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Heresias na Idade Média - UEM

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Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano II, n. 6, Fev. 2010 - ISSN 1983-2850<br />

http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos<br />

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um âmbito sincrônico – quando buscamos captar o diálogo do tratado de Alcuíno<br />

com as obras de Bento de Ania<strong>na</strong>, por exemplo – e também em um âmbito<br />

diacrônico, quando nos esforçamos por investigar sistematicamente o próprio<br />

diálogo estabelecido pelo autor do texto com outros textos anteriores no tempo. Um<br />

último aporte metodológico a ser considerado. Da mesma forma que os textos<br />

ortodoxos dialogam com o gênero e a tradição em que se inserem, acrescentaremos<br />

que eles permitem aos historiadores a percepção de que também as heresias<br />

dialogam umas com as outras. Estes diálogos também são explicitados em fontes<br />

desta <strong>na</strong>tureza, que habitualmente deixam entrever um diálogo entre heresias<br />

distintas a partir das questões comuns que as animam e que como tal são<br />

percebidas pelos seus contemporâneos. Assim, as heresias voltadas em algum nível<br />

para a humanização do Cristo – ou mais tecnicamente, para a segunda Pessoa da<br />

Trindade – permitem entrever como as posições ortodoxas encaravam um caldo<br />

comum de novas proposições dogmáticas que fizeram <strong>na</strong>scer heresias como o<br />

Arianismo, o Adocionismo, ou, antes destes, o Nestorianismo. O historiador, enfim,<br />

deve estar pronto a enxergar através destas fontes as diversas vozes sociais,<br />

políticas e s culturais que se fazem escutar no interior destas ricas fontes textuais.<br />

Os textos dogmáticos – entre outras fontes literárias – acham-se publicados <strong>na</strong> série<br />

“Scriptores” do Monumenta Germânica Histórica (Monumenta Germânica Histórica,<br />

Hanover: 1883, vol I). Muitos deles também foram publicados no século XIX pelo<br />

abade Migne, em sua Patrologie latine (1844-1855, 218 vol). Por fim, existe também<br />

a famosa compilação de várias fontes organizada por Reinhold Rau, com o título<br />

Quellen zur karolingischen Reichgeschichte (1960-1968).<br />

Fontes igualmente significativas podem ser apreendidas nos próprios textos do<br />

Culto que aparece <strong>na</strong>s várias manifestações singulares de igrejas locais, no interior<br />

dos territórios sobre o controle do Reino Franco. Citaremos como um exemplo<br />

significativo o chamado Filioque, que era um pequeno acréscimo que fora<br />

acrescentado ao Credo da missa lati<strong>na</strong> pelas liturgias da Espanha visigótica e da<br />

Gália Merovíngia. Este pequeno detalhe, um fragmento de texto que acrescentava<br />

ao Credo a expressão “qui ex Patr Filioque procedit – ou seja, “que procede do pai e<br />

do Filho” – materializava em uma única frase toda uma discussão teológica sobre a<br />

procedência do Espírito Santo que tinha motivado o surgimento de heresias como o<br />

Arianismo e o Adocionismo. O Espírito Santo procede só do Pai, ou<br />

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