu à implosão da bolha especulativa nos merca<strong>do</strong>s<br />

imobiliário e <strong>de</strong> acções em 1989/90 e à Europa, envolvida num processo <strong>de</strong> consolidação<br />

orçamental <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções exigi<strong>do</strong> pela preparação para a UEM e pela aplicação <strong>de</strong><br />

uma política monetária inspirada pelas exigências alemãs <strong>de</strong>correntes da reunificação que<br />

se traduziram numa década <strong>de</strong> crescimento lento e sempre estimula<strong>do</strong> pelo exterior nos<br />

momentos <strong>de</strong> crescimento mais rápi<strong>do</strong><br />

E a partir <strong>de</strong> 1998 os EUA, se ajudaram <strong>de</strong>cisivamente a travar o generalização e<br />

aprofundamento da crise das “Economias Emergentes”, também beneficiaram <strong>de</strong>la, já que<br />

gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> capitais em fuga das “Economias Emergentes” acorreram em massa ao<br />

merca<strong>do</strong> accionista <strong>do</strong>s EUA, contribuin<strong>do</strong> para a subida <strong>do</strong>s títulos da Tecnologia, Media e<br />

Comunicações.<br />

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Informação Internacional<br />

2. 1985-1998 – TRÊS CONFIGURAÇÕES DO “MUNDO DO PACÍFICO”<br />

O tipo <strong>de</strong> interacções entre as Entida<strong>de</strong>s que integram o que se <strong>de</strong>signou por “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Pacífico” tem vin<strong>do</strong> a evoluir, no contexto <strong>do</strong>s atributos básicos <strong>de</strong> cada uma das Entida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> funções que <strong>de</strong>sempenham na matriz <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais que o atravessam.<br />

I<strong>de</strong>ntificaram-se três subperío<strong>do</strong>s:<br />

60<br />

• 1985 a 1990 – correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à formação das articulações chave <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Pacífico”;<br />

• 1991 a 1994 – correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> na aparência a uma interrupção nas articulações mas<br />

traduzin<strong>do</strong> a estruturação <strong>de</strong> padrões mais complexos <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> capitais;<br />

• 1995 a 1998 – correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a uma fase que se po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>finir como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

“Febre da Ásia”, terminada com a crise financeira e cambial <strong>de</strong> 1997/8.<br />

2.1. 1985 a 1990 – Formação das articulações chave <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”<br />

Neste perío<strong>do</strong> assistiu-se a um forte crescimento mundial quer nas Economias<br />

Desenvolvidas quer em Emergência (neste caso centra<strong>do</strong> nos que apresentavam<br />

especializações industriais) não interrompida pelo “crash” na bolsa <strong>de</strong> New York em 1987;<br />

ao mesmo tempo que os riscos da inflação se <strong>de</strong>slocaram <strong>do</strong>s bens e serviços para os<br />

activos financeiros e para os excessos <strong>de</strong> endividamento priva<strong>do</strong> ou público que essa<br />

“inflação <strong>do</strong>s activos” permitiu.<br />

No que respeita às gran<strong>de</strong>s economias <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” há que registar, <strong>de</strong> forma<br />

sintética:<br />

• EUA – Travagem gradual das <strong>de</strong>spesas com a <strong>de</strong>fesa, mas manutenção <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong>s<br />

défices orçamentais, em redução até 1987 mas agrava<strong>do</strong>s <strong>de</strong> novo após esta data;<br />

compressão <strong>do</strong> investimento, levan<strong>do</strong> ao crescimento <strong>do</strong> sal<strong>do</strong> financeiro <strong>do</strong> sector<br />

priva<strong>do</strong>; dólar competitivo, não impedin<strong>do</strong> queda da parte <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> das<br />

exportações <strong>do</strong>s EUA; redução <strong>do</strong> peso relativo <strong>do</strong> défice da balança corrente;<br />

impacto da <strong>de</strong>sregulamentação <strong>do</strong> sector bancário – as “Savings and Loans<br />

Associations” aumentam dramaticamente a sua exposição ao sector imobiliário;<br />

• Japão – forte crescimento <strong>do</strong> endividamento priva<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a um processo maciço<br />

<strong>de</strong> investimento das empresas em torno <strong>do</strong>s nós estruturantes da especialização<br />

internacional <strong>do</strong> Japão; prosseguimento <strong>do</strong> esforço <strong>de</strong> consolidação orçamental;<br />

política monetária abertamente expansionista, reforçada <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> “crash” da Bolsa<br />

<strong>de</strong> N.Y em 1987; formação duma “bolha especulativa” com base no preço da terra;<br />

• China e “Economias Chinesas” – consolidação da “abertura” económica; forte<br />

crescimento nas províncias costeiras; inicio <strong>de</strong> uma revolução industrial na China<br />

assente nas fabricas <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia e vila; expansão das “re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócio chinesas” com<br />

base no “exterior” da China;


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

• Arábia Saudita – mudança radical da política petrolífera em 1986 – prosseguimento<br />

<strong>do</strong> objectivo <strong>de</strong> quota <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, sem atenção aos preços; interrupção posterior<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao efeito brutal em termos <strong>de</strong> queda <strong>de</strong> preços <strong>do</strong> petróleo; aprofundamento<br />

das dificulda<strong>de</strong>s orçamentais.<br />

O principal processo geoeconómico que envolveu o “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” foi a<br />

internacionalização da economia <strong>do</strong> Japão, em resposta à valorização <strong>do</strong> yen, ten<strong>do</strong> como<br />

contrapartida a formação <strong>de</strong> uma gigantesca “bolha especulativa” , assente na “explosão” <strong>do</strong><br />

preço da terra. Um processo complementar foi o “contra – choque” petrolífero <strong>de</strong> 1986 no<br />

qual a Arábia Saudita alterou a sua estratégia energética levan<strong>do</strong> a uma baixa muito<br />

acentuada <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> petróleo.<br />

Em mea<strong>do</strong>s da década <strong>de</strong> 80 generalizou-se um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregulamentação e<br />

liberalização em vários sistemas financeiros nacionais – <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se o <strong>do</strong> EUA, Reino<br />

Uni<strong>do</strong> e Japão – que alterou em profundida<strong>de</strong> as condições <strong>de</strong> concorrência <strong>do</strong>s bancos.<br />

Este processo, <strong>de</strong>senrolan<strong>do</strong>-se no contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinflação, <strong>de</strong>terminou uma forte procura<br />

<strong>de</strong> aplicações com maior rendibilida<strong>de</strong> embora com maior risco. Esteve na origem da<br />

concessão <strong>de</strong> financiamentos bancários maciços ao sector imobiliário, à escala mundial<br />

(“Febre <strong>do</strong> Imobiliário”), materializan<strong>do</strong> o primeiro ciclo global <strong>de</strong>ste sector.<br />

No que respeita à circulação internacional <strong>de</strong> capitais forma-se a primeira configuração <strong>do</strong><br />

“Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”:<br />

• O Japão obtém exce<strong>de</strong>ntes comerciais com os EUA, as “Economias Chinesas” e<br />

outras “Economias Emergentes” da Ásia Pacífico e “recicla” estes exce<strong>de</strong>ntes<br />

mediante investimento directo e <strong>de</strong> carteira nos EUA, nas economias da Ásia/Pacífico<br />

e também na Europa;<br />

• os investi<strong>do</strong>res institucionais japoneses adquirem volumes maciços <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong><br />

tesouro <strong>do</strong>s EUA; as empresas <strong>do</strong> sector exporta<strong>do</strong>r realizam investimentos directos<br />

em larga escala nos EUA e na Ásia/Pacífico (em economias da “zona dólar”) e<br />

também na Europa (com <strong>de</strong>staque para as economias atlânticas – Reino Uni<strong>do</strong> e<br />

Holanda) e os bancos japoneses internacionalizam-se, marcan<strong>do</strong> forte presença no<br />

merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> euro-dólar.<br />

Em termos <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z internacional verificou-se um forte crescimento induzi<strong>do</strong> pela<br />

dinâmica <strong>de</strong> internacionalização da economia japonesa.<br />

Em termos cambiais o aspecto central foi alta <strong>do</strong> yen, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985 até 2000 se situará<br />

numa tendência <strong>de</strong> valorização real (Gráfico 1).<br />

61


Informação Internacional<br />

62<br />

Gráfico 1<br />

TAXA DE CÂMBIO REAL DO JAPÃO<br />

Fonte: “Japanese Bonds – The Other Bubble”, Smither´s &Co Ltd, Report nº 115, September 2000.<br />

Este perío<strong>do</strong> foi marca<strong>do</strong> por um conjunto <strong>de</strong> acontecimentos <strong>de</strong> âmbito internacional, <strong>de</strong><br />

que se <strong>de</strong>stacaram os Acor<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Plaza (1985) e <strong>do</strong> Louvre (1987) – <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a travar a<br />

valorização <strong>do</strong> dólar e a controlar a sua <strong>de</strong>scida – e a crise bolsista <strong>de</strong> 1987, que não teve<br />

consequências graves a nível real.<br />

2.2. 1991 a 1994 – Uma interrupção nas articulações existentes ou a estruturação <strong>de</strong><br />

padrões mais complexos <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> capitais?<br />

Este perío<strong>do</strong> foi marca<strong>do</strong> por um conjunto <strong>de</strong> acontecimentos: recessões no Japão, EUA,<br />

Reino Uni<strong>do</strong>, Suécia e suas diferentes saídas (1991/92); “guerra comercial” EUA – Japão<br />

(1992/1995) crise <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> obrigacionista em 1994 e crise cambial e financeira <strong>do</strong> México<br />

(1994).<br />

Em termos <strong>de</strong> crescimento mundial assistiu-se a uma quebra explicável pelas recessões <strong>de</strong><br />

91/92 ocorridas nos países <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, a que se seguiu uma retoma localizada nos EUA<br />

e Reino Uni<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> 1992, mas durante este perío<strong>do</strong> assistiu-se, após 1991, a um<br />

rápi<strong>do</strong> crescimento nas Economias Emergentes, marcan<strong>do</strong> o inicio <strong>de</strong> uma fase em que<br />

passaram a ter um papel mais pronuncia<strong>do</strong> no crescimento mundial.<br />

Neste perío<strong>do</strong> teve inicio uma longa fase <strong>de</strong> estagnação/recessão da economia <strong>do</strong> Japão;<br />

uma década <strong>de</strong> expansão ininterrupta da economia <strong>do</strong>s EUA e uma fase prolongada <strong>de</strong><br />

contracção fiscal e <strong>de</strong> política monetária <strong>de</strong> combate à inflação na Europa; enquanto


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

prosseguia a <strong>de</strong>struição maciça da renda petrolífera acumulada pelos principais<br />

produtores/exporta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Golfo (vd. guerras Irão/Iraque e <strong>do</strong> Golfo), no contexto <strong>de</strong> baixos<br />

preços <strong>do</strong> petróleo.<br />

No que se refere às gran<strong>de</strong>s economias <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”, salientam-se os seguintes<br />

aspectos:<br />

• EUA – política monetária expansionista na maior parte <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>; gestão da crise<br />

das “Savings and Loans Associations“ e das dificulda<strong>de</strong>s generalizadas <strong>do</strong> sector<br />

bancário; forte crescimento da liqui<strong>de</strong>z (1990/94); inicio da consolidação orçamental;<br />

prosseguimento <strong>do</strong> “boom” bolsista inicia<strong>do</strong> em 1982; acessos <strong>de</strong> fraqueza <strong>do</strong> dólar;<br />

interrupção da política monetária expansionista em 1994; primeiro “soft landing” da<br />

economia americana;<br />

• Japão – política monetária expansionista ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>; sucessão <strong>de</strong> estímulos<br />

fiscais sem eficácia; papel crucial <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelo “2º Orçamento” (FILP) e pelas<br />

suas fontes <strong>de</strong> financiamento – sal<strong>do</strong> da segurança social e serviços financeiros<br />

postais; crise na banca e outras instituições financeiras; “recusa” por parte <strong>do</strong>s<br />

investi<strong>do</strong>res institucionais japoneses <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> Tesouro <strong>do</strong>s EUA, após<br />

elevadas perdas cambiais;<br />

• China – sobre-aquecimento da economia;<br />

• Ásia Pacífico – forte crescimento das economias emergentes e em industrialização<br />

rápida;<br />

• México – crise financeira e cambial <strong>de</strong>1994; foi uma crise <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z, ao contrário da<br />

crise <strong>de</strong> 1982 que fora uma crise <strong>de</strong> solvabilida<strong>de</strong> e foi também uma crise <strong>de</strong> sobreconsumo,<br />

associada ao colapso <strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> crescimento não inflacionista<br />

centra<strong>do</strong> na manutenção <strong>de</strong> um peso sobre – valoriza<strong>do</strong>; assistiu-se à posterior<br />

flutuação <strong>do</strong> peso; esta crise <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou a primeira das gran<strong>de</strong>s intervenções <strong>do</strong><br />

FMI realizadas na década <strong>de</strong> 90 em socorro <strong>de</strong> “economias emergentes”;<br />

• Arábia Saudita – recuperação da quota <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> petróleo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao aumento<br />

<strong>de</strong> produção a seguir à guerra <strong>do</strong> Golfo; mas agravamento da posição financeira <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> à redução <strong>do</strong>s activos no exterior e ao forte crescimento da dívida<br />

pública interna;<br />

Durante este perío<strong>do</strong> a Europa funcionou em contra – ciclo <strong>do</strong>s EUA, asseguran<strong>do</strong> uma<br />

<strong>de</strong>sincronização na economia mundial que reduziu tensões inflacionista e crian<strong>do</strong><br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colocação <strong>de</strong> capitais aos investi<strong>do</strong>res institucionais <strong>do</strong>s EUA (diferencial<br />

<strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> juro – mais eleva<strong>do</strong>s na Europa – com um aparente baixo risco <strong>de</strong> câmbio,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao funcionamento <strong>do</strong> Sistema Monetário Europeu).<br />

Em termo <strong>de</strong> transformações <strong>do</strong>s sistemas financeiros salientam-se:<br />

63


Informação Internacional<br />

64<br />

• A reabsorção das dificulda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> sector bancário nos EUA e a consolidação nos EUA<br />

<strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong> sistema financeiro e <strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong> internacionalização<br />

financeira, ten<strong>do</strong> como centro os investi<strong>do</strong>res institucionais e os fun<strong>do</strong>s mobiliários;<br />

• prosseguimento da crise no sistema financeiro japonês sem que se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>assem<br />

transformações estruturais;<br />

• Corrida generalizada às obrigações – “Febre das Obrigações”.<br />

No que respeita à circulação internacional <strong>de</strong> capitais po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stacar-se os seguintes<br />

aspectos:<br />

• Manutenção da posição central <strong>do</strong> Japão na formação <strong>do</strong>s exce<strong>de</strong>ntes comerciais no<br />

“Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – obtenção <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes com os EUA e com as “Economias<br />

Chinesas” sen<strong>do</strong> que estas obtinham, por sua vez, exce<strong>de</strong>ntes comerciais com os<br />

EUA;<br />

• forte crescimento <strong>do</strong>s investimentos directos (por parte <strong>do</strong> Japão, Coreia <strong>do</strong> Sul e<br />

Taiwan) e <strong>de</strong> carteira (por parte <strong>do</strong>s EUA e Reino Uni<strong>do</strong>) nas economias <strong>do</strong> México,<br />

Chile e Ásia/Pacífico; influxos <strong>de</strong> capitais que neste último caso (e ao contrário <strong>do</strong><br />

México) não serviram para financiar défices correntes mas para aumentar as reservas<br />

cambiais;<br />

• redução drástica <strong>do</strong> investimento <strong>do</strong> Japão em títulos <strong>do</strong> tesouro <strong>do</strong>s EUA; mudança<br />

no mecanismo <strong>de</strong> reciclagem <strong>do</strong>s défices americanos – com redução da reciclagem<br />

directa pelos investi<strong>do</strong>res institucionais, empresas e bancos japoneses, e pre<strong>do</strong>mínio<br />

<strong>de</strong> uma reciclagem indirecta, sob a forma <strong>de</strong> investimento a médio e longo prazo nas<br />

“economias emergentes” da Ásia/Pacífico;<br />

• forte crescimento <strong>do</strong> investimento <strong>de</strong> carteira <strong>de</strong> investi<strong>do</strong>res institucionais e <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s empresas <strong>do</strong>s EUA, nomeadamente em obrigações; acompanhada pela<br />

diversificação geográfica <strong>de</strong> carteiras por parte <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensões (sen<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

referir os fluxos em direcção à Europa);<br />

• aquisição maciça <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> curto prazo <strong>do</strong>s EUA pelas “economias emergentes” da<br />

Ásia/Pacífico, em consequência <strong>de</strong> um rápi<strong>do</strong> crescimento, com acumulação <strong>de</strong><br />

reservas.<br />

Neste perío<strong>do</strong> verificou-se um forte aumento da liqui<strong>de</strong>z a nível mundial resultante da<br />

coincidência <strong>de</strong> políticas monetárias expansionistas nos EUA (até Fevereiro <strong>de</strong> 1994) e no<br />

Japão.<br />

Em termos cambiais registou-se uma alta <strong>do</strong> yen e uma <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong> dólar (esta na<br />

continuação <strong>de</strong> um movimento inicia<strong>do</strong> em 1985); e assistiu-se à generalização na<br />

Ásia/Pacífico <strong>de</strong> regimes cambiais ten<strong>do</strong> como âncora o dólar e utiliza<strong>do</strong>s para combater a<br />

inflação; sub-avaliação das moedas asiáticas face ao yen e às moedas europeias.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

1994 – A QUEDA NO MERCADO DE OBRIGAÇÕES<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 1993 os EUA seguiram ainda uma política monetária "<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>",<br />

traduzida em taxas <strong>de</strong> juro <strong>de</strong> curto prazo baixas, inserida nos esforços para apoiar o sistema<br />

bancário americano, duramente atingi<strong>do</strong>, no final <strong>do</strong>s anos 80 e início da década <strong>de</strong> 90, pelas<br />

quebras em merca<strong>do</strong>s tão importantes como o imobiliário. No final <strong>de</strong>sse ano o excesso <strong>de</strong><br />

liqui<strong>de</strong>z traduzira-se numa corrida à aquisição <strong>de</strong> títulos nos merca<strong>do</strong>s estrangeiros,<br />

contribuin<strong>do</strong> para que se gerasse, a nível global, uma euforia nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> obrigações.<br />

De acor<strong>do</strong> com John Plen<strong>de</strong>r (vd. Financial Times, 23 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1994) a actuação <strong>de</strong><br />

instituições e investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s EUA foram <strong>de</strong>terminantes nessa corrida às obrigações e,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stas, aos títulos estrangeiros:<br />

• o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinflação nos anos 90, não antecipa<strong>do</strong> por muitos investi<strong>do</strong>res não<br />

institucionais, penalizou os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> activos a curto prazo, reduzin<strong>do</strong> os<br />

rendimentos que podiam esperar, há medida que as taxas nominais <strong>de</strong> curto prazo<br />

foram <strong>de</strong>scen<strong>do</strong>, como a política monetária preten<strong>de</strong>u; muitos <strong>de</strong>positantes <strong>do</strong> sistema<br />

bancário americano <strong>de</strong>cidiram então transferir as suas poupanças para os fun<strong>do</strong>s<br />

mútuos mobiliários, que geriam carteiras <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> longo prazo ou <strong>de</strong> acções, e<br />

que ofereciam rendimentos muito superiores; há medida que as cotações <strong>do</strong>s títulos<br />

americanos subiam, e em paralelo <strong>de</strong>sciam os seus "yields", esses fun<strong>do</strong>s iniciaram<br />

uma procura sistemática <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s no exterior; enquanto isto acontecia, os<br />

fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pensão, por sua vez, lançaram-se num processo <strong>de</strong> diversificação geográfica<br />

das suas carteiras <strong>de</strong> títulos, contribuin<strong>do</strong> igualmente para as aquisições <strong>de</strong> obrigações<br />

no estrangeiro;<br />

• nos EUA os bancos comerciais, atingi<strong>do</strong> por uma acumulação <strong>de</strong> crédito mal para<strong>do</strong>,<br />

utilizou as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pagar <strong>de</strong>pósitos a taxas mais baixas para investir em<br />

obrigações <strong>de</strong> longo prazo com rendimentos superiores, nomeadamente obrigações <strong>de</strong><br />

Tesouro; os bancos <strong>de</strong> investimento orientaram-se, por seu la<strong>do</strong>, para um reforço das<br />

activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transacção <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> longo prazo, por sua própria conta;<br />

• os "hedge funds" e os tesoureiros <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas endividaram-se a curto prazo<br />

para investir em obrigações <strong>do</strong> tesouro, com <strong>de</strong>staque para obrigações em moeda<br />

estrangeira (ex: obrigações públicas europeias) com eleva<strong>do</strong>s rendimentos, bem como<br />

em instrumentos <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s (na suposição <strong>de</strong> que o ano <strong>de</strong> 1994 assistiria a uma<br />

quebra <strong>do</strong> yen).<br />

Po<strong>de</strong>, pois, dizer-se que vários opera<strong>do</strong>res americanos contribuíram para a alta verificada nos<br />

merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> obrigações, a nível mundial, mas que essa corrida às obrigações foi apoiada<br />

num forte endividamento a curto prazo, aproveitan<strong>do</strong> o nível das respectivas taxas <strong>de</strong> juro nos<br />

EUA.<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 1994 assistiu-se ao colapso nas cotações das obrigações <strong>de</strong> vários países,<br />

que acompanhou o aumento <strong>do</strong>s respectivos “yields”. De entre as várias explicações que<br />

foram dadas para esse colapso retiveram-se algumas, apontadas no artigo já referi<strong>do</strong> <strong>de</strong> John<br />

Plen<strong>de</strong>r:<br />

• a alteração na política monetária <strong>do</strong>s EUA, iniciada com o aumento das taxas <strong>de</strong> juro<br />

<strong>de</strong> curto prazo, <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> pelo FED em Fevereiro, e prosseguida nos meses seguintes;<br />

esta alteração levou a um movimento <strong>de</strong> venda rápida <strong>de</strong> obrigações, nomeadamente<br />

por parte <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res que <strong>de</strong>tinham vultuosas carteiras <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> longo<br />

prazo financiadas a curto prazo; por parte <strong>de</strong> opera<strong>do</strong>res que se enganaram<br />

re<strong>do</strong>ndamente quanto à evolução das cotações <strong>do</strong> dólar e <strong>do</strong> yen, e quanto as políticas<br />

monetárias na Europa, e que se <strong>de</strong>sfizeram em pouco tempo <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s maciças<br />

<strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> Governos europeus; por parte <strong>de</strong> investi<strong>do</strong>res institucionais com<br />

65


Informação Internacional<br />

66<br />

importantes carteiras <strong>de</strong> "obrigações garantidas obrigações garantidas colateralmente<br />

por hipotecas"; (conhecidas nos EUA por CMO), obrigações cujo prazo <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong><br />

evolui com o comportamento das taxas <strong>de</strong> juro <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, da<strong>do</strong> o facto <strong>de</strong> as<br />

hipotecas que Ihe servem <strong>de</strong> base serem normalmente <strong>de</strong> juro fixo; esses investi<strong>do</strong>res<br />

para fazer face ao aumento das carteiras <strong>de</strong> CMOS, que se seguiu ao aumento das<br />

taxas <strong>de</strong> juro, a partir <strong>de</strong> Fevereiro, tiveram que se <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> Tesouro<br />

a cinco e <strong>de</strong>z anos;<br />

• existência <strong>de</strong> distorções substanciais ao que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar ser o padrão <strong>de</strong> base<br />

actual <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais a nível mundial, caracteriza<strong>do</strong> por saídas <strong>de</strong> capitais <strong>do</strong><br />

Japão, (que em 1993 registou um exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> transacções correntes <strong>de</strong> 131 biliões<br />

<strong>de</strong> dólares), em direcção aos EUA, que nesse ano registaram um défice corrente <strong>de</strong><br />

109 biliões; ora, enquanto os EUA, não obstante este défice, aumentaram rapidamente<br />

as suas exportações <strong>de</strong> capitais, nomeadamente pela acção <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res<br />

institucionais e <strong>do</strong>s "hedge funds", o Japão "recusou-se" a funcionar como fornece<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong> capitais a longo prazo, bastan<strong>do</strong> recordar que em 1987, quan<strong>do</strong> as instituições<br />

japonesas <strong>de</strong>sempenhavam plenamente o seu papel <strong>de</strong> financia<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s EUA<br />

adquiriram 137 biliões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> longo prazo americanos' enquanto no<br />

ano <strong>de</strong> 1994, e até Julho, haviam adquiri<strong>do</strong> apenas 8 biliões; para explicar esta<br />

reticência não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> referir os gigantescos prejuízos cambiais que esses<br />

investi<strong>do</strong>res acumularam durante anos, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> as flutuações <strong>do</strong> dólar; o contexto das<br />

tensões comerciais com os EUA, que se repercutiram na valorização <strong>do</strong> yen em relação<br />

ao dólar; e o novo regime das companhias <strong>de</strong> seguros <strong>do</strong> Japão que penaliza a<br />

<strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> obrigações estrangeiras, em relação as <strong>do</strong>mésticas; sen<strong>do</strong> assim, o<br />

financiamento da balança <strong>de</strong> base <strong>do</strong>s EUA passou a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> financiamentos<br />

bancários a curto prazo e da aquisição <strong>de</strong> dólares pelos Bancos Centrais <strong>de</strong> outros<br />

países, a título <strong>de</strong> reservas, o que não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> contribuir para a volatilida<strong>de</strong> nos<br />

merca<strong>do</strong>s das obrigações e <strong>do</strong>s câmbios;<br />

• a percepção, por parte <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> que a economia mundial po<strong>de</strong>ria estar a<br />

entrar num perío<strong>do</strong> em que, ao crescimento continua<strong>do</strong> <strong>de</strong> um grupo numeroso <strong>de</strong><br />

países em <strong>de</strong>senvolvimento, se viria acrescentar uma retoma generalizada nos países<br />

<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s, perspectivan<strong>do</strong> uma fase <strong>de</strong> expansão e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> procura dirigida ao<br />

"pool" mundial <strong>de</strong> poupanças; se se recordar que as taxas <strong>de</strong> juro <strong>de</strong> longo prazo<br />

permaneceram anormalmente elevadas durante a recessão e se aproximam já <strong>do</strong>s<br />

máximos verifica<strong>do</strong>s durante a fase próspera <strong>do</strong>s anos 80, alguns analistas previram<br />

um intensificar da competição, entre investi<strong>do</strong>res priva<strong>do</strong>s e Governos, pelo que<br />

consi<strong>de</strong>ram ser recursos financeiros escassos a nível mundial (vd. a continuada quebra<br />

das taxas <strong>de</strong> poupança nas economias industrializadas e os baixos níveis relativos <strong>de</strong><br />

poupança característica <strong>de</strong> alguns países, hoje em crescimento, da América Latina);<br />

• um aumento <strong>do</strong>s "riscos <strong>de</strong> crédito", não só circunscrito aos países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, como a vários países industrializa<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> recordar que nos 15<br />

anos até 1992 o endividamento público, em proporção <strong>do</strong> PIB, cresceu <strong>de</strong> 21,2% para<br />

36,75% nos países da OCDE, (apontan<strong>do</strong> esta organização para níveis <strong>de</strong> 43,9°/0 em<br />

1995), com a agravante <strong>de</strong>stes valores não incluírem a parte sem cobertura financeira<br />

esperada <strong>do</strong>s sistemas públicos <strong>de</strong> pensões <strong>de</strong> alguns países; os merca<strong>do</strong>s podiam<br />

recear que os Governos, acabassem por enveredar pelas vias da inflação interna ou da<br />

<strong>de</strong>svalorização das suas moedas.<br />

Fonte: “Informação Internacional – 1994”, <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e <strong>Planeamento</strong> (DPP)


2.3. 1995-1998 – O “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” e a “Febre da Ásia”<br />

O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

Este perío<strong>do</strong> foi marca<strong>do</strong> por um conjunto <strong>de</strong> acontecimentos – crise financeira e cambial <strong>do</strong><br />

México (1995); crise das economias emergentes da Ásia (1997/98) e <strong>de</strong> outras regiões<br />

(1998/9); recessão no Japão (1998); reforço <strong>do</strong> “bull market” nos EUA, etc..<br />

Neste perío<strong>do</strong> assistiu-se a um forte crescimento à escala mundial, centra<strong>do</strong> nos EUA (e<br />

Reino Uni<strong>do</strong>) e nas “economias emergentes”, com <strong>de</strong>staque para as asiáticas, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

interrompi<strong>do</strong> em 1998 com a crise verificada nestas economias, que no entanto foi<br />

rapidamente travada.<br />

De 1995 a 1998 as gran<strong>de</strong>s economias <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” foram caracterizadas pelos<br />

seguintes processos:<br />

• EUA – Um ”boom” <strong>de</strong> investimento em torno <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das novas<br />

tecnologias <strong>de</strong> telecomunicações/Internet e da generalização <strong>do</strong>s equipamentos<br />

informáticos em toda a economia; uma forte crescimento na mobilização <strong>de</strong> capital <strong>de</strong><br />

risco em torno <strong>de</strong> um leque varia<strong>do</strong> <strong>de</strong> tecnologias (microelectrónica, fotónica,<br />

genética); uma melhoria substancial na poupança pública, com a inversão <strong>do</strong>s sal<strong>do</strong>s<br />

orçamentais que passaram a ser positivos; e numa forte atractivida<strong>de</strong> sobre capitais<br />

oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exterior;<br />

• “Economias Emergentes” da Ásia/Pacífico – Um “boom” <strong>de</strong> investimento<br />

alimenta<strong>do</strong> pelos níveis muito eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> poupança <strong>do</strong>méstica <strong>de</strong>ssas economias e<br />

pelo fluxo <strong>de</strong> capitais externos oriun<strong>do</strong>s da própria da Ásia /Pacífico (Japão, Coreia <strong>do</strong><br />

Sul e Taiwan e Hong Kong); <strong>do</strong>s EUA, e da Europa, embora sob formas diferenciadas<br />

(investimento directo, investimento <strong>de</strong> carteira e empréstimos bancários);<br />

• Japão – retoma breve <strong>do</strong> crescimento em 1996, interrompi<strong>do</strong> pouco <strong>de</strong>pois, em<br />

consequência da alteração da política orçamental num senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> redução <strong>do</strong> défice;<br />

papel chave no financiamento indirecto e directo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is “booms“ <strong>de</strong> investimento<br />

atrás referi<strong>do</strong>s, por via <strong>do</strong>s empréstimos bancários a longo prazo às Economias<br />

Emergentes da Ásia e <strong>do</strong>s empréstimos a curto prazo a investi<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s EUA, através<br />

<strong>do</strong> mecanismo <strong>do</strong> “yen carry arbitrage” que funcionou entre 1995 e finais <strong>de</strong> 1998, na<br />

sequência da política <strong>de</strong> “taxa <strong>de</strong> juro zero” seguida internamente.<br />

Neste perío<strong>do</strong> a Europa, em crescimento lento na fase <strong>de</strong> preparação para a 3ª fase da<br />

UEM, participou activamente no financiamento <strong>do</strong> “boom” <strong>de</strong> investimento <strong>do</strong>s EUA, por via<br />

<strong>do</strong> investimento directo em larga escala e pelo crescimento <strong>do</strong> peso <strong>de</strong> activos em dólares<br />

nas carteiras <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res institucionais europeus (da<strong>do</strong> que muitas das empresas <strong>do</strong>s<br />

EUA são hoje verda<strong>de</strong>iras empresas globais, são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como investimentos globais<br />

e sen<strong>do</strong> assim as “carteiras” <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res institucionais europeus têm vin<strong>do</strong> a aumentar<br />

a sua parte <strong>de</strong> acções <strong>de</strong> empresas <strong>do</strong>s EUA); além <strong>do</strong>s seus bancos terem forneci<strong>do</strong>s<br />

créditos em larga escala às “Economias Emergentes” da Ásia/Pacífico.<br />

Em termos <strong>de</strong> sistemas financeiros assinale-se o Big Bang no sistema financeiro japonês<br />

(1997/2003) no contexto <strong>de</strong> um sector bancário duramente atingi<strong>do</strong> pelos impactos <strong>do</strong><br />

67


Informação Internacional<br />

“rebentar” da “bolha” especulativa; e a rápida internacionalização <strong>do</strong>s sectores financeiros<br />

das “economias emergentes”.<br />

Neste perío<strong>do</strong> os fluxos <strong>de</strong> capitais característicos <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” e da sua interrelação<br />

com a Europa foram os que se ilustram na Figura IV:<br />

68<br />

• Um défice corrente <strong>do</strong>s EUA manti<strong>do</strong> em torno <strong>do</strong>s 2%, acompanha<strong>do</strong> por saídas <strong>de</strong><br />

capitais a longo prazo – investimento directo e investimento <strong>de</strong> carteira – este último<br />

associa<strong>do</strong> à diversificação <strong>de</strong> carteira <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res institucionais – a exigir<br />

volumes eleva<strong>do</strong>s e sustenta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> financiamento externo;<br />

• uma entrada sustentada <strong>de</strong> capitais a longo prazo na economia americana, com um<br />

peso crescente <strong>de</strong> investimento directo internacional (nomeadamente associa<strong>do</strong> às<br />

F&A) e <strong>de</strong> investimento <strong>de</strong> carteira dirigi<strong>do</strong> a obrigações e acções <strong>de</strong> empresas, com<br />

<strong>de</strong>staque para os fluxos originários das duas “Europas” – continental e atlântica; ao<br />

mesmo tempo que se assistiu a um perda <strong>de</strong> peso das aquisições <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong><br />

tesouro, no conjunto <strong>do</strong> financiamento <strong>do</strong> défice da BTC;<br />

• um papel crucial das entradas <strong>de</strong> capitais a curto prazo na economia americana, com<br />

origem na Ásia – empréstimos bancários oriun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Japão e aquisição <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong><br />

tesouro <strong>de</strong> curto prazo pelos bancos centrais das “economias emergentes” da Zona<br />

dólar (como forma <strong>de</strong> materialização <strong>do</strong> volume crescente <strong>de</strong> reservas cambiais);<br />

• um enorme fluxo <strong>de</strong> capitais – investimento directo, investimentos <strong>de</strong> carteira,<br />

empréstimos a curto prazo e empréstimos a longo prazo – dirigi<strong>do</strong> para as<br />

“Economias Emergentes” da Ásia Pacífico (“Febre da Ásia”); o Japão e a Europa<br />

forneceram crédito, os EUA forneceram investimento <strong>de</strong> carteira e o Japão e a<br />

“economias chinesas” mais evoluídas forneceram investimento directo;<br />

De 1995 a 1997 assistiu-se a um forte crescimento da liqui<strong>de</strong>z internacional, na sequência<br />

da saída da crise <strong>do</strong> México e da política <strong>de</strong> taxa <strong>de</strong> juro “zero” no Japão.<br />

Este foi um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> procura maciça <strong>de</strong> activos financeiros <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s em dólares<br />

(emiti<strong>do</strong>s nos EUA) ou acessíveis por meio <strong>do</strong> dólar (emiti<strong>do</strong>s nas “Economias Emergentes”<br />

integradas na zona dólar), associa<strong>do</strong>s aos <strong>do</strong>is “booms“ <strong>de</strong> investimento referi<strong>do</strong>s;<br />

provocan<strong>do</strong> uma forte procura da moeda americana como moeda veículo nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

capitais.<br />

Em termos cambiais, e em consequência <strong>de</strong>stes fluxos, o perío<strong>do</strong> é caracteriza<strong>do</strong> pela<br />

valorização contínua <strong>do</strong> dólar em relação ao yen; pelo funcionamento até 1997 <strong>de</strong> regimes<br />

cambiais nas “Economias Emergentes” da Ásia/Pacífico que tornaram mais rígida a ligação<br />

ao dólar das suas moedas nacionais; e posteriormente às crises cambiais <strong>de</strong> 1997/8.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

Figura 3<br />

FLUXOS DE CAPITAIS NO “MUNDO DO PACÍFICO” E COM A EUROPA – 1995/1998<br />

MÉXICO/<br />

VENEZUELA<br />

CHINA E<br />

ECONOMIAS<br />

EMERGENTES<br />

E.U.A.<br />

JAPÃO<br />

ARÁBIA<br />

SAUDITA E<br />

GOLFO<br />

NOVAS<br />

ECONOMIAS<br />

INDUSTRIALI-<br />

ZADAS<br />

Fluxos Comerciais (seta indican<strong>do</strong> acumulação <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes)<br />

Fluxos <strong>de</strong> Investimento Directo e <strong>de</strong> Investimento <strong>de</strong> Longo Prazo<br />

Fluxos Públicos <strong>de</strong> Capitais a Curto Prazo (bancos centrais)<br />

“EUROPAS”<br />

Fluxos Priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Capitais a Curto Prazo (empréstimos bancários e aquisição <strong>de</strong> títulos)<br />

Fonte: Direcção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong>, <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e <strong>Planeamento</strong> (DPP), 1999<br />

69


Informação Internacional<br />

2.4. 1998/99 – Crise e Recuperação Asiática<br />

A crise cambial e financeira das “economias emergentes” da Ásia/Pacífico – que atingiu <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> muito menos pronuncia<strong>do</strong> as “Economias Chinesas” – foi acompanhada em 1998 e<br />

1999 por gran<strong>de</strong>s mudanças nos fluxos <strong>de</strong> capitais no “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”:<br />

70<br />

• Uma retirada rápida e maciça <strong>de</strong> capitais das “economias emergentes” da Ásia que se<br />

precipitaram sobre os merca<strong>do</strong>s financeiros <strong>do</strong>s EUA, contribuin<strong>do</strong> para acelerar o<br />

processo <strong>de</strong> alta das acções, no segmento mais especulativo das “Tecnologias da<br />

Informação/Comunicações/Internet”;<br />

• um forte aumento no défice corrente <strong>do</strong>s EUA, que funcionou plenamente como<br />

“consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> última instância” <strong>do</strong> “Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico”, absorven<strong>do</strong> o aumento <strong>de</strong><br />

exportações das economias asiáticas – nomeadamente <strong>de</strong> “hardware” electrónico –<br />

por via <strong>do</strong> seu “boom” interno <strong>de</strong> investimento e consumo priva<strong>do</strong>;<br />

• uma redução nos fluxos <strong>de</strong> capitais a curto prazo <strong>do</strong> Japão em direcção aos EUA, em<br />

virtu<strong>de</strong> da actuação das autorida<strong>de</strong>s nipónicas que travaram o funcionamento <strong>do</strong> “yen<br />

carry arbitrage”; a rápida recuperação nas balanças correntes das economias<br />

asiáticas mais atingidas pela crise permitiu, no entanto, a retoma <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong><br />

capitais a curto prazo origina<strong>do</strong>s nos bancos centrais <strong>de</strong>ssas economias, que<br />

procuraram rapidamente reforçara as suas reservas cambiais para afazer face a<br />

eventuais crises futuras;<br />

• um aumento <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais a longo prazo (investimento directo internacional e<br />

investimento <strong>de</strong> carteira) oriun<strong>do</strong>s da Europa, com <strong>de</strong>staque para os da recém<br />

formada zona Euro, que tiveram nesta fase um papel crucial no financiamento <strong>do</strong><br />

défice corrente <strong>do</strong>s EUA (nota: e por via <strong>de</strong>ste na estabilização das economias<br />

asiáticas);<br />

• um forte aumento <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais japoneses em direcção aos activos em<br />

moedas europeias que iriam integrar a zona Euro, como manifestação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> diversificação face ao dólar.<br />

Em termos cambiais este perío<strong>do</strong> foi caracteriza<strong>do</strong> por:<br />

• Uma forte <strong>de</strong>svalorização nominal <strong>de</strong> várias moedas asiáticas em relação ao dólar –<br />

<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se a excepção da República Popular da China – sem que o dólar tenha<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser a moeda <strong>de</strong> referência;<br />

• uma valorização <strong>do</strong> yen face ao dólar – que travou a recuperação japonesa e<br />

<strong>de</strong>sincentivou a colocação <strong>de</strong> capitais japoneses no exterior; esta valorização teria<br />

si<strong>do</strong> <strong>de</strong>sejada pela administração americana, em resposta à exigência nesse senti<strong>do</strong><br />

feita pelas autorida<strong>de</strong>s chinesas como contrapartida da não <strong>de</strong>svalorização da sua<br />

moeda nacional.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

JAPÃO, FEVEREIRO DE 1999 – O PÂNICO NO MERCADO DAS OBRIGAÇÕES<br />

Em Setembro <strong>de</strong> 1998 o rendimento das Obrigações <strong>do</strong> Governo Japonês (JGB) a 10 anos atingiu<br />

o valor <strong>de</strong> apenas 0,695%, um mínimo histórico.Com base nestes valores <strong>de</strong> rendimento, e na<br />

elevação correspon<strong>de</strong>nte nas cotações das obrigações, o governo japonês parecia confiante em<br />

que po<strong>de</strong>ria aumentar substancialmente a emissão <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> governo no ano fiscal que<br />

começava em Abril <strong>de</strong> 1999, para financiar um programa <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> impostos e um défice<br />

orçamental record <strong>de</strong> 80 mil biliões <strong>de</strong> yens, com que esperava estimular uma economia em plena<br />

recessão; bem como <strong>de</strong> obrigações garantidas pelo Governo para financiar o plano <strong>de</strong><br />

recapitalização <strong>do</strong> sistema bancário <strong>de</strong>cidida em 1998 (já que o Banco Central se recusara a<br />

assumir o custo <strong>do</strong> financiamento total <strong>de</strong>sse plano, através da concessão <strong>de</strong> créditos directos à<br />

Deposit Insurance Corporation).<br />

Mas o governo estivera ele próprio por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>ssa redução <strong>do</strong>s rendimentos, por via da compra<br />

maciça <strong>de</strong> obrigações realizada pelo Trust Bureau Fund, <strong>do</strong> Ministério das Finanças, com base em<br />

financiamentos obti<strong>do</strong>s junto <strong>do</strong>s Serviços Financeiros Postais, compras essas que elevaram as<br />

cotações e reduziram os rendimentos. Ora o Trust Bureau Fund <strong>de</strong>parava-se nos anos seguintes<br />

com uma potencial crise <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z, já que cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s <strong>de</strong>pósitos existentes nos Serviços<br />

Financeiros Postais se encontram em contas a <strong>de</strong>z anos, com elevadas remunerações, e que<br />

expiram em 2000 e 20001, não haven<strong>do</strong> nenhuma certeza <strong>de</strong> que os aforra<strong>do</strong>res mantivessem as<br />

suas poupanças no serviços postais.<br />

O anúncio feito nos últimos dias <strong>de</strong> 1998 <strong>de</strong> que, por essa razão, o Trust Bureau Fund po<strong>de</strong>ria ter<br />

que cancelar novas aquisições em larga escala <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> governo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou uma<br />

pânico <strong>de</strong> venda, que levou a uma quebra pronunciada nas cotações das obrigações e a uma<br />

correspon<strong>de</strong>nte elevação <strong>do</strong> rendimento <strong>do</strong>s 0,695% <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1998 para 1,9% no final<br />

<strong>de</strong>sse ano. Esta elevação das taxas <strong>de</strong> juro <strong>de</strong> longo prazo fez recear pelo êxito <strong>do</strong> programa <strong>de</strong><br />

relançamento por vai fiscal , por três razões principais:<br />

• Um valor <strong>de</strong> 1,9% para os rendimentos <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> longo prazo, ao ocorrer num<br />

contexto <strong>de</strong>flacionário (redução nos preços <strong>de</strong> 2% ao ano), implicava taxas <strong>de</strong> juro real<br />

elevadas que forneciam poucos estímulos para consumir ou para investir;<br />

• A queda nas cotações das obrigações agravaria, no curto prazo, a situação financeira <strong>do</strong>s<br />

bancos que dispunham <strong>de</strong> volumosas carteiras <strong>de</strong> obrigações, em que se passariam a<br />

verificar elevadas menos valias; esta <strong>de</strong>gradação da situação financeira aumentaria a<br />

relutância <strong>do</strong>s bancos em conce<strong>de</strong>r crédito ao sector empresarial, exactamente num perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> recessão;<br />

• Uma elevação <strong>do</strong>s rendimentos das obrigações alongo prazo no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico <strong>de</strong><br />

obrigações, faria reduzir o diferencial face aos merca<strong>do</strong>s americanos e europeu, o que<br />

po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar uma regresso <strong>de</strong> capitais e uma correspon<strong>de</strong>nte valorização <strong>do</strong> yen,<br />

que atingiria as exportações japonesas.<br />

Na altura surgiram várias propostas para tentar “segurar” o merca<strong>do</strong> obrigacionista:<br />

• Diversificar as maturida<strong>de</strong>s das obrigações <strong>do</strong> governo, mediante a emissão <strong>de</strong> obrigações<br />

<strong>de</strong> médio prazo, por forma reduzir a pressão sobre as <strong>de</strong> longo prazo;<br />

• aumentar as compras <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> governo <strong>de</strong> longo prazo no merca<strong>do</strong> secundário, por<br />

parte <strong>do</strong> Banco Central e/ou aumentar a oferta <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> curto prazo, que o Banco<br />

Central eventualmente pu<strong>de</strong>sse adquirir directamente, sem resistências;<br />

• fazer ace<strong>de</strong>r directamente aos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais as Agências <strong>do</strong> Governo, como a<br />

Housing Loan Corporation, até agora financiadas pelo Trust Bureau Fund, mediante a<br />

titularização em larga escala da sua carteira <strong>de</strong> empréstimos;<br />

• acordar com os EUA uma compra maciça, por parte das autorida<strong>de</strong>s americanas, <strong>de</strong><br />

obrigações <strong>do</strong> governo japonês <strong>de</strong> longo prazo.<br />

71


Informação Internacional<br />

72<br />

1999 - A ATRACÇÃO DOS MERCADOS FINANCEIROS AMERICANOS SOBRE OS<br />

INVESTIDORES INTERNACIONAIS<br />

A atracção <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s financeiros <strong>do</strong>s EUA sobre os investi<strong>do</strong>res externos, e em especial<br />

a atracção exercida pelos títulos priva<strong>do</strong>s está patente no facto <strong>de</strong> no ano <strong>de</strong> 1999 as<br />

aquisições <strong>de</strong> obrigações e acções por não resi<strong>de</strong>ntes terem atingi<strong>do</strong> os 338 biliões <strong>de</strong><br />

dólares, ou seja o equivalente a 96% <strong>do</strong> défice na BTC. A Figura permite analisar a evolução<br />

<strong>do</strong> peso <strong>do</strong>s não resi<strong>de</strong>ntes nos três segmentos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> títulos norte – americano –<br />

incluin<strong>do</strong> agora as obrigações <strong>do</strong> Tesouro. Po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong>stacar-se os seguintes aspectos:<br />

• Nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> tesouro assistiu-se a uma redução <strong>do</strong> stock total da dívida<br />

no montante <strong>de</strong> 71, 6 biliões <strong>de</strong> dólares, em virtu<strong>de</strong> da canalização <strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s<br />

exce<strong>de</strong>ntes orçamentais para esse fim; tal redução tornou possível que, não obstante<br />

os não resi<strong>de</strong>ntes terem si<strong>do</strong> ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stes títulos em 9,6 biliões <strong>de</strong><br />

dólares, a sua parte no conjunto se tenha manti<strong>do</strong> relativamente estável;<br />

• nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acções, e em consequência das aquisições maciças <strong>de</strong> acções<br />

próprias pelas empresas americanas, assistiu-se a uma redução no total <strong>de</strong> acções<br />

cotadas <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 68 biliões <strong>de</strong> dólares; os investi<strong>do</strong>res não resi<strong>de</strong>ntes adquiriram 96<br />

biliões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong> acções, situan<strong>do</strong>-se logo a seguir em importância às aquisições<br />

<strong>do</strong>s “mutual funds” (123 biliões <strong>de</strong> compras); e se os investi<strong>do</strong>res externos <strong>de</strong>têm<br />

apenas 9% <strong>do</strong> total das acções cotadas, em termos <strong>de</strong> fluxos seriam largamente<br />

responsáveis pelo comportamento recente <strong>de</strong> índices como o S&P 500 ou <strong>do</strong> Nasdaq ;<br />

• nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> empresas, os não resi<strong>de</strong>ntes adquiriram cerca <strong>de</strong> 35%<br />

<strong>do</strong> total das novas emissões (ou seja 157 biliões <strong>de</strong> dólares), muito acima <strong>do</strong> sector<br />

segura<strong>do</strong>r americano, com 71 biliões <strong>de</strong> dólares.<br />

O relatório anual da UNCTAD “Tra<strong>de</strong> and Development Report 2000”, no seu capítulo “The<br />

Current Global Recovery and Imbalances in a Long Term Perspective” comentava esta<br />

evolução nos seguintes termos:<br />

• No passa<strong>do</strong> os excessos <strong>de</strong> poupança <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> <strong>mun<strong>do</strong></strong> eram balancea<strong>do</strong>s pelo<br />

excesso <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong>s EUA e a procura <strong>de</strong> activos <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s em<br />

dólares era satisfeita com a emissão <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> Tesouro. Actualmente é o sector<br />

priva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s EUA que suporta o crescimento mundial e da<strong>do</strong> que o Governo gera um<br />

exce<strong>de</strong>nte orçamental a procura <strong>de</strong> activos em não po<strong>de</strong> ser satisfeita com um<br />

aumento da oferta <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> tesouro, sem risco, mas exige a emissão <strong>de</strong> títulos pelo<br />

sector priva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s EUA;<br />

• uma questão crucial é a <strong>de</strong> saber se os investi<strong>do</strong>res externos que procuram antes <strong>de</strong><br />

mais a liqui<strong>de</strong>z e a segurança estarão igualmente dispostos a <strong>de</strong>ter títulos priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

maneira permanente; enquanto as acções das empresas internet ocuparem o centro da<br />

atenção, a perspectiva <strong>de</strong> realização rápida <strong>de</strong> ganhos <strong>de</strong> capital po<strong>de</strong> compensar o<br />

maior risco em relação aos títulos <strong>do</strong> tesouro e o dólar po<strong>de</strong>rá transformar-se na<br />

“moeda veicular” das transacções internacionais <strong>de</strong> acções; a tendência para listar<br />

muitas empresas das economias emergentes em Nova Iorque para ter garantias <strong>de</strong><br />

liqui<strong>de</strong>z, reforça a tendência para o dólar se tornar na “moeda veicular” no merca<strong>do</strong><br />

global <strong>de</strong> acções;<br />

• no entanto da<strong>do</strong> que a dívida privada não é uma substituta perfeita <strong>do</strong>s títulos <strong>do</strong><br />

Tesouro, o aumento <strong>do</strong> exce<strong>de</strong>nte orçamental <strong>do</strong>s EUA po<strong>de</strong> aumentar a fragilida<strong>de</strong> da<br />

situação corrente e aumentar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um “hard landing” para o dólar. Nesse<br />

caso as perspectivas globais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como for gerida a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

políticas monetárias entre os EUA, a Europa e o Japão.


2.4.1997/1998 – Crise Asiática<br />

O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

A crise cambial e financeira das "economias emergentes" da Ásia/Pacífico – que atingiu <strong>de</strong><br />

mo<strong>do</strong> muito menos pronuncia<strong>do</strong> as "Economias Chinesas" – foi acompanhada em finais <strong>de</strong><br />

1997 e 1998 por gran<strong>de</strong>s mudanças nos fluxos <strong>de</strong> capitais no "Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico":<br />

• Uma retirada rápida e maciça <strong>de</strong> capitais das "economias emergentes" da Ásia que<br />

se precipitaram sobre os merca<strong>do</strong>s financeiros <strong>do</strong>s EUA, contribuin<strong>do</strong> para acelerar o<br />

processo <strong>de</strong> alta das acções, no segmento mais especulativo das "Tecnologias da<br />

Informação/Comunicações/lnternet";<br />

• um forte aumento no défice corrente <strong>do</strong>s EUA, que funcionou plenamente como<br />

"consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> última instância" <strong>do</strong> "Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico" absorven<strong>do</strong> o aumento <strong>de</strong><br />

exportações das economias asiáticas - nomeadamente <strong>de</strong> "hardware" electrónico -<br />

associa<strong>do</strong> ao seu "boom" interno <strong>de</strong> investimento;<br />

• uma redução nos fluxos <strong>de</strong> capitais a curto prazo <strong>do</strong> Japão em direcção aos EUA, em<br />

virtu<strong>de</strong> da actuação das autorida<strong>de</strong>s nipónicas que travaram o funcionamento <strong>do</strong> "yen<br />

carry arbitrage";<br />

• um forte aumento <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais japoneses em direcção aos activos em<br />

moedas europeias que iriam integrar a zona Euro, como manifestação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> diversificação face ao dólar;<br />

Um aumento <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais a longo prazo em direcção aos EUA e com origem na<br />

Europa (investimento directo internacional e investimento <strong>de</strong> carteira), por razões que se<br />

pren<strong>de</strong>m com três processos:<br />

• a "corrida" à aquisição/fusão com empresas inova<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s EUA, por parte das<br />

empresas europeias <strong>de</strong> Tecnologias <strong>de</strong> Informação e das Indústrias da Saú<strong>de</strong>;<br />

• a internacionalização das gran<strong>de</strong>s empresas europeias <strong>de</strong> sectores mais tradicionais<br />

(automóvel, material eléctrico, químicas, alimentares e bebidas) que para ganharem<br />

dimensão mundial têm que ter uma forte presença no merca<strong>do</strong> americano;<br />

• a corrida <strong>do</strong>s bancos europeus às operações mais rendíveis e <strong>de</strong> maior risco nos<br />

EUA, a recomposição das carteiras <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res institucionais europeus por forma<br />

a reduzir a sub-representação <strong>do</strong>s títulos americanos, e os movimentos <strong>de</strong> F&A <strong>de</strong><br />

bancos, segura<strong>do</strong>ras e fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> investimento europeus nos EUA.<br />

Em termos cambiais este perío<strong>do</strong> foi essencialmente caracteriza<strong>do</strong> por:<br />

• Uma forte <strong>de</strong>svalorização nominal <strong>de</strong> varias moedas asiáticas em relação ao dólar -<br />

<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se a excepção da República Popular da China - sem que o dólar tenha<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser a moeda <strong>de</strong> referência.<br />

73


Informação Internacional<br />

74<br />

FACTORES QUE CONTRIBUIRAM PARA A CRISE ASIÁTICA DE 1997/8<br />

Num relatório <strong>do</strong> Banco Mundial, publica<strong>do</strong> no primeiro trimestre <strong>de</strong> 1998, Guiilermo Perry,<br />

economista principal <strong>do</strong> Banco Mundial para a América Latina apontava quatro factores chave que<br />

teriam contribuí<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisivamente para a vulnerabilida<strong>de</strong> das economias asiáticas que entraram em<br />

crise a partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1997 e, cinco causas que teriam esta<strong>do</strong> na origem <strong>de</strong>sses factores. Os<br />

quatro factores foram, na síntese <strong>do</strong> Financial Times <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1998, os seguintes:<br />

• uma acumulação <strong>de</strong> dívida externa <strong>de</strong> curto prazo, exce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as reservas cambiais, o que<br />

tornou essas economias vulneráveis a ataques especulativos;<br />

• a obtenção <strong>de</strong> vultuosos empréstimos em moeda estrangeira, sem o correspon<strong>de</strong>nte<br />

"hedging", por parte quer <strong>do</strong> sistema bancário, quer <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas, que limitou, a<br />

partir <strong>de</strong> certa altura, a margem <strong>de</strong> manobra das autorida<strong>de</strong>s para proce<strong>de</strong>rem a uma<br />

<strong>de</strong>svalorização atempada, sem colocar o sector priva<strong>do</strong> sob gran<strong>de</strong> pressão financeira;<br />

• eleva<strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong> divida por parte das empresas e "carteiras" <strong>de</strong> empréstimos <strong>de</strong> baixa<br />

qualida<strong>de</strong>, por parte <strong>do</strong>s bancos, que se traduziram numa vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uns e outros<br />

perante a eventual elevação <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> juro ou <strong>de</strong> abrandamentos significativos <strong>do</strong> nível <strong>de</strong><br />

activida<strong>de</strong>; esta circunstancia adicionou-se à anterior, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> restringir a margem <strong>de</strong><br />

manobra das autorida<strong>de</strong>s para respon<strong>de</strong>r aos ataques especulativos;<br />

• uma vulnerabilida<strong>de</strong> mais tradicional <strong>do</strong> sector externo, resultante <strong>de</strong> várias das economias<br />

se terem <strong>de</strong>fronta<strong>do</strong> com valorizações das suas moedas (nota: arrastadas pela valorização<br />

<strong>do</strong> dólar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 1995, dólar com que as moedas <strong>de</strong> vários <strong>de</strong>sses países<br />

estavam alinhadas), ten<strong>do</strong> tal processo arrasta<strong>do</strong> um abrandamento das receitas <strong>de</strong><br />

exportação e contribuí<strong>do</strong> para eleva<strong>do</strong>s ou crescentes défices <strong>de</strong> transacções correntes.<br />

No que respeita às causas a que se pu<strong>de</strong>ram ficar a <strong>de</strong>ver estes factores <strong>de</strong> crise, Guiilermo Penry<br />

aponta cinco:<br />

• a existência, nos sistemas financeiros <strong>de</strong>ssa economias <strong>de</strong> "incentivos" a comportamentos<br />

priva<strong>do</strong>s contrários ao interesse público, materializan<strong>do</strong> a figura <strong>de</strong> "moral hazards'', entre os<br />

quais a existência explícita ou implícita <strong>de</strong> esquemas <strong>de</strong> seguro <strong>do</strong>s <strong>de</strong>positantes,<br />

contribuin<strong>do</strong> para que banqueiros e investi<strong>do</strong>res tenham corri<strong>do</strong> os riscos <strong>de</strong> um sobre –<br />

investimento em activos financeiros;<br />

• a existência, nalguns países, <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> "capitalismo clientelar" que contribuíram para<br />

ocultar a natureza não lucrativa <strong>de</strong> transacções;<br />

• um quadro regulamentar e mecanismos <strong>de</strong> supervisão <strong>do</strong> sistema financeiro laxista,<br />

agravada por uma falta <strong>de</strong> informação credível sobre as activida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s bancos;<br />

• regimes <strong>de</strong> cambio rígi<strong>do</strong>s que levaram a uma percepção, por parte <strong>de</strong> investi<strong>do</strong>res e outros<br />

actores <strong>de</strong> que o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorização era pequeno, ao mesmo tempo que como se<br />

referiu anteriormente, a ligação a um dólar em apreciação, fez reduzir as exportações;<br />

• processos <strong>de</strong> liberalização a nível financeiro e das contas <strong>de</strong> capital externas parciais e mal<br />

sequencia<strong>do</strong>s, levan<strong>do</strong> a uma redução das restrições à obtenção <strong>de</strong> empréstimos no<br />

exterior, ao mesmo tempo que eram mantidas restrições à proprieda<strong>de</strong> estrangeira sobre<br />

entida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> sector bancário <strong>do</strong>méstico.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

3. 2000 - 2005: A CAMINHO DE UMA NOVA CONFIGURAÇÃO NO "MUNDO DO<br />

PACÍFICO"?<br />

3.1 1999 - da euforia a uma inevitável "aterragem" da economia <strong>do</strong>s EUA<br />

O ano <strong>de</strong> 1999 foi um ano <strong>de</strong> crescimento rápi<strong>do</strong> a nível mundial, em contraste com o<br />

anterior. No "Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico" - as economias asiáticas recuperaram <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />

surpreen<strong>de</strong>nte da recessão/abrandamento <strong>de</strong> 1998, a economia <strong>do</strong>s EUA manteve elevadas<br />

taxas <strong>de</strong> crescimento e os produtores da OPEP, li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s pela Arábia Saudita mudaram <strong>de</strong><br />

estratégia e conseguiram obter em poucos meses uma forte elevação <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong><br />

petróleo, o que alterou, favoravelmente as perspectivas económicas da Rússia. Analisan<strong>do</strong><br />

mais em <strong>de</strong>talhe:<br />

• EUA - A "febre da Internet" atinge o seu auge, com muitas das empresas <strong>do</strong> Nasdaq<br />

a atingirem valorizações astronómicas, e o índice no seu conjunto a <strong>de</strong>scolar<br />

completamente <strong>do</strong> índice representativos <strong>de</strong> indústrias mais tradicionais (Dow Jones);<br />

suce<strong>de</strong>m-se os IPO (Quadro I), intensificam-se a compras, por valores elevadíssimos,<br />

<strong>de</strong> empresas "jovens" <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> tecnologias consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> alto potencial, por<br />

parte das gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> Tl americanas e europeias; a elevada rendibilida<strong>de</strong><br />

geral das empresas americanas estimula um número cada vez maior <strong>de</strong> F&A, com<br />

<strong>de</strong>staque para s que são promovidas por iniciativa <strong>de</strong> empresas da Europa;<br />

Quadro 1<br />

A “FEBRE DA INTERNET" - A VALORIZAÇÃO DOS IPO NO<br />

PERIODO 1996/2000<br />

ANOS NÚMERO DE IPO FUNDOS<br />

MOBILIZADOS<br />

(mil milhões <strong>de</strong><br />

dólares)<br />

RETORNO SOBRE O<br />

PREÇO DA OFERTA<br />

(%)<br />

1996 505 58 23<br />

1997 390 52 24<br />

1998 247 45 37<br />

1999 486 93 276<br />

2000 406 97 -18<br />

Fonte: www.ipo-fun.com<br />

• Japão - A economia foi alvo <strong>de</strong> mais um pacote <strong>de</strong> estímulo fiscal no inicio <strong>do</strong> ano <strong>de</strong><br />

1999 e parece iniciar um lento regresso ao crescimento; cresce o endividamento <strong>do</strong><br />

sector público e surgem as primeiras manifestações <strong>de</strong> exaustão <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

financiamento <strong>de</strong>ssa dívida, que caracterizou a década <strong>de</strong> 90 (vd. CAIXA sobre crise<br />

das obrigações); o dinamismo <strong>do</strong> sector empresarial concentra-se num sector<br />

75


Informação Internacional<br />

76<br />

exporta<strong>do</strong>r liga<strong>do</strong> às tecnologias da informação com crescimentos <strong>de</strong> 12% ao ano e<br />

substanciais melhorias <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, "puxa<strong>do</strong>" claramente pela dinâmica da<br />

economia <strong>do</strong>s EUA, com quem se reforçam as complementarida<strong>de</strong>s; a bolsa <strong>de</strong><br />

Tóquio anima-se com a entrada <strong>de</strong> capitais <strong>do</strong> exterior que se dirigem às empresas<br />

<strong>de</strong>ste sector;<br />

• Economias Asiáticas em Crise - <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> surpreen<strong>de</strong>nte a Coreia <strong>do</strong> Sul, e em<br />

menor escala a Tailândia, Malásia, In<strong>do</strong>nésia, iniciam a retoma económica assente no<br />

aumento das exportações (com <strong>de</strong>staque para as <strong>do</strong> sector electrónico que se<br />

dirigiram aos EUA), e na <strong>de</strong>sposa pública; a contracção profunda das importações,<br />

graças à queda da procura interna, e em menor escala, o acréscimo das exportações<br />

<strong>de</strong>ram origem a uma rápida obtenção <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes comerciais que facilitaram a<br />

reconstituição das reservas cambiais; o que contribuiu par aumentar a confiança nas<br />

moedas, facilitan<strong>do</strong> a redução das taxas <strong>de</strong> juro; a alteração na política monetária, em<br />

conjunto com uma expansão fiscal, acabou por contribuir para a retoma económica;<br />

• China - foi menos atingida pela crise <strong>de</strong> 1997/98 <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua menor integração nos<br />

merca<strong>do</strong>s internacionais <strong>de</strong> capitais (manutenção da inconvertibilida<strong>de</strong> da moeda<br />

nacional ao nível das contas <strong>de</strong> capital) e ao fraco recurso à divida <strong>de</strong> curto prazo;<br />

não obstante o da economia chinesa abran<strong>do</strong>u em 1998, com uma retracção da<br />

procura interna e externa, reforçan<strong>do</strong>-se os sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>flação e <strong>de</strong> excessos <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong>; face a esta conjuntura o Governo aplicou uma política orçamental<br />

expansionista e prosseguiu na via <strong>de</strong> maior integração na economia global mediante o<br />

acor<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong> com os EUA, que Ihe abriu a porta à a<strong>de</strong>são à OMC; os sectores<br />

favoráveis ao prosseguimento das reformas económicas internas obtiveram uma<br />

vitória;<br />

• Arábia Saudita e México - A queda brusca <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong> petróleo em 1998, agravou<br />

as dificulda<strong>de</strong>s financeiras nos países produtores, e conduziu à <strong>de</strong>cisão saudita <strong>de</strong><br />

reforçai a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influência da OPEP nos merca<strong>do</strong>s, por via <strong>do</strong><br />

estabelecimento <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>s <strong>de</strong> limitação da produção extensivos a produtores não<br />

membros da OPEP, como o México.<br />

Em termos <strong>de</strong> fluxos <strong>de</strong> capitais, os principais movimentos <strong>de</strong>ste ano <strong>de</strong> 1999 referem-se a:<br />

• Um aumento <strong>do</strong> défice corrente <strong>do</strong>s EUA, assente no aumento <strong>do</strong> défice comercial<br />

com a Ásia e a Europa e numa súbita <strong>de</strong>gradação nos rendimentos <strong>de</strong> capitais;<br />

acompanha<strong>do</strong> por um aumento <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais a curto prazo dirigi<strong>do</strong>s aos EUA,<br />

sob a forma <strong>de</strong> compras <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> tesouro, nomeadamente por parte <strong>do</strong>s bancos<br />

centrais das "economias chinesas" e da Coreia <strong>do</strong> Sul;<br />

• uma alteração substancial <strong>do</strong>s fluxos protagoniza<strong>do</strong>s pelo Japão - redução <strong>do</strong>s<br />

financiamentos bancários a curto prazo aos EUA e às economias emergentes da<br />

Ásia: entradas <strong>de</strong> capitais externos no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> acções japonês, dirigidas às<br />

empresas <strong>do</strong> sector das tecnologias da informação; aumento significativo das<br />

emissões <strong>de</strong> obrigações em yens, por parte <strong>de</strong> não resi<strong>de</strong>ntes (vd. Empresas


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

americanas e também europeias), reinicio <strong>de</strong> investimento directo japonês nos EUA,<br />

li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelas empresas <strong>do</strong> sector das Tecnologias da Informação;<br />

• um papel crucial das entradas <strong>de</strong> capitais oriundas da Europa (investimentos directos<br />

e investimentos <strong>de</strong> carteira) para fazer face aos défices correntes <strong>do</strong>s EUA, num<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> travagem na entrada <strong>de</strong> capitais japoneses; a constituição da zona Euro,<br />

ao suprimir o risco <strong>de</strong> cambio no seu interior aumentou a disponibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s bancos,<br />

investi<strong>do</strong>res institucionais e gran<strong>de</strong>s empresas para o investimento fora <strong>de</strong>la, não<br />

obstante a incerteza cambial que necessariamente acompanhou os primeiros passos<br />

<strong>do</strong> Euro.<br />

Em termos cambiais assinalam-se no ano <strong>de</strong> 1999:<br />

• Uma valorização <strong>do</strong> yen face ao dólar - que travou a recuperação japonesa e<br />

<strong>de</strong>sincentivou a colocação <strong>de</strong> capitais japoneses no exterior; esta valorização teria<br />

si<strong>do</strong> <strong>de</strong>sejada pela administração americana, em resposta à exigência nesse senti<strong>do</strong><br />

feita pelas autorida<strong>de</strong>s chinesas como contrapartida da não <strong>de</strong>svalorização da sua<br />

moeda nacional;<br />

• uma continuada <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong> Euro face ao dólar e ao yen, neste último caso<br />

alimentada pelo início da rápida redução nas carteiras <strong>de</strong> activos em Euro<br />

constituídas por investi<strong>do</strong>res japoneses antes da passagem à 3a fase da UEM,<br />

redução essa <strong>de</strong>vida à <strong>de</strong>svalorização da moeda europeia face ao dólar.<br />

Em Setembro <strong>de</strong> 1999 o Fe<strong>de</strong>ral Reserve Bank <strong>do</strong>s EUA endurece a política monetária,<br />

inician<strong>do</strong> o que preten<strong>de</strong> ser uma "aterragem suave" da economia americana <strong>de</strong>pois da<br />

euforia verificada em 1999.<br />

Durante 2000, a continuação <strong>do</strong>s fluxos <strong>de</strong> capitais da zona Euro para os EUA permitiu<br />

financiar o aumento <strong>do</strong> défice corrente <strong>do</strong>s EUA com a Europa (aumento <strong>do</strong> défice comercial<br />

e redução <strong>do</strong>s rendimentos <strong>de</strong> capitais em dólares, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à <strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong> Euro) e parte<br />

<strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> défice comercial com a Ásia, enquanto a acumulação <strong>de</strong> reservas cambiais<br />

por parte das economias asiáticas permitiu financiar o restante, libertan<strong>do</strong>, pelo menos<br />

temporariamente, a economia americana <strong>de</strong> pressões externas na fase inicial <strong>de</strong>ssa<br />

"aterragem".<br />

O impacto <strong>de</strong> sucessivos aumentos das taxas <strong>de</strong> juro no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> acções e em particular<br />

no merca<strong>do</strong> <strong>do</strong>s IPO, traduziu-se na queda verificada no Nasdaq que propiciou o registo <strong>de</strong><br />

valorizações bolsistas menos especulativas <strong>do</strong> que acontecera em 1999.<br />

Mas no final <strong>de</strong> 2000 existiam ainda dúvidas sobre o <strong>de</strong>senlace final <strong>de</strong>sta "aterragem".<br />

77


Informação Internacional<br />

78<br />

1999 - A ATRACÇÃO DOS MERCADOS FINANCEIROS AMERICANO. SOBRE OS<br />

INVESTIDORES INTERNACIONAIS<br />

A atracção <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s financeiros <strong>do</strong>s EUA sobre os investi<strong>do</strong>res externos, e em especial a<br />

atracção exercida pelos títulos priva<strong>do</strong>s está patente no facto <strong>de</strong> no ano <strong>de</strong> 1999 as aquisições <strong>de</strong><br />

obrigações e <strong>de</strong> acções por não resi<strong>de</strong>ntes terem atingi<strong>do</strong> os 338 biliões <strong>de</strong> dólares ou seja o<br />

equivalente a 96% <strong>do</strong> défice na BTC. Analisan<strong>do</strong> a evolução <strong>do</strong> peso <strong>do</strong>s não resi<strong>de</strong>ntes nos três<br />

segmentos <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> títulos norte-americano – incluin<strong>do</strong> também as obrigações <strong>do</strong> Tesouro,<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stacar-se os seguintes aspectos:<br />

• Nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> títulos <strong>do</strong> tesouro assistiu-se a uma redução <strong>do</strong> stock total da dívida no<br />

montante <strong>de</strong> 71,6 biliões <strong>de</strong> dólares, em virtu<strong>de</strong> da canalização <strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s exce<strong>de</strong>ntes<br />

orçamentais para esse fim; tal redução tomou possível que, não obstante os não resi<strong>de</strong>ntes<br />

terem si<strong>do</strong> ven<strong>de</strong><strong>do</strong>res líqui<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stes títulos em 9,6 biliões <strong>de</strong> dólares, a sua parte no<br />

conjunto se tenha manti<strong>do</strong> relativamente estável;<br />

• Nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acções, e em consequência das aquisições maciças <strong>de</strong> acções próprias<br />

pelas empresas americanas, assistiu-se a uma redução no total <strong>de</strong> acções cotadas <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 6cz biliões <strong>de</strong> dólares; os investi<strong>do</strong>res não resi<strong>de</strong>ntes adquiriram 96 biliões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong><br />

acções, situan<strong>do</strong>-se logo a seguir em importância às aquisições <strong>do</strong>s "mutual funds"<br />

(123 biliões <strong>de</strong> compras); e se os investi<strong>do</strong>res externos <strong>de</strong>têm apenas 9% <strong>do</strong> total das<br />

acções cotadas, em termos <strong>de</strong> fluxos teriam si<strong>do</strong> largamente responsáveis pelo<br />

comportamento recente <strong>de</strong> índices como o S&P 500 ou o Nasdaq;<br />

• Nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong> empresas, os não resi<strong>de</strong>ntes adquiriram cerca <strong>de</strong> 35% <strong>do</strong><br />

total das novas emissões (ou seja 157 biliões <strong>de</strong> dólares), muito acima <strong>do</strong> sector segura<strong>do</strong>r<br />

americano, com 7I biliões <strong>de</strong> dólares.<br />

O relatório anual da UNCTAD "Tra<strong>de</strong> and Development Report 2000", no seu capítulo The<br />

Current Global Recovery and Imbalances in a Long Tern Perspective comentava esta evolução nos<br />

seguintes termos:<br />

• No passa<strong>do</strong>, os excessos <strong>de</strong> poupança <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> <strong>mun<strong>do</strong></strong> eram balancea<strong>do</strong>s pelo excesso<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong>s EUA e a procura <strong>de</strong> activos <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s em dólares era<br />

satisfeita com a emissão <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> Tesouro; actualmente é o sector priva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

EUA que suporta o crescimento mundial, e da<strong>do</strong> que o Governo gera um exce<strong>de</strong>nte<br />

orçamental, a procura <strong>de</strong> activos em não po<strong>de</strong> ser satisfeita com um aumento da oferta <strong>de</strong><br />

títulos <strong>do</strong> tesouro – sem risco – mas exige a emissão <strong>de</strong> títulos pelo sector priva<strong>do</strong> <strong>do</strong>s EUA;<br />

• uma questão crucial é a <strong>de</strong> saber se os investi<strong>do</strong>res externos que procuram antes <strong>de</strong> mais a<br />

liqui<strong>de</strong>z. e a segurança estarão igualmente dispostos a <strong>de</strong>ter títulos priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> maneira<br />

permanente; enquanto as acções das empresas internet ocuparem o centro da atenção, a<br />

perspectiva <strong>de</strong> realização rápida <strong>de</strong> ganhos <strong>de</strong> capital po<strong>de</strong> compensar o maior risco em<br />

relação aos títulos <strong>do</strong> tesouro e o dólar po<strong>de</strong>rá transformar-se na moeda veicular'` das<br />

transacções internacionais <strong>de</strong> acções; a tendência para listar muitas empresas das<br />

economias emergentes em New York para ter garantias <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z, reforça a tendência para<br />

o dólar se tornar na `'moeda veicular" no merca<strong>do</strong> global <strong>de</strong> acções;.<br />

No entanto da<strong>do</strong> que a divida privada não é uma substituta perfeita <strong>do</strong>s títulos <strong>do</strong> Tesouro, o<br />

aumento <strong>do</strong> exce<strong>de</strong>nte orçamental <strong>do</strong>s EIJA po<strong>de</strong> aumentar a fragilida<strong>de</strong> da situação corrente e<br />

aumentar a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um "hard landing” para o dólar. Nesse caso as perspectivas globais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como for gerida a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> políticas monetárias entre os EUA, a<br />

Europa e o Japão.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

3.2. Japão 2000-2005: Um multiplica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> riscos para a economia mundial ou um<br />

factor <strong>de</strong> transformações profundas no "Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico"?<br />

Uma das maiores incertezas existentes quanto à evolução da economia mundial, e que está<br />

associada à eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma “aterragem turbulenta” nos EUA é a sua possível<br />

coincidência com uma crise grave na economia <strong>do</strong> Japão, crise essas gerada antes <strong>de</strong> mais<br />

por factores endógenos, mas multiplicável por uma evolução claramente negativa que se<br />

venha a verificar nos EUA.<br />

É comum afirmar-se que a estagnação/recessão <strong>do</strong> Japão durante a década <strong>de</strong> 90 é um<br />

caso típico <strong>de</strong> colapso no valor <strong>do</strong>s activos financeiros, ocorri<strong>do</strong> com a implosão da "bolha<br />

"especulativa, em 1989/199O, que arrastou o enfraquecimento <strong>do</strong> sistema bancário, a queda<br />

no preço <strong>do</strong>s bens e a geração <strong>de</strong> uma procura interna privada (consumo e investimento)<br />

sistematicamente <strong>de</strong>ficiente.<br />

Mas para se compreen<strong>de</strong>r melhor a gravida<strong>de</strong> da situação, comece-se por recordar que a<br />

economia japonesa experimentou ao longo da década <strong>de</strong> 90 as consequências <strong>de</strong> três<br />

processos, <strong>de</strong> natureza financeira, que se suce<strong>de</strong>ram e interagiram uns com os outros.<br />

Uma <strong>de</strong>sarticulacão crescente entre o sector bancário e a "economia industrial"<br />

privadas, antes e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong> rebentar da "bolha "especulativa<br />

Esta <strong>de</strong>sarticulação foi concretizada durante a década <strong>de</strong> 80, e nomeadamente durante o<br />

perío<strong>do</strong> 1985/1999, e teve duas traduções principais:<br />

• As gran<strong>de</strong>s empresas <strong>do</strong> sector industrial exporta<strong>do</strong>r lançaram-se num processo<br />

maciço <strong>de</strong> investimento <strong>de</strong> expansão das capacida<strong>de</strong>s, no Japão e no exterior, num<br />

número limita<strong>do</strong> <strong>de</strong> sectores - automóvel, mecânica, electrónica <strong>de</strong> consumo,<br />

instrumentação - com o objectivo <strong>de</strong> obter uma posição <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança a nível mundial<br />

ou <strong>de</strong> modificar radicalmente a situação concorrencial, num contexto <strong>de</strong> alta <strong>do</strong> yen;<br />

esse investimento foi financia<strong>do</strong> não a partir <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s próprios das empresas (que<br />

como era típico <strong>do</strong> "mo<strong>de</strong>lo "japonês apresentavam baixas rendibilida<strong>de</strong>s crónicas)<br />

mas <strong>de</strong> um endividamento maciço, no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> obrigações interno e internacional,<br />

apoian<strong>do</strong>-se na valorização excepcional das suas acções durante a formação da<br />

"bolha especulativa", para obter custos reduzi<strong>do</strong>s para esse endividamento; a<br />

concorrência entre Keiretsus, que era a forma <strong>do</strong>minante <strong>de</strong> concorrência empresarial<br />

no Japão levou a uma corrida <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s eles ao investimento nos mesmos<br />

sectores/produtos;<br />

• os bancos viram <strong>de</strong>sertar os seus gran<strong>de</strong>s clientes industriais e <strong>de</strong>frontaram-se com<br />

os primeiros passos <strong>de</strong> liberalização <strong>do</strong> sector, ten<strong>do</strong> muda<strong>do</strong> radicalmente os<br />

<strong>de</strong>stinos <strong>do</strong> seu crédito - <strong>do</strong> financiamento da indústria e <strong>do</strong> sector exporta<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s<br />

respectivos - os bancos lançaram-se em <strong>do</strong>is movimentos:<br />

• financiaram em escala maciça, e no interior <strong>do</strong> Japão, a "economia baseada na<br />

terra" - imobiliário, construção civil, infra-estruturas, re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição – ten<strong>do</strong><br />

contribuí<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisivamente para uma explosão nos preços <strong>do</strong>s terrenos, que fizeram<br />

79


Informação Internacional<br />

80<br />

valorizar os patrimónios das gran<strong>de</strong>s empresas, que <strong>de</strong>tinham importantes carteiras<br />

<strong>de</strong> terrenos (facilitan<strong>do</strong> por sua vez a valorização das sua acções); e das famílias<br />

que <strong>de</strong>tinham habitação própria;<br />

• lançaram-se numa expansão internacional "to<strong>do</strong>s os azimutes", ajudan<strong>do</strong> a financiar<br />

a partir <strong>de</strong>ssa nova base <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos à escala mundial a própria<br />

expansão das empresas industriais japonesas.<br />

Após a implosão da "bolha especulativa", e durante a década <strong>de</strong> 90:<br />

• Acumularam-se excessos <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> na indústria exporta<strong>do</strong>ra; e manteve-se até<br />

muito tar<strong>de</strong> na década a recusa <strong>de</strong> realizar uma redução <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s levan<strong>do</strong> ao,<br />

aumento <strong>do</strong> endividamento das empresas, que se viram, entretanto, confrontadas<br />

com o fim <strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> obtenção <strong>do</strong> crédito barato e com a súbita<br />

<strong>de</strong>svalorização <strong>do</strong>s seus patrimónios, em consequência da queda nos valores das<br />

acções e no preço da terra que acompanhou o rebentar da "bolha especulativa"; mas<br />

ao longo da década <strong>de</strong> 90, o aumento substancial das amortizações permitiu manter<br />

valores eleva<strong>do</strong>s para o "cash flow", o que ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> acompanha<strong>do</strong> por uma quebra<br />

no investimento levou à formação <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes financeiros no sector das gran<strong>de</strong>s<br />

empresas, toman<strong>do</strong> estas relativamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>do</strong> crédito bancário;<br />

• acumulou-se o crédito mal para<strong>do</strong> nos bancos, em consequência da <strong>de</strong>svalorização<br />

maciça das garantias colaterais <strong>de</strong> muitos empréstimos e <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong><br />

com proporções gigantescas nos sectores da "economia baseada na terra", que se<br />

tinham toma<strong>do</strong> nos principais clientes <strong>do</strong>mésticos <strong>do</strong>s bancos; o lento processo <strong>de</strong><br />

reabsorção <strong>de</strong>sse crédito mal para<strong>do</strong>, mesmo <strong>de</strong>pois da injecção maciça <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s<br />

públicos <strong>de</strong>cidida em 1998, foi parcial, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> os bancos vulneráveis a um<br />

agravamento da situação financeira <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s da "economia baseada na terra";<br />

face ao <strong>de</strong>clínio das taxas <strong>de</strong> juro, à redução das suas margens operacionais no<br />

crédito, os bancos apoiaram-se na aquisição maciça <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> governo para<br />

obter rendimento e na valorização artificial da sua carteira <strong>de</strong> .acções para manter o<br />

nível <strong>do</strong> seu capital próprio (<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à peculiarida<strong>de</strong> da legislação japonesa que<br />

permitia que parte <strong>de</strong>ssas carteiras fosse contabilizada como capital).<br />

Uma articulação <strong>do</strong> sector financeiro público em torno da "economia baseada na<br />

terra", como condição para salvar o sector bancário priva<strong>do</strong><br />

A partir <strong>de</strong> 1992 suce<strong>de</strong>m-se os "pacotes" <strong>de</strong> estímulo fiscal à economia, sob a forma <strong>de</strong><br />

financiamento às obras públicas e à activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção; <strong>de</strong> crédito directo e <strong>de</strong><br />

garantias <strong>de</strong> crédito às PME's <strong>de</strong>sertadas pelos bancos priva<strong>do</strong>s, nomeadamente após a<br />

recessão <strong>de</strong> 1998; e <strong>de</strong> reduções <strong>de</strong> impostos.<br />

Acumulam-se os défices públicos e a dívida pública explicita (sem contar com a divida<br />

implícita na segurança social) atinge em 2000 os 130% <strong>do</strong> PIB, o valor mais eleva<strong>do</strong> entre<br />

os países industrializa<strong>do</strong>s.


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

Mas graças ao papel central <strong>do</strong>s serviços financeiros postais, e à política agressiva <strong>de</strong><br />

captação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos seguida por estes (recor<strong>de</strong>-se que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1991 ofereceram taxas <strong>de</strong><br />

juro fixas <strong>de</strong> 6,5% a cerca <strong>de</strong> 35 milhões <strong>de</strong> contas, num ambiente em que as taxas <strong>de</strong> juro<br />

<strong>de</strong> curto prazo se aproximaram <strong>de</strong> zero, a partir <strong>de</strong> 1995) o governo po<strong>de</strong> contar com um<br />

massa <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos semelhante à <strong>do</strong> sector bancário e inteiramente utilizável para o<br />

financiamento <strong>do</strong> FILP, que canalizou esses fun<strong>do</strong> para os "pacotes" <strong>de</strong> estímulo fiscal para<br />

a aquisição maciça <strong>de</strong> dívida pública, que assim permanecia sob controlo directo <strong>do</strong><br />

governo; os fun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> segurança social pública completaram os serviços financeiros postais<br />

nesta dupla função.<br />

O gigantesco investimento público realiza<strong>do</strong> ao longo da década <strong>de</strong> 90, hoje tão critica<strong>do</strong>,<br />

pela sua aparente irracionalida<strong>de</strong>, permitiu canalizar uma parte muito significativa da<br />

poupança das famílias para manter em activida<strong>de</strong> um sector da construção civil/obras<br />

públicas sobre-dimensiona<strong>do</strong> e sobre endivida<strong>do</strong> à banca, e para "segurar" o preço da terra,<br />

com o objectivo <strong>de</strong> evitar um colapso <strong>do</strong> sector bancário priva<strong>do</strong>. Em contrapartida <strong>de</strong> ter<br />

<strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> os serviços financeiros postais com uma carteira <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong> baixíssima<br />

remuneração, ou <strong>de</strong> duvi<strong>do</strong>so retomo.<br />

Uma alteração estrutural no sector financeiro priva<strong>do</strong> e na estrutura <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

A terceira gran<strong>de</strong> mudança ocorreu a partir <strong>de</strong> 1996 com:<br />

• lançamento <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> liberalização e abertura <strong>do</strong> sector financeiro, conheci<strong>do</strong><br />

como Big Bang orienta<strong>do</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema financeiro com uma<br />

mais forte componente <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais e maior internacionalização, e com<br />

maior competição entre as instituições;<br />

• a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> reformar em profundida<strong>de</strong> o sistema <strong>de</strong> participações cruzadas entre<br />

banco s e empresas <strong>de</strong> um mesmo Keiretsu, que havia permiti<strong>do</strong> a estes, em tempos<br />

normais, controlar as cotações das acções das suas empresas.<br />

A primeira reforma veio reduzir ainda mais as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lucro <strong>do</strong>s bancos nos seus<br />

negócios tradicionais, num contexto em que permanecem sob a ameaça <strong>de</strong> novo crédito mal<br />

para<strong>do</strong> se se acelerarem as falências na "economia baseada na terra"; e em que as novas<br />

oportunida<strong>de</strong>s que Ihe foram abertas pelo Big Bang só se po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>senvolver plenamente<br />

no dia em que o sistema <strong>de</strong> pensões tenha uma forte componente <strong>de</strong> contas poupança<br />

individuais e em que as famílias se vejam obrigadas a procurar aplicações <strong>de</strong> muito maior<br />

rendimento/valorização, proporcionadas nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais e não nos <strong>de</strong>pósitos<br />

bancários ou na compra <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> Governo.<br />

A segunda reforma precipitou, recentemente, a venda em larga escala das carteiras <strong>de</strong><br />

acções <strong>do</strong>s bancos 1 (e das gran<strong>de</strong>s empresas) sem que existissem mecanismos <strong>de</strong><br />

( 1 ) Recor<strong>de</strong>-se que a legislação japonesa permitia que parte das carteiras <strong>de</strong> acções <strong>do</strong>s bancos seja<br />

contabilizada como capital<br />

81


Informação Internacional<br />

merca<strong>do</strong> que facilitassem a aquisição <strong>de</strong>ssas acções por parte das próprias empresas, o<br />

que se traduziu numa queda nos índices bolsistas, tanto mais pronunciada quanto os<br />

investi<strong>do</strong>res externos se têm vin<strong>do</strong> a retirar da bolsa <strong>de</strong> Tóquio. Ora a queda <strong>do</strong> valor das<br />

acções ameaça o capital <strong>do</strong>s bancos.<br />

Por sua vez a continuação <strong>do</strong> aumento da dívida pública, se forçasse o governo a elevar os<br />

rendimentos das obrigações para atrair as poupanças das famílias, levaria a uma queda nas<br />

suas cotações, reduzin<strong>do</strong> o valor das volumosas carteiras <strong>de</strong> obrigações <strong>do</strong> governo,<br />

<strong>de</strong>tidas pelo sector bancário.<br />

A situação actual apresenta-se como um "quebra cabeças", como se po<strong>de</strong> apreciar pelos<br />

exemplos seguintes:<br />

82<br />

• O aumento <strong>do</strong> endividamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, como forma <strong>de</strong>, por intermédio da procura<br />

pública compensar a <strong>de</strong>ficiência da procura privada, no quadro nacional, tem limites<br />

tanto maiores quanto não tem si<strong>do</strong> possível gerar um crescimento endógeno<br />

suficiente para impedir a ocorrência <strong>de</strong> uma "armadilha da dívida";<br />

• o investimento público que proporcionaria um maior potencial <strong>de</strong> crescimento é o que<br />

se pu<strong>de</strong>sse concentrar na consolidação <strong>de</strong> uma "economia baseada no<br />

conhecimento" e numa "socieda<strong>de</strong> da informação", mas estes investimentos não só<br />

competem com o <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s manter em flutuação a "economia baseada na terra",<br />

como contribuem para a queda <strong>do</strong> preço da terra;<br />

• a potencial contradição entre o interesse <strong>do</strong> governo em manter a maior margem <strong>de</strong><br />

manobra para lançar novos estímulos <strong>de</strong> base orçamental sem ter que aumentar os<br />

rendimentos das obrigações e o interesse das famílias <strong>do</strong>s "baby boomers" que<br />

precisam <strong>de</strong> obter valorizações muito maiores para as sua poupanças <strong>do</strong> que as<br />

gerações anteriores aceitaram ter;<br />

• a realização <strong>de</strong> uma transformação <strong>do</strong> sistema financeiro, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> um sistema<br />

basea<strong>do</strong> nos merca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> capitais, em simultâneo com a manutenção <strong>de</strong> um sector<br />

bancário refém da "economia baseada na terra" e com a pretensão <strong>de</strong> manter as<br />

poupanças das famílias disponíveis para a tomada <strong>de</strong> dívida <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é um factor <strong>de</strong><br />

risco eleva<strong>do</strong>.<br />

Don<strong>de</strong> resulta que a margem <strong>de</strong> manobra das autorida<strong>de</strong>s japonesas para, contan<strong>do</strong> só<br />

com as suas actuações, impedirem a eclosão <strong>de</strong> uma crise e <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>arem um processo<br />

<strong>de</strong> crescimento centra<strong>do</strong> numa "economia baseada no conhecimento" parece cada vez mais<br />

estreito.<br />

Ora, no caso <strong>de</strong> se concretizarem-se evoluções negativas nas duas maiores economias <strong>do</strong><br />

<strong>mun<strong>do</strong></strong> em 2001 – com consequências graves no curto prazo – po<strong>de</strong>, mesmo assim,<br />

conceber-se um cenário em que o resulta<strong>do</strong> – para o conjunto <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> 2000/2005 – fosse<br />

uma profunda transformação na economia mundial, e em particular no "Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico",<br />

sob a forma <strong>de</strong> uma mais efectiva integração entre as economias <strong>do</strong>s EUA e <strong>do</strong> Japão (a


O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

concretizar exactamente num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>cisivo para a integração da China na economia<br />

mundial, após a sua a<strong>de</strong>são à OMC).<br />

Este cenário assentaria numa profunda transformação estrutural no Japão, e numa opção<br />

clara por parte <strong>do</strong>s EUA no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> reforço <strong>do</strong>s laços privilegia<strong>do</strong>s com o Japão, seu<br />

principal alia<strong>do</strong> na Ásia. Assim:<br />

• As famílias japonesas após perdas <strong>de</strong> património <strong>de</strong>correntes da <strong>de</strong>svalorização <strong>de</strong><br />

activos verificada com a implosão da "bolha "especulativa e <strong>de</strong> uma década <strong>de</strong> baixos<br />

rendimentos nas suas poupanças junto <strong>do</strong> sector bancário pu<strong>de</strong>ram contar com uma<br />

única aplicação <strong>de</strong> alto rendimento e sem risco que foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1991, a colocação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pósitos na caixa financeira postal a <strong>de</strong>z anos e à taxa fixa <strong>de</strong> 6,567o; sen<strong>do</strong> que em<br />

2000 e 2001 essas aplicações chegam à maturida<strong>de</strong>; face à situação critica <strong>de</strong> várias<br />

companhias <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong> vida, às reduções <strong>de</strong> benefícios nos esquemas <strong>de</strong> pensões<br />

das gran<strong>de</strong>s companhias, e às incertezas <strong>do</strong> sistema público <strong>de</strong> segurança social,<br />

num contexto <strong>de</strong> envelhecimento da população, as famílias vão precisar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

colocar as suas novas poupanças em aplicações com rendimentos muito superiores<br />

aos que os <strong>de</strong>pósitos ou as obrigações <strong>do</strong> governo po<strong>de</strong>m proporcionar no Japão; as<br />

melhores aplicações disponíveis no <strong>mun<strong>do</strong></strong> encontram-se provavelmente junto <strong>do</strong><br />

sector empresarial <strong>do</strong>s EUA; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que fosse suprimi<strong>do</strong> ou drasticamente reduzi<strong>do</strong> o<br />

risco <strong>de</strong> cambio (nomeadamente o risco "secular" <strong>de</strong> valorização <strong>do</strong> yen face ao<br />

dólar);<br />

• o governo, preocupa<strong>do</strong> com a situação a prazo <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> pensões <strong>do</strong> país<br />

aceleraria a sua reforma, mediante a rápida introdução <strong>de</strong> um "pilar" em capitalização<br />

basea<strong>do</strong> em contas individuais <strong>de</strong> poupança que contribuiriam para a criação <strong>de</strong> uma<br />

forte sector <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s mobiliários dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> total liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocação <strong>de</strong> capitais<br />

no estrangeiro, regime que também se aplicaria às companhias <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong> vida;<br />

• a <strong>de</strong>sarticulação das participações cruzadas entre empresas <strong>do</strong>s mesmos Keiretsu<br />

far-se-ia num quadro em que parte <strong>do</strong>s exce<strong>de</strong>ntes financeiros das empresas seria<br />

utiliza<strong>do</strong> na aquisição <strong>de</strong> acções próprias, o que permitiria temporariamente evitar<br />

uma quebra das cotações; ao mesmo tempo que a consolidação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

empresas nas áreas das tecnologias <strong>de</strong> informação, fortemente ligadas à economia<br />

<strong>do</strong>s EUA e com posição <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança na transformação <strong>do</strong> Japão numa "socieda<strong>de</strong> da<br />

informação" ofereceria uma oportunida<strong>de</strong> única para um gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> capitais <strong>do</strong><br />

exterior, nomeadamente por parte <strong>do</strong>s investi<strong>do</strong>res institucionais <strong>do</strong>s EUA, que<br />

contribuísse para uma rápida valorização no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> acções local, facilitan<strong>do</strong><br />

posteriormente uma colocação maciça <strong>de</strong> títulos junto <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s mobiliários em que<br />

os japoneses investiriam as suas novas contas individuais <strong>de</strong> poupança;<br />

• o governo levaria a cabo uma drástica redução <strong>do</strong>s programas <strong>de</strong> investimento em<br />

obras públicas lança<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong> (com base no financiamento obti<strong>do</strong> até agora<br />

junto da caixa financeira postal e da segurança social); esta opção lançaria uma crise<br />

profunda na indústria da construção e no imobiliário, aumentaria o crédito mal para<strong>do</strong><br />

nos bancos; e tomaria imperiosa uma redução muito significativa na dimensão <strong>do</strong><br />

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Informação Internacional<br />

84<br />

sector bancário actualmente existente, o que <strong>de</strong>veria facilitar a evolução muito mais<br />

rápida para um sistema financeiro basea<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> capitais; a valorização no<br />

merca<strong>do</strong> bolsista permitiria, por seu la<strong>do</strong>, obter uma "almofada" <strong>de</strong> protecção neste<br />

processo;<br />

• o governo proce<strong>de</strong>ria à <strong>de</strong>sarticulação <strong>do</strong> sector público financeiro, actualmente<br />

organiza<strong>do</strong> em função <strong>do</strong> financiamento <strong>do</strong> "2° Orçamento" – o FILP – e canalizaria<br />

novos fun<strong>do</strong>s públicos para apoio à reestruturação <strong>do</strong> sector bancário;<br />

• o governo utilizaria a margem <strong>de</strong> que dispõe actualmente para aumentar os impostos<br />

para iniciar uma processo <strong>de</strong> travagem, a prazo, <strong>do</strong> crescimento da dívida pública,<br />

embora num ambiente <strong>de</strong> crescimento muito reduzi<strong>do</strong>;<br />

• os EUA proce<strong>de</strong>riam a aquisições maciças <strong>de</strong> dívida pública japonesa, uma vez posto<br />

em marcha o programa <strong>de</strong> reformas estruturais e <strong>de</strong> abertura, por intervenção <strong>do</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral Reserve Bank que passaria <strong>de</strong>ter yens como reservas cambiais – sob a forma<br />

<strong>de</strong> obrigações a curto prazo.<br />

O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>sta natureza seria, no perío<strong>do</strong> 2000/2005:<br />

• Uma nova contracção <strong>do</strong> crescimento económico japonês, mas por redução drástica<br />

<strong>do</strong> peso da "economia baseada na terra" que trava o <strong>de</strong>senvolvimento, no Japão, <strong>de</strong><br />

uma "economia baseada no conhecimento", como a que existe nos EUA;<br />

• uma “libertação” das poupanças <strong>do</strong>mésticas, da tutela <strong>do</strong>s actuais sectores financeiro<br />

público e priva<strong>do</strong>, e uma sua reorientação para o financiamento <strong>do</strong> sector empresarial<br />

mais liga<strong>do</strong> no Japão à criação da "socieda<strong>de</strong> da informação" e para o sector<br />

empresarial <strong>do</strong>s EUA.<br />

Nesta configuração os principais fluxos <strong>de</strong> capitais no "Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico" seriam os fluxos<br />

mútuos entre EUA e Japão e <strong>de</strong> ambos para as "economias chinesas" e para a economia<br />

indiana.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

A “Informação Internacional” gostaria <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer a Smithers & Co o acesso a vários <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s recentemente realiza<strong>do</strong>s sobre temas centrais da economia mundial, e em especial<br />

para este texto o excelente estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

• PICKFORD, Derry e SMITHERS, Andrew – “The Japanese Bonds – The Other Bubble”<br />

(report nº 151, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> September <strong>de</strong> 2000)<br />

A elaboração <strong>de</strong>ste texto beneficiou também da consulta regular <strong>do</strong> “Monthly International<br />

Review (MIR) da Lombard Street Research, e em especial <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Brian Reading e<br />

Charles Dumas sobre a economia <strong>do</strong> Japão<br />

• “Japanese Falling – Price Boom? – a Debate”, MIR, 21 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2000


Foi também <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> a consulta <strong>do</strong>:<br />

• “Tra<strong>de</strong> and Development Report, 2000” da UNCTAD<br />

O ”Mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pacífico” – Fluxos <strong>de</strong> Capitais e Relações entre Moedas<br />

Para a elaboração <strong>de</strong>ste texto foram também utiliza<strong>do</strong>s artigos publica<strong>do</strong>s em números<br />

anteriores <strong>do</strong> “Informação Internacional”, nomeadamente:<br />

• “Dificulda<strong>de</strong>s Conjunturais e Perspectivas <strong>de</strong> Longo Prazo na Economia Japonesa”<br />

“Informação Internacional” Março – Abril 1994<br />

• “O Dólar e os Fluxos <strong>de</strong> Capitais” “Informação Internacional” Maio – Junho 1994<br />

• 1994 – Um Ano <strong>de</strong> Colapso nos Merca<strong>do</strong>s Obrigacionistas” Informação Internacional”<br />

Setembro-Outubro 1994<br />

• “EUA/Japão – Acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> Última Hora evita Sanções Comerciais” “Informação<br />

Internacional” Setembro-Outubro 1994<br />

• “A crise <strong>do</strong> Peso Mexicano” – Informação Internacional – Novembro 19947 Janeiro<br />

1995<br />

• “A economia Japonesa – Estagnação Prolongada ou Depressão?” – “Informação<br />

Internacional” – Abril-Junho <strong>de</strong> 1995<br />

• “ Merca<strong>do</strong>s Cambiais – Tempesta<strong>de</strong> na Primavera” “ Informação Internacional” Abril-<br />

Junho 1995<br />

• “EUA em socorro <strong>do</strong> Sistema Bancário japonês” “Informação Internacional” Outubro-<br />

Dezembro 1995<br />

• “Japão – Sistema Financeiro e Finanças Públicas – Que Evolução” – “Informação<br />

Internacional” – Julho-Dezembro 1996<br />

• “Nuvens sobre o Su<strong>de</strong>ste Asiático” “Informação Internacional” Abril-Junho 1997<br />

• LUÍS, Ana Lúcia Matos “A Crise Asiática – Percursos, Impactos, Evoluções<br />

Possíveis”, “Informação Internacional” Julho-Dezembro 1997<br />

• ”Japão e EUA – no centro <strong>do</strong> “Sistema <strong>do</strong> Pacífico” e da Economia Mundial” –<br />

“Informação Internacional” 1998<br />

O número especial da Oxford Review of Economic Policy “Japanese Economy”, vol 16, nº 2<br />

Summer 2000, foi também <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>.<br />

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