Heresias na Idade Média - UEM
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Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano II, n. 6, Fev. 2010 - ISSN 1983-2850<br />
http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos<br />
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Cantuária, e as ordens mendicantes. Em 1384, já doente, Wyclif morreria<br />
abando<strong>na</strong>do.<br />
9. Derivações: os Lolardos, os Padres Pobres, e João Huss<br />
Pelo menos um setor bastante importante do movimento dos lolardos – heresia<br />
que preocupou a Igreja a partir de fins do século XIV e até meados do século XV –<br />
beneficiou-se bem diretamente da influência de Wyclif. As bases da influência<br />
wyclifia<strong>na</strong> sobre a heresia dos lolardos foi bem exami<strong>na</strong>da por Anne Hudson em sua<br />
obra intitulada A Reforma Prematura: os textos de Wyclif e os Lolardos (1988).<br />
Grosso modo, existe de um lado um lolardismo universitário de forte inspiração<br />
wyclifia<strong>na</strong> que foi bastante atuante. Pierre Chaunu, em O Tempo das Reformas<br />
(origi<strong>na</strong>l: 1975), também nos fala de um lolardismo parlamentar, hostil à fiscalidade<br />
pontifícia que tinha se estabelecido a partir dos tempos do papado de Avinhão, e<br />
também de um lolardismo popular (Chaunu, p. 233).<br />
Este último movimento tem inspirações similares ao que John Ball organizara a<br />
partir de um célebre jargão que dizia: “Quando Adão cavava e Eva fiava, onde<br />
estava o fidalgo?”. Também já mencio<strong>na</strong>mos os “padres pobres”, que uniam<br />
protestos à pregação do Evangelho, lembrando neste último aspecto e <strong>na</strong> sua<br />
combi<strong>na</strong>ção com o voto de pobreza a prática das ordens mendicantes. Depois de<br />
1470, parecem desaparecer os últimos traços do wyclifismo, até que ele retor<strong>na</strong> sob<br />
a forma de uma influência importante com João Huss (1369-1415). Mas então, já<br />
estaremos em outro período.<br />
O contexto sob o qual se desenvolveram as primeiras formulações de Wyclif,<br />
em uma Inglaterra que não tivera problemas em reprimi-las a seu tempo, fora bem<br />
distinto do contexto de João Huss, que inicia o seu movimento <strong>na</strong> Boêmia, portanto<br />
no âmbito do Império. Enquanto o protesto wyclifista confundira-se <strong>na</strong> Inglaterra com<br />
um movimento limitado a um escalão social mais baixo, e portanto não<br />
representativo, o protesto hussista é marcado por um cunho <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista e<br />
desenvolve-se de maneira muito mais representativa, capitalizando a simpatia de<br />
amplos setores da população boêmia e correspondendo a “uma revolta de quase<br />
toda uma sociedade no âmbito territorial de um conjunto de Estados” (Chaunu,<br />
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